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EXÉRCITO BRASILEIRO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA DE TRANSPORTES
Rio de Janeiro
2010
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
Rio de Janeiro
2010
2
C2010
M775
Monteiro, Analucia Meyrelles
Estudo das Técnicas de Disposição de Sedimentos
Contaminados de Dragagem. - Rio de Janeiro: Instituto
Militar de Engenharia, 2010.
627.73
3
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
_______________________________________________________________
Prof. José Carlos César Amorim - Dr.Ing do IME – Presidente
_______________________________________________________________
Profª Maria Esther Soares Marques, D. Sc do IME
_______________________________________________________________
Prof. Major Marcelo de Miranda Reis, Dr do IME
_______________________________________________________________
Profª Maria Cláudia Barbosa, D.Sc da COPPE
Rio de Janeiro
2010
4
Com carinho, dedico este trabalho aos meus pais,
Walter e Lourdes, ao meu amor, Cristiano e ao
meu irmão Marcelo.
AGRADECIMENTOS
“Agradecer é admitir que houve um minuto em que se precisou de alguém.
Agradecer é reconhecer que o homem jamais poderá lograr para si o dom de ser
auto-suficiente”.
Agradeço, primeiramente, a Deus e Nossa Senhora da Penha, pela presença
na minha vida, por me guiarem nas escolhas e por intercederem nos momentos
difíceis.
Aos meus pais e irmão, que tanto me fazem falta, pelo amor, apoio,
credibilidade, dedicação, pela felicidade estampada cada vez que eu desembarco
em Vitória, por me fazerem sentir especial quando estou com vocês.
Ao meu amor Cris, pelo incentivo e compreensão por minha ausência, pela
paciência, pelas palavras ditas e pelas não ditas também, sempre na hora certa,
pelo conforto nos momentos de tristeza, por não me deixar desistir, mesmo com
tanta saudade e pela maturidade em manter nossa relação tão saudável mesmo
com a distância.
À família, tias Nilza e Sônia, vó Ciça e vó Geni (in memorian), pelas orações,
tia Kika e todos os agregados pelos momentos de alegria e recuperação das
energias.
Aos queridos afilhados Valéria e Cláudio, pela atenção e preocupação, pelos
bons e maus conselhos e pela grande amizade.
Aos inesquecíveis amigos de Vitória, pela boa companhia quando possível.
A todas as 57 pensionetes, minha família carioca, pelo acolhimento e
amizade, principalmente Iranildes, Nilza e Jaqueline.
A Paula, por ter me recebido em sua casa, pela confiança, companheirismo e
toda a torcida.
Aos amigos da Marinha, pelo apoio, preocupação, aprendizado e às inúmeras
representações.
Ao Cap. Eudes, Cap. Brum, Ten. Taciana e Rodrigo pelo convívio durante o
curso.
À secretária Cristina, sempre com uma palavra de força.
À DOCM por permitir períodos de ausência para finalização deste trabalho.
Ao IME, pelo curso de Mestrado em Engenharia de Transportes.
A CAPES, pelo fomento à pesquisa.
Aos orientadores Professor Amorim e Professora Esther, pelas cobranças,
pelos importantes ensinamentos e empenho em realizar este trabalho.
Ao Major Marcelo Reis e Professora Maria Cláudia por aceitarem o convite
para participar da banca de defesa.
À Muniz e Spada, Allonda e Queiroz Galvão, por permitirem conhecimento do
projeto e acesso à obra de dragagem do Canal do Fundão para o acompanhamento.
Enfim, a todos que de alguma maneira contribuíram para a execução desse
trabalho, seja pela ajuda constante ou com uma palavra de amizade!
Muito Obrigada!
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES.......................................................................................................12
LISTA DE TABELAS...............................................................................................................16
LISTA DE SIGLAS.................................................................................................................18
INTRODUÇÃO.............................................................................................23
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................26
1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS.........................................................................26
1.2. LEGISLAÇÃO................................................................................................. 28
INTERNACIONAL..............................................................................................................29
NACIONAL........................................................................................................................31
1.3. TÉCNICAS DE DISPOSIÇÃO DE MATERIAL DRAGADO............................36
REUTILIZAÇÃO E USO BENÉFICO DO MATERIAL DRAGADO............................................39
DISPOSIÇÃO NÃO – CONFINADA DO MATERIAL DRAGADO NA ÁGUA.............................43
DISPOSIÇÃO NÃO – CONFINADA DO MATERIAL DRAGADO EM TERRA...........................46
DISPOSIÇÃO CONFINADA DE MATERIAL DRAGADO EM TERRA......................................47
DISPOSIÇÃO CONFINADA DE MATERIAL DRAGADO NA ÁGUA........................................49
DISPOSIÇÃO CONFINADA DE MATERIAL DRAGADO COM TUBOS GEOSSINTÉTICOS......52
1.4. COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS DE CONFINAMENTO DE
MATERIAL CONTAMINADO..................................................................................54
1.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................61
ANÁLISE DA APLICAÇÃO DOS TUBOS GEOSSINTÉTICOS ................................62
1.6. CARACTERÍSTICAS DOS GEOSSINTÉTICOS............................................62
1.7. APLICAÇÕES................................................................................................ 66
VISITA TÉCNICA À ETE RIO DAS OSTRAS/RJ....................................................................68
1.8. PROPRIEDADES QUÍMICAS DOS GEOTÊXTEIS........................................70
1.9. PROPRIEDADES FÍSICAS DOS GEOTÊXTEIS...........................................71
1.10. PROPRIEDADES HIDRÁULICAS DOS GEOTÊXTEIS...............................73
1.11. PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS GEOTÊXTEIS..................................74
1.12. CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO DE TUBOS GEOTÊXTEIS............77
1.13. INSTALAÇÃO DOS TUBOS GEOTÊXTEIS.................................................78
1.14. METODOLOGIA DE ENSAIOS...................................................................80
1.15. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................84
ESTUDO DE CASO – OBRA DE REVITALIZAÇÃO DO CANAL DO FUNDÃO/RIO DE
JANEIRO......................................................................................................85
1.16. INTRODUÇÃO.............................................................................................85
1.17. DESCRIÇÃO DA OBRA DE DRAGAGEM DO CANAL DO FUNDÃO.........88
ALTERNATIVAS ESTUDADAS PARA A DISPOSIÇÃO DO MATERIAL DRAGADO.................91
COMPARAÇÃO ENTRE AS ALTERNATIVAS DE DISPOSIÇÃO PROPOSTA..........................93
DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE DRAGAGEM....................................................................96
1.18. DISPOSIÇÃO DO MATERIAL DRAGADO EM TUBOS GEOTÊXTEIS.....101
CARACTERIZAÇÃO DO MATERIAL DRAGADO CONTAMINADO......................................101
1.18.1. DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE DISPOSIÇÃO EM TUBOS
GEOTÊXTEIS ..................................................................................................... 108
1.19. CARACTERIZAÇÃO DOS SEDIMENTOS APÓS A DISPOSIÇÃO NOS
TUBOS................................................................................................................. 116
COLETA DAS AMOSTRAS...............................................................................................117
1.19.1. DESCRIÇÃO DE ENSAIOS NO LABORATÓRIO E RESULTADOS......118
1.20. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 121
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES..............................................................122
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................126
ANEXOS....................................................................................................131
1.21. ANEXO 1................................................................................................... 132
1.22. ANEXO 2.................................................................................................... 143
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
21
ABSTRACT
The dredging is an important activity for the system of maritime transport, aims at to
guarantee the depth of the canals and ways of access, as much to allow and to
guarantee the navigability of the boats, as to revitalize and to improve the
environmental quality of the bodies of water. In the contaminated regions, the
dragged material will have to be evaluated for the best destination, with lesser costs
and impacts to the environment, being necessary the development and adaptation of
technologies and procedures for the accomplishment of the activity. This work aims
at to contribute for the use of an innovative technology in confinement of material
dragged contaminated in geotextil pipes, comparing with the used available
techniques and more in the market. To illustrate the use of the technique of
confinement in geotextil the stages of the workmanship of dredging of the Canal of
the Fundão are described, being the biggest dredging of river in operation in the
world and pioneer in the use of the geotextil for this end, presenting the benefits and
difficulties associates to the operation and the results of the necessary ambient
parameters for the adequateness of the technique to the demanded ambient
standards in Brazil.
22
INTRODUÇÃO
23
Canal do Fundão, no município do Rio de Janeiro, sendo um Estudo de caso a ser
apresentado ao final deste trabalho.
Esta obra foi a primeira deste tipo a ser realizada no país em que o material
confinado é contaminado com metais pesados, conforme resultados de ensaios
indicaram cromo, níquel, chumbo, cobre, mercúrio e zinco.
O trabalho se justifica por apresentar novas tecnologias para o
armazenamento de materiais contaminados oriundos das atividades de dragagem,
que muitas vezes são executadas em áreas que recebem contribuição e intervenção
antrópica, contendo presença de compostos poluentes.
A técnica de armazenamento de resíduos sólidos de elevada umidade em
tubos geotêxteis é utilizada em Estações de Tratamento de Esgotos, para disposição
do lodo gerado em seu processo e nos Estados Unidos têm largo uso nas indústrias
e mineradoras, reduzindo a área de descarte de rejeitos devido aos volumes
gerados por suas atividades, colaborando ainda com a etapa do tratamento do
efluente produzido. Outra utilização é para contenções marinhas, em virtude da
grande resistência do material e praticidade de instalação.
A aplicação desta técnica para materiais dragados deve ser analisada e
monitorada, pois a vazão de dragagem e a área de disposição deverão ser
dimensionadas em função do tempo de desidratação do sedimento, que por sua vez
chega ao tubo com elevada umidade. Então, com o material seco, alguns ensaios
específicos são realizados, para verificar a compatibilidade com sua destinação,
podendo ser utilizado em aterros.
Para atingir o objetivo proposto, este trabalho está composto de cinco
capítulos, cujos conteúdos são descritos a seguir.
No Capítulo 2, é apresentada uma descrição das atividades de dragagem, e
uma revisão bibliográfica, que trata da legislação e das técnicas de disposição do
material dragado, com as diversas técnicas existentes no mercado. Apresenta a
técnica do tubo geotêxtil e as principais características físicas e químicas do material
e o procedimento da aplicação da técnica.
No Capítulo 3 são abordadas as especificações técnicas dos tubos
geossintéticos, com suas metodologias e diferentes aplicações.
No Capítulo 4 apresenta o Estudo de Caso da dragagem do Canal do
Fundão, no qual utiliza a técnica de disposição de sedimentos em tubos
24
geossintéticos. No Capítulo 5 são apresentadas as conclusões do trabalho e
algumas recomendações e sugestões para estudos e pesquisas futuras.
25
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
26
Em termos econômicos, a retenção de sedimentos reduzirá a capacidade de
movimentação e o tráfego de embarcações. Sendo que o sistema de transporte
aquaviário tem grande importância na economia nacional e mundial e é a base das
maiores e significantes operações de comércio no mundo.
Com o crescimento da demanda de mercadorias, tornou-se necessário que as
embarcações aumentassem suas capacidades em termos de tonelagem
transportada. Para atender ao incremento do mercado e continuar competitivo frente
aos outros sistemas de transporte, o sistema de transporte aquaviário vem sendo
submetido às novas tecnologias ao longo dos anos, construindo embarcações com
calados maiores e exigindo dos portos, canais de acesso, bacias de evolução,
berços de atracação e hidrovias com as devidas adequações nas profundidades e
larguras.
Entretanto, o assoreamento pode causar como conseqüência dificuldade para
estas novas embarcações, sendo necessária a remoção mecânica, ou por outras
técnicas, dos sedimentos ali depositados. Então são efetuadas atividades de retirada
de uma porção do solo do leito dos corpos d’água, utilizando dragas.
A cada ano, grandes quantidades de sedimentos são dragadas, para
melhorar o sistema de navegação para uso comercial, defesa nacional, bem como
para fins recreativos. Durante muito tempo não foi questionada a destinação desse
volume de material, que era descarregado em águas confinadas ou nos oceanos,
rios, lagos e estuários, mas com a evolução da preocupação ambiental e o
estabelecimento das leis restritivas, a identificação de novas áreas para disposição
do referido material é questionada quanto aos impactos ambientais e sociais
causados.
Após a dragagem dos sedimentos é realizado o descarte dos mesmos, cujo
local e o meio a serem transportados são definidos em função de diversos
parâmetros, como os aspectos ambientais, econômicos, técnicos, logístico e
equipamentos utilizados para a atividade.
Com a caracterização dos sedimentos bem definida, pode-se analisar a
viabilidade das possíveis destinações que possam ser atribuídas ao material.
Estes sedimentos podem estar contaminados com substâncias tóxicas, em
concentrações nocivas ao meio ambiente. Qualquer sedimento removido através de
processos de dragagem e que contenha contaminantes em uso irrestrito no meio
27
ambiente, é denominado de material dragado contaminado (PIANC, 2002 apud
Almeida, 2004). Para sedimentos contaminados as alternativas de disposição são
mais complexas, pois deve-se avaliar a interação do material com o meio, evitando a
contaminação do solo, recurso hídrico e biota.
Nesta fase também é importante avaliar como transportar o material dragado
até a área de descarte final, que em função da DMT (distância média de transporte)
pode ter seus custos elevados. No caso de sedimentos contaminados, o transporte
da mistura sedimento/água se encontra significativamente vinculado à localização e
à técnica de deposição ou lançamento do material (Porto de Santos, 2008).
As alternativas de disposição do material dragado são definidas na literatura
em diversas categorias, sendo abordadas pelos autores conforme suas
perspectivas. Assim, o material dragado pode ser disposto em mar aberto, zona
costeira ou em terra, podendo ainda ser reutilizado de forma benéfica ou tratado
para tal fim.
Uma inovação quanto às propostas tecnológicas de disposição desses
materiais são os tubos geotêxteis, que permitem a contenção e a retirada de
umidade dos sedimentos dragados. Estes tubos são feitos de geotêxteis permeáveis
de alta resistência, que podem conter sedimentos finos, solos contaminados e
rejeitos, considerados também uma forma de tratamento dos sedimentos
contaminados.
Este capítulo apresenta a legislação ambiental, para a melhor escolha de
destinação do material e os principais tipos de disposição e utilização do material
dragado, com ênfase nos geossintéticos. As propriedades relevantes dos
geossintéticos serão apresentadas, juntamente com as principais aplicações.
1.2. LEGISLAÇÃO
As atividades de dragagem são causadoras de impactos ambientais, ainda
que sejam utilizados técnicas e equipamentos de forma a minimizar os danos, para a
retirada de sedimentos contaminados do leito dos corpos hídricos.
A partir das décadas de 60 e 70, incentivados pelos diversos eventos como a
implantação da Política Ambiental Americana – NEPA e a Conferência de
Estocolmo, a preocupação com o meio ambiente se tornou mais evidente, e
28
juntamente com a consciência da sociedade civil que se mobilizava em favor da
questão ambiental, foram delineados os rumos a serem seguidos com novas
concepções e instrumentos que iniciaram a estruturação da política ambiental nos
diversos países.
A princípio, a preocupação se dava em torno de medidas corretivas para a
poluição, uma vez que as políticas preconizavam a minimização da poluição através
de equipamentos de controle. Entretanto, após perceberem que as atividades
humanas poderiam levar à escassez dos recursos naturais, a preocupação
ambiental mudou o foco das atenções e novos instrumentos foram implantados, para
o controle preventivo do meio ambiente.
INTERNACIONAL
No final do século XIX já havia legislação, embora em pequenas proporções,
sobre proteção do meio ambiente marinho. Contudo, devido aos acontecimentos das
décadas de 60 e 70, quando ocorreram grandes acidentes ambientais, como o
derramamento de óleo no mar, o meio ambiente passou a ter a devida atenção.
Considerada um marco da legislação ambiental, em 1972, a Convenção de
Londres, foi uma das primeiras convenções mundiais sobre a prevenção da
contaminação do mar por despejo de resíduos e outras matérias, que ao longo do
tempo foi conquistando novos membros, inclusive o Brasil, contando atualmente
com 85 países integrantes. Seu objetivo é promover o controle efetivo de todas as
fontes de poluição marinha e tomar todas as medidas viáveis para prevenir a
poluição do mar por imersão de resíduos e outras matérias.
A mais importante convenção que trata do regulamento e prevenção da
poluição marinha por navios é a International Convention for the Prevention of
Pollution from Ships, realizada pela Organização Marítima Internacional, em 1973 e
modificada pelo Protocolo de 1978, conhecida como MARPOL 73/78.
Outro documento com foco na disposição do material dragado, as
Convenções de Oslo e Paris, em 1972 e 1974, respectivamente, foram fundidas em
1992, quando foi definida uma única Convenção, OSPAR - Convenção para a
Proteção do Meio Ambiente Marinho do Atlântico Norte, o qual inclui o Atlântico
Nordeste e o Mar do Norte. Esta convenção foi revisada e, segundo ALMEIDA
29
(2004), visa à prevenção e eliminação da poluição proveniente de fontes baseadas
em terra e fontes offshore, e da poluição proveniente do despejo de lixos e
incinerações.
As Convenções de Londres e OSPAR são muito semelhantes em seus
conteúdos, entretanto, a última é mais flexível com os limites aceitáveis dos
parâmetros analisados e substâncias e materiais amplamente abordados na
Convenção de Londres, não são citados na OSPAR.
Na TAB 2.1 são apontadas as principais Convenções Internacionais que, de
alguma forma, fazem referência à disposição de material dragado.
TAB. 2.1- Convenções e Acordos Internacionais que regulam a disposição do
material dragado.
Acordos, Convenções e Diretrizes Abrangência
MARPOL - 73/78 Global
Convenção da Lei do Mar 1982 Global
Convenção de Londres, 1972 Global
Convenção da Basiléia, 1989 Global
Convenção de Oslo, 1972 Regional, Atlântico Nordeste
Convenção de Helsinque, 1974 Regional, Mar Báltico
Convenção de Paris, 1974 Regional, Atlântico Nordeste
Convenção de Barcelona, 1976 Regional, Mediterrâneo
Convenção Regional do Pacífico Sul, 1986 Regional, Pacífico Sul
Convenção do Kuwait, 1978 Regional, Golfo da Arábia
Convenção de Lima, 1988 Regional, Pacífico Sul
Convenção de Abidjan, 1981 Regional, África Central e
Convenção de Nairóbi, 1985 Ocidental
Regional, Leste da África
Convenção de Cartagena, 1983 Regional, Caribe
Regional, Mar Vermelho e Golfo de
Convenção de Jeddah, 1982
Áden
Diretrizes de Montreal, 1985 Global
Fonte: GOES FILHO, 2004
Nos diversos países europeus a questão ambiental é tratada com grande
engajamento, sendo elaboradas diretrizes para melhorar a qualidade de vida e
atenuar os efeitos negativos no meio ambiente. A legislação ambiental é específica
em cada país, cujas preocupações e necessidades se diferenciam pelas atividades
poluidoras e características hídricas da região.
A preocupação norte americana em torno das questões ambientais se
concentrou no início da década de 70, com a implementação da NEPA (National
Environmental Policy Act). A partir da declaração da política a ser adotada, foi
publicado o regulamento de disposição de material dragado em águas dentro dos
30
Estados Unidos e águas do oceano, que é uma responsabilidade partilhada entre a
USEPA (United States Environmental Protection Agency) e USACE (United States
Army Corps of Engineers).
Os dois órgãos, em parceria, elaboraram um documento Evaluating
Environmental Effects Of Dredged Material Management Alternatives - A Technical
Framework, em 1992, que visa analisar a aceitabilidade ambiental da alternativa de
gestão dos sedimentos, atendendo os conceitos e diretrizes definidos na NEPA. O
referido documento, desde que foi publicado, tem avançado quanto aos ensaios e
procedimentos de avaliação, e foi revisado e atualizado em 2004.
O Ministério do Meio Ambiente do Canadá (Canadian Council of Ministers of
the Environment – CCME) funciona como referência para instituições dos estados,
membros do ministério, que desenvolvem as estratégias nacionais, normas e
diretrizes, que cada um deles poderá utilizar em função do meio ambiente.
Em 1995, foi instituído um protocolo para colaborar para a proteção da vida
aquática, sob as diretrizes da CCME, intitulado Protocol for the Derivation of
Canadian Sediment Quality Guidelines for the Protection of Aquatic Life. As
orientações estabelecidas neste protocolo servem para analisar a qualidade dos
sedimentos, o grau de contaminação e toxicidade, para auxiliar nas ações de
controle da qualidade da água.
Este protocolo foi revisado e atualizado em 2002, quanto aos parâmetros
analisados nos sedimentos. Tais parâmetros e limites serviram de base para a
elaboração da Res. CONAMA nº 344/04, que será abordada mais adiante.
NACIONAL
Com os acontecimentos pelo mundo, como a Conferência das Nações Unidas
em 1972, referentes aos assuntos de interesse ao meio ambiente, novos rumos
foram tomados quanto à gestão dos recursos naturais, inclusive no Brasil.
A Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) a partir da Lei nº 6.938/81 foi a
primeira a tratar da preocupação com a limitação dos recursos naturais, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio - econômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, sendo
31
enfatizada com a Constituição Federal de 1988 (CF/88), que dedicou um capítulo
para a questão do meio ambiente, disposto no artigo 225.
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
O surgimento de leis e instituições destinadas à gestão e conservação do
meio ambiente data de 1986, com a fundação do Instituto Florestal do Estado de
São Paulo, formado por instituições que iniciaram suas atividades naquele ano.
A PNMA constituiu ainda o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA),
com seus respectivos órgãos em todas as esferas jurisdicionas. O Conselho
Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) encontra-se na estrutura deste sistema
como um órgão deliberativo e consultivo.
A preocupação em elaborar e instituir normas e resoluções para o
gerenciamento e a preservação dos corpos hídricos, fauna e flora das áreas ao seu
redor, se deram a partir de 1988, com o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro,
visando o zoneamento de usos e atividades na Zona Costeira e dar prioridade à
conservação e proteção de recursos naturais sitos no litoral brasileiro.
O sistema portuário brasileiro passou por uma crise que culminou com a
aprovação da Lei 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, conhecida como Lei de
“Modernização dos Portos”. Iniciando, de forma irreversível, o processo de
modernização da estrutura portuária. Esta Lei, segundo Almeida (2004), define
normas para a nova legislação portuária, incluindo suas instalações, uso de mão-de-
obra, regulamentação aduaneira, questões voltadas ao meio ambiente e atribuições
regulatórias.
A legislação internacional inspirou e baseou a elaboração da legislação
brasileira referente aos processos de dragagens, sendo um dos motivos para ser
considerada uma das mais rígidas do mundo, uma vez que as condições naturais do
Brasil são diferentes de outros países, que estipulam parâmetros baseados nos
fatores ambientais existentes e potencial industrial da região.
A legislação brasileira segue os padrões canadenses, que possuem uma
realidade diferente quanto ao clima e cultura de navegação, pois é essencialmente
32
lacustre, requerendo maior controle devido à baixa eficiência de autodepuração e
ação hidrodinâmica.
O CONAMA elabora resoluções, a partir das quais são estabelecidos
parâmetros e limites padrões para as atividades passíveis de licenciamento
ambiental, classificando a dragagem e derrocamento como atividades
potencialmente poluidoras, constantes na Res. CONAMA nº 237/97. Há algumas
resoluções específicas para a disposição dos sedimentos dragados, disposto na
Res. CONAMA nº 344/04, estabelecendo diretrizes gerais e procedimentos mínimos
para a avaliação do material a ser dragado em águas jurisdicionais brasileiras.
Em 2007, foi publicado no Brasil um documento jurídico que trata
especificamente de dragagem portuária e hidroviária, a Lei nº 11.610, de 12 de
dezembro de 2007, que abrange as obras e serviços de engenharia de dragagem do
leito das vias aquaviárias, compreendendo a remoção do material sedimentar
submerso e a escavação ou derrocamento do leito, com vistas à manutenção da
profundidade dos portos em operação ou na sua ampliação.
A Res. CONAMA nº 344/04, que se encontra anexo a este trabalho, é
considerada uma das mais rígidas legislações ambientais que regulam o
desassoreamento em vias navegáveis, que vem enfrentando protestos do Conselho
de Autoridade Portuária (CAP), que a critica em relação aos limites propostos, sendo
que as águas frias e confinadas do Canadá não condizem com a situação dos
corpos hídricos brasileiros.
Apesar de ser recente e rígida essa resolução apresenta lacunas que devem
ser preenchidas com outros instrumentos legais, pois ela não deve ser consultada
isoladamente no processo. A limitação mais apontada, segundo a CETESB, é que a
origem da contaminação não é abordada, assim como seus causadores.
Para estabelecer e atualizar os valores orientadores nacionais para a
classificação do material a ser dragado, no art. 9º da referida resolução está previsto
que a mesma será revisada em até cinco anos, contados a partir da data de
publicação, em 25 de março de 2004, quando entrou em vigor. Esse processo de
revisão foi iniciado recentemente sob a Coordenação da Câmara Técnica de
Controle e Qualidade do CONAMA, não havendo ainda conclusões disponíveis
A Diretoria de Portos e Costas (DPC), subordinada à Marinha do Brasil
(Ministério da Defesa), publicou a Norma da Autoridade Portuária nº 11 (NORMAM-
33
11), em 2003, que se encontra anexa a este trabalho, com o objetivo de estabelecer
normas e procedimentos para padronizar a autorização para as atividades de
dragagem e de emissão de parecer atinente a aterros, em águas jurisdicionais
brasileiras.
Esta norma instrui ao empreendedor que antes de iniciar o processo junto ao
órgão ambiental competente para a obtenção da licença ambiental, deverá requerer
ao Capitão dos Portos da área de jurisdição onde será realizada a atividade de
dragagem um “pedido preliminar de dragagem”, para verificar se haverá
comprometimento da segurança da navegação ou do ordenamento do espaço
aquaviário.
As informações a serem analisadas quando do “pedido preliminar de
dragagem” serão as seguintes:
Traçado da área a ser dragada e da área de despejo;
Volume estimado do material a ser dragado;
Duração estimada da atividade de dragagem, citando as datas
previstas de início e término;
Profundidades atuais e/ou estimadas da área a ser dragada e, quando
couber, da área de despejo;
Tipo de equipamento a ser utilizado durante os serviços; e
Tipo de sinalização náutica a ser empregada para prevenir acidentes
da navegação na área da dragagem.
Após a inspeção, caso não haja oposição à realização da atividade, a
Capitania dos Portos participará o Centro de Hidrografia da Marinha, através de
mensagem, o despacho favorável ao pedido preliminar de dragagem. Com o parecer
favorável, o interessado deverá solicitar a Licença Ambiental junto ao órgão
competente.
Depois da obtenção da Licença Ambiental, a Capitania dos Portos autorizará
o início da atividade de dragagem, através de um requerimento informando as datas
previstas para seu início e término, e anexando ao requerimento uma cópia da
Licença Ambiental.
Quando da execução e conclusão das atividades, algumas providências
devem ser observadas, sendo descritas na referida norma, sejam em vias ou áreas
navegáveis e hidrografadas ou não. Tais ações devem ser atendidas pelo
34
empreendedor, entregando relatórios de acompanhamento dos serviços, de
levantamento hidrográfico e de sondagem para informar o volume efetivamente
dragado.
Em matéria ambiental, cumpre aos Estados, em especial, o exercício das
funções que lhes são atribuídas dentro do Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA) instituído pela Lei n° 6.938/81, bem como legislar supletivamente à
legislação federal nas demais matérias ambientais, salvo aquelas que se incluem na
competência privativa da União, às quais, inclusive, devem os Estados dar
cumprimento (Porto de Santos, 2008).
A maioria dos estados segue apenas a legislação federal, sendo que estão
começando a elaborar suas próprias resoluções e diretrizes. Assim, o estado do
Espírito Santo possui uma Instrução Normativa (nº 11, DE 17 DE SETEMBRO de
2008), que dispõe sobre o enquadramento das atividades potencialmente poluidoras
e/ou degradadoras do meio ambiente com obrigatoriedade de licenciamento
ambiental junto ao IEMA e sua classificação quanto ao potencial poluidor e porte.
Entretanto, esse estado, como outros, ainda não regulamentou a disposição dos
sedimentos oriundos das atividades de dragagem.
Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro possuem diretrizes próprias, nas
quais são estabelecidos os critérios para o licenciamento ambiental de dragagem em
ambientes costeiros e sistemas hídricos interiores, incluindo a disposição final do
material dragado em ambientes costeiros e em terra.
A Res. SMA nº 39/04, de São Paulo, é baseada nos parâmetros da CETESB,
quanto à metodologia de coleta e análise das amostras dos sedimentos a serem
dragados, bem como os limites aceitáveis de substâncias químicas presentes nos
mesmos, sendo listados os componentes e parâmetros no ANEXO 2 dessa
resolução.
A Diretriz DZ-1845.R-3/02, do Rio de Janeiro, visa minimizar os riscos
ambientais ocasionados pela atividade de dragagem e pela disposição inadequada
de material dragado em alto-mar ou em terra, proibindo a disposição de material
dragado em rios e investigando a viabilidade da aplicação de ações combinadas
para o reaproveitamento do material dragado.
Essa diretriz define, com propriedade, a investigação laboratorial das
amostras a serem recolhidas no campo, para posterior caracterização física, química
35
e biológica, estabelecendo limites para a presença de substâncias tanto nos
sedimentos quanto na água.
Quando o reaproveitamento do material dragado não é possível, a diretriz
considera alternativas, para a destinação do mesmo, tal como a disposição em terra
ou no mar, apontando as condições para a viabilidade de realização.
São apresentados também os possíveis impactos ambientais provenientes da
atividade, sugerindo medidas mitigadoras como:
Transporte de material contaminado;
Adoção de camada impermeável de revestimento de fundo;
Adoção de camada de cobertura do material dragado;
Sistema de coleta e tratamento do efluente percolado;
Técnicas de tratamento do material dragado.
Segundo Almeida (2004), esta diretriz é válida somente para o Rio de Janeiro,
mas poderia ser utilizada pelos órgãos ambientais para complementar a legislação
vigente relacionada a projetos de dragagem.
Essa diretriz preconiza a avaliação da viabilidade do reaproveitamento do
material dragado, ou na presença de material contaminado que não seja possível a
reutilização, a disposição final do material, monitorando a contaminação dos corpos
d'água, o processo de assoreamento, as porções de áreas marítimas degradadas.
Entretanto, a simples presença de contaminantes no material a ser
depositado não significa que ocorrerão impactos sobre a qualidade da água e biota
local. Se os contaminantes estiverem em formas imóveis ou não disponíveis não
haverá impacto ao ambiente aquático (CASTIGLIA, 2006).
36
O termo “material dragado” se refere ao material que foi dragado de corpos
hídricos, enquanto que o termo “sedimento” se refere ao material que se encontra
nos corpos hídricos antes do processo de dragagem (PIANC, 2002).
As atividades de dragagem são classificadas baseadas principalmente nos
seus objetivos de atuação, em termos de volume dos sedimentos a serem retirados
ou ainda referentes ao local de destinação dos mesmos. Os principais tipos de
dragagem, segundo Goes Filho, 2004, são divididos em quatro grupos distintos,
baseados em sua operação:
Dragagem de Aprofundamento ou Inicial - refere-se ao aprofundamento do
canal que nunca sofrera esta intervenção.
Dragagem de Manutenção – remoção do material oriundo de assoreamento
em local previamente dragado, devido às necessidades de garantia da profundidade
e largura da calha do corpo hídrico.
Dragagem Ambiental ou Ecológica – visa a retirada de uma determinada
quantidade de sedimentos contaminados.
Dragagem de Mineração – exploração de minerais como fonte de renda,
principalmente areias, argilas e cascalhos, além do ouro e diamante.
Independente da finalidade da dragagem, elas serão executadas com os
diferentes tipos de dragas, que deverão ser escolhidas conforme as características
físicas, químicas e biológicas do sedimento, o local a sofrer a dragagem e a
disposição, bem como a distância até a destinação do material, sejam eles
contaminados ou inertes, os métodos de disposição, levantamento quantitativo e a
eficiência esperada do equipamento, além da profundidade a ser atingida e dos
custos. Deve ainda ser analisada a interferência nos meios físico, biótico e antrópico,
devido à grande preocupação ambiental.
A escolha do meio transportador do material dragado é realizada quando da
opção pela draga a ser utilizada. Em geral, pode ser realizada por via aquática, seja
pelo navio-draga ou pela barcaça, que permite o transporte de grande volume de
material para longas distâncias sem interrupção do serviço, sendo efetuado em
várias viagens entre o local da intervenção e o da disposição, e por recalque através
das tubulações das próprias dragas, ao sugar os sedimentos lançando-os no local
desejado. Pode ainda ser transportado por via terrestre, utilizando o modal
rodoviário e/ou ferroviário.
37
A disposição dos sedimentos pode ser feita de diversas maneiras, conforme
apresentado na FIG. 2.1, confinando o material ou despejando no mar. Tais técnicas
vêm sendo desenvolvidas para se adaptar melhor aos ambientes e às exigências
dos órgãos ambientais.
38
De acordo com a SEMADS, 2002, o solo do local onde será depositado o
material dragado também deve ser analisado quanto a alguns parâmetros físicos,
como estratigrafia e tipos de solo, granulometria e porosidade das camadas,
variação do lençol freático, usos atuais e futuros do solo da área escolhida, ação
natural ou antrópica que venham a interferir com a escolha de confinamento do
material.
Outro fator importante para a análise e escolha do local a ser destinado o
material dragado é a composição natural do solo, existência de metais pesados,
evidenciando os componentes e concentrações, para avaliação de interação com os
sedimentos.
Quando há necessidade de dragar um solo que esteja contaminado, muitas
dificuldades são geradas, devido aos cuidados extras que devem ser tomados, como
a dispersão desses sedimentos, elevando o grau de turbidez e a concentração do
contaminante na água. Assim, baseados na legislação, os sedimentos devem ser
avaliados como contaminados ou não.
Antes de iniciar a execução da obra de dragagem faz-se importante saber o
local, a quantidade e o tipo do sedimento que será removido. O tipo do sedimento
será conhecido pela análise em laboratório, através de ensaios em corpos de provas
retirados no campo, para auxiliar na gestão do material. As características do
sedimento são fundamentais para determinação do local de descarte, e o tipo de
tratamento que deverá ser realizado, ou ainda se será possível reutilizá-lo
beneficamente.
39
A reutilização do material dragado consiste na aplicação deste para fins
benéficos e produtivos, sendo conveniente considerar esta hipótese de disposição
do material dragado no planejamento de outros projetos sempre que possível.
A EPA (Environment Protect Agency) classifica em três categorias o uso
benéfico dos sedimentos:
Obras de Engenharia;
Uso na Agricultura, Aqüicultura e Horticultura; e
Reparação de Danos Ambientais.
Segundo Krause & McDonnell, 2000, os usos mais comuns do material
dragado são no processo de construção de aterros e coberturas e como matérias
primas para materiais de construção tais como cimento e blocos de concreto.
Em dragagens de sedimentos contaminados, a reutilização é dificultada pela
necessidade de tratamento do material, para evitar interação dos compostos
químicos com o meio ambiente. Algumas técnicas estão disponibilizadas no
mercado, em função do contaminante presente, do volume de solo e da função que
desempenhará no reaproveitamento.
Existem muitas alternativas de utilização benéfica do material dragado,
devendo ser avaliadas as condições iniciais dos sedimentos, como a composição
química, características e tipo do solo, para melhor aproveitamento de suas
propriedades em atividades em que sejam adequados. A Tabela 2-3 apresenta
algumas alternativas para o reaproveitamento do material dragado de forma
benéfica, em atividades nos diferentes ambientes.
40
TAB. 2.2- Alternativas para usos benéficos do material dragado.
Ambiente Terrestre
Aterros, construção e fundações:
Rodovias, estradas, pistas de pouso em aeroportos
Asfalto, concreto, tijolos
Canalização/barreiras ao longo de estradas
Aterro de minas e poços
Cobertura para aterros, fundações e locais de mineração
Nivelamento de topografia
Estruturas para controle de erosão
Cemitérios
Produtos de solo remanufaturado:
Paisagismo
Solo ensacado
Áreas recreativas/parques/campings
Silvicultura, horticultura, agricultura
Ambientes Alagadiços
Criação de habitats silvestres, mangues e marismas
Controle de erosão, estabilização de bancos
Construção de bermas
Bio-filtros para penetração/infiltração em aterros
Bio-filtros para drenagem de ácidos em minas
Ambientes Aquáticos
Cobertura (capa) para sítios de despejo em mar aberto
Reconstrução de praia e linha de costa
Estruturas sólidas para habitats pesqueiros
Preenchimento de tubos geotêxteis
Criação de:
Ilhas
Planícies de maré
Várzeas, marismas
Bancos de ostras
Recifes de pesca
Planícies para caranguejos
Construção de diques
Fonte: Winfield & Lee, 1999.
41
Entretanto, no Brasil, esses usos não são muito difundidos, sendo o mais
comum em obras de engenharia, as obras de engordamento de praia, nas quais são
retirados sedimentos do fundo do mar e lançados para faixa da praia, que por
diversos motivos necessitam desse incremento, seja pela erosão ou pelo avanço
das edificações na direção do mar.
Dentre os locais suscetíveis à realização de dragagem estão os estuários.
Nesses locais o material dragado, geralmente, é contaminado devido ao fato de
concentrar toda a contribuição da bacia hidrográfica. Nessa contribuição incluem-se
atividades portuárias que, comumente, localizam-se nos estuários, e os efluentes
domésticos e industriais das cidades. A contaminação nesses sedimentos impede
sua utilização benéfica. Entretanto, há mecanismos de tratamento desses
sedimentos que auxiliarão na descontaminação e posterior aplicação nos diversos
segmentos.
As tecnologias empregadas atualmente para a descontaminação dos
sedimentos são muito variadas e segundo Krause & McDonnell (2000) são
classificadas conforme os processos empregados, em quatro categorias funcionais:
Processos que separam os contaminantes dos sólidos nos sedimentos;
Processos que destroem os contaminantes ou os transformam em formas
menos tóxicas;
Separação física de sedimentos grosseiros de finos para reduzir o volume de
contaminantes; e
Processos de estabilização física e química que imobilizam os contaminantes
tornando-os resistentes a perdas por infiltração, volatilização e erosão.
Os Portos de Nova Iorque e Nova Jérsei necessitam de dragagem
constantemente e chegam a retirar aproximadamente três a cinco milhões de metros
cúbicos de sedimento a cada ano. A disposição destes materiais era no oceano,
mas em virtude da legislação e dos parâmetros exigidos, a maior parte do material
dragado encontra-se fora dos padrões. Assim, para atender a legislação e a
inexistência de um local adequado em terra para o descarte, novas técnicas para a
disposição deste material foram estudadas. Uma técnica apontada para o descarte
era a alocação do material em um sítio seco (upland) onde se poderia converter este
material dragado em produtos de uso benéfico. Este sítio de descarte seco
denominado Projeto Orion detém a tecnologia para transformar 1,5 milhões de
42
metros cúbicos de sedimento dragado para o abastecimento da fundação (aterro,
base) de um estacionamento para veículos (GRANATO, 2005).
43
superiores àqueles esperados para o nível 1; e ensaios ecotoxicológicos entre
outros testes.
Os impactos ambientais nocivos dos metais nos ecossistemas são mais fortes
quando estes estão presentes na forma livre (espécies iônicas) solubilizados na
água, uma vez que a sua disponibilidade para reagir com diversos compostos
orgânicos e inorgânicos dos organismos vivos é maior, podendo haver a
bioacumulação e biomagnificação nesses seres.
Tais sugestões de estudos poderão ser incluídas na revisão da Res.
CONAMA nº 344/04 que se iniciou em 2009 e também ser parte do possível
monitoramento das áreas de dragagem e de disposição, a cargo do IBAMA (Art. 10)
desta resolução.
A disposição oceânica é a técnica mais utilizada e que tem sido praticada no
país. Atualmente a dragagem do Porto de Santos utilizará esta técnica para
disposição em um quadrilátero na Baía de mesmo nome. A praticidade e o baixo
custo da operação incentivam sua utilização, que tem grande variedade de navios e
barcaças para realização da atividade.
Os locais para disposição podem ser classificados de duas maneiras:
Dispersivos: quando o material se espalha durante o processo ou após a
disposição, em função da correnteza ou das ondas que transportam o sedimento do
fundo.
Não dispersivos: quando o material permanece nos locais de disposição, com
baixa intensidade de ondas e marés.
Essa disposição é realizada pela abertura do fundo da embarcação, sendo
efetuado em curso normal ou em marcha reduzida. Para a minimização dos
impactos quanto à elevação da turbidez, com todos os seus inconvenientes de
diminuição das atividades fotossintéticas, entre outras, são apresentadas na FIG 2.2,
as formas de disposição aquática a partir dos equipamentos utilizados nas
atividades de remoção dos sedimentos.
44
a b c
45
Legenda:
Zona de amortecimento do Parque
Estadual de Laje de Santos (10km)
Área de Disposição atual:
Polígono de descarte de material
dragado
Polígono de disposição oceânica de
material dragado:
46
DISPOSIÇÃO CONFINADA DE MATERIAL DRAGADO EM TERRA
Com a necessidade de controlar o material dragado contaminado, cujos
parâmetros exigidos de substâncias químicas ou tóxicas estejam acima dos limites
aceitáveis e estabelecidos nas normas legais vigentes no Brasil, são utilizadas
técnicas de disposição com características específicas para minimizar os danos
ambientais que a contaminação possa causar.
As tecnologias aplicadas a esses casos são diversas, sendo que em todas, o
princípio básico de funcionamento é a contenção e o confinamento do material para
que as substâncias nocivas ao meio não sejam disponibilizadas, impedindo as
reações que prejudicariam o meio ambiente local.
Disposição confinada é o depósito do material dragado, quando contaminado,
em uma estrutura de engenharia constituída de diques ou outras estruturas que
possam isolar a área de disposição de quaisquer superfícies aquáticas adjacentes.
Os sítios de confinamento são construídos acima ou abaixo do nível do mar, em
ilhas ou áreas próximas do litoral (Almeida, 2004).
As técnicas de confinamento utilizadas para a disposição de material dragado
contaminado em corpos hídricos podem ser de capeamento ou confinamento, no
qual recintos são especialmente projetados para armazenar e isolar o material do
ambiente aquático situado ao redor, definidas como ADC (Área de Disposição
Confinada) ou CDF (Confined Disposal Facility).
A disposição em Unidades de Disposição Confinada (UDC) é a alternativa
mais difundida e aplicada nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, sendo
uma opção que agrega as soluções das questões ambientais e financeiras. Tal
alternativa consiste na alocação do material dragado no interior de estruturas, tais
que isolem o referido material, formando uma verdadeira ilha murada no ambiente
de disposição final.
A solução de contenção em diques foi apresentada e analisada no EIA de
Dragagem do Canal do Piaçaguera – COSIPA – Santos/São Paulo, cuja obra
envolveria a escavação e disposição final dos sedimentos, sendo necessária uma
solução ambientalmente adequada. A empresa possui uma área, dentro de seu
terreno, na qual reserva os resíduos contaminados, evitando interferência com áreas
adjacentes.
47
A proposta do projeto é executar uma contenção na área do antigo bota-fora
de dragagem e depósito de resíduos, alegando que os impactos ambientais já
haviam ocorrido. A área disponível é conhecida como Dique do Furadinho, que terá
uma contenção para disposição do material dragado por clam-shell, uma lagoa de
contenção de efluentes e uma caixa de controle. A figura 2-4 ilustra a implantação
do porto da COSIPA, apresentando o Canal do Piaçaguera e o Dique do Furadinho.
48
DISPOSIÇÃO CONFINADA DE MATERIAL DRAGADO NA ÁGUA
As cavas subaquáticas (CDF), para a disposição controlada dos materiais
dragados contaminados, devem ser localizadas preferencialmente em depressões
naturais, quando não houver essa possibilidade serão escavadas em locais cujas
características não permitam a alteração dos padrões de qualidade do corpo hídrico,
nem os parâmetros de contaminação estabelecidos na legislação.
O CDF pode ser classificado quanto à sua localização, em terra ou no
ambiente aquático, conforme descrição abaixo:
CDF em terra: estrutura de confinamento construída em solo, para receber o
material dragado. Exige grande área disponível, com custos elevados, dificuldade
para licenciamento e liberação de área devido ao uso e ocupação do solo e
possíveis impactos ambientais.
CDF subaquático: execução de cava submersa, ou aproveitamento de uma
depressão natural, para a disposição do material. Em função das condições das
correntezas e características do ambiente, como biota e uso do local, haverá
necessidade de utilização de um capeamento para os contaminantes não
interagirem com o ambiente e evitando a ressuspensão.
CDF – Ilha: construção de estrutura de confinamento em forma de barreira no
oceano, onde o material dragado é depositado formando uma ilha artificial.
Legenda:
Sedimento contaminado
Sedimento limpo
Capa de solo
Material dragado limpo ou tratado
49
Contaminação exclusivamente com metais pesados, portanto
eficientemente controlada em condições anóxicas;
Localização nas imediações da bacia de evolução, portanto em área de
fácil conrole e monitoramnto pela administração do terminal portuário;
Condições oceanográficas e fisiográficas favoráveis à estabilidade do
CDF (fundo plano e correntes inferiores a 0,5m/s); e
Disponibilidade de argilas limpas, no subsolo do canal de acesso,
adequadas para recobrimento do CDF.
Apesar de ter sido apontada como solução mais apropriada para a obra, esta
técnica requer disponibilidade de espaço marítimo e implica em incremento
financeiro na execução. Este sistema de confinamento tem se consolidado no
mercado, sendo listados alguns exemplos na TAB 2-4:
TAB. 2.3. Aplicação da técnica em outros países:
Região País Capacidade Data Capa/ Contaminação
(m³) Cobertura
Resíduos
Baía de
EUA 1.150.000 1999 Argila orgânicos e
Newark
inorgânicos
Boston EUA 800.000 1997- Areia Diversas
2000
1992-
Hong Kong China 22.000.000 Areia e lama Diversas
2001
Brmerton EUA 296.500 2000- Sedimento não Hg e PCBs
2001 contaminado
Argila
Baixa
Portland EUA 912.000 2005 geossintética1
contaminação
(GCL)
Rostock Alemanha 248.000 2003- Nenhuma Metais pesados e
2004 PCBs
Porto Sedimento não
EUA 900.000 2004 Diversas
Providence contaminado
Sandefjord Noruega 55.000 Geotêxtil e areia Não contaminado
Fonte: EIA do Terminal Portuário Centro Atlântico - CSA
Neste projeto também será utilizado o capeamento com argila, cuja técnica é
realizada com a disposição de uma camada sobre o material confinado em locais
escavados, fossas ou cavas, com contenção lateral natural.
1
Argila Geossintética: consiste em produto fabricado com uma camada de
bentonita, componente de baixa condutividade hidráulica, colocada entre geotêxteis
ou adesivos unidos a uma geomembrana (Barroso, 2008).
50
O capeamento é dimensionado em função de dois parâmetros básicos, o
material constituinte e a espessura. Ambos são definidos a partir das características
do local e do material que será confinado. A espessura da camada de capeamento
varia de 50cm a 1m, sendo mais oneroso para camadas mais espessas.
Os principais fatores que influenciam na definição da espessura da capa:
Características físicas e químicas do material contaminado e do
material utilizado no capeamento;
Bioturbação potencial;
Consolidação potencial do material contaminado e da expulsão da
água dos vazios a ela associada;
Consolidação e erosão potencial do material da cobertura;
Fatores operacionais da descarga.
Para a definição da composição da capa, as principais informações estão
descritas a seguir:
Bioturbação;
Isolamento químico;
Fatores operacionais;
Consolidação da cobertura;
Erosão da cobertura.
Além disso, a boa execução garantirá a estabilidade e consolidação da
cobertura, de forma que diferenças de assentamento entre o capeamento e o
material depositado se tornem pontos críticos, podendo gerar deformações, tensões,
movimentos e até a ruptura da camada.
A legislação de alguns países não permite a disposição de materiais
contaminados em corpos hídricos, devido a preocupações ambientais, além disso, o
despejo em terra sem nenhum tipo de contenção também agride o meio ambiente.
Para esses casos são apresentadas as opções de disposição confinada em terra.
A utilização de diques de contenção é apontada como uma solução viável,
embora proporcione um incremento significativo nos custos do processo de
dragagem, devido à construção e à necessidade de monitoramento. Com o
ressecamento deste material, muitos compostos voláteis, principalmente o PCB, são
desprendidos para a atmosfera (Chiarenzelli, et al., 1998 apud Torres, 2000).
51
Visando minimizar os impactos e viabilizar financeiramente os projetos de
disposição confinada desses materiais, são desenvolvidas tecnologias que vem
sendo difundidas e implementadas em todo o mundo.
Uma alternativa apontada pelo EIA RIMA da Dragagem de Aprofundamento
do Porto de SANTOS, 2008, é a utilização de cavas de mineração para o despejo
dos materiais, tal que são vestígios da exploração de granito no passado, além de
possuir estudo ambiental e ser licenciado para um aterro sanitário pelo órgão
ambiental competente, sendo potencialmente apropriada para comportar os
sedimentos.
Quando não há oferta de locais propensos ao depósito de materiais
contaminados nas redondezas da dragagem, pode-se optar por alternativas como a
disposição em aterros controlados classe 1, ou aterros industriais, que são
construídos com grau de exigência elevado devido os riscos inerentes ao depósito
de resíduos contaminados.
Em situações em que os aterros propostos para o lançamento de sedimentos
contaminados estejam distantes, tais que não sejam viáveis economicamente, vem
sendo iniciada a utilização de tubos geossintéticos tecidos para o encapsulamento
do material, como forma de contenção e melhor aproveitamento do espaço
disponível para disposição, pois os tubos deságuam o material, deixando apenas a
parte sólida contida no tubo.
52
O tubo de geotêxtil tecido é um material, cujos fios são entrelaçados em
direções preferenciais de fabricação denominadas trama (sentido transversal) e
urdume (sentido longitudinal).
1 2 3
53
Antes da acomodação dos tubos na área de disposição, deverá ser
executada a impermeabilização e rede de drenagem para coletar o fluido
proveniente do desaguamento e posterior destinação ao tratamento ou devolução ao
corpo hídrico de origem.
Para resistirem aos esforços solicitados nas diferentes fases do processo de
confinamento do material, os tubos de geotêxtil são costurados de maneira que
suporte aos esforços solicitados quando das etapas de enchimento e desaguamento
dos mesmos, sendo a primeira considerada crítica, pois as tensões são elevadas, a
segunda as tensões são aliviadas.
Durante a fase de instalação, as principais propriedades associadas às
solicitações mecânicas são: resistência à tração, resistência à penetração e à
perfuração, resistência a danos de instalação e resistência à abrasão.
Durante a vida útil da obra, as principais propriedades associadas às
solicitações mecânicas são: resistência à tração, resistência à penetração e à
perfuração, resistência ao deslizamento na interface, resistência ao arrancamento e
resistência à fluência.
54
Para a disposição em terra, o tipo de sedimento também contribui para a
definição da técnica, bem como a extensão e topografia das áreas determinadas
para a disposição. Para o lançamento em água, o nível e intensidade de
correntezas, presença de vida aquática intensa influenciam na referida análise.
A avaliação da área disponível para o confinamento do material, que será em
função da quantidade e da qualidade do mesmo, se dá em função da extensão,
topografia, caracterização do solo, ambiente de entorno, uso e ocupação, fauna e
flora, acessibilidade, presença de lençol freático, contaminantes, entre outros.
Cabe ressaltar a importância do estudo da hidrodinâmica do corpo hídrico,
para a avaliação do carreamento e disposição de partículas no local de deposição,
sendo importante devido à sedimentação e secagem do material dragado.
A sedimentação é o processo de decantação das partículas mais pesadas,
carreadas pela correnteza até o ponto em estudo. Esse processo é proporcional a
algumas características do material como a densidade, a compressibilidade e a
permeabilidade. Enquanto a secagem depende de o material ser armazenado por
um período, para sua desidratação.
Quando o material dragado é diagnosticado contaminado, há uma grande
preocupação quanto à sua destinação. As soluções mais usuais para o
confinamento já foram citadas, exemplificadas e descritas, sendo agora
comparadas:
Cavas Subaquáticas;
Estruturas de contenção;
Aterros Controlados; e
Encapsulamento em tubos geotêxteis.
O lançamento do material no corpo hídrico deve ser analisado quanto aos
impactos ocasionados durante o processo, as interferências com a vida aquática e
reações dos contaminantes com o ambiente. Com a inexistência de impactos
significativos, o material será lançado.
Para utilização desta técnica deve-se observar o nível de contaminação, para
que o material ali depositado não interaja com o solo que o está confinando, nem
com sua superfície, ou seja, com o ambiente do corpo hídrico no qual foi depositado.
Em casos em que a disposição for realizada onde houver incidência de
correntes, ou que os limites do material ultrapassem o nível 1, deverá ser executado
55
o capeamento, que isola o material contaminado com uma cobertura de material
limpo. Os objetivos da utilização do capeamento são o isolamento dos sedimentos
contaminados e a estabilização dos mesmos no local pré-definido, possibilitando a
proteção do corpo hídrico e da vida nele existente através de uma barreira física.
O capeamento é uma medida mitigadora dos impactos ambientais
ocasionados pelos materiais contaminados no ambiente, devendo ser executado
com precisão e estabilidade.
Para garantir a qualidade e funcionalidade da técnica em questão, o material
limpo utilizado é escolhido em função do material contaminado a ser confinado,
podendo ser lodo, argila, silte ou areia, observando ainda os equipamentos a serem
utilizados para a realização da colocação do material, como dutos, batelões e
autotransportadoras.
As estruturas de contenção, diferente das cavas subaquáticas, são
executadas acima do nível do fundo e normalmente até a superfície do corpo
hídrico, para que este não tenha contato com o material confinado. Podem ainda ser
construídos diques, ou estruturas submersas, sendo necessário o capeamento.
Entretanto, se nas proximidades da área de dragagem não houver
disponibilidade de área para construção de diques, ou não for permitida a execução
de cavas para a disposição do material contaminado, será necessário depositar em
local afastado, mas seguro e livre de riscos de contaminação do ambiente.
A solução de disposição em aterros controlados se encaixa na hipótese
mencionada, em que o material deverá ser transportado até um local para sua
disposição, devendo ser um aterro licenciado ambientalmente. A quantidade de
material e a distância até o ponto de descarga interferem diretamente na logística e
viabilidade econômica dessa técnica.
Para uma obra mais limpa e adequada aos padrões ambientais, a técnica
mais indicada é a contenção em tubos geotêxteis, que armazenam o material
contaminado, desaguando o percolado livre de contaminantes. Esta técnica tem a
vantagem de comportar maior volume de material devido à drenagem pelos poros do
geotêxtil, retendo apenas a parte sólida.
A partir das TAB 2.5 a 2.8 que se seguem, podem-se observar algumas
características, aplicação e fatores críticos que requerem monitoramento e controle,
que auxiliarão na escolha para aplicação em obras de dragagem com material
56
contaminado. As vantagens e desvantagens de cada uma estão apresentadas na
tabela a seguir:
TAB. 2.4. Vantagens e Desvantagens entre técnicas de confinamento:
57
Técnicas de
Vantagens Desvantagens
confinamento
ÁGUA
Deve ser disposto em local
Baixa ou nenhuma específico, sem correnteza
necessidade de
intervenção no fundo Baixa tolerância aos
TAB. 2.5. As principais
do corpo hídrico para considerações nas avaliações dos métodos incluem:
índices de contaminação
Considerações
Cavas Subaquáticas dispor o material Tipos de Confinamento
contaminadoÁGUA Necessidade de utilização TERRA
CAVAS DIQUES
de material específico para ATERROS
TUBOS GEOTÊXTEIS
SUBAQUÁTICAS o capeamento de acordo CONTROLADOS
Métodos de Mecânico comTodos
os contaminantes Mecânico Sucção e recalque
dragagem presentes no material.
Profundidade local Pequena profundidade, Grandes profundidades
Estruturas subdivididas, Grandes células, para
de disposição para possibilitar a para maior
ocupando maior espaço,maior aproveitamento da
execução Ao final do processo
das cavas com aproveitamento
para redução da do área
tempo de área disponível. -
pode ser
equipamentos na urbanizado disponível, independente
desaguamento.
Diques com boa aceitação das se na água ou em terra.
superfície
Topografia do Dependecomunidades
da batimetria de do Executado
Proliferaçãoquando a
de vetores e Plano Deverá ser preparada
terreno. entorno.
corpo hídrico. topografia é irregular, com inclinação mínima
aglomeração de aves
com a declividade para escoamento do
TERRA acentuada efluente.
Características do Inerte aos contaminantes Impermeável
Exigem grandes aterros Impermeável Estável, evitando ruptura.
solo de apoio Permanecem longe das Impermeável
licenciados
Perda de Variacomunidades,
conforme a sem Partículas com tempo Não haverá controle com Partículas que
Aterros Controlados
sedimentos colocar o ambiente
correnteza do local, em maior de decantação falhas de atravessam os poros,
Distância do local da
risco.
confinados para o indicando a necessidade serão vertidas se a impermeabilização. devendo ser monitorado
dragagem.
meio. de capeamento
Rapidez no contenção for sub Propiciando uma para ajuste da floculação.
desaguamento dimensionada eventual ruptura em
função da intensidade do
Execução de obra vazamento.
Disponibilização Área para desidratação
limpa e Proporcional ao volume Proporcional ao volume
Comporta maior
de terreno redução de volume de dragagem
Novidade pouco difundida de dragagem
quantidade de volume
Ambientalmente segura dragado em menor área
Tubos Geotêxteis Proporcional ao volume Custo elevado de material que as outras técncias
dePrática
dragagem e simples e mão-de-obra
operação especializada
Capacidade de
recebimento de
grandes vazões
TAB. 2.6. Os principais fatores para Monitoramento dos materiais confinados
FATORES TIPOS DE CONFINAMENTO
ÁGUA TERRA
CAVAS DIQUES ATERROS TUBOS GEOTÊXTEIS
SUBAQUÁTICAS CONTROLADOS
Fissura nas células
Elementos estruturais provocando infiltração das
(drenos, tubulações, águas superficiais Vazamentos nas operações,
diques) através do controle eficaz do
Transporte de
Eventuais abatimentos no efluente dos tubos geotêxteis
sedimentos
Estruturas de isolamento maciço do aterro e nos e tubulações
Físico
(revestimentos) acessos;
Ressuspensão das
Danos no sistema de
partículas
Instalações de tratamento Processos erosivos e danos drenagem superficial
no sistema de drenagem
Vertedores superficial
59
TAB. 2.7. Funcionamento das técnicas e situações indicadas para sua utilização:
Técnicas de
Funcionamento Indicação
confinamento
ÁGUA
Cavas Em geral, são Materiais contaminados de
aproveitadas as cavas nível 1 estabelecidos pela
naturais existente no Res. CONAMA 344/04,
nível do fundo, para o desde que haja uma área
lançamento do material, próxima para a deposição,
sendo a técnica mais que seja extensa o
simples, que podem suficiente para comportar
também ser artificiais, o volume e livre de
agregando custo correntes.
adicional.
Construção de diques,
ou disposição em
bermas. Para características do
O material é depositado material, ou do terreno que
em tanques, que favorecerem o
permitem a espalhamento do material,
Diques
sedimentação dos em função de seus limites
partículas sólidas do físicos e da inclinação do
fluido, com evaporação leito onde estiver
da água e depositado.
transbordamento por
vertedouros.
TERRA
Disposição em Indisponibilidade de áreas
cápsulas de aterro, adjacentes à dragagem.
impermeabilizadas e
com instalação de Pequenos volumes
Aterros Controlados drenagem.
Serão aterrados e Incremento no tráfego das
permanecerão no local vias de acesso ao aterro e
com o devido o tempo para o transporte
monitoramento. não sejam relevantes.
Recalque do material
dragado para as
cápsulas de geotêxteis, Preocupação ambiental
com desaguamento do elevada, mais criteriosa e
material decisiva que a análise
Tubos Geotêxteis financeira.
O percolado é coletado
e encaminhado para Grandes volumes
outra etapa, conforme dragados.
análise de seus
parâmetros.
1.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades de dragagem e a posterior disposição de material oriundo
delas oferecem riscos ambientais, os quais a legislação visa atenuar, evitando a
disposição inadequada de material dragado em alto mar ou em terra. Para
alcançar bons resultados, o empreendedor realiza investigações nos sedimentos
a serem dragados, através de metodologias de coleta e análises laboratoriais,
para a comparação com os limites estabelecidos na legislação e definir qual a
alternativa de disposição ou reutilização poderá ser aplicado a cada caso.
Em todas as alternativas de disposição devem ser analisados os impactos
ambientais e sociais, como a contaminação do lençol freático, o odor provocado
pela decomposição de matéria orgânica, o impacto visual, além do prejuízo à flora
e à fauna da região.
As técnicas são desenvolvidas visando se adequar às diversas situações,
sendo que para cada caso haverá a melhor opção conforme a disponibilidade de
área, equipamentos, recursos e características do material.
ANÁLISE DA APLICAÇÃO DOS TUBOS GEOSSINTÉTICOS
Tubo de Bombeamento
Filtração de
partículas em
Mangote de preenchimento
suspensão
Deposição de
partículas maiores
FIG. 3.13 - ETE Rio das Ostras/RJ,fase inicial de armazenamento do lodo nos
tubos geotêxteis.
Na ETE há espaço suficiente para operação de diversos tubos
simultaneamente, que serão implantados conforme o incremento no volume de
efluente a ser tratado. Atualmente apenas um tubo está sendo operado, com um
de reserva disposto no local, mas ainda sem ligação.
Nesta fase, ainda estão sendo pesquisados possíveis reaproveitamentos e
locais a serem descartados, pois não são conhecidos parâmetros suficientes do
material.
Solo Natural
Pré-filtro
Arcos de Partículas
Geotêxtil
Camada Drenante
1 2
3 4
6 7
FIG. 3.19 - Passos para realização do teste com bolsa geotêxtil.
Fonte: Uma demonstração da tecnologia Geotube® para desaguamento de
lodo.
1.16. INTRODUÇÃO
A Baía de Guanabara, com cerca de 380km² de área tem contribuição da
bacia de 4.000km², com diversas praias, ilhas e rios, que ali deságuam com
elevada carga poluidora. Situa-se na Região Metropolitana do Rio de Janeiro,
formada por 16 municípios, que juntos abrigam praticamente 80% da população
do Estado, com cerca de dez milhões de habitantes.
A região possui baixa qualidade da água causada principalmente pela falta
de saneamento básico e educação ambiental e da ineficiência da coleta de lixo. A
existência de diversas indústrias, terminais marítimos de carga e descarga,
portos, estaleiros, refinarias de petróleo, inúmeros postos de combustíveis e
saneamento básico deficiente, contribuem para a contaminação do ecossistema
presente na Baía.
A atual situação ambiental da Baía provém do descontrolado crescimento
populacional e da degradação inerente ao processo, em meados das décadas de
1950-1960, em toda a região Sudeste do Brasil. Aliada a crescente ocupação,
diversas áreas inadequadas foram habitadas pela população, nas margens de
rios e encostas, gerando áreas instáveis a deslizamentos e assoreamentos, com
conseqüências graves como inundações.
Há 15 anos foi implantado o Programa de Despoluição da Baía da
Guanabara (PDBG), que visa despoluir a Baía, limpando o corpo hídrico com
ações nas fontes poluidoras. O PDBG implementa infra-estrutura para a
população da Bacia da Guanabara, com obras, aparelhamento dos sistemas e
capacitação de recurso humano.
O conjunto de obras apontado no projeto envolve construção de Sistemas
de Esgotamento Sanitário, com redes coletoras e estações de tratamento, rede de
abastecimento de água, controle de enchentes, coleta e destinação de lixo e
mapeamento digital, para compor um banco de dados que auxiliará no
monitoramento e controle do uso do solo e fontes poluidoras dos municípios da
região.
O assoreamento da Baía se deve, ainda, aos inúmeros aterros para novas
áreas, interferindo no ambiente natural, alterando as correntes, a circulação das
águas e a vida aquática. Na década de 80 o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) tombou o espelho d’água da baía da Guanabara como
patrimônio histórico, sendo proibida a execução de aterros. A ilha do Fundão é um
exemplo, no qual existiam 08 (oito) pequenas ilhas, que foram aterradas formando
o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
a b
FIG. 4.21 - a) lançamento de esgoto no Canal do Cunha, na Avenida Brasil; e b)
grande quantidade de lixo contido na Ecobareira do Canal do Cunha.
Fonte: Adaptado de http://www.ecodebate.com.br/2008/12/23/rio-de-janeiro-
comecara-em-janeiro-a-recuperacao-dos-canais-do-cunha-e-do-fundao/; e
http://informativorio.blogspot.com/2008_07_01_archive.html.
ILHA DO FUNDÃO
ILHA DO FUNDÃO
Fonte: http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-BR&tab=wl.
A grande quantidade de contaminantes encontrada nesta área deve-se à
proximidade da foz do Canal do Cunha, que transporta efluentes industriais e
grande quantidade de lixo, que se concentram no local em função da estagnação
das correntes, criando um remanso, onde os sedimentos carreados se depositam,
assoreando e retendo os contaminantes.
Na FIG 4-4, observa-se a região estagnada na proximidade da ponte Oswaldo
Cruz, com ponto estagnado ao Norte da ponte, propiciando o assoreamento da
região. A corrente que chega ao Canal do Fundão ao norte da ilha, pela ponte
Brigadeiro Trompowsky segue em direção ao Sul, em baixa velocidade,
aproximadamente a 0,1m/s e se encontra com a corrente que segue em direção
ao Norte proveniente do Canal do Cunha.
I lh a d o
G o ve rn a d o r
5000
4500
I lh a d o F u n d ã o
4000
3500
P o n t e B r ig .
T ro m p o w s ky
C an
al
3000
do
1 ,0 m /s
0 ,5 m /s
Fun
0 ,1 m /s
2500
dão
R e g iã o e s t a g n a d a c o m
c o r r e n te s e m s e n tid o s o p o s to s
2000
P o n te
O s w a ld o C r u z
1500
C an a
l do
Fund
ão
1000
M e ia M a r é
nha
Cu
500
V a z a n te
do
al
C an
0
FIG. 4.23- 1-0 Campo
00 -5 0 0 0 500
de correntes no1 canal
000 1500
antes 2da
000 2500 3000
dragagem, com3 maré
500 4000
de sizígia
típica em situação de meia maré vazante.
Fonte: Estudo Hidrodinâmico e Geotécnico para Revitalização da Circulação no
Canal do Fundão e no Canal do Cunha, Baía de Guanabara, RJ, 2001.
O desaguamento do Canal do Cunha segue em duas direções no Canal do
Fundão, para Sul e para Norte, sendo que para Norte encontra a Ponte Oswaldo
Cruz como obstáculo reduzindo a velocidade da corrente, tornando a área um
remanso com acúmulo de contaminantes que são carreados juntamente com os
sedimentos que se depositam neste ponto.
Com a realização da dragagem e do alargamento dos vãos da ponte, a área
de remanso será eliminada, pois as correntes terão maior velocidade e seguirão
em uma única direção, como apresentado na FIG 4-5.
Ilh a d o
G o v e rn a d o r
500 0
450 0
I lh a d o F u n d ã o
400 0
350 0
P o n te B rig .
T ro m p o w s k y
C an
al
300 0
do
1 ,0 m /s
0 ,5 m /s
Fun
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250 0
d ão
C o r r e n te s n o m e s m o s e n tid o
s e m e s ta g n a ç ã o
200 0
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O s w a ld o C r u z
150 0
C ana
l do
Fund
ão
100 0
M e ia M a r é
nha
Cu
50 0
V a z a n te
do
al
C an
0
-1 0 0 0 -5 0 0
FIG. 4.24 - Campo de 0correntes
500 1000
no 1500
canal 20 00
proposto 2500
com 30 00
maré de3 5sizígia
00 4000
típica em
situação de meia maré vazante.
Fonte: Estudo Hidrodinâmico e Geotécnico para Revitalização da Circulação no
Canal do Fundão e no Canal do Cunha, Baía de Guanabara, RJ, 2001.
Nas figuras 4-4 e 4-5 as correntes são apresentadas pelas setas que indicam
a direção do fluxo e o tamanho corresponde à velocidade, podendo observar que
a dragagem beneficiará a circulação de água pelo Canal, cujas correntes seguirão
em apenas um sentido, com renovação de água e diminuição da taxa de
deposição de sedimentos no local.
O assoreamento existente no local restringe a própria execução da dragagem,
pois embarcações com calado maior do que 1,5 m apresentam dificuldade de
navegar. Outro fator limitante são as pontes e a existência de lixo de natureza
diversa, como entulhos, pneus, móveis, entre outros, que impedem a utilização de
dragas de sucção.
Para a melhoria de navegabilidade do Canal serão alargados os vãos das
pontes, necessitando a execução de obras de contenções. Serão executadas
contenções também em trechos da Linha Vermelha que margeiam o Canal, em
virtude da retirada de uma camada de solo que poderá desestabilizar a pista, que
poderia ocasionar o rompimento das margens. Para evitar o problema foram
realizadas sondagens para analisar o risco real de o problema ocorrer, sendo
apontadas nos resultados grandes camadas de solo mole, que foram
determinantes para a decisão de iniciar os estudos e posterior realização de
contenções nos taludes.
De acordo com o RAS, os projetistas se basearam em estudos existentes
de sondagem e de estruturas das vias de acesso da região, considerando a
necessidade de execução de estacas raiz justapostas (D=0,40m) e viga de
coroamento atirantada junto às duas margens do canal, para a ponte Oswaldo
Cruz e alças de acesso à Linha Amarela.
Entretanto, para a travessia do Canal do Cunha, Ponte Brigadeiro
Trompowsky e travessias da Linha Vermelha a execução de contenção e reforço
da ponte não constam do projeto inicial, pois a cota da dragagem não atingirá as
fundações.
Linha de Recalque
Vai para o
Hidrociclones
dique. e
ra o
Unidade Flutuante talvegue
a ser
dragado,
dragagem
do canal,
no qual Lameiro
Para Batelão
mostra o
Peneira Estática Curva Peneira Desaguadora
talvegue
[Digite uma citação do
a ser
documento ou o resumo de uma
dragado,
questão
as interessante. Você pode
posicionar
aminaçgo a caixa de texto em
qualquer lugar do documento.
te, para
Areia
Useverficaç
a guia Ferramentas de Caixa
de Texto para alterar a
formatação da caixa de texto da
Tanque de Armazenagem citação.]
Vem do Vai para Aterro Sanitário
Recalque
a b
FIG. 4.30 - Etapas da disposição do material não-contaminado: a) o material é
recalcado para o filtro de lixo fino e b) lançado no dique e espalhados pela
escavadeira.
A areia separada deste processo poderá ser reaproveitada em outros usos
menos nobres, que ainda não foram definidos, sendo uma possível utilização no
aterro necessário para o nivelamento dos tubos. O silte e a argila sedimentada
nos diques serão dispostas em cavas subaquáticas na baía da Guanabara, em
áreas já licenciadas.
A proposta de conter todo o material dragado em diques para posterior
transporte ao mar evita desperdícios, em termos financeiros e otimização de
tempo. Deixar todo o material concentrado permite a secagem, com a água
infiltrando e evaporando, o que facilita o transbordo ao batelão que levará ao
destino, pois o volume será menor e demandará menos viagens.
Para o material confinado as etapas são diferenciadas, pois é adicionado um
polímero floculante e então destinado aos tubos para desaguamento. O material
que sai da draga por recalque até a área dos tubos passa por uma tubulação que
recebe contribuição de polímeros floculantes, que para melhor mistura e efeito é
depejado na tubulação de recalque em quatro pontos, depois seguem por uma
chicana e posteriormente vão para os tubos.
FLOCULANTE
RECALQUE
TUBOS TUBOS
FIG. 4.31 - Fluxograma para o material contaminado ser destinado nos tubos.
Fonte: FUJB, Fluxograma do Processo de Dragagem, 2008.
O floculante é diluido na água em um tanque com misturador automático,com
4% de concentração e adicionado no local apontado na FIG 4-12, na tubulação de
recalque com chicanas para aumentar a área de contato e reduzir a velocidade do
fluido, facilitando a mistura do fluido e do floculante.
O produto serve para flocular as partículas do material dragado, visando
facilitar a decantação e inibir a passagem pelos poros dos tubos. O polímero
introduzido no processo, apresentado na figura acima é o Magnafloc LT 27 da
empresa BASF.
Este produto tem ação rápida, tal que em segundos pode-se observar a
formação dos flocos, a decantação dos mesmos e o clareamento da água em
seguida. Este efeito é monitorado visualmente, para que a dosagem mantenha-se
correta durante todo o processo de confinamento. O fluxograma da FIG 4-12 é
ilustrado com fotos da obra em questão, na FIG 4-13, que apresenta o ponto em
que o polímero é adicionado ao fluido pelo misturador acoplado à tubulação,
seguindo pelas chicanas e após a mistura o material é distribuído pelos tubos.
a d
b c
FIG. 4.32 - Área dos tubos: a) adição de polímero; b) chicana; c) vista geral da
disposição dos tubos; d) desaguamento dos tubos.
A água drenada dos tubos é límpida, com boa aparência e ausência de odor,
conforme observado in loco, indicando que a maioria das partículas sólidas foram
retidas. A caracterização físico-química do percolado (filtrado) do tubo geotêxtil,
de acordo com os parâmetros especificados na Res. CONAMA nº 357/05, foram
realizados em amostras coletadas no campo antes do início do processo de
dragagem.
Os resultados apresentados no RAS indicam qua a água possui qualidade
compatível com parâmetros preconizados na Res. CONAMA nº 357/05 (Art. 34),
referente a lançamento de efluentes, com exceção do Nitrogênio amoniacal, cujo
valor excedeu os limites permitidos.
1.18. DISPOSIÇÃO DO MATERIAL DRAGADO EM TUBOS
GEOTÊXTEIS
CONAMA nº 344/04
Nível 2: limiar acima do qual prevê-se um provável efeito
adverso à biota.
TUBOS
TUBOS
TUBOS
TUBOS
TUBOS
FIG.
4.36 -
b c
FIG. 4.37 - Operação dos tubos: a) Funcionários lavando os tubos; b) Detalhe do
desaguamento; e c) Água utilizada na lavagem escoando, sem empoçar.
Cabe ressaltar que a água utilizada para lavar os tubos é reaproveitada do
efluente dos próprios tubos, de forma que evita o desperdício e o excesso de
consumo de água. Entretanto não é recomendado que capte água diretamente do
canal, pois a mesma deve estar limpa, mas não é necessário que seja potável,
apenas sem sedimentos.
O enchimento dos tubos é feito em etapas, sendo preenchidos até um dado
volume. Quando atinge 2,40 m de altura, passam então a encher os tubos seguintes,
para permitir que o material confinado se assente e deságüe completamente. Após
decorrido um tempo para o volume reduzir, volta-se a enchê-lo até que atinja o limite
de expansão do bag e assim sucessivamente até que atinja a altura sem que haja
variação.
O tempo estimado para o enchimento inicial dos tubos é de 7 dias em média,
quando atinge a marca de 2,40m pela priemria vez, devido à variação de volume
comportado por bag e às dimensões. Após esse período, será enchido outro grupo
de tubos, para a secagem dos primeiros, que em 7 dias, em função do clima, será
desaguado e voltará a ser enchido.
A tubulação que chega do ramal de recalque se divide em duas linhas
secundárias para melhor distribuição do fluido e ao longo das linhas há conjuntos de
válvulas, como ilustrado na FIG 4-19, para distribuição dos mangotes que
preencherão os tubos pelas flanges.
FIG. 4.38 - Válvulas de alimentação dos mangotes para enchimento dos tubos.
Durante a operação, apenas 8 válvulas permanecem abertas, para que não haja
perda de carga e os tubos do final da linha sejam prejudicados, com menor pressão
e possíveis entupimentos.
A situação de campo não pode ser totalmente controlada, apresentando variação
na produtividade de dragagem, que influencia diretamente no enchimento dos tubos.
As principais causas da inconstância da produtividade das dragas se devem à
manutenção dos equipamentos, faixas com quantidade e qualidade de sedimentos
variados, lixo que passa pelo peneiramento e entope as tubulações, problemas de
falta de energia e segurança dos operários em função da localização da obra.
Ao final da primeira etapa é coletada amostra do material confinado, sem abrir o
bag, diretamente pelo flange, onde conecta o mangote, para verficação das
condições internas, como umidade e granulometria. Algumas verificações são
realizadas durante o periodo de desaguamento, como análise do efluente dos tubos,
grau de contaminação e partículas sólidas.
Os ensaios mais característicos dessas etapas serão descritos a seguir,
conforme informações e visitas a campo, bem como acompanhamento de ensaios
no laboratório do IME.
a b c
d e f
FIG. 4.39 - Colete das amostras no tubo após 07 dias de desaguamento, sem
operação. Abertura da flange (a), vista superior do material no interior do bag com
elevada presença de água (b), material retirado do bag (c), posições de retirada de
material (d, e ,f).
Primeiramente retira-se o mangote para abertura do flange, ilustrado na FIG 4-20
a e 4-20 b, insere o tubo verticalmente, em seguida coloca-se a lona na ponta do
tubo, para que o material permaneça no tubo quando for retirado do bag, devido à
pressão, como na FIG 4-20 c e 4-20 d.
O procedimento será repetido, para que sejam retiradas parcelas de material na
vertical e inclinadamente para 4 direções perpendiculares: norte, sul, leste e oeste.,
apresentado na FIG 4-20 e e 4-20 f.
Com uma das extremidades do tubo vedada, apoia-se a outra extremidade
dentro do carrinho, retira-se a tampa e o material é depositado. Após a coleta de
todo o material será utilizada a pá para homogeneizar a amostra, ainda no carrinho,
que será armazenada em recipiente lacrado para ser levado ao laboratório.
O material depositado nas proximidades da flange é rígido, sendo motivo da
dificuldade encontrada no momento da coleta das amostrras, que consiste em
empurrar o tubo pela abertura, até a profundidade necessária para a retirada de
material suficiente e representativo para os ensaios.
ArgilaSilteAreiaPedregulhoFinaMédiaGrossaFinoMédioGrosso
FIG. 4.40 - Distribuição Granulométrica das Frações Areia, Silte e Argila dos Canais
do Fundão e do Cunha.
Diâmetro das Partículas (mm)
Fonte: RAS
Entretanto, a característica do sedimento confinado nos tubos não coincidiu com
a obtida nos ensaios de laboratório antes do inicio da operação, apresentando
grande volume de areia, que foi constatado nos ensaios com amostras de material
dos tubos.
Esta discrepância prejudicou o desempenho dos tubos no campo, pois a areia se
sedimenta antes das partículas menores e se deposita nas proximidades do flange.
Com esta condição, há excesso de sedimento ao redor dos flanges, com desníveis
significativos na região entre flanges e acúmulo de água na região de desnível,
conforme ilustrado na FIG 4-22.
ALMEIDA, M.S.S., BORMA, L.S. e BARBOSA, M.C. Land disposal of river and
lagoon dredged sediments. Engineering Geology 60 (2001).
CHIARENZELLI, J., Scrudato, R., Bush, B., Carpenter, D., e Bushart, S. 1998. Do
large-scale remedial dredging events have the potential to release
significant amounts of semivolatile compounds to the atmosphere? -
Environmental Health Perspectives, 1998.
ISO 9864/2005 - Geosynthetics - Test method for the determination of mass per
unit area of geotextiles and geotextile-related products.
2 - ANÁLISES LABORATORIAIS
O programa de investigação laboratorial ( ensaios) do material a ser dragado
deverá ser desenvolvido em três etapas, a saber:
1ª ETAPA - CARACTERIZAÇÃO FÍSICA
As características físicas básicas incluem a quantidade de material a ser
dragado, a distribuição granulométrica e o peso específico dos sólidos, Tabela II -
Classificação granulométrica dos sedimentos*
CLASSIFICAÇÃO Phi (φ)** (mm)
Areia muito grossa -1 a 0 2a1
Areia grossa 0a1 1 a 0,5
Areia media 1a2 0,5 a 0,25
Areia fina 2a3 0,25 a 0,125
Areia muito fina 3a4 0,125 a 0,062
Silte 4a8 0,062 a 0,00394
Argila 8 a 12 0,00394 a 0,0002
* Referência: Escala Granulométrica de Wentworth, 1922.
** Phi (φ) corresponde à unidade de medida do diâmetro da partícula do sedimento,
cuja equivalência em milímetros (mm) é apresentada na coluna 3 da Tabela II.
0203 - DRAGAGEM
As dragagens poderão ser realizadas com os seguintes propósitos:
a) para estabelecimento de uma determinada profundidade;
b) para manutenção de profundidade de certo local; e
c) para execução de aterro.
Os processos relativos às realizações de dragagens para execução de aterro
obedecerão, no que couber, ao contido no item 0205 e no item 0208, devendo ser
encaminhados em um único processo.
0206 - EXIGÊNCIAS
Os despachos feitos pelas CP nos requerimentos deverão estabelecer as
seguintes exigências:
a) que os despejos sejam efetuados, preferencialmente, nos períodos do início da
maré vazante;
b) que seja comunicado, com antecedência mínima de cinco dias úteis, o início da
dragagem, as coordenadas da área a ser dragada e da área de despejos para
divulgação em Avisos aos Navegantes, comunicação semelhante deverá ser
efetuada por ocasião do término da dragagem;
c) que a área dragada seja delimitada por bóias luminosas do tipo especial, pintadas
na cor amarela, exibindo, no período noturno, luz amarela com um dos seguintes
ritmos: "grupo de ocultação", "lampejo simples", "grupo de lampejos com 4, 5 ou 6
lampejos", "grupo de lampejo composto" ou "código morse" com exceção das letras
A e U, de acordo com o Regulamento para Sinalização Náutica (NORMAM 17). A
DHN deverá ser informada sobre o “ritmo”, período e fase detalhada escolhidos
(exigências a serem feitas no caso de dragagem em áreas situadas em local de
tráfego de navios ou tráfego intenso de outras embarcações);
d) emissão de relatórios parciais de acompanhamento dos serviços realizados,
quando o período previsto de duração da dragagem for igual ou superior a 60
(sessenta) dias.
Quando o período previsto for inferior ao acima citado, ficará a critério do
Capitão dos Portos a necessidade da emissão dos respectivos relatórios; e
e) seja encaminhada à DHN, após a realização dos trabalhos, uma cópia da folha de
sondagem da área dragada e da área de despejo, para atualização da carta náutica
da região.
As DL e AG deverão encaminhar os respectivos processos de dragagem para
a análise da CP. O parecer final sobre as dragagens será emitido pelas CP.