Você está na página 1de 19

Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Obras de Escavação e
Contenção

Trabalho 2

Concepção e Dimensionamento de um Muro de Terra


Armada

2015/2016

Data de Entrega: 6 de Novembro de 2015

Trabalho realizado por:


João Baião – nº 2007105607
João Guia – nº 2009112833
Helena Costa – nº 2009128276

1
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Introdução

Este trabalho teve como base o colapso de um talude junto a uma estrada localizada no
concelho de Soure. Com este trabalho pretendeu-se efetuar um novo dimensionamento
relativamente ao trabalho nº1, desta vez um muro de terra armada. Com este tipo de
abordagem foi introduzido um novo conceito, a interação “reforço-solo”.

O reforço dos solos sustenta-se em técnicas que introduzem elementos resistentes que
tornam possível ao maciço em questão, suporte determinadas solicitações as quais por si só não
está habituado ou não consegue resistir.

Os elementos de reforço são então colocados na direção das trações máximas, sendo
que por atrito o solo traciona estes mesmos elementos. Ao introduzir estes reforços, pelo
princípio da ação reação, o solo é confinado, sendo melhoradas as características mecânicas do
mesmo.

A análise de dimensionamento interno e externo foi efetuada de acordo com o


Regulamento Francês de Obras de Terra Armada (RFOTA). De seguida é apresentada a solução
referente ao muro de gabiões.

Imagem 1 – Problema proposto

2
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Escolha e concepção do muro

Escolha do tipo de muro

A escolha do muro foi imposta pelo próprio trabalho, sendo que relativamente ao 1º
trabalho, no caso do nosso grupo o dimensionamento de um muro de gabiões, o muro de terra
armada apresenta algumas vantagens, sendo as mesmas apresentadas abaixo:

 Facilidade de montagem podendo ser efetuado em obras de grande altura (H >


20 metros);
 Inexistência de cofragens, andaimes, escoramentos, betonagens in-situ e
terraplanagens manuais;
 Grande flexibilidade dos paramentos e por isso este tipo de muros suporta
bastante bem assentamentos diferenciais;
 Menor área de preparação e não necessitam de mão-de obra especializada;
 Facilidade no enquadramento estético do paramento;
 Custos reduzidos (aproximadamente 40-60€/m3 em obras correntes).

Porém, como em todas as alternativas, o muro de terra armada apresenta algumas


desvantagens associadas:

 De forma a ser verificada a estabilidade interna e externa é necessário recorrer


a uma grande espessura;
 Necessário escolher um aterro granular com características adequadas;
 Risco a médio/longo prazo de corrosão das armaduras metálicas, de degradação
das fitas poliméricas e de deterioração dos elementos de face.

Concepção do muro de Terra Armada

O muro de terra armada, como o próprio nome deixa prever, é constituído


essencialmente por terra, armaduras e os chamados elementos de pele.

A terra utilizada neste tipo de muros é normalmente composta por material granular
conferindo elevadas resistências na interface solo-armadura, deformações pequenas e de fácil
colocação em obra.

As armaduras utilizadas podem ser metálicas ou lâminas plásticas, sendo que


conseguem sofrer grandes deformações devido à sua flexibilidade, acompanhando assim os
movimentos na direção do pavimento, sem colocar em risco o seu devido funcionamento. Estes

3
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

materiais têm um comportamento dúctil, resistindo positivamente à tração o que permite a


mobilização de atritos elevados.

A colocação de um paramento vertical na frente do muro é bastante importante, para


evitar a erosão e o consequente desprendimento das armaduras, sendo que este paramento
funciona também como um elemento paisagístico. O paramento é é constituído por um
conjunto de peças de betão conectadas umas com as outras por juntas permitindo uma uma
deformação longitudinal do paramento. O paramento é então constituído por escamas, como
as representadas na figura seguinte.

Imagem 2 – Escamas

Os elementos de reforço, as armaduras, utilizadas para este trabalho foram as fitas


metálicas, devido ao conhecimento do material, sendo as mesmas de aço galvanizado e evitando
a corrosão e exibindo também baixa deformabilidade por serem inextensíveis.

Imagem 3 – Fitas metálicas e suas dimensões padrão

4
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Dimensionamento do muro de Terra Armada

Todos os cálculos efetuados quer para o dimensionamento externo do muro, quer para
o dimensionamento interno, foram efetuados de acordo com o RFOTA (Regulamento Francês
de Obras de Terra Armada).

A altura proposta inicialmente para este muro foi de 6 metros, altura essa que se
manteve possível, dado que a mesma é múltipla de 0,75, a altura das escamas que constituem
o paramento. Quanto à largura transversal do muro o RFOTA propõe que a mesma seja no
mínimo 70% da altura. Optou-se por questões de estabilidade, por uma largura de 5.2 metros.

A existência de uma sobrecarga variável de 10 kPa, deve-se a carga prevista provocada


pelo tráfego.

Imagem 4 – Esquema pormenorizado da solução para o problema proposto

Relativamente a evitar impulsos hidrostáticos, quer vindos do aterro, quer vindos do


solo natural para a base do muro, foi adotada a mesma solução de impermeabilização e de
drenagem do trabalho passado, sendo que foi colocada uma tela impermeável (Geo-textil) em
toda a cunha de contacto entre solo de aterro e o solo natural e também a colocação de um
dreno na base do muro como descrito no outro trabalho.

A determinação de todos os impulsos foi feita com base na teoria de Coulomb, dado que
é a situação mais realista, devido à existência de atrito na interface de contacto solo-paramento.

Os impulsos passivos não foram contabilizados no dimensionamento, optando-se por


uma análise mais conservativa, dado que os mesmos são mobilizados apenas com grandes
deslocamentos o que seria indesejável.

5
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Φ’: ângulo de atrito do solo não


reforçado (30°);
β: inclinação do terrapleno (0°);
δ: ângulo de atrito solo-
paramento e do qual se inclinam
os vetores impulso em relação à
horizontal (30°);
λ: inclinação do paramento
interno do muro (0°),

Ka 0,297

Os impulsos foram calculados através das seguintes fórmulas:

1 𝐼𝑞𝑏 = 𝐼𝑞𝑠 = 𝑘𝑎 ∗ 𝑞 ∗ 𝐻
𝐼𝑎 = ∗𝑘 ∗𝛾∗𝐻
2 𝑎

As combinações de ações usadas foram as apresentadas nas equações seguintes:

 Combinações Fundamentais:

 Combinações Acidentais (Sismos):

 .

Segundo o RFOTA consideraram-se no cálculo os valores característicos das


propriedades resistentes, sem quaisquer minorações

As 2 combinações utilizadas neste trabalho foram calculadas para um ϒmáx = 20 Kn/m3 e


Φ = 36º e um ϒmin.= 18 Kn/m3 e Φ = 30º correspondendo respetivamente a um solo com e sem
reforço. Para cada uma destas combinações denominadas de 1 e 2 respetivamente, foram ainda
efetuadas 2 combinações extras. Uma combinação em que se considerou não existir sobrecarga
viária em todo o topo do muro e também uma combinação de análise sísmica.

Foi somente efetuada a análise sísmica a nível interno, visto que a nível externo já tinha
sido feita no trabalho anterior, para este caso o procedimento seria exatamente o mesmo,
sendo que a nível interno o dimensionamento sísmico foi calculado através da seguinte fórmula:

6
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

com:

Kh 0,107

Verificação da estabilidade externa

Para efetuar a verificação da estabilidade externa da estrutura de suporte rígido, foram


considerados diversos mecanismos de rotura, nomeadamente derrube, deslizamento pela base,
rotura do solo de fundação e estabilidade global, sendo a última analisada com recurso ao
programa Slide da Rocscience. Estas análises foram efetuadas, como já referido anteriormente,
com base no RFOTA, segundo as combinações de ações apresentadas anteriormente também.

Esta metodologia consistiu essencialmente em majorar com coeficientes as ações e


considerando-se os valores característicos das propriedades resistentes dos materiais.

As ações a contabilizadas neste caso foram as ações permanentes devido ao peso


próprio do muro e do solo, assim como a ação variável da sobrecarga existente a. A estrutura
estará em segurança caso se verifiquem as seguintes relações:

Fsd < Frd Msd<Mrd

O RFOTA propõe ainda que se deve considerar um fator minorativo da resistência total
dependendo do estado limite em análise:

 Deslizamento pela base : ϒr = 1.2


 Rotura do solo de fundação: ϒr = 1.5

Verificação ao deslizamento pela base

As forças atuantes que foram consideradas são, os impulsos ativos a atuar sobre o muro
(impulso do solo, impulso provocado pela sobrecarga do tráfego mais pavimento). Estes
impulsos fazem com que o muro sofra uma translação.

A força resistente, ou de atrito mobilizada na base, será provocada pelo peso próprio do
muro, em que a resistência mobilizada entre o solo e a base da fundação depende
essencialmente da rugosidade existente no contacto, logo considera-se δb=φ´solo natural

7
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Esta verificação foi feita para a combinação 2 ( ϒ = 18 Kn/m3) , visto que para este valor
de gama o peso do muro será menor , logo será a situação mais desfavorável.

Deslizamento pela Base (Combinação 2 - ϒ = 18 Kn/m3)


Fres Fact
324.240 89.082

F.S = 3.033
com:

Ia = 114.048
Iah = 137.196
Iav = 48.114

Verificação ao Derrube

A verificação ao derrube não foi efetuada dado que a base do muro tem uma largura
considerável , logo o derrube não ocorrerá, sendo a sua análise dispensável.

Verificação à Rotura do Solo de Fundação

As forças atuantes a ser consideradas serão os impulsos ativos a atuar sobre o muro
(impulso do solo, impulso provocado pela sobrecarga do tráfego mais pavimento) e o peso do
muro.

A força resistente considerada foi a força de atrito mobilizada ao longo da superfície


crítica.

A combinação tida em conta para este tipo de análise foi a combinação 1 ( ϒ = 20 Kn/m3),
visto ser esta a situação a situação mais desfavorável, devido a considerar o solo de maior peso,
o que se pode tornar mais favorável a rotura do solo de fundação.

c' q' g' qult A' Qult [KN/m] Vs [KN/m]


10 15.750 11.00 999.317 5.091 5087.496 927.242

8
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

F.S = 3.668

Com:

Factores de capacidade de carga


F'solo Nat. [graus] 34
Nq e Nq´ 29.440 22.044
Nc e Nc´ 42.164 33.397
Ng e Ng 38.366 29.718

e,

Factores de inclinação
iq 0.722
ic 0.712
iϒ 0.614

9
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Estabilidade Global

A avaliação da estabilidade global foi efetuada recorrendo ao programa Slide da


Rocscience. Para tal foi inserida a geometria do muro, assim como, o aterro adjacente e a
superfície do terreno natural. Foi definido o nível freático de acordo com as condições de
drenagem idealizadas para obra e foram também definidas as propriedades dos materiais. O
estudo foi efetuado segundo o método de Bishop Simplificado e foram consideradas várias
superfícies. Determinando desta maneira a superficie crítica que apresenta o menor factor de
segurança. Obteve-se a seguinte superfície de rotura à qual corresponde um factor de segurança
de 1.653, assim sendo pode afirmar-se que se verifica a estabilidade global.

Imagem 5 – Análise da Estabilidade Global (Slide)

Análise Sísmica

Como referido anteriormente, não foi efetuada a análise sísmica para o


dimensionamento interno já que já tinha sido efetuada no trabalho anterior.

10
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Verificação da estabilidade interna

Para além da estabilidade externa deve também ser verificada a possibilidade de rotura
interna do muro de terra armada. Neste tipo de muros a sua estabilidade interna depende
essencialmente da capacidade das armaduras resistirem às forças de tração mobilizadas no
interior do mundo.

O RFOTA sugere dois tipos de abordagem, equilíbrio local e global, sendo que neste caso
foi utilizado o método de equilíbrio local, onde foi avaliada a tração máxima aplicada a cada
reforço.

Este método resume-se então aos seguintes passos:

 Determinação da força de tração máxima em cada nível de reforço (Tmáx)


 Avaliação da máxima resistência à tração da armadura (Tr)
 Avaliação da força de aderência passível de ser mobilizada ao longo do
comprimento de amarração da armadura (Tf)

Para se verificar a estabilidade é necessário que:

Tf > TMáx e Tr > TMáx

Primeiro passo nesta verificação foi determinar a zona ativa e a zona resistente, em que
o RFOTA propõe:

Em baixo é representado através de um desenho de AutoCad, o nosso muro de Terra


Armada, sendo que foi feita uma análise de cálculo em profundidade, tendo o muro 8 armadura
de reforço, correspondendo a primeira armadura a profundidade de 0.39 metros, e as restantes

11
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

armaduras espaçadas de 0.75 m, resultando que a ultima armadura se encontra a 0.36 metros
acima da base do muro.

Imagem 6 – Zona ativa e Zona Resistente proposta pelo RFOTA

De modo a simplificar a leitura e a observação de dados do relatório nesta análise,


também devido ao facto de o processo de cálculo do dimensionamento interno requerer
bastantes passos, optou-se por apresentar somente 3 gráficos que relacionam as tensões
mencionadas em cima, em função do nível da armadura para cada uma das combinações.

Relembra-se que foram efetuadas 2 análises principais, para um solo sem reforço e
outro solo com reforço, sendo que para cada uma destas 2 combinações se efetuou uma análise
extra de verificação sísmica e outra em que se desprezou a sobrecarga existente no topo do
muro. As tensões em função do nível da armadura para cada uma das combinações são
representadas em baixo:

12
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Tensões em função do nivel da armadura


(Combinação 1 e 2)
T (kN)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0.39
Profundidade da armadura (m)

1.14

1.89

2.64

3.39

4.14

4.89

5.64 Tmáx C2 Tmáx C1 Tf C2 Tf C1 Tr

Tensões em função do nivel da armadura


(Combinação 1 e 2 Sem Sobrecarga)
T (kN)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0.39
Profundidade da armadura (m)

1.14

1.89

2.64

3.39

4.14
Tmáx C1
4.89

5.64 Tmáx C2 Tf C2 Tf C1 Tr

13
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Tensões em função do nivel da armadura


(Combinação 1 e 2 Com ação Sismica)
T (kN)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
0.39
Profundidade da armadura (m)

1.14

1.89

2.64

3.39
Tmáx C1
4.14
Tf C1
4.89
Tmáx C2 Tr
5.64 Tf C2

Como se pode verificar em todos os gráficos, para o dimensionamento efetuado


verificou-se sempre a condição:

Tf > TMáx e Tr > TMáx

De referir, que o dimensionamento foi condicionado pela ação sísmica, visto que
inicialmente para a combinação 1 e 2 com e sem sobrecarga, se começou com uma largura do
muro inicial de 4.7 metros e de fitas de reforço de largura de 60mm exceto para a ultima fita (a
de maior profundidade) em que a largura seria de 90mm, apesar de que nestes quadros as
tensões já estarem todos em função da largura do muro final de 5.2 metros.

Porém com a introdução da análise sísmica, verificou-se que haveria rotura


sensivelmente a meio da profundidade dos níveis das fitas de reforço, tendo-se chegado à
conclusão que era necessário a introdução de fitas de 60 mm nos 3 primeiros níveis e os
restantes de 90 mm e para além disso a largura do muro foi então aumentada para os 5.20
metros.

Apesar de a zona geográfica onde se situa a nossa construção, em Soure, não ser uma
zona com muita propensão sísmica, optou-se pelo lado da segurança dimensionando o muro em
conformidade com tal até porque já tinha existido um colapso prévio nesta estrada.

Todos os cálculos inerentes ao dimensionamento interno foram efetuados com base


nos slides das aulas de Obras de Escavação e Contenção.

14
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

Anexos

15
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

16
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

17
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

18
Trabalho 2 – Concepção e dimensionamento de um muro de Terra Armada

19

Você também pode gostar