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TECNOLOGIA

DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO:
MATERIAIS DE
CONSTRUÇÃO

Mariana Comerlato
Jardim
Alvenaria: materiais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Diferenciar blocos por tipo (maciço versus vazado) e material consti-


tuinte (cerâmica versus concreto), identificando as vantagens e des-
vantagens do seu uso.
„„ Identificar os tipos de alvenaria (como sílica, laminado, solo cimento,
concreto celular, vidro, refratário e cobogó), suas características e
aplicações.
„„ Reconhecer os aspectos a serem considerados na especificação da
alvenaria (consumo por m2, custo unitário, qualidade, etc.).

Introdução
Neste capítulo, você aprenderá a diferenciar blocos por tipo e material
constituinte, suas vantagens e desvantagens, bem como outros tipos
de alvenaria, suas respectivas aplicações e os aspectos que devem ser
considerados em uma especificação.

Alvenaria
Segundo Buxton (2017), “alvenaria é o termo geral usado para se referir às
construções portantes em tijolos, blocos e pedra”. Ela se trata da construção
feita com vários blocos naturais ou industrializados, assentados geralmente
com argamassa, e tem aspecto modular, devido aos tamanhos uniformes
das peças, sendo um tipo de estrutura mais eficiente quando submetida à
compressão, desde que os blocos trabalhem de forma unitária. No início, as
paredes eram executadas com blocos travados entre si, mas, posteriormente,
o barro se tornou o agente de ligação.
Existem dois tipos de alvenaria, a estrutural e a de vedação. A principal
diferença entre as duas é que a primeira serve como estrutura da obra, su-
portando e transmitindo as cargas da edificação às fundações. Já a segunda
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suporta apenas seu peso e necessita de concreto armado (vigas e pilares) para
estruturar o edifício e dar sustentação. Dessa forma, consegue imprimir maior
flexibilidade ao espaço, porque a retirada de um plano vertical não afeta o
sistema estrutural (CUNHA et al., 2017).
Além dos tijolos, outro material importante para o desempenho da al-
venaria é a argamassa, um dos mais usados na construção civil. Composta
de cimento Portland, agregados miúdos (areia) e água, ela é utilizada no
assentamento de tijolos, reboco de paredes e rejuntamento de peças cerâ-
micas, possuindo características de aderência e endurecimento, por isso,
apresenta tantos formatos. Na antiguidade, a composição era de cal e areia,
mas, hoje, além de já ser vendida pronta, sem a necessidade de acrescentar
água, existem aditivos para ser incorporados à massa, a fim de reduzir a
umidade, incorporar o ar, agilizar o processo de secagem, entre outros
(LISBOA; ALVES; MELO, 2017).

Tijolos e blocos cerâmicos


O tijolo é um bloco de alvenaria feito de barro, moldado na forma de um prisma
retangular quando ainda contém plasticidade, e seus tipos mais comuns são
maciço e furado. O processo segue com o endurecimento após o cozimento
ao fogo ou a secagem ao sol.
O maciço apresenta resistência à compressão entre 5 e 120 kgf/cm², sendo
geralmente de 30 kgf/cm². Em algumas situações, a moldagem é manual, em
que, nas formas úmidas de madeira, aplica-se areia (para que o barro não
grude) e argila. Com os dedos, soca-se a massa, alisando-a com a régua de
madeira e deixando-a em repouso para secagem. Já em olarias maiores, esses
tijolos são produzidos por máquinas de prensa ou extrusão. Deve-se identificar
algumas questões visuais da peça, como possuir coloração constante, tamanho
constante, uniformidade do peso (que indica igualdade na mistura e mesmo
teor de umidade presente) e, ao ser partida com uma colher de pedreiro, fra-
turar em linha reta, sem mancha no centro (o que indicaria mau cozimento)
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2017).
A primeira Norma Brasileira (NBR) que regulou a produção de tijolo
maciço foi a NBR 7170:1983, logo após, complementada pela NBR 8041:1983,
principalmente quanto à forma e dimensão. Em 2005, ambas foram canceladas,
dando lugar à NBR 15270, que trata do assunto geral dos blocos cerâmicos
para alvenaria de blocos de vedação, mas ela foi cancelada em 29 de novem-
bro de 2017, sendo substituída pela NBR 15270-1:2017, em que consta uma
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pequena atualização de conceitos. Já o tamanho das peças é normatizado —


190x90x57 mm e 190x90x90 mm, embora ainda sejam comercializados tijolos
com outras dimensões.
Já o tijolo furado é comumente fabricado por extrusão, na qual a máquina
expulsa o barro por meio de uma forma que dá o tamanho e a configuração
espacial do bloco. O corte que define a terceira dimensão, a espessura, se
faz por um arame. Assim, realiza-se a produção por um processo contínuo,
intercalado entre moldagem, corte e secagem. A única NBR para esse tipo de
tijolo é a 15270-2:2017. Sobre suas dimensões, ela regulamenta o tijolo baiano
(90x190x190 mm) e o bloco de vedação/estrutural (140x190x390 mm) — o
primeiro resiste a 105 min de fogo; e o segundo, a 175 min, por isso, são usados
em escadas enclausuradas de incêndio.
Na Figura 1, você pode observar o tijolo maciço, o bloco vazado de vedação
e o bloco vazado estrutural.

Figura 1. Tijolo maciço, bloco vazado de vedação e bloco vazado estrutural.


Fonte: Adaptadas de (a) Tijolo... (2013); (b) Bloco... (2018); (c) Carvalho (2017).

Blocos de concreto
Os blocos de concreto são compostos de cimento Portland, agregados (como
areia e pedras) e água, sendo permitido o uso de aditivos, bem como devem
ter aspecto homogêneo, compacto e com arestas vivas, sem trincas ou fissu-
ras. Caso ele venha a receber algum revestimento, as laterais precisam ter
rugosidades para melhorar a aderência (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2011).
Eles estão disponíveis como forma de vedação e estruturais, em diversos
tamanhos. Para o uso estrutural, as peças têm furos verticais, que podem ser
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usadas para passagem de tubulações ou fins estruturais, como a base para


concretagem de pilares (os furos recebem armadura, preenchidos com arga-
massa ou concreto com pedrisco). Já o bloco de vedação não é vazado e possui
fundo fechado, geralmente quebrado para ser utilizado com as tubulações e
os encanamentos. Este tipo torna a obra mais barata, já a utilização racional
dos blocos estruturais gera uma perda menor de material.
O processo de fabricação industrializado dos blocos de concreto — mistura,
prensagem, secagem e cura — confere ao produto uma grande regularidade
de forma e dimensão, possibilitando a modulação do projeto em função das
suas medidas. Assim, evita improvisos e desperdício.
Comparando os dois tipos de tijolos (maciço cerâmico e bloco vazado de
concreto), para uso estrutural e de vedação, tem-se que o primeiro apresenta
maior resistência e peso, necessita de menos argamassa que o bloco com furos
e tem manuseio mais fácil. O segundo (estrutural), por sua vez, permite a
passagem da tubulação (elétrica, hidráulica, telefone, etc.) sem precisar abrir
as canaletas externas, não gerando entulho e, tampouco, a necessidade de
fechá-la. Ambos possuem bom isolamento térmico e acústico, em função
da circulação de ar pelos furos, além de dificultarem a entrada de umidade
(CUNHA et al., 2017, p. 179).
Na Figura 2, você pode ver exemplos de bloco de concreto, com furos.

Figura 2. Blocos de concreto, com furos. a) Com fundo, de vedação. b) Totalmente vazado,
estrutural.
Fonte: Adaptadas de (a) zcw/Shutterstock.com; (b) bodhichita/Shutterstock.com.
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Entre os dois materiais citados, cerâmica e concreto, o primeiro tem melhor


desempenho térmico, é mais leve, facilitando o transporte no canteiro de obras
e, por ter menor coeficiente de dilatação, se movimenta menos, com juntas de
dilatação menores. Já o segundo é mais regular e exige menos revestimento,
no caso dos tijolos cerâmicos, é necessário usar reboco para a regularização
da superfície e massa para o alisamento. Por isso, ele precisa de menos mão
de obra e, como possui mais massa, tem melhor desempenho acústico.
Cada material tem melhor desempenho em alguns quesitos, sendo um
deles melhor em outras definições. Em resumo, o bloco de concreto é mais
resistente do que o cerâmico, gerando menor desperdício em função das
quebras, e sua aplicação rende mais, pois se executa uma alvenaria mais
rapidamente, exigindo menos camadas de regularização. Porém, o cerâmico
possui melhor desempenho térmico, além de absorver menos umidade, o que
é muito importante quando se trata de planos verticais externos nas fachadas
(SALEMA, 2014).

Outros tipos de alvenaria


Na construção civil, existe uma infinidade de materiais que permitem a mate-
rialização de um espaço, assim, para construir uma casa, pode-se usar madeira,
sistema estrutural em concreto, alvenaria portante, etc. Já a escolha da técnica
adotada deve considerar diversos fatores, como as propriedades físicas ou
mecânicas dos materiais, pois cada um tem características que indicam um
melhor uso para cada situação (CUNHA et al., 2017).
Quando se trata de alvenarias, fala-se de blocos ou tijolos, as unidades que
compõem o plano maior. Eles podem ser compostos de vários materiais, cada
um deles com uma especificação diferente, como você verá a seguir.
A sílica é a denominação de um grupo de minerais que tem, nas composi-
ções, dióxido de silício (SiO2) — por exemplo, quartzo, tridimita, cristobalita
e opala a contêm na composição. Ela se trata de um elemento muito duro que
existe em abundância na natureza, encontrado nas areias e na maior parte
das rochas, bem como comumente comercializado na forma de tijolos, um
material altamente refratário, resistente à abrasão e corrosão. Na verdade, a
sílica compõe a maioria dos tijolos, incluindo o cerâmico, sendo responsável
por, aproximadamente, 50% do volume total do bloco.
Como aditivo ao concreto, a inserção de sílica ativa no traço já existente
objetiva melhorar aspectos em relação à resistência de blocos pré-fabricados
e proteger o aço da corrosão. Tal processo ocorre, porque ela, uma micropar-
tícula, penetra no concreto e preenche os espaços vazios, por isso, é usada
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quando a edificação requer alta resistência estrutural e resistência ao fogo ou


naquela que esteja em condições comprometedoras (ABITANTE, 2017). Veja
um tijolo de sílica na Figura 3.

Figura 3. Tijolo de sílica.


Fonte: Adaptada de Erik Svoboda/Shutterstock.com.

O tijolo laminado, conhecido como 21 furos, possui alta resistência,


durabilidade e baixa porosidade, por isso, é bastante usado em projetos que
querem deixá-lo aparente e churrasqueiras, pois tem comportamento estável
ao calor. Esses furos são ótimos para melhorar a aderência da argamassa,
tornando a estrutura mais firme e estável, para isso, precisa ser utilizado
sempre na horizontal, sem mostrá-los, somente a parte lisa. Ele também é
desenvolvido na versão sem furos, para ser usado como revestimento de
paredes e fachadas. Sua medida comercial é de 9x20x5 cm, e indica-se seu
uso na vertical (ABITANTE, 2017). Veja na Figura 4 um exemplo desse
tipo de tijolo.
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Figura 4. Tijolo laminado ou 21 furos.


Fonte: Adaptada de Tijolo... (2019).

Já o tijolo de solo cimento é composto de uma quantidade de solo (areia,


argila e silte), cimento e água, sendo necessário analisar a dosagem de cada
elemento antes de fazer a mistura para garantir a efetividade do material. A
matéria mais indicada precisa conter de 50 a 70% de areia em sua composição
e, conforme o aumento de argila no solo, aumenta também a necessidade de
consumo de cimento para estabilização. A NBR 12253:2012 regulamenta essa
dosagem de materiais a fim de manter o desempenho do bloco.
Trata-se de blocos modulares intertravados, que se encaixam contrafiados,
montando a parede, sendo um material mais barato que os demais tijolos,
porque utiliza a matéria-prima do local onde será a construção, mais ecológico
— diminuindo a queima de combustível durante o transporte — e não exige
argamassa de assentamento.
No Brasil, o solo cimento começou a ser empregado em base de estradas
e, somente no ano de 1948, em construções, na Fazenda Inglesa, Petrópolis,
Rio Janeiro, e no Hospital Adriano Jorge, em Manaus. Porém, esse material
foi aplicado em larga escala nas moradias apenas por volta de 1978, quando o
antigo Banco Nacional de Habitação (BNH) aprovou a técnica para construções
de habitações populares. De acordo com Fernando Teixeira, consultor na área
de solo cimento (FIQUEROLA, 2004):
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Na época, estudos feitos pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas


do Estado de São Paulo) e pelo Ceped (Centro de Pesquisas e Desenvol-
vimento) comprovaram que, além do bom desempenho termoacústico, o
solo-cimento aplicado em construções levava a uma redução de custos
de 20% a 40%, se comparado com a alvenaria tradicional de tijolos de
barro ou cerâmicos.

Na Figura 5, você pode ver um exemplo de tijolo de solo cimento, cuja


coloração varia de acordo com a composição da argila usada.

Figura 5. Tijolo de solo cimento, cuja coloração varia de acordo com a composição da
argila usada.
Fonte: Adaptada de Tijolo... (2017).
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O concreto celular, conhecido como concreto celular autoclavado (CCA),


foi inventado na década de 1920 pelo arquiteto sueco Johan Axel Eriksson.
É um material leve, pré-moldado e que, simultaneamente, fornece estrutura,
isolamento termoacústico e resistência ao fogo, podendo ser usado, além dos
blocos, em painéis de parede e telhado, piso, revestimento externo e vergas
(ABITANTE, 2017).
Ao contrário da maioria dos concretos, não são utilizados agregados gran-
des na composição do concreto celular. Além da areia de sílica, cal, cimento
e água, o alumínio em pó é usado na taxa entre 0,05 e 0,08% do volume.
Esse material causa uma reação química, pois o pó de alumínio reage com o
hidróxido de cálcio e a água, formando o hidrogênio, o qual dobra o volume
da mistura, fazendo esse bloco ter apenas 20% do peso do cimento. No fim
desse processo, o hidrogênio escapa, sendo substituído por ar. Após a retirada
das formas, ainda macio, o bloco é colocado em autoclave para secagem por
12 horas e, em seguida, está pronto para ser usado, de imediato. Ao fim dessa
etapa, dependendo de sua densidade, até 80% do volume de um bloco de CCA
pode ser ar, por isso, a baixa densidade é responsável por sua baixa resistência
à compressão estrutural, aproximadamente 50% da resistência à compressão
do concreto regular (ABITANTE, 2017).
Veja na Figura 6 algumas peças em concreto celular, como blocos e painéis.

Figura 6. Peças em concreto celular, como blocos e painéis.


Fonte: Adaptada de Stonel/Shutterstock.com.
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Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre as questões dos diedros e o posicio-
namento do objeto em relação aos planos.

https://goo.gl/XzimBo

O tijolo de vidro é um elemento não estrutural, composto de duas paredes


de vidro com uma camada de ar entre elas. Os vidros podem ter diversos aca-
bamentos, lisos, rugosos, transparentes ou translúcidos, e sua principal função
é fazer o fechamento de ambientes sem impedir a entrada de luminosidade,
por isso, aplica-se em fachadas laterais junto ao limite do terreno. Suas peças
têm um grande apelo decorativo e, anualmente, são produzidos cerca de dez
milhões de blocos de vidro no país.
A produção desse tipo de bloco ocorre na fundição de duas partes de vidro
a altas temperaturas e, quando resfriadas, a pressão interna do ar reduz. Assim,
as alvenarias construídas com eles possuem bons níveis de isolamento térmico
e acústico, caso sigam a NBR 14899-1:2002. As peças devem ser assentadas
a 1 cm de qualquer parede de outro material, com argamassa e, em planos
maiores de 2 m², utilizar juntas de dilatação em poliestireno. Para que essa
alvenaria seja resistente à tração, o projeto deve incluir barras de ferro ou de
alumínio com Ø4.2 mm entre as peças. Na Figura 7, você pode ver o tijolo de
vidro e sua aplicação em uma parede externa.

Figura 7. Tijolo de vidro (a) e sua aplicação em uma parede externa (b).
Fonte: Adaptada de Anson0618/Shutterstock.com, Eviled/Shutterstock.com.
Alvenaria: materiais 11

O tijolo refratário é composto de argila especial, em geral, branca, com


alto poder de tolerância ao calor. Atribui-se o termo refratário a um grupo de
materiais, em sua maioria cerâmicas, capazes de suportar altas temperaturas
sem perder suas propriedades físico-químicas, como resistência, alta condu-
tividade térmica e condutividade elétrica. Esse tipo lida melhor com a alta
temperatura e os esforços mecânicos que os demais tijolos cerâmicos, por
isso, além do uso em churrasqueiras e lareiras, ele atende às necessidades de
aplicação à alta solicitação de fornos de aquecimento de temperaturas elevadas
e caldeiras (ABITANTE, 2017).
Para o material ser caracterizado como refratário, deve possuir outras
características além da resistência à alta temperatura. A NBR 8826:2014:
Materiais refratários — Terminologia, define-o como naturais ou artificiais,
geralmente não metálicos, mas sem excluir os que contenham constituintes
metálicos, capazes de suportar temperaturas elevadas sem apresentar defor-
mação acentuada e em condições específicas de utilização. O ensaio de cone
pirométrico, para ele ser considerado refratário, precisa atingir a temperatura
de, no mínimo, 1430°C. Veja na Figura 8 um tijolo refratário, usado em lareiras
e churrasqueiras.

Figura 8. Tijolo refratário, utilizado em lareiras e churrasqueiras.


Fonte: Adaptada de baxys/Shutterstock.com.

Cobogó é a denominação dada aos elementos vazados que completam


paredes e muros para possibilitar maior ventilação e luminosidade no inte-
rior de um imóvel, seja residencial, comercial ou industrial. O nome deriva
12 Alvenaria: materiais

das iniciais dos sobrenomes de três engenheiros que, entre os anos de 1929
e 1930, idealizaram-no conjuntamente: Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest
August Boeckmann e Antônio de Góis, em Recife. Eles são uma herança da
cultura árabe, baseada em muxarabis, construídos em madeira, sendo usados
para fechar parcialmente os ambientes internos. Inicialmente, eram feitos de
cimento, porém, com sua popularização, passaram a ser moldados com outros
materiais, como argila, vidro e cerâmica (ABITANTE, 2017).

O muxarabi é um elemento arquitetônico criado no mundo árabe, trazido ao Brasil


pelos portugueses, uma treliça de madeira empregada como plano vertical e uma
forma de preservar o que acontece no espaço interno, porém, sem permitir a visão
externa. Suas principais funções são permitir a ventilação e a entrada de iluminação,
bem como bloquear o calor. Em uma cultura em que a figura da mulher deve ser
preservada, ele tinha o papel de inibir os olhares masculinos.
Fonte: Cobogós... (2018, documento on-line).

Na arquitetura moderna, os cobogós tornaram-se o símbolo desse período


e, mesmo que tenham origem no Nordeste, foi o arquiteto carioca Lucio
Costa que os colocou em evidência no Brasil. Diversos projetos tiveram-no
como destaque, por exemplo, o Pedregulho, habitação de interesse social
projetada por Affonso Reidy; os edifícios do Parque Guinle, de Lucio Costa;
e o Pavilhão de Exposição de Nova York, em 1939, parceria de Lucio Costa
e Oscar Niemeyer. Na Figura 9, você pode visualizar um cobogó cerâmico e
duas fachadas que utilizam esse material.
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Figura 9. a) Um modelo de cobogó cerâmico. b) Fachada do projeto do parque Guinle,


de Lucio Costa. c) Fachada do pavilhão de Exposições em Nova York, de Lucio Costa e
Oscar Niemeyer.
Fonte: (a) Julio Ricco/Shutterstock.com, (b, c) Delaqua (2017).

Considerações na escolha da alvenaria


Vários aspectos devem ser considerados na escolha do material empregado na
alvenaria, como a relação da composição com o local, o tipo de construção, o
valor das peças, seu rendimento por m², a durabilidade da construção, entre
outros.
Quanto à relação da materialidade com o lugar, a escolha mais óbvia é
definir o material considerando o deslocamento da matéria-prima, a emissão
de combustíveis fósseis nesse trajeto e sua relação com o lugar, que interfere
na durabilidade, bem como com a modulação do material compatível com as
dimensões do projeto. Assim, ocorre o melhor aproveitamento das peças e
menor desperdício de matéria (CUNHA et al., 2017).
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Um bom exemplo de considerações na escolha da alvenaria é o projeto do conjunto


residencial da rua Grécia, em Cotia, de Joan Villà e Silvia Chile. Como professor e
pesquisador na Unicamp, ele desenvolveu uma tecnologia que trabalhava os tijolos
cerâmicos, aliados à estrutura armada e ao concreto. Trata-se de painéis executados
in loco, nos quais se coloca uma armadura unindo as peças, com até 100 kg. Assim, a
montagem das habitações pode ser feita por menos pessoas e máquinas menores, já
as paredes são estruturais e permitem mais flexibilidade na parte interna. Na verdade,
a proposta do arquiteto é possibilitar que a população se envolva nesse processo
construtivo e atue no mutirão (MONTANER; MUXÍ, 2013).
Na Figura 10, você pode ver esse conjunto residencial e uma morada estudantil na
Unicamp.

Figura 10. a) Residencial da rua Grécia, em Cotia. b) Moradia estudantil, Unicamp. Ambos
realizados pelo arquiteto Joan Villà e executados com painéis cerâmicos de argamassa
armada.
Fonte: Adaptada de (a) Montaner e Muxí (2013, documento on-line); (b) Casas... (2013, documento on-line).
Alvenaria: materiais 15

Outro fator a ser considerado é o custo da construção, pois quanto maior


for o projeto, mais material será consumido, impactando nos gastos da obra.
Considera-se ainda que grandes painéis terão maior rendimento se forem feitos
com peças maiores, por isso, os blocos foram desenvolvidos com variabilidade
de tamanho para se adaptarem aos diversos usos.
Quanto aos valores do tijolo cerâmico furado e bloco de concreto, tem-se
uma pequena diferença (cotação em Porto Alegre em novembro de 2018): o
primeiro tem valor unitário de R$ 1,50 (19x14x29 cm e 18,15 unidades/m 2);
o segundo, de R$ 2,70 (19x14x39 cm e 13,5 unidades/m2). Assim, o custo por
m2 seria R$ 20,00 e R$ 37,00, respectivamente. Considerando a mesma área
de parede a ser construída, a opção entre o material cerâmico e o concreto
pode acarretar um gasto até 85% maior. Já o concreto celular trabalha com
peças maiores (60x30x15 cm) e possui o valor de R$ 12,80 — para compor
o plano de 1 m2, gastaria R$ 72,00, aproximadamente. Porém, o número de
peças utilizadas nesses três casos é bem distinto: para 1 m2, são utilizados 19
tijolos cerâmicos, 14 blocos de concreto e 6 de concreto celular. Se pensar em
agilidade na construção, o bloco de concreto celular seria o melhor material
para se utilizar nessa alvenaria.
Na Figura 11, você pode visualizar detalhadamente os três de tipos de
alvenaria, em paredes de 1 m2.

Figura 11. Três tipos de alvenaria, paredes de 1 m2, comparando a quantidade de blocos
em cada uma.
16 Alvenaria: materiais

Em relação à qualidade, deve-se considerar o que cada espaço exige, como


conforto acústico e térmico, flexibilidade do espaço, rapidez na execução,
uso de mão de obra especializada, durabilidade da construção, etc. Se esti-
ver projetando um consultório, por exemplo, busca-se um espaço com bom
isolamento acústico. A qualidade desse isolamento está ligada à massa sólida
da parede, ou ao espaço entre dois planos verticais, preenchidos com ar ou
isolante, como lã de rocha. Por isso, as paredes com tijolos maciços e pouco
porosos respondem bem a essa solicitação — nesse caso, a cerâmica é mais
indicada que o concreto, por ser mais densa e pela menor abertura dos poros.
Além do material escolhido, a execução desses planos deve ser feita adequa-
damente, pois pode ocorrer passagem do som pelas juntas do assentamento
(CUNHA et al., 2017).
A relação do prazo com a execução da obra também é um fator importante,
principalmente em espaços comerciais e apartamentos, cujo contrato de venda
preestabelece o prazo. As peças maiores, pré-fabricadas, que não exigem
massa de assentamento ou reboco, tornam a obra mais rápida e limpa, pois
algumas etapas foram eliminadas e o material chega pronto ao canteiro. Nesse
caso, os blocos intertravados, como o tijolo de solo cimento, são encaixados
e agilizam o processo (CUNHA et al., 2017).
Mesmo analisando todas essas características, é importante considerar a
mão de obra existente no local da construção. Além de garantir que ela seja
qualificada e entenda da tecnologia construtiva, deve-se evitar o deslocamento
de uma equipe adequada e o aumento do custo dessa edificação.
A construção com alvenaria é muito utilizada desde a antiguidade, seja
materiais de cerâmica, concreto e pedras naturais, por razão estrutural ou
estética, assentada a seco ou com argamassa, sendo indispensável que um
profissional da área conheça suas formas, seus materiais e suas tecnologias.
Alvenaria: materiais 17

ABITANTE, A. L. Materiais de construção. Porto Alegre: Sagah, 2017. 134 p.


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15270-1: componentes cerâmicos:
blocos e tijolos para alvenaria: parte 1: requisitos. Rio de Janeiro, 2017. 26 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15961-1: alvenaria estrutural:
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SALEMA. Estudo Comparativo entre Cerâmica e Concreto: Tijolos e Telhas. Revista
da Anicer, Rio de Janeiro, ano 16, n. 82, p. 26–39, 2014. Disponível em: <http://www.
ceramicasalema.com.br/estudo-comparativo-entre-ceramica-e-concreto-tijolos-e-
-telhas/>. Acesso em: 12 jan. 2019.
TIJOLO de 21 furos. E-Civil: descomplicando a engenharia, Rio de Janeiro, 2019. Dis-
ponível em: <https://www.ecivilnet.com/dicionario/o-que-e-tijolo-21-furos.html>.
Acesso em: 12 jan. 2019.
TIJOLO Ecológico Solo Cimento. Ecolojit, Itupeva, 2017. Disponível em: <http://www.
ecolojit.com.br/>. Acesso em: 12 jan. 2019.
TIJOLO Maciço Maquinado. Douradão Materiais para Construção e Depósito, Dourados,
2013. Disponível em: <http://www.douradao.com.br/produtos/detalhes/911f2bc2d69
e3531637edd3dd51373a8>. Acesso em: 12 jan. 2019.

Leituras recomendadas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8826: materiais refratários:
terminologia. Rio de Janeiro, 2014. 71 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12253: solo-cimento: dosagem
para emprego como camada de pavimento: procedimento. Rio de Janeiro, 2012. 3 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14899-1: Blocos de vidro para
a construção civil: parte 1: definições, requisitos e métodos de ensaio. Rio de Janeiro,
2002. 16 p.
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