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A
tualmente, o tubo de concreto é o em 1930, “The Theory of External Loads on podem sofrer deformações superiores a
material mais utilizado em obras de Closed Conduits in The Light of The Latest 3% no diâmetro, sem apresentar fissuras
drenagem de águas pluviais e esgotos Experiments” (ACPA, 1980). prejudiciais (Ex: tubos de PVC, tubos de
sanitários, em diâmetros superiores a 400 mm, Quanto ao dimensionamento, existem polietileno e tubos de aço).
funcionando como conduto livre. princípios básicos que regem o compor- Os tubos rígidos não se defletem, por-
Neste artigo, abordam-se os aspectos relati- tamento estrutural de tubos enterrados tanto, não precisam do solo de envolvi-
vos ao projeto e execução de obras com tubos em geral, que são determinantes na fase mento lateral como apoio e sua capacida-
de concreto de seção circular, em conformi- de projeto e execução de obra, visto que de de carga depende apenas da resistência
dade com a ABNT NBR 8890:2020. Entre- o tipo de material do tubo influi de maneira do próprio tubo e da base. Neste caso, o
tanto, existem outras soluções em concreto decisiva no dimensionamento e nos cuida- sucesso do empreendimento depende-
que são utilizadas para drenagem e esgotos dos a serem tomados na fase de instalação, rá da execução da base de assentamento
sanitários, conforme segue: conforme segue: exatamente como dimensionada.
u Tubos de concreto de seção circular des- u Tubos Rígidos: são aqueles que, quan- Os tubos flexíveis se defletem, portan-
tinados à cravação (“Pipe Jacking”), con- do submetidos à compressão diame- to, sua capacidade de carga não pode ser
formeABNT NBR 15319, para execução de tral, podem sofrer deformações de até analisada considerando o tubo isolada-
obras pelo método não destrutivo – MND; 0,1% no diâmetro sem apresentar fissu- mente, mas sim o sistema tubo + solo. Nes-
u Galerias celulares em concreto (aduelas), ras prejudiciais (Ex: tubos de concreto te caso, a importância do solo de envolvi-
conforme a ABNT NBR 15396, de seção e tubos cerâmicos); mento lateral é crucial. Quanto mais rígido
quadrada ou retangular, fechada ou aber- u Tubos Semirrígidos: são aqueles que, ele for, melhor a capacidade de carga do
ta, aplicadas para drenagem e canaliza- quando submetidos à compressão diame- tubo. Desta forma, o sucesso do empreen-
ções de córregos; tral, podem sofrer deformações no diâme- dimento dependerá da qualidade do enve-
u Poços de visita e inspeção para sistemas en- tro superiores a 0,1% e inferiores a 3%, sem lopamento do tubo (base, aterro lateral e
terrados, conforme ABNT NBR 16085. apresentar fissuras prejudiciais (Ex: Tubos aterro superior).
de ferro fundido e PRFV – Tubos de poli- A seguir apresentam-se os conceitos
1. INTRODUÇÃO éster reforçados com fibra de vidro); envolvidos no projeto e dimensionamento
O projeto e dimensionamento de tubos u Tubos Flexíveis: são aqueles que, quan- de tubos abordando aspectos do projeto
de concreto envolvem duas etapas princi- do submetidos à compressão diametral, hidráulico e, posteriormente, considera-
pais (ZAIDLER, 1983): ções mais detalhadas sobre o projeto es-
u Projeto hidráulico; trutural e a execução de obras.
u Projeto estrutural.
No projeto hidráulico são tomadas as 2. PROJETO E DIMENSIONAMENTO
decisões necessárias para garantir o bom
desempenho do condutor e definidas suas 2.1 Projeto Hidráulico
características relativas à vazão, declividade
da rede, diâmetro, locação em planta e corte, Para calcular o diâmetro do tubo a ser
profundidades, entre outros, levando-se em utilizado na rede de águas pluviais ou de
conta todas as ações hidráulicas atuantes. esgoto, seja tubo de concreto ou qualquer
No projeto estrutural, os conceitos e teo- outro material, é necessário conhecer a va-
rias que constituem a base do projeto de tu- zão transportada.
bos de concreto se resumem à determinação No caso de águas pluviais, é necessário
dos carregamentos e ao dimensionamento. determinar a área de contribuição da ba-
Em relação às cargas atuantes nos tu- cia, as declividades e as dimensões mais
FIGURA 1
bos, diversas teorias foram desenvolvidas econômicas. Diretrizes auxiliares podem
Carga sobre tubos enterrados
e testadas, sendo o estudo mais conheci- Fonte: Zaidler, 1983 ser obtidas em Fendrich et al, 1997; Wilken,
do e consolidado o de Marston, publicado 1978; e Tucci et al, 1995.
[1]
Onde:
Os coletores de esgoto, interceptores Onde: QT = carga total;
e emissários são projetados para funcionar Q1 = carga sobre o tubo, por unidade de Q1 = carga de terra;
como condutos livres. Neste caso, devem comprimento; Q2 = carga móvel;
ser obedecidas as recomendações prescri- Cv = coeficiente de carga de Marston para Qn = outras cargas.
tas nas ABNT NBR 9648, ABNT NBR 9649 tubos instalados em vala;
e ABNT NBR 12207. Diretrizes auxiliares Ca = coeficiente de carga de Marston para 2.2.2 Dimensionamento
podem ser obtidas em Tsutiya e Sobrinho, tubos instalados em aterro;
2ª edição – 2000. γ = peso específico do solo de reaterro; O dimensionamento dos tubos de con-
B = largura da vala, no nível da geratriz su- creto se resume ao cálculo de um tubo
2.2 Projeto Estrutural perior do tubo conforme Fig. 2; capaz de resistir a uma determinada car-
D = diâmetro externo do tubo. ga num determinado ensaio de laborató-
2.2.1. Cargas As cargas móveis são resultantes do rio. Este processo é conhecido como de
tráfego na superfície e podem ser calcu- Spangler e Marston, sendo largamente
Há dois tipos principais de cargas a ladas aplicando-se a teoria de Boussinesq, aceito e aplicado no caso de tubos rígidos.
serem consideradas no cálculo dos tu- supondo o solo como um material elástico O método de ensaio mais co-
bos: a carga de terra e as cargas móveis. e isótropo. Uma abordagem que, em geral, nhecido para determinar a classe de
A carga de terra é resultante do peso atende a maioria
do prisma de solo situado diretamente dos casos práticos
acima da tubulação (ABCD), que é mo- consiste em consi-
dificado por forças de atrito geradas derar que a pressão
pelo movimento relativo entre esse e os vertical, provenien-
prismas laterais adjacentes. A Figura 1 te de forças aplica-
mostra o prisma de solo 1 acima da tu- das na superfície,
bulação, os prismas laterais representa- se propague com
dos pela força F e o solo de enchimento ângulo variando
lateral 2. de 35º conforme a
A carga de terra pode ser calculada rigidez do solo (Fi-
pelas fórmulas de Marston e depende gura 3).
principalmente do tipo de tubo (rígido Para sobrecar-
ou flexível), tipo de solo, profundidade e gas provenientes
tipo de instalação, sendo que este último do tráfego rodoviá-
pode ser do tipo vala ou aterro, conforme rio, pode-se adotar
Figura 2. as mesmas forças
Para tubos rígidos, das fórmulas de empregadas nos FIGURA 3
Distribuição de pressões sobre o tubo devido à força Q
Marston temos: projetos de pontes aplicada na superfície
u Instalação em vala: Q1 = Cv . γ . B2 (NBR 7188), que di- Fonte: El Debs, 2002
u Instalação em aterro: Q1 = Ca . γ . D2 vide as pontes ro-
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TABELA 1
Valores das cargas rodoviárias – veículo classe 450
resistência de um tubo é o de três cutelos projeto, mas principalmente da boa obser- Após este cálculo, deverá ser escolhida
(Figura 4). vância deste na fase da construção. Even- a classe de resistência do tubo que atende
A relação entre a efetiva resistência tuais aperfeiçoamentos da análise estru- ao valor calculado, conforme o tipo de uso,
do tubo e a carga fornecida pelo ensaio tural podem ser anulados pelo emprego consultando a NBR 8890/2020.
de três cutelos é dada por um fator de de processos construtivos inadequados. Escolhida a classe do tubo, os tubos
equivalência (fe). Este fator leva em con- A carga atuante sobre a tubulação é produzidos devem ser submetidos ao en-
sideração principalmente as condições calculada através da fórmula: saio de compressão diametral pelo método
de assentamento (condição de vala ou dos três cutelos, para verificação do aten-
[2]
aterro) e a base de assentamento. dimento dos valores prescritos em Norma,
Portanto, o êxito de uma obra não de- Onde: sendo que:
pende apenas da elaboração de um bom Q = carga atuante sobre a tubulação; u Tubos de concreto simples
QT = Q1 + Q2 + Q3 + Qn = cargas atuan- Q < Q ruptura (conforme tabela
tes na tubulação (terra, carga móvel, e A.4 – NBR 8890)
outras cargas); u Tubos de concreto armados
fe = fator de equivalência em função do Q < Q mínima isenta de fissura (confor-
tipo de assentamento da tubulação. me tabela A.5 – NBR 8890)
FIGURA 4
Método de 3 cutelos para ensaio FIGURA 5
de tubos Escoramento adequado das valas
FIGURA 7
Regularização do fundo da vala
3. EXECUÇÃO DE OBRAS
Compõe as etapas de execução de
obras lineares: a locação e nivelamen-
to, sinalização, levantamento ou rom-
pimento do pavimento, escavação, es-
coramento, esgotamento das valas ou
rebaixamento do lençol freático, assen-
tamento, reaterro, execução de poços
de visita e inspeção, reposição do pavi-
mento e cadastro.
Neste artigo serão abordados al-
guns aspectos das etapas de escava-
ção, escoramento, assentamento e rea-
terro (fechamento das valas), que são
mais relevantes para entender onde
normalmente ocorrem os problemas
FIGURA 9
e acidentes. Apoio sobre leito de material granular
Para conhecimento mais aprofundado
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FIGURA 10
Apoio sobre lastro, laje e berço contínuo
FIGURA 11
Fundação
inicial tenha sido feito com precisão igual No caso de escavação em rocha, ou A má execução das bases de apoio
ou maior. quando se tratar da instalação de tubos anula completamente todas as premissas
Os tubos devem estar limpos interna- flexíveis (tubos plásticos), a base deverá e cuidados adotados no dimensionamen-
mente e sem defeitos, não podendo ser obrigatoriamente ser executada com ma- to, compromete a qualidade e durabilida-
assentados tubos danificados. terial granular fino (Figura 12). de e causa sinistros. A não regularização
À medida que for sendo concluída a Na execução das bases, um dos obje- da base e da abertura de cavidade para
escavação e o escoramento, deve ser feita tivos é garantir que todo o corpo do tubo acomodar a bolsa acarreta concentração
a regularização e o preparo do fundo da fique apoiado no fundo da vala, de maneira de cargas na região, provocando trincas
vala (Figura 7). que ocorra uma distribuição uniforme das no tubo.
A descida dos tubos na vala deve ser cargas sobre a tubulação. Portanto, deve Quando se trata de tubo flexível, deve
feita cuidadosamente, manualmente ou ser executado um pequeno rebaixo para ser executado lastro com material gra-
com o auxílio de equipamentos mecânicos. acomodar a bolsa do tubo. nular (normalmente areia). A acomoda-
Os tubos de concreto podem ser as- Nos casos de apoio sobre laje de con- ção de todo o corpo do tubo irá garantir
sentados sobre um dos seguintes tipos de creto, a execução do berço se faz necessá- (junto com o aterro lateral e camada
apoio: apoio direto; apoio sobre leito de ma- ria para preencher os vazios sob a tubula- de 30cm acima da tubulação) o perfei-
terial granular fino (areia, pó de pedra, brita ção e garantir o perfeito apoio. to confinamento, evitando que haja uma
nº 1 ou cascalho), ou apoio sobre laje e ber-
ço contínuo, de concreto (Figuras 8, 9 e 10).
Em terrenos compressíveis e instáveis,
o apoio da tubulação pode ser feito sobre
laje de concreto (Figura 10) que, depen-
dendo da espessura da camada, deve ser
executada sobre fundação composta por
lastro de brita 3 e 4 ou cascalho grosso,
com espessura mínima de 15 cm; embasa-
mento de pedra de mão, com espessura
máxima de 1,00 m; ou estacas com diâme- FIGURA 12
tro mínimo de 0,20 m e comprimento míni- Base com material granular fino
mo de 2,00 m (Figura 11).
FIGURA 14
Base não regularizada, uso de material inadequado e tubulação colapsada
Fonte: ACPA, 2011
deflexão diametral acima do limite tolera- No caso de tubos flexíveis (PVC, Po- do tubo, pode ser utilizado o próprio ma-
do pelo material (Figura 13). lietileno), obrigatoriamente deverá ser terial escavado.
Nestes casos, a não regularização da feito o confinamento do tubo com mate- Entretanto, o que vemos na prática
base e execução do aterro lateral com ma- rial granular (base, aterro lateral e aterro é a execução feita de forma inadequada
terial granular (normalmente areia) impe- até 30 cm acima da geratriz superior do como tentativa de ganhar produtivida-
dem o perfeito confinamento do tubo, pro- tubo), conforme Figura 16. No reaterro, de, comprometendo irreversivelmente a
vocando uma deflexão diametral acima do após 30 cm acima da geratriz superior qualidade e vida útil da obra. Como visto
limite tolerado pelo material. Tal deflexão
provocará uma inversão de curvatura e co-
lapso da tubulação (Figura 14).
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FIGURA 16
Reaterro de tubos de polietileno (flexível)
anteriormente, uma má execução anula e projeto e da obediência dele na fase de to topográfico; falta de levantamento
compromete todas as premissas e cuida- execução, assim como da aplicação de das interferências no local da obra; man-
dos adotados no cálculo e causa sinistros materiais que atendam às Normas Téc- ter valas abertas por longos períodos;
(Figura 17). nicas Brasileiras. aplicar materiais inadequados ou que
Os problemas e sinistros que geral- não atendem às normas e especifica-
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS mente ocorrem nas obras de galerias de ções; falta de escoramento das valas; e
O sucesso de um empreendimento águas pluviais e esgoto sanitário estão execução da base, aterros laterais e rea-
depende fundamentalmente de um bom relacionados com: falhas no levantamen- terro superior de forma inadequada.
FIGURA 17
Reaterro sem compactação, reaterro com material inadequado e sem compactação e reaterro com material inadequado e
compactação errada (uso de equipamento sobre o tubo)
A Figura 18 mostra alguns absur- tamento, tubo subdimensionado, sinis- tubo flexível e assentamento aéreo de
dos cometidos como: falhas no assen- tro devido falta de confinamento do tubo flexível.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[4] ABNT NBR 7188-2013, Carga móvel rodoviária e de pedestres em pontes, viadutos, passarelas e outras estruturas
[5] ABNT NBR 9648:86, Estudo de Concepção de Sistemas de Esgoto Sanitário
[6] ABNT NBR 9649:1986, Projeto de Redes Coletoras Esgoto Sanitário.
[7] ABNT NBR 12207:2016, Projeto de Interceptores Esgoto Sanitário.
[8] ABNT NBR 17015:2022, Execução de obras lineares para transporte de água bruta e tratada, esgoto sanitário e drenagem urbana, utilizando
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[12] TUCCI, CARLOS E. M.; PORTO, RUBEM LA LAINA; BARROS, MÁRIO T. DE. Drenagem Urbana. Associação Brasileira de Recursos Hídricos –
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[13] ZAIDLER, WALDEMAR. Projetos estruturais de tubos enterrados. PINI Editora, São Paulo, S.P., 1983.
[14] WILKEN, PAULO SAMPAIO. Engenharia de Drenagem Superficial. São Paulo, Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, 1978. 478p.
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