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Como especificar galerias pré-moldadas de concreto

(Revista Infraestrutura Urbana n. 19, out.2012, Pini)

As características técnicas e os cuidados da especificação e fiscalização de tubos de concreto armado


pré-fabricados utilizados em obras de drenagem e saneamento

Por Cleide Floresta

Usadas para drenagem pluvial, condução de esgoto e em aterros sanitários, entre outras obras, as
galerias pré-fabricadas de concreto armado são produzidas em processos industriais e chegam quase
prontas ao canteiro, o que pode representar ganho de tempo, qualidade e durabilidade na implantação
de uma rede.

Além de servirem de tubulação, são ao mesmo tempo a estrutura do sistema, sendo constituídas por dois
tipos principais de peças: os tubos circulares ou ovóides e as aduelas. Estas últimas, também chamadas
de galerias celulares, são quadradas ou retangulares e em seção fechada ou aberta - neste caso, um
canal em "U". Como têm aplicações similares, o que tem determinado a utilização de uma ou outra peça
é a dimensão da obra.

Canalizações ou drenagens de grande vazão exigem que as galerias tenham aberturas maiores e,
neste caso, a solução são as aduelas. Isso porque em 90% dos casos, segundo Alírio Gimenez, diretor
técnico da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tubos de Concreto (ABTC), os tubos chegam a 2 m
de diâmetro, sendo o mais comum encontrá-los com 1,5 m.
Os maiores até existem, mas exigem equipamentos mais sofisticados e caros para a produção e são
mais difíceis de serem transportados. Já as aduelas chegam a aberturas de 5 m x 4 m e podem ser
produzidas em peças bipartidas para serem montadas no local da obra, facilitando o transporte.
Além da disponibilidade de diâmetros necessários, outros critérios de avaliação para escolha do tipo de
tubulação de concreto armado são as condições de escoamento, resistência a cargas internas e
externas, resistência à abrasão e à ação de substâncias agressivas e condições de impermeabilidade e
juntas adequadas.
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Aduelas e tubos pré-moldados de concreto devem ser resistentes ao ataque químico de esgotos, ou seja, à corrosão por ácido sulfúrico, que ataca
o cimento e diminui a resistência da tubulação até o rompimento da canalização. Ao lado, ensaio de permeabilidade e estanqueidade da junta em
tubos para águas pluviais providos de junta elástica

“Até um tempo atrás, na grande maioria das vezes, as canalizações eram feitas com peças moldadas
no local. Para canalizar um córrego, a empresa ia lá e fazia tudo no local: escavava, acertava o leito,
montava as fôrmas e concretava. Com a criação das normas técnicas para as peças industrializadas em
2006 e as garantias industriais, o mercado ganhou força e confiança e hoje o trabalho é feito com
galerias pré-fabricadas", afirma Gimenez.
De acordo com o engenheiro Claudio Oliveira Silva, gerente de inovação e sustentabilidade da
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), seja qual for o tipo de peça a ser usado, o
importante é exigir do fabricante o cumprimento das normas técnicas no processo de fabricação. De
acordo com ele, seguindo o que é estipulado, o fornecedor consegue garantir qualidade e durabilidade
aos tubos.
Instalação e fiscalização
Um tubo ou aduela de concreto pré-fabricado tem uma expectativa de vida útil de 100 anos, por isso
os engenheiros chamam a atenção para a execução da obra, crucial para o bom funcionamento das
galerias. "A maioria dos problemas que aparece em uma rede é em relação à instalação. Muitos ligados
à compactação. Então, é preciso tomar cuidado com essa etapa. Tanto que, desde 2008, há uma
norma específica [a no 15.645] sobre como deve ser a execução das obras", afirma Silva.
Gimenez dá como exemplo uma rede para a drenagem das águas das chuvas. Seja ela construída com
aduelas ou tubos circulares, a obra não pode ter grandes inclinações. Se fizer uma galeria muito
inclinada, a velocidade da água nos canais pode desgastar precocemente as paredes de concreto.
"Limitamos as declividades para diminuir as velocidades e ter uma durabilidade maior. É comum, por
exemplo, que o tubo de uma rede seja muito bem feito, mas que o solo tenha um recalque localizado
que provoque o desacoplamento do tubo. O órgão público precisa detectar o problema em inspeções
regulares e arrumar", afirma o engenheiro.
Classe de resistência
A especificação da classe de resistência do tubo de concreto só é possível a partir da determinação da
carga total incidente sobre a rede (somatória das cargas de terra e das cargas móveis) e do fator de
equivalência. Essas questões, por sua vez, prescindem da realização de sondagens que mostrarão as
tensões admissíveis do solo e consequentemente sua capacidade de suporte, para definição do tipo de
base de assentamento das tubulações.
As classes de resistência previstas na NBR 8890/03 para tubos de concreto destinados à condução de
águas pluviais são: PS1 e PS2 - para tubos de concreto simples (diâmetro de 200 mm a 600 mm);
PA1, PA2, PA3 e PA4 - para tubos de concreto armado (diâmetro de 300 mm a 2.000 mm).
Os fatores de resistência dos tubos de concreto, assim como outros requisitos de qualidade, devem ser
controlados pelo contratante ou fiscal de obra, a fim de garantir o perfeito atendimento às
especificações exigidas no projeto e na normalização. Do mesmo modo, os anéis de borracha para a
junta elástica também devem ser submetidos a testes. Os ensaios de controle de qualidade para o
recebimento dos tubos na obra, conforme previstos na NBR 8890/03, envolvem:
Verificação das características geométricas (análise dimensional);
Determinação da resistência à compressão diametral;
Determinação do índice de absorção de água;
Verificação da estanqueidade de junta (quando tiver junta elástica);
Verificação do índice de absorção de água, tração, deformação e envelhecimento.

Agressividade do meio
Assim como na condução de esgoto é preciso utilizar um cimento especial, a agressividade do meio
precisa ser levada em conta na fabricação de uma galeria. Ela vai influenciar não apenas a elaboração
do concreto, como o comprimento das armaduras, espessura de paredes etc.
No caso de uma canalização junto ao mar, por exemplo, as peças têm outros requisitos técnicos.
Quanto maior o comprimento da armadura (compostas por barras de aço ou telas soldadas, conforme
NBR 7480 ou NBR 7481), por exemplo, maior será a durabilidade da peça. Se o comprimento da
armadura é pequeno, a possibilidade de ela sofrer com os aspectos do meio - como maresias e sal -
são maiores.
Especificações por tipo de obra
Saneamento básico
Independentemente da dimensão, quando a opção é pelas peças de concreto, o uso dos tubos
circulares são obrigatórios na condução de esgotos e efluentes sanitários (emissários e redes troncos
de esgotamento sanitário) por possuírem tecnologia capaz de garantir a estanqueidade do sistema.
Isso porque ele resiste ao ataque químico dos resíduos e é fechado por juntas elásticas (anéis de
borracha) que permitem uma vedação de 100%, evitando risco de contaminação do solo. Esses tubos
também devem ser fabricados com um tipo de cimento especial, resistente a sulfato.
Drenagens e canalizações
Podem ser usados aduelas ou tubos circulares, com juntas rígidas - argamassa de areia e cimento. No
caso das galerias celulares, há ainda a opção de usar a manta geotêxtil por fora da junta macho e
fêmea. No caso de uma pequena movimentação que venha a trincar o rejuntamento, o material evita o
carreamento do solo.
Travessia subterrânea
É possível usar tubos ou aduelas, mas a especificação do tipo de peça depende do uso do local. Por
exemplo: travessias em estradas que passam por regiões ecológicas e que permitem o trânsito de
animais por baixo da pista podem ser feitas com aduelas. Neste caso, também pode-se usar uma
variação dos tubos circulares, os ovóides, que têm a base linear.
Aterros sanitários
Em grandes alturas de aterros, quando a opção é pelos tubos de concreto, os tipos ovóides são a
principal opção. Mas também é possível usar aduelas ou tubos circulares.
Galerias técnicas
Solução para enterrar toda a fiação aparente das cidades, as galerias técnicas ainda estão em fase de
desenvolvimento. Segundo Alírio Gimenez, diretor técnico da ABTC, a associação está fazendo um
trabalho com a Prefeitura de São Paulo, mas tem sido difícil a implantação. Construídas com aduelas, o
conceito básico das galerias técnicas é compartilhar o uso do subsolo enterrando toda a rede elétrica
que fica aérea. Em uma mesma galeria poderiam passar as empresas de telecomunicações, telefonia,
fibra óptica, gás, energia elétrica. "Isso ainda é uma realidade distante da nossa, mas estamos
começando a discutir esse assunto. Ninguém quer arrancar todos os fios que têm pela cidade e
enterrar, mas os novos empreendimentos, a gente já quer fazer alguns testes para fazer desta forma",
defende o diretor, que explica que a manutenção desse sistema é muito mais fácil por permitir que os
técnicos andem pelas galerias com facilidade.
Tubos para cravação
Tubos de concreto de alta resistência à compressão axial (50 MPa a 80 MPa) são usados na construção
de galerias de água pluviais, esgotos, canalização de dutos telefônicos e elétricos executados por
métodos não destrutivos. Nessas obras, os tubos, cuja fabricação é normatizada pela NBR
15.319/2006, são impulsionados continuamente por perfuratrizes pneumáticas e cravados no solo.
Tubos com fibras
Tubos de concreto reforçados com fibras de aço podem ser utilizados em obras de saneamento,
drenagem e tratamento de esgotos. O que os difere dos tubos de concreto com armadura convencional
é, sobretudo, sua durabilidade e resistência, notadamente superiores. A NBR 8890, de 2007, normatiza
os parâmetros de qualidade das tubulações reforçadas, enquanto a NBR 8890 estabelece os
parâmetros para os materiais a serem utilizados na fabricação dos componentes dos tubos, que devem
trazer gravados no concreto o nome ou marca do fabricante, o diâmetro nominal, a classe a que
pertencem ou sua resistência, além da data de fabricação e um número para rastreamento das
características do fabricante.

Requisitos normativos

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Ensaio para os anéis de borracha

Dimensões e tolerâncias: os anéis devem ser fornecidos identificados com o nome ou a


marca do fabricante dos tubos.

Resistência à tração: não deve ser inferior a 10,5 MPa.

Alongamento de ruptura: não deve ser inferior a 350%.

Dureza: em graus Shore A, deve atender a três faixas: (45 +- 5)º; (55+-5)º; (65+-5)º

Deformação permanente à compressão: a deformação não deve ultrapassar 25% na


temperatura de 70ºC por 22 horas.

Envelhecimento acelerado: não deve ultrapassar os valores a seguir, após permanência à


temperatura de 70ºC por período de 70 horas:

a) perda máxima de tensão à tração de ruptura (em relação ao valor original da mesma
amostra): 15%

b) máximo decréscimo no alongamento de ruptura (em relação ao valor original da mesma


amostra): 20%

Absorção de água: não deve ultrapassar 10% em massa após período de 48 horas à
temperatura de 70ºC

Imersão em óleo: após imersão em óleo número 3 (durante 70 horas a 70ºC), deve
apresentar variação de volume máxima de 50%

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