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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA - UFJF

Faculdade de Engenharia – Departamento de Transportes e Geotecnia


CURSO DE “GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES E OBRAS DE TERRA” – 1a Parte

GEOTECNIA
DE
FUNDAÇÕES

Prof. M. Marangon
Engenheiro Civil e Geotécnico
Mestre (PUC-Rio) - Doutor (COPPE/UFRJ)

Versão 2018
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO A GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES ............................................. 01

1.1 Conceitos 01
1.2 O projeto de fundações 02
1.3 Escolha do Tipo de Fundações 05
1.4 Previsão e Controle das Fundações 07

2 GEOTECNIA DO SUBSOLO .................................................................................. 15

2.1 Reconhecimento do Subsolo 15


2.2 Formações Geológico-Geotécnicas 16
2.3 Classificação dos Solos 19
2.3.1 Solos “In Situ” ou Residual 22
2.3.2 Solos Transportados (Sedimentares) 26
2.3.3 Outros Solos 33

3 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA E PARÂMETROS PARA FUNDAÇÕES .... 34

3.1 Investigação Geotécnica de Campo 34


3.2 Espaços Disponíveis X Parâmetros Obtidos 34
3.3 Standart Penetration Test - SPT 38
3.4 Apresentação de Exemplos de Perfis de Sondagem 48
3.5 Normalização Sobre a Programação das Sondagens de Simples Reconhecimento dos 64
Solos para Construção de Edifícios
3.6 Estimativa de Parâmetros dos Solos para Fundações 65

4 FUNDAÇÕES DIRETAS ........................................................................................... 72

4.1 Conceitos (Norma 6122 - 2010) 72


4.2 Prescrições e Considerações da Norma 76
4.3 Capacidade de Carga do Solo 82
4.4 Determinação da Capacidade de Carga Admissível (Taxa de Trabalho) 88
4.5 Determinação da Taxa de Trabalho a partir de Prova de Carga 89
4.6 Exemplos de Análise e Dimensionamento Geotécnico 91
4.7 Fundações em Aterros 97
4.8 Reforço de Fundações Diretas 99
4.9 Detalhamento de Sapatas 99

5 FUNDAÇÕES PROFUNDAS .................................................................................... 102

5.1 Classificação das Fundações Profundas 103


5.1.1 Estacas Cravadas com Grande Deslocamento 103
5.1.2 Estacas Cravadas com Pequeno Deslocamento 109
5.1.3 Estacas Escavadas – Sem Deslocamento 111
5.2 Escolha do Tipo de Estaca 126
5.3 Peculiaridade dos Diferentes Tipos de Fundações Profundas 130
5.4 Prescrições e Considerações da Norma 132
6 CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS .......................... 140

6. 1 Determinação da Capacidade de Carga 141


6. 2 Formulação Estática 142
6. 3 Formulação Dinâmica 145
6. 4 Métodos Diretos para Cálculo da Capacidade de Carga por Meio do SPT 149
6.4.1 Método de Meyerhof 149
6.4.2 Método Estatístico de Aoki – Velloso 151
6.4.3 Método Estatístico de Décourt - Quaresma 154
6.4.4 Método P.P. Velloso 158
6.5 Estacas em Rocha 160
6.6 Capacidade Estrutural de Estacas 162
6.7 Exercícios 164
6.8 Efeito de Grupo 168
REFERÊNCIAS

São listadas abaixo as principais referências utilizadas na redação destas “Notas de Aula”.

Velloso, Dirceu A., Lopes, Francisco R. Fundações - Volume Completo.


Editora. Oficina de Textos. 568p.

Norma ABNT NBR-6122/2010. Projeto e execução de Fundações.

Cintra, J. C. A.; Aoki, N. Carga admissível em fundações profundas.


São Carlos: EESC/USP, 1999. 61p.

Cintra, J. C. A.; Aoki, N.; Albieiro, J. H. Tensão admissível em fundações diretas.


RiMa Editora São Carlos, 2003. 134p.

Cintra, J. C. A.; Aoki, N.; Albieiro, J. H. Fundações Diretas. Projeto Geotécnico.


Editora Oficina de Textos, 2011. 140p.

Cintra, J. C. A.; Aoki, N. Fundações por Estacas. Projeto Geotécnico.


Editora Oficina de Textos, 2010. 96p.

Cintra, J. C. A.; Aoki, N.; Tsuha, C. H. C.; Giacheti, H. Fundações Ensaios Estáticos e Dinâmicos.
Editora Oficina de Textos, 2014. 144p.

Hachich, W.; Falconi, F. F.; Saes, J. L.; Frota, R. G. O.; Carvalho, C. S.; Niyama, S. Fundações –
Teoria e Prática. São Paulo: Editora PINI, 1996. 750p.

Alonso, Urbano Rodriguez – Dimensionamento de Fundações Profundas. xercícios de Fundações.


Ed. Edgard Blücher Ltda, 2015. 157p.

Alonso, Urbano Rodriguez – Previsão e Controle das Fundações.


Ed. Edgard Blücher Ltda, 2014. 146p.

Alonso, Urbano Rodriguez – Exercícios de Fundações.


Ed. Edgard Blücher Ltda.

Schnaid. Fernando – Ensaios de Campo e Suas Aplicações à Engenharia de Fundações


Editora Oficina de Textos, 2005

Campos, J. C. Elementos de Fundações em Concreto.


Editora. Oficina de Textos, 2015. 542p.

Gonçalves, C,; Bernardes, G. P.; Neves, L. F. S. Estacas Pré-Fabricadas de Concreto.


Teoria e Prática. Edição Própria. 2007. 590p.

Milititsky, J.; Consoli, N. C.; Schnaid, F. Patologia das Fundações.


Editora Oficina de Textos, 2005. 207p.
Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

Unidade 01
INTRODUÇÃO À GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

1. 1 - Conceitos

Fundações são os elementos estruturais com função de transmitir as cargas da estrutura ao


terreno onde ela se apoia (AZEVEDO, 1988). Assim, as fundações devem ser resistentes para
suportar as tensões causadas pelos esforços solicitantes. Além disto, o solo também necessita de
resistência e rigidez para não sofrer ruptura e não apresentar deformações exageradas ou
diferenciais.

Para se escolher a fundação mais adequada, devem-se conhecer os esforços atuantes sobre
a edificação, as características do solo e dos elementos estruturais que formam as fundações.
Assim, analisa-se a possibilidade de utilizar os vários tipos de fundação, em ordem crescente de
complexidade e custos (WOLLE, 1993).

Fundações bem projetadas correspondem de 3% a 10% do custo total do edifício; porém,


se forem mal concebidas e mal projetadas, podem atingir 5 a 10 vezes o custo da fundação mais
apropriada para o caso (BRITO, 1987)

FUNDAÇÕES: Área interdisciplinar: Geotecnia e Estruturas

“Dois prédios desabam em mesma rua em Muriaé (MG); não houve vítima”.
Tribuna de Minas 01/09/2008
Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

O desenvolvimento de um bom projeto de fundação está muito mais dependente do


domínio e vivência que tenha o projetista na área de solos do que em qualquer outra área de
conhecimento.
Projetar fundações é muito mais do que aplicar corretamente teorias da Mecânica dos
Solos, Concreto Armado,... É sim interpretar e fazer um julgamento crítico a respeito de vários
condicionantes, principalmente os relacionados com a “mãe” natureza, que nem sempre as
teorias lhes apresentam soluções.

Fundações x “Geotecnia”
O primeiro requisito para se abordar qualquer problema de mecânica dos solos é o
conhecimento tão perfeito quanto possível das condições do subsolo, isto é reconhecimento da
disposição, natureza e espessura das suas camadas, assim como das suas características com
relação aos problemas em questão. Este conhecimento implica na prospecção do subsolo e na
amostragem ao longo de seu decurso.

Em toda obra de engenharia, há sempre um parâmetro indefinido marcado pelo solo onde
ela se repousa. Não há como fugir da realidade imposta pela natureza. Assim, somos obrigados a
aceitá-lo como é: com suas qualidades e defeitos; daí o ênfase que se tem dado, na engenharia, às
questões referentes ao solo. (GEOESP, 2018)

1. 2 - O Projeto de Fundações

Reconhecimento do Subsolo: O desafio de construir – acumular carga sobre o solo ?

Figura – Edifícios de grande altura - Cidade do Panamá


Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

Figura – Ponte de grande dimensão – Nova Iorque

Fundações são necessárias para diferentes tipos de obras, que apresentarão naturezas
diferenciadas quanto à forma de transferência de carga. Alguns exemplos:
Casas
Prédios residenciais
Prédios comerciais e Indústriais
Pontes e viadutos
Estações de embarque
Portos
Torres de transmissão
Monumentos
Reservatórios de água
...

É de conhecimento dos profissionais da área que, o solo na sua maioria favorece o uso de
fundações profundas. É sabido que as fundações, sejam elas rasas ou profundas, são elementos
estruturados destinados a transmitir as cargas da estrutura para o solo, mas para quantificar os
parâmetros geométricos destas peças, e para defini-los é necessário o conhecimento o mais
detalhado possível das características do seu subsolo.

Assim, para se escolher a fundação mais adequada, devem-se conhecer os esforços


atuantes sob a edificação, as características do solo e dos elementos estruturais que formam as
fundações. Desta forma, devem ser realizados os seguintes estudos, na sequência:

- Projeto do edifício
- Cálculo das cargas
- Investigação do terreno
- Definição do tipo de fundação
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Sob o ponto de vista estrutural, devem ser analisadas a:

Intensidade de Carga
Natureza da Carga na Estrutura
Natureza da Carga na Fundação
Concepção da Estrutura

Sob o ponto de vista geotécnico, devem ser analisadas a:

Natureza Geotécnica do Terreno


Condicionantes Geotécnicos do Local
Acesso ao Terreno
Viabilidade Técnica de Execução
Viabilidade Econômica de Execução
...

Figura – Grande concentração de edifícios altos em área comercial, na Cidade do Panamá

Sobre diversas questões que envolvem o desenvolvimento de um projeto de fundações,


GEOESP (2018) descreve de uma forma interessante a respeito:

Convencionou-se na prática em relacionar o diâmetro de uma fundação profunda com sua


carga admissível, baseado apenas na capacidade de carga estrutural do elemento de fundação.
Acontece que na maioria dos casos o limitante da capacidade de carga de uma fundação
profunda, não é o elemento estrutural e sim a sua capacidade de transmitir as cargas
solicitantes para o solo, o que se denomina de capacidade de carga geotécnica, onde se
determina a transmissão de carga por atrito lateral, que é determinada pela área de contato do
fuste com o solo e resistência de ponta.

Isto nos leva a concluir que, duas estacas implantadas no mesmo meio e com o mesmo diâmetro,
sendo uma curta e outra profunda, possuem capacidades de carga diferentes. Para quantificar
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os valores de transmissão de carga para o solo, é necessário um conhecimento mínimo das


características do meio a ser implantada a fundação, e para isso, o primeiro passo é a
investigação através de uma sondagem a percussão.

Um projeto de fundação não consiste única e exclusivamente no conhecimento da carga que o


pilar descarrega na fundação, e a simples divisão destes valores pela carga de trabalho
estrutural da fundação, para se determinar a quantidade de estaca necessária. Consiste
efetivamente na determinação de um comprimento mínimo e sua secção transversal, capaz de
transmitir as cargas solicitantes para o solo, e para isso é necessário a investigação do subsolo.

Atualmente, o custo de uma sondagem equivale, no máximo, a 2% do valor a ser investido na


construção, irrisório frente à garantia, economia e segurança que representa para a obra.
Portanto, é aconselhável para maior segurança e economia, a execução de uma sondagem.

O custo deste serviço será rapidamente revertido em benefício da obra, e na economia que
obterá no dimensionamento do projeto de fundação, evitando desta forma o desperdício de
material, pelo super dimensionamento, por não conhecer as condições do subsolo.

1. 3 - Escolha do Tipo de Fundações

Fundações: Escolha do Tipo de Solução:

Segundo Nuernberg (2018), incertezas estão presentes em todo o canteiro de obra, até
mesmo em construções com alto nível de planejamento. No caso da fundação de uma edificação
o cuidado na decisão deve ser ainda maior.
Ainda segundo este autor, logo que um construtor inicia o projeto de sua obra, ele se
depara com uma das decisões mais impactante do seu empreendimento: definir qual tipo de
fundação irá executar para sustentar sua edificação. Ainda mais desafiante que optar por um ou
outro método, é lidar com a possível carência de conhecimento técnico do proprietário da obra,
em que muitas vezes culmina na total “terceirização” da tomada de decisão ao projetista ou aos
fornecedores que executam o serviço. Todavia, a inexistência de discussões sobre o tema pode
ocasionar indesejados custos ou até mesmo problemas à edificação.

A figura a seguir apresentada ilustra os principais tipos de fundações.


Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

Fundações Superficiais ou Diretas Fundações Profundas

Figura - Principais tipos de fundações. Superficiais: bloco, sapata, viga e radier, Profundas: estacas metálicas,
pré-moldadas, moldadas “in situ”, escavadas - tubulões.

A escolha do tipo de fundação adequada depende de estudos das características do solo,


da existência de lençóis freáticos, das edificações vizinhas, custos, dos esforços atuantes sobre a
edificação, dos materiais disponíveis e elementos estruturais da fundação.

Uma obra executada sem o conhecimento prévio do subsolo implica na adoção de uma
fundação que nem sempre é a que melhor se adapta a ela tecnicamente e economicamente, o que
poderá trazer sérios problemas em curto prazo, tanto para a obra como para o responsável
técnico.

Figura – Fundação direta executada, em sapatas isoladas, com “cintamento” sob paredes da
edificação e posterior execução de “contra piso”
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Figura – Fundação profunda em estacas do tipo metálica – Perfis “H” ou “I”

Figura – Execução de fundação em tubulão à céu aberto, em obra de Shopping Center estudado
nesta disciplina de “Geotecnia de Fundações e Obras de Terra”

1. 4 - Previsão e Controle das Fundações

Alguns conceitos importantes sobre Previsão e Controle de Fundações são apresentados


por Urbano Rodriguez Alonso, transcritos a seguir. Alonso (1991)

Aspectos Gerais:
As fundações como qualquer outra parte de uma estrutura, devem ser projetadas e
executadas para garantir, sob ação das cargas em serviço, as condições mínimas demonstradas
a seguir:
a) Segurança, isto é, atender aos coeficientes de segurança contra a ruptura, fixados
pelas normas técnicas, tanto no que diz respeito às resistências dos elementos estruturais que as
compõem, quanto às do solo que lhe dá suporte.
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Figura – Garantias mínimas de uma Fundação (Alonso, 1991)

b) Funcionabilidade, garantindo deslocamentos compatíveis com o tipo e a finalidade a


que se destina a estrutura. Os recalques (deslocamentos verticais descendentes) devem ser
estimados, na fase de projeto, num trabalho conjunto entre as equipes que calculam a estrutura e
a fundação. As reações, para o cálculo das fundações, fornecidas pela primeira equipe, são usadas
como ações pela segunda, que deverá, também, estimar os recalques correspondentes. Se os
valores desses recalques não estiverem dentro da ordem de grandeza daquelas inicialmente
fixados pela equipe de cálculo da estrutura, deverá ser feita ema reavaliação das cargas impondo-
se estes novos recalques. O confronto e ajuste
entre esses valores (recalques prefixados pela equipe de fundações a partir dessas cargas) é que
se denomina interação solo-estrutura.

c) Durabilidade, apresentando a vida útil, no mínimo igual ao da estrutura. Nesse


aspecto, torna-se necessário um estudo minucioso das variações das resistências dos materiais
constituintes das fundações, do solo e das cargas atuantes, ao longo do tempo.

A maneira como são atendidas as condicões acima irá refletir-se desempenho da fundação
(Fig.). O bom desempenho está intimamente ligada ao controle e à garantia d qualidade mpostos
pelas equipes envolvidas com o projeto e a execução da fundação.
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Figura – Desempenho de uma Fundação e sua consequências (Adaptado de Alonso, 1991)

Garantia da Qualidade

Segundo a International Standards Organization (ISO), define-se garantia da qualidade ao


conjunto de ações planejadas e sistemáticas necessárias para prover confiança adequada de que
os produtos, processos e serviços satisfarão determinados requisitos de qualidade.

A qualidade nada mais é do que a adequação ao uso, isto é, a propriedade que permite
avaliar e, consequentemente, aprovar, aceitar ou recusar qualquer serviço ou produto. É,
portanto, um conceito relativo, que varia com o tempo, seja em decorrência da descoberta de
novas tecnologias, seja em função dos custos envolvidos ou outros aspectos da questão. Segundo
Velloso (1990), a garantia da qualidade tem uma função pedagógica, que deve se estender a toda
a empresa, desde o topo da direção até o mis subalterno servidor, sendo a ignorância o maior
inimigo da qualidade e a burocracia o maoir inimigo
da garantia da qualidade. Além disso, só pode controlar aquilo que se pode verificar e só se pode
exigir o que se pode controlar.

Ainda segundo Velloso, do ponto de vista de aua aplicabilidade, a garantia da qualidade


requer certo número de precondições:

a) A qualidade a ser obtida deve ser claramente definida;


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b) Os procedimentos de garantia da qualidade devem ser definidos claramente e integrados no


organograma para planejamento, projeto e execução;
c) Os procedimentos da garantia da qualidade devem ser executados e os resultados devem ser
documentados;
d) Se o controle continuado provar que a qualidade não é obtida, o programa deve ser
redirecionado no sentido de identificar os pontos de deficiência e elimina-los, através de nova
metodologia de trabalho, treinamento, substituição de profissionais inadequados às funções
que exercem etc.

Concluindo, Velloso enfatiza que, especificamente em fundações, o cumprimento dos


formalismos da garantia da qualidade não significa que o bom desempenho esteja assegurado, pis
um aspecto que diferencia um projeto de estrutura de um projeto de fundações é que, no
primeiro, as características dos materiais de construção são definidos pelo projetista e, no
segundo, se trabalha com o solo, que é um material não fabricado pelo homem. Nesse
aspecto da questão, nada substitui a competência e a experiência do projetista. Pouco adianta
realizarmos ensaios sofisticados e, depois, utilizarmos métodos de cálculo, também sofisticados,
se as amostras utilizadas foram retiradas sem os necessários cuidados, como se mostra na Figura,
extraída da revista Ground Engineering, maio de 1984.

Figura – Um aspecto importante em Fundações (Alonso, 1991)


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Tripé em Fundações

Uma boa Fundação é aquela que tem como apoio um tripé harmonioso, constituído pelo
projeto, pela execução e pelo controle (Figura), conforme Alonso (1991).

Figura – Tripé da Boa Fundação (adaptado de Alonso, 1991)

No projeto, seleciona-se o tipo (ou tipos) de fundações a empregar, em função das


características geotécnicas do local, das grandezas das cargas, da responsabilidade da obra e
outros. É nesta fase que se definem os métodos construtivos e se fazem as previsões que darão
suporte às equipes de execução e de controle. O projetista da fundação deve ter sempre em
vista a forma como seu projeto será executado, levando em conta a disponibilidade de
equipamentos e a segurança dos vizinhos. Fica, portanto, claro que nessa fase há um
envolvimento intenso entre a equipe de projeto propriamente dita com a equipe de execução. A
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primeira busca de soluções, tendo em vista os conhecimentos de Mecânica dos Solos e


Resistência dos Materiais e a segunda, complementa esses conhecimentos com aspectos
diferentes às limitações dos equipamentos que serão envolvidos, as limitações de acesso, o
estado de construções limítrofes e outros aspectos inerentes aos métodos executivos. É por essa
razão que duas estruturas com a mesma arquitetura, mesmos materiais e mesmas cargas
não são, necessariamente, iguais quando se trata de suas fundações. Em fundações, é
perigoso generalizar-se. Cada caso é um caso, que requer um estudo próprio que considere
todas suas condicionantes e dados disponíveis. Nesse particular, até por exigência da norma
NBR 6122, não se deve elaborar qualquer projeto de fundações sem que a natureza do subsolo
seja conhecida, através de ensaios geotécnicos de campo, tais como sondagens de simples
reconhecimento, ensaios de penetração estática, provas de cargas em protótipos etc. Se a
fundação está sendo projetada em região ainda não totalmente conhecida, o conhecimento da
natureza do subsolo deve ser complementado por estudos de Geologia de Engenharia. É
importante lembrar que, em fundações, os ensaios de campo são mais recomendáveis que
os de laboratório, pois estes dependem essencialmente da qualidade das amostras,
conforme já se mencionou.

Durante a execução, as equipes envolvidas seguem, basicamente, o método executivo na


fase do projeto. Na interface projeto-execução situa-se o controle da qualidade da fundação, que
deverá aferir as previsões feitas, adaptando a execução às mesmas ou fornecendo subsídios ao
projeto para reavaliação.

É importante lembrar frisar que um projeto de fundações só é concluído ao término da


execução das mesmas, pois, como já dito anteriormente, trabalha-se com o solo, que não é um
material fabricado pelo homem. Esse material tem todas as nuances impostas pela natureza.
Além disso, sua capacidade de carga e suas características de deformabilidade são normalmente
afetadas pelo método executivo.

Uma outra característica das fundações, é que as mesmas ficam enterradas e, portanto,
não é possível inspeciona-las facilmente após sua conclusão, como acontece com outros
elementos da estrutura (pilares, vigas, alvenaria, etc). É por essa razão que a eficiência e a
competência das equipes envolvidas com projetos, execução e o controle são de primordial
importância para um bom desempenho da fundação.
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Nesse aspecto, volta-se a lembrar de que só é válido controlar aquilo que se prevê.
Controle sem previsão não tem sentido! Fazer controles do tipo: anotar se a cota de implantação
da fundação está igual ao projetado, se o tempo da obra estava bom ou com chuvas, se o
equipamento teve ou não problemas etc., não são mais do que registros de eventos. O controle é
muito mais abrangente, é um acompanhamento, passo a passo, daquilo que se previu durante o
projeto. Sua finalidade básica é detectar, o mais rapidamente possível, fatos que permitem
concluir se o projeto que está sendo executado atende ou não às premissas do projeto e, neste
caso, disparar todo o processo para readaptação do mesmo. Não confundir controle fundação
com registros de eventos da fundação.

Etapas do Controle durante a Execução

O controle durante a execução de uma fundação deve ser exercido em três frentes
distintas, conforme figura apresentada.

Figura – Etapas do controle de qualidade em fundações. (Alonso, 1991)

Frente 1: O controle do material ou dos materiais que comporão os elementos estruturais


da fundação, tanto no que diz respeito à sua seleção, quanto às suas resistências, sua integridade
estrutural e sua durabilidade.

Frente 2: Controle da capacidade de carga do binômio solo–fundação. Esse controle deve


ser exercido durante a fase de instalação dos elementos estruturais que comporão a fundação. Se
não for possível, como acontece, por exemplo, nas fundações “concretadas in loco”, onde se
requer um tempo mínimo para a cura do concreto, deve-se lançar mão de recursos (por exemplo,
usar cimento de alta resistência inicial, ou aditivos aceleradores de resistência) que permitam
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abreviar o tempo decorrido entre a confecção da fundação e seu controle da capacidade de carga.
Nesse controle deve ser escolhido e testado um número significativo de elementos para permitir a
extrapolação de seus resultados a toda à fundação.

Frente 3: Observação do comportamento da fundação, à medida que esta vai sendo


carregada pela estrutura. Para isso deve-se estabelecer um período mínimo de observação, a ser
fixado em função da finalidade da construção. Para esse controle, são necessárias medidas de
recalques e de cargas reais atuantes na fundação. Infelizmente, essa etapa de controle tem sido
negligenciada nas obras correntes (prédios e pontes), sendo realizada em poucas obras e, mesmo
assim, de maneira incompleta, visto que, normalmente, medem-se recalques, mas não as cargas
reais que atuam na fundação. Essas são estimadas a partir dos desenhos de cargas, cujos valores
são teóricos e não, necessariamente, reais.

Ao se atender a essas três frente de controle da qualidade da fundação é possível conhecer


o grau de confiabilidade dos serviços executados, permitindo a emissão de documentos técnicos
de garantia da qualidade. A emissão formal desses documentos de controle poderá ser delegada a
órgãos reconhecidos junto à comunidade técnica ou aos responsáveis diretos pelos serviços.
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Unidade 02
GEOTECNIA DO SUBSOLO

Introdução:

O estudo do solo é um requisito prévio para o projeto de qualquer obra, sobretudo as de


grande porte (obras de arte, edifícios, cortes, aterros, etc..). O conhecimento da formação
geológica do local, o estudo das rochas, solos e minerais, bem como a verificação da presença e
posicionamento do lençol freático, são fatores fundamentais. Como se sabe, em se tratando de
solos e rochas, a heterogeneidade é a regra e a homogeneidade a exceção. Os estudos são, pois
indispensáveis para se alcançar uma boa engenharia, ou seja, aquela que garante a necessária
condição de segurança e economia. (GEOESP, 2018)

2. 1 - Reconhecimento do Subsolo

Para fins de Fundações de Edifícios

A escolha do tipo de fundação é responsabilidade do engenheiro projetista e é feita


baseada nas informações geotécnicas, as quais devem fornecer dados sobre o terreno de
fundação.
O método mais comum para investigação geotécnica do subsolo de fundações de edifícios
é o de sondagem à percussão com circulação de água, acompanhado pelo ensaio normalizado de
penetração (SPT) ou sondagem de simples reconhecimento do solo (Normas ABNT). Este
método fornece um perfil com descrição das camadas do solo e a resistência oferecida por elas à
penetração de um amostrador normalizado. Pode fornecer, ainda, a profundidade do nível de
água estático.

Vista de um tripe de sondagem: Investigação do subsolo para a furura construção de fundações de


estrutura de cobertura de quadras poliesportivas no campus da UFJF.

15
Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

Quando a fundação é rochosa, ou parcialmente rochosa, usa-se outro método de


sondagem, a sondagem rotativa com broca de diamante e extração de testemunho de sondagem.
A rocha amostrada é descrita e avaliada quanto à resistência.

Em casas ou construções que aplicam baixa tensão sobre o solo (fundações diretas – por
meio de sapatas), muitas vezes não são realizadas sondagens à percussão. Pode-se executar uma
sondagem de reconhecimento com o auxílio de um trado, sendo válido, neste caso, a experiência
do Engenheiro responsável, ou mesmo construtor, para estabelecer até onde deve ir a escavação
para ser colocada a fundação classificada como direta. A experiência é reforçada pelo
conhecimento dos solos da região, com a devida atenção para as diversas condições geotécnicas
desfavoráveis para fundações diretas, conforme ilustrado na figura a seguir.

Condições geotécnicas desfavoráveis para fundações diretas.

2. 2 – Formações Geológicas-Geotécnicas

O solo deve ser considerado sob o aspecto de ente natural e, como tal é tratado pelas
ciências que estudam a natureza, como a geologia, a pedologia e a geomorfologia.

Uma boa introdução sobre o assunto voltada para a área de Engenharia Civil, é
apresentada pelo Prof. Milton Vargas (1978). Outra boa abordagem sobre o assunto
principalmente no que se refere as diferentes formações geológicas dos solos deve-se a Salomão
e Antunes (1998), sendo ambas referências bibliográficas utilizadas na redação deste subitem.

16
Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

Vista aérea (1994) de uma “obra de terra” - Construção de um grande aterro nas proximidades
de uma das cabeçeiras do Aeroporto de Juiz de Fora, que utilizou apenas solo como material de
construção. Observe a coloração diferenciada do solo cortado, mostrando o contorno da antiga rocha ali
existente, que se intemperizou, transformando-se em solo.

A palavra solo não tem um significado intuitivo imediato. Em português clássico, o termo
solo significa tão somente a superfície do chão, sendo o significado original da palavra herdada
do latim “solum”.

Agricultura Diferentes conceitos.


Geologia Adquire significados específicos de acordo com a finalidade.
Enga Civil

No campo específico da agricultura, solo é a camada de terra tratável, geralmente de


poucos metros de espessura, que suporta as raízes das plantas.
Na geologia o termo adquire um significado já abordado no capítulo anterior, qual seja:
Produto do intemperismo físico e químico das rochas, situado na parte superficial do manto de
intemperismo. Constitui-se de material rochoso decomposto.

Com a finalidade específica da Engenharia Civil, portanto, os termos solo e rocha


poderiam ser definidos, considerando-se o solo como todo o material da crosta terrestre que não
oferecesse resistência intransponível à escavação mecânica e que perdesse totalmente toda
resistência, quando em contato prolongado com a água; e rocha, aquele cuja resistência ao
desmonte, além de ser permanente, a não ser quando em processo geológico de decomposição,
só fosse vencida por meio de explosivos.

Portanto, sob um ponto de vista puramente técnico, aplica-se o termo solo a materiais da
crosta terrestre que servem de suporte, são arrimados, escavados ou perfurados e utilizados nas
obras da Engenharia Civil. Tais materiais, por sua vez, reagem sob as fundações e atuam
sobre os arrimos e coberturas, deformam-se e resistem a esforços nos aterros e taludes,
influenciando as obras segundo suas propriedades e comportamentos. O estudo teórico e a
verificação prática dessas propriedades e atuação é que constituem a Mecânica dos Solos. É essa
última, portanto, um ramo da Mecânica, aplicada a um material preexistente na natureza.
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Origem e Constituição:

Mecanismo de formação dos solos

(processo físico-químico de
fragmentação e decomposição
das rochas, transporte
e evolução pedogênica).

1o Estágio: Expansão e contração térmica, alternadas das rochas sãs.


Fraturamento mecânico
Decomposição química, transformando os fragmentos em argilas/areia.
Percolação de água e crescimento de raízes de plantas nas fissuras das
rochas.
Surgem grandes blocos a pequenos fragmentos.

2o Estágio: Alteração química das espécies minerais.


Ataque pela água acidulada, ácidos orgânicos, oxidação ....
Decomposição química, transformando os fragmentos em argilas/areia.

3o Estágio: Transporte por agente qualquer, para local diferente ao da transformação.


(Pode ou não ocorrer)
Formação dos “solos transportados” ou “sedimentares”.

4o Estágio: Evolução pedogênica


Processos físico-químico e biológicos
Lixiviação do horizonte superficial com concentração de partículas
coloidais (menores) no horizonte profundo. Impregnação com húmus (matéria
orgânica) do horizonte superficial.

Exs.: Processo de formação.

No caso da rocha madre ser por exemplo, um basalto em clima tropical (Brasil), de
invernos secos e verões úmidos, a decomposição se faz, principalmente, pelo ataque químico das
águas aciduladas aos plagioclásios e outros elementos melanocráticos, dando como resultado
predominantemente argilas. Não apareceria neste solo a fração areia, pois o basalto não contém
quartzo, mas aparecem, em pequenas porcentagens, grãos de óxidos de ferro, muitas vezes sob a
forma de magnetita. É o caso da terra roxa, do interior Centro-Sul do Brasil, que é
predominantemente uma argila vermelha.

Os arenitos, das formações sedimentares brasileiras dão origem a um solo essencialmente


arenoso, pois não existem feldspatos ou micas em sua composição. O elemento que altera é o
cimento que aglutina os grãos de quartzo. Quando esse cimento é silicoso - forma-se um solo
residual extremamente arenoso. Quando o cimento é argiloso aparece no solo residual de arenito
uma pequena porcentagem de argila.
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2. 3 – Classificação dos Solos

Registros Fotográficos: Amostragem para classificação dos solos em laboratório ou campo

a) Coleta em uma jazida a ser ensaiada para ser utilizada como material de construção.
b) Coleta em um subleito de futura Avenida em São Pedro, próximo a UFJF.
c) Investigação do subsolo através de sondagem, com amostragem para avaliação das características e
classificação de diferentes horizontes de solo (classificação em sondagem – no campo).

a) - Quanto a Textura ou Granulometria:

Sabe-se que o comportamento dos solos está de certo modo ligado ao tamanho das
partículas que os compõem. De acordo com a granulometria, os solos são classificados nos
seguintes tipos, de acordo com o tamanho decrescente dos grãos:

a) Pedregulhos ou cascalho b) Areias - Grossas, Médias e Finas c) Siltes d) Argilas

Na natureza, raramente um solo é do tipo “puro”, isto é, constituído na sua totalidade de


uma única granulometria - diâmetro fixado em escalas como as apresentadas a seguir. Dessa
maneira, o comum é o solo apresentar certa porcentagem de areia, de silte, de argila, de cascalho,
etc.

2mm 0,06mm 0,002mm


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Segundo a NBR 6502/05 tem-se quanto à textura:


Pedregulhos grossos tem grãos compreendidos entre 20,0 e 60,0 mm;
Pedregulhos médios tem grãos compreendidos entre 6,0 e 20,0 mm;
Pedregulhos finos tem grãos compreendidos entre 2,0 e 6,0 mm.
Areias grossas: tem grãos compreendidos entre 0,60 mm e 2,0 mm;
Areias médias: tem grãos compreendidos entre 0,20 mm e 0,60 mm;
Areias finas: tem grãos compreendidos entre 0,06 mm e 0,20 mm.

A NBR 6502/05 apresenta inicialmente a terminologia para a designação relativa às


rochas, de interesse na geotecnia, a saber:
Bloco de Rocha: fragmento de rocha com diâmetro ( ) > 1 m;
Matacão: entre 20 e 100 cm;
Pedra ou Pedra-de-mão: entre 6 cm e 20 cm

Características das Frações:

Areia: A espécie mineralógica é, comumente, o quartzo. Mineral inerte, não se


decompondo na presença da água.
Argila: As pesquisas em argilas revelam, que elas são constituídas de pequeníssimos
minerais cristalinos, chamados minerais argílicos, dentre os quais destinguem-se três
grupos principais: caolinitas, montmorilonitas e ilitas.

Qualitativamente, a consistência de uma argila é avaliada como:


Muito mole, se escorre entre os dedos, quando apertada nas mãos;
Mole, se pode ser facilmente moldada pelos dedos;
Média, se pode ser moldada pelos dedos;
Rija, se requer grande esforço para ser moldada pelos dedos;
Dura, se não pode ser moldada, e quando submetida à grande esforço, desagrega-
se ou perde a estrutura original.

Observe-se que a consistência depende do teor de umidade do solo.

Características básicas dos Solos: (em função da granulometria)

Solo argiloso : Presença de coesão (atração das partículas - interação físico-química),


propriedade responsável pela resistência à ruptura destes solos.
Comportamento plástico (se deixam moldar em diferentes formas)
Solo siltoso: São solos de granulação fina que apresentam pouca ou nenhuma
plasticidade. Um torrão de silte seco ao ar pode ser desfeito com bastante
facilidade
Solo arenoso: Comportamento depende apenas da sua granulometria, não importando sua
constituição mineralógica.
Não apresenta coesão, sua resistência à ruptura se dá apenas por atrito entre
suas partículas.

Como exemplo de um solo predominantemente arenoso, e que apresenta uma


porcentagem de argila variável é o conhecido saibro, solo largamente utilizado na construção
civil para confecção de massa de reboco e emboço de alvenaria, construção de pavimento de
estradas... Abaixo são mostrados exemplos de composição (granulometria) de dois saibros de
jazidas de Juiz de Fora, em %.
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Jazida Pedregulho Areia Silte Argila


Linhares 0.2 90.7 2.8 6.3
Milho Branco 0.3 70.1 17.3 12.3

Nomeclatura:

Tendo-se como referência a granulometria atribui-se a nomenclatura baseado na


predominância de uma fração ou na conjunção de diferentes frações granulométricas.
Exemplos: Pedregulhoso, arenoso, siltoso, argiloso ou argilo-arenoso % argila
% areia

Ex.: Formação de um solo com a rocha mãe sendo o granito


GRANITO Rocha
M.E. (Feldspatos, Muscovita, Biotita e Quartzo)
Silicato de Silicato Hidratado de Silica
Al e K Al e K Al,K,Fe e Mg
Intemperismo
Minerais Grãos Minerais Material
Argílicos (Palhetas) Argílicos Granular (areia)

SOLO Tamanhos de Grãos diferentes


ARENO-ARGILOSO
M. A. (Zircão e Apatita)

Obs. M. E. = Minerais Essenciais e M. A. Minerais Acessórios

Registros Fotográficos: Ensaios para determinação de granulometria e posterior


classificação de amostras de solo, em laboratório.

a) Diversas amostras em pátio (UFJF) de secagem ao ar, a serem ensaiadas.


b) Tigelas esmaltadas com solo lavado, submetido ao ensaio de granulometria.
c) Laboratoristas operando equipamentos, realizando anotações e cálculos de ensaios de laboratório.
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b - Quanto a Origem de Seus Constituintes: (Genética - Formação Geológica)

Quando o solo, produto do processo de “decomposição” das rochas permanece no próprio


local em que se deu o fenômeno, ele se chama “residual”. Quando em seguida é carregado pela
água das enxurradas ou rios, pelo vento ou pela gravidade - ou por vários desses agentes
simultaneamente - ele é dito “transportado” ou “sedimentar”. Existem outras designações (tipos)
de solos. Há aqueles nos quais aparecem elementos de decomposição orgânica que se misturam
ao solo transportado, existem os solos provenientes de uma evolução pedogênica, tais como os
solos superficiais que suportam as raízes das plantas ou os solos “porosos” dos países tropicais.
Basicamente podem serem estabelecidos as seguintes formações:

2. 3. 1 – Solos in situ ou Residual


2. 3. 2 – Solos Transportados (Sedimentares)
coluviões - gravidade
tálus - gravidade (água)
aluviões - água
terraços fluviais - água
sedimentos marinhos
eólicos - vento
2. 3. 3 – Outros Solos
Orgânicos
Turfas
Pedogênicos (lateríticos)

No desenvolvimento do projeto de fundações é importante que o profissional Engenheiro


identifique claramente em que tipo de formação geológico-geotécnica será implantado o projeto.
Esta compreenção contribue muito para o desenvolvimento de um projeto efetivamente adequado
às particularidades geotécnicas que se apresentam. Assim, cada uma das formações acima
descritas serão abordadas nos itens seguintes.

2. 3. 1 - Solos in situ ou Residual:

Salomão e Antunes (1998) descrevem estas formações como segue.


“Os solos formados a partir da decomposição das rochas pelo intemperismo, seja
químico, seja físico, ou combinação de ambos, e que permaneçam no local onde foram
formados, sem sofrer qualquer tipo de transporte, são denominados solos residuais. A natureza
desses solos, ou seja, sua composição mineralógica e granulométrica, estrutura e espessura,
dependem do clima, relevo, tempo e tipo de rocha de origem. Assim, em regiões do clima
tropical, como na maior parte do Brasil, o manto de solo residual, formado pela decomposição
das rochas com predomínio do intemperismo químico, apresenta, quase sempre, espessura da
ordem de dezenas de metros, enquanto que, em regiões com predomínio de clima temperado,
este manto tem espessura normalmente de poucos metros.
A natureza e a espessura do manto de intemperismo de solos residuais têm grande
importância na Geologia de Engenharia. Mantos de solos residuais muito espessos podem, por
exemplo, impossibilitar a fundação de obras hidráulicas de concreto sobre o maciço de rocha
sã, que se encontra a grandes profundidades, obrigando que estas fiquem apoiadas em solos
residuais. Vários desses casos de obras antigas e recentes, com fundações de solos residuais,
são encontradas no Brasil.”

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Subdivididos, conforme a zona de intensidade de intemperismo, em horizontes que,


geralmente, se organizam da superfície para o mais profundo, mas que, eventualmente, podem
estar ausentes, num perfil de solo residual. Por outro lado a transição entre um horizonte e outro
é gradativa, de forma que a separação entre dois deles pode ser arbitrária.

Perfil de Intemperismo:

O perfil acima, à direita (dados reais obtidos em uma boletim de sondagem) evidencia a
ocorrência de solo do tipo residual.
Observe a ocorrência de um horizonte de argila avermelhada sobre um horizonte de silte
arenoso róseo. Abaixo deste é identificada na sondagem um solo de alteração sobre alterada,
fraturada até sã.
Fenômeno de erosão
contribuindo para o
desmoronamento de
grandes volumes de solo
permitindo-nos visualizar
um horizonte (mais
superficial) de solo
orgânico sobre um
horizonte quase que
inexistentes de solo
residual maduro, seguido
abaixo de horizonte
considerável de solo
jovem - saprolito.
Observe as “manchas”
claras evidenciando a
decomposição das
concetrações de
determinados minerais
provenientes da rocha de
origem.
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Solo residual maduro - superficial ou inferior a um horizonte “poroso” ou “húmico”. É a


situação em que o solo perdeu toda a estrutura original da rocha-madre e tornou-se relativamente
homogêneo.

Solo Residual Jovem - Situação em que


o solo mantém a estrutura original da rocha-
madre, inclusive veios intrusivos, fissuras,
xistosidade e camadas, mas perdeu totalmente
sua consistência. À vista pode confundir-se
com uma rocha alterada, porém, pela pressão
dos dedos, desintegra-se completamente.
(observe a foto ao lado).
Também é denominada saprolito ou
saprólito.

Solo de alteração de rocha - Material proveniente da alteração de rochas “in situ”, que se
encontra em estágio avançado de desintegração. Possui a estrutura original da rocha e a ela se
assemelha em todos os aspectos visuais perceptíveis, salvo na coloração. Sua constituição é
variável, mostrando o conjunto em geral, anisotropia ou heterogeneidade acentuada, decorrente
da presença de núcleos de material consistente entremeados a uma massa com características de
solo. É descrita pela textura, plasticidade e consistência ou compacidade, com indicação do
grau de alteração e, se possível, rocha de origem.

Obs.: Blocos em material alterado - é o horizonte em que a alteração progrediu ao longo


de fraturas ou zonas de menor resistência, deixando relativamente intactos grandes blocos da
rocha original envolvidos por solo de alteração de rocha (pode ou não ocorrer).

As imagens abaixo ilustram a ocorrência de solo residual (em corte realizado, expondo
os materiais). Observe na foto à esquerda a ocorência de solo residual maduro e jovem e
na foto à direita o aspecto dos solos sobre material (solo) de alteração e este sobre rocha
alterada. Abaixo deste material identificou-se (não mostrada na foto) a ocorrência de
rocha fraturada e abaixo praticamente sã (com poucas fraturas).

Corte em rodovia Muriaé – Limeira


Corte na Rua Dr.
Romualdo – J. Fora/MG

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Exemplo de subsolo
interpretado a partir
da representação de 3
furos de sondagens
alinhados (“terreno”
de formação residual
após terraplenagem –
remoção da formação
argilosa e execução de
aterro)

** Exemplo de boletim de sondagem à percussão de ocorrência residual. Observe os


dados indicativos (diferentes horizontes) ao longo do perfil que evidenciam a formação
geológica abordada neste subitem.

* Local de ocorrência – Região correspondente


a parte elevada de uma encosta (mais
próximo do seu “cume”) ;

* Camadas sobreposta de argila, silte(com areia


fina) e silte com alteração

* Valores de SPT crescentes

* Presença de solo residual jovem (destacado


com boletim entre parênteses (“solo
residual”) – solo saprolítico

* Presença do impenetrável na sequência do


aumento da compacidade da camada
residual jovem

* Cores do horizonte superior em tom amarelo e


horizonte inferior “variegado”

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2. 3. 2 - Solos Transportados (Sedimentares):

Antunes descreve estas formações como segue.


“Os solos transportados são os que sofreram transporte por agentes geológicos do local
onde se originaram até o local onde foram depositados, não tendo ainda sofrido consolidação.
Assim como os solos residuais, a maioria dos solos transportados, inconsolidados, se
formaram a partir do Cenozóico (era geológica), podendo estar, ainda, em processo de
formação.
Os solos transportados têm grande importância em Geologia de Engenharia. Apenas
para citar alguns exemplos, estes podem ser excelentes fontes de materiais naturais de
construção. Entretanto, podem constituir fundações problemáticas para muitas obras de
engenharia e, em certos casos, causar problemas de estabilidade de taludes de cortee encostas
naturais.”
Algumas formas de ocorrência dos principais tipos de solos transportados e sua inter-
relação com os solos residuais estão apresentados a seguir.

Classificam-se segundo o agente de transporte:

a) - Solos Coluviais:

Coluviões

Salomão e Antunes (1998) descrevem estas formações como segue.


“Os coluviões são depósitos de materiais incosolidados, normalmente encontrados
recobrindo encostas íngremes, formados principalmente pela gravidade e também pela água.
Estes coluviões constituem depósitos compostos por misturas de solo e blocos de rocha
pequenos (15-20 cm), sendo normalmente encontrados recobrindo encostas de serras, como a
Serra do Mar. Estes materiais têm como característica importante sua baixa resistência ao
cisalhamento, podendo apresentar movimentos lentos como o rastejo (creep) e sendo,
freqüentemente, envolvidos pela maioria dos escorregamentos das encostas destas regiões.
Estes solos são compostos predominantemente por materiais bastante homogêneos, com
granulometria mais fina, tais como areias argilosas e argilas arenosas. Sua espessura é bastante
variável, de apenas 0,5m até 15-20m. Uma das características importantes destes solos é
apresentar, freqüentemente, estrutura porosa, baixos valores de SPT (1 a 6 golpes) e colapso de
estruturas, quando submetidos a saturação e ao carregamento.”

Transporte e sedimentação por um agente transportador:


Desde a simples gravidade, que faz cair as massas de solo e rocha ao longo dos taludes,
até um enxurrada, por exemplo, que carreia o material constituinte dos solos residuais.

Nas escarpas abruptas, como as da Serra do Mar, os mantos de solo residual com blocos
de rocha podem escorregar, sob a ação de seu próprio peso, durante chuvas violentas, indo
acumular-se ao pé do talude em depósito de material detrítico, geralmente fofo, formando os
“talus”.

Tálus

Salomão e Antunes (1998) descrevem estas formações como segue.


“Tálus são depósitos formados pela ação da água e, principalmente, da gravidade,
compostos predominantemente por blocos de rocha de variados tamanhos, em geral,
arredondados, envolvidos ou não por matriz areno-silto-argilosa, freqüentemente saturada.
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Estes depósitos podem ter variadas dimensões, ocorrendo, ao contrário dos coluviões, de forma
localizada, com morfologia própria, ocupando os sopés das encostas de relevos acidentados
como serras, escarpas, etc. Os tálus também podem apresentar movimentos como o rastejo, que
podem se alterar caso tenham seu frágio equilíbrio alterado, como, por exemplo, por um talude
de corte.
Em vista disto são depósitos quase sempre problemáticos e de difícil contenção quando
estáveis.
Depósitos de tálus mais antigos, provavelmente de idade terciária, apresentam quase
sempre a matriz laterizada, sendo, nestes casos, depósitos mais consolidados, sem nível d’água e
mais estáveis.”

Assim, tem-se que os “talus” são sujeitos a movimento de rastejo (expansões e contrações
periódicas, pelo efeito de temperatura, que resultam num lento movimento talude abaixo). Esse é
o transporte por gravidade ou coluvial. Mas, nem todo transporte coluvial é tão “violento”,
muitas vezes uma topografia suavemente ondulada é o resultado de erosão no topo dos morros de
solo residual profundamente alterado e deposição coluvial nos vales. Esse é o caso do planalto
brasileiro, onde ocorrem camadas recentes de solo coluvial fino sobre solo residual de material
semelhante.

OBS: a gravidade não forma o solo, ela já estava formado, sendo apenas transportado.

O perfil acima, na extremidade sul do túnel da “Lagoinha”, em Belo Horizonte,


exemplifica uma situação de ocorrência de solo columionar acima de um solo residual.

** Exemplo de boletim de sondagem à percussão de ocorrência coluvionar (talus).


Observe os dados indicativos (horizontes) ao longo do perfil que evidenciam a formação
geológica abordada neste subitem:

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* Local de ocorrência – Região correspondente


a parte intermediária de uma grande
encosta (mais próximo da parte baixa –
“ pé” da encosta) ;

* Camadas alternadas de predominância


argilosa e siltosa

* Valores de SPT variaveis (não crescentes)

* Valores baixos de SPT – consistência ou


compacidades baixas

* Presença de pedra ou matacão à 4,00m


deprofundidade

* Presença de solo residual jovem à 18,00m de


profundidade, com textura típica (silte
arenoso) com valores de SPT
crescentes

* Cores dos horizontes superiores ao horizonte


de solos residual jovem descritas como
“variegado” ou marrom

b) - Solos Aluviais:

Aluviões

Salomão e Antunes (1998) descrevem estas formações como segue.


“Os aluviões são materiais constituídos por materiais erodidos, retrabalhados e
transportados pelos cursos d’água nos seus leitos e margens. São também depositados nos
fundos de lagoas e lagos, sempre associados a ambientes fluviais.
Variações na natureza dos materiais e na capacidade de transporte dos cursos d’água
refletem-se na formação de camadas com características distintas. Cada camada representa
uma fase de deposição e, conseqüentemente, tem espessura, continuidade lateral, mineralogia e
granulometria particulares. Conseqüentemente, o pacote aluvionar é altamente heterogêneo.
Entretanto, as camadas isoladas podem apresentar-se muito homogêneas. “

A princípio as grandes torrentes carregam consigo todo o detrito das erosões, mas logo
depositam os grandes blocos e depois os pedregulhos. Ao perder sua velocidade, e portanto sua
capacidade de carrear os sedimentos, os grandes rios passam a depositar as camadas de areia e,
em seguida, os grãos de menor diâmetro, formando os leitos de areia fina e silte. Finalmente,
somente os microcristais de argila permanecem em suspensão nas grandes massas de água dos
lagos ou das lagunas próximas ao mar. A sedimentação da argila dá-se, então, ou por floculação
das partículas em suspensão, devido à neutralização de suas cargas elétricas de mesmo sinal, pelo

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contato com água salgada do mar, ou por efeito da radiação solar nas águas doces dos lagos
interiores.
Assim, a enxurrada e as águas dos rios em seu caminho para o mar transportarão os
detritos de erosão e os sedimentos em camadas, na ordem decrescente de seus diâmetros.
Inicialmente sedimentam-se as camadas de pedregulhos, depois as de areias e siltes e, por fim, a
camada de argila. Essas camadas constituem os solos transportados aluvionares, formando o seu
conjunto, “ciclos de sedimentação”. Em cada camada predominam ordenadamente os tamanhos
de grãos correspondentes aos pedregulhos, areias, silte e argila (ver figura).

Figura - Diferentes tamanhos de grãos, correspondentes aos pedregulhos e as areias

Figura - Aspecto da deposição de sedimentos por transporte fluvial (aluvionar)

Embora os aluviões sejam, via de regra, fonte de materiais de construções, são, por outro
lado, péssimos materiais de fundações.

Ocorrência de aluvião
no traçado do “Acesso
Norte” em Juiz de
Fora, próximo ao
Cimento Tupi, próximo
à Benfica.

Observa-se o fato do
local estar próximo do
rio paraibuna.

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** Exemplo de boletim de sondagem à percussão de ocorrência aluvionar. Observe os


dados indicativos (horizontes) ao longo do perfil que evidenciam a formação geológica
abordada neste subitem:

* Local de ocorrência – Região


correspondente a parte
baixa – vale. Área“plana”;

* Camadas de predominância de
argila e areia

* Valores baixos de SPT (ocorrência


significativa do perfil) –
consistência “mole” ou
compacidades “fofa”

* Presença de pedregulhos nos


horizontes

* Presença do impenetravél não muito


profundo – região de curso
d’água de baixo volume

* Cores cinza dos diferentes


horizontes

Exemplos de perfis de solos de formação aluvionar. Observa-se uma pequena variação nos tons de cores
(claras), tendo o primeiro perfil com predominância arenosa e o segundo argilosa.

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Terraços fluviais

Salomão e Antunes (1998) descrevem estas formações como segue.


“Os terraços fluviais são aluviões antigos, depositados quando o nível do curso d’água
encontrava-se em posição superior à atual. Em conseqüência os terraços são sempre
encontrados em cotas mais altas do que os aluviões.
Esta condição topográfica introduz uma importante diferença entre aluviões e os
terraços já que, estes últimos, em geral são saturados. Os terraços se distinguem, ainda, por se
apresentarem, quase sempre, constituídos por areia grossa e cascalho.”

** Exemplo de ocorrência desta natureza foi encontrada na área de construção do CTU,


no bairro Fabrica, em cotas elevadas como o caso do entrada de veículos, construido para o
acesso ao bairro Monte Castelo.

c) - Sedimentos marinhos:

Salomão e Antunes (1998) descrevem estas formações como segue.


“Os sedimentos marinhos são produzidos em ambientes de praia e manguezal. Em
regiões tropicais, ao longo das praias, a deposição é essencialmente, de areias limpas, finas a
médias, quartzonas. Nos manguezais, as marés transportam apenas os sedimentos muito finos e
argilosos, que se depositam incorporando matéria orgânica, dando origem às argilas orgânicas
marinhas.
A linha de praia sofre tanto deslocamentos horizontais, devido ao processo de erosão e
deposição a que está submetida, como variações verticais pronunciadas, decorrentes de
oscilações do nível do mar, fenômenos do processo de Dinâmica Superficial. Numa regressão
marinha, os sedimentos previamente depositados são esculpidos pela erosão e, quando o mar
volta a invadir a planície costeira, novos sedimentos são depositados ao lado dos antigos. Em
conseqüência, camadas arenosas interdigitam-se com camadas de argila orgânica, resulatando
num pacote com camadas diferentemente adensadas devido às origens e idades distintas.
Quando a costa é bordejada por elevações de porte expressivo, como ocorre na região
da Serra do Mar, parte apreciável apreciável da planície costeira fica constituída por aluviões
depositados pelos rios que provêm da serra, sendo freqüentes ambientes mistos, fluviais e
marinhos.”

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** Exemplo de boletim de sondagem à percussão de ocorrência marinha. Observe os


dados indicativos (diferentes horizontes) ao longo do perfil que evidenciam a formação
geológica abordada neste subitem.

* Local de ocorrência – Região


litorrânea (Macaé/RJ),
correspondente a parte
baixa – área“plana”;

* Camadas de predominância arenosa


(poderia ser argilosa) –
espessura considerável de
sedimento depositado –
constância de ocorrência

* Cores com tons de cinza – marrom


(ambiente de saturação –
NA elevado - ferro sob
“redução”)

d) - Solos Eólicos:

Salomão e Antunes (1998) descrevem estas formações como segue.


“No Brasil, os solos de origem eólica, transportados e depositados pela ação do vento,
ocorrem junto à costa, principalmente nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul. São constituídos por
areia fina quartzona, bem arredondada, ocorrendo na forma de franjas de dunas, margeando a
costa ou, quando os ventos são mais intensos, como na costa do Maranhão, na forma de campos
de dunas. As dunas apresentam a típica estratificação cruzada de solos eólicos (Processos de
Dinâmica Superficial).
No sul, dunas eólicas também ocorrem no interior, em regiões ambientalmente
degradadas da Formação Botucatu, onde seus solos residuais ficam sujeitos ao
retrabalhamento eólico, criando ambientes desérticos, como Alegrete (RS).”

Assim, temos os dépositos de material granular, proveniente do transporte, pelo vento,


das areias das praias ou desertos.

Apresenta uma grande uniformidade dos grãos (seleção dos ventos).


loess = depósitos eólicos formados a grandes distâncias. Partículas muito finas.

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2. 3. 3 - Outros Solos:

a) - Solos Orgânicos:

Solo formado pela mistura homogênea de matéria orgânica decomposta e de elementos de


origem mineral, apresentando geralmente cor preta ou cinza-escuro. Quando houver um teor
apreciável de matéria orgânica, deve ser indicada sua presença, pelo acréscimo da expressão
“com matéria orgânica” à designação dada ao solo. Se forem muito moles, pode ser
adicionado, entre parênteses, o termo “lodo”.

Decomposição da matéria orgância:


- Produto escuro: húmus
- Facilmente carregado pela água
O húmus impregna permanentemente as argilas e siltes, que são solos finos, e em menor
extensão as areias e os pedregulhos (solos permeáveis).

Exemplos:
Areia grossa, fofa, com matéria orgânica.
Argila siltosa, com matéria orgânica (lodo).

Dá-se pela impregnação da matéria orgânica em sedimentos pré-existentes ou pela


transformação carbonífera de materiais, geralmente de origem vegetal, contidos no material
sedimentar.
São os solos de cor escura encontrados nas baixadas litorâneas ou nas várzeas dos rios
interioranos.

Turfa

Solo com grande porcentagem de partículas fibrosas e matéria orgânica no estado


coloidal, com coloração marrom escura a preta. É um material mole, altamente compressível,
não plástico, combustível, e com cheiro característico.

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Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

Unidade 03
INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA
E PARÂMETROS PARA FUNDAÇÕES

3. 1 - Investigação Geotécnica de Campo

A quantidade de dados necessária à determinação das fundações é relativa a cada


situação, oscilando em função de variáveis como: porte da edificação, funcionalidade, concepção
estrutural adotada, problemas relativos ao solo, entre outras.

Segundo Schnaid (2000), o custo envolvido na execução de sondagens de


reconhecimento, no Brasil, varia entre 0,2 e 0,5% do custo total da obra, sendo que essas
informações geotécnicas são indispensáveis na previsão dos custos para a solução de projetos.
Porém existem casos em edificações residenciais, onde estes valores podem alcançar 3 e 4%.
Nestas situações, cabe ao projetista avaliar cada caso, qualificando a implantação da
infraestrutura.

BornSales Engenharia (2018) descreve que o plano de investigação geotécnica consiste


no planejamento e execução de ensaios de campo e laboratório, com o objetivo de identificar as
camadas de solo e substrato rochoso, permitindo definir o modelo de comportamento do terreno
de fundação e os valores dos parâmetros geotécnicos.

A participação do Projetista de Fundação na definição do plano de investigação


geotécnica é fundamental, pois a sua experiência o credencia na escolha correta do tipo de
investigação, buscando otimizar custos e tempo, e melhorando a qualidade dos resultados a
serem encontrados.

Numa investigação adequada do terreno de fundação, deve-se inicialmente definir um


programa com base nos objetivos a serem alcançados:

• Investigação preliminar: conhecer as principais características do terreno, definindo a


sua estratigrafia;
• Investigação complementar ou de projeto: esclarecer feições relevantes do subsolo e
caracterizar as propriedades das camadas de solo mais importantes;
• Investigação para a fase de execução: visa confirmar as condições de projeto em áreas
críticas da obra.

3. 2 - Ensaios Disponíveis x Parâmetros obtidos

A investigação geotécnica de campo, a ser programada e executada tem como objetivo


principal fornecer parâmetros geotécnicos para o dimensionamento das fundações, utilizando-se
de sólido conhecimento acadêmico e experiência profissional.

O projetista geotécnico é o responsável pela a execução e análise dos resultados dos


ensaios de campo e laboratório contratados. No que refere à investigação preliminar do subsolo,

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de uma forma geral, a tabela a seguir apresentada os principais ensaios disponíveis para esta
investigação.

Tipo de Ensaio Tipo de Solo Principais características


Melhor Não que podem ser determinadas
Aplicável Aplicável
Avaliação qualitativa do estado
1 - Ensaio Padronizado de de compacidade.*
Penetração (SPT) Granulares Comparação qualitativa da
estratigrafia do subsolo.
* ou consistência
Avaliação contínua da
compacidade e resistência de
2 - Ensaio de Penetração de Granulares solos granulares. Avaliação
Cone (CPT) contínua de resistência não
drenada de solos argilosos.
3 - Ensaio de Palheta Coesivos Granulares Resistência não drenada de
solos argilosos.
Coeficiente de empuxo no
4 - Ensaio Pressiométrico Granulares repouso; compressibilidade e
resistência ao cisalhamento.
* Segundo Rocha Filho et al. Interpretações dos Ensaios de SPT, CPT, Palheta e Pressiométricos para Projetos
Geotécnicos. Ed. PUC – Rio.

No que se refere a ensaios para aplicação em projeto de fundações, tem-se o “ensaio


padronizado de penetração” como o mais famoso dos testes utilizados no Brasil. Trata-se de um
procedimento geotécnico capaz de amostrar o subsolo, associado ao ensaio de penetração
dinâmica (Standard Penetration Test – SPT) que fornece um “índice”, o número NSPT que nos
fornece uma ideia de “resistência” do solo ao longo da profundidade perfurada.

3.2.1 - Ensaio Padronizado de Penetração (SPT)

1 – Definição

Consiste na medição do número de golpes necessários à penetração de um amostrador


padrão de 50,2 mm de  externo sob a ação de um martelo padronizado de 65 kg em queda livre
de uma altura padronizada de 75 cm. O índice de resistência à penetração (N), correspondente ao
número de golpes associados à penetração dos últimos 30 cm do amostrador padrão, juntamente
com a amostra coletada no amostrador ou por outro processo, fornece apenas uma indicação
qualitativa das propriedades mecânicas e estratigráfica solo. Este ensaio é padronizado pela
ABNT através da NBR-6484.

2 - Âmbito

Através do número de golpes (N), necessários para cravar os últimos 30 cm do


amostrador padrão, pode-se estimar qualitativamente o estado de compacidade ou consistência de
solos. O valor do número de golpes (N), associado em certos casos com a profundidade de
execução do ensaio e via correlações de natureza empírica, é utilizado para fornecer valores
estimados do módulo de elasticidade (E) e o valor do ângulo de resistência ao cisalhamento (’)
em solos granulares e o valor da resistência ao cisalhamento não drenada (Su) em solos coesivos.

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Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

3.2.2 - Ensaio de Penetração de Cone (CPT)

1 - Definição

Consiste na medição do esforço necessário à cravação no solo de um cone penetrômetro


padronizado sob velocidade constante. Este ensaio indica o valor da resistência de ponta (qc
ou qT) e o valor da resistência lateral, total ou localizada (fs).

Resultados de ensaios em fundação de argila na C.P.M. - Juiz de Fora -MG

No ensaio ilustrado acima, foram investigados 13,00 m, sendo plotados resultados de


Resistência de Ponta qT, Poro-Pressão na base u2 e atrito lateral fs. Por se tratar de ensaio de
penetração de um cone, pode-se fazer algumas correlações destes parâmetros com fundações
profundas, a ser visto adiante neste curso.

Existem dois tipos básicos de ensaios de penetração quasi-estática do cone: descontínuos


(penetrômetro ou cone mecânico) e contínuos (penetrômetro ou cone elétrico). O cone elétrico
(chamado de piezocone) é provido de um sensor com duas células de carga e um sensor de poro-
pressão (pressão da água entre os grãos de solo).

2 - Âmbito

Através dos valores das resistências de ponta (qc ou qT) e/ou do atrito lateral localizado
(fs), associados com a profundidade de execução do ensaio, pode-se estimar:

a) Via correlações de natureza empírica, o módulo de elasticidade (E) dos solos;

b) Via correlações de natureza semi-empírica, o valor do ângulo de resistência ao


cisalhamento (’) de solos granulares e o valor da resistência ao cisalhamento não drenada (Su)
de solos coesivos.

c) Via associação direta do fenômeno; o comportamento de fundações quanto às


características de deformação e capacidade de suporte. Adicionalmente, através do valor da razão
de atrito (fs / qc%) pode-se obter o tipo de solo penetrado.
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3.2.3 - Ensaio de Palheta (“Vane - Test”)

1 - Definição

Consiste na medição do torque necessário à rotação de um molinete ou uma palheta


cravada no solo, sob velocidade constante. Este ensaio tem como objetivo indicar o valor da
resistência ao cisalhamento de materiais argilosos, sob condições não drenadas. É executado
em geral no interior de furos de sondagens ou perfurações.

Resultados de ensaios em fundação de argila na C.P.M. - Juiz de Fora -MG

No ensaio ilustrado acima, foram investigados 2 furos, um com 3 ensaios e outros com 4
ensaios, sendo plotados resultados de Su.

2 - Âmbito

Através de valores do torque e correspondente ângulos de rotação do molinete ou da


palheta, pode-se determinar, via a utilização das equações de estática, a resistência ao
cisalhamento não drenada (Su) dos solos coesivos.

3.2.4 - Ensaios Pressiométricos (PT)

1 - Definição

Consiste na medição da pressão necessária à expansão de uma câmara sonda cilíndrica


introduzida no terreno, dentro de perfurações.
Este ensaio tem como objetivo determinar as características de pressão x variação
volumétrica do material.

2 - Âmbito

Através dos valores da pressão de expansão da câmara sonda e correspondentes variações


volumétricas, pode-se estimar:

a) Via o restabelecimento do equilíbrio de forças, o valor do coeficiente de empuxo no


repouso;

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b) Via a teoria de expansão de cavidades cilíndricas, os valores do Módulo de


Elasticidade (E) e do ângulo de resistência ao cisalhamento (’) de solos granulares e da
resistência ao cisalhamento não drenada (Su) de solos coesivos.

c) Via correlações semi-empíricas, o comportamento de fundações quanto às


características de deformação e capacidade de suporte.

Plano de Investigação Geotécnica

Por fim, o “Plano de Investigação Geotécnica” deve ser apresentado ao cliente na forma
de planta de desenho, onde são indicados os tipos de sondagem, as locações dos furos, a
estimativa dos comprimentos de execução e a indicação de outros eventuais ensaios a serem
requeridos.

Pela importância do ensaio padronizado SPT, este será detalhado no item seguinte,
inclusive com o detalhamento das diretrizes para execução desta sondagem.

3.3 - Standart Penetration Test - SPT

DIRETRIZES PARA EXECUÇÃO DE SONDAGENS A PERCUSSÃO

1 - Definição

Sondagem a percussão é um método para investigação de solos em que a perfuração é


obtida através do golpeamento do fundo do furo por peças de aço cortantes. É utilizada tanto para
a obtenção de amostras de solo como de índices de sua resistência a penetração.

2 - Identificação

As sondagens à percussão deverão ser identificadas pela sigla SP seguida de número indicativo.
Em cada obra o número indicativo deverá ser sempre crescente independentemente do local, fase
ou objetivo da sondagem. Quando for necessária a execução de mais de um furo num mesmo
ponto de investigação, de furos subseqüentes terão a mesma numeração do primeiro acrescida
das letras A, B, C etc. No caso de prosseguimento da sondagem pelo método rotativo, esta deverá
ser denominada com a sigla e número das sondagens rotativas.

Figura - Equipamento de sondagem executando a operação de lavagem


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3 - Equipamentos e ferramentas

3.1 - A firma Empreiteira deverá fornecer equipamentos e ferramentas para execução de


sondagens de até 40 m de profundidade ou que atendam as especificações de serviços.

3.2 - Os equipamentos e ferramentas constarão dos seguintes elementos principais: tripé com
roldana, guincho mecânico, ou com moitão; trado concha e espiral; hastes e luvas de aço;
alimentador d'água, cruzeta, trépano e "T" de lavagem; barriletes amostradores e peças para
cravação destes: martelo com 65 kg e guia; tubos de revestimento; bomba d'água; abraçadeiras
para revestimento; abaixadores e alçadores para hastes, saca-tubos; baldinho com válvula de pé;
chaves de grifo; metro ou trena; recipientes herméticos para amostras tipo copo; parafina, sacos
plásticos, etiquetas para identificação; medidor de nivel d'água.

Figura - Equipamento para realização das sondagens de simples reconhecimento por meio
da execução de escavação por circulação de água

3.3 - As peças de avanço da sondagem deverão permitir a abertura de um furo com diâmetro
mínimo de 2 1/2".

3.4 - A forma e distribuição das saídas d'água do trépano, bem como as características das hastes
dos ensaios penetrométricos e de lavagem por tempo, deverão ser idênticas para todos os
equipamentos, durante todo o serviço de sondagem de uma Empreiteira numa mesma obra.

3.5 - Para os ensaios penetrométricos as hastes deverão ser do tipo Schedule 80, retilíneas, com
1" de diâmetro interno e dotadas de roscas em bom estado, que permitam firme conexão com as
luvas, e peso de aproximadamente 3,0 kg por metro linear. Quando acopladas, as hastes deverão
formar um conjunto retilíneo.

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3.6 - A firma Empreiteira deverá dispor de hastes com comprimentos métricos exatos (p. ex. 1, 2,
3 m etc.), a fim de facilitar as operações de inicio do furo, e evitar emendas sucessivas
(inconvenientes) a maiores profundidades.

3.7 - Os barriletes amostradores deverão se encontrar em bom estado, com roscas e ponteiras
perfeitas e firmes, assim como não apresentar fraturas em nenhuma parte.

3.8 - O trépano deverá estar em bom estado e sua extremidade inferior cortante sempre afiada.

4- Execução da sondagem

4.1 - A sondagem deverá ser iniciada após a limpeza de uma área que permita o desenvolvimento
de todas as operações sem obstáculos e abertura de um sulco ao seu redor para desviar as águas
de enxurradas, no caso de chuvas. Quando for necessária a construção de uma plataforma, essa
deverá ser totalmente assoalhada e cobrir no mínimo, a área delimitada pelos pontos de fixação
do tripé.

4.2 - Junto ao local onde será executada a sondagem deverá ser cravado um piquete com a
identificação da sondagem, que servirá de ponto de referência para medidas de profundidades e
para fins de amarração topográfica.

4.3 - As sondagens deverão ser iniciadas utilizando-se o trado concha até onde possível.

4.4 - Tornando-se impossível com o trado concha, o avanço será feito utilizando-se trado espiral.

4.5 - No caso de ser atingido o nível freático, ou quando o avanço do trado espiral for inferior a 5
cm em 10 minutos de operação contínua de perfuração, poder-se-á passar para o método de
percussão com circulação de água (lavagem). Para tanto, é obrigatória a cravação do
revestimento.

4.6 - Quando o avanço do furo se fizer por lavagem, deve-se erguer o sistema de circulação
d'água (o que equivale a elevar o trépano) da altura de aproximadamente 0,3 m e durante sua
queda deve ser manualmente imprimido um movimento de rotação no hasteamento.

4.7 - Os detritos pesados, que não são carreados com a circulação d'água, deverão ser retirados
com o baldinho com válvula de pé.

4.8 - O controle das profundidades do furo, com precisão de 1 (um) cm, deverá ser feito pela
diferença entre o comprimento total das hastes com a peça de perfuração e a sobra delas em
relação ao piquete de referência usado junto à boca do furo.

4.9 - No caso da sondagem atingir o nível freático, a sua profundidade deverá ser anotada.
Quando ocorrer artesianismo não surgente deverá ser registrado o nível estático e, no caso de
artesianismo surgente, além do nível estático deverá ser medida a vazão e o respectivo nível
dinâmico.

4.10 - O nível d'água ou as características do artesianismo deverão ser medidos todos os dias
antes do início dos trabalhos e na manhã seguinte após a conclusão da sondagem.

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4.11 - A sondagem á percussão será dada por terminada nos seguintes casos:

a - quando atingir a profundidade especificada na programação dos serviços;


b - quando ocorrer a condição de impenetrabilidade;
c - quando estiver prevista sua continuação pelo processo rotativo e forem atingidas as condições
do ítem 5.11.

4.12 - Salvo especificação em contrário, imediatamente ap6s a última leitura do nível d'água, ou
término do furo seco, este deverá ser totalmente preenchido com solo, solo-cimento ou outro
material qualquer, a critério da Fiscalização, deixando-se cravada ao seu lado uma estaca com a
identificação da sondagem.
5 - Ensaio de penetração padronizado - SPT

5.1 - O ensaio de penetração padronizado, também denominado Standard Penetration Test (SPT),
é um ensaio executado durante uma sondagem a percussão, com o propósito de se obterem
índices de resistência à penetração do solo.

5.2 - O ensaio de penetração deverá ser executado a cada metro, a partir de 1,0 m de
profundidade da sondagem.

5.3 - As dimensões e detalhes construtivos do penetrômetro SPT deverão estar rigorosamente de


acordo com o padrão. O hasteamento a ser usado é o mesmo indicado no item 3.5. Não será
admitido o ensaio penetrométrico sem a válvula de bola, especialmente em terrenos não coesivos
ou abaixo do nível freático.

5.4 - O fundo do furo deverá estar limpo. Caso se observem desmoronamentos da parede do furo,
o tubo de revestimento deverá ser cravado de tal modo que sua boca inferior nunca fique a menos
de 10,0 cm acima da cota do ensaio penetrométrico. Nos casos em que, mesmo com o
revestimento cravado, ocorrer fluxo de material para o furo, o nível d'água no furo deverá ser
mantido acima do nível do terreno por adição de água. Nestes casos, a operação de retirada do
equipamento de perfuração deverá ser feita lentamente.

5.5 - O ensaio de penetração consistirá na cravação do barrilete amostrador, através do impacto


sobre a composição do hasteamento de um martelo de 65,0 kg caindo livremente de uma altura
de 75 cm.

5.6 - O martelo para cravação do amostrador deverá ser erguido manualmente, com auxílio de
uma corda e polia fixa no tripé. É vedado o emprego de cabo de aço para erguer o martelo. A
queda do martelo deverá se dar verticalmente sobre a composição, com a menor dissipação de
energia possível. O martelo deverá possuir uma haste guia onde deverá estar claramente
assinalada a altura de 75 cm.

5.7 - O barrilete deverá ser apoiado suavemente no fundo do furo, confirmando-se que sua
extremidade se encontra na cota desejada e que as conexões entre as hastes estejam firmes e
retilíneas. A ponteira do amostrador não poderá estar fraturada ou amassada.

5.8 - Colocado o barrilete no fundo, deverão ser assinalados com giz, na porção da haste que
permanece fora do revestimento, três trechos de 15,0 cm cada um, referenciados a um ponto fíxo
no terreno. A seguir, o martelo deverá ser suavemente apoiado sob a composição de hastes,
anotando-se a eventual penetração observada. A penetração obtida desta forma corresponderá a
zero golpes.
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5.9 - Não tendo ocorrido penetração igual ou maior do que 45 cm no procedimento acima, inicia-
se a cravação do barrilete através da queda do martelo. Cada queda do martelo corresponderá a
um golpe e serão aplicados tantos golpes quantos forem necessários à cravação de 45 cm do
amostrador, atendida a limitação do número de golpes indicados no item 5.11. Deverá ser
anotado o número de golpes e a penetração em centímetros para a cravação de cada terço do
barrilete; caso ocorram penetrações superiores a 15 cm (cada terço do barrilete), estas deverão ser
anotadas, não se fazendo aproximações.

5.10 - O valor da resistência à penetração consistirá no número de golpes necessários á cravação


dos 30,0 cm finais do barrilete.

5.11- A cravação do barrilete será interrompida quando se obtiver penetração inferior a 5,0 cm
durante 10 golpes consecutivos, não se computando os cinco primeiros golpes do teste, ou
quando o valor do SPT ultrapassar 50, num mesmo ensaio. Nestas condições o terreno será
considerado impenetrável ao SPT e deverão ser anotados o números de golpes e a penetração
respectiva.

5.l2 - Atingidas as condições em 5.11 os ensaios de penetração serão suspensos, sendo


reiniciados quando, em qualquer profundidade, voltar a ocorrer material susceptível de ser
submetido a esse tipo de ensaio.

6 - Ensaio de lavagem por tempo

6.1 - O ensaio de lavagem por tempo ‚ utilizado numa sondagem à percussão, com o objetivo de
se avaliar a penetrabilidade do solo ao avanço do trépano de lavagem. Consiste na aplicação do
processo definido em 4.6. por trinta minutos, anotando-se os avanços obtidos a cada período de
dez minutos. O equipamento a ser utilizado é o especificado nos itens 3.4 e 3.5.

6.2 - Atingido o impenetrável ao SPT (item 5.11), e havendo interesse no prosseguimento da


sondagem pelo método a percussão, este será realizado através da lavagem, com ensaios de
lavagem por tempo, atendendo à limitação de avanço indicada no item 6.3.

6.3 - Quando no ensaio de lavagem por tempo, forem obtidos avanços inferiores a 5,0 cm por
períodos, em três períodos consecutivos de dez minutos, o material será considerado
impenetrável à lavagem.

6.4 - O impenetrável à lavagem por tempo, como critério para término da sondagem à percussão,
não implica na eliminação dos ensaios de penetração SPT (5), devendo ser observadas as
condições definidas no item 5.12.

6.5 - Não é recomendada a adoção do critério de impenetrável à lavagem por tempo (6.2) para
término da sondagem à percussão, quando estiver prevista a continuação da sondagem pelo
processo rotativo.

8 - Amostragem

8.1 - As amostras deverão ser representativas dos materiais atravessados e livres de


contaminação.
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8.2 - As amostras a serem obtidas nas sondagens á percussão serão dos seguintes tipos:

a - Amostras de barrilete amostrador SPT, com cerca de 200 g, constituídas pela parte inferior do
material obtido no amostrador. Sempre que possível, a amostra do barrilete deve ser
acondicionada, mantendo-se intactos os cilindros de solo obtidos.

b - Amostras de trado, com cerca de 500 g, constituídas por material obtido durante a perfuração
e coletadas na parte inferior das lâminas cortantes do trado.

c - Amostras de lavagem, com cerca de 500 g, obtidas pela decantação d'água de circulação, em
recipiente com capacidade mínima de 100 litros. Neste processo de amostragem‚ vedada a
prática de coleta do material acumulado durante o avanço da sondagem, em recipiente colocado
junto à saída d'água de circulação.

d -Amostras de baldinho, com cerca de 500 g, constituídas por material obtido no baldinho com
válvula de pé.

8.3 - Excetuando-se as amostras de barrilete, deve ser coletada, no mínimo, uma amostra para
cada metro perfurado. Deverão ser coletadas tantas amostras quantos forem os diferentes tipos de
materiais.

8.4 - As amostras acondicionadas em copos (item 8.10) e sacos plásticos (demais amostras),
serão colocadas em caixas de madeira, ou de plástico, tipo e dimensões usados em furos rotativos
de diâmetro BW. As caixas deverão ser providas de tampa com dobradiças. Na tampa e num dos
lados menores da caixa deverão ser anotados com tinta indelével os seguintes dados:

- número do furo;
- nome da obra;
- local;
- número da caixa e o número de caixas do furo.

Quando a sondagem à percussão for seguida por sondagem rotativa, deve ser utilizada caixa de
amostra apropriada para o diâmetro da sondagem rotativa programada.

8.5 - As amostras serão coletadas desde o início do furo e acondicionadas na caixa, com
separação de tacos de madeira, pregados na divisão longitudinal. A sequência de colocação das
amostras na caixa iniciar-se-á no lado da dobradiça da esquerda para a direita.

A profundidade de cada trecho amostrado deve ser anotada, com caneta esferográfica ou tinta
indelével, no taco do lado direito da amostra. No lado direito da última amostra do furo deve ser
colocado um saco adicional com a palavra "FIM".

8.6 - Cada metro perfurado, com exceção do primeiro, deve estar representado na caixa de
amostra por duas porções de material separadas por tacos de madeira: a primeira com amostra de
penetrômetro, e a segunda, com amostra de trado, lavagem ou baldinho.

8.7 - Não havendo recuperação de material no barrilete, no local da amostra deve ser colocado
um taco de madeira com as palavras "não recuperou". No caso de ser utilizado todo o material
disponível para a amostragem especificada no item 3.8.10, deve ser colocado no local da amostra
um taco com as palavras "recuperou pouco".
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8.8 - No caso de pouca recuperação de amostra no barrilete, deve-se dar preferência à


amostragem indicada no item 8.10.

8.9 - Na divisão longitudinal de madeira junto à amostra, do lado da dobradiça, deve constar o
tipo de amostragem, isto é: trado, lavagem, penetrômetro, etc.

8.10 - A cada ensaio de penetração, cerca de 100 g da amostra do barrilete deverão ser
imediatamente acondicionados em recipientes de vidro ou plástico rígido, com tampa hermética,
parafinada ou selada com fita colante. Esta amostra deve ser identificada por duas etiquetas, em
papel cartão, uma interna e outra colada na parte externa do recipiente, onde constem:

- nome da obra;
- nome do local;
- número de sondagens;
- número da amostra;
- profundidade da amostra;
- número de golpes e penetração do ensaio;
- data;
- operador.

Amostrador de cravação aberto com solo, fotografado ao lado da sua ponta


(sobre o asfalto em que se vê uma marca molhada de sapato - ordem de grandeza)

As anotações deverão ser feitas com caneta esferográfica ou tinta indelével, em papel cartão,
devendo as etiquetas ser protegidas, com sacos plásticos, de avarias no manuseio da amostra.

Estes recipientes deverão ser acondicionados em caixas apropriadas para transporte ou, de
preferência, na caixa especificada no item 8.4.

8.11 - As caixas de amostras deverão permanecer guardadas à sombra, em local ventilado, até o
final da sondagem, quando serão transportadas para o local indicado pela Fiscalização, na obra.
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9 . Resultados

9.1 - Informações sobre o andamento das sondagens deverão ser fornecidas diariamente, quando
solicitadas.

9.2 - Os resultados preliminares de cada sondagem à percussão deverão ser apresentados, num
prazo máximo de 15 dias após seu término, em boletins (modelo em anexo) com 3 vias, onde
constem, no mínimo:

- nome da obra e interessado;


- identificação e localização do furo;
- diâmetro da sondagem e método de perfuração;
- cota, quando fornecida;
- data da execução;
- nome do sondador e da firma;

- tabela com leitura de nível d'água com data, hora, profundidade do furo, profundidade do
revestimento e observações sobre eventuais fugas d'água, artesianismo etc. No caso de não ter
sido atingido o nível d'água, deverão constar no boletim as palavras "furo seco";

- posição final do revestimento;

- resultados dos ensaios de penetração, com o número de golpes e avanço em centímetros para
cada terço de penetração do amostrador;

- resultados dos ensaios de lavagem, com o intervalo ensaiado, avanço em centímetros e tempo
de operação da peça de lavagem;

- identificação das anomalias observadas;

- confirmação do preenchimento do furo ou motivo do seu não preenchimento;

- motivo da paralização do furo;

- visto do encarregado da Empreiteira na obra.

9.3 - Os resultados finais de cada sondagem à percussão deverão ser apresentados, num prazo
máximo de 30 dias após o seu término, na forma de perfis individuais na escala 1:100 (modelo
em anexo), onde conste, além dos dados do item 9.2, calculados e colocados em gráficos, quando
for o caso, a classificação geológica e geotécnica dos materiais atravessados, feita por geólogo ou
engenheiro geotécnico, cujo nome e assinatura deverão constar no perfil.

9.4 - Até 30 dias após o término do último furo da campanha programada, a firma Empreiteira
deve entregar o relatório final, contendo:

a - texto explicativo com localização, tempo gasto, número de furos executados, total de metros
perfurados, bem como outras informações de interesse e conhecimento da Empreiteira;
b - planta de localização das sondagens ou, na sua falta, esboço com distâncias aproximadas e
amarração.

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Nomenclatura adotada na caracterização da compacidade ou consistência dos materiais

Tabela - Classificação dos Solos a partir do SPT


Solo Índice de resistência Designação
à penetração
Areia 4 fofa (o)
e 5a 8 pouco fofa (o)
Silte 9 a 18 medianamente compacta (o)
arenoso 19 a 40 compacta (o)
> 40 muito compacta (o)
Argila 2 muito mole
e 3a 5 mole
silte 6 a 10 média (o)
argiloso 11 a 19 rija (o)
> 19 dura (o)
Tabela

Critérios de Paralisação da Sondagem à Percussão

Resumo dos procedimentos a serem adotados para se determinar o término da execução


das sondagens à percussão, em complementação ao que foi apresentado no texto anterior:
Diretrizes para Execução de Sondagens à Percussão, publicada pela ABGE (Norma brasileira –
NBR 6484/2001).

A cravação do amostrador-padrão é interrompida antes dos 45cm de penetração sempre que


ocorrem uma das seguintes situações:

a) em qualquer dos três segmentos de 15 cm, o numero de golpes ultrapassar 30;


b) um total de 50 golpes tiver sido aplicada durante toda a cravação; e
c) não se observa avanço do amostrador-padrão durante a aplicação de cinco golpes
sucessivos martelo

No processo de perfuração por circulação de água, quanto ao uso do amostrador-padrão, deve-se


observar os seguintes critérios para a paralisação da sondagem:

a) quando, em 3 m sucessivos, se obtiver 30 golpes para penetração dos 15 cm iniciais


do amostrador-patrão;

b) quando, em 4 m sucessivos, se obtiver 50 golpes para penetração dos 30 cm iniciais


do amostrador-patrão; e

c) quando, em 5 m sucessivos, se obtiver 50 golpes para penetração dos 45 cm


do amostrador-patrão

Obs. Este procedimento como critério de paralisação pode trazer ao amostrador sérios
“danos – desgastes” ao seu “bico”, danificando-o, o que implica em substituição por um
novo com muita freqüência.

46
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* Quando “c) não se observa avanço do amostrador-padrão durante a aplicação de


cinco golpes sucessivos martelo”, como descrito acima, deve-se ser executado o ensaio
de avanço da perfuração por circulação de água, como difundido na prática consagrada
e descrito em norma: (Proposição feita pela Eng. Maria José Porto, publicada em seu
livro)

Este critério de paralisação se baseia na “cravação” do trépano e não do amostrador como


proposto pela norma – evitando assim o “desgaste”do “bico” do mesmo.

- levantamento do trépano em 3 baterias de 10 minutos


( corresponde a 90 levantadas)

=> deve-se verificar penetração menor que 5 cm

em cada 10’: deve-se levantar 30 vezes a 30 cm

em cada 1’: levanta 3 vezes (20” cada), em posições ortogonalmente alternadas,


como indicada a posição de “caída”do trépano, abaixo

sentido da caída

Exemplo de registro no campo e posteriormente em boletim (escritório)

47
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3.4 - Apresentação de Exemplos de perfis de Sondagem

É apresentada a seguir uma série de Boletins de Sondagem à Percussão com circulação


de água, realizadas por várias empresas especializadas, em diversos pontos, principalmente na
região central de Juiz de Fora.

Os resultados são, portanto, reais e são divulgados aqui como exemplos de resultados que
se obtêm, nomenclaturas comumente adotadas, anotação dos dados em planilha entre outros com
o objetivo de se destacar didaticamente alguns pontos relevantes.

1/8 Av Rio Branco ____________________________________


Exemplo de croquis de posicionamento de furos de Sondagem
Observa-se estarem os furos locados e referenciados à testada e às divisas e ainda terem
sido determinadas as cotas da boca com referencia a um RN.

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2/8 R.Marechal Deldoro esq. Olegário Maciel ______________________________


Observa-se o NA estar à 1,45 m de profundidade
.Ter encontrado à 5,00 m uma linha de pedregulho ou uma pedra com o SPT no
gráfico indo ao infinito e no metro seguinte sendo igual a 7
.Valores crescentes a partir do SPT 12 serem considerados Solo Residual. 18,00m
anterior considerado solo coluvionar (“talus”)

49
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3/8 R. Olegário Maciel ________________________


Observa-se no SP01 à 2,00 m 1 golpe fez descer 45 cm e em 2,45 m só o peso
fazer descer até 2,75 m (mais 30 cm)
.No SP01 à 4,00 m, antes de bater, já descer 45 cm
.O critério de paralização adotado no primeiro furo (3 baterias)

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4/8 R. Santo Antonio ______________________________


Um perfil típico de Solo Residual a partir de 8,60 m, possivelmente identificado seu
início no trecho de lavagem com o trépano
Observa-se o critério de paralização estar muito próximo do que prevê a norma, ou seja:
3,00 m sucessivos, com índices de penetração elevado
Aqui em 14,00 m os 45 golpes foram dados, sendo dados os 30 primeiros descendo 16 cm
e os 30 últimos descendo 13 cm
.em 15,00 m o índice estar maior que o anterior e
.em 16,00 m o índice também estar maior

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5/8 Rua Halfeld ________________________


Neste exemplo o valor de N maior na 1 a e 2a do que na 2 a e 3 a, em 8,00 m, como não é
comum de ocorrer.
Observe os horizontes (3): mole, compacto e medianamente compacto, descritos no
perfil, sendo destacados nos horizontes ( com seta ) a consistência ou compacidade que foge ao
designado para a mesma

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6/8 Juiz de Fora - MG _______________________


Perfil de solo de ( argila ) de baixa consistência - Solo Mole.
Dificuldade na obtenção do N-SPT.
Observe a 10,00m ter encontrado um fragmento duro.
. a 17,00m 2 golpes fazer descer 45cm sendo o 2o descendo 23cm.

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7/8 R. Olegário Maciel ________________________


Exemplo de Sondagem Mista.
Em 7,30 m é encontrado material duro, entrando-se com a rotativa, diâmetro HW, coroa
de diamante.
Observa-se que foi cortado 2,20m (Manobra) de rocha do tipo Gnaisse sendo determinado
também: F - Fragmentação = Número de fragmentos da amostra recuperada no caso igual a 1
RQD - Rock Quality Designation = Somatório dos fragmentos que 10cm/avanço (%),
no caso igual a 80 %.

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11/8 R. Marechal Deodoro _______________________


Exemplo de Sondagem Mista utilizada em local de ocorrência de Matacões.
Observe-se ter atravessado 3 blocos. O 1o : D = 62 cm, o 2o : D = 273 cm o 3o : D = 233
cm, tendo determinado a fragmentação e a recuperação obtida, sendo Recuperação =
comprimento de amostra recuperada /Avanço ( %).

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Apresentação de Outros Exemplos de perfis de Sondagem

1/6 Praça do Lacet - Cascatinha Serviço de 27/08/06


Exemplo de furo de Sondagem sem a “capa” de solo maduro. Perfil de solo residual,
com ocorrência de alteração de rocha e rocha sã.

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2/6 Campus da UFJF – Centro Olímpico Serviço de 05/09/07


Exemplo de furo de Sondagem em local de pouco solo – sedimentar (área “baixa”) sobre
a rocha – rocha quase exposta.

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3/6 Região central do município de Macaé/RJ Serviço de 06/12/06


Exemplo de furo de Sondagem em região de areia – formação sedimentar de origem
marinha.

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4/6 Campus da UFJF Serviço de 15/10/07


Exemplo de furo de Sondagem típico de um perfil de solo residual, lançado sobre ele
2,00m de aterro. Observa-se o contraste do solo maduro e o jovem.

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5/6 Rua Mamoré – São Mateus Serviço de 15/10/07


Exemplo de furo de Sondagem típico de formação sedimentar. Observe a presença de
matéria orgânica e o nível elevado da água.

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6/6 Belém/PA Serviço de 15/10/07


Exemplo de furo de Sondagem típico de formação sedimentar de grande profundidade.
Trata-se de furo de sondagem no município de Belém/PA, referente à bacia sedimentar da foz do
Rio Amazonas. Observe a grande profundidade em solo (aproximadamente 50,0m)

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3.5 - Normalização sobre a Programação das Sondagens de Simples


Reconhecimento dos Solos para construção de Edifícios

Esta Normalização, pela ABNT, registro NBR 8036, fixa as condições exigíveis na
programação das sondagens de simples reconhecimento dos solos destinada a elaboração de
projetos geotécnicos para construção de edifícios. Esta programação abrange o número, a
localização e a profundidade das sondagens.

1 – Considerações Gerais

Procedimento

Adotado na programação de sondagens de simples reconhecimento na fase de estudos


preliminares ou de planejamento do empreendimento.

Para a fase de projeto, ou para o caso de estruturas especiais, eventualmente podeerão ser
necessárias investigações complementares para determinação dos parâmetros de resistências ao
cisalhamento e da compressibilidade dos solos, que terão influência sobre o comportamento da
estrutura projetada. Para tanto, devem ser realizados programas específicos de investigações
complementares.

1.1 - Número e locação das sondagens

1.1.1 - O número de sondagens e a sua localização em planta dependem do tipo da estrutura, de


suas características e das condições geotécnicas do sob-solo. O número de sondagens deve ser
suficiente para fornecer um quadro, o melhor possível, da provável variação das camadas do
sub-solo do local em estudo.

1.1.2 - As sondagens devem ser, no mínimo, de uma para cada 200 m2 de área da projeção em
planta do edifício, até 1200 m2 de área. Entre 1200 m2 e 2400 m2 deve-se fazer uma sondagem
para cada 400 m2 que excederem de 1200 m2. Acima de 2400 m2 o número de sondagens deve
ser fixado de acordo com o plano particular da construção. Em qualquer circusntâncias o
número de sondagens deve ser:

a) dois para área da projeção em planta do edifício até 200 m2;


b) três para área entre 200 m2 e 400 m2.

1.1.3 - Nos casos em que não houver ainda disposição em planta dos edifícios, como os estudos
de viabilidade ou de escolha de local, o número de sondagens deve ser fixado de forma que a
distância máxima entre elas seja de 100 m, com um mínimo de três sondagens.

1.1.4 - As sondagens devem ser localizadas em planta e obedecer às seguintes regras gerais:

a) na fase de estudos preliminares ou de planejamento do empreendimento, as sondagens


devem ser igualmente distribuídas em toda a área; na fase do projeto pode-se localizar as
sondagens de acordo com critério específico que leve em conta pormenores estruturais;

b) quando o número de sondagens for superior a três, elas não devem ser distribuídas ao
longo de um mesmo alinhamento.
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1.2 - Profundidade das Sondagens

1.2.1 - A profundidade a ser explorada pelas sondagens de simples reconhecimento, para efeito
do projeto geotécnico, é função do tipo de edifício, das características particulares de sua
estrutura, de suas dimensões em planta, da forma da área carregada e das condições geotécnicas e
topográficas locais.

Nota: A exploração deve ser levada a profundidade tais que incluam todas as camadas impróprias
ou que sejam questionáveis como apoio de fundações, de tal forma que não venham a prejudicar
a estabilidade e o comportamento estrutural ou funcional do edifício.

1.2.2 - As sondagens devem ser levadas até a profundidade onde o solo não seja mais
significativamente solicitado pelas cargas estruturais, fixando-se como critério aquela
profundidade onde o acréscimo de pressão no solo, devido às cargas estruturais aplicadas, for
menor do que 10% da pressão geostática efetiva.

3.6 - Estimativa de Parâmetros dos Solos para Fundações

Dados Indiretos

Em estudos geotécnicos em geral já se reconhece algumas dificuldades de se obter os


parâmetros de resistência ao cisalhamento e de deformabilidade dos solos para alguns solos.

Por exemplo, nas areias a amostragem indeformada, bem como a moldagem de corpos de
prova para a execução de ensaios de laboratório, são operações extremamente difíceis de
proceder. Por tais motivos, recorre-se, em geral, a procedimentos indiretos para se obter dados
sobre as características “in situ” de resistência ao cisalhamento e também de compressibilidade
desses solos, em especial. As sondagens de percussão, bem como os ensaios de penetração
estática de cone (tipo holandês), usualmente as únicas disponíveis em análises preliminares, são
muito utilizadas nesses procedimentos.

Particularmente para o caso de estudo do subsolo com a finalidade de obter parâmetros


para o posterior dimensionamento de uma fundação também não é simples e viável técnico-
economicamente. Não é razoável pensar em obter amostras de um em um metro ao longo de todo
um perfil, por exemplo, onde se idealiza a execução de uma fundação profunda.

Por motivo semelhando ao exposto anteriormente, é comum obtermos os parâmetros de


interesse do dimensionamento de fundações por correlações principalmente com o valor do NSPT
obtidos em sondagens à penetração com circulação de água.

Neste item são apresentados alguns parâmetros dos solos, estimados a partir de
correlações com a sua compacidade e/ou consistência, para uso prático, e que poderão ser
utilizados em estudos preliminares e em anteprojetos de engenharia.

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Unidades usuais de conversão:

1 KPa = 1KN/m2

1 t/m2 = 10 KPa
1 Kgf/cm2 = 100 KPa
1 Kgf/cm2 = 10 t/m2

1 MPa = 1000 KPa


1 MPa = 10 Kgf/cm2

1KN = 1000N
1KN = 0,1 tf
1 tf = 10 kN
1 Kgf = 9,81 N

TAB 1 - Classificação dos solos (Norma – NBR 7250)


Solo Índice de resistência à penetração Designação
4 fofa (o)
5a8 pouco fofa (o)
Areia e Silte arenoso 9 a 18 medianamente compacta (o)
19 a 40 compacta (o)
> 40 muito compacta (o)
2 muito mole
3a5 mole
Argila e Silte argiloso 6 a 10 média (o)
11 a 19 rija (o)
> 19 dura (o)

TAB 2 – Avaliação dos Parâmetros de Resistência em Função do SPT


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Solos Nº de Golpes N (SPT) Índice de Consistência (IC) Coesão não Drenada Su
(Kg/cm2)
ARGILAS
Muito mole 2 0 < 0,1
Mole 2-4 0 – 0,25 0,1 – 0,25
Média 4-8 0,25 – 0,5 0,25 – 0,5
Rija 8 - 15 0,5 – 0,75 0,5 – 1,0
Muito rija 15 - 30 0,75 – 1,0 1,0 – 2,0
Dura  30 > 1,0 > 2,0
AREIAS Grau de Compacidade (GC) Ângulo de Atrito ()
0
0 – 0,25
Muito fofa <4
0,25 – 0,5 < 0,1
Fofa 4 - 10
0,5 – 0,75 0,1 – 0,25
Média 10 - 30
0,75 – 1,0 0,25 – 0,5
Compacta 30 - 50
0,5 – 1,0
Muito compacta > 50
1,0 – 2,0

Obs.: IC = (LL – w) / ( LL – LP) e GC = ( emáx – enat) / ( emáx – emín) = Compacidade relativa (Dr)

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TAB 3 – Avaliação dos Parâmetros de Resistência e de deformabilidade em Função do SPT


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).

Areias e Solos Arenosos


Compacidade  ( t/m³) C ( t/m²)  ° E ( t/m²) 

Fofa 1,6 0 25 - 30 100 - 500


Pouco Compacta 1,8 0 30 - 35 500 - 1400
0,3 a 0,4
Medianamente Compacta 1,9 0 35 - 40 1400 - 4000
Compacta 2,0 0 40 - 45 4000 - 7000
Muito Compacta > 2,0 0 > 45 > 7000
Argilas e Solos Argilosos
Consistência  ( t/m³) C ( t/m²)  ° E’ ( t/m²) 

Muito Mole 1,3 0 - 1,2 0 30 - 120


Mole 1,5 1,2 - 2,5 0 120 - 280 0,4 a 0,5
Média 1,7 2,5 - 5,0 0 280 - 500
Rija 1,9 5,0 - 15,0 0 500 - 1500
Dura > 2,0 > 15,0 0 > 1500
Valores UFMG fls. 47
Obs.: Para solos argilosos normalmente adensados
Cc = 0,009 (LL – 10%)

Sendo:  = Peso Específico Natural do Solo


 = Ângulo de Atrito Interno
C = Coesão
E = Módulo de Elasticidade (Não Drenado)
E’= Módulo de Elasticidade (Drenado)
 = Módulo de Poisson

TAB 4 – Avaliação de Parâmetros dos Solos em Função do Estudo de Compacidade ou Consistência


(Bowles – 1997)
(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Característica Compacidade
Muito Fofa Fofa Média Compacta Muito Compacta
Densidade Relativa 0 0,15 0,35 0,65 0,85 – 1,0

SPT 0 4 10 30 50

 (graus) 25 - 30 27 - 32 30 - 35 35 - 40 38 - 43

 (tf/m3) 1,12 – 1,60 1,44 – 1,76 1,76 – 2,08 1,76 – 2,24 2,24 – 2,40

Característica Consistência
Muito Mole Mole Média Rija Muito Rija Dura
qu 0 0,25 0,5 1,0 2,0 4,0

SPT 0 2 4 8 16 30

 (tf/m3) 1,60 – 1,92 1,76 – 2,08 1,92 – 2,24

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TAB 5 – Relação entre consistência e resistência a partir de verificação no campo (Simons)


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Consistência Critério de Verificação Resistência não – drenada ao
Cisalhamento (KN/m2)
Muito Rija Quebradiça ou muito dura >150
Rija Não pode ser moldada com os dedos 75 – 150
Média Pode ser moldada com os dedos, fazendo-se a força 40 – 75
Mole Facilmente moldável com os dedos 20 – 40
Muito Mole Flui entre os dedos quando espremida < 20

TAB 6 – Valores de Módulo de Elasticidade para diferentes tipos de solos (UFV)


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Solo E (Kgf/cm2)
1. Argila
Muito mole 3 – 30
Mole 20 – 40
Média 45 – 90
Dura 70 – 200
Arenosa 300 – 425

2. Areia
Siltosa 50 – 200
Fofa 100 – 250
Compacta 500 – 1000

3. Areia e Pedregulho
Compacto 800 – 2000
Fofo 500 – 1400

4. Silte 20 - 200

TAB 7 – Valores de Coeficientes de Poisson para diferentes tipos de solos (UFV)


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Solo Coeficiente de Poisson ()
Argila saturada 0,4-0,5
Argila não-saturada 0,1-0,3
Argila arenosa 0,2-0,3
Silte 0,3-0,35
Areia compacta 0,2-0,4
Areia grossa (e = 0,4 a 0,7) 0,15
Areia fina (e = 0,4 a 0,7) 0,25
Rocha (depende do tipo) 0,1-0,4
Concreto 0,15
Gelo 0,36

Parâmetros de Resistência e Peso Específico (Cintra et al. 2003)

1. Coesão

Para a estimativa do valor de coesão não drenada (c u), quando se dispõem de resultados de ensaios de
laboratório, Teixeira & Godoy (1996) sugerem a seguinte a seguinte correlação com o índice de resistência à
penetração (N) do SPT:
Cu  10 N ( KPa)

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2. Ângulo de Atrito

Para a adoção do ângulo de atrito interno da areia, pode-se utilizar a Figura 04 (Mello, 1967), que mostra
correlações estatísticas entre os pares de valores (v, N) e os prováveis valores de , em que v é a tensão vertical
efetiva à cota de obtenção de N.

Ainda para a estimativa de , Godoy (1983) menciona a seguinte correlação empírica com o índice de
resistência à penetração (N) do SPT:
  280  0,4 N

Enquanto Teixeira (1996) utiliza:


  20 N  15 0

3. Peso Específico

Se não houver ensaios de laboratório, pode-se adotar o peso específico efetivo do solo a partir dos valores
aproximados das Tabelas 8 e 9 (Godoy, 1972), em função da consistência da argila e da compacidade da areia,
respectivamente. Os estados de consistência de solos finos e de compacidade de solos grossos, por sua vez, são
dados em função do índice de resistência à penetração (N) do SPT, de acordo com a NBR 7250/82.

TAB 8 – Peso específico de solos argilosos (Godoy, 1972)


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Peso específico
N (golpes) Consistência
(KN/m3)
2 Muito mole 13
3-5 Mole 15
6 - 10 Média 17
11 - 19 Rija 19
 20 Dura 21

TAB 9 – Peso específico de solos arenosos (Godoy, 1972)


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Peso específico
N (golpes) Consistência (KN/m3)
Areia seca Úmida Saturada
<5 Fofa
16 18 19
5-8 Pouco compacta
9 – 18 Medianamente compacta 17 19 20
19 - 40 Compacta
> 40 Muito compacta 18 20 21

Segundo Moraes, 1978

Solos Coesivos

Após numerosos ensaios, Terzaghi e Peck indicam as seguintes relações:

TAB 10 – Consistência, número de golpes N e compressão simples:


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Consistência S.P.T. c. simples – Kg/cm2
Muito mole 2 0.25
Mole 2-4 0,25 – 0,50
Média 4–8 0,50 – 1,00
Rija 8 – 15 1,00 – 2,00
Muito rija 15 – 30 2,00 – 4,00
Dura > 30 4,00 – 8,00
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Tensão admissível – solos coesivos


Para o cálculo da tensão admissível ou capacidade de carga do solo são bastante difundidas a seguintes
relações: (Resultados obtidos em Kg/cm2)

- Argila pura
N
p
4

- Argila siltosa
N
p
5
- Argila arenosa siltosa
N
p
7,5

Depois de estudadas as diversas correlações entre penetrômetros dinâmicos e estáticos, transcreve-se duas
tabelas referentes a ângulo de atrito de areias, resistências a compressão e coesão das argilas:

TAB 11– Ângulo de atrito interno para areias


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Areia Fina Média e Grossa Com pedregulho
Grãos Grãos Grãos Grãos _
Compacidade
Esféricos Angulares Esféricos Angulares
Fofa 27 28 29 33 34
Intermediária 30 34 33 38 37 - 39
Compacta 33 36 36 44 40 - 45

TAB 12 – Resistência à compressão e coesão para argilas


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Resistência à
Coesão
Consistência compressão
Kg/cm2 Kg/cm2
Muito mole 0 – 0,25 0 – 0,12
Mole 0,25 – 0,50 0,13 – 0,25
Média 0,50 – 1,00 0,25 – 0,50
Rija 1,00 – 2,00 0,50 – 1,00
Muito rija 2,00 – 4,00 1,00 – 2,00
Dura > 4,00 > 2,00

Módulo de Deformabilidade e Coeficiente de Poisson (Cintra, 2003)

Módulo de Deformabilidade

Não se dispondo de ensaios de laboratório nem de prova de cargas sobre placa para a determinação do
módulo de deformabilidade do solo (Es), podem ser utilizadas correlações com a resistência de ponta com do cone
(qc) ou com índice de resistência à penetração (N) da sondagem SPT, como, por exemplo, as apresentadas por
Teixeira & Godoy (1996):
E s    qc
E com qc  K  N  Es    K  N

em que  e K são coeficientes empíricos dados pelas tabelas 13 e 14, em função do tipo de solo. Esse coeficiente 
correlaciona qc com Es e, portanto, não deve ser confundido com o coeficiente  de Aoki & Velloso (1995), que
transforma qc em atrito lateral unitário do próprio cone. Já o coeficiente K tem o mesmo significado para Aoki &
Velloso e, por isso, valores da tabela 4 têm a mesma ordem de grandeza dos valores de Aoki & Velloso (1995).
70
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TAB 13 – Coeficiente  (Teixeira & Godoy, 1996)


Solo 
Areia 3
Silte 5
Argila 7

TAB 14 – Coeficiente K (Teixeira & Godoy, 1996)


Solo K (MPa)
Areia com pedregulhos 1.10
Areia 0.90
Areia siltosa 0.70
Areia argilosa 0.55
Silte arenoso 0.45
Silte 0.35
Argila arenosa 0.30
Silte argiloso 0.25
Argila siltosa 0.20

Observa-se que para areias ( = 3), a correlação Es com qc resulta em:


E s  3  qc

que é compatível às relações de Schmertmann (1978).

De acordo com D’Appolonia et al. (1970), a presença do lençol freático pode ser ignorada porque seu
efeito no módulo de deformabilidade é refletido na obtenção de N, ratificado Meyerhof (1965). Posteriormente, essa
assertiva foi confirmada por Terzaghi et al. (1996), com base nos resultados de Burland-Burbidge, de 1985.
No caso de saturação de uma areia que não estava saturada no momento da sondagem, por exemplo, por
ascensão do N.A., o recalque aumenta de um valor que, dependendo do autor, pode ser de 1/3 (Bolognesi, 1969) até
100% (Terzaghi & Peck, 1948; Terzaghi & Peck, 1967; Terzaghi et al., 1996).

Coeficiente de Poisson

Teixeira & Godoy (1996) também apresentam valores típicos para o coeficiente de Poisson do solo (),
reproduzidos na tabela 15.

TAB 15 – Coeficiente de Poisson (Teixeira & Godoy, 1996)


(correlações empíricas – uso limitado a estudos preliminares).
Solo 
Areia pouco compacta 0,2
Areia compacta 0,4
Silte 0,3-0,5
Argila saturada 0,4-0,5
Argila não saturada 0,1-0,3

Simons & Menzies (1981) observam que  não é constante, variando desde o valor não-drenado no
momento do carregamento (u – 0,5 para o caso ideal não-drenado) até os valores drenados no fim da dissipação do
excesso de pressões neutras.
De acordo com Mayne & Poulos (1999), pesquisas mais recentes mostram que os valores drenados de  são
bem menores do que se acreditava. Para carregamento drenado em todos tipos de solo, incluindo areia e argilas, tem-
se:
 '  0,15  0,05

Esses autores confirmam  = 0,5 para condições não-drenadas envolvendo carregamentos rápidos em
argilas saturadas.

71
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Unidade 04
FUNDAÇÕES DIRETAS

4. 1 - Conceitos (Norma 6122-2010)

Inicialmente apresentaremos alguns conceitos adotados na área de Engenharia de


Fundações e que são considerados na norma NBR 6122 - Projeto e Execução de Fundações.

1 - Fundação Superficial (Rasa ou Direta)

Elemento de fundação em que a carga é transmitida ao terreno pelas tensões distribuídas


sob a base da fundação, e a profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente à
fundação é inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação.

- Sapata

Elemento de fundação superficial, de concreto armado, dimensionado de modo que as


tensões de tração nele resultantes sejam resistidas pelo emprego de armadura especialmente
dispostas para esse fim.
Pode ter espessura constante ou variável e sua base em planta é normalmente quadrada,
retangular ou trapezoidal.

Figura 1: Imagem esquemática de uma sapata e foto durante sua concretagem

- Bloco

Elemento de fundação superficial de concreto, dimensionado de modo que as tensões de


tração nele resultantes sejam resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura. Pode ter as
faces verticais, inclinadas ou escalonadas e apresentar planta de seção quadrada ou retangular.

- “Radier”

Elemento de fundação superficial que abrange parte ou todos os pilares de uma estrutura,
distribuindo os carregamentos.
72
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- Sapata Associada

Sapata comum a mais de um pilar.

Figura 2: Sapata Associada, com viga de rigidez

- Sapata Corrida

Sapata sujeita à ação de uma carga distribuída linearmente ou de pilares ao longo de um


mesmo alinhamento.

Figura 3: Sapata Corrida, comparada com uma sapata isolada

Em relação à fundação superficial, podemos definir Baldrame e Cinta (não constantes da norma):

- Baldrame ou viga de fundação

Viga baldrame é uma fundação rasa de apoio, feita de concreto armado. Ela percorre todo
o comprimento das paredes da construção.
É um tipo comum de fundação para pequenas edificações. Constitui-se de uma viga, que
pode ser de alvenaria, de concreto simples ou armado, construída diretamente no solo, que pode
ter estrutura transversal tipo bloco, sem armadura transversal, dentro de uma pequena vala para
receber pilares alinhados. É mais empregada em casos de cargas leves como residências
construídas sobre solo firme.

Figura 4: Viga de fundação – Viga Baldrame


73
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- Cintas de Fundação

Elemento estrutural de associação dos vários pontos de carga/fundação.

Na extremidade de cada sapata ou bloco de coroamento deve ser executada uma cinta de
“amarração” (“travamento”) para reforço das ligações entre todos os elementos de fundação. A
presença da cinta diminui o risco do aparecimento de fissuras nas paredes da edificação em caso
de recalque diferencial, e distribui as cargas concentradas sobre o plano das fundações.

Construir cinta de fundação tem como finalidade absorver esforços não previstos,
suportar pequenos recalques, distribuir o carregamento e combater esforços horizontais. A cinta
de “amarração” geralmente é concebida de concreto armado.

Segundo Velloso e Lopes (2012), as fundações isoladas devem ser, sempre que possível,
ligadas por cintas em duas direções ortogonais. As cintas desempenham papéis importantes,
como (i) impedir deslocamentos horizontais das fundações, (ii) limitar rotações (absorvendo
momentos) decorrentes de excentricidades construtivas, (iii) definir o comprimento de
flambagem do primeiro trecho de pilares, no caso de fundações profundas ou de sapatas
implantadas a grandes profundidades e (iv) servir de fundação para paredes no pavimento térreo.

Figura 5: Sapatas “amarradas” com “cinta”, na figura, com sentido único

2 - Fundações Profundas

Aquelas em que o elemento de fundação transmite a carga ao terreno pela base


(resistência de ponta), por sua superfície lateral (resistência de atrito do fuste) ou por uma
combinação das duas, e está assente em profundidade em relação ao terreno adjacente superior
ao dobro de sua menor dimensão em planta.

- Estacas

Elemento estrutural esbelto que, colocado ou moldado no solo por cravação ou


perfuração, tem a finalidade de transmitir cargas ao solo, seja pela resistência sob sua
extremidade inferior (resistência de ponta ou de base), seja pela resistência ao longo de sua
superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação das duas.

- Tubulão

Elemento de fundação profunda, cilíndrico, em que, pelo menos na sua etapa final de
escavação, há descida de operário. Pode ser feito a céu aberto ou sob ar comprimido
(pneumático), e ter ou não base alargada.
74
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Na verdade, a transmissão de carga de um tubulão não segue o conceito literal de


Fundação Profunda, por ser desprezado o atrito lateral do fuste. Mesmo assim, é referida como
fundação profunda por se tratar de profundidades de apoio como estas.

3 - Pressões Admissíveis

- Pressão Admissível de uma Fundação Superficial

Pressão aplicada por uma fundação superficial ao terreno, que provoca apenas recalques
que a construção pode suportar sem inconvenientes e que oferece, simultaneamente um
coeficiente de segurança satisfatório contra a ruptura ou o escoamento do solo ou do elemento
estrutural de fundação (perda de capacidade de carga).

Essa definição esclarece que as pressões admissíveis dependem da sensibilidade da


construção projetada aos recalques, especialmente aos recalques diferenciais específicos, os
quais, de ordinário, são os que prejudicam sua estabilidade.

- Recalques Diferencial Específico

Diferença entre os recalques absolutos de dois apoios, dividida pela distância entre os
apoios.

4 - Viga de Equilíbrio ou Viga Alavanca

Elemento estrutural que recebe as cargas de um ou dois pilares (ou pontos de carga) e é
dimensionado de modo a transmiti-las centradas às fundações. Da utilização de viga de equilíbrio
resultam cargas nas fundações diferentes das cargas dos dois pilares nelas atuantes.

Figura 6: Pilar de divisa com viga alavancada através de viga em balanço.


Fonte: CAMPOS, 2015
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Figura 7: Sapata Alavancada.


Fonte: CAMPOS, 2015

4. 2 - Prescrições e Considerações da Norma

São apresentados aqui o que prescreve a Norma Brasileira sobre a elaboração de projeto e
a execução de fundações particularmente em superfície.

4.2.1 - Pressão admissível

Devem ser considerados os seguintes fatores na determinação da pressão admissível:


a) profundidade da fundação:
b) dimensões e forma dos elementos da fundação;
c) característica do terreno abaixo do nível da fundação;
d) lençol d’água;
e) modificação das características do terreno por efeito de alívio de pressões, alteração
do teor de umidade de ambos;
f) características da obra, em especial a rigidez da estrutura.

4.2.1.1 - Metodologia para determinação da pressão admissível

A pressão admissível pode ser determinada por um dos critérios descritos:

• Por meio de teorias desenvolvidas na Mecânica dos Solos:


a) uma vez conhecida as características de compressibilidade, resistência ao cisalhamento
do solo e outros parâmetros, a sua pressão admissível pode ser determinada por meio de teoria
desenvolvida na Mecânica dos Solos, levando em conta eventuais inclinações da carga e do
terreno e excentricidades;
b) faz-se um cálculo de capacidade de carga à ruptura; apartir desse valor, a pressão
admissível é obtida mediante a introdução de um coeficiente de segurança, que deve ser igual ao
recomendado pelo autor da teoria; caso não haja essa recomendação, adota-se um coeficiente de
segurança compatível com a precisão da teoria e o grau de conhecimento das características do
solo, nunca menor que três. A seguir, faz-se uma verificação de recalques para essa pressão, que,
se conduzir a valores aceitáveis, será confirmada como admissível; caso contrário, o seu valor
deve ser reduzido até que se obtenham recalques aceitáveis.

• Por meio de prova de cargas sobre placa, devidamente interpretada (ver NBR 6489).
76
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• Por métodos semi-empíricos


São chamados de métodos semi-empíricos aqueles em que as propriedades dos materiais
são estimadas com base em correlações e são usadas em teorias de Mecânica dos Solos,
adaptadas para incluir a natureza empírica do método. Quando os métodos semi-empíricos são
usados, deve-se apresentar justificativas, indicando a origem das correlações
(inclusive referências bibliográficas).

• Por meios empíricos


São considerados meios empíricos aqueles pelos quais se chega a uma pressão admissível
com base na descrição do terreno (classificação e compacidade ou consistência). Esses métodos
apresentam-se usualmente sob a forma de tabelas de pressões admissíveis.

No caso de não haver dúvida nas características do solo, conhecidas com segurança, como
resultado da experiência ou fruto de uma satisfatória interpretação de sondagens, pode-se
considerar como pressões admissíveis sobre o solo as indicadas na tabela1.

Tabela 1 – Valores empíricos para pressão admissível


Valores
Classe Solo básicos
Mpa - kg/cm2
1 Rocha sã, maciça, sem laminações ou sinal de decomposição 5 50
Rochas laminadas, com pequenas fissuras, estratificadas 3,5 35
3 Solos cocrecionados
4 Pedregulhos e solos pedregulhosos, mal graduados, compactos 0,8 8
5 Pedregulhos e solos pedregulhosos, mal graduados, fofos 0,5 5
6 Areias grossas e areias pedregulhosas, bem graduadas, compactadas 0,8 8
7 Areias grossas e areias pedregulhosas, bem graduadas, fofas 0,4 4
8 Areias finas e médias:
Muito compactadas 0,6 6
Compactadas 0,4 4
Medianamente compactadas 0,2 2
9 Argilas e solos argilosos:
Consistência dura 0,4 4
Consistência rija 0,2 2
Consistência média 0,1 1
10 Siltes e solos siltosos:
Muito compactados 0,4 4
Compactados 0,2 2
Medianamente compactados 0,1 1
1: Notas
a) Para materiais intermediários entre as classes 4 e 5, interpolar entre 0,8 e 0,5 Mpa.
b) Para materiais intermediários entre as classes 6 e 7, interpolar entre 0,8 e 0,4 Mpa
c) No caso do calcário ou qualquer outra rocha cárstica, devem ser feitos estudos especiais.
d) Para a definição de diferentes tipos de solos, deve-se consultar a NBR 6502.

“Para situação de limitações e inseguranças no conhecimento das características do solo,


equivalendo-se da aplicação de um fator de segurança maior, pode-se adotar valores admissíveis
igual à aproximadamente 0,66 (66%) dos valores sugeridos na tabela”. (M. Marangon)

4.2.1.2 - Prescrições para determinação da pressão admissível

Na determinação da pressão admissível deve-se considerar os itens a seguir.

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• Fundação sobre rochas

Em qualquer fundação sobre rocha, deve-se para a fixação da pressão admissível, levar
em conta a continuidade da rocha, sua inclinação e influência da altitude da rocha sobre a sua
estabilidade. Pode-se assentar fundação sobre rocha de superfície inclinada desde que se prepare,
se necessário, essa superfície (chumba mentos, escalonamentos em superfícies horizontais, etc.),
de modo a evitar um deslizamento da fundação.

• Pressão admissível nas areias médias e finas, fofas; argilas moles; siltes fofos; aterros e
outros materiais

Nesses solos a implantação de fundações só pode ser feita após cuidadoso estudo com
base em ensaios de laboratório e campo, compreendendo o cálculo de capacidade de carga, o
cálculo e a analise da repercussão dos recalques sobre o comportamento da estrutura.

• Solos expansivos

No caso de solos expansivos, a pressão admissível deve-se levar em conta a pressão de


expansão e nunca ser inferior a essa.

• Prescrições especiais para solos granulares

Quando se encontram abaixo da cota de fundação até uma profundidade de duas vezes a
largura da construção, apenas solos das classes 4, 5, 6, 7 e 8 (areias e pedregulhos), pode-se
aumentar a pressão admissível em função da largura L do corpo de fundação, de acordo com a
fórmula a seguir; desde que tal largura seja maior que dois metros:

adm = 0 adm [ 1 + 0,1875 . ( L - 2 )] < 2,5 0 adm


Onde:
0 adm = Pressão admissível, de acordo com a tabela 1
L = largura, em metros ≤ 10

Nota: Para larguras de corpos de fundação menores do que dois metros, vale a mesma fórmula
para cálculo de pressão admissível, a qual será menor que a fornecida na Tabela 1.

• Prescrição especial para solos argilosos

As pressões admissíveis indicadas na Tabela 1 para solos argilosos ( classe 9 ), entendem-


se aplicáveis a um corpo de fundação não maior que 10m2. Para maiores áreas carregadas ou na
fixação da pressão média admissível sobre um conjunto de corpos de fundação ou totalidade da
construção, deve-se reduzir os valores na Tabela 1, de acordo com a fórmula abaixo:

10
adm = 0 adm > 0,5 0 adm
S

Onde:
S = área total da parte considerada, ou da construção inteira, em m2

78
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• Aumento da pressão admissível em decorrência da profundidade da fundação

As pressões admissíveis constantes da tabela 1, para os solos de classes 4 a 8, devem ser


aplicadas quando a profundidade da fundação, medida a partir do topo da camada escolhida para
assentamento dos elementos de fundação, for menor ou igual a um metro; quando a fundação
estiver a uma profundidade maior e for totalmente confinada pelo terreno adjacente, os valores
básicos podem ser acrescidos de 40% para cada metro de profundidade além de um metro,
limitado ao dobro do valor da Tabela 1.

Nota: Em qualquer caso, pode-se somar a pressão calculada, mesmo aquela que já tiver sido
corrigido conforme o peso efetivo das camadas de solo sobrejacentes, desde que garantida a sua
permanência.

4.2.2 - Dimensionamento

As fundações em superfície devem ser definidas através de dimensionamento geométrico


e de cálculo estrutural.

4.2.2.1 - Dimensionamento geométrico

No dimensionamento geométrico deve-se considerar as seguintes solicitações:


a) cargas centradas;
b) cargas excêntricas;
c) cargas horizontais.

• A área de fundação solicitada por cargas centradas deve ser tal que a pressão transmitida
ao terreno, admitida uniformemente distribuída, seja a pressão admissível conforme 2.1.

• Diz-se que uma função é solicitada por carga excêntrica quando for solicitada:
a) por uma força vertical cujo suporte não passa pelo centro de gravidade da superfície de
contato da fundação com o solo;
b) por uma força vertical e por forças horizontais situadas fora do centro da base da
fundação.

• No dimensionamento de uma fundação solicitada por carga excêntrica deve-se atender as


seguintes prescrições:
a) a resultante das cargas permanentes deve passar pelo núcleo central da base da
fundação;
b) a excentricidade da resultante das cargas totais é limitada a um valor tal que o centro
de gravidade de base da fundação fique na zona comprimida, determinada na suposição de que
entre o solo e a fundação não possa haver tensões de tração;
Notas: No caso de fundação retangular de dimensões “a” e “b”, as excentricidades “u” e “v”,
medidas paralelamente aos lados “a” e “b”, respectivamente, devem satisfazer à condição:
u v 1
 
a b 9

No caso de uma função circular plena de raio “r”, a excentricidade “e” deve satisfazer a
condição:
e
 0,59
r
79
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c) nas sapatas dos pilares situados nas divisas de terrenos, a excentricidade deve ser
eliminada mediante o emprego de soluções estruturais como por exemplo, as vigas de equilíbrio.

• Para equilibrar a força horizontal que atua sobre uma fundação em sapata ou bloco, pode-
se contar com o empuxo passivo e o atrito entre o solo e a base da fundação. O coeficiente de seu
emprego de segurança ao deslizamento deve ser, pelo menos, igual a 1,5.

4.2.2.2 - Cálculo estrutural

O cálculo estrutural deve ser feito de maneira a atender às normas estruturais brasileiras, e
observar as condições abaixo:

• As sapatas para pilares isolados e as sapatas corridas podem ser calculadas como placas
(por ex.: pelo método de linhas de ruptura, por método baseado na teoria da elasticidade ou pelo
método das bielas). Em qualquer caso deve-se considerar que:
a) quando calculadas como placas, não se pode deixar de considerar o puncionamento;
b) para efeito de cálculo estrutural, as pressões na base das fundações podem ser
admitidas como uniformemente distribuídas, exceto nos casos das fundações apoiadas sobre
rocha;
c) quando a sapata for submetida a cargas excêntricas, pode-se, na falta de um processo
mais rigoroso, uniformizar a pressão, adotando-se a maior dos seguintes valores: dois terços do
valor máximo ou a média dos valores extremos;
d) para efeito de cálculo estrutural de fundações apoiadas sobre rocha, o elemento
estrutural deve ser calculado como peça rígida, adotando-se o diagrama de distribuição da figura1

Figura 1 - Diagrama de distribuição de pressões

• os blocos de fundação podem ser dimensionados de tal maneira que o ângulo , indicado
na figura 2, satisfaça a equação:

tg 
= 1
 f1
Onde:
 = pressão no terreno
ft = tensão admissível de tração no concreto
f tk

ft   2,5
 0,8

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 Conforme na NBR 6118, a resistência característica do concreto é dada por:

ftk = fck para fck  18MPa


ftk = 0,06 fck + 0,7 para fck > 18mpa

 Quanto à distribuição das pressões sob a base do bloco, é aplicável o mesmo já disposto
para sapatas.

 As vigas e placas de fundação podem ser calculadas pelo método de coeficiente de recalque
ou por um método que considere o solo como um meio elástico contínuo.

4.2.3 Disposições construtivas

4.2.3.1 Profundidade mínima

A base de uma fundação deve ser assente a uma profundidade tal que garanta que o solo
de apoio não seja influenciado pelos agentes atmosféricos e fluxos d’água. Nas divisas de
terrenos vizinhos, salvo quando a fundação for assente sobre rocha, tal profundidade não deve ser
menor que 1,5 metros.

4.2.3.2 Implantação de fundações de qualquer obra em terrenos acidentados

Nos terrenos com topografia acidentada, a implantação de qualquer obra e de suas


fundações deve ser feita de maneira a não impedir a utilização satisfatória dos terrenos vizinhos.

4.2.3.3 - Fundações em cotas diferentes

• No caso de fundações contíguas assentes em cotas diferentes, uma reta passando pelos
seus bordos deve fazer, com a vertical, um ângulo  ( ver figura 3 ), que dependerá das
características geotécnicas do terreno ( conforme 2.1.2-a ), observando-se que:

a) para solos pouco resistentes,   60o


b) para rochas,  = 30o

• A fundação situada em cota mais baixa deve ser executada em primeiro lugar, a não ser
que se tomem cuidados especiais.
81
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Figura 3 - Fundações em cotas diferentes

Nota: Em fundações que não se apoiam sobre rochas deve-se executar anteriormente à execução
da fundação uma camada de concreto de regularização de, no mínimo, 10cm ocupando toda a
área da cava de fundação.

4. 3 - Capacidade de Carga dos Solos

No que se segue, referir-nos-emos às fundações superficiais em que a profundidade de


assentamento da fundação no solo é menor ou igual à sua largura, segundo abordagem
apresentada pelo Prof. Homero Pinto Caputo.

Quando uma carga proveniente de uma fundação é aplicada ao solo, este deforma-se
e a fundação recalca, como sabemos. Quanto maior a carga, maiores os recalques. Como
indicado na Fig. 1, para pequenas cargas os recalques são aproximadamente proporcionais.

Fig. 1 e 2 - Variação do recalque em função da pressão aplicada no solo.

Das duas curvas pressões-recalques mostradas, observa-se que uma delas apresenta uma
bem definida pressão de ruptura pr , que, atingida, os recalques tornam-se incessantes. Este
caso, designado por ruptura generalizada, corresponde aos solos pouco compressíveis
(compactos ou rijos). A outra curva mostra que os recalques continuam crescendo com o
aumento das pressões, porém não evidencia, como anteriormente, uma pressão de ruptura; esta
será então arbitrada (pr’) em função de um recalque máximo (r’) especificado. Nesse caso,
denominado ruptura localizada, enquadram-se os solos muito compressíveis (fofos ou moles).
82
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Atingida a ruptura, o terreno desloca-se, arrastando consigo a fundação, como mostrado


na Fig.2. O solo passa, então, do estado “elástico” ao estado “plástico”. O deslizamento ao
longo da superfície ABC é devido a ocorrência de tensões de cisalhamento () maiores que a
resistência ao cisalhamento do solo (r).

Recentemente tem sido mencionado um outro tipo de ruptura, que ocorre por
puncionamento, ainda em fase de investigação.

Pressão de Ruptura x Pressão Admissível

A pressão de ruptura ou capacidade de carga de um solo é, assim, a pressão pr , que


aplicada ao solo causa a sua ruptura. Adotando um adequado coeficiente de segurança, da
ordem de 2 a 3, obtém-se a pressão admissível, a qual deverá ser “admissível” não só à ruptura
como as deformações excessivas do solo.
O cálculo da capacidade de carga do solo pode ser feito por diferentes métodos e
processos, embora nenhum deles seja matematicamente exato.
Coeficientes de segurança - Não é simples a escolha do adequado coeficiente de
segurança nos cálculos de Mecânica dos Solos.

Tendo em vista que os dados básicos necessários para o projeto e execução de uma
fundação provêm de fontes as mais diversas, a escolha do coeficiente de segurança é de grande
responsabilidade.

O quadro 1 resume os principais fatores a considerar.


Fatores que influenciam a Coeficiente de Segurança
escolha do coeficiente de Pequeno Grande
segurança
Propriedades dos materiais Solo homogêneo Solo não homogêneo
Investigações geotécnica Inestigações geotécnicas
amplas escavadas
Influências exteriores tais Grande número de informações, Poucas informações disponíveis
como vento, água, tremores medidas e observações
de terra, etc. disponíveis
Precisão do modelo de Modelo bem representativo das Modelo grosseiramente repre-
cálculo condições reais sentativo das condições reais
Consequências em caso de Consequencia finan- Consequencias finan- Consequencia finan-
acidente ceiras limitadas e sem ceiras consideráveis e ceiras desastrosas e
perda de vidas risco de perda de elevadas perdas de
humans. vidas humanas. vidas humanas.

Fórmula de Terzaghi:

Para deduzi-la, consideremos em um solo não coesivo uma “fundação corrida”, ou seja,
uma fundação com forma retangular alongada.

A teoria de Terzaghi se originou nas investigações de Prandtl, relativas à ruptura plástica


dos metais por puncionamento.

Retomando esses estudos, Terzaghi aplicou-os ao cálculo da capacidade de carga de um


solo homogêneo que suporta uma fundação corrida e superficial.

83
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Segundo esta teoria e como ilustrado nas Figs. 3 e 4, o solo imediatamente abaixo da
fundação forma uma “cunha”, que em decorrência do atrito com a base da fundação se desloca
verticalmente, em conjunto com a fundação. O movimento dessa “cunha” força o solo adjacente
e produz então duas zonas de cisalhamento, cada uma delas constituída por duas partes: uma de
cisalhamento radial e outra de cisalhamento linear.

Fig. 3

Fig. 4
Assim, após a ruptura, desenvolvem-se no terreno de fundação três zonas: I, II e III, sendo
que a zona II admite-se ser limitada inferiormente por um arco de espiral logarítimica.

A capacidade de suporte da fundação, ou seja, a capacidade de carga, é igual à resistência


oferecida ao deslocamento pelas zonas de cisalhamento radial e linear.

Da Fig. 5, obtém-se:

b
AB =
cos
onde  é o ângulo de atrito inteiro do solo. (também indicado por  ou )

Sobre AB, além do empuxo passivo Ep, atua a força de coesão:

bc
C = c . AB = .
cos

Para equilíbrio da cunha, de peso P0, tem-se:

P + P0 - 2C sen - 2Ep = 0 ou,


P = 2C sen + 2Ep - P0, ou ainda:

bc 1
P=2 sen + 2Ep - (2b . b.tg)  ou,
cos 2
P = 2 bc tg + 2Ep -  b tg,
2

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sendo  o peso específico.


Daí:
P Ep 1
Pr = = c tg +  b tg.
2b b 2

Entrando-se com a consideração do valor de Ep, que omitiremos para não alongar, a
expressão final obtida por Terzaghi escreve-se:

pr = c Nc +  b N +  h Nq
Onde Nc, Nq e N são fatores de capacidade de suporte, função apenas do seu ângulo de
atrito () do solo e definidos por:

Nq = etan tan2 (45º + /2) Nc e Nq: Expressões apresentadas por Reisnner (1924),
adotado por Vésic (1975)

Nc = (Nq - 1) cot 

N = 2 (Nq + 1) tan N: Expressão apresentada por Meyerhof (1955)

Para os dois tipos de ruptura obtém-se, em função de , os valores de Nc, Nq e N,


fornecidos pela Fig. 5 (segundo Terzaghi e Peck, 1948)

Fig. 5

A fórmula que vem de ser obtida refere-se a fundações corridas.

Para fundações de base quadrada de lado 2b.

Prb = 1,3 cNc + 0,8 bN + hNq

e de base circular do raio r:

Prb = 1,3 cNc + 0,6 rN + hNq


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A análise até aqui exposta refere-se ao caso de “ruptura generalizada”. Em se tratando


de “ruptura localizada”, os fatores a usar serão Nc’, N’ e Nq’ (fig. 6), adotando-se um ’
dado por tg ’ = 2/3 tg  e c’ = 2/3 c. Os valores N’ são obtidos entrando-se com ’ nas linhas
cheias ou com  nas linhas tracejadas.

Explicando o significado dos termos da fórmula de Terzaghi, pode-se escrever (fig. 6).

coesão atrito
 sobrec
 arg a

pr = cNc   1bN    2 hN q

* Para os solos puramente coesivos, como  = 0º, Nq = 1,N = 0 e Nc = 5,7, obtém-se:

pr = 5,7c + h.
Se h = 0:
pr = 5,7c,
o que dará:
pr = 5,7c, para fundações corridas
e:
prb = prr = 5,7 x 1,3c = 7,4c, para fundações
Fig. 6 quadradas e circulares.

* Para as areias (c = 0)
pr = 1bN + 2hNq’

o que mostra que a capacidade de carga das areias é proporcional à dimensão da fundação e
aumenta com a profundidade.

Vimos que para fundações corridas de comprimento L e largura 2b, em argilas ( = 0º):
pr = cNc + h

Introduzindo, agora, as razões 2b/L e h/2b (que deverá ser menor que 2,5), o valor de Nc é
obtido pela fórmula de Skempton:

 2b   h 
Nc =  5    1  
 L   10b 

Para fundações quadradas e circulares constata-se experimentalmente que o valor máximo


de Nc é igual a 9.

* Ocorrência de NA

Abaixo do nível d’água deve-se usar o peso específico de solo submerso, o que reduzirá o
valor da capacidade de carga.

86
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Fórmula Generalizada (Meyerhof)

Pela fórmula de Terzaghi vimos que para carga vertical centrada e fundação alongada, a
capacidade de carga dos solos é dada pela fórmula:

1
pr = cNc + hNq + bN
2
onde aqui, b é a largura total da fundação.

Generalizando-a para as fundações de diferentes formas, que tem a sua origem


principalmente nos estudos de Meyerhof, ela se escreve:

1
pr = sccNc + sqhNq + sbN
2

com os fatores de capacidade N dados pelo Quadro 1 e os coeficientes de formas pelo Quadro 2.

Quadro 1 - Meyerhof
 0.º 5.º 10.º 15.º 20.º 22,5.º 25.º 27,5.º 30.º 32,5.º 35.º 37,5.º 40.º 42,5.º
Nc 5,1 6,5 8,3 11,0 14,8 17,5 20,7 24,9 30,1 37,0 46,1 58,4 75,3 99,2
Nq 1,0 1,6 2,5 3,9 6,4 8,2 10,7 13,9 18,4 24,6 33,3 45,8 64,2 91,9
N 0,0 0,3 0,7 1,6 3,5 5,0 7,2 10,4 15,2 22,5 33,9 54,5 81,8 131,7

Quadro 2
Forma da Fundação Coeficiente de Forma
sc , sq s
Corrida 1,0 1,0 1,0
Retangular b b
1 + 0,3 1 - 0,4
(b < a) a a
Quadrada (a = b) 1,3 1,0 0,8
Circular (D = b) 1,3 1,0 0,6

Influência de  na extensão e profundidade da superfície de deslizamento. De especial


interesse é observar a influência da variação do ângulo de atrito interno  na extensão e
profundidade da superfície de deslizamento, como indicado na Fig. 7.

Fig. 7
87
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4. 4 - Determinação da Capacidade de Carga Admissível (Taxa de Trabalho)

Uma vez definida a capacidade de carga do solo, restaria dividi-la pelo fator de
segurança, para obter-se a taxa de trabalho ou tensão admissível do solo. Tem-se:
 pr

FS

O quadro 3 resume os valores a considerar.


Categoria Estruturas Características Prospecção
Típicas de Categoria Completa Limitada
Pontes Ferroviárias Provável ocorrer as máximas cargas de 3,0 4,0
Alto-Fornos projeto; consequência de ruptura são
A Armazéns desastrosas
Estruturas Hidráulicas
Muros de Arrimo
Silos
Pontes Rodoviárias As máximas cargas de projeto apenas 2,5 3,5
B Edifícios Públicos eventualmente podem ocorrer;
Indústrias Leves consequências de ruptura são sérias
C Prédios de Escritórios Dificilmente ocorrem as máximas 2,0 3,0
e/ou de Apartamentos cargas de projeto.

Exemplo de cálculo da capacidade de carga admissível de uma sapata de fundação, em


2
tf/m , em solo de predominância argilosa (argila média), obtida a partir da adoção dos parâmetros
“coesão”, “ângulo de atrito” e “peso específico” através de tabelas de correlações com a
consistência da argila.

Fig 8 – Planilha de cálculo em Excel


88
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Entre os projetistas brasileiros de fundações tem sido comumente empregado o índice de


medida da resistência à penetração do amostrador padrão utilizado nas sondagens à percussão.

As tabelas a seguir, publicadas pela Maria José Porto, em Prospecção Geotécnica do


Subsolo - 1979, traduzem relações entre o índice de resistência à penetração (SPT) com taxas
admissíveis para solos Argilosos e Arenosos.

Quadro 4 (Maria José Porto)


Relações entre índice de Resistência à Penetração (SPT) com as Taxas Admissíveis
para Solos Argilosos
Tensões Admissíveis
O
Argila N de Golpes ( Kg /cm2 )
SPT Sapata Quadrada Sapata Contínua
Muito Mole 2 < 0,30 < 0,20
Mole 3-4 0,33 - 0,60 0,22 - 0,45
Média 5 -8 0,60 - 1,20 0,45 - 0,90
Rija 9 - 15 1,20 - 2,40 0,90 - 1,80
Muito Rija 16 - 10 2,40 - 4,80 1,60 - 3,60
Dura > 30 > 4,80 > 3,60

Quadro 6 (Maria José Porto)


Relações entre índice de Resistência à Penetração (SPT) com as Taxas Admissíveis
para Solos Arenosos
Areia No de golpes SPT Tesão Admissível
(Kg/cm2)
Fofa 4 < 1,0
Pouco Compacta 5 - 10 1,0 - 2,0
Medianamente Compacta 11 - 30 2,0 - 4,0
Compacta 31 - 50 4,0 - 6,0
Muito Compacta > 50 > 6,0

4. 5 - Determinação da Taxa de Trabalho a partir de Prova de Carga


(Segundo a NBR 6489, apresentado por Bueno, B.S. e outros, Pub. 204 - UFV)

A execução de Prova de Carga para a obtenção da Capacidade de Carga dos Solos em


fundações diretas é feita através do “Ensaio de Placa”.

O Ensaio de Placa, conforme croqui da fig. Apresentada a seguir, constitui um modelo


clássico de análise da capacidade de carga dos solos.

Os valores de r e  ,r refletem medidas das tensões de ruptura dos solos para as


condições de rupturas geral e local. No primeiro caso, há uma clara destinação do ponto de
ruptura; segundo, o máximo recalque tolerável (max) é que irá determinar a carga que o solo
deve suportar em face da obra projetada.

89
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Execução do ensaio de placa

A NBR 6489 fixa a metodologia a ser observada para a realização da prova de carga
sobre placa.
A placas deve ser rígida e não ter área inferior a 0,5 m2; será colocada no fundo de um
poço de base nivelada ocupando toda a área. A relação entre a largura e a profundidade do
poço para a prova deverá ser a mesma que a relação existente entre a largura e a profundidade
da futura fundação.
A carga será aplicada em estádios sucessivos de, no mínimo, 20% da taxa de trabalho
admissível provável do terreno.
Em cada estádio de carga, os recalques, com precisão de 0,01m, serão lidos
imediatamente após a aplicação da carga e após intervalos de tempo sucessivamente dobrados
(1, 2, 4, 8, 16, ...n minutos). Só será aplicado novo acréscimo de carga depois de verificar a
estabilidade dos recalques (com tolerância máxima de 5% do recalque total neste estádio,
calculado entre duas leituras sucessivas). O dispositivo de leitura dos recalques deve estar
acoplado em barras apoiadas a uma distância de 1,5 vezes o diâmetro da placa, distância esta
medida a partir do centro da placa.
O ensaio deverá ser levado até, pelo menos, observar-se um recalque total de 25mm ou
até atingir-se o dobro da taxa admitida para o solo.
A carga máxima alcançada no ensaio, caso não se vá até a ruptura, deverá ser mantida,
pelo menos, durante 12 horas.
A descarga deverá ser feita em estádios sucessivos, não superiores a 25% da carga total,
lendo-se os recalques de maneira idêntica à do carregamento e mantendo-se cada estádio até a
estabilização dos recalques, dentro da precisão requerida.

Resultados obtidos de uma prova de carga.

Interpretação dos resultados do ensaio de prova de carga .


O critério convencional não considera a diferença de comportamento (resultante dos
fatores já citados nos métodos de determinação da capacidade de carga) da placa e da sapata, e
pode ser visualizada na figura a seguir apresentada.
90
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i) se ocorre a ruptura do solo (ruptura geral)


p
 r ; FS=2,0
FS

ii) se ocorre uma deformação excessiva (ruptura local ou puncionamento)


max = ?
   25mm

max = 25 mm  FS ; FS = 2,0
  10mm

A taxa de trabalho será o menor valor dentre a tensão que provoca um recalque de 25 mm
reduzida por um fator de segurança e a tensão que provoca um recalque de 10mm.

iii) quando a reação é insuficiente.


A taxa de trabalho será obtida dividindo-se pelo coeficiente de segurança a tensão
máxima atingida no ensaio, n, que deverá atuar por um tempo mínimo de 12horas. A taxa assim
obtida deverá ser menor do que a tensão que provoca um recalque de 10 mm.
p
 r ; FS=2,0
FS

    10mm

4. 5 - Exemplos de Análise e Dimensionamento Geotécnico

Avaliação da Capacidade de Suporte dos Solos de Fundações Rasas.

Considere os resultados de SPT para os primeiros metros de prospecção realizados em um


terreno praticamente plano.

91
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Observe os fatores de influência no


dimensionamento de fundações diretas

Nestes exemplos são realizadas várias


análises, para efeito de comparação de
resultados.

1º) Capacidade de carga para uma sapata corrida, assente no horizonte de areia (para a mínima
escavação), com cálculo:

a) Argila => N=6 => consistência média (próximo de mole se N=5)


Parâmetros TAB.3, por exemplo:  = 1.6 t/m3 (média-mole)
C = 2.5 t/m3 (menor valor para média)
=0
b) Areia => N=9 => medianamente compacta (menor valor para med. compacta)
Parâmetros TAB.3, por exemplo:  = 1.9 t/m3
C = 0 t/m3
 = 35º (menor valor)
Cálculo da Capacidade de Carga:

Sc Nc  58

S  1 N  42 => ruptura generalizada “areia med. comp.”

S q N q  41

qr  C  Nc   a  ha  N q   b  b  N
qr  1.6  1.5  41  1.9  1.0  42 Obs.: b = 0.5 x B
qr  98.4  79.8  178.2 t / m2  17.8 Kg / cm2

A parcela de qr correspondente a 98.4 t/m2 é devido a sobrecarga (profundidade de


assentamento) e a parcela de qr correspondente a 79.8 t/m2 é devido a base (largura – “atrito na
base”).
92
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Assim, para FS = 3.0 (Prédio de Apartamento – Prospecção limitada – Parâmetros


estimados por tabelas), tem-se:

qr 17.8
 adm    5.9 Kg / cm 2
FS 3

Análise do valor da taxa do terreno estimada (calculada)


5,9 Kg/cm2 é aceitável?

Vejamos: i) Norma NBR 6122 sugere:


Areias grossas, fofas a compactas de 4 a 8
(média 6 Kg/cm2)
Areias finas e médias, med. comp. a comp. de 2 a 4

ii) Valores sugeridos pela Mª José do Porto:


Solos arenosos, sapata corrida até 6 Kg/cm2 .... ok 5,9 Kg/cm2

2°) Dimensionamento de uma sapata (corrida, quadrada ....) a partir do valor da capacidade de
carga (taxa admissível  ) calculado, como no exemplo anterior.

F F
 A F  carregamento na Fundação
A 
  taxa (arbitrada ou calculada )
pr
Só que:  e pr  f (b) onde b = dimensão da fundação
FS
Logo:
Arbitra-se um valor esperado para “b” e calcula-se o valor de  . A partir de  , calcula-
F
se a área necessária A  e b.

Se o valor de b distanciar muito do “b” anteriormente arbitrado no cálculo da taxa  ,
F
recalcular o valor de pr e  com este novo “b” e depois a nova área A  e b (a dimensão da

fundação) até convergir.

O dimensionamento de Fundações rasas em areia poderia ser feito arbitrando-se o valor


da capacidade de suporte do solo (taxa) e determinado diretamente o valor de b, calculada a área
necessária para a fundação.

3°) Capacidade de suporte para o NA na base da camada de argila (ao nível de assentamento):

b) areia γsub =?

γsub = 2,0 – 1,0 γsub = γsat – γa


γsub = 1,0 t/m² γsat > γnat
se γsat = 2,0 t/m²

93
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qr  98,4   b bN  , sendo 98,4 a parcela não inf luenciada


qr  98,4  1,0  1,0  42  140,4  14,0 Kg / cm²
14
  4,66 Kg / cm 2
3

Observa-se que os valores apresentados em “tabelas” como valores admissíveis não


discutem a condição de estar ou não sob a ação do NA.

Tem –se valores de  sob NA sempre menores que na condição de não ocorrer.

b) areia
Considere agora a hipótese dos dois materiais ocorrerem em posição inversa: 
a) arg ila

 Nc'  5

Coeficientes de forma diferentes – “argila” (Ruptura Localizada)  N '  0
 Nq'  1

4°) Capacidade de carga para as condições apresentadas no 1° exemplo:

qr  Ca N c   b hb N q   abN
qr  2,5  5,7  1,9  1,5  1,0  0
qr  14,25  2,85  17,1  1,71 Kg / cm²
 
parcela sobrec arg a
coesão
1,71
   0,57 Kg / cm²
3

Se coesão pouco maior, por exemplo: c = 3,5 t/m²


qr = 2,28 Kg/cm² e  = 0,76 Kg/cm²

Análise do valor da taxa do terreno estimada:


0,57 Kg/cm² é aceitável ?

Vejamos: i) Norma NBR 6122 sugere:


- Argila de consistência média => 1 Kg/cm²

- O N – SPT = 6 indica o menor valor para a consistência média.


Observa-se que a norma não sugere valor para argila mole

- Se 66% de 1 Kg/cm²  = 0,66 Kg/cm²

ii) Valores sugeridos pela Mª José do Porto:


De 0,6 a 1,2, como temos o valor inferior de N-SPT para a
consistência média =>  = 0,6 Kg/cm².
94
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5°) Se argila com N – SPT = 12 ao nível da sapata:

N = 12 => consistência rija


Parâmetros: γ tab. 3 γ =1,9 1,9 t/m²
tab. 4 γ = 1,76 – 2,08

C tab. 2 0,5 < C < 1,0


8 < N < 15
N = 12 C = 0,75 Kg/cm²

tab. 3 5 < C < 15


C  10 como N  15 (rija de 11 a 19)
como 12 < 15 , logo: 7,5 < 10 t/m² OK!

tab. 5 75 < Su < 150


Su = C = 75Kn/m² = 7,5 t/m² = 0,75 Kg/cm²

Veja quer as tabelas mostram certa relação entre os valores sugeridos.


Então:
qr  5,7  7,5  1,9  1,5  1,0  0
qr  42,75  2,85  45,8  4,58 Kg / cm²

parcela coesão maior
4,58
  1,52 Kg / cm²
3
Análise:
i) Norma sugere 2 Kg/cm² 66% de 2,0 = 1,32 Kg/cm²

ii) Mª José Porto sugere 1,2 a 2,4, observado o valor de N – SPT no


intervalo para “rija” ,  12  1,50 Kg / cm²

OBS.: O dimensionamento da capacidade de carga ( e conseqüente taxa admissível  ) pode ser


calculado para uma argila – desconsiderado o ângulo de atrito, φ = 0, independente da dimensão
da fundação. A partir do valor de  , obtém-se a sua dimensão b, calculando-se a área necessária:
F
A

Conclusão:
“ A capacidade de carga de uma “areia” é proporcional a dimensão da Fundação e da pressão de
sobrecarga enquanto que, a capacidade de carga de uma “argila” não é proporcional à dimensão
da Fundação, só sendo da pressão de sobrecarga e do valor da coesão”.

6°) Qual a dimensão que deve ter uma sapata quadrada para uma carga centrada de 11,8 t, a
uma profundidade de 1,5m, em uma argila que se consegue molda-la com relativo esforço.

Solução:
Argila de consistência média a rija
95
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  0 (desprezado )

Parâmetros   1,8 t / m³ (valor clássico  valor médio tab.3, entre " média e rija")
C  ?

tab. 2 C = 0,5 Kg/m² maior média
menor rija
tab. 3 C = 5,0 t/m² menor rija
tab. 5 Valores médio para consistência média (relativo esforço)
C  57,5 (entre 40 e 75) Cadotado = 50 KN/m²

qr  1,3 C N c   h N q  0,8  b N
qr  1,3  5  5,7  1,8  1,5  1,0  0 Sc  1,3

qr  37,05  2,7  39,75 t / m²  3,97 Kg / cm² OBS . : Sq  1,0
S  0,8

Valores práti cos
empíri cos
pr 3,97 
   1,32 Kg / cm² 
FS 3 utilizados na
 prática 1,0 a 1,5 Kg / cm²

Cálculo da área necessária e de “L”:

F F 11800 KH
 A A  8939,4 cm²
A  1,32 Kg / cm²

L A L  94,5 cm
Logo:

7°) Se a profundidade de assentamento for 2,0 m ?

qr  37,05  1,8  2,0  1,0  40,65 t / m²  4,06 Kg / cm²

  1,35 Kg / cm²
Pouca diferença, no caso de argila, se mantido o valor da coesão constante, o que não
ocorre na prática.
Os valores de coesão são crescentes com a profundidade.

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4.6 – Fundações em aterros

A foto mostra um rolo compactador em


uma das várias “passadas”, na execução
de um aterro em que foi especificado
GC = 100% do PN (Energia do Proctor
Normal).
O referido aterro receberá fundações de
edificação no município de
Leopoldina/MG.

A utilização da compactação consiste na melhoria das características geotécnicas,


particularmente no que diz respeito a sua densificação (aumento do peso específico) o que
implica em conseguimos maiores pressões admissíveis e menores recalques se comparado com o
solo em sua condição natural “in situ”.

O fato de se ter fundações diretas assentes em aterro não nos garante termos uma
situação favorável, ou com melhores condições de estabilidade uma vez que o grau de
compactação obtido na execução do aterro pode não ser satisfatório a ponto de imprimir ao solo
uma densidade maior que este poderia apresentar na condição natural antes de sofrer escavação e
compactação.

Ensaio para verificação do Grau de compactação (GC) de solo compactado. À esquerda em


argila, através do método de Hilf e à direita em material granular, através do frasco de areia.

Obs.: GC =  Campo /  Labotarório

Não só o problema da densidade da massa de solo a ser obtida, mas problemas


executivos como a falta de homogeneidade do conjunto, (não garantia de uma estrutura uniforme
e constante), descontinuidade de solo compactado, falta de suporte da base do aterro podem ser
também são responsáveis pelo insucesso que possa advir de uma Fundação Direta em aterro.

97
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AVALIAÇÃO NUMÉRICA DA CAPACIDADE DE CARGA EM ATERRO EM FUNÇÃO DE


SE OBTER UM GRAU DE COMPACTAÇÃO MENOR QUE PREVISTO.

Considere a execução de um aterro em que se obtenha um peso específico seco de 1,74


t/m e na umidade ótima de 2,05 t/m3. Considere que este solo nas suas condições anteriores à
3

compactação apresentava peso específico de 1,8 t/m3 “in situ”.


Calculemos a taxa admissível para uma sapata corrida (como exemplo, para comparação)
assente a 1,50 de profundidade.

Argila: máx. “in situ” = 2,05 t/m3 (na ótima)


nat. “in situ” = 1,80 t/m3  c = 5 t/m3 (tab 3)

a) Terreno natural, não “densificado” (compactado)

q r  5,7  5  1  1,80  1,5  0  31,2t / m 2


3,12
  1,04kg / cm 2
3
(Maria José sugere  0,9 Kg/cm2)

b) Solo compactado – Aterro

b.1) GC = 100%  campo = lab  2,05 t/m3 na umidade ótima de compactação.

No exemplo hotm = 18%


Se hotm = 14,1%  nat “aterro” = 2,00 t/m3  c = 15 t/m3 (tab 3)

q r  5,7  15  1  2,00  1,5  0  88,5t / m 2


8,85
  2,95kg / cm 2
3
(Maria José sugere  2,7 Kg/cm2)

b.2) GC = 95%  nat “aterro” = 0,95  2,00  1,90t / m 3  c = 10 t/m3 (tab 3)

q r  5,7  10  1  1,90  1,5  0  59,85t / m 2


5,98
  1,99kg / cm 2
3
(Maria José sugere  1,99 Kg/cm2)

Observe que a estrutura do solo compactado passou de uma taxa de  1,04 para 2,95
2
Kg/cm se alcançada a densidade máxima de laboratório (como frequentemente especificado na
construção dos aterros para assentamento de fundações rasas) e cai de 2,95 para 1,99 Kg/cm2
pelo fato do GC ficar abaixo em apenas 5%.

98
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4.7 – Reforço de Fundações Diretas

Sobre a execução de reforço em Fundações Diretas, pode-se executar como alternativa,


estacas do tipo broca sob a base da fundação a ser concretada.

Estacas brocas são fundações consideradas profundas, executada por perfuração com
trado e posteriormente concretada. Destacada aqui por ser opção de procedimento construtivo a
ser eventualmente utilizado conjuntamente com sapatas.

Executada para contribuir com a capacidade de carga das fundações diretas (sapatas e
blocos), em terrenos de baixa capacidade de carga.

Imagem de um exemplo de sapata com reforço de estacas broca

4.8 –Detalhamento de Sapatas


• SAPATA PARA OS PILARES P1 = P8 = P12 = P19 (25 x 25) 4 x

99
Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

• SAPATA PARA OS PILARES P6 = P7 = P17 = P18 (17 x 25) 4 x

Dimensionamento do Conjunto de Sapatas

Considerações a serem feitas, na elaboração de um projeto:

* Igual solução de fundação (evitar solução mista em uma mesma “planta”)


* Igual cota de assentamento
* Igual Capacidade de carga no Terreno (? – depende da dimensão da “planta”)

Planta de Forma Final


* Arredondado em 5 cm
* Agrupadas em intervalos de dimensões (adotados valores apropriados, evitando muitas
dimensões para o conjunto de sapatas)

100
Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

Exemplo de planta final de projeto de fundações diretas, em sapatas, cintadas, e com sapatas
isoladas, associadas e com vigas de equilíbrio junto à divisa.

Exemplo de planta final de projeto de fundações em sapatas


Fonte: Velloso e Lopes (2012)

101
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Unidade 05
FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Inicialmente são apresentados alguns conceitos da área de Engenharia de Fundações e


que são considerados na norma NBR 6122/2010 - Projeto e Execução de Fundações.

Fundação Profunda
Elemento de fundação que transfere a carga ao terreno ou pela base (resistência de ponta) ou
por sua superfície lateral (resistência de fuste) ou por uma combinação das duas, devendo sua
ponta ou base estar assente em profundidade superior ao dobro de sua menor dimensão em
planta, e no mínimo 3,0 m. Neste tipo de fundação incluem-se as estacas e os tubulões.

Estaca
Elemento de fundação profunda executado inteiramente por equipamentos ou ferramentas, sem
que, em qualquer fase da execução, haja descida de pessoas. Os materiais empregados podem
ser: madeira, aço, concreto pré-moldado in loco ou pela combinação dos anteriores.

Estaqueamento com estacas pré-moldadas, Escavação de Tubulão a Céu Aberto


de seção hexagonal (Naresi, 2018) São João Del Rei - MG (Marangon,2005)

Tubulão
Elemento de fundação profunda, escavado no terreno em que, pelo menos na etapa final, há
descida de pessoas, que se faz necessária para executar o alargamento de base ou pelo menos a
limpeza do fundo da escavação, uma vez que neste tipo de fundação as cargas são transmitidas
preponderadamente pela ponta.

Cravação de estacas. Jaboatão dos Guararapes-PE (Falconi, 2005)

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5. 1 - Classificação das Fundações Profundas


Dentre os diferentes grupos em que se classificam as fundações profundas, pois existe um
grande número de processos executivos (atualmente na ordem de 70), muitos deles pateteados
por empresas especializadas, o fluxograma apresentado a seguir, que tem o mérito de ser
abrangente.
Este se baseia no efeito que a estaca produz sobre o solo durante a cravação.

Tipos de Estacas (Velloso e Lopes, 2002)

São observados 3 (três) grandes grupos:

Estacas Cravadas com Grande Deslocamento (Item 5. 1. 1)


Aquelas introduzidas no solo sem a retirada do solo - provoca assim um grande
deslocamento do solo adjacente a estaca. Temos como principais exemplos as estacas pré-
moldadas de concreto, de madeira, estacas franki, Vibrex, entre outras.

Estacas Cravadas com Pequeno Deslocamento (Item 5. 1. 2)


Também introduzidas no solo sem a retirada do solo, porem provocando um pequeno
deslocamento do solo adjacente a estaca. Refere-se a estacas esbeltas. Temos como principais
exemplos as estacas metálicas, as estacas mega, entre outras.

Estacas Escavadas - Sem Deslocamento (Item 5. 1. 3)


Aquelas executadas no solo sem a retirada do solo adjacente a estaca. Não provocam
assim nenhum deslocamento adjacente quando da execução da estaca. Temos como principais
exemplos as estacas escavadas em geral: trado mecânico, broca (trado manual), Hélice contínua,
Raiz, Injetada, Strauss, entre outras.

5. 1. 1 - Estacas Cravadas com Grande Deslocamento

Estacas Pré-moldadas

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Estacas Pré-Moldadas De Concreto


A sua grande vantagem em relação às estacas no solo reside na concretagem, que é
suscetível de uma fácil fiscalização. Mais ainda, em terrenos extremamente pouco consistentes
ou onde se deva atravessar uma corrente de água subterrânea, as estacas pré-moldadas levam
vantagem sobre as estacas moldadas no solo, pois estas exigem precauções e cuidados especiais.

Diferentes tipos de seções e transporte de estaca no canteiro de obras.

Como desvantagens das estacas pré-moldadas, citam-se: necessidade de decorrer pelo


menos tre semanas da data de concretagem até a de cravação, consumo do tempo e de dinheiro
em prolongar e encurtar estacas em vista de variações locais do terreno, armazenamento e
transporte dentro da obra (donde ocupação de área do canteiro e atrasos na marcha dos serviços),
grande consumo de ferro, pois a estaca deverá ser armada para resistir também aos esforços
devidos aos choques do pilão e às solicitações que ficam sujeitas durante o transporte, etc.

Forma preparada para concretagem de


uma estaca do tipo SCAC.

“As estacas SCAC são de concreto


armado com adensamento pelo processo
de centrifugação resultando em seções
circulares vasadas de diâmetros
externos variando entre 20 cm e 70 cm.”

Exemplo de informações de características de estacas pré-frabricadas


PRECON
Especificações de estacas
Carga max. Carga max. Seção de Peso Momento de Comprimentos
Dimensões estrutural (t) de tração (t) concreto(cm2) (gkf/m) Inércia (cm4) fabricados (m)
15,0 x 15,0 25,0 5,0 225 56 4.219 5, 6 e 7
17,0 x 17,0 35,0 5,0 289 72 6.960 4, 6 e 8
20,0 x 20,0 50,0 5,0 400 100 13.333 4, 6 e 8
21,5 x 21,5 60,0 7,5 462 115 17.806 4, 6, 8 e 10
23,0 x 23,0 70,0 9,0 529 132 23.320 4, 6, 8 e 10
25,5 x 25,5 85,0 9,0 650 162 35.235 4, 6, 8 e 10
28,0 x 28,0 105,0 9,0 784 196 51.221 4, 6, 8 e 10
Ø 42,0 125,0 16,0 855 215 130.340 4, 6 e 8
Ø 50,0 160,0 25,0 1.159 315 255.325 4, 6 e 8

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Cravação de Estacas
É a operação que consiste, por meio de percussões aplicadas à cabeça da estaca ou do
seu molde, em forçar a estaca ou tubo no terreno até a profundidade em que passe a oferecer
uma resistência satisfatória.

Vários são os Tipos de Bate-Estacas (em inglês, pile drivers, e em francês, sonnetes)
empregados.

Bate-estacas manual – É o tipo mais


simples. O peso do pilão, levantando com ajuda
de cordas e polias, varia de 50 a 200 kg e a
altura de queda geralmente de um metro.

Bate-estacas de queda livre ou de


gravidade – É constituído por um pilão que,
deslizando ao longo de guias fixadas a uma
estrutura, é levantado por meio de cabo de aço
que vai sendo enrolado em um guincho de
acionamento mecânico. O número de pancadas
por minuto varia de 5 a 10; a rapidez das
percussões é vantajosa para a cravação.

Normalmente o peso do pilão é tomado


aproximadamente igual a duas vezes o peso da
estaca, conforme se trate de estacas de madeira
ou de concreto.

Capacete de cravação – Para evitar a destruição das cabeças das estacas durante a
cravação, usam-se “capacetes de cravação”, os quais, embora de vários tipos, consistem, em
geral, num anel de ferro fundido, contendo um bloco de madeira dura, que recebe diretamente o
golpe do martelo e transmite a estaca.
O emprego de capacetes, se por um lado reduz o rendimento de cravação, por outro,
permite a adoção de maiores alturas de quedas e pesos de martelos.

Quando as cabeças de estacas ficam abaixo da superfície do terreno ou do nível d’água, a


cravação é feita por intermédio de um suplemento, que é um elemento de madeira colocado entre
o pilão e a estaca.

Estacas de Madeira
A sua utilização é bastante limitada e deve-se ser vista como uma alternativa de
viabilidade técnica questionável.
No que se refere ao seu uso deve-se observar o que registra a norma, transcrito nestas
notas de aula no item “5.3 - Peculiaridades dos Diferentes Tipos de Fundações Profundas
(Segundo a NBR 6122)”.
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Estacas Moldadas “in situ”

Estacas Simplex
Neste tipo de estaca, procede-se a descida do tubo dentro do terreno por cravação (ou
por perfuração – neste caso torna-se “escavada” – sem deslocamento), como se faz coma a
estaca Strauss.
Os golpes de martelo, para a cravação, são aplicados sobre um capacete de proteção
fixado no topo do tubo.
Para impedir a entrada de terra no interior do tubo, emprega-se uma ponteira pré-
moldada de concreto, perdida após a cravação.
Alcançada a profundidade desejada, enche-se o molde com concreto plástico e, em
seguida, retira-se o molde de uma só vez.
As estacas Duplex e Triplex são variantes da Simplex.

Estaca tipo Simplex

Estacas Vibrex
Trata-se de variação das estacas tipo Simplex, também conhecidas com “Vibrofranki”.
Observe que neste tipo de estaca, procede-se a descida do tubo dentro do terreno por cravação,
conforme ilustrado abaixo.
Observa-se que a extração do tubo após concretagem se faz com o auxílio da vibração, o
que melhora as condições de assentamento do concreto ao longo da estaca.

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Estacas Franki
Trata-se de um tipo de estaca largamente usada. Foram introduzidas a técnica, em 1999,
pelo Sr. Frankignoul. Caracteriza-se pelo seu processo de cravar o tubo no solo, que é o seguinte,
como mostrado na figura:

1. Estando o tubo colocado sobre o solo, nele se derrama uma quantidade de concreto mais
ou menos seco, apiloado por meio de um martelo de 1 a 4 toneladas, de modo a formar um
tampão estanque.

2. Sob os golpes do pilão, o tubo penetra no solo e comprime fortemente; quando se deseja
evitar virações provocadas pela cravação do tubo, pede-se previamente escavar o terreno,
perfurando-o por meio de um equipamento adequado.

3. Chegando a profundidade desejada, prende-se o tubo e, sob os golpes de pilão, soca-se o


concreto tanto quanto o terreno possa suportar, de modo a constituir uma base alargada.

4. Uma vez executada a base, inicia-se a execução do fuste da estaca, socando-se o concreto
por camadas sucessivas; um tampão de concreto no tubo assegura a impossibilidade da água ou
da terra no concreto.

5. Desse modo, obtém-se uma estaca de grande diâmetro, de parede rugosa e fortemente
ancorada no solo.

Nas estacas armadas, que são as mais freqüentes, coloca-se a armação logo após a
execução da base. O seu diâmetro varia de 30 60 cm. Podem ser verticais ou inclinadas, a
inclinação pode atingir até 25º com a vertical.

CARACTERÍSTICAS DAS ESTACAS:


Grande área da base, superfície lateral muito rugosa, terreno fortemente comprimido e
possibilidade de ser executada para grandes profundidades, já se tendo atingido 45 m de
comprimento.

A capacidade de cargas dessas estacas é muito grande, como tem sido revelado por
numerosos ensaios. Para uma estaca de 350 mm de diâmetro, é da ordem de 55 t; de 400 mm, é
de 75 t; de 450 mm, é de 95 t; de 520 mm, é de 130 t, e de 600 mm, é de 170 t.

A concretagem das estacas moldadas “in situ” deve ser feita com cuidado, a fim de
suprimir o risco da ruptura ou de rachar as estacas, abaixo do nível do bloco.

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Detalhe da execução de uma estaca


tipo Franki, em execução

Estacas Ômega
Trata-se de estacas moldadas “in loco” em que o solos é deslocado lateralmente quando
da execução da estaca, conforme ilustrado na figura adiante.

A ESTACA OMEGA é uma estaca com o fuste


moldado no solo. Durante a sua implantação no solo,
dispositivos especiais no trado do processo provocam
uma ação dupla de deslocamento do solo, inicialmente
durante a fase de perfuração e posteriormente durante a
fase de concretagem do fuste. Não há escavação
(retirada do solo) durante a execução dessa estaca.

A forte compressão lateral do trado ao longo do


fuste provoca aumento das tensões radiais da com-
pressão, o que resulta em uma mobilização mais
eficiente da resistência lateral sobre o fuste da estaca,
com isso o comprimento e o sobre consumo de concreto
é menor, se comparado as estacas HÉLICE
CONTÍNUA. A instalação da estaca OMEGA é baseada
no processo de perfuração por rotação para baixo e para
cima sem troca na direção de rotação do equipamento.
Para a implantação das estacas OMEGA no solo, os
Estaca OmegaFranki (Eng. Paulo
equipamentos têm de ter torque entre 150 kNm a 400 Frederico de Figueiredo Monteiro -
kNm. Gerente Técnico da FRANKI

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5. 1. 2 - Estacas Cravadas com Pequeno Deslocamento

Estacas Metálicas
São estacas “pré-fabricadas” pela indústria, em que se tem como material o aço.
Apresentam assim elevada resistência à compressão, havendo uma variabilidade muito grande de
seções.
Observa-se que são estacas de seções muito mais esbeltas que às de concreto armado –
consequentemente “deslocaram” um volume de solo muito menor no seu processo de penetração
nos solos.

As questões relacionadas à cravação não são muito diferentes das enfrentadas na


cravação de estacas pré-moldadas. A figura abaixo ilustra um canteiro de obras, durante o
processo de cravação dos perfis metálicos.

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No que se refere ao seu uso deve-se observar o que registra a norma, transcrito nestas
notas de aula no item “5.3 - Peculiaridades dos Diferentes Tipos de Fundações Profundas
(Segundo a NBR 6122)”.

Figura – Diferentes tipos de seções e detalhe de uma emenda entre dois elementos de
estaca metálica de seção em “I”.

Estacas Mega
A estaca Mega (“Estaconsolida”) é constituída por tubos de concreto simples ou armado,
vazados, com diâmetro externo de 25 cm e interno de 8 cm. O comprimento de cada tubo é de 50
cm. A estaca é formada pela justaposição vertical de diversos tubos, cravados no terreno por
meio de um macaco hidráulico acionado por uma bomba injetora de óleo.
A reação de cravação é obtida contra as fundações existentes, monitorada por
equipamento de precisão, ajustado a um manômetro de controle de pressão. Após ser atingida a
reação máxima permitida, por baixo das fundações existentes é colocado um cabeçote de
concreto armado, medindo 40 x 30 x 25 cm, ajustado aos elementos de fundação existentes por
meio de cunhas de concreto simples de modo a permitir que a estaca nova entre em carga
imediatamente após a retirada do macaco.

CARACTERÍSTICAS DA ESTACA MEGA


Possibilidade de substituição das fundações existentes simultâneas ao uso da edificação.
Acréscimo da capacidade suporte das fundações existentes.
Modificação parcial de fundações existentes em virtude de uma eventual deficiência
localizada (recalques diferenciais).
Execução em locais pequenos e de difícil acesso a pessoas e equipamentos.
Isenção de vibrações durante a cravação, reduzindo os riscos de uma eventual
instabilidade que por ventura venha a ocorrer, devido à precariedade de fundações existentes.
Aumento imediato da segurança da obra após a cravação sucessiva de cada estaca Mega.
Limpeza da obra durante a execução, sem adição de água ou formação de lama.

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Marinho, F. Mecânica dos Solos e Fundações – USP (2008)

5. 1. 3 - Estacas Escavadas - Sem Deslocamento

Estacas Escavadas
Assim se denomina a estaca em que, com auxílio de lama bentonítica (se for o caso), é
previamente feita uma perfuração no terreno, com retirada de material, em seguida, é cheia com
concreto (concretagem submersa, quando abaixo do nível d’água).
Essas estacas substituem, em alguns casos, os clássicos tubulões sob ar comprimido. Os
seus diâmetros variam até 2,5 m e suas profundidades alcançam 40 m ou mais.

[1]. Trado devidamente


posicionado e pronto para
iniciar escavação.

[2]. Terreno nivelado


facilitando a estabilização do
caminhão.

[3 e 4]. Torre e haste na


posição vertical (verificada
pelo nível instalado na torre).

[5]. Componente hidráulico:


ao chegar à obra, é acionado
para que a haste fique na
posição vertical. Todo o
processo é mecanizado.

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Exemplo de ESTACA ESCAVADA EM ROCHA

Obra: Ponte sobre o Rio Orinoco


Apresentado por Armando Negreiros Caputo
BRASFOND / BRASFIX / SPFE

Seqüência Construtiva:
1) Cravação de camisa metálica até o topo da rocha.
2) Colocação da perfuratriz Wirth e escavação em rocha por circulação reversa.
3) Colocação da armadura.
4) Concretagem submersa da estaca.
5) Estaca pronta.

Estacas Broca
Estaca em que a perfuração do solo é feita manualmente, com o auxílio de um trado
manual. É cravada em pequena profundidade.

Estacas Hélice Contínua

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Estacas Escavadas Retangular (Barrete)


É um tipo de fundação profunda executada por escavação mecânica, com uso ou não de
lama bentonítica ou uso de revestimento total ou parcial, e posterior concretagem.

Seqüência executiva:
1) Colocação da camisa guia escavação com clamshell, completando com lama o volume
escavado.
2) Atingida a profundidade prevista, coloca-se a armadura e o "air-lift" ou bomba de
submersão para a troca de lama usada por nova.
3) Colocação do tubo de concretagem e da bomba de submersão início da concretagem
submersa com concreto plástico.
4) Terminada a concretagem, procede-se o aterro da parte superior e ao arrancamento da
camisa guia.

Segundo publicação da Franki, a utilização das estacas escavadas oferece as seguintes vantagens:
- execução sem vibração e ruídos;
- possibilidade de atravessar camadas do solo de grande resistência devido as ferramentas
de escavação;
- execução rápida;
- possibilidade de atingir grandes profundidades;
- possibilidade de resistir a grandes cargas com um único elemento de fundação,
reduzindo deste modo o volume dos blocos;
- executada com ferramenta mecânica “clam-shell”.
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Estacas Raiz
A estaca raiz é uma estaca concretada “in loco”, com diâmetro acabado variando de 80 a
410 mm e que apresenta elevada tensão de trabalho ao longo do fuste que é constituído de
argamassa de areia e cimento e é inteiramente armado ao longo de todo seu comprimento.
A aplicação inicial das estacas raiz foi ligada ao reforço de antigas fundações de
edificações de pequeno porte, as quais o acesso era restrito a equipamentos de grande porte. A
utilização de equipamentos de pequeno porte e movidos à eletricidade favorecia o
funcionamento em locais fechados, evitando barulho e fumaça de motores à explosão. As
perfuratrizes atingiam grandes profundidades, flexibilizando o dimensionamento de cargas de
trabalho, determinadas muito mais pela capacidade estrutural da seção do que pela condição de
suporte do subsolo.

Essas vantagens fizeram com que este tipo de estaca se desenvolvesse mundialmente.
Passou a ser utilizada também como solução de contenção de encostas, devido à possibilidade de
executá-la inclinada com orientações tridimensionais formando um reticulado espacial. A
concepção é aquela de uma estrutura de gravidade interna no terreno, fazendo com que o volume
de solo atravessado pelas estacas, convenientemente espaçadas, trabalhasse como um maciço
rígido resistindo à tração, através de armação do fuste da estaca. Atualmente, o aumento dos
diâmetros das estacas tipo raiz bem como do porte dos equipamentos que a executam, tornaram
essa estaca uma solução viável para fundações de edifícios.

O processo executivo de uma estaca tipo raiz é composto basicamente de quatro fases
consecutivas; perfuração, instalação da armadura, preenchimento com argamassa e remoção do
revestimento e aplicação de golpes de ar comprimido. A Figura abaixo ilustra todo o processo
executivo das estacas tipo raiz. (Moura et al, 2009 -UNIFOR)

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Estacas Injetada
A Norma de Fundações NBR 6122, na versão de 96 definia estaca injetada como sendo
aquela na qual através de injeção sob pressão de produtos aglutinantes, normalmente calda de
cimento, procura-se aumentar a resistência de atrito laterais, de ponta ou ambas.
A injeção deve ser feita de maneira a garantir que a estaca tenha a carga admissível
prevista no projeto e pode ser aplicada em um ou mais estágios.

Seqüência Executiva:
A execução de uma estaca injetada moldada no solo compreende as seguintes fases:
• Escavação do furo;
• Colocação da armadura;
• Moldagem do fuste.

Estacas Strauss
A sua execução é muito simples, não requerendo aparelhagem especial além de um pilão.

São utilizados processos comuns de escavação (semelhança com as sondagens), em que


começa-se por apoiar sobre o solo (observado o ponto de marcação do eixo do bloco da
fundação – centro do pilar) o tubo metálico da “strauss”. Em sequência processa a escavação
por dentro deste tubo – retirada do solo com auxílio de uma sonda que cai no solo e faz com que
o solo entre dentro deste tubo de auxílio à escavação, sendo este retirado do furo com solo a ser
removido para nova operação de retirada de solo e assim por diante. Este processo faz com que
se “enterre” um tubo de diâmetro igual ao da estaca.
Atingida a profundidade prefixada, enche-se o tubo com cerca de 75 cm de concreto, que
vai sendo apiloado à medida que se retira o tubo. Esta operação se repete até o concreto atingir a
cota desejada.

Embora bastante simples a sua execução, devem-se tomar cuidados especiais, sobretudo
quando se trabalha abaixo do lençol d’água dentro do molde. Isto se consegue observando-se
constantemente as posições relativas do molde e do concreto de enchimento.

Mais simples do que estas estacas escavadas são as estaca broca.

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Estacas moldadas no local tipo Strauss


(MR Sondagens e Estacas, 2009)

As estacas do tipo strauss são moldadas “in


loco”, com processo relativamente simples e
eficaz. A perfuração é executada com o
auxílio de uma sonda, denominada “piteira”,
com a utilização parcial ou total de
revestimento recuperável e posterior
concretagem da fundação no local

Marinho, F. Mecânica dos Solos e Fundações – USP (2008)

As principais características das Estacas Strauss são:

Reduzida trepidação e, conseqüentemente, pouca vibração nas edificações vizinhas à


obra.
Possibilidade de execução da estaca com o comprimento projetado, permitindo cotas de
arrasamento abaixo da superfície do terreno.
Facilidade de locomoção dentro da obra.
Permite conferir durante a percussão, por meio de retirada de amostras do solo, a
sondagem realizada.
Permite verificar, durante a perfuração, a presença de corpos estranhos no solo, matacões
e outros, possibilitando a mudança de locação antes da concretagem.

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Capacidade de executar estacas próximas às divisas do terreno, diminuindo assim, a


excentricidade nos blocos.
Execução de estacas com capacidade de 20 ton, 30 ton e 40 ton.

Dimensionamento
A determinação das seções, as localizações e profundidades serão fornecidas pelo calculista das
fundações, com seu dimensionamento de acordo com a NBR 6118 – “Projeto e Execução de
Obras de Concreto Armado” e NBR 6122 – “Projeto e Execução de Fundações “.

Perfuração
Após a locação dos pontos das estacas, através de gabarito indicando seus eixos, inicia-se a
perfuração, com a piteira posicionada dentro do primeiro tubo de revestimento ( extremidade
inferior dentada ) e com golpes sucessivos, a piteira retirará o solo do interior, abaixo do tubo,
que se introduzirá aos poucos no terreno, por efeito de seu peso próprio.
Quando o tubo estiver totalmente cravado, será rosqueado um novo tubo em sua extremidade
superior livre e reiniciado o trabalho da piteira. Este procedimento será repetido até que se atinja
a profundidade prevista para a perfuração ou as condições de suporte previstas para o terreno.

Concretagem
Ao atingir a profundidade desejada e procedida a limpeza do tubo, será lançado o primeiro
volume de concreto no interior do tubo e apiloado com o auxílio de um pilão metálico, visando a
formação de um “bulbo”na base da estaca.

Igual volume de concreto será novamente lançado e procedido novo apiloamento, iniciando-se a
remoção dos tubos de revestimento, com auxílio de um guincho mecânico. Esta operação se
repetirá até que o concreto atinja a cota desejada, com a máxima precaução, a fim de impedir sua
descontinuidade, completando assim, eventuais espaços vazios e preenchendo as deformações no
subsolo.

Armadura
Antes da concretagem dos últimos dois metros da estaca, ou a critério do calculista das
fundações, será colocada uma armadura, onde as barras deverão emergir fora da cota de
arrasamento da estaca, conforme detalhe do projeto de fundações.

Estacas Hélice Contínua


A estaca hélice contínua é uma estaca de concreto moldada "in loco", executada por meio
de trado contínuo e injeção de concreto através da haste central do trado simultaneamente a sua
retirada do terreno. (Site Engenharia, 2009)

Metodologia executiva – Perfuração

A perfuração consiste em fazer a hélice penetrar no terreno por meio de torque


apropriado para vencer a sua resistência.
A haste de perfuração é composta por uma hélice espiral solidarizada a um tubo central,
equipada com dentes na extremidade inferior que possibilitam a sua penetração no terreno.
A metodologia de perfuração permite a sua execução em terrenos coesivos e arenosos, na
presença ou não do lençol freático e atravessa camadas de solos resistentes com índices de STP`s
acima de 50 dependendo do tipo de equipamento utilizado.
A velocidade de perfuração produz em média 250m por dia dependendo do diâmetro da
hélice, da profundidade e da resistência do terreno.

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Concretagem
Alcançada a profundidade desejada, o concreto é bombeado através do tubo central,
preenchendo simultaneamente a cavidade deixada pela hélice que é extraída do terreno sem girar
ou girando lentamente no mesmo sentido da perfuração.
O concreto normalmente utilizado apresenta resistência característica fck de 18 Mpa, é
bombeável e composto de areia, pedriscos ou brita 1 e consumo de cimento de 350 a 450 Kg/m 3,
sendo facultativa a utilização de aditivos.
O abatimento ou "Slump" é mantido entre 200 e 240mm. Normalmente é utilizada bomba
de concreto ligada ao equipamento de perfuração através de mangueira flexível. O
preenchimento da estaca com concreto é normalmente executado até a superfície de trabalho
sendo possível o seu arrastamento abaixo da superfície do terreno guardadas as precauções
quanto a estabilidade do furo no trecho não concretado e a colocação da armação.

Colocação da armação
O método de execução da estaca hélice contínua exige a colocação da armação após a sua
concretagem.
A armação, em forma de gaiola, é introduzida na estaca por gravidade ou com o auxílio
de um pilão de pequena carga ou vibrador. As estacas submetidas a esforços de compressão
levam uma armação no topo, em geral de 2 a 5,5m de comprimento. No caso de estacas
submetidas a esforços transversais ou de tração, somente será possível para comprimentos de
armações de no máximo 16m, m função do método construtivo. No caso de armações longas, as
"gaiolas" devem ser constituídas de barras grossas e estribo espiral soldado na armação
longitudinal para evitar a sua deformação durante a introdução no fuste da estaca.

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Equipamentos
O equipamento empregado para cravar a hélice no terreno é constituido de um guindaste
de esteiras, sendo nele montada a torre vertical de altura apropriada à profundidade da estaca,
equipada com guias por onde corre a mesa de rotação de acionamento hidráulico. Os
equipamentos disponíveis permitem executar estacas de no máximo 25m de profundidade e
inclinação de até 1:4 (H:V)

Controle executivo
Para controlar a pressão de
bombeamento do concreto, utiliza-se um
instrumento medidor digital, que informa
todos os dados de execução da estaca, tais
como: inclinação da haste, profundidade da
perfuração, torque e velocidade de rotação
da hélice, pressão de injeção, perdas e
consumo de concreto. Os parâmetros
indicados no mostrador digital são
registrados e fornecidos a um
microcomputador para aplicação de
software que imprime o relatório da estaca
com as informações obtidas no campo.
Em centros urbanos, próximo a
estruturas existentes, escolas, hospitais e
edifícios históricos, por não produzir
distúrbios ou vibrações e de não causar
descompressão do terreno.
Em obras industriais e conjuntos
habitacionais onde, em geral, há um grande
número de estacas sem vibrações de
diâmetros pela produtividade alcançada.
Como uma estrutura de contenção,
associada ou não a tirantes protendidos,
próximo à estruturas existentes, desde que
os esforços transversais sejam compatíveis
com os comprimentos de armação
permitidos.

Marinho, F. Mecânica dos Solos e Fundações – USP (2008)

119
Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

Tubulões
Trata-se de fundação profunda, porem destaca-se que estas fundações apresentam
características de transmissão de carga ao sub-solo diferentes das diversas “estacas” existentes na
Engenharia de Fundações Estas fundações, abordadas adiante, transmitem carga para o sub-solo
através do contato da base com o solo de apoio, semelhante a uma fundação direta (como um
bloco ou sapata).

Tubulão à Céu Aberto


As fundações em tubulão a céu aberto são indicadas basicamente para obras que
apresentem cargas elevadas, áreas com dificuldades de uso de técnicas de fundação mais
mecanizadas e regiões afastadas dos grandes centros urbanos devido à dificuldade de acesso.

Esse tipo de fundação é recomendado para solos de elevada “rigidez” (boa resistência).
Isso se justifica devido ao fato da escavação ser normalmente manual, dependente de um
“poceiro”, um ajudante e um sarilho (equipamento – figura abaixo). Mesmo com a utilização de
equipamentos de perfuração mecânica a presença de um operário é necessária, pois o
alargamento da base deve ser feito manualmente.

Figura - Perfuração de tubulão na construção do Edifício Érico Veríssimo, em Juiz de


Fora – MG, Setembro/2008. (TFC de Marcenes, 2008)

Quando comparados a outros tipos de fundações os tubulões apresentam as seguintes


vantagens:

- Os custos de mobilização e de desmobilização são menores que os de bate-estacas e


outros equipamentos;
- As vibrações e ruídos provenientes do processo construtivo são de muito baixa
intensidade, praticamente inexistentes;
- Pode-se observar e identificar o solo retirado durante a escavação e compará-lo às
condições do subsolo previstas no projeto;
- O diâmetro e o comprimento do tubulão podem ser modificados durante a escavação
para compensar condições do subsolo diferentes das previstas;
- As escavações podem atravessar solos com pedras e matacões, sendo possível
penetrar em vários tipos de materiais, em alguns casos em particulares até rocha;
- É possível apoiar cada pilar em um único fuste, em lugar de apoiar em diversas
estaca.

120
Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

ASPECTOS CONSTRUTIVOS

Os tubulões a céu aberto são elementos estruturais de fundação concebidos a partir da


concretagem de um poço aberto no terreno, geralmente dotado de uma base alargada. Esse tipo
de tubulão é executado acima do nível da água natural ou rebaixado, ou, em casos especiais, em
terrenos saturados onde seja possível bombear a água sem risco de desmoronamentos. No caso
de existir apenas carga vertical, este tipo de tubulão não é armado, colocando-se apenas uma
ferragem de topo para ligação com o bloco de coroamento ou de capeamento.

O fuste, que é a parte


da coluna entre o bloco de
coroamento e a base,
normalmente é de seção
circular, adotando-se 70 cm
como diâmetro mínimo
(para permitir a entrada e
saída de operários), porém a
projeção da base poderá ser
circular ou em forma de
falsa elipse.

(ALONSO, 1983).

A figura abaixo ilustra a sua conformação geométrica.

Figura - Partes de um tubulão

Os tubulões a céu aberto podem ser agrupados em três tipos (CINTRA et al, 1998):

121
Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

a) Sem contenção lateral


Esses tubulões, também chamados de pocinhos, têm seu fuste aberto por escavação
manual, ou mecânica, sendo que a base é, em geral, escavada manualmente. Não utilizam
nenhum escoramento lateral e, portanto o fuste e, em especial, a base, somente podem ser
executados em solos que apresentem um mínimo de coesão capaz de garantir a estabilidade da
escavação (Figura). Nestes casos o diâmetro final resulta sempre maior do que o previsto em
projeto, e o atrito lateral ao longo do fuste é reduzido quando comparado com a resistência “in
situ” no contato solo-solo. Esta redução no atrito lateral depende do alívio de tensões, ao passar
de uma situação em repouso para uma condição ativa, e da umidade cedida pelo concreto ao solo
circundante, o que depende do fator água/cimento do concreto empregado.

Figura - Tubulão sem contenção lateral

b) Com contenção lateral parcial


Essas contenções parciais têm da ordem de 2,0 metros e o solo é escorado antes de
prosseguir a escavação. Estes revestimentos são, em geral, recuperados. Visualmente, assemelha-
se ao procedimento de contenção lateral contínua.

c) Com contenção lateral contínua


Certos tipos de equipamentos cravam uma camisa metálica, desde a superfície, ao
mesmo tempo em que realizam mecanicamente a escavação. Normalmente estes tubulões a céu
aberto são executados acima do lençol freático, pois a escavação manual da base, ou mesmo do
fuste, não pode ser executada abaixo do nível da água. Nada impede, entretanto, que se estenda a
escavação utilizando-se de rebaixamento do lençol (Figura).

A aparição de água durante a escavação não é um problema, desde que possa ser contida
e não prejudique a perfuração. "Isto é possível desde que a água seja esgotada com uma bomba
submersível dentro do poço, expelindo o líquido do fuste", diz o engenheiro Daniel Rozenbaum,
da Fundacta (2004). Rozenbaum explica ainda que nesse tipo de fundação é necessário
inspecionar se há presença de gás gerada por matéria orgânica em decomposição e que pode
causar até a morte do operário durante a execução.
Antes de iniciarem as obras de fundação, o engenheiro projetista e mesmo o responsável
pela construção costumam fazer um poço preliminar para inspecionar a situação do solo. O poço
de verificação de solo deve ser mantido em média 24 horas para observar a estabilidade que a
escavação apresenta. (TATEOKA, 2004).

122
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Figura - Tubulão com contenção lateral.

Os tubulões têm que ser dimensionados a evitar altura de base superiores a 2,0 metros,
e em caso excepcionais, devidamente justificados, admitem-se alturas superiores a esta
dimensão.

Tubulão à Ar Comprimido

As fundações em tubulão a ar
comprimido são indicadas, e se
justificam, para obras que
apresentem cargas elevadas,
como é o caso de pontes e
viadutos, e quando se tem o NA
elevado.

Assim, é utilizado uma


“estrutura” fechada para que
não ocorra a entrada da água no
ambiente de escavação.
Para que se mantenha o
ambiente da escavação seco faz-
se com a aplicação de ar
comprimido, que “expulsa” –
inibe, a entrada da água no
ambiente de trabalho. A figura
ilustra a operação.

123
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Tubulões a Ar Comprimido na Rodovia dos Imigrantes/SP:

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DAS PRINCIPAIS FUNDAÇÕES

Segundo o Fundações - Manual de Estruturas


Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP, 2008)

Características das Fundações Profundas consideradas: Produtividade, Capacidade de carga,


Profundidade máxima e Vibrações causadas

Produtividade Capacidade Profundidade Vibrações


de carga máxima causadas

Estacas pré-fabricadas

Concreto 50 m diários, 25 a 170 tf Depende do tipo de Apresenta


ocorrendo variações estaca, variando de problemas de
em função das 8 a 12 m. Podem barulho e
características do ser vibrações
solo, profundidade da emendadas durante a
fundação, condições cravação
do terreno e distância
entre estacas

Metálica 50 m diários, 20 a 200 tf Não possui Apresenta


ocorrendo variações limitação de problemas de
em função das profundidade. barulho durante a
características do A estaca possui cravação.
solo, profundidade aproximadamente Podem ser
da fundação, 12 m, podendo cravadas sem
condições do ser emendadas. causar grandes
terreno e distância vibrações
entre estacas

124
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Estacas escavadas

Strauss 30m diários 20 a 100 tf 20 a 25 m Ausência de


trepidações e
vibrações em
prédios
vizinhos
Barretes 50 m por dia, para 500 a 1250 tf Superior a 50 m
uma espessura de 40
cm. Além disso, a
produtividade varia
em função do tipo de
solo e condições
do terreno
Franki 40 m diários 60 a 400 tf Até 36 m Provoca vibração
e
ruídos intensos
durante
a execução
Raiz 30 m diários 10 a 180 tf Ausência de
vibrações
Hélice 150 a 400 m por 25 a 390 tf 20 a 24m, Não produz
contínua dia, dependendo da existindo alguns distúrbios,
profundidade da equipamentos vibrações e
estaca, do diâmetro que chegam descompressão
da hélice, do tipo e a 30 m do terreno
resistência do
terreno e do torque
do equipamento

Tubulões

Tubulão a 4,0 m3 de escavação 150 a 1000 tf Limitada pelo Ausência de


céu aberto manual Nível de Água trepidações e
para tubulões até vibrações em
10 m de prédios
produndidade vizinhos
80 m3 de escavação
mecânica para
tubulões até 15 m
de profundidade
Tubulão a ar Variável, pois 800 a 1000 tf 34 m abaixo do Ausência de
comprimido depende muito do nível d´água trepidações
tipo de solo e vibrações em
prédios
vizinhos

125
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5.2 – Escolha do Tipo de Estaca

Segundo SIMONS e MENZIES, são considerados os seguintes aspectos relativos ao projeto


de estacas:

1. Tipos de estacas
2. Estacas em solos coesivos
3. Estacas em solos granulares
4. Efeito de grupo de estacas
5. Atrito lateral negativo
6. Cargas laterais em estacas
7. Ensaios de estacas

Três critérios de projetos devem ser sempre observados:

a) o material da estaca não deve ser solicitado em acesso;


b) deve haver um coeficiente de segurança adequado à ruptura por cisalhamento;
c) os recalques devem ser mantidos dentro de limites toleráveis.

Deve-se observar que as estacas podem ser necessárias por diversos motivos, como:

a) transferir as cargas a uma camada mais resistente e/ou menos compressível;


b) resistir a forças horizontais de encontros de pontes ou muros de arrimo;
c) aumentar a estabilidade de edifícios altos;
d) resistir a forças de subpressão;
e) evitar danos devidos à erosão superficial;
f) compactar areias fofas.

Em qualquer situação, o tipo de estaca escolhido e o método de projeto utilizado serão


influenciados pelos fatores que determinam a decisão de usar estacas, em primeiro lugar.
Há numerosos tipos de estacas, protegidos por patentes ou não, nos grupos anteriores.
Considerando os fatores técnicos abaixo relacionados, a escolha se reduz a dois ou três tipos e a
escolha final é feita em geral com base no custo total, embora a reputação de um empreiteiro de
estanqueidade pode ser um fator decisivo na escolha.

Fatores que determinam a escolha do tipo de estaca

Os fatores fundamentais que devem ser considerados na determinação do tipo de estaca a


ser adotado são:

a localização e o tipo de estrutura;

as condições do solo, incluindo a posição do nível do lençol freático;

a durabilidade em longo prazo. As estacas de madeira ficam sujeitas à decomposição


especialmente acima do lençol freático, e ao ataque dos microorganismos marinhos. O concreto,
suscetível ao ataque químico na presença de sais e ácidos do solo, e as estacas de aço podem
sofrer corrosão, se a resistividade específica da argila for baixa e o grau de despolarização for
alto;

126
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custos totais para o cliente. A forma mais barata de estaqueamento não é,


necessariamente, a estaca mais barata por metro de construção. Atrasos no contrato, devido à
falta de apreciação de um problema particular por parte de um empreiteiro que executa as
estacas, pode aumentar consideravelmente o custo total de um projeto. O de ensaios deve ser
considerado de o empreiteiro que executará as estacas tiver pouca experiência para estabelecer o
comprimento ou o diâmetro exigido para as estacas. Em particular, a ruptura de uma estaca
durante a prova de carga pode implicar em despesas adicionais muito grandes ao contrato. É
conveniente recorrer a uma firma conhecida, com boa experiência local. Deve-se enfatizar que a
maioria dos atrasos e problemas em contratos de estaqueamento, poderiam ser evitados por meio
de uma pesquisa completa do local, tão cedo quanto possível.

Estacas de grande deslocamento

Estacas cravadas e moldadas no local

As vantagens são:
podem ser cravadas com uma nega predeterminada;
os comprimentos das estacas são facilmente ajustáveis;
pode ser executada em base alargada, aumentando a densidade relativa de uma camada de
fundação granular, obtendo-se uma capacidade final de carga muito mais elevada;
a armadura não é determinada pelos efeitos do manuseio ou das tensões da cravação;
podem ser cravadas com uma extremidade fechada, excluindo desta maneira os efeitos da água
subterrânea;
podem ser cravadas com uma extremidade fechada, excluindo desta maneira os efeitos da
água subterrânea;
o barulho e a vibração podem ser reduzidos podem para alguns tipos, como por exemplo,
utilizando-se um tampão no fundo da estaca.

As desvantagens são:
inchamento da superfície do solo vizinho, que pode afetar estruturas ou instalações
próximas; amolgamento do solo, que pode provocar readensamento e o desenvolvimento de
atritos laterais negativos nas estacas;
deslocamento de muros de arrimo próximos; levantamento de estacas previamente
cravadas, onde a penetração do pé das estacas dentro da camada de apoio não foi suficiente para
desenvolver a resistência necessária às forças ascendentes;
danos por tração nas estacas sem armadura ou estacas ainda com concreto fresco, onde as
forças no pé da estaca eram suficientes para resistir aos movimentos ascendentes;
danos a estacas sem revestimentos ou com revestimento de pouca espessura au\inda com
concreto fresco, devido ãs forças laterais desenvolvidas no solo, como por exemplo,
estrangulamento;
o concreto não pode ser verificado após a conclusão do trabalho;
o concreto pode ser enfraquecido se um fluxo artesiano ocorrer no fuste na estaca durante
a retirada do revestimento;
perfis leves de aço ou camisas de concreto de pré-moldado podem ser estragadas ou
distorcidas durante a cravação;
limitação do comprimento, devido à força de levantamento necessária para retirar o
revestimento; barulho; vibração e deslocamentos do solo podem causar, molestar ou provocar
danos em estruturas adjacentes;
não pode ser cravada com diâmetros muito grandes e também não se pode executar bases
alargadas muito grandes;
não pode ser cravada onde há limitações de altura para equipamento.
Comprimentos de estacas de até 24 m e cargas nas estacas de aproximadamente 1500 kN
são usuais.
127
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Estacas pré-moldadas cravadas de concreto armado ou protendido

As vantagens são:

podem ser cravadas com um nega predeterminada; estável em solos compressíveis, por
exemplo, argilas moles, siltes e turfas;
o material da estaca pode ser inspecionado antes da cravação;
pode ser recravada se for afetada por inchamento do solo;
o procedimento de construção não é afetado pelo lençol freático;
pode ser cravada com granes comprimentos; pode ser transportada acima do nível do
terreno, por exemplo, dentro d’água para estruturas marítimas;
pode aumentar a densidade relativa de uma camada de fundação granular.

As fotos mostram condições de manuseio e um pátio de depósito de Estacas Pré-


Moldadas de seção quadrada.

As desvantagens são:

o inchamento e a alteração do solo circundante podem causar dificuldades, como as


discutidas acima para as estacas cravadas e moldadas no local;
não se pode modificar o comprimento com rapidez;
pode sofrer danos durante a cravação;
a armadura pode ser determinada pelas exigências de levantamento e transportes, e não
pelas cargas estruturais;
não pode ser cravada com diâmetros muito grandes ou em locais onde haja limitações de
altura para equipamento;
128
Geotecnia de Fundações e Obras de Terra - 2018 Prof. M. Marangon

barulho, vibração e deslocamentos do solo podem causar dificuldades.


Comprimento de estacas até 27 m e cargas até 1000 KN são usuais

Estacas de madeira

As estacas de madeira são leves, de fácil transporte e, em alguns países, baratas. Podem
ser agrupadas e reforçadas com pontas de cravação. As estacas de madeira estão sujeitas às
decomposições e ao ataque por microorganismos marinho e geralmente são usadas somente
abaixo do nível freático, mas podem ser impregnadas sob pressão, para
protegê-las quando acima do lençol freático. Usualmente, são utilizadas como estacas
funcionando por atrito lateral, mas, às vezes, trabalham por resistência de ponta.

Neste último caso, deve-se tomar cuidado para evitar os danos devidos ao excesso de
cravação. O perigo de estragar a estaca durante a cravação pode ser reduzido, limitando-se a
queda e o número de golpes do pilão do bate-estaca. O peso do pilão do bate-estaca deveria ser,
pelo menos, igual ao peso da estaca para condições difíceis de cravação e de até 20 m e cargas
até 600KN são usuais.

Estacas de pequeno deslocamento

Exemplos destas estacas são os perfis laminados de aço, estacas helicoidais (em forma de
parafuso) ou tubos de extremidade aberta e perfis ocos onde o solo, removido durante a
cravação. Algumas das observações relacionadas no item Estacas de “Grandes Deslocamentos”
também se aplicam aqui.

As estacas de perfis laminados de aço são de fácil transporte e podem ser cravadas com
grande energia de cravação. Podem ser cravadas em comprimentos muito grandes, e o
comprimento da estaca pode ser alterado rapidamente. Podem suportar cargas pesadas, e podem
ser ancoradas com sucesso em superfícies rochosas com taludes acentuados (Bjerrum, 1957). As
estacas estão sujeitas ã corrosão, que pode ser prevista no projeto, ou podem ser tratadas com
proteção catódica, ou pintadas.

As estacas helicoidais são muito valiosas em obras no mar, porque podem resistir a forças
de tração e de compressão.
De um modo geral, as estacas de pequeno deslocamento são particularmente úteis se os
deslocamentos do solo e o amolgamento forem reduzidos ao mínimo.
129
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As estacas de perfis laminados de aço são usadas em comprimentos de até 36m, com
cargas de trabalho de até 1700KN, e as estacas helicoidais, em comprimentos de até 24 m, com
cargas de trabalho de até 2500KN.

Estacas, sem deslocamento, escavadas e moldadas no local

Vantagens

não há risco de inchamento do solo;


o comprimento pode ser prontamente alterado;
o solo pode ser inspecionado e comparado com dados de investigação do local;
podem ser executadas com comprimentos e diâmetros muito grandes, sendo possíveis
alargamentos da base de até dois ou três diâmetros da estaca em argilas e rochas brandas;
a armadura não depende do transporte ou das condições de cravação;
pode ser instalada sem muito barulho ou vibração, e onde haja limitações de altura para o
equipamento.

Desvantagens

os métodos de escavação podem afofar os solos arenosos ou com pedregulho, ou


transformar rochas moles em lama, como por exemplo, no caso de calcáreo mole ou
marga;
suscetível a estrangulamento em solo compressível;
dificuldades na concretagem submersa. O concreto não pode ser inspecionado
posteriormente;
a entrada de água pode causar danos ao concreto, caso ainda não tenha ocorrido a pega,
ou a uma alteração do solo circundante, provocando redução da capacidade de carga da estaca;
não podem se executadas bases alargadas em solos granulares.

O concreto deve ser lançado tão rápido quanto possível após a escavação para evitar o
“amolecimento”do solo. É importante que o concreto tenha trabalhabilidade, adequada, de tal
modo que o concreto possa fluir pelas paredes do fuste da estaca. Na prática, isto significa que o
abatimento do concreto deve ser da ordem de 100mm a 150mm. Para evitar segregação, ninhos
de abelha, exudação e outros defeitos causados por excesso de água, o uso de um aditivo
plastificante pode ser conveniente. De um modo geral, o concreto deverá conter no mínimo
300Kg de cimento por metro cúbico.
Comprimento de estaca de até 45m, com cargas de até 10000KN, são usuais.

5.3 - Peculiaridades dos Diferentes Tipos de Fundações Profundas


(Segundo a NBR 6122)

1 ESTACAS DE MADEIRA
As estacas de madeira devem atender às seguintes condições:
a) a ponta e o topo devem ter diâmetros maiores que 15 e 25 centímetros respectivamente;
b) a reta que une os centros das seções de ponta e topo deve estar integralmente dentro da estaca;
c) os topos das estacas devem ser convenientemente protegidos para não sofrerem danos durante
a cravação; quando, entretanto, durante a cravação ocorrer algum dano na cabeça da estaca, essa
exigência pode ser dispensada;

130
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d)as estacas de madeira devem ter seus topos (cota de arrasamento) abaixo d’água permanente;
em obras provisórias ou quando as estacas recebem tratamento de eficácia comprovada, essa
exigência pode ser dispensada;
e)em terrenos com matacões, devem ser evitadas as estacas de madeira;
f)quando se tiver que penetrar ou atravessar camadas resistentes, as pontas devem ser protegidas
por ponteira de aço;
g)em águas livres, as estacas de madeira devem ser protegidas contra o ataque de organismos.

2 ESTACAS DE AÇO
Estacas de aço devem ser praticamente retilíneas e resistir à corrosão, pela própria natureza
do aço ou por tratamento adequado. Quando inteiramente enterradas em terreno natural,
independentemente da situação do lençol d’água, as estacas metálicas dispensam tratamento
especial. Havendo, porém, trecho desenterrado ou imerso em aterro com matérias capazes de
atacar o aço, é obrigatória a proteção desse trecho com um encamisamento de concreto ou outro
recurso adequado (pintura, proteção católica, etc.)
As estacas de aço podem ser constituídas por perfis laminados ou soldados, simples ou
múltiplos, tubos de chapa dobrada (seção circular, quadrada ou retangular), tubo sem costura e
trilhos.
As estacas metálicas podem ser emendadas por solda, telas aparafusadas ou luvas.
Consideram-se retilíneas as estacas cujo raio de curvatura for maior que 400 metros.

3 ESTACAS EM CONCRETO

3.1 ESTACAS PRÉ-MOLDADAS OU PRÉ-FABRICADAS

As estacas pré-moldadas podem ser de concreto armado ou protendido, concretadas em


formas horizontais ou verticais, ou por sistema de centrifugação. Devem receber cura adequada,
de modo a terem resistência compatível com os esforços decorrentes de manuseio, transportes,
cravação e utilização.

3.2 ESTACAS MOLDADAS “IN LOCO”

As estacas moldadas “in loco” são executadas enchendo-se de concreto perfurações


previamente executadas no terreno, através de escavações ou cravações de tubo de ponta
fechada. Podem ou não ser alargadas (por ex. Tubulão). Essas perfurações podem ter suas
paredes suportadas ou não e o suporte pode ser provido por um revestimento, recuperável ou
perdido, ou por lama tixotrópica. Só é admitida a perfuração não suportada em terrenos não
coesivos, acima do lençol d’água, natural ou rebaixado.

Tubulão a Céu Aberto. (Caputo, 1994)

Sistema “Chicago”: A figura a esquerda mostra um esquema


em que a escavação é feita com pá, em etapas, cuja
profundidade varia de 0,5 m a 2,0 m. Escoradas com madeira,
ajustadas por meio de anéis de aço, escava-se nova etapa e,
assim, prossegue-se.

Sistema “Gow”: A figura a direita mostra a utilização de


cilindros telescópicos de aço, cravados por percussão, os
quais resistem o orifício escavado por pá ou picareta. Atingida
a profundidade desejada, é feito o alargamento da base e,
concomitantemente com a concretagem, são recuperados os
cilindros. O sistema é mais empregado em solos não coesivos.

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Análise de custo das fundações profundas (ABCP, 2008)

Considerando uma escala relativa de custos da utilização de fundações profundas,


podemos, de um modo genérico, afirmar que:

. a estaca pré-moldada é uma das soluções mais econômicas;


. a estaca tipo hélice já foi considerada de custo elevado porém, devido a sua alta
produtividade e ao aumento da demanda, houve uma progressiva redução de custos ao longo
dos anos;
. a estaca Franki é considerada mais custosa que as estacas anteriores (pré-moldada e
hélice), porém de custo inferior a estaca raiz;
. a estaca do tipo raiz apresenta alto custo;
. O tubulão é uma solução viável quando utilizado acima do nível d.água e com pequenas
profundidades, de 4 a 6 m.

Conclusão

O melhor tipo de fundação é aquela que suporta as cargas da estrutura com segurança e
se adequa aos fatores topográficos, maciço de solos, aspectos técnicos e econômicos, sem afetar
a integridade das construções vizinhas. É importante a união entre os projetos estrutural e o
projeto de fundações num grande e único projeto, uma vez que mudanças em um provocam
reações imediatas no outro, resultando obras mais seguras e otimizadas.

5.4 – Prescrições e Considerações da Norma

São apresentadas aqui as prescrições da Norma Brasileira (NBR 6122) sobre a elaboração
de projeto e a execução de fundações em profundidade, particularmente no que diz respeito:

1.1) Cargas admissíveis a serem consideradas;


Cargas admissíveis de uma Estaca ou Tubulão isolado
Tubulão isolado
Efeito de grupo de Estacas ou Tubulões
1.2) Emendas de estacas;
1.3) Preparo de cabeças e ligação com o loco de coroamento.

1.1 Cargas admissíveis


A determinação da carga admissível deve ser feita para as condições finais de trabalho
da estaca, tubulão ou caixão. Essa observação é particularmente importante no caso de
fundações passíveis de erosão, fundações em que parte fique fora do terreno e no caso de
fundações próximas as escavações.

1.1.1 Carga admissível de uma estaca ou tubulão isolado

Conforme já definido, a carga admissível de uma estaca ou tubulão é aquela que provoca
apenas recalques admissíveis para a estrutura e que apresenta segurança à ruptura do solo e do
elemento de fundação. Na definição dos recalques admissíveis, deve ser examinada a
sensibilidade da estrutura projetada a recalques, especialmente a recalques diferenciais; os quais,
132
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de ordinário, são os que prejudicam sua estabilidade. Os dois primeiros aspectos (recalques e
segurança à ruptura do solo) definem a carga admissível do ponto de vista geotécnico. O
último aspecto (segurança à ruptura do elemento de fundação) define carga admissível do
ponto de vista estrutural.

1.1.1.1 Carga admissível a partir da segurança à ruptura

1.1.1.1.1 A carga admissível à ruptura é determinada após um cálculo ou verificação


experimental (em prova de carga) da capacidade de carga na ruptura. Essa capacidade de carga é
dada pela soma de duas parcelas:

Pr P1 Pp
Onde:

Pr = capacidade de carga na ruptura da estaca ou tubulão – também referido como Pu –


capacidade de carga “última”
P1 = parcela correspondente ao atrito lateral (positivo ou negativo) – também referido como Ps
Pp = parcela correspondente à resistência de ponta – também referido como Pb

1.1.1.1.2 A partir do valor calculado (ou determinado experimentalmente) para a capacidade de


carga na ruptura, a carga admissível é obtida mediante aplicação de coeficiente de segurança
adequado, não inferior a 2,0, salvo para o caso de estacas escavadas com uso de lama. (Ver
Norma).

1.1.1.1.3 O atrito lateral é considerado positivo no trecho do fuste de estaca ou tubulão ao


longo do qual o elemento de fundação tenda a recalcar mais que o terreno circundante.

1.1.1.4 O atrito lateral é considerado negativo no trecho em que o recalque do solo tender a ser
maior que o da estaca ou tubulão. Este fenômeno ocorre no caso de solo em processo de
adensamento provocado pelo peso próprio ou devido a sobrecargas lançadas na superfície,
rebaixamento de lençol d’água ou amolgamento decorrente da execução de estaqueamento.

1.1.1.5 No caso de estacas em que se prevêem ações de atrito negativo, a carga admissível deve
ser obtida deduzindo da carga de ruptura a parcela prevista para o atrito negativo, e aplicando o
coeficiente de segurança 2,0 à diferença. Isso equivale a admitir-se um coeficiente de segurança
inferior a 2,0 sobre a soma das cargas útil e de atrito negativo.

133
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1.1.1.6 Recomenda-se calcular o atrito negativo segundo métodos teóricos que levem em conta o
funcionamento real do sistema estaca-solo.
1.1.1.7 Os seguintes métodos são usados na determinação da capacidade de carga do solo
(capacidade de carga de fundações profundas);

a) Métodos estáticos

Podem ser teóricos, quando o cálculo é feito com teoria desenvolvida dentro na Mecânica
dos Solos, ou semi-empíricos, quando são usadas correlações com ensaios “in situ”.
Os coeficientes de segurança a serem aplicados devem ser os recomendados pelos autores
das teorias ou correlações.
Na análise das parcelas de resistência de ponta e de atrito lateral, é necessário levar em
conta a técnica executiva, as peculiaridades de cada tipo de estaca ou tubulão; quando o
elemento de fundação tiver base alargada, o atrito lateral deve ser desprezado ao longo de um
trecho inferior do fuste (acima do início do alargamento da base) igual ao diâmetro da base.

b) Provas de carga

A capacidade de carga pode ser determinada por


provas de carga executadas de acordo com a NBR 6121.
Neste caso, na determinação da carga admissível,
o fator de segurança contra a ruptura deve ser igual a 2,0,
devendo-se contudo observar que durante a prova de
carga o atrito será sempre positivo, ainda que venha a ser
negativo a longo da vida útil da estaca. Tal fato terá
repercussões diretas em 1.1.1.1.5.

O carregamento da estaca ou tubulão de prova


pode não indicar uma carga de ruptura nítida, isto
ocorre quando não se pretendia levar a estaca ou tubulão
à ruptura. Ou então a estaca e o tubulão têm capacidade
de resistir a uma carga maior do que aquela que se pode
aplicar na prova (por uma limitação de reação, p, ex.), ou
quando a estaca é carregada até apresentar um recalque
considerável, mas a curva carga-recalque não indica uma carga de ruptura, mas um
crescimento constante do recalque com a mesma. Nos dois primeiros casos, deve-se extrapolar a
curva para de obter a carga de ruptura, o que deve ser feito por métodos consagrados na
Mecânica dos Solos.
No terceiro caso, a carga de ruptura pode ser convencionada com aquela que corresponde
na curva carga x deslocamento (ver Figura) ao recalque expresso pela fórmula a seguir, ou por
outros métodos consagrados.
P L D
r
A D 30

Onde:
r = recalque de ruptura convencional
P = carga de ruptura convencional
L = comprimento da estaca
A = área da seção transversal da estaca
E = módulo de elasticidade do material da estaca
D = diâmetro do circulo circunscrito à estaca

134
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Na interpretação da prova de carga devem ser consideradas a natureza do terreno, a


velocidade de carregamento e a estabilização dos recalques (deslocamentos); uma prova de carga
em que não houve estabilização dos recalques, só indica a carga de ruptura; para que se possa
estabelecer uma relação carga-recalque (deslocamento) é necessário que haja estabilização dos
recalques (deslocamentos) nos estágios do ensaio pelo menos até aquela carga.
Deve-se observar também o disposto em 1.1.1.2.

c) Métodos dinâmicos

São métodos de estimativa da capacidade de carga de estacas cravadas a percussão,


baseados na observação do seu comportamento durante a cravação. Dentre os métodos
dinâmicos estão as chamadas “Fórmulas Dinâmicas” e os métodos que usam a “Equação da
Onda”. O coeficiente de segurança a adotar nas fórmulas dinâmicas não deve ser inferior ao
proposto pelos autores, e deve conduzir às cargas admissíveis compatíveis com as estimativas
por métodos estáticos ou provas de carga no local da obra.

Nota: Os métodos dinâmicos não devem ser usados isoladamente, ou seja, não dispensam o
cálculo estático ou prova de carga.

O melhor uso dos métodos dinâmicos é no sentido de se garantir a qualidade (ou


homogeneidade) de um estaqueamento, através da observação de que as estacas apresentem um
mesmo comportamento na cravação, cabendo aos métodos estáticos ou provas de carga
definirem a profundidade mínima a ser atingida pelas estacas.

1.1.1.2 Carga admissível a partir do recalque

1.1.1.2.1 A verificação do recalque pode ser feita através de cálculo por método consagrado,
teórico ou semi-empírico, sendo as propriedades do solo obtidas em ensaios de laboratório ou “in
situ” (eventualmente através de correlações) e levando-se em consideração as modificações
nessas propriedades causadas pela instalação do elemento de fundação, ou por prova de carga.
1.1.1.2.2 No caso de verificação por prova de carga, a carga admissível a carga admissível não
1
pode ser superior a daquela que produz o recalque (medido no topo) aceitável pela estrutura.
1,5

1.1.1.2.2 Quando em um projeto forem especificados o tipo de estaca ou tubulão, a carga e o


recalque admissível, a compatibilidade destes elementos deve ser verificada através da realização
de prova de carga. Deve ser adotado um procedimento análogo no caso de elementos de
fundação submetidos a cargas horizontais com deslocamentos especificados.

135
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1.1.1.3 Para estacas trabalhando à tração sujeitas a esforços horizontais ou a momentos

1.1.1.3.1 No caso de prova de carga à tração ou para carga horizontal, vale o coeficiente de
segurança 2,0 à ruptura e o coeficiente de segurança 1,5 em relação à carga correspondente ao
deslocamento compatível com a estrutura. Se a prova de carga horizontal for realizada sem carga
vertical simultânea, a fixação do deslocamento compatível deve-se considerar a influência da
carga vertical que atua na estaca ou tubulão.

1.1.1.3.2 Em estruturas sujeitas a esforços cíclicos, as eventuais provas de carga devem ser
feitas de modo a verificar a influência desse tipo de carregamento.

1.1.2 Tubulão isolado

1.1.2.1 De acordo com o já definido, a carga admissível sobre um tubulão isolado depende da
sensibilidade da construção projetada aos recalques , especialmente aos recalques diferenciais, os
quais de ordinário são os que prejudicam a sua estabilidade.

1.1.2.2 A carga admissível pode ser determinada através de métodos teóricos, provas de carga e
correlações.

a) Métodos teóricos

Como no caso de estacas, a capacidade de carga na ruptura de um tubulão é dada pela


soma das duas parcelas, sendo a primeira correspondente ao atrito lateral e a segunda à
resistência de ponta;
A determinação das duas parcelas deve ser feita de acordo com teoria desenvolvida pela
Mecânica dos Solos, que leva em conta as características dos solos atravessados e de apoio, a
técnica executiva e a existência ou não de base alargada;
A partir do valor calculado, a carga admissível é obtida mediante a aplicação de um
coeficiente de segurança que deve ser igual ao recomendado pelo autor da teoria, válidas as
considerações de Pressão Admissível para Fundações Superficiais;
Quanto ao atrito lateral, ver o disposto em 1.1.1.1;

b) Provas de carga

A capacidade de carga pode ser determinada por provas de carga. Na determinação da


carga admissível, o coeficiente de segurança contra a ruptura deve ser no mínimo igual a 2,0,
devendo contudo observar que durante a prova de carga o atrito dera sempre positivo, ainda que
venha a ser negativo ao longo da vida útil do tubulão. Tal fato terá repercussões diretas no item
1.1.1.1.5;
O tubulão a ser ensaiado deve ser um dos tubulões a ser utilizado na obra, e caso isso não
seja possível, um tubulão executado de maneira a reproduzir o mais próximo possível das
condições dos tubulões a serem utilizados e com dimensões tais que os resultados obtidos
possam ser satisfatoriamente analisados e corretamente extrapolados.

Nota: São válidas as demais prescrições aplicáveis às estacas conforme 1.1.1.1;

c) Correlações

A capacidade de carga do tubulão pode ser determinada através de correlações diversas,


devidamente justificadas.

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1.1.3 Efeito de grupo de estacas ou tubulões

1.1.3.1 Entende-se por efeito de grupo de estacas ou tubulões, o processo de interação das
diversas estacas ou tubulões que constituem uma fundação, ao transmitirem ao solo as cargas
que lhes são aplicadas. Essa interação acarreta uma superposição de tensões, de tal sorte que o
recalque do grupo de estacas ou tubulões, para a mesma carga por estaca é, em geral, diferente
do recalque da estaca ou tubulão isolado.

1.1.3.2 A carga admissível de um grupo de estacas ou tubulões, e assente a uma profundidade


não pode ser maior que a de uma sapata de mesmo contorno que o do grupo. Se assente a uma
profundidade acima das pontas das estacas ou tubulões igual a 1/3 do comprimento de
penetração da camada suporte (ver Figura), a distribuição de pressões calculada por um dos
métodos consagrados na Mecânica dos Solos. Em particular, deve ser feita uma verificação de
recalques, que é, sobretudo, importante quando houver uma camada compressível abaixo da
camada onde assentam as estacas.

1.1.3.2.1 No caso particular de conjunto de tubulões de base alargada a verificação deve ser feita
em relação a uma sapata que envolva as bases alargadas e seja apoiada na mesma cota de apoio
dos tubulões.

1.1.3.2.2 Pode-se adotar qualquer outro método consagrado de cálculo, desde que leve em
conta as características reais do comportamento do solo.

1.1.3.3 Atendida a consideração de 1.1.3.2, o espaçamento mínimo entre as estacas ou tubulões


paralelos fica condicionado, apenas, às razões de ordem executiva.

1.1.3.4 As considerações de 1.1.3.2 não são válidas para blocos de elementos inclinados.

1.2 Emendas de Estacas

As estacas de madeira, aço, de concreto armado ou protendido podem ser emendadas,


desde que as seções emendadas possam resistir a todas as solicitações que nelas ocorram durante
o manuseio, à cravação e durante o trabalho da estaca.

Atenção especial deve ser dada aos esforços de tração decorrente da cravação por
percussão ou vibração.

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No caso de estacas metálicas, o eletrodo a ser utilizado na solda deve ser compatível com
o material da estaca. O uso de telas parafusadas ou soldadas é obrigatório nas emendas, sendo
que seu dimensionamento deve satisfazer às normas em vigor.

A foto ao lado mostra-nos uma


emenda de duas estacas através de
soldagem.
As peças são produzidas com anéis
metálicos, incorporados às duas
extremidades, e com comprimentos padrões
até 12 metros

1.3 Preparo de cabeças e ligação com o bloco de coroamento

1 O topo de estacas pré-moldadas danificado durante a cravação ou acima da cota


de arrasamento deve ser demolido. Nessa operação dede-se empregar, nas estacas de seção
transversal menor que 2000 cm2 um ponteiro trabalhando com pequena inclinação em relação à
horizontal. Nas estacas de maior seção, pode-se utilizar um martelete leve, tomando-se o mesmo
cuidado quanto à inclinação, recompondo-se quando necessário o trecho de estaca até a cota de
arrasamento.

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2 As estacas moldadas no solo apresentam, em geral, um excesso de concreto em


relação à cota de arrasamento, o qual deve ser retirado, com os mesmos cuidados indicados no
item anterior. É indispensável que o desbastamento do excesso de concreto seja levado até
atingir o concreto de boa qualidade, ainda que isso venha a ocorrer abaixo da cota de
arrasamento, recompondo-se, a seguir, o trecho de estaca até essa cota.

3 No caso de estacas de aço ou madeira, deve ser cortado o treco danificado durante
a cravação ou o excesso em relação à cota de arrasamento, recompondo-se, quando necessário, o
trecho da estaca até essa cota.
4 Nas estacas de concreto, quando a armadura da mesma não tiver função resistente
após a cravação, não há necessidade de sua penetração no bloco de coroamento. Caso contrário,
a armadura deve penetrar suficientemente no bloco a fim de transmitir a solicitação
correspondente.
5 Nas estacas de aço de perfis laminados ou soldados, quando se tratar de estacas de
compressão, basta uma penetração de 20 cm no bloco. Pode-se, eventualmente, fazer uma
fretagem, através de espiral, em cada estaca nesse trecho. No caso de estacas trabalhando à
tração, deve-se soldar uma armadura de modo a transmitir as solicitações correspondentes.
6 No caso de estacas de aço tubulares, ou se utiliza o disposto em 5 ou, se a estaca
for cheira de concreto até a altura tal que transmita a carga por aderência à camisa, o disposto em
4 como estaca de concreto.
7 Nas estacas vazadas de concreto ou aço, antes da concretagem do bloco, o furo
central deve ser convenientemente tamponado.
8 O topo dos tubulões apresenta, normalmente, dependendo do tipo de
concretagem, concreto não satisfatório. O mesmo deve ser removido até que se atinja material
adequado, ainda que abaixo da conta de arrasamento prevista, reconcretando-se a seguir o trecho
eventualmente cortado abaixo dessa cota.
9 Tubulões sujeitos apenas a esforços de compressão não precisam ter ferragem de
ligação com o bloco de coroamento, se este existir.
10 Em qualquer caso, deve ser garantida a transferência adequada de carga do pilar
para o tubulão.
11 É obrigatório o uso de lastro de concreto magro em espessura não inferior a 10 cm
para execução do bloco de coroamento de estaca ou tubulão. No caso de estacas de concreto ou
madeira e tubulões, o topo dessa camada deve ficar 5 cm abaixo do topo acabado da estaca ou
tubulão.

1.4 Blocos de coroamento

Podemos definir blocos de coroamento como maciços de concreto armado que


solidarizam as cabeças das estacas responsáveis pela transmissão dos esforços, provenientes de
um mesmo pilar, até uma camada resistente do solo. No caso desta transmissão ser feita por uma
única estaca, os blocos de coroamento servirão como elemento entre a estaca e o pilar.

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Detalhe de bloco com duas estacas e


concretagem de bloco triangular – com três estacas

Sempre que se utiliza estaqueamento é necessário que exista bloco de ligação entre a
estrutura e a (as) estaca (as), logo, esse elemento tem importância fundamental na edificação,
porém não permite uma inspeção visual quando está em serviço. Por isso é necessário conhecer
seu comportamento quando está sobre a ação ou efeito de cargas. Os blocos são estruturas
tridimensionais, o que torna seu funcionamento complexo. (FERREIRA et al, 2015)

A distribuição das estacas no bloco de coroamento deve ser feita de forma que se obtenha
segurança e economia. De acordo com o número de estacas por bloco as disposições das mesmas
são feitas de maneiras diferentes, como pode ser visto em sugestão de Alonso (1983).

Distribuição sugerida para 2ø, 3ø, 4ø, 5ø, 6ø, 7ø e 8ø de estacas. (ALONSO, 1983)

Alonso (1983) apresenta na tabela a seguir, valores orientativos para o dimensionamento


de alguns tipos de estacas, onde se vê valores mínimos para distâncias entre o eixo das estacas e
as divisas (“a”) e para distâncias entre o eixo das estacas (“d”).

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Tabela: Valores orientativos para o dimensionamento de estacas. (ALONSO,1983)

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Unidade 06
CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

ESTIMATIVA DE CAPACIDADE DE CARGA ADMISSÍVEL

A capacidade de carga de ruptura de fundações profundas, com objetivo de evitar seu


colapso ou o escoamento do solo que lhe confere sustentação, é definida pelo menor dos dois
valores seguintes:

a) resistência estrutural do material que compõe o elemento de fundação;


b) resistência do solo que lhe confere suporte.

O conceito de carga de ruptura é relativamente diverso, dependendo da definição do seu


autor. Segundo Décourt a carga de ruptura “é definida como sendo a carga corresponde a
deformação de ponta (ou do topo) da estaca correspondente ao valor de 10% de seu diâmetro, no
caso de estacas de deslocamento (grande ou pequeno) e de estacas escavadas em argilas, e de
30% de seu diâmetro, no caso de estacas escavadas em solos granulares”.
Neste contexto, normalmente a situação mais frágil é aquela que envolve a resistência do
solo. Fato este que não é de difícil identificação em situações onde (1) um mesmo elemento de
fundação, com comprimentos diferentes, colocado em um mesmo solo, apresenta capacidades de
carga distintas (Pb > Pa); e, por outro lado, (2) um mesmo elemento de fundação, com igual
comprimento, porém executado em solos diferentes, pode também apresentar capacidades de
carga distintas (PII ≠ PI), conforme ilustra a Figura abaixo.

Por esta razão, por si mesma comprovada, é extremamente prudente e não recomendável
que a capacidade de carga admissível de elementos de fundação não deve ser pré-fixada a partir –
exclusivamente – da capacidade resistente estrutural do elemento. Esta situação pode servir como
referencia inicial para uma estimativa preliminar do número de elementos necessários (número
de estacas para absorver a carga de um pilar, por exemplo), mas a capacidade de carga admissível
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final continuará dependendo de dados do solo e da profundidade de implantação do


elemento, além do tipo da estaca. (Giugliani, E., 2006 - Notas de Aula - Estruturas de Concreto
Armado III - Departamento de Engenharia Civil, PUCRS)
A capacidade de carga última Pu de uma fundação profunda do tipo estaca (em tubulões
despreza-se frequentemente o atrito lateral) se compõe de duas parcelas: A resistência de atrito
lateral (Psu) e a resistência de ponta (Pbu )

Pu = Psu + Pbu

Se, no entanto, por qualquer motivo (por exemplo: adensamento de uma camada
compressível), o movimento relativo so1o-estaca é ta1 que o solo se desloca mais que a estaca,
ocorre o chamado atrito negativo (solo sobre a estaca), o qual sobrecarrega a estaca. Isto pode
ocorrer quando proveniente da carga do aterro ou ocasionado pelo aumento das pressões efetivas
devidas a um rebaixamento do nível do lençol d'àgua.

Os dois terrnos Psu e Pbu, reconhece-se, são difíceis de serem avaliados corretamente.
Daí o grande número de fórmulas, baseadas em hipóteses mais ou menos questionáveis.

ESTACAS DE PONTA OU FLUTUANTE:


Se Pbu » Psu diz-se que a estaca trabalha de ponta e se Psu » Pbu diz-se que a estaca
trabalha por atrito (é a chamada estaca flutuante).

6.1 – Determinação da Capacidade de Carga

A determinação da capacidade de carga de uma estaca isolada pode ser feita por
fórmulas estáticas (teóricas ou empíricas), fórmulas dinâmicas, ou provas de carga. Existem
várias teorias de capacidade de carga, devidas a diferentes autores.

Prova de Carga
A avaliação da carga de ruptura de uma estaca pode ser feita através da interpretação das
curvas carga-recalque obtidas de provas de carga estáticas executadas por diversos métodos.
Entre eles podem ser citados o prescrito na NBR-6122, o de Davisson e o de Van der Veen...
A utilização deste procedimento, no entanto se justifica para grandes obras ou para
aquelas em que há muita incerteza no seu dimensionamento.

A interpretação destas verificações não


serão abordadas neste curso, que se propõe
a fazer uma introdução à prática da
Engenharia de Fundações.

Formulação Estática
Utiliza-se de métodos convencionais da Mecânica dos Solos para a avaliação, a partir de
parâmetros previamente determinados

Formulação Dinâmica
Utiliza-se de dados obtidos no campo, na cravação da estaca
141
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6.2 - Formulação Estática

Adiante apresentaremos uma formulação conceitual básica, para o dimensionamento de


estacas (em geral), que nem sempre é possível de se aplicar: Utilizaremos - como será visto no
item seguinte - diferentes Métodos de Cálculo que nos possibilitarão tal avaliação
(quantificação), de uma forma eminentemente prática - 6.4 - Métodos Diretos para Cálculo da
Capacidade de Carga por meio do SPT.

Essas fórmulas, de emprego mais recente que as dinâmicas, baseiam-se nas


caracteristicas do terreno, as quais deverão ser determinadas experimentalmente em cada caso.

Duas circunstâncias levaram ao seu estabelecimento:


* uma resultou das críticas e restrições que recaem sobre as fórmulas dinâmicas
* e outra foi o aparecimento dos tipos de estacas moldadas "in loco", às quais não se
aplicam .as fórmulas de cravação.

Formulação Teórica-Conceitual
(Segundo Poulos e Davis em “Pile Foundation Analysis and Design - 1980)

Nesta formulação apresentada é utilizada a nomenclatura para atrito e coesão:


a ângulo de atrito estaca - solo Ca adesão (coesão) estaca - solo
a’ ângulo de atrito efetivo estaca-solo Ca’ adesão efetiva estaca -solo
u ângulo de atrito do solo não drenado Cu adesão do solo não drenada
’ ângulo de atrito efetivo do solo C’ adesão efetiva do solo

A capacidade de carga de uma estaca, Pu, compõe-se de duas parcelas a resintência de


atrito lateral, Psu, e a resistência de ponta, Pbu.

Pu = Psu + Pbu - W

Capacidade de Resistência relativa Resistência. Peso da


carga “última” ao Atrito Lateral relativa a Base estaca

Para o cálculo da resultante de reação do solo (força de reação – referido aqui como
capacidade de carga) utilização do conceito de tensão = força/área, tendo como conseqüência a
expressão para a força de reação = tensão solo/estrutura * área. Observe nas expressões abaixo:

Parcela devido ao Atrito Lateral - Psu

Psu = 0L P a dz Resistência (tensão) de cisalhamento ao longo de toda a área


L = Perímetro

a = Ca + u tg a

resistência ao adesão tensão ângulo de atrito


cisalhamento solo normal entre solo - estrutura
solo - estaca estaca entre solo-estaca

A tensão normal entre solo-estaca pode ser determinada a partir da tensão vertical:

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u = Ks v, sendo Ks o coeficiente de pressão lateral

Então a Resistência ao Atrito Lateral pode ser escrito:

L
Psu = P ( ca + v Ks tg a ) dz
0

ou de uma forma mais simples, e prática, podemos escrever:

Psu = Afuste fu atrito lateral médio

Parcela devido a Capacidade de Suporte da Base - Pbu

Pbu determinado a partir de teorias de capacidades de carga dos solos

Pbu = Ab ( cNc + vbNq + 0,5 dN )

sendo vb = h (sobrecarga)
Parcela 0,5 d N : Muito pequeno - d - neste tipo de fundação

ou de uma forma mais simples, e prática, podemos escrever:

Pbu = Abase qu resistência de ponta.

SOLOS COM RESISTÊNCIA NÃO-DRENADAS E DRENADAS


(ARGILAS SATURADAS, AREIAS, ...)
Fazendo agora uma avaliação das condições de capacidade de carga em termos de resistência não
drenada e resistência drenada, temos:
Para condição não drenada ou carregamento rápido
c , , ca , não drenado
v , vb , Tensão total
Para areias ou carregamento lento
c‟, ‟, ca , drenado
v , vb , tensões efetivas

6.2.1 - Capacidade de carga em argilas

6.2.1.1 - Não drenado


u=0
L
a =0 Pu = P. c a . dz A b (c u N c vb ) W
0
Nq = 1
N =0 adesão coesão
não não
drenada drenada

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No caso de fundações profundas em estacas temos um pequeno diâmetro, logo:

L
Ab. vb W P. c a dz A b c u N c
0

tipo estaca
Os valores de ca é função do tipo solo
métodos de instalação

ca
como exemplos Argila Mole cu < 24 kpa 1 ca = cu então ca = 24 kPa
cu
Argila rija ca < cu
por ex. cu = 75 kPa
ca
0.6 então ca = 45 kPa
cu

6.2.1.2 - Drenado

L
Pu = P( v K s .tg a )dz Ab .( vb Nq ) W
0

vb ‟ Nq = Parcela devido a sobrecarga na base


Ks tg a‟ = = ( 1 - sen ‟) tg ‟ ângulo de atrito efetivo

6.2.2 - Capacidade de carga em areias

A resistência não necessariamente cresce linearmente com a profundidade a partir de


determinada profundidade.

Independente da forma da estaca a capacidade de carga de uma fundação profunda é


função da: (Densidade relativa e instalação)

Se CNc = 0
0.5 d N = 0 Valor pequeno, então:

L
Pu Fw P( v`Ks. tg a )dz A b ( vb`Nq ) W
0

Onde Fw é um fator de correção para a forma cônica

Os valores do ângulo de atrito são diferentes após a execução da escavação:


‟1 = ângulo antes da estaca
= ‟1 + 40 estaca cravada
2
= ‟1 - 3 estaca moldada

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Valor de ângulo em função do N-SPT, segundo Kishida:


‟ = 20N 15o
1

6.3 - Formulação Dinâmica

Avaliam a capacidade de carga das estacas, valendo-se dos elementos obtidos durante a
cravação. Não servem, pois, para as estacas "in situ".

Todas elas partem da medida da nega, que é a penetração que sofre a estaca ao receber um
golpe do pilão, no final da cravação. Observe-se que a nega é uma condição necessária, mas
não suficiente para se conhecer a capacidade de carga de uma estaca.

Se a ponta da estaca está em uma formação muito pouco permeável, desenvolvem-se


pressões neutras, que dissipadas ao longo do tempo faz com que a '"nega aumente". Se a ponta da
estaca destrói a estrutura do solo e esta se recupera com o tempo (fenômeno análogo à
tixotropia), a "nega pode diminuir". Terzaghi cita o caso que ocorreu em uma vasa, que após a
recravação a estaca não resistia a 9 t, enquanto que 3 meses depois ela poderia suportar 100 t.

Gonçalves e outros (2007) fazem uma reflexão a cerca do Ganho de Capacidade de


Carga com o Tempo (Efeito Set-Up): ...Durante a cravação de estacas em solos coesivos, a
perda de resistência provocada pelo amolgamento e pelo excesso de poropressão, resultante das
distorções na estrutura da argila, é bem conhecida em nosso meio geotécnico. Porém, muitas
obras continuam utilizando comprimentos de estacas muito acima do necessário por não levarem
em consideração o ganho de resistência (set up), provocado pela reconsolidação da argila ao
redor da estaca. Quando a estaca é cravada em areia, o efeito da distorção na sua estrutura sob
condições não drenadas, pode ser bem problemático, dependendo da sua granulometria e
compacidade...

A dedução das fórmulas dinâmicas baseia-se na igualdade entre a energia de queda da


martelo e o trabalho gasto durante a cravação da estaca que pode ser escrito na forma:
Teoria do choque na estimativa da resistencia dinâmica da solo à cravação

Wr h = Ru S + C perdas

energia resistência nega


de dinâmica
queda à cravação

Solos permeáveis
Solos não saturadados Ru Pu ( Qu )

Solo argilosos
Solos pouco permeáveis Ru Pu
Ru < Pu

Ru: Resistência que oferece à cravação rápida da ponta


Neste caso: A aderência é baixa - e o atrito lateral pequeno.

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Caso de estacas em argilas


Análise da influência da resposta à cravação:

Quando é interrompida a cravação u (execesso de pressão) dissipa


maior aderência do solo no fuste

Nova nega após uma interrupção na cravação menor


Consequentemente temos um maior Ru para a mesma energia de choque

Conclusões
Reação cravação dinâmica Reação cravação estática.
Fórmulas dinâmicas elemento de controle da cravação, não fornecendo o valor da
capacidade de carga estática

A utilização de fórmulas Dinâmicas deve ser feita em conjunto com análises estáticas e
resultados de prova de carga.

FORMULAÇÃO MATEMÁTICA
A igualdade entre a energia de queda do martelo e o trabalho gasto durante a cravação da
estaca pode ser escrito também da seguinte forma:

P h = R e + Z

onde:

P = peso do martelo;
h = altura de queda; .
R = resistência oferecida pelo terreno
à penetração da estaca;
e = nega;
Z = soma das perdas de energia durante
a cravação (compressão do terreno,
da estaca, do capacete etc.).

A dificuldade consiste na determinação do valor de Z, daí se originando, pelas hipóteses


admitidas para avaliá-lo, as diferentes fórmulas dinâmicas. A utilização prática dessas
fórmulas - assunto muito discutido - encontra-se atualmente limitada às areias, tendo em
vista a diferença de comportamentos dinâmico e estático das estacas em argila, conforme
estudos comparativos realizados pela American Society of Civil Engieneers (ASCE), entre
outras.

Por outro lado, das observações práticas sobre o emprego destas fórmulas, conclui-se que
as mais complicadas não conduzem a nenhuma vantagem sobre o emprego das mais simples.

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Face ao exposto, apresentaremos umas delas, escolhidas dentre as mais simples e as de


maior emprego.
Fórmula de BRIX

Vejamos inicialmente a fórmula de Brix, cujo fundamento é a teoria do choque


newtoniano, apesar desta não se aplicar aos problemas dessa natureza.

Admitamos inicialmente as seguintes hipóteses simplificadoras:


a) despreza-se a elasticidade que possam apresentar a estaca e o martelo;
b) admite-se que, logo após o choque, o martelo separe-se da estaca para efetuar o
segundo golpe, não continuando o seu peso a auxiliar a penetração da estaca.

Deste modo, igualando as expressões do trabalho resistente Re (onde R é a resultante das


forças exercidas pelo solo e “e”a penetração da estaca para um golpe do martelo) e da energia
Q u2
cinética . com que a estaca inicia a penetração (onde „Q‟ é o peso da estaca, „g‟ a
g 2
aceleração da gravidade e „u‟ a velocidade comum dos dois corpos supostos inelástico - martelo e
estaca - no instante do choque), temos:
Q u2
Re = .
g 2

A teoria do choque, para corpos de massas m1 e m2 animados respectivamente das


velocidades v1 e v2 , fornece-nos
m1v1 m2 v 2
u
m1 m2

Para os corpos martelo-estaca, temos:


P
m1 = (P é o peso do martelo)
g
v1 = 2gh (h é a altura de queda do martelo sobre a estaca)
Q
m2 =
g
v2 = 0
P
2gh
g P
donde: u 2gh
P Q P Q
g

Elevando ao quadrado e substituindo (1), vem :


P2
Re = Qh ,
( P Q) 2
ou
P 2 Qh
R= que é a conhecida fórmula de Brix.
( P Q) 2 e

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Adotando-se um coeficiente de segurança (5 é o valor recomendado por alguns autores), a


fórmula nos dará a carga admissível sobre a estaca.

R
P= ,
FS

Uma fórmula de uso também muito generalizado é a chamada fórmula dos holandeses
(Woltmann):
P2h
R
( P Q) e

à qual se aplica um coeficiente segurança igual a 10, aconselhado por Chellis.

NEGA
O uso destas expressões matemáticas permite a determinação de valores numéricos
limites para a chamada “nega” das estacas, ou seja, o valor que deve ser obtido na cravação para
“garantir” dinamicamente (vejam que são utilizados fatores de segurança extremamente
elevados) a capacidade de carga esperada para a estaca.

A foto ilustra o operário com uma régua para “riscar” a estaca e medir a penetração,
após 10 golpes para verificação da “nega”

Sobre esta avaliação descreve a BENETON Fundações (2009):


“Mesmo a capacidade de carga sendo avaliada em projeto, utilizando-se Métodos
Estáticos Empíricos, (a ser visto adiante) o controle da capacidade de carga em estacas é
tradicionalmente efetuado através da recusa à penetração da estaca no solo associada a uma
determinada energia de cravação (Nega)”.
“Considera-se satisfatória a profundidade atingida quando o elemento estrutural recusa-se
a penetrar no solo, obtendo uma “nega” predeterminada com base em Fórmulas Dinâmicas de
Cravação”.
“Na prática diária, se as negas não são satisfatórias, a estaca é recusada. Ocorre que,
sendo a nega apenas um indicador de impenetrabilidade do elemento estrutural no solo, a melhor
utilização para tal critério, consiste no Controle de Qualidade e Homogeneidade do
estaqueamento e não na avaliação da capacidade de carga das estacas.

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6.4 - Métodos Diretos para Cálculo da Capacidade de Carga por meio do SPT

A utilização dos resultados deste ensaio na determinação da capacidade de carga das


fundações, seja quanto à ruptura, seja quanto aos recalques, pode ser feita diretamente, isto é,
por meio de correlações entre carga de ruptura ou recalque e o índice de penetração N, ou
indiretamente, isto é, por meio de correlações entre N e ou parâmetros de resistência ao
cisalhamento e com previsibilidade cujos valores, assim determinados, são levados às fórmulas
da Mecânica dos Solos.

São apresentados a seguir os procedimentos de cálculo da capacidade de carga das


fundações profundas, encontrados na literatura especializada e mais utilizados em nosso país.

É utilizado aqui, como referência principal o trabalho “Capacidade de carga por meio
do SPT”, publicado por Dirceu de Alencar Velloso no 20 Seminário de Engenharia de
Fundações Especiais, realizado em São Paulo entre 19 e 21 de Novembro de 1991.

6.4.1 - MÉTODO DE MEYERHOF

Em 1956 (Meyerhof, 1956) publicou seu primeiro trabalho no Journal of the Soil
Mechanics and Foundations Division of the American Socity of Civil Engineers. O tema foi
retomado na “11th Terzaghi Lecture” (Meyerhof, 1976).

Os principais resultados obtidos por este autor foram os seguintes:

1o ) Para estacas cravadas até uma profundidade Db em solo arenoso, a resistência unitária de
ponta (em Kgf/cm2) é dada por:

0,4NDb
qp 4N (1.1)
B

Onde B é o diâmetro da estaca, e a resistência unitária por atrito lateral (em Kgf/cm2) é dada por:
N
fs (1.2)
50

2o) Para siltes não-plásticos pode-se adotar como limite superior da resistência de ponta (em
Kgf/cm2):
qp = 3N (1.3)

3o) Para estacas escavadas em solos não coesivos a resistência de ponta é da ordem de um terço
dos valores dados por (1.1) e (1.3) e a resistência lateral é da ordem da metade do valor dado por
(1.2).

4o) Para estacas com base alargada tipo franki a resistência de ponta é da ordem do dobro da
fornecida pelas equações (1.1) e (1.3).

5o) Se as propriedades da camada suporte arenosa variam nas proximidades da ponta da estaca,
deve-se adotar para N um valor médio calculado ao longo de 4 diâmetros para cima e um
diâmetro abaixo da ponta da estaca.
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6o) Quando a camada suporte arenosa for sobrejacente a uma camada fraca e a espessura H entre
a ponta da estaca e topo desta camada fraca for menor que a espessura crítica da ordem de 10B, a
resistência da ponta da estaca será dada por:
(q1 q 0 ). H
q p q0 q1 (1.4)
10B

onde: qo e q1 são resistências limites na


camada fraca inferior e na camda resistente,
respectivamente.

7o) Para estacas em argilas, nenhuma relação direta entre capacidade de carga e N é apresentada.

8o) O recalque S (em polegadas) de um grupo de estacas em areia é dado aproximadamente pela
expressão:
2p B
S (1.5)
N

Onde B é a largura do grupo de estacas, em pés; p a pressão aplicada ao solo pelo grupo de
estacas em tsf (ou em Kgf/cm2) e N o S.P.T. médio ao longo de uma profundidade igual à largura
do grupo. Para areias siltosas, recomenda-se adotar o dobro do valor dado por (1.5). Se as estacas
penetram D‟ na camada suporte, o valor obtido por (1.5) será multiplicado por um fator de
influência I dado por:
D'
I 1 05
. (1.6)
8B

EXPERIÊNCIA BRASILEIRA – MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS


De acordo com a NBR 6122, são considerados métodos semi-empíricos aqueles
em que as propriedades dos materiais, estimados com base em correlações, são usadas em
teorias adaptadas da Mecânica dos Solos.
“É o caso típico dos métodos de Aoki & Velloso (1975) e de Décourt & Quaresma
(1978), propostos para fundações em estacas, mas que podem ser utilizados para
determinação da tensão admissível em fundações por tubulões, considerando-os como
“estacas” escavadas”. (CINTRA e outros, 2003)

São relações relativamente simples, porém baseado em experiência dos seus


autores – com base em estudos estatísticos (como destaca Schnaid, 2000, que atribui os
métodos como “estatístico” nas próprias denominações dos mesmos) e que devem ser
aplicados com bastante propriedade.
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A preocupação do seu uso indevido levou Dirceu Velloso a escrever em 1998:


(publicado por Schnaid, 2000)
As correlações baseadas no SPT são malditas,
porém são necessárias.
Ainda assim, pelo uso indevido da metodologia,
há ocasiões em que me arrependo de tê-las publicado.

6.4.2 - MÉTODO ESTATÍSTICO DE AOKI-VELLOSO

Este método foi apresentado em contribuição ao 5o Congresso Panamericano de Mecânica


dos Solos e Engenharia de Fundações realizado em Buenos Aires, 1975 (Aoki e Velloso, 1975).
Este método foi originalmente concebido a partir de correlações entre os resultados dos
ensaios de penetração estática (cone, CPT) e dinâmicos (amostrador, SPT).
Os autores partiram de correlações estabelecidas para os solos brasileiros entre o N e a
resistência UNITÁRIA de ponta RP em Kgf/cm2, pode-se escrever:

RP = K . N (2.7)

Para K (em Kg /cm2)foram determinados inicialmente os seguintes valores (Costa Nunes e


Velloso, 1969):
Tabela 2.1
TIPO DE SOLO K
Argilas, argilas siltosas e siltes argilosos 2,0
Argilas arenosas e siltes arenosos 3,5
Siltes arenosos 5,5
Areias argilosas 6,0
Areias 10,0

Para a resistência UNITÁRIA por atrito lateral local no ensaio do cone, preferiu-se adotar
correlações estabelecidas por Begemann (1965) entre este parâmetro e a resistência de ponta:

R1= . RP (2.8)

Tabela 2.2
TIPO DE SOLO (%)
Areias finas e médias 1,2 - 1,6
Areias siltosas 1,6 - 2,2
Siltes areno-argilosos 2,2 - 4,0
Argilas > 4,0

O conhecimento dessas correlações permite a estimativa dos parâmetros correspondentes


para uma estaca pelas expressões:
R P K. N
R'P (2.9)
F1 F1

R1 . K. N
R '1
F2 F2 (2.10)

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Os coeficientes F1 e F2 levam em consideração a diferença de comportamento entre a


estaca (protótipo) e o cone (modelo). Seus valores foram determinados por comparações com
resultados de provas de carga:

Os valores de F1 e F2 foram inicialmente avaliados para estacas Franki, Metálica, Pré-


moldada de concreto e depois escavada sem distinção do diâmetro. Posteriormente estes valores
foram reavaliados (1988) e sugeridos novos parâmetros para outras estacas, assim como, para
os valores apresentados na Tabela 2.4 - de Coeficientes K e (corresponde ao segundo
número das tabelas, para os casos em que houve proposta de modificação). Estes valores foram
publicados por Laprovitera (1988) em dissertação de mestrado. Estes, contudo não vem sendo
utilizados com certa frequência pelo meio técnico, não sendo recomendados o seu uso, a não ser
quando devidamente justificado.

Tabela 2.3
TIPO DE SOLO F1 - reavaliados (1988) F2 - reavaliados (1988)
Franki 2,5 5,0 - 2,0
Metálica 1,75 - 1,7 3,5 - 3,0
Pré-moldada de concreto D < 60 cm 1,75 - 1,9 3,5 - 1,4
Pré-moldada de concreto D > 60 cm 2,5 1,4
Escavada D < 60 cm 3,0 - 6,1 6,0 - 5,2
Strauss 4,2 3,8

Observa-se que na versão original a relação entre coeficientes foi de F2/F1=2, exceto para
as estacas strauss. Em uma segunda versão foram publicados os seguintes valores para F1 e F2:

Registra-se também publicação da Estacas Franki - Eng. Paulo Frederico de Figueiredo


Monteiro - Gerente Técnico:

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A fórmula geral para o cálculo da capacidade de carga é:


K. N Ca . K. N
PR p . U. l. (2.11)
F1 Cp F2
Onde:
Ap = área da ponta ou base da estaca;
U = perímetro da seção transversal da estaca;
Ca = cota de arrasamento;
Cp = cota da ponta.

Partindo das tabelas 2.1 e 2.2 foram estabelecidos para K e os valores constantes da tabela 2.4.
(obs.: l Kg /cm2 = 100 KPa = 0,1 MPa)

Tabela 2.4 - Coeficientes K e


TIPO DE SOLO K (Kgf/cm2) - reavaliados (1988) (%) - reavaliados (1988)
Areia 10,0 - 6,0 1,4
Areia siltosa 8,0 - 5,3 2,0 - 1,9
Areia silto argilosa 7,0 - 5,3 2,4
Areia argilosa 6,0 - 5,3 3,0
Areias argilo-siltosa 5,0 - 5,3 2,8
Silte 4,0 - 4,8 3,0
Silte arenoso 5,5 - 4,8 2,2 - 3,0
Silte areno-argiloso 4,5 - 3,8 2,8 - 3,0
Silte argiloso 2,3 - 3,0 3,4
Silte argilo-arenoso 2,5 - 3,8 3,0
Argila 2,0 - 2,5 6,0
Argila arenosa 3,5 - 4,8 2,4 - 4,0
Argila areno-siltosa 3,0 - 3,0 2,8 - 4,5
Argila siltosa 2,2 - 2,5 4,0 - 5,5
Argila silto-arenosa 3,3 - 3,0 3,0 - 5,0

DIMENSIONAMENTO
Obtidos os valores de atrito e base unitários, tem-se o valor final de capacidade de carga
na ruptura (último) multiplicando-se estes valores pelas suas áreas correspondentes:
Pbu = Abase qu resistência de ponta.

Psu = Afuste fu atrito lateral médio

A profundidade de assentamento da base ou ponta da estaca é aquela, como recomenda a Norma


de Fundações NBR – 6122/96, correspondente a uma carga de ruptura mínima de pelo menos
duas vezes a carga admissível (útil) da estaca. Ou seja: Adota-se no método o Fator de Segurança
igual a 2.
Ru > 2 x Carga útil da estaca

Utilização em cálculo de tubulões: (Cintra e outros, 2003)


* Considera exclusivamente a resistência de base
* Aplica-se um fator de segurança mínimo de 3 por se tratar de caso em que se considera
exclusivamente a resistência de base (NBR 6122/96)
* O coeficiente F1 para estaca escavada pode ser considerado igual a 3, de acordo com Aoki e
Alonso (1992), apud Cintra e Aoki (1999).
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Interessante registro pode ser visto na foto apresentada a seguir, da presença dos
Professores Nelson Aoki e Dirceu Velloso na UFJF, em participação no 10 Congresso de
Engenharia Civil realizado em 1994. Estão também neste registro o ilustre Prof. Vitor F. B. de
Melo, este Prefessor e alunos da nossa Faculdade.

Presença dos Profs. Aoki e Velloso na UFJF, em 1994, em palestra sobre


“Estaqueamento de Encontro de Pontes”

6.4.3 - MÉTODO ESTATÍSTICO DE DÉCOURT-QUARESMA

Em 1978 os Engs. Luciano Décourt e Arthur Quaresma apresentaram ao 6o Congresso


Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações um método para a determinação da
capacidade de carga de estacas a partir de valores de SPT, que transcrevemos parte dele:

“Nesse, trabalho é apresentado processo expedido para a determinação da carga


admissível de estacas a partir, apenas, dos dados normalmente fornecidos por sondagens (SPT)”.

Não se visou a obtenção de valores exatos, mas sim de estimativas que fossem além de
bastante aproximadas, seguras e de fácil determinação.

1. Generalidades
Há vários anos, vem o primeiro autor utilizando os valores de SPT para avaliar, tanto a
resistência por atrito lateral de estacas, quanto sua resistência de ponta. Os coeficientes então
utilizados eram fruto apenas de experiência profissional, sem nunca terem sido confrontados, de
forma sistemática, com dados fornecidos por provas de carga.

2. Processo de Cálculo
O processo ora apresentado leva em conta os valores de SPT além de, no caso da
resistência de ponta, o tipo de solo.

Para a estimativa da resistência UNITÁRIA lateral propôs inicialmente a utilização da


Tabela I, considerando os valores médios de SPT ao longo do fuste, sem levar em conta aqueles
utilizados para a estimativa da resistência de ponta. Nenhuma distinção é feita quanto ao tipo de
solo. (obs.: l Kg /cm2 = 10t/ m2 = 100 KPa = 0,1 MPa)

154
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TABELA I
SPT ADESÃO
(médio ao longo do fuste) (t/m2)
3 2
6 3
9 4
12 5
15 6

Para a estimativa da resistência UNITÁRIA de ponta (em t/m2) utiliza-se a


seguinte expressão:
qp = C.N.

onde: C é um coeficiente tirado da Tabela II e N é a resistência a penetração (SPT),


tornando o valor médio entre correspondente à ponta da estaca, o imediatamente anterior e o
imediatamente posterior.

TABELA II
SOLO C (t/m2)
Argilas 10
Siltes (alt. de rocha) 30
Areias 50

3. Análises Efetuadas

Foram consideradas 41 provas de carga executadas pelo segundo autor para serem
confrontadas com os valores obtidos pelo processo acima indicado.
Os valores obtidos confirmaram, em linha gerais, os dados da Tabela I e nos levaram a
rever a Tabela II.

Na Tabela III são apresentados os dados considerados mais adequados.

TABELA III
SOLO C (t/m2)
Argilas 12
Siltes argilosos (alt. de rocha) 20
Siltes arenosos (alt. de rocha) 25
Areias 40

Entre as 41 provas de carga apenas 13 apresentaram dados de ruptura.


No trabalho original são apresentamos os valores de ruptura calculados e os fornecidos
pelas provas de carga.
Por outro lado para podermos utilizar dados de todas as provas procuramos trabalhar com
valores de cargas admissíveis e não de cargas de ruptura.

No trabalho original são apresentados os dados de todas as estacas e sondagens


analisadas, assim como os valores de cargas admissíveis, calculados e medidos.
No trabalho original são também apresentados em gráfico os valores de carga admissível,
calculados e medidos.

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4. Considerações Sobre Estacas de outros Tipos

Embora o estudo tenha sido efetuado basicamente para estacas pré-moldadas de concreto,
admitimos em primeira aproximação que seja também válida para estacas tipo Franki, para
estacas Strauss (apenas com ponta em argila, como aliás, deve sempre ocorrer) e estacas
escavadas.

Os autores não apresentam qualquer indicação (nesta versão apresentada, a esta data)
quanto ao coeficiente de segurança a adotar.

Contribuições ao MÉTODO por DÉCOURT (1982)

O Eng. Décourt tem procurado aperfeiçoar o método exposto no item 6.4.3. Em 1982,
levou ao 2o Simpósio Europeu sobre Ensaios de Penetração (Amsterdam) uma contribuição em
que propõe:
1o) A resistência lateral, em tf/m2, é dada por:
N
qs 1 (4.13)
3
onde N é o valor médio do N ao longo do fuste. A expressão independe do tipo de solo.

2o) Na determinação de N os valores de N maiores que 50 devem ser considerados iguais a 50.

3o) A resistência de ponta é calculada como apresentado anteriormente.

4o) A carga admissível de uma estaca cravada é determinada aplicando-se um coeficiente de


segurança global igual a 2 à soma das cargas de ponta e lateral:
Qu Qp Q2
Q (4.14)
2 2

5o) Para estacas escavadas com lama bentonítica cujo recalque não deve exceder 1cm, só se
consideraria a resistência lateral calculada pela expressão (4.13).

6o) Quando se admite maiores recalques pode-se considerar uma resistência de ponta admissível
que, em Kgf/cm2, seria igual a N/3 em que N é a média dos S.P.T.s no nível da ponta de estaca,
1m acima e 1m abaixo. Essa resistência de ponta admissível é somada à resistência lateral.
Uma estaca assim projetada tem um recalque em cm da ordem de 2/3 do diâmetro em metros:
2
S1 (cm) = D (m) (4.15)
3

Um recalque adicional devido à deformação do solo contaminado ou amolgado é estimado pela


expressão:
.L
S2 (4.16)
E
onde:
= pressão na ponta;
L = espessura da camada contaminada ou amolgada;
E = módulo de deformação que pode ser estimada em :
E = 15N (Kgf/cm2) para argilas;
E = 30N (Kgf/cm2) para areias.
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Se S3 é o recalque necessário para a mobilização do atrito lateral, o recalque total da estaca será:
S = S1 + S2 + S3 (4.17)

7o) Coeficientes de Segurança.


O coeficiente de segurança global F pode ser escrito:

F
Fp . Ff . Fd . Fw (4.18)
onde: Fp Coeficiente de segurança relativo aos parâmetros do solo ( = 1,1 para o atrito
lateral; 1,35 para a resistência de ponta ).
Ff Coeficiente de segurança relativo à formulação adotada ( = 1,0 ).
Fd = Coeficiente de segurança para evitar recalques excessivos ( = 1 para o atrito lateral;
= 2,5 para a resistência de ponta ).
Fw Coeficiente de segurança relativo à carga de trabalho da estaca ( = 1,2 ).

Com isso, ter-se-á:


- para a resistência lateral:
Fs 11 , 1,0 1,0 1,2 1,32 13 .
- para a resistência de ponta:
Fp 1,35 1,0 2,5 1,2 4,05 4
e a carga admissível na estaca será dada por:

Qs Qp
Q (4,19)
1,3 4

Em 1986, o autor (Décourt, 1986), em comunicação feita na Divisão Técnica de


Mecânica dos Solos e Fundações do Instituto de Engenharia de São Paulo, recomendou novos
valores para o cálculo da resistência de ponta das estacas escavadas com lama bentonítica
(Tabela 2.7).

Tabela 2.7
TIPO DE SOLO (tf/m2)

Argilas 10
Siltes argilosos (alt, de rocha) 12
Siltes arenosos (alt, de rocha) 14
Areias 20

MÉTODO DÉCOURT-QUARESMA (1996)

Este método foi, posteriormente (Quaresma e outros, 1996), estendido para outros tipos
de estacas também muito utilizadas e mais recentemente difundidas, não indicadas inicialmente.
Para tanto, são considerados os parâmetros “α” e “ ” a seguir relacionados (Tabela
abaixo). Estes valores são de majoração ou de minoração, respectivamente para a resistência de
ponta e para a resistência lateral.

Neste caso, a expressão geral para a determinação da carga de ruptura da estaca é dada por:

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Qu = α . qp . Ap + . qs . As

(veja que as parcelas de ponta e atrito ficaram multiplicadas por alfa e beta, respectivamente)

ou ainda,
Qu = α . K. Nspt p . Ap + 10 . . [( Nspt s/3 + 1) . As] em kN/m2

onde:
Nsptp : Nspt na ponta da estaca (valor médio entre correspondente à ponta da estaca, o
imediatamente anterior e o imediatamente posterior)
Nspt s : Nspt ao longo do fuste da estaca

DIMENSIONAMENTO
Obtidos os valores de atrito e base unitários, tem-se o valor final de capacidade de carga
na ruptura (último) multiplicando-se estes valores pelas suas áreas correspondentes, como no
método de Aoki-Velloso.
Para o cálculo da carga admissível (útil) da estaca deve-se adotar os Fatores de Segurança
sugeridos pelos autores.

Utilização em cálculo de tubulões: (Cintra e outros, 2003)


* Considera exclusivamente a resistência de base
* Aplica-se um fator de segurança mínimo de 4 de acordo com a recomendação dos autores para
a resistência de base.

6.4.4 – MÉTODO P. P. VELLOSO

Em 1981, o Eng. P.P. Velloso apresentou um critério para o cálculo de capacidade de


carga e recalques de estacas e grupos de estacas (Velloso, 1981).

Fig.
Estaca: dimensões e solicitações

158
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A capacidade de suporte Pu de uma estaca, com comprimento L pode ser estimada com
base na expressão

Pu Psu Pbu (4.20)


onde: Psu = capacidade de suporte do solo por atrito, ou aderência, lateral ao longo do
fuste da estaca;
Pbu = capacidade de suporte do solo sob a base (ponta) da estaca.

Os valores de Psu e Pbu poderiam ser estimados a partir das expressões:

Psu U (l i f ui ) Pbu Ab qu

onde:
U = perimetro da seção transversal do fuste (diâmetro d)
Ab= área da base (diâmetro db)
= fator da execução da estaca

1,0 para estacas cravadas


0,5 para estacas escavadas

= fator de carregamento
1 para estacas comprimidas
=
0,7para estacas tracionadas

= fator da dimensão da base


db
1,016 0,016
dc
0, para estacas tracionadas ( para db = d )

dc = diâmetro da ponta do ensaio de cone (3,6 cm no cone holandês);

fui= atrito, ou aderência, lateral médio em cada camada de solo, com espessura, atravessada
pela estaca (UNITÁRIO).
qu= pressão de ruptura do solo sob a ponta da estaca (UNITÁRIO).

** No caso de se dispor dos resultados de um ensaio de penetração do cone, nas


imediações da estaca, pode-se adotar:
fu = fc
q c1 qc2
qu
2

fc = atrito, ou aderência, lateral medida na haste ( lisa ) do ensaio de cone.


q c1 = média dos valores medidos da resistência de ponta (qc ) no ensaio de cone, numa espessura
igual a 8db logo acima do nivel da ponta da estaca (adotar valores nulos de qc, acima do nivel do
terreno, quando L = db).
q c2 = idem, numa espessura igual a 3,5 db logo abaixo do nível da ponta da estaca.

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** No caso de se dispor apenas dos resultados de sondagem a percussão, pode-se adotar:


qu = a N + b
fu = a‟N + b‟ (para N<=40, solo submerso)
onde:
N resistência à penetração do amostrador da sondagem a percussão (S.P.T.).
a,b,al,bl = parâmetros de correlação entre a sondagem a percurssão e o ensaio de cone, a serem
definidos para os solos tipicos do canteiro da obra (ver Tabela abaixo)

Tabela Valores aproximados de a, b, al, bl


TIPO DE SOLO PONTA ATRITO
a(tf/m2) b a' (tf/m2) b1
Areias sedimentares submersas (1) 60 1 0,50 1
Argilas sedimentares submersas(1) 25 1 0,63 1
Solos residuais de gnaisse 50 1 0.85 1
areno siltosos submersos(1)
Solos residuais de gnaisse 40 (1) 1 (1) 0,80 (1) 1 (1)
silto-arenosos submersos 47 (2) 0,96 (2) 1,21 (2) 0,749 (2)
(l) dados obtidos na área da Refinaria Duque de Caxias (RJ).
(2) dados obtidos na área da AÇOMINAS (MG).

6.5. Estacas em rocha


(Engº Armando Negreiros Caputo - BRASFOND / BRASFIX / SPFE)

As bases que possibilitem a determinação da capacidade de carga de estacas escavadas


em rocha não estão bem claras considerando que em função das cargas elevadas, provas de carga
estática são extremamente onerosas e normalmente não são levadas à ruptura. O
desenvolvimento e a realização de provas de carga dinâmica tem tentado minimizar essa
deficiência.
A capacidade de carga da rocha e o contacto concreto – rocha, pela ponta ou pelo atrito
lateral não são perfeitamente conhecidos por uma série de fatores inerentes às características da
rocha, ao valor da adesão concreto-rocha a adotar, bem como o grau de embutimento e, desta
forma, alguns projetos acabam por definir determinado comprimento em rocha sã, geralmente
conservadores.
Para avaliação da capacidade de carga de estacas em rocha podemos registrar alguns
métodos conforme discriminados a seguir.

6.5.1. Método de Poulos e Davis (1980)


Poulos e Davis propuseram um método para avaliação da capacidade de carga de estacas
embutidas em rocha considerando que os fatores de segurança propostos estão associados
diretamente às condições da rocha na região da ponta da estaca. Seus valores são baixos para
rocha sã e crescentes para rochas com maiores níveis de faturamento e decomposição.
A resistência de ponta (qp) pode ser determinada por:

a) teorias de previsão de capacidade de carga, Pells (1977), Meyerhol (1953)

b) uso de parâmetros empíricos baseados na descrição da rocha: Thorne (1977)


qp = 0,2 a 0,5 quc
onde:
qp = tensão máxima na base
quc = resistência à compressão simples da rocha
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c) usos de ensaios in-situ e/ou de laboratório: Freeman et al. (1972)


A resistência por atrito lateral (qℓ) pode ser determinado por:
qℓ = 0,05 quc ≤ 0,05 fcj
onde:
qℓ = resistência por atrito lateral ou adesão
quc = resistência a compressão simples da rocha
fcj = resistência do concreto à 28 dias.
Logo temos:
Qult = Ap x qp + Al x qℓ
onde:
Ap = área da ponta de estaca em rocha
Aℓ = área lateral de estaca embutida em rocha

6.5.2 Método de Cabral e Antunes (SEFE IV – 2000)

Este método basea-se na formulação de Poulos e Davis (1980) e estabelece ainda para sua
aplicação que a investigação geotécnica deve atingir 2 a 3 diâmetros da estaca abaixo da cota
estimada de assentamento e que a limpeza do contacto concreto-rocha seja garantida.

A resistência de ponta é dada por:

σ pr = βpo x σ Ρr (rocha sã)


ou
σ pr = βpo x σ r (rocha alterada)
onde:
σ pr = tensão de ruptura da ponta da estaca, considerando-se o maciço rochoso
homogêneo.
βpo = fator adimensional de correlação (varia de 4 a 11)
σ r = resistência a compressão simples da rocha
βo = fator de correção para levantar em contar fendas e fissuras na rocha (tabelado)
A resistência por atrito lateral é:

onde:
τ ℓr = resistência por atrito lateral;
fcK = tensão característica do concreto

Logo temos:
Qult = A x σ pr + Aℓ x τ ℓr
onde:
Ap = área da ponta da estaca em rocha
Aℓ = área lateral da estaca embutida em rocha
Valores de βpo

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6.6. Capacidade Estrutural de Estacas

Uma vez dimensionado geotecnicamente uma fundação em estacas deve-se observar a sua
capacidade estrutural, assim como será analisada tal capacidade no caso das estacas trabalharem
de “ponta”. Neste segundo caso, trabalhando exclusivamente por ponta, o dimensionamento se
faz fundamentalmente avaliando a condição de capacidade de carga estrutural.
Escolhido o tipo de estaca, podem-se verificar a capacidade estrutural com o fornecedor
das estacas ou adotar valores com base em tabelas como a seguir apresentada, segundo Alonso
- 1992 (que tem o caráter de ser apenas orientadora), assim como são apresentados também,
nesta “tabela” os espaçamentos mínimos a serem adotados entre eixos entre estacas (“d”) ou em
relação à divisas (“a”).
O cálculo do número de estacas a partir apenas da carga estrutural (Carga-KN - máxima
carga admissível) é frequentemente determinado dividindo a carga do pilar pela Carga
Admissível admitida para a estaca.

Exemplo de Projeto de Fundações com diferentes pontos de carga, com blocos de 1, 2, 3 e 4 estacas
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6.7 – Exercícios

1- Utilizando o método de Aoki e Velloso, calcular a carga admissível de uma estaca do tipo
Franki, com diâmetro do fuste = 40 cm e volume da base V= 180 l. O comprimento da estaca e
as características geotécnicas do solo são dados a seguir.

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Observe que neste exemplo o cálculo foi feito calculando:

10) os parâmetros fixos da geometria da estaca


20) o atrito lateral correspondente a cada horizonte de solo, adotado os parâmetros k e α
30) a carga admissível, adotado o fator de segurança global – final sem distingir ponta e
atrito lateral (como proposto pelos autores)
40) Por fim, foi avaliada a capacidade estrutural máxima

2- Utilizando o exemplo anterior (método de Aoki e Velloso, estaca do tipo Franki, com
diâmetro do fuste = 40 cm) calcular a carga admissível para a estaca assente no perfil
apresentado abaixo:

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Dimensionamento
Este mesmo cálculo poderá ser feito por intervalos de 1 metro. Desta forma, nos permite
definir um comprimento de estaca compatível com uma capacidade de carga que se tenha
interesse em atender. O cálculo é feito para um comprimento maior que o requerido o que
permite avaliar o comprimento necessário para a estaca.

3- Considerando o perfil abaixo (Shopping Vila Guilherme - SP), determine a capacidade de


carga estática admissível (tf) para um comprimento de estaca (pré-moldada) fixado em 9,0m e
= 20 cm.

MÉTODO DÉCOURT-QUARESMA (1978)


Qu Pbu Psu
Qu q p Ap qs Al
a) Atrito lateral:

SPT 7
9
14
5
2
3
4
14
9,0 23 SPTs de ponta: 14 / 23 / 20
20
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Atrito lateral médio = Adesão média (A):


SPT7 = 6,28 A 3,09 (t/m2 ) Não considerados no cálculo da adesão os SPT utilizados
para a resistência de ponta anterior e posterior (14 / 23 / 20).
N
Pode-se usar a tabela I ou a expressão: A = q s 1 (Décourt, 1982)
3
Psu = Adesão média x Al p h = p h 63 900 56700 cm2
Psu 3,09 5,67
Psu 17 ,52t

b) Resistência de ponta:

qp cN

14 23 20
N 19
3
c 40 (tabela III)
qp 40 19 760 (t / m 2 )
Pbu q p Ab 760 0,0314 m 2 23,86t

c) Resistência total:

Qu Ps u Pb u 17,52 23,86 41,38t

Utilizando FS = 2 (Fator Global), temos:


41,38
Q 20,69t
2

MÉTODO AOKI VELLOSO (1975)


Qu Pbu Psu
Qu Rp Ap Rl Al
KN KN
Runitária Rp Rl Runit
F1 F2
a) Resistência de ponta:
Rp KN SPT

Areia argilosa: K = 6,0 ou 5,3 (valor reavaliado em 1988) e =3


Considerando F1 = 1,75 ou 1,9 (reavaliado)
Não utilizados os dados da reavaliação do método, temos:

6.0 23
R' p 78,86 Kgf / cm 2
1,75
0,07886 t
Pbu Rp Ap 788,6t / m2 0,0314 m2 24,77t
0,0001m2

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b) Atrito lateral:
KN U l
Rl = Psu = Rl x Al Psu = KNx (fazer o somatório, se maior que 1m)
F2 F2

U l 63cm 100 cm U l canas.


0,18m 2 (constante) Psu KN
F2 3,5 F2 cponta

Quadro para calcular o atrito lateral acumulado em cada profundidade inteira (1m)
U l
Profundidade (m) Valor do SPT Coef. K (t/m2) Coef. (/100 ) Psu (t)
F2
1 7 33 0,03 1,247
2 9 33 0,03 2,851
3 14 33 0,03 5,346
4 5 33 0,03 6,237
5 2 33 0,03 0,18 6,593
6 3 33 0,03 7,128
7 4 60 0,03 8,424
8 14 22 0,04 10,642
9 23 60 0,03 18,094

Psu 18,09t Não considerado no cálculo l 100 como pode ser levado em conta, por
exemplo, no trecho de 6,0 a 7,0 m. No caso de 6,0 a 6,8 - SPT = 4, K = 3,3 e = 0,03 e 6,8 a 7,0
– SPT = 4, mas K = 6,0 e = 0,03.

c) Resistência total:
Qu Ps u Pb u 18,09 24,77 42,86t
Utilizando FS = 2, temos:

42,86
Q 21,43t
2
Utilizando FS = 2, temos:

41,38
Q 20,69t
2

6. 8 - Efeito de Grupo
(segundo Moraes, 1976)

Eficiência – Grupo de Estacas


Para o caso de estacas agrupadas sob único bloco, não estando trabalhando de “ponta”,
faz-se necessário verificar a eficiência do conjunto devido à interferência de bulbos. Para as
estacas pré-moldadas, quando o espaçamento entre elas não é inferior a 3 vezes o seu diâmetro,
ou lado (seção quadrada), a capacidade de carga do grupo é igual a soma das capacidades de
carga de cada estaca.

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1 - Critério de Feld
Segundo a regra prática de Feld a carga de cada estaca é reduzida de tantos 1/16 quantas
forem as estacas vizinhas, na mesma fila ou em diagonal. É preciso, também, como para as
estacas pré-moldadas, guardar um espaçamento entre os centros geométricos das estacas, um
valor não inferior a 3 vezes o seu diâmetro.

2 - Critério de Labarre
Outra expressão muito usada para determinar a eficiência de um grupo de estacas é a de
Labarre
n 1m m 1n
E 1
90 mn
Onde:
m - número de filas
n – número de estacas em uma fila
d
- ângulo cuja tangente é igual a em graus.
s
s – distância entre os eixos de duas estacas.
d – diâmetro da estaca.

Exemplo de cálculo:

Como se pode notar, tanto Labarre como Feld não fazem qualquer referência ao tipo de
solo, o que tem dado motivo a críticas.

3 - Critério de Terzaghi-Peck
Outro procedimento é indicado por Terzaghi-Peck adotando, para capacidade de carga do
conjunto de estacas, a expressão:

Qc Qdr UD f

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Onde:
Qdr – capacidade de carga de uma fundação direta de área igual à delimitada pelo grupo
de estacas assentadas na profundidade Df
Df – comprimento da estaca
U – perímetro do bloco que envolve as estacas
- resistência ao cisalhamento médio do solo entre a superfície do terreno e a
profundidade Df.

Referindo-se à capacidade de carga de uma estaca, o melhor é efetuar prova de carga


sobre uma estaca, no próprio local da obra.
Tem sido norma geral, quando possível, adotar uma única estaca, critério condenado por
diversos autores, entretanto, muito usado, podendo-se afirmar que os insucessos por está prática
são poucos constatados.
Como já foi apresentado, a capacidade de carga de um grupo de estacas sob um mesmo
bloco não é igual à soma das capacidades de cada estaca atuando isoladamente (caso em que não
se trabalha de “ponta”) . A eficiência de um grupo de estacas, mergulhadas em argila é sempre
inferior a 1 (unidade), a não ser no caso de estacas pré-moldadas apoiadas unicamente pelas
pontas. Para uma estaca isolada, existem muitos ensaios e pesquisas com a finalidade de
determinar sua capacidade de carga; o mesmo não vem acontecendo com o grupo de estacas,
devido aos diversos problemas que ocorrem para tais ensaios, isto é, para tais provas de cargas.
Em 1967, A. S. Vesic afirmou que um grupo de estacas cravadas em areia homogênea
apresentava eficiência superior à unidade, devido ao aumento de esforços horizontais e, portanto,
a resistência devido ao atrito lateral, também crescia com o aumento do ângulo de atrito do solo
com as estacas. O professor Vesic também comprovou que a eficiência de um grupo de estacas
cresce com o afastamento entre elas, até um máximo de três diâmetros, sendo que a partir de tal
valor a capacidade do conjunto começa a decrescer.

Exemplos de geometria de blocos:

FIM – 23/04/2018
170

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