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Seção 2

SUA PETIÇÃO

DIREITO
CONSTITUCIONAL
Seção 2

DIREITO CONSTITUCIONAL

Sua causa!

Olá, aluno!

Seja bem-vindo a mais uma seção!

Vamos dar continuidade ao processo que iniciamos na seção passada. Você terá a oportunidade de
conhecer e elaborar mais uma peça processual utilizando seus conhecimentos de Direito
Constitucional e de Direito Processual.

Vamos relembrar o caso.

O CASO

Mariana é advogada de uma associação de pescadores da cidade de Devastação, no Espírito


Santo. Essa associação, denominada Associação de Proteção dos Pescadores de Devastação
(APPD), existe desde 1990 e tem como objetivos institucionais a defesa do meio ambiente e dos
direitos de seus associados.

Ocorre que a cidade de Devastação foi destruída pelos dejetos provenientes do colapso da
barragem de uma mineradora, a empresa Montanha do Rio Sujo, localizada também nessa cidade.
Além disso, ficou constatado que, apesar de diversas denúncias e reclamações a respeito da
manutenção da barragem e mesmo após a notificação de seus órgãos fiscalizadores, a União Federal
nada fez. A falta de cuidado da mineradora e a negligência da União na fiscalização acarretou a
destruição de grande parte do meio ambiente local e também de um rio que percorre dois estados
da federação, chegando, inclusive, a poluir as praias do litoral do Espírito Santo, ocasionando, assim,
a morte de milhares de peixes e animais marinhos.

Além de perderem suas casas, muitas famílias de pescadores perderam entes queridos, que
morreram na lama de dejetos, e todos os associados estão impedidos de praticar a pesca (única
fonte de sobrevivência) em razão do grande dano causado pela mineradora. Além disso, a empresa

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mineradora não tomou nenhuma ação para evitar novos vazamentos de material tóxico, o que torna
permanentes os danos ambientais sofridos por aquela população.

No papel de Mariana, advogada da APPD, você ingressou com uma Ação Civil Pública,
endereçada à Vara da Justiça Federal de Devastação/ES e, liminarmente, pediu a imediata cessação
dos danos ambientais e que os associados fossem indenizados na exata medida dos danos por eles
sofridos.

Como pedido liminar, você requereu, além da suspensão de qualquer atividade danosa, que
fossem depositados, imediatamente, a quantia equivalente a dez salários mínimos mensais para
cada um dos associados como medida de prover o seu sustento em razão dos danos ambientais que
causaram a impossibilidade de exercício da atividade de pesca.

A liminar foi julgada improvida pelo magistrado, pois alegou-se que deverá haver a
comprovação prévia da negligência, da imprudência ou da imperícia para que seja analisado o
cabimento das indenizações requeridas. Assim sendo, não poderia ser deferida a liminar sem a
produção de provas a esse respeito.

Simulando novamente o papel da advogada Mariana você deverá elaborar a peça processual
cabível contra a decisão interlocutória (decisão que não põe fim ao processo), a qual denegou o
pedido de tutela liminar.

Lembre-se dos conteúdos que estudamos na seção anterior, os quais, somados aos desta
seção, ajudarão a fundamentar e construir a sua peça processual.

Fundamentando!

A Constituição Federal ocupa o ponto mais alto da hierarquia das normas jurídicas e é nela
que as demais normas fundamentam a sua validade. O constituinte brasileiro se preocupou também
com o meio ambiente, prevendo o acesso a um meio ambiente sadio, direito fundamental das
presentes e das futuras gerações.

Um dos principais pilares do direito ambiental reside na prevenção e na precaução dos danos
ao meio ambiente. Vamos estudar esses princípios?

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PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO

A prevenção é um dos princípios mais importantes do Direito Ambiental e tem seu foco dirigido
ao momento anterior ao da consumação do dano, o potencial risco que a atividade pode gerar ao
meio ambiente, o chamado impacto ambiental.

De acordo com a Resolução CONAMA 001/86, em seu art. 1º, Impacto Ambiental é definido
como

[...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio


ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam: a saúde, a segurança e o
bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais. 1

Diante do fato de que, em grande parte dos casos de danos ambientais, sua reparação pode
ser incerta e muitas vezes impossível ou excessivamente onerosa, a prevenção é sempre a melhor
solução. A degradação ambiental, como regra, é irreparável e os danos colaterais incalculáveis,
como ocorre na extinção de uma espécie ou no desequilíbrio de um determinado sistema ambiental
ou climático.

A prevenção é realizada por meio de estudos, informação e educação ambiental para o


desenvolvimento da consciência ecológica, também denominada conscientização ambiental.

Além disso, o Direito Ambiental prevê instrumentos para o exercício do princípio da


prevenção, tais como o estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e o relatório de impacto ambiental
(RIMA), que são estudos e documentos técnicos cujo objetivo é avaliar os impactos ambientais e
indicar meios de mitigar os danos.

PONTO DE ATENÇÃO

Impacto Ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e


biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a saúde, a
segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota;
as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos
ambientais (Resolução do CONAMA nº 1, de 23 de janeiro de 1986, da Política
Nacional do Meio Ambiente).
1
BRASIL. Resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Brasília: [s.n.], 1986. Disponível em:
http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 21 dez. 2020.

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Para diversos autores a precaução e a prevenção não passam de sinônimos, isto é, princípios
iguais com nomes distintos. Contudo, é cada vez mais admitida a diferença entre ambos. Enquanto
o princípio da precaução evita o mero risco, o princípio da prevenção visa a evitar diretamente o
dano.

Apesar de parecidos, possuem diferentes âmbitos de atuação: na aplicação do princípio da


precaução, não há certeza científica de que a atividade verificada oferece risco de dano ambiental,
mas há essa possibilidade e, portanto, por cautela, medidas devem ser tomadas para evitá-los. Por
exemplo, cuidados na utilização de uma nova tecnologia, da qual as consequências são totalmente
desconhecidas, como em organismos geneticamente modificados.

No caso do princípio da prevenção, existe prévia comprovação científica de que a atividade


a ser desenvolvida gera danos ambientais, portanto devem ser adotadas as cautelas usuais para
mitigação de danos. Por exemplo, a exploração mineradora, da qual os riscos ambientais são
totalmente conhecidos, tanto que a Constituição Federal, em seu art. 225, § 2º, aponta que: “aquele
que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com
solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei”. 2

Percebe-se que na precaução o dano é possível, mas não há comprovação científica de sua
ocorrência e na prevenção a possibilidade de dano é sabida e comprovada, mas, em razão da
necessidade de desenvolvimento sustentável, a atividade é tolerada com a adoção de cautelas para
mitigar e reparar eventuais danos.

Atividades que podem ocasionar importantes impactos ambientais são passíveis de


licenciamento ambiental com a realização do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo
Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). O EIA é o conjunto de pesquisas que se fazem necessárias
para avaliar o impacto ambiental de um determinado empreendimento, e o RIMA é parte integrante
do EIA e tem por finalidade fazer com que conceitos técnicos e científicos sejam acessíveis à
população em geral. 3

Há, para tanto, medidas mitigadoras que devem ser adotadas antes e durante a realização
do projeto, a fim de que ocorra a menor quantidade possível de impactos, o chamado
desenvolvimento sustentável. Além disso, há a possibilidade da adoção de medidas compensatórias,
que são as adotadas após a ocorrência do dano ambiental com o intuito de os impactos serem

2
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Presidência da República, [2020]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 19 dez. 2020.
3
ANTUNES, P. de B. Direito Ambiental. Barueri: Grupo GEN, 2020.

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remediados ou compensados. Para essa finalidade de compensação, há a possibilidade de
destinação ao Fundo de Recuperação do Meio Ambiente, através de medidas que visam à
recuperação de outras áreas que não aquela imediatamente atingida pela ação danosa original.

Assim, por exemplo, a realização de um dano em determinado local poderá gerar a


condenação de medidas compensatórias, como a recuperação de florestas, mananciais e a proteção
de espécies que não sejam imediatamente relacionadas com o local do dano. Isso ocorre em razão
do princípio da ubiquidade ambiental, pois o meio ambiente está presente em todos os lugares e
ocupa todos os aspectos da sociedade humana, exigindo uma atuação globalizada e solidária, para
além das fronteiras políticas e limites territoriais.

PONTO DE ATENÇÃO

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.

§ 1.º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:

IV. exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente


causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade.

Vamos peticionar!

Prontos para começar a praticar?

Inicialmente, qual medida judicial podemos tomar?

No papel da advogada Mariana, vamos propor a medida recursal adequada para reverter a negativa
do juiz ao nosso pedido liminar de cessação imediata dos danos ambientais com a fixação de multa
diária, bem como a estipulação de imediato depósito de dez salários mínimos a título de indenização

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provisória (de natureza alimentar), realizado mensalmente sob pena de penhora de contas da
empresa.

Atue judicialmente propondo a ação que, ao mesmo tempo, possa defender o meio ambiente e
possibilite a reparação dos danos materiais e morais sofridos pelos associados da APPD.

Quanto aos requisitos formais de sua petição, você precisa, antes de tudo, verificar se há alguma lei
específica que regulamente a questão, bem como aplicar as regras gerais previstas no Código de
Processo Civil, ok?

Feito isso, você deverá:

1. Verificar qual o órgão recursal competente para o seu julgamento e para fazer o correto
endereçamento da peça.
Preste atenção, pois alguns recursos, como a Apelação, são interpostos em primeiro grau
perante o juiz da causa. Agora, no caso do Agravo de Instrumento, este é proposto
diretamente no órgão recursal, no Tribunal de Justiça na Justiça estadual e nos Tribunais
Regionais Federais na Justiça federal.
2. Apontar corretamente a qualificação.
3. Apresentar a devida fundamentação legal.
4. Narrar os fatos que embasam o seu pedido.
5. Enumerar os requerimentos e pedidos da petição.
6. Não se tratando de uma petição inicial não é necessário apontar o valor da sua causa, isso
já foi feito.
7. Local, data e assinatura (lembre que você não poderá identificar sua peça com dados além
dos fornecidos).

Agora é com você aluno!

Mãos à obra!

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