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EXÉRCITO BRASILEIRO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES
Rio de Janeiro
2017
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
Rio de Janeiro
2017
c2017
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Rio de Janeiro
2017
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AGRADECIMENTOS
Ao Senhor, por me capacitar e me dar coragem para seguir até o fim do mestrado.
Aos meus dois parceiros maravilhosos, Antonio Carlos, meu esposo-amigo, e Antonio
Miguel, meu guerreiro e filho amado, pela compreensão, apoio e estímulo, que foram
fundamentais para que eu fosse em frente e suportasse tardes de saudade.
À minha família em Teresina-PI, pela motivação, apoio e segurança que não me faltaram
em nenhum momento.
Ao meu orientador, Coronel Carneiro, que me ensinou muita coisa sobre concretos e
também sobre a vida, um verdadeiro mestre e amigo.
A Major Ana Maria, pelos bons conselhos e pela força, quando eu achava que não ia dar
conta.
Aos amigos da XEPA, por estarem sempre do meu lado, me fazendo sorrir e sentir
especial.
Às amigas teresinenses Aldenora Barros e Teodora Caland, pela amizade de décadas,
conversas e pelo carinho; a distância não é nada.
Aos amigos conquistados na turma da Pós-Graduação em Engenharia de
Transportes/2015, pelas experiências, conselhos, parceria e a boa e velha companhia das horas
a mais depois do expediente e nos sábados para adiantar a pesquisa; destaco aqui os amigos:
Carolina Lopes e Fabrício Lavoratto, além de Lucca, Santiago, Rita, Javier, Mayssa e
Carmem.
Aos amigos do Laboratório, Sgt Gonçalves, Sgt Mello, Sd W. Silva, Sd José e Sd Pires,
pelo apoio durante os ensaios.
À equipe de coordenação do curso de Pós-graduação em Engenharia de Transportes, Cel
Marcelo Reis, Sgt Oazem, Sgt Dias e Agnaldo, por todo o apoio na parte administrativa
durante esses anos de mestrado.
Ao querido Joel, no apoio dos ensaios de MEV.
Ao querido Cel Júlio, pelas dúvidas tiradas com relação à fibra de poliolefina e pelos
chocolates sempre que eu acertava alguma coisa.
Ao ilustre Cel Dieguez, pelas dúvidas sanadas referentes à metodologia NATM, à
conversa entusiasmada sobre túneis e a todo material de pesquisa que me confiou.
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Aos professores de cada disciplina cursada, cada aula, cada trabalho e cada seminário
apresentado; com certeza vocês contribuíram e MUITO para meu desenvolvimento
acadêmico e profissional.
À empresa GEOBBRUG, na pessoa de Teresa, Felipe e Adolfo, pelo apoio e
fornecimento das fibras e por terem confiado no meu trabalho e entusiasmo.
À empresa Civil Master e FGS Geotecnia, por disporem de seu canteiro de obras para a
realização das concretagens.
À professora Laura Motta, COPPE/UFRJ, pelo apoio prestado nos ensaios com o AIMS.
À CAPES, pelo apoio financeiro mediante bolsa de estudo concedida.
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SUMÁRIO
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIG. 2.1 Plastergun: equipamento desenvolvido por Akeley (SCA, 1999). ........................ 23
FIG. 2.2 Esquema simplificado de uma máquina de projeção por via seca (MAHAR et al.,
1975). ..................................................................................................................... 25
FIG. 2.3 Pontos de inserção do ar comprimido e da água no equipamento via seca. .......... 26
FIG. 2.4 Mangoteiro executando projeção por via seca (MOURA, 2013). ......................... 26
FIG. 2.5 (a) Primeiro equipamento de projeção por via seca a rotor da Meynadier de 1957.
(b) CP3 Bomba para concreto projetado via seca da empresa CPB (MOURA,
2013 e Concreto Projetado Brasil, 2016). ............................................................. 27
FIG. 2.6 Abastecimento da máquina de projeção por via úmida (MOURA, 2013). ........... 28
FIG. 2.7 Esquema da execução de projeção por via úmida (ACI, 2002). ........................... 29
FIG. 2.8 Exemplos projeção por via úmida utilizando robôs (HÖFLER et al., 2011). ....... 30
FIG. 2.9 Principais características das fibras para composição a matriz de concreto
(NAAMAN, 2000 apud SALVADOR, 2013). ...................................................... 34
FIG. 2.10 Principais comportamentos da fibra pós-fissuração. ............................................. 36
FIG. 2.11 (1) Deslocamento da fibra, (2) Fibra atuando como ponte de transferência entre
tensões (3) Arrancamento da fibra (4) Ruptura da fibra (TONOLI, 2009). .......... 36
FIG. 2.12 Produção da fibra de poliolefina. .......................................................................... 37
FIG. 2.13 Fenômeno de auto-fibrilação da fibra de poliolefina. (a) seção fissurada (b)
estricção devido ao coeficiente de Poisson (c) fibrilação devido ao esforço de
tração (adaptação conforme BENTUR e MINDESS, 1990) ................................. 38
FIG. 2.14 Composição química do monômero da poliolefina (CALLISTER, 2002). .......... 38
FIG. 2.15 (A) Compatibilidade dimensional entre fibra e agregado (B) Não compatibilidade.
(FIGUEIREDO, 2005). ......................................................................................... 39
FIG. 2.16 Tensão distribuída ao longo da fibra segundo seu comprimento crítico (BENTUR
& MINDESS, 1990). ............................................................................................. 39
FIG. 2.17 Resposta à tenacidade do concreto com e sem fibras (ISLAM, 2012 apud ARIF,
2014). ..................................................................................................................... 41
FIG. 2.18 Dados sobre métodos sobre tenacidade de concretos com fibra (SALVADOR,
2012). ..................................................................................................................... 42
FIG. 2.19 Características das curvas carga - flecha segundo ASTM C1018 (1997). ............ 43
FIG. 2.20 Características das curvas carga - flecha para um material elasto-plástico ideal
segundo a norma ASTM C1018 (1997). ............................................................... 44
FIG. 2.21 Características das curvas carga - flecha segundo a norma ASTM C1609 (2010).
............................................................................................................................... 46
FIG. 2.22 Características das curvas carga - flecha segundo a norma JSCE - SF4 (1984). .. 47
FIG. 2.23 Faixa granulométrica de agregados (EFNARC, 1996). ........................................ 49
FIG. 2.24 Aplicação de concreto projetado como reforço estrutural em túnel (AuSS, 2008).
............................................................................................................................... 53
FIG. 2.25 Vista em perspectiva das Estações Brigadeiro e Trianon (CBT, 2006).................. 54
FIG. 2.26 Execução de túnel pelo método NATM (Construção de Túneis, 2014) ................. 55
FIG. 2.27 Exemplo de particionamento realizado na execução do método NATM. Galerias
Laterais Gêmeas no Metro de Santiago, Chile 2002 (SAUER, 2003). ................. 57
FIG. 2.28 Revestimento do túnel de 57 km que liga Suíça e Itália (Indica Obra, 2016). ...... 58
FIG. 3.1 Croqui de confecção das formas de madeira (cotas em mm). ............................... 62
FIG. 3.2 Formas montadas. .................................................................................................. 62
FIG. 3.3 Amostras de brita e areia utilizados no concreto projetado por via úmida. .......... 63
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12
FIG. 4.23 Curvas carga - flecha dos concretos sem e com 0,25% e 0,50% de fibra de 35 mm
de comprimento. .................................................................................................. 121
FIG. 4.24 Curvas carga - flecha dos concretos sem e com 0,25% e 0,50% de fibra de 50 mm
de comprimento. .................................................................................................. 121
FIG. 4.25 Foto comum e micrografia (MEV) com aumento de 22X da interação fibra-matriz.
............................................................................................................................. 128
FIG. 4.26 Micrografia com aumento de 700X da interação fibra-matriz. ........................... 128
FIG. 4.27 Imagem da interação fibra-matriz na seção fissurada do concreto. .................... 129
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LISTA DE TABELAS
TAB. 2.1 Quadro resumo de comparação entre os processos de projeção do concreto. ....... 31
TAB. 2.2 Características de matrizes cimentícias (HANNANT, 1978). .............................. 35
TAB. 2.3 Características típicas de fibras (BENTUR e MINDESS, 1990 e CALLISTER,
2002). ..................................................................................................................... 35
TAB. 2.4 Máxima quantidade de adição por massa de cimento. .......................................... 49
TAB. 2.5 Composição padrão de concreto – projetado por via úmida com robô (AuSS,
2008). ..................................................................................................................... 51
TAB. 2.6 Composição padrão de concreto – projetado por via úmida manualmente. (AuSS,
2008) ...................................................................................................................... 52
TAB. 2.7 Proposta de execução de impermeabilização de túnel. (TAKAGI et al., 2012).... 59
TAB. 3.1 Composição dos concretos projetado e moldado adotado na pesquisa. ................ 63
TAB. 3.2 Parâmetros físicos e mecânicos para cimento Portland de Alta Resistência Inicial.
............................................................................................................................... 64
TAB. 3.3 Especificações do aditivo polifuncional Mastermix 397N segundo fabricante. ... 65
TAB. 3.4 Características do equipamento Putzmeister TK - 40 utilizado na projeção. ........ 67
TAB. 3.5 Quantidades em massa de fibra adicionadas no caminhão betoneira. ................... 69
TAB. 3.6 Normas utilizadas para caracterização mecânica dos corpos de prova de concreto.
............................................................................................................................... 71
TAB. 3.7 Valores de massa específica e absorção dos agregados. ....................................... 72
TAB. 3.8 Resultados de limites máximos de substâncias nocivas nos agregado miúdo. ..... 73
TAB. 3.9 Resultados de limites máximos de substâncias nocivas no agregado graúdo. ...... 73
TAB. 3.10 Resultado ensaio de índice de forma. .................................................................... 74
TAB. 3.11 Resultado ensaio de índice de forma. .................................................................... 75
TAB. 3.12 Ensaio de Tração da fibra de poliolefina. .............................................................. 77
TAB. 3.13 Características mecânicas da fibra de poliolefina deste trabalho. ......................... 77
TAB. 3.14 Dados sobre a nomenclatura dos corpos de prova de concreto cilíndricos ou
prismáticos............................................................................................................. 79
TAB. 4.1 Características das fibras de poliolefina. ............................................................. 100
TAB. 4.2 Composições de concreto projetado atual e da literatura. ................................... 101
TAB. 4.3 Abatimentos do tronco de cone dos concretos deste trabalho. ............................ 102
TAB. 4.4 Composições dos concretos deste trabalho segundo as EQ. 4.1 a EQ. 4.9. ........ 110
TAB. 4.5 Valores de V (km/s) segundo PILLAR (2014). .................................................. 110
TAB. 4.6 Valores de V (km/s) para os concretos ensaiados neste trabalho. ....................... 111
TAB. 4.7 Classificação da qualidade dos concretos em função de V (WHITEHURST, 1951
apud QASRAWI, 2000). ..................................................................................... 112
TAB. 4.8 Valores de fcm para os concretos projetados de outros autores e ensaiados neste
trabalho. ............................................................................................................... 113
TAB. 4.9 Parâmetros de tenacidade (ASTM C1018, 1997) para os concretos com a fibra de
35 mm de comprimento. ...................................................................................... 123
TAB. 4.10 Parâmetros de tenacidade (ASTM C1018, 1997) para os concretos com a fibra de
50 mm de comprimento. ...................................................................................... 123
TAB. 4.11 Parâmetros de tenacidade (ASTM C1609, 2010) para os concretos com a fibra de
35 mm de comprimento. ...................................................................................... 125
TAB. 4.12 Parâmetros de tenacidade (ASTM C1609, 2010) para os concretos com a fibra de
50 mm de comprimento. ...................................................................................... 125
TAB. 4.13 Parâmetros de tenacidade (JSCE-SF4, 1984) para os concretos com a fibra de 35
mm de comprimento. ........................................................................................... 126
14
TAB. 4.14 Parâmetros de tenacidade (JSCE-SF4, 1984) para os concretos com a fibra de 50
mm de comprimento. ........................................................................................... 127
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RESUMO
O concreto projetado vem se destacando nas obras de engenharia civil, como excelente
alternativa para o revestimento de túneis, além de para o reparo e/ou reforço de estruturas. Por
ser mais fluido e utilizar agregados de menor dimensão máxima característica, é transportado
por bombeamento através de uma mangueira com o uso de ar comprimido a partir de um
equipamento de projeção e é ejetado sobre uma superfície de aplicação. Neste tipo de
concreto, a adição de fibras surge para controlar a sua fissuração e alterar o seu
comportamento de frágil para pseudo-dúctil, de acordo com o tipo, fator de forma e teor
volumétrico das fibras. Entre as fibras existentes, destaca-se a fibra de poliolefina, uma fibra
polimérica, que diferente da fibra de aço, é capaz de suportar ambientes agressivos e,
principalmente, não sofre o processo de oxidação, o que pode comprometer a estrutura do
concreto e sua finalidade de aplicação. A fim de estudar a influência das fibras de poliolefina
nas propriedades de um concreto projetado (fck = 35 MPa) e compará-las à de um mesmo
concreto moldado, elaborou-se, após a realização de uma revisão bibliográfica sobre concreto
projetado, um programa experimental, cujos parâmetros variados foram o comprimento (lf =
35 mm e lf = 50 mm) e o teor volumétrico (Vf = 0,25% e Vf = 0,50%) das fibras de poliolefina.
Foram executados ensaios para avaliação da velocidade das ondas ultrassônicas, resistência à
compressão, módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson, resistência à tração por
compressão diametral, resistência à tração na flexão, curva carga - flecha e tenacidade à
flexão dos concretos moldados e projetados. A microscopia eletrônica de varredura foi
utilizada para analisar qualitativamente a fibra de poliolefina e a sua interação com a
argamassa de concreto. Concluiu-se que as propriedades dos concretos moldados foram
superiores, em média, 10% que as dos concretos projetados. Com a adição das fibras lf = 35
mm, somente a resistência média do concreto à tração na flexão aumentou, enquanto com a
adição das fibras lf = 50 mm, houve somente aumento nas resistências médias do concreto à
tração por compressão diametral e na flexão. As propriedades sobre tenacidade à flexão do
concreto foram incrementadas pela adição das fibras de poliolefina no concreto, cujos maiores
valores foram obtidos para os concretos com fibras lf = 50 mm e Vf = 0,50%.
17
ABSTRACT
18
1. INTRODUÇÃO
19
1.2 OBJETIVO
20
21
Capítulo 1 – Apresentação
São descritos os aspectos gerais que nortearam os estudos, a justificativa, os objetivos
geral e específico da pesquisa e, também, apresenta como a pesquisa está exposta e
organizada.
Referências Bibliográficas
São listadas as referências bibliográficas utilizadas nesta pesquisa.
22
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Será apresentado neste capítulo o embasamento teórico referente a concretos projetados,
seus tipos, equipamentos utilizados e aplicações na construção civil.
Destaca-se também uma breve explanação sobre o Novo Método Austríaco para Abertura
de Túneis (New Australian Tunelling Method - NATM), que vem sendo amplamente utilizado
no Brasil devido a sua flexibilidade de execução e baixo custo.
Durante ano de 1895, o curador do Field Museum of Natural Science, Carlton Akeley, em
Chicago nos Estados Unidos da América, estava planejando uma forma de criar modelos de
animais pré-históricos, mas era de extrema dificuldade moldar estas estátuas em concreto
convencional. Então, Akeley desenvolveu um equipamento que o batizou de plastergun (FIG.
2.1). Possuía duas câmeras sobrepostas a rotor, que permitia a pressurização de uma mistura
seca de cimento e areia por ar comprimido, onde no bocal do tubo havia uma entrada para
inserção de água (SCA, 1999).
23
Neste tipo de projeção, predominam os equipamentos a rotor (v. FIG. 2.2), providos de
uma cuba de alimentação onde a mistura de agregados e cimento desce por gravidade para
uma das câmaras do rotor. Ao girar, a mistura recebe uma determinada quantidade de ar
comprimido para depois ser conduzida ao mangote. Então, na ponta deste mangote através de
uma segunda entrada, é introduzida a água e/ou aditivos para que se dê o início da hidratação
24
da mistura seca e sua projeção no local destinado. Além do equipamento a rotor, é necessário
um compressor de ar capaz de garantir a pressão exigida para que a projeção seja efetivada a
uma velocidade constante e que garanta conforto de operação ao mangoteiro (PRUDÊNCIO,
2005; MELBYE et. al., 2001; MELBYE e DIMOCK, 2001; SCA, 1999).
FIG. 2.2 - Esquema simplificado de uma máquina de projeção por via seca (MAHAR et
al., 1975).
25
FIG. 2.3 - Pontos de inserção do ar comprimido e da água no equipamento via seca.
Fonte: https://sites.google.com/site/naresi1968/naresi/concreto-projetado.
Ainda sobre este assunto, FIGUEIREDO (2005) destaca que o mangoteiro deverá utilizar
a maior vazão possível de água, desde que não ocorra desplacamento do material projetado ou
ocorra escorrimento. O autor ainda afirma que o uso de teores elevados de água aumenta a
resistência à compressão do concreto, porque o efeito positivo no adensamento da mistura por
expulsão de ar é superior ao proporcionado pelo aumento da relação água/cimento.
FIG. 2.4 - Mangoteiro executando projeção por via seca (MOURA, 2013).
MELBYE et al. (2001) ressaltou que a umidade natural dos agregados utilizados neste
tipo de projeção deve ficar em torno de 3% a 6%. Abaixo desta faixa de teor de umidade há
um aumento considerável da poeira no local, causando insalubridade aos operários, enquanto
altos teores de umidade aumentam a incidência de entupimentos no equipamento e mangote,
causando atrasos na obra e reparos nos equipamentos.
26
Os equipamentos de projeção a seco (v. FIG. 2.5) têm sido utilizados em aplicações
referente a reparos e reforço estruturais devido a dano causado por incêndios, pontes, túneis,
obras subterrâneas, piscinas e contenções de encostas e taludes (SCA, 1999).
(a) (b)
FIG. 2.5 - (a) Primeiro equipamento de projeção por via seca a rotor da Meynadier de
1957. (b) CP3 Bomba para concreto projetado via seca da empresa CPB (MOURA, 2013
e Concreto Projetado Brasil, 2016).
27
Entre as principais vantagens da projeção por via seca, SILVA (1997) relaciona as
seguintes:
Baixa relação a/c;
Melhor compactação do concreto devido à alta velocidade de projeção;
Facilidade nos processos de instalação, manutenção e operação;
Economicamente melhor quando da necessidade de menos quantidade de cimento
e aditivo acelerador; e
Melhor aderência nas superfícies úmidas.
FIG. 2.6 - Abastecimento da máquina de projeção por via úmida (MOURA, 2013).
De acordo com SILVA (1997), a força de impacto dos equipamentos com fluxo aerado é
maior que a dos equipamentos com fluxo denso. Quanto maior a força de impacto, maior a
aderência. Como o concreto tem que ser plástico para ser bombeado sem gerar problemas de
28
entupimento no mangote, em geral, se utiliza mais água que a necessária para a hidratação do
cimento. O excesso de água se evapora do concreto, tornando-o mais propenso à formação de
fissuras por retração. Neste caso, usa-se um aditivo plastificante para reduzir a relação a/c e
facilitar o transporte do concreto pelo mangote (v. FIG. 2.7).
FIG. 2.7 - Esquema da execução de projeção por via úmida (ACI, 2002).
MELBYE et al. (2001) também afirmaram que há uma maior estabilidade nos resultados
de resistência à compressão, com uma menor dispersão dos dados adquiridos, devido ao
concreto ser preparado antes do bombeamento. Desta maneira, há um maior controle da
quantidade de materiais constituintes na composição do concreto projetado e da relação a/c.
Um dos tabus vencidos pela projeção via úmida é seu uso na execução de revestimento
primário em obras subterrâneas, antes utilizada somente a projeção via seca. Isto, deve-se ao
fato do desenvolvimento de aditivos aceleradores de pega que são capazes de propiciar a
resistência necessária a baixas idades e ao desenvolvimento de máquinas de projeção manuais
de pequena vazão (PRUDÊNCIO, 2005).
Além disso, HOEK et al. (1995) relataram que a projeção via úmida é ideal para
aplicações de alta produção, como, por exemplo, um poço profundo ou longo túnel que
29
FIG. 2.8 - Exemplos projeção por via úmida utilizando robôs (HÖFLER et al., 2011).
Para este tipo de projeção, as vantagens que mais se destacam, de acordo com MELBYE
et al.(2001) são:
Menor índice de reflexão se comparado com o da projeção via seca, a perda fica em
torno de 5% a 10%, cujos valores também se aplicam ao concreto projetado com
adição de fibras;
Redução de partículas em suspensão, menor incidência de poeira, garantindo melhor
ambiente de trabalho aos operários;
Possibilidade de utilizar camadas de concreto mais espessas;
Dosagem controlada da água, constância na relação a/c;
Melhor adesividade com o substrato e trabalhabilidade garantida com a incorporação
de aditivos;
Maior resistência à compressão e muito pouca variação nos resultados;
Maior produção e, consequentemente, uma maior economia total; e
Possibilidade de uso de fibras e misturas especiais.
O documento ACI 506(1995) também enumera algumas desvantagens desse processo de
projeção que devem ser levadas em consideração:
30
Alto custo do equipamento (podendo chegar a ser três vezes mais que o equipamento
via seca);
Resistências iniciais e finais são menores devido à relação a/c ser maior;
Caso haja interrupção na execução, há grandes perdas de volume de concreto;
Custos de limpeza do equipamento maiores; e
Máximo de 300 m de comprimento do mangote.
Na Austrália, de acordo com a Australian Shotcrete Society (AuSS, 2010), a projeção via
úmida é mais utilizada que a projeção via seca, sendo esta, destinada para operações mais
específicas, como já foi levantado por HOEK et al. (1995). A TAB. 2.1 compara sucintamente
os dois processos através de vários parâmetros:
31
O concreto projetado com fibra de aço foi introduzido a partir da década de 1970 e desde
então, ganhou aceitação mundial como um substituto para a tradicional malha de aço que atua
como um reforço para a projeção. O papel principal que a fibra, desempenha é aumenta sua
ductilidade pois o concreto sem fibra possui comportamento frágil (PAPWORTH, 2002;
ORAEE-MIRZAMANI et al., 2011).
Os concretos com fibras podem ser definidos como compósitos, ou seja, materiais
constituídos de, pelo menos, duas fases distintas principais. FIGUEIREDO (2005) considerou
como fases principais do concreto com fibras o próprio concreto, denominado matriz e as
fibras, que podem ser produzidas a partir de diferentes materiais.
MELBYE e DIMOCK (2001) citaram as principais vantagens de se utilizar fibras no
concreto projetado, constatando que sua utilização é igualmente boa ou melhor do que o
reforço com malha de aço:
Alta produtividade de execução em obras subterrâneas;
Melhoria nos padrões de segurança devido à utilização de robôs;
Não há o efeito sombra, causado na projeção do concreto com a colocação da
malha de aço,
Controle do volume de concreto utilizado e da espessura do revestimento;
Vantagem logística com relação à montagem da malha e ao armazenamento;
Advento da projeção por via úmida com a adição da fibra; e
Surgimento de fibras de alto desempenho, específicas para utilizar com concreto
projetado;
Os mesmos autores ainda comparam a fibra de aço com a fibra de polipropileno de alto
desempenho, onde se enquadra também, a fibra de poliolefina, material presente neste estudo.
Os pesquisadores listaram os benefícios do uso da fibra de polipropileno sobre a fibra de aço:
As fibras de polipropileno causam menos entupimento no mangote de projeção, e
propiciam um melhor acabamento na região projetada;
Causam menor desgaste no equipamento de projeção;
Em casos de necessidade de acabamento, as fibras expostas podem ser cortadas
e/ou aparadas;
Apresentam melhor suporte de carga residual, em conjunto com o concreto
armado, em caso de reparos;
32
33
FIG. 2.9 - Principais características das fibras para composição a matriz de concreto
(NAAMAN, 2000 apud SALVADOR, 2013).
O mesmo autor ainda afirma que, para a fibra apresentar capacidade de reforço, é
necessária resistência à tração superior à da matriz (duas a três ordens de magnitude), módulo
de elasticidade de, no mínimo, três vezes maior que o da matriz e energia de ligação na
mesma ordem de magnitude que a resistência à tração da matriz. Outro fator importante
determinado por NAAMAN (2000) é que a expansão térmica e o coeficiente de Poisson
devem ser equivalentes.
Dentro desse contexto, as TAB. 2.2 e TAB. 2.3 apresentam as principais propriedades de
matrizes cimentícias e de fibras, segundo estudos de HANNANT (1978), BENTUR e
MINDESS (1990) e CALLISTER (2002).
34
Nas FIG. 2.10 e FIG. 2.11, pode-se observar em detalhe uma seção fissurada de uma
vigota submetida aos esforços de tração na flexão e composta por concreto projetado e fibra
de poliolefina, pertencente aos estudos advindos desta pesquisa. Pode-se constatar o
comportamento desta fibra nas situações supracitadas.
A fibra de poliolefina é feita de monômeros compostos de átomos de hidrogênio e
carbono. É um polímero obtido a partir do polietileno e polipropileno (TAGNIT-HAMOU et
al., 2004). A poliolefina pode ser tanto amorfa ou altamente cristalina e comportar-se como
35
FIG. 2.11 - (1) Deslocamento da fibra, (2) Fibra atuando como ponte de transferência
entre tensões (3) Arrancamento da fibra (4) Ruptura da fibra (TONOLI, 2009).
36
37
FIG. 2.13 - Fenômeno de auto-fibrilação da fibra de poliolefina. (a) seção fissurada (b)
estricção devido ao coeficiente de Poisson (c) fibrilação devido ao esforço de tração
(adaptação conforme BENTUR e MINDESS, 1990)
.
Na FIG. 2.14 apresenta-se a composição química da poliolefina, onde R e R’ são átomos
de H (hidrogênio) ou grupos alquila (CH3, CH2-CH3...).
O comprimento da fibra deve ser pelo menos duas vezes a dimensão máxima do
agregado, sendo usual duas e meia a três vezes para que a fibra possa atuar como ponte de
transferência entre tensões nas fissuras (AGUADO e LARANJEIRA, 2007 apud MEDEIROS
2012). Esta compatibilidade dimensional é também citada por FIGUEIREDO (2005) (v. FIG
2.15), pois a fissura se propaga, em sua maioria, na região de interface entre o agregado
graúdo e a pasta de cimento endurecido. No concreto projetado, quanto maior a dimensão
38
máxima do agregado, maior a dificuldade para adquirir uma boa correlação como
comprimento da fibra e maiores os índices de reflexão.
(A)
(B)
FIG. 2.15 - (A) Compatibilidade dimensional entre fibra e agregado (B) Não
compatibilidade. (FIGUEIREDO, 2005).
FIG. 2.16 - Tensão distribuída ao longo da fibra segundo seu comprimento crítico
(BENTUR & MINDESS, 1990).
39
Para ARIF (2014), a distribuição das fibras em uma matriz cimentícia é, geralmente,
adotada de forma aleatória (chamada também de “distribuição isotópica uniformemente
aleatória”), pois a compactação por vibração introduz segregação e reorientação para cada
fibra. A orientação das fibras depende principalmente do tipo da fibra e de outras condições,
tais como a trabalhabilidade e a energia do adensamento do concreto.
Por conseguinte, o teor volumétrico crítico da fibra Vfcrítico existente no concreto com
fibras está relacionado à sua influência na tenacidade do concreto. Este é o volume de fibras
que o concreto com fibra mantém uma resistência residual pós-fissuração igual à resistência
da matriz cimentícea.
Entre todas as proposições já expostas a mais importante e citada anteriormente, é a
tenacidade. Para LOPES (2016), representa uma medida da capacidade de um material em
absorver energia até a ruptura. Para uma situação estática ou quase-estática (pequena taxa de
deformação), a tenacidade pode ser determinada a partir dos resultados de um ensaio de
tensão-deformação em tração. Neste caso, ela pode ser considerada como sendo a área sob a
curva até o ponto de ruptura.
Segundo o mesmo autor, para que um material seja tenaz, ele deve apresentar tanto
resistência como ductilidade, e frequentemente, materiais dúcteis são mais tenazes do que
materiais frágeis, pois embora o material frágil tenha maior limite de
escoamento e maior limite de resistência à tração, ele possui menor tenacidade do que o
material dúctil, em virtude de sua menor capacidade de deformação.
De acordo com MEHTA e MONTEIRO (2008), no caso do concreto com fibras, a sua
ruptura se caracteriza quando a matriz suporta esforços após a sua
fissuração, o que ajuda manter a integridade estrutural e de coesão no material, suporte à
instabilidade, resposta pós-pico (v. FIG. 2.17).
Para MINDESS et al. (2003), há parâmetros que o concreto com fibras deve satisfazer,
entre eles:
devem representar as características da curva carga – deslocamento;
os dados de deslocamentos adquiridos e utilizados para determinar a tenacidade
devem representar as condições de uso mais severas possíveis dependendo do tipo
de aplicação deste concreto; e
40
FIG. 2.17 - Resposta à tenacidade do concreto com e sem fibras (ISLAM, 2012 apud
ARIF, 2014).
Há outros critérios de acordo com esses autores e atualmente existem diferentes métodos
para se avaliar a tenacidade de concreto com firas. Na presente pesquisa, serão abordados
especificamente três deles e será feito um breve comentário relacionado as outras normas
difundidas pelo meio acadêmico.
A tenacidade de um concreto com fibras corresponde à área sob a curva carga-flecha, que
expressa o trabalho dissipado no concreto com fibras até um determinado valor de flecha e
avalia o desempenho de um concreto com fibras.
Para a determinação dessa curva carga - flecha, realiza-se o ensaio de flexão de um corpo
de prova prismático de concreto com fibras sob quatro pontos, conforme as normas
americanas ASTM C1018 (1997), ASTM C1609 (2010) e ASTM C1399 (2010) e japonesa
JSCE-SF4 (1984), ou o ensaio de flexão de um corpo de prova prismático de concreto com
fibras com entalhe sob três pontos, segundo a norma européia EN 14651 (2007), porém neste
trabalho, este ensaio não foi realizado.
41
FIG. 2.18 - Dados sobre métodos sobre tenacidade de concretos com fibra (SALVADOR,
2012).
42
visto na FIG. 2.19. São valores adimensionais e fornecem uma referência da proximidade do
comportamento do material em relação ao referido comportamento elasto-plástico ideal
(FIGUEIREDO, 2000).
Como as tensões de tração no concreto até a fissuração podem ser consideradas
proporcionais à deformação medida, a curva carga-flecha sob a área total até o valor da flecha
se comporta elasticamente.
FIG. 2.19 - Características das curvas carga - flecha segundo ASTM C1018 (1997).
43
De acordo com MORGAN (1991) apud SILVA (1997), apenas o índice de tenacidade I5
não caracteriza um concreto projetado com fibra, sendo melhor definir os índices de
tenacidade I10 e I20.
A norma ASTM C1018 (1997) recomenda que o ponto final da flecha e o respectivo
índice de tenacidade sejam selecionados de modo a refletir o nível de fissuração e flecha
requeridos em serviço.
FIG. 2.20 - Características das curvas carga - flecha para um material elasto-plástico
ideal segundo a norma ASTM C1018 (1997).
Em conhecendo-se os índices de tenacidade I5, I10 e I20, pode-se, de acordo com a norma
ASTM C1018 (1997), determinar os fatores de resistência residual ou relações de tenacidade
(v. EQ. 2.7 e EQ. 2.8).
44
Como resultado dos inconvenientes já citados por conta dos resultados obtidos com o uso
da norma ASTM C1018 (1997), esta foi substituída pela norma ASTM C1609 (2010),
descrita no item a seguir.
. (2.9)
.
. (2.10)
.
. (2.11)
.
45
.
, 100% . (2.12)
. .
onde Th150 é a área total abaixo da curva carga - flecha até o valor de flecha igual a l/150
(tenacidade) para o corpo de prova de altura h.
FIG. 2.21 - Características das curvas carga - flecha segundo a norma ASTM C1609
(2010).
2.4.3 MÉTODO JSCE – SF4 (1984)
46
A partir da curva carga - flecha (v. FIG. 2.22), pode-se obter a resistência à tração na
flexão do concreto com fibra ou módulo de ruptura à flexão (b) com o uso da EQ. 2.13 e o
fator de tenacidade à flexão ( ) por meio da EQ. 2.14.
. (2.13)
.
. (2.14)
.
FIG. 2.22 - Características das curvas carga - flecha segundo a norma JSCE - SF4
(1984).
47
48
49
50
TAB. 2.5 - Composição padrão de concreto – projetado por via úmida com robô (AuSS,
2008).
Quantidades em kg/m³
Materiais
Mina Túnel
Cimento 440 420
Cinza Volante - 60
Sílica Ativa 20 40
Agregado (10 mm) 500 450
Areia Grossa 680 780
Areia Fina 500 380
Água (L) 200 208
Fibra de Aço 30 - 40 40 - 60
Fibra Sintética 5–8 9 - 10
Redutor de Água (L) 1 1
Superplastificante (L) 3 3
Controle de Hidratação
2 1
(L)
Slump (mm) 120 - 150 120 - 150
Fator de água cimento 0,40 – 0,48 0,38 – 0,45
51
TAB. 2.6 - Composição padrão de concreto – projetado por via úmida manualmente.
(AuSS, 2008)
Materiais Quantidades em kg/m³
Cimento 335
Cinza Volante 85
Agregado (10 mm) 610
Areia Grossa 585
Areia Fina 530
Água (L) 200
Redutor de Água (L) 1,6
Superplastificante (L) 1
Incorporador de ar (L) 0,1
Slump (mm) 60
52
FIG. 2.24 - Aplicação de concreto projetado como reforço estrutural em túnel (AuSS,
2008).
53
FIG. 2.25 - Vista em perspectiva das Estações Brigadeiro e Trianon (CBT, 2006).
54
O método NATM, foi patenteado em 1958 por A. Brunner e disseminado por Ladislau
Rabcewicz. Desenvolveu-se na Europa entre os anos 1950 e 1960, devido às experiências de
trabalhos executados em túneis de minas de carvão. O alívio de tensões ocorridas a partir da
abertura feita no maciço foi observado à medida que, ao se colocar os escoramentos de
madeira, observou-se que estes podiam ser mais leves que os usuais.
AMARAL et. al. (1980) já afirmavam que a execução deste tipo de túnel baseia-se na
substituição do conceito de escoramento pelo de estabilização da escavação, despertando as
resistências intrínsecas dos maciços durante a fase de escavação. É de se ressaltar que o
emprego deste método só foi possível a partir do advento de equipamentos que possibilitavam
escavações mais rápidas e de novos materiais de revestimento (concreto projetado),
permitindo um controle eficaz sobre as deformações dos terrenos vizinhos à escavação. (v.
FIG. 2.26)
Os métodos de escavação mais tradicionais baseavam-se nas técnicas de mineração para
exploração subterrânea e, por isso, no superado conceito de escoramento, o que impediu por
um longo tempo a utilização do concreto como material de revestimento de túnel. Baseando-
se no conceito de escoramento, existiam os métodos inglês, alemão e o antigo austríaco.
FIG. 2.26 - Execução de túnel pelo método NATM (Construção de Túneis, 2014)
55
56
Neste sentindo, SAUER (2003) listou os principais requisitos para execução de túneis
pelo método NATM:
a) a seção transversal de escavação deve sempre ter uma forma ovalada;
b) a instalação imediata e continua de suporte no perímetro da escavação (e, se
necessário, na face também), é um fator significativo para minimizar a
movimentação do material circundante;
É também essencial, sob o aspecto estrutural, fechar o anel de revestimento (em concreto
projetado) o mais rápido possível, até uma distância de 1 diâmetro do túnel, atrás da face de
avanço da escavação.
57
FIG. 2.28 - Revestimento do túnel de 57 km que liga Suíça e Itália (Indica Obra, 2016).
58
59
60
3. PROGRAMA EXPERIMENTAL
O início dos trabalhos deu-se com o plano de confecção das fôrmas de madeira (v. FIG
3.1) para receberem a projeção e a moldagem do concreto.
Foram adquiridas 09 folhas de madeira laminada e resinada de 2200 mm x 1100 mm de
dimensões e tubos em PVC de 100 mm de diâmetro e 6000 mm de comprimento, que foram
cortadas previamente nas dimensões, conforme pode-se visualizar na FIG. 3.1 e
confeccionadas:
20 formas de dimensões 600 mm x 600 mm x 100 mm para moldagem das placas,
totalizando 20 placas de concreto;
61
A FIG. 3.2 mostra as formas montadas e dispostas prontas para receber o concreto
moldado ou projetado. As formas quadradas, para confecção das placas, apesar de terem sido
moldadas e projetadas, não foram utilizadas nesta pesquisa.
62
FIG. 3.3 - Amostras de brita e areia utilizados no concreto projetado por via úmida.
3.2.1 CIMENTO
O cimento utilizado na composição dos concretos deste trabalho foi do tipo Portland de
Alta Resistência Inicial (CPV-ARI), com composição de gesso e clínquer variando entre
100% a 95% e fíller de calcário entre 0% a 5%, cujas principais características físicas e
mecânicas encontram-se na TAB. 3.2.
63
TAB. 3.2 - Parâmetros físicos e mecânicos para cimento Portland de Alta Resistência
Inicial.
Características Resultados
Superfície Blaine ≥ 300 m²/kg
Tempo de Pega: Início ≥ 1h
Tempo de Pega: Fim ≤ 12h
Resistência Mecânica: 1 dia ≥ 11 MPa
Resistência Mecânica: 3 dias ≥ 24 MPa
Resistência Mecânica: 7 dias ≥ 34 MPa
3.2.2 AGREGADOS
3.2.3 ÁGUA
A água da mistura era límpida, livre de óleos, detergentes, pH neutro e sem partículas em
suspensão.
3.2.4 ADITIVOS
Por conta do concreto utilizado, ter vindo de uma central de concreto e transportado por
meio de um caminhão betoneira, foi utilizado apenas um aditivo polifuncional, Mastermix
397N, com o objetivo de retardar a pega e manter a trabalhabilidade adequada para transporte.
Na TAB 3.3, reúnem-se as principais informações técnicas sobre o produto.
64
65
(a) (b)
FIG. 3.5 - Micrografia da seção longitudinal da fibra de poliolefina (a) Aumento de 20X.
(b) Aumento de 700X.
(a) (b)
FIG. 3.6 - Micrografia da seção transversal da fibra de poliolefina (a) Aumento de 20X.
(b) Aumento de 800X.
3.3 EXECUÇÃO DOS CORPOS DE PROVA
Os corpos de prova, obtidos através do processo de projeção por via úmida, foram
projetados sob orientação da norma ABNT NBR 13070 (2012) e das recomendações
EFERNAC (1996), com algumas adaptações relatadas ao longo deste capítulo.
66
A execução deu-se por etapas (v. FIG. 3.7), iniciando com a colocação das fôrmas em
posição de acordo com o que a norma ABNT 14026 (2012) sugere para projeção. Para o
concreto projetado, a inclinação necessária foi obtida com apoio das bases dos taludes
existentes no local (v. FIG. 3.7a) e, para o concreto moldado convencional, as fôrmas foram
apoiadas em local plano.
Em seguida, avaliou-se a consistência do estado fresco do concreto através do ensaio de
abatimento do tronco de cone, cujos valores situaram-se entre 90 mm e 180 mm (v. FIG.
3.7b), tendo o cuidado de verificar se o abatimento obtido estava dentro da faixa limite (80
mm a 200 mm) estipulada pelas recomendações EFNARC (1996). Após houve a moldagem
dos corpos de prova de forma convencional, com uso de um vibrador de imersão para
adensamento do concreto (v. FIG. 3.7c). Depois disto, passou-se para o processo de projeção
do concreto, iniciando com o acerto da pressão do equipamento (v. FIG. 3.7d), visando
diminuir o processo de reflexão, para só então, proceder a projeção nas fôrmas (v. FIG. 3.7e).
É necessário frisar também, que após cada projeção, a máquina e o mangote de transporte
foram totalmente esvaziados do concreto remanescente (v. FIG. 3.7f), e em seguida, limpos
67
(v. FIG. 3.7g), para só depois se iniciar uma nova projeção e uma nova moldagem. Este
procedimento era de suma importância a fim de garantir a confecção de corpos de prova com
dosagem correta de fibras, além de evitar resquícios de concreto que, após endurecido,
viessem causar entupimento nas conexões do conjunto de projeção.
O referido procedimento repetiu-se três vezes, sempre ocorrendo primeiramente a
moldagem e, em seguida, a projeção dos concretos sem adição de fibra, 0,25% e com 0,50%,
de fibras de poliolefina, que foram adicionadas de acordo com a quantidade de concreto
existente no caminhão betoneira.
Além da variação do teor de quantidade de fibra, variou-se também o fator de forma das
mesmas. Usaram-se, uma fibra de poliolefina de 70 de fator de forma e de 35 mm de
comprimento e outra de 100 de fator de forma e 50 mm de comprimento. Os dados de
consumo de fibra para a concretagem encontram-se na TAB. 3.5.
(d) (e) (f)
(g)
FIG. 3.7 - Etapas de execução dos corpos de prova de concreto. (a) Disposição das
fôrmas. (b) Slump test. (c) Moldagem convencional. (d) Regulagem da pressão. (e)
Projeção do concreto nas fôrmas. (f) Esvaziamento do mangote. (g) Limpeza com água
do conjunto de projeção.
68
TAB. 3.5 - Quantidades em massa de fibra adicionadas no caminhão betoneira.
Tipo Fator de forma Vf (%) Quantidade (kg)
Poliolefina 35 mm 70 0,25% 4,50 para 2 m3 de concreto
Poliolefina 35 mm 70 0,50% 2,25 para 1 m3 de concreto
Poliolefina 50 mm 100 0,25% 6,75 para 3 m3 de concreto
Poliolefina 50 mm 100 0,50% 2,25 para 1 m3 de concreto
FIG. 3.9 - Acondicionamento das amostras após 24 h da confecção dos corpos de prova
de concreto.
69
70
TAB. 3.6 - Normas utilizadas para caracterização mecânica dos corpos de prova de
concreto.
Título da Norma Referência
Concreto endurecido - Determinação da velocidade de ABNT NBR 8802 (2013)
propagação de onda ultrassônica.
Concreto - Ensaios de compressão de corpos-de-prova ABNT NBR 5739 (2007)
cilíndricos.
Argamassa e concreto – Determinação da resistência à ABNT NBR 7222 (2011)
tração por compressão diametral de corpos-de-prova
cilíndricos.
Concreto - Determinação do módulo estático de ABNT NBR 8522 (2008)
elasticidade à compressão.
Concreto – Determinação da resistência à tração na flexão ABNT NBR 12142 (2010)
em corpos de prova prismáticos.
Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. ABNT NBR 6118 (2014)
Método de ensaio de resistência à flexão e JSCE-SF4 (1984)
tenacidade à flexão de concreto reforçado com fibras de
aço.
Método de ensaio padrão do ASTM C1609 (2010)
desempenho à flexão de concreto reforçado com fibras.
Método de Ensaio padrão para determinação da tenacidade ASTM C1018 (1997)
à flexão e primeira fissura de concretos reforçados com
fibras.
Os resultados de massa específica e absorção dos agregados estão dispostos na TAB. 3.7.
Observa-se que os resultados de massa específica dos agregados graúdo e miúdo ficaram
próximas entre si.
As figuras FIG. 3.10 e FIG. 3.11 apresentam as curvas granulométricas dos agregados
graúdos e miúdo. Nos gráficos de granulometria, a faixa na qual o agregado graúdo se encaixa
é a faixa compatível à da brita 0 e o agregado miúdo situa-se na zona utilizável.
71
TAB. 3.7 - Valores de massa específica e absorção dos agregados.
Agregado Massa Específica Massa Específica Absorção
Real (kg/m³) Aparente (kg/m³) (%)
Agregado Graúdo 2.730 1.472 13,81
Agregado Miúdo 2.632 1.415 -
10
30
Brita 1
40
Brita 2 50
60
Brita 3
70
80
90
100
FIG. 3.10 - Gráfico do ensaio de granulometria do agregado graúdo.
10
Porcentagens retidas acumuladas
20
30
40
50
Zona Utilizável - Limite
Inferior 60
Zona Utilizável - Limite
70
Superior
Zona Ótima - Limite Inferior
80
Zona Ótima - Limite 90
Superior
100
FIG. 3.11 - Gráfico do ensaio de granulometria do agregado miúdo.
72
73
70
60
50
40
30
20
10
0
0 2000 4000 6000 8000 10000
FIG. 3.12 - Curva de distribuição do índice de angularidade da brita 0.
60
50
40
30
20
10
0
0 200 400 600 800 1000
FIG. 3.13 - Curva de distribuição do índice de textura da brita 0.
74
50
40
30
20
10
0 0
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
Mais esférico
FIG. 3.14 - Curva de distribuição do índice de esfericidade da brita 0.
O ensaio AIMS classificou o índice de forma da areia menor/igual a 6,5, com 54% das
partículas na faixa circular (TAB. 3.11), e forneceu também dados referentes quanto à
angularidade (v. FIG. 3.15).
60
50
40
30
20
10
0
0 2000 4000 6000 8000 10000
(#16) 1.18mm (#30)0.60mm
FIG. 3.15 - Curvas de distribuição do índice de angularidade da areia.
75
(a) (b)
FIG. 3.16 – (a) Prensa universal Emic DL10000 de 100 kN de capacidade. (b) Detalhe da
fibra de poliolefina de 50 mm de comprimento fixada nas garras da prensa.
76
77
78
TAB. 3.14 - Dados sobre a nomenclatura dos corpos de prova de concreto cilíndricos ou
prismáticos.
Nomeclatura Tipo de concretagem Teor volumétrico de fibras Vf (%)
CM-1-SF Moldagem convencional 0
VM-1-SF
CM-2-0,25F Moldagem convencional 0,25
VM-2-0,25F
CM-3-0,5F Moldagem convencional 0,50
VM-3-0,5F
CP-1-SF Projeção 0
VP-1-SF
CP-2-0,25F Projeção 0,25
V-2-0,25F
CP-P-0,5F Projeção 0,50
VP-3-0,5F
79
FIG. 3.20 - Realização do ensaio de ultrassom.
Os valores médios de V para os concretos moldados e projetados sem ou com fibras estão
dispostos nas figuras FIG. 3.21 a FIG. 3.22, que foram obtidos a partir dos resultados de 9
(nove) corpos de prova moldados e 18 (dezoito) corpos de prova projetados. Descartaram-se
os valores 5% abaixo ou acima do valor médio entre todos os valores de V.
3,00 3,00
2,00 2,00
1,00 1,00
5,00 5,00
4,32 4,16 4,16 4,18 4,16 4,09
4,00 4,00
Vm (km/s)
Vm (km/s)
3,00 3,00
2,00 2,00
1,00 1,00
CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F
80
50,0 50,0
41,8
40,0 36,3 34,9 40,0 36,9
33,6 32,3
fcm (MPa)
30,0
fcm (MPa) 30,0
20,0 20,0
10,0 10,0
0,0 0,0
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
FIG. 3.23 - Valores médios de fcm dos concretos com a fibra de 35 mm de comprimento.
fcm (MPa)
30,0 30,0
20,0 20,0
10,0 10,0
0,0 0,0
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
FIG. 3.24 - Valores médios de fcm dos concretos com a fibra de 50 mm de comprimento.
São mostrados nas FIG. 3.25 a FIG. 3.27 os padrões de fissuração nos corpos de provas
cilíndricos com fibras de 35 mm de comprimento, verificados após a ruptura.
81
(a) (b)
FIG. 3.25 - Aspecto pós-ruptura dos corpos de prova (a) CM-1-SF e (b) CP-1-SF.
(a) (b)
FIG. 3.26 - Aspecto pós-ruptura dos corpos de prova (a) CM-2-0,25F e (b) CP-2-0,25F.
(a) (b)
FIG. 3.27 - Aspecto pós-ruptura dos corpos de prova (a) CM-3-0,5F e (b) CP-3-0,5F.
Nas FIG. 3.28 a FIG. 3.30 observa-se os padrões de fissuração nos corpos de provas
cilíndricos com fibras de 50 mm de comprimento, verificados após a ruptura no ensaio de
compressão axial.
82
(a) (b)
FIG. 3.28 - Aspecto pós-ruptura dos corpos de prova (a) CM-1-SF e (b) CP-1-SF.
(a) (b)
FIG. 3.29 - Aspecto pós-ruptura dos corpos de prova (a) CM-2-0,25F e (b) CP-2-0,25F.
(a) (b)
FIG. 3.30 - Aspecto pós-ruptura dos corpos de prova (a) CM-3-0,5F e (b) CP-3-0,5F.
83
As FIG. 3.32 e FIG. 3.33 apresentam os gráficos com valores médios do módulo de
elasticidade e coeficiente de Poisson dos concretos moldados e projetados com a fibra de 35
mm de poliolefina. Estes foram obtidos a partir dos resultados de 3 (três) corpos de prova de
concreto cilíndricos, após o descarte dos valores de 5% abaixo ou acima do valor médio entre
todos os valores de Ec e ʋ.
35,0 30,3
30,0
24,9 25,0
25,0 22,2 23,2
Ecm (GPa)
18,9
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F
CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
84
0,25
0,19 0,19
0,20 0,17
0,16 0,16 0,16
0,15
0,10
ʋ
0,05
0,00
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F
CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5P
30,0
25,2 25,0 25,0 24,8 25,4
23,8
25,0
Ecm (GPa)
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F
CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
85
0,30
0,25
0,20 0,20
0,20 0,17 0,17 0,18 0,18
0,15
ʋ 0,10
0,05
0,00
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F
CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
Os gráficos das FIG. 3.36 e FIG. 3.37 mostram os valores médios de resistência à tração
por compressão diametral dos concretos moldados e projetados sem e com fibras, que foram
ensaiados de acordo com o que a norma ABNT NBR 7222 (2011) prescreve.
Os resultados foram obtidos de 5 (cinco) corpos de prova de concreto cilíndricos
moldados e 5 (cinco) corpos de prova de concreto cilíndricos projetados. Descartaram-se os
valores de 5% abaixo ou acima do valor médio entre todos os valores de fct,sp.
6,00 6,00
4,78
fct.spm (MPa)
fct.spm (MPa)
2,00 2,00
0,00 0,00
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
FIG. 3.36 - Valores médios de fct,sp para concretos com a fibra de 35 mm de
comprimento.
86
6,00 6,00
4,71 4,72 4,85
4,18 4,47
4,05
fct.spm (MPa)
fct.spm (MPa)
4,00 4,00
2,00 2,00
0,00 0,00
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,50F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,50F
As FIG. 3.38 e FIG. 3.39 apresentam o aspecto dos corpos de prova de concreto sem e
com fibra de poliolefina após a sua ruptura.
Verificou-se que os corpos de prova de concreto com fibra não apresentaram separação
entre as partes fendilhadas, ao contrário dos concretos sem fibra.
(a) (b)
FIG. 3.38 - da ruptura dos corpos de prova de concreto sem fibra. (a) concreto moldado
(b) concreto projetado.
87
(a) (b)
FIG. 3.39 - Aspecto da ruptura dos corpos de prova de concreto com fibra de 50 mm de
comprimento. (a) concreto moldado (b) concreto projetado.
FIG. 3.40 - Representação do esquema de ensaio de tração à flexão.
88
As FIG. 3.41 e 3.42 apresentam os gráficos com os valores médios de resistência à tração
na flexão, que foram obtidos a partir dos resultados de 5 (cinco) corpos de prova de concreto
prismáticos moldados e 10 (dez) corpos de prova de concreto prismáticos projetados. Os
valores 5% abaixo ou acima do valor médio entre todos os valores de fct,sp foram descartados.
8,00 6,72 6,84 8,00
6,34 6,05 6,28
5,81
6,00 6,00
fct,fm (MPa)
fct,f m(MPa)
4,00 4,00
2,00 2,00
0,00 0,00
VM-1-SF VM-2-0,25F VM-3-0,5F VP-1-SF VP-2-0,25F VP-3-0,5F
fct,fm (MPa)
4,00 4,00
2,00 2,00
0,00 0,00
VM-1-SF VM-2-0,25F VM-3-0,5F VP-1-SF VP-2-0,25F VP-3-0,5F
Nas FIG. 3.43 a FIG. 3.45, pode-se verificar os padrões de fissuração nos corpos de
provas prismáticos sem e com fibra de poliolefina de 35 mm de comprimento, após a ruptura
no ensaio de tração na flexão em quatro pontos. Os espécimes foram empilhados de acordo
com a nomenclatura adotada, para uma melhor visualização.
89
(a) (b)
(a) (b)
(a) (b)
Nas FIG. 3.46 a FIG. 3.48, observa-se os padrões de fissuração nos corpos de provas
prismáticos sem e com fibra de poliolefina de 50 mm de comprimento, após a ruptura no
ensaio de tração na flexão em quatro pontos. Os espécimes foram empilhados de acordo com
a nomenclatura adotada, para uma melhor visualização.
90
(a) (b)
(a) (b)
(a) (b)
91
(a) (b)
FIG. 3.49 - Distribuição da fibra de poliolefina de 35 mm na seção transversal de um
corpo de prova prismático moldado após rompimento. (a) Vf = 0,25% (b) Vf= 0,50%.
(a) (b)
(a) (b)
FIG. 3.51 - Distribuição da fibra de poliolefina de 50 mm na seção transversal de um
corpo de prova prismático moldado após rompimento. (a) Vf = 0,25% (b) Vf= 0,50%.
92
(a) (b)
FIG. 3.52 - Distribuição da fibra de poliolefina de 50 mm na seção transversal de um
corpo de prova prismático projetado após rompimento. (a) Vf = 0,25% (b) Vf= 0,50%.
93
FIG. 3.55 - Curvas carga - flecha de vigotas moldadas com 0,25% e 0,50% de fibra.
FIG. 3.56 - Curvas carga - flecha de vigotas projetadas com 0,25% e 0,50% de fibra.
94
Os gráficos das FIG. 3.57 e FIG. 3.58 mostram as curvas de carga - flecha no meio do
vão das vigotas de concreto moldado e projetado com fibras de poliolefina de 50 mm.
FIG. 3.57 - Curvas carga - flecha de vigotas moldadas com 0,25% e 0,50% de fibra.
FIG. 3.58 - Curvas carga - flecha de vigotas projetadas com 0,25% e 0,50% de fibra.
95
96
dentro dos parâmetros definidos como semicircular, tendo uma porcentagem expressiva
também na classificação semialongado.
a b
FIG. 4.1 - Imagens da brita 0 obtida pelo AIMS. (a) angularidade e (b) textura.
A FIG. 4.2 apresenta a imagem da angularidade dos grãos da areia média, classificados
como subarredondados, com 61,2% da amostra. O seu índice de forma foi circular com 53,9%
da amostra com valor de até 6,5. Com estes dados é possível inferir que a areia contribui para
uma boa coesão da massa de concreto fresca e baixa reflexão no momento da projeção úmida.
Nos dois agregados, segundo as recomendações da EFNARC (1999) sua angularidade se
adequa às suas exigências, facilitando a trabalhabilidade no momento do bombeamento da
massa no interior equipamento de projeção.
97
98
TAGNIT-HAMOU et al. (2004) também obtiveram imagens por meio do MEV, capaz de
gerar imagens de alta resolução, para identificar o aspecto da superfície da fibra de
poliolefina, obtendo como resultado a denominação “smooth” (lisa, plana). Em contrapartida
a fibra de poliolefina utilizada neste trabalho apresentou superfície diferente, com um aspecto
rugoso, como já observado anteriormente. A FIG. 4.5 apresenta a micrografia da camada
superficial da fibra estudada por TAGNIT-HAMOU et al. (2004) utilizada neste trabalho.
FIG. 4.5 - Micrografia da superfície da fibra de poliolefina. (a) Autora desta pesquisa.
(b) TAGNIT-HAMOU et al. (2004).
99
100
Cinza Volante - 60 -
Microssílica - 40 -
Silica Ativa - - 48
Agregado graúdo 707 (brita 9,5 mm) 450 (seixo 10 mm) 480
101
102
Também pode-se visualizar nestas figuras uma curva central (linha cheia) junto com sua
respectiva equação, que foi obtida por regressão de dados com o coeficiente de correlação
mais próximo da unidade, e outras duas curvas (linhas tracejadas), uma inferior e outra
superior, que foram construídas diminuindo ou somando o desvio padrão dos dados à curva
central.
A FIG. 4.6 reúne dados sobre o consumo de cimento por volume de concreto projetado em
função de fc, que apresentaram valores de média e de desvio padrão aproximadamente iguais a
412 kg/m3 e 58 kg/m3. Pode-se observar que este consumo aumentou com o incremento de fc
e que, para os concretos com fc entre cerca de 15 MPa e 80 MPa, o consumo médio de
cimento situou-se entre cerca de 340 kg/m3 e 480 kg/m3. Nota-se que, para o concreto
projetado com fc = 20 MPa, que é o valor mínimo de resistência de concreto com fins
estruturais (ABNT NBR 6118, 2014), o consumo médio mínimo de cimento por volume de
concreto projetado foi em torno de 350 kg/m3. O consumo de cimento do concreto deste
trabalho foi 500 kg/m³ (fcm igual a 39,4 MPa), 27%, acima do valor médio, conforme nota-se
na FIG. 4.6.
900
Consumo de cimento (kg/m³)
800
700
600
500
400
300
200
100 y = 2,0741x + 312,7
R2 = 0,2985
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
39,4
fc (MPa)
Dados sobre o consumo de adição por volume de concreto projetado, excluído qualquer
tipo de cimento Portland, em função de fc encontram-se na FIG. 4.7. Nesta figura, as curvas
foram obtidas sem levar em consideração os concretos projetados com pó de calcário de
ALBERTI et al. (2014), pois o consumo de adição nestes (200 kg/m3) foi destacadamente
superior ao dos outros concretos projetados. Os valores de média e de desvio padrão foram
103
cerca de 72 kg/m3 e 36 kg/m3. Verifica-se nesta figura que o consumo de adição se situou, em
sua maioria, na faixa entre 45 kg/m3 e 95 kg/m3, independentemente do valor de fc. Em geral,
costuma-se adotar o consumo de adição, em massa, de 8% a 12% do consumo do cimento.
Ressalta-se que o concreto deste trabalho não recebeu nenhum tipo de adição.
250
Consumo de adição (kg/m³)
200
150
100
50 0,0111x
y = 35,032e
2
R = 0,1143
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
fc (MPa)
Na FIG. 4.8 podem ser vistos dados sobre o consumo de água por volume de concreto
projetado em função de fc. Estes dados levaram em conta a água contida nos agregados e nos
aditivos químicos e tiveram valores de média e de desvio padrão cerca de 182 L/m3 e 34
L/m3. Como esperado, percebe-se que o consumo de água diminuiu com o acréscimo de fc.
Para a faixa de fc entre 15 MPa e 80 MPa, o consumo médio de água situou-se em um
intervalo de 220 L/m3 a 150 L/m3. Neste trabalho a quantidade de água adotada foi de 249 L,
32% superior ao valor médio encontrado na literatura, conforme na FIG. 4.8.
104
350
250
200
150
100
-0,005x
50 y = 229,57e
2
R = 0,278
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
39,4 fc (MPa)
1,20
-0,0111x
y = 0,6429e
2
1,00 R = 0,4755
Água / aglomerantes
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
39,4
fc (MPa)
FIG. 4.9 - Relação entre água e aglomerantes (Ag/agl) em função de fc.
105
As FIG. 4.10 e FIG. 4.11 apresentam, respectivamente, dados sobre o consumo de materiais
finos por volume de concreto projetado em função de fc, e da mesma maneira, dados sobre o
consumo de agregados miúdos. Nota-se que, em um estudo (GASPARIM, 2007) sobre
concretos projetados com materiais finos (areia artificial), a quantidade destes ficou entre
cerca de 680 kg/m3 e 770 kg/m3, bem acima da quantidade da maioria de outros estudos, que
se enquadrou em uma faixa de 20 kg/m3 a 120 kg/m3, para o intervalo de fc entre cerca de 20
MPa e 80 MPa. Em função disto, estes valores elevados (680 kg/m3 e 770 kg/m3) foram
desconsiderados na análise estatística, o que levou a valores de média e de desvio padrão
cerca de 36 kg/m3 e 23 kg/m3. Nesta pesquisa, não houve consumo de finos.
Em relação ao consumo de agregado miúdo pôde-se constatar na FIG. 4.11 que houve uma
grande dispersão dos dados sobre o consumo de agregados miúdos por volume de concreto
projetado em função de fc, que variaram em sua maioria de 1150 kg/m3 a 950 kg/m3 para o
intervalo de fc entre cerca de 15 MPa e 80 MPa. Estes dados apresentaram valores de média e
de desvio padrão cerca de 1014 kg/m3 e 396 kg/m3. O consumo de agregado miúdo neste
trabalho foi 808 kg/m³, cerca de 28% abaixo da média das composições pesquisadas, de
acordo com o que mostra a FIG. 4.11.
900
800
Consumo de finos (kg/m³)
700
600
500
400
300
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
fc (MPa)
106
2400
y = -124,27Ln(x) + 1488,1
1600
1200
800
400
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
39,4
fc (MPa)
2400
Consumo de graúdos (kg/m³)
y = -267,09Ln(x) + 1600,8
2
2000 R = 0,1204
1600
1200
800
400
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
39,4
fc (MPa)
Da FIG. 4.13, pode-se visualizar uma elevada dispersão nos dados de consumo de aditivos em
função de fc e uma discreta tendência em se aumentar o consumo de aditivos quanto maior for
107
fc. Estes dados tiveram média e desvio padrão cerca de 12 kg/m3 e 7 kg/m3 e, em média,
variaram de 5 kg/m3 a 15 kg/m3 para o intervalo de fc entre cerca de 15 MPa e 80 MPa.
O aditivo polifuncional utilizado nesta pesquisa, foi consumido com um valor de 3,45
kg/m³, cerca de 43% do valor médio das composições pesquisadas (v. FIG 4.13).
50
0,0144x
Consumo de aditivos (kg/m³)
y = 4,5608e
45 2
R = 0,1055
40
35
30
25
20
15
10
5
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
39,4
fc (MPa)
FIG. 4.13 - Consumo de aditivos (Adt) em função de fc.
A FIG. 4.14 apresenta dados do consumo de fibras em concretos projetados em função de fc.
Foram desconsiderados para a análise estatística os dados do estudo de CORINALDESE e
NARDINOCCHI (2016), por conta do uso de altos teores volumétricos (2%, equivalente a
156 kg/m3) de fibra de aço de 35 mm de comprimento, de 0,55 mm de diâmetro e com
extremidades em gancho, que foram destacadamente superiores aos dos outros concretos
projetados.
Constata-se dessa figura que os seus dados apresentaram elevada dispersão. Os valores de
média e de desvio padrão foram iguais a 28 kg/m3 e 17 kg/m3. Em média, o consumo de
fibras situou-se na faixa entre 32 kg/m3 e 22 kg/m3 para o intervalo de fc entre cerca de 15
MPa e 65 MPa.
A quantidade de fibra utilizada neste trabalho, foi relativamente baixa, 0,25% e 0,50% de
teor volumétrico, cerca de 2,25kg/m³ e 4,5 kg/m³ respectivamente. Como os dados
pesquisados, são em sua maioria foram de trabalhos de concretos projetados com fibra de aço,
não se comparou os valores encontrados com os deste trabalho.
108
200
y = -0,1793x + 36,058
- 0,005f c
Ag = 229,57e (EQ. 4.3)
- 0,0111f c
Ag agl = 0,6429e (EQ. 4.4)
109
TAB. 4.4 - Composições dos concretos deste trabalho segundo as EQ. 4.1 a EQ. 4.9.
Materiais (kg/m³) Composição Composição
deste trabalho teórica
Cimento 500 394,4
Adição - 54,2
Água 249 188,5
Água/Aglomerante 0,49 0,42
Finos - 64,3
Agregado Miúdo 808 1031,6
Agregado Graúdo 707 619,6
Aditivo 3,45 8,04
Fibras 2,25 e 4,5 29,0
110
Os resultados de V obtidos nesta pesquisa, são apresentados na TAB 4.6, cujos os teores
de fibra de poliolefina, de 0,70 mm x 35 mm de dimensões e 0,70 mm x 50 mm de
dimensões, foram iguais a 0,25% e 0,50% .
Tendo por base os valores de V apresentados nas TA6. 4.5 e TAB. 4.6, os valores de V
para os concretos simples foram próximos uns dos outros (de 4,18 km/s a 4,42 km/s), pois o
valor de fc situaram-se entre 36,9 MPa e 44,3 MPa.
Os valores de V para os concretos estudados neste trabalho, tenderam a diminuir com a
adição de fibras, enquanto que os valores encontrados por PILLAR (2014) não apresentaram
esta tendência. Com a adição da fibra de polipropileno, os valores de V, segundo PILLAR
(2014), aumentaram em até cerca de 4%. Por outro lado, neste trabalho, com a adição da fibra
de poliolefina, os valores de V diminuíram em até 8%. Isto pode ser explicado pelo fato das
fibras criarem dentro do concreto, vazios que conduzem à diminuição do calor de V em
relação ao concreto sem fibras, além das fibras à base de polímero possuírem valor de V
menor que o de um concreto simples.
Da TAB 4.6 pode-se verificar que os concretos com fibras de 35 mm de comprimento
apresentam menores valores de V que os com fibras de 50 mm de comprimento em até cerca
de 3%.
Tal como ocorreu no trabalho de PILLAR (2014), os valores de V encontrados neste
trabalho para os concretos projetados, tenderam a uma diminuição em comparação aos
concretos moldados. Os resultados de PILLAR (2014) mostraram que esta diminuição foi em
ate 0,2% (concretos sem fibras) e de 2,7% (concretos com fibra de polipropileno). Enquanto
que nos resultados deste trabalho, esta tendência foi cerca de 4,1% (concretos sem fibras)
0,2% (concretos com fibras de poliolefina) para os concretos do grupo de fibras de 35 mm.
111
112
TAB. 4.8 - Valores de fcm para os concretos projetados de outros autores e ensaiados
neste trabalho.
Vf Morgan Banthia Pillar Autora deste Autora deste
(1996) et al. (2014) trabalho (fibra trabalho (fibra
(1999) de 35 mm) de 50 mm)
Sem fibra 50 MPa 51 MPa 31 MPa 36,9 MPa 41,8 MPa
0,25% - - - 33,6 MPa 39,6 MPa
0,5% - - - 32,3 MPa 39,3 MPa
1,00% 41,3 MPa 46 MPa 30,5 - -
MPa
1,50% - 45 MPa - - -
2,00% 40,8 MPa - - - -
A FIG 4.15 apresenta os valores de fcm dos concretos moldados e projetados com ou sem
fibras de poliolefina ensaiados neste trabalho. Verifica-se que os valores de fcm dos concretos
moldados e projetados com fibras de 35 mm de comprimento foi cerca de até 83% e 88% do
valor de fcm do concreto moldado e projetados sem fibras, enquanto que para os concretos com
fibra de 50 mm de comprimento estes valores passaram para 94% e 94%.
Portanto, pôde-se constatar que a projeção do concreto via úmida com fibras também
prejudica sua resistência quando comparada com a resistência de um concreto moldado com
fibras de mesmo tipo e teor volumétrico.
113
60
41,8 44,3 44,1 41,7 41,8
39,6 39,3
fcm (MPa)
36,3 34,9 36,9 33,6
40 32,3
20
0
Fibra 35 mm Fibra 50 mm
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
114
115
mesma forma o seu módulo de elasticidade. Com a adição de fibras esta queda tende a ser
ainda maior.
45
40
fcm (MPa)
35
30
15 20 25 30 35 40
Ecm (GPa)
FIG. 4.17 - Valores de Ecm em função de fcm para os concretos moldados e projetados
ensaiados neste trabalho e segundo a norma ABNT NBR 6118 (2014).
FIGUEIREDO (2011) expôs em seu trabalho que o volume de fibras utilizado nas
composições de concreto é baixo em relação ao volume do concreto, e o módulo de
elasticidade do concreto com fibras é predominantemente dependente do módulo de
elasticidade do concreto. Assim, quanto maior o módulo de elasticidade do concreto, maior o
volume de fibras faz-se necessário para proporcionar o comportamento elasto-plástico
perfeito. Além disto, MEHTA e MONTEIRO (1994) afirmaram que o módulo de elasticidade
do concreto é afetado principalmente pela porosidade existente no concreto.
Em conformidade com o exposto acima, os valores de Ecm obtidos nos concretos
moldados e projetados com a fibra de 50 mm de comprimento foram em torno de 25 GPa
independente do teor volumétrico de fibras, maior que os obtidos nos concretos moldados e
projetados com a fibra de 35 mm de comprimento..
116
6 Fibra de 35 mm Fibra de 50 mm
4
3
2
1
0
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
117
3,0
2,0
1,0
0,0
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
FIG. 4.19 - Valores obtidos de fct,spm a partir da norma ABNT NBR 6118 (2014).
4.7 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO NA FLEXÃO (fct,f)
Com relação aos valores médios de fct,f (fct,fm), verificou-se da FIG. 4.20 que estes valores
aumentaram , em relação do valor de fct,fm do concreto sem fibras, com a adição das fibras de
35 mm e 50 mm de comprimento, independentemente do tipo de execução do corpo de prova
de concreto prismático.
Da mesma forma que para a resistência à tração por compressão diametral, os concretos
moldados sem e com fibras apresentaram maior valor de fct,fm. Estes ganhos foram iguais a
cerca de 9%, 11% e 9% para os concretos do grupo da fibra de 35 mm de comprimento,
enquanto para os concretos do grupo de 50 mm de comprimento foi cerca de 8%, 2% e 1%
respectivamente.
Como era de se esperar, as fibras de poliolefina de 50 mm de comprimento, para um
mesmo valor de Vf, levaram a ganhos de fct,fm maiores que os concretos com fibras de
poliolefina de 35 mm de comprimento. Nos concretos moldados estes ganhos foram iguais a
19% e 25%, aproximadamente, contra 6% e 8%. Nos concretos projetados, os ganhos foram
cerca de 26% e 33% contra 4% e 8%.
Conclui-se que as fibras de poliolefina de maior tamanho são mais eficientes no
mecanismo de transferência de tensões em uma seção fissurada de concreto (ação de ponte),
que as de menor tamanho.
118
8
6,72 6,84 6,80 7,10 6,65
7,06
7 6,34 6,28
5,81 6,05 5,70
6 5,29
fct,fm (MPa)
5
4
3
2
1
0
Fibra de 35 mm Fibra de 50 mm
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
De acordo com a FIG. 4.21, os valores de fct,fm encontrados neste trabalho para o concreto
moldado sem fibras dos grupos da fibra de 35 mm de comprimento e da fibra de 50 mm de
comprimento, foram aproximadamente, 22% e 6% maiores que os recomendados pela norma
ABNT NBR 6118 (2014) para resistência do concreto simples à tração na flexão, cuja a
fórmula é dada pela EQ. 4.2.
3,0
2,0
1,0
0,0
Fibra de 35 mm Fibra de 50 mm
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
CM-1-SF CM-2-0,25F CM-3-0,5F CP-1-SF CP-2-0,25F CP-3-0,5F
FIG. 4.21 - Valores obtidos de fct,fm a partir da norma ABNT NBR 6118 (2014).
119
ALBERTI (2014) avaliou o valor de fct,fm de concretos projetados (fc = 40 MPa) com
fibras de poliolefina, de 0,9 mm x 60 mm de dimensões e Vf igual a 0,49% e 0,66%.
Segundo os resultados obtidos por ALBERTI (2014) em seu concreto de referência (v.
FIG. 4.22), e os encontrados neste trabalho para os concretos moldados e projetados sem
fibras, houve ganho de 90% e 75% para o grupo de fibras 35 mm de comprimento e 71% e
59% para o grupo de fibras de 50 mm de comprimento respectivamente. Em relação aos
concretos com fibras para o grupo de 35 mm de comprimento, este ganho foi de até 80% e
para os concretos com a fibra de 50 mm de comprimento, até 87%.
5
4,09
4 3,78
3,32
fct.fm (MPa)
0
REF Alberti (2014) P49 Alberti (2014) P66 Alberti (2014)
De acordo com MORGAN (1996), concretos projetados para túneis devem apresentar aos
28 dias resistência à tração na flexão de no mínimo 6 MPa. Este requisito foi atendido para os
concretos projetados com a fibra de poliolefina ensaiados neste trabalho (fct,f variou entre 6,05
MPa e 7,06 MPa).
120
(a) Concretos moldados (b) Concretos projetados
FIG. 4.24 - Curvas carga - flecha dos concretos sem e com 0,25% e 0,50% de fibra de 50
mm de comprimento.
Pode-se notar em todas essas figuras que os concretos sem fibras apresentaram rigidez à
flexão maior que a dos concretos com fibras, pois a rigidez à flexão é função direta do módulo
de elasticidade do concreto, cujo valor foi menor para os concretos sem fibras.
Nas curvas carga - flecha dos concretos com fibras, nota-se, em geral, o ponto no qual
ocorre a primeira fissura do concreto, cujos valores podem ser vistos na TAB. 4.8, do item
4.9.1.
A adição de fibras de 50 mm de comprimento nos concretos conduziram cargas de
primeira fissura em média 7% superiores às dos concretos com fibras de 35 mm de
comprimento (4%, para os concretos moldados, e 10%, para os concretos projetados).
Constata-se das curvas carga - flecha sem fibras que só ocorreu a formação de um ramo
ascendente e flechas últimas próximas de 1,5 mm de tamanho, o que mostra o comportamento
frágil do concreto sem fibras. Em contrapartida, nas curvas carga - flecha dos concretos com
fibras, há a ocorrência de um pico e um ramo descendente (pós-pico) e flechas últimas cerca
121
de pelo menos 8 vezes o valor da flecha última dos concretos sem fibras, o que aponta um
comportamento muito menos frágil que o do concreto sem fibras.
A queda de carga dos concretos com fibras Vf = 0,25% foi maior que a dos concretos
com fibras Vf = 0,50%. Nos concretos moldados com fibras de 35 mm de comprimento, estas
quedas foram em torno dos 6 MPa e 4 MPa, contra 9 MPa e 5 MPa, nos concretos projetados,
enquanto nos concretos moldados e projetados com fibras de 50 mm de comprimento, estas
quedas foram 10 MPa e 8 MPa e 8 MPa e 7 MPa, respectivamente.
Após a ruptura dos concretos com fibras de 35 mm de comprimento, para valores de
flecha na faixa de 6 mm a 8 mm de tamanho (v. FIG. 4.24 e FIG. 4.25), a carga residual
diminuiu, para os concretos com fibras Vf = 0,25%, ou aumentou para em seguida voltar a
cair, para os concretos com fibras Vf = 0,50%. Isto evidencia que o mecanismo de
transferência de tensões entre as fibras e o concreto foi efetivo para os concretos com fibras
Vf = 0,50%.
Os concretos com fibras de 50 mm de comprimento apresentaram, para carga máxima,
valores de flecha na faixa de 4 mm a 9 mm de tamanho. Depois da sua ruptura, as cargas
residuais tenderam a permanecer constantes, tanto para as fibras Vf = 0,25% quanto para as
fibras Vf = 0,50%.
4.9 TENACIDADE
Neste item, os corpos de prova prismáticos de 100 mm x 100 mm x 400 mm de
dimensões de concreto, sem ou com fibras de poliolefina ensaiados à tração na flexão, tiveram
o seu desempenho, referente à tencidade à flexão, avaliado por meio das normas americanas
ASTM C1018 (1997), ASTM C1609 (2010) e japonesa JSCE - SF4 (1984).
122
TAB. 4.9 - Parâmetros de tenacidade (ASTM C1018, 1997) para os concretos com a
fibra de 35 mm de comprimento.
Pm δ Tδ
Corpo de prova (kN) (mm) (kN.mm) I5 I10 I20 R5,10 R10,20
VG 2M 13,6 0,03 1,2 1,5 3,2 5,2 34,0 20,0
VG 2P 13,3 0,02 0,5 2,6 4,9 6,9 46,0 20,0
VG 3M 14,6 0,03 1,1 2,9 4,3 8,7 28,0 44,0
VG 3P 13,4 0,04 1,3 1,9 3,4 5,7 30,0 23,0
TAB. 4.10 - Parâmetros de tenacidade (ASTM C1018, 1997) para os concretos com a
fibra de 50 mm de comprimento.
Pm δ Tδ
Corpo de prova (kN) (mm) (kN.mm) I5 I10 I20 R5,10 R10,20
VG 2M 12,1 0,02 0,3 7,3 12,9 14,8 112,0 19,0
VG 2P 12,7 0,02 0,5 3,8 6,1 7,8 46,0 17,0
VG 3M 13,1 0,03 0,5 7,3 8,8 17,4 30,0 86,0
VG 3P 13,4 0,02 0,6 3,1 5,5 6,4 48,0 9,0
123
124
TAB. 4.11 - Parâmetros de tenacidade (ASTM C1609, 2010) para os concretos com a
fibra de 35 mm de comprimento.
fh600 fh150 Th150
Corpo de prova f1 (MPa) RhT,150
(MPa) (MPa) (kN.mm)
VG 2M 4,9 2,8 2,6 26,7 0,08
VG 2P 4,8 3,0 2,3 23,8 0,07
VG 3M 5,3 5,6 4,4 42,0 0,12
VG 3P 4,8 6,0 4,0 37,4 0,12
TAB. 4.12 - Parâmetros de tenacidade (ASTM C1609, 2010) para os concretos com a
fibra de 50 mm de comprimento.
fh600 fh150 Th150
Corpo de prova f1 (MPa) RhT,150
(MPa) (MPa) (kN.mm)
VG 2M 4,4 3,5 3,3 30,0 0,10
VG 2P 4,6 4,4 4,2 36,9 0,12
VG 3M 4,7 4,2 3,9 34,2 0,11
VG 3P 4,8 3,8 3,5 32,4 0,10
Verifica-se, das TAB. 4.10 e TAB. 4.11, que as resistências residuais nas flechas l/600 e
l/150 (fh600 e fh150) dos concretos foram 109%, para fh600, e 112% para fh150, em média,
respectivamente, para os concretos com a fibra de 35 mm de comprimento e para os concretos
com a fibra de 50 mm de comprimento. Isto aponta que as fibras de 50 mm conseguem
suportar maiores cargas residuais em flechas maiores que as fibras de 35 mm, devido ao seu
maior tamanho, o que garante uma maior ancoragem dentro do concreto fissurado.
Em geral, nos concretos com fibras com mesmo valor de Vf, os valores de fh600 e fh150
tenderam a serem maiores para os concretos projetados em comparação aos dos concretos
moldados, com exceção dos valores de fh150 para o concreto com Vf = 0,25% e Vf = 0,50% e de
fh600 para o concreto com Vf = 0,50%.
Como os valores de fh600 foram maiores para os concretos com fibras de 50 mm e Vf =
0,25% em comparação aos dos concretos com fibras de 35 mm de comprimento, isto deixa
claro que as fibras de 50 mm de comprimento levam ao concreto maior capacidade de
absorção de energia na flecha correspondente de 0,6 mm. Os valores de fh150 foram maiores
para os concretos com fibras de 35 mm e Vf = 0,50%, demonstrando o mesmo comportamento
anterior correspondente à flecha de 2,4 mm. Da mesma maneira, os valores de Th150 e de
RhT,150 obtiveram o mesmo comportamento para os concretos já citados.
Os valores de fh600, que correspondem à resistência do concreto com fibras à tração na
flexão para o estado limite de serviço, foram próximos valores de f1 para os concretos com
125
TAB. 4.13 - Parâmetros de tenacidade (JSCE-SF4, 1984) para os concretos com a fibra
de 35 mm de comprimento.
b Tb
Corpo de prova
(MPa) (kNmm) (MPa)
VG 2M 4,9 26,7 4,0
VG 2P 4,8 23,8 3,6
VG 3M 5,3 42,1 6,3
VG 3P 4,8 37,4 5,6
126
TAB. 4.14 - Parâmetros de tenacidade (JSCE-SF4, 1984) para os concretos com a fibra
de 50 mm de comprimento.
b Tb
Corpo de prova
(MPa) (kNmm) (MPa)
VM-2 4,4 30,0 4,5
VP-2 4,6 36,9 4,5
VM-3 4,7 34,2 5,1
VP-3 4,8 32,4 4,9
127
FIG. 4.25 - Foto comum e micrografia (MEV) com aumento de 22X da interação fibra-
matriz.
A FIG. 4.27 mostra a vista lateral da seção fissurada de concreto com fibras, após a
realização do ensaio de tração na flexão. Verifica-se que as fibras aturam como ponte de
transferência de tensões entre elas e a matriz de concreto e que em algumas fibras pode-se ver
o seu fibrilamento (esgarçamento), o que pode ter sido conduzido a um maior valor de
resistência do concreto com fibras à flexão.
128
129
5. CONCLUSÕES
130
131
132
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