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Fundações
Ariane Helena

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est udo de fundação


Denis Feit osa

NBR-6122
Vanessa Quint anilha

Apost ila de fundações


Robert o Borges Ramos Alvim
1

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI


MARCELO MENANDRO FERREIRA

ESTUDO DE FUNDAÇÃO: EXECUÇÃO DE


SAPATA DE GRANDE DIMENSÃO

SÃO PAULO
2009
2

MARCELO MENANDRO FERREIRA

ESTUDO DE FUNDAÇÃO: EXECUÇÃO DE


SAPATA DE GRANDE DIMENSÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como exigência parcial
para a obtenção do título de Graduação
do Curso de Engenharia Civil da
Universidade Anhembi Morumbi

Orientador: Profª Dra. Gisleine Coelho de Campos

SÃO PAULO
2009
3

MARCELO MENANDRO FERREIRA

ESTUDO DE FUNDAÇÃO: EXECUÇÃO DE


SAPATA DE GRANDE DIMENSÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como exigência parcial
para a obtenção do título de Graduação
do Curso de Engenharia Civil da
Universidade Anhembi Morumbi

Trabalho____________ em: ____ de_______________de 2009.

______________________________________________
Profª Dra. Gisleine Coelho de Campos

______________________________________________
Profº Me. Claudio Luiz Ridente Gomes
Comentários:_________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4

Agradeço a “Deus” por me dar forças nas horas mais difíceis.


Agradeço a minha esposa por ter tido paciência, por ter me apoiado e por ter acreditado
em mim.
Agradeço ao meu filho por ter entendido as horas que não pude estar com ele.
Agradeço a todos que indiretamente me ajudaram de alguma forma.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Odebrecht Realizações Imobiliárias, por autorizar que eu desenvolvesse meu


trabalho junto a sua obra e a todos que me apoiaram de alguma forma.
6

RESUMO

A região de Alphaville, Barueri é conhecida por ter, em seu subsolo rochas e matacões de
tamanhos variados. Alphaville está em grande desenvolvimento demográfico,
conseqüentemente estão sendo construídos edifícios de grande porte residencial e
comercial. Dentro deste cenário a presente pesquisa aborda o controle na execução da
fundação de sapata de grande dimensão do edifício comercial I-Tower. A investigação
geológico-geotécnica apontou através de sondagens um matacão com volume de
aproximadamente 28.000m3 que foi determinante para se definir o correto tipo de
fundação. Por se tratar de um volume grande de concreto, foi executado um controle
especial do mesmo. O concreto através do seu coeficiente de dilatação térmica sofre
variações dimensionais expansivas quando exposto a ação da temperatura decorrente da
reação química de hidratação. Essa temperatura levou em conta as temperaturas dos
agregados e temperatura ambiente, ou seja, todo o processo foi monitorado desde a
fabricação do concreto até a chegada na obra e lançamento. Esse controle foi executado
a fim de se evitar as fissuras de retração do concreto.

Palavras chave: sondagens; sapata de grande dimensão; fissuras de retração.


7

ABSTRACT

Alphaville neighborhood, in Barueri, is known by the presence of different sized stones and
boulders in its soil. Alphaville is passing by a huge demographic developing and,
consequently, several big-sized buildings (commercial and residential kinds) are being
constructed. Looking to this scene, the current research is about the control during the
execution of big dimension slab foundation at I-Tower commercial building. Looking to this
scene, the present research broaches the control during the big dimension slab foundation
at I-Tower commercial building. The Geology and Geotechnical investigation has aimed,
across borings, a 28.000m3 boulder, what was determining to define the right type of
foundation. As long as the volume of concrete was so big, it was made a special control of
it. The concrete, across its thermal dilatation coefficient, goes through expansive
dimension variations when exposed to temperature action originated from hydration
chemical reaction. This temperature broached aggregates temperature and room
temperature, I mean, the whole process was watched since the concrete fabrication until
the arriving at the construction field and its throw. This control was made aiming avoiding
the concrete retraction cracks.

Key words: boring; big dimension slab; retraction cracks.


8

LISTA DE FIGURAS

Figura 5.1 - Tipos de trado utilizados ................................................................................. 19 


Figura 5.2 - Ensaio SPT..................................................................................................... 21 
Figura 5.3 - Tipos de coroas .............................................................................................. 22 
Figura 5.4 - Esquema de uma sonda rotativa .................................................................... 24 
Figura 6.1 - Esquema de Sapata Isolada........................................................................... 28 
Figura 6.2 - Esquema de Sapata Associada...................................................................... 29 
Figura 6.3 - Esquema de Sapata Alavancada ................................................................... 29 
Figura 6.4 - Esquema de Sapata Corrida .......................................................................... 30 
Figura 6.5 - Seqüência executiva da estaca hélice contínua ............................................. 32 
Figura 6.6 - Seqüência de execução da estaca tipo Franki .............................................. 35 
Figura 6.7 - Seqüência executiva da estaca raiz ............................................................... 37 
Figura 6.8 - Detalhe típico de tubulão ................................................................................ 37 
Figura 6.9 - Tubulão com camisa de concreto ................................................................... 39 
Figura 7.1 - Locação das Sondagens ................................................................................ 42 
Figura 7.2 - Croqui sem Escala dos Eixos ......................................................................... 44 
Figura 7.3 - Montagem da Forma ...................................................................................... 46 
Figura 7.4 - Forma e armação do bloco ............................................................................. 46 
Figura 7.5 - Início da concretagem .................................................................................... 46 
Figura 7.6 - Bloco concretado ............................................................................................ 46 
Figura 7.7 - Gráfico de elevação adiabática do concreto Fck 25MPa ................................ 50 
Figura 7.8 - Gráfico de elevação adiabática do concreto de Fck 40MPa ........................... 50 
Figura 7.9 - Tensões atuantes e resistentes ao longo do tempo. Temperatura 17ºC ........ 52 
Figura 7.10 - Tensões atuantes e resistentes ao longo do tempo. Temperatura 12ºC ...... 53 
Figura 7.11 - Tensões atuantes e resistentes ao logo do tempo ....................................... 55 
Figura 7.12 - Tensões atuantes e resistentes ao longo do tempo ..................................... 56 
9

LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 - Diâmetros mais comuns de furos e testemunhos .......................................... 23 


Tabela 7.1 - Temperaturas máxima, mínima e média, ambientais em São Paulo ............. 48 
Tabela 7.2 - Traço utilizado na produção do concreto dos blocos ..................................... 48 
Tabela 7.3 - Temperatura dos agregados no pátio da usina ............................................. 53 
Tabela 7.4 - Cálculo térmico para a temperatura do traço efetivo de concreto.................. 54 
10

SUMÁRIO

1  INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12 

2  OBJETIVOS ...................................................................................................... 14 

2.1  Objetivo Geral .......................................................................................................... 14 

2.2  Objetivo Específico ................................................................................................ 14 

3  MÉTODO DE TRABALHO ................................................................................ 15 

4  JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 16 

5  INVESTIGAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA ............................................... 17 

5.1  Poço ou trincheira de inspeção .......................................................................... 17 

5.2  Sondagem a varejão ............................................................................................... 18 

5.3  Sondagem a trado ................................................................................................... 18 

5.4  Sondagem a percussão ......................................................................................... 20 

5.5  Ensaio SPT – Standard Penetration Test ......................................................... 21 

5.6  Sondagem rotativa.................................................................................................. 22 

6  FUNDAÇÕES .................................................................................................... 27 

6.1  Fundações Rasas – Sapatas e Blocos .............................................................. 27 


6.1.1  Sapatas Isoladas ....................................................................................................28 
6.1.2  Sapatas Associadas ..............................................................................................29 
6.1.3  Sapatas Alavancadas ............................................................................................29 
6.1.4  Sapatas Corridas ....................................................................................................30 

6.2  Fundações Profundas............................................................................................ 30 


6.2.1  Estacas Pré-Fabricadas ........................................................................................30 
6.2.2  Estacas Hélice Contínua .......................................................................................32 
11

6.2.3  Estacas Strauss ......................................................................................................33 


6.2.4  Estacas Franki ........................................................................................................34 
6.2.5  Estacas Raiz ...........................................................................................................36 
6.2.6  Tubulão a Céu Aberto ...........................................................................................37 
6.2.7  Tubulão a Ar Comprimido .....................................................................................38 
6.2.8  Controle Especial da Temperatura do Concreto ...............................................40 

7  ESTUDO DE CASO .......................................................................................... 41 

7.1  Descrição do projeto e localização .................................................................... 41 

7.2  Investigação geológico-geotécnica realizada ................................................. 41 

7.3  Definição do tipo de fundação ............................................................................ 45 

7.4  Método executivo .................................................................................................... 45 

7.5  Controle da concretagem ..................................................................................... 47 


7.5.1  Temperatura de Elevação Adiabática .................................................................49 
7.5.2  Limite de deformação para não fissuração do bloco ........................................50 
7.5.3  Cálculo da temperatura máxima de lançamento...............................................52 
7.5.4  Cálculo da temperatura ideal de lançamento ....................................................52 
7.5.5  Quantidade de gelo ................................................................................................53 

7.6  Comparação entre valor previsto x real............................................................ 54 

8  ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................ 57 

9  CONCLUSÕES ................................................................................................. 59 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 61 


12

1 INTRODUÇÃO

A região de Alphaville tem atraído muitas construtoras pela sua localização de fácil
acesso. Até a década de 90, os edifícios comerciais surgiram em sua grande maioria na
cidade de São Paulo. Nesse novo século, tem-se procurado outras regiões para suprir as
necessidades e tendência do mercado.

Alphaville tem sido a primeira escolha pela proximidade da capital, pela densidade
populacional e alto padrão econômico dos habitantes, atraindo mais e mais empresas e
investimentos em infraestrutura pública.

A integração entre edifícios corporativos e shoppings não é simplesmente uma tendência


das grandes cidades, mas a equação perfeita de facilidade, valorização e retorno
financeiro (Odebrecht, 2008).

É objeto de estudo desta pesquisa a fundação tipo sapata do edifício corporativo I-Tower
em Alphaville, Barueri. O terreno para construção do edifício comercial possuía uma
sondagem que apontava como solução de fundação estaca escavada. Contratou-se uma
empresa de consultoria de fundação para melhor conhecimento do terreno e que solicitou
uma nova sondagem, a qual apontou a existência de uma rocha de aproximadamente
28.000m³ no subsolo.

O consultor definiu duas soluções de fundações para o edifício: tubulão a ar comprimido e


sapata, que por ser responsável por grande parte da carga do edifício, resultou em
grandes dimensões, chegando ao volume médio de 420m³.

Peças de concreto de grandes volumes necessitam de um controle técnico, pois a


hidratação do cimento é uma reação exotérmica, ou seja, libera calor no interior da massa
de concreto durante a sua pega. A liberação desse calor para o meio externo é
influenciada pelas características térmicas dos materias empregados, pelas condições
ambientais e pelas dimensões da estrutura.
13

É necessário a análise e controle do comportamento térmico do concreto nas sapatas, a


fim de inibir o risco de eventual fissuração de origem térmica.
14

2 OBJETIVOS

A finalidade dessa pesquisa é abordar alguns métodos de investigação do solo e alguns


tipos de fundação.

2.1 Objetivo Geral

O objetivo geral desta pesquisa é mostrar a importância de se investigar o solo para uma
definição correta do tipo de fundação a ser utilizado.

Devido à estrutura do solo, dentro do mesmo terreno, têm-se mais de um tipo de


fundação tecnicamente viável. São abordados alguns tipos de fundação usados num
mesmo terreno em Alphaville, Barueri.

2.2 Objetivo Específico

Em específico, é estudada a fundação tipo sapata de grande dimensão, as técnicas


empregadas durante a execução e os métodos utilizados para controle da temperatura do
concreto, evitando-se assim as fissurações de origem térmica.
15

3 MÉTODO DE TRABALHO

Esta pesquisa técnica iniciou-se com a coleta de informações junto à equipe de obra.
Desses dados, alguns foram selecionados para o desenvolvimento da pesquisa.

Foi utilizada também revisão bibliográfica, onde foram consultados livros didáticos,
revistas técnicas e alguns sites da internet sobre alguns tipos de fundações.

Esses fatores foram de grande valia para se desenvolver a parte teórica do tema. Foi
coletado o projeto de locação dos pontos de sondagens, dos postos de inspeção e os
perfis do subsolo do estudo de caso em análise.

A investigação geológico-geotécnica foi fundamental para a definição do tipo de fundação


a ser utilizada.

Com as informações iniciais coletadas, partiu-se para o estudo de caso. Foram realizadas
várias entrevistas com a equipe técnica da obra e com o consultor de concreto, sendo
possível retratar com o máximo de detalhes as etapas de execução da sapata.

Foi realizado um estudo teórico sobre o comportamento do concreto quando aplicado em


grande volume. Internamente, o concreto atinge altas temperaturas, exigindo um controle
antes, durante e após a concretagem.

A usina de concreto forneceu as propriedades e características dos materiais. Foram


auferidas as temperaturas do cimento dentro do silo e dos agregados em ambiente
natural. Todos os resultados obtidos em campo foram comparados com os teóricos, para
validar as hipóteses de projeto.
16

4 JUSTIFICATIVA

Esta pesquisa técnica aborda a importância da investigação do solo, onde se pretende


construir uma edificação. A surpresa durante a execução quase sempre é negativa para o
andamento da obra, pois, muitas vezes, prejudica o prazo e aumenta os custos.

Destaca-se também, a seriedade em acompanhar o projeto nos mínimos detalhes e a


responsabilidade em se seguir as normas.

Alguns profissionais (consultores) se especializam em determinados assuntos, trazem


técnicas para se obter um melhor resultado em qualidade e custo.

A região de Alphaville tem um histórico que indica que o subsolo geralmente tem muitas
rochas. Partindo deste princípio, foi feita uma investigação geotécnica criteriosa.

Esta pesquisa trata especificamente da execução de sapata de grande dimensão. Para


esse tipo de fundação, as técnicas de concretagem são diferenciadas, ou seja, são
fundamentais para se alcançar o resultado esperado de resistência e qualidade.

É explicado que o cimento em contato com a água sofre reação química, ou seja, libera
calor de hidratação no interior da massa de concreto e a liberação desse calor para o
meio externo é influenciada pelas condições ambientais. Por se tratar de peças de
concreto com grandes volumes, exige-se um controle especial da temperatura, pois o
coeficiente de dilatação térmica sofre grandes variações.

Foram feitas várias simulações para cálculo da temperatura máxima de lançamento do


concreto. A partir dessas simulações, chegou-se à faixa de temperatura ideal, que tem o
intuito de inibir o risco da eventual fissuração de origem térmica.
17

5 INVESTIGAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA

A construção de obras civis, bem como os estudos do meio ambiente que não envolvem,
necessariamente, construções de obras, devem ser precedidos de estudos visando a
caracterização geológico-geotécnica da área de interesse.

É muito importante que desde o início das atividades da obra, já estejam bem definidas as
principais características geológicas da área, de maneira a orientar o projeto segundo as
aptidões naturais do local, propiciando a elaboração de um empreendimento harmônico
com a natureza do terreno, econômico e seguro.

Este capítulo trata em resumo da investigação geológico-geotécnica pelo método direto,


sendo que os métodos indiretos (Refração Sísmica, Técnica da Resistividade e do
Caminhamento Elétrico, Técnica do Radar ou Georadar, Técnica Cross-Hole, etc.), não
serão tratados neste trabalho. Com as sondagens mecânicas, é possível definir com
precisão, as características dos materiais ao longo da linha de perfuração: descrevem-se
testemunhos, variações litológicas e estruturas geológicas (SOUZA et al., 1998).

5.1 Poço ou trincheira de inspeção

Segundo Souza (1998) os poços de inspeção são escavações verticais que permitem o
acesso ao interior do terreno para exame direto in situ do material. Eles podem ser feitos
tanto em solo como em rocha, permitindo o exame detalhado dos horizontes perfurados, a
retirada de amostras indeformadas (solos), a coleta de amostras volumosas de cascalho,
etc.

De acordo com o referido autor, o procedimento para a coleta de amostras indeformadas


de solo em poços ou trincheiras para ensaios de laboratório consiste em talhar,
cuidadosamente, um cubo de, em geral, 30cm de aresta no fundo ou parede da
escavação e protegê-lo com camadas de parafina fundida e talagarça, entremeadas de
maneira a manter a umidade natural do solo. As amostras devem conter indicações de
18

sua posição espacial para possibilitar a execução de ensaios orientados de acordo com o
carregamento previsto para o corpo de solo ou conforme seus planos de resistência.

Os poços de inspeção em rocha são feitos com furos de martelete e explosivos ou com
sonda rotativa de grande diâmetro. O diâmetro destes poços varia de 1 a 3m em média.
Tais poços permitem o exame direto de feições geológicas ou geotécnicas importantes do
maciço rochoso e, muitas vezes, são aproveitados para a realização de ensaios de
permeabilidade, de mecânica das rochas e outros (OLIVEIRA e BRITO, 1998).

5.2 Sondagem a varejão

A sondagem a varejão é feita com uma haste lisa de ferro, cravada manualmente, ou por
golpes de marreta, em sedimentos inconsolidados submersos. É usada para o
reconhecimento de aluviões, superfícies rochosas no leito de um rio e para avaliar
depósitos de areia e cascalho para uso na construção civil.

A haste geralmente penetra até 2m no aluvião arenoso inconsolidado e o material


atravessado pode ser identificado pela reação sonora e vibratória do processo. Em argila,
a penetração é macia, em areia é áspera e em depósitos de areia com cascalho
observam-se bloqueios esparsos na cravação da haste. Bancos consolidados de cascalho
não são penetrados pelo varejão. Em superfície rochosa, o impacto é duro e resvala
(SOUZA et al., 1998).

5.3 Sondagem a trado

Segundo Souza (1998), a sondagem a trado é uma perfuração manual de pequeno


diâmetro, feita com um trado para investigação de solo de baixa a média resistência. O
trado geralmente é constituído por uma concha metálica dupla ou uma espiral que perfura
o solo enquanto guarda em seu interior o material perfurado (Figura 5.1). O equipamento
é acionado por hastes de aço rosqueáveis e composto, em seu topo, por uma cruzeta
para aplicação de torque.
19

O diâmetro usual do trado é de 3” (aproximadamente 7,6cm); entretanto, nos trechos


iniciais das sondagens rotativas, emprega-se o diâmetro de 4” (aproximadamente
10,2cm).

A coleta de amostras é feita a cada metro de avanço ou quando ocorre mudança do tipo
de material perfurado, para que seja identificada uma possível mudança de horizontes
pedológicos ou de camadas geológicas. É muito importante coletar a última amostra
retirada do furo e anotar o motivo da paralisação da perfuração.

A sondagem a trado geralmente penetra somente os horizontes de solo de baixa a média


resistência e acima do nível d’água. Todavia, camadas argilosas plásticas situadas abaixo
do nível d’água podem ser amostradas com trado tipo espiral. Camadas de seixos ou
blocos de rocha impedem o avanço deste tipo de sondagem (SOUZA et al., 1998).

Figura 5.1 - Tipos de trado utilizados


Fonte: SOUZA et al. (1998)
20

5.4 Sondagem a percussão

A sondagem a percussão ou sondagem de simples reconhecimento é o processo de


investigação mais comum empregado na caracterização da cobertura terrosa dos terrenos
naturais (SOUZA et al., 1998). Esse processo é muito usado no Brasil, onde as condições
de intemperismo formam espessa e contínua cobertura de solo. Na cidade de São Paulo,
onde ocorrem sedimentos terciários inconsolidados, emprega-se este tipo de sondagem
para caracterização dos maciços das fundações de edifícios.

O equipamento utilizado é simples e consta basicamente de um tripé, uma bomba de


água, um tanque de água de 200 l e ferramentas de corte do solo.

O diâmetro normal da perfuração é de 2,5” (aproximadamente 6,3cm) e, em geral, a sua


profundidade varia de 10 a 20m. A sondagem a percussão é limitada pela ocorrência de
material duro, como, por exemplo, a camada rija de transição solo-rocha, matacões,
seixos ou cascalhos de diâmetro grande.

De acordo com o referido autor o avanço no horizonte de solo, acima do nível de água, é
feito, em geral, com trado espiral. Ao atingir o nível de água ou material resistente ao
trado, a sondagem continua com o uso de trépano e circulação de água, processo
denominado lavagem. O trépano é uma ferramenta da largura do furo e com terminação
em bisel cortante. Ele é usado para desagregar o material do fundo do furo. Sua operação
se faz por repetidas quedas do conjunto trépano/ hasteamento contra o fundo do furo, de
uma altura de 30cm, seguidas por um pequeno movimento de rotação, acionado
manualmente desde a superfície com uma cruzeta acoplada ao topo do hasteamento.
Pelas hastes é injetada água sob pressão, que circula pelo furo arrastando os detritos de
perfuração até a superfície. Para evitar o desmoronamento das paredes nas zonas de
pequena coesão do solo é instalado um revestimento metálico de proteção.
21

5.5 Ensaio SPT – Standard Penetration Test

Segundo Souza (1998) a cada metro da perfuração da sondagem de simples


reconhecimento é feito um ensaio de cravação de um barrilete, tubo oco de 45cm, no
fundo do furo, para medida de resistência do solo e coleta de amostra pouco deformada
(Figura 5.2). Todo o procedimento está detalhado na NBR 6484 (2001).

Figura 5.2 - Ensaio SPT


Fonte: SOUZA et al. (1998)

Para cravar o barrilete é usado o impacto de uma massa metálica de 65kg caindo em
queda livre de 75cm de altura sobre um ressalto da parte superior do hasteamento a ele
conectado.

O resultado do teste SPT corresponde à quantidade de golpes necessária para fazer


penetrar, no fundo do furo, o barrilete amostrador nos seus últimos 30cm. São feitas
anotações da penetração do barrilete em centímetros, quando a massa é simplesmente
apoiada ou golpeada sobre o ressalto. A medida correspondente à penetração obtida por
simples apoio, ou zero golpe, pode ser expressiva em solos moles. Na penetração, por
22

batida da massa, é contado o número de golpes aplicados, para cada terça parte
aproximada dos 45cm do barrilete amostrador (SOUZA et al., 1998).

A cada teste, deve ser feita a penetração total dos 45cm do barrilete ou até que a
penetração seja inferior a 5cm para cada 10 golpes sucessivos. É importante observar o
motivo da paralisação da sondagem, pela presença de matacão, cascalho ou a própria
resistência do material.

Na bibliografia já referida, a cada ensaio de SPT, prossegue-se a sondagem, empregando


o trado até a profundidade do novo ensaio. O ensaio SPT vem sendo aprimorado através
da medida da torção necessária para girar o barrilete cravado no fundo do furo e, a partir
desse dado, definir melhor os parâmetros de resistência do material investigado. Esse tipo
de ensaio é chamado de ensaio SPT-T.

5.6 Sondagem rotativa

A sondagem rotativa é um tipo de investigação feita com um tubo, denominado barrilete,


dotado de uma peça cortante feita com material de alta dureza (coroa) em sua ponta, que
perfura o terreno por meio de um movimento de rotação (SOUZA et al., 1998). O barrilete
geralmente tem uma camisa livre em seu interior para preservar o testemunho do terreno,
que constitui a parte central da área anelar cortada pela coroa. Para rochas brandas,
utiliza-se coroa com pastilhas de vídia. Para rochas de média e alta dureza emprega-se
coroa com diamante industrial, na forma de pequenos grãos incrustados ou grânulos
disseminados numa matriz, formada pela mistura de vários metais submetidos à
sinterização (Figura 5.3).

Figura 5.3 - Tipos de coroas


Fonte: CHIOSSI (1983)
23

De acordo com o referido autor existem barriletes e coroas de várias dimensões para
permitir a execução das perfurações em série telescópica. Com isso é possível manter
protegida, com revestimento, parte da parede do furo, constituído por material que pode
desmoronar, enquanto a perfuração prossegue com um diâmetro menor.

A série de diâmetros padronizados são denominados com as letras EW, AW, BW, NW,
HW, etc. A primeira letra corresponde ao diâmetro do furo e a segunda (W) indica rosca
padronizada da composição de perfuração (Tabela 5.1). Nas investigações de Geologia
de Engenharia, os diâmetros mais utilizados são NW e HW (SOUZA et al., 1998).

Tabela 5.1 - Diâmetros mais comuns de furos e testemunhos


DENOMINAÇÃO DIÂMETRO DO DIÂMETRO DO
FURO (mm) TESTEMUNHO (mm)
EW 37,71 21,46
AW 48,00 30,10
BW 59,94 42,04
NW 75,69 54,73
HW 99,23 76,20
Fonte: SOUZA et al. (1998)

O equipamento básico para a sondagem rotativa consta de uma sonda motorizada,


bomba de água, hastes, barriletes e coroas, conforme mostrado na Figura 5.4.
24

Figura 5.4 - Esquema de uma sonda rotativa


Fonte: CHIOSSI (1983)
25

As sondas geralmente imprimem o avanço da perfuração, pressionando o hasteamento


rotatório com macacos hidráulicos (SOUZA et al., 1998).

A operação de sondagem rotativa faz-se por ciclos sucessivos de corte e retirada dos
testemunhos do interior do barrilete, procedimento este denominado de manobra. O
avanço em cada manobra depende basicamente da qualidade do material que está sendo
perfurado. Quando a rocha é de boa qualidade, o comprimento de testemunho obtido em
cada manobra pode ser quase igual ao comprimento do barrilete (3 a 5cm). Entretanto,
quando ocorre perda ou destruição de material, em terrenos de difícil amostragem, o
comprimento de cada manobra deve ser diminuído até o mínimo necessário.

Para que o maciço rochoso seja bem representado pelo testemunho, recomenda-se que
em cada manobra o comprimento da amostra não seja inferior a 95% do avanço.

Na bibliografia já referida, intervalos localizados com baixa recuperação, dentro de um


conjunto de boas amostras, podem ter origem em uma porção excepcionalmente ruim do
maciço ou em algum problema no funcionamento do barrilete. Os trechos com baixa
recuperação devido à deficiência de operação do equipamento devem ser indicados na
caixa de testemunhos e no boletim de sondagem. Nas perfurações em rochas calcárias e
efusivas basálticas ocorrem, por vezes, cavidades com água ou lama, onde o avanço da
sonda se faz sem qualquer resistência e também devem ser indicadas. Enfim, todos os
fatos ocorridos durante a execução de uma sondagem devem ser criteriosamente
registrados para que os resultados da investigação possam ser corretamente
interpretados.

Os testemunhos obtidos nas sondagens devem ser guardados em caixas de madeira ou


de plástico com tampa. Eles devem ser dispostos na seqüência exata de sua posição no
furo, da esquerda para a direita e de cima para baixo, tal como a escrita de um texto.

Quando, no local de sondagem rotativa, existe uma cobertura de material terroso, acima
do maciço rochoso, o procedimento rotativo tem início a partir da profundidade em que a
26

resistência do material atinge 50 golpes para 30cm no ensaio SPT. Neste caso, a
sondagem também é denominada sondagem mista e a sigla utilizada é SM.

Após o término da sondagem, alguns projetos exigem a realização de ensaios especiais,


tais como permeabilidade com a sonda hidráulica multiteste – SHM, obtenção das
direções das estruturas geológicas por meio de obturadores de impressão, ensaios
geotécnicos de crosshole e tomografia, etc (SOUZA et al., 1998).

Os furos das sondagens rotativas, a menos de quando não aproveitados como


piezômetros, devem ser totalmente preenchidos com calda de areia e cimento após sua
conclusão, pois, deixados abertos, podem promover a interligação de aqüíferos
confinados, alterando as condições hidrogeotécnicas locais.
27

6 FUNDAÇÕES

A escolha correta de uma solução de fundação deve passar necessariamente por uma
criteriosa análise técnica e econômica de várias alternativas, devendo ser ponderadas
variáveis tais como as condições das edificações vizinhas à obra, geotecnia local,
viabilidade executiva e existência de mão-de-obra especializada para execução da
solução definida (JOPPERT JUNIOR, 2007).

As condições básicas a serem observadas no projeto e execução de fundações podem


ser consultadas na NBR 6122 (1996)

6.1 Fundações Rasas – Sapatas e Blocos

Apoiados a pequenas profundidades em relação ao nível do solo, certos tipos de


fundação requerem pouca escavação e consumo moderado de concreto para execução
das peças. Apesar disso – a suposta simplicidade dos blocos e sapatas – é preciso
cuidado ao projetar e executar esses elementos que são à base da estrutura
(TÉCHNE, 2004).

Como usam camadas superficiais do subsolo para transferir as cargas da construção, as


fundações rasas estão mais suscetíveis a mudanças na composição do solo do que as
profundas. Além disso, as sondagens não varrem todo o terreno, podendo ocorrer
alterações não detectadas.

Por isso, no caso de sapatas, a liberação da concretagem de cada elemento deve ser
feita pelo projetista/ consultor das fundações.

Ainda na fase de projeto, o contato entre projetista de fundações e estruturas deve ser
constante. Afinal, não dá para dissociar os funcionamentos da infra e da superestrutura.
Contando com a possibilidade de nem todas as sapatas terem a mesma profundidade, os
cuidados não devem se limitar ao projeto, mas também à execução. É importante garantir
28

que a umidade do solo não atacará a armadura da sapata. Para isso, é feito um lastro de
5cm de concreto magro sob a sapata (TÉCHNE, 2004).

Outro cuidado é manter o fundo da vala limpo, sem lama ou materiais soltos. Dependendo
das dimensões da sapata e da especificação do concreto, pode ser necessário colocar
gelo na mistura, evitando elevação de temperatura em excesso durante a hidratação e a
conseqüente fissuração da peça. É objeto do estudo de caso desta pesquisa o controle e
os cuidados ao se executar sapatas de grandes dimensões.

Os principais tipos de sapatas são:

• Sapatas isoladas;
• Sapatas associadas;
• Sapatas alavancadas;
• Sapatas corridas.

6.1.1 Sapatas Isoladas

Elas recebem as cargas de apenas um pilar (Figura 6.1). É a solução preferencial por ser,
em geral, mais econômica porque consome menos concreto. As sapatas podem ter vários
formatos, mas o mais comum é o cônico retangular, pois consome menos concreto e
exige trabalho mais simples com a fôrma. No caso de pilares de formato não-retangular, a
sapata deve ter seu centro de gravidade coincidindo com o centro de cargas
(TÉCHNE, 2004).

Figura 6.1 - Esquema de Sapata Isolada


Fonte: TÉCHNE (2004)
29

6.1.2 Sapatas Associadas

Utilizadas quando há pilares muito próximos e as sapatas isoladas se sobreporiam


(Figura 6.2). Além disso, podem ser necessárias quando as cargas estruturais forem
grandes. Como nas sapatas isoladas, o posicionamento da peça de fundação deve
respeitar o centro de cargas dos pilares (TÉCHNE, 2004).

Figura 6.2 - Esquema de Sapata Associada


Fonte: TÉCHNE (2004)

6.1.3 Sapatas Alavancadas

Caso o projeto preveja uma sapata em divisa de terreno ou com algum obstáculo, a peça
não consegue ter o centro de gravidade das sapatas e o centro de carga dos pilares
coincidentes. Para compensar a excentricidade das cargas, é necessário transferir parte
dos esforços para uma sapata próxima por meio de uma viga alavancada (Figura 6.3)
(TÉCHNE, 2004).

Figura 6.3 - Esquema de Sapata Alavancada


Fonte: TÉCHNE (2004)
30

6.1.4 Sapatas Corridas

Recebem as cargas direto das paredes. A transferência de carga é feita linearmente. As


sapatas corridas são sucedâneas dos alicerces, para paredes mais carregadas ou solos
menos resistentes (Figura 6.4).

Figura 6.4 - Esquema de Sapata Corrida


Fonte: TÉCHNE (2004)

6.2 Fundações Profundas

As fundações profundas, no caso as estacas ou tubulões, são elementos estruturais


esbeltos que, colocados no solo por cravação ou perfuração, têm a finalidade de transmitir
cargas ao mesmo, seja pela resistência sob sua extremidade inferior (resistência de
ponta), seja pela resistência ao longo do fuste (atrito lateral) ou pela combinação dos dois
(ALONSO, 1983).

6.2.1 Estacas Pré-Fabricadas

Produzidas fora da obra, mas sempre partindo de requisitos estabelecidos no projeto


estrutural, as estacas pré-moldadas chegam praticamente prontas ao canteiro para serem
cravadas, principalmente, por bate-estacas (TÉCHNE, 2004).

A flexibilidade de uso, permitindo que suportem cargas de grandes e pequenas estruturas


e sirvam também para reforço de fundações, é garantida pelas diferentes geometrias e
31

materiais que as compõem. Entre as opções, as estacas constituídas por perfis e chapas
de aço laminado ou soldado podem apresentar bom desempenho, seja em seções
quadradas, retangulares ou circulares (tubos). O bom comportamento à compressão e à
tração é a principal característica desse tipo de elemento de fundação, o que faz com que
seja bastante empregado em instalações portuárias (TÉCHNE, 2004).

De todos os materiais de construção, o concreto é um dos que melhor se prestam à


confecção de estacas, em especial das pré-moldadas, principalmente em virtude do
controle da qualidade que se pode exercer durante a confecção e cravação das estacas.
Indicadas para transpor camadas extensas de solo mole e em terrenos onde o plano de
fundação apresenta uma profundidade homogênea, as estacas pré-moldadas de concreto
não possuem restrições quanto ao seu uso abaixo do lençol freático. Podem ser
confeccionadas em concreto armado ou protendido, nesse caso, por material adensado
por vibração ou por centrifugação (vazadas). O que muda basicamente são os formatos e
a resistência. As seções transversais mais empregadas são as circulares (maciças ou
vazadas), as quadradas, as hexagonais e as octogonais.

As dimensões mais comuns podem variar de 15 a 70cm, podendo-se encontrar diâmetros


maiores, geralmente feitos no canteiro da obra. No entanto, pela necessidade de serem
transportadas da fábrica ao canteiro, o comprimento máximo das estacas de concreto
limita-se a 12m. A alternativa quando extensões maiores são necessárias é emendar as
peças. Para isso, a NBR 6122 recomenda a soldagem, só tolerando as antigas emendas
por anéis metálicos ou por luvas de encaixe tipo macho e fêmea quando não existem
esforços de tração (TÉCHNE, 2004).

Um dos pontos nevrálgicos quando se trata de estaca pré-moldada, sobretudo de


concreto, é a cravação. O processo mais utilizado ainda é o de percussão, que emprega
pilões de queda livre e que apresenta como principal desvantagem alto nível de vibração,
podendo danificar edificações vizinhas. Nesse método, uma massa erguida por um
guindaste em um cabo de aço aplica uma série de golpes de martelo até que a estaca
penetre no terreno. É a relação de massa e a altura de queda do martelo especificada
pelo projetista que fornecem a energia necessária para a cravação.
32

Para cravação em argilas médias e duras, um dos procedimentos recorrentes é a


utilização de uma ponta metálica, que é mais dúctil, associada a um fuste de concreto no
trecho do solo de menor resistência. Outro recurso quando a camada mais resistente está
próxima à superfície, é empregar um equipamento de perfuração para ultrapassar esse
primeiro trecho e, a partir deste ponto, iniciar a cravação da estaca pré-moldada
(TÉCHNE, 2004).

6.2.2 Estacas Hélice Contínua

Estaca executada por meio de trado contínuo e injeção de concreto pela haste central,
operação que ocorre durante a retirada do trado espiral do furo. O concreto normalmente
utilizado apresenta resistência característica de 20 MPa, é bombeável (composto de areia
e pedrisco, com consumo de cimento de 350 a 450 kg/m³), sendo facultativa a utilização
de aditivos. O abatimento do tronco de cone (slump) é mantido entre 200 e 240mm.
A perfuração consiste em fazer a hélice penetrar no terreno por meio de torque
apropriado. A haste de perfuração é composta por uma hélice espiral solidarizada a um
tubo central. Alcançada a profundidade, o concreto é bombeado por esse tubo,
preenchendo a cavidade deixada pela hélice, que é extraída lentamente (TÉCHNE, 2004).
Esta solução exige a colocação da armação após a concretagem (Figura 6.5). Para
controlar a pressão de bombeamento do concreto, o sistema possui instrumento medidor
digital que informa todos os dados de execução da estaca.

Figura 6.5 - Seqüência executiva da estaca hélice contínua


Fonte: FUNDESP (2001)
33

Pode ser indicada para obras que demandam rapidez, ausência de barulho e de
vibrações prejudiciais a prédios da vizinhança. Pode ser executada em terrenos coesivos
e arenosos, na presença ou não do lençol freático e atravessa camadas de solos
resistentes.

Também oferece uma solução técnica e economicamente interessante em obras onde há


um grande número de estacas sem variações de diâmetros, pela produtividade alcançada
(TÉCHNE, 2004).

6.2.3 Estacas Strauss

Fundação em concreto simples ou armado, executada com revestimento metálico


recuperável. Abrange a faixa de carga entre 200 e 400KN, com diâmetro variando entre
25 e 40cm (TÉCHNE, 2004).

O método executivo inicia-se pela abertura de um furo no terreno com um soquete para
colocação do primeiro tubo (coroa). Aprofunda-se o furo com golpes de sonda de
percussão. Conforme a descida do tubo, rosqueia-se o tubo seguinte até a escavação
atingir a profundidade determinada. O concreto é, então, lançado no tubo e apiloa-se o
material com o soquete formando uma base alargada na ponta da estaca.

Para formar o fuste, o concreto é lançado na tubulação e apiloado, enquanto que as


camisas metálicas são retiradas com guincho manual. Após a concretagem, colocam-se
barras de aço de espera para ligação com blocos e baldrames na extremidade superior da
estaca.

Esse tipo de estaca pode ser utilizado em locais confinados, terrenos acidentados e
interiores de construções existentes, com o pé-direito reduzido. Podem ser utilizadas
também em locais com restrições a vibrações (TÉCHNE, 2004).
34

6.2.4 Estacas Franki

As estacas tipo Franki são moldadas “in loco” por meio da cravação dinâmica de um tubo
munido de bucha composta de areia e pedra, implantada na sua ponta inferior. A
cravação da estaca dá-se pela queda livre de um pilão com peso entre 1000 e 4600 kg
(função da bitola da estaca) sobre a bucha, fazendo com que a composição tubo + bucha
vá penetrando no solo até que seja atingido solo com boa capacidade de suporte, sendo
que a verificação deste fato se dá pela aferição das negas e energias de cravação
(JOPPERT JUNIOR, 2007).

As estacas tipo Franki são executadas de tal sorte a se obterem bitolas finais do fuste de
300mm, 350mm, 400mm, 450mm, 520mm 600mm e 700mm.

Uma vez cravado o tubo e atingida a nega e energia mínima especificada, inicia-se a
execução da base da estaca que consta da expulsão da bucha e injeção de concreto
abaixo da ponta do tubo de revestimento. A injeção se dá pela concretagem paulatina
com o apiloamento do fundo, objetivando a formação de uma base esférica com
dimensões maiores do que o fuste da estaca.

Após a execução da base, implanta-se a armação da estaca e inicia-se a concretagem


com o apiloamento constante do concreto e a retirada concomitante do tubo de
revestimento, sempre com a certeza de existir um mínimo de concreto na parte interna do
tubo (JOPPERT JUNIOR, 2007).

O procedimento executivo das estacas tipo Franki promove uma alta capacidade de carga
na estaca, bem como a possibilidade de um bom controle de qualidade do
estaqueamento. Todavia, o procedimento executivo também é responsável por vibrações
excessivas e produtividade baixa, em média 50m de estaca por dia. A seqüência
executiva é ilustrada na Figura 6.6.
35

Figura 6.6 - Seqüência de execução da estaca tipo Franki


Fonte: JOPPERT JUNIOR (2007)

Onde:
1ª etapa: execução da bucha
2ª etapa: cravação do conjunto tubo + bucha
3ª etapa: expulsão da bucha e execução da base
4ª etapa: colocação da armação
5ª etapa: concretagem da estaca
6ª etapa: estaca concluída
36

6.2.5 Estacas Raiz

As estacas raiz são estacas moldadas “in loco”, executadas através de perfuratrizes
rotativas e/ou percussivas, preferencialmente utilizando revestimento ao longo de todo o
furo, de modo a garantir a integridade de seu fuste. Após a sua perfuração a estaca é
armada e preenchida com argamassa fluida conforme seqüência executiva (Figura 6.7).

A estaca raiz é executada em três etapas distintas, que são a perfuração, a armação e a
concretagem com ar comprimido.

Na etapa de perfuração introduz-se no solo, por meio de rotação imposta por uma
perfuratriz, uma tubulação munida na ponta de uma coroa mais larga que o diâmetro
externo do tubo, formando a composição de revestimento (JOPPERT JUNIOR, 2007).

O material desagregado pela rotação do tubo é expelido pela circulação de água injetada
com pressão na parte interna da tubulação (do topo para a ponta) e que retorna pelo
espaço existente entre a parede externa do tubo e a parede da escavação. A tubulação é
instalada em segmentos rosqueáveis e reveste totalmente a estaca, sendo sacada após o
seu preenchimento com argamassa e instalação da armação.

A instalação do tubo de revestimento pode ser parcial, sendo que neste caso a perfuração
abaixo do tubo pode ocorrer com a utilização de tricone com auxílio de circulação de água
com elementos estabilizantes das paredes das perfurações.

Quando existe a necessidade de se ultrapassar interferências tais como alvenaria,


entulho, matacão, rocha, etc., utilizam-se ferramentas especiais, como coroa com
pastilhas de vídea, martelo de fundo de rotopercussão, etc (JOPPERT JUNIOR, 2007).

O processo de perfuração, não provocando vibrações, nem qualquer tipo de


descompressão do terreno em conjunto com o reduzido tamanho do equipamento,
torna-se esse tipo de estaca particularmente indicados em casos especiais como: reforço
de fundações, fundações de obras com vizinhanças sensíveis a vibrações ou poluição
37

sonora, ou em terrenos com presença de matacões e para obras de contenções de


talude.

Figura 6.7 - Seqüência executiva da estaca raiz


Fonte: FUNDESP (2001)

6.2.6 Tubulão a Céu Aberto

Segundo Junior (2007), os tubulões a céu aberto são executados com a abertura (manual
ou mecânica) de um poço até que seja atingido um solo de boa qualidade. Após a
abertura do poço executa-se o alargamento de uma base objetivando-se a distribuição
das cargas de maneira uniforme no terreno de apoio (Figura 6.8).

Figura 6.8 - Detalhe típico de tubulão


Fonte: JOPPERT JUNIOR (2007)
38

Apesar de necessitar de mão-de-obra especializada, composta por poceiros ou perfuratriz


rotativa, o tubulão é uma solução atrativa no que se refere ao aspecto econômico, pois,
além da mão-de-obra de escavação ser barata, ele é preenchido por concreto simples
(sem armação e sem formas) com baixo consumo de cimento.

Tecnicamente, a adoção de tubulões é uma excelente opção de fundações, pois ela


possibilita a verificação “in loco” do solo de apoio e das dimensões finais da escavação do
fuste e da base. Deve-se levar em consideração a viabilidade executiva deste tipo de
fundação já que problemas relacionados a instabilizações, excesso de água, gases e
matacões de grande porte podem inviabilizar a sua execução (JOPPERT JUNIOR, 2007).

6.2.7 Tubulão a Ar Comprimido

Pretendendo-se executar tubulões em solo onde haja água e não seja possível esgotá-la
devido ao perigo de desmoronamento das paredes, utilizam-se tubulões pneumáticos com
camisa de concreto ou de aço.

No caso da camisa ser de concreto (Figura 6.9), todo o processo de cravação da camisa,
abertura e concretagem de base são feito sob ar comprimido visto ser esse serviço feito
manualmente, com auxilio de operários. Se a camisa é de aço, a cravação da mesma é
feita com auxílio de equipamentos, sendo só os serviços de abertura e concretagem de
base é que são feitos sob ar comprimido, analogamente ao tubulão de camisa de
concreto (ALONSO, 1983).
39

Figura 6.9 - Tubulão com camisa de concreto


Fonte: ALONSO (1983)

A pressão máxima de ar comprimido empregada é de 3atm (0,3MPa), razão pela qual os


tubulões pneumáticos tem sua profundidade limitada a 30m abaixo do nível da água.

No tubulão a ar comprimido despreza-se a força de atrito entre o fuste e o solo, sendo a


carga do pilar transmitida ao solo integralmente pela base.

Se o tubulão for de camisa de concreto, o dimensionamento do fuste será feito de


maneira análoga ao cálculo para um pilar, dispensando-se a verificação de flambagem
quando o tubulão for totalmente enterrado. Se o tubulão for de camisa de aço, e a mesma
40

permanecer totalmente enterrada, poder-se-á considerar a seção transversal desta


camisa como armadura longitudinal, descontando-se da mesma 1,50mm de espessura
para levar em conta eventual corrosão (ALONSO, 1983).

6.2.8 Controle Especial da Temperatura do Concreto

O concreto, através de seu coeficiente de dilatação térmica, sofre variações dimensionais


expansivas quando exposto a ação da temperatura decorrente de uma reação
exotérmica, ou seja, libera calor no interior da massa de concreto (NERY, 2009).

As questões de controle de temperatura do concreto durante a fabricação, transporte e


aplicação para sapata de grande dimensão, estão detalhados no capítulo 7, item 7.5
desta pesquisa
41

7 ESTUDO DE CASO

A região de Alphaville, Barueri é conhecida por ter, em seu subsolo, rochas e matacões
de variados tamanhos. A investigação geológico-geotécnica no local apontou um grande
matacão, que condicionou a escolha dos tipos de fundação do edifício comercial I-Tower.

Devido a esse matacão o projetista determinou para região da torre a fundação direta tipo
sapata, que é objeto de estudo desta pesquisa, e por ser de grande dimensão teve um
grande controle executivo a fim de evitar as fissuras de retração.

7.1 Descrição do projeto e localização

O estudo de caso aborda a execução de fundação tipo sapata de grande dimensão no


empreendimento comercial I-Tower, localizado na Rua Rio Negro nº 200 esquina com a
Alameda Xingu em Alphaville, SP.

A área do terreno é de 31.782m2 e o empreendimento tem uma área construída de


77.198m2. Esse edifício comercial tem quatro subsolos e está situado na região de
Alphaville, onde os empreendimentos são dimensionados para clientes de padrão
econômico elevado. A localização é privilegiada, pois está ligado ao Shopping Iguatemi e
junto à Rodovia Castelo Branco, fatores que agregam valor ainda maior a esse
empreendimento.

7.2 Investigação geológico-geotécnica realizada

Neste item são tratados os trabalhos prévios realizados para escolha do tipo de fundação
do edifício comercial I-Tower.

Conforme já mencionado nesta pesquisa, no item 5.1, existem vários métodos para se
realizar investigação geológico-geotécnica. Nesta obra foram realizadas sondagens a
percussão ou sondagem de simples reconhecimento e, num segundo momento
sondagem rotativa. Esses dois métodos estão detalhados nos itens 5.1.4 e 5.1.6 desta
42

pesquisa. No total foram realizadas 27 sondagens a percussão e 8 sondagens rotativas,


conforme planta de locação das sondagens (Figura 7.1).

Figura 7.1 - Locação das Sondagens


Fonte: Odebrecht (2007)
43

Essas investigações foram de grande importância, pois, revelaram o perfil do terreno: silte
arenoso pouco argiloso, presença de matacões e nível d’água na cota 95,50m, o que
corresponde a 18m abaixo da superfície do terreno. Porém na execução da sapata este
nível d’água não se confirmou, aparecendo praticamente na cota 92,00m, ou seja, 21,50m
abaixo da superfície do terreno. Isso foi devido a um grande período de estiagem e
também das escavações que estavam sendo realizadas em um terreno vizinho.

Como as sondagens mostraram a presença de rocha numa grande extensão do terreno, o


consultor de fundações recomendou que fosse feito o mapeamento do matacão. Foi
utilizado para esse mapeamento o equipamento de execução de estaca escavada de
pequeno diâmetro, criando uma grande malha com 60 pontos distanciados de 16 em 16
metros, além de alguns outros pontos de sondagem rotativa avançando no mínimo 5m
dentro da rocha (Figura 7.2).
44

Figura 7.2 - Croqui sem Escala dos Eixos


Fonte: Odebrecht (2007)
45

O objetivo foi certificar-se do volume total de rocha a ser desmontada, e o estudo apontou
um volume de 28.019m3.

7.3 Definição do tipo de fundação

Após análise do solo local, nível d’água (com poço prova) que foi monitorado por um
período de 6 meses, edificações vizinhas, viários, demais variantes locais e com o
entendimento do matacão, foram sendo estudados os possíveis tipos de fundação que
poderiam ser adotadas.

A opção inicial sugerida pelo consultor de fundações para a região da rocha foi estaca
moldada “in loco” e, para as demais regiões, tubulão ar comprimido e estaca tipo Franki.

Após várias reuniões com os projetistas de arquitetura, fundação e estrutura, optou-se por
subir o nível do último subsolo. Essa decisão gerou uma economia considerável, pois, o
volume de rocha a ser desmontado ficou menor e conseguiu-se adequar a fundação tipo
sapata (item do estudo de caso desta pesquisa) para a região da rocha.

7.4 Método executivo

O consultor de solos adotou uma taxa de 1,0MPa para a resistência admissível do solo
resultando na dimensão dos blocos de 10,8m de largura, 14,4m de comprimento e 2,7m
de altura. O calculista executou o detalhamento de armação e o consultor de concreto
adequou o Fck da sapata ao esforço necessário, ou seja, Fck 25MPa aos 28 dias de
idade até a altura de 1,8m e com Fck 40MPa nos últimos 0,9m (de 1,8 a 2,7m). O volume
de concreto total a ser utilizado no bloco é de 419,9m3, sendo 279,93m3 de concreto com
Fck 25MPa e de 139,97m3 de concreto Fck 40MPa.

O uso de dois tipos de concreto na mesma sapata se deve ao fato de que no topo da
sapata as tensões são maiores e essas tensões vão se espraiando em ângulo de 45º, ou
seja, as tensões vão diminuindo.
46

As formas utilizadas foram de madeira, respeitando rigorosamente o projeto, tomando-se


cuidado com o escoramento para não ocorrer desprendimento do mesmo, o que causaria
perda de concreto.

As figuras 7.3, 7.4, 7.5 e 7.6 mostram o ciclo de execução do bloco.

Figura 7.3 - Montagem da Forma Figura 7.5 - Início da concretagem


Fonte: Odebrecht (2008) Fonte: Odebrecht (2008)

Figura 7.4 - Forma e armação do bloco Figura 7.6 - Bloco concretado


Fonte: Odebrecht (2008) Fonte: Odebrecht (2008)
47

O consultor de concreto orientou e fez várias recomendações para execução da


concretagem:

• Lançar o concreto em 6 subcamadas de 0,45m cada uma;


• Lançar a primeira subcamada de concreto no fundo com cuidado para assegurar
que penetre através da malha de fundo. Era conveniente, neste caso, ter
vibradoristas dentro do bloco e que haja forte iluminação no local;
• Uma vez lançada a primeira subcamada, que deveria superar a altura da
armadura de fundo, as demais camadas e operações de vibração poderiam ser
realizadas até a armadura superior;
• Não interromper o lançamento para não criar juntas de concretagem (juntas fria);
• Admite-se que o tempo de pega dentro do qual o concreto deveria apresentar-se
plástico o suficiente para permitir uma correta “costura” entre subcamadas com o
auxílio da agulha do vibrador, seria de 4,5h após a chegada do caminhão no
canteiro;
• Foram utilizadas duas bombas (mais uma de reserva) a uma média de 24m3 por
bomba por hora; as camadas devem ser horizontais e em toda a extensão sem
preocupações com juntas frias;

7.5 Controle da concretagem

A hidratação do cimento Portland é uma reação exotérmica, ou seja, libera calor no


interior da massa de concreto após sua pega. A liberação desse calor para o meio externo
é influenciada pelas características térmicas dos materiais empregados, pelas condições
ambientais e pelas dimensões da estrutura (NERY, 2009).

O concreto, através de seu coeficiente de dilatação térmica, sofre variações dimensionais


expansivas quando exposto a ação da temperatura decorrente dessa reação química de
hidratação. Como ainda não totalmente solidificado, absorve muito dessa expansão. Ao
resfriar-se novamente à temperatura ambiente vai sofrer uma retração e por conta das
restrições naturais, induz o aparecimento de tensões que podem superar as tensões
resistentes de tração do concreto, provocando a indesejada fissuração da estrutura.
48

As características climáticas são um dos principais aspectos para o cálculo de tensões


térmicas; é a temperatura média que servirá de base de cálculo para a variação de
temperatura que a estrutura sofrerá. A cidade de São Paulo apresenta temperatura média
de 21ºC (Tabela 7.1).

Tabela 7.1 - Temperaturas máxima, mínima e média, ambientais em São Paulo


Temperatura JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Máximas 27°C 28°C 27°C 25°C 23°C 22°C 22°C 23°C 23°C 25°C 26°C 26°C
Mínimas 19°C 19°C 19°C 17°C 15°C 13°C 13°C 13°C 14°C 16°C 17°C 18°C
Média 23°C 24°C 23°C 21°C 19°C 18°C 17°C 18°C 18°C 21°C 22°C 22°C

Fonte: NERY (2009)

O concreto empregado na produção desse bloco de fundação foi obtido através da


mistura enérgica e homogênea dos materiais disponíveis de forma a atender a uma
resistência especificada mínima característica de projeto, emitir baixo calor de hidratação,
apresentar boas condições de dissipação térmica e ter a trabalhabilidade adequada aos
meios de transporte, produtividade e adensamento desse concreto.

Os traços empregados foram desenvolvidos pela usina de concreto (Tabela 7.2).

Tabela 7.2 - Traço utilizado na produção do concreto dos blocos


Traço do Concreto Fck 25 MPa Fck 40 MPa
3
Consumo de cimento por m 280kg 397kg
Relação água/ cimento 0,62 0,46
3
Consumo de água por m 174,8 182,6
Traço (cimento:areia quartzosa:areia
1:1,33:1,63:0,56:3,39 1:0,97:0,79:0,41:2,33
rocha:brita 0:brita 1)
Abatimento 110 ± 20mm 110 ± 20mm
Teor de argamassa 51% 50%
Areia de quartzo 374kg 384kg
Areia artificial, pó de pedra 457kg 313kg
Brita 0, granítica 158kg 163kg
Brita 1, granítica 894kg 924kg
49

Aditivo polifuncional 1,680kg 3,176kg


Gelo (descontando a umidade da areia) 120kg 120kg
Fonte: NERY (2009)

7.5.1 Temperatura de Elevação Adiabática

A temperatura de elevação adiabática é o ganho de temperatura que o concreto


experimenta caso venha a acumular todo calor liberado pelas reações de hidratação do
cimento que o compõe e é fundamental para estimar a temperatura máxima que o
concreto chegará.

Segundo Nery (2009) a estimativa de temperatura adiabática, em concretos


convencionais, após 28 dias, em graus Celsius, pode ser dada por:

Ha = hg x Wc
cxy

onde:

Ha - temperatura adiabática do concreto em graus °C


Hg - em cal/g é o calor de hidratação aos 28 dias
Wc - massa de cimento em kg/m3
c - calor específico médio do concreto cal/g ºC
y - massa específica média do concreto em kg/m3

Porém o que realmente importa é a liberação de temperatura nas principais idades e por
isso aplicam-se estes valores a modelos de comportamento de concretos com
características semelhantes. As figuras 7.7 e 7.8 mostram os valores estimados de
elevação adiabática ao longo do tempo para os concretos de Fck 25MPa (Ha = 40,1°C) e
Fck 40MPa (Ha = 56,2°C) respectivamente.
50

Figura 7.7 - Gráfico de elevação adiabática do concreto Fck 25MPa


Fonte: NERY (2009)

Figura 7.8 - Gráfico de elevação adiabática do concreto de Fck 40MPa


Fonte: NERY (2009)

7.5.2 Limite de deformação para não fissuração do bloco

A capacidade de deformação do concreto pode ser definida como a deformação máxima


à tração que o concreto pode suportar, antes do aparecimento da fissura.
51

A fissuração de origem térmica em peças de concreto ocorre quando a sua capacidade de


deformação é ultrapassada em algum instante, ao longo do processo de resfriamento,
pelas deformações induzidas pelas restrições ao encurtamento da peça de concreto.

A capacidade de deformação do concreto é uma propriedade difícil de ser medida, em


função de que deve ser levado em consideração o efeito de fluência, em virtude de que as
tensões geradas pelo efeito da restrição não ocorrem rapidamente, mas em um processo
lento e gradual. Portanto, os ensaios que levem em consideração o efeito da fluência
devem ser de longa duração.

As deformações resistentes foram estimadas com as equações de resistência à tração e


módulo de elasticidade segundo a norma NBR 6118 (2003) considerando uma idade de
28 dias.

Para o Fck 25MPa:


fctm = 0,3 fck2/3 = 2,6MPa
Ea = 0,67 x Ec = 18,8GPa (efeito da fluência)
Para o Fck 40MPa:
fctm = 0,3 fck2/3 = 3,5MPa
Ea = 0,67 x Ec = 23,7GPa (efeito da fluência)

Para a não fissuração do bloco é necessário que as deformações máximas atuantes


(εatuante) sejam inferiores às resistentes (εresistente). Ou que as tensões térmicas máximas
atuantes sejam inferiores à resistência do concreto à tração.

Como os ensaios experimentais de tração e módulo de elasticidade para estes concretos


não foram realizados em tempo hábil, utilizou-se os valores estimados previstos pela
norma NBR 6118 (2003) indicados acima.

O coeficiente de dilatação linear adotado foi de 10-5, correspondente aos traços de


concreto mais próximos ao utilizado no presente trabalho, com agregado granítico.
52

7.5.3 Cálculo da temperatura máxima de lançamento

A temperatura máxima de lançamento foi calculada a partir da simulação de várias


temperaturas até chegar à temperatura que levava as tensões a um limite seguro no
bloco, sem risco de fissuras (coeficiente de segurança de 1,05). O resultado foi 17°C e a
figura 7.9 mostra o comportamento das tensões atuantes em relação às resistentes ao
longo do tempo para esta temperatura.

Figura 7.9 - Tensões atuantes e resistentes ao longo do tempo. Temperatura 17ºC


Fonte: NERY (2009)

7.5.4 Cálculo da temperatura ideal de lançamento

Cálculo realizado a partir de diversas simulações para chegar à temperatura de


lançamento que levaria a um resultado de tensões que correspondessem a um coeficiente
de segurança de 1,4, valor usual em estruturas de concreto.

A temperatura encontrada foi de 12°C, e a figura 7.10 mostra o comportamento das


tensões atuantes em relação às resistentes para esta temperatura de lançamento.
53

Figura 7.10 - Tensões atuantes e resistentes ao longo do tempo. Temperatura 12ºC


Fonte: NERY (2009)

7.5.5 Quantidade de gelo

Em visita a usina, a empresa de controle tecnológico contratada, verificou as


temperaturas dos agregados no pátio, que foram medidas com um termômetro de
superfície a laser (tabela 7.3). Na ocasião da visita o dia estava nublado e a temperatura
ambiente era de 20°C.

Tabela 7.3 - Temperatura dos agregados no pátio da usina


Material Cimento no silo Areia Brita 0 Brita 1
Temperatura (°C) 45 23 24 24
Fonte: NERY (2009)

Por praticidade relativo a colocação do gelo foi definido que seria substituída toda água de
amassamento, descontando-se a água que poderia vir na umidade dos agregados,
chegando-se ao resultado de 33 sacos de gelo de 25kg por caminhão de 7m³ e para essa
quantidade de gelo foram feitos os cálculos das temperaturas de lançamento, conforme
mostrado anteriormente.
54

A tabela 7.4 apresenta o balanço térmico do traço de concreto para abatimento de


100±20mm, em condições extremas de temperatura. Esse cálculo visa obter a
temperatura máxima provável, de chegada do concreto na obra, que deve ser, no
máximo, igual aos 17°C em média já anteriormente citado.

Tabela 7.4 - Cálculo térmico para a temperatura do traço efetivo de concreto


(m) (c) Calor
q=m.c Ti Tf Ti-Tf Q
Material Consumo específico 3
3 3
(kcal/m .ºC (ºC) (ºC) (ºC) (kcal/m3)
kg/m Kcal/m .c
Cimento 280 0,220 61,6 70 0 70 4.312,0
Agregado Miúdo 831 0,220 182,82 30 0 30 5.484,6
Brita 1052 0,220 231,44 30 0 30 6.943,2
Água (umidade) 52,44 1,000 52,44 30 0 30 1.573,2
Umidade Graúdo 0 1,000 0 30 0 30 0
Gelo 122,36 0,500 -61,18 -10 0 -10 -611,8
Fusão Gelo (latente) 122,36 80 - 0 0 0 -9.788,8
Água degelada 122,36 1,000 -122,36 0 17 -17 -2.080,12
Betoneira 215,09 1 215,09 10 19 9 1.935,8
Total 559,85 7.768,08
Temperatura 13,9 ºC
Transporte (ganho) 2,0 ºC
Temperatura lançamento 16 ºC
Fonte: NERY (2009)

Dessa maneira ficou estabelecido um limite máximo de aceitação do concreto fornecido


por um caminhão isolado como sendo de 18ºC, com a condição de que a temperatura
média permaneça abaixo dos 17ºC, principalmente na concretagem da parte central do
bloco, em outras palavras, jamais poderão ser aceitos dois caminhões consecutivos com
temperatura acima de 17ºC.

7.6 Comparação entre valor previsto x real

Na concretagem dos dois blocos, não foi possível colocar vibradoristas dentro do bloco
para o adensamento da primeira camada, conforme os procedimentos recomendados,
pois, além das escoras colocadas na parte externa da forma, foram usados tirantes
55

(aço CA 25) ligando um lado a outro da forma, impossibilitando a locomoção de uma


pessoa dentro do bloco. Porém a primeira camada teve atenção especial e,
aparentemente, não houve problema de adensamento.

Na concretagem do primeiro bloco, os caminhões só eram liberados na usina depois de


atingir os valores de temperatura e slump1 recomendados, e isso fez com que a
produtividade fosse comprometida, além de aumentar a temperatura média que os
caminhões chegavam à obra.

A temperatura média efetiva do concreto no balão dos caminhões, durante essa


concretagem foi de 15,5ºC. Os últimos 10m3 foram lançados sem gelo, com Fck = 40MPa,
porém foi tomado o cuidado no sentido de que fossem distribuídos o máximo possível na
camada final, minimizando o efeito dessa temperatura no bloco. A figura 7.11 mostra o
comportamento das tensões na camada 1,35m para uma temperatura média de
lançamento de 15,5ºC.

Figura 7.11 - Tensões atuantes e resistentes ao logo do tempo


Fonte: NERY (2009)

1
Slump correspondente a (100 ± 220mm)
56

Na concretagem do segundo bloco, não houve controle de temperatura ou slump na


central e os caminhões eram liberados logo após o carregamento, melhorando a
produtividade e fazendo com que os caminhões chegassem com as temperaturas
esperadas.

A temperatura efetiva média do concreto nos caminhões foi de 11ºC e a Figura 7.12
mostra o comportamento das tensões na camada 1,35m na mesma temperatura.

Observa-se que neste caso não há risco de fissuras de origem térmica.

Figura 7.12 - Tensões atuantes e resistentes ao longo do tempo


Fonte: NERY (2009)
57

8 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A investigação geológico-geotécnica foi muito importante, pois identificou um


matacão de grande volume no local da construção do edifício I-Tower. O projeto
inicial com quatro subsolos de garagem foi mudado ao se identificar o volume real da
rocha que conseqüentemente deveria ser desmontada. Dois motivos contribuíram
para a mudança de projeto: o vizinho não autorizou a ancoragem dos tirantes no seu
terreno e o valor do desmonte de rocha é altíssimo.

Os projetistas de fundação, estrutura e arquitetura se reuniram a fim de estudar uma


nova implantação para que, no futuro, as vagas para veículos perdidas não
impactassem na utilização do edifício comercial. A nova implantação remanejou as
vagas para outro nível e permitiu uma redução de desmonte de rocha da ordem de
10.000m3, sendo que 2.000m3 seriam com a técnica de fio diamantado.

Por todas essas mudanças houve uma redução significativa de custo e do prazo de
execução, passando de oito para cinco meses, alterando como um todo o
cronograma da obra.

Com os estudos geológicos-geotécnicos definidos e com a mudança da implantação,


o projetista de fundação definiu para a área da torre, sapatas de grande dimensão
apoiadas sobre a rocha. Esse tipo de fundação tem execução mais rápida e
econômica, contribuindo para o custo e prazo da obra.

Por serem de grande dimensão, o volume de concreto utilizado nas sapatas foi
significativo, gerando uma preocupação com as fissuras de retração causadas pelas
altas temperaturas internas do concreto.

A parceria desenvolvida entre o consultor de concreto, a empresa de ensaios


tecnológicos, o pessoal do controle de qualidade da obra e a usina de concreto
foram muito importantes para se alcançar os resultados.
58

Todas essas decisões só foram possíveis pela iniciativa em se executar uma boa
investigação geológico-geotécnica do local. Esta iniciativa partiu do gerente da obra
que, possuía apenas uma sondagem antiga da área, ao lado do terreno, onde foi
implantado o edifício comercial I-Tower. A fim de confirmar o que estava no subsolo
do seu terreno foi feita uma nova investigação do local, na qual apontou a presença
de um matacão. Num segundo momento, executou-se sondagem rotativa para se
identificar a profundidade dessa rocha e saber se existiam fraturas ou se tratava de
rocha sã. Num terceiro momento a preocupação era com o volume dessa rocha e
executou-se então uma sondagem mapeando o topo desse matacão com 60 furos
de 16 em 16m.

Pela implantação do projeto essa rocha se localizava sob a torre, local onde as
cargas são maiores e por isso o projetista determinou a fundação tipo sapata de
grande dimensão.

Deve-se destacar a importância da investigação geológico-geotécnica, pois, no caso


dessa obra foi fundamental para a determinação do tipo de fundação correta e
mudanças adequadas na implantação do projeto, visando o melhor aproveitamento
arquitetônico. Serviu também para se conhecer em profundidade o subsolo,
evitando-se assim surpresas durante a execução da infraestrutura da obra.
Toda a escavação e execução da fundação ocorreram dentro do prazo e com os
custos previstos.

Deve-se também destacar que a fundação direta tipo sapata pode ser adotada em
obras com pequenas e também com grandes solicitações de carga, como no
presente caso desde que o solo suporte as tensões de projeto.
59

9 CONCLUSÕES

A investigação geológico-geotécnica é extremamente necessária para poder


identificar as interferências existentes e o tipo de solo no local de implantação de um
empreendimento, como o edifício comercial I-Tower.

As sondagens diretas forneceram os parâmetros que foram considerados no estudo


dos possíveis tipos de fundação.

Eram possíveis de serem executados no local alguns tipos de fundação, mas que,
por alguns critérios técnicos como topografia da área e característica do maciço
foram descartadas. Outras por terem custo elevado e indisponibilidade de
equipamentos, na época da execução.

Por ter sido encontrado uma rocha de grande volume no local o projeto sofreu
algumas modificações nos subsolos.

A implantação do projeto foi alterada, pois, o custo elevado para o desmonte de


rocha foi fator importante para essa mudança. A implantação foi mudada, mais não
interferiu no aproveitamento das vagas de estacionamento do subsolo, pois, as
mesmas foram remanejadas para outro nível.

O projetista de fundação adotou para a região da torre sapata de grande dimensão


que é mais rápida, tem custo menor e pode ser executada com a própria mão de
obra, evitando-se assim locação de equipamento apropriado.

A obra contratou um consultor para acompanhar e analisar o comportamento térmico


do concreto nesses blocos de fundação, com intuito de inibir o risco da eventual
fissuração de origem térmica.

O concreto aplicado foi obtido através da mistura enérgica e homogênea dos


materiais disponíveis de forma a atender a uma resistência especificada mínima
característica de projeto, emitir baixo calor de hidratação, apresentar boas condições
60

de dissipação térmica e ter a trabalhabilidade adequada aos meios de transporte,


produtividade e adensamento desse concreto.
O controle de fabricação, transporte e lançamento desse concreto foi monitorado por
várias equipes, na usina e no canteiro para garantir a temperatura máxima que o
concreto poderia ser lançado.

O concreto foi lançado através de duas bombas, num ritmo de 6 caminhões


descarregando por hora, considerando os tempos de viagem para proporcionar o
fluxo contínuo.

A concretagem foi contínua do começo ao fim evitando-se assim as juntas de


concretagem (juntas frias).

As condições de temperatura das concretagens das sapatas foram satisfatórias e


atenderam aos requisitos para o não aparecimento de fissuras de origem térmica.

Todo o processo de concretagem e controle foi muito bem executado, e as sapatas


ficaram em excelentes condições para suportar o carregamento previsto em projeto.
61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Blücher Ltda, 1983.

CATÁLOGO TÉCNICO. [São Paulo]: Fundesp, 5ª ed., abr. 2001

CHIOSSI, Nivaldo José. Geologia Aplicada à Engenharia. 3. ed. [s. I.]: Grêmio
Politécnico, 1983.

JOPPERT JUNIOR, Ivan. Fundações e Contenções de Edifícios. São Paulo: Pini,


2007.

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Técnicas, Rio de Janeiro, 2003.

NBR 6122. Projeto e Execução de Fundações, Associação Brasileira de Normas


Técnicas, Rio de Janeiro, 1996.

NBR 6484. Solo – Sondagens de Simples Reconhecimento com SPT – Método de


Ensaio, Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2001.

NERY, G. (São Paulo). Phd Engenharia Civil & Consultoria Ltda. Estudo Térmico
dos Blocos de Fundação: Condomínio Edifício I-Tower. São Paulo, 2009. 23 p.

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ODEBRECHT Realizações Imobiliárias, Obra I-Tower Alphaville. São Paulo, 2008.

OLIVEIRA, A. M. S. e BRITO. S. N. A. de Geologia de Engenharia, 1ª ed. São


Paulo: Oficina de textos, 1998.

REVISTA TÉCHNE. [são Paulo]: Pini, n. 83, fev. 2004. Mensal.


62

SOUZA, Luiz Antonio Pereira de et al. Associação Brasileira de Geologia de


Engenharia - ABGE. São Paulo: Oficina de Textos, 1998. p.163-196

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