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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MODELAGEM
COMPUTACIONAL E SISTEMAS

MIKAELLA PRICILA ALVES DIAS

UTILIZAÇÃO DO MÉTODO ULTRASSÔNICO DA TRANSPARÊNCIA PARA


AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES ELÁSTICAS E MECÂNICAS DO AÇO 1020

Montes Claros - MG
Julho de 2021
MIKAELLA PRICILA ALVES DIAS

UTILIZAÇÃO DO MÉTODO ULTRASSÔNICO DA TRANSPARÊNCIA PARA


AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES ELÁSTICAS E MECÂNICAS DO AÇO 1020

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional


em Modelagem Computacional e Sistemas, da
Universidade Estadual de Montes Claros, como
exigência para obtenção do grau de Mestre em
Modelagem Computacional e Sistemas.

Orientador: Prof. Dr. Álvaro Barbosa de Carvalho


Júnior

Coorientador: Prof. Dr. Maurílio José Inácio

Montes Claros - MG
2021
Dias, Mikaella Pricila Alves.
D541u Utilização do método ultrassônico da transparência para avaliação das
propriedades elásticas e mecânicas do aço 1020 [manuscrito] / Mikaella Pricila
Alves Dias. – Montes Claros, 2021.
82 f. : il.

Bibliografia: f. 79-82.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros -
UNIMONTES, Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional e
Sistemas/PPGMCS, 2021.

Orientador: Prof. Dr. Álvaro Barbosa de Carvalho Júnior.


Coorientador: Prof. Dr. Maurílio José Inácio.

1. Ultrassom. 2. Aço. 3. Propriedades elásticas. 4. Propriedades mecânicas.


I. Carvalho Júnior, Álvaro Barbosa de. II. Inácio, Maurílio José. III.
Universidade Estadual de Montes Claros. IV. Título.

Catalogação Biblioteca Central Professor Antônio Jorge


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MODELAGEM COMPUTACIONAL E SISTEMAS

FOLHA DE APROVAÇÃO
Utilização do Método Ultrassônico da Transparência para Avaliação das Propriedades
Elásticas e Mecânicas do Aço 1020

MIKAELLA PRICILA ALVES DIAS

Dissertação de mestrado defendida e aprovada pela banca examinadora constituída por:

_____________________________________________________________
PROF. DR. ÁLVARO BARBOSA DE CARVALHO JÚNIOR – Orientador
Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas – Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

_____________________________________________________________
PROF. DR. MAURÍLIO JOSÉ INÁCIO – Coorientador
Departamento de Ciências da Computação – Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

_____________________________________________________________
PROF. DR. NARCISO DA HORA LISBOA
Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas – Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

_____________________________________________________________
PROF. DR. ROSIVALDO ANTÔNIO GONÇALVES
Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas – Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

_____________________________________________________________
PROF. DR. LEONARDO BRUNO FERREIRA DE SOUZA
Departamento de Física – Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP)

Montes Claros, 08 de julho de 2021


AGRADECIMENTOS

À Deus, acima de tudo, pelo dom da vida, por permanecer comigo durante toda essa
jornada, me guiando e dando forças.
Aos meus pais Sebastião Agostinho Dias (in memorian) e Eliete Nery Alves Dias,
por serem os meus maiores exemplos de determinação e por me incentivarem a nunca desistir
dos meus sonhos.
Às minhas irmãs Raphaela Cristina Alves Dias e Estefânia Carolina Alves Dias,
pelo incentivo, apoio e compreensão.
À toda minha família, pela torcida, em especial ao meu primo Carlos Rafael Dias
Almeida, pela força e colaboração no desenvolvimento deste trabalho.
Ao meu noivo, Lucas Leonardo dos Santos Souza, pela cumplicidade ao longo
dessa jornada e por compreender os meus momentos de ausência pelo tempo dedicado aos
estudos.
Ao meu orientador Prof. Dr. Álvaro Barbosa de Carvalho Júnior, pelo excelente
trabalho de orientação desenvolvido. Sem o seu direcionamento ímpar e competência, não
haveria como desenvolver este trabalho.
Ao meu coorientador Prof. Dr. Maurílio José Inácio, que também representou parte
fundamental na construção dessa pesquisa, sempre com paciência e disponibilidade prestada.
Ao PPGMCS pela disponibilização da infraestrutura para a realização dos
experimentos.
Aos professores do PPGMCS que, pelo resultado de um esforço comum, repartiram
comigo os seus conhecimentos.
À colega Ana Caroline Nery Munoz Carvalho, pela ajuda na realização dos ensaios
e pela disponibilização do circuito para realização do experimento, primordial para o
desenvolvimento deste trabalho.
À amiga Maria Helena Teles Lopes por toda dedicação, parceria, apoio e por não
medir esforços em contribuir com a pesquisa realizada desde o início.
Aos meus colegas do mestrado Cleidson, Kelly, Mirla, Ravisson, Thácio, Thamara,
Thiago e Stephanie, pela torcida, momentos e conhecimentos compartilhados.
Enfim, quero demonstrar o meu agradecimento a todos aqueles que, de um modo
ou de outro, contribuíram para a realização da presente dissertação.
“Tudo posso naquele que me fortalece.”
Filipenses 4:13
RESUMO

Este trabalho teve como objetivo caracterizar as propriedades elásticas e mecânicas do aço
carbono 1020 por meio da técnica ultrassônica da transparência. Para verificar a viabilidade do
método proposto foram utilizados dois transdutores piezoelétricos, sendo um deles emissor e
outro receptor de ondas ultrassônicas na frequência de 2 MHz, as quais foram propagadas
através de uma barra de aço 1020. As propriedades elásticas do aço 1020, tais como, os módulos
de elasticidade, cisalhamento, compressibilidade, as constantes de Lamé e coeficiente de
Poisson, foram estimadas por meio das relações existentes entre os valores das velocidades de
propagação de ondas longitudinais e transversais, e do valor da densidade do aço 1020. Por
outro lado, para a estimativa das propriedades mecânicas, buscou-se relacionar as velocidades
ultrassônicas calculadas com os valores de dureza, tensão de escoamento e limite de resistência
à tração, analisando também alguns modelos físicos relatados na literatura para a estimativa das
propriedades mecânicas dos aços carbono. Os resultados deste trabalho indicam a possibilidade
de caracterização das propriedades elásticas e mecânicas do aço 1020 de forma rápida e com
valores muito semelhantes àqueles descritos na literatura como valores de referência,
evidenciando a eficiência do ensaio não destrutivo proposto.

Palavras-chave: Ultrassom. Aço. Propriedades elásticas. Propriedades mecânicas.


ABSTRACT

The aim of this study to characterize the elastic and mechanical properties of 1020 carbon steel
by means of the ultrasonic transparency technique. To verify the feasibility of the proposed
method, two piezoelectric transducers were used, with one of them being the emitter and the
other being the receiver of ultrasonic waves in the 2 MHz frequency, which were propagated
through a 1020 steel bar. The elastic properties of the 1020 steel, such as, the Young’s modulus,
shear, Bulk, Lamé constants and Poisson's ratio were estimated through the relations between
the values of the propagation velocities of the longitudinal and transversal waves, and the
density of the1020 steel. On the other hand, to estimate the mechanical properties, we sought
to relate the calculated ultrasonic velocities with the values of hardness, yield strength and
ultimate tensile strength, also analyzing some physical models reported in the literature for the
estimate of the mechanical properties of carbon steels. The results of this study indicated the
possibility of quickly characterizing the elastic and mechanical properties of 1020 steel with
values very similar to those described in the literature as reference values, showing the
efficiency of the proposed non-destructive test.

Keywords: Ultrasound. Steel. Elastic properties. Mechanical properties.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação da tensão normal média: (a) material delgado submetido ao esforço

de tração; (b) determinação da tensão normal média na seção transversal. ............................. 23

Figura 2 – Ensaio de tração: (a) posicionamento do corpo de prova para o ensaio; (b)

deformação do corpo de prova tracionado. .............................................................................. 25

Figura 3 – Comportamento tensão-deformação do aço com baixo teor de carbono. ............... 27

Figura 4 – Diagrama tensão-deformação para diferentes ligas de aço. .................................... 32

Figura 5 – Esquema de tensões em um corpo de prova prismático: (a) aplicação da carga ao

longo do eixo x e (b) tensões normais desenvolvidas nos eixos 𝑥, 𝑦 e 𝑧. ................................. 34

Figura 6 – Esquema de uma análise triaxial da deformação: (a) material isotrópico na forma de

cubo com arestas unitárias e (b) deformação específica normal nas direções dos eixos 𝑥, 𝑦 e 𝑧.

.................................................................................................................................................. 36

Figura 7 – Tensões normais correspondentes à pressão hidrostática de valor p. ..................... 38

Figura 8 – Estado geral das tensões normais e cisalhantes....................................................... 40

Figura 9 – Representação da deformação de cisalhamento. ..................................................... 40

Figura 10 – Estado triplo de tensão em um ponto material. ..................................................... 43

Figura 11 – Representação esquemática de uma onda longitudinal. ........................................ 48

Figura 12 – Representação esquemática de uma onda transversal. .......................................... 49

Figura 13 – Relação entre os valores de LRT e as velocidades das ondas ultrassônicas

longitudinais propagadas no ferro fundido. .............................................................................. 51

Figura 14 – Limite de resistência à tração em função da velocidade longitudinal. .................. 53

Figura 15 – Valores de dureza Vickers (HV) em função das velocidades de propagação das

ondas ultrassônicas longitudinais. ............................................................................................ 55

Figura 16 – Dimensões da barra de aço 1020: (a) comprimento e (b) diâmetro. ..................... 58

Figura 17 – Medida de massa na barra de aço 1020. ................................................................ 59


Figura 18 – Diagrama de blocos do sistema eletrônico utilizado. ............................................ 60

Figura 19 – Circuitos eletrônicos: (a) emissor e (b) receptor de ondas ultrassônicas. ............. 60

Figura 20 – Emissão e recepção da onda ultrassônica através da barra de aço 1020. .............. 61

Figura 21 – Tempo de percurso da onda ultrassônica através da barra de aço 1020................ 62

Figura 22 – Máquina de Ensaios Universal. ............................................................................. 67

Figura 23 – Comportamento da tensão em função do alongamento do aço 1020. ................... 72


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Valores de VL e LRT nas amostras de ferro fundido. .............................................. 50

Tabela 2 – Composição química das amostras de aço: percentual de carbono equivalente (Ec)

e tamanho de grãos padrão ASTM (entre 8,5 e 9,0 ASTM corresponde entre 11,9 e 14,1 m).

.................................................................................................................................................. 52

Tabela 3 – Valores das velocidades longitudinais obtidas com frequências de 5 e 15 MHz. .. 53

Tabela 4 – Composição química da barra de aço SAE 1020.................................................... 58

Tabela 5 – Velocidades ultrassônicas no aço 1020. ................................................................. 63

Tabela 6 – Propriedades elásticas dos materiais em função de VL, VT e . .............................. 64

Tabela 7 – Modelo para o cálculo do LRT em função de VL ou HV. ........................................ 65

Tabela 8 – Durezas HB e HV em função de LRT e VL.............................................................. 65

Tabela 9 – Tensão de escoamento (𝜎𝐸) em função de HV....................................................... 66

Tabela 10 – Densidade calculada para a barra de aço 1020. .................................................... 68

Tabela 11 – Valores das velocidades longitudinal e transversal para o aço 1020. ................... 68

Tabela 12 – Valores calculados de impedância acústica (Z1) na barra de aço 1020. ............... 69

Tabela 13 – Valores calculados das constantes elásticas e a diferença percentual em relação aos

valores de referência. ................................................................................................................ 70

Tabela 14 – Modelos propostos e resultados obtidos para 𝜎𝐸, LRT e HV. .............................. 74

Tabela 15 – Valores calculados de resiliência para o aço 1020. .............................................. 75


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

END’s Ensaios não destrutivos

LRT Limite de Resistência à Tração

PPGMCS Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional e Sistemas

SI Sistema Internacional

UNIMONTES Universidade Estadual de Montes Claros


LISTA DE SÍMBOLOS

𝜎 - Tensão normal
x - Tensão na direção x
∆𝑃 - Força por unidade de área
∆𝐴 - Área específica na seção transversal do material
𝐴 - Área do material
𝑃 - Carga axial
E - Módulo de elasticidade
𝜖 - Deformação
L - Comprimento inicial do material antes do ensaio
Lo - Comprimento final do material depois do ensaio
 - Variação no comprimento do corpo de prova
E - Tensão de escoamento
R - Tensão de ruptura
𝑟 - Índice de anisotropia
𝜀𝑟𝑏 - Deformação real na largura
𝜀𝑟𝑡 - Deformação real na espessura
𝑟𝑝 - Índice de anisotropia plástica
𝑏0 - Largura inicial do corpo de prova
𝑏𝑓 - Largura final do corpo de prova
𝐿0 - Comprimento inicial do corpo de prova
𝐿𝑓 - Comprimento final do corpo de prova
𝑟̅ - Anisotropia normal
𝑟0° - Índice de anisotropia de corpos de prova extraídos na direção de 0°
𝑟45° - Índice de anisotropia de corpos de prova extraídos na direção de 45°
𝑟90° - Índice de anisotropia de corpos de prova extraídos na direção de 90°
∆𝑟 - Índice de anisotropia planar.
𝑢 - Densidade de energia de deformação
∆𝑈 - Energia de deformação
∆𝑉 - Volume do elemento
𝑢𝑟 - Módulo de resiliência
LP - Tensão limite de proporcionalidade
𝑢𝑡 - Módulo de tenacidade
𝜖𝑅 - Deformação de ruptura
𝑣 - Coeficiente de Poisson
𝜖𝑙𝑎𝑡 - Deformação específica lateral ou transversal
𝜖𝑙𝑜𝑛𝑔 - Deformação específica longitudinal
𝜖𝑥 - Deformação específica normal ao longo do eixo x
𝜖𝑦 - Deformação específica normal ao longo do eixo y
𝜖𝑧 - Deformação específica normal ao longo do eixo z
𝑉 - Volume
𝑉𝑒𝑙 - Velocidade da onda ultrassônica
∆𝑉 - Variação de volume
𝑒 - Dilatação volumétrica específica do material
𝑉𝑓 - Volume final do material
𝑉𝑖 - Volume inicial do material
𝐾 - Módulo de compressibilidade volumétrica do material
𝜏𝑚é𝑑 - Tensão de cisalhamento média na área da seção
V - Força de cisalhamento interna resultante na seção
𝐺 - Módulo de elasticidade transversal do material ou módulo de cisalhamento
𝜆 - Primeira constante elástica de Lamé ou comprimento de onda
𝜇 - Segunda constante elástica de Lamé
𝑓 - Frequência da onda ultrassônica
 - Densidade
VL - Velocidade de propagação de onda ultrassônica de modo longitudinal
VT - Velocidade de propagação de onda ultrassônica de modo transversal
HV - Dureza Vickers
HB - Dureza Brinell
𝐵 - Constante que depende da tensão verdadeira e do ponto de escoamento
𝑛 - Expoente de endurecimento por deformação do material
𝜎0 - Tensão de atrito que resiste ao movimento de deslocamento
𝐾𝑌 - Relação de Hall-Petch
𝛼𝐿 - Coeficiente de atenuação das ondas longitudinais
𝑀 - Constante relacionada com o fator de anisotropia
̅
𝐷 - Tamanho médio dos grãos
r - Raio
c - Altura ou comprimento da amostra
m - Massa
t - Tempo
Z - Impedância acústica
T - Percentual de energia transmitida
R - Percentual de energia refletida
Z1 - Impedância acústica do aço
Z2 - Impedância acústica do acoplante
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 17
1.1 OBJETIVO ..................................................................................................................... 19
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 20
2.1 UMA BREVE APRESENTAÇÃO DO AÇO 1020 E SEUS PRINCIPAIS
TRATAMENTOS TÉRMICOS ........................................................................................... 20
2.2 COMPORTAMENTO ELÁSTICO E PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS
MATERIAIS ......................................................................................................................... 21
2.2.1 Conceito de tensão aplicada à mecânica dos materiais ................................................ 21
2.2.2 Princípio básico do ensaio de tração ............................................................................ 24
2.2.3 Lei de Hooke ................................................................................................................ 25
2.2.4 Comportamento tensão-deformação ............................................................................ 27
2.2.5 Índice de anisotropia .................................................................................................... 28
2.2.6 Módulo de resiliência ................................................................................................... 30
2.2.7 Módulo de tenacidade .................................................................................................. 32
2.2.8 Coeficiente de Poisson ................................................................................................. 33
2.3 LEI DE HOOKE GENERALIZADA ............................................................................. 35
2.4 MÓDULO DE COMPRESSIBILIDADE (K) ................................................................ 36
2.5 DEFORMAÇÃO AO CISALHAMENTO ..................................................................... 39
2.6 CONSTANTES ELÁSTICAS DE LAMÉ ..................................................................... 41
2.7 MATRIZ DE RIGIDEZ PARA MATERIAIS ANISOTRÓPICOS ............................... 42
2.8 MATRIZ DE RIGIDEZ PARA MATERIAIS ISOTRÓPICOS ..................................... 45
2.9 RELAÇÃO ENTRE AS PROPRIEDADES ELÁSTICAS E AS VELOCIDADES DE
PROPAGAÇÃO DAS ONDAS ACÚSTICAS .................................................................... 47
2.10 ESTIMATIVA DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS LRT, HV E E COM MEDIDAS
DE VELOCIDADES ULTRASSÔNICAS .......................................................................... 50
3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 58
3.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA DE AÇO 1020 ................................................ 58
3.2 CÁLCULO DAS VELOCIDADES ULTRASSÔNICAS .............................................. 59
3.3 IMPEDÂNCIA ACÚSTICA E CÁLCULO DAS ENERGIAS TRANSMITIDA E
REFLETIDA ......................................................................................................................... 63
3.4 ESTIMATIVA DAS PROPRIEDADES ELÁSTICAS DO AÇO 1020 ........................ 64
3.5 ESTIMATIVA DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO AÇO 1020 ...................... 65
3.6 ENSAIOS DE TRAÇÃO E DUREZA BRINELL ......................................................... 66
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 68
4.1 MEDIDA DE DENSIDADE DO AÇO 1020 ................................................................. 68
4.2 VELOCIDADES ULTRASSÔNICAS NA AMOSTRA DE AÇO 1020 ....................... 68
4.3 PROPRIEDADES ELÁSTICAS CALCULADAS PARA O AÇO 1020 ...................... 69
4.4 PROPRIEDADES MECÂNICAS DA BARRA DE AÇO 1020 .................................... 72
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 77
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 79
17

1 INTRODUÇÃO

Os ensaios não destrutivos (END’s) tais como, líquidos penetrantes, partículas


magnéticas, gamagrafia e ensaio por ultrassom são técnicas capazes de inspecionar um material
sem a necessidade de destruir ou danificá-lo. Em geral, os END’s são utilizados para verificar
a condição de integridade dos materiais por meio da detecção de descontinuidades ou falhas
que possam comprometer o funcionamento do produto final. Uma vez detectadas, as falhas
podem ser caracterizadas em relação à localização, tamanho, orientação, forma e natureza
(KRAUTKRAMER e KRAUTKRAMER, 1990).
Os END’s também podem ser utilizados para caracterizar as propriedades elásticas
dos materiais, sendo o ensaio por ultrassom uma das técnicas mais conhecidas (MURARU,
2006; GARCIA, SPIM e SANTOS, 2014). Esse tipo de ensaio se destaca pela possibilidade de
relacionar medidas de velocidades de propagação das ondas ultrassônicas com algumas
propriedades físicas e mecânicas dos materiais, tais como os módulos de elasticidade,
cisalhamento e compressibilidade, o coeficiente de Poisson, a impedância acústica, o fator de
anisotropia e a dureza (KRAUTKRAMER e KRAUTKRAMER, 1990; RODRÍGUEZ-
SASTRE e CALLEJA, 2006; YAMAGISHI et al., 2010; GINZEL e TURNBULL, 2016).
Na indústria metalúrgica, as medidas das velocidades de ondas ultrassônicas e da
densidade podem ser utilizadas para a estimativa rápida das propriedades elásticas do aço,
alumínio e magnésio, sendo encontrados com um único ensaio valores muito próximos daqueles
obtidos por meio dos ensaios destrutivos convencionais (YAMAGISHI et al., 2010; FONSECA
e REGULY, 2011; GARCIA, SPIM e SANTOS, 2014). Entretanto, ainda existe um grande
número de empresas que utilizam ensaios destrutivos para a caracterização dos seus produtos.
Neste caso, com a dificuldade de caracterizar um material por meio de um único ensaio
destrutivo, será indispensável à realização de outros ensaios, como por exemplo, os ensaios de
resistência à tração, compressão, cisalhamento, torção e flexão.
Acredita-se que muitas indústrias não utilizem o ensaio por ultrassom pelo
completo desconhecimento das técnicas e também pelo custo de investimento com
instrumentação e qualificação de um operador habilitado para o ensaio. Entretanto, com o
avanço do conhecimento na instrumentação eletrônica, dispositivos de baixo custo, em relação
aos equipamentos industriais, e com alto grau de confiabilidade das medidas, podem ser
desenvolvidos para o estudo das propriedades elásticas de materiais metálicos e não metálicos
(ASSEF et al., 2009; HAMIDNIA e HONARVAR, 2012; CARVALHO, 2020).
18

Entre os métodos ultrassônicos para caracterização e inspeção de materiais


metálicos destacam-se os métodos de pulso-eco e da transparência (KRAUTKRAMER e
KRAUTKRAMER, 1990; ASSEF et al., 2009; ANDREUCCI, 2014). O método de pulso-eco
utiliza um único transdutor, capaz de gerar e receber ondas ultrassônicas através do material.
Por outro lado, na técnica da transparência são utilizados dois transdutores separados,
posicionados nas faces opostas do material, sendo um deles responsável por gerar e o outro de
captar as velocidades das ondas ultrassônicas propagadas através do material inspecionado
(KRAUTKRAMER e KRAUTKRAMER, 1990; ANDREUCCI, 2014).
Recentemente, um grupo de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em
Modelagem Computacional e Sistemas, da Universidade Estadual de Montes Claros
(PPGMCS/UNIMONTES), tem investigado a possibilidade de caracterização não destrutiva de
ligas metálicas não ferrosas por meio da técnica ultrassônica da transparência. Com o
desenvolvimento de um sistema eletrônico simples de emissão e recepção dos sinais
ultrassônicos, o grupo de pesquisa constatou a viabilidade de caracterização das propriedades
elásticas de ligas de alumínio e magnésio, cujos resultados foram muito semelhantes àqueles
obtidos por meio de ensaios destrutivos relatados na literatura (CARVALHO, 2020).
Entretanto, até o presente momento não há maiores informações sobre o comportamento do
sistema eletrônico aplicado na investigação de ligas metálicas ferrosas.
Portanto, com base nos relatos descritos acima, este trabalho buscou caracterizar as
propriedades elásticas e mecânicas de uma liga metálica ferrosa, utilizando o sistema de
ultrassom desenvolvido no PPGMCS/UNIMONTES. Para verificar o comportamento do
sistema eletrônico na geração de ondas ultrassônicas através de um material ferroso, foi
utilizado como material de teste uma liga de aço 1020, que representa uma das ligas mais usadas
em estruturas metálicas, além de ser um dos principais insumos para produção de pregos,
parafusos, chapas e tubos, entre outros. Os valores calculados das propriedades elásticas e
mecânicas para o aço 1020 mostraram que o método proposto é eficiente, prático e rápido para
a caracterização de materiais metálicos por meio de um único ensaio.
19

1.1 OBJETIVO

• Avaliar a aplicação de um sistema eletrônico de emissão e recepção de ondas


ultrassônicas para a caracterização das propriedades elásticas e mecânicas de uma liga de aço
1020.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Aplicar modelos matemáticos que relacionem medidas de velocidade de propagação de


ondas ultrassônicas com as propriedades elásticas e mecânicas do aço 1020;
• Avaliar relações matemáticas em função das velocidades de ondas ultrassônicas para
caracterização mecânica do aço 1020;
• Divulgar para o meio científico o sistema eletrônico desenvolvido no PPGMCS como
um ensaio ultrassônico simples, acessível e rápido para a caracterização não destrutiva de ligas
metálicas.
20

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta uma revisão de literatura abordando alguns tópicos que
ajudarão na compreensão desse estudo. Dessa forma, foi realizada uma breve revisão sobre
conteúdos relacionados ao aço 1020, tensões nos materiais, comportamento elástico dos
materiais, ensaio de tração, propriedades elásticas e mecânicas dos materiais, matriz de rigidez
para materiais isotrópicos e anisotrópicos, caracterização de materiais com ensaio por
ultrassom, além de uma abordagem sucinta sobre alguns modelos propostos para estimativas
das propriedades mecânicas com técnicas não destrutivas.

2.1 UMA BREVE APRESENTAÇÃO DO AÇO 1020 E SEUS PRINCIPAIS


TRATAMENTOS TÉRMICOS

As ligas ferrosas são caracterizadas como materiais que possuem em sua


composição o elemento ferro (Fe) como principal constituinte. Essas ligas são importantes
materiais aplicados nas diversas áreas da engenharia, tendo em vista sua versatilidade,
adaptabilidade e sua ampla variedade de propriedades mecânicas e físicas (GERDAU, 2003;
CALLISTER JR e RETHWISCH, 2012).
Os aços são ligas ferro-carbono, mas que também podem conter em sua estruturação
outros elementos. A concentração de carbono existente na composição do aço auxilia na
delimitação de classificação como baixo, médio ou alto teor de carbono. Desta forma, existem
muitos tipos de aços e cada um apresenta diferenças em suas propriedades, que dependem não
só de sua composição química, mas também dos tratamentos térmicos realizados (GERDAU,
2003; CALLISTER JR e RETHWISCH, 2012).
A nomenclatura dos aços se baseia na sua composição química e pode ser
representada por um conjunto de quatro algarismos. Os dois primeiros algarismos representam
a classe do aço e os dois últimos o teor médio de carbono que varia entre 0,05% e 0,95% (VAN
VLACK, 2015).
O aço 1020 é um dos aços mais utilizados na indústria metal mecânica e possui uma
vasta aplicação. Em sua nomenclatura, os dois algarismos iniciais (10) representam a
classificação para os aços-carbono comuns, com um mínimo de outros elementos de liga. Já os
dois últimos algarismos indicam que estes aços possuem cerca de 0,20% de carbono, sendo um
aço com baixo teor de carbono (VAN VLACK, 2015). De acordo com dados da empresa
21

Gerdau (2003), o aço 1020 pode ser adquirido comercialmente nas condições de laminado,
normalizado e recozido.
A laminação do aço 1020 consiste em uma operação de conformação e, dentre os
tipos existentes, é a mais utilizada. A técnica de laminação consiste em passar entre dois rolos
uma barra de aço em uma determinada temperatura. Nesse caso, as modificações ocasionadas
na microestrutura aumentam o limite de resistência à tração do aço (CALLISTER JR e
RETHWISCH, 2012).
O recozimento e a normalização consistem em tipos de tratamentos térmicos, nos
quais os aços 1020 e outros materiais podem ser submetidos com o objetivo reduzir a dureza
dos materiais. Os tratamentos térmicos modificam as propriedades mecânicas dos aços por meio
da reorganização dos átomos na estrutura cristalina. Nesse caso, diferentemente do processo de
laminação, a temperatura de tratamento será responsável pelas alterações microestruturais
(NOVIKOV, 1994; VAN VLACK, 2015).
O tratamento térmico de recozimento consiste em expor o aço a uma temperatura
maior que 800 °C, sendo resfriado por correntes de ar. Já o processo de normalização, que é
semelhante ao recozimento, tem a função de diminuir as tensões decorrentes dos processos de
fundição e conformação mecânica a quente ou a frio. Este processo apresenta uma menor
velocidade de resfriamento, uma vez que o resfriamento ocorre em um ambiente sem a
movimentação de ar. É importante ressaltar que a velocidade de resfriamento dependerá do
tamanho da amostra que está recebendo o tratamento térmico, sendo observado um resfriamento
mais rápido em amostras menores (VAN VLACK, 2015).
Depois da realização dos tratamentos térmicos é comum utilizar ensaios
metalográficos, que são feitos com o auxílio de microscópios ópticos específicos para visualizar
as microestruturas resultantes nas superfícies dos aços e relacioná-las com as propriedades
mecânicas. Entretanto, em muitos materiais metálicos, esse procedimento não é suficiente para
uma completa caracterização das propriedades mecânicas, sendo necessária a realização de
ensaios complementares de dureza e tração (VAN VLACK, 2015).

2.2 COMPORTAMENTO ELÁSTICO E PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS


MATERIAIS

2.2.1 Conceito de tensão aplicada à mecânica dos materiais

No estudo da mecânica dos materiais, o termo “tensão” é utilizado para analisar as


forças distribuídas em uma determinada seção do material, representando assim, a razão entre
22

a força atuante na seção transversal por unidade de área. Estimar o valor da tensão é de extrema
importância, uma vez que os materiais, quando submetidos aos diferentes esforços mecânicos,
devem assegurar que as tensões máximas desenvolvidas sejam menores ou iguais às tensões
admissíveis de projeto (BEER et al., 2011).
Sabe-se que, quando a força aplicada no material é perpendicular à área de atuação,
a razão entre a força e a área será denominada de tensão normal. Nesse caso, o valor encontrado
representa uma tensão média sobre a seção transversal e não um valor da tensão em um ponto
específico da seção do material. Para a análise dos esforços solicitantes, a tensão é considerada
por alguns autores com sinal positivo nos esforços de tração e negativo na compressão (BEER
e JOHNSTON JR., 1995; GERE e GOODNO 2017).
Em alguns casos, a tensão normal específica em um determinado ponto da seção
transversal, pode ser definida por meio da análise da intensidade de uma força em relação a
uma pequena área, cujas dimensões tendem a zero, conforme descreve a Equação (1)
(HIBBELER, 2010):

∆𝑃
𝜎 = lim (1)
∆𝐴→0 ∆𝐴

em que:
𝜎 = tensão normal em determinado ponto da seção transversal do material (Pa);
∆𝑃 = força por unidade de área (N);
∆𝐴 = área específica na seção transversal do material (m2).

Segundo Hibbeler (2010), quando um material é submetido a uma deformação


uniforme e constante, essa deformação será o resultado de uma tensão normal constante em
todos os pontos do material, ou seja, cada área A na seção transversal estará submetida a uma
força P = A, sendo a soma das forças que agem em toda área da seção transversal,
equivalente à força resultante interna P na seção. Assumindo que A→ dA e, portanto, P→
dP, então, para  constante a intensidade da resultante das forças internas distribuídas pode ser
representada por meio da Equação (2) (HIBBELER, 2010; BEER et al., 2011).

𝑃 = ∫ 𝑑𝑃 = ∫ 𝜎 𝑑𝐴 (2)
𝐴
23

Neste caso, a Equação (2) admite que as forças internas são distribuídas
uniformemente e de maneira constante, desconsiderando as adjacências dos pontos de aplicação
das cargas, além de considerar que as cargas passam pelo centroide da seção transversal do
material. Portanto, como cada área estará submetida a uma força ∆𝑃 e o somatório de todas as
forças que agem na seção transversal do material será igual à força resultante interna P axial,
pode-se considerar por meio da resolução da Equação (2), o seguinte valor da tensão normal
média, apresentada na Equação (3) (BEER et al., 2011).

𝑃
𝜎= (3)
𝐴

em que:
𝜎 = tensão normal na seção transversal (Pa);
𝑃 = carga axial (N);
𝐴 = área do material (m2).

Para compreender melhor o significado da tensão normal descrita na Equação (3),


serão feitas algumas considerações a partir do esquema apresentado na Figura 1. Nesta figura,
um material delgado está sendo submetido ao esforço de tração. A razão entre a força (P), que
representa a intensidade das forças distribuídas pela unidade de área (A) da seção transversal,
será a tensão normal média () naquela seção.

Figura 1 – Representação da tensão normal média: (a) material delgado submetido ao esforço de
tração; (b) determinação da tensão normal média na seção transversal.

Fonte: Adaptado de BEER et al. (2011).


24

Conforme apresentado anteriormente, para o estudo da tensão são utilizadas as


unidades métricas do Sistema Internacional (SI), com P em Newton (N) e A em metros
quadrados (m2), resultando na tensão () em Pascal (N/m2). Entretanto, em alguns casos é mais
adequado o uso dos múltiplos dessa unidade, tais como kiloPascal (kPa), MegaPascal (MPa) e
GigaPascal (GPa). BEER et al. (2011) sumariza essas unidades da seguinte forma:

1 kPa = 103 Pa = 103 N/m2


1 MPa = 106 Pa = 106 N/m2
1 GPa = 109 Pa = 109 N/m2

2.2.2 Princípio básico do ensaio de tração

A resistência mecânica de um material é avaliada em função da capacidade que ele


possui em suportar uma carga, sem que haja deformações excessivas ou ruptura. Para
caracterizar as propriedades mecânicas dos materiais geralmente são realizados alguns ensaios
mecânicos. Por meio dos ensaios, algumas propriedades tais como, resistências à tração,
compressão, cisalhamento, torção e flexão, podem ser determinadas (GARCIA, SPIM e
SANTOS, 2014).
Entre os ensaios mecânicos, o ensaio de tração se destaca por ser um dos ensaios
mais utilizados para avaliar e caracterizar as propriedades mecânicas dos materiais, sobretudo,
dos materiais metálicos (GARCIA, SPIM e SANTOS, 2014). Segundo Souza (2014), o ensaio
de tração consiste na aplicação gradativa de uma carga de tração uniaxial nas extremidades de
um corpo de prova com dimensões definidas. No momento em que o material é tracionado, o
esforço axial provoca uma deformação na direção longitudinal do corpo de prova.
A Figura 2 representa um ensaio de tração sendo realizado em um corpo de prova.
A deformação do corpo de prova é feita de maneira lenta e constante, até que ocorra sua ruptura.
Os dados referentes aos valores de tensão e deformação são obtidos com o auxílio de uma célula
de carga e um extensômetro, os quais são acoplados ao corpo de prova. Dessa forma, algumas
propriedades mecânicas, como por exemplo, o módulo de elasticidade, a tensão de escoamento,
o limite de resistência à tração e a tensão de ruptura, podem ser determinadas (CALLISTER JR
e RETHWISCH, 2012; ASKELAND e WRIGHT, 2019).
25

Figura 2 – Ensaio de tração: (a) posicionamento do corpo de prova para o ensaio;


(b) deformação do corpo de prova tracionado.

Fonte: Adaptado de GERE e GOODNO (2017).

Antes de atingir o ponto de ruptura, a deformação contínua do corpo de prova


ocasiona variações nas dimensões lateral (diâmetro ou largura) e longitudinal (comprimento).
Essas deformações podem ser caracterizadas em três tipos, quais sejam: (i) deformação elástica,
onde as tensões aplicadas no material são proporcionais às deformações, sendo possível que o
corpo de prova retorne ao seu tamanho original quando removida a força que ocasiona a
deformação; (ii) deformação plástica, onde o corpo de prova é deformado plasticamente, ou
seja, quando removida a carga o corpo de prova não retorna às dimensões originais; (iii)
deformação por ruptura, onde o corpo de prova sofre uma redução acentuada da seção
transversal, e, em seguida, ocorre a ruptura (SOUZA, 2014; GERE e GOODNO, 2017). É
importante ressaltar que essa análise é feita com a carga aplicada perpendicular à área da seção
transversal, uma vez que a carga aplicada paralela à área da seção transversal consiste no ensaio
de cisalhamento.

2.2.3 Lei de Hooke

A Lei de Hooke, assim denominada em homenagem ao matemático inglês Robert


Hooke (1635-1703), mostra que alguns materiais possuem comportamento elástico, quando os
valores de tensão são diretamente proporcionais aos valores de deformação (PINHEIRO e
CRIVELARO, 2019). Em seu estudo, Robert Hooke estabeleceu que a estrutura das ligações
26

atômicas dos materiais não sofre deformações totais quando estão no regime elástico. Dessa
forma, na medida em que a força aplicada no corpo de prova aumenta, a deformação aumentará
na mesma proporção, conforme mencionado anteriormente no item 2.2.1. A Lei de Hooke pode
ser representada pela Equação (4), considerando uma força aplicada em uma determinada
direção 𝑥 (BEER et al., 2011).

𝜎𝑥 = 𝐸𝜖𝑥 (4)

em que:
x = tensão na direção x (Pa);
E = constante de proporcionalidade, também conhecida como módulo de Young ou módulo de
elasticidade (Pa);
𝜖𝑥 = deformação específica normal na direção x (mm/mm).

A deformação específica normal representa a deformação ocorrida por unidade de


comprimento do corpo de prova, podendo ser definida para uma seção transversal de área A,
por meio da Equação (5) (BEER e JOHNSTON JR., 1995; CALLISTER JR e RETHWISCH,
2012).

𝐿 − 𝐿0 𝛿
𝜖=| |= (5)
𝐿0 𝐿0

em que:
L = comprimento final do material depois do ensaio (mm);
Lo = comprimento inicial do material antes do ensaio (mm);
 = variação no comprimento do corpo de prova (mm).

Se a área (A) for variável, também haverá variação na tensão normal do corpo de
prova, e, neste caso, será necessário utilizar a definição da deformação específica em um
determinado ponto, considerando um pequeno elemento de comprimento não deformado x.
Diante disso, esta deformação deverá ser analisada com um limite de área tendendo a zero,
conforme representa a Equação (6) (BEER e JOHNSTON JR., 1995).
27

∆𝛿 𝑑𝛿
𝜖 = lim = (6)
∆𝑥→0 ∆𝑥 𝑑𝑥

Por meio da definição da Equação (6), pode-se aplicar a Lei de Hooke no estudo de
regiões de deformação relativamente pequenas, sendo essa relação descrita de maneira linear.
O maior valor de tensão encontrado nessa função linear é denominado de limite de
proporcionalidade do material. Já a inclinação da reta representa o módulo de elasticidade do
material (BEER e JOHNSTON JR., 1995; HIBBELER, 2010). Essas propriedades serão
descritas com maiores detalhes no estudo do comportamento tensão-deformação a seguir.

2.2.4 Comportamento tensão-deformação

Algumas propriedades mecânicas dos materiais podem ser determinadas analisando


o comportamento da curva de tensão em função da deformação específica, também chamada
de diagrama tensão-deformação.
O diagrama de tensão-deformação permite a caracterização de um material,
independente das dimensões do corpo de prova utilizado. Entre as propriedades mecânicas que
podem ser observadas no diagrama destacam-se: módulo de elasticidade, tensão limite de
proporcionalidade, tensão de escoamento, limite de resistência à tração e limite de ruptura.
Além disso, também é possível analisar a ductilidade e os comportamentos elástico e plástico
do material.
Um exemplo de diagrama tensão-deformação na tração, obtido em um aço com
baixo teor de carbono, como por exemplo, em um aço 1020, pode ser observado na Figura 3.
Nesta figura se observa diferentes fenômenos que ocorrem durante o ensaio de tração.

Figura 3 – Comportamento tensão-deformação do aço com baixo teor de carbono.

Fonte: Adaptado de BEER et al. (2011).


28

No trecho reto, início do diagrama tensão-deformação, os valores de tensão () em


MPa são proporcionais aos valores de deformação (𝜖). Nesse caso, os valores de deformação
podem ser apresentados em mm/mm ou de forma adimensional. O trecho reto representa a fase
elástica do material e obedece a Lei de Hooke. O valor da tensão no último ponto do trecho reto
corresponde ao limite de proporcionalidade, que pode ser denominado de (LP). Depois disso,
o material atinge uma tensão de escoamento (E), que é caracterizada como uma transição da
deformação elástica para a deformação plástica do material, ou seja, a deformação deixa de ser
diretamente proporcional à tensão aplicada. Na região de escoamento, o material continua
deformando com pouca variação nos valores de tensão.
Caso o ensaio de tração não seja interrompido haverá um aumento na tensão, devido
ao ganho de resistência pelo aumento da dureza do material, até um limite máximo conhecido
como Limite de Resistência à Tração (LRT). O aumento da resistência à tração pelo aumento
da dureza é chamado de encruamento e está associado às mudanças na microestrutura do corpo
de prova tracionado. Com o aumento da tensão até o seu valor máximo, o material continua se
deformando e o valor de tensão decresce iniciando a fase de estricção, seguido da tensão de
ruptura (R) (BEER et al., 2011; ASKELAND e WRIGHT, 2019).
Cada tipo de material terá um comportamento específico no diagrama tensão-
deformação e, portanto, os materiais frágeis e dúcteis terão suas curvas de tensão-deformação
com características diferentes. No caso dos materiais frágeis, a curva tensão-deformação é
muito menor do que àquela observada para os materiais dúcteis, já que esses materiais não
apresentam a região plástica.
A região elástica de alguns materiais frágeis não apresenta um trecho reto bem
definido. Esse fato dificulta uma estimativa mais precisa de algumas propriedades, como por
exemplo, do módulo de elasticidade. Geralmente, para a caracterização de materiais frágeis,
faz-se necessária a utilização de outros ensaios mecânicos, além do ensaio de tração.

2.2.5 Índice de anisotropia

As propriedades mecânicas de um material podem variar bastante em função da


direção em que se investiga o corpo de prova. Esta característica é denominada anisotropia
(GARGIA, SPIM e SANTOS, 2014; SOUZA, 2014). A anisotropia pode ocorrer devido ao tipo
de processo utilizado para a obtenção do material, como por exemplo, na fabricação de folhas
e chapas laminadas. Portanto, um corpo de prova removido na direção longitudinal da chapa
29

pode apresentar propriedades diferentes em relação a um corpo de prova removido na direção


transversal à chapa.
Por definição, o índice de anisotropia, chamado por alguns autores como coeficiente
de Lankford ou valor-𝑟, pode ser calculado para caracterizar a formabilidade do material, ou
seja, a propriedade do material resistir à deformação plástica sem sofrer ruptura. O índice de
anisotropia (𝑟) pode ser calculado pela Equação (7), sendo avaliado o comportamento entre a
deformação real da largura do corpo de prova e a deformação real na espessura do corpo de
prova durante o ensaio de tração. Para materiais considerados isotrópicos, o valor de 𝑟 tende a
ser igual a 1 (RAMOS et al., 2010; GARGIA, SPIM e SANTOS, 2014; SOUZA, 2014).

𝜀𝑟𝑏
𝑟= (7)
𝜀𝑟𝑡

em que:
𝑟 = índice de anisotropia;
𝜀𝑟𝑏 = deformação real na largura;
𝜀𝑟𝑡 = deformação real na espessura.

As deformações reais são obtidas medindo diversos pontos da parte útil do corpo
de prova (parte mais central), antes e depois do ensaio de tração. Alguns autores relatam que
os procedimentos de medidas da deformação acarretam um considerado erro relativo, em
especial na medida da espessura (GARGIA, SPIM e SANTOS, 2014; SOUZA, 2014).
Entretanto, o erro relativo pode ser minimizado analisando a constância de volume durante a
deformação plástica. A Equação (8) apresenta o cálculo da anisotropia plástica (𝑟𝑝) em função
das deformações que ocorrem ao longo do comprimento e da largura do corpo de prova
(GARGIA, SPIM e SANTOS, 2014; SOUZA, 2014).

𝑏
𝑙𝑛 ( 0 )
𝑏𝑓
𝑟𝑝 = (8)
𝑏𝑓 . 𝐿𝑓
𝑙𝑛 ( )
𝑏0 . 𝐿0

em que:
𝑟𝑝 = índice de anisotropia plástica;
𝑏0 = largura inicial do corpo de prova (mm);
30

𝑏𝑓 = largura final do corpo de prova (mm);


𝐿0 = comprimento inicial do corpo de prova (mm);
𝐿𝑓 = comprimento final do corpo de prova (mm).

Como o valor da anisotropia pode variar em função de diferentes direções de um


mesmo plano, é necessário determinar a média dos valores da anisotropia plástica do material.
Isso pode ser feito com o auxílio de corpos de provas extraídos de três diferentes direções, quais
sejam: 0°, 45° e 90°. Neste caso, o valor calculado pela Equação (9) denomina-se de anisotropia
normal (𝑟̅ ), em que a direção de 0º é a direção de laminação do material (GARCIA, SPIM e
SANTOS, 2014).

𝑟0° + 2𝑟45° + 𝑟90°


𝑟̅ = (9)
4

em que:
𝑟0° , 𝑟45° e 𝑟90° , correspondem ao índice de anisotropia de corpos de prova extraídos nas direções
0°, 45° e 90°, respectivamente.

Por fim, o índice de anisotropia planar, cujo cálculo pode ser obtido pela Equação
(10), indica a diferença do comportamento mecânico que o material pode apresentar do plano
de uma chapa (GARCIA, SPIM e SANTOS, 2014).

𝑟0° + 𝑟90°
∆𝑟 = − 𝑟45° (10)
2

em que:
∆𝑟 = índice de anisotropia planar.

2.2.6 Módulo de resiliência

O módulo de resiliência representa a energia de deformação por unidade de volume


necessária para tensionar um material, desde um estado com ausência de carga até a tensão
limite de proporcionalidade (SOUZA, 2014).
31

Considerando que nenhuma energia foi perdida em forma de calor, a energia de


deformação, também denominada como densidade de energia de deformação, pode ser
calculada por meio da Equação (11) (HIBBELER, 2010).

∆𝑈
𝑢= . 𝜎. 𝜖 (11)
∆𝑉

em que:
𝑢 = densidade de energia de deformação (J/m3);
∆𝑈 = energia de deformação (J);
∆𝑉 = volume do elemento (m3).

Para materiais que possuem comportamento linear elástico, ou seja, que obedecem
a Lei de Hooke, a densidade de energia de deformação é mais conhecida como módulo de
resiliência e pode ser reescrita em função da tensão limite de proporcionalidade e do módulo
de elasticidade, como mostra a Equação (12) (HIBBELER, 2010).

2
1 𝜎𝐿𝑃
𝑢𝑟 = (12)
2 𝐸
em que:
𝑢𝑟 = módulo de resiliência (N.mm/mm3);
𝜎𝐿𝑃 = tensão limite de proporcionalidade (N/mm2);
E = módulo de elasticidade (N/mm2).

Como mostrado anteriormente, a medida de resiliência está relacionada com a


energia necessária para tensionar um material até o seu limite de proporcionalidade, estando
associada à área abaixo do trecho reto na curva de tensão-deformação. Entretanto, para
materiais que apresentam uma região de escoamento bem definida, a Equação (12) pode ser
reescrita em função da tensão limite de escoamento, conforme a Equação (13) (HIBBELER,
2010; SOUZA, 2014).

1 𝜎𝐸2
𝑢𝑟 = (13)
2𝐸
32

em que:
E = tensão limite de escoamento (N/mm2);
E = módulo de elasticidade (N/mm2).

O cálculo do módulo de resiliência tem grande importância para o estudo da


mecânica dos materiais, uma vez que essa propriedade está associada à capacidade do material
recuperar suas dimensões originais, após ser submetido a uma deformação elástica (BEER et
al., 2011). O módulo de resiliência de um material também pode investigado em função de
valores de tensão em MPa.

2.2.7 Módulo de tenacidade

O módulo de tenacidade é uma propriedade que se relaciona com a densidade de


energia de deformação por unidade de volume, a qual é absorvida pelo material antes de sua
ruptura. No ensaio de tração, essa propriedade representa toda área abaixo do diagrama tensão-
deformação, podendo ser utilizada para avaliar a ductilidade, o limite de resistência à tração e
a tenacidade de um material, que corresponde à capacidade de um material se deformar
plasticamente sem que haja fratura (HIBBELER, 2010; BEER et al., 2011).
A Figura 4 representam os diagramas tensão-deformação para três ligas aços com
diferentes percentuais de carbono. Na figura é possível perceber que o aumento do teor de
carbono de 0,1% para 0,6% favorece um aumento no limite de resistência à tração, mas diminui
a ductilidade do aço. Portanto, o acréscimo do teor de carbono torna o aço mais resistente,
porém, eleva sua dureza, diminuindo sua capacidade de deformação de ruptura e,
consequentemente, sua tenacidade.

Figura 4 – Diagrama tensão-deformação para diferentes ligas de aço.

Fonte: Adaptado de HIBBELER (2010).


33

As Equações (14) e (15) mostram as expressões convencionais para o cálculo


estimado do módulo de tenacidade para materiais dúcteis e frágeis, respectivamente (GARCIA,
SPIM e SANTOS, 2014). Observando as equações é possível perceber com maior clareza a
influência da deformação de ruptura (𝜖𝑅 ) no maior valor do módulo de tenacidade para os aços
dúcteis, como aqueles com baixo teor de carbono apresentados anteriormente na Figura 4.

𝜎𝐸 + 𝐿𝑅𝑇
𝑢𝑡 = . 𝜖𝑅 (14)
2

2
𝑢𝑡 = . 𝐿𝑅𝑇. 𝜖𝑅 (15)
3

em que:
𝑢𝑡 = módulo de tenacidade (MPa);
𝐿𝑅𝑇 = limite de resistência à tração (MPa);
𝜎𝐸 = tensão de escoamento (MPa);
𝜖𝑅 = deformação de ruptura (mm/mm).

Conforme apresentado na Figura 4 para algumas ligas de aços, materiais que


apresentam maiores valores para o módulo de resiliência têm a tendência de apresentar baixos
valores de módulo de tenacidade. Logo, este tipo de análise tem grande importância para a
caracterização das propriedades mecânicas dos materiais. Assim como no módulo de
resiliência, o módulo de tenacidade de um material pode ser descrito em J/m3, por seus
múltiplos em unidades do Sistema Internacional (SI), ou ainda, em MPa (BEER et al., 2011;
GARCIA, SPIM e SANTOS, 2014).

2.2.8 Coeficiente de Poisson

Como visto anteriormente no ensaio de tração, quando um corpo de prova sofre


deformação por alongamento longitudinal, ocorre uma redução na seção transversal. Esse
comportamento pode ser mais bem compreendido observando a Figura 5. A Figura 5(a) ilustra
um corpo de prova sendo tracionado por uma carga P, a qual está sendo aplicada ao longo do
eixo x, que é perpendicular aos eixos y e z. Neste caso, as tensões nas faces perpendiculares aos
eixos y e z são iguais à zero, conforme ilustra a Figura 5(b).
34

Figura 5 – Esquema de tensões em um corpo de prova prismático: (a) aplicação da carga ao


longo do eixo x e (b) tensões normais desenvolvidas nos eixos 𝑥, 𝑦 e 𝑧.

Fonte: Adaptado de BEER et al. (2011).

Para materiais com características isotrópicas, ou seja, suas propriedades mecânicas


são consideradas as mesmas em qualquer direção e sentido adotados no ensaio, a deformação
específica lateral terá o mesmo valor, independente da direção transversal, sendo 𝜖𝑦 = 𝜖𝑧 . As
deformações sofridas pelo material na fase elástica podem ser então relacionadas por meio do
coeficiente de Poisson, que estabelece uma razão constante entre essas deformações. Assim, o
coeficiente de Poisson pode ser investigado por meio da Equação (16) (CALLISTER JR e
RETHWISCH, 2012).

𝜖𝑙𝑎𝑡 𝜖𝑦 𝜖𝑧
𝑣=− =− =− (16)
𝜖𝑙𝑜𝑛𝑔 𝜖𝑥 𝜖𝑥

em que:
𝑣 = coeficiente de Poisson;
𝜖𝑙𝑎𝑡 = deformação específica lateral ou transversal;
𝜖𝑙𝑜𝑛𝑔 =deformação específica longitudinal.

O coeficiente de Poisson é a propriedade que estabelece uma relação entre as


deformações transversal e longitudinal. O sinal negativo é utilizado na Equação (16) quando o
corpo de prova está sendo tracionado. No ensaio de compressão axial adota-se um sinal
positivo. Esse procedimento faz com que os valores obtidos para o coeficiente de Poisson sejam
sempre positivos, uma vez que as deformações específicas do material terão sempre sinais
opostos (CALLISTER JR e RETHWISCH, 2012).
A Lei de Hooke pode ser relacionada com o coeficiente de Poisson, uma vez que a
Equação (4) relaciona o módulo de elasticidade com a tensão e a deformação específica normal
35

na direção do eixo 𝑥 (KANG e ZHONG-CI, 1996). Logo, substituindo a Equação (4) na


Equação (16) encontra-se a seguinte expressão:

𝑣𝜎𝑥
𝜖𝑦 = 𝜖𝑧 = − (17)
𝐸

em que:
𝑣 = coeficiente de Poisson;
𝜖𝑦 = deformação específica no eixo y;
𝜖𝑥 = deformação específica no eixo x;
x = tensão normal no eixo de x;
E = módulo de elasticidade.

2.3 LEI DE HOOKE GENERALIZADA

Considerando materiais homogêneos, isotrópicos e com comportamento elástico


linear, é possível obter algumas relações, por meio da Lei de Hooke generalizada, as quais
podem ser observadas antes que o material ultrapasse o limite de proporcionalidade. Beer et al.
(2011) relatam que o estado geral de tensão, que é ocasionado pelas tensões desenvolvidas em
todas as direções, permite uma análise triaxial ou multiaxial da deformação quando o material
é submetido a um carregamento.
Para demonstrar uma análise triaxial da deformação em um determinado material,
será utilizado o esquema proposto na Figura 6. A Figura 6(a) representa um material isotrópico
na forma cúbica, cujas arestas possuem comprimento igual a 1. No momento em que o material
é submetido a um carregamento multiaxial, ele sofrerá deformações específicas normais 𝜖𝑥 , 𝜖𝑦
e 𝜖𝑧 , ao longo dos eixos x, y e z, respectivamente. Desta forma, as arestas do material,
transformado em um paralelepípedo retangular, terão seus lados respectivamente iguais à
1 + 𝜖𝑥 , 1 + 𝜖𝑦 e 1 + 𝜖𝑧 , como pode ser observado na Figura 6(b) (BEER et al., 2011).
Considerando um estado triaxial de tensões e a deformação do material carregado
axialmente, pode-se utilizar o princípio da sobreposição dos efeitos unidimensionais para
formulação das deformações no carregamento multiaxial. Para isso, as deformações precisam
ser teoricamente independentes (não influenciando umas nas outras) e a tensão desenvolvida
em qualquer face não pode provocar deformação nas outras faces do material.
36

Figura 6 – Esquema de uma análise triaxial da deformação: (a) material isotrópico na forma de cubo
com arestas unitárias e (b) deformação específica normal nas direções dos eixos 𝑥, 𝑦 e 𝑧.

Fonte: Adaptado de BEER et al. (2011).

Essas considerações permitem a combinação das equações de Poisson e Hooke,


para expressar as componentes das deformações específicas ao estado múltiplo de carregamento
ou Lei de Hooke generalizada, calculada por meio das Equações (18), (19) e (20), conforme a
direção de deformação analisada (BEER et al., 2011).

𝜎𝑥 𝑣𝜎𝑦 𝑣𝜎𝑧
𝜖𝑥 = − − (18)
𝐸 𝐸 𝐸

𝜎𝑦 𝑣𝜎𝑥 𝑣𝜎𝑧
𝜖𝑦 = − − (19)
𝐸 𝐸 𝐸

𝜎𝑧 𝑣𝜎𝑥 𝑣𝜎𝑦
𝜖𝑧 = − − (20)
𝐸 𝐸 𝐸

2.4 MÓDULO DE COMPRESSIBILIDADE (K)

Um material elástico, quando submetido à tensão normal, terá o seu volume


alterado por meio das tensões 𝜎𝑥 , 𝜎𝑦 e 𝜎𝑧 . Considerando que o material na forma de cubo
unitário em estudo foi transformado em um paralelepípedo retangular, o seu volume (𝑉) será
calculado por meio da Equação (21) (BEER e JOHNSTON JR., 1995).

𝑉 = (1 + 𝜖𝑥 ). (1 + 𝜖𝑦 ). (1 + 𝜖𝑧 ) (21)

As deformações específicas normais sofridas pelo material são consideradas


relativamente pequenas, possibilitando que seja desprezado o produto entre elas e obtendo o
resultado apresentado na Equação (22) (BEER e JOHNSTON JR., 1995).
37

𝑉 = 1 + 𝜖𝑥 +𝜖𝑦 +𝜖𝑧 (22)

A variação de volume (∆𝑉 ou 𝑒) que irá ocorrer no material poderá ser determinada
pela diferença entre os comprimentos inicial e final. Portanto, a mudança de volume, em um
material com volume inicial unitário, pode ser analisada por meio da Equação (23), que
representa a dilatação volumétrica específica do material (HIBBELER, 2010; BEER et al.,
2011).

∆𝑉 = 𝑒 = 𝑉𝑓 − 𝑉𝑖 𝑜𝑢 1 + 𝜖𝑥 +𝜖𝑦 +𝜖𝑧 − 1 𝑜𝑢 𝜖𝑥 +𝜖𝑦 +𝜖𝑧 (23)

em que:
𝑒 = dilatação volumétrica específica do material;
𝑉𝑓 = volume final do material;
𝑉𝑖 = volume inicial do material.

A dilatação volumétrica específica do material, representada na Equação (23) pelas


deformações específicas, pode ser relacionada com a Lei de Hooke generalizada (Equações 18,
19 e 20). Assim, a variável 𝑒 pode ser expressa em função da tensão aplicada, como mostra a
Equação (24) (HIBBELER, 2010; BEER et al., 2011).

𝜎𝑥 𝑣𝜎𝑦 𝑣𝜎𝑧 𝜎𝑦 𝑣𝜎𝑥 𝑣𝜎𝑧 𝜎𝑧 𝑣𝜎𝑥 𝑣𝜎𝑦 (


𝑒=( − − )+( − − )+( − − )
𝐸 𝐸 𝐸 𝐸 𝐸 𝐸 𝐸 𝐸 𝐸
(24)
1 − 2𝑣
= (𝜎𝑥 + 𝜎𝑦 + 𝜎𝑧 )
𝐸

Considerando que o material esteja sujeito a uma pressão hidrostática uniforme,


denominada 𝑝, ele sofrerá uma pressão igual em todas as direções. Admitindo que o elemento
esteja imerso em um líquido, este terá tensões de cisalhamento (tensões paralelas às faces)
iguais à zero em quaisquer direções, uma vez que a tensão de cisalhamento em um líquido é
considerada nula. Logo, todas as tensões normais x, y e z serão iguais em qualquer direção,
conforme ilustra a Figura 7 (HIBBELER, 2010; BEER et al., 2011).
38

Figura 7 – Tensões normais correspondentes à pressão hidrostática de valor p.

Fonte: Adaptado de BEER e JOHNSTON JR. (1995).

Como o material sofrerá compressões 𝑝 em todas as direções, as componentes de


tensões serão iguais a −3𝑝, considerando um estado triaxial. Desta forma, a dilatação
volumétrica específica do material poderá ser expressa pela Equação (25) (HIBBELER, 2010;
BEER et al., 2011).

1 − 2𝑣 −3(1 − 2𝑣)
𝑒= (−3𝑝) = 𝑝 (25)
𝐸 𝐸

Analisando e Equação (25) é possível estabelecer uma relação, onde a deformação


volumétrica depende unicamente de duas propriedades elásticas do material, sendo elas o
coeficiente de Poisson (v) e o módulo de elasticidade (E), como mostra a Equação (26)
(HIBBELER, 2010).

𝑝 𝐸
=− (26)
𝑒 3(1 − 2𝑣)

Tal analogia permite estabelecer o módulo de compressibilidade volumétrica do


material, também conhecido como “bulk modulus”, que pode ser representado pelas letras K
ou B. Essa propriedade, representada pela Equação (27), consiste na rigidez do volume de um
material (HIBBELER, 2010; BEER et al., 2011).
39

𝐸
𝐾= (27)
3(1 − 2𝑣)
em que:
𝐾 = módulo de compressibilidade volumétrica do material (Pa).

É importante ressaltar que o valor de 𝐾 será sempre positivo, uma vez que o material
estará diminuindo seu volume e terá sua dilatação volumétrica considerada como sendo
negativa (retração) (KANG E ZHONG-CI,1996).

2.5 DEFORMAÇÃO AO CISALHAMENTO

As análises das tensões normais, apresentadas previamente, não levaram em


consideração as tensões de cisalhamento envolvidas. A tensão de cisalhamento representa a
força (V) que age tangente a uma área, aqui denotada como ∆𝐴. Desta forma, a tensão de
cisalhamento média distribuída sobre a área pode ser calculada por meio da Equação (28)
(HIBBELER, 2010).

V
𝜏𝑚é𝑑 = (28)
𝐴

em que:
𝜏𝑚é𝑑 = tensão de cisalhamento média na área da seção (Pa);
V = força de cisalhamento interna resultante na seção (N);
𝐴 = área específica do material (m2).

Observando o estado geral de tensões em um determinado ponto Q, no estado


triaxial estarão presentes as tensões de cisalhamento 𝜏𝑥𝑦 , 𝜏𝑦𝑧 e 𝜏𝑧𝑦 . Essas tensões, as quais estão
representadas no elemento infinitesimal na Figura 8, são correspondentes as tensões 𝜏𝑦𝑥 , 𝜏𝑧𝑦 e
𝜏𝑥𝑧 . As tensões de cisalhamento tendem a deformar o material, de forma que ele passe a ter a
forma de um paralelepípedo oblíquo. Isso faz com que ocorra um aumento ou diminuição do
ângulo reto de sua estrutura interna (BEER e JOHNSTON JR, 1995).
40

Figura 8 – Estado geral das tensões normais e cisalhantes.

Fonte: Adaptado de BEER et al. (2011).

Considerando um material na forma cúbica, submetido às tensões de cisalhamento


𝜏𝑦𝑥 e 𝜏𝑥𝑦 , ele sofrerá uma distorção 𝛾𝑥𝑦 no ângulo reto do cubo, em radianos, sendo conhecida
como deformação de cisalhamento (BEER et al., 2011). A Figura 9 ilustra a deformação de
cisalhamento em um elemento infinitesimal, que pode assumir valor positivo ou negativo.

Figura 9 – Representação da deformação de cisalhamento.

Fonte: Adaptado de BEER et al. (2011).

Assim como no caso das tensões e deformações normais, o diagrama tensão-


deformação no cisalhamento também possui uma região elástica linear. Isso possibilita o
cálculo da tensão de cisalhamento para os valores que não excedam o limite de
proporcionalidade. Logo, aplicando a Lei de Hooke, têm-se as Equações (29), (30) e (31) para
deformações de cisalhamento 𝛾𝑦𝑧 , 𝛾𝑧𝑥 e 𝛾𝑥𝑦 , respectivamente (BEER e JOHNSTON JR., 1995).
41

𝜏𝑦𝑧 = 𝐺𝛾𝑦𝑧 (29)

𝜏𝑧𝑥 = 𝐺𝛾𝑧𝑥 (30)

𝜏𝑥𝑦 = 𝐺𝛾𝑥𝑦 (31)

em que:
𝐺 = módulo de elasticidade transversal do material (Pa).

Portanto, os valores das deformações de cisalhamento para materiais isotrópicos no


estado geral das tensões podem ser obtidos por meio das Equações (32), (33) e (34).

𝜏𝑥𝑦
𝛾𝑥𝑦 = (32)
𝐺

𝜏𝑦𝑧
𝛾𝑦𝑧 = (33)
𝐺

𝜏𝑧𝑥
𝛾𝑧𝑥 = (34)
𝐺

Segundo Callister Jr e Rethwisch (2012), o módulo de cisalhamento (G) pode ser


obtido por meio da Equação (35), que relaciona essa propriedade elástica com o módulo de
elasticidade (E) e com o coeficiente de Poisson.

𝐸
𝐺= (35)
2(1 + 𝑣)

2.6 CONSTANTES ELÁSTICAS DE LAMÉ

Kang e Zhong-Ci (1996) relatam que outras duas propriedades fundamentais da


teoria da elasticidade, também podem ser descritas em função do módulo de elasticidade (E) e
do coeficiente de Poisson (v) para materiais isotrópicos. Essas propriedades são as constantes
de Lamé (𝜆 e 𝜇). A constante 𝜆, também denominada de primeiro parâmetro de Lamé,
representa a relação entre o módulo de compressibilidade (K) e cisalhamento (G), assumindo
42

valores sempre positivos. Já a constante 𝜇, corresponde na prática, ao módulo de cisalhamento.


As Equações (36) e (37) expressam as constantes elásticas 𝜆 e 𝜇 em função dos módulos K, 𝐺,
𝐸 e 𝑣.

2 𝑣𝐸
𝜆=𝐾− 𝐺= (36)
3 (1 + 𝑣)(1 − 2𝑣)

𝐸
𝜇=𝐺= (37)
2(1 + 𝑣)

As constantes de Lamé são utilizadas para simplificar a Lei de Hooke na análise do


comportamento elástico de um material. Dessa forma, as tensões elásticas nas direções x, y e z,
que consideram simultaneamente a dilatação volumétrica específica e o cisalhamento, estão
representadas pelas Equações (38), (39) e (40), respectivamente (THIMOSHENKO e
GOODIER, 1970; BEER e JOHNSTON JR., 1995; KANG e ZHONG-CI, 1996).

𝜎𝑥 = 𝜆 . 𝑒 + 2. 𝐺. 𝜖𝑥 (38)

𝜎𝑦 = 𝜆 . 𝑒 + 2. 𝐺. 𝜖𝑦 (39)

𝜎𝑧 = 𝜆 . 𝑒 + 2. 𝐺. 𝜖𝑧 (40)

As constantes elásticas também podem ser investigadas por meio da matriz de


rigidez dos materiais. Desta forma, será apresentada a seguir uma breve revisão sobre a
descrição da matriz de rigidez e sua relação com o comportamento elástico dos materiais
anisotrópicos e isotrópicos.

2.7 MATRIZ DE RIGIDEZ PARA MATERIAIS ANISOTRÓPICOS

As tensões que atuam em um determinado material podem ser representadas de


forma vetorial, sendo expressas por meio de um tensor. Nesse caso, são utilizados índices que
descrevem o estado de tensão em um determinado ponto do material e ao longo dos eixos do
plano cartesiano tridimensional (HIBBELER, 2010).
43

A Figura 10 demonstra as orientações das tensões de segunda ordem (σij ) em um


elemento cúbico de volume infinitesimal, quando analisadas em um plano tridimensional de
um determinado material. Nesta figura está ilustrada a presença das componentes vetoriais das
tensões normais nas faces do material (σ11 , σ22 e σ33 ), bem como as tensões de cisalhamento
(σ12 , σ13, σ21 , σ23 , σ31 e σ32 ) (BOERI, 2006; BATISTA, 2009).

Figura 10 – Estado triplo de tensão em um ponto material.

Fonte: BATISTA (2009).

Desta forma, o estado triplo de tensão de um ponto qualquer do material pode ser
descrito por nove tensores de tensão σ𝑖𝑗 (em que i, j = 1, 2, 3), podendo ainda ser representado
em forma matricial, conforme apresentado na Equação (41) (BOERI, 2006; HIBBELER, 2010).

𝜎11 𝜎12 𝜎13


𝜎𝑖,𝑗 = [𝜎21 𝜎22 𝜎23 ] (41)
𝜎31 𝜎32 𝜎33

Considerando que o sistema esteja em equilíbrio, a soma de todos os momentos


(efeitos de rotação) em torno do ponto em análise será igual à zero. Eliminando os momentos
causados pelas forças desconhecidas é possível determinar a relação entre os estados de tensões,
conforme pode ser observado na Equação (42) (BOERI, 2006).

𝜎21 = 𝜎12 ; 𝜎31 = 𝜎13 ; 𝜎32 = 𝜎23 (42)

A Lei de Hooke generalizada pode ser representada na forma matricial para


materiais anisotrópicos, ou seja, para àqueles que apresentam propriedades diferentes em
função da direção de análise. Com isso, existirá uma componente de deformação (𝜖𝑖,𝑗 ) para
44

cada tensor de tensão (𝜎𝑖,𝑗 ), relacionando assim as nove componentes de tensão com nove
componentes de deformação (BATISTA, 2009; HIBBELER, 2010).
A propriedade elástica do material está relacionada com o fato deste material não
armazenar deformações residuais quando cessada a ação geradora de tensões e deformações,
possibilitando que ele volte a sua formação original. Para essa característica, podem ser
observados comportamentos lineares e não lineares. Os materiais linearmente elásticos são
aqueles que apresentam características puramente lineares no diagrama de tensão-deformação
e, ao contrário, os materiais não linearmente elásticos podem apresentar curvaturas no diagrama
tensão-deformação (BOERI, 2006).
Os materiais elásticos e lineares, quando desconsiderados os efeitos das condições
ambientais como temperatura e pressão, podem ser relacionados com as constantes de rigidez
do material e com as deformações, conforme mostra a Equação (43) (BATISTA, 2009).

𝐶1111 𝐶1122 𝐶1133 𝐶1123 𝐶1131 𝐶1112 𝐶1132 𝐶1113 𝐶1121


𝜎11 𝜖
𝜎22 𝐶2211 𝐶2222 𝐶2233 𝐶2223 𝐶2231 𝐶2212 𝐶2232 𝐶2213 𝐶2221 𝜖11
22
𝜎33 𝐶3311 𝐶3322 𝐶3333 𝐶3323 𝐶3331 𝐶3312 𝐶3332 𝐶3313 𝐶3321 𝜖33
𝜎23 𝐶2311 𝐶2322 𝐶2333 𝐶2323 𝐶2331 𝐶2312 𝐶2332 𝐶2313 𝐶2321 𝜖23
𝜎31 = 𝐶3111 𝐶3122 𝐶3133 𝐶3123 𝐶3131 𝐶3112 𝐶3132 𝐶3113 𝐶3121 𝜖31 (43)
𝜎12 𝜖
𝐶1211 𝐶1222 𝐶1233 𝐶1223 𝐶1231 𝐶1212 𝐶1232 𝐶1213 𝐶1221 12
𝜎32 𝜖32
𝜎13 𝐶3211 𝐶3222 𝐶3233 𝐶3223 𝐶3231 𝐶3212 𝐶3232 𝐶3213 𝐶3221 𝜖
13
[𝜎21 ] 𝐶1311 𝐶1322 𝐶1333 𝐶1323 𝐶1331 𝐶1312 𝐶1332 𝐶1313 𝐶1321 [𝜖 ]
21
[𝐶2111 𝐶2122 𝐶2133 𝐶2123 𝐶2131 𝐶2112 𝐶2132 𝐶2113 𝐶2121 ]

Na Equação (43) a constante 𝐶𝑖𝑗𝑘𝑙 (i, j, k, l = 1, 2, 3) representa o tensor de rigidez


elástica do material, em que os dois primeiros subscritos (i, j) correspondem aos tensores de
tensão e os dois últimos (k, l) ao tensor de deformação. No caso, percebe-se a existência de
34 = 81 constantes elásticas. Porém, por questão de equilíbrio no sistema, tanto as tensões
quanto deformações podem ser consideradas simétricas, conforme sugere a Equação (44)
(BOERI, 2006; BATISTA, 2009).

𝜎𝑖𝑗 = 𝜎𝑗𝑖 (44)

Desta forma, a constante de rigidez elástica 𝐶𝑖𝑗𝑘𝑙 = 𝐶𝑗𝑖𝑘𝑙 e 𝐶𝑖𝑗𝑘𝑙 = 𝐶𝑖𝑗𝑙𝑘 (i, j, k, l = 1,
2, 3). A relação entre os subscritos permite uma analogia de equivalência, sendo esta: 11→1,
22→2, 33→3, 23=32→4, 13=31→5 e 12=21→6 (BATISTA, 2009). Logo, considerando a
simetria do tensor, a constante de rigidez 𝐶1123 seria semelhante a constante 𝐶2311 e essas
45

poderiam ser reescritas como 𝐶14 e 𝐶41 , respectivamente. A relação deduzida para esses
subscritos favorece uma redução no sistema para seis relações com seis parâmetros cada uma.
Antes da análise realizada acima, a matriz de rigidez possuía 81 constantes elásticas
(Equação 43). Porém, considerando a equivalência apresentada, a matriz que representa o tensor
de rigidez elástica do material, passa a ter agora apenas 36 constantes elásticas, conforme
mostra a Equação (45) (ANDRADE, 2006).

𝐶1111 𝐶1122 𝐶1133 𝐶1123 𝐶1113 𝐶1112 𝐶11 𝐶12 𝐶13 𝐶14 𝐶15 𝐶16
𝐶1122 𝐶2222 𝐶2233 𝐶2223 𝐶2213 𝐶2212 𝐶21 𝐶22 𝐶23 𝐶24 𝐶25 𝐶26
𝐶1133 𝐶2233 𝐶3333 𝐶3323 𝐶3313 𝐶3312 𝐶 𝐶32 𝐶33 𝐶34 𝐶35 𝐶36
= 31 (45)
𝐶1123 𝐶2223 𝐶3323 𝐶2323 𝐶2313 𝐶2312 𝐶41 𝐶42 𝐶43 𝐶44 𝐶45 𝐶46
𝐶1113 𝐶2213 𝐶3313 𝐶2313 𝐶1313 𝐶1312 𝐶51 𝐶52 𝐶53 𝐶54 𝐶55 𝐶56
[𝐶1112 𝐶2212 𝐶3312 𝐶2312 𝐶1312 𝐶1212 ] [𝐶61 𝐶62 𝐶63 𝐶64 𝐶65 𝐶66 ]

Considerando as relações demonstradas para os subscritos de tensão, ridigez


elástica do material e deformação, pode-se reescrever o cálculo do tensor de tensão em função
das análises de equivalências realizadas, conforme apresentado na Equação (46) (BOERI,
2006).

𝜎𝑖 = 𝐶𝑖𝑗 𝜖𝑗 (𝑖, 𝑗 = 1, 2, 3, … ,6) (46)

Ao considerarmos que existe simetria entre a relação dos estados de tensão, torna-
se possível uma nova redução para 21 constantes elásticas, conforme demonstra a Equação (47)
(BOERI, 2006; BATISTA, 2009).

𝜎1
𝐶11 𝐶12 𝐶13 𝐶14 𝐶15 𝐶16 𝜖
1
𝜎2 𝐶22 𝐶23 𝐶24 𝐶25 𝐶26 𝜖2
𝜎3 𝐶33 𝐶34 𝐶35 𝐶36 𝜖3
𝜎4 = (47)
𝐶44 𝐶45 𝐶46 𝜖4
𝜎5 𝑠𝑖𝑚. 𝜖5
𝐶55 𝐶56
[𝜎6 ] [𝜖6 ]
[ 𝐶66 ]

2.8 MATRIZ DE RIGIDEZ PARA MATERIAIS ISOTRÓPICOS

Como já apresentado previamente, o comportamento dos materiais isotrópicos não


depende da direção em que se aplica a carga, uma vez que esses materiais possuem as mesmas
propriedades para qualquer direção analisada. Portanto, ao invés de realizar operações com as
46

constantes elásticas, apenas é necessário definir duas delas. A Equação (48) demonstra as
constantes elásticas representadas na matriz de rigidez para materiais isotrópicos (ANDRADE,
2006).

𝜎1 𝐶11 𝐶12 𝐶12 0 0 0 𝜖1


𝜎2 𝐶12 𝐶11 𝐶12 0 0 0 𝜖2
𝜎3 𝐶 𝐶12 𝐶11 0 0 0 𝜖3
𝜎4 = 12 0 𝜖4 (48)
0 0 0 𝐶44 0
𝜎5 𝐶44 0 𝜖5
0 0 0 0
[𝜎6 ] [ 0 𝐶44 ] [𝜖6 ]
0 0 0 0

A matriz de rigidez para materiais isotrópicos depende apenas de duas constantes


que caracterizam o comportamento elástico do material, conforme demonstrado na Equação
(49). Desta forma, os três últimos valores correspondentes da diagonal principal, referente a
constante elástica 𝐶44 , podem ser facilmente determinados quando obtidas as constantes
elásticas 𝐶11 e 𝐶12 (BOERI, 2006).

1
𝐶44 = (𝐶11 − 𝐶12 ) (49)
2

Considerando que a tensão de rigidez de um material isotrópico depende apenas de


duas constantes independentes, pode-se relacionar os coeficientes da matriz com as constantes
de Lamé, com o módulo de elasticidade e com o coeficiente de Poisson, conforme representado
nas Equações (50), (51) e (52) (ANDRADE, 2006; BOERI, 2006). Observando as Equações
(50) e (51) percebe-se que as constantes elásticas 𝐶12 e 𝐶44 representam a primeira e a segunda
constante de Lamé, respectivamente.

𝐸(1 − 𝑣)
𝐶11 = = 𝜆 + 2𝜇 (50)
(1 + 𝑣)(1 − 2𝑣)

𝑣𝐸
𝐶12 = =𝜆 (51)
(1 + 𝑣)(1 − 2𝑣)

𝐸
𝐶44 = =𝜇 (52)
2(1 + 𝑣)
47

As constantes elásticas dos materiais isotrópicos também podem ser determinadas


com medidas de propagação de ondas ultrassônicas longitudinais e transversais. Assim, será
apresentada a seguir uma breve revisão sobre os modos de propagação de ondas ultrassônicas
longitudinais e transversais, e suas relações com algumas propriedades elásticas dos materiais.

2.9 RELAÇÃO ENTRE AS PROPRIEDADES ELÁSTICAS E AS VELOCIDADES DE


PROPAGAÇÃO DAS ONDAS ACÚSTICAS

O uso de ondas acústicas provenientes de golpes com um martelo foi uma técnica
bastante utilizada na década de 1970 para a investigação de materiais metálicos
(KRAUTKRAMER e KRAUTKRAMER, 1990). Desde então, a evolução tecnológica permitiu
a caracterização de materiais por meio de ondas ultrassônicas geradas com transdutores
piezoelétricos (KRAUTKRAMER e KRAUTKRAMER, 1990; GINZEL e TURNBULL,
2016).
A propagação das ondas ultrassônicas em um material ocorre por meio das
vibrações das partículas que constituem o material. De maneira geral, elas podem ocorrer de
forma longitudinal, transversal ou superficial (KRAUTKRAMER e KRAUTKRAMER, 1990).
No presente estudo, apenas serão abordados os modos de propagação das ondas longitudinal e
transversal, tendo em vista a importância dessas formas de propagação de ondas para a
determinação das propriedades elásticas e mecânicas dos materiais.
Para a geração das ondas ultrassônicas longitudinais e transversais são utilizados
transdutores piezoelétricos que vibram na frequência da corrente elétrica alternada. A vibração
ocasionada pelo contato entre o transdutor e o material investigado é analisada com
equipamentos de ensaios por ultrassom industrial, que permite medir as velocidades de
propagação das ondas longitudinal e transversal (ANDREUCCI, 2014; GARCIA, SPIM e
SANTOS, 2014).
A velocidade de propagação das ondas ultrassônicas pode ser relacionada
diretamente ao comprimento de onda e com a frequência da onda propagada, como mostra a
Equação (53) (ANDREUCCI, 2014).

𝑉𝑒𝑙 = 𝜆. 𝑓 (53)

em que:
𝑉𝑒𝑙 = velocidade da onda ultrassônica (m/s);
48

𝜆 = comprimento de onda (m);


𝑓 = frequência da onda ultrassônica (Hz).

As ondas longitudinais, também conhecidas como ondas de compressão, são


aquelas cujas partículas do meio elástico oscilam na direção de propagação da onda, permitindo
que o meio elástico passe a vibrar. Este tipo de onda possui uma alta velocidade de propagação
em diferentes materiais, podendo ser observadas em meios sólidos, líquidos ou gasosos. A
Figura 11 mostra um esquema representativo de uma onda longitudinal. Nessa figura o
comprimento (𝜆) está sendo representado pela distância entre duas zonas compressivas
(ANDREUCCI, 2014; GARCIA, SPIM e SANTOS, 2014).

Figura 11 – Representação esquemática de uma onda longitudinal.

Fonte: Adaptado de GARCIA, SPIM e SANTOS (2014).

Segundo Andreucci (2014), as ondas transversais, também conhecidas como onda


de cisalhamento, são difíceis de serem observadas nos gases e líquidos. Isso porque, neste tipo
de onda, as partículas do meio vibram na direção perpendicular à propagação. Logo, as ondas
transversais são mais comuns de serem observadas em meios sólidos, cujas partículas estão
mais fortemente ligadas. A propagação desse tipo de onda mantém as mesmas distâncias entre
os planos das partículas, movimentando-se apenas verticalmente. O comprimento de onda é
obtido analisando a distância entre dois “vales” ou dois “picos, como ilustra a Figura 12
(GARCIA, SPIM e SANTOS, 2014; ANDREUCCI, 2014).
49

Figura 12 – Representação esquemática de uma onda transversal.

Fonte: Adaptado de GARCIA, SPIM e SANTOS (2014).

As velocidades das ondas longitudinais e transversais podem ser utilizadas para


determinar as constantes elásticas de um material isotrópico, dispensando assim a necessidade
da realização de ensaios destrutivos nos materiais.
Conforme relatado no item 2.8, as constantes elásticas 𝐶11 e 𝐶44 representam,
respectivamente, as tensões elásticas produzidas por pequenas deformações no sentido
longitudinal e transversal (BOWRON, 1996; HWA et al., 2004). Dessa forma, alguns autores
estabeleceram relações entre as constantes elásticas 𝐶11 , 𝐶12 e 𝐶44 , com os valores medidos da
densidade () e das velocidades de propagação de ondas ultrassônicas de modo longitudinal
(VL) e transversal (VT). As Equações (54), (55) e (56) mostram essas relações (HWA et al.,
2004; CARVAJAL et al., 2017).

𝐶11 = 𝜌𝑉𝐿2 (54)

𝐶44 = 𝐺 = 𝜇 = 𝜌𝑉𝑇2 (55)

𝐶12 = 𝜆 = 𝜌(𝑉𝐿2 − 2𝑉𝑇2 ) (56)

Outras propriedades elásticas como o módulo de elasticidade (E) e o coeficiente de


Poisson (v), também podem ser representadas em função das velocidades de propagação das
ondas ultrassônicas e da densidade do material, conforme pode ser observado nas Equações
(57) e (58) (BOWRON, 1996; HWA et al., 2004; CARVAJAL et al., 2017).

3𝑉𝐿2 − 4𝑉𝑇2
𝐸 = 𝜌𝑉𝑇2 ( ) = 2𝐶44 (1 + 𝑣) (57)
𝑉𝐿2 − 𝑉𝑇2
50

𝑉𝐿2 − 2𝑉𝑇2
𝑣= (58)
2(𝑉𝐿2 − 𝑉𝑇2 )

As relações existentes entre as constantes elásticas e os valores das velocidades de


propagação de ondas ultrassônicas também possibilitam a investigação de algumas
propriedades mecânicas presentes nos materiais metálicos. Entre as propriedades mecânicas se
destacam o limite de resistência à tração (𝐿𝑅𝑇), a dureza Vickers (𝐻𝑉) e a tensão de
escoamento (𝜎𝐸 ). A seguir, será apresentada uma breve revisão sobre a estimativa dessas
propriedades por meio das medidas de velocidade de propagação das ondas ultrassônicas.

2.10 ESTIMATIVA DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS LRT, HV E E COM MEDIDAS


DE VELOCIDADES ULTRASSÔNICAS

Um estudo proposto por Orlowicz et al. (2009) mostrou a possibilidade de


relacionar a velocidade das ondas ultrassônicas de modo longitudinal (VL) com o limite de
resistência à tração (LRT) de 15 amostras de ferro fundido com diferentes composições
químicas. Para medir a velocidade da onda longitudinal propagada através das amostras os
autores utilizaram um equipamento de ultrassom industrial, da marca Echometer, modelo 1073
VS. No estudo, os autores não informaram o valor da frequência utilizada no equipamento de
ultrassom. Depois de medir as velocidades das ondas ultrassônicas longitudinais (VL), as
amostras foram submetidas ao ensaio de tração axial para a determinação dos valores de LRT.
Na Tabela 1 encontram-se os valores de VL e LRT encontrados nas 15 amostras de ferro fundido.

Tabela 1 – Valores de VL e LRT nas amostras de ferro fundido.


Amostra (Nº) VL (m/s) LRT (MPa)
1 5567 496
2 5582 507
3 5597 512
4 5603 518
5 5607 521
6 5609 524
7 5615 527
8 5622 531
9 5632 533
10 5637 544
11 5644 547
12 5649 550
13 5658 558
14 5669 561
15 5686 574
Fonte: Adaptado de ORLOWICZ et al. (2009).
51

A Figura 13 mostra os valores de LRT em função dos valores das velocidades de


ondas longitudinais (VL). Como resultado, os autores encontraram um ótimo fator de correlação
linear (R2 = 0,98), atestando uma relação existente entre os limites de resistência à tração as
velocidades de propagação das ondas ultrassônicas longitudinais.

Figura 13 – Relação entre os valores de LRT e as velocidades das ondas ultrassônicas


longitudinais propagadas no ferro fundido.

Fonte: Adaptado de ORLOWICZ et al. (2009).

Depois de constatar o comportamento linear apresentado na Figura 13, Orlowicz et


al. (2009) encontraram uma possibilidade de estimar o limite de resistência à tração do ferro
fundido por meio da Equação (59).

𝐿𝑅𝑇 = 0,66𝑉𝐿 − 3194,29 (59)

em que:
LRT = limite de resistência à tração (MPa);
VL = velocidade ultrassônica longitudinal (m/s).

Conforme observado, a Equação (59) apresentou uma proposta de estimativa rápida


do limite de resistência à tração do ferro fundido sem a necessidade de realizar ensaios
mecânicos destrutivos convencionais. Entretanto, para os aços carbono, as medidas de
velocidade de ondas longitudinais são muito dependentes da composição química e da
microestrutura, ou seja, do tamanho dos grãos que constitui a superfície do aço.
52

A influência da composição química e da microestrutura na velocidade de


propagação da onda longitudinal foi constatada por Fonseca e Reguly (2011) em 14 amostras
de aço ASTM. A Tabela 2 apresenta algumas informações sobre as amostras de aço
investigadas por esses autores.

Tabela 2 – Composição química das amostras de aço: percentual de carbono equivalente (Ec) e
tamanho de grãos padrão ASTM (entre 8,5 e 9,0 ASTM corresponde entre 11,9 e 14,1 m).
Amostra C Si Mn P S Ec ASTM
Valores de percentual em massa (%) tamanho de grãos
A 0,119 0,199 0,780 0,021 0,026 0,289 8,5
B 0,116 0,185 0,728 0,016 0,026 0,266 9,0
C 0,106 0,209 0,668 0,015 0,026 0,246 9,0
D 0,114 0,189 0,729 0,015 0,026 0,264 9,0
E 0,124 0,148 0,795 0,027 0,031 0,302 9,0
F 0,107 0,211 0,805 0,024 0,029 0,286 9,0
G 0,120 0,213 0,804 0,026 0,033 0,299 9,0
H 0,118 0,195 0,724 0,020 0,028 0,272 8,5
I 0,121 0,200 0,709 0,019 0,027 0,272 9,0
J 0,118 0,196 0,722 0,019 0,027 0,272 8,5
K 0,120 0,212 0,700 0,023 0,027 0,268 9,0
L 0,116 0,197 0,686 0,022 0,023 0,266 9,0
M 0,125 0,203 0,730 0,019 0,023 0,278 9,0
N 0,135 0,207 0,723 0,019 0,024 0,290 8,5
Média 0,119 0,197 0,736 0,020 0,027 0,276 8,9
Desvio 0,007 0,017 0,044 0,004 0,003 0,015 0,2
Fonte: Adaptado de FONSECA e REGULY (2011)

No estudo de Fonseca e Reguly (2011), as amostras foram investigadas com um


equipamento de ultrassom industrial, utilizando o método pulso-eco, com frequências de 5 e 15
MHz. O resultado apresentado na Tabela 3 evidencia a influência da composição química e da
microestrutura nos valores médios das velocidades longitudinais, bem como o aumento desses
valores com o aumento da frequência de 5 para 15 MHz. Os valores médios de VL foram obtidos
com 05 medidas.
Fonseca e Reguly (2011) observaram que os valores médios da velocidade
longitudinal, obtidos com a frequência de 5 MHz, apresentam alguma relação com os valores
limite de resistência à tração, sendo encontrado um fator de correlação linear R2 = 0,71. Com o
aumento da frequência para 15 MHz, o ajuste da curva aos pontos experimentais apresentou
uma fraca relação com um fator de correlação linear R2 = 0,10. A Figura 14 mostra os valores
de LRT em função dos valores médios de VL obtidos com frequência de 5 MHz. A partir deste
resultado, Fonseca e Reguly (2011) encontraram uma relação para estimativa do limite de
resistência à tração, a qual está apresentada na Equação (60).
53

Tabela 3 – Valores das velocidades longitudinais obtidas com frequências de 5 e 15 MHz.


VL (5MHz) VL (15MHz)
Amostra
média desvio média desvio
A 5837,3 7,8 5865,8 0,3
B 5821,8 11,0 5861,3 1,8
C 5816,0 25,5 5866,8 2,8
D 5819,7 1,0 5861,5 2,1
E 5828,1 15,8 5867,0 7,1
F 5834,4 3,2 5858,0 0,6
G 5824,7 4,2 5854,1 0,4
H 5840,5 9,4 5864,1 6,4
I 5822,4 9,1 5859,4 0,3
J 5844,5 4,5 5865,7 4,1
K 5837,7 6,0 5864,7 4,9
L 5830,2 11,0 5860,4 4,5
M 5826,8 10,6 5864,9 0,1
N 5838,1 2,8 5862,1 1,0
Fonte: Adaptado de FONSECA e REGULY (2011)

Figura 14 – Limite de resistência à tração em função da velocidade longitudinal.

Fonte: Adaptado de FONSECA e REGULY (2011).

𝐿𝑅𝑇 = −7171,1 + 1,3𝑉𝐿 (60)

Sabe-se que o limite de resistência à tração pode ser utilizado para a determinação
de outras propriedades mecânicas dos materiais metálicos, como por exemplo, a dureza
54

(GARCIA, SPIM e SANTOS, 2014). Já os valores de dureza são amplamente utilizados para
fornecer informações sobre a resistência à deformação plástica do material.
O ensaio de dureza consiste na aplicação de um penetrador padronizado sob a
superfície do material, visando correlacionar à tensão necessária para vencer a resistência
superficial do material com a deformação plástica. A marca de impressão deixada na superfície
do material e a carga utilizada são os fatores que definem a medida de dureza (GARCIA, SPIM
e SANTOS, 2014).
Entre os ensaios de dureza, o ensaio de dureza Vickers, também conhecido como
pirâmide de diamante, tem um maior destaque por ser passível de aplicação em materiais
cerâmicos e metálicos (CALLISTER JR e RETHWISCH, 2012). Os valores de dureza Vickers
podem ser convertidos em outras escalas de dureza, tais como as durezas Rockwell e Brinell.
Além disso, esses autores também relatam que as medidas de dureza podem ser utilizadas para
a estimativa do limite de resistência à tração dos materiais metálicos, como mostra a Equação
(61) utilizada para os aços (CALLISTER JR e RETHWISCH, 2012; GARCIA, SPIM e
SANTOS, 2014).

𝐿𝑅𝑇 (𝑀𝑃𝑎) = 3,45 𝑥 𝐻𝐵 (61)

em que:
LRT = limite de resistência à tração (MPa);
HB = valor de dureza Brinell.

Em outro estudo, Fujita e Masuda (2014) encontraram a Equação (62), que


relaciona o limite de resistência à tração com valores de dureza Vickers (HV) dos aços utilizados
na construção civil.

𝐿𝑅𝑇 = 2,5𝐻𝑉 + 100 (62)

A relação existente entre LRT e HV sugere uma possibilidade de estimativa dos


valores de HV por meio da velocidade de propagação de ondas ultrassônicas. Um estudo que
fortalece essa hipótese foi realizado por Carreón et al. (2016), que investigaram a relação entre
a velocidade longitudinal da onda ultrassônica e dureza Vickers de juntas soldadas de tubos de
aço. A Figura 15 apresenta os valores de dureza Vickers em função das velocidades de
55

propagação das ondas ultrassônicas longitudinais. No resultado é possível perceber uma


tendência no aumento das velocidades ultrassônicas com o aumento da dureza.
Com o ajuste dos pontos experimentais os autores observaram um ótimo fator de
correlação linear R2 = 0,91. Portanto, a Equação (63) reforça a possibilidade de estimativa da
dureza Vickers (HV) por meio de medidas de velocidade das ondas ultrassônicas longitudinais
(VL) propagadas em juntas de aços soldadas (CARREÓN et al., 2016).

Figura 15 – Valores de dureza Vickers (HV) em função das velocidades de propagação das
ondas ultrassônicas longitudinais.

Fonte: Adaptado de CARREÓN et al. (2016).

𝐻𝑉 = 3,6019𝑉𝐿 − 21053 (63)

A partir da dureza HV o limite de escoamento também pode ser determinado. Ghosh


et al. (2019) demonstraram que a dureza HV apresenta uma relação com a tensão de escoamento
(E) do material metálico, conforme mostra a Equação (64).

𝐻𝑉 𝑛
𝜎𝐸 = .𝐵 (64)
3

em que:
E = tensão de escoamento;
56

𝐵 = constante que depende da tensão verdadeira e do ponto de escoamento;


𝑛 = expoente de endurecimento por deformação do material.

As constantes 𝐵 e 𝑛, que dependem do tipo de material metálico, foram previamente


apresentadas por Cahoon, Broughton e Kutzak (1971). Para os aços, por exemplo, são utilizados
os valores das constantes 𝐵 = 0,1 e 𝑛 = 0,23. Uma forma simplificada e aproximada para a
estimativa da tensão de escoamento foi proposta por Ghosh et al. (2019) na Equação (65). Como
o módulo de elasticidade (E) pode ser calculado por meio das propagações de ondas
ultrassônicas de modo longitudinal e transversal (Equação 57), a tensão de escoamento (E)
também pode ser determinada com medidas ultrassônicas.

𝜎𝐸 = 2𝐸 (65)

Poucos estudos relatam de forma clara as relações existentes entre a tensão de


escoamento e as velocidades de propagação de ondas ultrassônicas de modo longitudinal (VL)
e transversal (VT). Entretanto, Popov et al. (2013) desenvolveram um modelo para aços com
baixo teor de carbono com base na relação de Hall-Petch, que estabelece uma analogia entre o
tamanho médio do grão e a dureza dos materiais, conforme mostra a Equação (66).

1
1 1 𝛼𝐿 −6
𝜎𝐸 = 𝜎0 + 𝐾𝑌 ( ) (66)
𝐶 𝑊(𝑉𝐿 , 𝑉𝑇 ) 𝑓 4

em que:
E = tensão de escoamento;
𝜎0 = tensão de atrito que resiste ao movimento de deslocamento;
𝐾𝑌 = Relação de Hall-Petch;
𝐶 = constante;
𝑊(𝑉𝐿 , 𝑉𝑇 ) = constante estabelecida por meio da relação entre as velocidades longitudinal e
transversal;
𝛼𝐿 = coeficiente de atenuação das ondas longitudinais;
𝑓= frequência da onda ultrassônica.
57

Os valores de 𝐶, 𝑊(𝑉𝐿 , 𝑉𝑇 ) e 𝛼𝐿 podem ser calculados por meio das Equações (67),
(68) e (69) (POPOV et al., 2013).
4𝜋 4
𝐶= (67)
1125

𝑉𝑇4 2 3
𝑊(𝑉𝐿 , 𝑉𝑇 ) = ( 3) ( 5 + 5)
(68)
𝑉𝐿 𝑉𝐿 𝑉𝑇

8𝜋 3 1 2 4𝜋 𝐷 ̅ 1 2 3
4 (69)
𝛼𝐿 = 𝑀 [ ( )] 𝑓 ( ) ( + )
375 𝜌2 3 2 𝑉𝐿3 𝑉𝐿3 𝑉𝐿5
em que:
𝑀 = constante relacionada com o fator de anisotropia;
̅ = tamanho médio dos grãos.
𝐷

A Equação (70) é utilizada para o cálculo da constante 𝑀, que depende das


constantes elásticas 𝐶11 , 𝐶12 e 𝐶44 . Por outro lado, a Equação (71) é usada para determinar o
̅ ) (POPOV et al., 2013).
tamanho médio dos grãos (𝐷

𝑀 = 𝐶11 − 𝐶12 − 2𝐶44 (70)

1
1 𝛼𝐿 3
̅=(
𝐷 ) (71)
𝐶. 𝑊(𝑉𝐿 , 𝑉𝑇 ) 𝑓 4

Portanto, as relações anteriormente apresentadas para as constantes elásticas 𝐶11 ,


𝐶12 e 𝐶44 , demonstram a possibilidade do uso de ondas ultrassônicas, não só para a
caracterização não destrutiva das propriedades elásticas, mas também para a estimativa de
várias propriedades mecânicas dos materiais metálicos.
A seguir, serão apresentados os procedimentos e os equipamentos utilizados para o
desenvolvimento do presente trabalho. Os conhecimentos adquiridos com a revisão de literatura
foram de fundamental importância para a elaboração dos procedimentos metodológicos,
contribuindo também para a interpretação e discussão dos resultados obtidos nessa pesquisa.
58

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA DE AÇO 1020

Para a realização deste estudo foi adquirida comercialmente uma barra de aço
ABNT/SAE 1020, homogênea, na condição normalizada, procedente da empresa Gerdau. Essa
liga metálica foi selecionada, inicialmente, com o intuito de avaliar a aplicação de um sistema
eletrônico de emissão e detecção de ondas ultrassônicas. Isso porque o sistema eletrônico,
apresentado por Carvalho (2020), se mostrou eficaz para a caracterização das propriedades
elásticas de ligas metálicas não ferrosas, mas não existiam maiores informações sobre a
possibilidade de caracterização não destrutiva de ligas ferrosas. Logo, entre as ligas ferrosas, o
aço 1020 foi escolhido como material de teste. Outro ponto importante que contribuiu para a
escolha do aço 1020 foi o seu destaque como um dos principais insumos utilizados na indústria
mecânica. A Tabela 4 apresenta a composição química do aço SAE 1020 disponibilizada no
catálogo técnico da empresa Gerdau.

Tabela 4 – Composição química da barra de aço SAE 1020.


Composição química (%)
Aço C Mn P (máx) S (máx)
SAE 1020 0,18-0,23 0,30-0,60 0,030 0,050
Fonte: GERDAU (2003).

A barra de aço 1020 possui dimensões aproximadas de 18,76 mm de diâmetro e


201,59 mm de comprimento. As dimensões da barra foram aferidas com o auxílio de um
paquímetro digital, da marca Digimess, com resolução de 0,005 mm. A Figura 16 ilustra as
medidas das dimensões na barra de aço 1020.

Figura 16 – Dimensões da barra de aço 1020: (a) comprimento e (b) diâmetro.

Fonte: Autora (2021).


59

O valor do volume (V) da barra de aço 1020 foi calculado pela Equação (72), sendo
obtido por meio do raio (r) e altura (c) da amostra. Assim, a densidade () foi calculada de
acordo com a Equação (73), que consiste na razão entre a massa (m) e o volume (V). A massa
da barra foi aferida com uma balança digital da marca Marte, modelo MS 30K1, com resolução
de 0,01 g. Neste estudo foi utilizado o valor da massa média, obtida a partir de três medidas
realizadas com remoção e o reposicionamento da barra sobre o prato de pesagem da balança. A
Figura 17 ilustra o procedimento de medida da massa. A densidade calculada para a barra de
aço 1020 foi considerada uniforme, uma vez que a amostra utilizada possui inércia constante e
distribuição de massa homogênea.

𝑉 = 𝜋𝑟2𝑐 (m3) (72)

𝑚
 = 𝑉
(kg/m3) (73)

Figura 17 – Medida de massa na barra de aço 1020.

Fonte: Autora (2021).

3.2 CÁLCULO DAS VELOCIDADES ULTRASSÔNICAS

Para calcular as velocidades de ondas ultrassônicas que se propagam através da barra de


aço 1020, foram inicialmente medidos os tempos de percurso das ondas longitudinais com o
método da transparência, proposto por Carvalho (2020). A Figura 18 apresenta o diagrama de
blocos do sistema eletrônico utilizado, ilustrando o circuito emissor e receptor de ondas
ultrassônicas longitudinais.
60

Figura 18 – Diagrama de blocos do sistema eletrônico utilizado.

Fonte: CARVALHO (2020).

No sistema eletrônico, os circuitos emissor e receptor foram alimentados por fontes


de alimentação simétrica de 30 V e 12 V, respectivamente. O circuito emissor produziu pulsos
com amplitude de 60 V e duração de 400 ns, em intervalos de tempo iguais a 5 ms. Esses pulsos
foram produzidos com um transdutor piezoelétrico de 2 cm de diâmetro efetivo, emissor de
ondas longitudinais, modelo AW190, de frequência igual a 2 MHz. O sinal captado por outro
transdutor piezoelétrico, do mesmo modelo, foi amplificado pelo circuito receptor com um
amplificador operacional do modelo THS4271D, que foi projetado para funcionar a partir de
tensões de alimentação entre  5 V a  15 V. A Figura 19 apresenta uma imagem dos circuitos
eletrônicos, emissor e receptor, utilizados neste estudo.

Figura 19 – Circuitos eletrônicos: (a) emissor e (b) receptor de ondas ultrassônicas.

Fonte: Autora (2021).

O circuito receptor utilizado gera na saída um sinal amplificado com ganho pré-
definido, diminuindo as interferências que possam prejudicar o processo de medição. A Figura
20 apresenta os transdutores, emissor e receptor, alinhados nas extremidades da barra de aço
1020. As extremidades da barra foram previamente polidas com lã de aço e detergente, para
remover resíduos provenientes da oxidação. O material utilizado como acoplante entre os
transdutores e a barra foi a vaselina em pasta, evitando assim a presença de ar entre as interfaces.
61

Para os valores de impedância acústica e da densidade do acoplante utilizado foram


considerados Z2 = 1,5.106 kg/m2.s e  = 905 kg/m3, respectivamente (NETSHI-DAVHINI e
MABUZA, 2012).

Figura 20 – Emissão e recepção da onda ultrassônica através da barra de aço 1020.

Fonte: Autora (2021).

A escolha do acoplante deve levar em consideração o acabamento superficial da


amostra, o tipo de material, a forma da peça, a dimensão da área de varredura e a posição em
que será realizado o ensaio (ANDREUCCI, 2014). No estudo realizado por Carvalho (2020)
foi constatada a importância da escolha adequada do fluído acoplante nas medidas
ultrassônicas. Portanto, a vaselina em pasta foi escolhida como acoplante por apresentar uma
boa aderência e viscosidade, contribuindo para uma melhor fixação do transdutor, uma vez que
a barra de aço 1020 possuía diâmetro um pouco menor (18,76 mm) do que o diâmetro do
transdutor (20 mm). Além disso, testes realizados com outros tipos de acoplantes, como a
glicerina e o mel de abelha, não apresentaram viscosidade suficiente para manter os transdutores
de forma estática nas extremidades da amostra.
Alguns estudos demonstraram que a vaselina é um ótimo acoplante para
caracterização de diferentes tipos de materiais com técnicas ultrassônicas. Por exemplo, Silva
et al. (2019) obtiveram bons resultados quando utilizaram a vaselina como acoplante para a
caracterização dos corpos de prova de concreto. Em outro estudo, Fonseca (2005) utilizou o
mesmo acoplante para a determinação das propriedades mecânicas do aço ASTM A36
laminado. Esses estudos reforçam a escolha da vaselina como acoplante utilizado para a
investigação da barra de aço 1020 com a técnica ultrassônica da transparência.
Depois de escolher o tipo de acoplante foram realizadas medidas no tempo de
percurso da onda ultrassônica longitudinal através da barra de aço 1020. As medidas dos sinais
62

fornecidos no circuito de saída foram realizadas com o auxílio de um osciloscópio digital, da


marca Tektronix, modelo TBS1062. O osciloscópio foi conectado a um computador para
exportação dos dados e captura das imagens dos sinais. Para isso foi utilizado o programa
OpenChoice Desktop. A medida de tempo, em microssegundos (µs), entre a onda ultrassônica
emitida e recebida através da barra foi feita no programa OpenChoice Desktop, como mostra a
Figura 21.

Figura 21 – Tempo de percurso da onda ultrassônica através da barra de aço 1020.

Fonte: Autora (2021).

A distância entre as linhas verticais apresentadas no programa OpenChoice Desktop


representa o tempo gasto pela onda ultrassônica para percorrer o comprimento da barra de aço.
Desta forma, a Equação (74) foi utilizada para a estimativa da velocidade média de propagação
da onda longitudinal (VL). O valor médio de VL foi calculado a partir de três medidas obtidas
com a remoção e o reposicionamento dos transdutores nas extremidades da barra de aço 1020.

𝑉𝐿 = 𝑐⁄𝑡 (m/s) (74)

em que:
c = comprimento da amostra (m);
t = tempo (s).

O sistema eletrônico foi idealizado e desenvolvido pelos professores orientadores


deste trabalho. Todas as medidas ultrassônicas na barra de aço 1020 foram feitas nas
63

dependências do Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional e Sistemas da


Universidade Estadual de Montes Claros - MG (PPGMCS/UNIMONTES).
Para estimar o valor da velocidade transversal (VT) foram analisadas as relações
existentes entre VL e VT para os materiais metálicos, conforme sugere Krautkramer e
Krautkramer (1990). Estes autores relatam que na maioria dos materiais metálicos, a razão entre
as velocidades ultrassônicas de modo transversal e longitudinal é de aproximadamente 0,50.
Assim, para uma estimativa mais precisa do valor de VT foi utilizada a relação VT/VL relatada
na literatura para o aço 1020, como mostra a Tabela 5.

Tabela 5 – Velocidades ultrassônicas no aço 1020.


Referências VL (m/s) VT (m/s) VT/ VL
OLYMPUS (2019) 5890 3240 0,550
GUR e KELES (2003) 5899 3237 0,549
Fonte: Elaborado pela autora.

Portanto, a partir da medida da velocidade média longitudinal (VL) foi possível


estimar a velocidade média da onda ultrassônica transversal (VT) na amostra de aço 1020. Para
isso, foi utilizada a Equação (75).

𝑉𝑇 = 0,55 ∙ 𝑉𝐿 (m/s) (75)

3.3 IMPEDÂNCIA ACÚSTICA E CÁLCULO DAS ENERGIAS TRANSMITIDA E


REFLETIDA

Krautkramer e Krautkramer (1990) definem a impedância acústica como sendo a


resistência ou dificuldade que o meio material oferece à propagação das ondas acústicas. Logo,
o valor da impedância acústica (Z) da barra de aço 1020 foi calculado com os valores medidos
da densidade () e da velocidade longitudinal (VL), os quais foram substituídos na Equação
(76).

Z =  ∙ 𝑉𝐿 (kg/m2.s) (76)

Para determinar o coeficiente de energia transmitida e refletida da onda ultrassônica


na interface da barra foram utilizadas as Equações (77) e (78), que foram propostas por
Krautkramer e Krautkramer (1990).
64

2 . 𝑍2
T= (77)
𝑍2 +𝑍1

𝑍2 − 𝑍1
R= (78)
𝑍2 +𝑍1

em que:
T = percentual de energia transmitida (%);
R = percentual de energia refletida (%);
Z1 = impedância acústica do aço (kg/m2.s);
Z2 = impedância acústica do acoplante (kg/m2.s).

3.4 ESTIMATIVA DAS PROPRIEDADES ELÁSTICAS DO AÇO 1020

Neste estudo as propriedades elásticas do aço 1020 foram estimadas a partir do


valor de densidade () e das velocidades ultrassônicas de modo longitudinal (VL) e transversal
(VT). A Tabela 6 sumariza as relações existentes entre as propriedades elásticas e as velocidades
ultrassônicas, como mostrado anteriormente no capítulo 2 da revisão de literatura.

Tabela 6 – Propriedades elásticas dos materiais em função de VL, VT e .


Propriedades elásticas
Constante elástica - C11 (GPa) C11 = 𝜌𝑉𝐿2
Constante elástica - C12 (GPa) C12 =  = 𝜌(𝑉𝐿2 − 2𝑉𝑇2 )
Constante elástica - C44 (GPa) C44 = 𝜇 = G = 𝜌𝑉𝑇2
Módulo de Elasticidade (GPa) E = 2𝐶44 (1 + 𝑣)
Módulo de compressibilidade volumétrica (GPa) K = 𝜌((3𝑉𝐿2 − 4𝑉𝑇2 )⁄3)
Coeficiente de Poisson 𝑣 = (𝑉𝐿2 − 2𝑉𝑇2 )/(2(𝑉𝐿2 − 𝑉𝑇2 ))
Fonte: Elaborada pela autora com base em BOWRON (1996); HWA et al. (2004) e CARVAJAL et al.
(2017).

Para o cálculo e análise do índice de anisotropia (r) foi utilizada a Equação (79),
que estabelece uma relação por meio das constantes elásticas 𝐶44 e 𝐶11 (WISKEL et al., 2015).

1
1 𝐶44 2
𝑟= 32 ( ) (79)
𝐶11
65

3.5 ESTIMATIVA DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO AÇO 1020

As propriedades mecânicas do aço 1020, quais sejam, o limite de resistência à


tração (LRT), a dureza Brinell (HB), a dureza Vickers (HV), o limite de escoamento (𝜎𝐸 ) e o
módulo de resiliência (𝑢𝑟 ), foram estimadas utilizando modelos previamente propostos em
outros estudos, que relacionaram essas propriedades com as velocidades das ondas
ultrassônicas medidas em diferentes tipos de materiais (consultar Tabelas 7, 8 e 9). Esse
procedimento foi realizado com o intuito de verificar se os modelos propostos para a
caracterização de outros materiais podem ser aplicados na determinação das propriedades
mecânicas do aço 1020. A Tabela 7 apresenta os modelos utilizados para a determinação do
LRT da barra de aço 1020.

Tabela 7 – Modelo para o cálculo do LRT em função de VL ou HV.


LRT em MPa Referência
𝐿𝑅𝑇 = 0,66𝑉𝐿 − 3194,29 ORLOWICZ et al. (2009)
𝐿𝑅𝑇 = −7171,1 + 1,3𝑉𝐿 FONSECA e REGULY (2011)
Fonte: Elaborado pela autora.

A Tabela 8 apresenta os modelos utilizados para a determinação dos valores de


dureza Brinell (HB) e de dureza Vickers (HV) da barra de aço 1020. Esses modelos consideram
o valor medido de VL ou o valor do LRT, que pode ser obtido utilizando as expressões mostradas
na Tabela 7. O modelo adaptado de Pavlina e Van Tyne (2008) em função de LRT possibilita o
cálculo de HV.

Tabela 8 – Durezas HB e HV em função de LRT e VL.


HB e HV Referência
𝐻𝑉 = 3,6019𝑉𝐿 − 21053 CARREÓN et al. (2016)
𝐻𝑉 = (𝐿𝑅𝑇 − 100)/2,5 FUJITA e MASUDA (2014)
HV = (𝐿𝑅𝑇 + 99,8)/3,734 PAVLINA e VAN TYNE (2008)
𝐻𝐵 = 𝐿𝑅𝑇/3,45 GARCIA, SPIM e SANTOS (2014)
Fonte: Elaborado pela autora.

O valor do limite de escoamento (𝜎𝐸 ) foi analisado por meio das relações
apresentadas na Tabela 9, onde é possível perceber que essa propriedade se relaciona com os
valores de dureza (HV).
66

Tabela 9 – Tensão de escoamento (𝜎𝐸 ) em função de HV.


𝜎𝐸 em MPa Referência
𝜎𝐸 = 2,736𝐻𝑉 − 70,5 FUJITA e KUKI (2016)
𝜎𝐸 = −90,7 + 2,876 𝐻𝑉 PAVLINA e VAN TYNE (2008)
Fonte: Elaborado pela autora.

Para o cálculo do módulo de resiliência foi utilizada a Equação (13), previamente


apresentada na página 31, a qual está em função do limite de escoamento (𝜎𝐸 ) e do módulo de
elasticidade (E). Nesta etapa, foram calculados os valores de 𝜎𝐸 com os modelos apresentados
na Tabela 9, sendo utilizado o resultado que mais se aproximou do valor de referência descrito
na literatura para o aço 1020. Em seguida, todos os modelos apresentados nesse estudo foram
inseridos em planilhas de edição do Microsoft Excel® (2019) para facilitar a tabulação e a
análise dos resultados.

3.6 ENSAIOS DE TRAÇÃO E DUREZA BRINELL

Com o intuito de realizar uma análise comparativa entre os valores estimados de LRT,
HB e 𝜎𝐸 , com valores medidos na barra de aço 1020, foram realizados ensaios mecânicos
convencionas de tração e dureza HB. Para o ensaio de tração a barra de aço 1020 foi cortada
em um pedaço menor, que foi usinado em dimensões aproximadas de 50 mm de comprimento
e 6 mm de diâmetro. Estas dimensões não consideram as roscas produzidas nas extremidades
para fixação do corpo de prova na máquina de ensaio de tração.
Para as medidas de dureza foi obtido um corpo de prova na forma de disco, cortado a
partir da seção transversal da barra, cujas dimensões eram de 18,76 mm de diâmetro e 10 mm
de espessura. O valor médio da dureza HB foi calculado a partir da realização de três medidas
feitas com um indentador de esfera de aço com 10 mm de diâmetro e carga de 3000 kgf.
O equipamento utilizado, tanto para a obtenção do diagrama tensão-deformação e para
as medidas de dureza Brinell (HB), foi uma máquina acadêmica de ensaios Universal, modelo
WP 300, pertencente ao laboratório mecânico do Centro Universitário FIPMoc - UniFIPMoc.
A Figura 22 apresenta uma imagem do equipamento, que foi operado na forma manual durante
a aquisição dos dados. Depois coletados, os dados gravados foram exportados do equipamento
e analisados no programa Origin 8.0®. Dessa forma, foram analisados na amostra de aço 1020
os valores dos limites de resistência à tração e escoamento.
67

Figura 22 – Máquina de Ensaios Universal.

Fonte: Autora (2021).


68

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 MEDIDA DE DENSIDADE DO AÇO 1020

A Tabela 10 apresenta o valor da densidade calculada para a barra de aço 1020 por
meio da razão entre a massa e o volume. O valor obtido para a densidade da barra está de acordo
com o valor médio relatado na literatura para o aço 1020, que é de 7860 kg/m 3, conforme
relatado no Handbook of Engineering Practice of Materials and Corrosion, pág. 329 (EUN,
2020). Entretanto, os valores de densidade do aço 1020 podem variar entre 7840 kg/m3 e
7870 kg/m3. Esse fato está associado ao tipo de processo utilizado para a obtenção do aço e aos
tratamentos térmicos (FREITAS et al., 2010; MEZA et al., 2019; MATWEB, 2020).

Tabela 10 – Densidade calculada para a barra de aço 1020.


Volume (10-5 m³) Massa (kg) Densidade (kg/m³)
5,572 0,438 7860,489
Referência: EUN, 2020 - 7860
Fonte: Elaborado pela autora.

4.2 VELOCIDADES ULTRASSÔNICAS NA AMOSTRA DE AÇO 1020

A Tabela 11 apresenta os valores médios calculados das velocidades longitudinal


(VL) e transversal (VT) para a barra de aço 1020 na condição normalizada. Os valores calculados
para VL = 5860,70 m/s e VT = 3223,39 m/s estão próximos daqueles relatados por Gur e Keles
(2003) e Olympus (2019), sendo apenas constatadas pequenas diferenças inferiores a 0,66%.
Entretanto, ressalta-se que estes autores não relataram em seus estudos a condição de tratamento
térmico do aço 1020.

Tabela 11 – Valores das velocidades longitudinal e transversal para o aço 1020.


Medidas Tempo (10-6 s) 𝑉𝐿 (m/s) 𝑉𝑇 = 0,55𝑉𝐿 (m/s)
1 34,800 5792,816 3186,049
2 34,400 5860,174 3223,096
3 34,000 5929,118 3261,015
Média 34,400 5860,703 3223,386
Desvio Padrão 0,327 55,646 30,605
VL = c / t, em que: c = comprimento da barra (0,20159 m) e t = tempo (s)
Referência
GUR e KELES (2003) VL = 5899 m/s; VT = 3237 m/s; diferença: VL = 0,65%; VT = 0,42%
OLYMPUS (2019) VL = 5890 m/s; VT = 3240 m/s; diferença: VL = 0,50%; VT = 0,51%
Fonte: Elaborado pela autora.
69

A energia acústica refletida e transmitida para a barra de aço 1020 foi calculada
utilizando os valores das impedâncias acústicas do acoplante (Z2) e da barra de aço (Z1). Para
calcular a impedância acústica da barra foi utilizada a Equação (76), representada pelo produto
entre a densidade calculada () e o valor médio de VL. A Tabela 12 apresenta o valor calculado
da impedância (Z1) e o valor de referência (Z) para o aço 1020. O resultado mostra que o valor
calculado neste estudo é muito próximo do valor de referência relatado por Ginzel e Turnbull
(2016).

Tabela 12 – Valores calculados de impedância acústica (Z1) na barra de aço 1020.


𝜌 (Kg/m³) 𝑉𝐿 (m/s) 𝑍1 (10⁶kg/m2.s)* 𝑍 (10⁶kg/m2.s)**
7860,489 5860,703 46,068 45,560
Fonte: GINZEL e TURNBULL (2016).
Nota: *valor calculado, **valor de referência da literatura.

Com o valor calculado da impedância acústica da barra (Z1) e com o valor da


impedância acústica do acoplante (Z2 = 1,5.106 kg/m2.s), foram estimados os valores de energia
transmitida (T) e refletida (R), por meio das Equações (77) e (78) respectivamente. Os valores
calculados indicam que, 6,30% da energia acústica foi transmitida para a barra de aço, enquanto
que 93,70% da energia foi refletida.
O maior valor percentual de energia acústica refletida (93,70%) pode estar
relacionado com os efeitos combinados do acabamento superficial nas extremidades da barra,
do valor da impedância acústica da vaselina e do diâmetro do transdutor, que é superior ao
diâmetro da barra. Entretanto, os resultados sugerem que o menor percentual de energia
transmitida (6,30%) foi suficiente para a determinação das velocidades ultrassônicas no aço
1020, conforme discutido e apresentado na Tabela 11.

4.3 PROPRIEDADES ELÁSTICAS CALCULADAS PARA O AÇO 1020

A Tabela 13 apresenta os valores das constantes elásticas calculadas a partir dos


valores medidos do tempo médio de percurso da onda ultrassônica longitudinal e da densidade
da barra de aço 1020. Para uma análise comparativa, também estão apresentados na tabela os
valores de referência, que foram encontrados na literatura e discutidos ao longo do texto, bem
como a diferença percentual em relação a esses valores.
70

Tabela 13 – Valores calculados das constantes elásticas e a diferença percentual em relação aos
valores de referência.

Propriedade medida Valor de referência Diferença (%)


Tempo (10-6 s) 34,40 - -
𝜌 (kg/m³) 7860,49 7860,00 0,01
Propriedade calculada Valor de referência Diferença (%)
𝑉𝐿 (m/s) 5860,70 5890,00 0,50
𝑉𝑇 (m/s) 3223,39 3240,00 0,51
C11 = +2 (GPa) 270,02 256,00 5,48
C12 =  (GPa) 106,66 103,00 3,55
C44 =  = G (GPa) 81,68 80,00 2,10
𝐸 (GPa) 209,62 210,98 0,64
𝐾 (GPa) 161,11 138 - 179 0,00
𝑍1 (10⁶kg/m2.s) 46,07 45,56 1,12
𝑟 0,95 0,90 -1,20 0,00
𝑣 0,28 0,28 - 0,30 0,00
Fonte: Elaborado pela autora.

Meza et al. (2019) calcularam as constantes elásticas C11 e C12 por meio da técnica
ultrassônica da transparência aplicada em uma barra de aço 1020 com condição de tratamento
térmico desconhecida. Como resultado, esses autores relataram valores de C11 = 256  1,5 GPa
e C12 = 103  2,0 GPa. No presente estudo, os valores calculados foram C11 = 270,02 GPa e C12
= 106,66 GPa. Estas constantes elásticas estão relacionadas com o primeiro parâmetro de Lamé
(), sendo encontradas diferenças, em relação aos valores de referência, de 5,48% e 3,55% para
as constantes C11 e C12, respectivamente.
A constante elástica C44 representa o módulo de elasticidade transversal do
material, que também é denominada de módulo de cisalhamento (G). Conforme apresentado
anteriormente, outros autores também denominam essa constante como segundo parâmetro de
Lamé (). O módulo de cisalhamento (G) é muito importante para a análise das propriedades
elásticas de um material, quando ele é solicitado mecanicamente pela seção transversal. Para o
aço 1020, o módulo de cisalhamento (G) pode apresentar valores em torno de 80 GPa, conforme
relatado Jiangsu (2020). Freitas et al. (2010) demonstraram em sua pesquisa a utilização ondas
ultrassônicas de modo longitudinal e transversal para determinação do módulo de cisalhamento
em diferentes aços, sendo encontrado um valor de G = 82,10 GPa para o aço 1020. No presente
71

trabalho foi calculado para o aço 1020 um valor de G = 81,68 GPa, sendo esse o valor
praticamente o mesmo da referência para vários tipos de aços.
No que se refere ao coeficiente de Poisson (𝑣), esse parâmetro é calculado nos
materiais isotrópicos para estabelecer uma relação entre as deformações longitudinais e
transversais. Callister JR e Rethwisch (2012) mostram que o coeficiente de Poisson para a
maioria dos aços assume valores de 𝑣 = 0,30. Outros autores relatam que o coeficiente de
Poisson, medido na temperatura ambiente de 25°C, pode variar entre 0,28 a 0,29 (LUECKE et
al., 2005, pág16). Desta forma, percebe-se que o valor de 𝑣 = 0,28 calculado nesse estudo para
o aço 1020 está de acordo com o esperado para a maioria dos aços.
O módulo de elasticidade (E), também conhecido como módulo de Young, permite
estabelecer uma relação entre tensão e a deformação dos materiais metálicos, quando estes
materiais são submetidos ao esforço de tração. Conforme descrito por Kang e Zhong-Ci (1996),
o módulo de elasticidade para a maioria dos aços é de aproximadamente E= 200 GPa.
Entretanto, no aço 1020, Freitas et al. (2010) encontraram com ondas ultrassônicas os valores
do módulo de elasticidade variando entre 210,98 a 212,01 GPa. No presente estudo, o resultado
obtido para o módulo de elasticidade foi de 𝐸 =209,62 GPa.
O módulo de compressibilidade volumétrica (K) representa a rigidez à deformação
volumétrica do material. Dados publicados no Website da mydatabook.org
(http://www.mydatabook.org/solid-mechanics/bulk-modulus/) mostram que o valor do módulo
(K) dos aços pode variar de 138 GPa a 179 GPa. Jiangsu (2020) descreve um valor de 𝐾 =140
GPa para o aço 1020 laminado. No presente estudo, foi encontrado para o aço 1020 normalizado
o valor de 𝐾 =161,11 GPa, estando esse valor dentro da faixa de valores esperados para o aço
carbono, independentemente da condição de tratamento térmico.
De acordo com Souza (2014), para os materiais perfeitamente isotrópicos admite-
se que o valor de r é igual a 1. Este valor também é adotado para a análise de aços normalizados,
mesmo conhecendo as dificuldades em se obter um material perfeitamente isotrópico.
Entretanto, em alguns projetos de engenharia, onde é necessário determinar com precisão o
valor de r, é possível encontrar valores que variam entre 0,9 e 1,2 para aços de alta resistência
e com baixo teor de carbono (KALPAKJIAN e SCHMID, 2009; pág.409). Assim, o resultado
encontrado para o índice de anisotropia r = 0,95 sugere que o aço 1020 normalizado se apresenta
como um material de tendências isotrópicas, estando de acordo com o esperado para a maioria
dos aços com baixo teor de carbono.
72

4.4 PROPRIEDADES MECÂNICAS DA BARRA DE AÇO 1020

A Figura 23 apresenta o comportamento da tensão em função do alongamento da


amostra removida da barra de aço 1020. No resultado é possível identificar os valores das
tensões de escoamento, limite de resistência à tração e de ruptura.

Figura 23 – Comportamento da tensão em função do alongamento do aço 1020.

Fonte: Autora (2021).

A tensão de escoamento (𝜎𝐸 ) é uma propriedade mecânica que delimita a fase entre
o comportamento elástico e plástico do material. Souza (2014) demonstrou que os aços com
baixo teor de carbono possuem um valor de escoamento em torno de 270 MPa. Para o aço 1020,
esses valores podem ser encontrados na faixa entre 230 a 350 MPa (KINAMI; CASTRO e
OLIVEIRA, 2013). O resultado do ensaio de tração para a amostra de aço 1020 mostra uma
tensão de escoamento de 304,26 MPa, estando dentro da faixa de valores esperado. Entretanto,
de acordo com informações fornecidas por Gerdau (2003), a barra de aço 1020 na condição
normalizada apresenta tensão de escoamento igual a 345 MPa. O valor encontrado de 304,26
MPa pode estar associado ao procedimento de ensaio manual, onde o ideal seria a realização
do ensaio com velocidade de tensionamento controlada entre 6 e 30 MPa/s, conforme ABNT
NBR ISO 6892-1/2013, evitando o comprometimento na obtenção de uma região elástica bem
definida.
O limite de resistência à tração (LRT) é uma importante propriedade mecânica que
permite identificar o valor máximo de tensão que o material irá suportar, quando submetido ao
esforço de tração. No ensaio de tração foi encontrado LRT = 440,85 MPa para amostra de aço
73

1020. Na prática, não houve diferença entre o valor obtido na amostra e o valor de LRT = 440
MPa fornecido da barra de aço 1020 normalizada (GERDAU, 2003).
No que se refere ao ensaio de dureza Brinell (HB), o valor encontrado na amostra
de aço 1020 foi de 127 HB. De acordo com Gerdau (2003), o aço 1020 normalizado possui um
valor de dureza igual a 131 HB, sendo esse valor próximo ao valor medido na amostra.
Conforme abordado anteriormente, o LRT pode ser estimado por meio de medidas de HB. Neste
caso, substituindo na Equação (61) o valor de HB medido na amostra, encontra-se:

LRT (MPa) = 3,45 . HB


LRT (MPa) = 3,45 . 127 = 438,15 MPa

O valor calculado para o LRT concorda com o resultado da Figura 23 obtida por
meio do ensaio de tração. Isso mostra que os valores de LRT e dureza HB encontrados na
amostra de aço 1020 por meio dos ensaios mecânicos convencionais estão próximo dos valores
de referência disponibilizados por Gerdau (2003).
A partir dos modelos propostos na Tabela 9, tentou-se estimar o valor da tensão de
escoamento (𝜎𝐸 ) para o aço 1020 utilizando os valores de dureza Vickers (HV) e do módulo de
elasticidade (E). Ono (2020) demonstrou que o valor de dureza (HV) no aço 1020 pode variar
entre 100 e 206 HV, em função dos diferentes tratamentos térmicos. Além disso, as durezas HB
e HV podem ser facilmente relacionadas, podendo os valores de dureza na faixa entre 100 e
1000 HV assumirem valores praticamente idênticos aos de dureza HB (METALS
HANDBOOK, 1978). Logo, assumindo que a dureza da amostra de aço 1020 seja de 127 HV,
tem-se na Tabela 14 alguns resultados estimados para a tensão 𝜎𝐸 .
Considerando que a amostra de aço 1020 apresente um valor de dureza HV = HB,
nota-se que os valores calculados de 𝜎𝐸 com os dois modelos utilizados são próximos em si,
estando em torno de 275 MPa. Entretanto, esses valores foram um pouco diferentes daquele
observado no resultado do ensaio de tração, o qual foi de 304,26 MPa. Esse fato pode estar
associado ao uso de modelos que utilizam valores de HV obtidos em função de VL. Para analisar
essa hipótese, também foi feito cálculo de HV utilizando o valor de VL calculado na barra de
aço 1020. Neste caso, foram utilizados os modelos propostos por Orlowicz et al. (2009) e
Fonseca e Reguly (2011) para a estimativa do LRT com ondas ultrassônicas. Com o modelo de
Fonseca e Reguly (2011) foi calculado um valor de LRT = 447,81 MPa, sendo este valor o que
mais se aproximou do resultado obtido no ensaio de tração (LRT = 440,85 MPa), como mostra
a seguir na Tabela 14.
74

Tabela 14 – Modelos propostos e resultados obtidos para 𝜎𝐸 , LRT e HV.


Resultado para Resultado para
Autores Modelo Proposto HV = HB = HV = HB =
127 129,80
FUJITA e KUKI (2016) 𝜎𝐸 = 2,736𝐻𝑉 − 70,5 276,97 284,63
PAVLINA e VAN TYNE
𝜎𝐸 = −90,7 + 2,876𝐻𝑉 274,55 282,60
(2008)
Amostra de aço 1020 - 304,26
GERDAU (2003) - 345,00
Autores Modelo Proposto (MPa) Resultado para VL = 5860,70 m/s
ORLOWICZ et al., (2009) 𝐿𝑅𝑇 = 0,66𝑉𝐿 − 3194,29 673,77
FONSECA e REGULY
𝐿𝑅𝑇 = −7171,1 + 1,3𝑉𝐿 447,81
(2011)
Amostra de aço 1020 - 440,85
GERDAU (2003) - 440,00
Autores Modelo Proposto Dureza HV
CARREÓN et al. (2016) 𝐻𝑉 = 3,6019𝑉𝐿 − 21053 56,65
FUJITA e MASUDA
𝐻𝑉 = (𝐿𝑅𝑇 − 100)/2,5 139,12
(2014)
PAVLINA e VAN TYNE
HV = (𝐿𝑅𝑇 + 99,8)/3,734 146,65
(2008)
Amostra de aço 1020 - 127,00
GERDAU (2003) - 131,00
Fonte: Elaborado pela autora.

Utilizando o valor de LRT = 447,81 MPa, na relação proposta por Garcia, Spim e
Santos (2014) para a estimativa do valor de HB, e considerando também que HB = HV,
encontra-se:

LRT (MPa) = 3,45 . HV


HV = 447,81 / 3,45 = 129,80

O resultado mostra que o valor de LRT estimado por meio de VL pode ser utilizado
para a estimativa da dureza, uma vez que o valor obtido de 129,80 HV é muito próximo do valor
considerado para a amostra de aço 1020, que foi de 127 HV, e do valor de referência para o aço
1020 normalizado, que é de 131 HV. Por outro lado, utilizando nos modelos propostos para o
cálculo de HV o valor de LRT = 447,81 MPa, constata-se uma maior diferença de valores em
relação ao valor medido experimentalmente de 127 HV.
75

Entre os modelos utilizados, o modelo adaptado de Fujita e Masuda (2014) foi o


que mais se aproximou do valor de dureza medido na amostra de aço 1020, sendo calculado o
valor de 139,12 HV, como mostrado na Tabela 14. É importante ressaltar que os modelos
utilizados para o cálculo do LRT e HV foram concebidos a partir de materiais metálicos com
microestruturas diferentes da microestrutura do aço 1020 normalizado. Este fato pode justificar
porque alguns modelos apresentam valores muito diferentes dos valores medidos na amostra de
aço 1020. Portanto, assumindo que o valor de dureza é igual a 129,80 HV, cujo valor é mais
próximo do valor experimental de 127 HV, os valores de 𝜎𝐸 também se aproximaram mais do
resultado obtido com o ensaio de tração da amostra de aço 1020, estando em torno de 283 MPa
para ambos os modelos utilizados. Neste caso, supondo que o procedimento manual não tenha
influência sobre o valor obtido de 𝜎𝐸 = 304,26 MPa no ensaio de tração convencional, o modelo
de Fujita e Kuki (2016) se aproxima mais do valor obtido na amostra de aço 1020. Entretanto,
substituindo o valor de 139,12 HV, calculado com o modelo adaptado de Fujita e Masuda
(2014), no modelo de Fujita e Kuki (2016), encontra-se um valor de 𝜎𝐸 = 310,13 MPa, que é
mais próximo do valor experimental.
Para o cálculo do módulo de resiliência (𝑢𝑟 ) foram substituídos na Equação (13) os
valores de 𝜎𝐸 calculados com os modelos de Fujita e Kuki (2016) e, Pavlina e Van Tyne (2008),
além do valor de E, calculado a partir dos valore de VL, VT e . Os resultados encontrados para
a resiliência 𝑢𝑟 do aço 1020 estão apresentados na Tabela 15.

Tabela 15 – Valores calculados de resiliência para o aço 1020.


𝜎𝐸 (MPa) E (MPa) Equação 13 Resultado (N.mm/mm3)
284,63 1 𝜎𝐸2 0,193
209.620,00 𝑢𝑟 =
282,60 2𝐸 0,190
GARCIA, SPIM e SANTOS (2014) 0,182
SOUZA (2014) 0,182
Fonte: Elaborado pela autora.

O valor calculado para 𝑢𝑟 representa a energia de deformação necessária ao


comportamento elástico do aço 1020. Garcia, Spim e Santos (2014) e Souza (2014) concordam
que o valor 𝑢𝑟 para aços com baixo teor de carbono está em torno de 0,182 N.mm/mm3.
Portanto, o valor calculado de 𝑢𝑟 em torno de 0,192 N.mm/mm3 está de acordo com o esperado
para a maioria dos aços com baixo teor de carbono como o aço 1020. Entretanto, se na Equação
(13) for utilizado o valor da tensão de escoamento igual a 310,13 MPa, o valor calculado de 𝑢𝑟
76

será de 0,229 N.mm/mm3. Nesse caso, segundo Souza (2014), o resultado estaria indicando que
o material investigado se trata de um aço com médio teor de carbono, e, portanto, esse
procedimento foi desconsiderado neste estudo.
De acordo com dados disponíveis no makeitfrom.com (banco de dados on-line de
propriedades dos materiais: https://www.makeitfrom.com/material-properties/SAE-AISI-1020-
S20C-G10200-Carbon-Steel), pode-se encontrar o valor do módulo de resiliência (𝑢𝑟 ) variando
entre 0,15 a 0,38 N.mm/mm3. Porém, é importante observar que essa ampla faixa de valores
está associada às alterações microestruturais dos aços 1020, decorrentes dos diferentes tipos de
tratamentos térmicos. De qualquer forma, o valor calculado para a barra de aço 1020 também
está dentro da faixa de valores relatada para o aço 1020 em diferentes condições de tratamento
térmico.
77

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, os resultados obtidos demonstraram que o sistema eletrônico


utilizado foi eficaz para realizar as medidas das velocidades das ondas ultrassônicas em uma
barra de aço 1020. Até o presente trabalho havia uma incerteza sobre o uso desse sistema
eletrônico para investigar ligas metálicas ferrosas por meio de ultrassom. Logo, essa hipótese
foi comprovada com os valores calculados das velocidades ultrassônicas de modo longitudinal
(VL) e transversal (VT), que apresentaram percentuais de diferença em torno de 0,50% em
relação aos valores de referência para o aço 1020.
Para as propriedades elásticas calculadas da barra de aço 1020, tais como; o
coeficiente de Poisson (v), o módulo de elasticidade (E), o módulo de cisalhamento (G), o
módulo de compressibilidade (K), o índice de anisotropia (r) e a impedância acústica (Z), foram
encontrados, praticamente, valores idênticos aos valores de referência relatados na literatura
para o aço 1020. Entretanto, as constantes elásticas C11 e C12 apresentaram maiores diferenças
percentuais em relação aos valores de referência, sendo estes valores correspondentes a 5,48%
e 3,55%. Estes percentuais podem estar relacionados aos valores adotados como referência,
tendo em vista que muitos autores não especificam em seus estudos a condição de tratamento
térmico do aço 1020 estudado.
As propriedades mecânicas obtidas na amostra de aço 1020 com os ensaios
mecânicos convencionais mostraram valores muito próximos daqueles informados no catálogo
do fabricante. Com os ensaios mecânicos foi possível encontrar um valor de 440,85 MPa para
o LRT, que na prática é igual ao valor de referência de 440,00 MPa. Já no ensaio de dureza foi
encontrado um valor de 127 HB, sendo o valor de referência igual a 131 HB. A dureza medida
na amostra de aço 1020 também está de acordo com a relação estabelecida para os aços, onde
LRT = 3,45. HB. Este fato foi constatado quando o valor de dureza foi substituído por 127 HB,
sendo encontrado um valor de LRT = 438,15 MPa. Contudo, o resultado obtido de 304,26 MPa
para a tensão de escoamento (𝜎𝐸 ) foi menor do que o valor de referência, que é de 345 MPa.
Existe uma possibilidade de que a tensão de escoamento tenha sido influenciada
pela operação manual da máquina de ensaios universal. Por outro lado, o valor encontrado pode
ser de fato correspondente à tensão de escoamento da amostra, uma vez que o resultado se
encontra dentro da faixa de valores entre 230 e 350 MPa, que é esperada para o aço 1020.
Outros resultados reforçam a possibilidade de uma tensão de escoamento mais
baixa para a amostra de aço 1020. Por exemplo, testando o valor de dureza igual a 127 HV nos
modelos propostos por Pavlina e Van Tyne (2008) e Fujita e Kuki (2016), foi encontrado um
78

valor de 𝜎𝐸 em torno de 275 MPa. Entretanto, substituindo o valor de HV calculado com o


modelo de Fujita e Masuda (2014), no modelo de Fujita e Kuki (2016), encontrou-se um valor
de tensão de escoamento igual a 310,13 MPa. Esse resultado apresenta uma diferença de
aproximadamente 1,93% em relação ao valor de 𝜎𝐸 obtido no ensaio de tração. É importante
ressaltar que estes modelos foram concebidos por meio de valores estimados de dureza HV com
ondas ultrassônicas. Portanto, utilizando o modelo de Fonseca e Reguly (2011) para a
estimativa do LRT igual a 447,81 MPa por meio do valor de VL e aplicando a relação existente
entre LRT e HB, foi encontrado um valor de dureza igual 129,80 HB. Este resultado se aproxima
mais do valor de referência de 131 HB, considerando HB = HV. Desta forma, testando
novamente os modelos de Pavlina e Van Tyne (2008) e Fujita e Kuki (2016) com o novo valor
calculado de HV, foi encontrada uma tensão 𝜎𝐸 em torno de 283 MPa, que representa uma
diferença de aproximadamente 7% em relação à tensão de escoamento da amostra de aço 1020.
Entre os modelos investigados para a estimativa da dureza HV, o modelo de Fujita
e Masuda (2014) foi o que mais se aproximou do valor de dureza medido na amostra, sendo
encontrado um valor de 139,12 HV. Este resultado representa uma diferença de 9,54% em
relação ao valor medido na amostra e em torno de 6,20% em relação ao valor de dureza
fornecido pelo fabricante. Os modelos de Carreón et al. (2016) e Pavlina e Van Tyne (2008)
apresentaram valores mais distantes, sendo de 56,65 HV e 146,65 HV, respectivamente.
O valor estimado do módulo de resiliência (𝑢𝑟 ) em torno de 0,192 N.mm/mm3
também foi muito próximo do valor relatado para os aços com baixo teor de carbono, que é de
0,182 N.mm/mm3. Esse resultado indica uma boa estimativa dos valores da tensão de
escoamento e do módulo de elasticidade (E) calculado para a barra de aço 1020.
Todos os valores calculados se apresentaram muito próximos dos valores de
referência, indicando que a metodologia utilizada favorece uma boa estimativa das constantes
elásticas, bem como das propriedades mecânicas. Ressalta-se ainda que todos os resultados
foram obtidos a partir de um pequeno percentual de energia acústica transmitida de 6,30%.
Portanto, os resultados encontrados neste trabalho permitiram concluir que o
sistema eletrônico emissor e receptor de ondas ultrassônicas pode ser aplicado na caracterização
não destrutiva de ligas metálicas ferrosas, consistindo em uma metodologia, simples e rápida
para a estimativa de constantes elásticas e propriedades mecânicas do aço 1020 normalizado.
79

REFERÊNCIAS

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ensaio à temperatura ambiente. [S.l.], 2013. Disponível em:
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