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PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Organizadores
Alberto Casado Lordsleem Júnior
Alexandre Duarte Gusmão

Autores
Alberto Casado Lordsleem Júnior
Alexandre Duarte Gusmão
Arthur José da Silva
Bruno Carlos de Araújo Alves
Diego José Araújo Viégas
Eliana Cristina Barreto Monteiro
Eudes de Arimatéa Rocha
Luiz Fernando Bernhoeft
Yêda Vieira Póvoas

Recife, PE
2017
AGRADECIMENTOS

Ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil (PEC) da


Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (POLI-UPE), pela
oportunidade de desenvolver pesquisas que agregam valor à construção,
prevenção e recuperação de patologias das construções.

Aos Grupos de ensino, pesquisa e extensão em Tecnologia e Ges-


tão da Construção de Edifícios (POLITECH) e Engenharia Aplicada ao
Meio Ambiente (AMBITEC), pelo ambiente de contínua discussão e bus-
ca de atendimento das demandas de construtoras e entidades setoriais da
construção.

Aos nossos familiares e amigos, sem os quais esse fruto não seria
possível e dão razão a nossa existência.
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO – UPE
REITOR Pedro Henrique Falcão
VICE-REITOR Dra. Socorro Cavalcanti

EDITORA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO – EDUPE


CONSELHO EDITORIAL
Profa. Dra. Adriana de Farias Gehrer
Prof. Dr. Amaury de Medeiros
Prof. Dr. Alexandre Gusmão
Prof. Dr. Álvaro Vieira de Mello
Profa. Dra. Ana Célia O. dos Santos
Profa. Dra. Aronita Rosenblatt
Prof. Dr. Belmiro do Egito
Prof. Dr. Carlos Alberto Domingos do Nascimento

GERENTE CIENTÍFICO Prof. Karl Schurster


COORDENADORA Profa. Sandra Simone Moraes de Araújo
DIAGRAMAÇÃO Derek Schelling
CAPA Aldo Barros

Patologia das Construções De Edifícios

ORGANIZADORES
Alberto Casado Lordsleem Júnior
Alexandre Duarte Gusmão
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Autores
Alberto Casado Lordsleem Júnior
Alexandre Duarte Gusmão
Arthur José da Silva
Bruno Carlos de Araújo Alves
Diego José Araújo Viégas
Eliana Cristina Barreto Monteiro
Eudes de Arimatéa Rocha
Luiz Fernando Bernhoeft
Yêda Vieira Póvoas
SUMÁRIO

15 PREFÁCIO

19 PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

19 1. Contextualização
20 2. Responsabilidades
22 3. Manutenção
24 4. Garantia
27 Referências

31 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS FUNDAÇÕES

31 1. Contextualização
32 2. Segurança das fundações
32 2.1 Requisitos de projeto
33 2.2 Conceito de segurança
34 2.3 Critérios para avaliação da segurança
36 2.4 Uso de fator de segurança global
38 2.5 Uso de fatores de segurança parciais
38 2.6 Uso de critérios probabilísticos
39 2.7 Dimensionamento das peças estruturais
39 3. Movimentos da fundação
42 4. Patologias causadas por recalques
42 4.1 Tipos de danos
42 4.2 Patologias típicas
48 5. Reforço de fundações
50 Referências

53 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ESTRUTURAS


DE CONCRETO

53 1. Manifestações Patológicas das Construções em Concreto


55 1.1 Fissuração
56 1.1.1 Fissuras Causadas por Movimentações Térmicas
57 1.1.2 Fissuras Causadas por Movimentações Higroscópicas
58 1.1.3 Fissuras Causadas pela Atuação de Cargas Diretas e
Sobrecargas
58 1.1.4 Fissuras Causadas por Deformabilidade Excessiva de
Estruturas de Concreto Armado
61 1.1.5 Fissuras Causadas pela Retração de Produção à Base de
Cimento
62 1.1.6 Fissuras Causadas por Alterações Químicas dos Materiais
de Construção
63 1.2 Ataques Químicos
64 1.2.1 Íons Cloretos
64 1.2.2 Eflorescências
67 1.2.3 Corrosão das Armaduras
69 1.3 Ataques Físicos
70 1.4 Ataques Biológicos ou Biodeterioração
72 Referências

77 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE


VEDAÇÃO

77 1. Introdução
79 2. Origem das fissuras
79 2.1 No revestimento de argamassa
84 2.2 Na alvenaria de vedação
86 3. Causas da fissuração das alvenarias de vedação
86 3.1 Movimentação térmica
89 3.2 Movimentação higroscópica
92 3.3 Movimentos das fundações
95 3.4 Deformações de estruturas de concreto armado
98 Referências

105 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS


REVESTIMENTOS
105 1. Contextualização
110 2. Termografia infravermelha
111 2.1 Fatores que influenciam na medição com radiação
infravermelha
112 2.1.1 Condições térmicas do objeto e do meio
112 2.1.2 Presença de fontes externas
113 2.1.3 Condições de medição
113 2.1.4 Ângulo de medição
114 2.2 Técnicas de termografia digital
116 2.3 Métodos de aplicação da termografia
116 2.3.1 Termografia qualitativa
116 2.3.2 Termografia quantitativa
117 2.4 Câmera termográfica
118 2.4.1 Emissividade do objeto
119 2.4.2 Temperatura aparente refletida
120 2.4.3 Temperatura atmosférica
120 2.4.4 Distância
121 2.4.5 Umidade relativa do ar
122 2.5 Termogramas
126 3 Detecção de descolamento de revestimento cerâmico
134 Referências

141 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS


IMPERMEABILIZAÇÕES

141 1. Introdução
144 2. O sistema de impermeabilização
145 a. Interferência com instalações hidráulicas
146 b. Interferência com instalações Elétricas
147 c. Interferência com projeto estrutural.
148 d. Interferência com Arquitetura / paisagismo
148 3. Abrangência e vida útil da impermeabilização
150 4. Classificação de manifestações patológicas ligadas à
impermeabilização
151 a. Projeto
151 b. Inadequada preparação da superfície
151 c. Execução
151 d. Materiais
152 e. Agressão das camadas posteriores (em obra)
152 f. Uso e manutenção
153 5. Manifestações patológicas ligadas à impermeabilização
153 5.1 Lixiviação da estrutura de concreto
155 5.2 Corrosão eletroquímica de armadura de concreto armado ou
protendido
157 5.3 Reação álcali agregado (RAA)
157 5.4 Ataque externo de sulfato
158 5.5 Umidade ascendente em paredes
159 5.6 Desplacamentos do sistema impermeável
161 5.7 Ausência de estanqueidade com origem no lençol freático
162 5.8 Desplacamentos de revestimento sobre rodapé
impermeabilizado
164 5.9 Manchas e eflorescências em revestimentos
166 5.10 Não remoção de película protetora de manta asfáltica
exposta
167 5.11 Ausência de pintura protetora em mantas auto protegidas
167 6. Soluções para recuperação de impermeabilização
167 6.1 Análise das possibilidades de intervenções
170 Pontos negativos
170 Pontos positivos
170 6.2 Opções de reparos não tradicionais (demolição geral de piso)
170 6.2.1 Cristalização integral do concreto
172 6.2.2 Membranas de impermeabilização para aplicação sobre
piso/sem remoção do mesmo
173 a. Membrana de poliurenato
173 b. Membrana de poliuréia
175 6.2.3 Mantas PVC
176 6.2.4 Sistemas de injeção na estrutura
177 a. Injeção para gerar estanqueidade
177 b. Injeção para Recomposição Estrutural

12
179 6.2.5 Umidade ascendente
179 Conclusões
180 Referências
PREFÁCIO

A construção civil é um dos segmentos industriais mais impor-


tantes para a sociedade, não apenas pelo potencial de movimentação da
economia e elevado grau de absorção da mão de obra, mas também por
ser uma das principais consumidoras de recursos naturais para a produção
de obras.
Num cenário de marcantes desafios na construção de edifícios,
onde é imperiosa a necessidade de melhoria da produtividade, qualida-
de, desempenho e, preponderante, a redução de custos, não se considera
razoável e, até mesmo, coerente o investimento em novas construções
diante da demanda pela preservação e/ou recuperação do bom estado das
edificações existentes.
Adicionalmente, o aparecimento cada vez mais precoce de ma-
nifestações patológicas aliado ao grau de insatisfação dos clientes, apon-
tados pelas instituições de defesa dos consumidores, devem ser fatores
indutores do desenvolvimento da ciência patologia das construções.
A ocorrência de manifestações patológicas em edificações é resul-
tante, em grande parte, pela adoção em obra de procedimentos de execu-
ção inadequados, pelo não atendimento das recomendações estabelecidas
na normalização e falhas nas especificações de projeto e dos materiais
empregados.
É nesse contexto que esta publicação está inserida, como resulta-
do do conhecimento desenvolvido sobre o assunto em diversas pesquisas
e trabalhos técnicos coordenados por profissionais especializados em di-
ferentes subsistemas do edifício.
Esta publicação trata das responsabilidades dos agentes partici-
pantes do processo de produção de edifícios; do estudo da manutenção
como mecanismo de prevenção e correção de problemas; do direito e pra-
zos de garantias; das manifestações patológicas incidentes nas fundações,
nas estruturas de concreto, nas alvenarias de vedação, nos revestimentos
e nas impermeabilizações. Dependendo do tipo de manifestação patoló-
gica, procura-se priorizar o conhecimento sobre as causas, a inspeção, os
ensaios, o diagnóstico e/ou a recuperação.

15
A patologia das construções de edifícios aqui é entendida como
uma ciência, a qual estuda os defeitos que ocorrem nas edificações, bus-
cando compreender as causas, a evolução dos problemas, além da terapia
a ser adotada.
Não se tem a pretensão de abranger todas as manifestações pato-
lógicas do edifício; entretanto, é desejo dos autores deste trabalho contri-
buir para o seu correto entendimento e, quando aplicável, para a definição
da conduta de recuperação mais adequada a ser adotada.
Recife, junho de 2017.
Prof. Livre Docente Alberto Casado Lordsleem Júnior

16
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES
RESPONSABILIDADES, MANUTENÇÃO E GARANTIA

Alberto Casado Lordsleem Júnior - acasado@poli.br


Livre Docente pela UPE
Pós-Doutorado, Doutorado e Mestrado pela USP
Engenharia Civil pela UFPE

1. Contextualização

O desenvolvimento do processo de produção de edifícios muito


se deve a evolução da construção habitacional, principalmente a partir da
acelerada urbanização ocorrida nas últimas décadas.
Ao mesmo tempo, parcela expressiva dos edifícios construídos ao
longo desses anos tem apresentado desempenho insatisfatório, cujos pro-
blemas recorrentes são frequentemente considerados tão antigos quan-
to à própria existência da construção (LICHTENSTEIN, 1991; ALVES,
2016).
É nesse contexto que se insere a patologia das construções, defi-
nida como sendo a ciência que procura, de forma metodizada, estudar os
defeitos dos materiais, dos componentes, dos elementos ou da edificação
como um todo, diagnosticando suas causas e estabelecendo seus meca-
nismos de evolução, formas de manifestação, medidas de prevenção e de
recuperação.
Os defeitos mencionados anteriormente são os denominados pro-
blemas patológicos, definidos como sendo todos os fatores que compro-
metem o desempenho expectado do edifício, dos seus subsistemas, com-
ponentes, elementos e materiais. Alguns autores preferem denominar os
defeitos como manifestação patológica (FRANÇA et al., 2011), definindo
-a como sendo a resultante de um mecanismo de degradação; distinguindo
de patologia da construção, por esta ser muito mais ampla, uma vez que
estuda e tenta explicar a ocorrência de tudo o que se relaciona com a de-
gradação de uma edificação.
A palavra patologia tem origem grega páthos (doença) e logos
(estudo) e, assim como outros termos da Medicina, vem sendo emprega-

19
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

do pela Engenharia. Mais especifi camente, quando se busca a resolução


de problemas patológicos, são imprescindíveis a anamnese, os exames, o
diagnóstico, o prognóstico e a terapia, entre outros termos específi cos à
construção civil.

2. Responsabilidades

O resgate histórico relativo à patologia das construções encontra


na lei de talião um dos principais exemplos da importância do assunto
para a sociedade. A lei de talião, do latim lex talionis (lex: lei e talio, de talis:
tal, idêntico), consistiu na rigorosa reciprocidade do crime e da pena e, fre-
quentemente é expressa pela máxima do “olho por olho, dente por dente”.
O código de Hamurábi, baseado na lei de talião, reúne um conjunto de leis
criadas na Mesopotâmia, por volta do século XVIII a.C, pelo rei Hamurá-
bi da primeira dinastia babilônica.

No que diz respeito ao colapso de estruturas, o código de Hamurábi es-


tabelecia que:

• caso um construtor faça uma casa que não seja fi rme e o seu colapso
causar a morte do dono da casa, o construtor deverá morrer;

• caso o colapso provoque a morte do fi lho do dono da casa, o fi lho do


construtor deverá morrer;

• caso o colapso provoque a morte do escravo do dono da casa, o cons-


trutor deverá dar ao dono da casa um escravo de igual valor;

• caso o colapso destrua a propriedade, o construtor deverá reconstruir


a casa por sua própria conta;

• caso o construtor execute uma casa para um homem e não fi zer de


acordo com as especifi cações, e uma parede ameaçar cair, o constru-
tor deverá reforçá-la por conta própria.

Nos dias atuais, as leis e as normas dos diferentes países, em dis-


tintos graus de reciprocidade do crime e da pena, estabelecem as respon-

20
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

sabilidades de cada interveniente no processo de produção de edifícios


(ALVES, 2016).
Particularmente, no Brasil a publicação em 09/02/2013 da norma
NBR 15575 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2013),
voltada aos requisitos e critérios de desempenho de edifi cações habita-
cionais, buscou estabelecer um embasamento quanto à delimitação das
responsabilidades técnicas dos intervenientes.
As responsabilidades pelos problemas patológicos no âmbito ju-
rídico estão preponderantemente estabelecidas no Código de Defesa do
Consumidor - Lei 8078 (BRASIL, 1990) e no Código Civil brasileiro - Lei
10406 (BRASIL, 2002)), não sendo objetos desta publicação.
A Figura 1 ilustra o conjunto de incumbências técnicas elencadas
pela NBR 15575 (ABNT, 2013) para cada interveniente do processo de
produção de edifi cações habitacionais.

Figura 1 – Incumbências técnicas dos intervenientes quanto ao desem-


penho das edifi cações habitacionais

21
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Analisando-se a Figura 1, é possível identifi car a responsabilidade


do usuário quanto à realização da manutenção, a qual objetiva restituir ao
edifício as condições satisfatórias de desempenho, na maioria das vezes
não alcançadas pela incidência de problemas patológicos.

3. Manutenção

De acordo com a norma NBR 5674 (2012), compreende-se a ma-


nutenção como sendo o conjunto de atividades a serem realizadas para
conservar ou recuperar a capacidade funcional da edifi cação e de seus
sistemas constituintes de forma a atender as necessidades e segurança dos
seus usuários.
O estudo da manutenção é essencial para minimizar os custos pro-
venientes da prestação de serviços de assistência técnica, muitas vezes sem
previsão nos orçamentos de obras; corrigir o uso de uma tecnologia de
produção defi ciente, empregada pela ausência de conhecimento técnico
e preservar a imagem da empresa, reduzindo possíveis reincidências de
problemas.
Mais recentemente entre 2006-2014, ao passo que a construção de
edifícios experimentou relevante crescimento, também foi registrado o ex-
pressivo aumento do número de reclamações dos usuários em virtude da
baixa qualidade das construções (RESENDE et al., 2004; LORDSLEEM
JR.; RABBANI, 2006; ALVES, 2016).
O PROCON-SP (2014) registrou em 2013 o crescimento do per-
centual de reclamações em até 71%, com o pior índice de solução dos
problemas (8%) entre todos os fornecedores de bens e serviços. Também
o PROCON-PE (2013) destacou já em 2012 o registro de diversas recla-
mações, tendo como principais queixas os vícios e defeitos da qualidade
das construções.
A necessidade de manutenção assume papel de destaque princi-
palmente quando ocorre algum problema patológico que poderia ter sido
evitado com a sua prévia realização, minimizando os custos e transtornos
envolvidos através da adoção de soluções previamente planejadas.
Considerando a ordem cronológica, o primeiro conceito que sur-
giu foi o de manutenção corretiva, com a busca da recuperação ou corre-

22
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

ção de defeitos apresentados no edifício ou parte dele. Logo em seguida,


o conceito evoluiu para o de manutenção preventiva, com o controle das
atividades de inspeção, conservação e restauração executados com a fi na-
lidade de prever, detectar ou corrigir defeitos, visando evitar as falhas.
A Figura 2 ilustra a classifi cação dos tipos de manutenção em fun-
ção dos seguintes critérios: viabilidade de execução dos serviços, falhas e
anomalias existentes, atividades do plano de manutenção, tipo de interven-
ção e periodicidade.

Figura 2 – Classifi cação dos tipos de manutenção conforme critérios

Os critérios e tipos listados na Figura 2 buscam aqui tão somen-


te exemplifi car a diversidade acerca da classifi cação da manutenção e o
encadeamento das nomenclaturas sobre o tema, não sendo objeto desta
publicação discorrer sobre este assunto.
Porém, cabe destacar ainda a recuperação como uma das ativida-
des constituintes da manutenção, que por sua vez apresenta interface com
o processo de assistência técnica, função inerente do âmbito de atuação
das empresas construtoras (CBIC, 2014). O ponto comum de convergên-
cia entre a assistência técnica e a manutenção reside no manual de uso,

23
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

operação e manutenção das edifi cações, cujos requisitos para elaboração


e conteúdo são descritos na norma NBR 14037 (ABNT, 2011), também
alvo de publicação do CBIC (2014).
O processo de assistência técnica contempla o atendimento aos
clientes após a entrega da obra, enquanto vigorar o prazo legal de garantia,
assunto discutido adiante.

4. Garantia

De acordo com a norma NBR 15575 (ABNT, 2013), compreende-


se a garantia como sendo o direito do consumidor de reclamar reparos,
recomposição, devolução ou substituição do produto adquirido, conforme
legislação vigente; já o prazo de garantia é o período de tempo previsto em
lei que o consumidor dispõe para reclamar dos vícios (defeitos) verifi cados
na compra de produtos duráveis.
Os prazos de garantia passam a vigorar a partir da expedição do
Auto de Conclusão do imóvel, também denominado de Habite-se, certi-
dão expedida pela Prefeitura atestando que o imóvel está pronto para ser
habitado e foi construído ou reformado conforme as exigências legais
estabelecidas (SINDUSCON-PE, 2008).
Recomenda-se que o termo entregue pela empresa construtora ou
incorporadora aos proprietários do imóvel integre tanto o contrato de
compra e venda, com o intuito de conscientizar o comprador quanto as
suas obrigações, como também o manual de uso, operação e manutenção
(SINDUSCON-PE, 2008).
O Código Civil brasileiro estabelece no artigo 618 (BRASIL, 2002)
que nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções con-
sideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o
prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim
em razão dos materiais, como do solo.
A norma NBR 15575 (ABNT, 2013) fornece diretrizes para o es-
tabelecimento dos mínimos prazos de garantia para os elementos, com-
ponentes e sistemas do edifício habitacional. Os prazos indicados para os
componentes e elementos nesta norma são aqueles comumente pratica-

24
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

dos pela construção civil, os quais permitem que os sistemas contempla-


dos preencham as condições de funcionalidade.
O Quadro 1 contém os prazos de garantia estabelecidos na norma
NBR 15575 (ABNT, 2013).

Quadro 1 - Prazos de garantia da norma NBR 15575 (ABNT, 2013)

25
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Quadro 1 - Prazos de garantia da norma NBR 15575 (ABNT, 2013)


(continuação)

26
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

Caso algum componente, elemento ou sistema, específi co de de-


terminado empreendimento, não esteja contemplado no Quadro 1, reco-
menda-se ao construtor ou incorporador fazer constar o prazo de garantia
no manual de uso, operação e manutenção.

Referências

ALVES, K. C. C. O processo de assistência técnica de empresas de


construção: estudos de caso. Recife, 2016. 117p. Dissertação (Mestrado) –
Escola Politécnica de Pernambuco, Universidade de Pernambuco.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.


NBR 14037: Diretrizes para elaboração de manuais de uso, operação e
manutenção das edifi cações — Requisitos para elaboração e apresentação
dos conteúdos. Rio de Janeiro, 2011.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR


5674: Manutenção de edifi cações – Requisitos para o sistema de gestão de
manutenção. Rio de Janeiro, 2012.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.


NBR 15575: Edifi cações habitacionais - Desempenho - Partes 1, 2, 3, 4, 5
e 6. Rio de Janeiro, 2013.

BRASIL. Lei no 8078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a


proteção do consumidor e dá outras providências. Brasília, 1990.

BRASIL. Lei no 10406, de 10 de janeiro de 2002. Dispõe sobre a


legislação aplicável às relações civis em geral. Brasília, 2002.

CBIC. Guia nacional para a elaboração do manual de uso, opera-


ção e manutenção das edifi cações. Câmara Brasileira da Indústria da Cons-
trução. Fortaleza: Gadioli Cipolla Branding e Comunicação, 2014. 185p.

27
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

COORDENADORIA GERAL DE DEFESA E PROTEÇÃO


DO CONSUMIDOR – Procon-PE. Cadastro de Reclamação Fundamen-
tada. Relatório referente ao ano de 2012. Recife, 2013. Disponível em:
<http://www.procon.pe.gov.br/downloads/publicacoes/ rankingRecla-
macoes/rel_reclamacao_fundamentada_ordem_alfabetica_2012.pdf>.
Acesso em: 23 set. 2014.

FRANÇA, A.A.V.; MARCONDES, C.G.N.; ROCHA, F.C.; ME-


DEIROS, M.H.F.; HELENE, P.R.L. Patologia das construções: uma espe-
cialidade na engenharia civil. Téchne. São Paulo, v. 174, set. 2011.

Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor – Procon-SP. Ca-


dastro de reclamações fundamentadas 2013. São Paulo, 2014. Disponível
em: <http://www.procon.sp.gov.br/ pdf/ranking_2013_coment.pdf>.
Acesso em: 23 mar. 2015.

LICHTENSTEIN, N.B. Patologia das construções: procedimento


para formulação do diagnóstico de falhas e defi nição da conduta adequada
à recuperação de edifi cações. São Paulo, 1985. 191p. Dissertação (Mestra-
do) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo.

LORDSLEEM JR., A.C.; RABBANI, E.R.K. Management of


construction maintenance work through performance indicators. In: XII
International Conference on Industrial Engineering and Operations Ma-
nagement, Fortaleza, 2006. Anais... Fortaleza: 2006. 1 CD ROM.

RESENDE, M.M.; MELHADO, S.B.; MEDEIROS, J.S. Gestão


da qualidade e assistência técnica aos clientes na construção de edifícios.
In: V CONGRESSO DE ENGENHARIA CIVIL, 1., Juiz de Fora, 2004.
Anais... Juiz de Fora, UFJF. CD-ROM.

SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL


NO ESTADO DE PERNAMBUCO – SINDUSCON-PE. Manual do
proprietário. Disponível em: <http://www.sindusconpe.com.br/ arqQua-
lidade/Manual%20do%20proprietario.pdf>. Acesso em 27 ago. 2008.

28
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

SINDICATO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL


NO ESTADO DE PERNAMBUCO – SINDUSCON-PE. Manual das
áreas comuns. Disponível em: <http://www.sindusconpe.com. br/arq-
Qualidade/manual%20area%20comuns.pdf>. Acesso em 27 ago. 2008.

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MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS
FUNDAÇÕES

Alexandre Duarte Gusmão - gusmao.alex@ig.com.br


Livre Docente pela UPE
Doutorado pela PUC/RJ e Mestrado pela UFRJ
Engenharia Civil pela UFPE
1. Contextualização

O termo patologia em medicina significa “estudo das doenças e


suas consequências no corpo humano”. De modo análogo, pode-se defi-
nir patologia das fundações como sendo o “estudo dos danos provocados
pelos movimentos da fundação”.
Para se resolver um problema que envolva patologia das funda-
ções, é necessário seguir as mesmas etapas da medicina: anamnese; diag-
nóstico / prognóstico; tratamento (Tabela 1).
Nesse capítulo são apresentados e discutidos os principais tipos de
patologias de edifícios associadas aos movimentos da fundação.

Tabela 1 – Etapas de um reforço de fundações

Etapa Medicina Engenharia de Fundações


- Tipo de estrutura e
- Idade, sexo fundação
- Alergias - Materiais usados e sua
Anamnese
- Histórico de doenças vida útil
- Remédios, vacinas - Carregamento
- Tempo de construção
- Sintomas fisiológicos e - Levantamento de danos
psíquicos e sua tipologia
Diagnóstico
- Ocorrência - Ocorrência / histórico
- Definição das causas - Causas dos danos
- Nenhum (defesa natural) - Convivência com os
- Tópico (remédios, trata- danos (estabilização
Tratamento mentos) natural)
- Generalizado (operação, - Reforço localizado
transplante) - Reforço generalizado

31
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

2. Segurança das fundações

2.1 Requisitos de projeto

Com exceção das estruturas espaciais (satélites, estações espaciais,


etc), todas as demais obras de engenharia transmitem seus carregamentos
ao terreno. Com isto, estas obras impõem um novo estado de tensões no
terreno, que pode ocasionar um desequilíbrio (Figura 1).
A engenharia civil, em última análise, pode sempre ser resumida
ao binômio carga-resistência (Figura 2). Há de se buscar nos projetos a
compatibilização das cargas aplicadas pelas obras com a resistência dos
materiais envolvidos. Deve-se, também, verifi car se as deformações dos
materiais são compatíveis com a obra projetada.
No caso da engenharia de fundações, a coisa se complica um pou-
co mais, já que o material envolvido (solo ou maciço rochoso), não é arti-
fi cial como o concreto ou o aço. Este fato é muito interessante e relevante,
já que na construção de uma edifi cação, quase sempre podem ser especi-
fi cados os materiais para a estrutura que se deseja. No caso da fundação,
ocorre exatamente o contrário, ou seja, o terreno é que vai defi nir qual o
tipo de fundação a ser adotada.

ANTES =>

EQUILÍBRIO ?

Figura 1 – Efeito da obra de engenharia no terreno

32
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS FUNDAÇÕES

CARREGAMENTO RESISTÊNCIA DOS


ATUANTE MATERIAIS

SEGURANÇA

Figura 2 – Binômio carga-resistência

2.2 Conceito de segurança

Defi ne-se como segurança de uma fundação a capacidade que a


mesma apresenta em suportar as cargas que lhe são impostas, continuando
a atender as condições fundamentais para as quais foi projetada (ALON-
SO, 1991).
É importante ressaltar que o conceito de segurança de fundação
não está relacionado apenas à ruptura, mas também às deformações do
conjunto solo-estrutura e a sua durabilidade. Na realidade estes três aspec-
tos devem constituir as premissas de um projeto de fundações (Figura 3):

I. Estabilidade: a fundação deve ter uma segurança adequada quanto à


ruptura do terreno, e também do elemento estrutural (sapata, radier,
estaca, etc).

II. Deformações Toleráveis: as deformações do maciço e os movimentos da


fundação não devem comprometer a estética, funcionalidade ou esta-

33
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

bilidade da edifi cação.

III. Durabilidade: os elementos de fundação devem ter garantida a sua du-


rabilidade durante toda a vida útil da obra.

ELEMENTO
ESTABILIDADE
TERRENO

DANOS
ESTÉTICOS
REQUISITOS
DEFORMAÇÕES DANOS
DE PROJETO TOLERÁVEIS FUNCIONAIS

DANOS
ESTRUTURAIS

DURABILIDADE

Figura 3 – Requisitos de um projeto de fundações

2.3 Critérios para avaliação da segurança

Como foi visto no item anterior, o conceito de segurança de fun-


dação é meramente qualitativo, podendo dar margem a diferentes inter-
pretações. Há necessidade, portanto, de se estabelecer critérios que pos-
sam ser utilizados na avaliação da segurança da fundação.
Quando se aplicam cargas crescentes a uma fundação qualquer,
o conjunto solo-fundação começa a mobilizar resistência, no sentido de
reequilibrar o sistema. A fundação fi ca sujeita a deslocamentos verticais
descendentes denominados de recalques, que também são crescentes.
Este mecanismo continua até que seja mobilizada a máxima resistência do
conjunto, quando os recalques crescem indefi nidamente, caracterizando a
ruptura da fundação (Figura 4).

34
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS FUNDAÇÕES

V V
Vrup
V

S S

Figura 4 – Curva carga-recalque da fundação

Defi ne-se capacidade de carga da fundação como sendo a máxima car-


ga suportada pela fundação sem haver sua ruptura (Vrup). Dentro das pre-
missas básicas de projeto, é evidente que a carga de trabalho da fundação
deve ser menor que a sua capacidade de carga, e também que para as
condições de trabalho, os deslocamentos da fundação devem ser toleráveis
pela estrutura.
Quando a carga de trabalho atende tanto ao critério de ruptura,
quanto ao critério de deslocamento tolerável, é denominada de carga admis-
sível da fundação ou carga de projeto. Portanto, deve-se ressaltar que capacidade
de carga e carga admissível são conceitos diferentes.
Em alguns casos, a carga admissível é governada pelo critério de
ruptura do solo (em geral areias compactas e argilas rijas), enquanto em
outros é governada pelo critério dos deslocamentos toleráveis (areias fofas
e argilas moles), como mostra a Figura 5. No primeiro caso, o valor de
V1adm conduz a um recalque tolerável, e a carga admissível é este próprio
valor. No segundo caso, sendo o recalque maior que o tolerável, tem-se a
carga admissível passa a ser aquela correspondente ao valor do recalque
tolerável S2adm.

35
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

2 1
Vadm Vadm = Vrup / FS V
2 Vrup
Sadm
1
Sadm

Figura 5 – Defi nição da carga admissível da fundação

2.4 Uso de fator de segurança global

É um critério puramente determinístico, onde é defi nido um fator


de segurança global, que é a razão entre os valores médios da resistência
(no caso, a capacidade de carga da fundação) e da solicitação (no caso, a
carga aplicada à fundação).
É fi xado, então, um valor mínimo para o fator de segurança em
função de uma série de fatores, tais como:

• Confi ança na estimativa das solicitações.

• Variação das resistências e solicitações em relação aos valores médios


de projeto.

• Combinação das solicitações.

• Consequências prováveis de um colapso.

36
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS FUNDAÇÕES

• Confi ança nos parâmetros geotécnicos.

Há vários artigos publicados na literatura técnica com tabelas de


fatores de segurança globais mínimos recomendados para diferentes tipos
de fundações, em função da obra projetada e prospecção geotécnica do
subsolo.
O uso de fatores de segurança globais é o critério mais usado na
prática de projetos no Brasil. A Norma Brasileira NBR-6122/10 (Projeto
e Execução de Fundações) recomenda os valores mostrados na Tabela 2.
Para se ter a redução no fator de segurança de 3,0 para 2,0 em fundações
superfi ciais, ou de 2,0 para 1,6 em fundações profundas, a Norma exige
que sejam disponíveis os resultados de um número adequado de provas
de carga realizadas a priori, ou seja, na fase de projeto, e que os elementos
ensaiados sejam representativos do conjunto da fundação.
A Norma prevê, ainda, que quando forem levadas em considera-
ção todas as combinações possíveis entre os carregamentos previstos nas
normas estruturais, e o vento for a ação variável principal, pode-se majorar
em 30 % os valores admissíveis das tensões no terreno, e das cargas ad-
missíveis em estacas. Entretanto, estes valores admissíveis não podem ser
ultrapassados quando consideradas apenas as cargas permanentes e aci-
dentais. Em qualquer situação, deve ser feita a verifi cação dos elementos
estruturais.

Tabela 2 – Fatores de segurança globais recomendados pela NBR-


6122/10

Fator de segurança mí-


Condição de projeto
nimo
- Capacidade de carga de fundações superficiais
através de métodos semi-empíricos ou analíticos
3,0
- Capacidade de carga de fundações superficiais
através de métodos semi-empíricos ou analíticos,
acrescidos de duas ou mais provas de carga está-
2,0
tica a priori

37
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

- Capacidade de carga de estacas ou tubulões


2,0
através de métodos semi-empíricos
- Capacidade de carga de estacas ou tubulões
através de métodos semi-empíricos acrescidos
1,6
de um determinado número de provas de carga
a priori

2.5 Uso de fatores de segurança parciais

Neste critério, é associado um fator de segurança parcial a cada


uma das variáveis envolvidas (variabilidade das características dos mate-
riais, imperfeições do cálculo devido a hipóteses teóricas, imperfeição na
execução, entre outros).
O cálculo é feito no estado nominal de ruptura, onde as solicita-
ções majoradas pelos correspondentes fatores de segurança parciais, não
devem ser superiores às resistências minoradas pelos respectivos fatores
de segurança parciais. Este procedimento é semelhante ao usado no di-
mensionamento do concreto armado.
A escolha dos fatores parciais depende de uma série de aspectos, já
citados no item anterior. Apesar de previsto desde a antiga Norma NBR-
6122/96, este critério tem sido pouco usado na prática de projetos de
fundações no Brasil. Há uma expectativa de que com a publicação da nova
versão da Norma haja um incremento de projetos com uso de fatores de
segurança parciais.

2.6 Uso de critérios probabilísticos

Ao contrário do uso de fatores de segurança, este critério consi-


dera a dispersão e variabilidade dos parâmetros de resistência do terreno
e das cargas atuantes, devendo-se conhecer as suas respectivas funções de
probabilidade.
É fi xada uma probabilidade de ruína, ao invés de um fator de se-
gurança. Esta probabilidade de ruína é numericamente igual à área de in-
terseção das curvas onde as solicitações são maiores que as resistências
(Figura 6).

38
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS FUNDAÇÕES

Ressalta-se que a probabilidade de ruína nunca é nula, mesmo que


o fator de segurança global seja superior à unidade. É evidente, no entanto,
que à medida que cresce o fator de segurança, diminui a área hachurada e,
consequentemente, a probabilidade de ruína. A NBR-6122/10 não con-
templa este tipo de análise.

Figura 6 – Defi nição de probabilidade de ruína

2.7 Dimensionamento das peças estruturais

A avaliação da segurança de uma fundação deve incluir a análise de


estabilidade dos elementos estruturais (sapatas, radiers, estacas, etc).
Estas peças devem ser dimensionadas segundo as recomendações pre-
vistas nas normas dos respectivos materiais envolvidos (por exemplo, a
NBR-6118 para peças de concreto armado).

3. Movimentos da fundação

Burland e Wroth (1974) propuseram um conjunto consistente de


defi nições para descrever os movimentos da fundação (Figura 7 – notar

39
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

que o recalque está representado pela letra W). O recalque absoluto ou


total é o deslocamento vertical descendente da fundação. O recalque di-
ferencial entre dois pontos é a diferença entre os valores dos respectivos
recalques absolutos.
Um dos conceitos mais usados na previsão de patologias em edi-
fi cações decorrentes de movimentos da fundação é a rotação relativa ou
distorção angular (β). No caso da inclinação ser nula, o seu valor coincide
com o da rotação (θ), que pode ser calculada pela relação entre o recalque
diferencial entre dois pontos e o seu vão, facilitando os cálculos.

40
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS FUNDAÇÕES

Figura 7 - Movimentos da fundação (Gusmão, 1990)


O recalque é o principal movimento das fundações de edifícios,
já que o carregamento preponderante é decorrente de peso próprio. A
Tabela 3 apresenta um resumo das principais causas de recalques. Para o
correto diagnóstico das patologias e seu tratamento ou reforço, é funda-
mental que as causas dos recalques sejam devidamente caracterizadas. Do
contrário o tratamento pode ser inócuo ou até mesmo piorar o desempe-
nho do edifício.

Tabela 3 – Causas de recalques

Tipo Descrição Exemplo


Própria obra e obras vizi-
Estático
Carregamento nhas
Dinâmico
Máquinas, veículos, etc.
Chuva
Seca prolongada
Variação sazonal
Absorção por plantas
Variação de Drenagem
Evaporação
Umidade Cortes no relevo
Regularização de rios e
Barragem
canais
Rebaixamento do NA
Escavação
Rebaixamento do NA Cavas superficiais, túneis e
Métodos de galerias
Cravação de estacas
Construção Camada mole, erosão in-
Execução de aterros terna e gradiente crítico
Ruptura de peças
Fatores geológicos Cavernas cársticas
Erosão vossorocas
Condições ambien-
tais Elementos biológicos Formigueiros
Deterioração do elemen- Reação álcali-agregado
to estrutural (RAA)

41
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

4. Patologias causadas por recalques

4.1 Tipos de danos

Os danos causados pelos movimentos da fundação podem ser


classifi cados em estéticos, funcionais e estruturais (BURLAND et al.,
1977), como mostra a Tabela 4. Por outro lado, a maioria dos critérios
usados para avaliação de danos em edifi cação faz a comparação entre os
movimentos da fundação e valores ditos como limites ou admissíveis.

Tabela 4 – Danos associados a movimentos da fundação (BURLAND et


al., 1977)

Tipo de
Características Exemplos
Dano
- Dano afeta apenas a - Fissuras em painéis de estru-
aparência, sem compro- turas aporticadas.
Estético
meter o uso e a estabili- - Pequena inclinação de corpo
dade da edificação rígido
- Dificuldade para abertura de
portas e janelas.
- Dano afeta o uso e/
Funcional ou a funcionalidade da - Reversão de drenagem.
edificação
- Inclinação de poço de eleva-
dor.
- Dano afeta os elemen- - Fissuras em lajes, vigas e pila-
tos estruturais e podem res em estruturas aporticadas.
Estrutural
comprometer a estabili- - Fissuras em paredes de alve-
dade da edificação naria estrutural.

4.2 Patologias típicas

A ocorrência de recalques diferenciais causa o aparecimento de


esforços secundários nos elementos estruturais. A Figura 8, por exemplo,
mostra o caso de um painel de alvenaria apoiado em uma viga de concreto
armado.

42
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS FUNDAÇÕES

Figura 8 – Parede de alvenaria em estrutura aporticada

Admitindo-se que haja um recalque diferencial da coluna central


em relação aos demais apoios (situação muito comum de ocorrer na práti-
ca), o recalque afeta a parede, a viga e os pilares. Surgem tensões cisalhan-
tes nas faces na parede, e uma tração máxima a 45º (Figura 9). Dependen-
do da magnitude, pode ocorrer o fi ssuramento da parede nesta direção,
normalmente na junta entre os tijolos (Figura 10).

43
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 9 – Esforços adicionais na alvenaria devido ao recalque diferen-


cial

Figura 10 – Fissura na alvenaria

44
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS FUNDAÇÕES

A Figura 11 apresenta o modelo de cálculo da viga admitindo-se


apoios indeslocáveis. O recalque também provoca o surgimento de mo-
mentos negativo e positivo nos apoios periférico e central da viga, respec-
tivamente. Se a viga não estiver devidamente armada, pode haver fi ssura-
mento, conforme indicado na Figura 12.

Figura 11 – Modelo de cálculo da viga com apoios indeslocáveis

45
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 12 – Esforços adicionais e fi ssura na viga devido ao recalque di-


ferencial

Finalmente, o recalque também provoca uma redistribuição das


cargas nos pilares, havendo uma migração de carga do pilar central para os
pilares extremos. O acréscimo de carga pode provocar o esmagamento do
pilar (Figura 13).

46
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS FUNDAÇÕES

Figura 13 – Esmagamento dos pilares devido ao recalque diferencial

No caso de edifi cações com estrutura de alvenaria autoportante, o


padrão de fi ssuramento é infl uenciado pela presença de aberturas (janelas
e portas), como mostrado esquematicamente na Figura 14.
Há ainda que se considerar a rigidez da estrutura na redistribuição
dos esforços na estrutura (GUSMÃO, 1990). Se a deformada de recalques
for uniforme, há apenas uma translação da estrutura (sem inclinação), e
não surgem esforços adicionais na estrutura, mesmo sendo a mesma fl exí-
vel ou rígida. Se, ao contrário, a deformada não for uniforme, a estrutura
perfeitamente fl exível acompanha os movimentos do terreno e também
não há esforços adicionais na estrutura. Se, no entanto, for uma estrutura
rígida, há uma signifi cativa redistribuição de esforços.

47
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 14 – Exemplos de fi ssuras causadas por recalques em paredes


autoportantes (HOLANDA Jr., 2002)

5. Reforço de fundações

O reforço de uma fundação em geral é usado nas seguintes situações:

• Mau desempenho da fundação existente;

• Alteração do carregamento da estrutura (ex: ampliação vertical);

48
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS FUNDAÇÕES

• Alteração do tipo de uso da estrutura (ex: de residencial para comer-


cial).

Mas esse reforço não deve ser concebido de uma maneira isolada,
sem levar em conta o contexto da obra. Do mesmo modo, não se deve di-
mensionar um reforço de fundação sem que o diagnóstico das patologias
esteja devidamente esclarecido. A Tabela 5 apresenta as principais condi-
cionantes do projeto do reforço.

Tabela 5 – Condicionantes do reforço de fundações

Condicionantes Características
- Compatibilidade entre as condições do solo, da es-
trutura e do reforço.
Técnicas - O tempo de execução do reforço deve ser compa-
tível com a velocidade de ganho de estabilidade da
estrutura.
- Custo do reforço x valor da construção.
- Custo do reforço x valor da ampliação (ex: subsolo
Econômicas
para garagem).
- Edificações públicas e históricas.
- Acesso de pessoal e equipamentos.
Exequibilidade e
Segurança - Monitoramento da obra para identificação de situa-
ções de risco.

49
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Referências

ALONSO, U.R. (1991). Previsão e Controle das Fundações. Editora


Edgard Blucher, 142p.

BURLAND, J. B e WROTH, C. P. (1974). Settlements of Buil-


dings and Associated Damage. Proc. of Conference on Settlements of
Structures, Cambridge/UK, pp. 611-654,.

BURLAND, J.B.; BROMS, B.B.; MELLO, V.F.B. (1977). Beha-


vior of foundations and structures. Proc. Of IX ICSMFE, Tóqui, Vol. 2,
pp.495-546.

GUSMÃO, A. D. (1990). Estudo da Interação Solo-Estrutura e sua In-


fluência em Recalques de Edificações. Tese de Mestrado, COPPE, UFRJ, Rio de
Janeiro.

HOLANDA JR., O. G.(2002), Influência de Recalques em Edifícios de


Alvenaria Estrutural. Doutorado, EESC/USP, São Carlos.

50
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS
ESTRUTURAS DE CONCRETO

Eudes de Arimatéa Rocha - ear_pec@poli.br


Mestrado pela UPE
Engenharia Civil pela UPE
Eliana Cristina Barreto Monteiro – eliana@poli.br
Livre Docente pela UPE
Doutorado pela USP e Mestrado pela UnB
Engenharia Civil pela UPE

1. Manifestações Patológicas das Construções em Concreto

Em decorrência do que vem sendo discutido sobre patologia das


construções, o meio no qual a construção está inserida, é um definidor do
comportamento desta estrutura em relação a sua probabilidade de apre-
sentar defeitos. Uma vez que os fenômenos patológicos estão interligados
à ação degradante do ambiente, torna-se necessário uma prática constru-
tiva cada vez mais precisa, onde em todas as fases, desde a concepção e
planejamentos até a utilização da estrutura sejam tomadas as devidas pre-
cauções.
Assim, de acordo com Azevedo (2011), pode-se afirmar que as
manifestações patológicas têm suas origens motivadas por falhas ocasio-
nadas durante uma ou mais fases dos processos que permeiam a constru-
ção civil, sejam eles provenientes da fase de projeto, execução ou utilização
de determinada construção.
Tais falhas, por sua vez, são agravadas pela ação de agentes agres-
sivos, cuja atuação dificilmente se dá de forma isolada, mas sim como um
conjunto de agentes ligados a uma série de causas.
Outro importante aspecto que deve ser considerado e que está
atrelado ao desenvolvimento dos fenômenos patológicos em uma cons-
trução é a existência ou não de um programa de manutenção predial regu-
lar.
De maneira mais abrangente, os problemas patológicos exibem
sintomas que se apresentam numa escala evolutiva, em que, durante um

53
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

eventual acompanhamento do sintoma, percebe-se o desenvolvimento do


problema de forma a permitir distinção das diferentes causas. Neste caso,
quanto mais cedo for a identifi cação de determinada falha, mas fácil será
o tratamento do problema e consequentemente menos oneroso.
Em Monteiro (2005) é apresentado a lei de evolução dos custos,
conhecida também como Lei de Sitter ou Lei dos Cinco (Figura 1) em
que os custos de correção de um problema em uma estrutura de concreto
armado crescem segundo uma progressão geométrica de razão cinco, ou
seja, quanto mais cedo começa a se recuperar a estrutura, maior será a vida
útil da mesma e mais econômico será o processo de recuperação.
Diversos estudos, realizados em vários países do mundo, busca-
ram relacionar a fase da construção civil que mais origina problemas pa-
tológicos em estruturas de concreto. Em sua grande maioria as manifesta-
ções patológicas de estruturas de concreto surgem na fase de concepção e
projeto seguido por aspectos relacionados à execução das estruturas e aos
materiais construtivos empregados.

Figura 1 - Lei da evolução de custos de Sitter.


Fonte: Sitter (1986).

Vale salientar que a adoção de determinados materiais de cons-


trução sem o devido cuidado, em alguns casos, é condição sufi ciente para
o aparecimento de manifestações patológicas. O concreto, assim como o

54
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

tijolo e a pedra, são materiais porosos com uma microestrutura caracte-


rizada pela presença de um sistema de poros de várias dimensões através
dos quais podem penetrar as substâncias presentes no ambiente. Para Ber-
toloni (2010), o transporte de substâncias gasosas ou líquidas está frequen-
temente na base dos fenômenos de degradação desses materiais.
Entretanto outros mecanismos também podem atuar de maneira
a favorecer o aparecimento dos fenômenos patológicos. A presença de
umidade em uma edifi cação, uma movimentação eventual no terreno, uma
sobrecarga adicional na estrutura ou uma nova utilização da edifi cação
(não prevista em projeto) e, principalmente, a execução de reformas nas
construções sem a supervisão técnica estão entre alguns dos principais
fatores que desencadeiam problemas patológicos nas construções.
Vários autores, entre eles Bertolini (2010), Azevedo (2011), Metha
e Monteiro (2014), classifi cam em cinco os principais mecanismos de de-
terioração que podem ocorrer durante a vida útil de uma estrutura, elenca-
dos a seguir:

• Fissuração;

• Ataques químicos;

• Ataques físicos;

• Corrosão de armaduras;

• Defeitos devido à construção, concepção de projeto e detalhamento.

1.1 Fissuração

Em Veloso (2014), a fi ssuração é o segundo processo patológico


mais frequente nas edifi cações, fi cando atrás somente dos problemas de
presença de umidade nas estruturas. Segundo a autora supracitada, isto
ocorre pela diversidade de causas existentes, que podem provocar as fi ssu-
ras numa edifi cação.
Thomaz (1989) alerta para três aspectos relevantes que necessitam
ser considerados mediante a fi ssuração dos edifícios. São eles, (i) o com-
prometimento do desempenho da obra em serviço (estanqueidade à água,

55
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

durabilidade, isolação acústica, etc.), (ii) o constrangimento psicológico


que a fi ssuração do edifício exerce sobre seus usuários e (iii) o aviso de um
eventual estado perigoso para a estrutura.
Não necessariamente, a presença de fi ssuras em estruturas de con-
creto armado é uma indicação de defi ciência de resistência ou funciona-
mento e não deve ser, em geral, causa para alarme, considerando a possi-
bilidade de fi ssuração (CASTRO,1994). No entanto é importante salientar
que a fi ssuração das estruturas facilita a entrada de agentes agressivos e,
muitas vezes, um problema simples se torna uma anomalia muito mais
danosa.
De forma simplifi cada, as fi ssuras em estruturas de concreto po-
dem ser ocasionadas por tensões oriundas de atuação de sobrecargas ou
de movimentações de materiais, dos componentes ou da obra como um
todo. Assim, nas edifi cações as fi ssuras são provocadas, principalmente
por:

• Movimentações provocadas por variações térmicas e de umidade;

• Atuação de sobrecargas ou concentração de tensões;

• Deformabilidade excessiva das estruturas;

• Recalques diferenciados das fundações;

• Retração de produtos à base de ligantes hidráulicos;

• Alterações químicas de materiais de construção.

1.1.1 Fissuras Causadas por Movimentações Térmicas

Os elementos e componentes de uma estrutura estão sujeitos a


variações de temperatura, sazonais e diárias. Essas variações repercutem
em uma variação dimensional dos materiais de construção (dilatação ou
contração); os movimentos de dilatação e contração são restringidos pelos
diversos vínculos que envolvem os elementos e componentes, desenvol-
vendo nos materiais tensões que poderão provocar o aparecimento de
fi ssuras.

56
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

As trincas de origem térmica podem também surgir por movimen-


tações diferenciadas entre componentes de um elemento, entre elementos
de um sistema e entre regiões distintas de um mesmo material.
O CIBW80/RILEM 71-PSL (1983) explicita que as principais mo-
vimentações diferenciadas ocorrem em função de:

• Junção de materiais com diferentes coefi cientes de dilatação térmica,


sujeitos às mesmas variações de temperatura;

• Exposição de elementos a diferentes solicitações térmicas naturais;

• Gradiente de temperaturas ao longo de um mesmo componente.

1.1.2 Fissuras Causadas por Movimentações Higroscópicas

Para Thomaz (1989), as mudanças higroscópicas provocam va-


riações dimensionais nos materiais porosos que integram os elementos e
componentes da edifi cação.
Bertolini (2010, p.32) descreve que “em quase todos os fenôme-
nos de degradação físico-química dos materiais, é necessária a presença de
água”. Freitas, Torres e Guimarães (2008), por sua vez, reafi rmam que a
umidade constitui uma das principais causas de degradação dos edifícios.
Tal afi rmação se justifi ca porque o aumento do teor de umidade
provoca uma expansão do material enquanto que a diminuição desse teor
provoca uma contração. Os vínculos impedem ou restringem essas mo-
vimentações, ocasionando as fi ssuras nos elementos e componentes do
sistema construtivo.
A umidade tem acesso aos materiais de construção através de di-
versas vias, como por exemplo:

• Umidade resultante da produção dos componentes;

• Umidade proveniente da execução da obra;

• Umidade do ar ou proveniente de fenômenos meteorológicos;

• Umidade ascencioanal proveniente dos mecanismos de migração por

57
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

capilaridade da água no interior dos poros dos materiais de constru-


ção.

1.1.3 Fissuras Causadas pela Atuação de Cargas Diretas e Sobre-


cargas

Conforme comentado por Filho e Carmona (2013), os esforços


mais comuns e que levam à fi ssuração devido à esforços externos aplica-
dos são aqueles que produzem tensões de tração, tais como fl exão, cisalha-
mento, punção, torção entre outros.
Segundo Thomaz (1989), a ocorrência de fi ssuras em um determi-
nado elemento estrutural produz uma redistribuição de tensões ao longo
do componente fi ssurado e mesmo nos componentes vizinhos, de manei-
ra que a solicitação externa geralmente acaba sendo absorvida de forma
globalizada pela estrutura ou parte dela.
O controle de fi ssuras em projeto é bastante complexo e impli-
cações estruturais sérias não devem ser esperadas de fi ssuras excedendo
marginalmente os limites de norma se a armadura é sufi ciente e adequa-
damente colocada, e o cobrimento é compatível com o ambiente onde a
estrutura está situada. As principais confi gurações de fi ssuras sob efeito de
cargas são apresentadas na Figura 2, transcrita do Bulletin d` Information
(CEB nº 182, 1989).
Quanto às sobrecargas, previstas ou não em projeto, as mesmas
podem produzir o fi ssuramento de componentes de concreto armado sem
que isto signifi que, necessariamente, a ruptura do componente ou instabi-
lidade da estrutura. No entanto, é sempre bom considerar a incidência de
fi ssuras em uma estrutura de forma a evitar a penetração de agentes.

1.1.4 Fissuras Causadas por Deformabilidade Excessiva de Estru-


turas de Concreto Armado

Vigas e lajes deformam-se naturalmente sob ação do peso próprio,


das demais cargas permanentes e acidentais e mesmo sob efeito da retra-
ção e da deformação lenta do concreto. Os componentes estruturais ad-
mitem fl echas que podem não comprometer em nada sua própria estética,
a estabilidade e a resistência da construção; tais fl echas, entretanto, podem

58
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

ser incompatíveis com a capacidade de deformação de paredes ou outros


componentes que integram os edifícios (THOMAZ, 1989).
A NBR 6118 (ABNT, 2014) estipula as máximas fl echas permissí-
veis para vigas e lajes (alínea c, item 4.2.3.1):

As fl echas medidas a partir do plano que contém


os apoios, quando atuarem todas as ações, não
ultrapassarão 1/300 do vão teórico, exceto no
caso de balanços para os quais não ultrapassarão
1/150 do seu comprimento teórico.
O deslocamento causado pelas cargas acidentais
não será superior a 1/500 do vão teórico e 1/250
do comprimento teórico dos balanços.

59
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 2 - Fissuras devido a carga imposta.


Fonte CEB, (1989) – adaptada.

Salienta-se a necessidade de maior atenção e cuidado especial ao se


verifi car a possibilidade de ser atingido o estado de deformação excessiva,
evitando as deformações que possam ser prejudiciais à estrutura ou a ou-
tras partes da construção.
É comum alguns calculistas não darem a devida atenção a este
item da Norma, presenciando-se frequentes casos de fi ssuras em alvena-
rias provocadas pelas fl echas dos componentes estruturais.

60
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

1.1.5 Fissuras Causadas pela Retração de Produção à Base de Ci-


mento

O fenômeno da retração está associado a deformações em pastas


de cimento, argamassas e concretos, sem que haja qualquer tipo de carre-
gamento. De uma forma geral, a principal causa da retração é a perda de
água da pasta de cimento (FILHO; CARMONA, 2013).
Nesta compreensão o principal mecanismo de retração é a perda
de água por evaporação em estado fresco ou endurecido.
Thomaz (1989) considera que em função da trabalhabilidade ne-
cessária, os concretos e argamassas normalmente são preparados com
água em excesso, o que vem acentuar a retração. Na realidade é importante
distinguir as três formas mais comuns de retrações que ocorrem em um
produto preparado com cimento:

• Retração química: a reação química entre o cimento e a água se dá


com redução de volume; devido a grandes forças interiores de coesão,
a água combinada quimicamente (22 a 32%) sofre uma contração de
cerca de 25% de seu volume original;

• Retração por secagem: a quantidade excedente de água, empregada


na preparação do concreto ou argamassa, permanece livre no interior
da massa, evaporando-se posteriormente; tal evaporação gera forças
capilares equivalentes a uma compressão isotrópica da massa, produ-
zindo a redução do seu volume;

• Retração por carbonatação: a cal hidratada liberada nas reações de


hidratação do cimento reage com o gás carbônico presente no ar,
formando carbonato de cálcio. Esta reação é acompanhada de uma
redução de volume.

Os três tipos acima descritos, acontecem com o concreto em seu


estado endurecido, ou em seu processo de endurecimento em períodos
de tempo relativamente longos. Ainda há um quarto tipo de retração que
ocorre quando o concreto está em seu estado fresco. Este se chama retra-
ção plástica.

61
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Andrade e Silva (2005) afi rmam que a perda de água do concreto


ainda não endurecido ocorre devido à exposição de sua superfície às in-
tempéries como vento, baixa umidade relativa e aumento da temperatura
ambiente que podem levar o concreto à fi ssuração.
Desse modo, a retração plástica é consequência da evaporação da
água da superfície exposta do concreto. Este tipo de retração está ligado
ao fenômeno da exsudação, ou seja, se a evaporação da água da superfície
for mais rápida do que a exsudação, podem ocorrer fi ssuras superfi ciais,
de pequena profundidade e normalmente espaçadas de 0,30 a 1,0mm.
As fi ssuras provenientes de retração térmica se interceptam se-
gundo ângulos aproximadamente retos, podendo dar origem a uma rede
reticular formada por um grande número de fi ssuras com profundidade
elevada que abrem caminho para a percolação da água e consequente-
mente deterioração do concreto (SANTOS; BITTENCOURT; GRAÇA,
2011).

1.1.6 Fissuras Causadas por Alterações Químicas dos Materiais de


Construção

Os materiais de construção são susceptíveis de deterioração


pela ação de substâncias químicas, principalmente as soluções ácidas e
alguns tipos de álcool. A seguir serão enfocados três tipos de alterações
químicas que se manifestam com frequência relativa:

• Retração retardada de cales: Segundo Santos, Bittencourt e Graça


(2011), no caso de fabricação de componentes ou elementos com ca-
les mal hidratadas, se por qualquer motivo ocorrer uma umidifi cação
do componente ao longo de sua vida útil, haverá a tendência de que
os óxidos livres venham a hidratar-se, apresentando, em consequên-
cia, um aumento do volume de aproximadamente 100%. Em função
da intensidade dessa expansão poderão surgir fi ssuras que ocorrerão
preferencialmente nas proximidades do topo da parede, onde são me-
nores os esforços de compressão oriundos do seu peso próprio;

62
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

• Ataque por sulfatos: O aluminato tricálcico, um constituinte normal


dos cimentos, pode reagir com sulfatos em solução formando um
composto denominado sulfoaluminato tricálcico ou etringita, sen-
do que esta reação é acompanhada de grande expansão (METHA;
MONTEIRO, 2014). Para que esta reação ocorra é necessária a pre-
sença de cimento, de água e de sulfatos solúveis. Os sulfatos poderão
provir de diversas fontes, como o solo, águas contaminadas ou mes-
mo componentes cerâmicos constituídos por argila com altos teores
de sais solúveis;

• Corrosão de armaduras: Quando há corrosão das armaduras no in-


terior do concreto, os óxidos que se formam são expansivos, geran-
do grandes tensões. Isto provoca o rompimento do concreto, com
o aparecimento de fi ssuras e lascamento do concreto ao longo da
armadura.

1.2 Ataques Químicos

A degradação do concreto por ataque químico é, comumente, um


resultado de ataque sobre a matriz do cimento mais que sobre os agrega-
dos. A permeabilidade do concreto, caracterizada pela existência de poros,
e a presença de fl uídos agressivos são fatores determinantes nos efeitos
dos ataques químicos. Estes podem ocorrer em duas formas: dissolução,
que é a lavagem de componentes solúveis, e expansão, devido à forma-
ção/cristalização dos componentes (CASTRO, 1994).
Segundo Almeida e Sales (2014), os ataques químicos mais co-
muns são:

• Efl orescência: São manchas ocasionadas geralmente pela precipitação


de carbonato de cálcio (CaCO3) na superfície do concreto, devido à
evaporação da água que contém o hidróxido de cálcio;

• Ataque por sulfatos: É uma reação que consiste na formação de etrin-


gita (trisulfoaluminato de cálcio hidratado) a partir da reação de íons
sulfatos com aluminatos de cálcio hidratado de cimento e /ou a alu-
mina reativa dos agregados. Este composto é muito expansivo e pro-

63
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

duz desagregação de toda a massa, com perdas de resistência notáveis;

• Ataque por ácidos: A penetração dos ácidos causa a decomposição de


produtos de hidratação do cimento formando outros elementos que,
se forem solúveis, podem ser lixiviados e, se insolúveis, podem ex-
pandir no próprio local onde se formam. O resultado deste ataque é a
redução da capacidade aglomerante da pasta de cimento provocando
a desagregação do concreto;

• Ataque por água do mar – Contém os sais, cloretos e nitratos; com


cátions (Al, Fe, Mg) formam bases insolúveis e de baixa alcalinidade.
Não interferem no aumento da porosidade da pasta, mas reduzem o
seu pH, sendo prejudiciais à estabilidade dos silicatos de cálcio hidra-
tados e à corrosão das armaduras.

1.2.1 Íons Cloretos

De acordo com Figueiredo (2011), nas edifi cações a maior preo-


cupação quanto ao ataque químico nas estruturas é através da névoa salina
com alto teor de íons cloretos que se infi ltram nas estruturas provocando
corrosão das armaduras ou outras anomalias. A ação desta névoa salina é
intensifi cada pela proximidade com mares e oceanos. Neste caso as edi-
fi cações presentes próximas às zonas litorâneas podem apresentar uma
quantidade elevada de íons cloreto em sua estrutura.

1.2.2 Eflorescências

A efl orescência pode aparecer nas peças de concreto após dias,


semanas ou mesmo meses. São depósitos salinos que se formam na super-
fície, resultantes da migração e posterior evaporação de soluções aquosas
salinizadas, deixando assim formações salinas na superfície dos materiais
(LANNES, 2011). Na maior parte dos casos as efl orescências não causam
problemas maiores que o mau aspecto resultante, mas há circunstâncias
em que o sal formado pode levar a lesões tais como o descolamento dos
revestimentos ou pinturas, a desagregação das paredes e até a queda de
elementos construtivos.

64
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

Os sais solúveis que dão origem às efl orescências podem ter várias
origens, dentre elas as matérias-primas, os materiais de construção, a água
existente no subsolo, etc. Na maioria dos casos as efl orescências em ma-
teriais de construção são causadas por sais de cálcio, de sódio, de potássio,
de magnésio ou de ferro, raramente por outros. E também na maioria dos
casos esses sais já fazem parte integrante do material de construção que,
ao ser atravessado pela umidade, os dissolve na água (VERÇOZA, 1991).
A efl orescência é um processo natural em que a água, tendo en-
trado pelos poros capilares, dissolve o hidróxido de cálcio da pasta de
cimento. O hidróxido de cálcio dissolvido pode, em seguida, reagir com
o dióxido de carbono do ar para formar carbonato de cálcio insolúvel na
superfície do concreto. Visto que um fi lme de água normalmente tam-
bém está presente na superfície do concreto, na maioria dos casos toda a
superfície fi cará coberta por carbonato de cálcio, que são as manchas. O
sal também pode se formar quando a água reúne dois ou mais compostos
diferentes que reajam entre si. Para que ocorra a efl orescência há sempre
uma constante necessidade de umidade, sendo por isso a sua correção
implicar na eliminação da umidade.
Na percepção de Verçoza (1991), “raramente o sal pode ser depo-
sitado pela atmosfera, devido à presença de indústrias químicas ou situa-
ções similares nas proximidades, que lancem produtos químicos no ar. Ou
pode ser simplesmente poeira trazida pelo ar”. (p.28-9)
Já em Lannes (2011), as efl orescências podem possuir manchas de
cor castanhas, ou de ferrugem, que é o tipo de mancha mais comum do
concreto armado. Ela aparece quando há pouco recobrimento da arma-
dura, ou quando o concreto é muito poroso, ou quando o aço entra em
contato com substâncias oxidantes, como os ácidos inorgânicos. Podem
possuir também manchas brancas, com aspecto de nuvem, pulverulentas,
geralmente causadas por sulfatos (de sódio, de potássio, cálcio ou magné-
sio), e que não desagregam dos materiais. A maior lesão é o mau aspecto,
a depreciação e descolamento de pinturas, mas nem sempre acontece por
que às vezes, a umidade com o sal, atravessa também a pintura. Quando
o sal é depositado por atmosferas industriais, ou vem do solo junto com
a água de capilaridade, nesse caso a deposição será permanente. Podem
ocorrer também manchas de cor branca escorrida, que não são solúveis

65
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

em água e são muito aderentes, são manchas de carbonato de cálcio, co-


mumente formado pela reação do hidróxido de cálcio (nata de cal) com o
gás carbônico do ar. Essas manchas não corroem o material, porém dão
um péssimo aspecto e podem causar o descolamento dos revestimentos
ou pinturas, porque o sal é mais grosso que os sulfatos.
Em decorrência da diversidade de compostos que podem originar
o fenômeno da efl orescência, Bauer (2011), sintetiza no Quadro 1 a natu-
reza química das efl orescências relacionando-as com a sua respectiva fonte
de origem e solubilidade em água.

Quadro 1 – Natureza química das efl orescências

Solubilidade em
Composição Química Fonte Provável
Água
Carbonatação da cal lixiviada
da argamassa ou concreto e
Carbonato de Cálcio Pouco solúvel
de argamassa de cal não car-
bonatada.
Carbonatação da cal lixiviada
Carbonato de Magnésio de argamassa de cal não car- Pouco solúvel
bonatada.
Carbonatação dos hidróxidos
Carbonato de Potássio alcalinos de cimentos com Muito solúvel
elevado teor de álcalis
Carbonatação dos hidróxidos
Carbonato de Sódio alcalinos de cimentos com Muito solúvel
elevado teor de álcalis
Cal liberada na hidratação do
Hidróxido de Cálcio Solúvel
cimento
Sulfato de Cálcio Desi- Hidratação do sulfato de cál- Parcialmente so-
dratado cio do tijolo lúvel
Sulfato de Magnésio Tijolo, água de amassamento Solúvel
Parcialmente so-
Sulfato de Cálcio Tijolo, água de amassamento
lúvel
Reação tijolo-cimento, agre-
Sulfato de Potássio Muito solúvel
gados, água de amassamento
Reação tijolo-cimento, agre-
Sulfato de Sódio Muito solúvel
gados, água de amassamento
Cloreto de Cálcio Água de amassamento Muito solúvel

66
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

Cloreto de Magnésio Água de amassamento Muito solúvel


Solo adubado ou contami-
Nitrato de Potássio Muito solúvel
nado
Solo adubado ou contami-
Nitrato de Sódio Muito solúvel
nado
Solo adubado ou contami-
Nitrato de Amônia Muito solúvel
nado
Cloreto de Alumínio Limpeza com ácido muriático Solúvel
Cloreto de Ferro Limpeza com ácido muriático Solúvel

Fonte: Bauer (2011).

1.2.3 Corrosão das Armaduras

Quando o concreto se combina com o cimento, a água, o agrega-


do, e se necessário com aditivos, seus diversos componentes se hidratam
formando um conglomerado sólido. O concreto resulta, portanto, em um
sólido compacto e denso, porém poroso. A rede de poros permite que o
concreto apresente certa permeabilidade aos líquidos e gases. Mesmo que
o cobrimento das armaduras seja uma barreira física, esta é permeável, em
certa medida, e permite o acesso de elementos agressivos.
Helene (2014) considera que a mais generalizada das manifesta-
ções patológicas do concreto é a corrosão das armaduras, principalmente
em peças de concreto aparente. A corrosão do aço é a sua transformação
em Fe (OH)n, onde pode ser o Fe (OH)2 que é o hidróxido ferroso ou
hidróxido de ferro II e também pode ser o Fe (OH)3 que é o hidróxido
férrico ou hidróxido de ferro III. Este hidróxido é a ferrugem, material
fraco e, pulverulento ou escamado, que não tem aderência ou coesão, e
aumenta de volume à medida que se forma até alcançar de oito a dez vezes
o volume do aço que lhe deu origem.
Para este mesmo autor, o fenômeno da corrosão pode ser enten-
dido como a interação destrutiva de um material (no caso o aço do con-
creto armado) com o meio ambiente, como resultado de ações deletérias
de natureza química e eletroquímica, associadas ou não a ações físicas ou
mecânicas de deterioração. Basicamente, são dois os processos principais

67
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

de corrosão que podem sofrer as armaduras de aço para concreto armado:


a oxidação e a corrosão propriamente dita.
Contudo, Verçoza (1991) afi rma que a corrosão química, em geral,
é a menos importante no concreto armado, é a corrosão provocada por
reações químicas normais. Todos os ácidos inorgânicos (sulfídrico, clorí-
drico, nítrico, fl uorídrico, entre outros) são agentes violentos de corrosão;
sendo os mesmos gotejados em aços, os perfuram rapidamente. Havendo
a presença de cloretos com a água, formam-se eletrólito com cloro livre
que reage com o ferro, formando então a ferrugem. O cloro e cloretos
são perigosíssimos para a armadura e também para o concreto, porque a
reação é contínua. Estes elementos são muito encontrados em aditivos, já
que são aceleradores de pega muito efi cientes e rápidos.
O cloro também é encontrado na água do mar, em atmosferas e
esgotos industriais, em muitos detergentes, etc. Reações semelhantes às do
cloro e cloretos sucedem com o enxofre e sulfato, com amônia e nitrato.
Ainda de acordo com Helene (2014), a corrosão química pode ocorrer
eventualmente sem a penetração de substâncias corrosivas. O aço, ao ar
livre, em presença de oxigênio, pode ou não se transformar em ferrugem.
Quando bem polido e nas temperaturas ambientes é difícil a corrosão
química, a não ser que haja outras substâncias na atmosfera.
De acordo com Sousa (2014), não existe uma fronteira fi xa entre
a corrosão química e a eletroquímica, sendo que, a corrosão eletroquímica
localiza-se em pontos que atuam como ânodo, embora logo se generalize.
Esse tipo de corrosão apresenta-se principalmente, quando existe hetero-
geneidade no aço, sejam elas devidas à sua própria natureza, às tensões a
que se acha submetido, ao meio em que está, entre outros. A corrosão ele-
troquímica é a principal causa de deterioração nas armaduras do concreto
armado e protendido.
No concreto nas primeiras idades e nas demais idades, a armadura
está em meio alcalino ideal e, portanto, o aço está em forma passiva. En-
tretanto, por diversas causas, esta passividade pode desaparecer em pontos
localizados (corrosão localizada ou sob tensão); ou desaparecer comple-
tamente (corrosão generalizada). Para que haja perda da passividade e se
inicie a corrosão do aço é preciso que apareçam causas que possibilitem

68
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

a criação de correntes elétricas de sufi ciente diferença de potencial para


gerar uma pilha que desencadeie o processo corrosivo.
Ainda segundo Sousa (2014), os fatores desencadeadores da cor-
rosão localizada que dão origem a ânodos nos quais se produzem a corro-
são, podem ser muito variados. Alguns, às vezes, não originam sufi ciente
diferença de potencial para produzir uma corrosão e esse é o caso da he-
terogeneidade estrutural criada pelo dobramento de armaduras, ninhos de
pedra em contato com barras, diferenças de concentração de pasta ao seu
redor, etc.; outros pelo contrário, podem produzir diferenças de potencial
sufi cientemente alta para pôr em perigo a passividade e entre elas pode-se
distinguir os cloretos, sulfatos e sulfetos na massa do concreto, entre ou-
tros.
Quando há corrosão acentuada, o primeiro efeito é o aparecimen-
to de manchas avermelhadas na superfície do concreto. O segundo, mais
grave, é consequência da expansão, pressionando o concreto e, com o
tempo, o faz romper ocasionando o descolamento da armadura.

1.3 Ataques Físicos

Na compreensão de Sousa, Almeida e Araújo (2014), as causas


intrínsecas ao processo de ataques físicos à estrutura são as resultantes
da ação da variação da temperatura externa, da insolação, do vento e da
água, esta última sob a forma de chuva, gelo e umidade, podendo-se ainda
incluir as eventuais solicitações mecânicas ou acidentes ocorridos durante
a fase de execução de uma estrutura.
Para Almeida e Sales (2014) as principais causas físicas que podem
produzir danos importantes no concreto são:

• Ações dos ciclos de congelamento/descongelamento: a água ao con-


gelar-se sofre um aumento no seu volume da ordem de 9%. Se ela
penetrar nos poros abertos do concreto e os saturar, existirá o perigo
de que o incremento de volume de água congelada crie pressões in-
ternas no concreto que podem provocar fi ssuras e escamações. Esse
fenômeno difi cilmente ocorre no Brasil;

• Ação do fogo: a ação do fogo em estruturas de concreto pode pro-

69
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

vocar diversas transformações que o danifi cam, podendo ocasionar


fi ssuração e decréscimo da resistência à compressão. No caso do con-
creto armado, a ação do fogo pode ainda comprometer a resistência à
tração das armaduras;

• Cristalização de sais nos poros: também conhecido por descamamen-


to por sal, desagregação por sal ou ataque por hidratação de sal; este
ataque puramente físico ocorre a partir da penetração de uma solução
de sais hidratáveis na estrutura. Os danos típicos causados por esta
ação podem ser constatados em monumentos históricos de pedra ou
rocha;

• Erosão por abrasão: a erosão por abrasão, em geral, ocorre por for-
te contato e atrito de corpos ou partículas rígidas com a superfície
do concreto. A abrasão pode ser motivada pela passagem de veícu-
los, deslocamento de material solto sobre canalizações, etc. também
pode ser motivada por ações de partículas pesadas suspensas na água
e circulando com grande velocidade, como ocorre em canalizações e
estruturas marinhas, etc.

1.4 Ataques Biológicos ou Biodeterioração

As principais anomalias oriundas da biodeterioração são o bolor,


o mofo e o limo que representam manifestações patológicas decorrentes
da colonização por diversas populações de bactérias, fungos fi lamento-
sos e micro vegetais que se alimentam de materiais orgânicos formando
manchas sobre a superfície atacada. Verçoza (1991) salienta que o bolor e
o mofo são manifestações ocasionadas por um tipo de microvegetais, os
fungos. Entretanto, há também outros microorganismos, como as bacté-
rias e algas microscópicas que provocam o mesmo efeito que os fungos,
contudo a diferenciação deve ser feita por meio de investigações em labo-
ratórios biológicos.
Já o limo, é uma película esverdeada formada por colônias de al-
gas ou microalgas que se depositam sobre a superfície do material. Estes
agentes não atacam diretamente o substrato, no entanto, causam um mau
aspecto diminuindo a estética da edifi cação. Quando presentes em grandes

70
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

quantidades na estrutura podem causar o desagregamento lento das arga-


massas pela pressão de suas raízes.
Conforme descrito por Guerra, Cunha e Silva (2012), o apareci-
mento destas anomalias é muito comum em edifi cações que apresentam
pouca iluminação natural, ausência de ventilação e ou ventilação inefi caz
nos cômodos e umidade elevada (pontos sem água corrente) produzindo
o ambiente perfeito para o desenvolvimento e proliferação dos mofos.
Outro aspecto relacionado à biodeterioração dos materiais e igual-
mente relevante, refere-se a ação de excrementos de animais, especialmen-
te aves. Urina e fezes destes animais são bastante ácidas e podem promo-
ver a degradação generalizada de argamassas e rochas. Além do mais, tais
dejetos em demasia, oferecem riscos biológicos para os seres humanos.
Bencke (2007) alerta para o perigo biológico que os pombos do-
mésticos representam para as edifi cações e, principalmente, para a socie-
dade. Segundo sua análise, os pombos transmitem doenças mortais aos
homens e podem ser provocadas tanto por fungos existentes em suas fe-
zes secas, como por bactérias presentes em seus organismos.
Em virtude desta preocupação, foram criados diversos mecanis-
mos que difi cultam a presença dessas aves nas estruturas das edifi cações.
A Figura a seguir apresenta alguns destes mecanismos de proteção.

(a) Redução da área de pouso pelo


uso de arames ou fios de nylon.

(b) Hastes pontiagudas tipo “porco


espinho” colocadas em locais altos.

71
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

(c) Uso de telas uniformes.

Figura 3 – Medidas que inibem a presença de pombos nas fachadas das


edifi cações.
Fonte: (a) e (b) Bencke (2007) e (c) Beck (2003).

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74
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS
ALVENARIAS DE VEDAÇÃO
FISSURAS NA ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Alberto Casado Lordsleem Júnior


Livre Docente pela UPE
Pós-Doutorado, Doutorado e Mestrado pela USP
Engenharia Civil pela UFPE

1. Introdução

A fissuração é um problema patológico que interessa a vários


ramos da engenharia, entre outros motivos, por estar diretamente rela-
cionada à resistência dos materiais. Na engenharia de construção civil, a
incidência é verificada tanto nos componentes mais simples, como por
exemplo nos blocos de uma alvenaria, como até em elementos comple-
xos, tais como os responsáveis pela segurança estrutural de uma edificação
(LORDSLEEM JR., 1997).
De acordo com COSTA (1993), a fissura também é conhecida por
outras denominações, como por exemplo: trinca e rachadura. A seguir são
apresentadas algumas definições extraídas da bibliografia.
ELDRIDGE (1982), discorrendo sobre as principais patologias
que incidem nas edificações, define fissura como: “o resultado de solici-
tações maiores do que aquelas que o edifício ou parte dele pode suportar.
Essas solicitações podem ser externas ou internas ao edifício ou aos seus
materiais (...). Pode ser uma ou várias solicitações, resultante de uma ou
várias causas”. Essa definição deixa implícito quão difícil é o diagnóstico
dessa patologia, pois a fissura pode ser resultante de uma ou inúmeras
causas, atuando ou não ao mesmo tempo.
MORAES (1982), em sua dissertação de mestrado, define trinca
(terminologia utilizada por esse autor) como: “um fenômeno, patológico
às construções, caracterizado pela ruptura entre as partes de um mesmo
elemento ou entre dois elementos acoplados, causando danos de ordem

77
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

estética ou estrutural a uma edifi cação”. MORAES destaca nessa defi nição
a forma como a trinca pode ocorrer: entre elementos ou em um mesmo
elemento.
O Centre Scientifique et Technique de la Construction - CSTC apud SA-
BBATINI (1984), particulariza a defi nição de fi ssura ao elemento parede:
“manifestação patológica do alívio das tensões que se desenvolvem inter-
namente na parede. Essas tensões ao sobrepujarem a capacidade resistente
dos materiais levam à ruptura localizada - a fi ssura, cuja abertura raramen-
te ultrapassa 1 mm”.
SABBATINI acrescenta ainda que: “as trincas, que se diferenciam
das fi ssuras pela sua maior abertura, ocorrem por desequilíbrios de grande
amplitude, como devido a recalques diferenciais exagerados das funda-
ções”.
O Conseil International du Bâtiment - CIB (CIB..., 1993), numa publi-
cação sobre as patologias das edifi cações, ressalta a forma da fi ssura em
sua defi nição: “(...) uma descontinuidade linear, produzida pela fratura de
um material. Abertura estreita e longa”.
Para a compreensão dos assuntos aqui tratados, adotou-se a se-
guinte defi nição para fissura: manifestação patológica resultante de uma
solicitação maior do que a capacidade de resistência da alvenaria, com
aberturas lineares até a ordem de 1 mm de largura, que podem interferir
nas suas características estéticas, funcionais ou estruturais. As aberturas
cuja largura seja inferior a 0,1 mm podem também ser denominadas de
microfissuras e aquelas superiores a 1 mm denominadas de trincas.
Como regra geral, será utilizado o termo fi ssura no decorrer deste
capítulo, exceto nos casos de citações diretas em que os autores utilizem
outras expressões para designar essa patologia.
O surgimento de fi ssuras no revestimento constitui-se apenas na
manifestação exterior de um fenômeno que pode ter origem no próprio
revestimento ou na base sobre a qual o revestimento é aplicado, no caso
em questão a alvenaria de vedação. E, em função da origem, a recuperação
a ser adotada será completamente diferente. Por isso, convém distinguir as
diferentes possibilidades de origem da fi ssura.

78
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

2. Origem das fissuras

2.1 No revestimento de argamassa

Os revestimentos, assim como as paredes e as aberturas fazem par-


te do subsistema vedação vertical. Estes elementos já foram tema de dis-
cussão de várias publicações, entre as quais: ALVENARIAS (1988), INS-
TITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS - IPT (INSTITUTO...,
1988), SABBATINI et al. (1988a), SABBATINI et al. (1988b), SELMO
(1989), LORDSLEEM JR. (1997), SAHADE (2005) e LORDSLEEM JR.,
FARO (2016).
CINCOTTO (1984), ao tratar das patologias das argamassas de
revestimento, afi rma que a manifestação de fi ssuras com origem no reves-
timento de argamassa ocorre geralmente na forma de mapa.
A Figura 1 ilustra a ocorrência de fi ssuras no revestimento de argamassa
na forma de mapa.
MEDEIROS; SABBATINI (1994), discorrendo sobre a fi ssuração
dos revestimentos de argamassa, afi rmam que a manifestação de fi ssuras
podem acontecer tanto na fase plástica quanto na fase endurecida. Segun-
do esses autores, é a perda de umidade nas primeiras idades que desenca-
deia movimentos de retração, os quais acabam gerando tensões internas
de tração e, consequentemente, a fi ssuração do revestimento. De acordo
com SABBATINI (1984), essa retração também ocorre em função das
reações de hidratação e carbonatação dos aglomerantes.

79
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 1 - Manifestação típica de fi ssuras com origem no revestimento


de argamassa

BAUER (1997), ao analisar as patologias dos revestimentos de ar-


gamassas inorgânicas, também considera que a incidência de fi ssuras, sem
que tenha ocorrido movimentação ou fi ssuração da base, ocorre principal-
mente por retração da argamassa.
Segundo SABBATINI (1995), as fi ssuras ocasionadas pela retra-
ção da argamassa de revestimento podem ser prejudiciais ou não, conforme
ilustra a Figura 2.

80
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

Figura 2 - Fissuração da argamassa por retração: a) formação de fi ssuras


prejudiciais; b) formação de microfi ssuras não-prejudiciais (SABBATINI,
1995)

MEDEIROS; SABBATINI (1994) esclarecem que as fi ssuras con-


sideradas prejudiciais ou patológicas, como ilustra a Figura 2(a), são aque-
las que “interferem nas propriedades fundamentais dos revestimentos de
argamassa - estanqueidade, durabilidade, integridade e aderência à base”.
As microfi ssuras não-prejudiciais ilustradas na Figura 2(b) podem
ainda se propagar ao longo do tempo por efeito das movimentações tér-
micas e higroscópicas do revestimento causadas pelas variações nas con-
dições ambientais.
O processo que se forma com a associação dessas microfi ssuras
existentes no interior da argamassa leva a formação das fi ssuras prejudi-
ciais, como aquelas ilustradas na Figura 2(a).
Dessa forma, a formação de fi ssuras na argamassa de revestimen-
to é análoga aquela que HANAI (1992) descreve para a argamassa armada,
na qual a “propagação de fi ssuras a partir de micro1 ou macrofi ssuras pré-
1
HANAI (1992), ao tratar da argamassa armada, defi ne microfi ssuração como sendo: “o
fenômeno de propagação de fi ssuras a partir de descontinuidades físicas - bolhas, poros,
falhas de aderência entre pasta e agregado - que podem ser vistas como microfi ssuras
pré-formadas no interior do material”.

81
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

formadas acaba, num intricado processo de conexão entre minúsculas fra-


turas, conduzindo à superfície de fratura global, segundo a qual as partes
de uma amostra de argamassa se separam”.
Segundo SABBATINI et al. (1988a), os principais fatores que in-
terferem na fi ssuração dos revestimentos são: teor e natureza dos aglome-
rantes, teor e natureza dos agregados, capacidade de absorção de água da
base e a técnica de execução. A Tabela 1 de MEDEIROS; SABBATINI
(1994) relaciona a importância desses fatores para o surgimento de fi ssuras
nos revestimentos de argamassa.

Tabela 1 - Fatores que interferem na fi ssuração dos revestimentos nas


primeiras idades (MEDEIROS; SABBATINI, 1994)
Fatores Considerações
É principalmente o teor de finos na argamassa
que determina três importantes propriedades
Teor e natureza dos
que influenciam na fissuração dos revestimentos:
aglomerantes
a retenção de água, a trabalhabilidade e a
reatividade.
A granulometria dos agregados deve ser contínua
permitindo a ocorrência de um menor volume de
Teor e natureza dos
vazios. Finos inertes devem ser limitados. Desta
agregados
forma, pode-se reduzir o consumo de água e, con-
seqüentemente, a retração do revestimento.
A perda de umidade excessiva durante o endureci-
mento agravada pelas condições ambientais é um
Absorção de água
fator determinante no ganho de resistência inicial.
pela base
Argamassas com maior capacidade de reter água
podem minimizar este efeito.
O grau de compactação exercido na execução e o
teor de umidade remanescente durante o desem-
Técnica de execução
penamento são fatores muito importantes no apa-
recimento de fissuras nas primeiras idades.

Ainda em função do teor de aglomerantes, de acordo com SAB-


BATINI et al. (1988a), as fi ssuras na argamassa de revestimento podem se
manifestar de duas formas diferentes.
Nas argamassas ditas fortes, ou seja, com maior teor de cimento
e maior limite de resistência, as tensões vão se acumulando e a ruptura

82
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

quando ocorre é na forma de macrofi ssuras. Em contrapartida, há as ar-


gamassas ditas fracas, cujas ligações internas são menos resistentes e as
tensões podem ser dissipadas na forma de microfi ssuras não-prejudiciais,
como aquelas mostradas na Figura 2(b).
Para SABBATINI et al. (1988a), a relação entre as capacidades
de absorção de água da base e de retenção de água da argamassa podem
regular a perda de umidade do revestimento durante seu endurecimento,
permitindo o desenvolvimento de resistência de aderência à tração.
Em função disso, LOGEAIS (1989) aconselha que as característi-
cas dos materiais empregados na produção da argamassa de revestimento
sejam compatíveis com as características da base, de forma a evitar o apa-
recimento de fi ssuras.
Outro parâmetro que infl uencia a fi ssuração do revestimento de
argamassa é a técnica de execução pois estabelece o grau de compactação
do revestimento e os tempos de sarrafeamento e desempeno.
Objetiva-se com a máxima compacidade da argamassa, reduzir ao
mínimo os vazios inter-granulares com a fi nalidade de aumentar a resis-
tência mecânica do revestimento e, conseqüentemente, a ocorrência de
fi ssuras. Segundo SABBATINI (1995), a compressão realizada no desem-
peno desloca um fl uxo de pasta para a superfície, a qual irá envolver os
grãos superfi ciais e permitir obter uma adequada resistência mecânica na
superfície desempenada e uma maior impermeabilidade da camada.
SABBATINI et al. (1988a) acrescentam que “estes parâmetros de-
terminam o teor de umidade remanescente no revestimento e a capacida-
de de retração subseqüente a tais operações”.
Como se pôde verifi car pelas considerações anteriores, a fi ssura-
ção dos revestimentos de argamassa com origem no próprio revestimento
pode estar relacionada tanto com os materiais como com a técnica de
execução ou ser resultante da combinação de ambos.
A fi ssuração do revestimento pode ser ainda decorrente das defor-
mações da alvenaria de vedação, assunto que será discutido adiante e foco
maior deste capítulo.

83
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

2.2 Na alvenaria de vedação

A defi nição adotada neste trabalho, para a alvenaria de vedação, é a


de SABBATINI (1984): “componente complexo, utilizado na construção,
e conformado em obra, constituído por tijolos ou blocos unidos entre
si por juntas de argamassa formando um conjunto rígido e coeso, (...),
não sendo dimensionada para resistir a cargas além de seu peso próprio”.
Como exemplo, esse autor cita as paredes de alvenaria.
Segundo SABBATINI et al. (1988a), as fi ssuras nos revestimentos
de argamassa podem ocorrer em função da amplitude de deformação da
base, no caso a alvenaria de vedação. A Figura 3 ilustra as fi ssuras decor-
rentes de deformações de grande e pequena amplitude da base.
Para esses autores, não é função do revestimento absorver as deformações
de grande amplitude da base.

Figura 3 - Fissuras decorrentes da deformação da base: a) deformação


de grande amplitude; b) deformação de pequena amplitude (SABBATI-
NI, 1995)

LOGEAIS (1989) considera que a fi ssuração do revestimento


também pode ser decorrente de solicitações inaceitáveis da alvenaria, sem
que nada de anormal tenha ocorrido com ela.
No entanto, LOGEAIS concorda que na maioria dos casos a si-
tuação mais comum é que a fi ssuração do revestimento ocorra em virtude

84
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

da própria fi ssuração da alvenaria. As causas das fi ssuras na alvenaria de


vedação são discutidas no item 3.
De acordo com THOMAZ (1989), em função da resistência à tra-
ção da argamassa de assentamento e dos componentes de alvenaria, as
fi ssuras na alvenaria poderão ser de dois tipos, conforme ilustra a Figura 4.

Figura 4 - Tipos de fi ssuras na alvenaria de vedação: a) a resistência à


tração dos componentes é superior à da argamassa ou à resistência de
aderência argamassa/blocos; b) a resistência à tração dos componentes é
igual ou inferior à da argamassa (THOMAZ, 1989)

ELDRIDGE (1982) considera que a fi ssuração do revestimento


como consequência da fi ssuração da base, ou seja, da alvenaria de vedação,
é o caso mais comum.
De fato, diversas pesquisas foram realizadas no exterior e no Bra-
sil e confi rmaram o maior número de casos de fi ssuração com origem na
alvenaria. De um modo geral, comparando-se os resultados das pesquisas
estrangeiras com as nacionais, a incidência dos problemas relacionados à
fi ssuração das alvenarias é bastante semelhante.
Da análise das investigações percebe-se que as causas diferem de
pesquisa para pesquisa, não sendo possível afi rmar a existência de uma
única causa. Isso se deve, em grande parte, às diferentes condições de ex-
posição das regiões das investigações, aos diferentes métodos de avaliação

85
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

e classifi cação das fi ssuras, a diversidade de materiais empregados; enfi m,


às características intrínsecas da construção civil de cada país.
No entanto, pôde-se concluir que as principais causas das fi ssuras
nas alvenarias poderiam ser agrupadas em quatro grupos: movimentação
térmica; movimentação higroscópica; movimentos das fundações e defor-
mações de estruturas de concreto armado.

3. Causas da fissuração das alvenarias de vedação

Apresentam-se, a seguir, ainda que de forma sucinta, as principais


causas de manifestação das fi ssuras na alvenaria de vedação. Para cada uma
delas são destacados os agentes causadores e as formas mais comuns de
manifestação. Estas últimas são reunidas em forma de tabelas, nas quais
constam a descrição do caso, a ilustração da patologia e os comentários
pertinentes. Informações mais detalhadas de cada assunto podem ser ob-
tidas diretamente dos trabalhos citados, cujas referências bibliográfi cas
completas encontram-se no fi nal deste capítulo.

3.1 Movimentação térmica

“Todos os materiais, componentes e elementos de uma constru-


ção estão sujeitos a variações de temperatura. Estas variações, diárias ou
sazonais, permitem variações dimensionais dos mesmos, proporcionando
movimentos de dilatação e contração” (BUILDING..., 1977).
Segundo THOMAZ (1989), “a amplitude e a taxa de variação da
temperatura de um componente exposto à radiação solar, principal fonte
de calor atuante sobre os componentes de uma edifi cação, irá depender
da atuação combinada dos seguintes fatores: intensidade da radiação solar,
absorbância2 da superfície do componente à radiação solar, emitância da
superfície do componente, condutância térmica superfi cial, entre outras
propriedades térmicas dos materiais de construção”.

2
Segundo THOMAZ (1989), a absorbância é a energia absorvida por um componente
quando exposto à radiação solar que faz com que a sua temperatura superficial seja
superior à do ar ambiente.

86
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

As fi ssuras de origem térmica têm origem nas movimentações di-


ferenciais entre componentes de um elemento, entre elementos de um
sistema e entre regiões distintas de um mesmo material. Algumas das prin-
cipais formas de manifestação de fi ssuras causadas pela movimentação
térmica são ilustradas na Tabela 2.

Tabela 2 - Formas de manifestação de fi ssuras causadas pela movimen-


tação térmica

87
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

A primeira coluna descreve a fi ssura ou fornece alguma descrição


do problema; enquanto a segunda coluna ilustra a forma de manifestação
daquele. A terceira coluna destaca os comentários pertinentes.
Como se pôde verifi car pelos casos apresentados na Tabela 2, as
manifestações de fi ssuras na alvenaria de vedação podem ser decorrentes
das variações térmicas extrínsecas ou intrínsecas à alvenaria.
“As principais movimentações diferenciais ocorrem em função da:
junção de materiais com diferentes coefi cientes de dilatação térmica, su-
jeitos às mesmas variações de temperatura; exposição de elementos a dife-
rentes solicitações térmicas naturais e gradiente de temperatura ao longo
de uma mesma parte da edifi cação” (FOUNDATIONS..., 1979).
Para SABBATINI (1984), “as fi ssuras de origem térmica, apesar
de não comprometerem a segurança, assumem grande importância na
construção de edifícios”. SABBATINI justifi ca a importância das fi ssuras
de origem térmica ao afi rmar que “as deformações que as causam são ine-
vitáveis; as fi ssuras são de difícil reparo, pelo seu caráter cíclico e variável
e, normalmente comprometem alguma exigência essencial (por exemplo,
uma exigência psicológica - o temor pela segurança ou de habitabilidade -
sanidade)”.
Caso prático descrito por LORDSLEEM JR. (2015) detalha a aná-
lise das fi ssuras nas vedações de uma edifi cação de 33 pavimentos na ci-
dade brasileira de Recife, com estrutura em concreto, alvenaria de tijolos
cerâmicos e cobertura com manta asfáltica. As manifestações patológicas
das fi ssuras nas vedações foram ocasionadas preponderantemente pela
movimentação da laje de cobertura, cujas paredes estavam rigidamente
vinculadas.
Muitas vezes, uma mesma forma de manifestação de fi ssura pode
ser decorrente da movimentação térmica, da movimentação higroscópica
ou da combinação das duas, o que difi culta a determinação da causa ou
causas. São exemplos dessa situação o terceiro, o quarto e o sexto casos da
Tabela 2.

88
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

3.2 Movimentação higroscópica

Segundo POLISSENI (1986), denomina-se teor higroscópico o


“teor mínimo de umidade que na prática pode estar presente em um ma-
terial poroso”. “As fi ssuras causadas por movimentações higroscópicas
apresentam-se bastante semelhantes àquelas devidas às movimentações
térmicas. Ambas são conseqüência de deformações provocadas por varia-
ções volumétricas (expansão e contração)” (NOTE..., 1980).
De fato, os materiais porosos que constituem os componentes e
elementos da construção estão sujeitos às mudanças higroscópicas que
provocam as variações dimensionais, assim como o efeito da mudança de
temperatura.
De acordo com BEALL (1987), “o aumento do teor de umidade
produz uma expansão do material enquanto que a diminuição provoca
uma contração”.
Segundo PEREZ (1986), “existe uma classifi cação para os tipos
de umidade existentes nas construções, internacionalmente aceita com
pequenas variações de um país para outro, onde se procura conciliar a
origem do fenômeno (materiais de construção sujeitos a diversas vias de
umidade) e a forma como este se manifesta, quais sejam: de obra; de ab-
sorção e capilaridade; de infi ltração, de condensação e acidental”.
Um dos fenômenos que mais interessam ao estudo da fi ssuração
das alvenarias, segundo MEDEIROS (1993) e COSTA (1995), é a retra-
ção na secagem provocada por variação do teor de umidade dos blocos e
da argamassa, dentre outros motivos, por estar relacionada à estabilidade
dimensional dos mesmos.
SABBATINI (1984) interpreta o fenômeno da seguinte forma: “a
retração inicial, originada após a fabricação úmida do material, no caso
de blocos e argamassas, surge com a diminuição do teor de umidade. Até
um determinado ponto, a retração que ocorre é irreversível, ou seja, se
re-umidecermos o material até aquela umidade de fabricação (ou supe-
rior) não iremos observar qualquer movimento com tendência ao retorno
à dimensão original. A partir deste determinado ponto, com o contínuo
secamento até o teor de umidade nulo (...) ocorre uma contínua retração,
que no entanto é reversível (...)”.

89
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

THOMAZ (1989) salienta que “a quantidade de água absorvida


por um material de construção depende de dois fatores: a porosidade e
a capilaridade. O fator mais importante que rege a variação do teor de
umidade dos materiais é a capilaridade. Na secagem de materiais porosos,
a capilaridade provoca o aparecimento de forças de sucção, responsáveis
pela condução da água até a superfície do componente, onde será evapo-
rada”.
Analisando a manifestação de fi ssuras nas alvenarias de fachada,
verifi ca-se que elas são preponderantemente causadas pelas variações ter-
mo-higroscópicas. Isso se deve, principalmente, à exposição à água de
chuva e à radiação solar, o que não ocorre com as alvenarias de vedação
internas.
Um artigo do Stichting Bouwresearch (NOTE..., 1989), sobre a ma-
nifestação de fi ssuras nas fachadas de uma edifi cação, exemplifi ca a situa-
ção anterior. A constante umidifi cação e secagem dos componentes da
alvenaria, sujeitos ainda à variações de temperatura entre 17 e 35oC, foram
considerados os responsáveis pela incidência das fi ssuras.
Motivado por essa situação, o CSTC (NOTE..., 1989) relacionou
alguns parâmetros em função dos quais varia o risco de fi ssuração das
alvenarias de fachada: “dimensões; condições de exposição; características
mecânicas dos materiais da alvenaria; estabilidade dimensional da alvenaria
(coefi ciente de dilatação, retração hidráulica, etc.) e a tinta do acabamen-
to”.
A Tabela 3 ilustra algumas das principais formas de manifestação
de fi ssuras causadas pela movimentação higroscópica.

90
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

Tabela 3 - Formas de manifestação de fi ssuras causadas pela movimen-


tação higroscópica

91
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Além das fi ssuras nas alvenarias serem decorrentes de variações


termo-higroscópicas das próprias alvenarias ou das estruturas às quais es-
tão vinculadas, elas também podem ser causadas pelos movimentos das
fundações e deformação de elementos estruturais.

3.3 Movimentos das fundações

“Como todo material de construção, o solo está sujeito a carrega-


mentos, deformações elásticas e plásticas. Em geral, os solos constituem-
se de partículas sólidas entre as quais existem poros de diversos tama-
nhos preenchidos por ar ou água. Sob a infl uência das cargas, as partículas
sólidas se deslocam provocando a deformação do terreno” (PFEFFER-
MANN, 1968).
Dessa forma, o estudo do solo constitui-se no fator mais impor-
tante para a compreensão do comportamento da fundação. THOMAZ
(1989) considera dois parâmetros do solo como os mais importantes a
analisar, são eles: a capacidade de carga e a deformabilidade.
Esses parâmetros, completa THOMAZ, “são função dos seguin-
tes fatores: tipo e estado do solo; disposição do lençol freático; intensidade
da carga; tipo de fundação (direta ou profunda); cota de apoio da funda-
ção; dimensões e formato da placa carregada e interferência de fundações
vizinhas”.
A Tabela 4 mostra um resumo das principais causas que podem
produzir os movimentos das fundações.

92
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

Tabela 4 - Resumo dos movimentos das fundações causadores de fi ssu-


ras - modifi cada de PFEFFERMANN (1968)

Causas Formas de manifestação


• fissuras nos elementos
Consolidação
estruturais;
• fissuras verticais entre
Recalque di- Fundação sobre terrenos dife-
elementos de madeira e a
ferencial rentes
alvenaria;
• fissuras a partir das aber-
Tipos diferentes de fundação
turas;
• fissuras de flexão (ater-
Fundação sobre aterros
ros).
• fissuras sobre a fachada
Ação do sol
que incide o sol;
• variação sazonal do apa-
Movimento
Ação da vegetação recimento das fissuras
de água
(sol);
• fissuras a partir das aber-
turas (rebaixamento do
Rebaixamento do lençol freá- nível de água);
tico • abertura brusca de fis-
suras (rebaixamento do
nível de água.
• fissuras entre construções
Ausência de juntas
(juntas);
• falhas nas fachadas (jun-
Erros Vibração
tas);
• fissuras a partir das aber-
turas (vibrações);
Excesso de água
• abertura das fissuras em
função de vibrações.

A Tabela 5 ilustra algumas das principais formas de manifestação


de fi ssuras causadas pelos movimentos das fundações.

93
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Tabela 5 - Formas de manifestação de fi ssuras causadas pelos movimen-


tos das fundações

94
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

Segundo SABBATINI (1984), “as fi ssuras nas paredes de alve-


naria ocasionadas pelas movimentações das fundações apresentam algu-
mas características bastante particulares: formas de manifestações típicas,
ocorrência alta de casos e, geralmente, são as que mais comprometem a
segurança estrutural”, e acrescenta que “as fi ssuras devidas aos recalques
diferenciais são as mais comuns”.
Analisando o comportamento do edifício frente a ocorrência de
recalques diferenciais, THOMAZ (1989) comenta que “em geral, há gran-
de probabilidade das estruturas lineares desempenharem-se de maneira
fl exível, predominando nas paredes de fechamento (vedação) tensões de
cisalhamento”.
De acordo com THOMAZ (1989), “as fi ssuras provocadas por
recalques diferenciados ainda são função de outras variáveis: geometria
das edifi cações e/ou do componente, tamanho e localização de aberturas,
grau de enrijecimento da construção (emprego de cintamentos, vergas e
contra-vergas), eventual presença de juntas no edifício, etc.”.

3.4 Deformações de estruturas de concreto armado

A discussão adiante será restrita às estruturas de concreto armado


por serem as de maior utilização na construção tradicional de edifícios.
O desenvolvimento da tecnologia do concreto, aliado aos avanços recen-
tes da teoria do dimensionamento têm permitido a produção de estruturas
cada vez mais esbeltas. Entretanto, os métodos construtivos das alvena-
rias não evoluíram da mesma forma, sendo ainda empregadas, na grande
maioria das obras brasileiras, as mesmas técnicas do passado.
THOMAZ (1989) explica que “os elementos estruturais (pilar,
viga e laje) deformam-se naturalmente sob a ação do peso próprio, das
cargas permanentes e acidentais, da retração e da deformação lenta do
concreto; entretanto, as fl echas podem não comprometer sua integridade;
porém, podem ser incompatíveis com a capacidade de deformação das
paredes”.
THOMAZ considera ainda que “as alvenarias são os componen-
tes da obra mais suscetíveis à ocorrência de fi ssuras pela deformação do
suporte”.

95
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

SOMERS; DE KESEL (1981) advertem que essa situação exige


que a análise das deformações das estruturas de concreto seja realizada
com maior cuidado, ainda mais porque as fi ssuras decorrentes desse pro-
blema vêm sendo apontadas como as de maior ocorrência já há algum
tempo, conforme os trabalhos de PFEFFERMAN; PATIGNY (1975),
FRANCO et al. (1993) e LORDSLEEM JR. (2016).
Limites para as fl echas das estruturas de concreto armado foram
destacados na norma NBR 15575 (ABNT, 2013), os quais quando excedi-
dos provocariam danos às vedações. Entretanto, alguns casos citados por
PFEFFERMANN (1968); PFEFFERMANN; PATIGNY (1975); BUL-
LETIN... (1981); FRANCO et al. (1994) e CUNHA et al. (1996), registram
fi ssuras em paredes sendo produzidas por deformações de l/1000 ou va-
lores menores.
Algumas das principais formas de manifestação de fi ssuras causa-
das pelas deformações das estruturas de concreto armado são ilustradas
na Tabela 6.

96
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS ALVENARIAS DE VEDAÇÃO

Tabela 6 - Formas de manifestação de fi ssuras pelas deformações de


estruturas de concreto

97
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Conclui-se pela necessidade de novos estudos práticos que objeti-


vem compatibilizar as deformações das estruturas à capacidade de defor-
mação das alvenarias. O desenvolvimento de novas pesquisas deve enfocar
o elemento parede de alvenaria, levando em consideração: os componen-
tes utilizados, as dimensões dos componentes e da parede, as juntas de ar-
gamassa, a presença de aberturas, o revestimento, o acabamento e a forma
de vinculação às estruturas.
A divisão das manifestações das fi ssuras segundo as deformações
das estruturas de concreto armado, os movimentos das fundações e as
movimentações termo-higroscópicas, como foi feita aqui, nada mais é do
que a classifi cação da fi ssura em função das causas.

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MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS
REVESTIMENTOS
UTILIZAÇÃO DE TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA
EM FACHADAS PARA VERIFICAÇÃO DE DESCOLA-
MENTO DE REVESTIMENTO CERÂMICO

Yêda Vieira Póvoas Tavares – yeda.povoas@gmail.com


Doutorado e Mestrado pela USP
Engenharia Civil pela UPE
Bruno Carlos de Araújo Alves - brunobcaa@gmail.com
Engenharia Civil pela UPE
Diego José Araújo Viégas – diegoaraujoviegas@hotmail.com
Mestrado pela UPE
Engenharia Civil pela UPE
Arthur José da Silva - arthur.j.s@hotmail.com
Engenharia Civil pela UPE

1. Contextualização

Na atualidade, no acelerado e necessitado mercado imobiliário, as


edificações foram sendo executadas de forma cada vez mais rápidas, sem
controle e às vezes até com pouca fiscalização desde a época de elaboração
de projeto, passando pela execução do mesmo até a manutenção da própria
estrutura.
O que também pode ser percebido, a fim de que possa melhor
aproveitar os terrenos cada vez menores nas cidades, são edifícios cada vez
mais esbeltos, grandes vãos de lajes, estruturas mais leves e menos rígidas.
Somado ao que fora supracitado, pode ser acrescentado a baixa qualidade
na execução, o que interfere diretamente no resultado e no que poderá se
apresentar nas edificações. Muitas vezes, as manifestações patológicas são
mais comuns que se pode imaginar.
Com o passar do tempo, somando-se à constante falta de manu-
tenção das edificações, as patologias nas edificações surgem e, por muitas

105
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

vezes, se tornam um grande problema, seja na vida do engenheiro, seja na


vida de quem convive diariamente com os defeitos.
Porém, muitas vezes patologias que se manifestam demoram certo
tempo para que visualmente possam ser notadas. As manifestações patoló-
gicas, tais como infi ltrações, fi ssuras, trincas, carbonatação, descolamento
de revestimento cerâmico, podem após certo tempo serem visíveis. Porém,
a manutenção demandará maior custo e tempo para sua reparação.
Destacam-se, no Brasil, os estudos de casos de manifestações pa-
tológicas de revestimentos de fachadas realizados por Bauer et al. (2010),
Bauer et al. (2012), Silva et al. (2014), entre outros. Estes estudos buscam
identifi car, entender e sistematizar os fenômenos que provocam as mani-
festações patológicas que surgem nas fachadas.
No Nordeste, verifi ca-se o aumento do interesse pelos revestimen-
tos cerâmicos. Isso ocorre devido às inúmeras vantagens do uso deste tipo
de revestimento em relação aos demais revestimentos tradicionais (pintu-
ras, pedras, tijolos aparentes, argamassas decorativas), dentre as quais se
destacam: maior durabilidade, valorização estética e econômica, facilidade
de limpeza, estanqueidade da vedação, e conforto térmico e acústico (ME-
DEIROS; SABBATINI, 1999; PADILHA JUNIOR et al., 2007).
Em estudo realizado na região Nordeste, mais especifi camente em
Recife- Pernambuco, a partir de um extensivo levantamento das manifes-
tações patológicas realizado em fachadas de edifi cações, a mais frequente
foi o descolamento, apresentando um índice de 37%. Em seguida vem o
bolor com 30% e o escurecimento de rejunte com 19% (MATIAS; PÓ-
VOAS, 2009).
De maneira geral, das 500 edifi cações visitadas, percebeu-se que
245 destas possuíam placa cerâmica como revestimento, 105 possuíam
placa cerâmica mesclada com outros tipos de acabamento e 150 com ou-
tros revestimentos sem ser o cerâmico, que correspondem a 49%, 21% e
30%, respectivamente. Para cada edifi cação estudada foram observadas
manifestações patológicas, que foram pontuadas por cada prédio, as quais
foram divididas em: descolamento (D); efl orescência (E); bolor (B); man-
cha de água (M); escurecimento de rejunte (R); e destacamento de tinta
(T). Os quantitativos destas foram: 131 (33,40%) do tipo descolamento;
25 (6,37%) do tipo efl orescência; 118 (30,10%) do tipo bolor; 25 (6,37%)

106
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

do tipo mancha de água; 73 (18,62%) do tipo escurecimento de rejunte; e


20 (5,10%) destacamento de pintura.
É importante tentar eliminar ou amenizar as manifestações patoló-
gicas, pois elas podem gerar desconforto e risco, tanto para as pessoas que
utilizam diretamente o empreendimento quanto para os transeuntes de seu
entorno. Além disso, podem reduzir a vida útil da edifi cação e o desperdí-
cio de materiais que é um benefício para os resultados econômicos, além
de ser bom para o meio ambiente (MARANTE, 2012).
Na Figura 1, pode ser analisado o que Masuero (2001 apud SE-
GAT, 2005) afi rma que são fenômenos, de origens diversas, que podem
originar a ocorrência dos danos supracitados. Pode-se citar como exemplo
a ação de vento, chuva, calor, emissões gasosas, vibrações e variações de
temperatura e umidade.

Figura 1 - Solicitações nos revestimentos


Fonte: Bonin et al. (1999) apud Segat (2005)

107
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

“As manifestações patológicas em revestimento podem ser enten-


didas como situações nas quais, em determinado momento de sua vida útil,
o revestimento deixa de apresentar o desempenho esperado, ou seja, não
cumpre mais as funções para as quais foi projetado, deixando de atender às
necessidades dos usuários” (CAMPANTE, 2001).
As manifestações patológicas podem ocorrer a partir de diversos
fatores, tais como:

• na fase de projeto: a falta destes, a escolha inadequada dos materiais


utilizados ou erro dos projetistas;

• na fase de execução: a falta de domínio tecnológico da técnica de exe-


cução dos assentadores, ou ainda a falta de fi scalização por parte do
responsável pela obra durante e após a execução; e

• na fase de utilização: a defi ciência ou inexistência de manutenção.

As origens das manifestações patológicas podem ser classifi cadas


como se segue (PEDRO et al., 2002):

• congênitas: originadas na fase de projeto;

• construtivas: originadas na fase de execução;

• adquiridas: resultante da exposição do revestimento ao meio em que


se insere ao logo de sua vida útil; e

• acidentais: resultante da ocorrência de algum fenômeno atípico.

As manifestações patológicas incidentes nos revestimentos dimi-


nuem a vida útil (período de tempo para o qual o elemento foi projetado,
atendendo a todos os requisitos de qualidade). Importante destacar que
a NBR 15575-1 (ABNT, 2013) trouxe uma nova visão no que tange aos
aspectos relacionados ao edifício, pois coloca em norma conceitos de vida
útil, durabilidade, desempenho para o edifício e suas partes que, no Bra-
sil, eram mais acadêmicos. Antes de 2013 a preocupação com vida útil,
desempenho e segurança de edifícios, no Brasil, estava relegada somente

108
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

para as estruturas de concreto (NBR 6118 (ABNT, 2014)). Neste sentido,


a NBR 15575-1 (ABNT, 2013) amplia o caráter normativo não somente
para um elemento, mas sim para o edifício como um todo, estabelecendo
nível de desempenho mínimo ao longo da vida útil dos elementos princi-
pais (estrutura, vedações, instalações elétricas, instalações hidrossanitárias,
pisos, fachada e cobertura) para todos os edifícios habitacionais. Estabe-
lece, portanto, novos rumos para pesquisas que envolvam o estudo do
comportamento da degradação das fachadas e estimativa de vida útil.
Neste contexto, a vida útil dos edifícios fi ca subordinada à in-
fl uência do comportamento das propriedades dos elementos e dos seus
componentes, além da interação entre estes ao longo do tempo (HOVDE,
2004; SILVA et al., 2014). Fachadas que apresentam manifestação patoló-
gica principalmente em idades precoces devem ser avaliadas no sentido de
verifi car quais fenômenos de degradação conduziram à perda de sua fun-
cionalidade e, por conseguinte, provocaram um envelhecimento prematuro
em função da vida útil prevista (SILVESTRE; BRITO, 2011).
Na era do desenvolvimento sustentável a retirada de revestimentos
degradados provoca grande geração de resíduos que, se não forem reci-
clados, serão depositados em aterros que muitas vezes são clandestinos
(MARCOS, 2009).
A identifi cação da manifestação patológica após sua manifestação
visual restringe as alternativas de correção e de minimização do problema.
Algumas manifestações patológicas estão presentes, de forma latente, na
etapa de projeto e no próprio processo construtivo (CORTIZO, 2007).
Percebe-se que deve haver um cuidado especial no planejamento e
na execução do revestimento. É importante que haja um estudo detalhado
do comportamento do revestimento junto à estrutura, a necessidade da
existência de juntas de movimentação para aliviar as tensões sofridas e a
utilização de materiais adequados e de boa qualidade. Porém, isso não é
o bastante, também é necessária a adoção de uma cultura de manutenção
preventiva.
Essa manutenção irá ser útil para que possa ser evitado ou corrigi-
do eventuais problemas que possam ocorrer, como por exemplo, as mani-
festações patológicas.

109
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Para que as manifestações patológicas sejam observadas e averi-


guadas com mais certeza, ensaios são realizados e podem ser distinguidos
desde uma simples observação visual, até ensaios destrutivos (que irão
comprometer de alguma forma o corpo de prova ou o local onde o ensaio
foi realizado) e ensaios não destrutivos (que evita que a peça estudada ou
o local seja avariado).
Ensaios destrutivos são os mais comuns para a inspeção e ditos
como a melhor forma para caracterização das manifestações patológicas,
mas, com o avanço da tecnologia, novos métodos vêm sendo desenvolvi-
dos e a termografi a infravermelha, que era largamente utilizada em outras
áreas, foi introduzida na engenharia civil para a detecção das manifesta-
ções patológicas, ocultas ou não, tornando mais fácil o tratamento e até a
prevenção das mesmas.

2. Termografia infravermelha

A termografi a infravermelha é a ciência de aquisição e análise de


informações térmicas a partir de dispositivos de obtenção de imagens tér-
micas sem contato. A fi gura gerada é chamada de termograma ou imagem
térmica. A emissão da radiação infravermelha dos objetos é o que torna
possível a obtenção das imagens sem contato (termogramas). A avaliação
térmica com base na termografi a é a percepção da temperatura superfi cial
de um corpo pelo mecanismo de transferência de calor (radiação), uma vez
que todo corpo com temperatura acima do Zero Absoluto emite radiação
térmica (ITC, 2014).
De acordo com Santos (2012), sempre que existir uma diferença
de temperatura em um meio ou entre meios diferentes, ocorre, necessa-
riamente, transferência de calor do mais quente para o mais frio (1ª Lei da
Termodinâmica: a energia não pode ser criada ou destruída, apenas conver-
tida). A transmissão de calor pode ocorrer segundo três fenômenos distin-
tos, nomeadamente, condução, radiação e convecção.
De acordo com Maldague (2001), existem duas técnicas – passiva
e ativa – para o método não destrutivo de análise termográfi ca. A termo-
grafi a passiva tem mais o caráter qualitativo, pois apresenta indicativos de
anormalidades, enquanto o processo de excitação térmica tende a um cará-

110
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

ter de resultados quantitativos, pela possibilidade de mensurar e controlar


os eventos (fonte, tempo, intensidade e distância).
A termografi a infravermelha pode detectar a existência de incoe-
rências nos padrões de temperatura de elementos da construção, indicando
a presença de problemas patológicos não aparentes, mas embrionários.
Ela tem sido utilizada nos últimos 30 anos para testar e diagnosti-
car edifícios, estruturas e heranças culturais. Vem provando ser uma forma
efi caz, conveniente e um método econômico utilizado no campo da con-
servação, podendo: detectar características ocultas das estruturas de edi-
fícios (formas pré-existentes, alterações estruturais, anomalias estruturais,
presença de cavidades); mostrar a morfologia; avaliar AVAC (que signifi ca
Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado) do sistema desempenho;
detectar a degradação (rachaduras); identifi car as fontes de vazamento de
ar, para as perdas de calor determinadas; mapear a umidade, isolamento;
e avaliar tratamentos de conservação (fortalecimento das operações) (OS-
TROWSKI et al., 2003; GAMIDI, 2009; BIANCO; CERADINI, 2010;
NUZZO et al., 2010).

2.1 Fatores que influenciam na medição com radiação infraverme-


lha

Existem diversos fatores que infl uenciam nas análises dos resulta-
dos e podem gerar conclusões erradas caso não sejam tomadas medidas
preventivas antes e durante a realização do ensaio. Na análise dos termo-
gramas é elevado o risco de confundir defeitos do objeto com irregulari-
dades na temperatura superfi cial devido a fatores externos (BARREIRA,
2004; COMITTI, 2012). Esses fatores são:

• condições térmicas do objeto e do meio em que se encontra, antes e


durante o ensaio;

• presença de fontes externas;

• condições necessárias para a medição; e

• ângulo de medição.

111
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

2.1.1 Condições térmicas do objeto e do meio

Segundo Chew (1998); Labat et al. (2011), o calor irradiado pelo sol
pode afetar a medição termográfi ca, pois altera o fl uxo normal de calor do
interior para o exterior. A distância do equipamento ao objeto pode alterar
a leitura da temperatura superfi cial, pois diminui a resolução dos termogra-
mas e infl uencia a atenuação atmosférica.
Testes verifi caram que a absorção de água capilar e a taxa de eva-
poração da área em análise infl uenciam a interpretação de termogramas
em laboratório. Amostras que apresentam altas percentagens de absorção
de água apresentam reduções consideráveis de temperatura, enquanto que
amostras com baixas percentagens oferecem pequenas diferenças de tem-
peratura (MOROPOULOU, 2000 apud FREITAS et al., 2014). Ou seja,
nessa superfície, na realidade, está havendo evaporação. Percebe-se, assim,
que enquanto está chovendo não há diferença na visualização. Porém, pas-
sadas algumas horas, quando ocorre a evaporação, consegue-se verifi car a
umidade.

2.1.2 Presença de fontes externas

Os gradientes térmicos e a turbulência alteram o índice de refração


do ar provocando uma redução na qualidade da imagem. Em paralelo, a
atmosfera presente entre a fonte emissora e o receptor pode originar pertur-
bações na medição. A atenuação atmosférica é, portanto, uma das maiores
causas de problemas, gerando um erro sistemático que é função da gama
espectral utilizada, da distância de observação e das condições meteorológi-
cas. Logo, deve-se manter a distância de até 10 metros entre a fonte emisso-
ra e o receptor, corrigindo-se as medições feitas com distâncias superiores
(BARREIRA, 2004; COMITTI, 2012). Outros exemplos de fontes exter-
nas são: sombra, refl exão, superfícies com diferentes acabamentos, etc.

112
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

2.1.3 Condições de medição

O mecanismo de transferência de calor de um corpo é função das


propriedades físicas e químicas de seus componentes, da sua estrutura de
formação (disposição e organização dos seus elementos), de suas dimen-
sões, do meio ambiente no qual o corpo está inserido e das interações entre
o corpo e o meio (ITC, 2014). São exemplos das condições de medição:
emissividade adotada, temperatura do ar, distância entre a câmera e o ob-
jeto, ângulo de observação, vento, temperatura refl etida, etc.
Em dias com ventos acima de 7m/s não se deve realizar medições
com termografi a infravermelha, pois os dados obtidos induzirão ao erro da
análise térmica do objeto (ITC, 2014).

2.1.4 Ângulo de medição

De acordo com a ABNT NBR 15572 (2013), recomenda-se que o


ângulo entre o termovisor e o ponto inspecionado seja o mais perpendi-
cular possível, de modo a evitar a redução na emissividade em função de
ângulos de observação inadequados (maiores que 60º).
Deve-se evitar fi car diretamente na frente do alvo para que não
haja refl exão do calor do termografi sta (principalmente em casos de baixa
emissividade) para tanto é recomendado posicionar-se a uma angulação
de mais ou menos 5º, com relação à horizontal, do objeto a ser analisado
termicamente, conforme Figura 2 (ITC, 2014).

113
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 2 - Ângulos de medição: cuidados


Fonte: Viégas (2015)

Para identifi car se o ponto quente captado é um refl exo do calor


do operador, basta mover-se de um lado a outro; se o ponto quente acom-
panhar o movimento, trata-se de um refl exo. Também se pode detectar
um refl exo quando o ponto quente não apresentar gradiente térmico, ou
seja, variação de temperatura, pois o objeto tende a funcionar como um
espelho – toda a radiação incidente é refl etida (ITC, 2014).

2.2 Técnicas de termografia digital

Existem duas técnicas – passiva e ativa – para o método não des-


trutivo de imageamento termal (Figura 3) (MALDAGUE, 2001; CORTI-
ZO, 2007; SALES, 2008; PEDRA, 2011):

114
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

Figura 3 - Diferentes métodos de análise por termografi a


Fonte: Maldague (2001); Cortizo (2007); Sales (2008); Pedra (2011)

• Técnicas Passivas: são realizadas em objetos que contêm energia tér-


mica própria ou são estimulados a armazenar energia por uma fonte
natural de calor (energia solar), devendo existir uma diferença natural
de temperatura entre o objeto sob estudo e o meio onde ele está in-
serido.

• Técnicas Ativas: aquelas que necessitam da aplicação de uma fonte


externa de energia artifi cial para o aquecimento ou resfriamento de
objetos com o intuito de causar um fl uxo de calor/gradiente térmico
sobre o corpo.

115
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Estas técnicas podem possuir caráter qualitativo e/ou quantitativo.

2.3 Métodos de aplicação da termografia

A termografi a por infravermelho pode ser somente qualitativa ou


qualitativo-quantitativa dependendo da aplicação.

2.3.1 Termografia qualitativa

Aplica-se quando o que interessa é o perfi l e não os valores térmi-


cos apresentados. Essa característica classifi ca a termografi a infravermelha
como uma técnica que fornece laudos instantâneos (ITC, 2014).
Essa análise, normalmente é a primeira a ser executada, sempre
que se buscam pontos suspeitos na imagem, e assim que encontrados se-
rão analisados, sem a necessidade da aplicação do método quantitativo
(MALDAGUE, 2001 apud REZENDE, 2014).
Deve-se considerar que em uma primeira medição não se pode
concluir com tanta exatidão sobre a existência de algum defeito. Através
de um histórico, ou por comparação com outro equipamento com ca-
racterísticas construtivas e operacionais semelhantes, as conclusões serão
mais precisas (MALDAGUE, 2001 apud REZENDE, 2014). Por isso,
neste estudo decidiu-se realizar o preenchimento de uma fi cha de inspe-
ção (anamnese), a fi m de fazer um levantamento histórico das fachadas
estudadas, bem como se utilizou outros ensaios no intuito de comparar
com a termografi a infravermelha.
Segundo Rezende (2014), a aplicação da termografi a pode detec-
tar falhas potenciais ainda em seu estágio inicial, que não são perceptíveis
aos sensores, por eles serem pontuais, enquanto a inspeção dá uma visão
macro da distribuição das temperaturas.

2.3.2 Termografia quantitativa

Com esse método é possível defi nir o nível de gravidade de uma


anomalia. Vale salientar que esse método é sempre o segundo a ser apli-
cado, pois, incondicionalmente, a primeira análise sempre tem de ser a

116
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

qualitativa. Caso contrário, é bem provável que o termografi sta (inspetor)


não esteja fazendo nada além de análise comparativa (ITC, 2014).
Para Tarpani et al. (2009), a integridade de um material está ligada
à resistividade térmica dele, portanto, cada ponto que apresentar divergên-
cia de temperatura, sendo analisado um mesmo tipo de material, poderá
ser um determinado defeito a ser acompanhado.

2.4 Câmera termográfica

A captação das imagens de calor (termogramas), não visíveis pelo olho


humano, é feita através de uma câmera termográfi ca ou termocâmera (PE-
DRA, 2011; SALES et al., 2011) (Figura 4).

Figura 4 - Câmera termográfi ca ou termocâmera


Fonte: Viégas; Póvoas (2015)

Uma câmara de termografi a por infravermelhos é um aparelho


que detecta energia infravermelha (calor), converte-a em sinal elétrico e
produz imagens, efetuando cálculos de temperatura. A radiação térmi-
ca está próxima da radiação luminosa visível, e pertence à vulgarmente

117
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

chamada radiação eletromagnética. Propaga-se a 300.000 km/s, ou seja, à


habitualmente designada velocidade da luz (PEDRA, 2011; SALES et al.,
2011)
Apesar de, até o momento, apenas se ter referido radiação, o uti-
lizador desta tecnologia está interessado em temperatura. Como a relação
entre radiação e temperatura é uma lei física, torna-se possível às câmeras
termográfi cas a medição da radiação e sua conversão em temperatura.
As câmeras termográfi cas são dotadas de, basicamente, uma lente e
sensores ou detectores de radiação, que captam a energia radiante na faixa
do infravermelho e direcionam esse sinal para um amplifi cador onde um
software o processa e o converte em imagens térmicas (termogramas). Carlo-
magno e Cardone (2010) colocam os detectores de infravermelhos como o
componente mais importante dos termovisores.
De acordo com FLIR (2014), para medir a temperatura com preci-
são é necessário compensar os efeitos de um determinado número de dife-
rentes fontes de radiação. Isto é feito online e automaticamente pela câmera.
Os seguintes parâmetros devem, todavia, ser introduzidos na câmera:

• emissividade do objeto;

• temperatura aparente refl etida;

• temperatura atmosférica;

• distância entre o objeto e a câmera; e

• umidade relativa.

2.4.1 Emissividade do objeto

Todo material com temperatura acima de zero Kelvin (zero abso-


luto) emite radiação eletromagnética. Esta emissão depende de uma pro-
priedade denominada emissividade.
Segundo Silva et al. (2006), a radiação medida pela câmera depen-
de tanto da temperatura quanto da emissividade do corpo que está sendo
analisado. Portanto, a informação da emissividade da câmera é fundamen-
tal para uma estimativa precisa da temperatura do fl uxo radiante medido.

118
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

Esses valores podem variar de 0 (refl etor perfeito - espelho) a 1 (emissor


perfeito ou corpo negro). Normalmente os valores variam de 0,10 a 0,95,
ou seja, para superfícies extremamente polidas a emissividade se apresenta
inferior a 0,10 e, para superfícies com presença de sujidades, o valor é su-
perior a 0,95.
A emissividade está diretamente relacionada com o comprimento
de onda, isto é, cada material emite energia em um dado comprimento e
absorve uma quantidade diferente em outro. Pequenos comprimentos de
onda são mais sensíveis a altas temperaturas (maiores que a ambiente) e
grandes comprimentos de onda são mais sensíveis a baixas temperaturas
(menores que a ambiente). Os materiais mais comuns utilizados na cons-
trução civil, como argamassa, pedra e concreto, possuem altos valores de
emissividade (geralmente superiores a 0,8) (AVDELILDIS; MOROPOU-
LOU, 2003; SILVA et al.,2006).
Guerrero et al. (2005) enfatiza que saber o valor da emissividade
dos materiais para o correto ajuste da câmera é fundamental para uma boa
análise. Além disso, a hora da realização da medição é um ponto muito
importante (pela infl uência dos raios solares) assim como a superfície do
material (superfícies planas, perpendiculares ao eixo da câmera, trazem
resultados mais precisos que uma superfície irregular de uma amostra)
(GUERRERO et al., 2005).

2.4.2 Temperatura aparente refletida

A temperatura refl etida é aquela admitida para todas as superfícies


emissoras no meio adjacente ao objeto em estudo, enquanto que tempe-
ratura atmosférica é a da atmosfera entre objeto e câmera (SILVA et al.,
2006).
Este parâmetro é necessário para compensar as radiações refl eti-
das pelo objeto e a emitida pela atmosfera. Às vezes é necessário regular
outros parâmetros, a fi m de minimizar efeitos prejudiciais durante a análi-
se, como por exemplo, baixa emissividade do material ou distância muito
grande entre o objeto e a termocâmera (MALDAGUE, 2001; MEOLA et
al., 2005).

119
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

2.4.3 Temperatura atmosférica

A atmosfera que existe entre a câmera termográfi ca e o objeto alvo


tende a atenuar a radiação devido à absorção de gases e ao espelhamento
de partículas. Em analogia, embora a atmosfera normalmente transmita
muito bem a luz visível, nevoeiro, nuvens, chuva e neve podem impedir
a visualização de objetos distantes. O mesmo princípio aplica-se à radia-
ção infravermelha. Dessa forma, se nenhuma correção para atenuação for
aplicada, o erro associado à temperatura medida por termografi a é pro-
porcional à distância entre termovisor e objeto. O software da termocâmera
é o componente responsável por essa correção. A intensidade da atenua-
ção depende fortemente do comprimento de onda da radiação. Câmeras
que operam na faixa espectral entre 7,5μm e 13,5μm trabalham bem em
qualquer ambiente, pois a atmosfera tende a atuar como um fi ltro passa-al-
to3 para comprimento de onda acima de 7,5μm (FLIR, 2014).

2.4.4 Distância

A distância entre o objeto e a termocâmera é informada para com-


pensar o fato de parte da radiação emitida pelo objeto ser absorvida pela
atmosfera e também pelo fato da transmitância atmosférica cair quando
a distância aumenta (MALDAGUE, 2001; MEOLA et al., 2005). É im-
portante dar atenção à distância da câmera ao objeto, pois se o objeto
em questão possuir baixa emissividade em uma distância muito grande, a
câmera não conseguirá ler corretamente a irradiação do objeto, chegando
a valores incorretos de temperaturas.
Durante o processo de varredura (escaneamento), a câmera infra-
vermelha percebe a temperatura do objeto e de todos os pontos próximos
3
Filtro passa-alto é um filtro que permite a passagem das frequências altas com faci-
lidade, porém atenua (ou reduz) a amplitude das frequências abaixo de frequência de
corte. A quantidade de atenuação para cada frequência varia de filtro para filtro. O fil-
tro passa-alto possui um princípio de funcionamento oposto ao do filtro passa-baixa.
Ele é muito utilizado para bloquear as frequências baixas não desejadas em um sinal
complexo enquanto permite a passagem das frequências mais altas. As frequências são
consideradas ‘altas’ ou ‘baixas’ quando estão acima ou abaixo da frequência de corte,
respectivamente (MUSSOI, 2004).

120
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

a ele. Portanto, a leitura da temperatura do objeto será uma média aritmé-


tica das temperaturas de todos os pontos presentes na área de infl uência.
Dessa maneira, há de se ter um cuidado especial com a distância entre a
câmera e o objeto durante o processo de leitura (CORTIZO et al., 2008).
Moncó (2002 apud MARIO, 2011) apresenta um gráfi co de fator
de correção por distância, conforme mostra a Figura 5. Este gráfi co foi
feito para uma atmosfera medida em laboratório.

• Onda curta - (SW) • Onda longa - (LW)


Figura 5 - Fator de correção atmosférica em uma atmosfera medida em
laboratório
Fonte: Moncó (2002, apud MARIO, 2011)

2.4.5 Umidade relativa do ar

A termocâmera pode compensar o fato de a transmitância atmos-


férica depender, em parte, da umidade relativa do ar. Assim, sabendo-se o
valor da umidade, é possível inseri-la nas opções de comando do equipa-
mento (MALDAGUE, 2001; MEOLA et al., 2005).

121
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

2.5 Termogramas

Os termogramas exibem as diferentes temperaturas de um deter-


minado local da amostra na forma de gradientes de coloração (escala poli-
cromática) ou de tonalidades de cinza (escala monocromática), cuja escala
fi ca localizada a direita do termograma que indica as temperaturas (maior
e menor) visualizadas, conforme Figura 2 (TARPANI et al., 2009).

Figura 6 - Termograma
Fonte: Viégas; Póvoas (2015)

O termograma representa a distribuição da temperatura superfi -


cial do objeto observado. A distribuição da temperatura se dá em tempo
real. O termograma deve ser acompanhado por uma medição térmica pre-
cisa para poder mostrar as condições reais de um objeto (ITC, 2014).
A intensidade da radiação emitida depende de dois fatores: a tem-
peratura do objeto e a capacidade do objeto de emitir radiação. Esta última
é conhecida por emissividade, intrínseca de cada material. Pode-se vir a
considerar que a radiação de calor signifi ca o mesmo que radiação infra-
vermelha (BAUER; LEAL, 2013; ITC, 2014). Quanto mais quente está o
objeto, maior a radiação para a mesma emissividade.

122
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

A nova tecnologia para a detecção de manifestação patológica na


construção civil utilizada nos detectores, a imagem visual integrada e o
software hoje disponível, permitem a realização de inspeções termográfi cas
produtivas e precisas.
O software Flir Tools pode facilitar a análise dos termogramas por
possibilitar a variação das paletas (colorações) (Figuras 6 e 7), uso de iso-
termas (local de temperatura que se deseja enfatizar) (Figura 8), mudança
da ferramenta de medição (ponto, caixa, elipse e linha) (Figuras 9 e 10),
bem como a inclusão ou exclusão desses. As únicas coisas que esse software
não é capaz de modifi car são o foco da imagem (foco óptico), a faixa de
temperatura e a composição da imagem.
A Figura 7 mostra os termogramas com a modifi cação de paleta
da iron (ferro) para arctic (ártico). Percebe-se que a paleta “ártico” mostra
os pontos frios com maior clareza. Esses pontos estão identifi cados com a
cor azul claro e na paleta “ferro” na cor roxa, em ambas a cor dos pontos
quentes apresenta a tonalidade amarela.

(a) (b)
Figura 7 - Paleta de cores: (a) Iron (ferro); (b) arctic (ártico)
Fonte: Viégas (2015)

A Figura 8 mostra o uso da isoterma de intervalo a qual mostra


através das temperaturas limites escolhidas (máxima = 47,8ºC e mínima =
43,6ºC) aquelas que ultrapassam estes. A cor amarela mostra as temperatu-
ras superiores ao limite máximo e a cor azul claro as temperaturas abaixo
do limite mínimo. Estes pontos indicam provável presença de manifes-

123
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

tações patológicas. Os mesmos foram destacados com contornos na cor


vermelha.

Figura 8 - Isoterma de intervalo


Fonte: Viégas (2015)

A Figura 9 mostra o uso da ferramenta “linha” a qual mostra a


distribuição da temperatura na fachada em análise através do termograma.
Assim, consegue-se perceber o sentido do fl uxo de calor e concomitante-
mente a sua área mais crítica.

Figura 9 - Uso da ferramenta “linha”


Fonte: Viégas (2015)

124
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

A Figura 10 mostra a utilização de dois tipos de ferramenta de me-


dição de temperatura no termograma captado, são elas: a ferramenta elip-
se e a caixa. Comparando-se os valores máximos dados pelas ferramentas
caixa e elipse percebe-se uma variação de temperatura (∆T) de 0,7ºC. Por
outro lado, comparando-se as temperaturas mínimas das mesmas teve-se
um ∆T igual a 0,8ºC.

Figura 10 - Uso das ferramentas elipse e caixa


Fonte: Viégas (2015)

O software Flir Tools possibilita, ainda, a utilização da tecnologia


MSX, que funde imagens térmicas e fotos digitais para criar imagens tér-
micas mais nítidas. Essa tecnologia é ideal para criar imagens que ilustram
claramente as questões emergentes/existentes. Esta ferramenta propor-
ciona uma visualização da imagem térmica em 3D e em conjunto com
a isoterma facilita detectar o foco da manifestação patológica, bastando
para isso colocar como temperatura limite um valor bem próximo do valor
limite da escala de temperatura (policromática ou monocromática). Esta
tecnologia pode ser utilizada tanto na escala de cinza quanto na escala de
cores, conforme a Figura 11.

125
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

(a) (b)
Figura 11 - Uso da tecnologia MSX em conjunto com a isoterma: (a) na
escala de cinza; (b) na escala de cores
Fonte: Viégas (2015)

3 Detecção de descolamento de revestimento cerâmico

A análise termográfi ca de um edifício procura detectar a existência


de incoerências nos padrões de temperatura dos elementos da construção,
quando analisados nas mesmas condições. A ocorrência de diferenças nos
padrões de temperatura indicia a existência de problemas (MENDONÇA,
2005).
Alvarenga, Pedra e Sales (2012) apresentaram um estudo em facha-
das revestidas de cerâmicas de cores diferentes, evidenciando a infl uência
da cor na absortância4 do material. Partindo do pressuposto que a estrutura
vertical do envelope construtivo seja o principal contribuinte para as con-
dições de conforto no interior das edifi cações – e, consequentemente, o
material empregado nas fachadas tem forte infl uência sobre isso –, que o sol
seja a principal fonte de calor em construções residenciais e que a cor das
4
Absortância ou poder de absorção: é a fração absorvida quando a radiação incide
sobre uma superfície real. A maior fonte de radiação eletromagnética (REM) captada
pelo planeta Terra é o Sol, responsável por mais de 99% de toda radiação incidente
sobre o nosso planeta (DORNELLES, K. A.; CARAM, R. M.; SICHIERI, E. P., 2014). A
norma técnica NRB 15220:2005 define-a como o quociente da taxa de radiação solar
absorvida por uma superfície pela taxa de radiação solar incidente sobre esta mesma
superfície.

126
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

superfícies seja um dos fatores que infl uenciam a absortância do material, as


pesquisadoras utilizaram a termografi a infravermelha para verifi car a tem-
peratura superfi cial da fachada de três edifícios construídos com blocos de
concreto de alvenaria estrutural e revestidos com cerâmica nas cores branca,
verde escuro, verde claro e vermelho. As temperaturas superfi ciais das cerâ-
micas foram medidas sob infl uência da luz solar e comparadas entre si com
a fi nalidade de avaliar se a termografi a seria capaz de perceber as variações
de temperatura entre as cores em estudo. Os resultados indicaram que as
cores mais escuras infl uenciam mais a temperatura superfi cial das fachadas
do que as cores claras, sendo fortemente recomendado o uso de acabamen-
to cerâmico na cor branca para obtenção de um maior conforto térmico no
interior da edifi cação. A termografi a, em tal estudo, mostrou-se efi ciente
como técnica para avaliar ou validar resultados relacionados a estudos de
temperatura nas fachadas de edifi cações.
De acordo com Dorneles (2008) o valor da absortância (αTOT) da cor
branco médio é 0,31, enquanto que a absortância (αTOT) do verde escuro é
0,65. Ou seja, verde-escuro absorve muito mais o calor que o branco médio.
Amorim; Monteiro (2013) em um estudo intitulado “A infl uência das cores
no ganho térmico de superfícies cerâmicas” realizaram um experimento
com seis placas cerâmicas de diferentes cores: branco, amarelo, verde, azul,
vermelho e preto.
A primeira medição foi efetuada com as placas à sombra, sem in-
cidência da radiação direta, e, em seguida, as placas foram expostas ao sol,
sendo realizadas seis medições em intervalos de cinco minutos, por fi m, os
dois registros fi nais foram realizados à sombra com o intuito de identifi car
o resfriamento das placas (AMORIM; MONTEIRO, 2013).
Na Figura 12, visualiza-se que inicialmente as placas registraram o mesmo
valor de temperatura, confi rmando a efi ciência da estratégia de sombrea-
mento para o desempenho térmico das superfícies. Em seguida, com ex-
posição ao sol, as temperaturas superfi ciais se elevam e se distanciam umas
das outras, alcançando o valor máximo às 11:25 horas, com 15 minutos de
exposição à radiação solar direta, registrando 39°C na superfície branca e
64°C na superfície preta, amplitude de 25°C.
Em seguida, com alteração na nebulosidade, as superfícies resfriam
e mantêm um comportamento mais constante, entre 11:30 horas e 11:40

127
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

horas. Observa-se que as superfícies com cores mais claras, branco e ama-
relo, apresentam valores de temperatura inferiores ao conjunto de cores
intermediárias, verde, vermelho e azul, enquanto a mais escura, cor preta,
apresenta valores superiores. Por fi m, à sombra, as placas resfriam rapida-
mente, devido a sua baixa massa térmica, por se tratar de placas isoladas, e
alta emissividade, indicando que alcançarão brevemente o mesmo valor de
temperatura superfi cial.

Figura 12 - Temperatura superfi cial das placas cerâmicas em intervalos


de cinco minutos
Fonte: Amorim; Monteiro (2013)

Ainda de acordo com os supracitados autores, realizou-se um en-


saio com o uso de uma câmera termográfi ca, o conjunto de placas cerâ-
micas e a respectiva imagem termográfi ca (Figura 13), na qual podem ser
observadas as temperaturas superfi ciais após uma exposição à radiação
solar direta de aproximadamente 10 minutos. As cerâmicas apresentaram
comportamento semelhante ao observado nas coletas anteriores, porém
com menor amplitude térmica devido ao horário com menor radiação
solar. A cerâmica de cor preta registrou temperatura de 44,2°C, enquanto
a de cor branca, 36,3°C, variação de 8°C, aproximadamente.

128
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

Figura 13 - Sequência de cerâmicas de diferentes cores expostas ao sol e


sua respectiva imagem termográfi ca
Fonte: Amorim; Monteiro (2013)

Viégas (2015), analisando o descolamento de um revestimento


cerâmico em fachada verifi cou que a angulação maior que 60º infl uencia
no resultado da medição, mas que a distância até 10 metros do objeto em
análise não infl uencia muito nos valores das medições captadas pela câme-
ra termográfi ca. Verifi cou, também, que períodos de chuva inviabilizam a
medição através da termografi a infravermelha, uma vez que o equipamento
capta a incidência de raios solares na fachada a ser estudada, e a alta umida-
de do ar resfria o componente, difi cultando a detecção, análise e diagnós-
tico de defeitos.
O autor citou que o melhor período para verifi cação de anoma-
lias é durante o resfriamento da fachada, após esta ter alcançado o pico
máximo de temperatura (técnica passiva). Nos termogramas realizados no
período com incidência de raios solares, as áreas degradadas apresentaram
temperatura maior pela difi culdade que existe do fl uxo de calor ser absor-
vido durante o aquecimento da superfície. Essa difi culdade existiu, dentre
outras coisas, por causa das lâminas de ar entre o revestimento e a fachada
que algumas anomalias acarretam, criando barreiras térmicas. Esse efeito
pode ser observado na Figura 14.
Na Figura 14a pode-se perceber que a variação de temperatura
entre o revestimento cerâmico e o revestimento em argamassa é de 5,5°C

129
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

e que onde não há revestimento cerâmico as temperaturas são mais ame-


nas, devido, entre outras coisas, à diferença de emissividade. A sombra da
platibanda provocou uma diminuição da temperatura na parte superior da
fachada (tonalidade roxa).
Verifi ca-se ainda, uma coloração de amarelo “mais vibrante” na re-
gião com presença de descolamento de revestimento cerâmico. Isto por-
que, nas referidas regiões há uma elevação da temperatura com relação ao
restante da fachada revestida com cerâmica sem presença de manifestações
patológicas, conforme Figura 14b.

(a) (b)
Figura 14 - Verifi cação de descolamento do revestimento cerâmico atra-
vés do termograma
Fonte: Viégas (2015)

Em outra parte da fachada, sem áreas próximas com placas descola-


das, também se percebeu a presença de regiões com tonalidade de amarelo
“mais vibrante” caracterizando presença de descolamento de revestimento,
o qual foi confi rmado através do ensaio de percussão (Error! Reference
source not found.).

130
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

Figura 15 - Elevação da temperatura na região com suspeita de descola-


mento, sem área próxima com placas descoladas
Fonte: Viégas (2015)

No início da noite os locais com presença de manifestações pato-


lógicas do tipo descolamento os quais tinham uma temperatura mais ele-
vada (cor amarela) passaram a ter uma temperatura mais baixa (cor roxa).
Em paralelo, notou-se que a área abaixo da platibanda e a área sem reves-
timento cerâmico tornou-se mais quente que a região degradada, ou seja,
o comportamento inverteu-se (Error! Reference source not found.).

131
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 16 - Inversão no comportamento da fachada à noite nas áreas


com descolamento (lateral acima da esquadria)
Fonte: Viégas (2015)

Usando Tmáx da Figura 14b como limite, utilizou-se a ferramenta


isoterma a qual mostra a região que tem temperaturas superiores à tempe-
ratura limite estipulada. Essa região está destacada na cor marrom ou cor
do revestimento da fachada analisada (Figura 17).

Figura 17 - Uso da ferramenta “isoterma”


Fonte: Viégas (2015)

132
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DOS REVESTIMENTOS

Percebe-se perscrutando um pouco mais a imagem térmica (ter-


mograma) que o fl uxo de calor segue a primeira lei da termodinâmica, ou
seja, parte do ponto de maior para o de menor temperatura. Por isso que
a área inicial ou próxima à região degradada é maior comparando-se com
a área mais afastada, ou seja, apresenta um gradiente térmico.
Silva, Viégas e Póvoas (2015) também verifi caram o descolamento
de revestimento cerâmico por meio da análise termográfi ca em uma área
com temperatura mais elevada nas imediações dos descolamentos que fo-
ram visíveis (Figura 18). Para verifi car se existia descolamento ou não, foi
realizado ensaio de percussão para atestar a ocorrência de som cavo, o que
caracterizou o descolamento da placa cerâmica.

(a) (b)
Figura 18 - Local que visivelmente não apresenta manifestação patológi-
ca (a) e região de temperatura mais elevada indicando um descolamento
(b)
Fonte: Silva; Viégas; Póvoas (2015)

De acordo com Viégas (2015), a termografi a mostra-se como uma


técnica efi caz na predição de falhas funcionais e acidentes, uma vez que é
possível detectar manifestações patológicas em fachada de forma preven-
tiva. Além disso, é uma ferramenta de análise não destrutiva e bastante
rápida, que proporciona resultados instantâneos (termogramas).
Porém, ainda segundo o autor, são necessárias adequações antes
de se iniciar os ensaios por meio de análise termográfi ca, como a defi nição
de todos os parâmetros do equipamento, tais quais: determinação da emis-
sividade; medição da temperatura ambiente; da umidade relativa do ar; da

133
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

distância objeto-equipamento; e da velocidade do vento. Os supracitados


são inseridos no equipamento antes que se iniciem as medições. A inser-
ção errada destes acarretarão distorções nos resultados.
A termografi a apresenta algumas limitações, dentre elas, medir a
espessura da manifestação patológica e determinar a que profundidade se
encontra o defeito. No entanto, quando o valor de algum desses parâme-
tros for necessário, a termografi a infravermelha pode ser complementada
por outras tecnologias (VIÉGAS, 2015).
A termografi a infravermelha se mostrou viável e atraente para a
detecção de manifestações patológicas, principalmente se a inspeção for
realizada por pessoa habilitada (termografi sta) a qual poderá analisar com
maior precisão os termogramas captados (VIÉGAS, 2015).

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MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS
IMPERMEABILIZAÇÕES
PROBLEMAS PATOLÓGICOS E RECUPERAÇÕES DAS
IMPERMEABILIZAÇÕES

Luiz Fernando Bernhoeft – luizfernando@petrusengenharia.com.


br
Mestrado pela UPE
Engenharia Civil pela UPE

1. Introdução

É um princípio básico das construções entender que toda edifica-


ção, nada mais é do que o conjunto de vários sistemas e subsistemas que
devem ou deveriam trabalhar em perfeita harmonia, quando essa sintonia
é alcançada chegamos a um resultado na pratica ainda utópico, mas na
teoria, no ponto de vista de tecnologia disponível absolutamente alcan-
çável, que é uma obra isenta de manifestações patológicas relevantes, o
sucesso desse trabalho resultado de uma ação necessariamente multidisci-
plinar com especialidades em diversos ramos da engenharia, dentre elas a
tecnologia de impermeabilização que tem como função, segundo a NBR
9575 proteger a construção e seus usuários. No entanto, certamente por
diversas razões, provavelmente sendo uma das mais relevantes, por força
do mercado (redução de custos), a ciência aplicada a impermeabilização
vem sendo historicamente negligenciada, tratada em segundo plano, empi-
ricamente, quando, se observa a ótica de uma especialização da engenha-
ria.
Qualquer breve pesquisa pode concluir que as opções bibliográfi-
cas são mínimas, ou seja, os livros em circulação raridade, assim como as
disciplinas disponíveis nos cursos de graduação (engenharia, arquitetura,
tecnólogos) praticamente inexistem, o assunto impermeabilização é trata-
do como um mero apêndice de cadeiras como Tecnologia da Construção,
Construção civil dentre outras, na pós graduação a realidade não é muito

141
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

diferente uma vez que tentativas de criação de especialização em imper-


meabilização são quase sempre frustradas pela pequena procura.
Essa realidade citada é absolutamente paradoxal ao fato de que a
engenharia de impermeabilização é uma ciência (aplicada) em constante
evolução, e ainda ou fato também relevante, o resultado dessa negligencia
tem custado caro as construções, como grande exemplo observamos a
área imobiliária (construção de edifícios residenciais) cuja uma das maiores
preocupações nos serviços de atendimento ao cliente estão ligadas a essa
área da engenharia, ou seja com problemas de infi ltração (LIMA, 2012),
que resultam além de perdas fi nanceiras, comprometimento do maior pa-
trimônio de uma empresa, que é seu nome no mercado, tem sido resultado
de problemas ligados a impermeabilização, que é uma disciplina que não
permite margem de falha.
Apenas como exemplo meramente ilustrativo do fato citado, a Fi-
gura 1, apresenta um levantamento executado por uma construtora imo-
biliária de Brasília, no que diz respeito as solicitações a sua assistência téc-
nica, mostrando a relevância dos problemas ligados a impermeabilização,
ratifi cando a incoerência desses números com o que podemos chamar de
desprezo a engenharia de impermeabilização.

Figura 19 - Percentual de solicitações em assistência técnica de constru-


tora de Brasília (JOFFILY, 2011)

142
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

Levantamento elaborado por Lima (2012) indica que o custo referente a


impermeabilização de obras varia entre 0,5 a 2,0% do valor do empreendi-
mento, se incluirmos projetos e fi scalização, controle tecnológico (inclusi-
ve dos materiais) temos uma estimativa aceita no mercado como máximo
de 3,0%, porém o mau desempenho do sistema, pode resultar em retra-
balho, demolições, troca de revestimentos que podem chegar a 30% do
custo da obra.
O gráfi co de Pareto referente a custos com SAC de uma construtora do
Rio de Janeiro ratifi ca a questão, mostrando a relevância dos custos ligados
a problemas de impermeabilização.

Figura 20 - Gráfi co de Pareto do SAC de construtora do Rio de Janeiro


(D.F Oliveira, 2013)

Quando saímos da área imobiliária ou ainda deixamos o foco de


manifestações patológicas de obras novas ainda assim é impossível per-
der o foco da importância da impermeabilização, uma vez que a água /
umidade é agente degradador das construções em especial das estruturas,
seja por condição necessária ao problema propriamente dito como por

143
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

exemplo RAA e Corrosão de armadura, seja por mecanismo de trans-


porte dos agentes agressivos que é o caso do ataque externo de sulfato,
a NBR 15.575-3 declara textualmente que “A água é o principal agente
de degradação de um amplo grupo de materiais da construção”, e por
esse motivo estabelece requisitos de estanqueidade que serão analisados
posteriormente.

2. O sistema de impermeabilização

Refl etir sobre patologias das impermeabilizações requer necessa-


riamente a análise do que verdadeiramente o que signifi ca um sistema de
impermeabilização, especialmente porque despeito do que se imagina a
impermeabilização não é uma camada isolada, um ponto, na verdade tra-
ta-se de um sistema abrangente em etapas, sendo conjunto de ações e
produtos que tem uma função especifi ca, essa premissa fi ca claramente ex-
plicita na NBR 9575 (ABNT, 2010) que esclarece o sistema de impermea-
bilização como o conjunto de produtos e serviços destinados a conferir
estanqueidade a partes de uma construção, ou seja trata-se de uma disci-
plina bastante abrangente que envolve desde um projeto (necessariamente
compatibilizado), especifi cação, execução, controle tecnológico, entrega e
orientações pós obra (instruções de manutenção).
Esta norma defi ne estanqueidade como propriedade de um ele-
mento (ou de um conjunto de componentes) em impedir a penetração ou
passagem de fl uídos através de si, trata-se de um requisito importante para
se evitar prejuízos e perdas, especialmente as indicadas a seguir:

I. Prejuízo funcional: Perda da capacidade ou potencial de utilização de


uma área ou ambiente Ex. Infi ltração em garagens impedindo uso,
poço de elevador interditando a utilização dos mesmos.

II. Prejuízo patrimonial: Infi ltrações geram comprometimento estético


gera mais do que incômodo ou poluição visual, e resulta em desvalo-
rização, ou danos a bens materiais.
III. Comprometimento da Vida Útil de Projeto: talvez o mais recorrente

144
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

problema uma vez que umidade atacam não apenas revestimentos,


mas também e principalmente a estrutura, como dito água / umidade
é um dos principiais agentes catalisadores de degradação do concreto
armado, pré-moldado ou ainda de estruturas metálicas.
IV. Risco a saúde dos usuários: Umidade, lodo e bolor são riscos iminen-
tes especialmente a pessoas que sofrem problemas respiratórios, por
exemplo.
Apesar de não ser o objeto do presente trabalho, é bastante obvio
que o princípio levantado por Sitter (lei de Sitter ou lei dos 5), que inclu-
sive converge para a sabedoria popular “melhor prevenir do que remediar”
se aplica ao estudo das manifestações patológicas ligadas a impermeabili-
zação, o primeiro grande passo para a prevenção é um projeto de imper-
meabilização que segundo normas são obrigatórios a todas as edificações,
a NBR 9575 (ABNT, 2010) no item 6.2.2 indica textualmente que “O
projeto deve ser desenvolvido em conjunto e compatibilizado com de-
mais projetos da construção”, ou seja , o grande trunfo do projeto é a
compatibilização junto as demais disciplinas, por isso o momento de se
pensar impermeabilização é na etapa de projetos e não no momento de
acabamento da obra, nesse segundo momento é absolutamente tarde para
fornecer soluções básicas ao sucesso da camada impermeável, a compati-
bilização é necessária junto a todas as disciplinas, mas especializações a
seguir, certamente são os mais relevantes no que diz respeito a interferên-
cia com os sistemas de impermeabilização:

a. Interferência com instalações hidráulicas

Dimensionamento de drenos sem a previsão de arremates dos


sistemas impermeabilizantes, os diâmetros mínimos de drenos em áreas
impermeabilizadas devem ser de 75 mm, drenos inferiores, como o de 40
mm, ilustrado na fi gura 03, impossibilitam um bom arremate neste pon-
to crítico, além de comprometer o diâmetro útil pela entrada do sistema
impermeabilizante, do ponto de vista de cálculo da vazão hidráulica (se
fosse considerada apenas essa disciplina), certamente o diâmetro projeta-
do projetada atenderia a necessidade pluviométrica da pequena laje sobre
o reservatório e casa de máquina. Diversos outros exemplos poderiam ser

145
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

citados tais como quantidade de ralos para garantir espessura razoável de


regularização, arremates e distância entre tubulações emergentes.

Figura 21 - Tubulação de drenagem com perda de diâmetro pelo arre-


mate impermeabilizante - acervo do autor

b. Interferência com instalações Elétricas

Proximidade de faces verticais, tubulação x tubulação; ou tubula-


ção x paredes, impossibilitando arremates seguros entre essas faces deve
existir nesse caso uma distância mínima de 10 cm possibilitando o arrema-
te impermeabilizante entre os mesmos (Figura 04). Outros fatores impor-
tantes são existência de pontos de luz em paredes próximas ou dentro da
cota de impermeabilização.

146
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

Figura 22 - Eletro dutos verticais sem espaçamento impossibilitando


acabamento adequado do sistema impermeabilizante - acervo do autor

c. Interferência com projeto estrutural.

Além da importância do grau de deformação, tipo de estrutura


que exigira de o sistema de impermeabilização ser mais ou menos fl exível,
existem fatores práticos tais como a ausência/insufi ciência de desníveis
na estrutura entre áreas internas e externas, locais impermeabilizados e
não impermeabilizados, impossibilitando a devida execução das camadas:
regularização, impermeabilização, camada separadora e proteção mecâni-
ca, sem comprometimento estético e ou funcional (fi gura 05). Outro fato
bastante recorrente é a não construção de mureta em concreto armado
solidarizada a estrutura existente mureta perimetral de contensão em lajes
sujeitas e elevado gradiente térmico, causando fi ssuras por dilatação e pos-
teriormente escorrimento de água pelos revestimentos e da mesma forma
causando manchas, efl orescências e danos gerais aos revestimentos.

147
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 23 - Necessidade de batente pela não previsão de desnível entre


área impermeabilizada e não impermeabilizada - acervo do autor

d. Interferência com Arquitetura / paisagismo

Não obstante as normas exigirem altura mínima de rodapé imper-


meabilizado a cota de 20 centímetros de piso acabado, é o projeto arqui-
tetônico que determinara as melhores soluções para a real abrangência do
sistema impermeabilizante, caso a caso a utilização do local (se trafego de
veículo ou pedestre) da mesma forma possui grande interferência devido
a efeitos de aceleração e frenagem, como um exemplo clássico é funda-
mental conhecer o tipo de vegetação que seria instalada da mesma forma
é informação crucial para escolha do sistema.
Ratifi cando, os diversos problemas enfrentados com: o planeja-
mento, a contratação e controle da Impermeabilização podem ser consi-
deravelmente minimizados com a elaboração do projeto de impermeabi-
lização de forma e momento adequados, ou seja, com a inclusão de um
especialista na equipe multidisciplinar de projetos.

3. Abrangência e vida útil da impermeabilização

A edifi cação e as normas atuais, mais especifi camente NBR 9575


(ABNT, 2010), e NBR 9574 (ABNT, 2008) indicam necessidade de utili-

148
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

zação de sistema impermeabilizante, em uma abrangência maior do que


comumente foca da nas obras basicamente são áreas por solicitações de:

a) Água por percolação - Áreas que recebem água rotineiramente, em


quantidades que resultam escoamento superfi cial a exemplo dos ba-
nheiros e lajes descobertas
b) Água por condenação - Pequenas gotas que são formadas pelo vapor
de água no ar são mais nocivas a estrutura do que se pode imaginar,
espacialmente devido a presença de oxigênio que é condição funda-
mental para corrosão.
c) Umidade proveniente do solo – Água pura e principalmente conta-
minada no solo deveria ser condição fundamental para previsão de
sistemas de impermeabilização em subsolo, incluindo fundações.
d) Fluido por pressão unilateral ou bilateral – Locais como reservatórios
de água, piscina, estações de tratamento são objeto óbvio de estudo e
planejamento de uma boa impermeabilização.
Por outro lado, a NBR 15.575-3, classifi ca as possibilidades de exigência
quanto a estanqueidade em 03 níveis possíveis:

I. Áreas secas - exemplos: quarto, salas corredores - não existe requisito


quanto a estanqueidade
II. Áreas molhadas - exemplos: Box, calhas, lajes descobertas – deve
resistir a teste de estanqueidade de 72 horas com lamina de água de
10 centímetros.
III. Áreas molháveis – Banheiro externo ao box, cozinhas – Pode não
atender ao requisito de estanqueidade, mas a informação deve constar
no manual de uso e operação.
Um debate igualmente importante ainda sobre a norma de de-
sempenho, é a exigência atual de Vida Útil de Projeto (VUP), segundo a
tabela C.6 um sistema de impermeabilização deve possuir VUP, mínima de
20 anos, intermediária de 25 anos e superior de 30 anos quando a imper-
meabilização não for acessível sem quebra de revestimentos, que hoje no

149
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Brasil ainda é a grande maioria dos casos. No caso de impermeabilização


manutenível sem quebra de revestimentos a VUP é reduzida para 8, 10 e
12 anos respectivamente, ou seja, a norma de desempenho mantem para
impermeabilização sua diretriz que favorecer / buscar sistemas manute-
níveis, essa fato é absolutamente importante para o estudo das manifes-
tações patológicas de impermeabilização, uma vez que , com um sistema
exposto (manutenível) além da menor exigência quanto a VUP, é possível
prescrever atuações / manutenções preventivas em manuais de uso e ope-
ração, dividindo as responsabilidades e os esforços e garantir com isso
uma aceitável durabilidade ao sistema, além disso, em caso de sistemas
expostos (acessíveis sem quebra de revestimentos) a própria eventual ne-
cessidade de intervenção corretiva é muito facilitada.

4. Classificação de manifestações patológicas ligadas à impermea-


bilização

Conforme proposto por Storte (2011) é prudente subdividir as


manifestações patológicas ligadas a impermeabilização em dois grupos,
são eles:

Grupo 1. Manifestações provocadas pela infi ltração d’água, devido à au-


sência ou falha da impermeabilização.

Grupo 2. Manifestações originárias do processo construtivo, que podem


provocar danos à impermeabilização.

O foco do presente e trabalho é o estudo grupo 1, cuja a origem


dos problemas está na impermeabilização, seja por projeto, concepção,
execução ou mau uso, os problemas do grupo 2 são técnicas preventivas,
de boa pratica, normativas, de controle de qualidade e tecnológico ligadas
a outras disciplinas tais como estrutura, instalações, vedações e revesti-
mentos.

Sobre o grupo 1 também não será objeto da atual refl exão as ori-
gens dos problemas, pois nesse caso o assunto seria tecnologia de imper-

150
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

meabilização e não patologias da impermeabilização, porém é importante


ressaltar que a origem do problema pode estar ligada a:

a. Projeto

Concepção inadequada, uso de materiais inapropriados ao grau e


ou tempo de exposição, falta de detalhamento, falta de compatibilização
com demais disciplinas, escolha de sistema não compatível com mão de
obra disponível local;

b. Inadequada preparação da superfície

Toda impermeabilização requer adequada regularização e ou pre-


paração da superfície, é muito mais comum do que se imagina, falhas na
impermeabilização, não obstante a concepção / escolha correta do produ-
to e a correta mão de obra de execução, o motivo é a falha na regularização
que pode chegar inclusive a comprometer o todo.

c. Execução

Obviamente a maior responsável pelos problemas, trata-se de fa-


lha de procedimentos associadas a ausência de fi scalização. Defi ciências de
emendas, sobreposições além de pontos críticos tais como juntas de movi-
mentação, ralos e tubos emergentes são os grandes focos dos problemas.

d. Materiais

Via de regra acontecem em pequena intensidade uma vez que


nesse item não está incluída a concepção inadequada, mas apenas even-
tuais falhas do material, por exemplo uma manta asfáltica tipo III segundo
NBR 9952 deve possuir alongamento superior a 30%, caso um controle
tecnológico (ensaio) mostre que o material não alcançou esse valor, clara-
mente trata-se de uma falha de fabricação e consequentemente uma falha
de material.

151
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

e. Agressão das camadas posteriores (em obra)

Após projeto e execução esse item certamente é a origem com


maior incidência de problemas, O histórico das manifestações patológi-
cas relacionadas a impermeabilização indicam que grande parte são danos
posteriores ao correto sistema aplicado, sendo comum por exemplo áreas
como piscinas impermeabilizadas e em teste por semanas, após a execução
do revestimento apresentam infi ltrações em 1 ou 2 dias, por esse motivo
é indicado que a empresa ou profi ssional responsável pela aplicação da
impermeabilização seja o mesmo que aplique a proteção mecânica, essa
atitude minimiza a possibilidade insucesso, mesmo que danos profundos
como novas chumbações ainda são possíveis.

f. Uso e manutenção

Muitos sistemas de impermeabilização requerem manutenções


preventivas ao longo de sua vida útil, porém a omissão de manutenção
nem sempre é responsabilidade apenas do usuário (sindico ou adminis-
trador) mas em alguns casos do próprio construtor quando não repassa
as informações de forma clara e técnica das ações necessárias. Vae a pena
registrar as principais informações que se deve constar em manual:

• Indicar em croqui as áreas molhadas, registrando a absoluta impossi-


bilidade de perfurações e danos;

• Indicar em croqui locais apropriados para perfurações inevitáveis tais


como fi xação de antenas de TV a cabo – é prudente a construção de
bases especifi cas.

• Para as impermeabilizações manuteníveis (expostas) incluir de forma


clara, técnica se possível com quantitativo a ações necessárias pre-
ventivas.

• Registrar no manual (croqui ilustrado) onde são as áreas molháveis, e


esclarecer que as mesmas não possuem requisito de estanqueidade.

• Para impermeabilizações ou componentes não manuteníveis ou

152
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

substituíveis indicar a VUP, com prazos para troca. Exemplo o tem-


po que um selante de juntas deve ser substituído.

5. Manifestações patológicas ligadas à impermeabilização

5.1 Lixiviação da estrutura de concreto

Parte do produto da reação de hidratação do cimento são cristais


de Ca (OH)2 e Mg (OH)2, cal hidratada/hidróxidos de cálcio e de mag-
nésio, componentes que são parcialmente solúveis em água (corrente). A
falha na impermeabilização gera indesejada e não projetada passagem de
água no concreto resultando na dissolução e transporte da cal hidratada
que é chamada lixiviação que é ilustrada na fi gura 6.

Figura 24 - Lixiviação do concreto, devido a passagem inadequada de


água em seu interior - acervo do autor

Não se trata de uma simples não conformidade estética, além de


danos funcionais (comprometimento do uso de uma garagem por exem-
plo), o problema é prioritariamente técnico gerando:

153
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

• Remoção de sólidos gerando redução na resistência mecânica;

• Facilidade de gases e líquidos agressivos às armaduras;

• Penetração de água e oxigênio (corrosão de armaduras);

• Perda da proteção química pela carbonatação (transformação de hi-


droxilas em carbonatos) – queda do pH do concreto.

Sabe-se que a armadura inerente ao concreto armado ou protendi-


do possui duas importantes forma de proteção:

• Barreira física, que é uma barreira gerada pela qualidade e espessu-


ra do cobrimento, fato que em parte justifi ca a grande importância
dada na NBR 6118 as classes de agressividade ambientais e exigên-
cias quanto a espessura do cobrimento;

• Barreira química, que é o ambiente alcalino do concreto original, que


se perde na redução do pH, favorecendo a corrosão.

A lixiviação que visualmente é evidenciada pela mancha ou esta-


laquitites esbranquiçadas nas estruturas de concreto, quimicamente é ex-
pressa na reação da fi gura 07.

Figura 25 - esquema da reação de lixiviação.

Resumidamente a lixiviação é atestado de que a estrutura de con-


creto perdeu sua proteção química, ou seja esta vulnerável a corrosão.
Esse fato alerta para a verdade de que para evitar degradação da estrutura
não são sufi cientes o controle de lançamento e adensamento do concreto,

154
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

assim como a qualidade e quantidade do cobrimento das armaduras, mas a


qualidade da estanqueidade da edifi cação é da mesma forma fundamental.

5.2 Corrosão eletroquímica de armadura de concreto armado ou


protendido

Essa manifestação patológica será minuciosamente tratada em ou-


tro capítulo dessa publicação, porém o registro é importante por escla-
recer que uma das condições necessárias para a corrosão eletroquímica
das armaduras é o eletrólito, logo a umidade gerada pela falha no sistema
de impermeabilização também desta forma (além da lixiviação), catali-
sa a degradação da estrutura. A Figura 8 ilustra uma garagem com dois
pilares com aproximadamente 2,5 metros de distância um do outro, de
mesma idade, mesma geometria, mesma resistência, mesma agressividade
ambiente, certamente a mesma qualidade de mão de obra e supervisão
se apresentam em níveis de deterioração complemente diferentes, o da
esquerda (com infi ltração vinda do teto), se encontra com elevado em
elevada degradação quando comparado com o da direita.

155
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 26 - Comparação de degradação entre pilares com grau de umi-


dade diferenciadas - acervo do autor

Trabalho apresentado no simpósio brasileiro de impermeabili-


zação mostra que 90,91% de edifícios residências vistoriados em caráter
preventivo apresentem corrosão em teto interno de reservatório ilustrado
na fi gura 9, devido à ausência de impermeabilização do teto interno, pro-
cedimento que é uma premissa da NBR 9575 quando indica necessidade
de impermeabilização por água de condensação, e fato porém que via de
regra o problema está associado a outras falhas, especialmente defi ciência
de cobrimento das armaduras.

156
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

Figura 27 - teto interno de reservatório com corrosão de armadura por


ausência de impermeabilização contra água por percolação - acervo do
autor

5.3 Reação álcali agregado (RAA)

A exemplo da corrosão de armadura, não é objetivo desse capitulo


se aprofundar no RAA propriamente dito, porém é fundamental registrar
que a água é condição necessária para formação do gel expansivo e das
bordas de reação, e ainda que desde 1986 a NBR 9575 prevê a abrangência
de impermeabilização em “Umidade proveniente do solo – Água pura e
principalmente contaminada no solo deveria ser condição fundamental
para previsão de sistemas de impermeabilização em subsolo, incluindo
fundações“.

5.4 Ataque externo de sulfato

Assim como o gel no RAA, a formação da etringita leva à expan-


são e devido à baixa resistência à tração do concreto se instala um quadro
fi ssuratório com características inclusive similares a do RAA, não sendo
rara a ação conjunta das duas manifestações patológicas.

157
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

A fonte da contaminação por sulfato são diversas, merecendo


destaque: O solo, águas contaminadas (industriais e chuvas), águas servi-
das e água do mar, ou seja, em todos os casos a água é responsável pelo
transporte do agente agressivo (o sulfato), de modo que é correto atribuir
a prevenção dessa manifestação patológicas se dá no uso de concretos
menos permeáveis, com baixa relação a/c, uso de cimentos de alto-forno,
pozolânicos ou resistentes aos sulfatos (RS), mas também a impermeabili-
zação das fundações ou elementos estruturais sujeito a contaminação.

5.5 Umidade ascendente em paredes

A umidade ascendente por capilaridade se manifesta em paredes,


rodapés e piso, a capacidade da altura ase atingir depende de muitas va-
riáveis, mas é comum observar cotas de até 1,3 metros. Apesar de esse
manifestar em maior frequência em obras de pequeno ou médio porte,
especialmente edifi cações unifamiliares, a umidade ascendente pode ser
observada em garagens de pavimento térreo e ou subsolo.
Além de graves transtornos estéticos e funcional essa umidade
proveniente do solo cuja a passagem é permitida pela ausência de correto
tratamento das fundações / vigas baldrames, permitindo a ligação entre
a área enterrada e a parede sobre o nível dom solo (fi gura 10), essa ma-
nifestação patológica compromete o revestimento e ainda a vida útil da
estrutura, seja alvenaria estrutural / resistência ou estruturas em apoios
aporticados.

158
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

Figura 28 - Ilustração de umidade ascendente em paredes (Bernhoeft,


2012)

5.6 Desplacamentos do sistema impermeável

O desplacamentos do sistema de impermeabilização pode se dar


por diversos motivos, porém certamente os mais recorrentes são:

a. Ausência ou deficiência da camada de regularização, essa falha


produz falta de uniformidade na camada berço, assim quando aplicada
a impermeabilização não se apresenta totalmente apoiada no substra-
to, com a aplicação de cargas (água, sobre cargas acidentais, revesti-
mentos) se observa o rompimento e desplacamentos da impermeabi-
lização (fi gura 11).

159
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 29 - Desplacamentos da impermeabilização por falha na regulari-


zação- acervo do autor

b. Ausência ou deficiência de cura em impermeabilizações de base


cimentícia, essa omissão gera retração, que por sua vez resulta em
esforços de cisalhamento comprometendo a ancoragem mecânica (es-
tacas / agulhas na porosidade) como ilustra a fi gura 12.

Figura 30 - Desplacamentos de revestimento devido a ausência de cura


em impermeabilizações em base cimentícia - acervo do autor

160
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

c. Falta de preparo cuidado no substrato, Os materiais mais relevan-


tes de impermeabilização possuem matriz diferente das argamassas
mistas inorgânicas que via de regra são utilizadas como regulariza-
ção, esses materiais, possuem base asfáltica, poliuretano dentre outros
possuem uma inerente difi culdade de aderência na matriz cimentícia,
associado a esse desafi o é comum registrar na ausência de fi scalização
e controle agravantes como umidade, poeira e eventualmente outros
materiais estranhos as superfícies tais como : graxas , óleos , óxidos e
etc.

5.7 Ausência de estanqueidade com origem no lençol freático

Levantamento apresentado no simpósio brasileiro de impermeabi-


lização em 2015 mostra que 36,36% das edifi cações residenciais na Região
Metropolitana do Recife (RMR) possuem problemas ligados a ausência de
impermeabilização em estruturas enterradas ou semienterradas especial-
mente reservatórios inferiores, poço de elevador e laje de piso (garagens),
como ilustra a fi gura 13.
Esses números mostram descaso sobre o assunto, uma vez que via
de regra a tentativa de solução do problema se dá por instalação de dre-
nagem muitas vezes empíricas, quando na verdade, lajes estruturais sub-
pressão impermeabilizadas seriam apropriadas uma vez que eliminariam a
necessidade de um sistema caro e vulnerável de manutenção envolvendo
bombas, canaletas e tubos enterrados, além de eliminar a possibilidade de
possíveis problemas estruturais pelo carreamento de materiais com drena-
gem ao longo dos anos, e por fi m, um sub solo não estanque apenas dre-
nado resulta em um micro clima mais agressivo (mais úmido) com prome-
tendo a durabilidade da edifi cação. Nenhuma umidade deve estar presente
em estruturas enterradas, pois nesse caso, independentemente do local
em que a edifi cação se encontre ela estaria simulando no seu microclima a
classe de agressividade ambiental IV, ou seja, como não foi prevista dessa
forma, certamente terá sua Vida Útil comprometida.

161
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 31 - Infi ltração em garagem em pavimento semienterrado na


RMR

5.8 Desplacamentos de revestimento sobre rodapé impermeabili-


zado

Se a aderência do sistema impermeabilizante ao substrato é um


desafi o, a fi xação do revestimento fi nal a um rodapé impermeabilizado é
procedimento da mesma forma complexo que une camadas distintas (base
de baixa porosidade) e essas camadas estão expostas a um elevado gra-
diente térmico via de regra com incidência direta do sol. Por esse motivo
81,82 % (Simposio Brasileiro de Impermeabilização 2015) dos empreen-
dimentos com até 5 anos de entrega na RMR apresentam fi ssuras nesses
rodapés como ilustra a fi gura 14.

162
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

Figura 32 - Desplacamentos em revestimento de rodapés sobre im-


permeabilização - acervo do autor

É possível atribuir as principais causas desse desplacamentos a:

a. Ausência de tela sobre chapisco, A tela tem a função de fomentar a


aderência do emboço e deve ser aplicada sobre a camada de chapisco,
nunca diretamente sobre a impermeabilização.

b. Deficiência na altura de tela instalada, Muitas vezes a tela estru-


turante do emboço é instalada, mas é interrompida na cota de imper-
meabilização, nesse caso ela só atua com uma de suas duas funções, a
função de dissipar tensões na área de concentração de esforços (que
é o limite da altura do rodapé impermeabilizado) não é utilizado, é
recomendado não apenas a instalação da tela, mas sua cota com 10
centímetros acima no nível da impermeabilização.

c. Ausência de junta de dessolidarização, essas juntas são providen-


cialmente colocadas nos encontros de panos, ou seja, entre o piso e a
parede. Com a junta nesse local, a movimentação termoigometrica do
piso não gera esforços na face vertical, sendo absorvida pela junta que
dessolidarizou o piso da parede, na inexistência desse componente o

163
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

esforço agrava o desplacamentos gerando o momento Fxd, onde F é a


força gerada pelo piso na parede, e d é a altura do rodapé.

d. Ausência de tratamento na camada superficial da impermea-


bilização, no caso das mantas asfálticas é fundamental a queima do
fi lme superfi cial de polietileno, que ainda no estado pastoso (quente)
favorece a aderência do chapisco. Caso o sistema impermeabilizante
utilizado tenha sido a base de poliuretano ou acrílico, seria prudente
na ocasião da última camada executar aspersão de agregado, tais como
grão de quartzo ou areia com umidade controlada.

5.9 Manchas e eflorescências em revestimentos

Muitas vezes manchas e efl orescências nos revestimentos (a exem-


plo da Figura 15) não são atribuídas a falha de impermeabilização, mas
de fato são defi ciência nas regularizações. Normas técnicas indicam a ne-
cessidade de caimento de 1% das áreas impermeabilizadas (com exceção
de calhas e banheiros que são admitidos 0,5%), e ainda é relevante citar
que esses caimentos devem ser executadas na camada de regularização e
não proteção mecânica, de modo que a água que naturalmente percolar
no piso não fi cara retida no contra piso, essa retenção geraria manchas de
umidade, escurecimento da argamassa de rejunte, comprometimento da
aderência a médio ou longo prazo e as efl orescências.

164
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

Figura 33 - Efl orescências fruto de acumulo de água sob o piso, sobre o


sistema impermeável - acervo do autor

Outras falhas de abrangência do sistema impermeabilizante, regu-


larização, ou defi ciência de detalhamento tais como chapins ou respinga-
dores da mesma forma resultam em manchas e efl orescência (fi gura 16).

Figura 34 - Manchas e efl orescência gerado por defi ciência de detalha-


mento / abrangência de impermeabilização

165
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

5.10 Não remoção de película protetora de manta asfáltica exposta

As proteções mecânicas são necessárias na grande maioria dos


casos de impermeabilização com manta asfáltica, existindo basicamente
duas exceções: Na aplicação de mantas auto protegidas, e nas aplicações
em reservatórios. Nesse segundo caso a boa pratica construtiva e os fa-
bricantes indicam a execução de proteção apenas no piso, devido a neces-
sidade de manutenção, apoio a escadas, bombas e etc. Porém as paredes
devem conter mantas expostas sem proteção, além de torna-las manute-
níveis se um revestimento em rodapés de 30 centímetros já se apresentam
como desafi adores, paredes de 2 ou 3 metros são panos absolutamente
complexos de se revestir, e ainda que se obtenha sucesso, a proteção me-
cânica nas paredes geram esforços contínuos que tenderão a destacar a
impermeabilização do substrato.
Portanto uma vez expostas o fi lme de polietileno remanescente
deve ser removido / queimado pois na presença de água estancada o mes-
mo é removido em médio prazo gerando elevado risco de obstrução das
instalações hidros sanitárias a exemplo da ilustração da fi gura 17.

Figura 35 - Película de polietileno não removida gerando risco de obs-


trução de instalações – Acervo do autor

166
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

5.11 Ausência de pintura protetora em mantas auto protegidas

As mantas asfálticas auto protegidas são bastante uteis e apropria-


das a pequenas lajes de trafego leve e eventual, ocorre que levantamen-
to realizado na RMR (IBI xxx2014) indica que em 81,82% dos casos as
emendas não são devidamente protegidas (fi gura 18), fato grave uma vez
que essas são justamente os locais mais vulneráveis. Os fabricantes indi-
cam pintura asfáltica alumínio no caso de utilização de autoproteção com
película alumínio e aspersão de grãos de ardósia no caso das mantas deno-
minadas de ardosiadas. O resultado da omissão é a fadiga precoce, e mau
desempenho / durabilidade da emenda.

Figura 36 - Manta auto protegida com grãos de ardósia aplicada em co-


bertura sem proteção das emendas – Acervo do Autor

6. Soluções para recuperação de impermeabilização

6.1 Análise das possibilidades de intervenções

Tomar a decisão de qual possibilidade de solução pode ser dada a


uma infi ltração de água, nem sempre é uma tarefa fácil, os principais mo-
tivos são:

167
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

a. Devido a ausência de projeto ou registros em geral, via de regra não


se conhece o sistema de impermeabilização utilizado originalmente
uma vez que o mesmo se encontra quase sempre sob um revestimento
fi nal estético e ou sob camada de proteção mecânica. Esse desconhe-
cimento resulta em duvidas sobra a VUP do sistema utilizado, sobre
a possibilidade / facilidade de emenda do mesmo, podendo resultar
muitas vezes em escolha de re impermeabilização geral.

b. Os sistemas de impermeabilização, mesmo os classifi cados como ade-


ridos (existem sistemas aderidos, semi aderidos e não aderidos) quase
sempre possuem difi culdade de aderência em substrato úmidos, logo
em caso de infi ltração de água a úmida sob a camada impermeável
compromete a aderência resultando num efeito muito recorrente que
é o fato da infi ltração na estrutura não se apresentar na projeção do
problema. Após penetrar na falha existem em um ponto a umidade
pode percolar horizontalmente distancias relevantes até algum ponto
mais vulnerável da estrutura tais como : Fissuras, falhas de concreta-
gem, chumbação de tubulações , juntas estruturais, juntas de concre-
tagem dentre outras. Esse fenômeno difi culta a identifi cação pontual
do problema e a exemplo do item anterior resulta muitas vezes em
opção pela re impermeabilização. total. Por esse motivo, em caso de
reparos pontuais se a área permitir, é fundamental a execução de teste
de estanqueidade geral (toda a área da laje, toda a piscina, todo op
reservatório) pequenos testes de estanqueidade pontuais tem grande
probabilidade de não apresentar a realidade, gerando falsa conclusão
de solução.

A decisão entre tentativas pontuais de reparos e re impermeabi-


lização geral passa por variáveis que devem ser levadas em consideração,
tornando cada caso peculiar, tais como:

a. Além da funcionalidade, momentânea (estancar as infi ltrações) deve


se considerar a durabilidade e garantia requerida, como exemplo po-
demos citar injeções em lajes elevadas de super estrutura onde, esse
procedimento estanca o local da infi ltração mas a probabilidade de

168
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

aparecimento de umidade em outro ponto do mesmo ambiente deve


ser considerada alta.

b. Deve-se levar em consideração as condições de uso, a possibilidade


de intervenção das áreas, cozinhas industriais ou de restaurantes de
shoppings por exemplo que nunca param, muitas vezes a solução mais
adequada deve ser meramente mitigadora diante a impossibilidade de
intervenção de elevado transtorno;

Como já comentado diante os desafi os citados e especialmente


a nova “garantia” requerida é comum se adotar um procedimento tradi-
cional, de re impermeabilização total que requer remoção total do piso,
execução de nova camada impermeável a exemplo da ilustração da fi gura
19.

Figura 37 - Demolição total de piso para nova impermeabilização após


decisão judicial na RMR - Acervo do autor

As caracteristas dessas decisão resultam em aspectos tanto negativos como


positivos, os principais deles são listados a seguir:

169
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Pontos negativos

• Elevado transtorno aos usuários, especialmente devido a poeira e


ruído. Fato agravado em caso de garagens que resultam em interdi-
ções mais complexas;

• Elevado custo uma vez que toda a camada de piso fi nal, proteção
mecânica , impermeabilização e ainda muitas vezes a própria regula-
rização, que requer ajustes;

Pontos positivos

• Possibilidade de renovação total da VUP e das garantias;

• Não requer mão de obra ou equipamentos especializados como por


exemplo em soluções que envolvem injeção de resinas. Essa relativa
facilidade de mão de obra abrange o leque de opções de contratação
/ concorrência.

6.2 Opções de reparos não tradicionais (demolição geral de piso)

Não obstante as difi culdades e desafi os apresentados no item


anterior, novas tecnologias e materiais ligados ao ramo de impermeabili-
zação tem possibilitado alternativas na recuperação de impermeabilização,
as principais delas são:

6.2.1 Cristalização integral do concreto

Esse sistema tem se mostrado muito útil em recuperações de mau


desempenho em impermeabilização para estruturas que se apresentam em
contato direto com umidade, podendo ser a água no estado liquido propri-
amente dito ou solo, resumindo trata-se de ambientes enterrados de forma
geral (poço de elevador, reservatórios enterrados, cortinas de concreto,
fundações, parede diafragma, laje sob pressão) ou estruturas elevadas ou
semi enterradas como reservatórios e estações de tratamento.

170
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

Nos últimos anos, devido a novas gerações de cristalização, esse


sistema tem ampliado muito sua fatia de atuação no mercado. Em princip-
io existem duas formas de aplicação da cristalização, a tópica, em forma de
pintura projetada ou com trincha e a adição em concreto no estão frescos,
como o foco desse trabalho são reparos / recuperação a utilização apro-
priada é a tópica.
Importante ressaltar que a cristalização é um dos poucos sistemas
de impermeabilização que não requer regularização quanto camada pre
liminar em argamassa por exemplo, ao contrario disso o produto só tem
efi ciência quando aplicado diretamente sobre o concreto estrutural, ela
requer sim preparação do substrato, mas não camada de regularização.
Constituído de Cimento Portland, areia de quartzo, compostos
químicos ativos (misturado a água). Na aplicação os componentes quími-
cos ativos reagem com os compostos da pasta de cimento e com a umi-
dade presente nos capilares do concreto formando cristais insolúveis que
preenchem os poros e fi ssuras de retração.

É possível citar como vantagens do sistema:

• Torna-se parte integrante do concreto – não cria uma camada barreira


/ película como os demais sistemas de impermeasbilização;

• Pode ser aplicado na face positiva ou negativa do concreto – vanta-


gem fundamental em reparos por ser comum em sub solos por exem-
plo o acesso apenas a face negativa;

• As propriedades de impermeabilização e resistência química se man-


têm intactas mesmo se a estrutura for danifi cada, o máximo necessá-
rio são reparos pontuais em caso de danos mais profundos;

• Efi caz contra pressões hidrostáticas elevadas;

• Fácil de aplicar, simples pintura em duas demãos, CUIDADO requer


cuidado muito especifi co na preparação do substrato.;

• Pode selar fi ssuras próximas a 0,4 mm de abertura;

171
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

• Resistente aos ataques químicos, majora a durabilidade da estrutura;

• Pode ser aplicado em concreto úmido ou durante a fase plástica;

Por se tornar parte integrante do concreto, para sua qualidade e


bom desempenho é fundamental, o adequado tratamento da superfície
tratamento de eventual concreto segregado, em caso de recuperações de-
stacamento ou corrosão da armadura, seguido de hidrojateamento de alta
pressão (> 250 bares) com objetivo de limpeza abertura dos poros, sendo
inclusive fundamental posterior escovação, uma vez que o objetivo é a
penetração e cristalização dos poros.
Deve existir o prévio tratamento de juntas de concretagem e fi s-
suras localizadas após o hidrojato, assim como identifi cação e tratamento
especial em furos de tirante, remoção do tubo de PVC; escarifi cação da
superfície do furo e lixamento das bordas; saturação com água; ponte de
aderência, aplicação de argamassa de reparo.
Na aplicação tópica da cristalização deve-se saturar o concreto al-
gumas horas antes e aguardar a secagem superfi cial para aplicação, aplicar
diretamente no substrato do concreto, limpo, com porosidade aberta em
pelo menos duas demãos, consumo médio de 1,5 kg/m². Deve-se buscar
preferencialmente no sentido de pressão positiva, sendo fundamental a
cura através de pulverização de água 3 a 5 vezes ao dia, por 3 dias consec-
utivos.

6.2.2 Membranas de impermeabilização para aplicação sobre piso/


sem remoção do mesmo

Uma outra possibilidade, agora para super estrutura, em geral lajes


e a utilização de membranas que possuem elevada resistência mecânica,
química além de ser apropriada a exposição de raios ultra violetas e mov-
imentação estrutural / térmica (são sistemas fl exíveis). Essas membranas
por resistirem a trafego, inclusive de veículos quando o substrato é sufi -
cientemente resistente podem fi car expostas, fato que além do benefi cio
da manutenibilidade e do prazo da obra (sem necessidade de piso fi nal)
resulta a grande vantagem em recuperações de impermeabilização que é a

172
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

não necessidade de demolição do piso, uma vez que esse novo sistema não
vai gerar sobre carga.

As principais membranas para alto trafego são:

a. Membrana de poliurenato

Por ser membrana é moldada in loco são indicadas para imper-


meabilização de reservatórios, lajes, piscinas, terraços, sacadas, jardineiras,
calhas, canaletas de concreto e áreas molhadas internas. Trata-se de um
poliuretano reativo, isento de voláteis orgânicos. Aplicado a frio, forma
uma membrana impermeável, resistente e ideal para áreas com cota re-
duzida e capacidade aderente a diversos tipos de substratos tais como:
argamassas, madeira, plásticos e metais.
Sua principal vantagem é a fácil aplicação, quando recebido o tre-
inamento adequado, não requer equipamentos caros ou especiais, tem cura
rápida, além de apresentar um bom desempenho a exposição de modo que
onde for possível pode fi car exposta, como dito alguns fabricantes desen-
volveram membranas resistentes a tráfego pesado (veículos), que vem
apresentando bom desempenho. O material deve atender aos requisitos
da NBR 15487 – Membrana de Poliuretano para Impermeabilização e da
NBR 12.170 – Potabilidade de água aplicável em sistemas de impermeabi-
lização.

b. Membrana de poliuréia

São sistemas elastoméricos de dois componentes reativos (isoci-


anatos e aminas), de cura extremamente rápida, aplicados normalmente
por equipamentos spray em temperaturas por volta de +60° C a +80° C
(hot spray), sendo importante destacar que as poliuréias puras resultam
maior resistência química e a abrasão.
As origens das poliuréias podem ser: Alifáticas nesse caso Resis-
tente ao UV não sofrendo variação de sua coloração ao longo do tempo,
e as Aromáticas, que são resistentes ao UV em características, físicas e
mecânicas porém e sem estabilidade de cor.

173
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

É importante citar ainda as poliuréias Híbridas: poliuretanos/poli-


uréia (composta de isocianatos+aminas+poliol), que apresentam menor
custo, em alguns casos maior viabilidade, porém, estas menos resistentes
(menores propriedades químico/físicas) que as poliuréias puras.

Apesar de necessidade de elevado cuidado na aplicação, com uma


quantidade de variaves muito elevada para o sucesso da aplicação, algumas
características fazem da poliuréia um produto que não pode ser desconsid-
erado, são elas:

• Cura instantaneamente: 3 a 40 segundos;

• Alta resistência química;

• Possibilidade de aplicação em condições extremas de umidade relativa


e temperatura;

• Não é tóxico, não infl amável, isenta de solventes, não libera gases
tóxicos;

• Excelente alongamento, com formulações variando entre 100% a


600%;

• Excelente resistência à abrasão, podendo ser utilizado como revesti-


mento sujeito a tráfego de veículos, empilhadeiras, etc.;

• Resistência a Tração: 18 Mpa;

• Liberação para tráfego em poucos minutos;

• Elevada resistência mecânica, inclusive impactos;

• Adere sobre concreto, metal e outros materiais;

• Resistente ao UV, embora desbote, quando do tipo aromático.

• Espessura ilimitada para aplicação.

• Aplicável em temperaturas variando entre -15° C a +70° C

174
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

Como principais desvantagens da membrana de poliuréria e possível de-


stacar:

• Elevado custo quando comparado com outros sistemas;

• Necessidade de mão de obra amplamente qualifi cada e equipamentos


específi cos de altos valores;

• Necessidade de elevada e cara mobilização em caso de necessidade


de pequenos reparos, infelizmente comuns a obras de impermeabili-
zação.

A grande restrição a se fazer recuperação de impermeabilização


com membranas de alto trafego, é qualidade do substrato existente, nos
casos de pisos de maior resistência tais como concreto polido (superiores
a 25 MPa), granilite / granitina dentre outros. Caso esse revestimento es-
teja coeso, bem aderido, com resistência a tração direta entre 2 a 4 MPa
(a depender do uso e tipo de trafego) é possível recuperar essa superfície,
tratar fi ssuras e juntas , gerar a rugosidade necessária, e após aplicação
de primer epóxi fornecido pelo mesmo fabricante do sistema escolhido,
aplicar a impermeabilização, que possui a grande vantagem, como já infor-
mado, de não gerar sobre carga por isentar piso fi nal.

6.2.3 Mantas PVC

Para re-impermeabilizações outro sistema importante é a manta


PVC, a exemplo das membranas citadas anterioremente é possível refazer
um sistema sem a demolição total das camadas existentes sejam imperme-
abilizações como também as proteções. Como vantagem é possível citar
a não necessidade de elevada qualidade do substrato uma vez que trata-se
de um sistema semi aderido, porém ao contrario das membranas citadas,
para se apresentar exposta, sem proteção mecânica, sem sobre carga essa
solução só é possível para locais de trafego eventuais, sendo recomenda-
da construção de calçadas / passeios para a área concentrada de trafego,
como por exemplo na coberta.

175
PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Com larga utilização em túneis e subsolos, o PVC (poli cloreto


de vinila) é a combinação química de carbono, hidrogênio e cloro. Suas
matérias primas vêm do petróleo (43%) e do sal comum (57%), essas
geomembranas de baixa condutividade hidráulica e pequenas espessuras
resistem a estágios de aquecimento e resfriamento sem fadiga ou alteração,
altas resistências e deformações, no caso de recuperação de impermeabi-
lização é uma excelente alternativa para coberta por exemplo (fi gura 20),
que isenta a necessidade de proteção mecânica e possui trafego eventu-
al.É importante ressaltar a facilidade de emenda, boa trabalhabilidade, ex-
celente resistência a punção.

Figura 38 - Manta PVC em re imprmeabilização de coberta - Pires pires


giovanetti, 2012

6.2.4 Sistemas de injeção na estrutura

A tecnologia de injeção em concreto se desenvolveu de forma muito bem


vinda para soluções de reparos em impermeabilização, essas injeções além
gerar estanqueidade impedem a penetração de agentes agressivos e umi-
dade protegendo assim o concreto armado, garantindo sua durabilidade.
Premissa básica para se falar em injeção em estrutura de concreto é dividir
as funções da injeção que podem ser:

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MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

a. Injeção para gerar estanqueidade

Nesses casos a necessidade não é estrutural, como por exemplo


remonolitização da estrutura, mas apenas vedar a fi ssura que é caminho
aberto para penetração de umidade e ou agentes agressivos, nesses casos
via de regra a injeção apropriada é gel de poliuretano, obtendo-se um sela-
mento fl exível e defi nitivo. Porém é importante ressaltar que alguns casos
existe um fl uxo d’água continuo, e assim a gel de poliuretano não apres-
netara bom desempenho quanto a sua aderência, nesse caso especifi co é
fundamental injeção prévia de espuma de poliuretano hidroativado, por-
teriormente a espuma, através dos mesmos bicos, é feita a injeção do gel.

b. Injeção para Recomposição Estrutural

Nesse caso o objetivo não é impermeabilização mas garantir a


restauração da capacidade de suporte das estruturas em algumas vezes
apenas sua remonolitização, como consequência pode gerar o estanca-
mento das infi ltrações. Para essa função os produtos utilizados são os
microcimentos (cimento aditivado ultra-fi no) ou resinas de base epóxica,
porem me caso de fi ssuras úmidas (umidade acima de 6%) é indicado
somente a injeção de microcimento, uma vez que as epóxicas aplicadas
elevadas umidade tem seu desempenho comprometido
É relevante registrar que utilizados no Brasil, existem basicamente
dois tipos de bicos injetores, os de perfuração e os de adesão e podem ser
metálicos ou plásticos. Os plásticos são recomendados para com pressões
limitadas a 30 bar, já os metálicos apresentam bom desempenho em ate
200 bar. Os bicos de adesão são teoricamente mais simples, são fi xados
diretamente na fi ssura, são possíveis quando as dimensões e comporta-
mento dessas fi ssuras são conhecidas, ou seja é de conhecimento do ex-
ecutor sua direção e profundidade, esses são fi xados com adesivo de
epóxi , espaçados entre si com distâncias equivalentes à espessura da peça
estrutural, obviamente a limpeza, remoção de poeira, óleo ou qualquer
elemento estranho é fundamental, além de requerer selamento superfi cial
da fi ssura. Outra restrição para utilização de bicos de adesão é a existência
de umidade ou fl uxo de água (fi gura 21).

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PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

Figura 39 – Esquema ilustrativo referente a bicos de adesão, mc bauche-


mie, 2016

Já os bicos de injeção de perfuração (fi gura 22) são fi xados em fu-


ros mecânicos / abertos com brocas, utilizando diâmetro compatível com
s bicos e instalados em ângulos de 45º em relação à superfície O distancia
entre as perfurações é recomendada a metade da espessura da peça estru-
tural, a ideia é que o bico atinga a fi ssura não na superfície, mas no meio da
peça (meio da fi ssura), além de também preencher a porosidade adjacente
do concreto. A limpeza é da mesma forma criteriosa, e no caso dos bicos
de perfurações sua aplicação em locais úmidos ou com fl uxo de água são
absolutamente recomendáveis.

Figura 40 - Figura 21 – Esquema ilustrativo referente a bicos de perfura-


ção, MC bauchemie, 2016

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MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

6.2.5 Umidade ascendente

Nenhuma manifestação patológica ligada a impermeabilização tra-


duz tanto o conceito de maior facilidade no tratamento preventivo diante
o corretivo que a umidade ascendente por capilaridade, impermeabilizar a
base das paredes e ou vigas baldrames é um procedimento absolutamente
simples, porém correções ligadas a essa omissão pode resultar em inter-
venções bastante complexas.
Uma opção comum de tentativa é retirada de toda a argamassa
úmida ou condenada ate uma altura segura de pelo menos 30 cm acima
da cota afetada, limpeza da superfície e aplicação de argamassa polimérica
direto sobre as vedações (3,00 kg / m²), após o procedimento deve-se
repostas as camadas de chapisco e emboço ambos adicionados com hidro-
fugos. Porém é importante frisar que essa alternativa deve ser considerada
como tentativa, pois atua no efeito e não na causa.
Uma solução defi nitiva é o total isolamento dos baldrames, abrin-
do / cortando a base das paredes (trechos de 1 metros a 1 metro) para
instalação de uma camada ou fi lme impermeável que quebra a sequencia
capilar, ma barreira física pode ser executada com uma placa PVC, manta
asfáltica, ou prima de concreto com aditivo cristalizante.

Conclusões

No caso dos sistemas impermeabilizantes a lei de SITTER mais uma vez


se mostra como uma verdade importante e que deve ser levada em con-
sideração, ou seja é menos oneroso, menos traumático, menos complexo,
gera menos transtorno, prevenir, ou seja, projetar e controlar, porém a
negligencia da tecnologia de impermeabilização, muitas vezes não tratada
como uma especialidade da engenharia tem gerado prejuízos e transtor-
nos. As opções de reparos possuem um leque bastante abrangente, porém
as tecnologias atuais fornecem opções interessantes devendo ser levado
em consideração basicamente os critérios :

a. Funcionalidade ;

b. Peculiaridade do local – difi culdades, interferências, possibilidade de

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PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES DE EDIFÍCIOS

interdição;

c. Mão de obra disponível no mercado local;

d. Disponibilidade fi nanceira;

e. Possibilidade de cronograma disponível;

f. Vida útil requerida para o reparo / conserto.

Referências

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CAS. NBR 9575: Projeto de Impermeabilização. Rio de Janeiro, 2010.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNI-
CAS. NBR 9574: Execução de Impermeabilização. Rio de Janeiro,
2008.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNI-
CAS. NBR 15575 : Norma de desempenho. Rio de Janeiro, 2013.
BERNHOEFT, L.F.; MELHADO, S.B. A importância da pre-
sença de especialista em impermeabilização na equipe multi disci-
plinar de projetos para durabilidade das edificações. CIMPAR 2010.
Cordoba - Argentina. 2002.
CUNHA, E.H. Impermeabilização. PUC, Goiais, 2010.
JOFFILY, I.A.L. Impermeabilização introdução. UNICEUB,
Brasília, 2011.
LIMA, J.L. A. Processo integrado de projeto, aquisição e ex-
ecução de sistemas de impermeabilização. 2012. 128f. Dissertação
(Mestrado Profi ssional) – FTSC, Salvador, 2012.
SABADINI, J.C.; MELHADO, S.B. Considerações gerais so-
bre sistemas de impermeabilização em piso de pavimento tipo. 1998
Dissertação de Mestrado – USP, São Paulo, 1998.
STORTE, Marcos. Manifestações Patológicas na Impermeabi-
lização de Estruturas de Concreto em Saneamento. Instituto Brasile-
iro de Desenvolvimento da Arquitetura, São Paulo, 18 nov. 2011.

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MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DAS IMPERMEABILIZAÇÕES

Disponível em: <http://www.forumdaconstrucao.com.br/ conteudo.


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