Você está na página 1de 15

1

Vantagens e desvantagens do uso de alvenaria em bloco


estrutural frente a pandemia de Covid-19

Leonardo Oliveira da Silva – leo-faeely@hotmail.com


MBA em Projeto, Desempenho e Construção de Estruturas e Fundações
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Garanhuns, PE, 08/01/2022

Resumo
A utilização da alvenaria estrutural é comum há milhares de anos, e este método
construtivo apresentava largas dimensões, diante da ausência de compreensão
sobre resistência dos materiais e técnicas de cálculo. Na atualidade, frente a uma
crise intensa enfrentada pela população, há uma busca constante por alternativas
que minimizem as dificuldades impostas aos profissionais da engenharia civil e
empresas do ramo. Esse projeto tem como objetivo, através de pesquisas
bibliográficas, afirmar a viabilidade com relação aos custos de alvenaria estrutural,
especialmente na pandemia da Covid-19 devido a instabilidade do preço do aço,
além de mostrar as vantagens e desvantagens já existentes desse método
construtivo. Na fase pré-pandemia houve a constatação do menor custo,
consequentemente, uma maior economia. Na pandemia, essa diferença de custo e
econômica vieram a se intensificar por consequência da alta dos preços de aço,
assim, tornando-a uma opção viável frente as instabilidades. Em relação às
vantagens técnicas a alvenaria estrutural se torna mais eficaz na execução de
paredes, armaduras, sustentabilidade, entre outros. Entre as poucas desvantagens
que existem, estão a impossibilidade de alteração da arquitetura, intenso
monitoramento das etapas da obra, limite na disposição das paredes,
dimensionamento dos vãos e restrição quanto à altura da edificação.

Palavras-chave: Alvenaria estrutural. Pandemia. Covid-19. Vantagens.


Racionalização.

1. Introdução
A utilização da alvenaria estrutural é recorrente há milhares de anos, uma vez
que resgata a época dos egípcios, gregos e romanos. A execução desse sistema
neste período era sem nenhuma base teórica, nem conhecimento cientifico,
fazendo-se uso apenas da experiência obtida (PINHEIRO, 2018:05). De acordo com
Cavalheiro (2012:01), as alvenarias rudimentares apresentavam largas espessuras
em suas construções grandiosas, diante da falta de compreensão sobre resistência
dos materiais e métodos racionais de cálculo.
Na atualidade, diante de uma intensa crise encarada pela população mundial
há uma busca constante por alternativas que venham a driblar, minimizar ou superar
as dificuldades impostas aos profissionais da engenharia civil e empresas do ramo.
Diante da concorrência no mercado e pela necessidade de racionamento de custos,
a alvenaria em bloco estrutural se apresenta como uma opção com viabilidade
econômica sem perda de qualidade de desempenho da estrutura (PINHEIRO,
2018:01).
2

Diferentemente da estrutura convencional - a qual tem sido utilizada nos


processos construtivos desde a Antiguidade, a alvenaria em bloco estrutural consiste
num sistema de construção em que a estrutura e a vedação são efetuadas em
conjunto. Isto é, a parede possui duas atribuições: separar os cômodos e, ao mesmo
tempo, dispersar as cargas de edificação à fundação. Este complexo dispensa a
utilização de vigas e pilares, e permite construções simples, de muros, residências
até hipermercados e indústrias (ADOLFO & POLETO, 2019:03).

Figura 1 - Representação de um edificio em alvenaria estrutural em bloco de concreto


Fonte: Inova Concreto (2018)

Figura 2 - Representação de um edificio em alvenaria convencional


Fonte: AEC Web. https://www.aecweb.com.br/produto/vedacao-racional-e-alvenaria-estrutural/46597

De acordo com Pinheiro (2018:11), é fundamental que no caso da utilização de


alvenaria em bloco estrutural haja a realização de um plano bem detalhado e
3

harmonizado com os outros projetos, uma vez que no futuro não haja alterações que
possam comprometer a segurança da edificação.
Segundo a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) (2013), no
Brasil, a utilização de alvenaria estrutural iniciou na década de 60, entretanto
somente no final dos anos 80 e início dos anos 90 esse sistema de construção se
potencializou e a coparticipação de universidades e empresas permitiram o
desenvolvimento de materiais e equipamentos nacionais para elaboração da
alvenaria. Dessa maneira, passou a ser dimensionada baseadas em noções
técnicas e discriminada de maneira racional.
Ao observar a estagnação ou diminuição da demanda por construções civis
devido a elevação súbita e com crescimento constante no preço do aço, provocada
pela pandemia de Covid-19, é valido o aprofundamento no estudo sobre as
vantagens e desvantagens da utilização de alvenaria estrutural. Esta é um método
construtivo que utiliza o mínimo de aço possível, uma vez que a transferência de
cargas da edificação é realizada pelas paredes em bloco de concreto ou cerâmico.
No contexto atual, o Brasil, assim como todo o restante do mundo passa por
uma pandemia do novo Corona vírus, e uma das principais medidas de controle da
propagação do vírus é o isolamento social, e com isso trouxe impactos negativos à
economia do país, e consequentemente, o acúmulo dos custos da construção civil
(MIRANDA, 2021:13). Segundo Amorim (2021), entre os artigos mais utilizados na
construção civil, os produtos derivados do aço foram os que obtiveram uma maior
variação de preço neste período pandêmico, sendo os tubos e conexões com alta de
91,66% em 12 meses até junho de 2021, e vergalhões e arames, com 78,35%.
Diante do que foi exposto, o objetivo do presente trabalho é afirmar a
viabilidade com relação aos custos de alvenaria estrutural, especialmente na
pandemia do novo Corona vírus devido à instabilidade do preço do aço. Além disso,
mostrar as vantagens e desvantagens já existentes desse método construtivo.

2. Desenvolvimento
2.1 ABNT – NBR 14868:2020
A norma técnica NBR 14868, publicada em agosto de 2020 incorpora as
antigas diretrizes no que diz respeito ao método construtivo com blocos estruturais
de concreto e cerâmico. É dividida em 3 partes: projeto, execução e controle de
obras e métodos de ensaio, respectivamente, e de maneira geral determina as
exigências para o projeto de alvenaria estrutural.
A NBR 16868-1 estabelece os requisitos mínimos de projeto, que totalizam 4
itens: qualidade da estrutura, em que se exige uma capacidade mínima de
resistência, desempenho em serviço e durabilidade das estruturas; qualidade do
projeto; documentação do projeto, o qual inclui desenhos técnicos e suas
especificações; e finalmente a avaliação da conformidade, com o intuito de analisar
se o projeto atende aos requisitos aceitáveis.
A NBR 16868-2 contempla os requisitos para execução e controle de obras
de alvenaria estrutural. Vale salientar que essa parte da norma ressalta os requisitos
gerais de controle, os quais se dividem em: planejamento e procedimentos. Não
menos importante, ainda há o item de recebimento e armazenagem de materiais e
4

componentes dispondo que todos eles devem ser inspecionados com o objetivo de
identificar irregularidades.
A NBR 16868-3 engloba os métodos de ensaio de elementos de alvenaria,
tais como pequenas paredes, parede e prisma, que são submetidos às tensões de
cisalhamento, flexão, flexo compressão e compressão axial. Dentro desses
procedimentos de ensaio, cada item possui sua aparelhagem especifica, corpo de
prova com seus devidos parâmetros e dimensões, execução do ensaio, expressão
dos resultados e sendo finalizado com o seu respectivo relatório.

2.2 Os tipos de blocos e suas famílias


Os blocos industrializados e modulados possuem uma configuração externa
de paralelepípedo, e são fáceis de ser manuseados. Além disso, podem ser
maciços, vazados ou perfurados, e de materiais e processos de fabricação variados
(CAVALHEIRO, 2012:04). De acordo com Melo e Carvalho (2020:01), a alvenaria
pode ser constituída por blocos de concreto ou de cerâmica, com o uso de
elementos compensadores. Tal conjunto é produzido com um rígido padrão de
excelência, obtendo-se peças com as mesmas medidas, e por consequência, um
perfeito encaixe entre os blocos.
Segundo a NBR 15270-2:2005, o bloco cerâmico estrutural deve ser
produzido por conformação plástica de matéria prima argilosa, incluindo ou não
aditivos e queimado em altas temperaturas. Além disso, não podem apresentar
falhas sistemáticas, como, por exemplo, quebras, superfícies irregulares ou defeitos
que impeçam seu emprego em suas respectivas funções. A família mais usual dos
blocos cerâmicos é a 14x19, retratada pela figura 3, com diferentes resistências.

Figura 3: família de blocos cerâmicos 14x19 com diferentes resistências.


Fonte: Pauluzzi blocos cerâmicos, https://pauluzzi.com.br/blocos-ceramicos-estruturais/

Os blocos de concreto podem ser considerados maciços ou vazados. Os


primeiros possuem um índice de vazios de até 25% da sua área total, e os segundos
ultrapassam tal limite. A resistência dos blocos é descrita pelo Fbk, sendo os valores
mínimos de 4,5Mpa e 6Mpa para paredes internas com revestimento e paredes
externas sem revestimento, respectivamente (NONATO, 2013:03). As dimensões
contidas nas famílias 14x29 e 14x39 são as mais usuais, representadas pelas
figuras 4 e 5.
5

Figura 4: família de blocos de concreto 14x39


Fonte: Tauil (2010)

Figura 5: família de blocos de concreto 14x29


Fonte: Tauil (2010)

2.3 Materiais e outros elementos estruturais envolvidos


Como componentes da alvenaria estrutural, além dos blocos, têm-se também a
argamassa, o grauteamento e a armadura. Em relação ao primeiro, segundo Nonato
(2013:05), as suas principais funções são conectar os blocos, vedar o conjunto para
obstruir a passagem de ar e água nas edificações. Além disso, comporta-se como
um compensador de imperfeições, distribui cargas e absorve deformações. 
No que se refere ao grauteamento, consiste em um micro concreto – cimento,
areia e água - bastante fluido, cuja principal função é expandir a resistência da
parede à compressão, por meio da ampliação da seção transversal do bloco. Uma
vez realizando a combinação com a armadura em seu interior, o graute também irá
lidar com as forças de tração que a alvenaria, individualmente, não teria condições
de resistir (NONATO, 2013:07). 
A armadura é um elemento utilizado para fornecer maior solidez à estrutura, e
sua localização é previamente definida, podendo estar dispostos horizontal ou
verticalmente (SANTOS, 2010:24). O aço é utilizado minimamente no processo
construtivo em alvenaria estrutural, quando comparado às estruturas convencionais
de concreto armado. A sua função principal é combater os esforços mínimos de
tração presentes nos vãos, encontro de paredes e amarrações.
6

2.4 O impacto da pandemia da Covid-19 no preço do aço


No primeiro semestre da pandemia do novo Corona vírus, em 2020, empresas
do ramo da construção civil de todo o país tiveram um percentual de acréscimo no
preço de diversos materiais utilizados na área. O aço, por exemplo, teve sua
produção bloqueada neste período, e à medida que as fabricações foram
retomadas, devido ao colapso sanitário no mundo, não houve um alcance produtivo
esperado. Simultaneamente, pelo fato do setor de construção civil ter sido visto
como uma atividade essencial, aumentou-se a demanda por esse material
(ALICERCE, 2021).
Além disso, há a adversidade relacionada ao fornecimento de materiais
enfrentada pelo setor, e produtos como o aço pode demorar de 60 a 90 dias para ser
entregue. Levando isso em conta, a execução das construções se torna prejudicada
e o lucro das empresas diminui comprometendo a entrega das obras, e também a
geração de empregos no ramo da construção civil. Dessa maneira, embora o
mercado esteja aquecido, os imprevistos nos custos causam insegurança nos
investidores (ALICERCE, 2021).
Ainda de acordo com a CBIC (2020), no que diz respeito ao aumento no preço
do aço, 87% das empresas tiveram um acréscimo no valor deste material durante o
período da pandemia. Destas, um percentual de 55% obteve um aumento final de
até 10% no preço do aço, e 32% alcançaram, no valor, um reajuste superior a 10%,
sendo possível notar estes dados na figura 6.

Figura 6 - Representação gráfica do aumento no preço do aço.


Fonte: Adaptado da CBIC (2020)

Os Estados brasileiros que obtiveram um maior percentual de respostas no


que diz respeito ao aumento no preço do aço superior a 10% foram Mato Grosso,
Goiás e Ceará com 59, 51 e 50%, respectivamente. Por sua vez, os que obtiveram
uma maior taxa percentual de respostas em relação ao acréscimo de até 10% foram
Espírito Santo (65%), Alagoas (61%) e Minas Gerais (57%), assim como está
indicado na figura 7.
7

Figura 7 – Estados indicando aumento de preço do aço.


Fonte: Adaptado da CBIC (2020)

2.5 Comparativo de custo médio entre os dois métodos de construção


Para se tornar mais evidente a diferença de custos entre os dois métodos de
construção, utilizou-se como base a pesquisa de Gomes et al. (2018:133). De
acordo com o autor, o trabalho foi desenvolvido através de um estudo de campo e
bibliográfico, tendo-se como objeto de análise um projeto de uma residência
unifamiliar térrea, com parâmetros de qualidade popular, conforme é mostrado na
figura 8.

Figura 8 - Layout arquitetônico


Fonte: Gomes et al. (2018)
8

O custo de materiais teve como fundamento de preço nas compilações de


tarifas unitárias da tabela SINAPI (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e
Índices). Além disso, não foi levado em consideração as etapas de instalação
elétrica e hidráulica, acabamento, execução de cobertura e limpeza da obra, uma
vez que são fases posteriores à elaboração da alvenaria, e, dessa maneira, não
fazem parte deste estudo (GOMES et al., 2018). 
Ainda de acordo com o autor, no que diz respeito a alvenaria estrutural, e
baseado no projeto de fiadas, modulações e elevações, foram quantificados e
classificados os materiais utilizados na edificação. De maneira análoga, o mesmo foi
feito para a alvenaria convencional, e dessa forma, foi possível realizar a verificação
dos custos da obra.
A tabela 1 mostra os custos para cada etapa do método construtivo em
alvenaria convencional (fundação - Radier, pilares, vigas, lajes de cobertura e
alvenaria de vedação, respectivamente). É apresentado, também, o somatório de
todas os estágios descritos da construção.

RESUMO DE CUSTO
  ITEM VALOR
1 Fundação - radier R$ 4.418,05
2 Pilares R$ 1.661,16
3 Vigas R$ 2.355,99
4 Laje de cobertura R$ 3.171,15
5 Alvenaria de vedação R$ 1.128,08
     
Total R$ 12.734,44

Tabela 1 - Resumo de custos da alvenaria convencional


Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2018)

Pelo fato da alvenaria estrutural possuir um número menor de etapas a serem


executadas, quando comparada ao método construtivo convencional,
consequentemente observa-se uma listagem de custos mais enxuta em relação ao
anterior. Isso pode ser percebido através da tabela 2.

RESUMO DE CUSTO
  ITEM VALOR
1 Fundação - radier R$ 4.064,31
2 Laje de cobertura R$ 3.171,15
3 Alvenaria estrutural R$ 3.668,61
   
Total R$ 10.904,07

Tabela 2 - Resumo de custos da alvenaria estrutural


Fonte: Adaptado de Gomes et al. (2018)

É possível perceber uma diferença de custos de materiais entre os dois


métodos construtivos. Enquanto a alvenaria convencional obteve um total de R$
12.734,44, a alvenaria estrutural alcançou um valor de R$ 10.904,07. Esse contraste
representa uma taxa percentual de 14,37% de economia. É válido salientar que é
9

necessária a análise de outros fatores para ambos os modelos construtivos


(GOMES et al., 2018).
Outra pesquisa foi realizada por Melo & Carvalho (2020:06), e tratou-se de um
projeto residencial com 100,46m², de acordo com a figura 9. Os autores levaram em
consideração a Tabela de Composições de Preços para Orçamentos (TCPO) do ano
de 2013 para os devidos cálculos da mão de obra, assim como dos materiais para
ambos os processos construtivos. Foram ultilizados blocos de concreto, os quais se
diferenciaram somente pela classe, mantendo as mesmas caracteristicas e
dimensões.

Figura 9 - Arquitetura 3D da edificação em estudo


Fonte: Melo & Carvalho (2020)

Assim como no trabalho analisado anteriormente, é possível notar que,


através das tabelas 3 e 4 da pesquisa em questão, o método de construção em
alvenaria estrutural é o mais econômico. Ainda havendo a necessidade de uma mão
de obra especializada, este processo construtivo torna-se mais barato quando
comparado com a alvenaria convencional. Além disso, o consumo de aço é bem
menor, sendo justificado pela ausência das etapas vigas e pilares, e por
consequência a quantidade de concreto também é reduzida (MELO & CARVALHO,
2020:09).

RESUMO DE CUSTO
PROCESSO CONSTRUTIVO EM ALVENARIA CONVENCIONAL
ITEM VALOR
1 Mão-de-obra R$ 30.432,37
2 Bloco R$ 6.492,94
10

3 Argamassa R$ 633,98
4 Concreto R$ 4.537,15
5 Aço R$ 8.438,42
6 Madeira para forma R$ 9.936,95
7 Laje R$ 3.214,72
8 Equipamentos alugados R$ 995,64
9 Telhado R$ 6.667,00

Total R$ 71.349,06

Tabela 3 - Resumo de custos para o processo construtivo em alvenaria convencional


Fonte: Adaptado de Melo & Carvalho (2020)

RESUMO DE CUSTO
PROCESSO CONSTRUTIVO EM ALVENARIA ESTRUTURAL
ITEM VALOR
1 Mão-de-obra R$ 24.853,16
2 Bloco R$ 8.662,10
3 Argamassa R$ 1.060,99
4 Concreto R$ 3.243,80
5 Aço R$ 3.976,24
6 Madeira para forma R$ 4.126,74
7 Laje R$ 3.214,72
8 Equipamentos alugados R$ 963,14
9 Telhado R$ 6.667,00

Total R$ 56.767,89

Tabela 3 - Resumo de custos para o processo construtivo em alvenaria estrutural


Fonte: Adaptado de Melo & Carvalho (2020)

A utilização dos preços dos insumos colhidos na ferramenta SINAPI, no ano


de 2018, juntamente com a confecção dos orçamentos em tabelas vem a ratificar as
vantagens de se utilizar a alvenaria estrutural, dentro de suas exigências mínimas de
desempenho e projeto. Após a confirmação desse benefício econômico, o acréscimo
no preço do aço, decorrente da crise sanitária de Covid-19, vem deixando essa
diferença ainda mais discrepante entre os métodos construtivos.

2.6 Vantagens da alvenaria estrutural


2.6.1 Paredes e fundações
Na alvenaria estrutural, as paredes executam, simultaneamente, duas
funções: de vedação e estrutura, de maneira que absorve as cargas permanentes e
acidentais. Além disso, auxiliam na acomodação dos dutos elétricos. Quando
comparadas às paredes de alvenaria convencional, estas desenvolvem somente a
função de vedação (CAVALHEIRO, 2012:06).
Quando se trata de fundações, ainda de acordo com Cavalheiro (2012:06),
nas edificações em alvenaria estrutural com fundação do tipo sapata corrida, os
esforços se concentram por toda a extensão das paredes e dessa maneira as
11

cargas são distribuídas em sua infraestrutura, por consequência, resulta em melhor


disposição de tensões no solo.

2.6.2 Armaduras
Diferentemente do método construtivo convencional, no qual já é intrínseco a
existência de armaduras refinadas e em ampla quantidade, na alvenaria estrutural
pode até ser ausente, ou somente construtivas e de amarração. Quando
necessárias, na sua grande maioria, são retas, sem ganchos ou dobras, além de
serem bem protegidas do processo de corrosão. Assim, torna-se notório que o
consumo de aço, mesmo na alvenaria estrutural armada, é menor quando
comparada às construções convencionais (CAVALHEIRO, 2012:06).

2.6.3 Mão de obra


Na alvenaria estrutural, a mão de obra exigida é bem mais reduzida quando
comparada com o método construtivo convencional, uma vez que existe uma
simultaneidade entre as etapas de execução da obra. Isso induz uma multiplicidade
no que diz respeito às funções dos operários, por meio de um treinamento
relativamente simples. Dessa maneira, à medida que o pedreiro constrói a alvenaria,
ele próprio pode executar outros passos, como, por exemplo, introduzir as ferragens
e dutos elétricos nos vazados dos blocos, e ainda instalar vergas, peitoris, entre
outras peças pré moldadas (CAVALHEIRO, 2012:07).

2.6.4 Etapas e tempo


De acordo com Cavalheiro (2012:07), as etapas da realização de uma obra
em alvenaria convencional são distintas entre si, e também, indispensavelmente,
contínuas: execução de formas, disposição das armaduras, concretagem, retirada
das formas, alvenaria de vedação e instalações. No que se refere a alvenaria
estrutural, devido a simultaneidade das fases do processo construtivo, ocorre uma
economia de tempo, a qual pode chegar em 50%. Dessa maneira, há uma
aceleração no calendário da obra, e por consequência diminui as imposições
financeiras.

2.6.5 Incorporação de projetos


A alvenaria estrutural, uma vez considerado um sistema construtivo
racionalizado, requer do criador da estrutura uma integralização com os projetos
arquitetônicos e instalações, quando comparado com o método construtivo
convencional. Isto porque as paredes desempenham dupla função, e assim, essa
logística já deve estar na etapa de anteprojeto. Esta circunstância se torna bastante
oportuna para evitar adversidades devido ao desencontro dos projetos, tão comum
em obras de alvenaria convencional (CAVALHEIRO, 2012:08).

2.6.6 Sustentabilidade
Segundo a Resolução nº 307, de 05 de Julho de 2002, o CONAMA (Conselho
Nacional de Meio Ambiente) estabelece, dentre várias diretrizes, critérios e
12

procedimentos, que os geradores de resíduos do ramo da construção civil devem


ser encarregados pela gestão dos entulhos da obra. Terão como objetivo primeiro a
não geração de resíduos, e secundariamente de reduzir, reutilizar, reciclar e destiná-
los de maneira apropriada.
Ao suspender a etapa estrutura, como se é conhecido usualmente no sistema
tradicional, no método de construção em alvenaria estrutural, rejeita-se
imediatamente a aplicação de fôrmas de madeira. Além disso, é minimizado a
quantidade de sobras de barras de aço utlizadas na armadura devido a redução
deste trabalho, especialmente quando é proposto a dobra e o corte deste material.
Ainda há a redução de volume de concreto, uma vez que os blocos operam como
parte da estrutura (JUNIOR, 2017:13).
Nesse contexto, nota-se que todos esses fatores asseguram, sob a ótica
ambiental, considerável diminuição na geração de resíduos. Desta maneira, Kato
ratifica: 
O próprio sistema em si é de maior facilidade de execução do que o sistema
convencional, além de absorver com muito mais facilidade peças pré-
moldadas, fazendo com que se torne também mais racionalizado. Este fato,
juntamente com projetos detalhados, faz com que o sistema construtivo em
alvenaria estrutural tenha menos desperdício do que o convencional
(2002:70).

2.7 Desvantagens da alvenaria estrutural 


No que diz respeito às vantagens do processo, é notório a efetividade e
qualidade da alvenaria estrutural. Entretanto, há a necessidade de alguns alertas
para executar o sistema com segurança, economia e praticidade. 
De acordo com Melo & Carvalho (2020:05), devido as paredes possuírem
função estrutural existe uma maior dificuldade, tornando quase que impossível,
quando se trata de alterações do layout das disposições dos cômodos presentes no
projeto arquitetônico. As restrições se estendem para alterações consideradas
mínimas tais como aberturas, furos e rasgos em paredes com função estrutural.  
Há, também, uma imposição no que diz respeito ao monitoramento rigoroso
em todas as etapas do processo construtivo, havendo uma intensa fiscalização.
Além disso, é exigido uma mão de obra especializada, uma vez que é necessário
fornecer capacitação aos operários. No que se refere a construção, esta deve ser
modulada, estabelecendo um limite ao projeto arquitetônico em relação à disposição
das paredes e dimensionamento dos vãos. Ademais, existe uma restrição quanto à
altura da edificação (ARAÚJO, 2009:17).

3. Conclusão
Baseado na justificativa desta pesquisa, a qual se tratou de observar o
aumento súbito do preço do aço provocado pela pandemia da Covid-19, e julgar
necessário o aprofundamento no estudo sobre as vantagens e desvantagens da
utilização de alvenaria estrutural, conclui-se, portanto, que o objetivo deste presente
estudo foi alcançado. Assim, afirmou-se a viabilidade com relação aos custos de
alvenaria estrutural, especialmente na pandemia do novo Corona vírus devido à
instabilidade do preço do aço. Além disso, mostrou-se as vantagens e desvantagens
já existentes desse método construtivo.
13

No que diz respeito ao aumento no preço aço, 87% das empresas distribuídas
pelo Brasil foram afetadas por esse acréscimo, e destas, 32% alcançaram um
reajuste superior a 10% no valor desse material. Os Estados brasileiros que mais
sofreram com essa taxa percentual foram Mato Grosso, Goiás e Ceará,
respectivamente. Por sua vez, 55% das construtoras obtiveram uma elevação no
preço do aço em até 10%, e os Estados atingidos por esse acréscimo foram Espírito
Santo, Alagoas e Minas Gerais.
Em relação ao comparativo de custos entre os métodos construtivos
estudados, no período pré-pandemia, obteve-se uma diferença de 14,37% de
economia quando utilizado a alvenaria estrutural. Foi constatado, dessa maneira, a
vantagem econômica desse processo de construção, mesmo com a estabilidade do
preço do aço. Essa vantagem foi intensificada na fase pós-pandemia, quando a
cotação deste material alcançou níveis exorbitantes, e a depender da região e do
tipo de obra, essa diferença de custo pode chegar a R$ 14.581,17, representando
um percentual superior a 20% de economia.
No que se refere às vantagens da alvenaria estrutural, foi possível observar
um leque de benefícios em diferentes pontos desse método construtivo, tais como
paredes, fundação, armaduras, mão de obra, etapas e tempo, incorporação de
projetos e sustentabilidade. No que concerne às desvantagens deste processo de
construção, estão elencadas a impossibilidade de alteração do layout dos cômodos,
necessidade de um intenso monitoramento de todas as etapas da obra. Além disso,
precisa-se de um limite em relação à disposição das paredes, dimensionamento dos
vãos e uma restrição quanto à altura da edificação.

Referências

ABCP. ALVENARIA ESTRUTURAL EM PAUTA. 2013. Disponível em:


https://abcp.org.br/alvenaria-estrutural-em-pauta/. Acesso em: 28 nov. 2021.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270-2:


Componentes cerâmicos Parte 2: Blocos cerâmicos para alvenaria estrutural –
Terminologia e requisitos. Rio de Janeiro, 2005.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16868-1:


Alvenaria estrutural Parte 1: Projetos. Rio de Janeiro, 2020.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16868-2:


Alvenaria estrutural Parte 2: Execução e controle de obras. Rio de Janeiro, 2020.
 
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16868-3:
Alvenaria estrutural Parte 3: Métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2020. 

ADOLFO, K. C.; POLETO, S. F. S. HABITAÇÃO SOCIAL: ESTRUTURA


CONVENCIONAL X ALVENARIA. Revista Científica Semana Acadêmica, v. 01, p.
1–17, 2019. Disponível em:
https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/tcc_i_template_artigo_karla_ad
olfo_revista.pdf. Acesso em: 28/11/2021.
14

ALICERCE. Aumento dos preços dos materiais de construção na pandemia.


Alicerce, 2021. Disponível em: https://www.alicerceejr.com/post/aumento-dos-pre
%C3%A7os-dos-materiais-na-pandemia. Acesso em: 06 jan. 2022.

AMORIM, D. Alta recorde de materiais de construção afeta reformas e


construtoras. 2021. Disponível em:
https://economia.uol.com.br/noticias/estadaoconteudo/2021/07/22/custo-de-
materiais-tem-alta-recorde-afetando-reformas-econstrutoras.htm?cmpid=copiaecola.
Acesso em: 29/11/2021.

ARAÚJO, J. M. De. Alvenaria Estrutural. Universidade Paulista, 2009. Disponível


em: https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-paulista/engenharia-
civil/alvenaria-estrutural-jose-milton-de-araujo-furg/8078513. Acesso em: 28 dez.
2021.

BRASIL. Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº. 307, de 5


de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão de
resíduos da construção civil. Ministério do Meio Ambiente: CONAMA, 2002. Diário
Oficial da União. Brasília, DF: Imprensa Oficial. Disponível em:
https://cetesb.sp.gov.br/licenciamento/documentos/2002_Res_CONAMA_307.pdf.
Acesso em: 02 jan. 2022.

CAVALHEIRO, O. P. ALVENARIA ESTRUTURAL: Tão antiga e tão atual. Anicer, p.


8, 2012. Disponível em:
https://anicerpro.com.br/wp-content/uploads/2018/04/Alvenaria-Estrutural_Tão-
antiga-e-tão-atual_cavalheiro1.pdf. Acesso em: 28/11/2021.

CBIC, Câmara Brasileira das Indústrias de Construção, 2020. Aumento de preço


dos materiais. Disponível em:
https://cbic.org.br/wp-content/uploads/2020/07/PESQUISA_aumento-prec%CC
%A7os-1.pdf. Acesso em: 04/01/2022.

GOMES, J. H. D.; NETO, A. F. B.; SALOMÃO, P. E. A.; SANTIAGO, A. N. O. Análise


Comparativa do sistema construtivo de alvenaria convencional e sistema construtivo
de alvenaria estrutural em uma casa térrea em Teófilo Otoni. Revista
Multidisciplinar do Nordeste Mineiro–Unipac, v. 2, p. 128-144, 2018. Disponível
em: https://www.readcube.com/articles/10.17648%2F2178-6925-v22018-08. Acesso
em: 06 jan. 2022.

INOVA CONCRETO. Alvenaria estrutural e alvenaria convencional: qual a


diferença?. INOVA CONCRETO, 2018. Disponivel em:
https://www.inovaconcreto.com.br/blog/construcao-convencional-e-alvenaria-
estrutural/. Acesso em: 30 out. 2021. 

JUNIOR, A. R. B. Alvenaria estrutural e alvenaria tradicional – vantagens e


desvantagens no empreendimento. Especialize On-line IPOG, Goiânia, v. 01, n. 14,
2017. Disponível em: https://docplayer.com.br/68370336-Alvenaria-estrutural-e-
alvenaria-tradicional-vantagens-e-desvantagens-no-empreendimento.html. . Acesso
em: 02 jan. 2022.
15

KATO, R. B. Comparação entre o sistema construtivo convencional e o sistema


construtivo em alvenaria estrutural segundo a teoria da construção enxuta.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil), Universidade Federal de Santa
Catarina. Florianópolis, 104 f. 2002. Disponível em:
https://docplayer.com.br/33304296-Comparacao-entre-o-sistema-construtivo-
convencional-e-o-sistema-construtivo-em-alvenaria-estrutural-segundo-a-teoria-da-
construcao-enxuta.html. Acesso em: 02 jan. 2021.
MELO, A. DA S.; CARVALHO, L. C. Análise Técnico-Econômica dos Processos
Construtivos em Concreto Armado e Alvenaria Estrutural De Uma Edificação em
GUARANÉSIA - MG. FEPESMIG, p. 16, 2020. Disponível em:
http://repositorio.unis.edu.br/handle/prefix/1308. Acesso em: 23/12/2021.

MIRANDA, B. T. D. S. ANÁLISE DE CUSTOS SEGUNDO COMPOSIÇÕES DO


SINAPI E DO MERCADO LOCAL E AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA PANDEMIA
DA COVID-19 NO ORÇAMENTO DE UMA OBRA EM POMBAL / PB MERCADO
LOCAL E AVALIAÇÃO DO IMPACTO DA PANDEMIA DA COVID-19 NO
ORÇAMENTO DE UMA OBRA EM POMBAL / PB. 2021. 107 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal de Campina Grande,
Pombal – PB, 2021. Disponível em:
http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/21721. Acesso em: 29/11/2021.

NONATO, Luiz Fernando Costa. Alvenaria Estrutural Descomplicada – Guia


Prático. Minas Gerais: Universidade Federal de Minas Gerais, 2013. Disponível em:
https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/BUBD-9K9GSY. Acesso em: 24 dez 2021.

PINHEIRO, G. S. Alvenaria Estrutural Em Blocos De Concreto: Aspectos


Construtivos E Pré- Dimensionamento. Universidade Federal do Rio de Janeiro, p.
88, 2018. Disponível em:
http://www.repositorio.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024413.pdf. Acesso em:
28/11/2021.

SANTOS, R. de A.. Controle da Qualidade da Execução da Alvenaria Estrutural.


69 f. 2010. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso) – Escola Politécnica,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.

TAUIL, C.A.; NESSE, J. M. Alvenaria Estrutural. São Paulo: PINI, 2010. 188 p.
Disponível em: http://www.profwillian.com/alvenaria/Alvenaria%20Estrutural%20-
%20Carlos%20Alberto%20Tauil.pdf . Acesso em: 24/12/2021.

Você também pode gostar