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net/publication/301778159
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Said Jalali
University of Minho
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All content following this page was uploaded by Soheyl Sazedj on 02 May 2016.
1: Engenharia Civil
Universidade de Évora
Polo da Mitra, 7002-554 Évora, Portugal
e-mail: sazedj@uevora.pt, web: http://www.uevora.pt
Investigador do CIAUD (Centro de Investigação em Arquitectura, Urbanismo e Design)
Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa
Rua Sá Nogueira – Polo Universitário – 1349-055 Lisboa, Portugal
e-mail: sazedj@fa.utl.pt, web: http://www.fa.utl.pt
3: Escola de Engenharia
Universidade do Minho
Campus de Azurém, 4800-058 Guimarães, Portugal
e-mail: said@civil.uminho.pt, web: http://www.eng.uminho.pt
1. INTRODUÇÃO
Pretende-se comparar o desempenho ambiental de dois processos construtivos de um edifício
considerado tipo, um com a estrutura em betão armado e blocos cerâmicos, que considere-se uma
construção convencional, e outro em alvenaria estrutural em duas versões diferentes; a primeira
versão tem lajes maciças de betão armado e a segunda versão tem lajes aligeiradas em
abobadilhas cerâmicas. O edifício modelo proposto corresponde às dimensões médias usuais nos
edifícios habitacionais. Uma vez que se trata também de construção em alvenaria estrutural, é
necessário o estabelecimento dos limites, em especial a altura e a relação entre planta e altura,
que permitem a utilização de construção em alvenaria estrutural. O edifício modelo em betão
armado, i.e. construção convencional, pelo contrário, não tem limites condicionantes no que diz
respeito à relação altura – base, como acontece no caso da alvenaria estrutural [1].
Entretanto, estudam-se os problemas de estabilidade seguindo as indicações do Eurocódigo 6 que
regulamenta as estruturas de alvenaria e desenha-se um modelo paramétrico que abrange todos
os problemas de estabilidade. As dimensões e os vãos do modelo devem corresponder às
dimensões médias usuais. Neste sentido, para o modelo paramétrico estimam-se quatro vãos
diferentes, de 2 m, 4 m, 6 m e 7 m. Estes vãos referem-se às paredes estruturais e excluem-se as
paredes divisórias não estruturais. Portanto não se apresentam divisões como quartos, cozinhas
ou instalações sanitárias.
A planta dos modelos a estudar é apresentada na Figura 1 com uma área de construção de
2
167,6 m :
2
O requisito fundamental para este estudo é a recolha de dados actualizados dos gastos
energéticos e de emissão de dióxido de carbono na produção de materiais de construção
considerados neste trabalho.
Neste modelo encontram-se quartos com dimensões usuais, com janelas e portas. Existe também
uma escada com patamar apoiado na parede exterior. Esta configuração com escada corresponde
ao cenário pior. Pelo Eurocódigo 6, as alturas livres, pé-direitos, diferentes no pano da parede
exterior podem causar excentricidades excessivas das forças internas verticais. Portanto, esta
configuração da escada prejudica a estabilidade, limita a altura e obriga a utilizar materiais mais
resistentes na construção em alvenaria estrutural. Consequentemente determina o recurso a
soluções mais poderosas, ou seja, a blocos cerâmicos mais resistentes, o que significa mais peso
e mais emissões e mais energia incorporada. O objectivo é criar um cenário mais desfavorável
para a alvenaria estrutural, para poder obter resultados mais esclarecedores no que respeita ao
potencial diferenciador da alvenaria estrutural.
Os outros parâmetros importantes intervenientes são a baixa resistência em relação à tracção na
zona das juntas e o perigo de ocorrência de encurvadura da parede, que resulta da altura e da
baixa aderência entre bloco e argamassa.
O edifício modelo vai ser analisado com duas soluções construtivas, uma em alvenaria estrutural
sem armadura e outra em construção convencional, o que significa uma estrutura reticulada em
betão armado e paredes exteriores e interiores em alvenaria, como é usual construir em Portugal.
Para salientar as diferenças entre o grau de utilização de betão armado, no modelo em alvenaria
estrutural, estudam-se duas versões diferentes, uma com lajes maciças em betão armado e outra
com lajes aligeiradas em abobadilha cerâmica.
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4. OS DADOS AMBIENTAIS
A análise ambiental será baseada na verificação de energia incorporada e na quantidade de
dióxido de carbono emitido na fabricação e transporte dos materiais de construção, para ambos os
modelos, o de alvenaria estrutural e o em construção convencional. Uma avaliação da vida útil da
obra e dos recursos humanos envolvidos também serão necessários para se poder fazer uma
comparação global. Tendo em atenção que a utilização de energia e emissão de CO2 são os
parâmetros mais relevantes na avaliação ambiental, optou-se por considerar somente estes dois
parâmetros na análise comparativa das duas soluções estudadas.
Os dados usados para os blocos cerâmicos foram recolhidos das especificações divulgadas pela
empresa Preceram [2], uma fábrica de grande dimensão, que utiliza tecnologia avançada na
produção, e dos documentos, “INVENTORY OF CARBON AND ENERGY” (ICE) [3] da
Universidade de Bath (UB) de 2008, e da publicação do Centro Tecnológico da Cerâmica e do
Vidro (CTCV), “DADOS DE REFERÊNCIA PARA BENCHMARKING” [4] de 2004.
Além destes dados referidos, também se recorreu aos dados obtidos nas seguintes publicações
espanholas, “GUÍA DE L’EDIFICACIÓN SOSTENIBLE” [5] e ECOLOGIA DOS MATERIAIS DE
CONSTRUÇÃO [6] com dados ecológicos gerais e actualizados dos materiais de construção, que
se podem considerar como referencial, uma vez que estes dados são levantados a nível Europeu.
As instituições e autores referidos em cima apresentam os dados de acordo com o tipo de energia
utilizada na produção, nomeadamente de energia eléctrica e térmica, e em função da dimensão da
fábrica, pequena, média e grande dimensão. Em geral a estatística e os resultados obtidos
baseiam-se mais na utilização da energia térmica, uma vez que a energia eléctrica tem só um
contributo de cerca de 20%. Os valores utilizados neste contexto são valores mistos e
consideraram-se as médias para se aumentar a probabilidade de uma comparação justa dos
dados.
UB CTCV PRECERAM IC UM
Na Tabela 1 nota-se que os dados do CTCV são significativamente mais baixos. A razão encontra-
se no período de análise dos dados. As outras instituições analisaram os dados das fábricas
durante um período de vários anos, começando em 1995. Entretanto estes dados, que são valores
médios, reflectem também os anos em que a indústria ainda não tinha tomado medidas para
reduzir a energia e a poluição na produção. Ao contrário, o levantamento do CTCV refere-se
apenas ao ano 2004, com os dados mais recentes da indústria, que já vêm aplicando as novas
tecnologias de fabricação que introduzem medidas de redução da energia e da poluição. Os
valores das fábricas portuguesas incorporam já o avanço tecnológico. Pelo protocolo de Quioto, os
países industriais acordaram uma redução de 25 a 40% das emissões até 2020. Portanto, uma
vez que esta investigação quer analisar os futuros possíveis desenvolvimentos, inclina-se pelos
valores que a fábrica indica, pois já incorpora os avanços tecnológicos alcançados.
Para os dados referentes ao betão e cimento utilizam-se as mesmas fontes, com excepção dos
dados para Portugal. Aqui serve o documento da Empresa CIMPOR, maior produtor de cimento
em Portugal que revela no seu último relatório anual “RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE ’08”
[7] os valores relacionados com a produção de cimento em 2008.
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UB CIMPOR IC UM
Na Tabela 2 os dados da CIMPOR são mais relevantes para Portugal, uma vez que representam o
consumo energético e a poluição real de ano 2008 e não representam, como nas outras fontes,
valores médios de vários anos e se refiram a dados de outros países.
Considera-se que o cimento constitua cerca de 14 % do betão, a água (com razão
água/cimento = 0,5) representa entre 6 e 7 % e os restantes 80% correspondem aos agregados.
Pode-se concluir que, proporcionalmente, a emissão de CO2 na central de betão é de
0,10 kgCO2/kg, com 0,095 para o cimento (14 %) e 0,005 (80 %) para os agregados, considerando
que a contribuição da água é desprezável.
A emissão de CO2 na produção de agregados é resultante da trituração dos agregados utilizando
energia térmica e a mistura na central de betão é realizada com energia elétrica. Confirma-se que
no documento ICE o valor da emissão de CO2 na produção de agregados é igual, uma vez que o
processo quer seja em Portugal ou Inglaterra é igual, e não há grande desenvolvimento
tecnológico neste processo, visto que a poluição neste processo, para além do pó, é baixa. Da
mesma forma, pode-se determinar os valores para o consumo de energia envolvido na produção
de betão. O valor atribuído para o betão é de 0,81 MJ/kg, com 0,504 para o cimento e 0,307 para
os agregados. Estes valores aparecem no levantamento (S) da tabela seguinte.
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Decidiu-se por estabelecer valores médios, uma vez que é praticamente impossível dispor dos
valores rigorosos, porque cada encomenda de varões pode vir de uma fonte diferente e quase
nunca é possível definir a energia incorporada do aço fornecido, e as emissões de CO2 com rigor.
Os dados fornecidos de relevância são mais uma vez do documento ICE de Universidade de Bath.
Os documentos “Energy Management” (SI) [8], e “Insights from Steel – Benchmarks and the
Environment” (TK) [9], embora que não são completos mas confirmam os dados mencionados.
7
normalmente camiões betoneiras móveis de 12 toneladas de capacidade, que são camiões com
capacidade inferior a 33 toneladas. Assim, utilizam-se camiões com capacidades inferiores e
superior a 33 toneladas.
Conforme o documento mencionado acima, a emissão de CO2 no transporte com camiões de
capacidade inferior a 33 toneladas é de 0,747 kgCO2/km e nos camiões de capacidade superior é
de 0,929 kgCO2/km.
Na quantificação da energia incorporada pelo transporte é de notar que a relação do consumo da
energia no transporte em relação à produção do material transportado, expresso em percentagem,
seria igual nas duas soluções construtivas.
O transporte é realizado principalmente pela via rodoviária, dadas as distâncias serem pequenas,
e o consumo energético por camiões é de 0,000402 MJ/(kg.km); um valor pequeno, para as
distâncias comuns até 100 km, em comparação com os dados de energia incorporada, mas com
suficiente importância para ser considerado neste estudo.
8
Tabela 7. Comparação de emissões de CO2 (kg CO2) e as percentagens de emissões por material
CC AE Versão 1 AE Versão 2
CO2 emitido
P % P % P %
Betão 45.769 45,2 28.484 32,2 14.535 23,7
Blocos cerâmicos 12.364 12,2 26.508 30 31.395 51,3
Argamassa 5.505 5,5 5.811 6,6 5.811 9,5
Aço, armadura 37.573 37,1 27.597 31,2 9.467 15,5
Total a saída de fabrica 101.211 100,00 88.399 100 61.208 100
Transporte 5.577 5,2 5950 6,3 4.044 6,2
TOTAL 106.788 94.349 65.251
CC AE Versão 1 AE Versão 2
Energia incorporada
P % P % P %
Betão 370.730 37,1 230.717 28,32 117.734 19,83
Blocos cerâmicos 126.114 12,6 270.379 19,05 320.227 53,93
Argamassa 36.182 3,6 38.195 3,84 38.195 6,43
Aço, armadura 466.981 46,7 342.989 48.79 117.659 19,81
Total na saída da
1.000.007 100 882.279 100 593.815 100
fabrica
Transporte 27.989 2,7 23.851 2,32 16.168 2,65
TOTAL 1.027.996 906.131 609.982
Nota: CC: Construção Convencional; AE: Alvenaria Estrutural; P: Produção
Versão 1: Laje maciça; Versão 2: Laje abobadilha
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CC AE Versão 1 AE Versão 2
2
Energia incorporada (MJ/m ) 2044 1801 1213
2
Emissão de CO2 (kgCO2/m ) 212 188 130
Salienta-se que estas diferenças são devidas à redução drástica de betão armado na solução
construtiva de alvenaria. Num estudo seguinte analisar-se-á o mesmo edifício modelo, mas na
solução convencional com lajes aligeiradas de abobadilhas prefabricadas em betão.
REFERÊNCIAS
[1] S. Sazedj, Análise de Sustentabilidade de Alvenaria Estrutural, tese de doutoramento,
Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa, (2012)
[2] Grupo Preceram, Pombal, (2010)
[3] G. Hammond e C. Jones, Inventory of Carbon and Energy (ICE), Department of
Mechanical Engineering, University of Bath (UB), Bath, (2008)
[4] Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro (CTCV), Reference Data for Benchmarking,
Coimbra, (2004)
[5] F. Rovira, L. Josep e M. Casado, Institut Cerdà (IC), Guía de l’edificación sostentible,
Barcelona, (1999)
[6] S. Jalali, F. E. Marcelo e J.A. Nelson, Ecologia dos Materiais de Construção, B. Berge,
1999, traduzido e adaptado para português, Universidade Minho (UM), Guimarães, 2007
[7] CIMPOR, Cimentos de Portugal, SGPS, SA., Relatório de Sustentabilidade ’08, Lisboa,
(2008)
[8] Stahlinstitut VDEh und Wirtschaftsvereinigung Stahl im Stahl-Zentrum, Energy
Managemente, http://www.stahl-
online.de/Deutsch/Linke_Navigation/Technik_Forschung/Energie_und_Umwelttechnik/Ene
rgiewirtschaft.php?highmain=2&highsub=3&highsubsub=1, Düsseldorf, 2010, (última
consulta Maio 2011)
[9] HJ. Weddige, Thyssen Krupp Steel, Insights from steel – Benchmarks and the
environmente, Essen, (2009)
[10] Department for Communities and Local Government, UK, Code for Sustainable Homes,
Technical Guide, Version 2, London, (Maio 2009)
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