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ècãnica
i m i i r e s s a o & f e l ?
Péricles
Brasiliense Fusco
• Doutor em Engenharia -
EPUSP - 1968
• Orientou 19 dissertações de
mestrado e 17 de douturado
• Projetista de estruturas de
concreto, tendo participado
do projeto de grandes obras
realizadas no País durante os
últimos 25 anos, nas áreas
de edifícios altos, indústrias
pesadas, ponte e usinas.
Tecnologia do
Concreto Estrutural
Tópicos Aplicados
Bibliografia
ISBN 978-85-7266-200-0
08-03938 CDD-624.1834
P edição
IIHHHLtMIlMDt
1 a tiragem: 2.000 exemplares, junho/08
Prefácio
Primeira Parte
Tópicos referentes à constituição do concreto estrutural 9
1.1 Histórico 11
1.2 Características 12
1.4 Questionário 17
2.1 Cimentos 19
2.2 Apreçados 20
2.4 Questionário 24
3. ENDURECIMENTO DO CONCRETO 26
3.9 Questionário 40
4. DURABILIDADE DO CONCRETO 41
4.6 Questionário 46
5.10 Questionário 62
Segunda Parte
Tópicos referentes à resistência mecânica do concreto 65
6. RESISTÊNCIA DO CONCRETO 66
6.9 Questionário 77
10.4 As condições teóricas para a formulação de uma teoria geral da flexâo 150
10.5 As condições de ensaio para a formulação de uma teoria geral da flexão 153
1.1 Histórico
Desde a antigüidade, a pedra e o tijolo foram os materiais mais importantes para as constru-
ções humanas.
A arquitetura grega foi conseqüência do emprego de vigas e placas de pedra. A baixa resis-
tência à tração da pedra obrigou ã utilização de pequenos vãos, daí decorrendo as colunatas
típicas dessa arquitetura.
A civilização romana desenvolveu o tijolo cerâmico e com isso escapou das formas retas,
criando os arcos de alvenaria. Todavia, a construção romana de obras portuárias exigiu solução
diferente. Ela foi encontrada na fabricação de um verdadeiro concreto, cujo cimento era consti-
tuído de pozolanas naturais ou obtidas pela moagem de tijolos calcinados. A cal com adição de
pozolana é chamada de cal hidráulica, por sofrer endurecimento por reação química com a água.
Com a queda do império romano, o mundo ocidental voltou a ser uma civilização rural. As
cidades renasceram somente em fins da Idade Média.
Com a Revolução Industrial, que trouxe à luz o cimento Portland e o aço laminado, surge o
concreto armado em meados do século XIX.
Considera-se como a primeira peça de concreto armado o barco construído por Lambot, na
França, no ano de 1849. Essa data é hoje admitida internacionalmente como sendo a do nasci-
mento do concreto armado.
A invenção do concreto armado não pode ser atribuída especificamente a uma única pessoa.
Muitos foram seus pioneiros, dentre os quais, além de Lambot, se têm Monier e Coignet, france-
ses, e llyatt, norte-americano. Deles, apenas Coignet era engenheiro; Monier era o encarregado
dos jardins de Versailles e Hyatt, advogado.
Em 1902, Mõrsch publica a 1 9 edição de sua monumental obra sobre a "Teoria e a Prática do
Concreto Armado", que em muitos aspectos é válida até hoje.
Em 1940 surge a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, como conseqüência da ela-
boração da própria NB-101 - Norma para o projeto e execução de estruturas de concreto armado.
Na década de 1950 cria-se o CEB - Comitê Europeu do Concreto, do qual o Brasil passa a fazer
parte. Surge também a I IP - Federação Internacional da Protensão.
Em trabalho conjunto coordenado pelo CEB, abordando os mais variados temas técnicos e
científicos ligados às estruturas de concreto, foi feita a revisão total de todas as idéias referentes
ao concreto estrutural.
Nesse sentido, cabe lembrar que as ciências básicas têm por finalidade o entendimento da
natureza, formulando teorias baseadas em princípios admitidos como válidos até prova em con-
trário. As ciências profissionais têm por finalidade o entendimento dos comportamentos dos
sistemas materiais de interesse à vida humana, sendo baseadas nas ciências básicas, com a
adoção de hipóteses simpliíicadoras para a formulação de suas próprias teorias. As técnicas têm
por finalidade encontrar soluções práticas para as necessidades da vida, ou seja, elas procuram
estabelecer os procedimentos de elaboração correta das coisas.
As técnicas são compostas por regras de trabalho, que de início foram estruturadas empiri-
camente a partir da própria prática profissional e, ao longo dos tempos, foram sendo refinadas
pelos conhecimentos científicos. As sucessivas fases da revolução industrial, paralelas às diver-
sas fases da revolução científica, permitiram a formação da atividade industrial como hoje é
praticada, baseada em regras de trabalho estabelecidas com apoio do conhecimento científico.
As lécnicas passaram a ser tratadas como tecnologias. A tecnologia, cujo objelivo é o estudo
das regras de trabalho das técnicas, passou aos poucos a ser entendida, de modo usual, como a
técnica baseada no conhecimento científico.
A primeira síntese dos resultados obtidos pelo trabalho coordenado pelo CEB foi elaborada
em 1970, com a publicação das Recomendações Internacionais CEB-FIP/70.
Em 1998, juntaram-se as duas associações, CEB e FIP, formando a FIB, Fédération Internationa-
le du Béton,3 que permanece até hoje liderando o progresso das estruturas de concreto.
1.2. Características
As vantagens do concreto armado sobre outros materiais de construção decorrem de suas
características e dependem das circunstâncias próprias em que se desenvolvem as obras.
I. Economia de construção
Como a maior parte do volume de materiais empregados no concreto armado - pedra e areia
- é obtida de fontes locais, não muito distantes da obra, seus custos em geral são significativa-
mente menores que o das alternativas representadas por outros materiais, como o aço.
Quando esta disponibilidade de materiais locais adequados não existe, como nas terras bai-
xas de grandes áreas da Amazônia, o emprego do concreto pode ceder lugar ao aço e à madeira,
embora a ausência de pedra britada possa aí ser resolvida pelo uso de seixos rolados, desde que
adequadamente resolvido o problema de se evitar a reação álcali-agregado, como se analisa no
item 4.4.
II. Resistência a agressões químicas do ambiente
O concreto tem uma grande durabilidade natural, em virtude de suas propriedades físico-
químicas, que o assemelham às rochas naturais, embora ele seja um material essencialmente
poroso, que precisa ser adequadamente entendido para que de fato possa ser garantida a sua
durabilidade. Em particular, as agressões dos sulfatos ao concreto e dos cloretos aos aços, além
da ação da poluição ambiental, devem ser cuidadosamente consideradas desde a fase de proje-
to, de acordo com o que é analisado nos capítulos 4 e 5.
A mistura do cimento com a água forma a pasta de cimento. Adicionando o agregado miúdo,
como a areia, obtém-se a argamassa de cimento. Juntando o agregado graúdo, como a pedra
britada ou seixos rolados, tem-se o concreto simples.
Nas estruturas de concreto armado, a baixa resistência à tração do concreto simples é contor-
nada pela existência de armaduras de aço adequadamente dispostas ao longo das peças estru-
turais. Desse modo obtém-se o chamado concreto estrutural, embora também existam alguns
tipos de estruturas de concreto simples.
Quando o concreto endurece, formando a peça estrutural, o concreto e suas armaduras pas-
sam a trabalhar solidariamente, isto é, não existe escorregamento relativo entre os dois mate-
riais. Esta é uma hipótese fundamental da teoria do concreto armado. Ela admite a solidariedade
perfeita dos dois materiais.
As armaduras de protensão têm, portanto, um papel ativo na distribuição dos esforços inter-
nos das peças estruturais protendidas. Por essa razão, elas também são chamadas de armaduras
ativas.
O correto tratamento das estruturas de concreto exige que elas sejam consideradas como
formadas por dois materiais diferentes: o concreto e o aço. Para o trabalho conjunto desses dois
materiais, devem ser respeitadas as condições de compatibilidade de seu emprego solidário. O
concreto armado não deve ser imaginado como um material unitário, no qual as armaduras de
aço se constituem em simples fibras resistentes à tração.
A idéia de que o concreto armado é um material composto sempre deve estar presente, a fim
de garantir o perfeito funcionamento solidário do concreto (material frágil, de baixa resistência
e de menor rigidez) com o aço (material dúctil, de grande resistência e de maior rigidez).
B B S ARMADURAS LONGITUDINAIS
ARMADURAS TRANSVERSAIS
( T ) ARMADURAS COMPLEMENTARES
2 j ) ARMADURAS DE MONTAGEM
BLOCOS DE
FUNDAÇÃO
1C
(C-C)
Figura (1.3-a)
2. Armaduras complementares
2.1 Armaduras de montagem
4 = 4 = 4
Como mostra o exempio da Figura (1.3-a), nos blocos de fundação, cujo comportamento sim-
plificado de bloco é análogo ao de viga sobre dois apoios, convém empregar a gaiola formada
pelas armaduras construtivas lá indicadas.
As armaduras de pele têm por finalidade redistribuir a fissuraçào que tende a ser provocada
pelo emprego de armaduras longitudinais de resistência geral colocadas de forma concentrada
e m posições privilegiadas da peça estrutural.
As armaduras de resistência local têm por finalidade absorver esforços de tração existentes
e m regiões localizadas das peças estruturais, em virtude de diversas razões, como as mostradas
na Figura (1.3-b).
Essas armaduras de resistência local asseguram que a peça estrutural possa ter o compor-
tamento global previsto, garantindo que as armaduras de resistência geral possam funcionar
efetivamente da maneira prevista para elas.
1.4 Questionário
2) Em alguns lugares da Amazônia, o concreto pode não ser solução econômica. Por que e
como pode ser resolvida essa dificuldade?
10) Quais as máximas resistências de escoamento dos aços das armaduras passivas?
12) Qual a resistência de escoamento máxima dos aços das armaduras de protensãoi
2.1 Cimentos
Os cimentos que podem ser empregados na construção de estruturas de concreto são de
diversas qualidades.
Os componentes básicos dos cimentos são sempre os mesmos, variando, para cada tipo, a
proporção em que esses componentes comparecem.
Os componentes básicos dos cimentos são a cal (CaO), a sílica (SiO,), a alumina (Al.OJ e o
oxido de ferro (Fc,Of). Esses componentes são aglutinados por sinterização, isto é, por aque-
cimento da mistura até uma fusão incipiente, sendo posteriormente moídos com uma finura
adequada.
Para o cimento Portland comum, admite-se que a finura Blaine, medida pelo ensaio de per-
meabilidade ao ar, deva ser no mínimo de 2.600 cm7$.
As normas brasileiras consideram a aplicação dos seguintes cimentos na construção das es-
truturas de concreto:
De acordo com a Especificação Brasileira EB-4, o agregado miúdo é a areia natural quartzosa,
ou a artificial, resultante do britamento de rochas estáveis, de diâmetro máximo igual ou inferior
a 4,8 mm.
O diâmetro máximo de 4,8 mm referido pela EB-4 é na verdade o diâmetro característico su-
perior dk do agregado. Esse diâmetro, como mostra a Figura (2.2-a), é ultrapassado por apenas
5% da quantidade considerada.
Percentagens acumuladas
Peneiras aberturas nominais
e m m m (série normal ABNT) Zona ótima Zona utilizável
9,5 0 0
4,8 3-5 0-3
2,4 29-43 13-29
1,2 49-64 23-49
0,6 68-83 42-68
0,3 83-94 73-83
0,15 93-98 88-93
Para se obter uma apreciação global sobre a composição granulométrica da areia, define-se
o módulo de finura MF, pela soma das freqüências relativas acumuladas, obtidas no ensaio de
peneiramento normal, isto é, pela soma das porcentagens acumuladas dividida por 100
F 0 = Freqüência relativa acumulada dos diâmetros d ^ d 0 d k=d«.superior=d 0,95
A F j 2 = Freqüência relativa dos diâmetros d j < d 5 d 2
Figura (2.2-a)
100- 0
90- 10
80- 20
70- 30
60- 40
cr
2UJ
O 50- 50
«t
3 40- 60
30- 70
20- 80
10 90
0 100
—i—
0.15 0.3 0.6 1.2 2.4 4.8 9.5 ABERTURA DA
MALHA DAS PENEIRAS
CURVAS GRANULOMÉTRICAS DAS AREIAS
Figura (2.2-b)
Em princípio, as areias podem ser classificadas da seguinte forma6:
Módulo deFinura
Assim, por exemplo, para os concretos correntes, que são usualmente fabricados com britas
0, 1 e 2, a EB-4 exige o seguinte:
É preciso salientar que, para se obter um concreto mais resistente, a compacidade da mistura
deve ser aumentada. Para isso, é preciso aumentar a quantidade de diâmetros menores.
No caso particular de concretos de altíssima resistência, é necessário empregar praticamente
apenas a brita 0.
Deve-se notar, também, que o diâmetro característico do agregado graúdo condiciona o es-
paçamento das barras da armadura e é condicionado pelas espessuras das peças estruturais a
serem construídas.
Assim, por exemplo, de acordo com a NBR 6118, nas vigas, o espaço livre entre as barras da
armadura, nas camadas horizontais, deve ser maior que 1,2 vezes o diâmetro máximo do agre-
gado e, no plano vertical, maior que 0,5 vezes aquele valor; ver Figura (2.2-c).
1
^0,5 d k
T
^k, agregado
3*1,2 d k
Figura (2.2-c)
De modo análogo, ainda de acordo com a NBR 6118, a dimensão característica superior do
agregado graúdo deve ser menor que 1/4 da menor distância entre faces internas das fôrmas ou
1/3 da espessura das lajes; ver Figura (2.2-d).
Desse modo, para se concretar uma laje com 7 cm de espessura ou uma viga com alma de 8
cm de largura, é preciso empregar, no máximo, a brita 1, cujo diâmetro característico superior é
de 19 mm.
i
T hlaje > 3 d k
'k,agregado
hw>4dk
/ \
Figura (2.2-d)
2.3 Água e aditivos
A água destinada ao amassamento do concreto deve ser isenta de teores prejudiciais de
substâncias estranhas.
É preciso notar que os agentes agressivos contidos na água de amassamento, quando man-
tidos abaixo de certos limites, têm açào muito menos prejudicial do que a mesma água agindo
sobre o concreto endurecido. De fato, a maioria dos agentes agressivos contidos na água de
amassamento é neutralizada pelas próprias reações de hidratação do cimento e, com isso, ter-
mina seu efeito destruidor. Todavia, essa neutralização pode não ocorrer com os íons Ci da
água de amassamento, quando os teores estiverem acima de certos limites. Por outro lado, a
neutralização dos agentes agressivos não acontece com a renovação da água que age sobre o
concreto endurecido.
2.4 Questionário
1) Quais são os tipos usuais de cimento empregados na construção de estruturas?
3) Q u e tipos de cimentos são indicados pelas siglas: AF 32, MRS, CP 32, ARI?
11) Como varia o tipo de brita e m função da resistência desejada para o concreto?
12) Como o diâmetro máximo do agregado influencia os espaçamentos das barras das arma-
duras das vigas?
13) Como a espessura das lajes e da alma das vigas influencia a escolha do diâmetro máximo
do agregado?
16) Como deve ser considerada a aplicação de aditivos que contenham cloretos em suas
composições?
3. Endurecimento do concreto
a) Cal
Tendo em vista o entendimento das propriedades do concreto endurecido, estudam-se a se-
guir os componentes básicos dos cimentos, dos quais a cal é o primeiro deles.
A importância deste estudo cresce quando é lembrado que a cal é um aglomerante por si
mesma.
As reações químicas envolvidas nos processos de fabricação e emprego da cal são as seguintes:
Desse modo, com o endurecimento da cal extinta, por reação com o gás carbônico do ar,
obtém-se a reconstituição do carbonato de cálcio empregado originalmente em sua fabricação.
O fato de o endurecimento ocorrer por reação com o gás carbônico do ar leva a cal a ser chama-
da de um aglomerante aéreo.
O mesmo fenômeno é, porém, deletério no caso da cal livre eventualmente existente nos
cimentos. Neste outro caso, o fenômeno de expansão somente ocorre após o endurecimento
de outros componentes do cimento, o que pode acarretar a destruição do efeito aglomerante
desses outros aglomerantes, se a quantidade de cal livre for significativa.
b) Sílica
O bióxido de silício, 5/0„ usualmente designado por sílica, é o constituinte básico dc muitas
rochas naturais, tais como arenitos, quartzitos, areias e argilas.
Durante a fabricação do cimento, a sílica reage com a cal, formando silicatos de cálcio. São
estes silicatos que, por hidratação, conferem o efeito aglomerante ao cimento.
Além de sua forma cristalina usualmente inerte, a sílica também pode ser encontrada em
forma ativa, capaz de reagir quimicamente a frio. A reatividade a frio da sílica existe na sílica
cristalina em que seus cristais tenham sido deformados a frio por razões geológicas. De modo
análogo, a sílica também é reativa a frio em sua forma amorfa.
lissas condições ocorrem, por exemplo, com certas argilas especiais, genericamente chama-
das de pozolanas, e com produtos amorfos, como o vidro pirex, e também com certas variedades
de quartzo deformado.
Lm geral, admite-se que a reatividade da sílica a frio exige uma finura Blaine de no mínimo
6.000 cm2/g para que a reação se processe em prazos razoavelmente curtos. Observe-se que a
finura da sílica capaz de reagir a frio deve ser muito maior que os 2.600 cm2/g do cimento Por-
tland comum.
c) Alumina
A alumina, Al,Oy também reage com a cal, formando aluminatos de cálcio, os quais, ao se-
rem hidratados, também formam colóides rígidos. A hidratação dos aluminatos é muito mais rá-
pida que a dos silicatos. A sua quantidade deve ser controlada para se evitar um endurecimento
prematuro do concreto, que impediria a própria moldagem das peças estruturais.
Exceto nos cimentos aluminosos, que são usados quando se quer o endurecimento muito
rápido, como em obras submarinas, a contribuição da alumina para a resistência dos cimentos é
baixa. A presença da alumina na fabricação dos cimentos decorre de sua existência nas argilas,
as quais constituem a matéria-prima para a obtenção da sílica.
O emprego de sílica a partir de areias de quartzo exigiria temperaturas muito altas no proces-
so de fabricação do cimento. Desse modo, em seu lugar são empregadas argilas, cujo composto
básico é a caolinita (AltO{. 2SiO,. 2H,0), que se decompõe a temperaturas mais baixas, liber-
tando a sílica necessária ao processo.
d) Óxido de ferro
O óxido de ferro também comparece como componente básico dos cimentos, em virtude de
sua presença nas argilas empregadas em sua fabricação.
O óxido de ferro não deve estar presente na fabricação dos cimentos brancos. Esse óxido
confere ao cimento uma coloração escura, com a tonalidade café. A coloração típica, cinza es-
verdeada, do cimento Portland é conferida pela magnésia, MgO, composto usualmente presente
nos calcários empregados na fabricação dos cimentos.
Para a fabricação do cimento, as reações de obtenção dos silicatos de cálcio ficam grande-
mente facilitadas se houver fusão dos materiais. Em lugar de uma fusão total, de custo elevado
e prejudicial à formação do trissilicato de cálcio, emprega-se um processo de sinterizaçào, isto é,
o aquecimento produz apenas uma fusão incipiente dos materiais que vão reagir. Nesse caso, o
óxido de ferro faz o papel de fundente, possibilitando o emprego de temperaturas mais baixas.
Isso explica o alto custo dos cimentos brancos, decorrentes do emprego de argilas especiais
isentas de óxido de ferro e da ausência deste fundente no processo de sinterizaçào. Os produtos
sinterizados sào moídos formando o chamado clinker de cimento.
3.2 Composição média do cimento Portland
Para simplificar a notação, na química do cimcnto são empregados os seguintes símbolos
convencionais para os diversos compostos presentes nos cimentos:
Cal : CaO =C
Sílica : SiO , =s
Alumina :AI20} =/\
Óxido de ferro : Fefl, =F
Com os cimentos nacionais, a composição média do cimento Portland pode ser considerada
a seguinte (Petrucci, 1970):
3Ca0.2Si02.3H20
liste composto é obtido a partir de diferentes silicatos de cálcio anidros, qualquer q i e tenha
sido o processo empregado na fabricação dos mesmos.
Figura (3.3-a)
Desse modo, como a hidrataçào do silicato tricálcico ocorre rapidamente, o cimento permite
a fabricação de peças estruturais de concreto com características monolíticas depois de apenas
algumas horas de seu preparo, e com resistência adequada aos processos de construcào, já com
poucos dias de idade.
Figura (3.4-a)
Conforme se observa na f igura (3.4-a), os principais compostos do cimento são: o silicato di-
cálclco, C,5, o silicato tricálcico, C35, e o ferro-aluminato tetracáldco, C / F . Além deles, sempre
existirá uma pequena fração de cal livre, CaO, bem como uma parcela de magnésia, MgO. É à
presença da cal livre que se deve a necessidade de se ter, na fabricação, certo excesso c e cálcio
para assegurar a formação de uma porcentagem adequada do silicato tricálcico. A presença da
magnésia decorre de sua existência nos calcários que servem de matéria-prima.
Como um terceiro elemento expansivo, deve-se também considerar o gesso, CaSO., que é
adicionado ao clinker para o controle do tempo de "início de pega*.
Figura (3.4-b)
O tempo de 'início de pega" é o que decorre desde o instante em que se mistura o cimento
com a água de amassamento até aquele em que a agulha de Vicat, aplicada sem choque, esta-
ciona a 1 mm do fundo. O "fim de pega" ocorre quando a agulha não deixa vestígios apreciáveis
sobre a superfície da pasta ensaiada.
O tempo de fim de pega é de 5 a 10 horas para os cimentos usuais, podendo ser muito redu-
zido para os cimentos de pega rápida.
Embora se tenha a impressão macroscópica de que o início de pega somente se realize após
certo intervalo de tempo depois da mistura do cimento com a água, as reações químicas de hi-
dratação são iniciadas imediatamente após a mistura.
A velocidade de hidratação depende diretamente do grau de finura do cimento. Quanto me-
nores forem os grãos de cimento, maior será a sua superfície específica, facilitando assim a
reação com a água. A moagem menos intensa, do ponto de vista do tempo de início de pega, é
satisfatória para o emprego do cimento. No entanto, para a obtenção de resistências elevadas, a
moagem deve ser mais enérgica, sendo então indispensável a adição de gesso, para evitar uma
pega excessivamente rápida.
Embora não se tenha esclarecido completamente o papel desempenhado pelo gesso, uma de
suas funções principais é a de reagir com o aluminato tricálcico, formando o sulfo-alum nato de
cálcio, 3Ca0.Al02.3CaS04.31 H20, que se apresenta na forma cristalina.
Desse modo, impede-se parcialmente que o CfA forme um gel rígido. Com isso se retarda o
início de pega, pois é a grande velocidade de hidratação do aluminato tricálcico, um dos fatores
essenciais da pega prematura.
No entanto, como a formação dos cristais de sulfo-aluminato de cálcio se dá com efeito ex-
pansivo, a quantidade de gesso deve ser limitada a cerca de 3% do peso do cimento. Com essa
limitação, a maior parte do gesso já terá reagido antes do início da pega convencional do cimen-
to, a qual se vai processar principalmente pelas reações de hidratação dos silicatos de cálcio.
Mesmo quando ainda não se tenha iniciado a pega convencional, medida por exemplo pelo
aparelho de Vicat, há um rápido aumento da rigidez da massa, que pode ser constatada por
meio de penetrômetros sensíveis. Apesar disso, a trabalhabilidade da massa diminui muito pou-
co. A massa apresenta um comportamento tixotrópico, retornando à sua fluidez por agitação
mecânica.
A formação do gel rígido pelos silicatos de cálcio constitui um elemento retardador das rea-
ções químicas dos próprios silicatos. À medida que se formam as partículas de dimensões coloi-
dais, vai sendo diminuída a capacidade de reação da água adsorvida por essas partículas com
a parte não hidratada dos grãos de cimento. Durante certo tempo, os silicatos conseguem se
solubilizar e, por difusão, através do gel, reagir com a água adsorvida pelas partículas coloidais
já formadas e com a água capilar restante.
Nesse processo de pega do cimento, o fenômeno de "retração química" deve ter impsrtância
significativa. Conforme estudos das variações volumétricas do concreto, ao se processarem as
reações físico-químicas de hidratação dos silicatos anidros e de adsorção de água na formação
de partículas de hidrogel rígido, a água sofre uma contração, perdendo cerca de 25% de seu
volume original.
De qualquer modo, uma parte dos grãos de cimento pode permanecer intacta, sem possibili-
dade de participar das reações de hidratação. Essa parte não é perdida, pois é ela que permite a
colmatação das fissuras formadas por esforços mecânicos, impedindo-se assim a penetração de
agentes agressivos do meio ambiente no interior da massa de concreto.
3.5 Endurecimento das pozolanas
As pozolanas são materiais naturais ou artificiais contendo sílica (SiO J ativa, isto é, sílica ca-
paz de participar a frio da reação.
Lssa é a mesma reação que no cimento Portland conduz ã formação do gel rígido de silicato
de cálcio hidratado.
As pozolanas podem ser naturais, como as cinzas vulcânicas, ou artificiais, formadas por argi-
las calcinadas ou por cinzas volantes.
Para que se manifeste o efeito pozolânico, é preciso que o material seja moído com finura
Blaine da ordem de 6.000 cm7g.
De início, a pozolana exerce uma ação física, como se fosse um agregado ultrafino, provo-
cando a impermeabilização dos capilares do gel rígido formado pelos produtos de hidratação
do cimento.
A escoria granulada é formada principalmente por sílica ativa, que confere aos cimentos de
alto-forno as características de endurecimento lento. Note-se, porém, que estes cimentos não
apresentam o efeito inicial impermeabilizante como acontece quando se tem um verdadeiro
cimento pozolânico.
a
onde X é a resistência à compressão do concreto e w = A / C é o fator água/cimento, sendo a e b
duas constantes dependentes dos tipos de materiais empregados.
Para valores usuais do fator água/cimento, a equação de Abrams dá uma relação praticamen-
te linear, como mostra a Figura (3.6-a), para um concreto moldado com o fator w = A/C = 0,40.
O estudo das reações químicas de hidratação mostra que, para os mais variados tipos de
cimento, a água quimicamente combinada corresponde, no máximo, a um fator água/cimento
= 0,28 ± 1%.
Todavia, a trabalhabilidade da mistura exige que o amassamento seja feito com fatores água/
cimento significativamente superiores a esse mínimo quimicamente necessário.
f c,w
Figura (3.6-a)
películas de água
na face inferior
Figura (3.6-b)
O maior fator água/cimento e a presença das películas de água na região superior da massa
de concreto tendem a diminuir a resistência dessa região.
Nas estruturas de concreto armado, esses fenômenos criam o conceito de regiões de boa ou
de má aderência das armaduras ao concreto.
Admitindo que e m termos práticos não seja possível distinguir as eventuais heterogeneidades
dentro de um corpo-de-prova de controle da resistência do concreto, que tem 30 cm de altura,
a NBR 6118 adotou as regras mostradas na Figura (3.6-c) para a consideração das zonas de má
aderência.
Na região superior das peças de concreto estruturai, onde o fenômeno de exudação do ex-
cesso da água de amassamento pode ter efeito significativo, exigem-se comprimentos de ade-
rência 50% maiores do que nas zonas de boa aderência.
má aderência
h < 60cm
30 cm boa aderência
Figura (3.6-c)
Os poros capilares, que formam uma rede de canais intercomunicantes ao lon^o de toda
a massa de concreto, são decorrentes essencialmente da evaporação do excesso de água de
amassamento. Após o endurecimento do concreto, parte dessa água evapora, ficando uma rede
capilar com os poros menores saturados de água e os maiores contendo ar e vapor r o seu inte-
rior e uma película de água adsorvida ao longo de suas paredes; ver Figura (3.7-a).
Esse fato explica por que estruturas portuárias com conteúdos de cimento de pelo menos
350 kg/m3, executadas no norte da Europa, com fatores água/cimento não superiores a 0,4,
permaneceram intactas por muitas dezenas de anos em águas marítimas altamenle poluídas
e sazonalmente congeladas. Como se esclarece adiante, essa agressão é significativa na zona
de borrifos de água, pois é necessária a presença simultânea de oxigênio, água e dos agentes
agressivos. Em estruturas permanentemente mergulhadas em água, com pressão positiva de
pelo menos 1,50 metro, não existe mais oxigênio disponível para as reações químicas de ataque.
Por essa razão, estacas extraídas em reformas de obras portuárias, com muitas dezenas de anos
de uso, mesmo tendo sido construídas com concretos de baixa resistência, apresentavam-se
perfeitamente intactas.
POROSIDADE CAPILAR
Figura (3.7-a)
Nesta fase, a rigidez do concreto é baixa, o que permite a acomodação da massa que se ex-
pande termicamente às eventuais heterogeneidades da distribuição de temperaturas. As even-
tuais fissuras provocadas pelas heterogeneidades são colmatadas pelo prosseguimento das rea-
ções de hidratação.
camada periférica
em resfriamento
significativo
núcleo
aquecido
Figura (3.8-a)
O calor de hidrataçáo dos cimentos impõe restrições às espessuras das camadas de concreta-
gem e ao lançamento de concreto novo sobre concreto já endurecido, como mostrado pelo Prof.
Eduardo Thomaz e m seu excelente estudo sobre a fissuração do concreto 8 .
Em casos especiais, como nas barragens, empregam-se agregados refrigerados para compen-
sar o calor de hidratação, além de se controlar a composição química do cimento a ser emprega-
do. Com essa finalidade é oportuno conhecer o calor de hidratação dos diferentes componentes
dos cimentos, como se mostra a seguir (Czernin, 1963):
Calor d e hidratação
Componente
Cal/grama
Silicato tricálcico 120
Silicato dicálcico 62
Aluminato tricálcico 207
Ferro-aluminato tetracálcico 100
2) Por que deve ser rigorosamente limitada a quantidade de cal livre nos cimentos?
3) O que é sílica ativa? Qual a finura mínima necessária ã reação de hidratação da sílica ati-
va?
19) Qual a importância do calor de hidratação do cimento para a integridade das estruturas
de concreto?
Os mecanismos de agressão são de diversos tipos, alguns de natureza física e outros de na-
tureza química.
De modo geral, as agressões usuais perigosas para a integridade do concreto estão associa-
das a fenômenos expansivos no interior da massa de concreto já endurecido, ou à dissolução
dos produtos de hidrataçào do cimento.
A erosão por abrasão é devida ao desgaste superficial do concreto causado pelo atrito com
partes sólidas deslizando sobre sua superfície, particularmente pela passagem de pessoas, ani-
mais ou veículos.
A erosào por cavitaçào é provocada pela implosão de bolhas de vapor d'água junto à super-
fície da estrutura. Esse fenômeno pode ocorrer nos escoamentos líquidos com zonas de alta e
baixa pressão, onde, nestas últimas, formam-se bolhas, as quais, arrastadas para outras zonas
em que a pressão líquida seja maior que a pressão de vapor, implodem, com efeito erosivo mui-
to intenso.
Além disso, como será visto adiante, a ação do gás carbônico e dos íons cloreto tem papel
importante na agressão às armaduras mergulhadas no concreto.
Em qualquer caso, a durabilidade das estruturas depende do adequado adensamento do con-
creto, garantindo-se uma satisfatória compacidade, que dificulte os mecanismos de transporte
no seu interior.
Os ácidos particularmente agressivos são os que formam sais solúveis em água, os quais
permitem a renovação do ataque, até a destruição total do concreto. Se os sais formados forem
insolúveis, após o primeiro ataque, interrompe-se a própria reação agressiva, pela impermeabili-
zação propiciada pelos sais que já se formaram.
Em uma investigação feita na cidade de São Paulo a respeito da agressividade das ágjas sub-
terrâneas, por ocasião da construção das obras da primeira linha do Metrô, não foi encontrado
sequer um exemplo de agressão a estruturas enterradas, embora fossem encontradas águas
subterrâneas poluídas com os mais diferentes tipos de agentes teoricamente agressivos.
Os mesmos agentes agressivos, que pouca preocupação causam quando estão nas águas
subterrâneas, têm um efeito particularmente destruidor quando estão presentes no ar atmosfé-
rico. Esses elementos da poluição atmosférica, associados à umidade ambiente, acompanhados
de chuvas que lavam a superfície das estruturas, constituem mecanismos eficientes de destrui-
ção do concreto, particularmente em estruturas de concreto aparente.
O uso de estruturas de concreto aparente deve levar em conta essa realidade ambiental,
sendo necessário ajustar convenientemente as espessuras das camadas de cobrimento das ar-
maduras.
Esta reação é protetora do concreto, sendo particularmente importante nas barragens, para
a estanqueidade da estrutura.
Outros ácidos agressivos, tais como o clorídrico, o sulfúrico, o nítrico, o lático, o acético, etc.,
provocam processos de agressão da mesma natureza, não existindo a possibilidade de formação
de sais insolúveis. Eles formam sais solúveis que podem ser levados por água em movimento.
Um efeito equivalente ao das águas ácidas é produzido pelas águas puras de chuva. A pureza
da água lhe confere grande capacidade de dissolver os compostos de cálcio, com o conseqüente
efeito destruidor do concreto.
Os cimentos resistentes a sulfatos não devem, porém, eliminar totalmente o C}A, pois o alu-
minato tricálcico tem efeito amortecedor sobre o ataque de íons cloreto às armaduras de aço
embutidas no concreto.
Nas obras marítimas, a zona de borrifos é a que mais sofre com o ataque combinado dos
sulfatos ao concreto e dos cloretos à armadura. Nas partes permanentemente mergulhacas, com
pelo menos um metro e meio de pressão positiva de água, pela ausência de oxigênio do ar, o
ataque de sulfatos é muito reduzido e o de cloretos é eliminado, como será visto adiante.
As reações expansivas álcali-agregado são do tipo de embebiçâo de um gel por água prove-
niente do meio externo.
Essa reação expansiva somente pode ocorrer se os agregados tiverem significativa fração de
sílica reativa, que possa se solubilizar, a fim de que, em contato com os sulfatos de sódio e de
potássio, provenientes do cimento e dissolvidos na água capilar, haja a formação de gel de sili-
catos de sódio e de potássio.
O efeito destruidor da reação álcali-sílica somente existirá quando houver sílica reativa, álcalis
e água suficiente para que possa ocorrer uma expansão significativa.
Se o concreto permanecer seco, não pode ocorrer a reação agressiva. Quando a estrutura
está em contato permanente ou intermitente com a água, é preciso cuidar para que os álcalis
do cimento sejam controlados e que a dosagem de cimento também não seja excessiva, pois
ela também controla a quantidade de álcalis. Além disso, é preciso controlar a natureza dos
agregados.
Como a reação expansiva álcalis-sílica é muito lenta, levando até muitos anos para se mani-
festar, o melhor controle é dado pela história das fontes de abastecimento dos agregados. Na
dúvida, pode-se fazer o ensaio químico para detectar a eventual reatividade do agregado. Esse
ensaio, que é regulado pelas normas NBR 9773 e NBR 9774, não dá segurança sobre a reatividade
do agregado.
Nessas terras baixas, a disponibilidade de agregados graúdos reside basicamente nos seixos
rolados dos rios. Esses seixos têm resistência mecânica excelente, embora freqüentemente pos-
sam apresentar reatividade a frio. O controle do cimento e o emprego de microsílica tornam tais
materiais adequados à realização de obras de concreto armado.
Desse modo, nas obras em que haja a possibilidade da presença de agregados reativos, em
geral duas medidas de precaução devem ser tomadas: o controle do teor de álcalis presente no
cimento e o emprego de pozolanas eficazes na dosagem do concreto, especialmente de micro-
sílica, que pode ser considerada como uma superpozolana.
De acordo com a norma brasileira ABNT NBR 6118 (item 6.4), "a agressividade do meio am-
biente está relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre as estruturas de concreto,
independentemente das ações mecânicas, das variações volumétricas de origem térmica, da
retração hidráulica e outras previstas no dimensionamento das estruturas de concreto".
De acordo com essa norma, a avaliação da agressividade do meio ambiente sobre uma dada
estrutura pode ser feita de modo simplificado, em função das condições de exposição de suas
peças estruturais. Para essa finalidade, a agressividade ambiental pode ser classificada conforme
as classes definidas na tabela seguinte.
tecnologia do concreto e/truturol - tópico/ aplicado/
Classes de Risco d e
Classificação geral do tipo d e
Agressividade Agressividade deterioração
ambiente para efeito d e projeto
Ambiental da estrutura
Rural
l Fraca Insignificante
Submerso
II Moderada Urbano' Pequeno
Marinho"
iii Forte Grande
Industriar 2 '
Industrial" 1 '
IV Muito forte Elevado
Respingos de maré
"Pode-se admitir um mlcrocllma com uma classe dc agressividade mais branda (um nível acima» para ambientes internos
secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de servl< o do apartamentos residenciais c conjuntos comerciais ou
ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura).
'' Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em: obras em regiões de clima scco, com
umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas de < huva em ambientes predominantemente
secos, ou regiões onde c hove raramente.
" Ambientes qulmlcamente agressivos, tanques Industriais, galvanoplastla, branqueamento em indústrias de celulose
e papel, armazéns de fertilizantes. Indústrias químicas.
4.6 Questionário
1) Quais as duas condições necessárias à agressão do concreto por elementos do meio ex-
terno?
Em ambientes com essa aicalinidade, forma-se na superfície das barras de aço uma camada
microscópica impermeável de óxido de ferro, que constitui a chamada película passivadora; ver
Figura (5.1-a). Essa película impede a dissolução dos íons Fe", tornando-se assim impossível a
corrosão das armaduras, mesmo que haja umidade e oxigênio no meio ambiente.
camada de
cobrimento
Figura (5.1-a)
A corrosão das armaduras dentro do concreto somente poderá ocorrer se for destruída a pe-
lícula passivadora. Essa destruição pode acontecer de modo generalizado, e m virtude de três
diferentes causas 10 :
• lixiviação do concreto na presença de fluxos de água que percolem através de sua massa.
Nas armaduras de protensào, podem ainda ocorrer, de forma localizada, duas outras formas
de agressão ao aço: a corrosão sob tensão e a fragilização por hidrogênio.
Em ambos os processos ocorrem duas reações eletrolíticas, uma anódica e outra catódica.
Na reação anódica, o ferro fica carregado eletricamente de modo positivo, ocorrendo a sua
dissolução pela passagem dos íons Fe'* para a solução.
Na reação catódica, o ferro funciona como simples eletrodo, junto do qual os elétrons liberados pelo
ânodo passam à solução, fechando-se assim o circuito elétrico. Não há consumo de ferro do cátodo.
O mecanismo de corrosão em meio ácido está descrito na Figura (5.2-a). Esse mecanismo, em
geral, é estabelecido pelo emprego de 2 metais diferentes.
Em meio ácido ocorre a ionização da água. Os íons H* dirigem-se ao cátodo, onde são neu-
tralizados, liberando-se então o hidrogênio nascente H que passa, a seguir, à forma molecular
H,. Os íons (OH)- dirigem-se ao ânodo, onde reagem com os íons Fe" solubilizados, formando-
se o Fe(OH), que por várias reações intermediárias acaba formando a ferrugem, basicamente
constituída pelo Fe,Or
MECANISMO DE CORROSÃO
e-
ANC
/
Fe (O
•
SOLUÇÃO ÁCIDA (H 2 0 HO - H )
Figura (5.2-a)
O mecanismo de corrosão em meio alcalino está mostrado na Figura (5.2-b).
0-
OXIGENAÇÃO DIFERENTE
(PODEM SER OS M E S M O S MATERIAIS)
Figura (5.2-b)
Em meio alcalino não há a formação de íons H*. A formação de íons hidroxila (OH)- ocorre
no cátodo, por efeito da oxidação dessa parte do metal. Esses íons (OH) dirigem-se então ao
ânodo, como no caso anterior, produzindo-se finalmente o Fe,03.
A penetração do oxigênio proveniente do meio ambiente ocorre por difusão através da ca-
mada de cobrimento, chegando até o metal, e provocando a corrosão se a película passlvadora
tiver sido rompida.
Figura (5.3-a)
Desse modo, para que haja corrosão é indispensável a presença simultânea de água e oxigênio.
Não haverá corrosão se o concreto estiver totalmente seco ou totalmente saturado. Na ver-
dade, a condição totalmente saturado somente existe com água exercendo pressão positiva
superior à pressão parcial exercida pelo oxigênio na atmosfera. A experiência most a que não
há corrosão com pressão hidrostática positiva correspondente a uma coluna d'água de cerca de
1,5 metro.
Uma situação mais grave existe quando se pode formar uma macropilha, como mostrada na
Figura (5.3-b).
elemento desencadeante
Cl ou outros poluentes
face seca
Figura (5.3-b)
Neste caso, toda armadura de uma das faces da peça tem comportamento anódico, e a arma-
dura da outra face tem comportamento catódico.
Situação desta natureza pode ocorrer quando há partes da estrutura sujeitas ao intemperismo
e partes protegidas, em virtude de diferentes particularidades construtivas, como, por exemplo,
em peças estruturais com uma face e m contato com o meio externo e a outra no interior da
construção.
É muito importante observar que a formação da ferrugem, basicamente composta pelo Fe,0{,
constitui uma reação expansiva. O início da corrosão é, portanto, acompanhado pela fissuração
do concreto da camada de cobrimento, com agravamento da própria corrosão.
O importante é não deixar que a corrosão se inicie, pois o processo vai se tornando cada vez
mais intenso, à medida que o tempo passa.
Se a peça de concreto não estiver totalmente mergulhada e m água, por suas superfícies
expostas ao ar penetrará o gás carbônico da atmosfera. Esse CO„ por difusão através do ar,
chegará até os poros úmidos que contêm o hidróxido dissolvido, dando-se então a reação de
carbonatação do hidróxido, como se mostra na figura (5.4-a).
difus
atra
reaçao química
Ca(ÒH)2 + C0 2 C0 3 Ca+H 2 0
pH <9
Figura (5.4-a)
Isso é conseqüência da própria reação química, pois a formação de carbonato de cálcio vai
colmatando os poros, dificultando assim a difusão do CO,.
Profundidade de
Tempo e m
carbonatação e m
anos
centímetros
5
1,5 20
2,0 50
2,5 100
Verifica-se então que, em concretos não revestidos, mantidos em ambientes úmidos, para
se garantir a durabilidade da estrutura, não é possível aceitar que a camada de cobrimento das
armaduras tenha espessura efetiva inferior a 2,5 centímetros, mesmo com a hipótese de sua
perfeita integridade.
Esses íons têm a capacidade de dissolver a película protetora de oxido de ferro que reveste
as armaduras de aço dentro do concreto, provocando assim o início da reação anódica de solu-
bilização do Fc**.
O cálcio dissolvido na água dos poros tem certa capacidade de fixação de íons como o clore-
to. No entanto, essa capacidade é parcial, em virtude de um sistema em equilíbrio de íons livres
e íons fixados pelo cálcio em solução.
Existe, portanto, uma interação perniciosa entre a penetração dos íons cloreto ou outros íons
agressivos e a carbonatação, uma vez que, com a carbonatação, esses íons, que estavam fixados
na solução de hidróxido de cálcio, são novamente liberados.
Em termos médios, pode-se admitir que a profundidade de penetração de íons cloreto, com
concentração superior à concentração crítica que permite a dissolução da película passivadora
da superfície das armaduras, tenha a mesma evolução que a da profundidade da carbonatação.
Os íons cloreto funcionam como catalizadores da reação de solubilização dos íons FeT+, mas
não são consumidos na reação, agravando-se cada vez mais a intensidade da corrosão.
Outros poluentes atmosféricos, que também contêm íons eletricamente negativos, como o
SOf e SO produzem efeitos análogos aos da presença dos íons cloreto, embora de forma não
tão concentrada e m pontos isolados quanto estes últimos. Estes outros poluentes são usualmen-
te formados pela queima de combustíveis derivados do petróleo e estão presentes na poluição
ambiental urbana.
Nos ciclos de umidificação, os cloretos penetram no concreto pela sucção capilar da água
depositada na superfície da peça. Nos ciclos de secagem, evapora-se apenas a água. Com isso,
e m ciclos sucessivos, a concentração de íons agressivos vai aumentando progressivamente,
agravando-se assim as condições de corrosão. Isto é o que ocorre nas regiões de borrifos da
água do mar.
Duas outras situações de risco existem na presença de íons cloreto. Uma delas pode ocor-
rer quando, inadvertidamente, se procura limpar as fachadas dos edifícios com o emprego do
chamado ácido muriático, que não passa do ácido clorídrico diluído. Ao se lançar o ácido na
argamassa de revestimento do concreto, ele penetra por capilaridade até a massa de concreto,
e somente se percebe sua ação quando as armaduras das peças estruturais da fachada do edi-
fício já entraram em franco processo de corrosão. O único remédio possível é descascar toda a
camada de cobrimento das armaduras, expondo o metal, jateando o metal "ao branco", e recon-
cretando a camada de cobrimento das armaduras. Infelizmente isto ocorre freqüentemente nas
grandes cidades.
A segunda situação ocorre quando o vento sopra sobre águas doradas como das piscinas
e a seguir incide sobre construções de concreto armado. O resultado é o mesmo que o acima
descrito.
Se a massa de concreto ficar permanentemente saturada, não haverá risco de corrcsào das
armaduras. Todavia, se ocorrerem períodos de secagem, a corrosão poderá ocorrer.
O aparecimento das fissuras obviamente traz para as armaduras um risco de agressão maior
do que o naturalmente existente em virtude da porosidade do concreto da camada de cobrimen-
to. No entanto, é preciso distinguir a importância das fissuras perpendiculares às barras de aço
daquela das fissuras situadas ao longo das próprias barras de aço.
Figura (5.7-a)
Estudando a importância das fissuras transversais às barras de aço, durante muito tempo
buscou-se relacionar a intensidade da corrosão das armaduras apenas à abertura superficial das
fissuras.
As investigações realizadas, tanto com concreto armado quanto com concreto protendido,
mostraram resultados contraditórios. Elas geralmente consistiam em submeter as peças fissu-
radas a ciclos alternados de umidificaçào e secagem, usando águas com diferentes teores de
agentes agressivos.
Algumas experiências mostraram que as fissuras com aberturas maiores provocavam agrava-
mento da corrosão. Outras experiências mostraram que, pelo contrário, o nível de corrosão não
dependia da abertura das fissuras. Outros ainda mostraram maiores corrosões e m peças sem
físsuração nenhuma.
Dc modo análogo, a investigação sobre a influência do número de ciclos de abertura e fecha-
mento das fissuras também mostrou resultados contraditórios. Por vezes, a maior corrosão ocor-
ria com a repetição da abertura das fissuras. Em outros casos, a maior corrosão ocorria quando a
fissura se abria uma única vez.
A conclusão que se pode tirar das investigações já realizadas é a de que, com as aberturas
de fissuras usualmente permitidas pelos regulamentos normalizadores, é pequena a correlação
entre a intensidade da corrosão das armaduras e a abertura superficial das fissuras do concreto.
Todavia, fissuras com aberturas muito maiores que o permitido pelos regulamentos normaliza-
dores não devem existir nas estruturas.
É necessário salientar que no concreto armado comum admitem-se fissuras com aberturas
superficiais inferiores a 0,4 milímetro. Com fissuras dessa natureza, é provável que ela tenha
aberturas muito menores junto às barras da armadura. Observe-se que fissuras com aberturas
superficiais inferiores a 0,4 mm nào passam de riscos sobre a superfície de concreto, nos quais
apenas se podem identificar os dois lados da fissura. Quando a fissura apresenta abertura super-
ficial significativa, da ordem de 1 milímetro, isso significa que a armadura debaixo da fissura já
pode ter chegado ao escoamento.
A influência teórica das fissuras do concreto sobre os mecanismos de corrosão está mostrada
na Figura (5.7-a).
A abertura da fissura pode levar à despassivaçào local da armadura, com agravamento das
condições de carbonataçào e de impregnação do concreto por íons cloreto ou por outros po-
luentes, facilitando-se assim a formação de micropilhas eletrolíticas, se houver oxigeiação e
umidade suficientes. É importante salientar, particularmente para o concreto protendido, que
uma vez abertas aa fissuras com aberturas significativas, elas somente poderão ser obturadas
por meio de injeções de materiais adequados, pois o desengrenamento dos agregados no ato da
fissuração não poderá ser desfeito por posteriores forças de compressão. Esse desengreramento
nunca consegue ser desfeito.
De maneira análoga, a ferrugem formada pelo primeiro ataque à armadura, e a sujeira que
se acumula dentro das fissuras, bem como o reinicio da hidrataçào de gràos de cimento even-
tualmente ainda não totalmente hidratados, expostos agora pela fratura do concreto, podem
eventualmente provocar a colmataçào das fissuras; ver Figura (5.7-b).
w (< 0,4 mm) —>• pequena influência
w
^ sujeira e ferrugem (colmatação)
Figura (5.7-b)
Lm aços sensíveis a esse fenômeno, na presença de pequenas fissuras nos cristais do metal da
superfície da armadura, forma-se uma zona anódica muito localizada na raiz das fissuras. Esse fato
leva à ruptura progressiva da armadura caso tenha havido despassivação da superfície do metal.
A fragilização por hidrogênio é uma ruptura mecânica do aço por efeito da reação catódica,
que libera hidrogênio nascente quando ocorre despassivação da superfície do metal, e fica es-
tabelecida a reação eletrolítica.
O risco de fragilização por hidrogênio surge sempre que há uma reação catódica com li-
beração de hidrogênio. Exemplos de fragilização por hidrogênio têm ocorrido na presença de
enxofre, e pela reação eletroquímica do aço de protensão e m contato com o zinco das bainhas
galvanizadas, antes que elas sejam injetadas.
A) Agressividade ambiental
No projeto das estruturas correntes, a agressividade ambiental pode ser avaliada simplifica-
damente, em função das condições de exposição da estrutura ou de suas partes, conforme as
regras da NBR 6118. A essas regras cabem os comentários aqui apresentados.
w ^ 0,4 mm
-1 h
77-
Figura (5.9-a)
É oportuno lembrar que a dimensão de 0,2 mm corresponde ao poder separador da visão
humana, ou seja, a visualização distinta de dois pontos afastados entre si somente é possível
com afastamentos maiores que 0,2 mm. Em uma linha riscada no papel, somente se consegue
distinguir um dos lados da linha do outro se ela tiver espessura maior que 0,2 mm.
Concreto Protendido
Nível de Tipo de Classe d e Exigências à Combinação de
protensão protensão agressividade fissu ração ações e m serviço a
ambiental utilizar
Protensào Pré-tração Somente 1 ELS-W Combinação
parcial" Pós-traçãoJ,b> Até 1 e II wk <0,2////// freqüente
Protensão Verificar as duas condições abaixo
limitada Pré-tração Até II ELS-F Comb. freqüente
Pós-t ração Até III e IV ELS-D Comb. quase perm.
Protensão Verificar as duas condições abaixo
completa Pré-tração Até III e IV ELSF Comb. rara
Pós-tração ELSD Comb. freqüente
" Na pós-tração, as bainhas constituem elemento protetor da armadura.
bl Nas peças com pré-tração, não se admite a existência de tração no plano da seção
5.10 Questionário
1) Quais as causas usuais da corrosão das armaduras dentro do concreto?
2) Quais as duas condições ambientais necessárias para que haja corrosão das armaduras?
8) Por que não há corrosão significativa das armaduras das peças estruturais permanentemen-
te mergulhadas?
9) Qual a influência das fissuras mecânicas do concreto sobre a possível corrosão das arma-
duras?
10) Como se dá a carbonatação do concreto e qual a sua importância para a ccrrosão das
armaduras?
11) Qual a profundidade esperada para a carbonatação do concreto durante a vida útil usual
das estruturas?
13) Qual a interação existente entre a carbonatação do concreto e a agressividade dos íons
cloreto?
a) Compressão
Do ponto de vista de sua estrutura interna, o concreto pode ser imaginado como sendo cons-
tituído pelos grãos do agregado graúdo, embebidos e m uma matriz rígida de argamassa; ver
Figura (6.1-a).
Nos concretos de baixa ou média resistência, isto é, com resistências à compressão da ordem
de até 40 MPa, o mecanismo de ruptura ã compressão está mostrado nessa figura. A v c d a d e i r a
ruptura por compressão longitudinal do concreto ocorre por ruptura transversal de tração na
microestrutura.
Figura 6.1-a
Sendo os grãos do agregado graúdo mais rígidos e mais resistentes que a matriz de argamas-
sa, no entorno dos mesmos surgem tensões transversais de tração, perpendiculares ao campo
de compressão longitudinal aplicado externamente. O resultado é uma fissuração generalizada,
com fissuras orientadas segundo a direção do campo de compressão, com tendência ao esboro-
amento da estrutura interna do material.
Na ruptura macroscópica finai, o verdadeiro modo de ruptura ocorre com fraturas em planos
paralelos ao campo de compressão; ver Figura (6.1-b).
Nas peças estruturais em que ocorrem fenômenos de ruptura por compressão, a zona de
ruptura pode não estar confinada, como ocorre com as diagonais comprimidas das viças sujeitas
a forças cortantes elevadas. Essas rupturas freqüentemente simulam uma fissuração por tração
diagonal, embora na verdade sejam rupturas por compressão diagonal.
L l i i tV////////////A
t m
verdadeiro modo falso modo
Figura (6.1-b)
A partir do instante em que a matriz de argamassa se torna mais resistente que os grãos do
agregado graúdo, não ocorre mais o processo de microfissuração progressiva. A ruptura se dá
de modo explosivo, com fraluramento dos grãos de agregado graúdo por tração transversal na
microestrutura. O concreto passa a ser um material nitidamente frágil.
Nos concretos de altíssima resistência, com valores acima de 80 MPa, o fenômeno de ruptura
transversal do agregado já se dá até com os grãos de areia. O material passa então a ter um
comportamento extremamente frágil.
b) tração
O concreto é muito mais resistente à compressão que à tração. Nos concretos de baixa ou mé-
dia resistência, a ruptura ã tração se dá na matriz de argamassa. A superfície de fratura contorna
os grãos do agregado graúdo.
Nos concretos de alta resistência, a ruptura à tração se dá com tendência à superfície plana
de fratura, sendo cortados tanto a matriz de argamassa quanto os grãos de agregado graúdo.
No caso dos materiais dúcteis, como os metais, a ruptura se dá por deslizamento. A estrutura
cristalina do material é menos resistente ao deslizamento que à separação. Com isso, a plasti-
ficação ocorre por efeito de tensões de cisalhamento. A própria ruptura final é essencialmente
comandada pela resistência do material ao cisalhamento.
Imediatamente após a mistura do cimento com a água, começam as reações químicas que
produzem o endurecimento do concreto. Durante cerca de 2 horas ele apresenta o comporta-
mento de um fluido viscoso. Depois desse prazo, o concreto começa apresentar uma significati-
va estrutura interna sólida, cuja resistência vai aumentando com o tempo.
Nem todas as porções do concreto fabricado têm, porém, exatamente a mesma resistência. A
efetiva resistência de cada uma das porções de concreto da estrutura vai depender dos materiais
empregados, das condições de sua mistura na betoneira e das condições de transporte, lança-
mento, adensamento e cura. A resistência do concreto é, portanto, uma propriedade que pode
variar em cada um dos lotes fabricados e em cada um dos pontos onde foi lançado.
A resistência do concreto de uma estrutura é, portanto, uma grandeza aleatória, com variabi-
lidade espacial.
Considerando que a resistência do concreto evolui com o tempo, ele também apresenta uma
variabilidade temporal.
Se o concreto destinado a uma parte da estrutura, embora todo ele fabricado para ter uma
determinada resistência fccípccjfíctld/ pudesse ser transformado em N corpos-de-prova que fossem
ensaiados à compressão, os valores x. obtidos teriam uma probabilidade de ocorrência determi-
nada pela sua distribuição de freqüências relativas, como a mostrada na Figura (6.2-a), que e m
princípio pode ser assimilada a uma distribuição teórica normal.
Figura (6.2-a)
Considerando todos os N valores da população real considerada, pode ser definida a resistên-
cia média à compressão da população
( 6 - "
2 1 )
11. =f — —L
' c cn>,[X>pulaç<io
n
e a variância da população
E O c - * / (6.2-2)
2
c, população
n
N N N
Yl ( x
i -vc)2 T,(x2i - + t á j +
(7 2 = = = V(X?)+ ^
n n n
logo
a 2 = n ( x f ) - ( f i x ) 2 (6.2-3)
N
X > c - x f . / (6.2-4)
(7
c,fx>/)ulaçJo
i 11
(6.2-5)
x m =f ' cm „imo$tr<)
= —
n
e o desvio-padrão da amostra
52(xi-xm)2 (6.2-6)
'c,amostra
1 n-1
mente precisa do desvio-padrão da população O. ]VV,M:t<t, pois é pouco provável que se obtenha,
na 'prática, um valor n suficientemente grande,
r> ' antes que
1 se altere o valor de f ...
cmpopuuçjo
De qualquer modo, a justificativa para o denominador (n - 1) na estimativa do desvio-padrão
da população a partir dos dados de uma amostra é a seguinte. Considerando a Figura (6.2-a),
verifica-se que as expressões (6.2-1) e (6.2-4) indicam que o valor da média da amostra e o da
média da população são iguais à abscissa do centro de gravidade dessa figura, medida a partir
da origem do sistema de coordenadas. Não se emprega nenhuma correção nessa expressão,
porque a média da amostra é quase sempre uma excelente estimativa da média da população.
Observando ainda a mesma figura, verifica-se que a variância da população, dada por (6.2-2),
corresponde ao momento de inércia dessa figura, calculado em relação ao eixo baricêntrico da
população, e a expressão (6.2-4) fornece o valor do correspondente raio de giração.
Situação análoga ocorre com as expressões (6.2-5) e (6.2-6) referentes à amostra. O raio de
giração dado por (6.2-6) seria calculado em relação ao eixo baricêntrico da amostra, se no seu
denominador fosse empregado o número total n de elementos da amostra. Nesse caso, haveria
um erro sistemático, pois o que se quer é uma estimativa em relação ao eixo baricêntrico da
população.
Como o momento de inércia da amostra tem seu valor mínimo e m relação a seu próprio eixo
baricêntrico, ele é menor que o momento de inércia da amostra em relação ao eixo baricêntrico da
população. A análise desse problema mostrou que esse erro pode ser praticamente anulado se no
denominador da expressão referente à amostra for empregado o valor (n - 1) ao invés de (n).
Nos conceitos antes descritos, para evitar o conflito de simbologia que existe entre a repre-
sentação de dados estatísticos e representação de valores de resistência de materiais, os valores
individuais da resistência de cada corpo-de-prova foram indicados por x. e as freqüências por P
ou p. Quando não houver margem para dúvidas, as resistências serão indicadas pelo símbolo f.
10
8
2
MPa
10 20 30 40 50 60 70 80
RESISTÊNCIA CÚBICA M É D I A
Nessa investigação, foram observados desvios-padrão s. variando de 1,0 a 10,0 MPa, com o
valor médio da ordem de 5,0 MPa. Com os concretos de baixa resistência, o desvio-padrão médio
cresce de forma aproximadamente linear com resistência média. Nesse caso, a variabilidade da
resistência do concreto pode ser medida pelo coeficiente de variação ô ( = g c / \ i c . Todavia, com
os concretos de alta resistência, o desvio-padrão parece ser independente da resistência média,
devendo sua variabilidade ser medida diretamente pelo desvio-padrão.
6.3 Resistência característica do concreto ensaiado
Imaginando-se como conhecidos os reais valores da resistência media fim c do desvio-padrão 0
de um lote de concreto, a sua resistência dc referencia é o valor característico fckda resistência à
compressão, definido pela expressão
L = L - 1 6 4 5 a c
Quando nada for dito sobre a probabilidade da ocorrência associada à resistência caracterís-
tica do concreto, entende-se que seja:
= =
fck 1'ck,inf ^c0,05
Com a adoção de f<r os coeficientes de segurança referentes à resistência dos materiais são
números suficientemente pequenos para permitir uma análise crítica eficiente dos valores ado-
tados.
O que se pretende, ao ser especificada certa armadura mínima, é que o aço existente na es-
trutura tenha resistência suficiente para suportar as tensões de tração que são liberadas do con-
creto quando este sofre fissuração. Neste caso, o perigo consiste em se construírem peças que
cheguem à ruptura quando o concreto sofre uma simples fissuração. Esse perigo decorre
de se subestimar a resistência à tração do concreto. Nesse caso, emprega-se a resistência
média f .
Ctm
Por outro lado, sob a ação de cargas de longa duração, a resistência do concreto é significa-
tivamente menor que aquela obtida no ensaio padronizado de controle da resistência, cuja du-
ração é de apenas uns poucos minutos. É importante salientar que a permanência de cargas por
apenas umas poucas semanas já é suficiente para provocar a maior parte dessa perda de resis-
tência. Os estudos experimentais mostrados no capítulo 9 indicam que essa perda de resistência
é da ordem de 25%, independentemente da idade do concreto no instante do seu carregamento
e da qualidade do concreto, definida pela resistência obtida no ensaio de curta duração. Desse
modo, se forem realizados ensaios lentos, cujas rupturas ocorram aos 28 ou 365 de idade, serão
obtidos os valores 0,75f(2li ou 0,75fc}oy correspondentes aos ensaios rápidos realizados aos 28 ou
aos 365 dias, respectivamente.
Desse modo, mesmo imaginando que o carregamento previsto para a construção somente
possa atuar quando o concreto tiver um ano de idade, como esse carregamento sempre poderá
permanecer atuando durante um tempo suficientemente longo, para efeito de verificação da
segurança da estrutura, a resistência à compressão do concreto da estrutura deverá ser admitida
com o valor:
Não é certo, porém, que a ruptura ocorra necessariamente na fração menos resistente de
concreto, pois a ruptura também depende das solicitações atuantes.
A situação de maior risco existirá quando as solicitações máximas atuarem nos trechos de
concreto com resistências mínimas.
O nível de probabilidade de ruína que existiria nas estruturas, se fosse aceita a possibilida-
de de ruptura das peças com resistências iguais ao seu valor característico inferior, ainda seria
inadmissível.
O número de ruínas que de fato aconteceriam, se essa hipótese fosse aceita, levaria ao cla-
mor público.
A hipótese de que nas estruturas possa ocorrer realmente a ruptura do concreto somente é
aceita com probabilidades muito menores do que 5%.
A ruptura do concreto das peças estruturais é aceita quando, na seção mais solicitada, a resis-
tência corresponder ao valor de cálculo f (desiÇn) definido por:
r _ L
' cd ~
7c
7 c =1>4
acrl = 0,85f.cd
com
£ _ fçk,28
cci —
7c
Esse valor corresponde aproximadamente a uma probabilidade de 5/1.000 de que ele possa
ser ultrapassado no sentido desfavorável.
Quando se faz o dimensionamento das estruturas, adotando para o concreto a sua resistên-
cia de cálculo, isso corresponde a se admitir a existência de no máximo 5/1.000 do volume de
concreto com resistência inferior a esse valor far A hipótese de segurança consiste em se admitir
que essa fração menos resistente possa estar localizada nas seções mais solicitadas da estrutura.
Por essa razão, a ruptura dessas seções não pode ocorrer com cargas de serviço, pois seria muito
grande a efetiva probabilidade de ruína. A ruptura dessas seções somente poderá ocorrer com
cargas maiores que as de serviço, de modo a se garantir uma probabilidade de ruína aceitável.
Embora ao valor global de y ( tenha sido dada uma interpretação probabilística, pela trans-
formação do quantil fc00} no quantil f(0fí0y na verdade esse coeficiente de minoração pode ser
interpretado como resultante do produto de 3 outros coeficientes:
7 c ~~ 7 C P 7 C 2 * 7 C J
sendo:
Y,, = coeficiente parcial que considera a efetiva aleatoriedade das resistências, levando em
conta a possível existência de frações de concreto com resistências menores que f(k
Várias alternativas foram propostas. De modo geral, admite-se o ensaio de ruptura por tração
na flexão de corpos-de-prova de concreto simples'7 e o ensaio de ruptura indireta per compres-
são diametral18 de cilindros iguais aos usados no ensaio de compressão.
Tradicionalmente, as Normas Brasileiras admitem relações fixas entre as resistências do con-
creto à tração e à compressão. A NBR 6118 adota os valores seguintes:
f _ n of2A
=
^ctk,inf 7fct.n
f'clk,$up =1 3fct.m
Quando essa tensão nula ê uma das tensões principais extremas do estado triplo, as resis-
tências se aproximam dos valores relativos aos estados simples correspondentes. Dos resultados
experimentais obtidos por Nelissen19 e Kupfer, Hilsdorf e Rusch20, conclui-se que, na região tra-
ção-tração, isto é, quando o { = 0, a resistência do concreto é praticamente igual a sua resistência
à tração simples, e na região compressão-compressão, isto é, quando o ; = 0, há um pequeno
aumento da resistência em relação ao valor correspondente à compressão simples.
Em princípio, esse conceito se aplica quando o concreto é produzido na própria obra que se
inicia e a instalação de produção desse concreto ainda não teve sua variabilidade controlada.
Iloje em dia essa situação somente existe em obras situadas longe de usinas centrais de forne-
cimento de concreto pronto.
Desse modo, a resistência média de dosagem deveria ser adotada com o valor:
fcm=fck.esp+h65Sd
onde o desvio-padrão de dosagem s(l era considerado com os valores decorrentes do conhe-
cimento empírico que se tinha sobre a variabilidade dos resultados obtidos com a instalação
produtora de concreto empregada.
A experiência construtiva com concretos até da classe C40 mostrou que são satisfatórios os
valores prescritos pela NBR 12655", em função das condições de preparo do concreto.
De qualquer maneira, essa norma admite duas possibilidades distintas para a escolha do va-
lor de s j uma para quando se admite conhecido o desvio-padrão s, e outra para quando ele é
considerado desconhecido.
Para efeito de dosagem, a NBR 12655 permite considerar conhecido o valor numérico do
desvio-padrào quando ele for fixado a partir de no mínimo 20 resultados consecutivos, obtidos
no intervalo de 30 dias em sistemas produtivos estáveis, em período imediatamente anterior,
não permitindo a adoção de valor menor que 2 MPa.
Quando o desvio-padrào for considerado desconhecido, no início da obra, para efeito de do-
sagem do concreto, o desvio-padrão s, pode ser adotado para as condições de preparo A - B - C
com os valores de 4,0 - 5,5 - 7,0 , respectivamente.
6.9 Questionário
1) Qual o modelo constitutivo adotado para a estrutura interna do concreto?
9) Qual o aumento que se pode esperar para a resistência do concreto após 1 ano de idade?
10) Qual o efeito das cargas de longa duração sobre a resistência do concreto?
13) Qual o valor da resistência do concreto a ser adotado no cálculo estrutural em função do
valor básico de referência adotado?
20) Quais as relações usuais entre a resistência característica à tração e a resistência caracte-
rística à compressão do concreto?
21) Qual o método de ensaio usual para a determinação da resistência à tração do concreto?
Para ilustrar a análise do processo de produção do concreto, admita-se que todo o material
elaborado em um ciclo de produção seja transformado em corpos-de-prova, e que eles sejam
submetidos ao ensaio de compressão simples.
De cada um dos m ciclos de produção, constituídos por uma única amassada elaborada em
cada instante t, sendo o índice j (j = 1 a m) o número de ordem da amassada, resultam n valores
x.(t); ver Figura (7.1-a).
X|(tj) = fCc,i
As propriedades estatísticas desses processos aleatórios podem ser definidas tanto dentro
de um dado ciclo particular j de produção, em função dos n valores XfíJ obtidos nesse ciclo, ou
então, definidas a partir do conjunto de m resultados obtidos nos diferentes ciclos /', referentes,
em todos eles, ao corpo-de-prova com o mesmo número /de ordem de moldagem e ensaio". Em
princípio, o corpo-de-prova de ordem de moldagem i = 1 pode ser considerado como amostra
do ciclo considerado.
Considerando um dado ciclo j de produção, podem ser definidas certas funções cpA [X.(ÜJ,
(k = 1 a p), calculando-se os correspondentes valores médios IX.ftJI, dados por
_ i 1 (7.1-1
n
Observe-se que as funções [X.(Ü] são escolhidas em função dos objetivos do estudo con-
siderado. Assim, por exemplo, podem ser escolhidas as funções seguintes:
V?7 X J t ^ X , ^ )
Nos processos de produção dos materiais estruturais, são de interesse duas funções:
, £ W
W ] = — = /< x,(tL)\ = f<jtL) (7.1-3)
E W
i-i
2) X J t ^ X f t t j , ) - (7.1-4)
n
cujo valor médio em cada instante t = t vale
i x ? ( t , ) i x f ( t i )
i=l i=l = O
V2 X:
n n
t w
— = ft\xi(tL)\ = ft.JtL)
é um valor constante, resultando então que (p, [X. tyj é a variância dos valores X. ^correspon-
dentes a t = t.
Quando (p, /X; (t) = JI v (tj for um valor constante, independentemente de t = f, diz-se que
o processo é estacíonário em relação à sua média. Quando (p, [X. (tfl = a 2 v (tj for um valor
constante, independentemente de t = tjt diz-se que o processo é estacionário em relação à sua
variância.
Além das funções Cp, [X. (tj], para a caracterização probabilística do processo aleatório, em
certos casos também devem ser consideradas funções do tipo
x;]/ lk=up),
que consideram as relações existentes entre os pares de valores obtidos pela mesma função
em dois ciclos diferentes de produção.
Observe-se que as funções <pt IX. (t.)] dependem apenas dos valores X.(tJ no instante r, en-
quanto as funções ipk Xj(t -j ),X.(t - +1) dependem simultaneamente dos valores X.{tf do ciclo
t. correspondente a j - valor fixo, e dos valores Xft.+Z) do ciclo t.+T definido pela variável T.
(7.1-8)
Ê { [ W - f t , M - X/t, +r)-,lJti+X)\}
+ x)\ = (7.1-9)
isto é
£ v j t i ^ j t t + x )
i=l
n
resultando
Além disso, a expressão (7.1-9) também pode ser posta sob a forma
l>2\X{tL),X,(tL+x)\ = E{ [xi(ti)-,iJtL)\\xi(ti+x)-,,.Jti+x)\}
ou seja, obtém-se a Função de Covariância
Função de Autocorrelação:
Assim, um alto valor de KJt^t+V] diz que, para o mesmo índice /', o processo de amostragem
e m (t+T) continua com as mesmas características que tinha no instante L Os valores de X. e m
diferentes instantes estão fortemente correlacionados.
Assim, se X i = X «r/rxw.i
i u ( = X «i, os valores de X J(t)/ e de
rf X (t.+T)
/ não podem ser considerados como
valores aleatórios independentes um do outro para qualquer valor de X; ver Figura (7.2-a). Essa
independência somente existe quando o afastamento X for suficientemente grande.
Este problema é particularmente importante quando se extraem testemunhos do concreto
de uma estrutura existente. Para que os diferentes testemunhos possam compor uma amostra
aleatória do concreto da estrutura, eles devem ser extraídos com afastamentos X uns dos outros,
sendo os valores de x suficientes para que desapareça a possível correlação entre eles, como
será visto adiante. Assim, por exemplo, as investigações já citadas de Rackwitz mostraram que,
no caso de pilares e paredes, um afastamento de 2 a 3 metros pode ser suficiente para amorte-
cer significativamente a correlação das resistências de testemunhos extraídos da estrutura.
Figura (7.2-a)
Função de Autocovariância:
A função de autocovariância mostra a relação dos valores das varlânclas de um mesmo pro-
cesso, considerando dois ciclos diferentes de produção, um deles realizado no instante ( e o
outro no instante (t+X).
Nos processos aleatórios em que as variáveis X não são funções periódicas do parâmetro f,
verifica-se experimentalmente" que as funções de autocorrelação e de autocovariância^/^Tj e
KJt^T), tendem a zero quando cresce o valor de T. Isto significa que mesmo que haja correlação
entre as variáveis X/tJ e X/r,TÀ quando é aumentada a distância entre t e t+T, essa correlação
tende a desaparecer, como mostrado na Figura (7.2-b).
Figura (7.2-b)
têm valores que dependem do instante inicial t=t escolhido, e do afastamento X entre os dois
instantes considerados, como ilustrado pela Figura (7.2-a).
Na Figura (7.2-b) estão ilustradas as possíveis relações existentes entre os valores das funções
X e m dois ciclos diferentes de produção, correspondentes aos instantes fixos t.e t+T. Observe-se
que, quando T —• 0 , os valores de X nos dois instantes considerados são sempre próximos uns
dos outros, ou seja, quando um deles é um valor alto ou baixo, o mesmo ocorre com o outro.
Pelo contrário, quando T —>00, perde-se a correlação entre os valores correspondentes aos dois
instantes considerados. Esse fato ocorre mesmo com processos estocásticos estacionários em
relação à média e em relação à variância.
&M
Em conseqüência das propriedades da função K2(tf 1), também a função coeficiente de corre-
lação tende a zero para T >T/ >n. Por outro lado, de acordo com (7.1-9), quando T 0,
T-»0
logo
R(t-+0) = 1 (7.3-3)
b) As propriedades estatísticas definidas pelas médias (p, e das funções <pfc e corres-
pondentes a um instante t qualquer, são equivalentes às propriedades estatísticas homó-
logas calculadas a partir de diferentes valores, ao longo do tempo, de qualquer uma das
variáveis X., sendo (i = 1, 2 , n ) .
De acordo com a restrição (a), nos processos ergódicos, têm-se:
Admita-se que uma das funções X. seja considerada como função-amostra dos valores das
demais. Essa função será indicada por Xi>.
Observe-se que o simples fato de o processo ser estacionário não implica também que
ele seja ergódico. Como exemplo da veracidade desta afirmativa, tem-se o processo em que
X., = k., (i =1, 2, n), onde k. são valores constantes. Neste caso.
v /
l ' > m m
enquanto
n n
í M
Como já foi visto, esse valor da resistência especificada f c k é controlado durante a exe-
cução da obra por meio do ensaio de compressão simples de corpos-de-prova cilíndricos
de 15 x 30 centímetros, em ensaio rápido, obrigatoriamente aos 28 dias de idade no caso
do controle usual.
Se os resultados obtidos com os ensaios dos corpos-de-prova tiverem sido satisfatórios, admi-
te-se que o concreto da estrutura também tenha sido satisfatório.
Obviamente, esta conclusão somente poderá ser aceita se for respeitada uma série de restri-
ções, que precisam ser claramente entendidas pelo projetista da estrutura e pelo construtor da
obra.
Como mostra a Figura (7.5-a), da boca da betoneira saem duas linhas de produção de concre-
to, e não apenas uma.
Em face das discrepâncias existentes entre essas duas linhas de produção, que podem levar a
resultados diferentes, conclui-se que a resistência f(kesf) especificada para o concreto deve ser de-
finida tendo em vista uma situação padronizada de produção. Para isso, a resistência do concreto
é especificada como sendo a resistência potencial da mistura a ser fabricada, se ela for proces-
sada em condições padronizadas e ótimas, como as que se admitem existir na manipulação do
concreto dos corpos-de-prova de controle da resistência.
BETONEIRA
« •
TRANSPORTE TRANSPORTE
LANÇAMENTO M0LDAGEM
ADENSAMENTO CURA
CURA ENSAIO
em condições
em condições padronizadas e
de obra ótimas
C0RP0S-DE-
ESTRUTURA
Ui PR0VA
O ã
o
CC
O.
RESISTENCIA DO 2
< RESISTENCIA DOS
CONCRETO DA »/> CORPOS-DE-PROVA
O
ESTRUTURA O o.
cc DE CONTROLE
o O
0£ u
CO
EXTRAÇÃO DE CORPOS-DE-PROVA
DO CONCRETO ENDURECIDO
ACABAMENTO
ENSAIO
CONVERSÃO PARA A
RESISTÊNCIA CILÍNDRICA
CORPOS-DE-PROVA EXTRAÍDOS
Figura (7.5-a)
Neste caso, na interpretação dos resultados, as incertezas devidas à cura empregada devem
ser adequadamente consideradas.
Para que se possa fazer uma apreciação prática a respeito dessa indagação, é necessário dis-
por de um critério simples que dê a resposta.
Resultados individuais ao longo da execução da estrutura
Figura (7.7-a)
A scqücncia dc resultados mostra que os corpos-de-prova podem ser considerados como re-
presentantes de uma mesma população apenas durante certos intervalos de tempo, durante os
quais se manifesta a verdadeira variabílidade do processo, como indicado durante os intervalos
de tempo A í f e A í , da Figura (7.7-a).
Dentro desses intervalos de tempo, é possível estimar o correspondente valor efetivo fckol.
da resistência característica do concreto produzido. A experiência mostra que os processos de
produção de concreto têm maior facilidade e m deixar de serem estacionários por mudanças
do valor da média, que depende da qualidade dos materiais e da mão-de-obra empregados em
cada lote, do que por mudanças da variância, que dependem essencialmente da qualidade dos
equipamentos empregados.
Assim, considerando uma experiência cujo resultado pode ser considerado um sucesso ou
um fracasso, admita sc que c m uma única tentativa a probabilidade de sucesso seja p, c a pro
habilidade de fracasso 7 - p . Considerando que não haja correlação entre os resultados obtidos
e m diferentes eventos, eles podem ser considerados como eventos independentes.
A probabilidade de um evento dessa natureza vale pv(1-pTy. No entanto, se não for especifi-
cada a ordem e m que devem aparecer os y sucessos, o número de vezes que isso pode ocorrer
n!
e m n tentativas é dado pelo número de combinações Cyn = —-—:
y!(n-y)!
Desse modo, a probabilidade de y sucessos, em qualquer ordem, em n tentativas é dada pela
expressão
Desse modo, como regra geral, quando seis pontos consecutivos de um gráfico de controle
de qualidade ficarem de um mesmo lado em relação ao valor médio especificado para o pro-
cesso de produção ou obtido com um grande número de resultados, haverá forte suspeita de
mudança da centragem do processo.
De forma análoga, controlando os valores mais baixos dos resultados obtidos com os corpos-
de-prova de controle, quando em seis resultados aparecer um único valor abaixo de ftV isso não
deve ser considerado como um fato alarmante.
Durante cada um desses intervalos de tempo em que o processo pode ser considerado como
estacionário, é produzido um lote de concreto suficientemente homogêneo para que sua resis-
tência seja julgada globalmente.
8. Controle de aceitação do concreto da estrutura
f(x) =
1 •exp
7 (8.1-1
(x-n)'
a •T27T 2a-
X-fi x
U = — (8.1-2)
cr,
1
f(u) = •exp — U ' (8.1-3)
^Í2TT 2
f ( x ) VARIÀNCIA a2(x) = £ ^ ü l
f(x)
UNIVERSO DOS DESVIOS-PADRÃO
fls(x)] MÉDIA p(S(x)]=C7(x)
VARIÀNCIA Gr2(x^
2 (n - 1)
VARIÀNCIA a2(x)
Figura (8.1-b)
CJ^ f x ^
Do universo das médias: /i ( x ) = / i ( x ) e cr'(xn) = — — (8.1-5)
n
Quando o universo original tiver distribuição normal, a distribuição por amostragem da média
também será normal e, com grandes amostras, admite-se que a distribuição por amostragem da
variância também tenha distribuição normal.
Desse modo, retirando do universo original uma amostra com n exemplares, da distribuição
por amostragem das médias tem-se
A expressão (8.1-8) fornece o que se chama intervalo de confiança da média |Xvdo universo
original, do qual se conhecem apenas as médias Xn de amostras de n exemplares. Não se trata
agora de um juízo probabilístico, pois a média Xn, embora desconhecida, é um valor fixo não su-
jeito a mudanças de posição. O que a condição (8.1-8) exprime é um simples grau de convicção
sobre o intervalo, no entorno da média de uma amostra, em que |i x pode estar.
Nesse caso, pode ser obtido, apenas de modo aproximado, o intervalo de confiança do des-
vio-padrão
cr,x
\sn(x)-a(X)\<u(P%)
V ^ õ
ou seja, o erro relativo da estimativa do desvio-padrão é dado por
que, com 95% de probabilidade, vale
\sn(x)-a(X) ^ 196
(8.1-12).
cr^
Desse modo, se quisermos obter uma estimativa do desvio-padrão com um erro relativo de
até 25%, com uma probabilidade de 95%, é preciso dispor de uma amostra tal que seja respei-
tada a condição
1 196
n > +1 = 32
0,25
No caso de ser satisfatória uma estimativa do desvio-padrão que, com 95% de probabilidade,
possa conter um erro relativo de até 25%, a amostra empregada deverá ter pelo menos 32 exem-
plares. Caso contrário, a amostra deverá ser ainda maior, o que, no caso do controle da resistên-
cia do concreto, pode acarretar uma perda da condição estacionária do processo de produção,
em virtude do tempo necessário para se dispor de amostras muito grandes.
Note-se que, se fosse exigida a mesma precisão na estimativa da média do universo, da ex-
pressão (8.1-7) resultaria a condição
- Vx
Vx rn Vx
Para se ter uma estimativa mais precisa do intervalo de confiança do desvio-padrão da popu-
lação da qual se conhecem apenas as amostras de n exemplares, é preciso estudar diretamente
a distribuição por amostragem da variância.
Assim, admitindo-se como normal o universo X ( | i v , 0 ^ e m exame, cujos parâmetros são desco-
nhecidos, como foi discutido, as estimativas da variância por meio de amostras de n exemplares
são dadas por
5 2 = -Í2Í-
n—1
n
Admitindo que se obtenha o universo normal reduzido t/()J, u =0, O l = /Jcomo decorrente do
x n
universo original, pela transformação U = — ,
7
<l> i=1
n
xl = X X (8.1-14)
i=1
/ -2 V
f(u) = -j=e
yJ27T
A título de ilustração, apresentam-se na tabela seguinte" alguns valores de x\> figura (8.1 -c).
Valores de X2 (qui quadrado)
P = 2,5% P = 5% P = 95% P = 97,5%
0
- XA 20,023 - AX2o,o -, - AX20,95 A 0,975
f(x2)
tem-se
2 ax 2 (8.1-15)
5 = — Y
* / A.Q
<p
logo
2
<71 = (8.1-16)
2 x
Xó
2s M (8.1-17)
X ÍUft Xinf
i=t
<crx<"'=' (8.1-18)
i x'Li
8.2 Funções de estimação
Considerando os processos de produção de materiais estruturais cuja qualidade é controlada
estatisticamente por uma variável X , sempre existirão incertezas quanto aos valores dos parâ-
metros l l eo.
~X X
Observe-se que essas incertezas existirão mesmo que sejam ensaiadas grandes amostras.
Como foi visto anteriormente, empregando amostras com 32 exemplares, com 95% de confiança
pode existir um erro relativo do desvio-padrão sx — CTX / Ox de até 25%.
O método probabilístico de verificação da segurança das estruturas é baseado nas resistên-
cias características dos materiais, que são determinadas pelo quantil de 5% das respectivas distri-
buições de probabilidade de ocorrência, admitindo-se que essas populações sejam homogêneas
e normalmente distribuídas.
No caso do concreto, o construtor admite que irá produzir uma população de concreto com
média Ji v e desvio-padrão fixando como objetivo de produção a obtenção de uma resistência
de dosagem de valor
Xk.ef>Xk,esp <8-2"2»
z = Z(x1,x2 ....xn)
z>xk,esP (8.2-3)
Este critério de aceitação é criticável, como se discute adiante. A experiência mostra que este cri-
tério precisa ser ajustado à realidade social da construção de estruturas, conforme se indica em 8.7.
Observe-se que a condição (8.2-3) não é equivalente à (8.2-2), pois z é uma simples estima-
tiva de x.k,cl.
Tendo em vista o estudo das possíveis conseqüências da substituição da condição de aceita-
ção xkii. > pela condição convencional z > torna-se necessário definir uma medida
da eficiência da função de estimação escolhida. Essa eficiência é estimada pela probabilidade
P de aceitação em função da fração deficiente p do produto realizado, que é a porcentagem do
produto que não atende à condição x > x keíp .
Admitindo-se que o concreto produzido tenha uma distribuição normal de media j i e desvio-
padrão G^ a fração deficiente p é medida pela probabilidade dada pela expressão
a distância entre a média [it e um valor x qualquer é dado por. Figura (8.2-a),
Hc - X = U • <JC
e a distância entre a média \lc e o valor da resistência característica especificada é dada por
ou seja
Mc Xk,esp
*k.csp *l.cf
u CTc
Figura (8.2-a)
Desse modo, ignorando o truncamento em zero da distribuição de valores x, por ser despre-
zível, a fração deficiente é dada por
P(u<u )=^L f
U?M u_
p= pfk e-*du (8.2-5)
Tabela (8.2-a)
Para cada funçào de aceitação Z(xt,x2 ....xj, a sua distribuição por amostragem, dada pela
função de densidade de probabilidade f j " , é caracterizada pela média \X/ e pelo desvio-
padrão (5 /.
fz{2)
distribuição do
( x k.cf < Xk.esp> distribuição das
estimador f.
resistências f x (x)
Mz = xk.ef xk.esp
xk.esp Mz = xk.ef
Probabilidade de aceitação
Figura (8.2-b)
Na Figura (8.2-c) mostra-se a condição dos estimadores centrados, isto é, das funções de esti-
mação cujas médias coincidem com o valor efetivo x ^ d a resistência característica do produto.
z > CY-X
k,esp
Cpm = f ck,ef
1,65 a c
« •
Estimadores centrados
Figura (8.2-c)
8.3 Funções clássicas de estimação» Desvio-padrão conhecido
As funções clássicas de estimação, que são empregadas pelos métodos usuais de controle de
qualidade, são definidas por expressões do tipo26
X = fator de estimação.
A idéia central da definição das funções clássicas de estimação é a de usar a média xn da
amostra em lugar da média | i , e o desvio-padrão sn da amostra em lugar do desvio-padrão da
população, discutindo o valor do fator de estimação X a ser empregado.
Z = X n ~ \ S n > X k i e s p (8.3-2).
O emprego de estimadores do tipo z = xn - Xs n somente pode ser feito com amostras retiradas
de populações homogêneas. Se a amostra contiver elementos de mais de um universo, a varia-
bílidade aparente assim existente falseará as conclusões a serem tiradas.
P , ( p ) = P ( x k . e s P < K - K ) (8.3-3),
Z = Xn — Xac (8.3-4).
Sendo a constante, para cada valor \ do fator de estimação, obtêm-se os parâmetros
^=E(Z) = E(xn)-\ac
al=Var(Z)=Var{xn)
Var{xn) = a2{xn) = ^-
resultando
= fic - \ a c (8.3-5)
Pelo fato de a distribuição das médias ser normal, a variável Z, neste caso, também tem dis-
tribuição normal; Figura (8.3-a).
A variável reduzida u / t , definida pela expressão
M, - z
U z = — (8.3-7)
( l i c - \ a c ) - ( x n - \ a c )
Uz =
a c
ou seja.
(8.3-8)
Xk,esp = f i C ~ U p f k ( 7 C (8.3-9)
U z k = ^-~Xk-eS" (8.3-10»
correspondente, portanto,
xk,csP = f z ~ U,Maz
donde
= t b - l'c + u p k a c
ou seja,
-Acrc + U k a c
ut,k =
Logo, introduzindo (8.3-6),
Desvio-padrão conhecido n = 20
Figura (8.3-b)
Neste caso, o estimador Z retoma sua definição original, dada em (8.3-1), sendo
Z = xn ~ Xsn (8.4-1)
f i / = E ( Z )= E(xn)-\E(sn)
£ ( * „ ) = / ' O )=/'<:
E{sn)=ii(s„) = cr c
Var(x„) = *l=&
/iz = fl c - A <Tc
Observe-se que no caso presente o estimador Z não tem distribuição normal. Embora para
n > 4 a variável Xn sempre possa ser admitida como normal, o mesmo não acontece com a
variável sn.
De acordo com a expressão (8.1-16), a variância da amostra tem uma distribuição de X" para
(|> = n - 7 graus de liberdade, dada por
C2 — / T 2 X'
-
ac
<f>
(8.4-4)
LLZ ~ X
k,esp
"z,k =
resultando
_ ( ^ c - X a c ) - ( f i c - u p k a c )
ou seja,
uz,k = ( u P , k - X ) - f = = r (8.4-5)
Os valores decorrentes da expressão (8.4-5) estão mostrados na tabela da Figura (8.4-a), re-
lacionando a probabilidade de aceitação, medida por u/k, com a efetiva fração deficiente /;% do
concreto produzido, determinada por ufik, em função do tamanho n da amostra e do fator de
aceitação Á. adotado.
Comparando as tabelas das Figuras (8.3-b) e (8.4-a), verifica-se que para amostras com fração
deficiente menor que 5%, a probabilidade de aceitação com desconhecimento do desvio-padrão
do universo é menor que a correspondente ao conhecimento desse parâmetro. No caso de fra-
ções deficientes maiores que 5%, invertem se essas posições.
Função de estimação centrada X = 1,65
Desvio-padrão desconhecido n = 20
Za = KaX,min
/;%
P a (P%)
\ 2
1 2,33 1,9791 97,60
2 2,06 1,1965 88,45
3 1,89 0,7797 78,23
4 1,76 0,2645 60,40
5 1,65 0 50,00
6 1,56 -0,2619 39,60
7 1,48 -0,4948 31,05
8 1/41 -0,6985 24,30
9 1,34 -0,9023 18,37
10 1,29 -1,0478 14,80
Tabela (8.4-a)
í=f
ck cm — 1,645
' ac
Quando se tem um lote homogêneo de concreto, uma amostra de poucos exemplares já é su-
ficiente para a estimativa satisfatória da média; porém, uma hipótese da mesma natureza jamais
poderá ser formulada para a estimativa do desvio-padrão da população. O tamanho da amostra,
para que o seu desvio-padrão pudesse ser confundido com o desvio-padrão da população, e m
termos práticos, jamais poderá ser obtido, pois antes que esse número de resultados seja al-
cançado, o processo poderá ter mudado sua centrarem, como foi mostrado na f igura (7.7-a). As
funções clássicas de estimação estudadas nos itens anteriores têm seus resultados dependentes
do tamanho da amostra e do fator X de aceitação escolhido.
Por essa razão, para evitar a dificuldade de se lidar com o desvio-padrão desconhecido da
população em processo de controle, buscou-se determinar a resistência característica do lote de
concreto diretamente a partir dos resultados obtidos, não se procurando estimar isoladanente a
média e o desvio-padrão dessa distribuição.
Com essa finalidade, a partir dos valores f, ^ f,^ ... ^ fn obtidos de uma amostra de n
exemplares, podem ser definidas certas funções de estimação c j ) ( f t , f „ . . . , f j que fornecem esti-
mativas satisfatórias de fek. De modo geral, são bastante eficientes os estimadores centrados a
seguir considerados 2 8 " } 0 .
1) Estimador Za
Conhecidos os n resultados X,, Xy ...,Xn define-se o estimador Z pela expressão
Valores de Ka
Uniformidade Excelente Boa Regular Má
do concreto
Coeficiente d e 0,10 0,15 0,20 0,25
variação 5 (
Tabela (8.5-a)
O estimador Z foi obtido com a propriedade de que a sua distribuição tenha a mediana coin-
cidente com a resistência característica efetiva. Os parâmetros da distribuição de Z são dados
na Tabela (8.5-b) e m função dos parâmetros |\ic e a do concreto produzido*'.
Sendo este estimador função exclusiva do menor resultado de ensaio, devem ser evitados
corpos-de-prova defeituosos. Quando se empregam pares de corpos-de-prova moldados simul-
taneamente e um dos valores é sensivelmente menor que o outro, considera-se apenas o de
maior valor.
O estimador Z «í é aplicado quando o controle tem o caráter assistemático, procurando-se obter
uma avaliação global do concreto de toda a estrutura. Esse tipo de controle não é recomendado
quando se trata do projeto de obras de grande importância. Todavia, quando se trata de avaliar
a resistência do concreto de estruturas já existentes, por meio da extração de testemunhos do
concreto endurecido, freqüentemente este estimador é aplicado, pois geralmente o número de
testemunhos que podem ser extraídos de uma estrutura é muito baixo, devendo analisar-se a
estrutura como pertencente a um lote não homogêneo. Nesses casos, é preciso dispor de outras
informações para selecionar os testemunhos que podem ser considerados como efetivamente
representativos do concreto em exame. Em particular, em estruturas construídas com materiais
e procedimentos profissionais usuais, não havendo motivos para que haja partes da estrutura
com resistências excepcionalmente baixas, os testemunhos que apresentam resistências muito
baixas devem ser radicalmente descartados.
2) Estimador Zb
Conhecidos 2n resultado X]t Xy Xn t, X^ Xm), XM o estimador Zb é definido pela ex-
pressão
Zb = 2(X'+X2+ + X
"') - Xn
n —l
onde
Z„ = 2
Tabela (8.5-b)
Os corpos-de-prova em princípio devem ser moldados aos pares, deles resultando um único
exemplar, correspondente ao maior dos dois valores obtidos. Essa regra decorre da óbvia forte
autocorrelação que existe entre as resistências de dois corpos-de-prova gêmeos, moldados no
mesmo ato. Em princípio os dois corpos-de-prova deveriam dar o mesmo resultado, se a manipu-
lação dos mesmos durante a moldagem, durante a cura e durante os ensaios não tivessem uma
variabilidade própria, que não deveria influir no resultado a ser obtido.
Essa regra é lógica, quando se lembra que o valor especificado para f a representa o melhor
resultado que se pode obter com o traço adotado para o concreto, quando ele for manipulado e
ensaiado e m condições padronizadas e ótimas. Dos dois corpos-de-prova de um par, o de maior
resistência representa melhor o valor potencial da mistura. O resultado de menor valor reflete
apenas a influência da variabilidade do processo de preparo e ensaio dos corpos-de-prova, de-
vendo por isso ser descartado.
No controle por amostragem é indispensável localizar cada lote produzido dentro da estrutu-
ra, como ilustrado pela Figura (8.6-a), a fim de que medidas adequadas possam ser tomadas no
caso de serem obtidos resultados inferiores aos especificados. O tamanho máximo de cada um
desses lotes indicados na figura são os especificados pela norma brasileira NBR 12655.
t 1 1 r
I LOTE 3 I LOTE 4 I LOTE... I
Figura (8.6-a)
De acordo com a NBR 12655", consideram-se dois tipos de controle de resistência: o controle
estatístico do concreto por amostragem parcial e o controle do concreto por amostragem total.
Para cada um destes tipos é prevista uma forma de cálculo do valor estimado da resistência
característica fcAresr
. . d o s lotes de concreto.
No controle estatístico por amostragem parcial nào se espera que sejam retiradas amostras do
concreto em todas as betonadas, tendo e m vista o tamanho dos lotes e o tamanho das amostras.
Para as classes até C50, esta norma permite o emprego de apenas 6 exemplares.
NBR 12655-Tabela 7
Solicitação principal dos elementos da estrutura
Limites superiores Compressão ou compressão
Flexão simples
e flexão
Volume d e Concreto 50 m* 100 m J
Número d e andares 1 1
Tempo d e concretagem 3 dias de concretagem'
1 Este período deve estar compreendido no prazo total máximo de 7dias. que inclui eventuais interrupções
para tratamento de Juntas.
f = ? f , + f 2 + - - + f m , f
ck,e$t z ^ 'm
m —l
sendo m = ^ , e os resultados dos ensaios dos exemplares de controle são indicados e m ordem
Ainda para o caso de 6 < n < 20, a NBR 12655 recomenda que não se deve tomar para fck <>r
valor menor que sendo ft o valor mais baixo da amostra e um coeficiente dado pela Tabela
8 da NBR12655.
Neste caso, a recomendação da NBR12655 decorre do estimador Z descrito no item 8.5 deste
capítulo. Os valores dos coeficientes ^relativos à "Condição de Preparo A" correspondem à co-
luna dos coeficientes Kj relativos ao coeficiente de variação 8c= 0 ,'1 5 , e os valores de r4»,relativos
0
às "Condições de Preparo B ou C" correspondem aos valores de K referentes a 8 c =0,20.
b) Para lotes com número de exemplares n > 20, o valor estimado da resistência característica
fCk,est ~ ~ h65 Sd
onde fem é a resistência média dos exemplares do lote, e S , é o desvio-padrão da amostra, cal-
culado com 4> = n - 7 graus de liberdade.
Neste caso, a NBR 12655 adotou a função clássica de estimação descrita no item 8.4 deste
capítulo.
No controle do concreto por amostragem total, a NBR 12655 especifica que se ensaiem exem-
plares de cada uma das amassadas cie concreto, adotando a resistência mínima ^como o estima-
dor da resistência característica para amostras de até 20 exemplares, sendo pouco provável que
de uma única amassada sejam retiradas amostras com número ainda maior de exemplares.
No caso de ser necessário controlar a resistência de pequenas porções de concreto, não cabe
imaginar que dentro do volume em consideração possam atuar todas as causas de variabilidade
que existem nos lotes com grandes volumes.
Por esta razão, tais porções individuais, com volumes de até 10 m3, podem ser controladas por
meio de um pequeno número de exemplares, entre 2 e 5.
Tendo em vista que, do ponto de vista social, as conseqüências para o consumidor pelo em-
prego de um concreto com fração deficiente ligeiramente superior ao limite de 5% são muito
menos severas que as conseqüências para o produtor da rejeição de concretos com fração de-
ficiente até ligeiramente menores que o limite de 5%, o critério de aceitação do concreto pode
se expresso por
Z = fck,esl>a-fck,esp com « = 0,9 (8.7-1)
9.1 Introdução
A determinação da resistência do concreto comprimido é elemento central na avaliação da se-
gurança das estruturas submetidas tanto a solicitações normais quanto a solicitações tangenciais.
Desde as primeiras teorias propostas para resolver esse problema, a resistência do concreto
do banzo comprimido das peças fletidas sempre foi considerada com um valor menor que o ob-
tido nos ensaios padronizados de compressão.
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, cristalizou-se a idéia de que a resistência à compressão
simples do concreto na seção transversal de pilares e de peças fletidas valeria 0,85 da tensão
de ruptura decorrente de ensaios de compressão. Em termos das idéias atuais, no projeto seria
considerado o valor 0,85 fc(i. Este valor, que é indicado pela fib" por f)r<r é o considerado nos
estados-limite últimos de solicitações normais, sendo admitido sempre como
L = 0,85fcd (9.M)
É importante assinalar, como é visto adiante, que o coeficiente 0,85 considera o formato do
corpo-de-prova de controle, leva em conta o aumento da resistência com a maturação do con-
creto depois dos 28 dias de idade e também a perda de resistência dos concretos submetidos a
cargas de longa duração.
De acordo com a fib*8, a efetiva resistência à compressão, nesses casos, toma os valores
U f f = v L i9-1"2»
V, = 0,80
4) em bielas comprimidas que atravessam campos usuais de fissuração, como na alma das
vigas:
V, = 0,60
5) em bielas comprimidas que atravessam campos muito fissurados, como nas peças subme-
tidas a tração axial ou nas abas tracionadas das vigas.
v2 = 0,45
Em diversos países, para os ensaios são adotados corpos-de-prova cúbicos, com arestas de
diferentes tamanhos. A influência das dimensões dos corpos-de-prova, de acordo com Saliger10,
está mostrada na Figura (9.2-a).
Figura (9.2-a)
Nas condições usuais de ensaio, o atrito dos pratos da prensa de ensaio com os topos do
corpo-de-prova cria estados múltiplos de tensões que aumentam a resistência aparente do con-
creto. A restrição à dilatação imposta aos topos do corpo-de-prova provoca tensões transversais
de compressão no concreto. A influência dessas tensões transversais diminui à medida que au-
menta o comprimento do corpo-de-prova, pois as zonas onde efetivamente há estados múltiplos
de compressão-compressão tendem a se restringir apenas às extremidades.
Além das causas já apontadas, a resistência dos corpos-de-prova alongados também fica afe-
tada pela maior dificuldade de manutenção da centragem da carga durante o ensaio.
É importante assinalar que, de fato, a igualdade de outras condições nunca existe, pois com
a maturação ao longo do tempo, o concreto da estrutura irá aumentar sua resistência e, com a
permanência de cargas de longa duração, essa resistência será diminuída.
Note-se que, de modo geral, os concretos com maiores resistências iniciais têm proporcional-
mente menores crescimentos da resistência com a idade.
É preciso, portanto, notar que uma eventual supermoagem do cimento pode levar a resistên-
cias mais altas aos 28 dias, mas elimina boa parte da capacidade de maior hidratação ao longo do
tempo, desrespeitando as hipóteses que conduziram à definição da resistência f l c J = 0,85 fur além
de poder comprometer a durabilidade das estruturas, que perdem a capacidade de colmatar as
fissuras provocadas pelos esforços solicitantes, favorecendo-se assim a corrosão das armaduras.
Evolução da resistência com a idade do concreto (segundo Ary Torres)
Figura (9.3-a)
Para concretos feitos com cimento Portland, o Código Modelo CEB-FIP 1990 admite para a
idade fictícia a expressão
4000
tnc exp 13,65-
273+T(Atj) /T0
i=l
onde tT é a idade fictícia ajustada em função dos intervalos de tempo A í em que o concreto ficou
exposto à temperatura 7YAf.)em (°C), e T(l = 1°C.
A Norma Brasileira NBR 6118 especifica a resistência em idades diferentes e m função da resis-
tência aos 28 dias, interessando-se, porém, por idades inferiores à idade-padrão.
Evidentemente, o acréscimo de resistência obtida pelo emprego de cura com calor simples-
mente está antecipando a resistência que de outra forma somente seria obtida em maiores
idades. Desse modo, não se pode esperar que o posterior acréscimo de resistência com a idade
continue sendo o mesmo que o dos concretos curados à temperatura ambiente.
Para cimentos fabricados dentro das especificações da Fib CEB-FIP), a Figura (9.3-b) apresenta
o andamento das leis de crescimento da resistência com a idade, tendo como referência a resis-
tência aos 28 dias.
Crescimento médio da resistência com a idade, conforme a fib CEB-FIP46
Figura (9.3-b)
A Figura (9.4-a) mostra o tipo de resultados obtidos por Rüsch47 no estudo da influência da
história do carregamento sobre a resistência do concreto. É importante assinalar que existe uma
grande dificuldade na realização de ensaios dessa natureza, pois a aleatoriedade da deformação
por fluêncía tende a eliminar a centragem da carga aplicada, centragem essa que precisa ser res-
taurada passo a passo por meio de dispositivos de ensaio que permitam manter a compressão
uniforme da seção transversal durante todo o tempo de duração do ensaio.
At = duração do carregamento
As duas curvas superiores desta figura mostram que, para rupturas ocorridas com a mesma
duração A f de carregamento, a resistência do concreto carregado progressivamente é sempre
maior que a do concreto carregado rapidamente e mantido sob carga constante.
f c c t = RESISTÊNCIA NO ENSAIO LENTO COM RUPTURA NA IDADE t = t 0 + At
f c t = RESISTÊNCIA NO ENSAIO RÁPIDO NA IDADE t = 10 + At
Como a hislória do futuro carregamento das estruturas não pode ser controlada, para efeito
de projeto, a resistência do concreto será sempre considerada, a favor da segurança, com o valor
do limite inferior aos valores t u l referentes a carregamentos rápidos que são mantidos ao longo
do tempo, conforme a curva inferior da Figura (9.4-a).
Com essa representação, fica eliminada a influência do acréscimo de maturação que ocorre
ao longo do tempo A í de duraçao do ensaio lento.
Constata-se, desse modo, que tensões acima de determinados limites podem, com o tempo,
provocar a ruptura do concreto. Com valores abaixo desses limites, o concreto apresenta apenas
o fenômeno de fluência lenta, mas sua resistência é perene, como se indica na Figura (9.4-b).
O c = TENSÀO APLICADA
AO^V. limitew dc
- w .ruptura
-.
X
N i m i t e de fluència
(oc<fcc.t = oo)
ENCURTAMENTO
DO CONCRETO
>
2 4 6 8 10 €c(%o)
Figura (9.4-b)
1.0
V •
o—•— O A n T T 0.8
A' 0.75
«•-w o
O • - t o = 20 dias
O
a.
•< o - t o = 56 dias
0.4 ec A - t o = 160 dias
O
< • - t o = 448 dias
0.2
z
LU At
3 meses
o •
10 min 1h 6h 1 dia 7 dias 28 dias lano
Figura (9.4-c)
De acordo com os ensaios realizados por Rüsch, a relação entre a resistência no ensaio lento
e a resistência no correspondente ensaio rápido pode ser admitida como tendente ao limite
médio 0,8 e com praticamente todos os valores acima da relação 0,75, que é o limite a ser con-
siderado como efetivo no estabelecimento dos critérios de segurança em relação à ruptura do
concreto comprimido.
É importante assinalar que as investigações antes relatadas mantiveram a centragem da carga
durante todo o tempo de carregamento, por meio de ajustes sucessivos realizados com apoios
especiais existentes na máquina de ensaio idealizada por Rasch48, que foi empregada por Rüsch
em suas investigações.
O efeito conjunto desses dois processos está mostrado na Figura (9.5-a). Essa figura foi cons-
truída a partir dos resultados obtidos por Rüsch para a redução da resistência com a duração
do carregamento, e da curva admitida pela NBR-719749 para o crescimento da resistência com a
idade dos concretos feitos com cimento Portland de endurecimento normal.
Definindo-se, como é tradicional, a resistência do concreto aos 28 dias de idade efetiva, ob-
serva-se que a resistência mínima de longa duração é, praticamente e m todos os casos, superior
a cerca de 0,87 í ( f desde que o início de carregamento se dê com idades superiores a 28 dias.
Verifica-se, também, que, quando os concretos são carregados de forma permanente com
pouca idade, se a ruptura não ocorrer dentro de certo prazo, ela nào mais ocorrerá, pois, a partir
desse prazo, a velocidade do efeito da maturação supera a do efeito da permanência da carga.
Isto explica os casos de ruptura prematura de peças protendidas com pouca idade. Se a ruptura
não ocorrer em cerca de 6 horas, ela não mais acontecerá, pois, como se mostra na Figura (9.4-c),
a resistência mínima é alcançada praticamente com esse prazo de duração do carregamento.
W C,t = 28
t = t0 + A t
1.3
1.2
1.1 r -
1.0 V
0.9 0 87 -
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0 IDADE REAL DO
14 @ 3 5 56 90100 500 1000 (3 anos) 10000 CONCRETO EM DIAS
CIMENTO DE ENDURECIMENTO N O R M A L
Figura (9.5-a)
Desse modo, a resistência do concreto a ser considerada no projeto das estruturas deve ter
o valor
Lm = L = 0,85fal
sendo
f _ í*
'cd ~
7c
fcd,cff —
~ f'led —
~ Kkmot/
7m
L mod ~
_ bmod,1 *mod,2
L L
*mod,3
Sendo, então,
De modo análogo, o coeficiente parcial de segurança yml leva em conta a verdadeira variabi-
lidade da resistência do material dentro de lotes homogêneos, Y m ,leva em conta as diferenças
entre o material da estrutura e o material do corpo-de-prova, como a que existe no caso do con-
creto em que ocorre quase um peneiramento quando ele é lançado através dos espaços entre
as barras das armaduras da estrutura, e yni! considera os efeitos de todas as possíveis causas de
redução da resistência que não foram consideradas no modelo de segurança, como por exemplo
os defeitos localizados no material da estrutura.
Finalmente, é preciso salientar que, para a investigação experimental de estruturas já exis-
tentes há muito tempo, todas estas idéias devem ser consideradas para a estimativa da efetiva
resistência do concreto.
Em princípio, a aferição da resistência dos corpos-de-prova será feita por meio de ensaios
rápidos, com duração de cerca de 10 minutos, realizados aos 28 dias de idade do concreto.
b — b L
mod ~ mod,1 *mod,2 *mod,3
De acordo com a teoria geral da flexâo elaborada por Rüsch, foram adotados os valores
knml,, = 0'95' kn,o«j = '>20 e ^ = 0,75; dai resultando
Além disso, para estimar o valor da resistência do concreto a empregar no cálculo da resistên-
cia da estrutura, admite-se que o valor efetivo dessa resistência de cálculo seja
f —f — l ÍLL
'cd,cff ~ 'led ~ *mod
7m
sendo então
fck = 0.61-fCk
e
No caso de lotes cuja homogeneidade pode ser admitida, convém empregar o estimador ZH
estudado no item 8.5 do Capítulo 8.
Existe então o problema de se determinar qual a resistência a considerar para esse concreto
na verificação analítica da segurança da estrutura.
Nesta situação, em que a estrutura já existe há algum tempo, é preciso reconsiderar os valo-
res a serem atribuídos aos coeficientes K o c r K ^ r K ^ K o t u e Y fll = Y m r Y « 2 - Y « j -
Esses danos podem decorrer tanto da operação de sondagem rotativa, que pode provocar
microfissuração de uma camada periférica do exemplar, quanto da ação da alavanca, que pode
provocar fissuração transversal do exemplar para a liberação do exemplar, por meio de sua rup-
tura por flexão, em relação ao restante do concreto da estrutura.
Dessa maneira, quando se lida com estruturas construídas com os procedimentos profissionais
usuais, com os quais não se espera que existam partes estruturais com concretos anormalmente
deficientes, os resultados de testemunhos que indiquem resistências anormalmente baixas em
relação aos valores esperados devem ser descartados, em virtude da grande probabilidade de
que eles sejam conseqüência de danos provocados pelos procedimentos empregados durante a
extração ou ensaio dos testemunhos.
Embora não haja normalização a respeito dos possíveis danos provocados pelas operações
de extração dos testemunhos, já há longo tempo admite-se que com isso o corpo-de-prova pode
perder de 5% a 10% de sua resistência.
De modo geral, como o número dos testemunhos que podem ser efetivamente extraídos dc
uma estrutura existente é usualmente muito pequeno, em geral é usual que se possa fazer ape-
nas uma análise estatística assistemática, que engloba toda a estrutura em um único lote.
Nesse caso, a partir dos testemunhos de concreto extraídos da obra, é preciso selecionar os
resultados julgados válidos e, a partir do menor deles, estimar um valor aceitável para a resistên-
cia característica do concreto da estrutura.
dos admitidos como válidos, sendo K dado pela Tabela (8.5-a), do item 8.5, conforme o resumo
a seguir indicado.
Valores d e K a
Uniformidade
do concreto Excelente Usual
Coeficiente de
Variação 5 ( 0,10 0,15
Número de 1 0,063 0,753
corpos- 2 0,884 0,820
de-prova 3 0,910 0,859
4 0,928 0,886
5 0,942 0,907
6 0,953 0,924
A resistência de cálculo do concreto da estrutura será, então, dada por
K X
f r r. ,i i,min
cd.eff ~ led ~ mod
Im
Nessa estimativa, é ainda preciso destacar a consideração das dimensões dos testemunhos
ensaiados.
De acordo com as investigações de Jager, realizadas na década de 1940 no IPT de São Paulo,
com o emprego de corpos-de-prova cilíndricos com 15 cm de diâmetro e com diferentes alturas,
quando se empregam corpos-de-prova com 30 cm de altura é preciso adotar o coeficiente parcial
de modificação knxxi l = 0,95 para se chegar à resistência do concreto da estrutura.
De acordo com a NBR 768O50, a influência da relação altura/diâmetro dos testemunhos está
estabelecida em sua Tabela 1, a seguir transcrita
Considerando testemunhos com relações h/d da ordem de 1,25 a 1,50, o fator de correção a
ser empregado também é da ordem de 0,95, para a transformação dos resultados experimentais
em valores que seriam obtidos com testemunhos com h/d = 2,00.
Por outro lado, de acordo com Jager, para se obter a resistência do concreto da estrutura a
partir da resistência de corpos-de-prova cilíndricos com dimensões de 15 x 30 centímetros, deve-
se empregar knxxf l = 0,95.
donde
K X
f — í — n 91 •> '>'»'"
Tcd,ef ~ Tlcd ~ Ü>V'
7m
K X
f —f — n 72
cd ,vf ~ Icd ~ U> /Z
7m
7c2 = 7 c 3 = ii =
Desse modo, com a extração dos corpos-de-prova do concreto existente, é possível considerar
y c J = 1,2, yc2 =l,0e = 1,08, logo
Daí resultando
Tendo em vista esse risco, é princípio de segurança do concreto estrutural que os estados
limites últimos de solicitações tangenciais não devam ocorrer antes do surgimento de algum
estado limite de solicitações normais capaz de advertir os usuários da construção da presença
de situações de risco de danos pessoais. Nesse sentido, os estados limites decorrentes de soli-
citações de flexão, nas peças em que haja um banzo comprimido e outro tracionado, permitem
o alarme em relação a estados de proximidade de colapso, em virtude da fissuração exagerada
do banzo tracionado.
Nessas condições, mesmo nas proximidades de estados limites últimos de solicitações nor-
mais, é preciso que se mantenha a integridade das peças em relação aos estados limites últimos
devidos a forças cortantes e à torção.
O dimensionamento em regime de ruptura das peças estruturais sob ação de solicitações tan-
genciais somente é possível quando se obtém um conhecimento satisfatório a respeito dos me-
canismos de ruptura das peças estruturais à flexão, uma vez que os modelos resistentes de treliça
devem ser compatíveis com o que ocorre com as tensões normais nas seções transversais.
No estádio I, o concreto ainda suporta tensões de tração e toda a seção de concreto resiste
à solicitação atuante. No estádio II, conta-se apenas com o concreto comprimido, no qual se
admite uma distribuição linear de tensões. No estádio III, definido pela iminência de ruptura da
zona comprimida, admite-se um diagrama de tensões curvilíneo na zona comprimida.
ESTÁDIO 1 ESTÁDIO 11 ESTÁDIO 111
'C1.U
•7
Figura (10.2-a)
Com essa finalidade, sempre admitindo a hipótese de manutenção da forma plana da seção
transversal até as proximidades da ruptura, os diferentes pesquisadores procuraram adaptar o
diagrama de tensões de compressão na seção transversal das peças fletidas aos resultados dos
ensaios de determinação do diagrama tensão-deformação do concreto. Esses ensaios, porém,
não facilitaram o desenvolvimento de uma teoria única de flexão, pois eles apresentavam discre-
pâncias entre si, que conduziram às mais variadas formulações da lei constitutiva do concreto
comprimido, como mostrado na Figura (10.2-b).
• € c c
Figura (10.2-b)
As diferentes teorias de flexão propostas a partir desses diagramas tensão-deformação foram
relacionadas por Langendonck 5 '.
Um estudo crítico minucioso das principais teorias de ruptura foi feito por Amaral". Algumas
dessas teorias clássicas apresentaram idéias básicas que permanecem válidas até hoje, não obs-
tante terem elas agora uma justificativa experimental mais abrangente do que na época e m que
foram propostas.
Em fins da década de 1970, foram introduzidas nas normas brasileiras as hipóteses de uma
nova teoria mais abrangente de cálculo do concreto estrutural em regime de ruptura. Esta nova
formulação será analisada e m minúcias mais adiante.
Para uma visão abrangente da evolução dessas idéias, analisam-se a seguir algumas das teo-
rias clássicas do cálculo em regime de ruptura.
a) Kazinczy (1933)
Admitindo peças ditas subarmadas, que são as que chegam ao escoamento da armadura de
tração antes da ruptura do concreto comprimido, Kazinczv i J adotou um diagrama retangular de
tensões, com tensão na borda mais comprimida igual à resistência à compressão obtida com
corpos-de-prova cilíndricos; ver Figura (10.2-c).
a ci,u = fc f.
71
T*„ /
"7"
/
. Ja = — x
12
u
Rs = A s f y
Teoria de Kazinczy
Figura (10.2-c)
Para compensar o fato de que o verdadeiro diagrama de tensões a deveria ser curvilíneo,
Kazinczy modificou a posição da resultante /? das tensões de compressão no concreto. Admi-
tindo para essa resultante uma posição intermediária entre as posições referentes ao diagrama
retangular de profundidade xu e ao diagrama triangular de igual resultante e profundidade 2xu
foi adotado então o valor
2xu 7
a = 2 2 3 12 X»
b) Bittner (1936)
Para as tensões de compressão na seção transversal, Bittner54 admitiu um diagrama parábola-
retângulo. O trecho parabólico foi admitido até a deformação £ f) = 1,5 x 10\ e o trecho retan-
gular até a deformação última £ f i, tomada com valores entre 3 x 10' e 7 x 10ver Figura
(10.2-d).
€c1 u = 3%o a 7%o
4
X =&a
—
Rc = a b x fc
Teoria de Bittner
Figura <10.2-d)
Rc
a = = 0,833; 0,900; 0,927
bx-t
Em todos esses casos, para a parcela RJx - a) do momento resistente tem-se o valor
bx2
Rc (x - a) ^ 0, 9bx - f c ( l - 0,45)x £
4 °cmax =fc ^
0.85 f c
acal = xcal/2
cal
xef
R c,cal - R c,ef
Teoria de Whitney
Figura (10.2-e)
Embora não tenha investigado o valor do encurtamento de ruptura do concreto, Whitney con-
cluiu que não havia interesse e m sua determinação precisa, admitindo que a posição da linha
neutra correspondente à simultaneidade da ruptura do concreto com o escoamento da armadura
de tração pudesse ser adotada com o valor
Ç x = 1 = 0,537
A nova teoria então proposta admitia hipóteses simpliíicadoras para o estádio III, descritas da
seguinte forma:
"1) que é nula a resistência à tração do concreto;
Nessa teoria inicial, para o caso de vigas simplesmente armadas, isto é, sem armadura de
compressão, a teoria admitia o escoamento da armadura tracionada, determinando-se então o
momento fletor último resistente pela ruptura do concreto comprimido, sem cogitações sobre o
encurtamento de ruptura do concreto, como indicado na Figura (10.3-a).
°c1,u = 3/4fc •
Rc = b x fc
Rs = V y
Figura (10.3-a)
No caso de peças com armadura de compressão, essa teoria inicial evitava a consideração
explícita do encurtamento de ruptura do concreto, introduzindo a hipótese suplementar de que
a armadura mais solicitada, de tração ou de compressão, estivesse e m início de escoamento.
Como se mostra na Figura (10.3-b), essa idéia foi introduzida com a consideração da relação
_ d - x
com
crs=fy ou <J[ = fy
d'
€ c1 * R'$ R' s = A' s o' s
Essa teoria foi incorporada ã primeira versão da NB-1, que se tornou de emprego obrigatório
em todas as obras realizadas pelo governo federal e pelos governos estaduais e municipais, por
meio do Decreto-Lei n. 2.773, de 11 de novembro de 1940, promulgado por Getúlio Vargas.
Figura (10.3-c>
Posteriormente, em 1950, Langendonck 58 consolidou a generalização do cálculo no estádio
III. Essa generalização foi incorporada ã versão de 1950 da NB-159.
Nessa versão, eram admitidas as mesmas quatro hipóteses anteriores, acrescentando-se ou-
tras três. Assim, foi estabelecida a seguinte hipótese referente ao concreto:
Nessa época, para o dimensionamento das peças estruturais ainda era usualmente especifi-
cado o estádio II, permitindo-se, todavia, o estádio III, em todos os casos de flexão simples ou
composta, para quaisquer tipos de estruturas, inclusive para as pontes.
O emprego generalizado do estádio III no Brasil levou a uma inversão das exigências da NB-1.
De acordo com a NB1/6060, o cálculo das peças fletidas passou a ser normalmente feito no está-
dio III, permitindo-se, então, como alternativa tolerável, o cálculo no estádio II.
Para a generalização do emprego do estádio III, além das condições anteriores, foram admi-
tidas as seguintes hipóteses referentes às armaduras:
Além dessas alterações, duas outras foram introduzidas nas condições de segurança. A rup-
tura do concreto passou a ser considerada como um valor aleatório, adotando-se uma definição
que pretendia ser o da resistência característica ftk hoje em dia considerada.
Uma tensão de compressão igual a esse valor era admitida com distribuição uniforme na zona
comprimida das seções fletidas, não se tomando valores superiores a 22 MPa.
Além disso, na flexão composta, eram alterados os coeficientes de segurança ou, então, o
momento da resultante das tensões de compressão no concreto em relação ao centro de gra-
vidade da armadura tracionada não seria tomado com valor superior a 3/4 do que se verificaria
com a hipótese extrema de que a zona comprimida se estendesse a toda a altura útil da seção
transversal.
Esta última restrição foi o início de uma série de tentativas de se estabelecer uma teoria geral
de cálculo no estádio III, que pudesse ser empregada incondicionalmente para qualquer forma
de seção transversal e para quaisquer combinações de momentos fletores e forças normais, in-
clusive na flexão oblíqua composta. Este objetivo, porém, somente foi alcançado mais de uma
década depois, com aceitação universal da teoria geral de flexão estabelecida por Rüsch, adiante
analisada.
10.4 As condições teóricas para a formulação
de uma teoria geral de flexão
As idéias essenciais para a formulação de uma verdadeira teoria geral de flexão do concreto
estrutural em regime de ruptura foram pela primeira vez claramente consideradas de forma glo-
bal no planejamento de ensaios realizados por Rüsch 6 '.
Para isso, como adiante se esclarece, os ensaios foram realizados principalmente com corpos-
de-prova submetidos ã flexão composta, providos de armaduras que não chegavam necessaria-
mente ao escoamento antes da ruptura do concreto comprimido.
Com essas precauções, foi possível entender a razão das discrepâncias obtidas com as inves-
tigações até então realizadas, que levaram à existência de diferentes teorias de flexão, que em
muitos aspectos eram conflitantes entre si.
A importância desse novo tipo de ensaio fica bem salientada pelos resultados contraditórios
obtidos por diferentes pesquisadores referentes ao encurtamento último ( Z c í J do concreto na
borda mais comprimida das seções transversais fletidas, em função da resistência à compressão
( f j determinada com os usuais corpos-de-prova cilíndricos de controle.
A Figura (10.4-a) reproduz dados elaborados por Mognestad, já divulgados entre nós há muito
tempo 62 , a respeito do encurtamento último do concreto da borda mais comprimida das seções
fletidas.
€ C1.U <1%0>
6
SALIGER
3
DTZAEG
> f c (MPa)
7 14 21 28 35 42
Figura (10.4-a)
Para entender a existência de tais resultados contraditórios, todos eles obtidos por pesquisa-
dores idôneos, como bem salientava Rüsch em suas aulas, é necessário esclarecer as seguintes
idéias básicas:
a) O diagrama tensão-deformação do concreto é influenciado tanto por sua idade, que afeta a
maturação e a retração, quanto pela duração do carregamento, que afeta a fluência, como
mostrado na Figura (10.4-b).
t = IDADE DO CONCRETO
A t = DURAÇÃO DO CARREGAMENTO
A t = DURAÇÃO DO ENSAIO
Figura (10.4-b)
/ H
€Cl,U °c1,u
d
— m —
y
/ ctf c z
/
/
€s
Figura (10.4-c)
Admita-se que o diagrama de tensões de compressão fique definido por meio de 2 parâme-
tros: do coeficiente de bloco (X, que determina a resultante R^ e do parâmetro que determina
a posição da resultante por meio da profundidade £'x.
I a ) Compatibilidade de deformações: l £ L l
x d-x
2 a ) Equilíbrio de forças axiais: Rc = R.
Nas teorias anteriormente propostas, era sempre arbitrado o diagrama de tensões a , com o
que ficavam fixados os valores de a e Um exemplo dessa natureza é representado pela hipó-
tese do diagrama uniforme das tensões na região comprimida da seção transversal.
Com tais ensaios, ocorrendo o escoamento da armadura tracionada antes da ruptura do con-
creto, desaparece a influência da variável 6 r f u n , não sendo então necessário determinar o alon-
gamento £ s da armadura.
Por outro lado, na flexão simples, com pequenas profundidades da linha neutra, fica muito
amortecida a influência das possíveis variações de a e o que conduz à aceitação cas mais
variadas hipóteses quanto à forma do diagrama de tensões G ,
Uma teoria geral da flexão que possa permitir o cálculo satisfatório em regime de ruptura, de
qualquer seção transversal, submetida a quaisquer combinações de solicitações normais, deve
portanto estar baseada em ensaios de flexão composta, sem que a armadura comprimida esteja
em escoamento.
10.5 As condições de ensaio para a formulação
de uma teoria geral da flexão
Os ensaios necessários ao estabelecimento de uma teoria geral de flexão do concreto estru-
tural devem respeitar as seguintes condições:
Figura (10.5-a)
CORPO-DE-
PROVA DE
CONCRETO
Figura (10.5-b)
c) Nos ensaios de longa duração, deve permanecer constante a solicitação imposta ao corpo-
de-prova. Assim, se o ensaio deve ser de compressão uniforme, as tensões devem perma-
necer uniformemente distribuídas ao longo de toda a duração do ensaio.
^f /
ROLAMENTOS
tV -
/////A
0
y
V///A
E S S S S S S S I
V///////X MÊL
Princípio de funcionamento da máquina de Rasch (segundo Rüsch)
Figura (10.5-c)
11. O encurtamerito último do concreto
Figura (11.1-a)
De modo geral, os resultados dependem não somente das propriedades físicas da mistura
e da idade do concreto no instante do início do carregamento, mas também da velocidade de
carregamento.
À medida que o ensaio de compressão se torna mais lento, observa-se a redução da resistên-
cia em relação à resistência potencial f(lque é obtida em um ensaio rápido, realizado no instante
da ruptura no ensaio de longa duração.
Fica, portanto, provado o efeito deletério das cargas de longa duração sobre a resistência do
concreto.
Para que os resultados dos ensaios de longa duração possam ser empregados no desenvolvi-
mento de uma teoria geral sobre a flexão, é preciso que os diagramas tensão-deformação sejam
traçados em função das respectivas resistências obtidas em ensaios rápidos correspondentes a
uma mesma idade padrão convencional.
Quando se pretende explicitar tanto o efeito das cargas de longa duração quanto o da matu-
ração do concreto, os resultados experimentais também podem ser representados err função de
uma resistência convencional, do tipo ( 2 8 , como mostra a Figura (11.1-b).
Nessa figura são mostradas as tensões a da zona comprimida de uma viga ensaiada aos
t dias de idade, cujo carregamento teve duração d e 1 hora, provocando a deformação má-
xima £ = 5 x W 3 no final do carregamento.
Determinação das tensões efetivas em uma seção transversal fletida, cuja borda mais
comprimida tem a deformação £ , = 5 x 10'*, para a duração do carregamento de 1 hora
Figura (11.2-a)
De modo geral, no concreto estrutural as solicitações de flexão composta são mais bem repre-
sentadas pela força normal acompanhada do momento fletor M referido ao centro de gravidade
da armadura de tração.
Com a notação empregada na Figura (11.2-b), para cada uma das situações consideradas
obtêm-se os valores
N = R(-AS*Í
Ms=Rc(d-£'x) ,
M,
ih =
bd2f
Para uma mesma profundidade x d a linha neutra e uma mesma duração At do carregamento,
os resultados obtidos com diferentes valores do encurtamento £ ,da borda mais comprimida
cl
estão mostrados na Figura (11.3-a).
fMS =
Mc
5
Ac í
bd2f.
DURAÇÃO A t = CONSTANTE
%J
t/í
ec
o
S
<
<3 •
s T
§
u I
* €c1 (6%o)
Figura (11.3-a)
Se essa seção transversal fosse a seção crítica de uma peça estrutural submetida a um carre-
gamento crescente, a cada valor de ji^ aplicado nas condições especificadas para x e At, corres-
ponderia uma deformação extrema £ c l , dada por este diagrama da Figura (11.3-a).
Na Figura (11.3-b), estão mostrados os resultados obtidos por Rüsch analisando seções retan-
gulares, todas com / .6 = 21 MPa e x/d = 0,40, para diferentes velocidades de carregamento.
A t = 1 ano
0.27
0.26
0.25
Figura (11.3-b)
Como não se sabe a prioriqual a velocidade de carregamento mais desfavorável, para tornar o
encurtamento último £ , f u independente do processo de carregamento, é preciso adotar o valor
correspondente ao mínimo dos máximos momentos fletores últimos calculados com diferentes
velocidades de carregamento.
11.4 Generalização dos resultados
Para o estabelecimento de uma teoria geral de flexão, os raciocínios anteriores precisam ser
generalizados e m função da profundidade da linha neutra e da forma da seção transversal.
Os resultados obtidos por Rüsch estão mostrados nas figuras seguintes, e os correspondentes
diagramas de tensões de compressão estão apresentados no item seguinte, na Figura (12.1-a).
INTERVALO DE
Intervalo de variação geral do encurtamento último no caso da seção apenas parcialmente comprimida
Figura (11.4-a)
De fato, considerando o exemplo da Figura (11.3-b), mesmo para a situação de maior incer-
teza, correspondente à duração de carregamento A í minutos, os diferentes valores de £cl(/
que variam aproximadamente entre 2 x 101 e 4 x 10 \ levam, com diferentes posições da linha
neutra, a uma diferença, entre o máximo e o mínimo momentos fletores últimos calculados, não
superior a 10%.
Desse modo, analisando os resultados mostrados na Figura (11.4-a), correspondentes às
situações e m que a linha neutra corta a seção transversal, é razoável aceitar o valor médio
£ u = 3,5 x 1&3 para todos os casos possíveis.
Quando a linha neutra não corta a seção transversal, estando toda ela comprimida, pode-se
aceitar a variação linear de £ u com a profundidade da linha neutra xt/ admitindo o valor-límite
£ = 2,0 x 10s, no caso de compressão uniforme; ver Figura (11.4-b).
Lm uma dada seção transversal, para cada posição da linha neutra e para cada valor da de-
formação na borda mais comprimida, resulta certo momento fletor resistente. Variando o encur-
tamento da borda mais comprimida, obtêm-se diferentes momentos resistentes, cujo máximo
define o encurtamento último £ l t / como mostrado na figura (11.3-a).
€ c 1 u = 3,0%» = 3,8 %o
= 4.8 % o i o
Na Figura (12.1-b), todos os diagramas anteriores foram superpostos, mostrando-se que o dia-
grama parábola-retângulo, com o trecho retangular de profundidade 3/7 x, forma uma envoltória
suficientemente precisa para as aplicações práticas.
Note-se que mesmo no caso particular da seção triangular, com a linha neutra próxima da
borda comprimida (Ç u A —'• 0), os erros cometidos na estimativa da resultante das tensões de
compressão não afetam significativamente a determinação do momento fletor resistente.
listes mesmos resultados estão mostrados na figura (12.1-c), construída agora s o b a forma de
diagramas tensão-deformação. Todos os diagramas estão contidos na zona tracejada da figura.
retângulo.
A t = 1 hora
*€c(%o)
Os resultados até agora analisados sobre as investigações realizadas sugere que c diagra-
ma de tensões no plano da seção transversal fletida possa ser admitido com a forma de uma
parábola-retângulo.
Todavia, é importante notar que os resultados considerados foram obtidos apenas com a du-
ração de carregamento At = 1 hora.
A generalização dos resultados precisaria ser feita para qualquer duração do carregamento.
No entanto, a técnica experimental empregada para a obtenção dos resultados até aqui anali-
sados levaria a uma quantidade de trabalho proibitiva se fosse empregada nessa generalização
de resultados.
Ao invés disso, a generalização foi feita de modo mais simples, conforme se mostra a seguir,
controlando-se apenas as deformações na fibra mais comprimida e na fibra menos comprimida
ou mais tracionada da seção transversal em observação.
Nesses ensaios. Figura (12.2-a), foram medidas as deformações 8 , e 8 , das fibras extremas
das seções transversais fletidas e a carga de ruptura para diferentes excentricidades relativas
X = e/h.
Deformações nas bordas extremas em função da excentricidade relativa X = c/h
Figura (12.2-a)
Note-se que para a mesma excentricidade relativa é pequena a diferença da posição da linha
neutra na iminência da ruptura e no meio do período de carregamento, embora as deformações
nessas duas situações sejam muito diferentes entre si.
compressão
Essa permanência da posição da linha neutra por longos períodos de tempo sob a ação de
carregamentos constantes sugere que o diagrama de tensões também permaneça praticamente
constante ao longo do tempo, pois as condições de equilíbrio a respeitar são as mesmas durante
todo o tempo considerado.
Todavia, para essa finalidade, foi preciso considerar os diagramas de deformações em situa-
ções afastadas da iminência de ruptura do concreto, pois em situações dessa natureza a varia-
bilidade das deformações é muito grande, e m virtude da intensa microfissuração que precede a
ruptura macroscópica.
Na investigação realizada por Rüsch, foi adotado o critério prático de se considerar o diagrama de
deformações no meio do período de carregamento, ou seja, o diagrama na idade t0 + At/2. Com
este critério os diferentes corpos-de-prova deveriam chegar à ruptura praticamente na mesma
idade t0 + At.
Note-se, como comentou o próprio Prof. Rüsch", que o critério prático poderia ter sido outro.
Ao invés do diagrama de deformações corresponder ao meio do período de carregamento sob a
ação de um carregamento constante, que vai produzir a ruptura no fim de tal período, o diagra-
ma poderia ter sido adotado, por exemplo, como sendo aquele correspondente a 90% da carga
de ruptura, e m ensaios com carregamentos progressivos suficientemente lentos. Com este outro
critério, os ensaios de longa duração não precisariam levar todos os corpos-de-prova à ruptura,
com praticamente a mesma duração A/ti do carregamento.
f c 5 6 = 35 MPa f c 5 6 = 35 MPa
Na Figura (12.3-a) estão mostrados os resultados dos ensaios lentos de compressão excên-
trica, expressos pela razão entre a resistência média excêntrica fCC,.A e a resistência efetiva fCC,.A =
v
„
obtidos com corpos-de-prova centrados submetidos à mesma história de carregamento. Nessa
mesma figura também estão mostrados os valores que se obtêm corrigindo as razões antes indi-
cadas pela relação entre a resistência i u .de longa duração e a resistência ( ( o b t i d a e m ensaios
rápidos com ruptura na mesma idade t = t0 + At u que a do ensaio de compressão excêntrica.
Estes últimos resultados praticamente coincidem com aqueles obtidos com ensaios rápidos de
compressão excêntrica. Isso mostra que a influência da excentricidade pode ser estudada expe-
rimentalmente apenas com ensaios de curta duração, sendo seus resultados aplicados :ambém
aos ensaios de longa duração. Esta conclusão permitiu que o efeito da excentricidade pudesse
ser cuidadosamente analisado por meio de ensaios rápidos, que são de mais fácil execução.
Figura (12.4-a)
ífct,\=0
'cc,\=0 ~~ 4c,A
Admitindo-se então que seja G ( l u = ( a x=0 , e conhecendo-se a posição da linha neutra, é pos-
sível, por meio de tentativas, determinar o diagrama de tensões na seção transversal, como se
mostra e m linha pontilhada na Figura (12.4-a).
Desse modo, a partir das deformações mostradas na Figura (12.2-b), para t = t() + At/2, foram
construídos os diagramas de tensões mostrados na Figura (12.4-b).
Os resultados assim obtidos mostram que o diagrama parábola-retângulo pode ser aceito
como representativo do diagrama de tensões de compressão no plano da seção íletida, cualquer
que seja o tempo de duração do carregamento que conduz ao estado limite último de ruptura do
concreto, pois, mantidas as condições de solicitação, a posição da linha neutra é praticamente
constante.
13. A teoria geral da flexão
Além da manutenção da forma plana da seção transversal, conforme foi visto anteriormente,
essa teoria admite as hipóteses básicas seguintes, ilustradas pela Figura (13.1 -a).
2%o 3,5%o
Figura (13.1-a)
D) Para efeito de verificação da segurança, admite-se que, no estado limite último de ruptura,
a máxima tensão de compressão atuante na seção transversal seja iguala 0,85 da resistên-
cia de cálculo do concreto.
Este coeficiente 0,85 não deve, portanto, ser interpretado como um novo coeficiente parcial
de segurança, da mesma natureza que o coeficiente J c de minoração da resistência do concreto.
Ele é um simples coeficiente de modificação (kmJ que corrige certas imprecisões existentes na
teoria geral de flexão.
Nesta fase, não se especificam nem a forma do diagrama de tensões de compressão nem
o valor da máxima tensão G , atuante.
cl.u
2 a Fase. Determinação da máxima tensão última C r l u atuante na borda mais comprimida da
seção por ocasião do estado limite último de ruptura do concreto comprimido, decorrente
de ações de longa duração.
Nesta fase, não se especificam o valor do encurtamento último £ c / u , nem a forma do dia-
grama de tensões de compressão na seção transversal
3 a Fase. Determinação da forma do diagrama de tensões de compressão atuantes na seção
transversal seja no estado limite último de ruptura do concreto comprimido, seja no estado
limite último de alongamento plástico excessivo da armadura tracionada.
Nesta fase, não se especificaram nem os valores do encurtamento último £ nj, nem da
tensão última o cl.u
. .
Foi a consideração isolada de cada um destes parâmetros que permitiu a formulação de uma
teoria geral aproximada da flexão do concreto estrutural, válida em termos práticos para todas as
situações de solicitações normais.
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