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^durabilidade

ècãnica
i m i i r e s s a o & f e l ?
Péricles
Brasiliense Fusco

• Engenheiro Civil - Escola Po-


litécnica da Universidade de
São Paulo - EPUSP - 1952

• Engenheiro Naval - EPUSP -


1960

• Doutor em Engenharia -
EPUSP - 1968

• Llvre-Docente - EPUSP - 1975


• Professor titular - EPUSP -
1952

• Coordenador das áreas "Siste-


mas Estruturais de Concreto"
e "Análise Experimental de
Estruturas" do Departamento
de Engenharia e Estruturas e
Fundações da EPUSP

• Fundador e Diretor do Labora-


tório de Estruturas e Materiais
Estruturais da EPUSP

• Orientou 19 dissertações de
mestrado e 17 de douturado

• Projetista de estruturas de
concreto, tendo participado
do projeto de grandes obras
realizadas no País durante os
últimos 25 anos, nas áreas
de edifícios altos, indústrias
pesadas, ponte e usinas.
Tecnologia do
Concreto Estrutural
Tópicos Aplicados

Péricles Brasiliense Fusco


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Fusco, Péricles Brasiliense


Tecnologia do concreto estrutural: tópicos
aplicados / Péricles Brasiliense Fusco. - -

Bibliografia
ISBN 978-85-7266-200-0

1. Análise estrutural (Engenharia) 2. Concreto armado -


Corrosão 3. Engenharia de estruturas 4. Estruturas de concreto
armado 5. Projeto estrutural 1. Título

08-03938 CDD-624.1834

índices para catálogo sistemático :


1. C o n c r e t o estrutural : Tecnologia : Engenharia
624.1 834

Tecnologia do Concreto Estrutural


^Copyright Editora PINI Ltda.

Todos os direitos de reprodução reservados pela Editora PINI Ltda.

Coordenação de Manuais Técnicos: Josiani Souza


Projeto gráfico e capa: Luiz Carlos Prata
Revisão: Mônica Claine G. S. Costa

Editora PINI Ltda.


Rua Anhaia, 964 - CEP 01130-900 - São Paulo, SP
Tel.: 11 2173-2328 - Fax: 11 2173-2327
www.pinivveb.com - manuais@pini.com.br
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P edição
IIHHHLtMIlMDt
1 a tiragem: 2.000 exemplares, junho/08
Prefácio

Esta publicação aborda tópicos de tecnologia do concreto es-


truturai cuidando de temas importantes para o projeto, para a
execução e para a utilização das construções de concreto estru-
tural. O texto está centrado em idéias importantes para a tomada
de decisões a respeito da durabilidade da estrutura, tendo em
vista a qualidade da concepção construtiva e a garantia da segu-
rança da estrutura.

Com essa finalidade, são consideradas as idéias essenciais


para o entendimento dos fenômenos básicos do comportamento
químico dos cimentos na formação dos concretos e na sua capa-
cidade de resistir aos ataques provenientes do meio ambiente.

De maneira análoga, cuidam-se das idéias importantes para o


entendimento da proteção das armaduras contra a corrosão den-
tro da massa de concreto, mostrando o efetivo significado da fis-
suração do concreto em relação ao ataque dessas armaduras.

Como a resistência do concreto é elemento essencial para ga-


rantir a qualidade da construção e de sua estrutura, esclarecem-
se as idéias referentes ao controle da resistência do concreto por
meio do ensaio de corpos-de-prova cilíndricos com 15 x 30 centí-
metros, aos 28 dias de idade. Discute-se o que significam esses
resultados e como eles são integrados à formulação de uma teo-
ria geral de ílexão das peças estruturais de concreto em regime
de ruptura. Paralelamente, aborda-se também o problema da esti-
mativa da resistência do concreto das estruturas já construídas.

finalmente, este livro trata da história da evolução do cálculo


do concreto armado em regime de ruptura desde seus primór-
dios, considera as teorias propostas por Langendonck e apresen-
ta a teoria geral de flexão do concreto estrutural elaborada por H.
Rüsch, analisando minuciosamente seu trabalho, de quem ouvi-
mos o relato de viva voz.
SUMARIO

Primeira Parte
Tópicos referentes à constituição do concreto estrutural 9

1. INTRODUÇÃO AO CONCRETO ESTRUTURAL 11

1.1 Histórico 11

1.2 Características 12

1.3 Componentes básicos do concreto estrutural 13

1.4 Questionário 17

2. COMPONENTES DO CONCRETO SIMPLES 19

2.1 Cimentos 19

2.2 Apreçados 20

2.3 Á^ua e aditivos 24

2.4 Questionário 24

3. ENDURECIMENTO DO CONCRETO 26

3.1 Componentes dos cimentos 26

3.2 Composição média do cimento Portland 28

3.3 Endurecimento hidráulico 28

3.4 Endurecimento dos cimentos 29

3.5 Endurecimento das pozolanas 33

3.6 Perda do excesso de á^ua de amassamento 33

3.7 Porosidade do concreto 36

3.8 Calor de hidratação 38

3.9 Questionário 40
4. DURABILIDADE DO CONCRETO 41

4.1 Tipos de agressão ao concreto 41

4.2 Agressão por áçuas ácidas 42

4.3 Agressão por sulfatos 43

4.4 Reação álcali-açre^ado 44

4.5 Agressividade do ambiente 45

4.6 Questionário 46

5. CORROSÃO DAS ARMADURAS 48

5.1 Causas de corrosão 48

5.2 Mecanismos de corrosão 49

5.3 Corrosão das armaduras dentro do concreto 50

5.4 Carbonatação da camada de cobrimento 52

5.5 Corrosão por íons cloreto e por poluentes ambientais 54

5.6 Lixiviação do concreto 56

5.7 Influência da físsuração mecânica do concreto 56

5.8 Corrosão sob tensão e fragilização por hidrogênio 60

5.9 Comentários sobre as prescrições normalizadoras 60

5.10 Questionário 62

Segunda Parte
Tópicos referentes à resistência mecânica do concreto 65

6. RESISTÊNCIA DO CONCRETO 66

6.1 Modos de ruptura 66

6.2 Alcatoricdade da resistência do concreto 68

6.3 Resistência característica do concreto ensaiado 72

6.4 Resistência característica do concreto da estrutura 73

6.5 Resistência de cálculo 74

6.6 Resistência à tração 75


6.7 Resistência em estados múltiplos de tensào 76

6.8 Resistência de dosagem 76

6.9 Questionário 77

7. PROCESSOS DE PRODUÇÃO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO 79

7.1 Processos aleatórios 79

7.2 Autocorrelaçào e autocovariância 83

7.3 Processos estacionários 85

7.4 Processos ergódicos 87

7.5 Significado do valor especificado para f k 90

7.6 Cura dos corpos-de-prova de controle 92

7.7 Variabilidade da resistência do concreto 92

8. CONTROLE DE ACEITAÇÃO DO CONCRETO DA ESTRUTURA 95

8.1 Distribuição por amostragem da média e da variância 95

8.2 Funções de estimação 102

8.3 Funções clássicas de estimação. Desvio-padrão conhecido 108

8.4 Funções clássicas de estimação. Desvio-padrão desconhecido 111

8.5 Funções de estimação direta da resistência característica 114

8.6 Controle por amostragem 117

8.7 Critério de aceitação 120

9. A RESISTÊNCIA DO CONCRETO COMPRIMIDO 122

9.1 Introdução 122

9.2 Formato dos corpos-de-prova 124

9.3 Aumento da resistência com a idade 127

9.4 Redução da resistência com a duração da carga 129

9.5 A resistência de longa duração do concreto 132

9.6 A resistência do concreto no projeto e execução de novas estruturas 134

9.7 A avaliação da resistência do concreto das estruturas existentes 135


Terceira Parle
Tópicos referentes ao estado limite último de compressão do concreto... 141

10. A TEORIZAÇÃO DO DIMENSIONAMENTO EM REGIME DE RUPTURA 142

10.1 Modelos de cálculo para solicitações combinadas 142

10.2 Evolução dos modelos de cálculo das seções fletidas 142

10.3 A história do moderno cálculo no estádio III 146

10.4 As condições teóricas para a formulação de uma teoria geral da flexâo 150

10.5 As condições de ensaio para a formulação de uma teoria geral da flexão 153

11. O ENCURTAMENTO ÚLTIMO DO CONCRETO 156

11.1 Diagramas tensão-deformação do concreto 156

11.2 Diagrama efetivo de tensões na seção transversal 158

11.3 Determinação do encurtamento último 159

11.4 Generalização dos resultados 162

12. A FORMA DO DIAGRAMA DE TENSÕES DE COMPRESSÃO 164

12.1 O diagrama parábola-retãngulo 164

12.2 Influência da duração do carregamento 166

12.3 Influência da duração do carregamento sobre a

resistência média da zona comprimida 169

12.4 Diagrama de tensões com carregamentos de longa duração 170

13. A TEORIA GERAL DA FLEXÃO 173

13.1 Hipóteses da teoria geral da flexão 173

13.2 Considerações finais 174

14. NOTAS 177


Primeira
Parte
Tópicos
referentes
à constituição
do concreto
estrutural
1 Introdução ao concreto estrutural

1.1 Histórico
Desde a antigüidade, a pedra e o tijolo foram os materiais mais importantes para as constru-
ções humanas.

A arquitetura grega foi conseqüência do emprego de vigas e placas de pedra. A baixa resis-
tência à tração da pedra obrigou ã utilização de pequenos vãos, daí decorrendo as colunatas
típicas dessa arquitetura.

A civilização romana desenvolveu o tijolo cerâmico e com isso escapou das formas retas,
criando os arcos de alvenaria. Todavia, a construção romana de obras portuárias exigiu solução
diferente. Ela foi encontrada na fabricação de um verdadeiro concreto, cujo cimento era consti-
tuído de pozolanas naturais ou obtidas pela moagem de tijolos calcinados. A cal com adição de
pozolana é chamada de cal hidráulica, por sofrer endurecimento por reação química com a água.

Com a queda do império romano, o mundo ocidental voltou a ser uma civilização rural. As
cidades renasceram somente em fins da Idade Média.

Com a Revolução Industrial, que trouxe à luz o cimento Portland e o aço laminado, surge o
concreto armado em meados do século XIX.

Considera-se como a primeira peça de concreto armado o barco construído por Lambot, na
França, no ano de 1849. Essa data é hoje admitida internacionalmente como sendo a do nasci-
mento do concreto armado.

A invenção do concreto armado não pode ser atribuída especificamente a uma única pessoa.
Muitos foram seus pioneiros, dentre os quais, além de Lambot, se têm Monier e Coignet, france-
ses, e llyatt, norte-americano. Deles, apenas Coignet era engenheiro; Monier era o encarregado
dos jardins de Versailles e Hyatt, advogado.

Em 1902, Mõrsch publica a 1 9 edição de sua monumental obra sobre a "Teoria e a Prática do
Concreto Armado", que em muitos aspectos é válida até hoje.

Em 1940 surge a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, como conseqüência da ela-
boração da própria NB-101 - Norma para o projeto e execução de estruturas de concreto armado.

Após a 2 a Guerra Mundial, desabrocharam os estudos de H. Rüsch e F. Leonhardt na Alema-


nha e os de Freyssinet na França. Surge o concreto protendido, que permitiu o emprego de aços
estruturais de maior resistência.

Na década de 1950 cria-se o CEB - Comitê Europeu do Concreto, do qual o Brasil passa a fazer
parte. Surge também a I IP - Federação Internacional da Protensão.

Em trabalho conjunto coordenado pelo CEB, abordando os mais variados temas técnicos e
científicos ligados às estruturas de concreto, foi feita a revisão total de todas as idéias referentes
ao concreto estrutural.

Nesse sentido, cabe lembrar que as ciências básicas têm por finalidade o entendimento da
natureza, formulando teorias baseadas em princípios admitidos como válidos até prova em con-
trário. As ciências profissionais têm por finalidade o entendimento dos comportamentos dos
sistemas materiais de interesse à vida humana, sendo baseadas nas ciências básicas, com a
adoção de hipóteses simpliíicadoras para a formulação de suas próprias teorias. As técnicas têm
por finalidade encontrar soluções práticas para as necessidades da vida, ou seja, elas procuram
estabelecer os procedimentos de elaboração correta das coisas.

As técnicas são compostas por regras de trabalho, que de início foram estruturadas empiri-
camente a partir da própria prática profissional e, ao longo dos tempos, foram sendo refinadas
pelos conhecimentos científicos. As sucessivas fases da revolução industrial, paralelas às diver-
sas fases da revolução científica, permitiram a formação da atividade industrial como hoje é
praticada, baseada em regras de trabalho estabelecidas com apoio do conhecimento científico.
As lécnicas passaram a ser tratadas como tecnologias. A tecnologia, cujo objelivo é o estudo
das regras de trabalho das técnicas, passou aos poucos a ser entendida, de modo usual, como a
técnica baseada no conhecimento científico.

A primeira síntese dos resultados obtidos pelo trabalho coordenado pelo CEB foi elaborada
em 1970, com a publicação das Recomendações Internacionais CEB-FIP/70.

Em 1973 é realizado, em Lisboa, o Curso Internacional CEB-FIP para a divulgação sistemática


dos novos conhecimentos, ministrado para 50 pessoas do mundo, que pudessem retransmiti-los
aos seus respectivos países.

Em 1978 surge a segunda sistematização de conhecimentos, com a publicação do Código


Modelo CEB-FIP para estruturas de concreto armado. No mesmo ano, já sob forte influência des-
sas idéias, termina a revisão da NB-1, surgindo a NB-1/78, que exerceu forte influência sobre a
engenharia nacional de estruturas.

Em 1990 dá-se a divulgação de nova sistematização, consolidada pela publicação do Código


Modelo CEB-FIP/90.2

Em 1998, juntaram-se as duas associações, CEB e FIP, formando a FIB, Fédération Internationa-
le du Béton,3 que permanece até hoje liderando o progresso das estruturas de concreto.

1.2. Características
As vantagens do concreto armado sobre outros materiais de construção decorrem de suas
características e dependem das circunstâncias próprias em que se desenvolvem as obras.

De modo geral4, as características mais significativas são as seguintes:

I. Economia de construção
Como a maior parte do volume de materiais empregados no concreto armado - pedra e areia
- é obtida de fontes locais, não muito distantes da obra, seus custos em geral são significativa-
mente menores que o das alternativas representadas por outros materiais, como o aço.

Quando esta disponibilidade de materiais locais adequados não existe, como nas terras bai-
xas de grandes áreas da Amazônia, o emprego do concreto pode ceder lugar ao aço e à madeira,
embora a ausência de pedra britada possa aí ser resolvida pelo uso de seixos rolados, desde que
adequadamente resolvido o problema de se evitar a reação álcali-agregado, como se analisa no
item 4.4.
II. Resistência a agressões químicas do ambiente
O concreto tem uma grande durabilidade natural, em virtude de suas propriedades físico-
químicas, que o assemelham às rochas naturais, embora ele seja um material essencialmente
poroso, que precisa ser adequadamente entendido para que de fato possa ser garantida a sua
durabilidade. Em particular, as agressões dos sulfatos ao concreto e dos cloretos aos aços, além
da ação da poluição ambiental, devem ser cuidadosamente consideradas desde a fase de proje-
to, de acordo com o que é analisado nos capítulos 4 e 5.

III. Resistência a agressões físicas do ambiente


As estruturas de concreto têm maior resistência a choques e vibrações que suas similares de
outros materiais; a sua resistência ao fogo é bastante conhecida.

IV. Adaptabilidade a qualquer forma de construção.

1.3. Componentes básicos do concreto estrutural


O concreto estrutural é um material de construção composto de concreto simples e armadu-
ras de aço.

A mistura do cimento com a água forma a pasta de cimento. Adicionando o agregado miúdo,
como a areia, obtém-se a argamassa de cimento. Juntando o agregado graúdo, como a pedra
britada ou seixos rolados, tem-se o concreto simples.

O concreto simples caracteriza-se por sua razoável resistência à compressão, usualmente


entre 20 e 40 MPa, e por uma reduzida resistência à tração, usualmente menor que 1/10 de sua
resistência à compressão. Hoje em dia podem ser normalmente empregados concretos com
resistências de até 50 MPa.

Nas estruturas de concreto armado, a baixa resistência à tração do concreto simples é contor-
nada pela existência de armaduras de aço adequadamente dispostas ao longo das peças estru-
turais. Desse modo obtém-se o chamado concreto estrutural, embora também existam alguns
tipos de estruturas de concreto simples.

O tipo de armadura empregada caracteriza o concreto estrutural. Usualmente, chama-se de


concreto armado comum, ou simplesmente de concreto armado, ao concreto estrutural em que
as armaduras não são pré-alongadas durante a construção da estrutura. Quando esse pré-alon-
gamento é realizado de modo permanente, o concreto estrutural ganha o nome de concreto
protendido.

No concreto armado corrente, onde se empregam aços com resistências de escoamento de


até 500 ou 600 MPa, os esforços atuantes nas armaduras são decorrentes das ações aplicadas à
superfície externa da estrutura após a sua construção. As armaduras são solicitadas em conse-
qüência das deformações do concreto da própria estrutura. As armaduras acompanham passiva-
mente as deformações da estrutura e, por isso, são chamadas de armaduras passivas.

Quando o concreto endurece, formando a peça estrutural, o concreto e suas armaduras pas-
sam a trabalhar solidariamente, isto é, não existe escorregamento relativo entre os dois mate-
riais. Esta é uma hipótese fundamental da teoria do concreto armado. Ela admite a solidariedade
perfeita dos dois materiais.

No concreto protendido, onde se empregam aços com resistências de escoamento até da


ordem de 2000 MPa, as armaduras de protensão são tracionadas durante a construção da estru-
tura, por meio de dispositivos adequados, guardando tensões residuais permanentes. As arma-
duras de protensão também têm seus esforços alterados pelas ações que agem sobre a estrutura
depois de ela ter sido construída. Todavia, essas alterações são relativamente pequenas quando
comparadas aos esforços iniciais introduzidos pelos aparelhos de protensão.

As armaduras de protensão têm, portanto, um papel ativo na distribuição dos esforços inter-
nos das peças estruturais protendidas. Por essa razão, elas também são chamadas de armaduras
ativas.

O correto tratamento das estruturas de concreto exige que elas sejam consideradas como
formadas por dois materiais diferentes: o concreto e o aço. Para o trabalho conjunto desses dois
materiais, devem ser respeitadas as condições de compatibilidade de seu emprego solidário. O
concreto armado não deve ser imaginado como um material unitário, no qual as armaduras de
aço se constituem em simples fibras resistentes à tração.

A idéia de que o concreto armado é um material composto sempre deve estar presente, a fim
de garantir o perfeito funcionamento solidário do concreto (material frágil, de baixa resistência
e de menor rigidez) com o aço (material dúctil, de grande resistência e de maior rigidez).

Os arranjos das armaduras empregadas no concreto armado são multiformes. Em princípio as


armaduras podem ser classificadas em 3 tipos básicos5: armaduras de resistência geral, armadu-
ras complementares e armaduras de resistência local. Os diferentes tipos de armaduras estão
ilustrados adiante nas Figuras (1.3-a) e (1.3-b).
PILARES ( T ) ARMADURAS DE RESISTÊNCIA GERAL

B B S ARMADURAS LONGITUDINAIS

ARMADURAS TRANSVERSAIS

( T ) ARMADURAS COMPLEMENTARES

2 j ) ARMADURAS DE MONTAGEM

2.2) ARMADURAS CONSTRUTIVAS

23) ARMADURAS DE PELE

ÍB - B) C*) ARMADURAS DE RESISTÊNCIA LOCAL


V ' ^ (vide FIG. 1.3-b)

BLOCOS DE
FUNDAÇÃO

1C
(C-C)

Figura (1.3-a)

1. Armaduras de resistência geral


1.1 Armaduras longitudinais

1.2 Armaduras transversais

2. Armaduras complementares
2.1 Armaduras de montagem

2.2 Armaduras construtivas

2.3 Armaduras de pele

3. Armaduras de resistência local


3.1 Armaduras de costura

3.2 Armaduras contra o fendilhamento

3.3 Armaduras contra a ílambagem de barras comprimidas

3.4 Armaduras de equilíbrio de desvios de esforços longitudinais

3.5 Armaduras de suspensão


As armaduras de resistência geral são sempre obrigatórias por garantir a integridade da peça
estrutural como um todo. São estas armaduras que permitem à peça estrutural ter o funciona-
mento global previsto em sua concepção. As armaduras longitudinais estendem-se ao longo do
comprimento das peças e usualmente resistem a esforços devidos a forças normais e a momen-
tos fletores como nas lajes e nas vigas. As armaduras transversais, formadas essencialmente por
estribos, usualmente resistem a esforços decorrentes de forças cortantes e de torção. Nas peças
submetidas à torção, ambos os tipos de armaduras são necessários em conjunto.

As armaduras complementares são simples complementos das armaduras de resistência ge-


ral. Elas podem deixar de existir quando forem desnecessárias.

As armaduras de montagem têm por finalidade facilitar a montagem do conjunto de barras de


aço que formam a armadura da peça estrutural. Elas também melhoram as condições de anco-
ragem dos ganchos das armaduras de resistência geral. Assim, por exemplo, nas faces das vigas
e das lajes em que nunca existirão tensões de tração não haveria necessidade de armaduras
longitudinais de resistência geral. Como mostra a Figura (1.3-a), nas lajes essas armaduras de
fato não são empregadas, mas nas vigas elas são usuais, na forma de porta-estribos.

As armaduras construtivas são efetivamente armaduras resistentes. Elas absorvem os esforços


de tração não previstos no modelo simplificado de comportamento adotado no dlmensiona-
mento da peça estrutural. Esses esforços de tração não comprometem a segurança da peça em
relação à sua capacidade de resistir aos esforços previstos para ela, mas se tais tensões de tração
não forem absorvidas por armaduras construtivas, elas podem provocar fissuração indesejável
para o aspecto estético ou para a durabilidade da peça.

,3.1) ARMADURA DE COSTURA

3.2) ARMADURA CONTRA O FENDILHAMENTO

4 = 4 = 4

[3.3) ARMADURA CONTRA A FLAMBAGEM [3.4) ARMADURA DE EQUILÍBRIO DE DESVIOS


DE BARRAS COMPRIMIDAS DOS ESFORÇOS LONGITUDINAIS
Figura (1.3-b)

Como mostra o exempio da Figura (1.3-a), nos blocos de fundação, cujo comportamento sim-
plificado de bloco é análogo ao de viga sobre dois apoios, convém empregar a gaiola formada
pelas armaduras construtivas lá indicadas.

As armaduras de pele têm por finalidade redistribuir a fissuraçào que tende a ser provocada
pelo emprego de armaduras longitudinais de resistência geral colocadas de forma concentrada
e m posições privilegiadas da peça estrutural.

As armaduras de resistência local têm por finalidade absorver esforços de tração existentes
e m regiões localizadas das peças estruturais, em virtude de diversas razões, como as mostradas
na Figura (1.3-b).

Essas armaduras de resistência local asseguram que a peça estrutural possa ter o compor-
tamento global previsto, garantindo que as armaduras de resistência geral possam funcionar
efetivamente da maneira prevista para elas.

As armaduras de resistência local freqüentemente são da máxima importância para a segu-


rança das peças de concreto estrutural. O desrespeito às regras de detalhamento das armaduras
de resistência local foi a causa de muitas das catástrofes ocorridas com estruturas de concreto
armado.

1.4 Questionário

1) Quais são as vantagens do concreto armado perante outros materiais de construção de


estruturas?

2) Em alguns lugares da Amazônia, o concreto pode não ser solução econômica. Por que e
como pode ser resolvida essa dificuldade?

3) Quais são os componentes do concreto simples?

4) Qual é a faixa de resistências à compressão dos concretos correntes?

5) Qual a resistência máxima de emprego corrente entre nós?

6) Qual a ordem de grandeza da relação entre as resistências à tração e à compressão do


concreto simples?
7) Que é o concreto estrutural? O que é concreto armado e o que é concreto protendido?

8) Que significa o comportamento solidário do concreto e suas armaduras?

9) Que sào armaduras passivas?

10) Quais as máximas resistências de escoamento dos aços das armaduras passivas?

11) Que são armaduras ativas?

12) Qual a resistência de escoamento máxima dos aços das armaduras de protensãoi

13) Quais são os três tipos básicos de armaduras passivas?

14) Que são armaduras de resistência geral?

15) Que são armaduras complementares?

16) Qual a diferença entre as armaduras de montagem e as armaduras construtivas?

17) Que são armaduras de pele?

18) Que são armaduras de resistência local?

19) Quais são as funções principais das armaduras de resistência local?

20) Como funcionam as armaduras de equilíbrio de desvio de esforços longitudinais?


2. Componentes do concreto simples

2.1 Cimentos
Os cimentos que podem ser empregados na construção de estruturas de concreto são de
diversas qualidades.

Os diferentes tipos de cimento existentes no mercado ou são fabricados para o atendimento


de necessidades usuais ou específicas de aplicação, ou são decorrentes do aproveitamento de
subprodutos de outras indústrias, como é o caso da escoria de alto-forno.

Os componentes básicos dos cimentos são sempre os mesmos, variando, para cada tipo, a
proporção em que esses componentes comparecem.

Os componentes básicos dos cimentos são a cal (CaO), a sílica (SiO,), a alumina (Al.OJ e o
oxido de ferro (Fc,Of). Esses componentes são aglutinados por sinterização, isto é, por aque-
cimento da mistura até uma fusão incipiente, sendo posteriormente moídos com uma finura
adequada.

Para o cimento Portland comum, admite-se que a finura Blaine, medida pelo ensaio de per-
meabilidade ao ar, deva ser no mínimo de 2.600 cm7$.

As normas brasileiras consideram a aplicação dos seguintes cimentos na construção das es-
truturas de concreto:

• Cimentos de endurecimento lento:


Cimento de alto-forno AF-25, AF-32 (NBR 5735)

Cimento pozolânico POZ-25, POZ-32 (NBR 5736)

Cimento de moderada resistência a sulfatos MRS (NBR 5737)

Cimento de alta resistência a sulfatos ARS (NBR 5737)

• Cimentos de endurecimento normal (cimento Portland comum):


Cimento Portland CP-25, CP-32, CP-40 (NBR 5732)

• Cimentos de endurecimento rápido:


Cimento de alta resistência inicial ARI (NBR 5733)

Os números indicativos, como por exemplo CP-25 ou CP-32, correspondem às resistências


médias dos cimentos, em MPa, determinadas de acordo com o Método Brasileiro MB-1 da ABNT.
Esses valores correspondem à resistência média à compressão, obtida pelo ensaio de 6 corpos-
de-prova de argamassa normal com 5 x 1 0 centímetros, aos 28 dias de idade.
2.2 Agregados
Os agregados do concreto podem ser divididos em graúdos e miúdos, conforme sua compo-
sição granulométrica.

De acordo com a Especificação Brasileira EB-4, o agregado miúdo é a areia natural quartzosa,
ou a artificial, resultante do britamento de rochas estáveis, de diâmetro máximo igual ou inferior
a 4,8 mm.

Pela mesma especificação, o agregado graúdo é o pedregulho natural, ou a pedra britada


proveniente do britamento de rochas estáveis, de diâmetro característico superior a 4,8 mm.

O diâmetro máximo de 4,8 mm referido pela EB-4 é na verdade o diâmetro característico su-
perior dk do agregado. Esse diâmetro, como mostra a Figura (2.2-a), é ultrapassado por apenas
5% da quantidade considerada.

Para se conhecer a composição granulométrica do agregado miúdo, faz-se o ensaio de penei-


ramento. Nesse ensaio são usadas 7 peneiras de malha quadrada, cujas percentagens acumula-
das, em peso, são especificadas pela EB-4 da seguinte forma:

Ensaio de peneiramento normal das areias (EB-4)

Percentagens acumuladas
Peneiras aberturas nominais
e m m m (série normal ABNT) Zona ótima Zona utilizável

9,5 0 0
4,8 3-5 0-3
2,4 29-43 13-29
1,2 49-64 23-49
0,6 68-83 42-68
0,3 83-94 73-83
0,15 93-98 88-93

Esses valores estão representados graficamente na Figura (2.2-b).

Para se obter uma apreciação global sobre a composição granulométrica da areia, define-se
o módulo de finura MF, pela soma das freqüências relativas acumuladas, obtidas no ensaio de
peneiramento normal, isto é, pela soma das porcentagens acumuladas dividida por 100
F 0 = Freqüência relativa acumulada dos diâmetros d ^ d 0 d k=d«.superior=d 0,95
A F j 2 = Freqüência relativa dos diâmetros d j < d 5 d 2

Figura (2.2-a)

100- 0

90- 10
80- 20

70- 30

60- 40
cr
2UJ
O 50- 50
«t
3 40- 60

30- 70

20- 80

10 90

0 100
—i—
0.15 0.3 0.6 1.2 2.4 4.8 9.5 ABERTURA DA
MALHA DAS PENEIRAS
CURVAS GRANULOMÉTRICAS DAS AREIAS

Figura (2.2-b)
Em princípio, as areias podem ser classificadas da seguinte forma6:

Módulo deFinura

areia grossa MF > 3,9


areia média 2,4 < MF < 3,9
areia fina MF < 2,4

Para os agregados graúdos, as exigências referentes à composição granulométrica são muito


menos exigentes do que para os agregados miúdos.

De modo geral, no comércio são consideradas as seguintes categorias de brita, em função


da faixa de tamanhos predominantes de seus grãos e os diâmetros característicos (máximos) de
cada categoria:

Dimensões Máximo diâmetro


Categoria
(mm) característico (mm)
Brita 0 4,8-9,5 9,5
Brita 1 9,5-19 19
Brita 2 19-25 25
Brita 3 25-50 50
Brita 4 50-76 76
Brita 5 76-100 100

A Especificação Brasileira EB-4 fornece alguns valores para as percentagens acumuladas, em


peso, retidas no peneiramento com peneiras de aberturas nominais de 4,8 - 9,5 - 19 - 25 - 38
- 50 milímetros.

Assim, por exemplo, para os concretos correntes, que são usualmente fabricados com britas
0, 1 e 2, a EB-4 exige o seguinte:

Graduação Percentagens acumuladas e m peso nas peneiras

# 50 #38 #25 # 19 #9,5 #4,8

4,8 a 50 mm 0-5% — 30-35% — — 95-100%

É preciso salientar que, para se obter um concreto mais resistente, a compacidade da mistura
deve ser aumentada. Para isso, é preciso aumentar a quantidade de diâmetros menores.
No caso particular de concretos de altíssima resistência, é necessário empregar praticamente
apenas a brita 0.

Deve-se notar, também, que o diâmetro característico do agregado graúdo condiciona o es-
paçamento das barras da armadura e é condicionado pelas espessuras das peças estruturais a
serem construídas.

Assim, por exemplo, de acordo com a NBR 6118, nas vigas, o espaço livre entre as barras da
armadura, nas camadas horizontais, deve ser maior que 1,2 vezes o diâmetro máximo do agre-
gado e, no plano vertical, maior que 0,5 vezes aquele valor; ver Figura (2.2-c).

1
^0,5 d k
T
^k, agregado

3*1,2 d k

Figura (2.2-c)

De modo análogo, ainda de acordo com a NBR 6118, a dimensão característica superior do
agregado graúdo deve ser menor que 1/4 da menor distância entre faces internas das fôrmas ou
1/3 da espessura das lajes; ver Figura (2.2-d).

Desse modo, para se concretar uma laje com 7 cm de espessura ou uma viga com alma de 8
cm de largura, é preciso empregar, no máximo, a brita 1, cujo diâmetro característico superior é
de 19 mm.

i
T hlaje > 3 d k

'k,agregado

hw>4dk
/ \

Figura (2.2-d)
2.3 Água e aditivos
A água destinada ao amassamento do concreto deve ser isenta de teores prejudiciais de
substâncias estranhas.

De acordo com a NBR 6118, presumem-se satisfatórias as águas potáveis.

No caso de águas não-potáveis é necessário controlar o conteúdo de matéria orgânica, os re-


síduos sólidos existentes, bem como os teores de sulfatos (expressos em íons SOt) e de cloretos
(expressos em íons Cl).

É preciso notar que os agentes agressivos contidos na água de amassamento, quando man-
tidos abaixo de certos limites, têm açào muito menos prejudicial do que a mesma água agindo
sobre o concreto endurecido. De fato, a maioria dos agentes agressivos contidos na água de
amassamento é neutralizada pelas próprias reações de hidratação do cimento e, com isso, ter-
mina seu efeito destruidor. Todavia, essa neutralização pode não ocorrer com os íons Ci da
água de amassamento, quando os teores estiverem acima de certos limites. Por outro lado, a
neutralização dos agentes agressivos não acontece com a renovação da água que age sobre o
concreto endurecido.

Um dado muito importante a ser considerado é o controle rigoroso da composição química


de aditivos eventualmente empregados para a obtenção de efeitos particulares, tais como os
aceleradores de pega, os aceleradores de endurecimento, os de incorporação de ar, etc.

Um composto químico particularmente perigoso para a corrosão das armaduras é constituído


pelos cloretos, pois a reação química de corrosão das armaduras em virtude do íon Cl é rege-
neradora desse elemento agressivo. Deve ser terminantemente proibida a aplicação no concreto
de aditivos que contenham cloretos e m suas composições.

2.4 Questionário
1) Quais são os tipos usuais de cimento empregados na construção de estruturas?

2) Qual a finura mínima admitida para o cimento Portland?

3) Q u e tipos de cimentos são indicados pelas siglas: AF 32, MRS, CP 32, ARI?

4) Como é medida a resistência de um cimento?

5) Q u e são agregados graúdos e miúdos?

6) O que be entende pui "diâmetro máximo do agregado"? Exemplificai paia um agregado


miúdo e para um agregado graúdo.

7) Como se determina a curva granulométrica das areias?

8) O que é módulo de finura da areia?

9) Definir areia grossa, média e fina.

10) O que são "brita 0", "brita 1" e "brita 2"?

11) Como varia o tipo de brita e m função da resistência desejada para o concreto?
12) Como o diâmetro máximo do agregado influencia os espaçamentos das barras das arma-
duras das vigas?

13) Como a espessura das lajes e da alma das vigas influencia a escolha do diâmetro máximo
do agregado?

14) Quais os principais agentes agressivos potencialmente existentes na água de amassa-


mento?

15) Qual a diferença de importância da presença de agentes agressivos na água de amassa-


mento e na água do meio ambiente?

16) Como deve ser considerada a aplicação de aditivos que contenham cloretos em suas
composições?
3. Endurecimento do concreto

3.1 Componentes dos cimentos

a) Cal
Tendo em vista o entendimento das propriedades do concreto endurecido, estudam-se a se-
guir os componentes básicos dos cimentos, dos quais a cal é o primeiro deles.

A importância deste estudo cresce quando é lembrado que a cal é um aglomerante por si
mesma.

As reações químicas envolvidas nos processos de fabricação e emprego da cal são as seguintes:

Fase de Calcinação CaC03->Ca0 + C02

Fase de Extinção Cao + H20 —> Ca( OH)2

Fase dc Endurecimento Ca(OH)2 + C02 -> CaCO, + H

Desse modo, com o endurecimento da cal extinta, por reação com o gás carbônico do ar,
obtém-se a reconstituição do carbonato de cálcio empregado originalmente em sua fabricação.
O fato de o endurecimento ocorrer por reação com o gás carbônico do ar leva a cal a ser chama-
da de um aglomerante aéreo.

Na reação de extinção, a hidratação do CaO ocorre com um aumento volumétrico, dc aproxi-


madamente 20% do volume original.

O fenômeno expansivo de hidratação da cal virgem desintegra o material e torna desnecessá-


ria qualquer operação de moagem para a fabricação ou emprego desse aglomerante, c o n o que
os custos de fabricação ficam muito reduzidos. Nesse caso, o efeito expansivo é um fenômeno
benéfico.

O mesmo fenômeno é, porém, deletério no caso da cal livre eventualmente existente nos
cimentos. Neste outro caso, o fenômeno de expansão somente ocorre após o endurecimento
de outros componentes do cimento, o que pode acarretar a destruição do efeito aglomerante
desses outros aglomerantes, se a quantidade de cal livre for significativa.

b) Sílica
O bióxido de silício, 5/0„ usualmente designado por sílica, é o constituinte básico dc muitas
rochas naturais, tais como arenitos, quartzitos, areias e argilas.

Na sua forma natural cristalizada, a sílica é material praticamente inerte.

Durante a fabricação do cimento, a sílica reage com a cal, formando silicatos de cálcio. São
estes silicatos que, por hidratação, conferem o efeito aglomerante ao cimento.
Além de sua forma cristalina usualmente inerte, a sílica também pode ser encontrada em
forma ativa, capaz de reagir quimicamente a frio. A reatividade a frio da sílica existe na sílica
cristalina em que seus cristais tenham sido deformados a frio por razões geológicas. De modo
análogo, a sílica também é reativa a frio em sua forma amorfa.

lissas condições ocorrem, por exemplo, com certas argilas especiais, genericamente chama-
das de pozolanas, e com produtos amorfos, como o vidro pirex, e também com certas variedades
de quartzo deformado.

Lm geral, admite-se que a reatividade da sílica a frio exige uma finura Blaine de no mínimo
6.000 cm2/g para que a reação se processe em prazos razoavelmente curtos. Observe-se que a
finura da sílica capaz de reagir a frio deve ser muito maior que os 2.600 cm2/g do cimento Por-
tland comum.

c) Alumina
A alumina, Al,Oy também reage com a cal, formando aluminatos de cálcio, os quais, ao se-
rem hidratados, também formam colóides rígidos. A hidratação dos aluminatos é muito mais rá-
pida que a dos silicatos. A sua quantidade deve ser controlada para se evitar um endurecimento
prematuro do concreto, que impediria a própria moldagem das peças estruturais.

Exceto nos cimentos aluminosos, que são usados quando se quer o endurecimento muito
rápido, como em obras submarinas, a contribuição da alumina para a resistência dos cimentos é
baixa. A presença da alumina na fabricação dos cimentos decorre de sua existência nas argilas,
as quais constituem a matéria-prima para a obtenção da sílica.

O emprego de sílica a partir de areias de quartzo exigiria temperaturas muito altas no proces-
so de fabricação do cimento. Desse modo, em seu lugar são empregadas argilas, cujo composto
básico é a caolinita (AltO{. 2SiO,. 2H,0), que se decompõe a temperaturas mais baixas, liber-
tando a sílica necessária ao processo.

d) Óxido de ferro
O óxido de ferro também comparece como componente básico dos cimentos, em virtude de
sua presença nas argilas empregadas em sua fabricação.

O óxido de ferro não deve estar presente na fabricação dos cimentos brancos. Esse óxido
confere ao cimento uma coloração escura, com a tonalidade café. A coloração típica, cinza es-
verdeada, do cimento Portland é conferida pela magnésia, MgO, composto usualmente presente
nos calcários empregados na fabricação dos cimentos.

Para a fabricação do cimento, as reações de obtenção dos silicatos de cálcio ficam grande-
mente facilitadas se houver fusão dos materiais. Em lugar de uma fusão total, de custo elevado
e prejudicial à formação do trissilicato de cálcio, emprega-se um processo de sinterizaçào, isto é,
o aquecimento produz apenas uma fusão incipiente dos materiais que vão reagir. Nesse caso, o
óxido de ferro faz o papel de fundente, possibilitando o emprego de temperaturas mais baixas.
Isso explica o alto custo dos cimentos brancos, decorrentes do emprego de argilas especiais
isentas de óxido de ferro e da ausência deste fundente no processo de sinterizaçào. Os produtos
sinterizados sào moídos formando o chamado clinker de cimento.
3.2 Composição média do cimento Portland
Para simplificar a notação, na química do cimcnto são empregados os seguintes símbolos
convencionais para os diversos compostos presentes nos cimentos:

Cal : CaO =C
Sílica : SiO , =s
Alumina :AI20} =/\
Óxido de ferro : Fefl, =F

Com os cimentos nacionais, a composição média do cimento Portland pode ser considerada
a seguinte (Petrucci, 1970):

C}S = 3CaO.SiO, = Silicato tricálcico - (42 a 60%)

C2S = 2Ca0.$i02 = Silicato dicálcico-(16 a 35%)

C/\ = 3Ca0.Al,0{ = Aluminato tricálcico - (6 a 13%)

C/iF = 4Ca0.Al20rFe202 = Ferroaluminatotetracálcico - (5 a 10%)

Como elementos secundários, encontram-se pequenas porcentagens de cal livre (CaO), de


magnésia (MgO) e de gesso (CaSOJ. Além deles, como impurezas, há sempre a presença de
pequenas frações de Na20 e de K,0.

3.3 Endurecimento hidráulico


No caso dos cimentos correntes, o endurecimento hidráulico é basicamente obtido pela for-
mação de um mesmo silicato de cálcio hidratado, o dissilicato tricálcico hidratado, cuja compo-
sição é dada pela fórmula7:

3Ca0.2Si02.3H20

liste composto é obtido a partir de diferentes silicatos de cálcio anidros, qualquer q i e tenha
sido o processo empregado na fabricação dos mesmos.

Desse modo, os agiomerantes hidráulicos devem ter fundamentalmente constituição capaz


de permitir o endurecimento hidráulico pela formação do dissilicato tricálcico hidratado.

Na realidade, além dos silicatos de cálcio, também os aluminatos e os ferro-aluminatos de


cálcio reagem com a água, dando compostos hidratados que manifestam um endurecimento
hidráulico. No entanto, no caso do cimento Portland, a colaboração desses outros compostos é
desprezível, como mostrado na Figura (3.3-a).

O endurecimento hidráulico é principalmente decorrente da hidratação dos silicatos dicálcico


e tricálcico, segundo as reações seguintes:
2(2Ca0.Si02) + 4H20 -> 3Ca0.2Si023H20 + Ca(OH)2
2(3Ca0.Si02) + 6H20 3Ca0.2Si023H20 + 3Ca(OH)2

(Segundo Czernin, 1962)

Figura (3.3-a)

Desse modo, como a hidrataçào do silicato tricálcico ocorre rapidamente, o cimento permite
a fabricação de peças estruturais de concreto com características monolíticas depois de apenas
algumas horas de seu preparo, e com resistência adequada aos processos de construcào, já com
poucos dias de idade.

3.4 Endurecimento dos cimentos


O endurecimento hidráulico do cimento ocorre por hidrataçào dos grãos de clinker, cujos
componentes estão indicados na Figura (3.4-a), de acordo com a microfotografia de uma seção
transversal de clinker de cimento Portland (Segundo Czernin).
C 4 AF CjA

Micrografia de um grão de clinker de cimento Portland

Figura (3.4-a)

Conforme se observa na f igura (3.4-a), os principais compostos do cimento são: o silicato di-
cálclco, C,5, o silicato tricálcico, C35, e o ferro-aluminato tetracáldco, C / F . Além deles, sempre
existirá uma pequena fração de cal livre, CaO, bem como uma parcela de magnésia, MgO. É à
presença da cal livre que se deve a necessidade de se ter, na fabricação, certo excesso c e cálcio
para assegurar a formação de uma porcentagem adequada do silicato tricálcico. A presença da
magnésia decorre de sua existência nos calcários que servem de matéria-prima.

No processo de hidratação do cimento, como o clinker é obtido por sinterizaçào, havendo


uma fusão incipiente dos materiais, principalmente do óxido de ferro que serve de fundente,
há a formação parcial de uma massa vítrea que impede a rápida hidratação da cal livre. Desse
modo, a hidratação da cal livre residual do cíinker pode ocorrer após a formação do gel rígido de
silicatos. Nesse caso, a estrutura resistente dos silicatos pode ser destruída pelo efeito expansivo
da hidratação da cal livre.

A presença da magnésia produz efeitos semelhantes aos da cal, porquanto a hidratação do


MgO também se dá com efeito expansivo. No entanto, a expansão da magnésia tem característi-
cas mais perigosas do que as da cal, porque a reação de hidratação da magnésia é multo lenta,
processando-se através dos anos.

Como um terceiro elemento expansivo, deve-se também considerar o gesso, CaSO., que é
adicionado ao clinker para o controle do tempo de "início de pega*.

O início da pega do cimento é estabelecido de forma convencional, por ensaios de penetra-


ção de uma agulha padronizada do chamado aparelho de Vicat (Petrucci, 1970), mostrado de
forma esquemática na Figura (3.4-b).
APARELHO DE VICAT

Figura (3.4-b)

O tempo de 'início de pega" é o que decorre desde o instante em que se mistura o cimento
com a água de amassamento até aquele em que a agulha de Vicat, aplicada sem choque, esta-
ciona a 1 mm do fundo. O "fim de pega" ocorre quando a agulha não deixa vestígios apreciáveis
sobre a superfície da pasta ensaiada.

Com os cimentos nacionais, pode-se considerar a seguinte classificação para os tempos de


início de pega:

Pega rápida < 30 minutos

Pega semi-rápida, entre 30 e 60 minutos

Pega normal > 60 minutos

O tempo de fim de pega é de 5 a 10 horas para os cimentos usuais, podendo ser muito redu-
zido para os cimentos de pega rápida.

Embora se tenha a impressão macroscópica de que o início de pega somente se realize após
certo intervalo de tempo depois da mistura do cimento com a água, as reações químicas de hi-
dratação são iniciadas imediatamente após a mistura.
A velocidade de hidratação depende diretamente do grau de finura do cimento. Quanto me-
nores forem os grãos de cimento, maior será a sua superfície específica, facilitando assim a
reação com a água. A moagem menos intensa, do ponto de vista do tempo de início de pega, é
satisfatória para o emprego do cimento. No entanto, para a obtenção de resistências elevadas, a
moagem deve ser mais enérgica, sendo então indispensável a adição de gesso, para evitar uma
pega excessivamente rápida.

Embora não se tenha esclarecido completamente o papel desempenhado pelo gesso, uma de
suas funções principais é a de reagir com o aluminato tricálcico, formando o sulfo-alum nato de
cálcio, 3Ca0.Al02.3CaS04.31 H20, que se apresenta na forma cristalina.

Desse modo, impede-se parcialmente que o CfA forme um gel rígido. Com isso se retarda o
início de pega, pois é a grande velocidade de hidratação do aluminato tricálcico, um dos fatores
essenciais da pega prematura.

No entanto, como a formação dos cristais de sulfo-aluminato de cálcio se dá com efeito ex-
pansivo, a quantidade de gesso deve ser limitada a cerca de 3% do peso do cimento. Com essa
limitação, a maior parte do gesso já terá reagido antes do início da pega convencional do cimen-
to, a qual se vai processar principalmente pelas reações de hidratação dos silicatos de cálcio.

Mesmo quando ainda não se tenha iniciado a pega convencional, medida por exemplo pelo
aparelho de Vicat, há um rápido aumento da rigidez da massa, que pode ser constatada por
meio de penetrômetros sensíveis. Apesar disso, a trabalhabilidade da massa diminui muito pou-
co. A massa apresenta um comportamento tixotrópico, retornando à sua fluidez por agitação
mecânica.

A formação do gel rígido pelos silicatos de cálcio constitui um elemento retardador das rea-
ções químicas dos próprios silicatos. À medida que se formam as partículas de dimensões coloi-
dais, vai sendo diminuída a capacidade de reação da água adsorvida por essas partículas com
a parte não hidratada dos grãos de cimento. Durante certo tempo, os silicatos conseguem se
solubilizar e, por difusão, através do gel, reagir com a água adsorvida pelas partículas coloidais
já formadas e com a água capilar restante.

Nesse processo de pega do cimento, o fenômeno de "retração química" deve ter impsrtância
significativa. Conforme estudos das variações volumétricas do concreto, ao se processarem as
reações físico-químicas de hidratação dos silicatos anidros e de adsorção de água na formação
de partículas de hidrogel rígido, a água sofre uma contração, perdendo cerca de 25% de seu
volume original.

Após o ataque de toda a periferia do grão de cimento, o prosseguimento da pega cepende


da possibilidade de se manter a reação de hidratação. Ela e cm parte mantida pela retração
química de hidratação, pois ela provoca a abertura de poros no gel rígido já formado, por onde
o restante da água de amassamento pode se aproximar da parte ainda não hidratada dos grãos
de cimento.

De qualquer modo, uma parte dos grãos de cimento pode permanecer intacta, sem possibili-
dade de participar das reações de hidratação. Essa parte não é perdida, pois é ela que permite a
colmatação das fissuras formadas por esforços mecânicos, impedindo-se assim a penetração de
agentes agressivos do meio ambiente no interior da massa de concreto.
3.5 Endurecimento das pozolanas
As pozolanas são materiais naturais ou artificiais contendo sílica (SiO J ativa, isto é, sílica ca-
paz de participar a frio da reação.

2Si02 + 3CaO(OH)2 -> 3Ca0.2Si02.3Hj0

Lssa é a mesma reação que no cimento Portland conduz ã formação do gel rígido de silicato
de cálcio hidratado.

As pozolanas podem ser naturais, como as cinzas vulcânicas, ou artificiais, formadas por argi-
las calcinadas ou por cinzas volantes.

Para que se manifeste o efeito pozolânico, é preciso que o material seja moído com finura
Blaine da ordem de 6.000 cm7g.

O emprego da pozolana é recomendado na presença de agentes quimicamente agressivos ao


concreto e, também, quando se quer reduzir o calor de hidratação do cimento. A pozolana tam-
bém é essencialmente necessária quando houver suspeita da presença de agregados reativos,
como é sempre o caso de emprego de seixos rolados, como será analisado posteriormente.

A ação da pozolana pode ser interpretada como decorrente de dois fenômenos.

De início, a pozolana exerce uma ação física, como se fosse um agregado ultrafino, provo-
cando a impermeabilização dos capilares do gel rígido formado pelos produtos de hidratação
do cimento.

Ao longo do tempo, da ordem de 90 dias, desenrola-se um efeito químico, com a formação


do silicato hidratado, o que produz um novo efeito impermeabilizante, pois ele se dá dentro dos
poros do gel formado inicialmente pela hidratação do cimento.

A dificuldade em se usar as pozolanas decorre da variabilidade intrínseca de suas proprieda-


des. Por esta razão, esse material deve ser usado na forma de cimentos pozolânicos, como o
especificado pela NBR 5736, fabricados industrialmente, e jamais por adição direta da pozolana
à betoneira.

Com propriedades semelhantes às dc um cimento pozolânico, têm-se os cimentos de alto-


forno, regulamentados pela NBR 5735. Esses cimentos são compostos por clinker de cimento
Portland e escoria granulada de alto-forno, em até 65% de seu peso.

A escoria granulada é formada principalmente por sílica ativa, que confere aos cimentos de
alto-forno as características de endurecimento lento. Note-se, porém, que estes cimentos não
apresentam o efeito inicial impermeabilizante como acontece quando se tem um verdadeiro
cimento pozolânico.

3.6 Perda do excesso da água de amassamento


Estudos experimentais mostram que a resistência do concreto pode ser estimada pela lei de
Abrams, expressa por:

a
onde X é a resistência à compressão do concreto e w = A / C é o fator água/cimento, sendo a e b
duas constantes dependentes dos tipos de materiais empregados.

Para valores usuais do fator água/cimento, a equação de Abrams dá uma relação praticamen-
te linear, como mostra a Figura (3.6-a), para um concreto moldado com o fator w = A/C = 0,40.

O estudo das reações químicas de hidratação mostra que, para os mais variados tipos de
cimento, a água quimicamente combinada corresponde, no máximo, a um fator água/cimento
= 0,28 ± 1%.

Todavia, a trabalhabilidade da mistura exige que o amassamento seja feito com fatores água/
cimento significativamente superiores a esse mínimo quimicamente necessário.

f c,w

(Segundo Czernin, 1962)


VARIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO

Figura (3.6-a)

Com o endurecimento do concreto, o excesso de água de amassamento forma uma rede


capilar de poros. Uma parte dessa água vai evaporar, até que se estabeleça o equilíbrio entre a
umidade do meio externo e a existente nos poros capilares.

Durante o processo de endurecimento do concreto, uma parte do excesso de água de amas-


samento tende a exudar para a parte superior da massa fluida, e os finos da mistura, particular-
mente o cimento, tendem a sedimentar e m sua parte inferior. Com isso, há a tendência à hete-
rogeneidade da massa de concreto, obtendo-se um concreto menos resistente na parle superior,
onde existe um fator água/cimento efetivo maior que o valor médio previsto.

Além disso, a percolação ascensional do excesso de água de amassamento encontra barreiras


que dificultam o movimento. Essas barreiras são formadas pelos grãos do agregado graúdo e
pelas barras das armaduras. Como resultado, na região superior da massa endurecida há uma
tendência à formação de películas de água na face inferior desses obstáculos, como mostrado
na Figura (3.6-b).

películas de água
na face inferior

EXUDAÇÃO DO EXCESSO DE ÁGUA DE AMASSAMENTO

Figura (3.6-b)

O maior fator água/cimento e a presença das películas de água na região superior da massa
de concreto tendem a diminuir a resistência dessa região.

Nas estruturas de concreto armado, esses fenômenos criam o conceito de regiões de boa ou
de má aderência das armaduras ao concreto.

Admitindo que e m termos práticos não seja possível distinguir as eventuais heterogeneidades
dentro de um corpo-de-prova de controle da resistência do concreto, que tem 30 cm de altura,
a NBR 6118 adotou as regras mostradas na Figura (3.6-c) para a consideração das zonas de má
aderência.
Na região superior das peças de concreto estruturai, onde o fenômeno de exudação do ex-
cesso da água de amassamento pode ter efeito significativo, exigem-se comprimentos de ade-
rência 50% maiores do que nas zonas de boa aderência.

má aderência

h < 60cm

30 cm boa aderência

face inferior da peça


ou junta de concretagem

ZONAS DE BOA OU MÁ ADERÊNCIA PARA BARRAS DE AÇO COM


INCLINAÇÃO INFERIOR A 45° EM RELAÇÃO À HORIZONTAL

Figura (3.6-c)

3.7 Porosidade do concreto


O concreto é um material essencialmente poroso e sua durabilidade pode ficar comprometida
por essa porosidade. O eventual emprego de estruturas de concreto aparente deve considerar
a intrínseca porosidade do concreto, que pode permitir o ataque do meio ambiente, particular-
mente pelo C O „ que produz o efeito de carbonatação, com risco de corrosão das armaduras.
Além disso, os produtos da poluição ambiental, que podem exigir sucessivas limpezas das facha-
das das construções e das superfícies das estruturas de concreto aparente, podem levar ao em-
prego de agentes agressivos ao concreto. É muito importante saber que essas limpezas jamais
deverão ser feitas com produtos clorados, como o chamado ácido muriático, que não passa de
ácido clorídrico diluído. A penetração desses materiais, em argamassas de revestimen:o e em
poros do concreto, leva-os diretamente às armaduras, que serão Inapelavelmente destruídas,
como se analisa no capítulo 5.

Os poros existentes na massa de concreto são decorrentes de diversas causas:

Tipos d e poros Dimensões(mm)


a) Poros de compactação 0,5 a 5
b) Poros devidos à incorporação de ar 0,05 a 0,5
c) Poros capilares 0,5 x 10"^ a 0,05
d) Poros do gel de cimento 0,5 x 10"6 a 0,5 x 10"^
Os poros devidos à compactação do concreto são decorrentes do atrito existente entre os
grãos dos agregados e entre estes e as fôrmas para a concretagem. Esse atrito pode provocar
falhas de compactação.

Durante a mistura da massa de concreto na betoneira, como decorrência do próprio processo,


certa quantidade de ar é incorporada à massa de concreto. O ar incorporado é disperso na forma
de minúsculas bolhas. Em certas circunstâncias são acrescentados aditivos que aumentam sig-
nificativamente a quantidade de ar incorporado. Isso é feito tendo em vista que essas bolhas de
ar funcionam como um lubrificante entre os agregados, permitindo uma redução do fator água/
cimento, sem perda da trabalhabilidade da massa de concreto.

Os poros capilares, que formam uma rede de canais intercomunicantes ao lon^o de toda
a massa de concreto, são decorrentes essencialmente da evaporação do excesso de água de
amassamento. Após o endurecimento do concreto, parte dessa água evapora, ficando uma rede
capilar com os poros menores saturados de água e os maiores contendo ar e vapor r o seu inte-
rior e uma película de água adsorvida ao longo de suas paredes; ver Figura (3.7-a).

Os poros do gel de cimento são decorrentes da retração química da água de hidratação do


cimento. Esses poros são de minúsculas dimensões, isolados uns dos outros, não permitindo
percolação de fluidos por seu intermédio e, portanto, não participando dos mecanismos de ata-
que ao concreto.

Tendo em vista as agressões do meio externo ao concreto, os poros de compactação e os


devidos à incorporação de ar podem ser encarados como minúsculos defeitos localizados, que
agravam a agressão do meio externo por meio dos fluidos que por eles penetram.

A durabilidade do concreto, que depende essencialmente da porosidade capilar, é função do


fator água/cimento.

Esse fato explica por que estruturas portuárias com conteúdos de cimento de pelo menos
350 kg/m3, executadas no norte da Europa, com fatores água/cimento não superiores a 0,4,
permaneceram intactas por muitas dezenas de anos em águas marítimas altamenle poluídas
e sazonalmente congeladas. Como se esclarece adiante, essa agressão é significativa na zona
de borrifos de água, pois é necessária a presença simultânea de oxigênio, água e dos agentes
agressivos. Em estruturas permanentemente mergulhadas em água, com pressão positiva de
pelo menos 1,50 metro, não existe mais oxigênio disponível para as reações químicas de ataque.
Por essa razão, estacas extraídas em reformas de obras portuárias, com muitas dezenas de anos
de uso, mesmo tendo sido construídas com concretos de baixa resistência, apresentavam-se
perfeitamente intactas.
POROSIDADE CAPILAR

Figura (3.7-a)

3.8 Calor de hidratação


As reações de hidralação dos compostos do cimento são exotérmicas, o que provoca o aque-
cimento da massa de concreto durante o seu endurecimento. Esse fato pode trazer graves pro-
blemas para a concretagem de grandes massas.

Durante a fase inicial de endurecimento do concreto, particularmente nas primeiras idades, a


liberação do calor é mais intensa, expandindo-se a massa e m virtude do aquecimento que se dá
ao longo de todo seu volume.

Nesta fase, a rigidez do concreto é baixa, o que permite a acomodação da massa que se ex-
pande termicamente às eventuais heterogeneidades da distribuição de temperaturas. As even-
tuais fissuras provocadas pelas heterogeneidades são colmatadas pelo prosseguimento das rea-
ções de hidratação.

Quando o endurecimento já ocorreu em sua maior parte, a geração de calor praticamente


termina e a massa de concreto começa a se resfriar, de fora para dentro, até atingir o equilíbrio
térmico com o meio ambiente. Todavia, o concreto já endurecido tem agora grande rigidez.
O encurtamento térmico das camadas externas tende a ser impedido pelo núcleo interno
ainda quente. Esse estado de coação pode provocar fissuração generalizada e rupturas localiza-
das por tração das camadas periféricas, agravando-se muito a possibilidade de ataque do meio
externo ao concreto, como mostrado esquematicamente na Figura (3.8-a).

camada periférica
em resfriamento
significativo

núcleo
aquecido

Figura (3.8-a)

O calor de hidrataçáo dos cimentos impõe restrições às espessuras das camadas de concreta-
gem e ao lançamento de concreto novo sobre concreto já endurecido, como mostrado pelo Prof.
Eduardo Thomaz e m seu excelente estudo sobre a fissuração do concreto 8 .

Em casos especiais, como nas barragens, empregam-se agregados refrigerados para compen-
sar o calor de hidratação, além de se controlar a composição química do cimento a ser emprega-
do. Com essa finalidade é oportuno conhecer o calor de hidratação dos diferentes componentes
dos cimentos, como se mostra a seguir (Czernin, 1963):

Calor d e hidratação
Componente
Cal/grama
Silicato tricálcico 120
Silicato dicálcico 62
Aluminato tricálcico 207
Ferro-aluminato tetracálcico 100

A necessidade de redução do calor de hidratação leva então ao emprego de cimentos com


baixo C/i, e com o aumento de C , 5 e m relação ao C^S.
3.9 Questionário
1) Quais são os componentes básicos dos cimentos?

2) Por que deve ser rigorosamente limitada a quantidade de cal livre nos cimentos?

3) O que é sílica ativa? Qual a finura mínima necessária ã reação de hidratação da sílica ati-
va?

4) Qual a composição média do cimento Portland?

5) Quais são os elementos secundários do cimento Portland?

6) Qual a importância da magnésia (MgO) contida no cimento?

7) Qual a importância do gesso adicionado ao cimento?

8) Qual o composto principal responsável pelo endurecimento hidráulico?

9) Quais as características de endurecimento do C,S e do CsS?

10) Qual a contribuição do C3A à resistência do concreto?

11) Quais as possíveis reações expansivas dos componentes do cimento?

12) O que é cimento de pega normal?

13) Qual é o tempo usual de fim de pega?

14) Quando se deve empregar um cimento pozolânico?

15) Como se dá a perda do excesso de água de amassamento?

16) O que são zonas de boa e de má aderência?

17) Que tipos de poros existem na massa de concreto endurecido?

18) Qual a importância da porosidade capilar para a durabilidade da estrutura?

19) Qual a importância do calor de hidratação do cimento para a integridade das estruturas
de concreto?

20) Quais os calores de hidratação dos componentes básicos dos cimentos?


4. Durabilidade do concreto

4.1 Tipos de agressão ao concreto


A boa durabilidade do concreto das estruturas depende de sua fabricação com materiais não-
expansivos e cie sua capacidade de resistir às agressões provenientes do meio externo.

Os mecanismos de agressão são de diversos tipos, alguns de natureza física e outros de na-
tureza química.

A quase totalidade dos mecanismos de agressão ao concreto depende da presença de me-


canismos de transporte dos elementos externos de agressão através dos poros e fissuras do
concreto, e da existência de dois fatores essenciais:

• disponibilidade de água no interior da massa de concreto;

• disponibilidade de oxigênio do ar.

De modo geral, as agressões usuais perigosas para a integridade do concreto estão associa-
das a fenômenos expansivos no interior da massa de concreto já endurecido, ou à dissolução
dos produtos de hidrataçào do cimento.

As agressões físicas mais importantes são decorrentes dos seguintes fenômenos:

a) erosão por abrasão;

b) erosào por cavitação;

c) fraturamento por congelamento da água.

A erosão por abrasão é devida ao desgaste superficial do concreto causado pelo atrito com
partes sólidas deslizando sobre sua superfície, particularmente pela passagem de pessoas, ani-
mais ou veículos.

A erosào por cavitaçào é provocada pela implosão de bolhas de vapor d'água junto à super-
fície da estrutura. Esse fenômeno pode ocorrer nos escoamentos líquidos com zonas de alta e
baixa pressão, onde, nestas últimas, formam-se bolhas, as quais, arrastadas para outras zonas
em que a pressão líquida seja maior que a pressão de vapor, implodem, com efeito erosivo mui-
to intenso.

O fraturamento por congelamento da água decorre do aumento de volume, de cerca de 9%,


que ocorre na transformação da água em gelo. Se a porosidade do concreto não for capaz de
acomodar esse aumento de volume, haverá o conseqüente fraturamento do material.

As agressões químicas mais importantes são decorrentes dos seguintes fenômenos:

a) solubilização dos elementos do concreto por águas ácidas;

b) ação de águas sulfatadas;

c) reatividade dos agregados com os alcalis do cimento.

Além disso, como será visto adiante, a ação do gás carbônico e dos íons cloreto tem papel
importante na agressão às armaduras mergulhadas no concreto.
Em qualquer caso, a durabilidade das estruturas depende do adequado adensamento do con-
creto, garantindo-se uma satisfatória compacidade, que dificulte os mecanismos de transporte
no seu interior.

4.2 Agressão por águas ácidas


A agressão do concreto por águas ácidas decorre da transformação dos compostos de
cálcio existentes no concreto endurecido, Ca(OH)„ C f 5, C ( S, C/\, em sais de cálcio do
ácido agressor.

Os ácidos particularmente agressivos são os que formam sais solúveis em água, os quais
permitem a renovação do ataque, até a destruição total do concreto. Se os sais formados forem
insolúveis, após o primeiro ataque, interrompe-se a própria reação agressiva, pela impermeabili-
zação propiciada pelos sais que já se formaram.

Quando a estrutura de concreto está mergulhada em águas ácidas paradas, a solubilização


dos compostos de cálcio presentes no cimento somente pode ocorrer se o concreto tiver uma
porosidade exagerada, conseqüência de uma execução defeituosa.

Em uma investigação feita na cidade de São Paulo a respeito da agressividade das ágjas sub-
terrâneas, por ocasião da construção das obras da primeira linha do Metrô, não foi encontrado
sequer um exemplo de agressão a estruturas enterradas, embora fossem encontradas águas
subterrâneas poluídas com os mais diferentes tipos de agentes teoricamente agressivos.

A agressão efetiva somente se manifesta quando há percolação de água através da massa de


concreto, como pode acontecer em revestimentos de túneis, reservatórios enterrados, muros de
arrimo e outras obras de contenção de valas e encostas. Nesses casos, a impermeabilidade da
massa de concreto é essencial.

Os mesmos agentes agressivos, que pouca preocupação causam quando estão nas águas
subterrâneas, têm um efeito particularmente destruidor quando estão presentes no ar atmosfé-
rico. Esses elementos da poluição atmosférica, associados à umidade ambiente, acompanhados
de chuvas que lavam a superfície das estruturas, constituem mecanismos eficientes de destrui-
ção do concreto, particularmente em estruturas de concreto aparente.

O uso de estruturas de concreto aparente deve levar em conta essa realidade ambiental,
sendo necessário ajustar convenientemente as espessuras das camadas de cobrimento das ar-
maduras.

As principais reações de agressão ácida são as seguintes:

a) Ataque por C0 2 agressivo


O gás carbônico produz duas reações de carbonatação do concreto:

I) Carbonatação do hidróxido de cálcio

CO , + Ca(OH)2 -> Ca CO, + H20


II) Carbonatação do silicato de cálcio hidratado

JCOj + 3Ca0.2SiO_,.3H,0 -> 3CaC03 + 2Si02 + 3H,0

Com a presença de COr a carbonatação do concreto, isto é, a formação de carbonato de


cálcio, evolui para a hidrólise do CaCO,, formando-se o bicarbonato (carbonato ácido), que é
solúvel em água, em virtude da reação:

CaCOj + C02 + Hp -> Ca(HC03)2

Se houver percolação de água através do concreto, produz-se a lixiviação da massa. Um dos


sinais típicos desse fenômeno é a eflorescência superficial, obtida por evaporação, segundo a
reação:

Ca(HC03)2 — CaCO, + C02 + H20

Quando o bicarbonato encontra uma concentração adequada de hidróxido, dá-se novamente


a formação de carbonato, com o efeito impermeabilizante, através da reação química:

Ca(HC03)2+Ca(0H)2 — 2CaCO, + 2H20

Esta reação é protetora do concreto, sendo particularmente importante nas barragens, para
a estanqueidade da estrutura.

Outros ácidos agressivos, tais como o clorídrico, o sulfúrico, o nítrico, o lático, o acético, etc.,
provocam processos de agressão da mesma natureza, não existindo a possibilidade de formação
de sais insolúveis. Eles formam sais solúveis que podem ser levados por água em movimento.

Um efeito equivalente ao das águas ácidas é produzido pelas águas puras de chuva. A pureza
da água lhe confere grande capacidade de dissolver os compostos de cálcio, com o conseqüente
efeito destruidor do concreto.

4.3 Agressão por sulfatos


Em contraste com o ataque de águas ácidas, que destroem todos os componentes do cimen-
to, o ataque por sulfatos age apenas sobre o CyA. O ataque por sulfato de cálcio se dá por meio
da reação:

3Ca0.AL203 + 3CaSO, + 31H20 — 3CaO.AL2Or3CaSO,.31H20

As 31 moléculas de H,0 de cristalização do sulfo-aluminato de cálcio produzem um enorme


efeito expansivo, destruidor da estrutura interna do concreto.

O sulfato de magnésio tem efeito semelhante.

A defesa contra o ataque de sulfatos consiste na diminuição do conteúdo de C/\ do cimen-


to, pela adição de óxido férrico, produzindo-se então o Q 4 F , que é muito resistente ao ataque
químico. Essa é a essência dos chamados cimentos resistentes a sulfatos, como os que são re-
gulados pela NBR 5737.

Os cimentos resistentes a sulfatos não devem, porém, eliminar totalmente o C}A, pois o alu-
minato tricálcico tem efeito amortecedor sobre o ataque de íons cloreto às armaduras de aço
embutidas no concreto.

Nas obras marítimas, a zona de borrifos é a que mais sofre com o ataque combinado dos
sulfatos ao concreto e dos cloretos à armadura. Nas partes permanentemente mergulhacas, com
pelo menos um metro e meio de pressão positiva de água, pela ausência de oxigênio do ar, o
ataque de sulfatos é muito reduzido e o de cloretos é eliminado, como será visto adiante.

4.4 Reação álcali-agregado


A reação álcali-agregado consiste em reações dos álcalis do cimento com componentes de
certos agregados, produzindo-se um fenômeno expansivo.

São de importância os íons alcalinos de sódio e potássio provenientes da hidratação das


impurezas do cimento. De modo geral, admite-se que teores de álcalis abaixo de 0,6% do peso
do cimento, em equivalente de sódio, impedem a reação expansiva, quaisquer que sejam os
agregados empregados.

As reações expansivas álcali-agregado são do tipo de embebiçâo de um gel por água prove-
niente do meio externo.

Embora existam três diferentes reações expansivas, álcali-sílica, álcali-silicato e álcali-carbona-


to, de interesse prático real somente há preocupação com a reação álcali-sílica.

Essa reação expansiva somente pode ocorrer se os agregados tiverem significativa fração de
sílica reativa, que possa se solubilizar, a fim de que, em contato com os sulfatos de sódio e de
potássio, provenientes do cimento e dissolvidos na água capilar, haja a formação de gel de sili-
catos de sódio e de potássio.

O efeito destruidor da reação álcali-sílica somente existirá quando houver sílica reativa, álcalis
e água suficiente para que possa ocorrer uma expansão significativa.

Se o concreto permanecer seco, não pode ocorrer a reação agressiva. Quando a estrutura
está em contato permanente ou intermitente com a água, é preciso cuidar para que os álcalis
do cimento sejam controlados e que a dosagem de cimento também não seja excessiva, pois
ela também controla a quantidade de álcalis. Além disso, é preciso controlar a natureza dos
agregados.

Como a reação expansiva álcalis-sílica é muito lenta, levando até muitos anos para se mani-
festar, o melhor controle é dado pela história das fontes de abastecimento dos agregados. Na
dúvida, pode-se fazer o ensaio químico para detectar a eventual reatividade do agregado. Esse
ensaio, que é regulado pelas normas NBR 9773 e NBR 9774, não dá segurança sobre a reatividade
do agregado.

A pozolana, por provocar a reação álcalis-sílica imediatamente na preparação do concreto,


consumindo os álcalis do cimento, é o real elemento inibidor da expansão posterior dentro do
concreto já endurecido.
A inibiçào da eventual reação álcali-sílica é muito importante na realização de estruturas em
terras baixas, como nas bacias dos grandes rios, em que não existem rochas disponíveis para
a obtenção de agregados graúdos. Essa situação é típica em terras baixas da Amazônia, como
também o é nas terras baixas da Holanda 9 e da Alemanha.

Nessas terras baixas, a disponibilidade de agregados graúdos reside basicamente nos seixos
rolados dos rios. Esses seixos têm resistência mecânica excelente, embora freqüentemente pos-
sam apresentar reatividade a frio. O controle do cimento e o emprego de microsílica tornam tais
materiais adequados à realização de obras de concreto armado.

Desse modo, nas obras em que haja a possibilidade da presença de agregados reativos, em
geral duas medidas de precaução devem ser tomadas: o controle do teor de álcalis presente no
cimento e o emprego de pozolanas eficazes na dosagem do concreto, especialmente de micro-
sílica, que pode ser considerada como uma superpozolana.

Na presença da possibilidade de emprego de agregados reativos, os cimentos a empregar


não devem levar a uma dosagem de álcalis, dosados em termos de óxido de sódio, de mais de
3 kg/m } de concreto, o que leva, em média, a que no cimento não haja mais de 0,6%, em peso
de álcalis, medidos em termos de óxido de sódio. Para respeitar essas condições, usualmente
são utilizados cimentos de alto-forno.

A segunda medida é o emprego de pozolanas, especialmente a microsílica, que pode ser


considerada como uma superpozolana. As pozolanas de modo geral e a microsílica em particular
contêm uma alta dose de sílica muito reativa, em virtude de sua finura. Para uma finura Blaine
do cimento da ordem de 2.600 cmVg, as pozolanas apresentam finuras acima de 6.000 cnV/g.
Com finuras dessa ordem, a sílica torna-se reativa a frio e, dessa forma, reage com os álcalis do
cimento ainda durante a fase fluida do concreto. Desse modo, quando o concreto endurece,
embora possa haver agregados reativos, os álcalis do cimento já foram consumidos na forma
de silicatos de sódio e potássio, não mais existindo a possibilidade de ocorrência de uma futura
reação expansiva, que somente ocorre na presença de sais dissociáveis desses álcalis.

4.5 Agressividade do ambiente


Comentários sobre as prescrições da NBR 6118.

De acordo com a norma brasileira ABNT NBR 6118 (item 6.4), "a agressividade do meio am-
biente está relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre as estruturas de concreto,
independentemente das ações mecânicas, das variações volumétricas de origem térmica, da
retração hidráulica e outras previstas no dimensionamento das estruturas de concreto".

De acordo com essa norma, a avaliação da agressividade do meio ambiente sobre uma dada
estrutura pode ser feita de modo simplificado, em função das condições de exposição de suas
peças estruturais. Para essa finalidade, a agressividade ambiental pode ser classificada conforme
as classes definidas na tabela seguinte.
tecnologia do concreto e/truturol - tópico/ aplicado/

NBR 6118 - Tabela 6.1 - Classes de Agressividade Ambiental

Classes de Risco d e
Classificação geral do tipo d e
Agressividade Agressividade deterioração
ambiente para efeito d e projeto
Ambiental da estrutura
Rural
l Fraca Insignificante
Submerso
II Moderada Urbano' Pequeno
Marinho"
iii Forte Grande
Industriar 2 '
Industrial" 1 '
IV Muito forte Elevado
Respingos de maré
"Pode-se admitir um mlcrocllma com uma classe dc agressividade mais branda (um nível acima» para ambientes internos
secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de servl< o do apartamentos residenciais c conjuntos comerciais ou
ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura).

'' Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em: obras em regiões de clima scco, com
umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de < huva em ambientes predominantemente
secos, ou regiões onde c hove raramente.

" Ambientes qulmlcamente agressivos, tanques Industriais, galvanoplastla, branqueamento em indústrias de celulose
e papel, armazéns de fertilizantes. Indústrias químicas.

Observe-se que a consideração do ambiente urbano como de agressividade moderada, como


recomenda a NBR 6118, com pequeno risco de deterioração da estrutura, é altamente discutível
para as grandes regiões metropolitanas, onde a agressividade da poluição atmosférica é uma
realidade que não pode ser ignorada. Dessa forma, a recomendação da NBR 6118 que leva à
permissão do emprego de concreto parcialmente protendido nos ambientes das grandes cidades
não pode ser aceita com tranqüilidade para as obras-de-arte de concreto não revestido, tendo
em vista a possibilidade da ocorrência de carregamentos especiais não previstos no projeto.

4.6 Questionário
1) Quais as duas condições necessárias à agressão do concreto por elementos do meio ex-
terno?

2) Quais os tipos de agressões físicas usuais?

3) Como se dá a agressão do concreto por águas ácidas?

4) Qual a diferença de agressividade das águas paradas e das águas correntes?

5) Quando devem ser temidas as águas poluídas subterrâneas?

6) Como agem sobre o concreto os poluentes do ar atmosférico?

7) Qual o efeito agressivo das águas dc chuva?

8) Como se dá o ataque por CO, agressivo?

9) Como se dá a agressão ao concreto por águas sulfatadas?


10) Como se combate a agressão do concreto pela água do mar?

11) Quais são os principais agregados expansivos?

12) Como se dá a reação álcali-agregado?

13) Qual o efeito físico das pozolanas na inibição da reação álcali-agregado?

14) Qual o efeito químico das pozolanas na inibição da reação álcali-agregado?

15) Por que se adiciona gesso ao cimento?


5. Corrosão das armaduras

5.1 Causas da corrosão


As armaduras de aço denlro da massa de concrelo são protegidas contra a corrosão pelo fe-
nômeno da passivaçào do aço, decorrente da grande aicalinidade do meio ambiente, pois o pll
da água existente nos poros atinge valores até superiores a 12,5.

Em ambientes com essa aicalinidade, forma-se na superfície das barras de aço uma camada
microscópica impermeável de óxido de ferro, que constitui a chamada película passivadora; ver
Figura (5.1-a). Essa película impede a dissolução dos íons Fe", tornando-se assim impossível a
corrosão das armaduras, mesmo que haja umidade e oxigênio no meio ambiente.

camada de
cobrimento

película passivadora formada


por uma camada impermeável
de óxido de ferro

Figura (5.1-a)

A corrosão das armaduras dentro do concreto somente poderá ocorrer se for destruída a pe-
lícula passivadora. Essa destruição pode acontecer de modo generalizado, e m virtude de três
diferentes causas 10 :

• redução do pH, abaixo de 9, por efeito da carbonatação da camada de cobrimento da ar-


madura;

• presença de íons cloreto (Cl) ou de poluição atmosférica acima de um valor crítico;

• lixiviação do concreto na presença de fluxos de água que percolem através de sua massa.

Nas armaduras de protensào, podem ainda ocorrer, de forma localizada, duas outras formas
de agressão ao aço: a corrosão sob tensão e a fragilização por hidrogênio.

Uma última causa de corrosão das armaduras é o emprego de espessuras inadequadas de


cobrimento; ver Figura (5.1-a).

É preciso lembrar que os códigos normalizadores especificam espessuras de cobrimento com


valores mínimos absolutos. Quaisquer falhas de arranjo das armaduras, no projeto ou na cons-
trução, podem levar a espessuras reais menores que esses mínimos absolutos, tornando-se cau-
sas eficientes de corrosão das armaduras. Por esse motivo, é prudente admitir-se que no projeto
sejam especificados cobrimentos nominais com um acréscimo de 0,5 a 1,0 centímetro acima dos
mínimos absolutos regulamentares.

5.2 Mecanismos de corrosão


A corrosão dos metais pode ocorrer, em princípio, por dois diferentes processos, um cm meio
ácido, na presença de metais diferentes, e outro em meio alcalino ou neutro, por efeito de uma
oxigenação diferencial entre partes do mesmo metal.

Em ambos os processos ocorrem duas reações eletrolíticas, uma anódica e outra catódica.

Na reação anódica, o ferro fica carregado eletricamente de modo positivo, ocorrendo a sua
dissolução pela passagem dos íons Fe'* para a solução.

A reação anódica pode ser expressa por: FeFe+* + 2e~

Na reação catódica, o ferro funciona como simples eletrodo, junto do qual os elétrons liberados pelo
ânodo passam à solução, fechando-se assim o circuito elétrico. Não há consumo de ferro do cátodo.

O mecanismo de corrosão em meio ácido está descrito na Figura (5.2-a). Esse mecanismo, em
geral, é estabelecido pelo emprego de 2 metais diferentes.

Em meio ácido ocorre a ionização da água. Os íons H* dirigem-se ao cátodo, onde são neu-
tralizados, liberando-se então o hidrogênio nascente H que passa, a seguir, à forma molecular
H,. Os íons (OH)- dirigem-se ao ânodo, onde reagem com os íons Fe" solubilizados, formando-
se o Fe(OH), que por várias reações intermediárias acaba formando a ferrugem, basicamente
constituída pelo Fe,Or

MECANISMO DE CORROSÃO

e-

ANC

/
Fe (O


SOLUÇÃO ÁCIDA (H 2 0 HO - H )

METAIS DIFERENTES OU CONCENTRAÇÕES ELETROLÍTICAS DIFERENTES

Figura (5.2-a)
O mecanismo de corrosão em meio alcalino está mostrado na Figura (5.2-b).

A reação catódica que agora ocorre pode ser expressa por:

2e- + ViiO) + Hfi—*• 2(OHy

0-

OXIGENAÇÃO DIFERENTE
(PODEM SER OS M E S M O S MATERIAIS)

Figura (5.2-b)

Em meio alcalino não há a formação de íons H*. A formação de íons hidroxila (OH)- ocorre
no cátodo, por efeito da oxidação dessa parte do metal. Esses íons (OH) dirigem-se então ao
ânodo, como no caso anterior, produzindo-se finalmente o Fe,03.

5.3 Corrosão das armaduras dentro do concreto


Para que as armaduras de aço dentro do concreto sofram corrosão, é preciso que junto a
elas haja umidade e oxigênio, pois o meio em que elas estão mergulhadas é alcalino; Figura
(5.3-a).

A penetração do oxigênio proveniente do meio ambiente ocorre por difusão através da ca-
mada de cobrimento, chegando até o metal, e provocando a corrosão se a película passlvadora
tiver sido rompida.
Figura (5.3-a)

A água necessária à manulenção da reação eletrolítica é fornecida pela umidade existente


na rede capilar. A reação de oxidação do ferro não consome a água envolvida no processo, não
sendo favorecido assim o bloqueio da própria reação. Enquanto o oxigênio puder chegar até o
metal, por difusão através da camada de cobrimento e da película passivadora rompida, a corro-
são prosseguirá.

Desse modo, para que haja corrosão é indispensável a presença simultânea de água e oxigênio.

Não haverá corrosão se o concreto estiver totalmente seco ou totalmente saturado. Na ver-
dade, a condição totalmente saturado somente existe com água exercendo pressão positiva
superior à pressão parcial exercida pelo oxigênio na atmosfera. A experiência most a que não
há corrosão com pressão hidrostática positiva correspondente a uma coluna d'água de cerca de
1,5 metro.

Na figura (5.3-a) está mostrada a corrosão decorrente da formação de micropilhas eletrolíti-


cas. Na mesma barra de aço, um trecho tem comportamento anódico e, outro, comportamento
catódico.

Uma situação mais grave existe quando se pode formar uma macropilha, como mostrada na
Figura (5.3-b).
elemento desencadeante
Cl ou outros poluentes

face seca

CORROSÃO POR MACROPILHA

Figura (5.3-b)

Neste caso, toda armadura de uma das faces da peça tem comportamento anódico, e a arma-
dura da outra face tem comportamento catódico.

Situação desta natureza pode ocorrer quando há partes da estrutura sujeitas ao intemperismo
e partes protegidas, em virtude de diferentes particularidades construtivas, como, por exemplo,
em peças estruturais com uma face e m contato com o meio externo e a outra no interior da
construção.

Este tipo de corrosão é particularmente importante em estruturas de concreto aparente.

É muito importante observar que a formação da ferrugem, basicamente composta pelo Fe,0{,
constitui uma reação expansiva. O início da corrosão é, portanto, acompanhado pela fissuração
do concreto da camada de cobrimento, com agravamento da própria corrosão.

O importante é não deixar que a corrosão se inicie, pois o processo vai se tornando cada vez
mais intenso, à medida que o tempo passa.

5.4 Carbonatação da camada de cobrimento


O conteúdo de cálcio existente nos silicatos anidros constituintes dos cimentos é superior à
quantidade que pode ser mantida na forma de silicatos de cálcio hidratados. O excesso de cálcio
é liberado na forma de hidróxido Ca(OH)2, o qual, após endurecimento, fica, em parte, sob a
forma de cristais, com dimensões muito maiores que as dos silicatos, e em parte dissolvido na
água contida nos poros capilares.
O hidróxido dissolvido garante a forte alcalinidade do interior do concreto, com pH > 12,5.

Se a peça de concreto não estiver totalmente mergulhada e m água, por suas superfícies
expostas ao ar penetrará o gás carbônico da atmosfera. Esse CO„ por difusão através do ar,
chegará até os poros úmidos que contêm o hidróxido dissolvido, dando-se então a reação de
carbonatação do hidróxido, como se mostra na figura (5.4-a).

A transformação do hidróxido e m carbonato é acompanhada pelo abaixamento do pH do


meio úmido interno.

Se for atingido um pH < 9, torna-se possível a dissolução da película passivadora de óxido de


ferro que reveste as barras de aço dentro do concreto. Com isso se dará a solubilizaçáo do ferro,
pela reação anódica Fe —• Fe" + 2e .

difus
atra

reaçao química
Ca(ÒH)2 + C0 2 C0 3 Ca+H 2 0
pH <9

poros contendo água

Figura (5.4-a)

De modo aproximado, em igualdade de demais condições ambientais, pode-se admitir que a


velocidade de crescimento da espessura da camada carbonatada vá diminuindo com o tempo.

Isso é conseqüência da própria reação química, pois a formação de carbonato de cálcio vai
colmatando os poros, dificultando assim a difusão do CO,.

De modo aproximado, em condições de perfeita integridade do concreto, pode-se estimar a


seguinte velocidade de carbonatação:

Profundidade de
Tempo e m
carbonatação e m
anos
centímetros
5
1,5 20
2,0 50
2,5 100
Verifica-se então que, em concretos não revestidos, mantidos em ambientes úmidos, para
se garantir a durabilidade da estrutura, não é possível aceitar que a camada de cobrimento das
armaduras tenha espessura efetiva inferior a 2,5 centímetros, mesmo com a hipótese de sua
perfeita integridade.

5.5 Corrosão por íons cloreto e por poluentes ambientais


Os íons cloreto, originários da água do mar ou de poluentes ambientais, também podem pe-
netrar no interior da massa de concreto, por difusão através da água contida em poros total ou
parcialmente saturados.

Esses íons têm a capacidade de dissolver a película protetora de oxido de ferro que reveste
as armaduras de aço dentro do concreto, provocando assim o início da reação anódica de solu-
bilização do Fc**.

O cálcio dissolvido na água dos poros tem certa capacidade de fixação de íons como o clore-
to. No entanto, essa capacidade é parcial, em virtude de um sistema em equilíbrio de íons livres
e íons fixados pelo cálcio em solução.

Existe, portanto, uma interação perniciosa entre a penetração dos íons cloreto ou outros íons
agressivos e a carbonatação, uma vez que, com a carbonatação, esses íons, que estavam fixados
na solução de hidróxido de cálcio, são novamente liberados.

A concentração de íons agressivos diminui à medida que penetra na massa de concreto. As


reações de hidrataçào do cimento que ocorrem durante o processo de maturação do concreto
diminuem a possibilidade de difusão de íons como os cloretos.

Em termos médios, pode-se admitir que a profundidade de penetração de íons cloreto, com
concentração superior à concentração crítica que permite a dissolução da película passivadora
da superfície das armaduras, tenha a mesma evolução que a da profundidade da carbonatação.

A corrosão da armadura na presença de íons agressivos dentro da massa de concreto é ba-


sicamente regida pelas mesmas reações anódica e catódica que ocorrem em meio alcalino na
presença de oxigênio e água.

O efeito da presença de íons agressivos é o de baixar o pil em pontos discretos da película


passivadora, destruindo-a totalmente. Nesses pontos, formam-se zonas anódicas de pequenas
dimensões, e o restante da armadura constitui uma enorme zona catódica, ocorrendo então
uma intensa corrosão nesses pontos anódicos; ver Figura (5.5-a).
Figura (5.5-a)

Os íons cloreto funcionam como catalizadores da reação de solubilização dos íons FeT+, mas
não são consumidos na reação, agravando-se cada vez mais a intensidade da corrosão.

Outros poluentes atmosféricos, que também contêm íons eletricamente negativos, como o
SOf e SO produzem efeitos análogos aos da presença dos íons cloreto, embora de forma não
tão concentrada e m pontos isolados quanto estes últimos. Estes outros poluentes são usualmen-
te formados pela queima de combustíveis derivados do petróleo e estão presentes na poluição
ambiental urbana.

Um processo altamente deletério é constituído por ciclos alternados de umidificaçáo e de


secagem por água com cloretos e demais poluentes eletricamente negativos.

Nos ciclos de umidificação, os cloretos penetram no concreto pela sucção capilar da água
depositada na superfície da peça. Nos ciclos de secagem, evapora-se apenas a água. Com isso,
e m ciclos sucessivos, a concentração de íons agressivos vai aumentando progressivamente,
agravando-se assim as condições de corrosão. Isto é o que ocorre nas regiões de borrifos da
água do mar.
Duas outras situações de risco existem na presença de íons cloreto. Uma delas pode ocor-
rer quando, inadvertidamente, se procura limpar as fachadas dos edifícios com o emprego do
chamado ácido muriático, que não passa do ácido clorídrico diluído. Ao se lançar o ácido na
argamassa de revestimento do concreto, ele penetra por capilaridade até a massa de concreto,
e somente se percebe sua ação quando as armaduras das peças estruturais da fachada do edi-
fício já entraram em franco processo de corrosão. O único remédio possível é descascar toda a
camada de cobrimento das armaduras, expondo o metal, jateando o metal "ao branco", e recon-
cretando a camada de cobrimento das armaduras. Infelizmente isto ocorre freqüentemente nas
grandes cidades.

A segunda situação ocorre quando o vento sopra sobre águas doradas como das piscinas
e a seguir incide sobre construções de concreto armado. O resultado é o mesmo que o acima
descrito.

5.6 Lixiviação do concreto


A lixiviação é o processo de perda de cálcio da massa de concreto em virtude da percolação
de água através de seu interior.

A lixiviação produz aumento da porosidade e diminuição do pH no interior do concreto.

Se a massa de concreto ficar permanentemente saturada, não haverá risco de corrcsào das
armaduras. Todavia, se ocorrerem períodos de secagem, a corrosão poderá ocorrer.

5.7 Influência da fissuração mecânica do concreto


A baixa resistência à tração do concreto faz com que no concreto armado comum, não pro-
tendido, seja necessário conviver com a fissuração das zonas tracionadas das peças estruturais.
No concreto protendido, modernamente também se aceita uma pequena possibilidade dessa
convivência em obras expostas a ambientes de baixa agressividade, tendo assim surgido o con-
creto parcialmente protendido.

O aparecimento das fissuras obviamente traz para as armaduras um risco de agressão maior
do que o naturalmente existente em virtude da porosidade do concreto da camada de cobrimen-
to. No entanto, é preciso distinguir a importância das fissuras perpendiculares às barras de aço
daquela das fissuras situadas ao longo das próprias barras de aço.
Figura (5.7-a)

Estudando a importância das fissuras transversais às barras de aço, durante muito tempo
buscou-se relacionar a intensidade da corrosão das armaduras apenas à abertura superficial das
fissuras.

As investigações realizadas, tanto com concreto armado quanto com concreto protendido,
mostraram resultados contraditórios. Elas geralmente consistiam em submeter as peças fissu-
radas a ciclos alternados de umidificaçào e secagem, usando águas com diferentes teores de
agentes agressivos.

Algumas experiências mostraram que as fissuras com aberturas maiores provocavam agrava-
mento da corrosão. Outras experiências mostraram que, pelo contrário, o nível de corrosão não
dependia da abertura das fissuras. Outros ainda mostraram maiores corrosões e m peças sem
físsuração nenhuma.
Dc modo análogo, a investigação sobre a influência do número de ciclos de abertura e fecha-
mento das fissuras também mostrou resultados contraditórios. Por vezes, a maior corrosão ocor-
ria com a repetição da abertura das fissuras. Em outros casos, a maior corrosão ocorria quando a
fissura se abria uma única vez.

A conclusão que se pode tirar das investigações já realizadas é a de que, com as aberturas
de fissuras usualmente permitidas pelos regulamentos normalizadores, é pequena a correlação
entre a intensidade da corrosão das armaduras e a abertura superficial das fissuras do concreto.
Todavia, fissuras com aberturas muito maiores que o permitido pelos regulamentos normaliza-
dores não devem existir nas estruturas.

É necessário salientar que no concreto armado comum admitem-se fissuras com aberturas
superficiais inferiores a 0,4 milímetro. Com fissuras dessa natureza, é provável que ela tenha
aberturas muito menores junto às barras da armadura. Observe-se que fissuras com aberturas
superficiais inferiores a 0,4 mm nào passam de riscos sobre a superfície de concreto, nos quais
apenas se podem identificar os dois lados da fissura. Quando a fissura apresenta abertura super-
ficial significativa, da ordem de 1 milímetro, isso significa que a armadura debaixo da fissura já
pode ter chegado ao escoamento.

A influência teórica das fissuras do concreto sobre os mecanismos de corrosão está mostrada
na Figura (5.7-a).

A abertura da fissura pode levar à despassivaçào local da armadura, com agravamento das
condições de carbonataçào e de impregnação do concreto por íons cloreto ou por outros po-
luentes, facilitando-se assim a formação de micropilhas eletrolíticas, se houver oxigeiação e
umidade suficientes. É importante salientar, particularmente para o concreto protendido, que
uma vez abertas aa fissuras com aberturas significativas, elas somente poderão ser obturadas
por meio de injeções de materiais adequados, pois o desengrenamento dos agregados no ato da
fissuração não poderá ser desfeito por posteriores forças de compressão. Esse desengreramento
nunca consegue ser desfeito.

Todavia, se nào houver umidade suficiente ou se a porosidade da camada de cobrimcnto for


baixa, não permitindo a formação das zonas catódicas, não haverá corrosão.

De maneira análoga, a ferrugem formada pelo primeiro ataque à armadura, e a sujeira que
se acumula dentro das fissuras, bem como o reinicio da hidrataçào de gràos de cimento even-
tualmente ainda não totalmente hidratados, expostos agora pela fratura do concreto, podem
eventualmente provocar a colmataçào das fissuras; ver Figura (5.7-b).
w (< 0,4 mm) —>• pequena influência
w
^ sujeira e ferrugem (colmatação)

fator A/C cobrimento c


adensamento Ni
cura permeabilidade grande influência

Importância das fissuras transversais

Figura (5.7-b)

As investigações modernas mostraram que fissuras transversais às armaduras, com aberturas


superficiais de até 0,4 mm, têm pequena influência sobre a corrosão das armaduras do concre-
to armado nào-protendido, quando o meio ambiente não for particularmente favorável a esse
ataque.

No concreto protendido, e m serviço normal, toleram-se apenas os estados de descompressão


e de formação de fissuras, ou eventualmente aberturas de até 0,2 mm apenas em ambientes
pouco agressivos. Essa condição pouco agressiva pode ser imaginada como sendo a existente
no interior das habitações, onde não se tem a presença de fontes de umidade para o concreto,
mas não parece aceitável no ambiente urbano das regiões metropolitanas em que há a forte
presença de agentes poluidores do ar.

Os estudos mostraram que os parâmetros que condicionam efetivamente a corrosão das


armaduras são a espessura da camada de cobrimento e a permeabilidade dessa camada. Essa
permeabilidade é condicionada essencialmente pelo fator água/cimento, pelas condições de
adensamento do concreto e pela cura realizada após a concretagem.

finalmente, deve-se assinalar que as fissuras longitudinais, que acompanham o andamento


das barras da armadura, são um sério indício de estruturas defeituosamente armadas. As fissuras
longitudinais não devem aparecer nas estruturas de concreto, pois elas expõem as armaduras ao
risco de corrosão progressiva muito intensa.
5.8 Corrosão sob tensão e fragilização por hidrogênio
A corrosão sob tensão é um fenômeno particular que pode ocorrer e m certos aços de proten-
são submetidos permanentemente a tensões elevadas.

Lm aços sensíveis a esse fenômeno, na presença de pequenas fissuras nos cristais do metal da
superfície da armadura, forma-se uma zona anódica muito localizada na raiz das fissuras. Esse fato
leva à ruptura progressiva da armadura caso tenha havido despassivação da superfície do metal.

A fragilização por hidrogênio é uma ruptura mecânica do aço por efeito da reação catódica,
que libera hidrogênio nascente quando ocorre despassivação da superfície do metal, e fica es-
tabelecida a reação eletrolítica.

O hidrogênio atômico penetra livremente na estrutura do aço. A recombinação molecular do


hidrogênio no interior do metal provoca o aparecimento de elevadas tensões internas que levam
à ruptura do aço.

O risco de fragilização por hidrogênio surge sempre que há uma reação catódica com li-
beração de hidrogênio. Exemplos de fragilização por hidrogênio têm ocorrido na presença de
enxofre, e pela reação eletroquímica do aço de protensão e m contato com o zinco das bainhas
galvanizadas, antes que elas sejam injetadas.

5.9 Comentários sobre as prescrições normalizadoras


De acordo com a Norma Brasileira NBR 6118", no projeto de estruturas de concreto devem
ser respeitadas as regras adiante apresentadas, referentes à proteção das armaduras contra a
corrosão.

A) Agressividade ambiental
No projeto das estruturas correntes, a agressividade ambiental pode ser avaliada simplifica-
damente, em função das condições de exposição da estrutura ou de suas partes, conforme as
regras da NBR 6118. A essas regras cabem os comentários aqui apresentados.

NBR 6118 - Item 6.4.2 - Tabela 6.1 (resumo)


Classe d e Tipo d e a m b i e n t e Risco d e
agressividade Agressividade para efeito d e projeto deterioração da
Ambiental estrutura
Rural Insignificante
I Fraca Submersa
II Moderada Urbana" 2 ' Pequeno
Marinha" Grande
lll Forte Industrial" 2 '
Muito forte Industrial"" Elevado
IV Respingos d e maré

""Permite considerar condições mais brandas em situações particulares de estruturas protegidas.


"Ambientes quimicamente agressivos.
A eslas regras da NBR 6118 cabe acrescentar o que já foi dito no item 5.5 desta publicação a
respeito do efeito pernicioso de ciclos alternados de umidificação e de secagem da superfície
das estruturas não-revestidas, na presença de poluentes ambientais que se acumulam nessas
superfícies. Isso é o que acontece nas grandes cidades onde os ciclos alternados de períodos
chuvosos e de períodos de tempo seco acarretam a progressiva penetração dos poluentes am-
bientais na massa de concreto. O estado de deterioração de muitas pontes e viadutos nos gran-
des centros urbanos é o resultado desse processo.

B) Controle de fissuração e proteção das armaduras

NBR 6118 - Item 13.4 - Tabela 13.3 (resumo)

Concreto Armado (não protendido)

Classe de agressividade Exigências referentes Combinação de ações


ambiental à fissuração e m serviço a utilizar
1 ELS-W » < 0,4 mm
II A III ELS-W \v< 0,3 mm Combinação freqüente

IV ELS-W w< 0,2 mm

As aberturas máximas vv ^ 0,4 mm permitidas para as fissuras na superfície das peças de


concreto armado comum são baseadas na hipótese de essas fissuras penetrarem na camada de
cobrimento da armadura, diminuindo sua abertura até ficarem fechadas junto às barras de aço
da armadura; ver Figura (5.9-a). Além disso, a Classe I de Agressividade Ambiental existe de fato
apenas no interior das habitações.

w ^ 0,4 mm
-1 h

77-

Figura (5.9-a)
É oportuno lembrar que a dimensão de 0,2 mm corresponde ao poder separador da visão
humana, ou seja, a visualização distinta de dois pontos afastados entre si somente é possível
com afastamentos maiores que 0,2 mm. Em uma linha riscada no papel, somente se consegue
distinguir um dos lados da linha do outro se ela tiver espessura maior que 0,2 mm.

Concreto Protendido
Nível de Tipo de Classe d e Exigências à Combinação de
protensão protensão agressividade fissu ração ações e m serviço a
ambiental utilizar
Protensào Pré-tração Somente 1 ELS-W Combinação
parcial" Pós-traçãoJ,b> Até 1 e II wk <0,2////// freqüente
Protensão Verificar as duas condições abaixo
limitada Pré-tração Até II ELS-F Comb. freqüente
Pós-t ração Até III e IV ELS-D Comb. quase perm.
Protensão Verificar as duas condições abaixo
completa Pré-tração Até III e IV ELSF Comb. rara
Pós-tração ELSD Comb. freqüente
" Na pós-tração, as bainhas constituem elemento protetor da armadura.
bl Nas peças com pré-tração, não se admite a existência de tração no plano da seção

transversal da peça, isto é, nào se admite a protensào parcial.

ELS-W: Estado limite de serviço - abertura de fissuras

ELS-F: Estado limite de serviço - formação de fissuras

ELS-D: Estado limite de serviço - descompressão

5.10 Questionário
1) Quais as causas usuais da corrosão das armaduras dentro do concreto?

2) Quais as duas condições ambientais necessárias para que haja corrosão das armaduras?

3) Qual o mecanismo básico de corrosão em meio ácido?

4) Qual o mecanismo básico de corrosão em meio alcalino?

5) Onde se dá o consumo do feiro poi efeito eletiolílico?

6) O que significa fragilização por hidrogênio?

7) Quais os mecanismos básicos de corrosão das armaduras dentro do concreto?

8) Por que não há corrosão significativa das armaduras das peças estruturais permanentemen-
te mergulhadas?

9) Qual a influência das fissuras mecânicas do concreto sobre a possível corrosão das arma-
duras?
10) Como se dá a carbonatação do concreto e qual a sua importância para a ccrrosão das
armaduras?

11) Qual a profundidade esperada para a carbonatação do concreto durante a vida útil usual
das estruturas?

12) Como se dá a agressão das armaduras pelos íons cloreto?

13) Qual a interação existente entre a carbonatação do concreto e a agressividade dos íons
cloreto?

14) Como se dá a agressão às armaduras pelos poluentes atmosféricos?

1 5 ) 0 que é corrosão sob tensão?


Segunda
Parte
Tópicos
referentes
à resistência
mecânica
do concreto
6. Resistência do concreto

6.1 Modos de ruptura

a) Compressão
Do ponto de vista de sua estrutura interna, o concreto pode ser imaginado como sendo cons-
tituído pelos grãos do agregado graúdo, embebidos e m uma matriz rígida de argamassa; ver
Figura (6.1-a).

Nos concretos de baixa ou média resistência, isto é, com resistências à compressão da ordem
de até 40 MPa, o mecanismo de ruptura ã compressão está mostrado nessa figura. A v c d a d e i r a
ruptura por compressão longitudinal do concreto ocorre por ruptura transversal de tração na
microestrutura.

RUPTURA DE CONCRETOS ATÉ DE MÉDIA RESISTÊNCIA


Uck <40
S MPa

Figura 6.1-a

Sendo os grãos do agregado graúdo mais rígidos e mais resistentes que a matriz de argamas-
sa, no entorno dos mesmos surgem tensões transversais de tração, perpendiculares ao campo
de compressão longitudinal aplicado externamente. O resultado é uma fissuração generalizada,
com fissuras orientadas segundo a direção do campo de compressão, com tendência ao esboro-
amento da estrutura interna do material.
Na ruptura macroscópica finai, o verdadeiro modo de ruptura ocorre com fraturas em planos
paralelos ao campo de compressão; ver Figura (6.1-b).

Quando se realiza o ensaio normal de compressão de corpos-de-prova, surge um falso modo


de ruptura, mostrado neste desenho. Esse falso modo, que aparenta ser uma ruptura por desli-
zamento, é conseqüência do confinamento provocado pelo atrito dos topos do corpo-de-prova
com os pratos da prensa de ensaio.

Nas peças estruturais em que ocorrem fenômenos de ruptura por compressão, a zona de
ruptura pode não estar confinada, como ocorre com as diagonais comprimidas das viças sujeitas
a forças cortantes elevadas. Essas rupturas freqüentemente simulam uma fissuração por tração
diagonal, embora na verdade sejam rupturas por compressão diagonal.

Em várias pesquisas realizadas no Laboratório de Estruturas e Materiais Estruturais da Escola


Politécnica da USP, pudemos mostrar que nos concretos de alta resistência há uma rrudança no
modo de ruptura por compressão, particularmente para valores superiores a 50 MPa, quando
então a matriz de argamassa vai se tornando cada vez mais resistente.

L l i i tV////////////A

t m
verdadeiro modo falso modo

RUPTURA POR COMPRESSÃO

Ruptura à compressão de concretos de baixa ou média resistência ftk < 40 MPa

Figura (6.1-b)

A partir do instante em que a matriz de argamassa se torna mais resistente que os grãos do
agregado graúdo, não ocorre mais o processo de microfissuração progressiva. A ruptura se dá
de modo explosivo, com fraluramento dos grãos de agregado graúdo por tração transversal na
microestrutura. O concreto passa a ser um material nitidamente frágil.

Nos concretos de altíssima resistência, com valores acima de 80 MPa, o fenômeno de ruptura
transversal do agregado já se dá até com os grãos de areia. O material passa então a ter um
comportamento extremamente frágil.
b) tração
O concreto é muito mais resistente à compressão que à tração. Nos concretos de baixa ou mé-
dia resistência, a ruptura ã tração se dá na matriz de argamassa. A superfície de fratura contorna
os grãos do agregado graúdo.

Nos concretos de alta resistência, a ruptura à tração se dá com tendência à superfície plana
de fratura, sendo cortados tanto a matriz de argamassa quanto os grãos de agregado graúdo.

Em qualquer caso, a ruptura se dá por separação de uma parte do concreto em relação ao


restante da peça, com tensões de tração da ordem de 1/10 do valor das tensões de compressão
que produzem a ruptura.

c) Estados múltiplos de tensão


Os modos de ruptura do concreto submetido a estados múltiplos de tensão diferem bastante
dos que ocorrem com os metais e com o aço em particular.

No caso dos materiais dúcteis, como os metais, a ruptura se dá por deslizamento. A estrutura
cristalina do material é menos resistente ao deslizamento que à separação. Com isso, a plasti-
ficação ocorre por efeito de tensões de cisalhamento. A própria ruptura final é essencialmente
comandada pela resistência do material ao cisalhamento.

No caso do concreto, o material é mais resistente ao cisalhamento que à separação. A baixa


resistência do concreto à tração faz com que, sob ação de estados múltiplos de tensões com
intensidades crescentes, o processo de fissuraçào por tração se instale prematuramente. Com
isso, os estados múltiplos de tensão no concreto íntegro tendem a evoluir para estados simples
de compressão no concreto fissurado, havendo necessidade de armaduras de aço para resistir
aos esforços de tração, sendo assim possível manter o equilíbrio global considerado.

6.2 Aleatoriedade da resistência do concreto


A dosagem dos concretos tem por objetivo fazer com que o concreto fabricado tenha uma de-
terminada resistência à compressão, mantendo-se uma trabalhabilidade adequada à moldagem
das peças estruturais para as quais foi imaginado.

Imediatamente após a mistura do cimento com a água, começam as reações químicas que
produzem o endurecimento do concreto. Durante cerca de 2 horas ele apresenta o comporta-
mento de um fluido viscoso. Depois desse prazo, o concreto começa apresentar uma significati-
va estrutura interna sólida, cuja resistência vai aumentando com o tempo.

Nem todas as porções do concreto fabricado têm, porém, exatamente a mesma resistência. A
efetiva resistência de cada uma das porções de concreto da estrutura vai depender dos materiais
empregados, das condições de sua mistura na betoneira e das condições de transporte, lança-
mento, adensamento e cura. A resistência do concreto é, portanto, uma propriedade que pode
variar em cada um dos lotes fabricados e em cada um dos pontos onde foi lançado.

A resistência do concreto de uma estrutura é, portanto, uma grandeza aleatória, com variabi-
lidade espacial.
Considerando que a resistência do concreto evolui com o tempo, ele também apresenta uma
variabilidade temporal.

Se o concreto destinado a uma parte da estrutura, embora todo ele fabricado para ter uma
determinada resistência fccípccjfíctld/ pudesse ser transformado em N corpos-de-prova que fossem
ensaiados à compressão, os valores x. obtidos teriam uma probabilidade de ocorrência determi-
nada pela sua distribuição de freqüências relativas, como a mostrada na Figura (6.2-a), que e m
princípio pode ser assimilada a uma distribuição teórica normal.

Amostra real de concreto


Distribuição da densidade de freqüência relativa p (x() das resistências x,

Figura (6.2-a)

Considerando todos os N valores da população real considerada, pode ser definida a resistên-
cia média à compressão da população

( 6 - "
2 1 )

11. =f — —L
' c cn>,[X>pulaç<io
n

e a variância da população

E O c - * / (6.2-2)
2
c, população
n

devendo ser observado que

N N N

Yl ( x
i -vc)2 T,(x2i - + t á j +
(7 2 = = = V(X?)+ ^
n n n
logo

a 2 = n ( x f ) - ( f i x ) 2 (6.2-3)

e o desvio-padrâo da resistência à compressão da população

N
X > c - x f . / (6.2-4)
(7
c,fx>/)ulaçJo
i 11

Se, ao invés das N resistências de todos os corpos-de-prova teoricamente possíveis, fossem


conhecidos apenas n valores correspondentes a uma amostra real, formada por uns poucos
corpos-de-prova, a média da amostra

(6.2-5)
x m =f ' cm „imo$tr<)
= —
n

e o desvio-padrão da amostra

52(xi-xm)2 (6.2-6)
'c,amostra
1 n-1

constituem estimativas dos correspondentes valores referentes à totalidade da população. Toda-


via, como é discutido adiante, embora a resistência média da amostra, fim imis!u, em geral, seja
uma estimativa satisfatória da resistência média da população, f . . , podendo-se substituir
uma pela outra, o desvio-padrão da amostra s _ dificilmente será uma estimativa suficiente-
((IT/IHJVUI

mente precisa do desvio-padrão da população O. ]VV,M:t<t, pois é pouco provável que se obtenha,
na 'prática, um valor n suficientemente grande,
r> ' antes que
1 se altere o valor de f ...
cmpopuuçjo
De qualquer modo, a justificativa para o denominador (n - 1) na estimativa do desvio-padrão
da população a partir dos dados de uma amostra é a seguinte. Considerando a Figura (6.2-a),
verifica-se que as expressões (6.2-1) e (6.2-4) indicam que o valor da média da amostra e o da
média da população são iguais à abscissa do centro de gravidade dessa figura, medida a partir
da origem do sistema de coordenadas. Não se emprega nenhuma correção nessa expressão,
porque a média da amostra é quase sempre uma excelente estimativa da média da população.
Observando ainda a mesma figura, verifica-se que a variância da população, dada por (6.2-2),
corresponde ao momento de inércia dessa figura, calculado em relação ao eixo baricêntrico da
população, e a expressão (6.2-4) fornece o valor do correspondente raio de giração.
Situação análoga ocorre com as expressões (6.2-5) e (6.2-6) referentes à amostra. O raio de
giração dado por (6.2-6) seria calculado em relação ao eixo baricêntrico da amostra, se no seu
denominador fosse empregado o número total n de elementos da amostra. Nesse caso, haveria
um erro sistemático, pois o que se quer é uma estimativa em relação ao eixo baricêntrico da
população.

Como o momento de inércia da amostra tem seu valor mínimo e m relação a seu próprio eixo
baricêntrico, ele é menor que o momento de inércia da amostra em relação ao eixo baricêntrico da
população. A análise desse problema mostrou que esse erro pode ser praticamente anulado se no
denominador da expressão referente à amostra for empregado o valor (n - 1) ao invés de (n).

Nos conceitos antes descritos, para evitar o conflito de simbologia que existe entre a repre-
sentação de dados estatísticos e representação de valores de resistência de materiais, os valores
individuais da resistência de cada corpo-de-prova foram indicados por x. e as freqüências por P
ou p. Quando não houver margem para dúvidas, as resistências serão indicadas pelo símbolo f.

A variabilidade da resistência à compressão do concreto é um tema bastante investigado,


havendo um grande número de publicações a esse respeito' 2 . Entre nós o tema já vem sendo
investigado há bastante tempo 11 ' 4 .

Na Figura (6.2-b) estão mostrados esquematicamente os resultados de um inquérito interna-


cional referente a mais de 800 obras, com amostras variando de n = 20 a n = J.000exemplares , s .
As distribuições de freqüências puderam ser assimiladas, em todos os casos, a distribuições
gaussianas.

' " s c (MPa) DESVIO-PADRÃO


5,0 MPa

10
8

2
MPa

10 20 30 40 50 60 70 80

RESISTÊNCIA CÚBICA M É D I A

Figura (6.2-b) - Esquemática

Nessa investigação, foram observados desvios-padrão s. variando de 1,0 a 10,0 MPa, com o
valor médio da ordem de 5,0 MPa. Com os concretos de baixa resistência, o desvio-padrão médio
cresce de forma aproximadamente linear com resistência média. Nesse caso, a variabilidade da
resistência do concreto pode ser medida pelo coeficiente de variação ô ( = g c / \ i c . Todavia, com
os concretos de alta resistência, o desvio-padrão parece ser independente da resistência média,
devendo sua variabilidade ser medida diretamente pelo desvio-padrão.
6.3 Resistência característica do concreto ensaiado
Imaginando-se como conhecidos os reais valores da resistência media fim c do desvio-padrão 0
de um lote de concreto, a sua resistência dc referencia é o valor característico fckda resistência à
compressão, definido pela expressão

L = L - 1 6 4 5 a c

Esse valor corresponde ao quantil de 5% da distribuição de resistências, ou seja, ao


valor fíkjnf = fc005 que tem apenas 5% de probabilidade de ser ultrapassado no sentido des-
favorável das menores resistências; ver Figura (6.2-a).

A resistência característica assim definida é, de fato, a resistência característica inferior, pois


pertence à cauda inferior da distribuição de probabilidades de ocorrência. Esse é quase sempre
o valor que interessa à segurança das estruturas, pois o risco de danos estruturais quase sempre
está associado à diminuição da resistência dos materiais.

Quando nada for dito sobre a probabilidade da ocorrência associada à resistência caracterís-
tica do concreto, entende-se que seja:

= =
fck 1'ck,inf ^c0,05

O emprego do valor característico inferior, como o valor de referência para a especificação


das resistências dos materiais, decorre do fato de que a dispersão dos valores da resistência no
entorno da média é muito maior que no entorno do quantil de 5%.

Com a adoção de f<r os coeficientes de segurança referentes à resistência dos materiais são
números suficientemente pequenos para permitir uma análise crítica eficiente dos valores ado-
tados.

O emprego de resistências médias como valores de referência, em igualdade de probabili-


dade de ruptura, exige coeficientes de segurança muito maiores. Com isso, tem-se uma falsa
sensação de segurança, que pode levar até a um tratamento displicente dos problemas de di-
mensionamento.

Quando o número de ensaios de um material estrutural é muito pequeno em relação à varia-


bilidade de sua resistência, não há alternativa senão tomar a resistência média como valor de
referência. Isso foi feito durante muito tempo para o projeto de estruturas de concreto, e ainda
é a situação usual existente, por exemplo, na Mecânica dos Solos e na Mecânica das Rochas.

No caso do concreto armado, em certas ocasiões, a falta de segurança pode decorrer de um


excesso de resistência e não de sua falta. Isso é o que ocorre, por exemplo, na determinação
das armaduras mínimas das peças estruturais.

O que se pretende, ao ser especificada certa armadura mínima, é que o aço existente na es-
trutura tenha resistência suficiente para suportar as tensões de tração que são liberadas do con-
creto quando este sofre fissuração. Neste caso, o perigo consiste em se construírem peças que
cheguem à ruptura quando o concreto sofre uma simples fissuração. Esse perigo decorre
de se subestimar a resistência à tração do concreto. Nesse caso, emprega-se a resistência
média f .
Ctm

6.4 Resistência característica do concreto da estrutura


A resistência ã compressão, que é a propriedade mais representativa da qualidade do con-
creto, é medida por meio de um ensaio padronizado de curta duração, empregando-se corpos-
de-prova cilíndricos, de 15 cm de diâmetro e 30 cm de altura. O ensaio deve ser realizado aos
28 dias de idade. Esses valores, representados pelos símbolos fci28, são sintetizados pelo valor
característico ( ,, que constitui a referência para todas as decisões de projeto relativas à resistên-
cia do concreto, pelas razões que são discutidas no capítulo 9.

Após os 28 dias de idade, a resistência do concreto continua a aumentar. Até a hidratação


total do cimento, esse aumento é no mínimo da ordem de 20% a 25%. A resistência do concreto
com 1 ano de idade, obtida em ensaios de curta duração de corpos-de-prova, pode então ser
admitida, a favor da segurança, com o valor fcJ0S = 1,20fc28.

Por outro lado, sob a ação de cargas de longa duração, a resistência do concreto é significa-
tivamente menor que aquela obtida no ensaio padronizado de controle da resistência, cuja du-
ração é de apenas uns poucos minutos. É importante salientar que a permanência de cargas por
apenas umas poucas semanas já é suficiente para provocar a maior parte dessa perda de resis-
tência. Os estudos experimentais mostrados no capítulo 9 indicam que essa perda de resistência
é da ordem de 25%, independentemente da idade do concreto no instante do seu carregamento
e da qualidade do concreto, definida pela resistência obtida no ensaio de curta duração. Desse
modo, se forem realizados ensaios lentos, cujas rupturas ocorram aos 28 ou 365 de idade, serão
obtidos os valores 0,75f(2li ou 0,75fc}oy correspondentes aos ensaios rápidos realizados aos 28 ou
aos 365 dias, respectivamente.

Tendo em vista avaliar a resistência do concreto da estrutura, é preciso considerar que no


ensaio padronizado existe uma importante influência do atrito dos pratos da prensa com os to-
pos do corpo-de-prova nos resultados fn. Por meio de ensaios de corpos-de-prova mais longos,
cujas resistências podem ser assimiladas à do concreto da estrutura, conclui-se que no ensaio
de corpos-de-prova cilíndricos de 15 x 30 centímetros existe um aumento aparente da resistência
de cerca de 5%. Admite-se, portanto, que a verdadeira resistência do concreto da estrutura seja
de apenas 0,95f(.

Desse modo, mesmo imaginando que o carregamento previsto para a construção somente
possa atuar quando o concreto tiver um ano de idade, como esse carregamento sempre poderá
permanecer atuando durante um tempo suficientemente longo, para efeito de verificação da
segurança da estrutura, a resistência à compressão do concreto da estrutura deverá ser admitida
com o valor:

^c,estrutura ~ ~ 2 x 0 , 7 5 x 0 , 95 fc,corpo-de-prova ~ ® ' corpo-de-prova aos 28 dias de idade

já se considerando assim o acréscimo de resistência que o concreto sofre após os 28 dias de


idade. É por esta razão que a resistência do concreto sempre deve ser especificada para a idade
de 28 dias, independentemente de quando a estrutura entrará efetivamente em carga.
6.5 Resistência de cálculo
Em uma peça estrutural, se ocorrer a ruptura de uma parte do concreto, a maior probabilidade
de que isto aconteça existe em seus trechos menos resistentes.

Não é certo, porém, que a ruptura ocorra necessariamente na fração menos resistente de
concreto, pois a ruptura também depende das solicitações atuantes.

A situação de maior risco existirá quando as solicitações máximas atuarem nos trechos de
concreto com resistências mínimas.

A segurança das estruturas em relação a estados-limite últimos sempre deverá considerar


esta hipótese pessimista. É com ela que se especifica a probabilidade aceitável para a ruína das
estruturas que devem ser consideradas como seguras.

O nível de probabilidade de ruína que existiria nas estruturas, se fosse aceita a possibilida-
de de ruptura das peças com resistências iguais ao seu valor característico inferior, ainda seria
inadmissível.

O número de ruínas que de fato aconteceriam, se essa hipótese fosse aceita, levaria ao cla-
mor público.

A hipótese de que nas estruturas possa ocorrer realmente a ruptura do concreto somente é
aceita com probabilidades muito menores do que 5%.

A ruptura do concreto das peças estruturais é aceita quando, na seção mais solicitada, a resis-
tência corresponder ao valor de cálculo f (desiÇn) definido por:

r _ L
' cd ~
7c

onde X é o coeficiente de minoração da resistência do concreto. O valor da resistência de cálcu-


lo corresponde, aproximadamente, ao quantil de 0,5% da distribuição de resistências co mate-
rial. Os valores básicos de ye especificados pela NBR 6118'6 têm um valor médio da orden de:

7 c =1>4

Na verdade, em face do que Já foi visto, tanto em relação ao crescimento da resistência


quanto em relação às cargas de longa duração, e também quanto à maneira convencional de se
ensaiar o concreto, admite-se que nas seções transversais das peças estruturais o valor mínimo
da tensão de compressão efetiva que pode produzir o estado-limite último seja

acrl = 0,85f.cd
com

£ _ fçk,28
cci —
7c

Esse valor corresponde aproximadamente a uma probabilidade de 5/1.000 de que ele possa
ser ultrapassado no sentido desfavorável.

Quando se faz o dimensionamento das estruturas, adotando para o concreto a sua resistên-
cia de cálculo, isso corresponde a se admitir a existência de no máximo 5/1.000 do volume de
concreto com resistência inferior a esse valor far A hipótese de segurança consiste em se admitir
que essa fração menos resistente possa estar localizada nas seções mais solicitadas da estrutura.
Por essa razão, a ruptura dessas seções não pode ocorrer com cargas de serviço, pois seria muito
grande a efetiva probabilidade de ruína. A ruptura dessas seções somente poderá ocorrer com
cargas maiores que as de serviço, de modo a se garantir uma probabilidade de ruína aceitável.

Embora ao valor global de y ( tenha sido dada uma interpretação probabilística, pela trans-
formação do quantil fc00} no quantil f(0fí0y na verdade esse coeficiente de minoração pode ser
interpretado como resultante do produto de 3 outros coeficientes:

7 c ~~ 7 C P 7 C 2 * 7 C J

sendo:

Y,, = coeficiente parcial que considera a efetiva aleatoriedade das resistências, levando em
conta a possível existência de frações de concreto com resistências menores que f(k

Y , - coeficiente parcial que considera o fato de serem diferentes os processos de moldagem,


adensamento e cura do concreto da estrutura e dos corpos-de-prova de controle da resistência;

Y , = coeficiente parcial que leva em conta possíveis defeitos localizados de concretagem e


possíveis imperfeições do método de avaliação da resistência da peça estrutural em função da
resistência do concreto, ou seja, este coeficiente leva em conta tudo que não foi considerado
de outra forma.

6.6 Resistência à tração


Os ensaios para a determinação direta da resistência do concreto à tração axial fa são de difícil
execução. As dificuldades decorrem de problemas de fixação do corpo-de-prova à máquina de
ensaio para que a ruptura não ocorra por influência das garras de fixação.

Várias alternativas foram propostas. De modo geral, admite-se o ensaio de ruptura por tração
na flexão de corpos-de-prova de concreto simples'7 e o ensaio de ruptura indireta per compres-
são diametral18 de cilindros iguais aos usados no ensaio de compressão.
Tradicionalmente, as Normas Brasileiras admitem relações fixas entre as resistências do con-
creto à tração e à compressão. A NBR 6118 adota os valores seguintes:

f _ n of2A

=
^ctk,inf 7fct.n

f'clk,$up =1 3fct.m

6.7 Resistência em estados múltiplos de tensão


O maior interesse a respeito da resistência do concreto submetido a estados múltiplos de ten-
são reside no caso de peças delgadas, como vigas, chapas e cascas. Nessas peças, os estados de
tensão de interesse podem ser assimilados a estados planos, pois sempre existe um dos planos
principais com tensão nula, porquanto sempre há um plano principal paralelo ou coincidente
com a superfície livre da peça.

Quando essa tensão nula ê uma das tensões principais extremas do estado triplo, as resis-
tências se aproximam dos valores relativos aos estados simples correspondentes. Dos resultados
experimentais obtidos por Nelissen19 e Kupfer, Hilsdorf e Rusch20, conclui-se que, na região tra-
ção-tração, isto é, quando o { = 0, a resistência do concreto é praticamente igual a sua resistência
à tração simples, e na região compressão-compressão, isto é, quando o ; = 0, há um pequeno
aumento da resistência em relação ao valor correspondente à compressão simples.

Na região tração-compressão, isto é, quando a tensão principal nula é a tensão intermediária


C , = 0, a ruptura é predominantemente por tração. A excessiva variabilidade dos resultados torna
pouco confiáveis as previsões de fissuração do concreto nessas condições.

6.8 Resistência de dosagem


O conceito de resistência de dosagem do concreto surgiu como necessidade de se evitar a
fabricação de concretos deficientes no início da obra.

Em princípio, esse conceito se aplica quando o concreto é produzido na própria obra que se
inicia e a instalação de produção desse concreto ainda não teve sua variabilidade controlada.
Iloje em dia essa situação somente existe em obras situadas longe de usinas centrais de forne-
cimento de concreto pronto.

Sendo um valor provisório, a resistência de dosagem deve ser empregada exclusivamente


até que o número de resultados dos corpos-de-prova de controle comece a ser significativo e o
controle por lotes possa ser estabelecido sistematicamente.

A resistência de dosagem constitui, portanto, um valor intencionalmente exagerado. Com


ele, evita-se que as peças estruturais da fundação sejam feitas com resistências deficientes,
acarretando transtornos muito grandes para o prosseguimento da obra.
Com essa finalidade, antigamente se empregava o conceito de "padrão de qualidade da obra"
para a estimativa do desvio-padrão de dosagem s,, com o qual se determinava a resistência mé-
dia de dosagem foi/ em função do valor especificado para a resistência característica.

Desse modo, a resistência média de dosagem deveria ser adotada com o valor:

fcm=fck.esp+h65Sd

onde o desvio-padrão de dosagem s(l era considerado com os valores decorrentes do conhe-
cimento empírico que se tinha sobre a variabilidade dos resultados obtidos com a instalação
produtora de concreto empregada.

A experiência construtiva com concretos até da classe C40 mostrou que são satisfatórios os
valores prescritos pela NBR 12655", em função das condições de preparo do concreto.

A NBR 12655 considera três condições de preparo do concreto. A condição A (aplicável às


classes CIO até C80) exige que o cimento e os agregados sejam medidos em massa, a água de
amassamento seja medida em massa ou volume com dispositivo dosador e corrigida em funçào
da umidade dos agregados. A condição B (aplicável às classes CIO até C25) e a condição C (apli-
cável às classes CIO até C20) impõem exigências mais tolerantes na determinação das quantida-
des de materiais.

De qualquer maneira, essa norma admite duas possibilidades distintas para a escolha do va-
lor de s j uma para quando se admite conhecido o desvio-padrão s, e outra para quando ele é
considerado desconhecido.

Para efeito de dosagem, a NBR 12655 permite considerar conhecido o valor numérico do
desvio-padrào quando ele for fixado a partir de no mínimo 20 resultados consecutivos, obtidos
no intervalo de 30 dias em sistemas produtivos estáveis, em período imediatamente anterior,
não permitindo a adoção de valor menor que 2 MPa.

Quando o desvio-padrào for considerado desconhecido, no início da obra, para efeito de do-
sagem do concreto, o desvio-padrão s, pode ser adotado para as condições de preparo A - B - C
com os valores de 4,0 - 5,5 - 7,0 , respectivamente.

6.9 Questionário
1) Qual o modelo constitutivo adotado para a estrutura interna do concreto?

2) Qual o mecanismo de ruptura à compressão dos concretos de baixa ou média resistência?

3) Qual o real modo de ruptura macroscópica do concreto por compressão?

4) Como se explica o modo de ruptura usual apresentado pelos corpos-de-prova de concreto


no ensaio de compressão?

5) Qual o modo de ruptura à compressão dos concretos de alta resistência?

6) Qual o modo de ruptura à traçào do concreto simples?


7) Como evolui a ruptura do concreto sob estados múltiplos de tensão nas peças estruturais
de concreto armado?

8) Qual é o valor básico de referência da resistência do concreto armado à compressão?

9) Qual o aumento que se pode esperar para a resistência do concreto após 1 ano de idade?

10) Qual o efeito das cargas de longa duração sobre a resistência do concreto?

11) Qual a duração da carga que já produz os efeitos de longa duração?

12) Em igualdade de outras condições, qual a diferença de resistência do concreto da estrutu-


ra em relação ao concreto dos corpos-de-prova de controle?

13) Qual o valor da resistência do concreto a ser adotado no cálculo estrutural em função do
valor básico de referência adotado?

14) Definir a resistência característica de concreto?

15) Definir os valores f k l n í e f íksup .

16) Definir a resistência de cálculo do concreto.

17) Que interpretação probabilística pode ser dada ao valor f d .

18) Qual a estrutura do coeficiente de y ?

19) Qual a função dos coeficientes y , , y 2 e y ( ?

20) Quais as relações usuais entre a resistência característica à tração e a resistência caracte-
rística à compressão do concreto?

21) Qual o método de ensaio usual para a determinação da resistência à tração do concreto?

22) O que significa a resistência à tração na flexão do concreto?

23) Quais as relações usuais admitidas entre f ( l m e f ?

24) Como variam os modos de ruptura do concreto em estados planos de tensão?

25) Descrever a resistência do concreto em estados planos de tensão.

26) O que é resistência de dosagem do concreto?


7. Processos de produção das estruturas de concreto

7.1 Processos aleatórios


Para enlender o controle dos processos de produção das estruturas de concreto, considere-se
inicialmente o processo de produção do material concreto.

Para ilustrar a análise do processo de produção do concreto, admita-se que todo o material
elaborado em um ciclo de produção seja transformado em corpos-de-prova, e que eles sejam
submetidos ao ensaio de compressão simples.

De cada um dos m ciclos de produção, constituídos por uma única amassada elaborada em
cada instante t, sendo o índice j (j = 1 a m) o número de ordem da amassada, resultam n valores
x.(t); ver Figura (7.1-a).

X|(tj) = fCc,i

Nesse processo, em cada ciclo j é obtido um conjunto de n resultados X. dos corpos-de-prova


ensaiados, sendo o índice i(i = 1 a n) igual ao número de ordem de moldagem e ensaio de cada
um desses corpos-de-prova.

Desse modo, considerando todos os m instantes obtém-se um conjunto de n funções


Xr(t.), cujas propriedades estatísticas caracterizam o processo de produção.

Os processos desta natureza são chamados processos aleatórios ou estocásticos. Quando se


lida com a aleatoriedade das medidas dos fenômenos naturais, é preciso reconhecer quando se
trata de uma variável aleatória ou de um processo aleatório.
Sendo a resistência à compressão uma variável aleatória contínua, isto é, uma variável medida
no campo dos números reais, e sendo o processo de produção feito em tempos t. discretos, o
processo de produção do concreto corresponde a um processo aleatório contínuo de parâmetro
discreto.

As propriedades estatísticas desses processos aleatórios podem ser definidas tanto dentro
de um dado ciclo particular j de produção, em função dos n valores XfíJ obtidos nesse ciclo, ou
então, definidas a partir do conjunto de m resultados obtidos nos diferentes ciclos /', referentes,
em todos eles, ao corpo-de-prova com o mesmo número /de ordem de moldagem e ensaio". Em
princípio, o corpo-de-prova de ordem de moldagem i = 1 pode ser considerado como amostra
do ciclo considerado.

Considerando um dado ciclo j de produção, podem ser definidas certas funções cpA [X.(ÜJ,
(k = 1 a p), calculando-se os correspondentes valores médios IX.ftJI, dados por

_ i 1 (7.1-1
n

Observe-se que as funções [X.(Ü] são escolhidas em função dos objetivos do estudo con-
siderado. Assim, por exemplo, podem ser escolhidas as funções seguintes:

V?7 X J t ^ X , ^ )

<p2 X.(tL)\ = Xf(tL)

Nos processos de produção dos materiais estruturais, são de interesse duas funções:

1) Xi(tj) =Xl(t / ) (7.1-2)

cujo valor médio em cada instante t = f. vale

, £ W
W ] = — = /< x,(tL)\ = f<jtL) (7.1-3)

E W
i-i
2) X J t ^ X f t t j , ) - (7.1-4)
n
cujo valor médio em cada instante t = t vale

i x ? ( t , ) i x f ( t i )
i=l i=l = O
V2 X:
n n

tendo em vista que, conforme mostrado pela expressão (6,2-3),

Var(x) = E [ ( X - fix)2] = E(X2) - [E(X)f

uma vez que

t w
— = ft\xi(tL)\ = ft.JtL)

é um valor constante, resultando então que (p, [X. tyj é a variância dos valores X. ^correspon-
dentes a t = t.

Quando (p, /X; (t) = JI v (tj for um valor constante, independentemente de t = f, diz-se que
o processo é estacíonário em relação à sua média. Quando (p, [X. (tfl = a 2 v (tj for um valor
constante, independentemente de t = tjt diz-se que o processo é estacionário em relação à sua
variância.

Além das funções Cp, [X. (tj], para a caracterização probabilística do processo aleatório, em
certos casos também devem ser consideradas funções do tipo

x;]/ lk=up),

que consideram as relações existentes entre os pares de valores obtidos pela mesma função
em dois ciclos diferentes de produção.

Observe-se que as funções <pt IX. (t.)] dependem apenas dos valores X.(tJ no instante r, en-

quanto as funções ipk Xj(t -j ),X.(t - +1) dependem simultaneamente dos valores X.{tf do ciclo

t. correspondente a j - valor fixo, e dos valores Xft.+Z) do ciclo t.+T definido pela variável T.

Para o estudo dos processos de produção, são de interesse as funções

X,.<V,X / a.+1) = X i ( t j ) . X i ( t i + T ) (7.1-6)


E w
$2\xl(tl),xl(tl+ x)\ = X,(tL+ X) (7.1-7)
n n

cujos valores médios são dados por

(7.1-8)

Ê { [ W - f t , M - X/t, +r)-,lJti+X)\}
+ x)\ = (7.1-9)

isto é

jrXJtp.X^+T) ,,Jt, +T)YlXi(ti) + » J t i ) £ x i ( t i + T)


ip2\x,(ti),xí(ti + x)\ = J=L M —ti

£ v j t i ^ j t t + x )
i=l
n

resultando

i>2 Xi(ti),Xi(ti + x) =i>, Xi(ti),Xi(tj +X)\-nJtl).fiJtl+X) (7.1-10)

Além disso, a expressão (7.1-9) também pode ser posta sob a forma

] = ,<{ {xi(tL)-,lJti)\.\xi(tl +x)-,lJti +xj]}

que pode ser escrita

l>2\X{tL),X,(tL+x)\ = E{ [xi(ti)-,iJtL)\\xi(ti+x)-,,.Jti+x)\}
ou seja, obtém-se a Função de Covariância

[xi(tL)/xi(tl + xjJ = Cov[xi(tl)/xi(tl + x)\ (7.1-11

7.2 Autocorrelação e autocovaríância


Do estudo anterior dos processos estocásticos gerais, uma vez definidas as funções X.(t), as
expressões de e definem as seguintes funções de t| e X:

Função de Autocorrelação:

Kt(tifx) = K, [tjAtj + x)\ = $ [XJtghXJt, + xj] (7.2-1)

A função de autocorrelação KJt^t.+X)] determina a média dos produtos dos n pares


X.(t.).Xj(t.+T) correspondentes aos m e s m o s índices /', de 1 a n. Um valor alto dessa m é d i a
mostra que os valores altos de X / Ç correspondem a valores t a m b é m altos de X.ff.+Xj. U m
valor baixo dessa média mostra que valores altos de X.(t) correspondem a valores baixos
de Xft+T).

Assim, um alto valor de KJt^t+V] diz que, para o mesmo índice /', o processo de amostragem
e m (t+T) continua com as mesmas características que tinha no instante L Os valores de X. e m
diferentes instantes estão fortemente correlacionados.

Assim, se X i = X «r/rxw.i
i u ( = X «i, os valores de X J(t)/ e de
rf X (t.+T)
/ não podem ser considerados como
valores aleatórios independentes um do outro para qualquer valor de X; ver Figura (7.2-a). Essa
independência somente existe quando o afastamento X for suficientemente grande.
Este problema é particularmente importante quando se extraem testemunhos do concreto
de uma estrutura existente. Para que os diferentes testemunhos possam compor uma amostra
aleatória do concreto da estrutura, eles devem ser extraídos com afastamentos X uns dos outros,
sendo os valores de x suficientes para que desapareça a possível correlação entre eles, como
será visto adiante. Assim, por exemplo, as investigações já citadas de Rackwitz mostraram que,
no caso de pilares e paredes, um afastamento de 2 a 3 metros pode ser suficiente para amorte-
cer significativamente a correlação das resistências de testemunhos extraídos da estrutura.
Figura (7.2-a)

A função de aulocorrelação mostra a correlação existente no processo em função dos pró-


prios valores das variáveis estudadas. Isso dificulta a generalização dos raciocínios, pois o valor
da função de correlação depende das dimensões e das unidades empregadas no e s t j d o das
variáveis e m consideração. Para contornar essa dificuldade será empregada a função de autoco-
variância, que permite a formulação de uma solução adimensional.

Função de Autocovariância:

K2(tj,T) = K^tj/ti+x)] = ^[X^hX^+x)] (7.2-2)

A função de autocovariância mostra a relação dos valores das varlânclas de um mesmo pro-
cesso, considerando dois ciclos diferentes de produção, um deles realizado no instante ( e o
outro no instante (t+X).

De forma semelhante ao que faz a função de autocorrelação, a função de autocovariância


calcula a média dos n produtos Xi(tj) — /.iJtj)^Xi(tj + x) — fix(tj +T,)] dos afastamentos
em relação à própria média das variáveis X., no instante t. e no instante t+x. Como os afastamen-
tos podem ser positivos ou negativos, altos valores absolutos podem indicar altas correlações de
afastamentos positivos ou negativos.
A função KJt^t+x)] mostra qual a relação entre as dispersões dos valores X. nesses dois
ciclos. Um alto valor de KJt^t+X)] diz que altas dispersões em t correspondem a valores altos
também em (t+X), ou seja, o processo de produção apresenta uma alta correlação de dispersões
entre os dois ciclos de produção considerados.

Nos processos aleatórios em que as variáveis X não são funções periódicas do parâmetro f,
verifica-se experimentalmente" que as funções de autocorrelação e de autocovariância^/^Tj e
KJt^T), tendem a zero quando cresce o valor de T. Isto significa que mesmo que haja correlação
entre as variáveis X/tJ e X/r,TÀ quando é aumentada a distância entre t e t+T, essa correlação
tende a desaparecer, como mostrado na Figura (7.2-b).

Figura (7.2-b)

7.3 Processos estacionários


Como foi visto anteriormente, nos processos estocásticos gerais, não-estacionários, tanto a
média <pt = fi Xt(tj) = fix(tquanto a variância y?2 = X , ( t j ) =cr^(t^ podem ter valo-
res diversos em diferentes instantes t = tf

Por outro lado, tanto a função de autocorrelação

Ki(tjrx) = % \xi(ti),xi(ti + x)] = ^


quanto a função de autocovariância

K2(tf,T) = /i {[x,<y-ftjt,i\\xi(tl+xj-(ijt, + x;]|= ),xi(t[+x;]

têm valores que dependem do instante inicial t=t escolhido, e do afastamento X entre os dois
instantes considerados, como ilustrado pela Figura (7.2-a).

Para certos processos particulares, ditos estacionários, a média e a variância independem do


valor de tf de tal forma que os valores correspondentes a t são os mesmos que os correspon-
dentes a qualquer outro instante t.+T.

De qualquer modo, considerando dois conjuntos de valores X/Ç e X.(t.+T) retirados de um


processo aleatório admitido como estacionário, isso não significa que os valores de Xfl^ e Xfl.+T)
devam ser próximos uns dos outros para qualquer X, como ilustrado pela Figura (7.3-a), que é
equivalente à Figura (7.2-a) correspondente aos processos nào-estacionários.
A experiência mostra, portanto, que mesmo com processos estacionários, existem valores li-
mites T / m dos afastamentos X do parâmetro t, além dos quais praticamente se anulam as funções
de autocorrelaçào e de autocovariância.

Na Figura (7.2-b) estão ilustradas as possíveis relações existentes entre os valores das funções
X e m dois ciclos diferentes de produção, correspondentes aos instantes fixos t.e t+T. Observe-se
que, quando T —• 0 , os valores de X nos dois instantes considerados são sempre próximos uns
dos outros, ou seja, quando um deles é um valor alto ou baixo, o mesmo ocorre com o outro.
Pelo contrário, quando T —>00, perde-se a correlação entre os valores correspondentes aos dois
instantes considerados. Esse fato ocorre mesmo com processos estocásticos estacionários em
relação à média e em relação à variância.

Função Coeficiente de Correlação:


Nos processos de produção que de modo gerai podem ser admitidos como estacionários,
em1 lugar da função de autocovariância K,(tf'l), considera-se a Função Coeficiente de Correlação,
definida por

&M
Em conseqüência das propriedades da função K2(tf 1), também a função coeficiente de corre-
lação tende a zero para T >T/ >n. Por outro lado, de acordo com (7.1-9), quando T 0,

T-»0

logo

R(t-+0) = 1 (7.3-3)

7.4 Processos ergódicos


Admita-se agora que, além de estacionário, o processo estocástico também seja ergódico,
isto é, submetido às seguintes restrições:

a) Considerando os diferentes valores ao longo do tempo, as propriedades estatíslicas são as


mesmas para todas as variáveis X.,sendo (i = 1, 2 , n ) .

b) As propriedades estatísticas definidas pelas médias (p, e das funções <pfc e corres-
pondentes a um instante t qualquer, são equivalentes às propriedades estatísticas homó-
logas calculadas a partir de diferentes valores, ao longo do tempo, de qualquer uma das
variáveis X., sendo (i = 1, 2 , n ) .
De acordo com a restrição (a), nos processos ergódicos, têm-se:

Admita-se que uma das funções X. seja considerada como função-amostra dos valores das
demais. Essa função será indicada por Xi>.

A título de exemplo, pode-se admitir X =X ; , isto é, a função-amostra é constituída de conjun-


tos dos primeiros valores produzidos em cada um dos instantes L

De acordo com a restrição (b), têm-se:

ou seja, a média e a variância temporal da função X , considerada como função-amostra, são


respectivamente iguais à média e à variância espacial dos valores produzidos em qualquer ins-
tante L
\

Observe-se que o simples fato de o processo ser estacionário não implica também que
ele seja ergódico. Como exemplo da veracidade desta afirmativa, tem-se o processo em que
X., = k., (i =1, 2, n), onde k. são valores constantes. Neste caso.

v /
l ' > m m

enquanto

n n

í M

Na realidade dos processos de produção, a existência efetiva de condições para a adoção da


hipótese ergódica pode ser intuída, mas dificilmente pode ser comprovada. A comprovação de-
mandaria um extenso trabalho de verificação da manutenção da validade da hipótese ergódica
ao longo do desenvolvimento do processo de produção. Essa verificação deveria ser realizada
durante os restritos intervalos de tempo em que o processo pudesse ser considerado estacioná-
rio. Desse modo, na vida prática, normalmente é controlada apenas a validade da hipótese de
que o processo seja estacionário, admitindo-se a validade da hipótese ergódica enquanto ela
não levar a resultados inconsistentes com sua adoção.
É importante assinalar que, sem a hipótese ergódica, não seria possível o controle da resistên-
cia do concreto das estruturas como ele é correntemente feito, por meio de amostras compostas
por corpos-de-prova moldados em diferentes instantes t. da produção da estrutura.

Do ponto de vista da segurança das estruturas, o que efetivamente se procura controlar é


a resistência do concreto já incorporado às estruturas. Esse controle, em princípio, deveria ser
realizado por meio do controle das propriedades estatísticas do concreto produzido em cada
ciclo de produção. Do ponto de vista estatístico, isso significa que em cada ciclo deveriam ser
conhecidos os n resultados Xft). É claro que isto é impossível. O concreto é produzido para a
construção da estrutura e não para ser rompido em corpos-de-prova. Desse modo, não há como
se conhecer diretamente a variabilidade espacial que existe dentro de cada parte da estrutura
construída com o concreto produzido em cada ciclo de produção. O que se pode conhecer do
concreto produzido em cada ciclo é, no máximo, a resistência de uma simples amostra, cons-
tituída por um exemplar composto por um par de corpos-de-prova, dos quais é considerado
apenas um único valor X(t^.

Nessas circunstâncias, é a hipótese ergódica que permite a realização do controle, admitindo


que a variabilidade espacial existente no concreto de cada ciclo seja igual à variabilidade tem-
poral existente no conjunto dos elementos da amostra, que são colhidos ao longo de m ciclos
de produção.

Em certos processos estacionários, que permitem a obtenção de um único resultado


durante um número M muito grande de instantes de medição, para o conhecimento da estabi-
lidade do processo, muitas vezes é possível decompor o registro de X/f) em um número n de
segmentos, durante os quais a hipótese ergódica garante que em todos eles as propriedades
estatísticas sejam as mesmas, conforme a restrição (a) da hipótese ergódica. Nesse caso, com
o estudo da autocorrelação e da autocovariância, ou simplesmente da função coeficiente de
correlação, pode-se estudar a estabilidade do comportamento do processo para deierminadas
finalidades de controle, como ilustrado pela Figura (7.4-a).
7.5 Significado do valor especificado para f^
De modo geral, a qualidade do concreto que se pretende usar em uma construção futura é
estabelecida no projeto pela especificação de certo valor para a resistência característica fck.

Como já foi visto, esse valor da resistência especificada f c k é controlado durante a exe-
cução da obra por meio do ensaio de compressão simples de corpos-de-prova cilíndricos
de 15 x 30 centímetros, em ensaio rápido, obrigatoriamente aos 28 dias de idade no caso
do controle usual.

Se os resultados obtidos com os ensaios dos corpos-de-prova tiverem sido satisfatórios, admi-
te-se que o concreto da estrutura também tenha sido satisfatório.

Obviamente, esta conclusão somente poderá ser aceita se for respeitada uma série de restri-
ções, que precisam ser claramente entendidas pelo projetista da estrutura e pelo construtor da
obra.

Como mostra a Figura (7.5-a), da boca da betoneira saem duas linhas de produção de concre-
to, e não apenas uma.

A resistência R, dos corpos-de-prova de controle não é obrigatoriamente igual à resistência


R, do concreto da estrutura e ambas podem não ser iguais à resistência R. de corpos-de-prova
eventualmente extraídos do concreto já endurecido da estrutura.

Em face das discrepâncias existentes entre essas duas linhas de produção, que podem levar a
resultados diferentes, conclui-se que a resistência f(kesf) especificada para o concreto deve ser de-
finida tendo em vista uma situação padronizada de produção. Para isso, a resistência do concreto
é especificada como sendo a resistência potencial da mistura a ser fabricada, se ela for proces-
sada em condições padronizadas e ótimas, como as que se admitem existir na manipulação do
concreto dos corpos-de-prova de controle da resistência.
BETONEIRA

« •

TRANSPORTE TRANSPORTE
LANÇAMENTO M0LDAGEM
ADENSAMENTO CURA
CURA ENSAIO
em condições
em condições padronizadas e
de obra ótimas

C0RP0S-DE-
ESTRUTURA
Ui PR0VA
O ã
o
CC
O.

RESISTENCIA DO 2
< RESISTENCIA DOS
CONCRETO DA »/> CORPOS-DE-PROVA
O
ESTRUTURA O o.
cc DE CONTROLE
o O
0£ u
CO

EXTRAÇÃO DE CORPOS-DE-PROVA
DO CONCRETO ENDURECIDO

ACABAMENTO

ENSAIO

CONVERSÃO PARA A
RESISTÊNCIA CILÍNDRICA

CORPOS-DE-PROVA EXTRAÍDOS

RESISTÊNCIA DOS C0RP0S-DE-


PR0VA EXTRAÍDOS DA ESTRUTURA

Figura (7.5-a)

Na extração de testemunhos do concreto de estruturas existentes, é preciso tomar cuidado


para que entre os diversos corpos-de-prova a serem ensaiados tenha sido evitada a autocorrela-
ção existente entre os testemunhos retirados com pequenos afastamentos entre eles. De acordo
com investigações já realizadas, as distâncias mínimas entre os pontos de extração de testemu-
nhos devem estar pelo menos entre 2 e 3 metros, para que os resultados a serem obtidos pos-
sam ser considerados como independentes entre si.
7.6 Cura dos corpos-de-prova de controle
O significado da resistência f í k r v como decorrente de uma situação ideal impõe que os cor-
pos-de-prova de controle sejam manipulados sempre em condições padronizadas e ótimas, ou
seja, moldados em fôrmas metálicas adequadas, por pessoal treinado, conservados em água ou
câmara úmida a 20°C e ensaiados por laboratório idôneo.

O emprego de corpos-de-prova curados em condições de obra não tem, portanto, justificativa


lógica, exceto em situações especiais, pois suas condições de temperatura e umidade são dife-
rentes das condições de uma câmara úmida e também diferentes das condições existentes para
as peças estruturais, em virtude das diferenças de tamanho, de geometria e do tipo das fôrmas
das estruturas.

Como jamais se pode garantir que os corpos-de-prova de controle forneçam efetivamente a


verdadeira resistência do concreto da estrutura, os corpos-de-prova curados ao pé da obra só
podem trazer confusão à condução usual dos trabalhos e, se empregados, podem ser responsá-
veis por sobressaltos, ao indicarem baixas resistências decorrentes de suas precárias condições
de cura.

O emprego dos corpos-de-prova curados ao pé da obra somente se justifica em casos muito


especiais. Assim, quando se necessita conhecer a resistência do concreto em idades rruito bai-
xas, como quando se empregam concretos com aceleradores de endurecimento, o emprego da
cura junto à obra pode ser aceitável e, às vezes, até obrigatório, como única possibilidade prática
exeqüível.

Neste caso, na interpretação dos resultados, as incertezas devidas à cura empregada devem
ser adequadamente consideradas.

A transposição do valor f (V correspondente aos corpos-de-prova de controle, para a resistência


( . da estrutura, em princípio fica por conta do coeficiente parcial yc> já analisado.

7.7 Variabilidade da resistência do concreto


Considerando os sucessivos valores das resistências fn dos corpos-de-prova de controle en-
saiados ao longo da execução de uma obra, obtêm-se resultados como os mostrados na Figura
(7.7-a). Para tirar conclusões a respeito das propriedades estatísticas do processo, é preciso saber
se esses resultados são ou não provenientes de um processo estocástico estacionário. No caso
mostrado nesta figura, como se discute adiante, os resultados obtidos mostram que o processo
de produção do concreto pode ser considerado como estacionário em relação à média apenas
durante certos intervalos de tempo.

Para que se possa fazer uma apreciação prática a respeito dessa indagação, é necessário dis-
por de um critério simples que dê a resposta.
Resultados individuais ao longo da execução da estrutura

Figura (7.7-a)

A scqücncia dc resultados mostra que os corpos-de-prova podem ser considerados como re-
presentantes de uma mesma população apenas durante certos intervalos de tempo, durante os
quais se manifesta a verdadeira variabílidade do processo, como indicado durante os intervalos
de tempo A í f e A í , da Figura (7.7-a).

Dentro desses intervalos de tempo, é possível estimar o correspondente valor efetivo fckol.
da resistência característica do concreto produzido. A experiência mostra que os processos de
produção de concreto têm maior facilidade e m deixar de serem estacionários por mudanças
do valor da média, que depende da qualidade dos materiais e da mão-de-obra empregados em
cada lote, do que por mudanças da variância, que dependem essencialmente da qualidade dos
equipamentos empregados.

Para poder detectar os intervalos de tempo A í em que o processo permanece estacionário, é


preciso conhecer a probabilidade da ocorrência sucessiva de vários resultados idênticos.

Assim, considerando uma experiência cujo resultado pode ser considerado um sucesso ou
um fracasso, admita sc que c m uma única tentativa a probabilidade de sucesso seja p, c a pro
habilidade de fracasso 7 - p . Considerando que não haja correlação entre os resultados obtidos
e m diferentes eventos, eles podem ser considerados como eventos independentes.

Considerando um conjunto de n tentativas, admita-se que nas primeiras y tentativas sejam


obtidos y sucessos, e nas n -y tentativas seguintes sejam obtidos apenas fracassos.

A probabilidade de um evento dessa natureza vale pv(1-pTy. No entanto, se não for especifi-

cada a ordem e m que devem aparecer os y sucessos, o número de vezes que isso pode ocorrer
n!
e m n tentativas é dado pelo número de combinações Cyn = —-—:
y!(n-y)!
Desse modo, a probabilidade de y sucessos, em qualquer ordem, em n tentativas é dada pela
expressão

da chamada distribuição binomial B (n; y), em que nè o número de tentativas e y o número de


sucessos.

Assim, considerando 6 resultados consecutivos dos corpos-de-prova de controle, a probabili-


dade P(6) de que todos eles caiam do mesmo lado da média é dada pela distribuição binomial
B(6;0,5), sendo P(6) = 0,0156 = 1,56%, ou seja, é um evento que ocorre menos de duas vezes
em 100 tentativas.

Desse modo, como regra geral, quando seis pontos consecutivos de um gráfico de controle
de qualidade ficarem de um mesmo lado em relação ao valor médio especificado para o pro-
cesso de produção ou obtido com um grande número de resultados, haverá forte suspeita de
mudança da centragem do processo.

De forma análoga, controlando os valores mais baixos dos resultados obtidos com os corpos-
de-prova de controle, quando em seis resultados aparecer um único valor abaixo de ftV isso não
deve ser considerado como um fato alarmante.

A probabilidade de se obter um único resultado abaixo de f(k, é de 5%, de acordo com a


própria definição desse valor característico. Todavia, de acordo com a distribuição binomial
(B) (6; 0,05), a probabilidade do aparecimento de dois resultados abaixo de f(V é da ordem
de apenas 3%. Este evento já pode ser considerado como uma indicação significativa de
mudança dos parâmetros do processo de produção do concreto.

As investigações já realizadas mostraram que, em uma dada instalação produtora de concre-


to, o desvio-padrão das resistências produzidas é praticamente constante. O que muda com o
tempo é o valor médio da resistência, principalmente como conseqüência do recebimento de
novas partidas de cimento e de agregados.

Durante cada um desses intervalos de tempo em que o processo pode ser considerado como
estacionário, é produzido um lote de concreto suficientemente homogêneo para que sua resis-
tência seja julgada globalmente.
8. Controle de aceitação do concreto da estrutura

8.1 Distribuição por amostragem da média e da variância


Para a formulação de juízos probabilísticos é preciso conhecer a função de distribuição da
variável X associada ao fenômeno considerado.

No caso do controle da resistência dos materiais estruturais, admite-se a distribuição de Gauss,


também dita distribuição normal, definida pela função de densidade de probabilidade

f(x) =
1 •exp
7 (8.1-1
(x-n)'
a •T27T 2a-

válida para O > 0, no intervalo -oo < x < +oo, onde:

f(x) = densidade de probabilidade;

j i = ( i v = valor médio da distribuição (média do universo);

O = G x = desvio-padrão da distribuição (desvio-padrão do universo).

A expressão da distribuição normal pode ser simplificada pela transformação

X-fi x
U = — (8.1-2)
cr,

com a qual a expressão (8.1-1) toma a forma reduzida, dada por

1
f(u) = •exp — U ' (8.1-3)
^Í2TT 2

com a qual são obtidos:

J f(u)du = 1 fiu =0 a2u=l (8.1-4)

Retirando-se do universo original amostras com o mesmo número n de exemplares, com


valores individuais x., e cujas médias e variâncias são indicadas respectivamente por xn e s2^
obtêm-se as distribuições por amostragem da média e da variância24, representadas nas figuras
seguintes.
UNIVERSO DAS MÉDIAS
MÉDIA M(X) = M(X)

f ( x ) VARIÀNCIA a2(x) = £ ^ ü l

UNIVERSO ORIGINAL DE VALORES


MÉDIA

f(x) VARIÀNCIA a2(x)

a(x) p(x) = p(x)

Distribuição por amostragem da média


Figura (8.1-a)

f(x)
UNIVERSO DOS DESVIOS-PADRÃO
fls(x)] MÉDIA p(S(x)]=C7(x)

VARIÀNCIA Gr2(x^
2 (n - 1)

UNIVERSO ORIGINAL DE VALORES


f(x) MÉDIA H(X)

VARIÀNCIA a2(x)

p[s(x) = CT(x) M(x)

Distribuição por amostragem do desvio-padrão

Figura (8.1-b)

Das distribuições por amostragem, obtém-se:

CJ^ f x ^
Do universo das médias: /i ( x ) = / i ( x ) e cr'(xn) = — — (8.1-5)
n

Do universo dos desvios-padrão: n(sn) = cr(x) e a 2 [ s „ (x)] = ^ (8.1-6).

Quando o universo original tiver distribuição normal, a distribuição por amostragem da média
também será normal e, com grandes amostras, admite-se que a distribuição por amostragem da
variância também tenha distribuição normal.
Desse modo, retirando do universo original uma amostra com n exemplares, da distribuição
por amostragem das médias tem-se

- u ( P % ) ^ < xn < fix + u ( P % ) S - j Ü (8.1-7)

Esta expressão, do ponto de vista algébrico, permite que se escreva

xfí <fix< x n + u ( P % ) ^ f i (8.1-8)


yjn yjn

A expressão (8.1-7), com P % de probabilidade, fornece o intervalo no entorno da média |i v ,


onde se encontram as médias Xn das amostras retiradas do universo. Esta expressão formula um
juízo probabilístico a respeito das médias Xn.

A expressão (8.1-8) fornece o que se chama intervalo de confiança da média |Xvdo universo
original, do qual se conhecem apenas as médias Xn de amostras de n exemplares. Não se trata
agora de um juízo probabilístico, pois a média Xn, embora desconhecida, é um valor fixo não su-
jeito a mudanças de posição. O que a condição (8.1-8) exprime é um simples grau de convicção
sobre o intervalo, no entorno da média de uma amostra, em que |i x pode estar.

De modo análogo, da distribuição por amostragem dos desvios-padrão, tem-se o intervalo em


que devem estar os desvios-padrão das amostras, no entorno do desvio-padrão do universo.

^ - " ( P % ) U ( * <S|,(x)<gx + u ( P % ) 7 = ^ = (8.1-9)


yl2(n~1) P i » ' 1 )

Nesse caso, pode ser obtido, apenas de modo aproximado, o intervalo de confiança do des-
vio-padrão

S„(x)-ü(P%) ** <Ox<Sn(x) + u ( P % ) S* (8.1-10)


p ( n - / ) p { n - l )

Da expressão (8.1-9) pode ser escrita a desigualdade seguinte

cr,x
\sn(x)-a(X)\<u(P%)
V ^ õ
ou seja, o erro relativo da estimativa do desvio-padrão é dado por
que, com 95% de probabilidade, vale

\sn(x)-a(X) ^ 196
(8.1-12).
cr^

Desse modo, se quisermos obter uma estimativa do desvio-padrão com um erro relativo de
até 25%, com uma probabilidade de 95%, é preciso dispor de uma amostra tal que seja respei-
tada a condição

1 196
n > +1 = 32
0,25

que define o tamanho mínimo usual das chamadas grandes amostras.

No caso de ser satisfatória uma estimativa do desvio-padrão que, com 95% de probabilidade,
possa conter um erro relativo de até 25%, a amostra empregada deverá ter pelo menos 32 exem-
plares. Caso contrário, a amostra deverá ser ainda maior, o que, no caso do controle da resistên-
cia do concreto, pode acarretar uma perda da condição estacionária do processo de produção,
em virtude do tempo necessário para se dispor de amostras muito grandes.

Note-se que, se fosse exigida a mesma precisão na estimativa da média do universo, da ex-
pressão (8.1-7) resultaria a condição

- Vx

Vx rn Vx

Admitindo-se que a estimativa do coeficiente de variação fosse de 10% a 20%, o nú-

mero de exemplares necessários seria de apenas 2 ou 3.

Para se ter uma estimativa mais precisa do intervalo de confiança do desvio-padrão da popu-
lação da qual se conhecem apenas as amostras de n exemplares, é preciso estudar diretamente
a distribuição por amostragem da variância.

Assim, admitindo-se como normal o universo X ( | i v , 0 ^ e m exame, cujos parâmetros são desco-
nhecidos, como foi discutido, as estimativas da variância por meio de amostras de n exemplares
são dadas por

5 2 = -Í2Í-
n—1
n
Admitindo que se obtenha o universo normal reduzido t/()J, u =0, O l = /Jcomo decorrente do
x n
universo original, pela transformação U = — ,

resultam as estimativas s2v = — —


n—i

Observe-se que, sendo n o número de exemplares da amostra, o denominador n - 1 desta


expressão também exprime o número de graus de liberdade com que a variância está sendo
estimada, pois, ao se impor a média \X(J = 0, surge um vínculo entre os n valores u , dos quais
apenas c\> = n-1 deles podem ser independentes entre si, uma vez que um deles deve garantir
o valor arbitrado para a média.

Desse modo, a expressão anterior pode ser escrita

7
<l> i=1

onde <f> é o número de graus de liberdade das amostras.


2
Definindo-se assim a nova função X<> (chi quadrado, com cj> graus de liberdade) pela
expressão

n
xl = X X (8.1-14)
i=1

pode-se obter a sua função de densidade de probabilidade, a partir do conhecimentc da função


de densidade de probabilidade da variável normal reduzida, dada por,

/ -2 V
f(u) = -j=e
yJ27T

A título de ilustração, apresentam-se na tabela seguinte" alguns valores de x\> figura (8.1 -c).
Valores de X2 (qui quadrado)
P = 2,5% P = 5% P = 95% P = 97,5%
0
- XA 20,023 - AX2o,o -, - AX20,95 A 0,975

1 0,000 0,004 3,84 5,02


2 0,051 0,103 5,99 7,38
3 0,216 0,352 7,81 9,35
4 0,484 0,711 9,49 11,1
5 0,831 115 11,1 12,8

6 124 1,64 12,6 14,4


7 1,69 2,17 14,1 16,0
8 2,18 2,73 15,5 17,5
9 2,70 3,33 16,9 19,0

10 3,25 3,94 18,3 20,5

f(x2)

Figura (8.1 -c)


2
Uma vez conhecida a distribuição dos valores de X<> , pode-se obter a estimativa da variância
X — X
da variável X- Sendo u• = — < pela expressão
n n
- *y E ^ a ) "
S í=I
DX = -isL
2

n-1 n —l <$> Ti (f>

tem-se

2 ax 2 (8.1-15)
5 = — Y
* / A.Q
<p

logo

2
<71 = (8.1-16)
2 x

Desse modo, o intervalo de confiança da variância pode ser escrito

2s M (8.1-17)
X ÍUft Xinf

com x\í:p e X2inl- correspondentes às respectivas probabilidades de ocorrência, donde

i=t
<crx<"'=' (8.1-18)
i x'Li
8.2 Funções de estimação
Considerando os processos de produção de materiais estruturais cuja qualidade é controlada
estatisticamente por uma variável X , sempre existirão incertezas quanto aos valores dos parâ-
metros l l eo.
~X X

Observe-se que essas incertezas existirão mesmo que sejam ensaiadas grandes amostras.
Como foi visto anteriormente, empregando amostras com 32 exemplares, com 95% de confiança
pode existir um erro relativo do desvio-padrão sx — CTX / Ox de até 25%.
O método probabilístico de verificação da segurança das estruturas é baseado nas resistên-
cias características dos materiais, que são determinadas pelo quantil de 5% das respectivas distri-
buições de probabilidade de ocorrência, admitindo-se que essas populações sejam homogêneas
e normalmente distribuídas.
No caso do concreto, o construtor admite que irá produzir uma população de concreto com
média Ji v e desvio-padrão fixando como objetivo de produção a obtenção de uma resistência
de dosagem de valor

Mxd = Xk,esp + l>645.(Txd (8.M)

Sendo x a resistência de um material, no projeto estrutural é especificado certo valor xk ^ ,


com a hipótese de que os valores efetivos das diferentes partidas empregadas sejam

Xk.ef>Xk,esp <8-2"2»

Ao se produzir o concreto, na verdade resultará uma população de média j l ^ J! v / e desvio-


padrão cr cr tl. Desse modo, para que se possa estabelecer um critério de aceitação do con-
creto produzido, é preciso que, a partir dos resultados xrx, ....xn obtidos com os ensaios de con-
trole, seja definida uma função Z{xvx, ....x n )que possa servir de estimador do valor característico
efetivo x.

Definindo-se uma função de estimação Z , em cada caso particular é calculado o valor

z = Z(x1,x2 ....xn)

podendo ser adotada, como critério de aceitação do concreto, a condição

z>xk,esP (8.2-3)

Este critério de aceitação é criticável, como se discute adiante. A experiência mostra que este cri-
tério precisa ser ajustado à realidade social da construção de estruturas, conforme se indica em 8.7.

Observe-se que a condição (8.2-3) não é equivalente à (8.2-2), pois z é uma simples estima-
tiva de x.k,cl.
Tendo em vista o estudo das possíveis conseqüências da substituição da condição de aceita-
ção xkii. > pela condição convencional z > torna-se necessário definir uma medida
da eficiência da função de estimação escolhida. Essa eficiência é estimada pela probabilidade
P de aceitação em função da fração deficiente p do produto realizado, que é a porcentagem do
produto que não atende à condição x > x keíp .

Admitindo-se que o concreto produzido tenha uma distribuição normal de media j i e desvio-
padrão G^ a fração deficiente p é medida pela probabilidade dada pela expressão

Introduzindo-se a variável reduzida

a distância entre a média [it e um valor x qualquer é dado por. Figura (8.2-a),

Hc - X = U • <JC

e a distância entre a média \lc e o valor da resistência característica especificada é dada por

Mc Xk,esp ~ Up,k ' Gc

ou seja

Mc Xk,esp
*k.csp *l.cf

u CTc

Figura (8.2-a)

Desse modo, ignorando o truncamento em zero da distribuição de valores x, por ser despre-
zível, a fração deficiente é dada por

P(u<u )=^L f
U?M u_
p= pfk e-*du (8.2-5)

A fração deficiente 6 apresentada na tabela seguinte e m função da relação

xk,ef _ fic-1,645 >(TC _ 1-1,645-6C


(8.2-6)

Xk,esp Vc - Upk 1- Upk • ôc

onde 5 = 0 ( / J i é o coeficiente de variação do concreto produzido.


Fração deficiente Xk.ef /Xk.csp

lUpJ P% 5, =10% 5(=15% Ô( =20%


0,0 50,0 0,8355 0,7532 0,6710
0,5 30,85 0,8795 0,8143 0,7456
0,6 27,43 0,8888 0,8277 0,7625
0,7 24,20 0,8984 0,8416 0,7802
0,8 21,19 0,9082 0,8559 0,7988
0,9 18,41 0,9181 0,8708 0,8183
1,0 15,87 0,9283 0,8861 0,8388
1,1 13,57 0,9388 0,9020 0,8603
1/2 11,51 0,9494 0,9185 0,8829
1/3 9,68 0,9603 0,9357 0,9068
1/4 8,07 0,9715 0,9534 0,9319
1/5 6,68 0,9829 0,9719 0,9583
1/6 5,48 0,9946 0,9911 0,9868
1,645 5,00 1,0000 1,0000 1,0000
1/7 4,45 1,0066 1,0110 1,0167
1/8 3,59 1,0189 1,0318 1,0484
1/9 2,87 1,0315 1,0534 1,0823
2/0 2,27 1,0444 1,0760 1,1183
2,1 1,78 1,0576 1,0996 1,1569
2,2 1/39 1,0712 1,1242 1,1982
2,3 1,07 1,0851 1,1499 1,2426
2,4 0,82 1,0993 1,1769 1,2904
2,5 0,62 1,1140 1,2051 1,3420

Tabela (8.2-a)

Para cada funçào de aceitação Z(xt,x2 ....xj, a sua distribuição por amostragem, dada pela
função de densidade de probabilidade f j " , é caracterizada pela média \X/ e pelo desvio-
padrão (5 /.

Empregando o critério de aceitação z ^ xkeHt, a Figura (8.2-b) mostra a probabilidade de acei-


tação P = P (z ^ xkesf), quando xkef<xkesp e quando xkrí>xk(^f), de uma função de estimação
centrada.
ffx(x)

fz{2)

distribuição do
( x k.cf < Xk.esp> distribuição das
estimador f.
resistências f x (x)

Mz = xk.ef xk.esp

( X k.ef < Xk.esp)

xk.esp Mz = xk.ef

Probabilidade de aceitação

Figura (8.2-b)

Na Figura (8.2-c) mostra-se a condição dos estimadores centrados, isto é, das funções de esti-
mação cujas médias coincidem com o valor efetivo x ^ d a resistência característica do produto.

A eficiência da função de estimação é caracterizada por sua curva característica de operação,


que dá a probabilidade de aceitação em função da fração deficiente do produto; Figura (8.2-d).

Tendo e m vista os diferentes critérios de estimação da resistência do concreto, conclui-se que


em geral o critério de aceitação é definido pela condição

z > CY-X
k,esp

c m que a 1,0 é um coeficiente prático que contempla a função de estimação empregada e


as possíveis conseqüências da aceitação de um material um pouco menos resistente que o es-
pecificado.
distribuição do
estimador centrado
C p ( f v f 2 ' •••> distribuição
da população

Cpm = f ck,ef

1,65 a c
« •
Estimadores centrados

Figura (8.2-c)
8.3 Funções clássicas de estimação» Desvio-padrão conhecido
As funções clássicas de estimação, que são empregadas pelos métodos usuais de controle de
qualidade, são definidas por expressões do tipo26

z — X —ÀS (8.3-1), onde:

Z = valor da função de estimação;

xn = média dos valores medidos em n corpos-de-prova da amostra;

sn = desvio-padrão da amostra de n corpos-de-prova;

X = fator de estimação.
A idéia central da definição das funções clássicas de estimação é a de usar a média xn da
amostra em lugar da média | i , e o desvio-padrão sn da amostra em lugar do desvio-padrão da
população, discutindo o valor do fator de estimação X a ser empregado.

O critério usual de aceitação é definido por

Z = X n ~ \ S n > X k i e s p (8.3-2).

O emprego de estimadores do tipo z = xn - Xs n somente pode ser feito com amostras retiradas
de populações homogêneas. Se a amostra contiver elementos de mais de um universo, a varia-
bílidade aparente assim existente falseará as conclusões a serem tiradas.

A probabilidade de aceitação de um lote com uma fração deficiente p é dada por

P , ( p ) = P ( x k . e s P < K - K ) (8.3-3),

raciocinando-se como se o estimador z = x- Xs n tivesse, de fato, o mesmo valor que a resistên-


n n '
cia característica xkci> a qual realmente sempre permanecerá desconhecida.

Considere-se inicialmente a hipótese de que o desvio-padrão a seja conhecido. Neste caso,


o único parâmetro desconhecido da população será o valor da média |! c . Este caso é considera-
do como preliminar do caso real, em que o desvio-padrão não é considerado como conhecido,
estudado no item 8.4.

A função de estimação é, neste caso, definida por

Z = Xn — Xac (8.3-4).
Sendo a constante, para cada valor \ do fator de estimação, obtêm-se os parâmetros

^=E(Z) = E(xn)-\ac

al=Var(Z)=Var{xn)

De acordo com as propriedades das distribuições por amostragem, têm-se

Var{xn) = a2{xn) = ^-

resultando

= fic - \ a c (8.3-5)

Pelo fato de a distribuição das médias ser normal, a variável Z, neste caso, também tem dis-
tribuição normal; Figura (8.3-a).
A variável reduzida u / t , definida pela expressão

M, - z
U z = — (8.3-7)

tem distribuição normal, sendo então

( l i c - \ a c ) - ( x n - \ a c )
Uz =
a c

ou seja.

(8.3-8)

Para uma dada fração deficiente p%, tem-se

Xk,esp = f i C ~ U p f k ( 7 C (8.3-9)

A probabilidade de aceitação PJp%) = P (z > xk é determinada então pela variável


reduzida

U z k = ^-~Xk-eS" (8.3-10»

correspondente, portanto,

xk,csP = f z ~ U,Maz

Desse modo, da condição de aceitação (8.3-2), tem-se o valor limite de aceitação

Xk,esp = Mc - u».kac = Ib. ~

donde

= t b - l'c + u p k a c

ou seja,

-Acrc + U k a c

ut,k =
Logo, introduzindo (8.3-6),

Os valores decorrentes da expressão (8.3-11) estão mostrados na tabela da Figura (8.3-b),


relacionando a probabilidade de aceitação, medida por u/k, com a efetiva fração deficiente p%
do concreto produzido, determinada por u>r em função do tamanho n da amostra e do fator de
aceitação Â. adotado.

Função de estimação centrada \ = 7,65

Desvio-padrão conhecido n = 20

p% 1/=* -(u pk — X ) >/2Õ r%

1 2,33 3,0411 99,88


2 2,06 1,8386 96,65
3 1,89 1,0733 85,91
4 1,76 0,4019 66,28
5 1,65 0 50,00
6 1,56 -0,4025 33,60
7 1,48 -0,7603 22,36
8 1,41 -1,0733 14,16
9 1,34 -1,3864 8,30
10 1,29 -1,6100 5,37

Figura (8.3-b)

8.4 Funções clássicas de estimação. Desvio-padrão desconhecido


Na vida real, o desvio-padrão O, da distribuição de valores das resistências dos elementos
de concreto jamais é efetivamente conhecido, dispondo-se apenas da estimativa S n do desvio-
padrão da amostra.

Neste caso, o estimador Z retoma sua definição original, dada em (8.3-1), sendo

Z = xn ~ Xsn (8.4-1)

Neste caso, têm-se

f i / = E ( Z )= E(xn)-\E(sn)

Oy = Var ( Z ) = Var (xn)+A V a r (sn)


sendo

£ ( * „ ) = / ' O )=/'<:
E{sn)=ii(s„) = cr c

Var(x„) = *l=&

Dessas expressões resultam

/iz = fl c - A <Tc

7 (Tf- . 7 <7^ <7.T- A'


cr^ ^ — + A" — = — 74 (8.4-3)
n 2n n

Observe-se que no caso presente o estimador Z não tem distribuição normal. Embora para
n > 4 a variável Xn sempre possa ser admitida como normal, o mesmo não acontece com a
variável sn.

De acordo com a expressão (8.1-16), a variância da amostra tem uma distribuição de X" para
(|> = n - 7 graus de liberdade, dada por

C2 — / T 2 X'
-
ac

<f>

A fim de evitar a complexidade envolvida na determinação da exata função de distribuição da


variável Z, admite-se uma solução aproximada, substituindo a distribuição verdadeira por uma
distribuição normal aproximada. Essa solução é válida desde que a amostra seja composta por
pelo menos 10 corpos-de-provaJ7.

Nessas condições, reintroduzindo a variável normal reduzida


obtém-se

(^ c -À<T c )-(x n -ÀS„)


uz =

(8.4-4)

Para z = xk<v como mostrado na Figura (8.3-a), tem-se

LLZ ~ X
k,esp
"z,k =

resultando

_ ( ^ c - X a c ) - ( f i c - u p k a c )

ou seja,

uz,k = ( u P , k - X ) - f = = r (8.4-5)

Os valores decorrentes da expressão (8.4-5) estão mostrados na tabela da Figura (8.4-a), re-
lacionando a probabilidade de aceitação, medida por u/k, com a efetiva fração deficiente /;% do
concreto produzido, determinada por ufik, em função do tamanho n da amostra e do fator de
aceitação Á. adotado.

Comparando as tabelas das Figuras (8.3-b) e (8.4-a), verifica-se que para amostras com fração
deficiente menor que 5%, a probabilidade de aceitação com desconhecimento do desvio-padrão
do universo é menor que a correspondente ao conhecimento desse parâmetro. No caso de fra-
ções deficientes maiores que 5%, invertem se essas posições.
Função de estimação centrada X = 1,65

Desvio-padrão desconhecido n = 20

Za = KaX,min

/;%
P a (P%)

\ 2
1 2,33 1,9791 97,60
2 2,06 1,1965 88,45
3 1,89 0,7797 78,23
4 1,76 0,2645 60,40
5 1,65 0 50,00
6 1,56 -0,2619 39,60
7 1,48 -0,4948 31,05
8 1/41 -0,6985 24,30
9 1,34 -0,9023 18,37
10 1,29 -1,0478 14,80

Tabela (8.4-a)

8.5 Funções de estimação direta da resistência característica


A resistência característica inferior do concreto é definida por

í=f
ck cm — 1,645
' ac

Quando se tem um lote homogêneo de concreto, uma amostra de poucos exemplares já é su-
ficiente para a estimativa satisfatória da média; porém, uma hipótese da mesma natureza jamais
poderá ser formulada para a estimativa do desvio-padrão da população. O tamanho da amostra,
para que o seu desvio-padrão pudesse ser confundido com o desvio-padrão da população, e m
termos práticos, jamais poderá ser obtido, pois antes que esse número de resultados seja al-
cançado, o processo poderá ter mudado sua centrarem, como foi mostrado na f igura (7.7-a). As
funções clássicas de estimação estudadas nos itens anteriores têm seus resultados dependentes
do tamanho da amostra e do fator X de aceitação escolhido.

Por essa razão, para evitar a dificuldade de se lidar com o desvio-padrão desconhecido da
população em processo de controle, buscou-se determinar a resistência característica do lote de
concreto diretamente a partir dos resultados obtidos, não se procurando estimar isoladanente a
média e o desvio-padrão dessa distribuição.

Com essa finalidade, a partir dos valores f, ^ f,^ ... ^ fn obtidos de uma amostra de n
exemplares, podem ser definidas certas funções de estimação c j ) ( f t , f „ . . . , f j que fornecem esti-
mativas satisfatórias de fek. De modo geral, são bastante eficientes os estimadores centrados a
seguir considerados 2 8 " } 0 .
1) Estimador Za
Conhecidos os n resultados X,, Xy ...,Xn define-se o estimador Z pela expressão

cujo valor de K é dado pela tabela seguinte.

Valores de Ka
Uniformidade Excelente Boa Regular Má
do concreto
Coeficiente d e 0,10 0,15 0,20 0,25
variação 5 (

Número 1 0,836 0,753 0,671 0,589


de 2 0,884 0,820 0,753 0,682
corpos- 3 0,910 0,859 0,803 0,741
de-prova 4 0,928 0,886 0,838 0,784
5 0,942 0,907 0,867 0,820
6 0,953 0, 924 0,890 0,850

7 0,962 0,938 0,910 0,877


8 0,970 0,951 0,928 0,900
10 0,983 0,972 0,958 0,942
12 0,993 0,989 0,984 0,976
14 1,002 1,004 1,005 1,008
16 1,009 1,016 1,024 1,035
18 1,016 1,027 1,041 1,059

Tabela (8.5-a)

O estimador Z foi obtido com a propriedade de que a sua distribuição tenha a mediana coin-
cidente com a resistência característica efetiva. Os parâmetros da distribuição de Z são dados
na Tabela (8.5-b) e m função dos parâmetros |\ic e a do concreto produzido*'.

Para a aplicação deste estimador é necessária uma estimativa adequada do coeficiente de


variação do concreto produzido. Nos casos correntes de concreto produzido na própria obra,
recomenda-se a adoção de 5 = 0,20, e nos casos de concreto fornecido por usina central, reco-
mendam-se os valores ò = 0,10 e ô =0,15.

Sendo este estimador função exclusiva do menor resultado de ensaio, devem ser evitados
corpos-de-prova defeituosos. Quando se empregam pares de corpos-de-prova moldados simul-
taneamente e um dos valores é sensivelmente menor que o outro, considera-se apenas o de
maior valor.
O estimador Z «í é aplicado quando o controle tem o caráter assistemático, procurando-se obter
uma avaliação global do concreto de toda a estrutura. Esse tipo de controle não é recomendado
quando se trata do projeto de obras de grande importância. Todavia, quando se trata de avaliar
a resistência do concreto de estruturas já existentes, por meio da extração de testemunhos do
concreto endurecido, freqüentemente este estimador é aplicado, pois geralmente o número de
testemunhos que podem ser extraídos de uma estrutura é muito baixo, devendo analisar-se a
estrutura como pertencente a um lote não homogêneo. Nesses casos, é preciso dispor de outras
informações para selecionar os testemunhos que podem ser considerados como efetivamente
representativos do concreto em exame. Em particular, em estruturas construídas com materiais
e procedimentos profissionais usuais, não havendo motivos para que haja partes da estrutura
com resistências excepcionalmente baixas, os testemunhos que apresentam resistências muito
baixas devem ser radicalmente descartados.

2) Estimador Zb
Conhecidos 2n resultado X]t Xy Xn t, X^ Xm), XM o estimador Zb é definido pela ex-
pressão

Zb = 2(X'+X2+ + X
"') - Xn
n —l

onde

X j < X 2 < < Xn_, < Xn < < X 2n

No caso de existir um número ímpar de resultados, despreza-se o valor mais alto.

No caso de se dispor de 6 resultados, tem-se

Z„ = 2

O estimador Zb é praticamente centrado na resistência característica efetiva do concreto pro-


duzido32. Pelo fato de o estimador Zb empregar apenas a metade menos resistente da amostra
disponível, ele fica imune a uma possível mudança de centragem do processo de produção,
como a indicada na Figura (7.7-a). O emprego do estimador Zhé recomendável quando a popu-
lação foi homogênea, produzida em um processo praticamente eslaüonário. A Tdücld (8.5-ü)
apresenta valores da probabilidade de aceitação pelo emprego do estimador Zb.
Probabilidade de aceitação Pd <ftMf / f(k,especihcdj - Estimador Zb

Tamanho ^ck.ef ^ck. especificada'


da 0,80 0,90 1,00 1,10 1,20
amostra (n)
0,10 0,00 0,11 0,51 0,81 0,93
6 0,15 0,04 0,24 0,51 0,71 0,83
0,20 0,13 0,32 0,51 0,64 0,75
0,25 0,22 0,38 0,51 0,60 0,63
0,10 0,00 0,03 0,51 0,91 0,99
12 0,15 0,01 0,15 0,51 0,80 0,93
0,20 0,06 0,24 0,51 0,72 0,85
0,25 0,13 0,32 0,51 0,66 0,77
0,10 0,00 0,01 0,53 0,96 1,00
18 0,15 0,00 0,10 0,53 0,86 0,97
0,20 0,02 0,20 0,53 0,78 0,91
0,25 0,08 0,28 0,53 0,71 0,83

Tabela (8.5-b)

8.6 Controle por amostragem


Dc cada um dos lotes de concreto produzido e m condições homogêneas, devem ser tirados
corpos-de-prova que formarão a amostra de controle. A amostra representativa de cada lote deve
conter n exemplares, sendo n = 6, n = 12 ou n = 18, conforme o índice de amostragem seja con-
siderado reduzido, normal ou rigoroso, respectivamente.

Os corpos-de-prova em princípio devem ser moldados aos pares, deles resultando um único
exemplar, correspondente ao maior dos dois valores obtidos. Essa regra decorre da óbvia forte
autocorrelação que existe entre as resistências de dois corpos-de-prova gêmeos, moldados no
mesmo ato. Em princípio os dois corpos-de-prova deveriam dar o mesmo resultado, se a manipu-
lação dos mesmos durante a moldagem, durante a cura e durante os ensaios não tivessem uma
variabilidade própria, que não deveria influir no resultado a ser obtido.

O emprego de pares de corpos-de-prova tem exatamente esse objetivo: atenuar a variabilida-


de de ensaio.

Essa regra é lógica, quando se lembra que o valor especificado para f a representa o melhor
resultado que se pode obter com o traço adotado para o concreto, quando ele for manipulado e
ensaiado e m condições padronizadas e ótimas. Dos dois corpos-de-prova de um par, o de maior
resistência representa melhor o valor potencial da mistura. O resultado de menor valor reflete
apenas a influência da variabilidade do processo de preparo e ensaio dos corpos-de-prova, de-
vendo por isso ser descartado.

O emprego de exemplares constituídos por um único corpo-de-prova não é considerado pela


NBR 12655, não sendo, portanto, recomendado quando a resistência do concreto puder ser ob-
jeto de disputas legais. Todavia, quando o processo de controle é exercido judiciosamente, com
o mesmo número de corpos-de-prova poderá ser obtido o dobro da informação decorrente de
exemplares constituídos por pares de corpos-de-prova.

No controle por amostragem é indispensável localizar cada lote produzido dentro da estrutu-
ra, como ilustrado pela Figura (8.6-a), a fim de que medidas adequadas possam ser tomadas no
caso de serem obtidos resultados inferiores aos especificados. O tamanho máximo de cada um
desses lotes indicados na figura são os especificados pela norma brasileira NBR 12655.

t 1 1 r
I LOTE 3 I LOTE 4 I LOTE... I

TAMANHO MÁXIMO DOS LOTES AMOSTRAGEM NÚMERO DE EXEMPLARES

50 A 100 M' REDUZIDA 6


100 M J NORMAL 12
1 andar RIGOROSA 18

Figura (8.6-a)

De modo geral, no início da produção de cada tipo de concreto, é recomendável a adoção


do índice normal de amostragem. Quando as condições peculiares da obra ou de sua execução
aconselharem, poderá ser adotado o índice rigoroso.

Em princípio, o índice de amostragem deve ser mantido ou alterado no prosseguimento da pro-


dução, de acordo com as seguintes indicações, desde que não haia alterações do traço adotado.

índice de amostragem empresado no lote em exame


Valor estimado
Reduzido Normal Rigoroso
Figura (8.4-a) (n-6) (n - 12) (n - 18)
def<K
índice a adotar no lote seguinte
Manter o Passar para Passar paa
* M/a reduzido o reduzido o normal
Passar para Manter o Passar para
U/a >/,„„
o normal normal o normal
Passar para Passar para Manter o
fik+M < fck
o normal o rigoroso rigoroso
Se o traço for alterado, tudo se passa como se fosse o início do controle de um novo tipo de
concreto.

De acordo com a NBR 12655", consideram-se dois tipos de controle de resistência: o controle
estatístico do concreto por amostragem parcial e o controle do concreto por amostragem total.

Para cada um destes tipos é prevista uma forma de cálculo do valor estimado da resistência
característica fcAresr
. . d o s lotes de concreto.

No controle estatístico por amostragem parcial nào se espera que sejam retiradas amostras do
concreto em todas as betonadas, tendo e m vista o tamanho dos lotes e o tamanho das amostras.

O tamanho dos lotes a serem julgados globalmente é estabelecido da seguinte maneira:

A amostragem do concreto para ensaios de resistência à compressão deve ser feita


dividindo-se a estrutura em lotes que atendam a todos os limites da tabela 7 da NBR
12655. De cada lote deve ser retirada uma amostra, com um número de exemplares
de acordo com a Classe do concreto (NBR 12655; item 6.2.3).

Para as classes até C50, esta norma permite o emprego de apenas 6 exemplares.

NBR 12655-Tabela 7
Solicitação principal dos elementos da estrutura
Limites superiores Compressão ou compressão
Flexão simples
e flexão
Volume d e Concreto 50 m* 100 m J
Número d e andares 1 1
Tempo d e concretagem 3 dias de concretagem'
1 Este período deve estar compreendido no prazo total máximo de 7dias. que inclui eventuais interrupções
para tratamento de Juntas.

A determinação da resistência característica f(k do concreto é especificado pela NBR 12655


como procedimento geral, admitindo-se os procedimentos adiante analisados.

Controle por amostragem parcial


a) Para lotes com números de exemplares 6 ^ n < 20, o valor estimado da resistência carac-
terística (/. t J é dado por:

f = ? f , + f 2 + - - + f m , f
ck,e$t z ^ 'm
m —l

sendo m = ^ , e os resultados dos ensaios dos exemplares de controle são indicados e m ordem

crescente por seus valores ft ^ f2 ^ .... ^ fn.


Neste caso, a NBR 12655 adotou o estimador Zu descrito no item 8.5 deste capítulo.

Ainda para o caso de 6 < n < 20, a NBR 12655 recomenda que não se deve tomar para fck <>r
valor menor que sendo ft o valor mais baixo da amostra e um coeficiente dado pela Tabela
8 da NBR12655.

Neste caso, a recomendação da NBR12655 decorre do estimador Z descrito no item 8.5 deste
capítulo. Os valores dos coeficientes ^relativos à "Condição de Preparo A" correspondem à co-
luna dos coeficientes Kj relativos ao coeficiente de variação 8c= 0 ,'1 5 , e os valores de r4»,relativos
0
às "Condições de Preparo B ou C" correspondem aos valores de K referentes a 8 c =0,20.

b) Para lotes com número de exemplares n > 20, o valor estimado da resistência característica

<(* J é dacJo P°r

fCk,est ~ ~ h65 Sd

onde fem é a resistência média dos exemplares do lote, e S , é o desvio-padrão da amostra, cal-
culado com 4> = n - 7 graus de liberdade.

Neste caso, a NBR 12655 adotou a função clássica de estimação descrita no item 8.4 deste
capítulo.

No controle do concreto por amostragem total, a NBR 12655 especifica que se ensaiem exem-
plares de cada uma das amassadas cie concreto, adotando a resistência mínima ^como o estima-
dor da resistência característica para amostras de até 20 exemplares, sendo pouco provável que
de uma única amassada sejam retiradas amostras com número ainda maior de exemplares.

c) Controle de porções individuais.

No caso de ser necessário controlar a resistência de pequenas porções de concreto, não cabe
imaginar que dentro do volume em consideração possam atuar todas as causas de variabilidade
que existem nos lotes com grandes volumes.

Por esta razão, tais porções individuais, com volumes de até 10 m3, podem ser controladas por
meio de um pequeno número de exemplares, entre 2 e 5.

Para o julgamento da conformidade dessas porções individuais, a NBR12655 recomenda o


emprego do estimador Z , nas mesmas condições que foram antes consideradas.

8.7 Critério de aceitação


A estimativa da resistência característica do concreto por meio de estimadores centrados.
Figura (8.2-cl), leva a que o material estritamente conforme, isto é, o concreto produzido com
uma fração deficiente po=5%, que efetivamente tem possa ser reprovado em até 50% dos
casos, quando de fato deveria ser aceito em 100% dos casos.

Tendo em vista que, do ponto de vista social, as conseqüências para o consumidor pelo em-
prego de um concreto com fração deficiente ligeiramente superior ao limite de 5% são muito
menos severas que as conseqüências para o produtor da rejeição de concretos com fração de-
ficiente até ligeiramente menores que o limite de 5%, o critério de aceitação do concreto pode
se expresso por
Z = fck,esl>a-fck,esp com « = 0,9 (8.7-1)

Ou, alternativamente, como prescrevia a NBR 6118:1978", por

h1-Z = fck,esl>fck/esp (8.7-2)


9. A resistência do concreto comprimido

9.1 Introdução
A determinação da resistência do concreto comprimido é elemento central na avaliação da se-
gurança das estruturas submetidas tanto a solicitações normais quanto a solicitações tangenciais.

Na presença de solicitações tangenciais, as estruturas de concreto, nas proximidades dos


estados-limite últimos, tendem a comportamentos assimiláveis aos de treliças, nas quais a segu-
rança em relação a esforços de compressão fica inteiramente a cargo do concreto, não havendo
possibilidade de emprego de armaduras comprimidas que possam contribuir para a resistência
a esses esforços.

De modo usual, a resistência do concreto à compressão é determinada experimentalmente


por meio do ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos com 15 centímetros de diâme-
tro e 30 de altura.

A decisão de se empregar um corpo-de-prova com altura o dobro da dimensão representativa


de sua seção transversal decorreu de uma vaga idéia de que, com isso, no ensaio de compres-
são, a seção à meia altura estaria submetida a um campo de tensões uniformes. Como será
analisado posteriormente, isto não é bem verdade, e a influência da forma do corpo-de-prova
necessita de um esclarecimento consistente com a necessidade de se conhecer a real resistên-
cia do concreto a tensões de compressão.

A despeito de possíveis dúvidas sobre sua exatidão, o ensaio de compressão simples de


corpos-de-prova padronizados cristalizou-se como o meio de se conhecer a resistência de um
lote de concreto. O valor individual obtido no ensaio de compressão de um dado corpo-de-prova
é indicado por fc(J onde o símbolo f indica resistência, o primeiro índice indica concreto e o se-
gundo índice, compressão. Quando não houver margem para dúvidas, esse símbolo pode ser
simplificado, empregando-se apenas fc.

Considerando a aleatoriedade das resistências dos materiais, as investigações experimentais


permitiram admitir a hipótese de que a distribuição de resistências dos diferentes elementos
que compõem um dado lote de concreto seja gaussiana. Para a definição do valor de referência
da resistência, o método probabilístico de verificação da segurança ao nível I adotou c quantil
de 5% da distribuição de valores, definindo esse valor como o da resistência característica do
concreto15, indicada por f((k, ou simplesmente por f<r

Nas verificações de segurança em relação aos estados-limite últimos, o método probabilístico


ao nível I adota o valor da resistência de cálculo, simbolizada por far onde o índice d significa
design36, sendo definida por f(d = f j y ; , onde y f representa o coeficiente parcial de ponderação
da resistência do concreto.

Do ponto de vista do dimensionamento das peças estruturais, y ( representa um coeficiente


parcial de segurança relativo à minoração da resistência do concreto, embora de fato ele inclua
outras idéias também importantes para a fixação do valor de referência da resistência de cálculo,
mas que não constituem uma simples e real redução da resistência do concreto em relação a
seu valor característico. Além disto, o valor ( ( / ainda sofre uma posterior redução, para finalmente
se chegar ao valor 0,85 faí, que é o valor empregado na avaliação das seções comprimidas de
concreto estrutural em regime último, isto é, teoricamente em regime de ruptura.

A primeira aplicação do método de dimensionamento em regime de ruptura foi feita, desde


os primórdios do concreto armado, em relação às seções transversais submetidas à flexão.

Desde as primeiras teorias propostas para resolver esse problema, a resistência do concreto
do banzo comprimido das peças fletidas sempre foi considerada com um valor menor que o ob-
tido nos ensaios padronizados de compressão.

Ao longo das décadas de 1960 e 1970, cristalizou-se a idéia de que a resistência à compressão
simples do concreto na seção transversal de pilares e de peças fletidas valeria 0,85 da tensão
de ruptura decorrente de ensaios de compressão. Em termos das idéias atuais, no projeto seria
considerado o valor 0,85 fc(i. Este valor, que é indicado pela fib" por f)r<r é o considerado nos
estados-limite últimos de solicitações normais, sendo admitido sempre como

L = 0,85fcd (9.M)

É importante assinalar, como é visto adiante, que o coeficiente 0,85 considera o formato do
corpo-de-prova de controle, leva em conta o aumento da resistência com a maturação do con-
creto depois dos 28 dias de idade e também a perda de resistência dos concretos submetidos a
cargas de longa duração.

Na consideração das bielas comprimidas das peças submetidas a solicitações tangenciais, a


falta de uniformidade na distribuição das tensões e a existência de campos de íissuração, por
vezes atravessados pelas diagonais comprimidas, leva à necessidade de se considerar uma outra
redução da resistência do concreto assim comprimido.

De acordo com a fib*8, a efetiva resistência à compressão, nesses casos, toma os valores

U f f = v L i9-1"2»

onde o coeficiente de modificação v assume os seguintes diferentes valores:

1) em bielas prismáticas, quando se admite um campo de compressão uniforme ao invés de


uma lei de distribuição mais realista, ou no banzo comprimido de peças fletidas quando se ad-
mite distribuição uniforme de tensões:

V , = (1 -f(l/250) f(,em MPa

Neste caso, admite-se que a máxima deformação na fibra extrema valha:

ed,u = -0,004 + 0,002(fck/100)

2) em bielas prismáticas não-fissuradas, com distribuição uniforme de deformações:


v2 = 1,00
3) e m bielas paralelas ao campo de fissuração com armaduras atravessando as fissuras:

V, = 0,80

4) em bielas comprimidas que atravessam campos usuais de fissuração, como na alma das
vigas:

V, = 0,60

5) em bielas comprimidas que atravessam campos muito fissurados, como nas peças subme-
tidas a tração axial ou nas abas tracionadas das vigas.

v2 = 0,45

9.2 Formato dos corpos-de-prova


Desde os primórdios do concreto armado, ficaram evidenciadas as dificuldades de conceitua-
ção da resistência do concreto.

Para considerar a variabilidade da resistência à compressão, Mõrsch 39 admitia que ao concreto


deveria ser atribuída uma resistência igual à média dos valores obtidos com o ensaio de três
corpos-de-prova. Isso era recomendado sem maiores cogitações a respeito das causas da varia-
bilidade da resistência, seja na estrutura, seja entre os próprios corpos-de-prova.

Em diversos países, para os ensaios são adotados corpos-de-prova cúbicos, com arestas de
diferentes tamanhos. A influência das dimensões dos corpos-de-prova, de acordo com Saliger10,
está mostrada na Figura (9.2-a).

Influência do tamanho do corpo-de-prova sobre a resistência cúbica

Figura (9.2-a)

O emprego do corpo-de-prova cúbico permite que se observe a influência do processo de


adensamento do concreto, por meio do ensaio e m diferentes direções. Com o adensamento
manual, Saliger verificou que a resistência era maior na direção do apiloamento que nas de-
mais direções. Essa verificação não é possível com corpos-de-prova cilíndricos. Para se diminuir
a influência do atrito do concreto com as paredes da fôrma de moldagem, pode-se recorrer à
vibração.
A variação da resistência do concreto com o tamanho do corpo-de-prova, cúbico ou cilíndrico,
decorre das condições de adensamento durante a confecção do corpo-de-prova e das condições
de solicitação multiaxial durante o ensaio.

Em corpos-de-prova muito pequenos em relação ao diâmetro característico do agregado graú-


do, o adensamento é dificultado pelo atrito do concreto com as paredes da fôrma de moldagem.
Com tais corpos-de-prova, a resistência à compressão cresce à medida que aumenta o tamanho
do corpo-de-prova41.

Todavia, esse aumento cessa quando a menor dimensão do corpo-de-prova supera de 5 a


10 vezes o diâmetro característico do agregado graúdo. Pelo contrário, quando esta condição é
satisfeita, a resistência à compressão diminui com o aumento do tamanho do corpo-de-prova,
como está mostrado na Figura (9.2-a).

Nas condições usuais de ensaio, o atrito dos pratos da prensa de ensaio com os topos do
corpo-de-prova cria estados múltiplos de tensões que aumentam a resistência aparente do con-
creto. A restrição à dilatação imposta aos topos do corpo-de-prova provoca tensões transversais
de compressão no concreto. A influência dessas tensões transversais diminui à medida que au-
menta o comprimento do corpo-de-prova, pois as zonas onde efetivamente há estados múltiplos
de compressão-compressão tendem a se restringir apenas às extremidades.

De forma paralela, o aumento da seção transversal do corpo-de-prova acarreta a aplicação de


maiores forças durante o ensaio e, como conseqüência, provoca um aumento da flexão das pla-
cas de aço que formam os pratos da prensa. Essa flexão libera parcialmente o atrito nas bordas
dos topos do corpo-de-prova e tende a concentrar a pressão exercida pela máquina na região
central do corpo-de-prova, o que, como assinala Rüsch42, leva à diminuição da resistência apa-
rente do concreto.

A influência específica do comprimento dos corpos-de-prova sobre a resistência aparente


do concreto está mostrada na Figura (9.2-b), que apresenta os clássicos resultados obtidos por
Bach, citados por Mõrsch e Saliger, feitos com corpos-de-prova prismáticos, todos eles com seção
transversal quadrada com 32 cm de lado.
Relação entre a resistência prismática e a resistência cúbica
Figura (9.2-b)

De modo análogo, os resultados obtidos por diferentes pesquisadores ensaiando corpos-de-


prova cilíndricos com diferentes relações altura/diâmetro estão mostrados na Figura (9.2-cPK
Todos os resultados correspondem a cilindros com 15 cm de diâmetro.

Além das causas já apontadas, a resistência dos corpos-de-prova alongados também fica afe-
tada pela maior dificuldade de manutenção da centragem da carga durante o ensaio.

Resistência de corpos-de-prova cilíndricos com várias relações altura/diâmetro (Jaegher)


Figura (9.2-c)
Analisando os resultados obtidos com os ensaios de corpos-de-prova cilíndricos padroniza-
dos, pode-se admitir, em igualdade de outras condições, que o concreto da estrutura tenha a
resistência

C, estrutura ~~ C, prismático ~ ^ (c, cilíndrico 15 x 30

É importante assinalar que, de fato, a igualdade de outras condições nunca existe, pois com
a maturação ao longo do tempo, o concreto da estrutura irá aumentar sua resistência e, com a
permanência de cargas de longa duração, essa resistência será diminuída.

Nos casos de investigação experimental da resistência do concreto de estruturas existentes,


é possível proceder-se à extração de testemunhos cilíndricos por meio de sondas rotativas, de
acordo com os procedimentos estipulados pela NBR 768044.

Os testemunhos podem ter 10 ou 15 centímetros de diâmetro e alturas não inferiores ao diâ-


metro. Nestes casos, a NBR 7680 apresenta uma tabela de conversão dos valores experimentais
para valores teóricos correspondentes à relação h/d = 2. Observe-se que esta tabela fornece
praticamente os mesmos resultados que os apresentados na Figura (9.2-c), de acordo com o
trabalho de Jaegher. No caso de testemunhos com relações h/d < 1,0 a norma antes referida
apresenta os formatos com que podem ser montados corpos-de-prova em que o testemunho é
inserido em sua zona central.

Quanto ao número de testemunhos a serem investigados, sua localização e interpretação dos


resultados, além das diretrizes da NBR 7680, é recomendável que sejam respeitadas as observa-
ções feitas nesta publicação, no capítulo referente ao controle da determinação da resistência
do concreto, particularmente quanto à autocorrelação existente entre testemunhos extraídos em
distâncias menores que o valor xhm estimado.

9.3 Aumento da resistência com a idade


O aumento da resistência do concreto com a idade é fato reconhecido desde longa data; ver
Figura (9.3-a). Nessa figura estão mostrados esquematicamente os clássicos resultacos obtidos
por Ary Torres15, em ensaios realizados no IPT de São Paulo em 1936, com seis diferentes traços.
Para cada traço foram medidas as resistências a 7, 14, 28, 90, 180 e 360 dias de idade.

Note-se que, de modo geral, os concretos com maiores resistências iniciais têm proporcional-
mente menores crescimentos da resistência com a idade.

O aumento da resistência do concreto com a idade depende essencialmente da finura do ci-


mento. Quanto maior for a finura, mais rapidamente ocorre a hidratação do cimento, obtendo-se
nas primeiras idades resistências que de outra forma somente seriam obtidas mais tarde.

É preciso, portanto, notar que uma eventual supermoagem do cimento pode levar a resistên-
cias mais altas aos 28 dias, mas elimina boa parte da capacidade de maior hidratação ao longo do
tempo, desrespeitando as hipóteses que conduziram à definição da resistência f l c J = 0,85 fur além
de poder comprometer a durabilidade das estruturas, que perdem a capacidade de colmatar as
fissuras provocadas pelos esforços solicitantes, favorecendo-se assim a corrosão das armaduras.
Evolução da resistência com a idade do concreto (segundo Ary Torres)

Figura (9.3-a)

O aumento da resistência decorrente da maturação do concreto tanto se dá com o correr do


tempo quanto por ação da temperatura, pois ambos os fatores levam ao aumento da hidratação
do cimento. A maturação pode ser definida de várias maneiras, sendo uma delas por meio da
introdução do conceito de idade fictícia do concreto.

Para concretos feitos com cimento Portland, o Código Modelo CEB-FIP 1990 admite para a
idade fictícia a expressão

4000
tnc exp 13,65-
273+T(Atj) /T0
i=l

onde tT é a idade fictícia ajustada em função dos intervalos de tempo A í em que o concreto ficou
exposto à temperatura 7YAf.)em (°C), e T(l = 1°C.

A Norma Brasileira NBR 6118 especifica a resistência em idades diferentes e m função da resis-
tência aos 28 dias, interessando-se, porém, por idades inferiores à idade-padrão.

Evidentemente, o acréscimo de resistência obtida pelo emprego de cura com calor simples-
mente está antecipando a resistência que de outra forma somente seria obtida em maiores
idades. Desse modo, não se pode esperar que o posterior acréscimo de resistência com a idade
continue sendo o mesmo que o dos concretos curados à temperatura ambiente.

Para cimentos fabricados dentro das especificações da Fib CEB-FIP), a Figura (9.3-b) apresenta
o andamento das leis de crescimento da resistência com a idade, tendo como referência a resis-
tência aos 28 dias.
Crescimento médio da resistência com a idade, conforme a fib CEB-FIP46

Figura (9.3-b)

9.4 Redução da resistência com a duração da carga


Observa-se experimentalmente que a resistência do concreto sob ação de cargas de longa
duração é menor que sob efeito de carregamentos rápidos.

A Figura (9.4-a) mostra o tipo de resultados obtidos por Rüsch47 no estudo da influência da
história do carregamento sobre a resistência do concreto. É importante assinalar que existe uma
grande dificuldade na realização de ensaios dessa natureza, pois a aleatoriedade da deformação
por fluêncía tende a eliminar a centragem da carga aplicada, centragem essa que precisa ser res-
taurada passo a passo por meio de dispositivos de ensaio que permitam manter a compressão
uniforme da seção transversal durante todo o tempo de duração do ensaio.

Nessa figura são usados os seguintes símbolos:

t0 = idade do concreto no início do carregamento

At = duração do carregamento

t = t0 + At = idade do concreto no instante da ruptura

f ( , = resistência do concreto no ensaio rápido na idade t = t0 + At

fccl = resistência do concreto no ensaio lento, com ruptura na idade t = t0 + At.

As duas curvas superiores desta figura mostram que, para rupturas ocorridas com a mesma
duração A f de carregamento, a resistência do concreto carregado progressivamente é sempre
maior que a do concreto carregado rapidamente e mantido sob carga constante.
f c c t = RESISTÊNCIA NO ENSAIO LENTO COM RUPTURA NA IDADE t = t 0 + At
f c t = RESISTÊNCIA NO ENSAIO RÁPIDO NA IDADE t = 10 + At

t0 = IDADE NO INÍCIO DO CARREGAMENTO


A t = DURAÇÃO DO CARREGAMENTO
t = t 0 + A t = IDADE NO INSTANTE DA RUPTURA

Influência da duração do carregamento sobre a resistência (segundo Rüsch)


Figura (9.4-a)

Como a hislória do futuro carregamento das estruturas não pode ser controlada, para efeito
de projeto, a resistência do concreto será sempre considerada, a favor da segurança, com o valor
do limite inferior aos valores t u l referentes a carregamentos rápidos que são mantidos ao longo
do tempo, conforme a curva inferior da Figura (9.4-a).

Para explicitar o efeito deletério da permanência da carga sobre o concreto, as ordenadas da


Figura (9.4-a) mostram a relação entre a resistência f(rf dada pela tensão G ( de longa duração
aplicada na idade t(/ e a resistência obtida em um ensaio rápido, realizado com um corpo-
de-prova gêmeo, na idade t = t0 + At e m que ocorreu a ruptura do corpo-de-prova submetido à
carga de longa duração.

Com essa representação, fica eliminada a influência do acréscimo de maturação que ocorre
ao longo do tempo A í de duraçao do ensaio lento.

Constata-se, desse modo, que tensões acima de determinados limites podem, com o tempo,
provocar a ruptura do concreto. Com valores abaixo desses limites, o concreto apresenta apenas
o fenômeno de fluência lenta, mas sua resistência é perene, como se indica na Figura (9.4-b).
O c = TENSÀO APLICADA

f c , = RESISTÊNCIA NO ENSAIO RÁPIDO NA IDADE t = t 0 + A t

AO^V. limitew dc
- w .ruptura
-.
X

0-8 | limites experimentais


S T T ' ^ •• -- 0.75 | de (fcc.t - eo/ fc.t - 00)

N i m i t e de fluència
(oc<fcc.t = oo)

ENCURTAMENTO
DO CONCRETO
>
2 4 6 8 10 €c(%o)

t 0 = IDADE NO INÍCIO DO CARREGAMENTO


A t = DURAÇÃO DO CARREGAMENTO
t = t 0 + A t = IDADE NO INSTANTE DA RUPTURA

Influência da intensidade e da duração do carregamento sobre a deformação do concreto (Rüsch)

Figura (9.4-b)

Dc acordo com Rüsch, em todos os ensaios, a relação entre a resistência fu.obtida em um


ensaio lento e a resistência fct obtida no correspondente ensaio rápido, com ambas as rupturas
ocorrendo na mesma idade t = t0 + At, é consistentemente independente da qualidade do con-
creto e da idade t0 de início de carregamento, como se assinala na Figura (9.4-c).

f c c • - • + A» = RESISTÊNCIA NO ENSAIO LENTO COM INÍCIO


' • W c t
0 " NA IDADE tQ E DURAÇÃO At

fc t = t + At = RESISTÊNCIA NO ENSAIO RÁPIDO REALIZADO NA


0 ' MESMA IDADE DA RUPTURA DO ENSAIO LENTO

1.0

V •
o—•— O A n T T 0.8
A' 0.75
«•-w o
O • - t o = 20 dias
O
a.
•< o - t o = 56 dias
0.4 ec A - t o = 160 dias
O
< • - t o = 448 dias
0.2
z
LU At
3 meses
o •
10 min 1h 6h 1 dia 7 dias 28 dias lano

Relação entre as resistências obtidas em ensaios rápidos e lentos

Figura (9.4-c)

De acordo com os ensaios realizados por Rüsch, a relação entre a resistência no ensaio lento
e a resistência no correspondente ensaio rápido pode ser admitida como tendente ao limite
médio 0,8 e com praticamente todos os valores acima da relação 0,75, que é o limite a ser con-
siderado como efetivo no estabelecimento dos critérios de segurança em relação à ruptura do
concreto comprimido.
É importante assinalar que as investigações antes relatadas mantiveram a centragem da carga
durante todo o tempo de carregamento, por meio de ajustes sucessivos realizados com apoios
especiais existentes na máquina de ensaio idealizada por Rasch48, que foi empregada por Rüsch
em suas investigações.

9.5 A resistência de longa duração do concreto


Na presença de cargas de longa duração, a resistência do concreto sofre a ação de dois pro-
cessos antagônicos: com o passar do tempo, aumenta a resistência por efeito da maturação do
concreto e, com a permanência da carga, existe uma redução dessa resistência.

O efeito conjunto desses dois processos está mostrado na Figura (9.5-a). Essa figura foi cons-
truída a partir dos resultados obtidos por Rüsch para a redução da resistência com a duração
do carregamento, e da curva admitida pela NBR-719749 para o crescimento da resistência com a
idade dos concretos feitos com cimento Portland de endurecimento normal.

Definindo-se, como é tradicional, a resistência do concreto aos 28 dias de idade efetiva, ob-
serva-se que a resistência mínima de longa duração é, praticamente e m todos os casos, superior
a cerca de 0,87 í ( f desde que o início de carregamento se dê com idades superiores a 28 dias.

Verifica-se, também, que, quando os concretos são carregados de forma permanente com
pouca idade, se a ruptura não ocorrer dentro de certo prazo, ela nào mais ocorrerá, pois, a partir
desse prazo, a velocidade do efeito da maturação supera a do efeito da permanência da carga.
Isto explica os casos de ruptura prematura de peças protendidas com pouca idade. Se a ruptura
não ocorrer em cerca de 6 horas, ela não mais acontecerá, pois, como se mostra na Figura (9.4-c),
a resistência mínima é alcançada praticamente com esse prazo de duração do carregamento.

Também de modo tradicional, a resistência do concreto é definida aos 28 dias de idade,


admitindo-se que o controle seja feito por meio do ensaio de corpos-de-prova cilíndricos com 15
cm de diâmetro e 30 cm de altura.

W C,t = 28
t = t0 + A t

1.3
1.2
1.1 r -
1.0 V
0.9 0 87 -
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0 IDADE REAL DO
14 @ 3 5 56 90100 500 1000 (3 anos) 10000 CONCRETO EM DIAS

CIMENTO DE ENDURECIMENTO N O R M A L

Variação da resistência do concreto com a idade e com a duração da carga

Figura (9.5-a)
Desse modo, a resistência do concreto a ser considerada no projeto das estruturas deve ter
o valor

C,«i«»ira = 0,95x1,2 x 0,75 = 0,85ftA 28(li<is,CP(15x30)

Considerando a segurança em relação aos estados-limite últimos, a resistência de referência


do concreto vale então

Lm = L = 0,85fal

sendo

f _ í*
'cd ~
7c

Considerando o modelo geral da resistência ã compressão dos materiais estruturais, a resis-


tência efetiva de cálculo pode ser expressa por

fcd,cff —
~ f'led —
~ Kkmot/
7m

onde o coeficiente de modificação é dado por

L mod ~
_ bmod,1 *mod,2
L L
*mod,3

e o coeficiente de minoração da resistência do material por

Tm/ Tm2 ' *fm3

Sendo, então,

^lal — (k/nodj ' kmod,2 ' ^mod,3 ) /


(O'/»»; ' 7m2 ' 7m3 )

Nessa expressão kmo(1l considera o erro sistemático decorrente do emprego de corpos-de-


prova de pequenas dimensões, knwi2 leva em conta a possível diferença entre a resistência do
material da estrutura com o passar do tempo, em relação à resistência do material do corpo-de-
prova no ato do ensaio de controle, e knxxl3 retrata a degradação da resistência do material da
estrutura pela ação de cargas de longa duração.

De modo análogo, o coeficiente parcial de segurança yml leva em conta a verdadeira variabi-
lidade da resistência do material dentro de lotes homogêneos, Y m ,leva em conta as diferenças
entre o material da estrutura e o material do corpo-de-prova, como a que existe no caso do con-
creto em que ocorre quase um peneiramento quando ele é lançado através dos espaços entre
as barras das armaduras da estrutura, e yni! considera os efeitos de todas as possíveis causas de
redução da resistência que não foram consideradas no modelo de segurança, como por exemplo
os defeitos localizados no material da estrutura.
Finalmente, é preciso salientar que, para a investigação experimental de estruturas já exis-
tentes há muito tempo, todas estas idéias devem ser consideradas para a estimativa da efetiva
resistência do concreto.

9.6 A resistência do concreto no projeto


e execução de novas estruturas - resumo
Para o projeto de estruturas ainda a construir, a determinação da resistência do concreto a
introduzir nos cálculos estruturais está baseada nos conceitos a seguir resumidos.

Considera-se inicialmente que o valor ffk da resistência característica a introduzir na avaliação


numérica da segurança da estrutura representa o valor potencial da resistência da mistura a ser em-
pregada na obra, quando esse concreto for fabricado em condições homogêneas e controladas.

Admite-se que os parâmetros de variabilidade do concreto da estrutura sejam os mesmos que


os dos corpos-de-prova moldados e ensaiados em condições padronizadas e ótimas.

Em princípio, a aferição da resistência dos corpos-de-prova será feita por meio de ensaios
rápidos, com duração de cerca de 10 minutos, realizados aos 28 dias de idade do concreto.

Para considerar as diferenças entre o concreto da estrutura e o concretos dos corpos-de-prova,


emprega-se um fator de modificação kmod, expresso por

b — b L
mod ~ mod,1 *mod,2 *mod,3

onde kinMj] considera o erro sistemático decorrente do emprego de corpos-de-prova de peque-


nas dimensões, kimxU leva em conta o possível aumento da resistência do concreto com o passar
do tempo, relativo à resistência do material do corpo-de-prova no ato do ensaio de controle, e
kmxl i retrata a degradação da resistência do material da estrutura pela ação de cargas de longa
duração.

Na avaliação de estruturas antigas é importante conhecer a época da construção, porquanto


ao longo da segunda metade do século XX houve um aumento da finura do cimento, o que leva
a maiores resistências iniciais e a menores valores do coeficiente k m 0 ( n -

De acordo com a teoria geral da flexâo elaborada por Rüsch, foram adotados os valores
knml,, = 0'95' kn,o«j = '>20 e ^ = 0,75; dai resultando

Ko«= <WU Koc,. A„«U =0 ' 9 5 * ] '2 * 0 ' 7 5 = 0 ' 8 5

Além disso, para estimar o valor da resistência do concreto a empregar no cálculo da resistên-
cia da estrutura, admite-se que o valor efetivo dessa resistência de cálculo seja

f —f — l ÍLL
'cd,cff ~ 'led ~ *mod
7m

com o coeficiente de minoração da resistência do material dado por

Tm T m J ' 7O)2 ' 0m3


onde o coeficiente parcial de segurança yml leva em conta a verdadeira variabilidade da resis-
tência do material dentro de lotes homogêneos, Y m , considera as diferenças entre o material da
estrutura e o material do corpo-de-prova, como a que existe no caso do concreto em que ocorre
quase um peneiramento quando ele é lançado através dos espaços entre as barras das armadu-
ras da estrutura, e y m{ considera os efeitos de todas as possíveis causas de redução da resistência
que não foram consideradas no modelo de segurança, como por exemplo os defeitos localiza-
dos no material da estrutura e as hipóteses simplistas das teorias empregadas no cálculo.

Desse modo, na consideração da resistência da estrutura, a resistência do concreto que a


constitui deve ser considerada com o valor

sendo então

Finalmente, é preciso salientar que para a investigação experimental de estruturas já existen-


tes há muito tempo, todas estas idéias devem ser consideradas para a estimativa da efetiva resis-
tência do concreto. Além disso, é preciso lembrar que a redução da resistência correspondente à
permanência das cargas deve ser considerada mesmo em relação às cargas móveis usuais, pois
os estudos realizados mostraram que bastam permanências correspondentes há umas poucas
semanas para que o efeito deletério do carregamento de longa duração fique manifestado.

Com os valores básicos padronizados km(xj = 0,85 e yc = 1,4, tem-se

fck = 0.61-fCk
e

No caso de ser conhecido um pequeno número de resultados provenientes de um lote de ho-


mogeneidade nào controlada, pode-se empregar o estimador Z t nas mesmas condições que as
consideradas no caso de avaliação a partir de testemunhos extraídos da estrutura, como adiante
analisado.

No caso de lotes cuja homogeneidade pode ser admitida, convém empregar o estimador ZH
estudado no item 8.5 do Capítulo 8.

9.7 A avaliação da resistência do concreto


das estruturas existentes - resumo
Na avaliação da resistência do concreto para a verificação da resistência das estruturas já exis-
tentes, podem ser extraídos testemunhos a serem ensaiados à compressão.

Existe então o problema de se determinar qual a resistência a considerar para esse concreto
na verificação analítica da segurança da estrutura.
Nesta situação, em que a estrutura já existe há algum tempo, é preciso reconsiderar os valo-
res a serem atribuídos aos coeficientes K o c r K ^ r K ^ K o t u e Y fll = Y m r Y « 2 - Y « j -

É importante assinalar que os procedimentos de extração dos testemunhos, como os reco-


mendados pela norma brasileira NBR 7680, podem provocar danos à integridade dos corpos-de-
prova.

Esses danos podem decorrer tanto da operação de sondagem rotativa, que pode provocar
microfissuração de uma camada periférica do exemplar, quanto da ação da alavanca, que pode
provocar fissuração transversal do exemplar para a liberação do exemplar, por meio de sua rup-
tura por flexão, em relação ao restante do concreto da estrutura.

Dessa maneira, quando se lida com estruturas construídas com os procedimentos profissionais
usuais, com os quais não se espera que existam partes estruturais com concretos anormalmente
deficientes, os resultados de testemunhos que indiquem resistências anormalmente baixas em
relação aos valores esperados devem ser descartados, em virtude da grande probabilidade de
que eles sejam conseqüência de danos provocados pelos procedimentos empregados durante a
extração ou ensaio dos testemunhos.

Embora não haja normalização a respeito dos possíveis danos provocados pelas operações
de extração dos testemunhos, já há longo tempo admite-se que com isso o corpo-de-prova pode
perder de 5% a 10% de sua resistência.

De modo geral, como o número dos testemunhos que podem ser efetivamente extraídos dc
uma estrutura existente é usualmente muito pequeno, em geral é usual que se possa fazer ape-
nas uma análise estatística assistemática, que engloba toda a estrutura em um único lote.

Nesse caso, a partir dos testemunhos de concreto extraídos da obra, é preciso selecionar os
resultados julgados válidos e, a partir do menor deles, estimar um valor aceitável para a resistên-
cia característica do concreto da estrutura.

Para isso,' pode


'
ser aplicado
r o estimador Z .>= K .1X i,mw'
. , onde i.irnn
X. . é o menor valor dos resulta-

dos admitidos como válidos, sendo K dado pela Tabela (8.5-a), do item 8.5, conforme o resumo
a seguir indicado.

Valores d e K a
Uniformidade
do concreto Excelente Usual
Coeficiente de
Variação 5 ( 0,10 0,15
Número de 1 0,063 0,753
corpos- 2 0,884 0,820
de-prova 3 0,910 0,859
4 0,928 0,886
5 0,942 0,907
6 0,953 0,924
A resistência de cálculo do concreto da estrutura será, então, dada por

K X
f r r. ,i i,min
cd.eff ~ led ~ mod
Im
Nessa estimativa, é ainda preciso destacar a consideração das dimensões dos testemunhos
ensaiados.

De acordo com as investigações de Jager, realizadas na década de 1940 no IPT de São Paulo,
com o emprego de corpos-de-prova cilíndricos com 15 cm de diâmetro e com diferentes alturas,
quando se empregam corpos-de-prova com 30 cm de altura é preciso adotar o coeficiente parcial
de modificação knxxi l = 0,95 para se chegar à resistência do concreto da estrutura.

De acordo com a NBR 768O50, a influência da relação altura/diâmetro dos testemunhos está
estabelecida em sua Tabela 1, a seguir transcrita

Valores da Tabela 1 NBR 7680

h/d Fator de correção a,


2,00 1,00
1/75 0,98
1,50 0,96
1,25 0,93
1,00 0,87

Considerando testemunhos com relações h/d da ordem de 1,25 a 1,50, o fator de correção a
ser empregado também é da ordem de 0,95, para a transformação dos resultados experimentais
em valores que seriam obtidos com testemunhos com h/d = 2,00.

Por outro lado, de acordo com Jager, para se obter a resistência do concreto da estrutura a
partir da resistência de corpos-de-prova cilíndricos com dimensões de 15 x 30 centímetros, deve-
se empregar knxxf l = 0,95.

Nessas condições, para estimar a resistência característica do concreto da estrutura, a partir


de testemunhos cilíndricos com relação h/denue 1,25 e 1,50, os resultados experimentais devem
ser multiplicados por a , . knHxU = 0,95 x 0,95 = 0,90.

Desse modo, em igualdade de outras condições, para a determinação da resistência de cál-


culo, deve ser

= a / x Locu • kmod,2 • kmod,3 = 0,95 x 0,95 xl,2x0,75


ou seja,

km(xl= 0,95 x 0,85 = 0,81

donde

K X
f — í — n 91 •> '>'»'"
Tcd,ef ~ Tlcd ~ Ü>V'
7m

para estruturas existentes de pouca idade, e

kmo(l = 0,95x0,95x1,0x0,80 = 0,72

para estruturas antigas, sendo, então,

K X
f —f — n 72
cd ,vf ~ Icd ~ U> /Z
7m

Para definir o coeficiente de ponderação J m da resistência do material, que no caso do con-


creto é indicado por y (/ sendo y = y , . y , . y ( y é preciso considerar cada um dos coeficientes
parciais.

Ao coeficiente y ,que considera a variabilidade intrínseca do concreto, é usualmente atribuí-


do o valor y f = 1,2. A partir deste resultado, é possível considerar os valores

7c2 = 7 c 3 = ii =

As incertezas existentes sobre as diferenças entre o material da estrutura e o material do


corpo-de-prova quase nào existem, pois o único motivo subsistente é a variabilidade de en-
saio, uma vez que o corpo-de-prova é feito com o próprio material da estrutura, daí resultando
y ; = 1,0. Já as incertezas referentes ao coeficiente parcial subsistem no caso de retirada dos
corpos-de-prova da estrutura |á construída.

Desse modo, com a extração dos corpos-de-prova do concreto existente, é possível considerar
y c J = 1,2, yc2 =l,0e = 1,08, logo

7'c = 7 C ; * 7 C 2 * 7 c j = 1,2x1,0x1,08 = 1,3


tecnologia do concreto e/truturol - tópico/ oplicodo/

Daí resultando

flcd ~ ~ °>62 X KaXi,min

para estruturas de pouca idade e

fjcd = 7 7 KtlXimin = 0,55 x KaXjmin

para estruturas antigas.


i erceira
Parte
Tópicos
referentes
ao estado limite
último de
compressão
do concreto
10. A teorização do dimensionamento
em regime de ruptura

10.1 Modelos de cálculo para solicitações combinadas


A prática atual de verificação da segurança do concreto estrutural em relação a estados limites
últimos decorreu do conhecimento experimental das condições de ruptura dos elementos estru-
turais sob ação dos diferentes tipos de solicitações. De modo geral, é mais de se temer a ruptura
por efeito de solicitações tangenciais que por solicitações normais, em virtude da natureza frágil
das rupturas por cisalhamento, porquanto elas decorrem essencialmente da ruptura do concreto,
o que torna possível o colapso não avisado das estruturas.

Tendo em vista esse risco, é princípio de segurança do concreto estrutural que os estados
limites últimos de solicitações tangenciais não devam ocorrer antes do surgimento de algum
estado limite de solicitações normais capaz de advertir os usuários da construção da presença
de situações de risco de danos pessoais. Nesse sentido, os estados limites decorrentes de soli-
citações de flexão, nas peças em que haja um banzo comprimido e outro tracionado, permitem
o alarme em relação a estados de proximidade de colapso, em virtude da fissuração exagerada
do banzo tracionado.

Nessas condições, mesmo nas proximidades de estados limites últimos de solicitações nor-
mais, é preciso que se mantenha a integridade das peças em relação aos estados limites últimos
devidos a forças cortantes e à torção.

O dimensionamento em regime de ruptura das peças estruturais sob ação de solicitações tan-
genciais somente é possível quando se obtém um conhecimento satisfatório a respeito dos me-
canismos de ruptura das peças estruturais à flexão, uma vez que os modelos resistentes de treliça
devem ser compatíveis com o que ocorre com as tensões normais nas seções transversais.

10.2 Evolução dos modelos de cálculo das seções fletidas


O cálculo das seções fletidas, ao longo dos tempos, foi sendo feito de acordo com diferentes
modelos clássicos de comportamento do concreto estrutural. Esses modelos são designados por
estádios I, II e III, e definidos em função do presumível diagrama de tensões atuantes no plano
da seção transversal de concreto; ver Figura (10.2-a).

No estádio I, o concreto ainda suporta tensões de tração e toda a seção de concreto resiste
à solicitação atuante. No estádio II, conta-se apenas com o concreto comprimido, no qual se
admite uma distribuição linear de tensões. No estádio III, definido pela iminência de ruptura da
zona comprimida, admite-se um diagrama de tensões curvilíneo na zona comprimida.
ESTÁDIO 1 ESTÁDIO 11 ESTÁDIO 111

'C1.U

•7

Estádios do concreto armado

Figura (10.2-a)

Para efeito de cálculo e m regime de ruptura, o diagrama de tensões de compressão no está-


dio III precisa ser padronizado.

Com essa finalidade, sempre admitindo a hipótese de manutenção da forma plana da seção
transversal até as proximidades da ruptura, os diferentes pesquisadores procuraram adaptar o
diagrama de tensões de compressão na seção transversal das peças fletidas aos resultados dos
ensaios de determinação do diagrama tensão-deformação do concreto. Esses ensaios, porém,
não facilitaram o desenvolvimento de uma teoria única de flexão, pois eles apresentavam discre-
pâncias entre si, que conduziram às mais variadas formulações da lei constitutiva do concreto
comprimido, como mostrado na Figura (10.2-b).

• € c c

€cco ^cc.max ^ccu

Diferentes diagramas tensão-deformaçâo admitidos para o concreto comprimido

Figura (10.2-b)
As diferentes teorias de flexão propostas a partir desses diagramas tensão-deformação foram
relacionadas por Langendonck 5 '.

Um estudo crítico minucioso das principais teorias de ruptura foi feito por Amaral". Algumas
dessas teorias clássicas apresentaram idéias básicas que permanecem válidas até hoje, não obs-
tante terem elas agora uma justificativa experimental mais abrangente do que na época e m que
foram propostas.

Embora essas teorias já fossem conhecidas, o surgimento de uma teorização suficientemente


clara e simples para as aplicações práticas somente ocorreu com os trabalhos de Langendonck.
As teorias simplificadas propostas por Langendonck para o cálculo do concreto armado no está-
dio III ganharam plena aceitação do meio técnico nacional e se tornaram de emprego generali-
zado por cerca de quatro décadas do século XX.

Em fins da década de 1970, foram introduzidas nas normas brasileiras as hipóteses de uma
nova teoria mais abrangente de cálculo do concreto estrutural em regime de ruptura. Esta nova
formulação será analisada e m minúcias mais adiante.

Para uma visão abrangente da evolução dessas idéias, analisam-se a seguir algumas das teo-
rias clássicas do cálculo em regime de ruptura.

a) Kazinczy (1933)
Admitindo peças ditas subarmadas, que são as que chegam ao escoamento da armadura de
tração antes da ruptura do concreto comprimido, Kazinczv i J adotou um diagrama retangular de
tensões, com tensão na borda mais comprimida igual à resistência à compressão obtida com
corpos-de-prova cilíndricos; ver Figura (10.2-c).

a ci,u = fc f.
71
T*„ /
"7"
/
. Ja = — x
12
u

Rs = A s f y

Teoria de Kazinczy

Figura (10.2-c)

Para compensar o fato de que o verdadeiro diagrama de tensões a deveria ser curvilíneo,
Kazinczy modificou a posição da resultante /? das tensões de compressão no concreto. Admi-
tindo para essa resultante uma posição intermediária entre as posições referentes ao diagrama
retangular de profundidade xu e ao diagrama triangular de igual resultante e profundidade 2xu
foi adotado então o valor

2xu 7
a = 2 2 3 12 X»

b) Bittner (1936)
Para as tensões de compressão na seção transversal, Bittner54 admitiu um diagrama parábola-
retângulo. O trecho parabólico foi admitido até a deformação £ f) = 1,5 x 10\ e o trecho retan-
gular até a deformação última £ f i, tomada com valores entre 3 x 10' e 7 x 10ver Figura
(10.2-d).
€c1 u = 3%o a 7%o

4
X =&a

Rc = a b x fc

Teoria de Bittner

Figura <10.2-d)

Considerando deformações £ f J u e n t r e 3 x 10{ e 7 x 10\ Bittner determinou os respectivos


valores de

Rc
a = = 0,833; 0,900; 0,927
bx-t

= — = 0,425; 0,452; 0,465


X

Em todos esses casos, para a parcela RJx - a) do momento resistente tem-se o valor

bx2

Rc (x - a) ^ 0, 9bx - f c ( l - 0,45)x £

praticamente igual ao que decorreria do diagrama uniforme de tensões C c .


c) Whitney (1937)
Considerando diagramas tensào-deformação curvilíneos, com a presença do ramo descen-
dente, Figura (10.2-e), W h i t n e y " admitiu que eles pudessem ser substituídos por diagramas re-
tangulares de mesma resultante. Todavia, como as posições das resultantes eram praticamente
coincidentes, Whitney adotou os valores

aciM = ° > 8 5 f c e ar.»/ ~ X /O


cal'*

4 °cmax =fc ^

0.85 f c

acal = xcal/2

cal
xef
R c,cal - R c,ef

Teoria de Whitney
Figura (10.2-e)

Embora não tenha investigado o valor do encurtamento de ruptura do concreto, Whitney con-
cluiu que não havia interesse e m sua determinação precisa, admitindo que a posição da linha
neutra correspondente à simultaneidade da ruptura do concreto com o escoamento da armadura
de tração pudesse ser adotada com o valor

Ç x = 1 = 0,537

independentemente da qualidade do concreto.

10.3 A história do moderno cálculo no estádio III


A partir das teorias anteriormente existentes, Langendonck 56 iniciou o desenvolvimento do
cálculo no estádio III, nos moldes empregados pelas normas brasileiras desde o surgimento da
NB-1, e m 1940, até a reformulação feita com o aparecimento da NI3R-6118:2003.

A nova teoria então proposta admitia hipóteses simpliíicadoras para o estádio III, descritas da
seguinte forma:
"1) que é nula a resistência à tração do concreto;

2) que o aço tem módulo de elasticidade constante;

3) que a ruptura só ocorre quando as tensões atingem simultaneamente, no aço, o limi-


te de escoamento e, no concreto, os três quartos da resistência à compressão;

4) que a distribuição das tensões de compressão no concreto é uniforme."

Nessa teoria inicial, para o caso de vigas simplesmente armadas, isto é, sem armadura de
compressão, a teoria admitia o escoamento da armadura tracionada, determinando-se então o
momento fletor último resistente pela ruptura do concreto comprimido, sem cogitações sobre o
encurtamento de ruptura do concreto, como indicado na Figura (10.3-a).

°c1,u = 3/4fc •

Rc = b x fc

Rs = V y

ESTÁDIO III - ARMADURA SIMPLES

Teoria inicial de Langendonck para armadura simples

Figura (10.3-a)

No caso de peças com armadura de compressão, essa teoria inicial evitava a consideração
explícita do encurtamento de ruptura do concreto, introduzindo a hipótese suplementar de que
a armadura mais solicitada, de tração ou de compressão, estivesse e m início de escoamento.
Como se mostra na Figura (10.3-b), essa idéia foi introduzida com a consideração da relação

_ d - x

com

crs=fy ou <J[ = fy
d'
€ c1 * R'$ R' s = A' s o' s

ESTÁDIO III - ARMADURA DUPLA


Teoria inicial de Langendonck para armadura dupla
Figura (10.3-b)

Já nessa primeira proposta, Langendonck chamava a atenção para a necessidade de se consi-


derar a resistência à compressão do concreto com um valor menor que o da resistência média,
que na época era o único valor a ser controlado.

Essa teoria foi incorporada ã primeira versão da NB-1, que se tornou de emprego obrigatório
em todas as obras realizadas pelo governo federal e pelos governos estaduais e municipais, por
meio do Decreto-Lei n. 2.773, de 11 de novembro de 1940, promulgado por Getúlio Vargas.

Os passos seguintes na evolução do cálculo do concreto armado em regime de ruptura"


foram dados poucos anos depois, com uma generalização do cálculo e m regime de ruptura,
pela formulação de uma teoria aproximada para o cálculo do momento de fissuração das peças
fletidas. Surgiu assim o cálculo do momento de fissuração no estádio ib, cujas hipóteses básicas
estão explicitadas na Figura (10.3-c).

Determinação do momento de fissuração - estádio Ib

Figura (10.3-c>
Posteriormente, em 1950, Langendonck 58 consolidou a generalização do cálculo no estádio
III. Essa generalização foi incorporada ã versão de 1950 da NB-159.

Nessa versão, eram admitidas as mesmas quatro hipóteses anteriores, acrescentando-se ou-
tras três. Assim, foi estabelecida a seguinte hipótese referente ao concreto:

"5) na falta de determinação experimentai o encurtamento de ruptura do concreto será


tomado igual a 0,15 °/oo".

Nessa época, para o dimensionamento das peças estruturais ainda era usualmente especifi-
cado o estádio II, permitindo-se, todavia, o estádio III, em todos os casos de flexão simples ou
composta, para quaisquer tipos de estruturas, inclusive para as pontes.

O emprego generalizado do estádio III no Brasil levou a uma inversão das exigências da NB-1.
De acordo com a NB1/6060, o cálculo das peças fletidas passou a ser normalmente feito no está-
dio III, permitindo-se, então, como alternativa tolerável, o cálculo no estádio II.

Para a generalização do emprego do estádio III, além das condições anteriores, foram admi-
tidas as seguintes hipóteses referentes às armaduras:

"6) a tensão na armadura de tração permanece constante a partir da tensão de escoa-


mento real ou convencional;

7) a tensão na armadura de compressão, na ocasião da ruptura, é igual ao limite mínimo


especificado para a categoria do aço empregado, desde que a distância do centro
de gravidade da referida armadura à borda comprimida da seção transversal seja no
máximo igual ã metade da distância da linha neutra à mesma borda".

Além dessas alterações, duas outras foram introduzidas nas condições de segurança. A rup-
tura do concreto passou a ser considerada como um valor aleatório, adotando-se uma definição
que pretendia ser o da resistência característica ftk hoje em dia considerada.

Uma tensão de compressão igual a esse valor era admitida com distribuição uniforme na zona
comprimida das seções fletidas, não se tomando valores superiores a 22 MPa.

Além disso, na flexão composta, eram alterados os coeficientes de segurança ou, então, o
momento da resultante das tensões de compressão no concreto em relação ao centro de gra-
vidade da armadura tracionada não seria tomado com valor superior a 3/4 do que se verificaria
com a hipótese extrema de que a zona comprimida se estendesse a toda a altura útil da seção
transversal.

Esta última restrição foi o início de uma série de tentativas de se estabelecer uma teoria geral
de cálculo no estádio III, que pudesse ser empregada incondicionalmente para qualquer forma
de seção transversal e para quaisquer combinações de momentos fletores e forças normais, in-
clusive na flexão oblíqua composta. Este objetivo, porém, somente foi alcançado mais de uma
década depois, com aceitação universal da teoria geral de flexão estabelecida por Rüsch, adiante
analisada.
10.4 As condições teóricas para a formulação
de uma teoria geral de flexão
As idéias essenciais para a formulação de uma verdadeira teoria geral de flexão do concreto
estrutural em regime de ruptura foram pela primeira vez claramente consideradas de forma glo-
bal no planejamento de ensaios realizados por Rüsch 6 '.

Para isso, como adiante se esclarece, os ensaios foram realizados principalmente com corpos-
de-prova submetidos ã flexão composta, providos de armaduras que não chegavam necessaria-
mente ao escoamento antes da ruptura do concreto comprimido.

Com essas precauções, foi possível entender a razão das discrepâncias obtidas com as inves-
tigações até então realizadas, que levaram à existência de diferentes teorias de flexão, que em
muitos aspectos eram conflitantes entre si.

A importância desse novo tipo de ensaio fica bem salientada pelos resultados contraditórios
obtidos por diferentes pesquisadores referentes ao encurtamento último ( Z c í J do concreto na
borda mais comprimida das seções transversais fletidas, em função da resistência à compressão
( f j determinada com os usuais corpos-de-prova cilíndricos de controle.

A Figura (10.4-a) reproduz dados elaborados por Mognestad, já divulgados entre nós há muito
tempo 62 , a respeito do encurtamento último do concreto da borda mais comprimida das seções
fletidas.

€ C1.U <1%0>

6
SALIGER

3
DTZAEG

> f c (MPa)
7 14 21 28 35 42

Diferentes resultados experimentais (Hognestad)

Figura (10.4-a)
Para entender a existência de tais resultados contraditórios, todos eles obtidos por pesquisa-
dores idôneos, como bem salientava Rüsch em suas aulas, é necessário esclarecer as seguintes
idéias básicas:

a) O diagrama tensão-deformação do concreto é influenciado tanto por sua idade, que afeta a
maturação e a retração, quanto pela duração do carregamento, que afeta a fluência, como
mostrado na Figura (10.4-b).
t = IDADE DO CONCRETO

A t = DURAÇÃO DO CARREGAMENTO

f c t = RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DO CONCRETO COM A IDADE t NUM ENSAIO RÁPIDO ( A t S 10 MIN)

A t = DURAÇÃO DO ENSAIO

Influência da duração do carregamento

Figura (10.4-b)

b) O diagrama de tensões a atuantes na zona comprimida da seção transversal fletida de-


pende da história do carregamento. Ele não fica determinado apenas pelo conhecimento
do encurtamento último do concreto (Ecl J na borda mais comprimida da seção submetida
à flexão, e da resistência à compressão ( f j obtida em ensaios rápidos de corpos-de-prova
cilíndricos com a mesma idade que a da peça rompida à flexão.

c) O problema da distribuição de tensões na seção transversal das peças fletidas é essencial-


mente hiperestático. Como exemplo, considere-se a seção retangular simplesmente arma-
da da Figura (10.4-c), submetida à flexão simples.

/ H
€Cl,U °c1,u

x = £'d mmm __ , •4-

d
— m —
y
/ ctf c z
/
/
€s

Parâmetros na flexão simples da seção simplesmente armada

Figura (10.4-c)
Admita-se que o diagrama de tensões de compressão fique definido por meio de 2 parâme-
tros: do coeficiente de bloco (X, que determina a resultante R^ e do parâmetro que determina
a posição da resultante por meio da profundidade £'x.

Para a determinação do momento fletor último M , são disponíveis as 3 equações seguintes:

I a ) Compatibilidade de deformações: l £ L l
x d-x
2 a ) Equilíbrio de forças axiais: Rc = R.

onde i pc — scí u = depende do diagrama tensào-deformaçào do aço empregado.


x

3 a ) Equilíbrio de momentos: Mu = Rr. z

ou seja, Mu = afcbx • (d - Ç'x) .

Desse modo, as 3 condições de flexão da seção considerada são univocamente determinadas


por 5 variáveis: Mu, x, 8flu, a,

O problema é, portanto, hiperestático.

Para sua solução, devem ser admitidas outras hipóteses simplificadoras.

Nas teorias anteriormente propostas, era sempre arbitrado o diagrama de tensões a , com o
que ficavam fixados os valores de a e Um exemplo dessa natureza é representado pela hipó-
tese do diagrama uniforme das tensões na região comprimida da seção transversal.

As incoerências dessas teorias passavam despercebidas, pois os ensaios para comprová-las


eram sempre realizados com vigas subarmadas, com armadura simples, submetidas à flexão
simples.

Com tais ensaios, ocorrendo o escoamento da armadura tracionada antes da ruptura do con-
creto, desaparece a influência da variável 6 r f u n , não sendo então necessário determinar o alon-
gamento £ s da armadura.

Por outro lado, na flexão simples, com pequenas profundidades da linha neutra, fica muito
amortecida a influência das possíveis variações de a e o que conduz à aceitação cas mais
variadas hipóteses quanto à forma do diagrama de tensões G ,

Uma teoria geral da flexão que possa permitir o cálculo satisfatório em regime de ruptura, de
qualquer seção transversal, submetida a quaisquer combinações de solicitações normais, deve
portanto estar baseada em ensaios de flexão composta, sem que a armadura comprimida esteja
em escoamento.
10.5 As condições de ensaio para a formulação
de uma teoria geral da flexão
Os ensaios necessários ao estabelecimento de uma teoria geral de flexão do concreto estru-
tural devem respeitar as seguintes condições:

a) Os carregamentos devem ser de longa duração, para que se manifestem os efeitos da


fluência e da microfissuração do concreto.

b) As máquinas de ensaio devem permitir a determinação completa do diagrama tensão-


deformação do concreto, tanto do seu ramo ascendente quanto do ramo descendente; ver
Figura (10.5-a).

Diagrama tensão-deformação sob carregamento de longa duração

Figura (10.5-a)

As prensas de ensaio então usualmente empregadas nos ensaios tecnológicos do concreto


eram máquinas de velocidade de carga controlada. Com elas, aplicam-se cargas crescentes a
corpos-de-prova submetidos a deformações também crescentes.

Quando é atingida a máxima tensão de compressão 0 mn que o corpo-de-prova pode suportar,


ocorre a sua desintegração, porque o concreto somente conseguiria permitir encurtamentos ain-
da maiores se a carga fosse concomitantemente reduzida, como se mostra na Figura (10.5-a).

Para a determinação do ramo descendente do diagrama é necessário empregar máquinas de


velocidade de deformação controlada. Nessas máquinas, o corpo-de-prova é submetido a defor-
mações crescentes, sendo automaticamente ajustada a carga aplicada ao corpo-de-prova.

Atualmente já são comuns as máquinas eletronicamente controladas que permitem o ensaio


com deformação controlada. Todavia, sem elas, a determinação do ramo descendente poderia
ser feita mesmo com equipamentos usuais de controle mecânico, desde que fossem adotados
arranjos de ensaio como o indicado na Figura (10.5-b).

Em cada instante, fica conhecida a força efetivamente aplicada ao corpo-de-prova de concre-


to, determinando-se a parcela da força total F q u e é resistida pela estrutura auxiliar, q t e para isso
é previamente calibrada por meio de extensõmetros.
ESTRUTURA
AUXILIAR
CALIBRADA

CORPO-DE-
PROVA DE
CONCRETO

Montagem de ensaio de deformação controlada

Figura (10.5-b)

c) Nos ensaios de longa duração, deve permanecer constante a solicitação imposta ao corpo-
de-prova. Assim, se o ensaio deve ser de compressão uniforme, as tensões devem perma-
necer uniformemente distribuídas ao longo de toda a duração do ensaio.

Para que as deformações impostas ao corpo-de-prova permaneçam ao longo do tempo sem-


pre igualmente distribuídas, é necessário corrigir repetidamente a posição da resultante dos
esforços aplicados, pois a aleatoriedade das deformações por fluência tende a mudar essa posi-
ção. Para isso, a posição da carga aplicada ao corpo-de-prova deve poder ser alterada, estando o
corpo-de-prova sob carga, como mostrado na Figura (10.5-c), que ilustra o princípio de funciona-
mento da máquina de Rasch empregada por Rüsch. Ensaios desta natureza foram realizados para
a determinação dos efeitos da carga de longa duração mostrados nas Figuras (9.4-b) e (9.4-c).
V/////A

^f /
ROLAMENTOS
tV -
/////A

0
y

V///A
E S S S S S S S I
V///////X MÊL
Princípio de funcionamento da máquina de Rasch (segundo Rüsch)

Figura (10.5-c)
11. O encurtamerito último do concreto

11.1 Diagramas tensão-deformação do concreto


Realizando ensaios de compressão uniforme com diferentes velocidades de deformação, fo-
ram obtidos resultados como os mostrados na Figura (11.1-a).

a c = TENSÃO DE COMPRESSÃO ATUANTE NO ENSAIO DE LONGA DURAÇÃO

Diagramas tensão-deformação considerando o efeito das cargas de longa duração (Rüsch)

Figura (11.1-a)

De modo geral, os resultados dependem não somente das propriedades físicas da mistura
e da idade do concreto no instante do início do carregamento, mas também da velocidade de
carregamento.

À medida que o ensaio de compressão se torna mais lento, observa-se a redução da resistên-
cia em relação à resistência potencial f(lque é obtida em um ensaio rápido, realizado no instante
da ruptura no ensaio de longa duração.

Fica, portanto, provado o efeito deletério das cargas de longa duração sobre a resistência do
concreto.

Paralelamente à diminuição da resistência com o tempo de carga, também se observa o au-


mento da importância do ramo descendente do diagrama tensão-deformação.
Nos ensaios de longa duração, além das deformações de natureza elastoplástica, :ambém se
manifestam deformações por fluência e retração do concreto.

As deformações do concreto consideradas como de natureza plástica são em grande parte de


natureza pseudoplástica, que decorrem de um processo de microfissuração da estrutura interna
do material.

Para que os resultados dos ensaios de longa duração possam ser empregados no desenvolvi-
mento de uma teoria geral sobre a flexão, é preciso que os diagramas tensão-deformação sejam
traçados em função das respectivas resistências obtidas em ensaios rápidos correspondentes a
uma mesma idade padrão convencional.

Tradicionalmente, os concretos têm as resistências avaliadas aos 28 dias de idade, pois é


essa a resistência especificada no projeto estrutural. Esses valores são representados pelo
símbolo í c28 .

Nas investigações realizadas por Rüsch, a idade-padrão de referência para a resistência do


concreto foi tomada com 56 dias, com a finalidade de se diminuir a variabilidade da resistência,
e m virtude do maior grau de maturação dos corpos-de-prova. Essas resistências, obtidas em en-
saios rápidos aos 56 dias de idade, são representadas por fc56.

Quando se pretende explicitar tanto o efeito das cargas de longa duração quanto o da matu-
ração do concreto, os resultados experimentais também podem ser representados err função de
uma resistência convencional, do tipo ( 2 8 , como mostra a Figura (11.1-b).

Diagramas tensão-deformação considerando os efeitos das cargas


de longa duração e da maturação do concreto
Figura (11.1-b)
Nesta representação, ficam salientados os dois fenômenos, o da queda de resistência pela
carga de longa duração e o do aumento da importância do ramo descendente do diagrama
tensão-deformação com a diminuição da velocidade de deformação.

Note-se que a resistência obtida no ensaio rápido com a v e l o c i d a d e d e deformação d e


1 x 70' 3 /min corresponde ao valor de fc 56, sendo maior que a resistência-padrão usual f , 8 , uma
vez que estes corpos-de-prova já tinham a idade de 56 dias no início do carregamento.

112 Diagrama efetivo de tensões na seção transversal


Para a determinação do diagrama de tensões efetivas na zona comprimida da seção trans-
versal de uma peça fletida, é preciso considerar que as diferentes fibras longitudinais são todas
deformadas de modo simultâneo e, como conseqüência, as velocidades de deformação das
diferentes fibras variam na mesma proporção que as ordenadas do diagrama de defoimações
longitudinais e , como mostrado na Figura (11.2-a).

Nessa figura são mostradas as tensões a da zona comprimida de uma viga ensaiada aos
t dias de idade, cujo carregamento teve duração d e 1 hora, provocando a deformação má-
xima £ = 5 x W 3 no final do carregamento.

Determinação das tensões efetivas em uma seção transversal fletida, cuja borda mais
comprimida tem a deformação £ , = 5 x 10'*, para a duração do carregamento de 1 hora
Figura (11.2-a)

Admitindo-se a hipótese de Rasch 6í , de que as relações tensão-deformação das fibras das


peças fletidas sejam as mesmas que as dadas pelos diagramas tensão-deformação determinados
em ensaios de compressão uniforme com as respectivas velocidades de deformação, pode-se
construir, ponto a ponto, o diagrama efetivo de tensões normais do banzo comprimido das pe-
ças fletidas.
Dc posse do diagrama de tensões normais no plano da seção transversal, uma vez conhecida
a forma dessa seção, pode-se calcular a resultante de compressão R e a posição dessa resultan-
te, conforme mostrado na figura (11.2-b).

Diagrama de tensões efetivas na seção transversal para diferentes velocidades de carregamento


Figura (11.2-b)

11.3 Determinação do encurtamento último


Para uma dada forma de seção transversal e uma determinada profundidade x da linha neu-
tra, com uma dada armadura de seção /V de tipo conhecido, para diferentes valores da defor-
mação extrema 8 , e para diferentes velocidades de deformação, obtêm-se diferentes diagramas
de tensões de compressão, os quais determinam diferentes condições de solicitação de flexão
composta na seção transversal considerada.

De modo geral, no concreto estrutural as solicitações de flexão composta são mais bem repre-
sentadas pela força normal acompanhada do momento fletor M referido ao centro de gravidade
da armadura de tração.
Com a notação empregada na Figura (11.2-b), para cada uma das situações consideradas
obtêm-se os valores

N = R(-AS*Í

Ms=Rc(d-£'x) ,

onde a tensão <5s na armadura fica inteiramente determinada por x e £ r

No caso de seções retangulares, tem-se

Ms=bx- afc (d - £ ' x )

resultando para o momento fletor reduzido o valor

M,
ih =
bd2f

Para uma mesma profundidade x d a linha neutra e uma mesma duração At do carregamento,
os resultados obtidos com diferentes valores do encurtamento £ ,da borda mais comprimida
cl
estão mostrados na Figura (11.3-a).

fMS =
Mc
5
Ac í
bd2f.

DURAÇÃO A t = CONSTANTE

PROFUNDIDADE DE LINHA NEUTRA


X = CONSTANTE

%J
t/í
ec
o

S
<
<3 •
s T
§
u I
* €c1 (6%o)

VARIAÇÃO DO MOMENTO RESISTENTE EM FUNÇÃO DE €c1 PARA


A MESMA DURAÇÃO A t DO PROCESSO DE CARREGAMENTO

Determinação do encurtamento último para uma dada velocidade de carregamento

Figura (11.3-a)
Se essa seção transversal fosse a seção crítica de uma peça estrutural submetida a um carre-
gamento crescente, a cada valor de ji^ aplicado nas condições especificadas para x e At, corres-
ponderia uma deformação extrema £ c l , dada por este diagrama da Figura (11.3-a).

Obviamente, como o momento fletor crescente com o aumento do carregamento somente


pode chegar até o vértice do diagrama, atingindo-se então uma situação última, conclui-se que a
correspondente deformação máxima £ f define o valor de £ . J o referente à profundidade da linha
neutra e à velocidade de carregamento consideradas.

Na Figura (11.3-b), estão mostrados os resultados obtidos por Rüsch analisando seções retan-
gulares, todas com / .6 = 21 MPa e x/d = 0,40, para diferentes velocidades de carregamento.

A t = 1 ano

0.27

0.26

0.25

DETERMINAÇÃO DO ENCURTAMENTO ÚLTIMO (RÜSCH)

Determinação do encurtamento último considerando diferentes velocidades de carregamento

Figura (11.3-b)

Como não se sabe a prioriqual a velocidade de carregamento mais desfavorável, para tornar o
encurtamento último £ , f u independente do processo de carregamento, é preciso adotar o valor
correspondente ao mínimo dos máximos momentos fletores últimos calculados com diferentes
velocidades de carregamento.
11.4 Generalização dos resultados
Para o estabelecimento de uma teoria geral de flexão, os raciocínios anteriores precisam ser
generalizados e m função da profundidade da linha neutra e da forma da seção transversal.

Os resultados obtidos por Rüsch estão mostrados nas figuras seguintes, e os correspondentes
diagramas de tensões de compressão estão apresentados no item seguinte, na Figura (12.1-a).

Na Figura (11.4-a) estão mostrados os resultados referentes às seções T, retangulares e trian-


gulares, com posições da linha neutra desde próximas à borda mais comprimida até próximas à po-
sição da armadura mais tracionada, chegando-se a valores do encurtamento último no intervalo

2x10 3 < €cí u < 5x10'3

INTERVALO DE

INFLUÊNCIA DA FORMA DA SEÇÃO TRANSVERSAL E


DA POSIÇÃO DA LINHA NEUTRA

Intervalo de variação geral do encurtamento último no caso da seção apenas parcialmente comprimida
Figura (11.4-a)

Observe-se, todavia, que para as aplicações não há necessidade do conhecimento de Zctu


com grande precisão.

De fato, considerando o exemplo da Figura (11.3-b), mesmo para a situação de maior incer-
teza, correspondente à duração de carregamento A í minutos, os diferentes valores de £cl(/
que variam aproximadamente entre 2 x 101 e 4 x 10 \ levam, com diferentes posições da linha
neutra, a uma diferença, entre o máximo e o mínimo momentos fletores últimos calculados, não
superior a 10%.
Desse modo, analisando os resultados mostrados na Figura (11.4-a), correspondentes às
situações e m que a linha neutra corta a seção transversal, é razoável aceitar o valor médio
£ u = 3,5 x 1&3 para todos os casos possíveis.

Quando a linha neutra não corta a seção transversal, estando toda ela comprimida, pode-se
aceitar a variação linear de £ u com a profundidade da linha neutra xt/ admitindo o valor-límite
£ = 2,0 x 10s, no caso de compressão uniforme; ver Figura (11.4-b).

UNHA NEUTRA CORTANDO

Encurtamento último com a seção inteiramente comprimida


Figura (11.4-b)
12. A forma do diagrama de tensões de compressão

12.1 O diagrama parábola-retângulo


No item 11 foi mostrado como construir, ponto a ponto, o diagrama de tensões normais na
zona comprimida da seção transversal das peças fletidas. Para isso, era necessário conhecer os
diagramas tensão-deformaçào do concreto submetido a diferentes velocidades de deformação,
bastando então impor o tempo At de duração do carregamento da peça fletida, bem como o
diagrama de deformação da seção transversal a ser atingido nesse tempo A í especificado, tudo
a partir da mesma idade i d o concreto.

Lm uma dada seção transversal, para cada posição da linha neutra e para cada valor da de-
formação na borda mais comprimida, resulta certo momento fletor resistente. Variando o encur-
tamento da borda mais comprimida, obtêm-se diferentes momentos resistentes, cujo máximo
define o encurtamento último £ l t / como mostrado na figura (11.3-a).

A generalização mostrada na Figura (11.4-a), referente a resultados de seções T, retangulares


e triangulares com duas profundidades extremas da linha neutra, foi elaborada com a hipótese
de que a duração A í dos carregamentos fosse, para todos eles, de 1 hora. Na Figura (12.1-a)
estão mostrados esses diagramas de tensões, bem como os correspondentes diagramas de de-
formações.

€ c 1 u = 3,0%» = 3,8 %o

= 4.8 % o i o

Deformações e tensões na ruptura para valores extremos de £ = xjd e At = 1 hora


Figura (12.1-a)

Na Figura (12.1-b), todos os diagramas anteriores foram superpostos, mostrando-se que o dia-
grama parábola-retângulo, com o trecho retangular de profundidade 3/7 x, forma uma envoltória
suficientemente precisa para as aplicações práticas.
Note-se que mesmo no caso particular da seção triangular, com a linha neutra próxima da
borda comprimida (Ç u A —'• 0), os erros cometidos na estimativa da resultante das tensões de
compressão não afetam significativamente a determinação do momento fletor resistente.

Envoltória dos diagramas de tensões - Carregamento com duração At = 1 hora


Figura (12.1-b)

listes mesmos resultados estão mostrados na figura (12.1-c), construída agora s o b a forma de
diagramas tensão-deformação. Todos os diagramas estão contidos na zona tracejada da figura.

retângulo.

A t = 1 hora

*€c(%o)

Diagramas tensão-deformação e o diagrama parábola-retángulo


Figura (12.1-c)
Observe-se que, embora o diagrama parábola-retângulo tenha sido imaginado como repre-
sentativo das tensões na zona comprimida das peças fletidas, ele também pode ser interpretado
como uma aproximação do diagrama tensão-deformação do concreto comprimido e, como tal,
tem sido por vezes empregado nas aplicações do concreto estrutural, a despeito da incoerência
entre o valor do módulo de deformação longitudinal do concreto e a tangente na origem desse
diagrama.

Os resultados até agora analisados sobre as investigações realizadas sugere que c diagra-
ma de tensões no plano da seção transversal fletida possa ser admitido com a forma de uma
parábola-retângulo.

Todavia, é importante notar que os resultados considerados foram obtidos apenas com a du-
ração de carregamento At = 1 hora.

A generalização dos resultados precisaria ser feita para qualquer duração do carregamento.
No entanto, a técnica experimental empregada para a obtenção dos resultados até aqui anali-
sados levaria a uma quantidade de trabalho proibitiva se fosse empregada nessa generalização
de resultados.

Ao invés disso, a generalização foi feita de modo mais simples, conforme se mostra a seguir,
controlando-se apenas as deformações na fibra mais comprimida e na fibra menos comprimida
ou mais tracionada da seção transversal em observação.

12.2 Influência da duração do carregamento


O diagrama parábola-retângulo determinado no item anterior decorreu de ensaios realizados,
todos eles, com 1 hora de duração do carregamento.

Com o objetivo de aferir a influência da duração do carregamento sobre a forma do diagra-


ma de tensões, foram feitos ensaios de longa duração com prismas submetidos à compressão
excêntrica64.

Nesses ensaios. Figura (12.2-a), foram medidas as deformações 8 , e 8 , das fibras extremas
das seções transversais fletidas e a carga de ruptura para diferentes excentricidades relativas
X = e/h.
Deformações nas bordas extremas em função da excentricidade relativa X = c/h
Figura (12.2-a)

Os corpos-de-prova foram carregados na idade t0 = 56 dias, ocorrendo a ruptura após o


tempo A t u = 70 dias. Nesta figura, estão mostradas as deformações nas bordas extremas,
na iminência de ruptura, ocorrida na idade tfl + A í e no meio do período de carregamento,
na idade t0 + A t/2.

Os correspondentes diagramas de deformações das seções transversais das peças ensaiadas


estão mostrados na Figura (12.2-b).

Note-se que para a mesma excentricidade relativa é pequena a diferença da posição da linha
neutra na iminência da ruptura e no meio do período de carregamento, embora as deformações
nessas duas situações sejam muito diferentes entre si.
compressão

Diagramas de deformação em função da excentricidade relativa


no meio do período de carregamento e na iminência da ruptura
Figura (12.2-b)

Essa permanência da posição da linha neutra por longos períodos de tempo sob a ação de
carregamentos constantes sugere que o diagrama de tensões também permaneça praticamente
constante ao longo do tempo, pois as condições de equilíbrio a respeitar são as mesmas durante
todo o tempo considerado.

Na seqüência da investigação esta hipótese de manutenção da forma do diagrama de tensões


ao longo do tempo foi comprovada experimentalmente.

Todavia, para essa finalidade, foi preciso considerar os diagramas de deformações em situa-
ções afastadas da iminência de ruptura do concreto, pois em situações dessa natureza a varia-
bilidade das deformações é muito grande, e m virtude da intensa microfissuração que precede a
ruptura macroscópica.

Na investigação realizada por Rüsch, foi adotado o critério prático de se considerar o diagrama de
deformações no meio do período de carregamento, ou seja, o diagrama na idade t0 + At/2. Com
este critério os diferentes corpos-de-prova deveriam chegar à ruptura praticamente na mesma
idade t0 + At.

Note-se, como comentou o próprio Prof. Rüsch", que o critério prático poderia ter sido outro.
Ao invés do diagrama de deformações corresponder ao meio do período de carregamento sob a
ação de um carregamento constante, que vai produzir a ruptura no fim de tal período, o diagra-
ma poderia ter sido adotado, por exemplo, como sendo aquele correspondente a 90% da carga
de ruptura, e m ensaios com carregamentos progressivos suficientemente lentos. Com este outro
critério, os ensaios de longa duração não precisariam levar todos os corpos-de-prova à ruptura,
com praticamente a mesma duração A/ti do carregamento.

12.3 Influência da duração do carregamento


sobre a resistência média da zona comprimida
Realizando ensaios rápidos no tempo t de compressão centrada e de compressão excêntrica de um
mesmo concreto, pode ser obtida a relação entre a resistência média ( <
f i,A
r = F/A com X = e/h ^ 0) e a
C
resistência efetiva (t(l}=0= F/A ), ambas referentes à mesma idade t do concreto. Na Figura (12.3-a)
estão mostrados ensaios que indicaram que os resultados são praticamente independentes da
qualidade do concreto e de sua idade na ocasião da ruptura.

ENSAIOS RÁPIDOS (t = 56 dias) ENSAIOS DE LONGA DURAÇÃO


(t 0 = 56 dias t u = 56 + 70 dias)

f c 5 6 = 35 MPa f c 5 6 = 35 MPa

TENSÃO MÉDIA DE RUPTURA SOB CARGA EXCÊNTRICA

Resistência média da zona comprimida - Ensaios de Rüsch


Figura (12.3-a)

Na Figura (12.3-a) estão mostrados os resultados dos ensaios lentos de compressão excên-
trica, expressos pela razão entre a resistência média excêntrica fCC,.A e a resistência efetiva fCC,.A =
v

obtidos com corpos-de-prova centrados submetidos à mesma história de carregamento. Nessa
mesma figura também estão mostrados os valores que se obtêm corrigindo as razões antes indi-
cadas pela relação entre a resistência i u .de longa duração e a resistência ( ( o b t i d a e m ensaios
rápidos com ruptura na mesma idade t = t0 + At u que a do ensaio de compressão excêntrica.

Estes últimos resultados praticamente coincidem com aqueles obtidos com ensaios rápidos de
compressão excêntrica. Isso mostra que a influência da excentricidade pode ser estudada expe-
rimentalmente apenas com ensaios de curta duração, sendo seus resultados aplicados :ambém
aos ensaios de longa duração. Esta conclusão permitiu que o efeito da excentricidade pudesse
ser cuidadosamente analisado por meio de ensaios rápidos, que são de mais fácil execução.

12.4 Diagrama de tensões com carregamentos de longa duração


Conforme o item anterior, nos ensaios de ruptura por compressão excêntrica com carrega-
mentos de longa duração, com excentricidade relativa X = e/h conhecida, foram medidas, no
meio do período de carregamento, as deformações E c 1 e £ ,nas fibras das bordas extremas e,
a partir delas, foi determinada a posição da linha neutra, como mostrado nas figuras (12.2-a) e
(12.2-b). Além disso, conhecendo a carga de ruptura aplicada nesses ensaios, obtém-se a resis-
tência média f . da zona comprimida da seção transversal; ver Figura (12.4-a).
CCtA

Traçado do diagrama de tensões

Figura (12.4-a)

A tensão aplicada na borda mais comprimida da seção, O r J i / na condição de ruptura, que


se admite ser igual à resistência efetiva de longa duração do concreto, pode ser obtida a partir
da resistência média f(rX, corrigindo-a como indicado na Figura (12.4-a), pela relação f6
conforme foi esclarecido no item 12.3, obtendo-se então o valor

ífct,\=0
'cc,\=0 ~~ 4c,A
Admitindo-se então que seja G ( l u = ( a x=0 , e conhecendo-se a posição da linha neutra, é pos-
sível, por meio de tentativas, determinar o diagrama de tensões na seção transversal, como se
mostra e m linha pontilhada na Figura (12.4-a).

O diagrama de tensões assim determinado deve respeitar as duas condições de equilíbrio,


isto é, o trecho que efetivamente atua sobre a seção da peça deve ter resultante igual à força r
aplicada e o centro de gravidade deve estar sobre a linha de ação da força excêntrica aplicada
no ensaio.

Desse modo, a partir das deformações mostradas na Figura (12.2-b), para t = t() + At/2, foram
construídos os diagramas de tensões mostrados na Figura (12.4-b).

Diagramas de tensões de compressão na seção transversal fletida


Figura (12.4-b)

Estes mesmos diagramas de tensões, construídos com a forma de diagramas tensão-deforma-


ção, estão mostrados na Figura (12.4-c).
Envoltória parábola-retângulo dos diagramas de tensões e deformações praticamente na ruptura
Figura (12.4-c)

Os resultados assim obtidos mostram que o diagrama parábola-retângulo pode ser aceito
como representativo do diagrama de tensões de compressão no plano da seção íletida, cualquer
que seja o tempo de duração do carregamento que conduz ao estado limite último de ruptura do
concreto, pois, mantidas as condições de solicitação, a posição da linha neutra é praticamente
constante.
13. A teoria geral da flexão

13.1 Hipóteses da teoria geral da flexão


A teoria geral da flexão no concreto estrutural é aceita como válida para seções transversais
de forma qualquer, submetidas a quaisquer combinações de solicitações normais. Ela continua
sendo admitida como válida, mesmo na presença de solicitações combinadas, de solicitações
normais e de solicitações tangenciais.

Além da manutenção da forma plana da seção transversal, conforme foi visto anteriormente,
essa teoria admite as hipóteses básicas seguintes, ilustradas pela Figura (13.1 -a).

2%o 3,5%o

Hipóteses da teoria geral de flexão

Figura (13.1-a)

A) Admite-se como um estado limite último, o estado de alongamento plástico excessivo da


armadura tracionada, definido pelo alongamento £ = 10 x 103.

A idéia de que o alongamento £ c i = 10 x 103 caracterize uma situação última corresponde à


definição de um estado limite último de fissuração exagerada, pois, nesse caso, praticamente
todo o alongamento da armadura se transforma e m abertura de fissuras.
O alongamento último é convencional, não havendo precisão em sua definição. Para essa
finalidade, o valor de 10 x IO3 é tão bom quanto o de 5 x 10\ pois a sensação de iminência de
colapso é praticamente a mesma, quer existam 10 ou 5 fissuras de 1 mm de abertura por metro
linear da peça.

B) O estado limite último de ruptura do concreto comprimido é definido pelo encurtamento


£ , u = 3,5 x 103 na borda mais comprimida da seção, desde que na peça exista um banzo
comprimido e um banzo {racionado. Quando a seção transversal está totalmente compri-
mida, o encurtamento último varia linearmente com a posição da linha neutra, valendo
£ tu" 2,0 x W3 na compressão uniforme.

O chamado estado limite último de ruptura do concreto comprimido é, de fato, um


estado-limite último de encurtamento último convencional. O valor do encurtamento últi-
mo £ lu = 3,5x 1V3 não decorreu de medidas diretamente obtidas em ensaios de ruptura de
peças fletidas. Em um ensaio cie flexão nem é possível determinar o que seria o valor do
encurtamento correspondente à ruptura, pois, nas proximidades da ruptura da peça, existem
fenômenos de intensa microfissuração e de rápida fluência do concreto. Como foi visto, os
valor £ r f (j = 3,5 x 103 e £ f f u = 2,0 x 103 adotados representam apenas valores médios razoá-
veis.

C) O diagrama de tensões de compressão na seção transversal da peça fletida é formado por


uma parábola, com vértice correspondente à deformação £ ( = 2,0 x 103, e por um retan-
gulo, para as deformações que superam este último valor.

O diagrama admitido para as tensões de compressão não decorre do diagrama tensâo-defor-


mação do concreto. Não existe uma relação entre a inclinação da tangente do ramo parabólico
em sua origem e o módulo de deformação longitudinal do concreto. O diagrama parábola-retân-
gulo nào define a lei constitutiva do concreto comprimido.

D) Para efeito de verificação da segurança, admite-se que, no estado limite último de ruptura,
a máxima tensão de compressão atuante na seção transversal seja iguala 0,85 da resistên-
cia de cálculo do concreto.

O coeficiente de redução 0,85 leva em conta o tamanho do corpo-de-prova de controle, a


idade com que se controla a resistência e o efeito deletério das cargas de longa duraçãD.

Este coeficiente 0,85 não deve, portanto, ser interpretado como um novo coeficiente parcial
de segurança, da mesma natureza que o coeficiente J c de minoração da resistência do concreto.
Ele é um simples coeficiente de modificação (kmJ que corrige certas imprecisões existentes na
teoria geral de flexão.

13.2 Considerações finais


Em virtude da complexidade dos fenômenos envolvidos, as investigações realizadas66, que
permitiram a formulação de uma teoria geral de flexão do concreto estrutural, foram conduzidas
em três fases bem distintas. Em cada uma delas, foi investigado, isoladamente, apenas um dos
parâmetros da teoria.
Considerando os possíveis eslados limites últimos das peças fletidas, as diferentes fases da
investigação procuraram esclarecer as seguintes idéias:

1 a Fase. Determinação do encurtamento último E ( J u na borda mais comprimida da seção


transversal no estado limite último de ruptura do concreto comprimido.

Nesta fase, não se especificam nem a forma do diagrama de tensões de compressão nem
o valor da máxima tensão G , atuante.
cl.u
2 a Fase. Determinação da máxima tensão última C r l u atuante na borda mais comprimida da
seção por ocasião do estado limite último de ruptura do concreto comprimido, decorrente
de ações de longa duração.
Nesta fase, não se especificam o valor do encurtamento último £ c / u , nem a forma do dia-
grama de tensões de compressão na seção transversal
3 a Fase. Determinação da forma do diagrama de tensões de compressão atuantes na seção
transversal seja no estado limite último de ruptura do concreto comprimido, seja no estado
limite último de alongamento plástico excessivo da armadura tracionada.

Nesta fase, não se especificaram nem os valores do encurtamento último £ nj, nem da
tensão última o cl.u
. .

Foi a consideração isolada de cada um destes parâmetros que permitiu a formulação de uma
teoria geral aproximada da flexão do concreto estrutural, válida em termos práticos para todas as
situações de solicitações normais.
Notas
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RÜSCH, H. Op. cit.


Tecnologia do Concreto Estrutural
aborda temas imprescindíveis para o projeto,
execução e utilização das construções d e con-
creto estrutural. Procura esclarecer conceitos
e idéias q u e condicionam decisões de proje-
to, execução e manutenção relacionadas dire-
tamente à durabilidade e à segurança das es-
truturas. São consideradas as idéias essenciais
para o entendimento dos fenômenos básicos
do comportamento químico dos cimentos na
formação dos concretos, tendo e m vista a re-
sistência mecânica e a capacidade de resistir
aos ataques do meio externo.

D e forma análoga, analisa-se a proteção das armaduras contra a corrosão


dentro da massa d e concreto, esclarecendo o efetivo significado da fissura-
ção do concreto e m relação ao ataque a essas armaduras.

Considerando q u e a resistência mecânica do concreto constitui elemento


essencial d e garantia da qualidade da estrutura, são esclarecidos conceitos
essenciais a o controle da resistência por meio d e corpos-de-prova cilíndricos
com 18 cm x 30 cm, aos 28 dias d e idade. O livro discute o q u e significam
esses resultados e como são integrados à formulação d e uma teoria geral d e
flexão e m regime de ruptura do concreto.

Finalmente, este livro aborda a história da evolução do cálculo do concreto


armado, considerando as teorias propostas por Langendonck, e apresen-
tando, d e m o d o minucioso, a teoria geral da flexão do concreto estrutural
elaborada por H. Rusch, q u e dele foi ouvida, d e viva voz, por este autor.

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