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Alvenaria estrutural

Revista Construção Mercado

Edição 41 - Janeiro/2009

País melhora desempenho e flexibilidade desse tipo de construção. Especialistas já preparam


normas e procedimentos para reduzir patologias

Sistema em evolução

A alvenaria estrutural existe desde o surgimento das primeiras civilizações, quando se buscava uma
maneira de organizar as pedras e montar paredes. Hoje, esse sistema construtivo agrega cálculos
específicos, os blocos têm dimensões exatas e a modularidade e qualidade estão asseguradas.

No Brasil, a alvenaria estrutural ganha, atualmente, um olhar novo, investimentos em materiais e


(tudo indica) normas atualizadas. Essa mudança desconstrói velhos preconceitos e, principalmente,
dá ao sistema um novo campo de utilização. Até a década de 80, alvenaria estrutural era sinônimo de
construção popular, devido ao grande número de conjuntos construídos assim.

A migração do sistema para edificações altas e de padrão médio, durante a década de 90, fez com que
se investisse em tecnologia e, aos poucos, consolida-se como uma opção de construção racionalizada
e atraente. "As construtoras de edifícios para a classe média, quando optaram pela alvenaria
estrutural, encantaram-se com a facilidade do sistema", conta Cláudio Puga, calculista estrutural.

Esses construtores passaram a investir na pesquisa para executar melhor a alvenaria para ganhar em
custo, rapidez e racionalização. "Aos poucos, cada construtora montou um processo construtivo
particular, adaptado à cultura de trabalho da empresa", lembra Luiz Sérgio Franco, professor da Poli-
USP e sócio-diretor da Arco Engenharia. Assim, há empresas que preferem, por exemplo, fazer escada
pré-moldada; outras, moldam in loco.

A Tecco Engenharia é uma das construtoras que investiram bastante, fazendo pesquisas e
comparativos de custos. "Chegamos a uma altura ideal em que a alvenaria se torna mais barata, que
são 13 pavimentos", conta Ronei Guazi Rezende, sócio-diretor da Tecco. O ganho é sentido tanto no
custo quanto na rapidez: ao terminar uma parede, já se terminou estrutura, vedação, instalação de
conduítes elétricos e passagens hidráulicas do pavimento.

Isso não significa que prédios maiores não sejam economicamente viáveis - e o Brasil, aliás, é um dos
países que mais investem na tecnologia de edificações altas. São prédios entre 15 e 20 pavimentos, às
vezes mais, que têm garagem, transição, pilotis e uma parede relativamente esbelta. "Dentro de um
quadro mundial, é uma situação desafiadora", revela Franco.

Quando se trabalha com obras de padrão elevado, um dos grandes entraves é adaptar o layout para
criar possibilidades de mudança. Como as paredes funcionam como vedação e estrutura, não se pode
derrubá-las para, por exemplo, unir a sala com um quarto. Quando se faz uma parede estrutural, é
como um pilar, e não se pode eliminar um pilar. "Pode-se oferecer algumas opções de plantas, mas a
versatilidade não é a mesma de uma estrutura convencional", salienta Franco. No entanto, muitos
estão revendo esse conceito e, acreditam, há um mercado que aceita essas restrições em troca de
outros benefícios, como o preço.

Check-list
• visite os fornecedores, para conhecer a qualidade do produto
• compatibilize os projetos arquitetônico e estrutural, para melhor aproveitamento do sistema
• certifique-se de que o prisma (corpo-de-prova) foi recolhido e transportado com cuidado
• escolha e teste corretamente a argamassa, para evitar patologias
• treine ou empregue apenas mão-de-obra capacitada
• controle diariamente o prumo, alinhamento e nivelamento das paredes

Salto tecnológico

A partir da metade do século 20, investiu-se na pesquisa e desenvolvimento de materiais que


compõem a alvenaria, como os blocos, que passaram a ter melhor qualidade, ganharam maior
resistência, dimensões menores e mais exatas. Um bom exemplo para comparar a tecnologia de
construção em alvenaria estrutural é o edifício Monadnock, em Chicago, Estados Unidos. Construído
entre 1889 e 1891, era o maior edifício comercial da época em alvenaria estrutural: 16 pavimentos e
65 m de altura. Para suportar tantos pavimentos, as paredes do térreo possuem 1,80 m de espessura.
"Hoje, se faz uma edificação parecida com blocos de 15 cm", compara Cláudio Puga. Isso porque a
resistência do produto aumentou - há blocos, por exemplo, de 18 MPa.

A modulação é outra característica que deve ser respeitada pelos fabricantes de blocos, porque é
preciso que haja dimensões adequadas, com tolerâncias pequenas. "Quando se sabe que os blocos
possuem rigor nas dimensões, consegue-se tratá-los como elementos modulares e admitir melhores
condições para a execução da alvenaria", diz Cláudio Puga. Assim, é possível garantir melhor qualidade
na execução, no prumo, alinhamento e nivelamento. É comum encontrar edifícios de 15 pavimentos
em alvenaria estrutural apresentando desaprumos máximos de 1 cm.

Componentes

O sistema de alvenaria estrutural é composto, basicamente, de bloco, argamassa, graute e,


eventualmente, armações. Apesar de tanto avanço, é preciso estar atento: se, de um lado, há fábricas
de blocos de concreto em que a cura é a vapor e tudo é automatizado, há empresas mais artesanais.
"Na aparência são os mesmos produtos, mas têm características e comportamentos diferentes",
salienta Franco. É importante, por isso, conhecer o fabricante, visitar a empresa, saber como está
sendo produzido, qual o tipo de controle que está sendo aplicado, a qualidade dos agregados, entre
outros requisitos.

O selo da qualidade da ABCP, por exemplo, já é um primeiro passo, que visa diferenciar os produtores
de blocos de concreto. Mas não há iniciativa parecida com os blocos cerâmicos ou sílico-calcários.

Já a argamassa ainda passa por ensaios, para que sejam analisados seu comportamento e importância.
O que se sabe, por enquanto, é que a resistência da argamassa tem de estar relacionada à do bloco.
Não precisa ser a mesma, mas tem de ser coerente - em prédios muito altos, por exemplo, os primeiros
andares devem ter uma argamassa mais resistente. Há, ainda, pouca oferta de produtos
industrializados, ainda que haja investimentos, como os da Abai (Associação Brasileira de Argamassa
Industrializada), de desenvolver produtos mais específicos.

Mas a característica mais importante da argamassa vai além da resistência. E um dos pontos-chave de
patologias está estritamente ligado à especificação da argamassa correta. É preciso que o material
tenha boa aderência, para que não haja fissuras nas interfaces, no revestimento e perda de
estanqueidade. A argamassa também tem de ser capaz de acomodar deformações provenientes de
pequenas movimentações da parede, como as causadas pela variação térmica.
Essa deformação gera uma tensão que tem de ser aliviada. Se a argamassa for muito rígida, a tensão
se acumula até chegar o momento da fissura. "Com um produto de boa aderência e boa capacidade
de absorver deformação, a tensão se dissipa e não aparecem fissuras", relata Franco.

O outro item, o graute, deve ser fluido o suficiente para penetrar e preencher as cavidades dos blocos.
E deve ter a mesma resistência do bloco. A função do produto é aumentar a resistência do conjunto:
com os vazados preenchidos com o graute, aumenta-se a área resistente da parede.

Normas técnicas

NBR 6136 - Bloco vazado de concreto simples para alvenaria estrutural

NBR 5712 - Bloco vazado modular de concreto

NBR 7184 - Blocos vazados de concreto simples para alvenaria -Determinação da resistência à
compressão

NBR 12117 - Blocos vazados de concreto para alvenaria - Retração por secagem

NBR 12 118 - Blocos vazados de concreto para alvenaria - Determinação da absorção de água, do teor
de umidade e da área líquida

NBR 10837 - Cálculo de alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto

NBR 8798 - Execução e controle de obras em alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto

NBR 8215 - Prismas de blocos vazados de concreto simples para alvenaria estrutural - Preparo de
ensaio à compressão

NBR 8949 - Paredes de alvenaria estrutural - Ensaio à compressão simples

NBR 14321 - Paredes de alvenaria estrutural - Determinação da resistência ao cisalhamento

NBR 14322 - Paredes de alvenaria estrutural - Verificação da resistência à flexão simples ou à


flexocompressão

NBR 14974-1 - Bloco sílico-calcário para alvenaria - Parte 1: Requisitos, dimensões e métodos de
ensaio

NBR 14974-2 - Bloco sílico-calcário para alvenaria - Parte 2: Procedimento para execução de alvenaria

ASTM C 55 - Standard specification for concrete brick (American Society for Testing and Materials-
EUA)

BS 6073 - Part 1 - Precast concrete masonry units - Specification for precast for concrete masonry units
(British Standards Institution - UK)

Controle tecnológico

A qualidade deve ser avaliada com ensaios de corpos-de-prova do conjunto formado por dois blocos
e argamassa. Esse corpo-de-prova é chamado prisma. Há dois tipos: vazado e preenchido por graute.
Os dois devem ser aferidos. Esses ensaios avaliam o que está sendo feito na obra, com ensaios
periódicos de resistência da parede. Esses testes avaliam também qual produto deverá ser utilizado.
"Quem faz o projeto pode, no máximo, afirmar o quanto precisa de resistência na alvenaria", explica
Claúdio Puga. "Mas a forma com que esses componentes se comportam em conjunto deve ser
avaliada pelo construtor."

Além dos ensaios em laboratório é preciso, durante a obra, fazer o controle de produção da alvenaria
em três pontos fundamentais: prumo, alinhamento e nivelamento. Também se verifica se foram
instaladas todas as passagens de tubulação, o sistema elétrico, se falta alguma caixinha de luz, a
posição das esquadrias etc. "É o controle do dia-a-dia, que o engenheiro da obra tem de incorporar
em sua rotina", analisa Franco.

A mão-de-obra, para que seja eficiente, tem de ser treinada. Mas esse treinamento não é difícil de ser
realizado e pode ser feito em cerca de duas semanas. Claro que, se comparado com a alvenaria de
vedação, é preciso ter mais cuidados - e há até equipamentos diferentes a serem usados. Em centros
maiores, como São Paulo, já existe a profissão de bloqueiro.

Em todo o caso, a execução tem de se apoiar no projeto - é preciso que haja um planejamento, com
definições de detalhes, por exemplo. "Na verdade, não é nenhum segredo. É o que se deve fazer em
qualquer processo de engenharia, ou seja, ter um projeto bem-feito, elaborado, compatibilizado, com
todos os problemas já resolvidos", diz Franco.

Fissuras

Um dos conceitos pejorativos ligados à alvenaria estrutural é de que o sistema fissura. "Isso vem da
época em que se construíram muitas unidades em conjuntos habitacionais sem o devido cuidado",
acredita Cláudio Puga. "Ficou o estigma da fissura, do conforto térmico ruim e da falta de
estanqueidade."

Segundo o calculista, quando é bem concebida, a alvenaria tem um comportamento compatível com
as exigências de qualquer construção.

Há algumas causas para o aparecimento da patologia, e a maioria pode ser prevista (e evitada) no
projeto. As amarrações entre paredes estruturais, por exemplo, é um dos pontos mais sujeitos a
fissuras. "Criamos detalhes construtivos mais eficientes, como a utilização de blocos especiais para a
amarração, em vez de usar os antigos ferrinhos", exemplifica Franco. A argamassa também trabalha
para a prevenção de patologias - desde que especificada com eficiência.

Outra fissura típica é a proveniente da laje da cobertura, que sempre deforma mais termicamente do
que o resto da edificação e, por causa do contato com a alvenaria, impõe a deformação à parede. Para
evitar isso, existem detalhes de junta. Por exemplo, pode-se utilizar materiais como borracha entre a
parede e a laje, para absorver as deformações.

Como são componentes estruturais, os blocos

merecem muita atenção, primeiro no recebimento

e depois no armazenamento
ENTREVISTA

Márcio Ramalho

Professor de graduação e de pós-graduação de alvenaria estrutural e análise de estruturas de concreto


da Universidade de São Paulo (campus de São Carlos); co-autor do livro "Projeto de edifícios de
alvenaria estrutural", PINI

Como melhorar o sistema de alvenaria estrutural?

O mais importante é fazer uma norma brasileira tanto para projeto como para execução e controle de
qualquer tipo de alvenaria. Hoje, só temos uma norma, e bem antiga, para blocos vazados de concreto.
Também é preciso investir nos cursos de engenharia. Nossos cursos não ensinam alvenaria estrutural
como ensinam estruturas de concreto e de aço.

Existem alguns preconceitos contra o sistema, como a limitação do desenho arquitetônico. É possível
optar pela alvenaria estrutural mesmo quando há necessidade de grandes vãos?

Qualquer estrutura sempre irá condicionar a arquitetura e vice-versa. No caso da alvenaria estrutural,
grandes vãos acabam retirando uma das suas principais vantagens, que é transformar as paredes em
elementos estruturais. Entretanto, mesmo os grandes vãos podem ser executados sem problemas,
desde que sejam utilizados materiais adequados e feito o dimensionamento correto da estrutura.

Que obstáculos ainda impedem a consolidação do sistema no Brasil?

O sistema está consolidado. Falta apenas que os procedimentos de projeto e de execução sejam
aperfeiçoados e principalmente difundidos, pois existem significativas diferenças regionais. O
aperfeiçoamento passa principalmente pela elaboração de normas e publicações voltadas à realidade
brasileira.

Quais os erros mais cometidos?

O principal erro é encarar a alvenaria estrutural com os antigos conceitos da alvenaria de vedação, ou
seja, sem qualquer racionalização. Já do ponto de vista do projeto, é desconhecer que se trata de um
material frágil e que, portanto, pode apresentar uma ruptura brusca. Para isso é preciso gente
qualificada para executar a estrutura.

DEBATE

Qual o estágio tecnológico do Brasil em alvenaria estrutural?


Carlos Tauil - A evolução foi rápida a partir da década de 90. O desenvolvimento é grande
principalmente em São Paulo, onde já existe um padrão de construção para edifícios de apartamentos
entre 15 e 25 pavimentos, uma demanda que antes era atendida apenas pelo concreto armado.

Davidson Figueiredo Deana - O Brasil não tem nada a perder em relação a países com história em
alvenaria estrutural na tecnologia de edifícios altos. Hoje existem tanto produtos com boa tecnologia
como experiência de projeto.

Tauil - Na década de 70, a tecnologia se prendeu a obras de conjuntos populares, porque houve uma
construção maciça com financiamento do Governo Federal. Foi nessa época que começaram as
normas brasileiras, e calculistas e projetistas de estrutura puderam se basear em um padrão, com
índices para o projeto até então desconhecidos.

Carlos André Fois Lanna - Há três anos, tomamos a iniciativa de investir em tecnologia nas construções
de bloco cerâmico. Mas em muitas partes do País, infelizmente, temos escutado notícias de insucesso
em função da forma empírica que se construía e sem qualquer base na normalização. Também existe
hoje uma preocupação de se rever normas e tornar critérios de construção mais claros.

As normas estão sendo atualizadas?

Tauil - O bloco sílico-calcário acaba de ter as normas finalizadas, e o cerâmico, além das normas de
especificações, deve ganhar também normas de estrutura.

Deana - A revisão das normas de projeto e de execução de alvenaria estrutural de bloco de concreto
já foram abertas no CB-2. O objetivo é que trabalhem em conjunto. Aliás, a mesma comissão fará a
revisão das duas normas. Assim, o controle é possível de ser realizado na obra, com conceitos de
racionalização, privilegiando fornecedores com certificação.

Cláudio Puga - Temos uma norma baseada na norte-americana. Foram praticamente 25 anos de
vigência. A idéia é mudar essa norma - que, em termos técnicos, está baseada nas tensões admissíveis
- para que seja baseada na idéia de estados-limite últimos, algo mais moderno.

De que modo o uso mais comum da alvenaria estrutural reflete no avanço tecnológico do sistema?

André Bezerra - Sempre tentamos trabalhar corretamente para ganhar a confiança do projetista e
para que ele ouse mais no projeto. Além disso, trabalhar no setor de alto padrão significa construir
apartamentos que possam ter a sala ampliada ou uma cozinha americana, por exemplo. Foi nessa
migração e nessa ousadia que nós trabalhamos. Houve discussão em reuniões, laboratórios, ensaios,
desenvolvimento de peças especiais pré-fabricadas.

Carlos Antonio Rizkallah - Quanto mais se conhece o material e a construção, o custo cai. Nos 30 anos
de crescimento da alvenaria estrutural no Brasil, pode-se perceber a evolução do sistema. Em 1982,
foram feitos dois edifícios em Alphaville de 12 pavimentos, com alvenarias de 24 cm de espessura.
Hoje existem prédios de 14 pavimentos com alvenaria de apenas 14 cm de espessura. Isso é redução
de custo e faz com que a alvenaria estrutural seja encarada como a estrutura da vez. Em São Paulo, é
preciso ter edifícios altos. Isso puxou a evolução tecnológica.

Bezerra - Um fator fundamental para quem constrói com alvenaria é conhecer o produto: não se pode
abrir mão de visitar a fábrica. Assusto-me quando vejo construtoras que compram por telefone. É
fundamental ver a forma com que trabalham, como fazem a cura, a armazenagem, como é o
laboratório, controle de fabricação - não apenas do bloco, mas dos subitens, como o graute e a
argamassa de assentamento. Para conseguir dominar o sistema, é preciso dominar todas as partes.

Como a alvenaria estrutural pode ser usada com o máximo de racionalização?

Ronei Rezende - Fizemos uma análise comparativa durante seis meses para desenvolver um produto.
Ao comparar as alvenarias estrutural e convencional, chegamos a 17% de economia na estrutura para
um edifício de 12 andares - economia que cai à medida que se aumenta o número de andares. Depois,
criamos um processo de construção em que se alia tecnologia, qualidade, rapidez (para diminuir
despesas indiretas) e redução de mão-de-obra. O processo une alvenaria estrutural com elementos
pré-moldados fabricados como lajes e escadas.

Qual o grande problema ainda da alvenaria estrutural?

Rezende - Tem o problema de deformações da última laje, além das pré-condições de arquitetura que
impedem o uso do sistema. Tem também o construtor que só pensa no mais barato. O que tem de ser
levado em conta é o serviço pronto mais barato. Praticamente todas as patologias são causadas por
não enquadramento de janelas e por falha na argamassa. Hoje existem gabaritos que deixam o vão da
janela perfeito. Além disso, não dá para virar argamassa em obra. É preciso trabalhar com argamassa
industrializada.

Tauil - A causa disso vem da formação acadêmica. Normalmente, o arquiteto projetava e mandava o
projeto arquitetônico para o projetista lançar a estrutura. Atualmente, a concepção, mesmo na obra
de concreto armado, é completamente diferente. Houve uma evolução de conceito que buscou a
racionalização.

O mercado está bem servido de produtos?

Rizkallah - Há obras que pedem 60 tipos de blocos e o fabricante tem de fornecer um mix. É tão caro
a produção, a execução e tomar conta dessa obra, que se torna um risco desnecessário, com uma
economia muito pequena em relação ao risco. É preciso ter um controle muito rigoroso do
recebimento do produto.

Tauil - Realmente, para o industrial, seria muito mais fácil comprar uma fôrma e produzir um bloco,
como nos anos 60. Hoje, se a indústria não acompanhar o que o cliente quer, fecha as portas. Porque
mudou a concepção.

Rezende - Na Alemanha, pode-se até fazer apenas dois tipos de blocos, porque a maioria dos prédios
tem cinco andares. Mas como fazer um prédio de 20 andares com apenas duas resistências?

Lanna - Construtor e fabricantes devem interagir. É fundamental para agregar valor ao produto, que
seja cada vez mais versátil, com custo baixo. Adotar detalhes construtivos que permitam a utilização
de menos itens pode ser uma solução.

Bezerra - O sistema tem tudo a ver com racionalização e industrialização. Rodar massa na obra ou
cortar bloco para encaixar caixinha de luz é ultrapassado. As construtoras de ponta devem formar
algum tipo de associação para difundir formas baratas e simples de construir com boa qualidade.

Rezende - A idéia é ótima, porque partimos para pressão. Nesse último mês, paramos de trabalhar
com um fornecedor de esquadrias por causa do custo e da qualidade. Esse fornecedor perguntou o
que deveria fazer para voltar ao mercado. Eles querem mudar o produto e criar um compatível com a
alvenaria estrutural, ou seja, o sistema está ganhando posição no mercado.

O controle de qualidade nas obras é satisfatório?


Puga - Às vezes nós levamos sustos, porque o ensaio mostra uma resistência metade da calculada.
Quando se vai verificar, fizeram um corpo-de-prova ruim. Há casos em que se ensaiam separadamente
a argamassa, o bloco e o graute. Não dá para tirar a conclusão da resistência e da qualidade analisando
materiais separadamente. Muitas vezes também o corpo-de-prova chega ao laboratório quebrado e
o laboratório ensaia. Claro, vai dar resultado errado.

Tauil - As contra-provas mostram isso. Os laboratórios estão ensaiando mal. Não ensaiam de acordo
com a norma, não têm equipamento aferido. Precisamos, às vezes, levar os produtos para o
laboratório do IPT ou da ABCP, que são regulamentados pelo Inmetro, para mostrar que os laudos
estão errados. E 100% das vezes, em 27 anos que trabalho com bloco, a contra-prova foi a favor da
indústria.

Texto original de Bianca Antunes

Construção Mercado 41 - dezembro de 2004

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