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Pilares de Concreto Armado

Alio E. Kimura
2021

Apostila adotada como texto-base do curso. Aborda assuntos relacionados ao cálculo de pilares de edifícios de
concreto armado, objetivando aplicar a teoria em exemplos práticos. Contém diversos exercícios resolvidos
manualmente como também solucionados com o auxílio de uma ferramenta computacional. Seu conteúdo pode
conter erros. Pretende-se, gradativamente, introduzir necessárias revisões e melhorias.
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS
A motivação é um item fundamental na vida de qualquer ser humano, sob todos os aspectos, e
principalmente quando se tem um desafio pela frente.
O cálculo de pilares de concreto armado é, sem sombra de dúvidas, um dos temas mais interessantes e
instigantes de toda Engenharia de Estruturas. Trata-se de um assunto que está sempre em voga, é objeto de
inúmeras pesquisas e estudos avançados no meio acadêmico. Naturalmente, também é cercado por algumas
dúvidas, discussões e divergências.
Diante deste panorama, cabe ao Engenheiro de Estruturas que trabalha no dia a dia de escritórios de projeto a
difícil missão de se manter sempre atualizado, de modo que possa tomar decisões corretas e seguras durante a
elaboração ou verificação de um projeto estrutural.
É exatamente diante dessa dificuldade, isto é, de se enxergar uma aplicação prática da teoria existente nos
dias atuais, é que se pretende estudar o cálculo de pilares ao longo deste curso. O objetivo principal será
transmitir conceitos sem se deter em deduções matemáticas, a fim de aguçar uma visão crítica do Engenheiro
perante os problemas correlatos e, principalmente, motivá-lo a se aprofundar cada vez mais no assunto, já que
isso será fundamental durante toda a sua atividade profissional.
O cálculo de pilares como um todo abrange uma teoria relativamente complexa e que envolve os mais diversos
tópicos da Engenharia de Estruturas, tais como: análise não-linear, estabilidade global, dimensionamento de
seções de concreto armado, técnicas de detalhamento de armaduras etc.
Com essa diversidade de temas, fica evidente que não será possível estudar tudo com a devida profundidade
durante o curso. Em alguns tópicos, será apresentada somente a sua conceituação básica e indicada a forma de
se obter a solução para o problema.

O que se pretende é esclarecer as dúvidas atuais mais comuns presentes no meio técnico profissional,
mostrando que é possível, sim, ainda calcular pilares à mão. Ao mesmo tempo, deixar-se-á claro que o uso
consciente e responsável de uma ferramenta computacional é vital para a produção de projetos com qualidade
e segurança, da mesma forma em que se aprimora e agiliza o aprendizado de conceitos fundamentais.
De forma alguma, esta apostila se propõe a colocar um ponto final no que se refere ao cálculo de pilares, mesmo
porque existem diversas questões ainda em aberto, sem resposta definitiva.
Na medida do possível, diversos exemplos serão resolvidos manualmente. Em muitos deles, será feito o uso de
sistemas computacionais destinados à elaboração de projetos de estruturas de concreto.
Nos textos apresentados durante o curso, dispensar-se-á qualquer tipo de formalidade quanto ao seu formato e
escrita. É importante lembrar que eles podem (devem) conter erros.
Mais adiante, quando se discutir o cálculo de pilares dentro do contexto global do projeto de edifícios, ficarão
esclarecidos quais os principais tópicos que serão abordados durante o curso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Existem inúmeras publicações (livros, teses, artigos) que abordam cada um dos diversos temas relacionados ao
cálculo de pilar, de forma rica e detalhada. A seguir, apresenta-se uma modesta lista de publicações que tratam
desse assunto.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT), “NBR 6118:2014 - Projeto de estruturas de
concreto – Procedimento”, Rio de Janeiro, 2014.
CARVALHO, R. C. & PINHEIRO, L. P., “Cálculo e detalhamento de estruturas usuais de concreto armado”, Vol. 2,
Ed. Pini, 589 p., São Paulo, 2009.
COVAS, N. C. & KIMURA, A. E., “Efeitos locais de 2ª ordem em pilares”, São Paulo, 2003.

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FRANÇA, R. L. S., “Contribuição ao estudo dos efeitos de segunda ordem em pilares de concreto-armado”, Tese
de doutoramento, São Paulo, 1991.
FRANÇA, R. L. S., “Relações momento-curvatura em peças de concreto-armado submetidas à flexão oblíqua
composta”, Dissertação de mestrado, São Paulo, 1984.
FRANÇA, R. L. S. & KIMURA, A. E., “Resultados de recentes pesquisas para o dimensionamento das armaduras
longitudinal e transversal em pilares-parede”, ENECE, São Paulo, 2006.
FUSCO, P. B., “Estruturas de Concreto – Fundamentos do projeto estrutural”, Ed. McGraw-Hill, São Paulo, 1976.
FUSCO, P. B., “Estruturas de Concreto – Solicitações Normais”, LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora, Rio de
Janeiro, 1981.
FUSCO, P. B., “Técnica de armar as estruturas de concreto”, Ed. Pini, 396 p., São Paulo, 1995.
IBRACON, “Comentários Técnicos e Exemplos de Aplicação NB-1”, Comitê Técnico Concreto Estrutural, São
Paulo, 2007.
IBRACON, “Comentários Técnicos e Exemplos de Aplicação NB-1”, Comitê Técnico Concreto Estrutural, São
Paulo, 2015.
INSTITUTO DE ENGENHARIA, “Coletânea de trabalhos sobre estabilidade global e local das estruturas de
edifícios”, São Paulo, 1997.
MACGREGOR, J. G & WIGHT, J. K., “Reinforced Concrete: Mechanics and Design”, Pearson - Prentice Hall, New
Jersey, 2005.
PINHEIRO, L. M., BARALDI, L. T., POREM, M. E., “Concreto Armado: Ábacos para Flexão Oblíqua”, São Carlos,
1994.
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA (PECE), “ES009 - Estabilidade global e análise de peças
esbeltas”, Universidade São Paulo, Notas de aula, 2003.

SANTOS, L.M., “Estado limite último87.


E, muitos outros...

ABNT NBR 6118


A NB1-1943 possuía 24 páginas (tamanho A5). A NBR 6118:1978, 53 páginas (tamanho A4). A NBR 6118:2003,
221 páginas (tamanho A4). A NBR 6118-2014, 238 páginas (tamanho A4).

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Recomenda-se, fortemente, que a atual norma seja lida e relida sempre que possível, já que o seu texto procura
retratar as diversas condições em que uma estrutura de concreto pode estar sujeita na prática, de forma
bastante detalhada. Por exemplo, na seção 16 composta por apenas três páginas, descrevem-se claramente
quais devem ser os princípios gerais de dimensionamento, detalhamento e verificação de uma estrutura de
concreto armado.
Obviamente, a atual NBR 6118:2014 possui itens discutíveis, como qualquer outro texto normativo. E, por isso,
é cabível que certas modificações sejam contempladas em futuras e bem-vindas revisões.
No caso específico do cálculo de pilares, é possível afirmar com certa convicção que, de modo geral, inúmeras
dúvidas surgiram no meio técnico profissional com a entrada em vigor da norma NBR 6118:2003. Apenas para
citar um exemplo, se antes na extinta NBR 6118:1978 tínhamos apenas um método para analisar os efeitos
locais de 2ª ordem, hoje, na atual NBR 6118:2014, temos quatro formulações distintas disponíveis, levando-nos
a questionar:
• Qual método adotar no projeto de um edifício usual?
• Qual método tornará a estrutura mais segura?
• Em quais casos deve-se utilizar o método geral?
Além disso, na prática, como qualquer outra área tecnológica, parte dessas inovações introduzidas na atual
norma está diretamente correlacionada ao uso intenso de computadores que, ao mesmo tempo em que
permitiram que processamentos até então inviáveis fossem realizados de forma produtiva, passaram a adotar
novos conceitos ainda não muito bem difundidos no meio técnico profissional.
Resumidamente, os principais itens referentes ao cálculo de pilares presentes na NBR 6118:2014 estão nas
seguintes seções:
• Seção 14: definições e tipos de análise a serem empregadas.
• Seção 15: análise da instabilidade e efeitos de 2ª ordem.
• Seção 17: dimensionamento de pilares.
• Seção 18: detalhamento de pilares.
Obviamente, existem diversos outros itens presentes na norma relacionados ao cálculo de pilares. Eles serão
gradativamente apresentados ao longo do curso.

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A Seção 15, que trata efetivamente do cálculo dos efeitos de 2ª ordem em pilares, é bastante complexa e
considerada, por muitos, um dos capítulos mais complicados da norma. Espera-se que, durante o curso, todos
os conceitos presentes nessa seção sejam plenamente compreendidos e assimilados.
Uma bibliografia complementar ao entendimento da ABNT NBR 6118 é o livro de comentários técnicos e
exemplos publicado pelo IBRACON em 2015.

IMPORTÂNCIA DOS PILARES


Porque um edifício cai?
Trata-se de uma questão extremamente complicada de se responder, pois existem inúmeras causas que podem
levar um prédio à ruína. Cada caso é um caso, e é impossível generalizar a resposta.
No entanto, todo Engenheiro de Estruturas precisa pensar sobre esse assunto, tirar suas próprias conclusões, e
principalmente, cercar-se de atitudes que evitem tal desastre. Afinal de contas, todo projeto deve conduzir a
uma estrutura segura.

Obviamente, qualquer peça numa estrutura tem a sua devida importância e precisa ser dimensionada
corretamente para atender às funções a que se destina. Existem, porém, certos tipos de elementos que
necessitam ter um cuidado redobrado, pois podem ocasionar consequências mais graves, como o colapso total
da edificação. Dentre eles, estão os pilares.
Um erro grosseiro no cálculo dos pilares pode derrubar um edifício!
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A afirmação anterior é um tanto quanto “pesada”. Encare-a não como uma ameaça, mas sim, como uma forma
de lembrá-lo de que os pilares são vitais na segurança estrutural de um edifício. E que, por esta razão, precisam
ser calculados, dimensionados e detalhados com muito rigor e atenção.

Funções de um pilar
Basicamente, os pilares têm as seguintes funções no comportamento estrutural de um edifício usual de
múltiplos andares:
• Resistir às solicitações provenientes da aplicação das ações verticais na estrutura e transmiti-las aos
elementos de fundação.
• Resistir às solicitações provenientes da aplicação das ações horizontais na estrutura
• Auxiliar de forma significativa na manutenção da estabilidade global do edifício, assim como garantir o
adequado comportamento global da estrutura em serviço.

Taxa de compressão
Os pilares, principalmente nos lances junto à base de edifícios altos, estão constantemente submetidos a uma
elevada força normal de compressão.
Esta força, principalmente em pilares mais esbeltos, tende a desestabilizar os mesmos, podendo ocasionar uma
situação de desequilíbrio indesejável.
Com a tendência natural de se buscar cada vez mais espaços maiores nas edificações com o intuito de otimizar
o aproveitamento da construção, tanto o número bem como as dimensões dos pilares vêm sendo
gradativamente reduzidas, aumentando ainda mais a responsabilidade dos mesmos.
Os pilares, cada vez mais, são obrigados a suportar elevadas taxas de compressão.

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Particularidades
O que é um pilar?
Definir o que é um pilar??? O que é isso??? Todo Engenheiro de Estruturas sabe muito bem o que é um pilar!
Correto, porém é importante não subestimar essa pergunta, pois existem muitos casos no qual um elemento é
tratado e calculado como um simples pilar indevidamente.
Por definição, pilar é um elemento linear (uma dimensão preponderante perante as demais) disposto na
vertical e predominantemente comprimido.
No caso de edifícios usuais de múltiplos pavimentos, os pilares, de forma geral, possuem seção e armaduras
constantes ao longo de cada lance.
Veja, a seguir, três situações bastante frequentes no projeto de edifícios de concreto armado de elementos que
não podem ser tratados como simples pilares.

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Pilar-parede não é pilar!

Pilar-parede é um elemento de superfície. E, portanto, não pode ser tratado como um pilar comum (elemento
linear). Existem considerações especiais que devem ser levadas em conta em seu dimensionamento.

Tirante não é pilar!

Apesar de possuir uma geometria semelhante, dimensionar um tirante não é a mesma coisa que dimensionar
um pilar.

Pilar-inclinado não é pilar!

Dependendo do ângulo de inclinação do elemento estrutural, ele não pode ser tratado como um simples pilar,
pois aparecerão esforços de flexão e cisalhamento consideráveis, e a força normal de compressão pode deixar
de ser preponderante.

Atenção nessas situações


As situações descritas anteriormente (pilar-parede, tirante, pilar-inclinado) são muito comuns em edifícios de
concreto armado. É importante estar atento para o que pode ser considerado como um simples pilar ou não.
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Dependo do caso, fazer o cálculo como um pilar comum nestas situações é uma ótima referência para uma
aproximação inicial. Já, em outros, erros graves podem estar sendo cometidos de forma totalmente
despercebida, podendo tornar a estrutura insegura.

CÁLCULO DE PILARES (REFLEXÃO)


Abstração da vida real
Quando calculamos uma estrutura ou parte dela, seja de forma manual ou por meio de um computador,
estamos adotando explicitamente um protótipo cujo objetivo é simular o comportamento da mesma da
maneira mais realista possível. Essa é uma condição primária que em hipótese alguma pode ser tratada de
forma implícita.
Por mais sofisticado que seja o modelo adotado, nem sempre, ou melhor dizendo, jamais conseguiremos obter
respostas durante o cálculo que traduzam a realidade de forma 100% exata. Sempre existirão limitações
decorrentes das aproximações consideradas.
Essas afirmações podem nos auxiliar a dar uma resposta a uma questão normalmente levantada no meio
técnico:
Eu sempre fiz desse jeito e nunca deu problema. Por que tenho que mudar?
A margem de segurança de um edifício de concreto armado é algo muito difícil de ser mensurada,
principalmente se tratada de forma geral. Se mesmo em ensaios laboratoriais controlados nos mínimos
detalhes, muitas vezes é difícil reproduzir respostas uniformes, imagine em estruturas reais!
Durante a elaboração de um projeto estrutural, trabalhamos com inúmeras hipóteses, aproximações
e, principalmente, valores que, na prática
Quando calculamos um pilar, por exemplo, procuramos estabelecer diversos critérios de segurança, mas que
podem variar para mais (mais segurança) ou menos (menos segurança) na vida real. Dificilmente
descobriremos a real exatidão dos cálculos efetuados. O ELU (Estado Limite Último) é algo utópico, mas
estritamente necessário.
A busca por metodologias que procuram retratar a realidade de forma mais precisa é algo extremamente bem-
vinda, salutar e que enriquece a profissão. Sem de forma alguma menosprezar os processos aproximados, que
têm sim sua devida relevância no nosso dia-a-dia, é importante caminhar no sentido de aprimorar o cálculo e
entender melhor os fenômenos físicos, mesmo porque somente dessa forma é que saberemos o “quão
aproximado” são os métodos simplificados.
Portanto, a questão colocada anteriormente, “Eu sempre fiz desse jeito, e nunca deu problema. Por que tenho
que mudar?”, pode ser encarada de uma outra forma:
Será que os processos que tenho utilizado estão sempre a favor da segurança? Será que o que estou
fazendo pode apresentar problema algum dia?
Na essência, essa é uma das razões que coloca a Engenharia de Estruturas num patamar diferenciado, que
envolve responsabilidade, discernimento e coerência. Trabalha-se com limites opostos, a segurança e a
economia, que, perante toda a sociedade, devem que ser atendidos na sua plenitude.

Aproximações no cálculo de um pilar


Apesar de um tanto filosófico, as considerações colocadas anteriormente são importantes, pois nos servem para
chamar a atenção para a seguinte questão: quais aproximações são adotadas no cálculo de um pilar? Como um
pilar, na vida real, é calculado durante o projeto estrutural?
Antes de adentrar a fundo no cálculo de efeitos de 2ª ordem, imperfeições geométricas, fluência, diagramas
momento-curvatura, M1d,mín, método geral, etc..., é extremamente importante ter em mente exatamente como

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estamos calculando um pilar, e quais simplificações estão sendo tomadas. Isso é imprescindível para se ter
controle global de um projeto estrutural.
Vejamos, a seguir, um resumo de como um pilar é comumente calculado hoje em dia.

Seja uma estrutura real, como a apresentada na


figura ao lado, cujos pilares precisam ser
dimensionados e detalhados pelo Engenheiro de
Estruturas.
Nota: a foto ao lado é de uma construção localizada
na cidade de Porto Alegre (RS), e é capa do capítulo
“Slender Columns” do livro “Reinforced Concrete –
Mechanics and Design” de James G. MacGregor e
James K. Wight.

A estrutura como um todo é calculada


no computador por meio de uma
modelagem numérica (pórtico espacial,
grelhas, elementos finitos, ...), que
contém diversas aproximações.

A rigidez à flexão EI da seção transversal dos pilares é minorada para análise no Estado Limite Último (ELU) a
fim de considerar a não-linearidade física de forma aproximada (0,7.EIc ou 0,8.EIc). A rigidez axial dos mesmos
é majorada a fim de compensar os efeitos decorrentes da construção. De onde vêm esses coeficientes?
Nessa etapa, um lance de pilar está “imerso” no meio da estrutura. Suas vinculações no topo e na base são
relativamente bem simuladas por meio das ligações com os elementos de vigas e lajes.
Durante esse cálculo global, os efeitos globais de 2ª ordem são então avaliados (0,95.z ou P-), bem como as
imperfeições geométricas globais (desaprumo do edifício como um todo).

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Uma vez efetuado o cálculo global,


cada lance de pilar é extraído desse
modelo e passa a ser analisado de
forma isolada.

Nesse modelo local, as vinculações no topo e na base passam a ser tratadas de forma bastante simplificada
(apoios simples), de tal forma a manter o equilíbrio de esforços com o modelo global.

A não-linearidade física, por sua vez, é considerada de forma mais refinada que no modelo global (1/r
aproximada, rigidez aproximada, rigidez acoplada a diagrama N, M, 1/r).

Os efeitos locais de 2ª ordem são então avaliados por processo aproximado (pilar-padrão ou pilar-padrão
melhorado) ou processos iterativos mais refinados (“P-δ”).

Nessa etapa, são também calculados os esforços devido às imperfeições geométricas locais (falta de
retilineidade ou desaprumo no lance) e a fluência (deformação lenta)

• Por que não tratar todo problema por meio de um modelo único, sem a separação global do local?
De acordo com o exposto anteriormente, as seguintes questões ficam em aberto:
• Por que não considerar a rigidez dos elementos de forma uniforme?
• As imperfeições geométricas que podem ou não aparecer durante a construção da estrutura não
poderiam ser consideradas de outra forma?
• E a fluência? Será que as formulações atuais são condizentes com a realidade?
As questões acima deixam evidente o quanto temos ainda que evoluir e nos mostra que, mais do que calcular
números através de complexas expressões matemáticas, é preciso “fazer Engenharia” na hora de projetar os
pilares de um edifício, no sentido estrito da palavra.
É fundamental que o Engenheiro tenha plena consciência de que há uma série de simplificações consideradas
durante todo o processo de cálculo dos pilares de uma estrutura, sem contar as aproximações posteriores
inerentes às etapas de dimensionamento e detalhamento.
Na prática, durante a elaboração de um projeto estrutural, mais do que o preciosismo matemático, é
fundamental ter uma visão geral do problema e muito bom-senso na tomada das decisões.

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CÁLCULO DE PILARES (VISÃO GLOBAL)
De forma bastante simplificada, a elaboração de um projeto estrutural de um edifício pode ser subdividida em
quatro etapas principais: concepção estrutural, análise estrutural, dimensionamento e detalhamento, emissão
de plantas finais.

O cálculo de pilares, obviamente, está inserido dentro desse contexto global, desde a concepção até a emissão
de desenhos. Os pilares fazem parte de um todo, de um projeto que deve conduzir a uma estrutura que atenda
os Estados Limites Últimos (segurança), de Serviço (funcionalidade), assim como garantir a durabilidade da
edificação.

É extremamente importante enxergar a influência dos pilares em cada uma dessas etapas. Projetar pilares não
significa apenas saber calcular os efeitos locais de 2ª ordem de forma precisa! É muito mais que isso, envolve
inúmeras outras importantes tarefas.
Veja, resumidamente, no fluxograma a seguir como é realizado o cálculo de pilares dentro do contexto global de
um projeto.
A visão abrangente do cálculo de pilares dentro do contexto global do projeto, apresentada de forma resumida
no fluxograma anterior, é o primeiro e decisivo passo para que se possa projetar esses elementos, participantes
da estrutura de um edifício, de forma adequada e segura. Da mesma forma, se trata de um ponto de partida
para a compreensão e o possível aprofundamento teórico de cada um dos tópicos envolvidos.
Também, por meio desta visão geral, é possível entender o quão limitado será o curso perante todo o contexto
geral do projeto. O mesmo se concentrará principalmente no estudo da modelagem local, mais especificamente
no cálculo dos efeitos de 2ª ordem e das imperfeições geométricas, necessários para o dimensionamento dos
pilares de um edifício.

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CONCEPÇÃO ESTRUTURAL
Para muitos especialistas, e com toda a razão, trata-se da parte mais importante de todo o projeto. O bom
cálculo dos pilares de um edifício começa sempre numa boa concepção estrutural.
Aqui é que se idealiza a estrutura do edifício e imagina-se o seu comportamento. É onde se devem gastar os
seus neurônios.
Fundamentalmente, nesta etapa, entram a criatividade, o bom senso e a experiência do Engenheiro Estrutural.
A função do computador é zero! Ele apenas proporciona facilidades na entrada gráfica, mais nada. A concepção
estrutural é 100% de responsabilidade do Engenheiro.
No caso específico de pilares, durante a concepção estrutural, deve-se pré-dimensionar suas dimensões (seção
transversal e comprimento – entre pisos) e definir seus materiais (classe do concreto), compondo-os dentro
que uma estrutura que deverá ter uma resposta adequada em ELU e ELS perante a aplicação das ações
(permanentes e variáveis, verticais e horizontais) no edifício.
Durante o curso, não estudaremos especificamente este assunto. Contudo, diversas informações apresentadas
durante o mesmo poderão trazer subsídios para uma melhor concepção estrutural.

ANÁLISE ESTRUTURAL
Outra etapa do projeto que, em conjunto com a concepção estrutural, define a trajetória principal do mesmo.
Certamente, o dimensionamento e detalhamento de pilares, que serão abordados mais adiante, também são de
extrema relevância, mas pode-se afirmar, categoricamente, que uma boa concepção aliada uma adequada
análise estrutural, praticamente garantem o sucesso do projeto de pilares.
Nos dias atuais, tem-se mostrado que a grande maioria das falhas e patologias presentes nos edifícios
já construídos provém de imprecisões na concepção e na análise estrutural.
O verdadeiro objetivo da análise estrutural é descobrir qual a resposta da estrutura perante as ações que
lhe foram aplicadas, respondendo a seguinte questão: quais são os esforços atuantes nos pilares?
Uma condição essencial para que os pilares sejam dimensionados de forma correta é a obtenção de
esforços precisos e realistas durante a análise estrutural.
Para isso, adotam-se protótipos que procuram simular o comportamento da estrutura real. Estes
protótipos, associados aos diversos tipos de análises (linear, não-linear), definem o que comumente
denominamos de modelos estruturais.
No caso da análise de pilares, dois principais modelos são adotados: modelo global e modelo local.

Modelo Global
Neste modelo, a estrutura do edifício inteiro é analisada como um todo. Usualmente, se faz o uso do
Pórtico Espacial, onde cada lance de pilar fica representada por uma única barra.
Ao final do processamento, obtém-se as solicitações inicias (Sd,ini), de 2ª ordem global (Sd,2ª glo) e as devidas
às imperfeições geométricas globais (Sd,igG).
Por meio da modelagem global, é que se avalia a estabilidade da edificação como um todo através
de parâmetros globais, como o γz ou o α. E, de acordo com a deslocabilidade da estrutura, ela é classificada
como de nós fixos ou móveis.

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É importante salientar que os pilares, sejam eles com grande rigidez à flexão (núcleos rígidos em torno de
caixas de elevador e caixa de escada) ou formando um conjunto rígido com as vigas (aporticamento), são
fundamentais na manutenção da estabilidade global de edifícios, principalmente os mais esbeltos.
Também por meio da modelagem global, da qual os pilares fazem parte, os deslocamentos laterais e as
acelerações provocadas pelas ações horizontais são avaliados, de tal forma que o comportamento em serviço da
edificação seja analisado.
Enfim, os pilares, inseridos dentro da modelagem global, têm influência significativa na obtenção
dos
resultados (esforços solicitantes, estabilidade global, conforto).

Modelo Local
Neste modelo, um trecho do pilar (lance) é analisado de forma totalmente isolada da estrutura.

Ao final do processamento, obtém-se os efeitos locais e localizados de 2ª ordem (Sd,2ª loc e Sd,2ª loz), os devidos às
imperfeições geométricas locais (Sd,igL) e à fluência (Sd,flu).
As solicitações nos pilares resultantes da modelagem local serão objeto de estudo detalhado durante o curso.

DIMENSIONAMENTO
Condição de segurança
É muito importante estar ciente de que, no momento do dimensionamento dos pilares, o que está se fazendo, na
realidade, é verificar somente algumas seções escolhidas ao longo do elemento.
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Estas seções consideradas críticas são, normalmente, a seção do topo de cada lance, a seção da base de cada
lance e uma seção que fica entre o topo e a base de cada lance onde, devido ao surgimento de efeitos locais de
2ª ordem, a solicitação total poderá ser maior que a dos extremos.
Repetindo, ao dimensionar os pilares, estamos verificando apenas algumas seções críticas ao longo de
sua extensão.
Isso é feito porque a condição primária de segurança, apresentada abaixo, é descrita analiticamente para uma
seção:

Sd ≤ Rd
De acordo com esta singela expressão, que serve de base para o dimensionamento de elementos de concreto
armado em geral, temos de um lado a solicitação com o seu valor de cálculo. Do outro, a resistência com o seu
valor de cálculo.
Conforme já apresentado no fluxograma, a solicitação é calculada durante a análise estrutural (modelagem
global e local) e com a majoração dos esforços pelo coeficiente f.
Já, a resistência é calculada a partir da seção de concreto e aço com a minoração da resistência característica
dos mesmos, c e s, respectivamente.

Solicitação Sd
A solicitação em uma seção do pilar é calculada durante a análise estrutural. Uma parcela da mesma é
calculada pelo modelo global e a outra pelo modelo local.
O cálculo das solicitações seja objeto de estudo mais detalhado durante praticamente todo o curso.

Resistência Rd
A resistência última de uma seção submetida a solicitações normais é calculada levando-se em conta as
seguintes hipóteses básicas:
• A seção permanece plana após a sua deformação (condição de compatibilidade).
• Há a total solidariedade entre o concreto e o aço, de tal forma que a deformação nas armaduras é a
mesma nas fibras de concreto que estão imediatamente no seu entorno.
• O encurtamento que leva a ruptura do concreto é εcu.
• O alongamento plástico excessivo do aço é de 10/1000.
• A resistência à tração do concreto (fct) é totalmente desprezada.
Na situação última (ELU), a configuração da deformação na seção se dá de acordo com um dos domínios de
cálculo.

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• O diagrama tensão-deformação do concreto é o definido no item 8.2.10.1 da NBR 6118:2014.


• O diagrama tensão-deformação do aço é o definido no item 8.3.6 da NBR 6118:2014.
• Pode-se adotar o diagrama parábola-retângulo ou retangular para a distribuição das tensões na parte
da seção que está comprimida.
Baseado nas hipóteses clássicas anteriormente descritas e que estão claramente definidas no item 17.2.2 da
NBR 6118:2014, pode-se então calcular analiticamente os esforços resistentes últimos numa seção de concreto
armado.
Para isso, no caso de elementos subme
• Definir uma posição da linha neutra (LN).
• Definir as deformações nos concreto e no aço, de acordo com os domínios de cálculo (semelhança de
triângulos).
Calcular as respectivas tensões no concreto (fcd) e no aço (fyd), de acordo com os diagramas idealizados previsto
na norma.
• Calcular as respectivas forças no concreto (Ncd) e no aço (Nsd), admitindo a lei de Hooke ( = E. ).
• Verificar se há a o equilíbrio interno de forças na seção, isto é, Ncd = Nsd.
• Se a condição de equilíbrio estiver satisfeita basta calcular o momento resistente último (MRd) por meio
da multiplicação das forças no concreto e no aço pelos seus respectivos braços de alavanca em relação à LN.
• Se a condição de equilíbrio não for satisfeita, isto é, Ncd ≠ Nsd, deve-se definir outra posição de LN e
repetir o processo.
No caso de pilares, que além do momento fletor, a seção também está submetida a uma força normal de
compressão, caracterizando-se numa flexão composta normal, o procedimento para se calcular o MRd é
exatamente o mesmo, com a única diferença de se considerar as deformações e tensões adicionais oriundas da
força normal. Ou seja, para cada força Nd, pode-se calcular um momento MRd.
Ainda no caso de pilares, também é comum a atuação de momentos fletores em cada direção acrescidos da
força normal, caracterizando assim numa flexão composta oblíqua. Neste caso, o procedimento descrito acima
também é similar, porém com a LN inclinada, o que dificulta bastante o cálculo manual.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Seja na flexão composta normal como na flexão composta oblíqua, situações típicas para o caso dos pilares, é
muito conveniente se fazer o uso de curvas ou diagramas de interação para se avaliar a resistência da seção.
Esse assunto será apresentado com mais detalhes a frente.

Situação de incêndio
Durante o dimensionamento das seções dos pilares, também se devem levar em conta questões relativas à sua
resistência em situação de incêndio e a durabilidade ao longo do tempo.
No caso da verificação perante a ação do fogo, é mais usual e prático fazer o uso do Método Tabular presente na
NBR 15200:2012, que consiste em atender dimensões (bmín e c1mín – distância do CG da armadura à face exposta
ao fogo) de acordo com a magnitude da exposição da construção ao incêndio-padrão (TRRF).
Em relação à durabilidade, deve-se definir cobrimento e concreto adequados de tal forma proteger as
armaduras da agressividade do meio-ambiente.

DETALHAMENTO
Uma vez garantida a segurança nas seções consideradas críticas dos pilares, esta (a segurança) é estendida para
toda a extensão desses elementos por meio de um correto detalhamento de armaduras.
Isso se faz por meio da definição correta do comprimento das barras de armadura ao longo do pilar, levando-se
em consideração as condições de ancoragem e transpasse, assim como da distribuição da armadura transversal
(estribos e grampos), a fim de se evitar a flambagem das barras longitudinais.
Deve-se também atender requisitos necessários para uma boa construção dos elementos da obra
(construtibilidade). Neste caso, torna-se importante o atendimento a espaçamentos e taxas de armaduras
limites.

18
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
DESENHO
Os desenhos dos pilares tanto nas plantas de fôrmas como nas plantas de armações são o resultado final de
todo o projeto estrutural. Devem conter todas as informações necessárias para construção correta da
edificação.
Apesar de todo o exaustivo trabalho das demais etapas (concepção, análise, dimensionamento e detalhamento),
o produto de um projeto estrutural fica resumido num conjunto de papel ou arquivos de desenho.
Por isso, torna-se vital evidenciar ao contratante que projetar pilares não significa apenas desenhá-los. Mas,
muito mais que isso, principalmente por ser um trabalho essencialmente intelectual e que envolve grandes
responsabilidades.

ADIMENSIONAIS
A seguir, serão revisadas as principais variáveis adimensionais presentes no cálculo de pilares.

Força normal adimensional ()


A força normal adimensional numa seção é calculada pela seguinte fórmula:
N Sd
= , sendo Nsd a força normal solicitante de cálculo, Ac a área bruta da seção transversal e fcd a
Ac . f cd
resistência de cálculo do concreto à compressão.
Esta fórmula é bem simples de ser compreendida. Nada mais é que o quociente entre a tensão solicitante e a
tensão resistente da seção de concreto, com seus valores de cálculo.
 Sd ( f .N Sk ) /(b.h) N Sd / Ac N Sd
= = = =
 Rd f ck /  c f cd Ac . f cd

Trata-se de um parâmetro que pode fornecer uma referência em relação à magnitude força normal,
possibilitando estabelecer quais as seções dos pilares que podem estar mais próximo do limite de sua
resistência à compressão.

19
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A formulação da força normal adimensional também pode servir para um pré-dimensionamento da seção
tranversal.

Excentricidade relativa (e/h)


Numa seção submetida à flexão composta normal (N + M), pode-se definir uma excentricidade “e” cujo valor é o
M
quociente entre o momento fletor e a força normal: e = .
N
e
Ainda, é possível definir a chamada excentricidade relativa (e/h) = , sendo h a dimensão da seção na direção
h
analisada.
Trata-se de um parâmetro que pode inento fletor numa seção. Exemplo: seja
um lance de pilar retangular 20 cm X 60 cm, cuja seção do topo esteja submetido às seguintes solicitações:

Calculando as excentricidades em cada uma das direções, temos:


My 4,0
ex = = = 0,02m = 2,0cm
N 200
Mx 4,0
ey = = = 0,02m = 2,0cm
N 200
Note que a excentricidade ex é gerada pelo momento fletor em torno do eixo y, e vice-versa.
Agora, calculando as excentricidades relativas, temos:
e x 2,0 ey 2,0
= = 0,1  10% = = 0,033  3,3%
b 20 h 60

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Apesar dos momentos nas duas direções terem a mesma magnitude, M x = My = 4,0tf.m, é possível perceber que
o momento em torno da direção menos rígida (My) é mais significativo para a seção do que o momento na outra
direção, pois gera uma excentricidade relativa maior (ex = 10%).

Momento fletor adimensional ()


O momento fletor adimensional numa seção é calculado pela seguinte fórmula:
e M Sd
 =  .  = , sendo Msd o momento fletor solicitante de cálculo, Ac a área bruta da seção transversal,
h Ac . f cd .h
fcd a resistência de cálculo do concreto à compressão e h a dimensão na direção analisada.
Trata-se de um parâmetro que serve de base para construção de curvas de interação e ábacos de
dimensionamento.

Taxa geométrica de armadura (ρ)


A taxa geométrica de armadura numa seção é dada por:

A 
 =  s  , sendo As a área total de aço na seção transversal e Ac a área bruta da mesma.
 Ac 
Trata-se de um parâmetro nos dá uma referência com relação à quantidade de armadura numa seção. A norma
define valores máximos e mínimos de taxas em seções de pilares.

Taxa mecânica de armadura ()


A taxa geométrica de armadura numa seção é dada por:
 As . f yd 
 =   , sendo As a área total de aço na seção transversal, Ac a área bruta da mesma, fyd a resistência de
 Ac . f cd 
cálculo do aço à tração e fcd a resistência de cálculo do concreto à compressão.
Trata-se de um parâmetro que serve de base para construção de ábacos de dimensionamento.

Índice de esbeltez ()


O índice de esbeltez de um lance de pilar depende de sua geometria e das condições de vínculo nos seus
extremos, e é calculado pela seguinte fórmula:
le
= , sendo le o comprimento equivalente do lance e i o raio de giração da seção transversal na direção
i
analisada.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
le . 12 3,46.le
Para o caso de seção retangular:  = = , sendo h a dimensão da seção na direção analisada.
h h
4.l
Para o caso de seção circular cheia:  = e , sendo D o diâmetro da seção.
D
Por meio do valor do índice de esbeltez, é possível estabelecer o quanto a peça é esbelta, e assim, ter a noção da
magnitude dos efeitos locais de 2ª ordem.
Veja o exemplo de um pilar retangular de 20cm X 60cm e le=3,0m. Note que, há um índice de esbeltez para cada
direção.

O valor de le é função do tipo de vínculo adotado. Veja, a seguir, algumas condições típicas.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
EXEMPLO 1

Dado o pilar ao lado, cujos dados são:


• Seção constante 25 cm X 65 cm
• Armadura constante: 6  12,5 mm
• le = 6,40 m (bi-apoiado)
• fck = 20 MPa; c = 1,4
• fyk = 500 MPa; s = 1,15
• NSd (seção topo) = 84 tf
• MSd (seção do topo, em torno da direção
menos rígida) = 2,4 tf.m

Análise em torno da direção menos rígida: calcular


seção do topo.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Resolução:

CLASSIFICAÇÃO
Um pilar pode ser classificado segundo a sua esbeltez, a sua posição na estrutura e a sua contribuição no
contraventamento da estrutura.

Quanto à esbeltez
Basicamente, os pilares podem ser classificados de acordo com o seu índice de esbeltez da seguinte forma:

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Nas estruturas usuais em concreto armado, a grande maioria dos pilares tem um índice de esbeltez inferior a
90. Em certos casos particulares na qual a arquitetura do edifício impõe uma geometria mais ousada, adotam-se
pilares mais esbeltos (90 <  ≤ 140). Casos de pilares com índice de esbeltez superior a 140 são raros e devem
ser evitados.

Quanto mais esbelto for o pilar, mais detalhado e cuidadoso deve ser o seu cálculo, pois os efeitos locais de 2ª
ordem são mais significativos e tendência de perda de estabilidade é maior. A adoção indiscriminada de pilares
esbeltos em um projeto é um risco enorme.

O engenheiro deve que ter a “sensibilidade” de avaliar nível esbeltez de um pilar, isto é, saber diferenciar um
pilar robusto de um pilar esbelto. Pilar com índice de esbeltez superior a 90 é muito esbelto e o seu cálculo deve
ser realizado com critério.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Quanto à posição na estrutura
Um pilar pode ser classificado de acordo com a sua posição na estrutura em: pilar de canto, pilar de
extremidade (ou lateral) e pilar intermediário (ou central).

A classificação de um pilar quanto à sua posição na estrutura é bastante útil, pois pode indicar que tipo de
solicitações iniciais o mesmo podão submetidos à flexão composta
oblíqua (ver figura a seguir), pilares de extremidade podem estar submetidos à flexão composta normal e
pilares intermediários podem estar submetidos à compressão centrada. Mas, isso depende de cada caso.

Quanto ao contraventamento
Em relação à sua contribuição no contraventamento da estrutura, um pilar pode ser classificado em: pilar de
contraventamento e pilar contraventado.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Pilares de contraventamento possuem grande rigidez a ações horizontais. Os pilares contraventados são
elementos de menor rigidez, mas que estão interligados aos pilares de contraventamento.

É muito importante durante a anásão os pilares contraventados e os


pilares de contraventamento. Eles possuem comportamento estrutural distinto, e são calculados de forma
diferente.

CURVAS OU DIAGRAMAS DE INTERAÇÃO


Já foi apresentado anteriormente que, uma vez conhecida a geometria da seção, as armaduras, os materiais,
estabelecidas as hipóteses que definem a situação última (ruptura do concreto ou alongamento plástico
excessivo do aço) e os coeficientes de segurança, torna-se possível calcular analiticamente a resistência última
(Rd) de uma seção de concreto armado.
No caso de seções submetidas à flexão composta, normal ou oblíqua, a resistência última (Rd) pode ser
graficamente representada por meio de curvas ou superfícies de interação.

Curva N-M
Para seções submetidas à flexão composta normal (N, M), podem-se montar curvas ou diagramas de interação
que relacionam a força normal última com o momento fletor último.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Na figura anterior, a curva representa a resistência última (Rd) da seção, onde cada ponto sobre a mesma define
pares (NRd e MRd). Caso a solicitação (Sd), composta por uma força normal solicitante atuando em conjunto com
o momento fletor solicitante, par (NSd, MSd), for definido por um ponto dentro ou sobre a curva de interação, a
condição de segurança fica atendida (Sd ≤ Rd).
Contrariamente, quando a solicitação (Sd), definida por um par solicitante (NSd, MSd), ficar representado para
fora da curva de interação, o ELU à ruptura é atingido.
De forma geral, é possível perceber na curva acima que a resistência à tração não diminui tanto à medida
que alterarmos o valor do momento fletor. Este fato, porém, não ocorre quando a força é de compressão.
Veja, a seguir, a curva de interação N-M para uma seção retangular de 30 cm X 60 cm, armadura composta por
16 barras de 20 mm dispostas simetricamente (d’ = 3,6 cm), concreto C20, aço CA50, f = 1,4 e s = 1,15.

A curva N-M pode ser representada com a força normal na abscissa e o momento no eixo das ordenadas, ou
vice-versa.

Curva N-Mx-My
Para seções submetidas à flexão composta oblíqua (N, Mx, My), pode-se montar curvas ou diagramas de
interação que relacionam a força normal última (pré-fixada) com ambos os momentos fletores últimos.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Veja, a seguir, a curva de interação N-Mx-My para uma seção retangular de 30 cm X 60 cm, armadura composta
por 16 barras de 20 mm dispostas simetricamente (d’ = 3,6 cm), concreto C20, aço CA50, f = 1,4, s = 1,15 e
força normal de cálculo igual a 150 tf.

OBS.: é preciso tomar cuidado com a notação adotada para os momentos.

Seção qualquer
No caso de seção com geometria irregular, como por exemplo, seção com formato em “L”, usualmente, o
diagrama é traçado com momentos fletores atuando nas direções principais, conforme mostra a figura a seguir.

Superfície N-Mx-My
Quando montamos “n” curvas N-Mx-My sucessivamente, variando o valor da força normal desde o do valor
limite à tração até o limite à compressão, obtemos o que chamamos de superfície de interação N-Mx-My. Trata-
se do caso geral para a análise à flexão composta oblíqua.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Veja, a seguir, o exemplo de uma superfície de interação N-Mx-My.

Curvas nos computadores


A construção de curvas de interação nos computadores é bastante comum e eficiente. O cálculo e traçado das
mesmas, normalmente, levam pouco mais que centésimos de segundo.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Curvas aproximadas
Existem algumas propostas para a definição aproximada da curva N-Mx-My que, em geral, conduzem a
resultados a favor da segurança. O uso da curva aproximada é interessante para se realizar verificações
manuais.

Inclusive, a NBR 6118:2014, no item 17.2.5.2, traz a seguinte expressão:


 
 M Rd , x  M 
  +  Rd , y  = 1 , sendo: MRd,x e MRd,y as componentes do momento resistente de cálculo em flexão
M  M 
 Rd , xx   Rd , yy 
composta oblíqua e MRd,xx e MRd,yy os momentos de cálculo em flexão composta normal.
Em geral, a favor da segurança, o valor do expoente  é igual a 1,0. No caso de seções retangulares, pode ser
adotado 1,2.
Essa equação pode ser ilustrada graficamente da seguinte forma:

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 2
Seja a seção abaixo cujos dados são:

• Seção retangular 20 cm X 60 cm
• Armadura: 10 φ 20 mm (d’ = 4,63 cm)
• fck = 30 MPa; γc = 1,4
• fyk = 500 MPa; γs = 1,15
• Eixo x em torno da direção menos rígida
a) Montar a superfície N-Mx-My.
b) Quando submetida à tração simples, qual o valor da força normal última admitida pela seção? Fazer
conta simples para justificar o valor encontrado.
c) Quando submetida à compressão simples, qual o valor da força normal última admitida pela seção?
Fazer conta simples para justificar o valor encontrado.
d) Montar curvas N-Mx e N-My.
e) Quais os momentos resistentes últimos à flexão simples nas duas direções?
f) Montar a curva de interação N-Mx-My, para uma força normal Nd = 210 tf.
g) Qual o MRdx quando MRdy = 0,0 tf.m (flexão composta normal em torno de x)?
h) Qual o MRdy quando MRdx = 0,0 tf.m (flexão composta normal em torno de y)?
i) Quando submetida à NSd = 210 tf, MSdx = -5,0 tf.m e MSdy = 7,0 tf.m, a seção passa?
j) Quando submetida à NSd = 210 tf, MSdx = 6,0 tf.m e MSdy = -7,0 tf.m, a seção passa?
k) Qual das duas condições de carregamento anteriores é a mais crítica?
l) Avaliar as duas condições de carregamento definidas nos itens 4 e 5 adotando a curva aproximada da
NBR 6118.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
DIMENSIONAMENTO DE UM LANCE
Conforme já foi salientada anteriormente, a condição primária de segurança (Sd ≤ Rd) é verificada apenas em
algumas seções durante o dimensionamento de um elemento estrutural, e depois é extrapolada para as demais
seções por meio de um detalhamento adequado.
Vamos visualizar este conceito para um lance de pilar.
Um pilar é composto por “n” seções ao longo de seu lance, cada qual com a sua resistência e solicitação. O
dimensionamento e o detalhamento efetuados pelo Engenheiro durante a elaboração do projeto estrutural
devem garantir que, em todas as “n” seções, a condição de segurança seja plenamente atendida.

A resistência de cálculo (Rd) de cada uma das “n” seções de concreto armado submetidas à flexão composta,
normal ou oblíqua, pode ser representada por meio de “n” curvas ou superfícies de interação.
Em edifícios usuais de múltiplos andares, a geometria da seção, as armaduras e o material (concreto e aço)
empregado num lance comumente são constantes. A diferença entre a força normal de compressão atuante na
seção do topo e na seção da base de um lance é muito pequena (é oriunda somente do peso-próprio do mesmo),
de tal forma que é razoável se considerar uma força de compressão também constante ao longo do lance
(adota-se sempre o valor da maior força na base).
A partir destas considerações, a resistência última de cálculo (Rd) de todas as seções de um lance fica definida
apenas por uma única curva de interação N-Mx-My, conforme ilustra a figura a seguir.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Ou seja, no dimensionamento de um lance de pilar, deve-se garantir que todas as solicitações de cálculo ao
longo do mesmo (Sd,i, i=1,n), representada por (NSd,i, MSdx,i, MSdy,i) no caso da flexão composta oblíqua, estejam
contidas dentro da curva de interação montada com NRd,i = NSd,i = Nd,cte.

Seções críticas
Obviamente, entre o topo e a base do lance de pilar há seções críticas cujas solicitações governam o
dimensionamento do mesmo. Durante o curso, apresentaremos como “descobrir” quais são estas seções.

Combinações de ações
O dimensionamento de um lance do pilar deve garantir a segurança para todas as possíveis combinações de
ações (ELU) atuantes no mesmo. Cada combinação possui um determinado valor de força normal no lance (N d).
E, com isso, no caso geral do dimensionamento de um lance de pilar, podemos dizer que as solicitações nas
seções críticas calculadas para cada uma das combinações precisam estar dentro da superfície de interação.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Envoltória de esforços
É importante lembrar que no dimensionamento à flexão composta, não vale a envoltória de esforços das
combinações, comumente adotada no dimensionamento de vigas. Ou seja, não se deve dimensionar
para (NSd,máx - MSdx,máx - MSdy,máx). Isso pode levar a um dimensionamento exageradamente a favor da
segurança, ou mesmo contra a segurança.
A verificação da segurança deve ser averiguada isoladamente para cada combinação.

Coeficiente adicional
Há duas condições em que se deve introduzir uma segurança extra no dimensionamento de pilares. Em ambos
os casos, adota-se um coeficiente de majoração adicional γn na definição das solicitações de cálculo. Veja
a seguir.

Pilares com menor dimensão inferior a 19 cm


Na tabela 17 da NBR 6118:2014, define-se um coeficiente adicional γn para pilares com menor
dimensão inferior a 19 cm.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Pilares com esbeltez superior a 140


Para pilares cuja esbeltez em relação à sua direção principal de inércia for superior a 140, deve-se adotar um
coeficiente adicional n, conforme a expressão a seguir.
n = 1 + 0,01.( - 140) / 1,4;  é o índice de esbeltez do pilar.
Essa expressão está definida no item 15.8.1 da ABNT NBR 6118:2014.

Representação de Esforços em Planta


Existem inúmeras formas de representar graficamente os esforços solicitantes em um lance de pilar. Uma
maneira bastante interessante e eficiente é a representação em planta dos mesmos (solicitações) junto com a
curva de interação (resistência).
Veja, a seguir, o exemplo de uma representação em planta de um lance de pilar de concreto armado com
momentos fletores variando linearmente entre o seu topo e a sua base.

Cada par de esforços (Mx e My) fica representado por um único ponto. Dessa forma, os momentos solicitantes
no topo e na base ficam representados por dois pontos (Topo e Base), como apresentados na figura anterior.
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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Quando os momentos fletores variam linearmente entre o topo e a base, os esforços ao longo do lance ficam
representados por uma reta.
A curva resistente é definida de acordo com os materiais, a geometria da seção, a configuração de armaduras e
a força normal solicitante. Por meio do desenho dessa curva, é possível quantificar graficamente o nível de
solicitação atuante ao longo das seções de um lance em relação às suas resistências.
Veja, a seguir, outro exemplo, agora com o momento My atuando no mesmo sentido.

A representação de esforços em planta é bastante simples, possibilita a visualização completa do que ocorre
num lance, e nos auxiliará na compreensão das explanações feitas ao longo do curso sobre a envoltória mínima
de 1ª ordem, bem como sobre os esforços locais de 2ª ordem.

ÁBACOS DE DIMENSIONAMENTO
O dimensionamento de pilares de um edifício de concreto está baseado na verificação da segurança (Sd ≤ Rd) em
certas seções consideradas críticas nesses elementos.
Como normalmente as solicitações (Sd), a seção transversal e os materiais (fcd e fyd) são conhecidos, a
verificação desta condição recai no cálculo de uma armadura necessária, cuja solução pode ser bastante
trabalhosa. Na prática, há duas formas de se fazer isso de forma produtiva: por meio do uso de ábacos ou por
meio de softwares.
Atualmente, a resolução por meio do computador é a mais comum, e fornece resultados com grande precisão e
rapidez. Contudo, principalmente em casos onde há a necessidade de se fazer alguma conta manual expedita,
também pode-se fazer o uso de ábacos.
Diversos ábacos, válidos somente para seção retangular, foram construídos e reproduzidos por muitos autores,
dentre eles: MARINO (1978), FUSCO (1981), SUSSEKIND (1985), DUMONT (1987), VENTURINI (1990),
PINHEIRO (1994), etc. Hoje em dia, eles também se encontram disponíveis na Internet.
Todos os ábacos são montados a partir de uma pré-definição da armadura na seção (arranjo e d’/h) e estão
baseados nos adimensionais , , .

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Flexão Composta Normal
Para os casos de seção submetida à flexão composta normal, conhecidos os valores da força normal
adimensional () e o momento fletor adimensional (), pode-se extrair o valor da taxa geométrica de armadura
(), e assim, obter a área de armadura necessária na seção.
Note que na definição de  e  estão implicitamente definidas as solicitações e os materiais.
Veja, a seguir, um exemplo de ábaco para uma seção submetida à flexão composta normal, armadura simétrica,
aço CA50 e d’/h = 0,15.

Flexão Composta Oblíqua


Para os casos de seção submetida à flexão composta oblíqua, conhecidos os valores da força normal
adimensional () e os momentos fletores adimensionais (x e y), pode-se extrair o valor da taxa geométrica de
armadura (), e assim, obter a área de armadura necessária na seção.
Veja, a seguir, um exemplo de ábaco para uma seção submetida à flexão composta oblíqua, armadura simétrica,
aço CA50 e d’y/hy = 0,05 e d’x/hx = 0,10.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Diversos exemplos de como usar ábacos no dimensionamento de armaduras podem ser encontrados no livro
dos Profºs CHUST e PINHEIRO, página 286.
Utilizaremos ábacos em exemplos resolvidos durante o curso.

SOLICITAÇÕES EM PILARES DE EDIFÍCIOS


Basicamente, os esforços solicitantes mais importantes que atuam ao longo de cada um dos lances de um pilar
de um edifício usual, decorrentes da aplicação das ações verticais e horizontais, são:
• Força normal, predominantemente de compressão.
• Momentos fletores, em cada direção.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Há também a atuação do momento torsor e das forças cortantes. No entanto, nos casos usuais de edifícios com
múltiplos pavimentos, os mesmos podem ser desprezados1, pois não são solicitações preponderantes e
significativas.
Quando há atuação simultânea da força normal (N) e dos dois momentos fletores (Mx e My) nos pilares, suas
seções ficam submetidas a uma flexão composta oblíqua. Essa situação é típica em pilares de canto.

Nos casos em que o momento fletor numa das direções é desprezível, as seções ficam submetidas a uma flexão
composta normal. Essa situação é típica em pilares de extremidade, mas não é regra geral.

1 Há casos em que a consideração dos esforços de cortante e torsor não podem ser desprezadas.
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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

É bom lembrar que a consideração da flexão composta normal é uma aproximação, válida somente para
simplificar o caso geral, que é a flexão composta oblíqua. Na vida real, os pilares quase sempre estarão
submetidos a momentos fletores nas duas direções.
Nos sistemas computacionais atuais, usualmente todos os pilares são dimensionados à flexão composta oblíqua
(N, Mx e My). Não há a simplificação em flexão composta normal.

Força normal

A força normal nos pilares oriunda da aplicação das


ações verticais nos pavimentos é acumulada lance a
lance do topo para a base do edifício, até transmiti-la
para os elementos de fundação.

Usualmente, num mesmo lance, a diferença gerada pelas ações verticais entre a força normal na seção do topo e
na seção da base é pequena. Refere-se apenas à atuação do peso-próprio no lance. Na prática, sempre se adota
uma força normal máxima (base) constante para o dimensionamento do lance.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Quando submetida exclusivamente a


ação horizontal (situação meramente
fictícia), parte dos pilares ficam
tracionados, e a outra parte comprimida,
formando binários resistentes aos
esforços gerados pela ação.

Vale à pena lembrar, no entanto, que a atuação isolada da ação horizontal na estrutura, na prática, nunca
ocorrerá. Na vida real, não há uma situação na qual exista a atuação da mesma sem a presença simultânea das
cargas verticais (peso-próprio, revesttura precisa existir para que o vento atue!
A ação horizontal, portanto, sempre atuará no sentido de aumentar ou aliviar a força de compressão já
existente nos pilares devido à presença da carga vertical. Ou seja, o que vale, na realidade, são os esforços
solicitantes devido a uma combinação de ações verticais e horizontais.

Momentos fletores
A distribuição de momentos fletores ao longo dos lance dos pilares de um edifício, decorrentes da aplicação das
ações verticais e horizontais, é variável. Depende de suas rigidezes e dos elementos que estão vinculados (vigas
ou lajes). Eis alguns exemplos:

43
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Quando presentes em estruturas aporticadas submetidas a ações


verticais, os diagramas de momentos fletores nos pilares tendem
a apresentar o formato ao lado.

Parcelas de esforços
Com o intuito de facilitar o cálculo de um lance de pilar, o esforço total utilizado no seu dimensionamento pode
ser subdividido nas seguintes parcelas:

Estas parcelas de esforços se referem basicamente aos momentos fletores (M x e My) no pilar. Para as demais
solicitações (força normal, forças cortantes e momento torsor), não é necessário subdividi-las com detalhes
dessa maneira. E, portanto, é muito comum definir a seguinte expressão:

44
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Além disso, também é usual expressar estas parcelas em valores de excentricidades. Nesse caso, basta dividir os
respectivos momentos fletores pela força normal (constante):

Muito embora esses esforços atuem de forma conjunta na vida real, é comum utilizar modelos distintos e
separados para calcular cada uma dessas parcelas durante a elaboração de um projeto estrutural.
Usualmente, os esforços iniciais, os esforços globais de 2ª ordem e os esforços provenientes das imperfeições
geométricas globais são calculados por meio de modelos que contemplam toda a estrutura (modelo global),
enquanto que os esforços locais de 2ª ordem, os esforços provenientes de imperfeições geométricas locais e os
esforços devido à fluência são analisados por meio de modelos que tratam o lance de pilar de forma isolada
(modelo local).

SOLICITAÇÕES INICIAIS
São chamadas solicitações iniciais os esforços calculados durante a análise estrutural, resultantes da aplicação
das ações verticais e horizontais no modelo global do edifício e necessárias para manter o equilíbrio da
estrutura na posição indeformada (análise em primeira ordem).

Os esforços iniciais que aparecem nos lances dos pilares são oriundos dos elementos (vigas ou lajes) que estão
vinculados aos mesmos.

45
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Atualmente, na grande maioria dos sistemas computacionais, os esforços iniciais são calculados a partir de um
modelo clássico de pórtico espacial, isto é, um modelo tridimensional (3D) composto por elementos lineares
(barras), conectadas por nós que possuem 6 graus de liberdade.
Neste modelo, as barras representam todo o conjunto de pilares e vigas que formam a estrutura do edifício. As
lajes são consideradas como diafragmas rígidos.

A avaliação da distribuição e magnitude dos esforços iniciais (forças normais e cortantes, momentos
fletores e torsores) é uma etapa primordial no cálculo dos pilares. Faz parte da análise estrutural e deve estar
de acordo com o previsto durante a concepção da estrutura. Trata-se de uma tarefa com total responsabilidade
por parte do Engenheiro. Nenhum sistema computacional é capaz de alertar quando um pilar, que deveria estar
submetido a uma força de 400 tf, estiver solicitado com 100 tf!
Se os esforços iniciais estiverem incorretos, todo o cálculo dos demais esforços nos pilares (imperfeição
geométrica, 2ª ordem, fluência) ficará totalmente comprometido.

Modelo realista
É importante lembrar que, ao contrário de um pórtico espacial puramente elástico que pode gerar resultados
imprecisos, é conveniente adotar um modelo adequado e direcionado para a modelagem de edifícios de
concreto armado, isto é, que possua adaptações para a obtenção de respostas compatíveis com a realidade da
estrutura.
É obrigatório sempre utilizar um modelo numérico que forneça resultados precisos e confiáveis. Caso contrário,
é melhor nem começar a calcular os pilares.
Dentre as adaptações que devem ser consideradas durante a modelagem, podemos citar: ligações viga-pilar
flexibilizadas, efeitos construtivos, viga de transição, tirante e plastificações.

Ligação viga-pilar
Os cruzamentos entre os pilares e as vigas de um edifício de concreto armado são regiões importantes da
estrutura onde ocorre a transferência de esforços de uma peça para outra. São trechos que necessitam de um
tratamento particular durante a modelagem estrutural.

46
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

No pórtico espacial, existem três itens importantes referentes às ligações viga-pilar que necessitam ser
considerados:
• Trechos rígidos
• Flexibilização da ligação viga-pilar
• Excentricidades de apoios
Trechos rígidos são regiões na intersecção de vigas e pilares de uma estrutura de concreto armado que
apresentam elevada rigidez.

A rigidez efetiva da ligação entre os elementos, principalmente em casos vigas se apoiando em pilares
alongados, necessita ser considerada de forma adequada no modelo de pórtico espacial. Veja um exemplo a
seguir.

No modelo de pórtico espacial, a rigidez efetiva na ligação viga-pilar é incorporada ao modelo por meio de
"molas" posicionadas nos extremos das barras. Ou seja, as ligações são flexibilizadas.

47
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A técnica utilizada para simular esse comportamento é baseada na manipulação das matrizes de rigidez das
barras (ligação semi-rígida).

Além dos trechos rígidos e das ligações flexibilizadas, as excentricidades existentes entre elementos não
alinhados deve ser também considerada. Veja abaixo dois casos típicos de excentricidades: vigas não alinhadas
com o CG do pilar, variação de seção de um mesmo pilar entre um lance e outro.

EXEMPLO 3
Fazer um estudo das solicitações iniciais nos pilares do edifício hipotético abaixo.

48
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

a) Entender o sistema global e local de


coordenadas.
b) Analisar a distribuição das forças normais nos
pilares para ações verticais, horizontais e
combinações.
c) Analisar a distribuição dos momentos fletores
nos pilares para ações verticais e horizontais.
d) Avaliar o equilíbrio de esforços nos pilares de
canto.
e) Avaliar o equilíbrio de esforços nos pilares de
extremidade.
f) Avaliar o equilíbrio de esforços no pilar central.
g) Os momentos fletores no último lance dos
pilares são maiores que os demais lances. Por
quê?

49
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

COMPORTAMENTO NÃO-LINEAR
De forma bastante simplificada, pode-se dizer que uma estrutura possui um comportamento não-linear quando
a sua resposta, seja em deslocamentos, esforços ou tensões, é desproporcional à medida que um carregamento
é aplicado.

50
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Exemplo
Seja uma estrutura qualquer submetida a um carregamento “P”, cujo deslocamento resultante num
determinado ponto é igual a “d”.

Agora, imagine se adicionássemos nesta estrutura mais uma mesma carga “P”, de tal maneira que o
carregamento total ficasse igual a “2.P”. Qual será o deslocamento resultante?

Se for efetuada uma análise puramente linear, certamente o deslocamento resultante será proporcional ao
acréscimo de carga, isto é, igual “2.d”. A resposta da estrutura em termos de deslocamentos terá um
comportamento linear à medida que o carregamento é aplicado.
Por sua vez, se for efetuada uma análise não-linear, o deslocamento resultante não será proporcional ao
acréscimo de carga, isto é, será um valor diferente de “2.d”. E mais, provavelmente maior que “2.d”. A resposta
da estrutura em termos de deslocamentos terá um comportamento não-linear à medida que o carregamento é
aplicado.

Basicamente, existem dois fatores principais que geram o comportamento não-linear de uma estrutura:

51
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

• Alteração das propriedades dos


materiais que compõem a estrutura,
designada “não-linearidade física” (NLF).

• Alteração da geometria da
estrutura, designada “não-
linearidade geométrica” (NLG).

NÃO-LINEARIDADE FÍSICA
A não-linearidade física na análise de estruturas de concreto armado que, diga-se de passagem, é um material
essencialmente não-linear, pode se desde processos aproximados até metodologias mais complexas.

Não-linearidade física de forma aproximada


Uma maneira aproximada para considerar a não-linearidade física em uma estrutura, isto é, considerar a
variação do comportamento do material à medida que o carregamento é aplicado, é alterar diretamente o valor
da rigidez dos elementos que a compõe.

É o que fazemos, por exemplo, no cálculo do pórtico espacial no Estado Limite Último (ELU) quando adotamos
0,8.EIc nos pilares e 0,4.EIc nas vigas.
Outro exemplo: redução de rigidez nas bordas de laje de tal forma a simular uma possível fissuração do
concreto nessas regiões. Em elementos predominantes fletidos como vigas e lajes, a fissuração é preponderante
no comportamento não-linear da estrutura.

Não-linearidade física de forma refinada


Uma maneira mais refinada de tratar a não-linearidade física em uma estrutura é por meio do uso de relações
momento-curvatura.

52
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Curvatura é a variação do ângulo de rotação


ao longo de um trecho (d/ds) e, portanto não
é expresso em graus ou radianos.

A maneira mais comum e também correta de


definir curvatura é sendo o inverso do raio de
curvatura (1/r).

Em uma seção de concreto armado, a curvatura pode ser expressa de forma aproximada da seguinte forma
(compatibilidade de deformações):

Ou seja, com as deformações no concreto e no aço, c e s, e a altura útil d, é possível calcular a curvatura em
uma seção de concreto armado.

53
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Também de forma aproximada, é possível relacionar a curvatura de uma seção com o momento fletor atuante
na mesma através da seguinte fórmula (relação constitutiva):

A relação momento-curvatura (M x 1/r) é análoga à expressão que relaciona a tensão com a deformação ( x ),
porém tem uma grande vantagem: permite que a não-linearidade física seja acoplada aos cálculos de uma
forma mais fácil e direta. Note que o que relaciona o momento com a curvatura de uma seção é a sua rigidez à
flexão EI.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

55
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Diagrama momento-curvatura

Quando a relação momento-curvatura de


uma seção é definida para diferentes
níveis de solicitação, obtém-se então o
diagrama “M x 1/r”.

Veja, a seguir, o exemplo de um diagrama M x 1/r usualmente utilizado no cálculo de flechas em pavimentos de
concreto armado (ELS).

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Diagrama normal-momento-curvatura (N, M, 1/r)


Com a presença concomitante de uma força normal na seção, a relação momento-curvatura continua válida,
porém, é claro, dependente diretamente do valor da força normal. Nesse caso, a relação passa ser denominada
N, M, 1/r.

Com a presença da força normal, o diagrama “M x 1/r” passa a ser chamado de normal-momento-curvatura ou
“N, M, 1/r”.

O conceito é exatamente o mesmo: dada uma força normal atuante, a curvatura na seção se altera de acordo
com o momento fletor solicitante. Esta variação é determinada por uma rigidez EI.
A compreensão do diagrama “N, M, 1/r” é extremamente importante no cálculo de pilares. Lembre-se que os
mesmos estão submetidos à atuação conjunta de momentos fletores e da força normal de compressão.

57
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Veja, a seguir, o exemplo de um diagrama “N, M, 1/r” para uma seção retangular (30 cm X 60 cm) e com uma
determinada configuração de armadura adotada.

Para uma dada força normal


(N = 150 tf), note que a
variação da curvatura (1/rx) à
medida que o momento fletor
(Mx) aumenta não é linear.
Na construção desse diagrama
não é levada em conta à
resistência à tração do
concreto (ELU).

O diagrama N, M, 1/r varia em função das seguintes características:


• Geometria da seção
• Materiais (concreto e aço)
• Configuração de armaduras
• Força normal atuante

Diagramas N, M, 1/r na prática


A montagem de diagramas N, M, 1/r para seções de concreto armado, na prática, torna-se viável somente com o
uso de computadores. De forma manual, os cálculos demandam muito tempo, e tornam impraticáveis diante da
produtividade exigida durante a elaboração de um projeto estrutural.
Hoje, por meio de algoritmos numéricos confiáveis e eficientes, um diagrama N, M, 1/r pode ser calculado para
uma seção de concreto armado genérica em centésimos de segundos.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Cabe ao Engenheiro Estrutural saber


interpretar o diagrama gerado por
um sistema computacional. E neste
caso, compreender bem conceitos
como rigidez, relação momento-
curvatura são imprescindíveis.

Os diagramas N, M, 1/r serão largamente utilizados no cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem ao longo do curso.

Exemplo
Seja a seção transversal com os dados abaixo:

• Seção 30 cm x 60 cm
• Armadura: 16  20 mm
• Concreto C30, c = 1,4
Aço CA50, s = 1,15
• Eixo x em torno da direção
menos rígida

Considerando a tensão de pico no concreto no ELU igual a 0,85.fcd e f3 = 1,0:


a) Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de x para uma força normal N d = 100 tf. Qual o valor de MRd? Qual
a rigidez secante definida para um momento fletor igual a MRd?
b) Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de y para uma força normal Nd = 100 tf. Qual o valor de MRd? Qual
a rigidez secante definida para um momento fletor igual a MRd?
c) Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de x para uma força normal N d = 200 tf. Qual o valor de MRd? Qual
a rigidez secante definida para um momento fletor igual a MRd?
d) Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de x para uma força normal Nd = 300 tf. Qual o valor de MRd? Qual
a rigidez secante definida para um momento fletor igual a MRd?
e) A variação de rigidez EI nos itens a), c) e d) é linear ou não-linear?
f) Altere a bitola das barras para 12,5 mm. Monte o diagrama N, M, 1/r em torno de x para uma força
normal Nd = 300 tf. Qual o valor de MRd? Qual a rigidez secante definida para um momento fletor igual a
MRd?
g) Eliminar as barras no canto inferior esquerdo conforme mostra a figura abaixo. Monte o diagrama N, M,
1/r em torno de x para uma força normal Nd = 300 tf. Existe simetria nos dois sentidos? Por que para Md
= 0, a curvatura é diferente de zero?

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Considerando a resistência do concreto no ELU igual a 0,85.fcd, e aplicando uma força normal de compressão
com valor de cálculo igual a NSd = 100 tf, obtém-se o seguinte diagrama N, M, 1/r em torno da direção menos
rígida da seção (direção x).

Comentários:
• A curva é idêntica nos dois sentidos, positivo e negativo, pois a seção é inteiramente simétrica na
direção x.
• O momento resistente último de cálculo (MRd) é igual a 30,4 tf.m.
• A curvatura na ocasião da atuação do MRd é igual a 2,72x10-2 m-1.
• A rigidez EIsec definida por uma reta secante para M = MRd é igual a 1117,5 tf.m2.
Para a mesma força normal de compressão NSd = 100 tf, obtém-se o seguinte diagrama N, M, 1/r em torno da
direção mais rígida da seção (direção y).

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Comentários:
• A curva é idêntica nos dois sentidos, como esperado.
• O momento resistente último de cálculo (MRd) é igual a 59,5 tf.m.
• A curvatura na ocasião da atuação do MRd é igual a 1,41x10-2 m-1.
• A rigidez EIsec definida por uma reta secante para M = MRd é igual a 4235,2 tf.m2.
Retornando a análise em torno da direção menos rígida (direção x). Vamos alterar a força normal de
compressão para NSd = 200 tf. Obtém-se então o seguinte diagrama N, M, 1/r.

Comentários:
• O momento resistente último de cálculo (MRd) é igual a 28,7 tf.m (para NSd = 100 tf, MRd = 30,4 tf.m).
61
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
• A rigidez EIsec definida pela reta secante é igual a 1435,6 tf.m2 (para NSd = 100 tf, EIsec = 1117,5 tf.m2).
Aumentando a força normal de compressão para NSd = 300 tf, obtém-se então o seguinte diagrama N, M, 1/r.

Comentários:
• O momento resistente último de cálculo (MRd) é igual a 22,6 tf.m (para NSd = 100 tf, MRd = 30,4 tf.m e
para NSd = 200 tf, MRd = 28,7 tf.m).
• A rigidez EIsec definida pela reta secante é igual a 1440,1 tf.m2 (para NSd = 100 tf, EIsec = 1117,5 tf.m2 e
para NSd = 200 tf, EIsec = 1435,6 tf.m2).
• Tanto em termos de resistência como em termos de rigidez, a variação à medida que a força normal
aumenta não é linear.
Mantendo a força normal de compressão para NSd = 300 tf, e agora alterando a armadura para 16  12,5 mm,
obtém-se então o seguinte diagrama N, M, 1/r.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Comentários:
• O momento resistente último de cálculo (MRd) é igual a 11,4 tf.m (para 16  20 mm, MRd = 22,6 tf.m).
• A rigidez EIsec definida pela reta secante é igual a 911,1 tf.m2 (para 16  20 mm, EIsec = 1440,1 tf.m2).

Finalmente, vamos eliminar a simetria das


armaduras retirando três barras do canto
esquerdo inferior, conforme mostra a figura
ao lado.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Comentários:
• O diagrama não apresenta simetria nos dois sentidos.
• Para um momento fletor Md = 0,0 tf.m, há o aparecimento de uma curvatura diferente de zero,
ocasionado exclusivamente pela presença da força normal de compressão para NSd = 300 tf.

NÃO-LINEARIDADE GEOMÉTRICA
Assim como a não-linearidade física, a não-linearidade geométrica também gera uma resposta não-linear
de uma estrutura. Porém, esse comportamento não ocorre mais devido a alterações no material, mas sim
devido a mudanças na geometria dos elementos estruturais à medida que um carregamento é aplicado.
O efeitos gerados a partir do equilíbrio na configuração deformada (efeitos de 2ª ordem) ocasiona
uma resposta não-linear de uma estrutura, chamada de não-linearidade geométrica.

Não-linearidade geométrica aproximada


Assim como a não-linearidade física, a não-linearidade geométrica pode ser resolvida de forma
aproximada. Nesse caso, a forma final da posição de equilíbrio é pré-determinada, permitindo a solução
matemtica do problema.
Éo que fazemos, por exemplo, ao utilizar a fórmulado coeficiente γz, cuja formulação é resultante de
uma estimativa da variação da forma da estrutura à medida que as cargas são aplicadas à mesma.
Outro exemplo: o método do pilar-padrão aplicado no clculo dos efeitos locais de 2ª ordem em pilares.
Nesse caso, admite-se que a forma final da posição de equilíbrio do elemento em questão é uma curva senoidal.

Não-linearidade geométrica de forma refinada


Existem diversos processos numéricos, comumente denominados P-∆, que tratam a não-linearidade
geométrica de forma refinada. Basicamente, são clculos iterativos em que se busca a posição final de
equilíbrio da estrutura ou parte dela.
Por ser um processo iterativo, é necessria a definição de tolerncias para obtenção da convergncia
do método. Existem formulações baseadas na introdução de “deltas” de esforços entre cada iteração, bem
como outras, mais sofisticadas, que corrigem a matriz de rigidez dos elementos de tal forma a simular a
variação da geometria da estrutura à medida que o carregamento é aplicado sobre a mesma.

Efeitos de 2ª Ordem
Efeitos de 2ª ordem são efeitos adicionais à estrutura gerados quando o equilíbrio da mesma é tomado na
sua posição deformada (anlise em 2ª ordem). Esses efeitos são reais, e podem ser grandes ou pequenos.
A NBR 6118:2014, item 15.2, permite desprezar os efeitos de segunda ordem somente aps a constatação
de que a magnitude dos mesmos não represente um acréscimo de 10% nas reações e nas solicitações
relevantes da estrutura.
A NBR 6118:2014, item 15.4.1, classifica os efeitos de segunda ordem presentes numa estrutura de concreto
em trs tipos:

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Muito embora ocorram de forma simultânea no edifício, os efeitos globais, locais e localizados de segunda
ordem comumente são calculados de forma separada, conforme sintetiza a figura a seguir.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Os efeitos globais de 2ª ordem se referem à estrutura como um todo e são calculados a partir de uma
modelagem global (pórtico espacial). Os efeitos locais se referem a um trecho isolado do pilar (lance) e são
calculados por meio de uma modelagem local. Já, os efeitos localizados se referem a uma região específica de
pilares-parede (extremos com baixa rigidez) que possuem uma tendência de ter efeitos de 2ª ordem mais
significativos em função de uma concentração de tensões.
O cálculo dos efeitos globais, locais e localizados de 2ª ordem será estudado com detalhes durante o curso.

COEFICIENTE F3
O coeficiente ponderador das ações f, usualmente igual a 1,4, é resultante da multiplicação de 3 fatores
apresentados a seguir.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

O primeiro fator f1 procura prever a variabilidade do valor da ação, ou seja, considera que a carga efetivamente
aplicada à estrutura real não é 100% exata, podendo ser maior ou menor que o valor especificado em projeto.
O segundo f2 procura prever a simultaneidade das ações, isto é, a probabilidade de ocorrência simultânea de
ações distintas. São os famosos coeficientes .
Já o terceiro fator f3 leva em conta as aproximações feitas em projeto. Vale lembrar que todo projeto estrutural,
por mais que seja elaborado de forma refinada, é apenas uma simulação simplificada de um edifício real.

NBR 6118:2014
No item 15.3.1 da NBR 6118:2014, tem-se:
“Pode ser considerada também a formulação de segurança em que se calculam os efeitos de 2ª ordem das cargas
majoradas de f/f3, que posteriormente são majorados de f3, com f3 = 1,1, ...”
Pelo menos à primeira vista, essa afirmação presente na norma é um pouco confusa. O que se objetiva com essa
consideração é suprir da análise dos esforços de 2ª ordem, que possui uma resposta não-linear, o fator do
coeficiente de segurança que trata das aproximações de projeto (f3). Dessa forma, os efeitos de segunda ordem
calculados com valores de cálculo ficam ligeiramente menores, não podendo esquecer, obviamente,
de

complementá-los com γf3 para obtenção do resultado final.

Exemplo
A consideração do coeficiente γf3 = 1,1 tem influência direta na análise de uma estrutura com
comportamento
não-linear. Veja, a seguir, um exemplo bastante simples que procura mostrar a influência do coeficiente γf3
em um cálculo.
Seja uma estrutura hipotética que possui um comportamento tipicamente não-linear, conforme mostra a
figura
a seguir.
A resposta da estrutura (S) em função da ação
(F) está representada pela curva em azul.

Imagine que o valor da ação característica a ser aplicada sobre a estrutura é Fk = 10, resultando numa resposta
S k = 45.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Utilizando f = 1,4 de tal forma a considerar o


valor de cálculo, teremos:
Fd = 10 x 1,4 = 14 → Sd = 85

Utilizando a formulação de segurança com f3 =


1,1, teremos:
Fd = 10 x 1,4/1,1 = 12,7 → Sd = 72
Sd,tot = 72 x 1,1 = 79,2 < 85

Como se pôde observar, a análise com a formulação de segurança com f3 = 1,1 resulta em valores finais
menores quando comparados com a aplicação direta de f = 1,4 em estruturas com comportamento não-linear.
Dessa forma, o cálculo de uma estrutura em que se considera a não-linearidade geométrica (z ou P-) ou física
(N, M, 1/r) é influenciado diretamente pelo f3 = 1,1.
Vale lembrar que a adoção de f3 = 1,1 é opcional, podendo ser adotado também f3 = 1,0.

Exemplo
Analisar uma estrutura muito simples abaixo considerando a não-linearidade geométrica, ora com γf3 = 1,0
e ora com γf3 = 1,1.
Trata-se de uma barra vertical
engastada na base com comprimento
igual a 5 m, com seção transversal 30
cm x 30 cm, módulo de elasticidade
igual a 28.000 MPa, submetida a uma
força horizontal constante (Fhd = 10
tf) e a uma força vertical variável (Fvd
= 0 tf a 100 tf) em seu topo,
conforme mostra a figura ao lado.
OBS.: valores da força são de cálculo.
a) Na análise linear, quais os deslocamentos no topo variando-se Fv?
b) Na análise linear, quais os momentos fletores na base variando-se Fv?
c) Na análise NLG com f3=1,0, quais os deslocamentos no topo variando-se Fv?
d) Na análise NLG com f3=1,0, quais os momentos fletores na base variando-se Fv?
e) Na análise NLG com f3=1,1, quais os deslocamentos no topo variando-se Fv?
f) Na análise NLG com f3=1,1, quais os momentos fletores na base variando-se Fv?
g) A variação de deslocamentos no topo e momentos na base à medida que o valor de F v é incrementado é
linear ou não-linear?
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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Por meio do cálculo linear tradicional em primeira ordem, isto é, na configuração geométrica inicial
indeformada, obtém-se as seguintes reações e esforços (força normal, força cortante e momento fletor).

Note que o momento fletor final na base da barra (50,0 tf.m), assim como o deslocamento no topo (22 cm), na
análise linear, não variam à medida que a força vertical é incrementada.

Agora, vamos fazer a análise considerando a não-linearidade geométrica por meio de um processo P-Δ,
efetuado no computador, considerando f3 = 1,0. Veja, a seguir, a variação do momento fletor na base à medida
que a carga vertical é alterada.

Note que o esforço varia de 50,0 tf.m até 97,0 tf.m.


Finalmente, vamos fazer a análise com NLG e considerando f3 = 1,1.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Também houve uma variação de momentos fletores, de 50,0 tf.m até 88,7 tf.m, porém os valores dos esforços
finais ficaram menores devido à consideração de f3 = 1,1.
Em ambos os casos com NLG, o aumento de esforços à medida que a carga vertical é incrementada é decorrente
do surgimento de efeitos de 2ª ordem, que tornam o comportamento da estrutura nitidamente não-linear,
conforme mostra o gráfico a seguir.

NLF + NLG = COMPORTAMENTO NÃO-LINEAR


Nos itens anteriores, muito embora a não-linearidade física (NLF) tenha sido estudada de forma independente
da não-linearidade geométrica (NLG), ambas sempre atuam de forma conjunta. Isto é, uma estrutura de
concreto armado, ao ser carregada, sofre influência tanto da não-linearidade física (alteração no material) como
da não-linearidade geométrica (alteração da geometria) simultaneamente.

É importante estar ciente que tanto a não-linearidade física como a não-linearidade geométrica, na vida real,
estão sempre presentes nos edifícios em concreto armado. E por isso, torna-se fundamental considerá-las no
cálculo da estrutura em certas situações.

70
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
EFEITOS GLOBAIS DE 2ª ORDEM
Conforme a nomenclatura já deixa evidente, os esforços globais de 2ª ordem estão relacionados ao edifício
como um todo, isto é, ao conjunto completo formado pelos pilares, pelas vigas e lajes da estrutura. Ex: um
edifício submetido à ação do vento desloca-se horizontalmente. Com isso, geram-se esforços adicionais nesses
elementos devido à presença simultânea de cargas verticais (peso próprio + sobrecarga), chamados de efeitos
globais de 2ª ordem.

Estruturas de nós fixos e nós móveis


Quando os deslocamentos horizontais dos nós de uma estrutura são pequenos e, consequentemente, os efeitos
globais de 2ª ordem são desprezíveis (inferiores a 10% dos esforços totais), a estrutura, para efeitos de cálculo,
é considerada de nós fixos.
Em contrapartida, quando os deslocamentos horizontais dos nós não forem pequenos, a estrutura é
considerada de nós móveis.
A classificação de uma estrutura como sendo de nós fixos ou nós móveis pode ser feita de acordo com os
resultados dos parâmetros de instabilidade α e γz. No caso desse último, a estrutura é considerada de nós fixos
quando γz ≤ 1,1.

Processos de cálculo
Segundo o item 15.7.1 da NBR 6118:2014, temos: “Na análise estrutural de estruturas de nós móveis, devem ser
obrigatoriamente considerados os efeitos da não-linearidade geométrica e da não-linearidade física e, portanto,
no dimensionamento devem ser obrigatoriamente considerados os efeitos globais e locais de 2ª ordem.”.
Os esforços globais de segunda ordem podem ser calculados de duas formas:
• Análise aproximada pelo coeficiente z.
• Análise não-linear P-.
Na análise aproximada via z, o item 15.7.2 da NBR 6118:2014 descreve “Uma solução aproximada para a
determinação dos esforços globais de 2ª ordem consiste na avaliação dos esforços finais (1ª ordem + 2ª ordem) a
partir da majoração adicional dos esforços horizontais da combinação de carregamento considerada por 0,95.z .
Esse processo só é válido para z ≤ 1,3.”.

Não-linearidade física
A NBR 6118:2014, seção 15 “Instabilidade e efeitos de 2ª ordem”, item 15.7.3, permite definir uma rigidez
aproximada em vigas, pilares e lajes na análise dos esforços globais de 2ª ordem em estruturas reticuladas com
no mínimo quatro andares. Exemplo: em edifícios modelados por pórtico espacial que atendam essa última
condição, pode-se adotar, de forma aproximada, EIsec = 0,4.Eci.Ic nas vigas e EIsec = 0,8.Eci.Ic nos pilares.

71
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
E, para estruturas com menos de quatro andares? O que fazer? Posso adotar os mesmos valores? Por que essas
reduções são recomendadas somente para estruturas com no mínimo quatro andares?
Essa restrição foi definida na norma devido à falta de estudos específicos para este tipo de estrutura, onde,
dependendo do nível de solicitação, no Estado Limite Último (ELU), as rigidezes nas vigas, e principalmente nos
pilares, podem atingir valores bem inferiores aos especificados de forma aproximada. Nesse caso, com a adoção
das reduções de rigidez definidas anteriormente, os efeitos de 2ª ordem seriam subestimados. E, portanto, a
análise estaria contra a segurança.
Atualmente, existem pesquisas direcionadas para análise deste assunto. Em breve, teremos uma possível
resposta para esta questão.
Neste momento, a única afirmação que se pode fazer é que a não-linearidade física em estruturas com menos de
quatro andares deve obrigatoriamente ser sempre considerada. E que, na impossibilidade de definição de
valores de redução de rigidez mais precisos (obtidos por meio de diagramas momento-curvatura), os mesmos
devem ser estimados com precaução, priorizando sempre um cálculo a favor da segurança.

Análise não-linear geométrica e coeficiente f3


Seja na análise P- como no cálculo por meio do coeficiente z, pode ser considerada a formulação de segurança
em que se calculam os efeitos de 2ª ordem das cargas majoradas de f/f3, que posteriormente são majorados de
f3.
Em estruturas com comportamento não-linear, como no caso de um edifício de concreto armado, o cálculo com
f3 = 1,1 resulta em valores finais menores quando comparados com a aplicação direta de f = 1,4 (f3 = 1,0).
Conforme mostrado no último exemplo 5, foi possível constatar a afirmação acima por meio de um exemplo no
qual utilizamos a análise P-. No caso do uso do coeficiente z, sua formulação deve ser adaptada então da
seguinte forma:
1
z = , com f3 = 1,0 ou  = 1,1.
M tot, d 1
1− 
M 1,tot, d  f3
Note que, para f3 = 1,1 o valor do coeficiente z obtido é menor do que quando adotado f3 = 1,0.

Efeitos globais nos pilares


A análise global em 2ª ordem gera efeitos adicionais tanto nas vigas como nos pilares.
Na modelagem global usualmente adotada para o cálculo de edifícios de concreto armado, como por exemplo, o
pórtico espacial, a influência dos efeitos globais de 2ª ordem se concentra no topo e na base de cada lance de
pilar, uma vez que cada um desses trechos é discretizado com apenas um único elemento (barra). Veja a figura
a seguir.

72
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
EXEMPLO 4
Fazer um estudo das solicitações globais de 2ª ordem nos pilares do edifício hipotético apresentado a seguir,
via 0,95.z e P-, com f3 = 1,0 e f3 = 1,1.
O edifício possui simetria na duas direções. A não-linearidade física foi considerada de forma aproximada:
0,8.EIc para pilares e 0,4.EIc para vigas.
a) Quais os valores de z para os ventos a 180o
(lateral ) e 90o (frontal ↑), com f3 = 1,0?
b) Para o pilar P4, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção menos
rígida para a combinação 17
(PP+PERM+0,8.ACID+VENT180 o)?
c) Calcular o valor característico da força
normal e momento fletor na base em torno
da direção menos rígida do pilar P4, lance 1,
utilizando o processo aproximado com z.
d) Para o pilar P6, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção mais
rígida para a combinação 10
(PP+PERM+ACID+0,6.VENT90 o)?
e) Calcular o valor característico da força
normal e momento fletor na base em torno
da direção mais rígida do pilar P6, lance 1,
utilizando o processo aproximado com z.

f) Quais os valores de z para os ventos a 180o


(lateral ) e 90o (frontal ↑), com f3 = 1,1?
g) Para o pilar P4, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção
menos rígida para a combinação 17
(PP+PERM+0,8.ACID+VENT180 o)?
h) Calcular o valor característico da força
normal e momento fletor na base em torno
da direção menos rígida do pilar P4, lance 1,
utilizando o processo aproximado com z.
i) Para o pilar P6, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção mais
rígida para a combinação 10
(PP+PERM+ACID+0,6.VENT90 o)?
j) Calcular o valor característico da força
normal e momento fletor na base em torno
da direção mais rígida do pilar P6, lance 1,
utilizando o processo aproximado com z.

73
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

k) Quais os valores de z para os ventos a 180o


(lateral ) e 90o (frontal ↑), com f3 = 1,1?
l) Para o pilar P4, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção menos
rígida para a combinação 17
(PP+PERM+0,8.ACID+VENT180 o), utilizando
o processo P-?
m) Para o pilar P6, lance 1, qual o valor
característico da força normal e momento
fletor na base em torno de sua direção mais
rígida para a combinação 10
(PP+PERM+ACID+0,6.VENT90 o), utilizando o
processo P-?

n) Montar uma tabela geral com os resultados obtidos e fazer uma análise crítica dos mesmos.

74
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

75
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

IMPERFEIÇÕES GEOMÉTRICAS GLOBAIS


Todo edifício, quando executado num canteiro de obra, está sujeito ao aparecimento de desvios geométricos,
isto é, distorções na forma e no posicionamento dos elementos estruturais originados durante a sua
implantação.
Estas “falhas” de construção, chamadas de imperfeições geométricas, são praticamente inevitáveis e aleatórias.
Podem ser grandes ou pequenas.

Toda estrutura é geometricamente imperfeita!

Muito embora não tenha o controle direto dessa situação de obra, o Engenheiro de Estruturas deve
obrigatoriamente levar em conta as imperfeições geométricas durante a elaboração do projeto, pois as mesmas,
na maioria dos casos, não estão cobertas pelos coeficientes de segurança.

Os pilares são elementos altamente sensíveis às imperfeições geométricas!

Muito embora as imperfeições geométricas gerem repercussão em toda a estrutura, nos pilares a influência é
muito mais significativa. E, por isso, os mesmos precisam ser adequadamente dimensionados de modo a
resistir, dentro de certa tolerância, às solicitações extras devido ao aparecimento destes desvios.
É obrigatório considerar as imperfeições geométricas no cálculo de pilares de edifícios de concreto armado.

76
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A NBR 6118:2014, item 11.3.3.4 “Imperfeições geométricas”, divide as imperfeições geométricas em dois
grupos:
• Imperfeições geométricas globais.
• Imperfeições geométricas locais.

Imperfeições geométricas globais

As imperfeições globais se referem ao edifício como um todo, ou seja, é como se a estrutura inteira ficasse
inclinada (em desaprumo) para um dos lados, ocasionando esforços adicionais principalmente nas vigas e nos
pilares, devido à presença simultânea das cargas verticais.
A NBR 6118:2014, item 11.3.3.4.1 “Imperfeições geométricas globais”, define situações em que os efeitos do
desaprumo global devem ser considerados.
De maneira geral, pode-se dizer que o desaprumo global somente é mais desfavorável que o vento em
edificações baixas submetidas a cargas verticais elevadas (ex: construções industriais).
Em edifícios mais altos, normalmente o vento é preponderante, muito embora existam casos particulares na
qual esta afirmação não se confirme (ex: edifício com uma face delgada na qual a pressão de vento é muito
baixa).
Os efeitos das imperfeições geométricas globais são calculados por meio de modelos que contemplam toda a
estrutura, como por exemplo, um pórtico espacial. Há diversas maneiras de simular a presença do desaprumo
global. Uma delas é aplicar momentos nos nós a partir do deslocamento da força vertical gerado pela rotação a.
Uma outra possibilidade é inclinar toda a geometria da estrutura por a. Essas duas opções são similares.
No livro de comentários da NBR 6118 publicado pelo Ibracon, indica-se a possibilidade de simulação da
imperfeição geométrica global por meio de cargas horizontais equivalentes. Veja a seguir.

77
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

EFEITOS LOCAIS DE 2ª ORDEM


Os efeitos locais de 2ª ordem estão relacionados a uma parte isolada da estrutura. Ex: um lance de pilar sob a
atuação de momentos fletores no seu topo e na sua base se deforma. Com isso, geram-se efeitos adicionais
devido à presença simultânea da carga normal de compressão, chamados de efeitos locais de 2ª ordem.

Efeitos locais nos pilares


No item 15.7.4 da NBR 6118:2014, tem-se:
“A análise global de 2ª ordem fornece apenas os esforços nas extremidades das barras, devendo ser realizada uma
análise dos efeitos locais de 2ª ordem ao longo dos eixos das barras comprimidas, ...”

78
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

“Os elementos isolados, para fins da verificação local, devem ser formados pelas barras comprimidas retiradas da
estrutura, com comprimento le, ..., porém aplicando-se às suas extremidades os esforços obtidos através da análise
global de 2ª ordem.”

79
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Comprimento le
Na análise dos efeitos locais de 2ª ordem, é fundamental definir corretamente o comprimento equivalente le.
No item 15.6 da NBR6118:2014, ”Análise de estruturas de nós fixos”, é apresentada uma formulação em que o
valor do comprimento equivalente é definido a partir dos elementos que vinculam o pilar (vigas) e da dimensão
do mesmo. Porém, o cálculo segundo esse item somente deve ser adotado quando os elementos de travamento
do lance do pilar estiverem muito bem definidos.
Veja o exemplo a seguir.

80
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

É fácil perceber que o topo do pilar não está


travado pela viga segundo a direção de menor
rigidez.

Vinculações no topo e na base

As condições de vinculação no topo e na base do lance do pilar é extremamente relevante na avaliação dos
efeitos locais de 2ª ordem. Por exemplo, um pilar com 3 m de pé-direito, biapoiado, terá resultados bastante
distintos se considerado apenas engastado na base.
Atualmente, nos processos de cálculo usuais, apenas certas condições de vinculações aproximadas são
consideradas, muito embora, na vida real, um lance de pilar imerso no interior da estrutura de um edifício usual
de concreto armado se comporte de forma intermediária entre as situações.

Índice de esbeltez limite 1


Partindo do princípio básico de que os efeitos de 2ª ordem podem ser desprezados desde que a magnitude dos
mesmos seja inferior a 10% da resposta total, a NBR 6118:2014, em seu item 15.8.2 “Dispensa da análise dos
efeitos locais de 2ª ordem”, estabelece um índice de esbeltez limite calculado pela seguinte fórmula:
e1
25 + 12,5.
35  1 = h  90
b
Essa é uma das grandes melhorias da atual norma de concreto em relação à anterior NBR 6118:1980, que
fixava um valor limite constante igual a 40.

81
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Além de depender da excentricidade relativa e1/h, o valor de 1 é altamente influenciado pelo coeficiente b,
que procura levar em conta o tipo de vinculação nos extremos do pilar, bem como a forma do diagrama de
momentos fletores.

Coeficiente b
O coeficiente b é calculado da seguinte forma:
MB
a) 0,4   b = 0,6 + 0,4.  1,0 para pilares biapoiados sem cargas transversais, sendo MA o maior valor
MA
absoluto do momento fletor ao longo do pilar e MB o momento na outra extremidade, com sinal positivo se
tracionar a mesma face que MA e negativo em caso contrário.
MC
b) 0,85   b = 0,8 + 0,2.  1,0 para pilares engastados, sendo MA o momento no engaste e MC o momento
MA
na meio do pilar em balanço.
c)  b = 1,0 para pilares com momentos inferiores ao M1d,mín ou pilares biapoiados com cargas transversais
significativas.

A expressão definida em (a) equivale a dizer


M B  −0,5.M A , ou seja, o momento com o valor
menor (MB) deve ser no mínimo maior que
metade do momento maior (MA) com sinal
invertido. Veja, ao lado, um exemplo:

EXEMPLO 5
Para pilares bi-apoiados, calcular o coeficiente b para os seguintes casos:

Imaginando uma excentricidade relativa e1/h = 0,08, calcule o índice de esbeltez limite 1 para cada um dos
casos.

82
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Representação em planta
Independente do método a ser aplicado na análise dos efeitos locais de 2ª ordem, é muito importante
“enxergar” com clareza a influência dos mesmos no comportamento de um pilar.
Para isso, vamos recorrer ao uso da representação em planta.
Seja um pilar submetido a uma flexão composta oblíqua, com esforços de 1ª ordem apresentados na figura a
seguir.

Como a variação dos momentos de 1ª ordem entre o topo e a base é linear em ambas as direções, fica então
definida uma reta na representação em planta.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Adotando-se um método geral para calcular o pilar, é possível então perceber que os efeitos locais de 2ª ordem
tendem a gerar esforços adicionais no sentido levar o mesmo à ruína (ELU), conforme mostra a figura a seguir.

Os efeitos de 2ª ordem tendem a levar os esforços totais ao longo do lance para fora da curva resistente,
na direção crítica onde o pilar é mais esbelto.

Não-linearidade física e
A revisão dos conceitos sobre as não-linearidades presentes em estruturas de concreto armado
(momento-curvatura, coeficiente γf3, ...) realizada anteriormente não foi feita à toa, visto que no cálculo dos
efeitos locais de segunda ordem, duas questões são a chave para a solução do problema:
• Como considerar a não-linearidade física (NLF)?
• Como considerar a não-linearidade geométrica (NLG)?
• Em outras palavras, na análise de um lance de pilar, temos duas perguntas principais a responder:
• Qual rigidez EI deve ser considerada?
• Como se deformará o pilar à medida que o carregamento é aplicado?

Para cada uma dessas questões existem soluções distintas, umas mais aproximadas e outras que tratam o
problema de forma mais refinada. Daí é que surgem os diferentes métodos presentes na NBR 6118:2014.
84
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Processos de cálculo – NBR 6118:2014
A NBR 6118:2014 permite o uso de 4 métodos para análise local de 2ª ordem. São eles:

Os três primeiros métodos são considerados processos aproximados e são descritos no item 15.8.3.3 da
NBR 6118:2014, enquanto que o Método geral, como a própria nomenclatura já deixa meio evidente, é um
processo mais abrangente e sofisticado.
Vale lembrar que na extinta NBR 6118:1980 havia apenas um método disponível, o pilar-padrão com
curvatura aproximada, cuja formulação era praticamente similar à atual.
Cada um desses métodos possui limitações próprias, e por isso, podem ser aplicados desde que a esbeltez
do pilar esteja dentro de um certo patamar. Evidentemente, os processos aproximados possuem uma
limitação maior.
Estudaremos cada um desses métodos detalhadamente mais adiante.

Esbeltez limite

Os métodos do pilar-padrão com 1/r aproximada e pilar-padrão com κ aproximada podem ser utilizados em
pilares com esbeltez máxima igual a 90. O método do pilar-padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r é limitado
para uma esbeltez máxima de 140. O método geral, por sua vez, pode ser usado até um limite de 200.

Acima desse valor, a norma não permite o uso de nenhum método, a não ser em casos de postes onde a
força normal de compressão é baixa.

Métodos aproximados
Antes mesmo de iniciar o estudo da formulação de cada um dos métodos aproximados, pela
própria nomenclatura dos mesmos é possível tirar algumas conclusões prévias. Note que os três
processos aproximados fazem o uso de um termo comum: “pilar-padrão”.

O que é pilar-padrão?
Conforme já sabemos, o cálculo da deformada do lance de um pilar à medida que o carregamento é
aplicado sobre o mesmo, é um dos desafios presentes na análise local em 2ª ordem. Como tratar a não-
linearidade geométrica num lance de pilar?
O método do pilar-padrão consiste numa aproximação que pressupõe que a deformada final do pilar
será representada por uma curva senoidal. Existem inúmeros estudos que comprovam a eficiência
dessa simplificação, válida até um determinado limite de esbeltez.

85
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Uma vez definida a forma final do lance do pilar (senóide), é possível então chegar a uma solução analítica para
o problema da não-linearidade geométrica, obtendo-se expressões relativamente simples que podem ser
utilizadas no cálculo do pilar.
Dessa forma, conclui-se que os três processos aproximados presentes na NBR 6118:2014, tratam a não-
linearidade geométrica (NLG) de forma idêntica.

O que diferencia um método aproximado do outro é justamente as diferentes maneiras de considerar a outra
não-linearidade, a física (NLF).

Pilar-padrão melhorado

O método do pilar-padrão comum considera toda a deformação do pilar (1ª ordem + 2ª ordem) como sendo
uma curva senoidal. Existe também o método do pilar-padrão melhorado em que apenas a deformada de 2ª
ordem é considerada senoidal. Esse último processo não será objeto de estudo nesse curso.

PILAR-PADRÃO COM 1/R APROXIMADA


Aplicabilidade
Esse método pode ser empregado apenas para pilares com  ≤ 90, seção constante e armadura simétrica e
constante ao longo de seu eixo.

Não-linearidade geométrica
Admite-se que a deformação da barra seja senoidal (pilar-padrão).

86
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Não-linearidade física
A rigidez do lance do pilar é obtida por meio da definição de uma curvatura aproximada na seção crítica.

Formulação
A formulação é extremamente simples e possibilita o cálculo manual. O momento total (1ª ordem + 2ª ordem)
máximo no pilar é calculado pela seguinte expressão:
l e2 1 1 0,005 0,005
M d ,tot =  b .M 1d , A + N d . .  M 1d , A , sendo = 
10 r r h.( + 0,5) h
onde:
N Sd
= e M 1d , A  M 1d ,mín
Ac . f cd
O momento de 2ª corresponde à parcela Nd.(le2/10).(1/r).
Note que não é necessário conhecer previamente a armadura do pilar para aplicar as fórmulas acima.

87
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 6
Calcular os efeitos locais de 2ª ordem pelo método do pilar-padrão com 1/r aproximada e dimensionar a
armadura do pilar a seguir.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

89
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

NUM SISTEMA COMPUTACIONAL


No exemplo anterior, os esforços locais de 2ª ordem foram calculados pelo método do pilar-padrão com 1/r
aproximada de forma 100 % manual. Foi possível dimensionar a armadura necessária por meio de um ábaco -
-, também sem a necessidade de um computador.
Foi possível calcular os efeitos locais de 2ª ordem e dimensionar a armadura inteiramente à mão!
Na prática profissional de projetos, entretanto, esses procedimentos são integralmente realizados com o auxílio
de um sistema computacional. Isso é necessário porque são inúmeros os pilares e combinações de ações no
projeto de um edifício real, tornando inviável a execução de todas as contas necessárias de forma manual.
Imagine o trabalho de se calcular e dimensionar o pilar anterior para 20 combinações ELU! Depois, imagine que
este mesmo pilar possui 20 lances! Finalmente, imagine que existam 20 pilares similares a ele presentes na
estrutura do edifício! Seria totalmente improdutivo querer fazer tudo à mão, ainda mais correndo um risco
evidente de se fazer alguma conta errada.
Diante deste cenário, como em qualquer etapa de um projeto estrutural assistido por computador, torna-se
fundamental compreender claramente o funcionamento do sistema computacional que está sendo utilizado e

90
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
conhecer os aspectos teóricos que foram adotados na implementação do mesmo, a fim de utilizá-lo com a
segurança e a eficiência desejada.
O caminho trilhado por um software para calcular, dimensionar e detalhar os pilares de um edifício real é
bastante complexo. O número de contas executados pelo computador é gigantesco para que se tenha o
resultado final desejado (desenho das armações). Invariavelmente, os relatórios com resultados parciais
atingem a casa dos milhares de linhas.
Resumidamente, o cálculo de um pilar por meio de um sistema computacional é realizado do seguinte forma:

Etapa 1: Definição de Dados (Concepção Estrutural)


Nesta etapa inicial, o Engenheiro define os materiais (classe do concreto) dos elementos e as ações (verticais e
horizontais) em que o edifício estará submetido.

A geometria de todos os pilares do edifício é definida graficamente pelo Engenheiro.

91
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Etapa 2: Modelagem Global
Com os dados da Etapa 1, o sistema gera um modelo global (Pórtico Espacial) compatível com todas as
informações definidas pelo Engenheiro. Nesse modelo, cada lance de pilar é simulado por uma única barra.
É por meio desse modelo global que se calculam as solicitações iniciais, os esforços devidos às imperfeições
geométricas globais e as solicitações globais de 2ª ordem (0,95.z ou P-), para cada uma das combinações de
ações ELU necessárias para o dimensionamento dos pilares.

Etapa 3: Transferência de Esforços


Usualmente, a integração entre os subsistemas de análise e os subsistemas de dimensionamento é realizada por
meio do que se chama de "transferência de esforços".

Essa transferência de esforços é efetuada através da gravação de arquivos de dados no disco, que
posteriormente são lidos durante a análise local e o dimensionamento dos pilares.
Lembre-se sempre que todo dimensionamento das armações é baseado em arquivos gravados durante a
transferência de esforços. Ao reprocessar um pórtico espacial, é imprescindível executar essa transferência
para que o dimensionamento dos elementos (pilares) fique compatível com a análise estrutural global.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Esforços transferidos
São transferidos a força normal (N) e os momentos fletores nas duas direções (M y e Mz) de cada trecho de pilar,
que atuam concomitantemente em cada combinação última (ELU1 ou ELU2) definida no pórtico espacial ELU. A
envoltória ELU2 é considerada apenas quando a redução de sobrecargas está ativada no edifício. Os momentos
torsores e as forças cortantes são desprezadas.

Etapa 4: Modelagem Local


Nesta etapa, cada lance ou trecho de pilar é analisado isoladamente por meio de um modelo local, cujas
solicitações de partida são os esforços transferidos do modelo global.
É por meio da modelagem local que se calculam os esforços devidos às imperfeições geométricas locais e as
solicitações locais de 2ª ordem (métodos aproximados ou método geral), para cada uma das combinações
de ações ELU necessárias para o dimensio

Definição de vinculações no topo e na base


Na modelagem local, é fundamental definir corretamente as condições de vínculo no topo e na base do lance
para cada uma das direções, de tal forma a se extrair o comprimento equivalente (le) para análise.
É importante lembrar que num mesmo trecho de pilar é possível ter condições de vínculo totalmente distintas
nas duas direções.

93
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Montagem de carregamentos
Nesta fase, os esforços locais de 2ª ordem são calculados de acordo com o método estabelecido nos critérios de
projeto (isso ficará mais claro ao longo dos exemplos seguintes).
Para cada lance dos pilares dos edifícios, montam-se carregamentos finais para o dimensionamento dos
mesmos contendo todas as diversas condições de solicitação de cálculo (Sd).
Usualmente, num edifício real, a listagem com os carregamentos montados é bastante extensa.

Etapa 5: Dimensionamento
Definição das configurações de armaduras
A partir da definição de espaçamentos limites entre barras longitudinais (mínimos e máximos), bitolas limites
como também das taxas de armaduras limites (todos são critérios de projeto), torna-se possível pré-determinar
as possíveis configurações de armaduras na seção representativa do lance do pilar.

Dimensionamento
Uma vez conhecidas as solicitações de cálculo (Sd) oriundas da montagem de carregamentos e as configurações
de armaduras que possibilitam determinar a resistência da seção (Rd), e que pode ser representada por uma
curva de interação N-Mx-My, é possível verificar a condição Sd ≤ Rd.
Dessa forma, para cada bitola de armadura longitudinal, é possível determinar uma configuração (posição das
barras na seção transversal) em que a condição acima é respeitada (ou não).

Etapa 6: Detalhamento
Seleção de configuração
Durante o dimensionamento, foram determinadas as configurações possíveis para cada bitola de armadura
longitudinal. Fica faltando, então, selecionar a configuração que melhor se adapte ao trecho em questão. Essa
condição deve se adequar às condições de transição de um lance para outro.

Detalhamento
Uma vez selecionada a configuração de armadura na seção, é necessário definir o comprimento das barras
levando-se em conta importantes questões com relação ao transpasse e ancoragem das barras.
É importante lembrar que também nessa fase deve-se definir a armadura transversal

94
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Etapa 7: Desenho

Com todos os dados definidos anteriormente, cabe


finalmente gerar um desenho que represente
graficamente o pilar calculado, que deve conter
todas as informações necessárias para sua
execução na obra.

EXEMPLO 7
Como o sistema computacional calcula e dimensiona o pilar analisado anteriormente?
O objetivo deste exemplo é demonstrar como o pilar dimensionado anteriormente foi calculado por meio do
sistema computacional.
Primeiramente, é importante estar ciente de que os esforços apresentados no enunciado do problema (NSd = 84
tf, MSd = 4,8 tf.m e MSd = -2,4 tf.m) são oriundos da modelagem global, usualmente baseada no modelo de pórtico
espacial. Esses esforços devem representar as solicitações iniciais, acrescidas dos esforços globais de 2ª ordem
e dos efeitos devidos às imperfeições geométricas globais, da forma mais fiel e realista possível. Trata-se do
ponto de partida para que a análise local dos esforços de 2ª ordem seja devidamente realizada.
a) Analisar os esforços no pórtico espacial e entender o sistema de coordenadas.
b) Analisar critérios de projeto.
c) Analisar os resultados no relatório “Montagem de carregamentos”.
d) Quais os outros tipos de configurações de armaduras possíveis?
e) Analisar os resultados no editor de geometria, esforços e armaduras. Que dados podem ser alterados
sem reprocessar a montagem de carregamentos?
f) Calcular os efeitos locais de 2ª pelo método do pilar-padrão com 1/r aproximada e dimensionar a
armadura para o pilar a seguir, aumentando a força normal em 50 % e 100 %.
Resposta item f)

95
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

PILAR-PADRÃO COM  APROXIMADA


Aplicabilidade
O método do pilar-padrão com rigidez  aproximada pode ser adotado na análise de pilares retangulares com
 ≤ 90, com armadura simétrica e constante ao longo de seu eixo.

Não-linearidade geométrica
Admite-se que a deformação da barra seja senoidal (pilar-padrão).

Não-linearidade física
A não-linearidade física no lance do pilar é considerada por meio de uma expressão aproximada para rigidez,
cuja dedução foi obtida durante a tese de doutoramento do prof. Ricardo França.
O valor da rigidez é tomado de forma adimensional e é denominado de rigidez  (“kapa”).

Formulação
Assim como o método do pilar-padrão com 1/r aproximada, a formulação do pilar-padrão com  aproximada é
simples e possibilita o cálculo manual.
Segundo a formulação apresentada na NBR 6118:2014, o cálculo do momento total máximo MSd,tot deve ser
realizado de forma iterativa em função da rigidez adimensional , de acordo com as seguintes fórmulas:
 b .M S1d , A
M Sd ,tot =
2
1−
120. /
 M Sd ,tot 
 = 32.1 + 5. .
 h.N Sd 

O momento de 2ª ordem é calculado por uma amplificação da 1ª (b.MS1d,A).


Note que não é necessário conhecer previamente a armadura do pilar para aplicar as fórmulas acima.
Essa formulação foi inteiramente definida pelo Profº Ricardo França na sua tese de doutoramento
“Contribuição ao estudo dos efeitos de segunda ordem em pilares de concreto armado”.

PP com 1/r aproximada X PP com rigidez  aproximada

96
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Aparentemente, a formulação acima é bastante distinta da formulação do método do pilar-padrão com 1/r
aproximada. No entanto, a única diferença se concentra na consideração na não-linearidade física, ora adotando
um valor aproximado para 1/r, ora um valor aproximado para rigidez ().
Veremos, mais adiante, que para valores equivalentes de 1/r e rigidez, o resultado final (M Sd,tot) é o mesmo,
comprovando que a aproximação pela curva senoidal (pilar-padrão) é similar em ambos os métodos.

EXEMPLO 8
Calcular os efeitos locais de 2ª pelo método do pilar-padrão com rigidez  aproximada e dimensionar a
armadura para o pilar a seguir.

Depois, recalcular e analisar o mesmo no sistema computacional, adotando o método do pilar-padrão com
rigidez κ aproximada.

97
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

98
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Cálculo direto sem a necessidade de iterações


Conforme já observado, a formulação do método do pilar-padrão com rigidez  aproximada presente na NBR
6118:2014 prevê um processo iterativo, pois a fórmula do M depende de , que por sua vez possui uma
expressão dependente de MSd,tot.
Embora a convergência do método não seja demasiadamente trabalhosa, necessitando normalmente de até 3
ou 4 iterações, pode-se também utilizar uma formulação que evita o processo iterativo.

 M Sd ,tot   .M
Substituindo a equação  = 32.1 + 5. . em M Sd ,tot = b S12d , A
 h.N Sd  
1−
120. /
e considerando M S1d =  b .M S1d , A , obtém-se:

 A = 5.h

 N .l 2
,tot + B.M Sd ,tot + C = 0 , onde:  B = h 2 .N Sd − Sd e − 5.h.M S1d
2
A.M Sd
 320
C = − N Sd .h .M S1d

2

− B + B 2 − 4. A.C
M Sd ,tot =
2. A
sendo: h a altura da seção na direção analisada, le o comprimento equivalente do lance do pilar, NSd a força
normal solicitante com seu valor de cálculo e MS1d o momento solicitante de 1ª ordem na seção considerada
com o seu valor de cálculo.
A formulação que possibilita o cálculo direto sem a necessidade de iterações que acaba de ser apresentada gera,
obviamente, resultados compatíveis com o processo iterativo.

99
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
EXEMPLO 9
Calcular os efeitos locais de 2ª pelo método do pilar-padrão com rigidez  aproximada (formulação direta) e
dimensionar a armadura para o pilar a seguir.

Depois, efetuar e analisar o cálculo no sistema computacional.

100
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

101
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

DIAGRAMA N, M, 1/R (NBR 6118:2014)


Durante a revisão sobre o comportamento não-linear das estruturas de concreto armado, foi demonstrado que
o principal efeito da não-linearidade física pode ser considerado por meio das relações N, M, 1/r, nas quais é
possível extrair a rigidez EI necessária para análise.
A seguir, vamos estudar com maiores detalhes o diagrama N, M, 1/r proposto na NBR 6118:2014, que serve
como base para aplicação de processos mais refinados no cálculo de pilares (pilar-padrão acoplado a diagramas
e método geral).
No item 15.3 da NBR 6118:2014, tem-se:
“A não-linearidade física, presente nas estruturas de concreto armado, deve ser obrigatoriamente considerada.”
No item 15.3.1 da NBR 6118:2014, tem-se:

102
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
“O principal efeito da não-linearidade pode, em geral, ser considerado através da construção da relação momento-
curvatura para cada seção, com armadura suposta conhecida, e para o valor da força normal atuante.”

“Pode ser considerada também a formulação de segurança em que se calculam os efeitos de 2ª ordem das cargas
majoradas de f/f3, que posteriormente são majorados de f3, com f3 = 1,1, ...”
Espera-se que, com as informações transmitidas anteriormente, essas afirmações estejam bem claras. Já vimos
que a não-linearidade física pode ser analisada com o uso do diagrama N, M, 1/r, bem como a influência da
força normal e da armadura na montagem do mesmo. Estudamos também a influência do f3 no comportamento
de uma estrutura.

Tensão de pico igual a 1,1.fcd


Faltam mais alguns poucos detalhes para compreendermos plenamente o diagrama da norma. No item 15.3 da
NBR 6118:2014, tem-se:
“A deformabilidade dos elementos deve ser calculada com base nos diagramas tensão-deformação dos materiais. A
tensão de pico do concreto deve ser igual a 1,1.fcd, ...”
A tensão de pico do concreto foi elevada em 30% em relação ao 0,85.f cd (0,85 * 1,3 ≈ 1,1) de tal forma a
uniformizar a condição das seções ao longo de todo lance de um pilar no Estado Limite Último (ELU). Imaginar
que, no momento da perda de estabilidade, será atingido o esgotamento da capacidade de todas as seções
simultaneamente seria um tanto exagerado.
Portanto, exclusivamente para avaliar a deformabilidade de um lance pilar, que terá influência direta no cálculo
dos efeitos de 2ª ordem, deve-se utilizar 1,1.fcd.

Objetivo do diagrama
O diagrama N, M, 1/r proposto pela NBR 6118:2014 é mostrado a seguir:

Em primeiro lugar, é importante deixar bem claro o seguinte: o objetivo principal é extrairmos desse diagrama
uma rigidez que permita fazer a análise dos efeitos de 2ª ordem em um pilar de tal forma que a não-linearidade
física seja bem retratada.

103
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Curva com 0,85.fcd

A curva com o tradicional


0,85.fcd somente serve para
definir o momento resistente
último de cálculo (MRd) no
Estado Limite Último (ELU), e
não para extrair a rigidez EI.
Essa curva deve ser montada
fixando-se um força normal
atuante igual à NSd.

Curva com 1,1.fcd

Esta, sim, é a curva na qual


deve ser extraída a rigidez EI
para consideração da
deformabilidade do pilar.

Na realidade, a curva montada com uma tensão de pico igual a 1,1.fcd atinge um patamar acima do MRd calculado
com 0,85.fcd, conforme mostra a figura a seguir.

Porém, de ponto de vista prático, tudo que está acima de MRd não tem validade real, pois está além da
resistência admitida pela seção no ELU.
104
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Dessa forma, principalmente com o intuito de otimizar o tempo de processamento, em geral, os sistemas
computacionais apenas utilizam a curva com 1,1.fcd até o ponto B que define a rigidez que se deseja calcular.

Linearização – Reta AB
Na curva com 1,1.fcd, a rigidez EI varia de acordo com a magnitude do momento fletor (é uma curva). Ou seja,
num lance de pilar, onde há a variação dos esforços entre o seu topo e a sua base, ficam então definidos
diferentes níveis de rigidezes.

Correto. Porém, não seria interessante ter uma maneira de obter uma rigidez única que pudesse se aplicada ao
longo de todo lance, a favor da segurança obviamente?
Outra questão: na extração da rigidez EI na curva não deveria ser levado em conta o esforço concomitante
na outra direção y?

A linearização por meio da reta AB responde exatamente essas questões, pois ela define uma rigidez constante
EIsec que pode ser utilizada ao longo de todo lance, tanto na análise à flexão composta normal como na oblíqua
(a rigidez pela curva não pode ser utilizada na flexão composta oblíqua).
Veja, a seguir, um gráfico com várias curvas N, M, 1/r montadas para diversos níveis de solicitação na direção y.
Note que a reta AB sempre fornece uma rigidez EIsec a favor da segurança (menor), independente da magnitude
do esforço na outra direção. Ou seja, as direções são desacopladas.

A proposta para linearização do diagrama N-M-1/r é explicada com detalhes na tese de doutoramento do Profº
Ricardo França (capítulo 5).

105
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Coeficiente f3
Alternativamente (não é obrigatório), pode-se fazer o uso do coeficiente f3 = 1,1 na obtenção da rigidez EIsec.
Nesse caso, a curva com 1,1.fcd é montada com uma força normal igual a NRd/f3, e o esforço para definição da
reta deve ser igual MRd/f3.

A rigidez EI é calculada no ponto B (MRd/1,1), pois com a aplicação de NRd/1,1 jamais se atingirá o MRd na sua
totalidade.
Vale lembrar que a adoção de f3 = 1,0, que também é válida, leva a uma rigidez menor (a favor da segurança)
que a obtida com f3 = 1,1.

Seção não-padrão
A obtenção da rigidez EIsec por meio da linearização do diagrama N, M, 1/r já foi amplamente testada e validada
para seção retangular com armadura simétrica. Nos demais casos, deve-se ter precaução.
Veja, a seguir, como fica o diagrama N, M, 1/r para uma seção com formato em “L”, segundo seu eixo principal
de menor inércia. Note que há diferentes rigidezes secantes EIsec para cada sentido da solicitação.

106
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Nesse caso, qual rigidez deve ser adotada na análise da deformabilidade do pilar, 9042,7 tf.m2 ou 10052,2 tf.m2?
Pesquisas atuais estão sendo realizadas para solucionar essa questão. A princípio, enquanto não se tem uma
resposta definitiva, sugere-se tomar o valor a favor da segurança (9042,7 tf.m2).

PILAR-PADRÃO ACOPLADO A DIAGRAMAS N, M, 1/R


Aplicabilidade
Esse método pode ser empregado apenas para pilares com  ≤ 140.

Não-linearidade geométrica
Admite-se que a deformação da barra seja senoidal (pilar-padrão).

Não-linearidade física
A não-linearidade física é considerada por meio da obtenção da rigidez no diagrama N, M, 1/r proposto pela
NBR 6118:2014, conforme mostra a figura a seguir.
Note que há uma relação entre a rigidez secante EIsec e a rigidez adimensional .

107
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Muito embora tenha o mesmo nome da rigidez adimensional calculada no método do pilar-padrão com rigidez
aproximada, essa rigidez  obtida pelo diagrama (rigidez acoplada ao diagrama N, M, 1/r) é mais precisa.
Poderíamos dizer que se trata de uma rigidez “mais refinada”.

Formulação
O momento total máximo MSd,tot é calculado exatamente pela mesma fórmula do método do pilar-padrão com
rigidez aproximada:
 b .M S1d , A
M Sd ,tot =
2
1−
120. /
No entanto, deve-se ficar bem claro que o valor da rigidez  a ser utilizado na fórmula é o obtido pelo diagrama
normal-momento-curvatura, e não a rigidez  aproximada.
Quando se faz o uso do coeficiente f3, a fórmula para obtenção do momento total fica assim:
 b .M S1d , A
M Sd ,tot =
2
1−
120. f 3 . /

Duas observações muito importantes com relação ao método do pilar-padrão acoplado ao diagrama N, M, 1/r:
• Trata-se de um método que, na prática, é mais viável com o uso de um computador, pois como vimos no
início deste curso, a montagem do diagrama N, M, 1/r é extremamente complicada de ser realizada
manualmente.

108
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

• É necessário que a armadura existente no lance do pilar seja previamente conhecida, pois não há
diagrama N, M, 1/r sem armadura definida! Ou seja, o processo de dimensionamento é realizado por um
processo iterativo de verificações.

NBR 6118:2014
Na NBR 6118:2014, item 15.8.3.3.3, o método do pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r é definido da
seguinte forma:
“A determinação dos esforços locais de 2ª ordem em pilares com  ≤ 140 pode ser feita pelo método do pilar-
padrão ou pilar-padrão melhorado, utilizando-se para a curvatura da seção crítica valores obtidos de diagramas
N, M, 1/r específicos para o caso.”

EXEMPLO 10

Dada a seção ao lado, montar o


diagrama N, M, 1/r nas duas
direções principais e extrair os
valores da rigidez secante EIsec e .

109
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 11
Calcular os efeitos locais de 2ª pelo método do pilar-padrão com rigidez  acoplado a diagramas e dimensionar
a armadura para o pilar a seguir.

Depois, efetuar e analisar o cálculo no sistema computacional.

110
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

EXEMPLO 12
Calcular curvatura (1/r) na seção crítica correspondente a rigidez extraída do diagrama N, M, 1/r e recalcular
Md,tot a partir da expressão Md,tot = b.MA + Nd . (le2/10) . (1/r).

111
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

ÁBACOS , µ, 
Foi apresentado anteriormente como extrair da rigidez secante adimensional  a partir da construção de
diagramas N-M-1/r, segundo o que prescreve a NBR 6118:2014. Comentou-se também que esse procedimento
torna-se viável, na prática, com o uso de computadores.
Alternativamente, o valor da rigidez secante adimensional  pode ser colocado em conjunto com valores
últimos NRd e MRd em ábacos de interação força normal-momento fletor (ou -), originando ábacos --. O
procedimento para a construção desses é explicado com detalhes na tese de doutoramento do Profº Ricardo
França. Resumidamente:
• -Conhecida a seção (b x h), o arranjo de armadura (As, d’/h), os materiais (fck, c, fyk e s) e a força normal
(Nd), monta-se o diagrama N, M, 1/r, conforme a NBR 6118:2014. Obtém-se assim os valores de MRd, ,
conforme mostra a figura abaixo.

• Para o ponto analisado, temos então: =Nd/(Ac.fcd), =.[MRd/(Nd.h)], =(As.fyd)/(Ac/fcd) e ; o que é


representado por um ponto no ábaco --.
• Repetindo o procedimento para diversos pontos, e interpolando para obter valores intermediários,
obtém a curva --, conforme mostra a figura a seguir.

112
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A construção de ábacos κ-µ-ν já foi realizada por vários autores. A Engª Patrícia de A. S. Oliveira
montou inúmeros ábacos para seção retangular variando o tipo de arranjo de armaduras e o coeficiente de
fluência φ. Um exemplo é apresentado na página seguinte.

113
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

114
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
EXEMPLO 13

Dada a seção a seguir, montar o


diagrama N, M, 1/r em torno da
direção menos rígida e extrair os
valores da rigidez secante EIsec e .
Em seguida, comparar com valor 
extraído a partir do ábaco --.

Diagrama N, M, 1/r montado na ferramenta computacional.

115
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

116
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
RESUMO (MÉTODOS APROXIMADOS)
A tabela a seguir apresenta um resumo das principais características de cada um dos métodos aproximados.

Pilar-padrão
Pilar-padrão com 1/r Pilar-padrão com
acoplado a diagrama
aproximada rigidez  aproximada
N, M, 1/r

Item da NBR 6118 15.8.3.3.2 15.8.3.3.3 15.8.3.3.4


NLG Pilar-padrão Pilar-padrão Pilar-padrão

1 0,005 0,005  M Sd ,tot  EI sec


NLF =   = 32.1 + 5. . =
r h.( + 0,5) h
 h.N Sd  Ac .h 2 . f cd

Esbeltez limite  ≤ 90  ≤ 90  ≤ 140


Cálculo manual Sim Sim Não(*)
Necessita As
Não Não Não(*)
conhecido
(*) Opcionalmente, podem ser utilizados ábacos --

MÉTODO GERAL
Até o momento, foram apresentados três métodos aproximados para análise dos efeitos locais de 2ª ordem.
Agora, vamos estudar um processo mais abrangente e sofisticado, usualmente chamado de Método Geral.
NBR 6118:2014
O método geral é definido na NBR 6118:2014, item 15.8.3.2, por apenas uma única frase:
“Consiste na análise não-linear de 2a. ordem efetuada com discretização adequada da barra, consideração
da relação momento-curvatura real em cada seção, e consideração da não-linearidade geométrica de maneira
não aproximada.”
Nesse item, não existe nenhuma formulação definida, e muito menos uma descrição detalhada de como
aplicar
o método. Somente existe a definição acima, e nada mais.
Dessa frase, podemos extrair as seguintes informações principais:

117
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Aplicabilidade
O método geral pode ser empregado apenas para pilares com  ≤ 200 e é obrigatório para pilares com  > 140.
Acima desse último limite (140), não se pode aplicar nenhum dos processos aproximados estudados
anteriormente.

Não-linearidade geométrica
As deformações ao longo lance do pilar devem ser analisadas por processo refinado. Não se pode adotar a
aproximação por uma curva senoidal (pilar-padrão).

Existem diferentes maneiras para considerar a não-linearidade geométrica de forma refinada. Uma primeira
alternativa é a partir do diagrama de momentos fletores no lance do pilar, obter as curvaturas (1/r) por meio da
rigidez EI, as rotações (φ) e deslocamentos (d) por meio de integrações sucessivas, e depois, com esses
incrementar os momentos de 2ª ordem nos esforços originais. Esse cálculo é repetido inúmeras vezes até o
acréscimo de esforços ou deslocamentos tender a zero.

Uma outra forma de tratar o problema é utilizar modelos numéricos que possibilitem a análise em 2ª ordem
(equilíbrio na posição deformada), como por exemplo, o cálculo de um pórtico espacial por meio de uma análise
P-δ.
Seja qual for o processo empregado, a informação principal que se busca é a posição final de equilíbrio do lance
do pilar, de tal forma a definir a magnitude total dos efeitos locais de 2ª ordem.

118
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A busca dessa posição de equilíbrio é sempre iterativa. E, por isso, é fundamental que sejam consideradas
tolerâncias que controlem a convergência dos processos de forma eficiente e segura. Usualmente, esses valores
são definidos em “deltas máximos de d

Instabilidade local
Ao empregar um processo aproximado (pilar-padrão com 1/r aproximada, pilar-padrão com  aproximada,
pilar-padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r), a única resposta final que temos é se o lance de pilar passa ou não
em relação à resistência última da seção crítica (ruptura).
Já, no método geral, além dessa informação (ruptura da seção crítica), pode-se flagrar se o lance é estável ou
instável, pois a busca pela posição de equilíbrio do mesmo é iterativa.

119
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Ao adotar o método geral no cálculo de um pilar


demasiadamente esbelto, por exemplo, pode-se se chegar
numa situação de instabilidade quando o número máximo
de iterações definido na análise é alcançado.
Nesse caso, o processo não converge pois os acréscimos de
deslocamentos a cada iteração são superiores à tolerância
adotada. Esse resultado independe do nível de solicitação
da seção crítica em relação à sua resistência.

Não-linearidade física
A não-linearidade física é considerada por meio da obtenção da rigidez no diagrama N, M, 1/r. Essa rigidez
pode ser definida das seguintes formas:
• Pela rigidez secante EIsec obtida pela linearização do diagrama (reta), e que pode ser estendida para
todas as seções do lance. É a forma mais recomendável de se obter a rigidez, pois está a favor de segurança bem
como facilita a análise (desacoplamento das duas direções).

• Pela rigidez secante EI obtida pela curva para cada seção do lance de acordo com a sua solicitação
atuante. Trata-se de um procedimento válido somente para casos de flexão composta normal.

120
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

• Pela rigidez secante oblíqua em que considerem simultaneamente os esforços solicitantes em ambas as
direções dos pilares.

Discretização adequada

No método geral, é fundamental que o


lance do pilar seja discretizado
adequadamente, de tal forma a obter
as respostas em várias seções.

Ao contrário dos processos aproximados em que a definição da seção crítica entre o topo e a base do lance do
pilar era realizada de forma simplificada pelo coeficiente b, no método geral essa seção é definida de forma
bem mais realista.
121
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Em lances de pilares de edifícios usuais, a discretização em 10 trechos é suficiente.

Coeficiente f3
Pode ser considerada a formulação de segurança em que se calculam os efeitos de 2ª ordem das cargas
majoradas de f/f3, que posteriormente são majorados de f3.

Processo de verificação
O método geral é essencialmente um processo de verificação, pois é necessário conhecer previamente a
armadura ao longo do lance do pilar para calcular os esforços de 2ª ordem.

122
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Dessa forma, assim como no método do pilar-padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r, o processo de
dimensionamento pelo método geral é iterativo. Define-se uma armadura e analisa-se o pilar sucessivamente,
até a obtenção de uma armadura necessária.

Cálculo manual
Calcular manualmente um lance de pilar pelo método geral é inviável, visto que é necessário considerar tanto a
não-linearidade física como a geométrica de forma refinada. Na prática, o emprego do método geral somente é
realizado com o uso de um computador.
Cabe ao Engenheiro de Estruturas conhecer a teoria que envolve o método, de tal forma a poder interpretar os
resultados obtidos de forma segura.

Esbeltez acima de 140


Devido ao fato de que pilares de edifícios de concreto armado com esbeltez superior a 140 ainda tenham sido
pouco estudados com o uso do método geral, recomenda-se o uso de um coeficiente ponderador de esforços
adicional (n), cujo valor pode ser entre 1,2 a 1,4.

EXEMPLO 14
Calcular os efeitos locais de 2ª pelo método geral e dimensionar a armadura para o pilar a seguir.

Foi utilizado um sistema computacional para resolver o problema.


O diagrama N, M, 1/r adotado para definição da rigidez secante é mostrado na figura a seguir.

123
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

O resultado final após 12 iterações foi o seguinte:

124
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
EXEMPLO 15
Nesse exemplo, vamos analisar um pilar engastado na base submetido a uma flexão composta normal, que é
objeto de estudo durante o curso do PECE-USP.
Inicialmente, iremos adotar f3 = 1,0 e rigidez EIsec pela reta. Depois, analisaremos os resultados com f3 = 1,1.
Finalmente, veremos o cálculo com a rigidez EI obtida pela curva (válida apenas para casos de flexão composta
normal).

A. Dados

Além da força normal de compressão, o pilar está submetido a uma força horizontal e um momento fletor no
topo segundo a sua direção menos rígida, de tal forma que os esforços de primeira ordem são:

Para montar o diagrama N, M, 1/r, é preciso predefinir uma


configuração de armadura. Como exemplo, vamos adotar 8  16
mm.

B. Cálculos iniciais
12 .(2.3,5)
= = 93,3
0,26

125
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
M A = 2,0 ; M C = 1,3

1,3
 b = 0,8 + 0,2. = 0,93
2,0
 2,0 / 79,8 
25 + 12,5. 
1 =  0,26 
= 28,2 → 1 = 35
0,93
Como  > 1, é necessário calcular os efeitos de 2ª ordem.
Como  > 90, é obrigatório o uso do método geral.
Não verificaremos o M1d,mín com o intuito de focar apenas a análise dos efeitos locais de 2ª ordem. Essa
verificação é obrigatória no caso de dimensionamento.

C. Análise com f3 = 1,0 e EIsec pela reta


O diagrama N, M, 1/r (calculado por computador) com NSd = 79,8 tf e 8  16 mm é apresentado a seguir.

O momento resistente último da seção (MRd) é 7,1 tf.m e a rigidez secante pela reta é igual a 532,5 tf.m2.
Veja, a seguir, os deslocamentos e momentos fletores resultantes ao longo do pilar.

126
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Note que o esforço final na base atinge a resistência última do pilar.

D. Análise com f3 = 1,1 e EIsec pela reta


O diagrama N, M, 1/r (calculado por computador) com NSd = 79,8 tf e 8  16 mm é apresentado a seguir.

O momento resistente último da seção (MRd) continua o mesmo 7,1 tf.m (como era esperado) e a rigidez secante
pela reta aumentou para 567,8 tf.m2.
Como a análise em 2ª ordem é feita com NSd / 1,1 (que posteriormente é majorado por 1,1), bem como uma
rigidez maior, os deslocamentos são menores.

Consequentemente, os momentos fletores finais também diminuem, conforme mostra a figura a seguir.

127
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

E. Análise com f3 = 1,1 e EIsec pela curva


Nesse caso, a rigidez adotada ao longo do lance do pilar é variável de acordo com a solicitação em cada trecho.
Note que as rigidezes obtidas pela curva são maiores.

Devido ao aumento de rigidez ao longo de todo o lance, os deslocamentos e os esforços finais diminuem
bastante.

128
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

F. Conclusões
Resumindo os resultados numa tabela, temos:

f3 Rigidez EI MSd,tot (base)

1,0 Reta (532,5 tf.m2) 7,1 tf.m

1,1 Reta (567,8 tf.m2) 5,5 tf.m

1,1 Curva (entre 780 e 840 tf.m2) 4,2 tf.m


Nesse exemplo, o coeficiente f3 e o modo como a rigidez foi calculada (reta ou curva) foram significativos nos
resultados.

Perceba que os valores obtidos pela curva, nesse exemplo, são bem superiores aos da reta.
Veja, a seguir, como a rigidez em cada seção é calculada utilizando a curva.

129
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Trata-se de uma forma bastante refinada de definir a rigidez ao longo de um pilar, pois cada trecho possui um
EI de acordo com a sua solicitação.

É importante lembrar, no entanto, que essa metodologia somente é válida para casos de flexão composta
normal, visto que os esforços na outra direção são ignorados. Mais adiante, veremos como obter a rigidez EI
oblíqua real.

EXEMPLO 16
Agora, vamos verificar um pilar utilizando todos os métodos definidos na NBR 6118:2014. No caso do método
geral, vamos variar o coeficiente f3, ora com um valor de 1,0 ora com um valor de 1,1, e o modo de como a
rigidez é extraída do diagrama N, M, 1/r, ora pela reta, ora pela curva.

130
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Dada a armadura constante no lance de 12  20 mm (d’ =


4,5 cm), o pilar passa ou não passa?

Trata-se, também, de um exemplo estudado no curso do PECE-USP.

A. Cálculos iniciais
12 .7,5
= = 74,2
0,35
M A = 10,5 ; M B = −2,0
− 2,0
 b = 0,6 + 0,4. = 0,524
10,5
 10,5 / 320 
25 + 12,5. 
1 =  0,35 
= 50
0,524
Como  > 1, é necessário calcular os efeitos locais de 2ª ordem.
Como  < 90, pode-se adotar qualquer um dos métodos aproximados bem como o método geral.
Não verificaremos o M1d,mín com o intuito de focar apenas a análise dos efeitos locais de 2ª ordem. Essa
verificação é obrigatória no caso de dimensionamento.

131
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
B. Pilar-padrão com curvatura aproximada
320
= = 0,985
(0,35.0,65). 2000
1,4
1 0,005 0,005 1
= = 0,00962  = 0,014  = 0,00962
r 0,35.(0,985 + 0,5) 0,35 r

7,5 2
M Sd ,tot = 0,524.10,5 + 320. .0,0962 = 22,8tf .m
10

C. Pilar-padrão com κ aproximada


A = 5.b = 5.0,35 = 1,75

N Sd .l e2 320.7,5 2
B = b 2 .N Sd − − 5.b.M S1d = 0,35 2.320 − − 5.0,35.0,524.10,5 = −26,675
320 320
C = − N Sd .b 2 .M S1d = −320.0,35 2.0,524.10,5 = −215,6

− B + B 2 − 4. A.C 26,675 + − 26,675 2 − 4.1,75. − 215,6


M Sd ,tot = = = 21,1tf .m
2. A 2.1,75
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:
 21,1 
 = 32.1 + 5. .0,985 = 61,2
 0,35.320 
0,524.10,5
M Sd ,tot = = 21,1  OK!
74,2 2
1−
120.61,2 / 0,985

132
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

D. Pilar-padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r


O diagrama N, M, 1/r para a armadura adotada, NSd = 320 tf e f3 = 1,0 é apresentado a seguir.

Note que:
• O momento resistente último MRd na direção analisada é de 14,8 tf.m.
• A rigidez  obtida pelo diagrama (78,6) é bem maior que a rigidez  aproximada (61,2).
O momento total aplicando a rigidez  obtida pelo normal-diagrama momento-curvatura é:
0,524.10,5
M Sd ,tot = = 12,9tf .m
74,2 2
1−
120.78,6 / 0,985
Esse esforço é bem menor que os valores obtidos anteriormente (22,8 tf para pilar-padrão com 1/r aproximada
e 21,1 para pilar-padrão com rigidez  aproximada).

133
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Resolvendo o exemplo com o ábaco apresentado na página 117, temos:

E. Método geral
O diagrama N, M, 1/r para é o mesmo utilizado anteriormente no método do pilar-padrão acoplado a diagrama.

134
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Adotando-se uma tolerância máxima de deslocamentos relativos de 0,1 mm e um número máximo de iterações
igual a 20, chegaremos ao seguinte resultado final.

Note que o momento fletor total na seção crítica (13,3 tf) é maior que o valor obtido pelo método do pilar-
padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r (12,9 tf.m).
Lembrando que para a armadura adotada, tem MRd = 14,8 tf.m.

Note que:
• Quando comparado com o processo mais preciso (método geral), o método do pilar-padrão com 1/r
aproximada superestimou os efeitos locais de 2ª ordem (+71%).
135
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
• Quando comparado com o processo mais preciso (método geral), o método do pilar-padrão com rigidez
 aproximada superestimou os efeitos locais de 2ª ordem (+59%).
• Em relação ao processo mais preciso (método geral), o método do pilar-padrão acoplado a diagrama N,
M, 1/r teve um resultado bem próximo (-3%).

F. Método geral com f3 = 1,1


O diagrama N, M, 1/r (calculado por computador) com NSd = 320 tf e 12  20 mm é apresentado a seguir.

O momento resistente último da seção (MRd) continua o mesmo 14,8 tf.m (como era esperado) e a rigidez
secante pela reta aumentou para 3359,0 tf.m2.
Como a análise em 2ª ordem é feita com NSd / 1,1 (que posteriormente é majorado por 1,1), bem como uma
rigidez maior, os deslocamentos são menores.
Consequentemente, os momentos fletores finais também diminuem, conforme mostra a figura a seguir.

G. Método geral pela curva


Nesse caso, a rigidez adotada ao longo do lance do pilar é variável de acordo com a solicitação em cada trecho.
Note que as rigidezes obtidas pela curva são praticamente as mesmas da reta, pois a curva quase coincide com a
reta.

136
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

E, portanto, nesse caso, os resultados variam muito pouco (como era de se esperar).

H. Conclusões
Resumindo os resultados numa tabela, temos:

Método f3 Rigidez EI MSd,tot Passa

Pilar-padrão com 1/r


1,0 Aprox. (2370 tf.m2) 22,8 tf.m Não
aproximada

Pilar-padrão com  aproximada 1,0 Aprox. (2437 tf.m2) 21,1 tf.m Não

Pilar-padrão acoplado a N, M,
1,0 Reta (3130 tf.m2) 12,9 tf.m Sim
1/r

Método geral 1,0 Reta (3130 tf.m2) 13,3 tf.m Sim

Método geral 1,1 Reta (3359 tf.m2) 12,1 tf.m Sim

Curva (entre 3340 e 3386


Método geral 1,1 11,9 tf.m Sim
tf.m2)

Note que:

137
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
• A maneira como a não-linearidade física é tratada é significativa no resultado final. As rigidezes
aproximadas geram valores finais com uma boa margem de segurança.
• A maneira como a não-linearidade geométrica é tratada (pilar-padrão X processo não-aproximado) não
trouxe grandes diferenças nos resultados.

RESUMO GERAL
Até o momento, estudamos com relativa profundidade todos os processos presentes na NBR 6118:2014 para
análise dos efeitos locais de 2ª ordem. Por meio de exemplos, foi possível perceber as particularidades cada
método e conhecer um pouco das suas vantagens e desvantagens.
O gráfico a seguir faz um resumo geral quanto à aplicabilidade dos métodos em função do índice de esbeltez do
pilar.

No gráfico anterior, a palavra “qualquer” deve ser encarada com certa precaução, pois há casos em que o seu
campo de aplicação ainda não foi devidamente testado e comprovado, sendo necessário estudos mais
aprofundados para se ter uma resposta mais precisa e definitiva.
O próprio Método Geral que é mais abrangente, por exemplo, necessita de mais testes para que seja
comprovada a sua validade para todo e qualquer tipo de pilar (ex.: pilares de seção genérica com índice de
esbeltez acima de 140).
Enquanto não se tem uma resposta definitiva para todos os casos, é sempre conveniente durante a elaboração
de um projeto estrutural, cercar-se de soluções que levem a uma estrutura mais segura, principalmente em
situações “que fogem do trivial”.

138
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
FLEXÃO COMPOSTA OBLÍQUA
Na vida real, todo pilar, seja ele de canto, de extremidade ou intermediário, está submetido a uma força normal
de compressão e a momentos fletores concomitantes nas duas direções, ou seja, a uma flexão composta oblíqua.
Há certos casos em que a aproximação para uma flexão composta normal é possível e defensável,
principalmente quando se quer resolver um problema de forma manual, sem o auxílio de um computador.
Nos sistemas computacionais atuais destinados à elaboração de projetos de estruturas de concreto armado,
todo lance de pilar é analisado nas duas direções. Mesmo que os momentos fletores em uma delas sejam
pequenos, o pilar é dimensionado levando em consideração a existência dos mesmos.
Porém, é importante deixar claro que o que se faz hoje, na prática, é analisar o pilar nas duas direções
separadamente, calculando os efeitos de 2ª ordem e das imperfeições geométricas de forma isolada, e depois ao
final, fazer a composição dos esforços obtidos para o dimensionamento das armaduras. Isto é, nada mais é do
que duas flexões compostas normais que se juntam no fim. Podemos dizer então que se trata de uma análise
oblíqua “simplificada”.

A figura anterior representa bem o que foi colocado. Os esforços são calculados nas direções y e z de forma
independente (um não influi na resposta do outro), e depois são acoplados durante o dimensionamento.
Esse tipo de procedimento, que na realidade é uma simplificação da análise oblíqua verdadeira, é bastante
eficiente desde que certas precauções sejam consideradas, e também é permitido pela norma de concreto atual.

NBR 6118:2014
No item 15.8.3.3.5 da NBR 6118:2014, tem-se:
“Quando a esbeltez de um pilar de seção retangular submetido à flexão composta normal oblíqua for menor que
90 ( < 90) nas duas direções principais, podem ser aplicados os processos aproximados descritos em 15.8.3.3.2,
15.8.3.3.3 e 15.8.3.3.4, simultaneamente, em cada uma das direções.”
“A amplificação dos momentos de 1ª ordem em cada direção é diferente, pois depende de valores distintos de
rigidez e esbeltez.”
“Uma vez obtida a distribuição de momentos totais de 1ª e 2ª ordens, em cada direção, deve ser verificada, para
cada seção ao longo do eixo, se a composição desses momentos solicitantes fica dentro da envoltória de momentos
resistentes para a armadura escolhida. Essa verificação pode ser realizada em apenas três seções: nas
extremidades A e B e num ponto intermediário onde se admite atuar concomitantemente os momentos Md,tot nas
duas direções (x e y).”
É possível perceber que a atual norma de concreto permite, com restrições, adotar a flexão composta oblíqua
“simplificada” utilizando o método do pilar-padrão com rigidez  aproximada.

139
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
A seguir, serão estudados alguns exemplos aplicando esse tipo de procedimento. No final deste capítulo, será
feita uma breve discussão a respeito da análise à flexão composta oblíqua mais precisa.

EXEMPLO 17
Trata-se de um exemplo presente na publicação do Ibracon “Comentários da NB-1”, cujos dados são fornecidos
a seguir.

A. Cálculos iniciais
b = 20cm e h = 60cm
le 300
x = 12. = 12 . = 17,3
h 60
le 300
 y = 12. = 12 . = 52,0
b 20
• Segundo o item 13.2.3, o coeficiente adicional n=1,0.
• Segundo o item 15.8.3.3.3, pode-se adotar o método do pilar-padrão com rigidez  aproximada.
• Segundo o item 15.8.3.1, não é necessário considerar a fluência.

A.1 Cálculo em x
M S1dx, A = 7,0tf .m (70kN.m)

M S1dx, B = −4,0tf .m (-40kN.m)

M S1dx, B −4
 bx = 0,6 + 0,4. = 0,6 + 0,4. = 0,37  0,4   bx = 0,4
M S1dx, A 7

e   M S 1dx, A / N Sd   7 / 210 
25 + 12,5. 1x  25 + 12,5.  25 + 12,5. 
1x =  h =  h =  0,6  = 64,2
 bx  bx 0,4

A.2 Cálculo em y
M S1dy, A = 6,0tf .m (60kN.m)

M S1dy, B = −5,0tf .m (-50kN.m)

140
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
M S1dy, B −5
 by = 0,6 + 0,4. = 0,6 + 0,4. = 0,27  0,4   by = 0,4
M S1dy, A 6

 e1 y  M 
 25 + 12,5. 6 / 210 
/ N Sd
25 + 12,5.  25 + 12,5. S 1dy, A
1 y =  b =  b =  0,2  = 67,0
 by  by 0,4

B. Cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem


Como  x = 17,3  1x = 64,2 e  y = 52,0  1 y = 67,0 , não é necessário calcular os efeitos locais de 2ª ordem
em nenhuma das direções.

C. Esforços finais para dimensionamento


A armadura longitudinal do pilar deverá ser dimensionada de modo que a sua resistência ( N Rd , M Rdx , M Rdy )
atenda as condições de solicitação listadas a seguir. Os valores dos esforços adimensionais ( ,  x ,  y )
apresentados podem ser utilizados em ábacos para o dimensionamento desta armadura.

C.1 Flexão oblíqua no topo do pilar


N Sd = 210tf (2.100kN)   = 0,817

M Sdx = 7,0tf .m (70kN.m)   x = 0,0454

M Sdy = 5,0tf .m (50kN.m)   y = 0,0972

C.3 Flexão oblíqua na base do pilar


N Sd = 210tf (2.100kN)   = 0,817

M Sdx = −4,0tf .m (-40kN.m)   x = −0,0259

M Sdy = −6,0tf .m (-60kN.m)   y = −0,1167

D. Dimensionamento de armadura
Considerando um cobrimento igual a 30mm e uma armadura transversal com diâmetro de 6,3mm, obtém-se
uma possível configuração de armadura longitudinal composta por 10 barras de 20mm (As = 31,4cm2), aço
CA50, na qual todas as condições de solicitação são atendidas, conforme mostra figura a seguir:

141
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Utilizando um Método Geral, no qual considera-se a relação momento-curvatura real em diversas seções ao
longo do pilar e a não-linearidade geométrica de forma não aproximada, obtém-se a seguinte resposta:

EXEMPLO 18
Trata-se do mesmo lance de pilar analisado anteriormente, porém com o diagrama de momentos fletores em
torno da direção menos rígida alterado.

142
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A. Cálculos iniciais
A.1 Cálculo em x
M S1dx, A = 7,0tf .m

M S1dx, B = −4,0tf .m

M S1dx, B −4
 bx = 0,6 + 0,4. = 0,6 + 0,4. = 0,37  0,4   bx = 0,4
M S1dx, A 7

e   M S1dx, A / N Sd   7 / 210 
25 + 12,5. 1x  25 + 12,5.  25 + 12,5. 
1x =  h =  h =  0,6  = 64,2
 bx  bx 0,4

A.2 Cálculo em y
M S1dy, A = 6,0tf .m

M S1dy, B = 0,0tf .m

M S1dy, B 0
 by = 0,6 + 0,4. = 0,6 + 0,4. = 0,6
M S1dy, A 6

 e1 y  M 
 25 + 12,5. 6 / 210 
/ N Sd
25 + 12,5.  25 + 12,5. S 1dy, A
1 y =  b =  b =  0,2  = 44,6
 by  by 0,6

B. Cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem


Embora o índice de esbeltez limite tenha sido ultrapassado apenas em uma direção, isto é,
 x = 17,3  1x = 64,2 e  y = 52,0  1 y = 44,6 , vamos calcular os efeitos locais de 2ª ordem tanto em x como
em y.

B.1 Flexão oblíqua entre o topo e a base do pilar


a) Cálculo em x

Utilizando a formulação direta do método do pilar-padrão com rigidez  aproximada, tem-se:

143
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
M S1dx =  bx .M S1dx, A = 0,4.7,0 = 2,8tf .m
A = 5.h = 5.0,6 = 3,0

N Sd .l e2 210.32
B = h 2 .N Sd − − 5.h.M S1dx = 0,6 2.210 − − 5.0,6.2,8 = 61,3
320 320
C = − N Sd .h 2 .M S1dx = −210.0,6 2.2,8 = −211,7

− B + B 2 − 4. A.C − 61,3 + 61,3 2 − 4.3,0. − 211,7


M Sdx,tot = = = 3,01tf .m
2. A 2.3,0
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:

 M Sdx,tot   3,01 
 x = 32.1 + 5. . = 32.1 + 5. .0,817 = 29,3
 h.N Sd   0,6.210 

M S1dx 2,8
M Sdx,tot = = = 3,0  OK !
 2
17,3 2
1− x
1−
120. x / 120.29,3 / 0,817

b) Cálculo em y

M S1dy =  by .M S1dy, A = 0,6.6,0 = 3,6tf .m


A = 5.b = 5.0,2 = 1,0

N Sd .le2 210.32
B = b 2 .N Sd − − 5.b.M S1dy = 0,2 2.210 − − 5.0,2.3,6 = −1,1
320 320
C = − N Sd .b 2 .M S1dy = −210.0,2 2.3,6 = −30,2

− B + B 2 − 4. A.C 1,1 + − 1,12 − 4.1,0. − 30,2


M Sdy,tot = = = 6,08tf .m
2. A 2.1,0
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:
 M Sdy,tot   6,08 
 y = 32.1 + 5. . = 32.1 + 5. .0,817 = 45,1
 b.N Sd   0,2.210 

M S1dy 3,6
M Sdy,tot = = = 6,1  OK!
 2
52,0 2
1−
y
1−
120. y / 120.45,1 / 0,817

C. Esforços finais para dimensionamento


A armadura longitudinal do pilar deverá ser dimensionada de modo que a sua resistência ( N Rd , M Rdx , M Rdy )
atenda as condições de solicitação listadas a seguir.

C.1 Flexão oblíqua no topo do pilar


N Sd = 210tf ; M Sdx = 7,0tf .m ; M Sdy = 0,0tf .m

144
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
C.2 Flexão oblíqua na base do pilar
N Sd = 210tf ; M Sdx = −4,0tf .m ; M Sdy = −6,0tf .m

C.3 Flexão oblíqua entre o topo e a base do pilar


N Sd = 210tf ; M Sdx = 3,01tf .m ; M Sdy = −6,08tf .m

D. Dimensionamento de armadura
Considerando um cobrimento igual a 30 mm e uma armadura transversal com diâmetro de 6,3 mm, obtém-se
uma possível configuração de armadura longitudinal composta por 10 barras de 20 mm (As = 31,4 cm2), aço
CA50, na qual todas as condições de solicitação são atendidas, conforme mostra a figura a seguir.

Note que o esforço de 2ª ordem no meio do lance (ponto M) tende a levar a seção para o ELU na direção menos
rígida.
Utilizando o Método Geral, no qual se considera a relação momento-curvatura real em diversas seções ao longo
do pilar (rigidez EI pela reta) e a não-linearidade geométrica de forma não aproximada, obtém-se a seguinte
resposta:

145
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Note que os efeitos locais de 2ª foram razoavelmente menores que os calculados pelo método aproximado. Na
direção mais rígida, esses esforços são insignificantes.

EXEMPLO 19
Trata-se do mesmo lance de pilar analisado anteriormente, porém com o diagrama de momentos fletores em
torno da direção menos rígida alterado

A. Cálculos iniciais
A.1 Cálculo em x
M S1dx, A = 7,0tf .m

M S1dx, B = −4,0tf .m

M S1dx, B −4
 bx = 0,6 + 0,4. = 0,6 + 0,4. = 0,37  0,4   bx = 0,4
M S1dx, A 7

146
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
e   M S1dx, A / N Sd   7 / 210 
25 + 12,5. 1x  25 + 12,5.  25 + 12,5. 
1x =  h =  h =  0,6  = 64,2
 bx  bx 0,4

A.2 Cálculo em y
M S1dy, A = 6,0tf .m

M S1dy, B = 5,0tf .m

M S1dy, B 5
 by = 0,6 + 0,4. = 0,6 + 0,4. = 0,93
M S1dy, A 6

 e1 y  M 
 25 + 12,5. 6 / 210 
/ N Sd
25 + 12,5.  25 + 12,5. S 1dy, A
  
1 y =  b =  b =  0,2  = 28,8  35   = 35,0
 by  by
1y
0,93

B. Cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem


Embora o índice de esbeltez limite tenha sido ultrapassado apenas em uma direção, isto é,
 x = 17,3  1x = 64,2 e  y = 52,0  1 y = 35,0 , vamos calcular os efeitos locais de 2ª ordem tanto em x como
em y.

B.1 Flexão oblíqua entre o topo e a base do pilar


a) Cálculo em x

Utilizando a formulação direta do método do pilar-padrão com rigidez  aproximada, tem-se:


M S1dx =  bx .M S1dx, A = 0,4.7,0 = 2,8tf .m
A = 5.h = 5.0,6 = 3,0

N Sd .l e2 210.32
B = h 2 .N Sd − − 5.h.M S1dx = 0,6 2.210 − − 5.0,6.2,8 = 61,3
320 320
C = − N Sd .h 2 .M S1dx = −210.0,6 2.2,8 = −211,7

− B + B 2 − 4. A.C − 61,3 + 61,3 2 − 4.3,0. − 211,7


M Sdx,tot = = = 3,01tf .m
2. A 2.3,0
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:
 M Sdx,tot   3,01 
 x = 32.1 + 5. . = 32.1 + 5. .0,817 = 29,3
 h.N Sd   0,6.210 

M S1dx 2,8
M Sdx,tot = = = 3,0  OK !
 2
17,3 2
1− x
1−
120. x / 120.29,3 / 0,817

b)Cálculo em y

147
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
M S1dy =  by .M S1dy, A = 0,93.6,0 = 5,6tf .m
A = 5.b = 5.0,2 = 1,0

N Sd .l e2 210.32
B = b 2 .N Sd − − 5.b.M S1dy = 0,2 2.210 − − 5.0,2.5,6 = −3,1
320 320
C = − N Sd .b 2 .M S1dy = −210.0,2 2.5,6 = −47,0

− B + B 2 − 4. A.C 3,1 + − 3,12 − 4.1,0. − 47, 0


M Sdy,tot = = = 8,59tf .m
2. A 2.1,0
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:
 M Sdy,tot   8,59 
 y = 32.1 + 5. . = 32.1 + 5. .0,817 = 52,9
 b.N Sd   0,2.210 

M S1dy 5,6
M Sdy,tot = = = 8,6  OK!
 2
52,0 2
1−
y
1−
120. y / 120.52,9 / 0,817

C. Esforços finais para dimensionamento


A armadura longitudinal do pilar deverá ser dimensionada de modo que a sua resistência ( N Rd , M Rdx , M Rdy )
atenda as condições de solicitação listadas a seguir.

C.1 Flexão oblíqua no topo do pilar


N Sd = 210tf ; M Sdx = 7,0tf .m ; M Sdy = −5,0tf .m

C.2 Flexão oblíqua na base do pilar


N Sd = 210tf ; M Sdx = −4,0tf .m ; M Sdy = −6,0tf .m

C.3 Flexão oblíqua entre o topo e a base do pilar


N Sd = 210tf ; M Sdx = 3,01tf .m ; M Sdy = −8,59tf .m

D. Dimensionamento de armadura
Considerando um cobrimento igual a 30 mm e uma armadura transversal com diâmetro de 6,3 mm, obtém-se
uma possível configuração de armadura longitudinal composta por 14 barras de 20 mm (As = 44,0 cm2), aço
CA50, na qual todas as condições de solicitação são atendidas, conforme mostra a figura a seguir.

148
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Note que o efeito de 2ª ordem no meio do lance (ponto M) é o esforço crítico para o dimensionamento e tende a
levar a seção para o ELU na direção menos rígida.
Utilizando o Método Geral, no qual considera-se a relação momento-curvatura real em diversas seções ao longo
do pilar (rigidez EI pela reta) e a não-linearidade geométrica de forma não aproximada, obtém-se a seguinte
resposta:

Note que o efeito da 2ª ordem na direção menos rígida continua a ser preponderante e tende a levar a seção
para o ELU. Quando comparado com o esforço total calculado pelo método aproximado (8,59 tf.m), o valor
obtido pelo Método Geral é um pouco menor (8,0 tf.m).

149
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
ANÁLISE OBLÍQUA MAIS PRECISA
Nos exemplos anteriores, analisamos os pilares por meio de uma análise à flexão composta
oblíqua “simplificada”, isto é, calculamos os efeitos locais nas duas direções de forma desacoplada, e depois
fizemos a composição no final para o dimensionamento da armadura.
Para que essa simplificação possa ser adotada, a consideração da não-linearidade física em cada uma
das direções, isto é, a definição das rigidezes EI a serem empregadas na análise, deve estar sempre a
favor da segurança.

A rigidez EI jamais pode ser extraída pela curva em casos de flexão oblíqua!

Em casos em que há atuação de momentos fletores concomintantes em ambas direções (flexão


composta oblíqua), quando for utilizado o diagrama N, M, 1/r (método geral ou pilar-padrão acoplado a
diagramas), a rigidez EI calculada, em hipótese alguma, ela poderá ser extraída pela curva (como
havíamos feito nos exemplos com flexão composta normal).
Nessa situação, deve-se utilizar sempre a rigidez definida pela reta (linearização do diagrama N, M, 1/r).
Caso contrário, isto é, se a rigidez for calculada pela curva, os resultados ficarão contra a segurança.

Um exemplo vale mais que muitas palavras

Seguindo esse princípio, vamos fazer uma rápida aplicação para compreender o que foi
colocado anteriormente.
Seja uma seção de 30 cm x 60 cm, composta por armadura de 16 barras φ 20 mm, concreto C30, (γc = 1,4),
aço CA50, (γs = 1,15).

O diagrama N, M, 1/r em torno da direção menos rígida com Nd = 150 tf e f3 = 1,1 é mostrado a seguir.

150
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Note que:
• O momento resistente último é de MRd = 31,0 tf.m.
• A rigidez secante obtida pela reta é de EIsec = 1970,5 tf.m2.
O diagrama N, M, 1/r em torno da direção mais rígida é apresentar a seguir.

Note que:
• O momento resistente último é de MRd = 60,3 tf.m.
• A rigidez secante obtida pela reta é de EIsec = 8236,6 tf.m2.

Momentos atuantes nas duas direções

151
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Imagine, agora, que esta seção esteja solicitada por um momento Mx = 15 tf.m e um momento My = 37 tf.m.

Rigidezes pela reta


Se fossem adotadas as retas, as rigidezes seriam EIsec,x = 1970,5 tf.m2 e EIsec,y = 8236,6 tf.m2, conforme mostram
as figuras a seguir.

Note que as rigidezes em ambas as direções não variam em função dos momentos, são sempre constantes.

Rigidezes pela curva


Utilizando o diagrama N, M, 1/r em torno de x (menos rígida), é possível extrair a rigidez pela curva com M x =
15 tf.m.

152
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Perceba que a rigidez obtida pela curva (2769,3 tf.m2) é bem superior ao valor obtido pela reta (1970,5 tf.m2).
Por sua vez, utilizando o diagrama N, M, 1/r em torno de y (mais rígida), é possível extrair a rigidez pela curva
com My = 37 tf.m.

Observe que a rigidez obtida pela curva (10068,9 tf.m2) é bem superior ao valor obtido pela reta (8236,6 tf.m2).
Essas rigidezes que acabaram de ser calculadas pelas curvas não podem ser utilizadas, pois conduziriam a
resultados contra a segurança!
Quando extraímos a rigidez EIsec,x = 2769,3 tf.m2 pelo diagrama N, Mx, (1/r)x, simplesmente não levamos em
conta o momento My = 37 tf.m. Enquanto que, quando extraímos a rigidez EIsec,y = 10068,9 tf.m2 pelo diagrama
N, My, (1/r)y, não contabilizamos o momento Mx = 15 tf.m.

A rigidez pela curva EIsec,x = 2769,3 tf.m2 somente poderia ser utilizada se o momento My fosse igual a zero
(flexão composta normal em torno de x). Já a rigidez pela curva EIsec,y = 10068,9 tf.m2 somente poderia ser
utilizada se o momento Mx fosse igual a zero (flexão composta normal em torno de y).

Repetindo: as rigidezes pelas curvas, em nenhuma hipótese, podem ser adotadas em análises à flexão composta
oblíqua.

Rigidezes pela superfície


Vamos agora introduzir uma novidade ainda não muito bem divulgada no meio técnico profissional:
a montagem de diagrama N, M, 1/r variando o momento fletor na direção ortogonal à direção analisada.
Isso gerará uma série de curvas (um para cada valor de momento ortogonal até o esforço último).
Trata-se uma abordagem ainda aproximada da flexão composta oblíqua real, mas que já leva em conta
a atuação dos dois momentos fletores na seção de forma conjunta.
Veja, a seguir, uma série de diagramas N, M, 1/r em torno da direção x da seção analisada, variando o
momento My de 0 até o momento resistente último MRd,y = 60,3 tf.m.

153
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

As curvas com My = 0,0 tf.m destacadas na figura anterior correspondem exatamente aos diagramas com
0,85.fcd e 1,1.fcd que utilizamos para extrair as rigidezes EIsec,x.
Como é possível montar infinitos diagramas variando My de 0,0 tf.m até My = MRdy = 60,3 tf.m, podemos então
definir uma chamada superfície N, M, 1/r.

Com esse tipo de abordagem, passa a ser possível, por exemplo, extrair a rigidez (1/r) x para um momento Mx =
15 tf.m com a atuação simultânea de um momento ortogonal My = 37 tf.m.
Veja, a seguir, como fica o cálculo da rigidez EIsec,x para Mx = 15 tf.m utilizando o diagrama N, Mx, (1/r)x com My =
37 tf.m. Esse diagrama é apresentado na vista lateral e espacial, respectivamente.

154
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Note que a rigidez obtida na superfície (2065,2 tf.m2) é um pouco maior que a extraída pela reta (1970,5 tf.m2),
porém bem menor do que o valor da curva (2769,3 tf.m2)
Veja, a seguir, como fica o cálculo da rigidez EIsec,y para My = 37 tf.m utilizando o diagrama N, My, (1/r)y com Mx
= 15 tf.m. Esse diagrama é apresentado na vista espacial e lateral, respectivamente.

155
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Note que a rigidez obtida na superfície (8605,2 tf.m2) é um pouco maior que a extraída pela reta (8236,6 tf.m2),
porém bem menor do que o valor da curva (10068,9 tf.m2)

Reta a favor da segurança


Bem, o principal objetivo de conhecer esse tipo de abordagem em que os dois esforços são considerados em
conjunto é compreender que a rigidez obtida pela linearização dos diagramas (retas), na grande maioria das
vezes, está a favor da segurança. E, por isso, é a forma mais recomendada de se obter a rigidez para o cálculo
dos efeitos locais num lance de pilar.
Voltemos a análise em torno da direção x (menor rigidez). A rigidez secante pela reta é obtida com tensão de
pico igual a 1,1.fcd, f3 = 1,1 e para um esforço igual a MRd = 28,2 tf.m, conforme mostra a figura a seguir.

156
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Agora, veja os diagramas N, Mx, (1/r)x, variando o momento ortogonal My de 0,0 até MRdy = 60,3 tf.fm.

A reta está por baixo de quase todas as curvas, gerando quase sempre uma rigidez menor (a favor da
segurança), independente do valor de My.
A análise na direção em torno de y (mais rígida) é análoga.

157
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A reta está por baixo de quase todas as curvas, gerando quase sempre uma rigidez menor (a favor da
segurança), independente do valor de Mx.
É exatamente pelas colocações anteriores que pode-se afirmar que ao adotar a rigidez obtida pela reta estamos
desacoplando as direções, pois a análise em uma delas passa a ficar independente do esforço ortogonal à
mesma.

EXEMPLO 20
Trata-se de um pilar esbelto submetido a uma flexão composta oblíqua, conforme mostra a figura a seguir.

Esse exemplo é baseado em um caso estudado no PECE-USP.


Inicialmente, vamos verificá-lo à flexão composta oblíqua “simplificada” por meio dos quatro métodos
disponíveis na norma (pilar-padrão com 1/r aproximada, pilar-padrão com rigidez  aproximada, pilar-padrão
acoplado a diagramas N, M, 1/r e método geral).
Depois, vamos utilizar a análise à flexão composta oblíqua de forma mais precisa, empregando as rigidezes
obtidas pela superfície N, M, 1/r.
Embora a verificação do M1d,mín seja obrigatória, não vamos fazê-la aqui pois o objetivo desse exemplo será
focar a análise dos efeitos locais de 2ª ordem.

158
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Cálculos iniciais
Cálculo em y
le 650
 y = 12. = 12 . = 86,6
b 26
M S1dy, A = 4,0tf .m

M S1dy, B = −1,0tf .m
M S1dy, B − 1,0
 by = 0,6 + 0,4. = 0,6 + 0,4. = 0,5
M S1dy, A 4,0

 e1 y  M 
 25 + 12,5. 4 / 86,9 
/ N Sd
25 + 12,5.  25 + 12,5. S 1dy, A
1 y =  b =  b =  0,26  = 54,4
 by  bx 0,5
Como y = 86,6 > 1y = 54,4, é necessário calcular os efeitos locais nessa direção.

Cálculo em z
le 650
 z = 12. = 12 . = 57,7
h 39
M S1dz, A = 8,0tf .m

M S1dz, B = −4,0tf .m

M S1dz, B − 4,0
 bz = 0,6 + 0,4. = 0,6 + 0,4. = 0,4
M S1dz, A 8,0

e   M S1dz, A / N Sd   8 / 86,9 
25 + 12,5. 1z  25 + 12,5.  25 + 12,5. 
1z =  h =  h =  0,39  = 69,9
 bz  bz 0,4
Como z = 57,7 < 1z = 69,9, não é necessário calcular os efeitos locais nessa direção.
Ficam então definidos os momentos no topo (8,0 tf.m), na base (-4,0 tf.m) e no meio do lance (b.MS1dz,A = 0,4 .
8,0 = 3,2 tf.m).

Pilar-padrão com 1/r aproximada


Vamos calcular os efeitos locais de 2ª apenas na direção mais esbelta (direção y).
86,9
= = 0,6
(0,26.0,39). 2000
1,4
1 0,005 0,005 1
= 0,01748  = 0,0192  = 0,01748
r 0,26.(0,6 + 0,5) 0,26 r

6,5 2
M Sd ,tot = 0,5.4 + 86,9. .0,01748 = 8,4tf .m
10
159
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Fazendo a composição dos esforços nas duas direções, tem-se:

Veja que o pilar rompe na seção calculada entre o topo e a base (ponto M).

Pilar-padrão com  aproximada


A = 5.b = 5.0,26 = 1,3

N Sd .le2 86,9.6,5 2
B = b 2 .N Sd − − 5.b.M S1d = 0,26 2.86,9 − − 5.0,26.0,5.4 = −8,2
320 320
C = − N Sd .b 2 .M S1d = −86,9.0,26 2.0,5.4 = −11,75

− B + B 2 − 4. A.C 8,2 + − 8,2 2 − 4.1,3. − 11,75


M Sd ,tot = = = 7,5tf .m
2. A 2.1,3
Conferindo a convergência segundo as fórmulas do item 15.8.3.3.3:
 7,5 
 = 32.1 + 5. .0,6 = 51,1
 0,26.86,9 
160
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
0,5.4,0
M Sd ,tot = = 7,5tf .m  OK!
86,6 2
1−
120.51,1 / 0,6

Fazendo a composição dos esforços nas duas direções, tem-se:

A seção calculada entre o topo e a base (ponto M) fica no limite.

Pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r


O diagrama N, M, 1/r na direção menos rígida (direção y) para a armadura adotada, NSd = 86,9 tf e f3 = 1,0 é
apresentado a seguir.

161
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Note que:
• O momento resistente último MRd na direção analisada é de 8,7 tf.m.
• A rigidez  obtida pelo diagrama (61,2) é maior que a rigidez  aproximada (51,1).
O momento total aplicando a rigidez  obtida pelo normal-diagrama momento-curvatura é:
0,5.4,0
M Sd ,tot = = 5,2tf .m
86,6 2
1−
120.61,2 / 0,6
Esse esforço é bem menor que os valores obtidos anteriormente (8,4 tf para pilar-padrão com 1/r
aproximada e 7,5 para pilar-padrão com rigidez κ aproximada).

Fazendo a composição dos esforços nas duas direções, tem-se:

162
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A seção calculada entre o topo e a base (ponto M) passa.

Método geral
Nesse processo, os efeitos locais de 2ª ordem são calculados nas duas direções.
As rigidezes EI são obtidas pela linearização dos diagramas N, M, 1/r (retas) em cada direção, apresentados a
seguir.

163
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
A posição de equilíbrio do lance é definida iterativamente. Os deslocamentos obtidos após 11 iterações são
mostrados a seguir.

Note que o pilar se deforma em ambas direções.


Os diagramas de momentos fletores nas direções menos rígida e mais rígida são apresentados a seguir,
respectivamente.

164
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Como esperado, os efeitos de 2ª ordem na direção menos rígida foram pequenos, justificando a não necesidade
de calculá-los nos métodos aproximados ( < 1).
Fazendo a composição dos esforços nas duas direções, tem-se:

Os esforços finais praticamente foram iguais aos valores obtidos pelo pilar-padrão acoplado a diagramas.

Flexão oblíqua mais precisa


Finalmente, vamos analisar o mesmo pilar por um processo em que as rigidezes das seções ao longo do lance,
em cada direção, são calculadas levando em conta atuação simultânea dos dois momentos fletores (My e Mz).
Veja, a seguir, algumas figuras que ilustram como as rigidezes foram obtidas nesse processo.

165
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

166
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

É possível notar que nas duas direções, de uma forma geral, as rigidezes obtidas na superfície N, N, 1/r são
maiores que as rigidezes extraídas pelas retas (EIsecy = 598,9 tf.m2 e EIsecy = 1356,4 tf.m2).
Dessa forma, os esforços de 2ª ordem ao longo do lance são menores, conforme mostra a figura a seguir.

167
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

IMPERFEIÇÕES GEOMÉTRICAS LOCAIS


Conforme já foi exposto, de uma forma geral, analisar os efeitos de imperfeições geométricas durante a
elaboração de um projeto estrutural é uma tarefa bastante complexa e desafiante.
Como prever a magnitude das possíveis “falhas” geométricas que aparecerão durante a construção?
Essa é uma questão extremamente complicada de ser respondida, e que sempre precisa ser tratada com muita
seriedade pelo Engenheiro de Estruturas. Afinal de contas, a resposta de um pilar é bastante sensível
ao aparecimento dessas imperfeições.
É obrigatório considerar as imperfeições geométricas no cálculo de pilares de edifícios de concreto armado.
A NBR 6118:2014, item 11.3.3.4 “Imperfeições geométricas”, divide as imperfeições geométricas em
dois grupos:
• Imperfeições geométricas globais.
• Imperfeições geométricas locais.
Enquanto que as imperfeições globais estão relacionadas ao edifício como um todo e são avaliadas na
modelagem global (pórtico espacial), as imperfeições geométricas locais referem-se aos lances dos pilares de
um edifício, ocasionando esforços locais adicionais devido à presença da carga normal de compressão.

No item 11.3.3.4.2 “Imperfeições locais” da NBR 6118:2014, define-se um ângulo de inclinação 1 para simular
a imperfeição local, seja pelo desaprumo do lance do pilar como pela falta de retilineidade do mesmo.

168
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

O valor do ângulo 1, segundo a NBR 6118:2014, deve ser calculado pela fórmula , respeitando o
seguinte limite mínimo 1mín = 1/300 = 0,003333.
A norma coloca ainda “Admite-se que, nos casos usuais, a consideração apenas da falta de retilineidade ao
longo do lance de pilar seja suficiente.”. Mas, fica difícil estabelecer o que são os casos usuais.
O efeito dessa imperfeição geométrica gerada pela rotação θ1 não é simples de ser calculado, uma vez que é
difı́cil definir a sua direção e o seu sentido crı́tico de atuação. Usualmente, nos sistemas computacionais, o que
se faz é considerar as imperfeições nas duas direções principais, por meio da definição de excentricidades
adicionais.
A NBR 6118:2014, em seu item 11.3.3.4.3, permite que o efeito das imperfeições geométricas locais em
um lance de pilar seja substituído, em estruturas reticuladas, pela consideração do momento mínimo de 1ª
ordem (M1d,mín), cujo valor é obtido pela seguinte fórmula:
M 1d ,mín = N Sd .(0,015 + 0,03.h)
sendo: NSd a força normal solicitante com o seu valor de cálculo e h a altura da seção na direção analisada, em
metros.
OBS.: na extinta NBR 6118:1980, as imperfeições geométricas locais eram consideradas por meio de uma
excentricidade acidental adicional (ea), cujo valor era o maior entre 2 cm ou h/30.

O que usar: M1d,mín X 1?


A formulação do momento mínimo de 1ª ordem tem origem na norma americana (ACI), enquanto que a
definição das imperfeições geométricas por meio do ângulo 1 vem do código europeu.
O M1d,mín, conforme a nomenclatura deixa evidente, é um valor mínimo e não é um valor aditivo. Enquanto isso,
a excentricidade ea gerada 1 pelo é sempre aditiva.
Enfim, são duas vertentes totalmente distintas que se propõem a solucionar o mesmo problema.
No Brasil, após a entrada em vigor da NBR 6118:2003, que possibilita o uso de ambas as formulações, é mais
comum o uso do M1d,mín, muito embora a aplicação do 1 também seja válida. Por enquanto, não razões que
mostram o favorecimento de uma proposta em relação à outra. Também, não há regras que confirmem qual
deles tende a gerar um dimensionamento mais a favor da segurança.

169
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
EXEMPLO 21
Seja um pilar robusto ( = 34,6), de seção quadrada com b = h = 40 cm, biapoiado com le = 4 m, concreto C25 (c
= 1,4), aço CA50 (s = 1,15), c = 3 cm, submetido a uma força normal de compressão igual a N Sd = 280 tf,
compare o dimensionamento das armaduras para as seguintes situações:
a.1) Momentos fletores solicitantes nulos em ambas as direções e M1d,mín.
a.2) Momentos solicitantes constantes iguais a MSd = 4,2 tf.m em ambas as direções e M1d,mín.
b.1) Momentos fletores solicitantes nulos em ambas as direções e 1.
b.2) Momentos solicitantes constantes iguais a MSd = 4,2 tf.m em ambas as direções e 1.
c) Compare os resultados de a.1 (M1d,mín) com a.2 (1), MSd = 0,0 tf.m.
d) Compare os resultados de b.1 (M1d,mín) com b.2 (1) , MSd = 4,2 tf.m.

170
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

APLICAÇÃO DO M1D,MÍN
Embora a fórmula do momento mínimo de 1ª ordem seja extremamente simples, muitas dúvidas com relação
sua aplicação surgiram no meio técnico. Na publicação que contém comentários da NB-1, publicada
pelo Ibracon, há uma explanação de como aplicar o M1d,mín que parece ser bastante defensável e coerente.
A seguir, será exposta e estudada a proposta presente nos comentários técnicos da NB-1, publicado pelo
Ibracon.

A NBR 6118:2014, em seu item 11.3.3.4.3, permite que o efeito das imperfeições geométricas locais em
um lance de pilar seja substituído, em estruturas reticuladas, pela consideração do momento mínimo de 1ª
ordem, cujo valor é obtido pela seguinte fórmula:

M 1d ,mín = N Sd .(0,015 + 0,03.h)


sendo: NSd a força normal solicitante com o seu valor de cálculo e h a altura da seção na direção analisada, em
metros.
No mesmo item, define-se ainda que os efeitos de 2ª ordem, quando calculados, devem ser acrescidos a este
momento mínimo.
Outro item importante de ser salientado: quando o momento MA < M1dmín, o coeficiente b = 1,0.
Logo, em primeiro momento, percebe-se que a consideração do momento mínimo, como o próprio nome deixa
claro, não tem o efeito aditivo de uma excentricidade acidental adicional, como se preconizava na extinta NBR
6118:1980.
Também, em primeiro momento, o uso do M1d,mín não parece trazer grandes complicações, visto que a sua
formulação é muito simples. Note que ele é apenas dependente da força normal e da dimensão da seção
transversal do pilar. No fundo, se analisarmos a expressão, nada mais é que um momento mínimo gerado por
uma excentricidade de 1,5 cm acrescido de 3% da dimensão da seção.
Mero engano. Veja, a seguir, uma situação bastante típica que já nos traz alguns questionamentos.

171
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Seja um pilar com índice de esbeltez igual a 50, cujos


momentos nas extremidades, MA e MB, sejam opostos e
com valores iguais ao momento mínimo M1d,mín,
conforme mostra a figura ao lado.

MB
Nesse caso,  b = 0,6 + 0,4. = 0,2  0,4   b = 0,4
MA
25 + 12,5.0,08
Admitindo uma excentricidade relativa e1/h = 0,08, teremos: 1 = = 65 .
0,4
Como pilar = 50 < 1 = 65, não é necessário calcular os efeitos locais de segunda ordem. E, portanto, o momento
crítico para o dimensionamento será igual ao M1d,mín.

Imagine então se para esse mesmo pilar os momentos


nas extremidades, MA e MB, continuem opostos, porém
com valores ligeiramente inferiores ao momento
mínimo M1d,mín, conforme mostra a figura ao lado.

Nesse caso,  b = 1,0 (MA < M1d,mín) e a excentricidade relativa praticamente seria a mesma, de tal forma que:
25 + 12,5.0,08
1 = = 26  35  1 = 35 .
1,0
Como pilar = 50 > 1 = 35, será necessário calcular os efeitos locais de segunda ordem. E, portanto, o momento
crítico para o dimensionamento será maior ao M1d,mín, pois terá o acréscimo do efeito de 2ª ordem (M2).

Note que para situações bastante similares, os resultados são diferentes, podendo ocasionar uma relativa
descontinuidade de valores finais.
172
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Proposta prof. Graziano – ENECE 2004
Em virtude do comportamento que acabou de ser descrito, o prof. Franscisco Graziano propôs no ENECE
realizado em 2004 um novo tipo de abordagem para aplicação do momento mínimo de primeira ordem,
conforme está resumido a seguir.
Sejam as seguintes situações possíveis de atuação de momentos nas extremidades de um pilar:

• As linhas tracejadas representam o M1d,mín.


• As linhas em cinza representam o diagrama original de momentos fletores.
• As linhas azuis representam as formas efetivamente usadas no cálculo do pilar.
A proposta do prof. Graziano consiste em aplicar o momento mínimo de tal forma que as situações onde
poderiam ocorrer descontinuidades (II, III e V) sejam alteradas de maneira a minimizar a discrepância de
resultados.

As situações I, IV e V continuam equivalentes com a forma original.


Vale lembrar que a proposta do prof. Graziano leva a resultados a favor da segurança.

M1d,mín nas duas direções ?


Uma outra questão levantada sobre o momento mínimo de primeira ordem é quanto a sua aplicação simultânea
nas duas direções do pilar.
Vejamos o cálculo do M1d,mín para um pilar de seção retangular.

A pergunta é: será necessário verificar uma situação em que há a atuação dos dois momentos mínimos, M 1dx,mín
e M1dy,mín, ao mesmo tempo?
À primeira vista, e também recorrendo a alguns exemplos de pilares calculados segundo o ACI na literatura,
percebe-se que não se deve aplicar os momentos mínimos totais nas duas direções simultaneamente.

173
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Mas, como solucionar isso?

Comentários NB-1, Ibracon


Diante das inúmeras questões relativas à aplicação de momento mínimo de primeira ordem, a comissão CT-
301, responsável pela elaboração de comentários da NBR 6118:2003, propôs um novo tipo de abordagem para
o problema em questão, que foi posteriormente incorporada à ABNT NBR 6118:2014.
A proposta consiste em definir uma envoltória mínima de 1ª ordem, tomada a favor da segurança, pela seguinte
expressão:

Desta forma, a verificação do momento mínimo pode ser considerada atendida quando, no dimensionamento
adotado, obtém-se uma envoltória resistente que englobe a envoltória mínima de 1ª ordem.

Por sua vez, quando há a necessidade de calcular os efeitos locais de 2ª ordem, a verificação do momento
mínimo pode ser considerada atendida quando, no dimensionamento adotado, obtém-se uma envoltória
resistente que englobe a envoltória mínima com 2ª ordem, cujos momentos totais são calculados a partir dos
momentos mínimos de 1ª ordem.

A consideração destas envoltórias mínimas pode ser realizada através de duas análises à flexão composta
normal, calculadas de forma independente dos momentos fletores de 1ª ordem atuantes nos extremos do pilar.

174
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

É importante notar que:


• A definição da envoltória mínima com e sem 2ª ordem independe do diagrama de momentos fletores
solicitantes no lance do pilar. Ou seja, a descontinuidade apresentada nos itens anteriores deixará de existir.
• Não há a aplicação simultânea do momento mínimo total nas duas direções.

EXEMPLO 22
Seja um pilar de 30 cm x 30 cm, com comprimento equivalente de 3 m e força normal de cálculo igual a 210 tf,
conforme mostra a figura a seguir, montar a envoltória mínima de primeira ordem.

b = 30cm e h = 30cm
le 300
 x = 12. = 12 . = 34,6
h 30
le 300
 y = 12. = 12 . = 34,6
b 30

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Antes de iniciar os cálculos, é interessante observar quais dados são necessários para fazer a verificação do
M1d,mín. São eles: seção transversal, comprimento equivalente le e força normal de compressão. Note que não é
necessário conhecer previamente o diagrama de momentos fletores solicitantes.

A. Flexão composta normal com atuação de M1dx,mín e M1dy,mín


Como a seção é simétrica, temos:
M 1dx,mín = M 1dy,mín = 210.(0,015 + 0,03.h) = 210.(0,015 + 0,03.0,3) = 210.0,024 = 5,04tf .m

 bx = 1,0 , pois M1dA = M1d,mín


e  M /N   5,04 / 210 
25 + 12,5. 1x ,m ín  25 + 12,5. 1dx,m ín Sd  25 + 12,5. 
1x =  h 
=  h  =  0,3 
= 26  35  1x = 35,0
 bx  bx 1,0

1 y = 1x = 35,0

Como  = 34,6  1 = 35,0 , não é necessário calcular os efeitos locais de 2ª ordem em nenhuma das direções.

B. Esforços mínimos para dimensionamento


O pilar deverá ser dimensionado de modo que a sua resistência ( N Rd , M Rdx , M Rdy ) atenda as condições
mínimas de solicitação listadas a seguir. São duas flexões compostas normais isoladas.

B.1 Flexão normal com atuação de M1dx,mín


N Sd = 210tf ; M Sdx = M 1dx,mín = 5,04tf . M Sdy = 0,0tf .m

B.2 Flexão normal com atuação de M1dy,mín


N Sd = 210tf ; M Sdx = 0,0tf .m ; M Sdy = 5,04tf .m

C. Envoltória mínima
De acordo com os esforços calculados anteriormente, a envoltória mínima de 1ª ordem fica definida:

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
O dimensionamento do pilar deve gerar uma envoltória resistente que englobe totalmente a envoltória mínima
de 1ª ordem.

EXEMPLO 23
Com os mesmos dados o exemplo 21, refaça os itens a.1 e a.2 agora adotando a envoltória mínima de 1ª ordem.

EXEMPLO 24
Vamos resolver agora um exemplo que está presente nos comentários da NB-1.
Seja um pilar de 20 cm x 60 cm, com comprimento equivalente de 3 m e força normal de cálculo igual a 210 tf,
conforme mostra a figura a seguir.

b = 20cm e h = 60cm
le 300
 x = 12. = 12 . = 17,3
h 60
le 300
 y = 12. = 12 . = 52,0
b 20

Independente dos momentos fletores que o pilar estará submetido, para verificar a envoltória mínima devem
ser realizadas duas análises à flexão composta normal.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
A. Flexão normal com atuação de M1dx,mín
M 1dx,mín = 210.(0,015 + 0,03.h) = 210.(0,015 + 0,03.0,6) = 6,93tf .m

 bx = 1,0 , pois M1dA = M1d,mín


 e1x , m ín   M 1dx, m ín / N Sd   6,93 / 210 
25 + 12,5.  25 + 12,5.  25 + 12,5. 
 h   h   0,6 
1x = = = = 25,7  35  1x = 35,0
 bx  bx 1,0

Como  x = 17,3  1x = 35,0 , não é necessário calcular os efeitos locais de 2ª ordem.

B. Flexão normal com atuação de M1dy,mín


M 1dy,mín = 210.(0,015 + 0,03.b) = 210.(0,015 + 0,03.0,2) = 4,41tf .m

 by = 1,0 , pois M1dA = M1d,mín


 e1 y , m ín   M 1dy, m ín / N Sd   4,41 / 210 
25 + 12,5. 
 25 + 12,5. 
 25 + 12,5. 
 b   b   0,2  Como
1 y = = = = 26,3  35  1 y = 35,0
 by  by 1,0
 y = 52,0  1 y = 35,0 , é necessário calcular os efeitos locais de 2ª ordem.
Utilizando a formulação direta do método do pilar-padrão com rigidez  aproximada (que estudaremos
posteriormente), tem-se:
M S1d = M 1dy,mín = 4,41tf .m
A = 5.b = 5.0,2 = 1,0

N Sd .l e2 210.32
B = b 2 .N Sd − − 5.b.M S1d = 0,2 2.210 − − 5.0,2.4,41 = −1,9
320 320
C = − N Sd .b 2 .M S1d = −210.0,2 2.4,41 = −37,0

− B + B 2 − 4. A.C 1,9 + − 1,9 2 − 4.1,0. − 37,0


M Sdy,tot = = = 7,12tf .m
2. A 2.1,0

C. Esforços mínimos para dimensionamento


A armadura longitudinal do pilar deverá ser dimensionada de modo que a sua resistência ( N Rd , M Rdx , M Rdy )
atenda as condições mínimas de solicitação listadas a seguir.

C.1 Flexão normal com atuação de M1dx,mín


N Sd = 210tf ; M Sdx = M 1dx,mín = 6,93tf .m ; M Sdy = 0,0tf .m

C.2 Flexão normal com atuação de M1dy,mín


N Sd = 210tf ; M Sdx = 0,0tf .m ; M Sdy = 7,12tf .m

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
D. Envoltórias mínimas
De acordo com os esforços calculados anteriormente, as seguintes envoltórias mínimas ficam então definidas:

O dimensionamento do pilar deve gerar uma envoltória resistente que englobe totalmente a envoltória mínima
com 2ª ordem, que foi gerada a partir a envoltória mínima de 1ª ordem.
Perceba que, com a representação gráfica em planta, fica fácil compreender bem como verificar o momento
mínimo de 1ª ordem.

Concluindo
A verificação do M1d,mín por meio das envoltórias mínimas independe dos momentos fletores atuantes no pilar.
Se por exemplo, para o pilar estudado anteriormente existissem várias hipóteses de diagramas de momentos
fletores, conforme mostra a figura a seguir, a verificação do momento mínimo de primeira ordem seria
realizada apenas uma única vez.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

ESFORÇOS DEVIDO À FLUÊNCIA


A fluência, ou seja, o acréscimo de deformações no concreto ao longo do tempo sob a aplicação de uma tensão
constante gerada pelas ações permanentes, gera esforços adicionais no lance de pilar em virtude do aumento
de deslocamentos.
A NBR 6118:2014, item 15.8.4 “Consideração da fluência”, indica a necessidade do cálculo de efeitos gerados
pela deformação lenta em pilares cuja esbeltez for superior a 90, por meio de uma formulação aproximada que
adiciona uma excentricidade equivalente ecc na análise.

180
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

, sendo:
- Ne = 10.Eci.Ic/le2;
- Eci o módulo de elasticidade tangente do concreto;
- Ic a inércia bruta da seção de concreto;
- le o comprimento equivalente na análise local;
- MSg e NSg esforços solicitantes devido à combinação quase-permanente;
-  o coeficiente de fluência.
De acordo com essa formulação, a fluência é definida como uma majoração dos efeitos de 1ª ordem, conforme
mostra a figura a seguir.

Como o próprio texto normativo deixa bem claro, trata-se de uma maneira aproximada de considerar a fluência.
Dessa forma, não se pode exigir uma precisão absoluta em relação ao comportamento real de um pilar de
concreto armado sob a ação de cargas de longa duração.

Outro processo
Outro processo para consideração da fluência bastante interessante, mas também aproximado, se baseia na
correção do diagrama tensão-deformação do concreto.

181
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

De forma aproximada, os acréscimos de deformações no concreto ao longo do tempo são


incorporados por meio da majoração das curvaturas por (1+ ϕc), sendo ϕc igual o coeficiente
de fluência definido na NBR 6118:2014 (tabela 8.1) multiplicado pela fração dos esforços que
produzem a fluência.

Isso influencia de forma direta a obtenção da rigidez secante EIsec a partir do diagrama N, M, 1/r.
Veja o exemplo a seguir de uma seção com os seguintes dados:
• Seção 30 cm x 60 cm
• Armadura composta de 16  20 mm
• Concreto C30, c = 1,4
• Aço CA50, s = 1,15

182
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Para uma força normal de cálculo igual a 200 tf e, inicialmente, sem admitir o efeito da fluência, temos:

A rigidez secante obtida pelo diagrama N, M, 1/r é de 2183,0 tf.m .


Agora, considerando um coeficiente de fluência equivalente igual a 1,5, veja como essa rigidez é alterada.

A rigidez secante obtida para a mesma seção se reduz para 1174,7 tf.m2.
Esse processo não é largamente utilizado na prática, e precisa ser melhor avaliado.
Maiores informações podem ser obtidas no capítulo 9 do livro “Solicitações Normais” do Profº Péricles
Brasiliense Fusco.

PILAR-PAREDE
Esse é, com certeza, um dos temas que tem mais gerado controvérsias no meio técnico profissional após a
aprovação da NBR 6118:2003. Existem várias razões para isso, pois, como veremos mais adiante, se trata de um

183
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
assunto que ainda tem uma longa e difícil trajetória de estudos na busca de uma solução que tenha uma
abrangência mais adequada e significativa.
Dessa forma, o que será exposto a seguir não pode, em hipótese alguma, ser considerado como uma verdade
absoluta. O que se pretende aqui é fornecer uma visão ampla de um problema que ainda necessita ser resolvido
e melhor estudado.

Definição
Segundo a NBR 6118:2014, item 14.4.2.4, pilar-parede é um elemento bidimensional, usualmente disposto na
vertical e submetido preponderantemente à compressão, que pode ser composto por uma ou mais superfícies
(ou lâminas) associadas.

Nesse mesmo item da norma de concreto, tem-se: “Para que se tenha um pilar-parede, em alguma dessas
superfícies a menor dimensão deve ser menor que 1/5 da maior, ambas consideradas na seção transversal do
elemento do pilar”.

Pilar-parede não é um pilar comum!


Antes de iniciar o cálculo de um pilar-parede, é importante refletir um pouco sobre suas funções e
particularidades, que o tornam um elemento particular e notoriamente diferente de um pilar comum.

184
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Em edifícios altos usuais, além de resistir às cargas verticais, um pilar-parede, em conjunto com os pórticos
formados pelas vigas e pilares, tem grande responsabilidade na manutenção da estabilidade global da
estrutura. Trata-se de um típico elemento de contraventamento.
Quando esse tipo de edificação é solicitado por ações horizontais (ex.: vento), um pilar-parede resiste uma
parcela significativa dos esforços resultantes. Veja, a seguir, um exemplo hipotético, mas bastante
representativo.
Seja um edifício composto por oito pavimentos, conforme mostram as figuras a seguir.

Note que o pilar intermediário P6 possui dimensões (20 cm X 180 cm) que o caracteriza como um pilar-parede.
Como esperado, esse pilar resiste a uma boa parcela dos esforços gerados pelas ações verticais e horizontais
(vento), conforme mostra a figura a seguir.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Perceba que o pilar-parede P6, dentro do contexto global do edifício, quando solicitado pela ação horizontal,
praticamente tem um comportamento de uma barra engastada na base, resistindo momentos fletores
significativos nos dois primeiros lances. O mesmo não ocorre nos demais pilares que fazem parte dos pórticos
de contraventamento.

Seção plana?
É uma hipótese quase que constante no dimensionamento de um elemento de concreto armado, a manutenção
da seção plana após as deformações. Pergunta: num pilar-parede submetido à flexão composta oblíqua, isso é
válido?

186
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Particularidades
Devido a imposições arquitetônicas e estruturais, o emprego de pilares-parede em edifícios de
concreto armado tem sido muito comum no Bsísmicos, o uso desse elemento como
parte integrante da estrutura resistente, sempre foi uma prática usual e recomendada. São os chamados

“reinforced concrete walls” e “shear walls”.


Contudo, é importante visualizar claramente que existem discrepâncias entre o que é empregado nos países
com sismo e o que é adotado no Brasil. Embora as dimensões da seção transversal dos pilares presentes
em estruturas no exterior os caracterizem como pilar-parede (hi < bi/5), a esbeltez em torno da menor
dimensão não é tão elevada como nos pilares-parede comuns em estruturas no nosso país.

Veja, a seguir, o exemplo de uma estrutura definida no Canadá.

187
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Nesse exemplo, os pilares-parede têm espessura de 40 cm a 50 cm, totalmente diferente da situação
nacional, onde se pode observar o emprego de pilares-parede com até 14 cm de espessura.

Segurança
Imagine um pilar-parede de 19 cm X 200 cm com pé-direito duplo de 6 m no hall de um edifício comercial de
alto padrão, “sustentando” uma carga vertical aplicada em 20 pisos, ao mesmo tempo em que tem que resistir a
ação do vento.
Agora, imagine que ao efetuar o cálculo desse mesmo pilar-parede, você tem como resultado uma taxa de
armadura praticamente igual a mínima (0,6%.Ac = 15,2 cm2 → 20 φ 10 mm).
Mesmo que intuitivamente, sem fazer cálculos, não fica evidenciada uma certa necessidade de aumentar
a segurança desse elemento devido à sua responsabilidade no comportamento da estrutura?
Evidentemente, para se ter uma resposta correta e defensável dessa questão é necessário fazer estudos
teóricos e práticos aprofundados, e não apenas usar a intuição como referência (embora na Engenharia de
Estruturas, esse quesito, às vezes, é tão importante quanto um cálculo refinado).
Enquanto não se dispõe de uma formulação teórica que “acerte” em 100% dos casos com a boa e
coerente prática da Engenharia, é importante focar um dimensionamento sempre a favor da segurança.
Embora não tenhamos nenhum caso de patologia ocorrido em função da esbeltez excessiva de pilares-parede
(felizmente), fica difícil mensurar a situação real desses elementos em relação ao ELU.
É exatamente sobre esse enfoque (a segurança) é que deve ser encarado o que será exposto a seguir, que
nada mais é do que a aplicação do que está prescrito na atual norma de concreto, a ABNT NBR 6118.
Apenas a título de informação, na recente publicação “Reinforced Concrete: Mechanics and Design” de James
G. MacGregor e James K. Wight, existe um capítulo destinado ao estudo mais detalhado de pilares-parede.

EFEITOS LOCALIZADOS DE 2ª ORDEM


Conforme já foi apresentado no capítulo anterior, os efeitos de 2ª ordem presentes numa estrutura de concreto
armado podem ser subdivididos em: globais, locais e localizados.

188
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Nos pilares-parede simples (uma lâmina) ou compostos (mais de uma lâmina), além dos efeitos locais no lance
como um todo, podem surgir efeitos concentrados em suas extremidades devido ao aumento do esforço normal
provocado pela atuação do momento fletor segundo sua direção mais rígida. Esses são os chamados efeitos
localizados de 2ª ordem.

Dispensa da análise dos efeitos localizados


Na NBR 6118:2014, item 15.9.2, tem-se:
Os efeitos localizados de 2ª ordem de pilares-parede podem ser desprezados se, para cada uma das lâminas
componentes do pilar-parede, forem obedecidas as seguintes condições:

189
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
a) a base e o topo da lâmina devem estar convenientemente fixados às lajes do edifício, que conferem ao todo o
efeito de diafragma horizontal.
b) a esbeltez i de cada lâmina deve ser menor que 35, podendo o cálculo dessa esbeltez i ser efetuado através da
expressão dada a seguir:

l ei
i = 3,46.
hi

onde, para cada lâmina: lei é o comprimento equivalente e hi é a espessura.

O valor de lei depende dos vínculos de cada uma das extremidades verticais da lâmina, conforme mostra a figura
a seguir.

Ou seja, num pilar retangular e num com formato “U”, tem-se:

190
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Processos de cálculo
Existem inúmeras formas de calcular os efeitos localizados de 2ª ordem em um pilar-parede. Seja uma
metodologia simples ou mais sofisticada, é fundamental que as não-linearidades presentes (física e geométrica)
sejam retratadas de maneira coerente.
A seguir, serão estudados dois processos de cálculo com detalhes. O primeiro, mais simples, é baseado no
método aproximado recomendado na NBR 6118:2014. Já, o segundo se baseia numa modelagem um pouco
mais refinada (modelo com malha).

Método aproximado – NBR 6118:2014


Aplicabilidade
Esse método somente pode ser adotado quando a esbeltez de cada lâmina for inferior a 90.

Descrição
Esse método é descrito no item 15.9.3 da NBR 6118:2014. Os efeitos localizados de 2ª ordem são calculados a
partir da subdivisão das lâminas do pilar-parede em faixas.

A largura de cada faixa deve ser ai = 3.h ≤ 100 cm.


191
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Decomposição de esforços
O esforço total atuante no pilar é decomposto para cada uma das faixas considerando uma distribuição de
tensões linear ao longo da seção, conforme ilustra a figura a seguir.

O momento fletor decomposto na direção menos rígida de cada faixa geralmente é pequeno, prevalecendo
quase que sempre a aplicação do M1d,m . Em torno da direção mais rígida (travada), não é necessário considerar
o M1d,mín.

Cálculo dos efeitos de 2ª ordem


Cada faixa é calculada separadamente, como se fosse um pilar isolado.
Para análise dos efeitos de 2ª ordem, pode ser utilizado qualquer método aproximado (pilar-padrão com 1/
r aproximada, pilar-padrão com rigidez κ aproximada ou pilar-padrão acoplado a diagrama N, M, 1/r) ou
o Método Geral.
O fato de cada faixa ser analisada de forma isolada é uma das grandes críticas ao método, visto que a
interação entre elas (que existe) é ignorada.
Na ABNT NBR 6118:2014, foi introduzida a seguinte frase:

Esta foi a única alteração em relação à ABNT NBR 6118:2003.

EXEMPLO 25
Exemplo publicado no IBRACON / Comentários Técnicos da NB-1. Autores: Alio E. Kimura / Ricardo L. S. França
Revisores: Silvia Lopes F. C. Andrade

192
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
I. Objetivo
A seguir, é apresentado um exemplo de dimensionamento das armaduras longitudinais de um trecho de pilar-
parede, de forma a garantir a sua segurança em relação aos efeitos das imperfeições geométricas locais como
dos efeitos de 2ª ordem, locais e localizados.
O objetivo principal deste exemplo é salientar uma alteração introduzida na subseção 15.9.3 da ABNT
6118:2014, em que o coeficiente pode ser adotado com um valor igual a 0,6 no dimensionamento de uma
faixa em que é satisfeita a condição .

II. Simbologia e Convenção


Os símbolos adotados estão de acordo com a simbologia definida na ABNT NBR 6118.
O eixo x é paralelo à maior dimensão da seção transversal do pilar-parede. O eixo y é paralelo à menor
dimensão da seção transversal do pilar-parede.
Adota-se a notação vetorial, ou seja, o momento fletor x atua em torno do eixo x e o momento fletor y atua em
torno do eixo y.

III. Dados
Os dados do trecho de pilar-parede analisado são apresentados a seguir.

III.a) Geometria
Trata-se de um trecho extraído do modelo global do edifício, com comprimento entre o topo e a base igual a 3,0
m. É considerado que o topo e base do trecho estão convenientemente travados.
A seção transversal do pilar-parede é retangular, com 224 cm X 19 cm.

193
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

III.b) Materiais e Cobrimento


A Classe de Agressividade Ambiental (CAA) adotada é a classe II – Moderada/Urbana. Assim, de acordo com
Tabela 7.1 da ABNT NBR 6118:2014, a classe do concreto deve ser igual ou superior a C25; e, de acordo com
Tabela 7.2 da ABNT NBR 6118:2014, o cobrimento das armaduras deve ser maior ou igual a 30 mm.
O concreto adotado é o C35, com fck = 35 MPa.
Como a classe adotada é superior ao mínimo exigido, de acordo com a subseção 7.4.7.6 da ABNT
NBR 6118:2014, o cobrimento adotado pode ser reduzido em 5 mm. Deste modo, o cobrimento das
armaduras adotado é 25 mm.
O aço adotado é o CA-50, com fyk = 500 MPa.

III.c) Esforços Solicitantes


Os esforços solicitantes no trecho de pilar-parede, obtidos pela análise global (1ª ordem + 2ª ordem
global), para a combinação ELU considerada como a mais desfavorável, são:
• Força normal de compressão, constante entre a seção do topo e a seção da base, com valor de
cálculo igual a 7840 kN.
• Momento fletor em torno da direção mais rígida, constante entre a seção do topo e a seção da
base, com valor de cálculo igual a 1260 kN.m.
• Momento fletor em torno da direção mais esbelta, distribuído na seção do topo, com valor de
cálculo igual a 62,5 kN.m/m. Na seção da base, distribuído com valor de cálculo igual a 31,25
kN.m/m.
Será considerado que o momento fletor em torno da direção mais rígida, MSd,y, ora atue comprimindo a
extremidade direita, ora atue comprimindo a extremidade esquerda.
O momento fletor total em torno da direção mais esbelta, MSd,x, na seção do topo é igual a
; e, na seção da base é igual a .
A título de facilitar a compreensão dos cálculos, esta combinação será denominada de agora em diante
simplesmente de “Combinação ELU”.

194
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

III.d) Ponderadores
Os coeficientes ponderadores das resistências características do concreto e aço são, respectivamente,
e .

IV. Metodologia
De acordo com as dimensões da seção transversal do elemento analisado, 224 cm X 19 cm, cuja relação é
, segundo a subseção 14.4.2.4 da ABNT NBR 6118:2014, o mesmo é considerado um pilar-
parede.
Além das imperfeições geométricas locais, de acordo com a subseção 15.9.1 da ABNT NBR 6118:2014, os
efeitos locais e localizados de 2ª ordem devem ser convenientemente avaliados em pilares-parede.
Os efeitos das imperfeições geométricas locais serão considerados de acordo com a subseção 15.3.2 da ABNT
NBR 6118:2014, por meio da verificação do momento .
O cálculo dos efeitos localizados será realizado de acordo com o processo aproximado definido em 15.9.3 da
ABNT NBR 6118:2014.
Para o cálculo dos efeitos de 2ª ordem, locais e localizados, será adotado o método do pilar-padrão com rigidez
κ aproximada, conforme item 15.8.3.3.3 da ABNT NBR 6118:2014.
Para o completo entendimento dos cálculos que serão efetuados a seguir, recomenda-se a leitura dos
comentários da Seção 15 da ABNT NBR 6118:2014 presentes na publicação IBRACON, Comentários Técnicos
NB-1, 2015.

V. Cálculos iniciais
V.a) Comprimento Equivalente
O trecho de pilar-parede analisado é considerado apoiado no topo e na base, nas duas direções. Assim:

195
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
V.b) Índices de Esbeltez

(direção mais esbelta, em torno do eixo x)

(direção mais rígida, em torno do eixo y)

V.c) Força Normal Adimensional

VI. Análise Local


Tanto na análise da imperfeição geométrica local como dos efeitos locais de 2ª ordem, apesar do pilar-parede
ser um elemento de superfície, considera-se o mesmo como um pilar comum, isto é, um elemento linear onde se
adota a hipótese que toda a seção transversal permanece plana após as deformações.

VI.a) Análise Local – “Combinação ELU”


A seguir, é efetuada a análise à flexão composta oblíqua para a “Combinação ELU” apresentada em III.c). Esta
análise será realizada de acordo com a subseção 15.8.3.3.5 da ABNT NBR6118:2014.
Em torno eixo x, tem-se:

Como , os efeitos de 2ª podem ser desprezados, .


Em torno eixo y, tem-se:

Como , os efeitos de 2ª podem ser desprezados, .


Assim, para atender exclusivamente os efeitos locais de 2ª ordem, é necessário um dimensionamento que
conduza à uma curva resistente (Rd) que englobe as seguintes solicitações (Sd,Comb.ELU):

196
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Dada a seção de 19 cm X 224 cm, fck = 35 MPa, , fyk = 500 MPa, , e armadura
distribuída uniformemente nas duas faces maiores da seção, com d’ = 4,13 cm, uma alternativa de
dimensionamento que atenda os efeitos locais de 2ª ordem é 14 barras de 20 mm.

VI.b) Imperfeição Geométrica Local


Inicialmente, é efetuada uma análise à flexão composta normal, com momento mínimo constante em torno do
eixo x.

197
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Como , é necessário calcular , que será realizado segundo a subseção 15.8.3.3.3 da ABNT
NBR 6118:2014.

Verificando a convergência do método:

Em seguida, é efetuada uma análise à flexão composta normal, com momento mínimo constante em torno do eixo y.

Como , .
Com os resultados das duas análises à flexão composta normal realizadas anteriormente, é possível montar as
curvas mínimas de acordo com a subseção 15.3.2 da ABNT NBR 6118:2014.

198
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Assim, para atender exclusivamente as imperfeições geométricas locais, é necessário um dimensionamento que
conduza à uma curva resistente (Rd) que englobe as curvas mínimas (Sd,mín).
Dada a seção de 19 cm X 224 cm, fck = 35 MPa, , fyk = 500 MPa, , e uma
armadura distribuída uniformemente nas duas faces maiores da seção, com d’ = 4,13 cm, uma alternativa de
dimensionamento que atenda as curvas mínimas é 28 barras de 20 mm.

199
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

VI.c) Análise Local – Dimensionamento


No que se refere ao dimensionamento da armadura longitudinal na análise local, de acordo com os itens
anteriores, tem-se:
• armadura necessária para atender exclusivamente os efeitos locais da “Combinação ELU”:

• armadura necessária para atender exclusivamente os efeitos das imperfeições geométricas


locais:

Assim, a armadura necessária total para atender a segurança somente em relação aos efeitos da análise local
(imperfeição geométrica e 2ª ordem), é 28 barras de 20 mm.

Porém, ainda falta verificar os efeitos localizados de 2ª ordem, em que o pilar-parede é discretizado em faixas
isoladas, conforme será realizado a seguir.

200
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
VII. Análise localizada
O trecho do pilar-parede analisado é composto por uma única lâmina ou superfície, cuja esbeltez na direção
menos rígida é . Portanto, de acordo com a subseção 15.9.2 da ABNT NBR 6118:2014, como
, é necessário calcular os efeitos localizados de 2ª ordem.
Para isto, será adotado o processo aproximado descrito na subseção 15.9.3 da ABNT NBR 6118:2014. A lâmina
será subdivida em 4 faixas de 19 cm X 56 cm, conforme ilustrado a seguir.

Os efeitos localizados de 2ª ordem serão avaliados nas faixas de extremidade, faixas 1 e 4, bem como nas faixas
intermediárias, faixas 2 e 3.
O cálculo de cada faixa é realizado como um pilar isolado equivalente, com seção transversal de 19 cm X 56 cm,
submetido à uma flexão composta em torno da direção menos rígida.

VII.1 Faixas de Extremidade (Faixas 1 e 4)

De acordo com a subseção 15.9.3 da ABNT 6118:2014, como , pode se adotar o


coeficiente . Isto é equivalente às seguintes configurações de diagramas de momentos fletores.

201
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Assim:

Como , é necessário calcular , que será realizado segundo a subseção 15.8.3.3.3 da ABNT
NBR 6118:2014.

Verificando a convergência do método:

Assim, para atender exclusivamente os efeitos localizados de 2ª ordem em cada uma das faixas de extremidade
(faixas 1 e 4), é necessário um dimensionamento que conduza à uma curva resistente (Rd,fai,ext.) que englobe as
seguintes solicitações (Sd,fai,ext.):

202
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Dada a seção de 19 cm X 56 cm, fck = 35 MPa, , fyk = 500 MPa, , e armadura


disposta nas duas faces maiores da seção, com d’ = 4,13 cm, uma alternativa de dimensionamento que atenda os
efeitos localizados de 2ª ordem em cada uma das faixas de extremidade é 12 barras de 20 mm.

VIII.2 Faixas Intermediárias (Faixas 2 e 3)

De acordo com a subseção 15.9.3 da ABNT 6118:2014, como , pode-se adotar


.

Como , é necessário calcular , que será realizado segundo a subseção 15.8.3.3.3 da ABNT
NBR 6118:2014.

203
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Assim, para atender exclusivamente os efeitos localizados de 2ª ordem em cada uma das faixas intermediárias
(faixas 2 e 3), é necessário um dimensionamento que conduza à uma curva resistente (Rd,fai,int.) que englobe as
seguintes solicitações (Sd,fai,int.):

Dada a seção de 19 cm X 56 cm, fck = 35 MPa, , fyk = 500 MPa, , e armadura


disposta nas duas faces maiores da seção, com d’ = 4,13 cm, uma alternativa de dimensionamento que atenda os
efeitos localizados de 2ª ordem em cada uma das faixas intermediárias é 6 barras de 20 mm.

VIII.3 Análise Localizada - Dimensionamento


De acordo com o dimensionamento realizado nas faixas de extremidade e intermediárias apresentado
anteriormente, tem-se:

204
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

IX. Dimensionamento Final


De acordo com os itens anteriores, tem-se:
• armadura necessária para atender exclusivamente os efeitos da análise local (imperfeição
geométrica e 2ª ordem):

• armadura necessária para atender exclusivamente os efeitos da análise localizada (efeitos


localizados de 2ª ordem):

Assim, a armadura necessária total para atender a segurança em relação aos efeitos das imperfeições
geométricas locais e dos efeitos de 2ª ordem, locais e localizados, é 36 barras de 20 mm, com uma maior
concentração de barras nas extremidades do pilar-parede, conforme apresentado na figura a seguir.

X. Comentários finais
Neste exemplo, foi adotado o método do pilar-padrão com rigidez κ aproximada para cálculo dos efeitos de 2ª
ordem. Opcionalmente, poderia ser adotado outros processos, como o método do pilar-padrão acoplado a
diagrama N, M, 1/r ou método geral, tanto na análise local como na análise localizada.
De acordo com a antiga ABNT NBR 6118:2007, que não está mais em vigor, a armadura longitudinal necessária
para atender os efeitos localizados de 2ª ordem era 52 barras de 20 mm. Isto se deve ao cálculo das faixas com
, ao invés de , conforme especificado na ABNT NBR 6118:2014.

É importante lembrar que as armaduras dimensionadas neste exemplo devem ser detalhadas com
comprimento de transpasse e ancoragem adequados, assim como também devem ser dimensionadas e
detalhadas as armaduras transversais (estribos, grampos), de forma a garantir a segurança de todo pilar-
parede.

205
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Enrijecimento das extremidades livres
Uma alternativa muito eficente para se evitar o acréscimo exagerado de armaduras nas extremidades livres de
pilar-parede, onde os efeitos localizados de 2ª ordem são preponderantes, é enrijecer esses locais por meio da
criação de “dentes de concreto”.
Trata-se de um tipo de solução que os construtores não apreciam, pois dificulta a execução da obra. Porém, é
extremamente eficaz.
Veja, a seguir, um exemplo de enrijecimento num pilar de caixa de escadas.

EXEMPLO 26
Vamos analisar o pilar-parede apresentado na figura a seguir.

206
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Analisando a esbeltez de cada lâmina de acordo com o comprimento le corrigido em função de suas vinculações
(que agora deve levar em conta os “dentes de concreto” como enrijecedores das extremidades livres), percebe-
se que não é mais necessário calcular oonforme mostra a figura a seguir.

207
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Dessa forma, o dimensionamento


conduziria a um dimensionamento com
116  10 mm (91 cm2).
A criação dos “dentes de concreto”
evitaria a necessidade de acréscimo de
armaduras nas pontas.

Apenas para comprovar que esse resultado está compatível, vamos subdividir o pilar-parede em faixas e
verificá-las.

208
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Embora a extremidade com o “dente de concreto” seja solicitada por uma força normal de compressão maior (a
área da faixa aumenta), note que os efeitos localizados de 2ª ordem nas extremidades são pequenos. Os
esforços de 2ª ordem passam a ser maiores nas faixas que estão no meio das lâminas.

MODELO COM MALHA


Conforme já foi dito no início deste capítulo, o cálculo de pilares-parede é um dos assuntos mais discutidos e
criticados no meio técnico profissional após a entrada em vigor da NBR 6118:2003.
Quando comparada com a extinta NB1-1980, na qual o pilar-parede era calculado somente como um pilar
comum, o dimensionamento considerando os efeitos localizados de 2ª ordem pelo processo aproximado
previsto na norma atual, gerou um acréscimo significativo na taxa de armadura necessária.
Alguns artigos técnicos foram publicados procurando evidenciar a imprecisão do método proposto na NBR
6118. Esse fato deve, sim, ser considerado, mas com ressalvas.
Os efeitos localizados de 2ª ordem, no Estado Limite Último (ELU), em paredes de concreto com grande
esbeltez podem ocorrer e precisam ser considerados de forma a introduzir uma maior segurança nesses
elementos que, como já vimos, possuem uma grande responsabilidade na estabilidade da estrutura de um
edifício.
O fato de até hoje não existir algum caso de patologia registrado que demonstre que os efeitos localizados
foram responsáveis por algum dano estrutural, não justifica a não consideração desses efeitos no cálculo. Não
podemos esperar que o ELU seja atingido em um caso real para nos cercar de mais segurança no projeto
estrutural.
Evidentemente, como em qualquer outro problema de Engenharia, é necessária a execução de ensaios em
laboratório para se ter uma noção mais realista do comportamento de pilares-parede. Somente dessa forma,

209
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
chegaremos à conclusão se o que está definido na norma atual está realmente superestimando os efeitos
localizados de 2ª ordem.
Enquanto esses ensaios não forem realizados, é importante que a análise numérica desse tipo de elemento seja
cada vez mais aperfeiçoada, de tal forma a obter resultados mais precisos e confiáveis.
A maior crítica com relação ao processo aproximado definido na NBR 6118:2014 é a subdivisão das lâminas do
pilar-parede em faixas independentes entre si como se fossem pilares isolados, pois isso vai contra a situação
real.
A seguir, será apresentado e estudado por meio de exemplos um novo tipo de modelagem que representa uma
evolução do processo presente na norma.
Nessa modelagem, o pilar-parede continua sendo dividido em faixas, porém as mesmas passam a ser
interligadas umas às outras por meio de elementos transversais, resultando numa malha de barras.

Cada faixa é modelada por barras longitudinais que são interligadas por barras transversais.

210
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Dada a força normal (NSd) após a decomposição dos esforços totais no pilar-parede, bem como a configuração
de armaduras existente, são montados vários diagramas N, M, 1/r que definem uma rigidez EI sec (a partir da
linearização) para cada faixa.
Os efeitos de 2ª ordem são calculados por um processo iterativo que busca a posição final de equilíbrio de todo
conjunto.
As imperfeições geométricas são consideradas por meio da aplicação do momento mínimo de 1ª ordem
(M1d,mín) em cada faixa.
Enfim, trata-se de uma modelagem em que as não-linearidades física e geométrica são consideradas de forma
bastante refinada. Nada mais é do que o Método Geral aplicado a um conjunto de barras.

211
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Esforços transversais
Devido à presença das barras transversais no modelo, além dos esforços ao longo de cada faixa, obtêm-se
também os esforços solicitantes (N, M e V) na direção transversal do pilar-parede.
Esses esforços podem ser utilizados no dimensionamento da armadura transversal (estribos), lembrando que
essas armaduras também devem ser verificadas e dimensionadas para resistir outros tipos de efeitos, como por
exemplo, a flambagem das barras longitudinais.

No item 18.5 da NBR 6118:2014, tem-se:

212
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
“A armadura transversal de pilares-parede deve respeitar a armadura mínima de flexão de placas, se essa flexão e
a armadura correspondente forem calculadas. Em caso contrário, a armadura transversal deve respeitar o
mínimo de 25% da armadura longitudinal da face.”
Esse é um outro item que gerou uma grande discussão no meio técnico profissional, principalmente por ter
gerado um consumo excessivo de armadura transversal em pilares-parede, muito embora na extinta NB-
1:1980, item 6.3.1.4, a taxa mínima exigida era de 50%, condição esta que poderia ser desprezada quando A s >
2%.Ac ou l > 12,5mm.
A seguir, vamos resolver alguns exemplos com a modelagem com malha.

EXEMPLO 27
Trata-se de um pilar em “U”, conforme mostra abaixo.

Os principais resultados obtidos pela modelagem com malha são apresentados a seguir.

213
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

214
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Conclusões
• A modelagem com malha se comportou de forma adequada.
• Os momentos fletores nas barras transversais foram não foram tão pequenos, pois as lâminas com uma
borda livre praticamente “engastaram” na superfície vinculada do pilar-parede. Esses esforços indicaram a
necessidade da colocação de armaduras transversais (estribos).

EXEMPLO 28
Finalmente, vamos fazer a análise do pilar em “U” com dentes de concreto em suas extremidades livres por
meio da modelagem com a malha.

215
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

216
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Conclusões
• Novamente, a modelagem com malha se comportou de forma adequada.
• Assim como no processo aproximado, os “dentes de concreto” se mostraram muito eficientes com
relação à estabilidade nas extremidades do pilar-parede. Os efeitos localizados de 2ª ordem passaram a ser
desprezíveis.
• Os “dentes de concreto” também tiveram uma influência significativa na resposta nas barras
transversais do pilar-parede. A necessidade de armadura transversal (estribos) para resistirem aos esforços
gerados pela flexão das lâminas diminuiu sensivelmente.

CONCRETO DE ALTA RESISTÊNCIA


A grande novidade da ABNT NBR 6118:2014 em relação à sua versão anterior foi a introdução de requisitos
específicos para concretos de alta resistência (90 MPa ≤ fck < 50 MPa). Para isso, o diagrama tensão-deformação
do concreto e os domínios de cálculo foram alterados, assim como diversos outros pontos da norma foram
revisados.

217
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Os concretos de alta resistência têm sua aplicabilidade mais usual em pilares, pilares-parede e peças
protendidas.
O dimensionamento e detalhamento de pilares e pilares-parede com concreto de alta resistência requer
cuidados especiais, tal como o aumento da armadura transversal, conforme estabelecido no item 18.4.3 da
ABNT NBR 6118:2014.

ASPECTOS GERENCIAIS DE PROJETO


Os processos mais exatos (se é que existe “exatidão” na Engenharia) são normalmente aqueles mais valorizados
pelo meio acadêmico. Para um pesquisador, por exemplo, não importa muito se o que está sendo adotado é algo
inviável de ser colocado em prática. Interessa, sim, a precisão dos resultados, o uso de formulações inovadoras
e deduções rebuscadas.
Paralelamente a esse panorama, existe o profissional que efetivamente faz o uso dos processos criados em
pesquisas na vida real. É a pessoa que precisa “colocar a estrutura de pé” e que necessita gerenciar um conjunto
de fatores ao mesmo tempo, dentre eles a segurança, o conhecimento, a responsabilidade, a experiência, o bom-
senso e a produtividade. Nesse caso, nem sempre o mais preciso é o mais indicado para ser usado de forma
generalizada no cotidiano.
Vejamos um exemplo a seguir.

218
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Para o pesquisador, se o esforço no ponto M ultrapassar em 0,001 tf.m a resistência da seção, o pilar não passa.
Já, para o profissional, existem duas alternativas: ou “o pilar passa”, pois está seguro de que existem outras
aproximações tomadas à favor da segurança, ou o “pilar não passa”, pois quer introduzir mais segurança à
estrutura.
Enfim, são duas formas distintas de se encarar a Engenharia de Estruturas, cada qual com a sua devida
importância. O crescimento e a valorização dessa área, a Engenharia de Estruturas, depende do sucesso de
ambas as frentes, tanto a profissional como a acadêmica.
O principal objetivo desse curso foi apresentar conceitos e informações a respeito do cálculo de pilares de
forma prática, objetiva, sem se aprofundar demasiadamente nas formulações matemáticas. Ou seja, de uma
forma mais direcionada para o Engenheiro que necessita projetar estruturas de concreto armado.
Dessa forma, pretende-se fazer aqui um resumo de aspectos gerenciais importantes no que se refere ao cálculo
de pilares sem se deter ao preciosismo matemático e ao rigor científico.
O intuito é aliar os conceitos apresentados ao longo curso com a prática do dia-a-dia, de tal forma a auxiliar na
tomada de decisões durante a elaboração de um projeto.
Não encare o que vai ser apresentado a seguir como regras fechadas, imutáveis e infalíveis. São apenas
colocações que devem ser encaradas sempre de forma muito crítica, pois na Engenharia de Estruturas “cada
caso é um caso”.

Importância dos pilares


Em primeiro lugar, é sempre muito importante relembrar que os pilares são elementos essenciais no bom
comportamento estrutural de um edifício. Dessa forma, verificar os resultados emitidos por um sistema
computacional passa a ser uma tarefa que necessita ser realizada sempre com extremo cuidado e atenção.
No fundo, todo Engenheiro sabe da importância dos pilares. O que acontece é que, devido a exigências
arquitetônicas e principalmente ao intenso ritmo do cotidiano, isso acaba sendo esquecido e o Engenheiro
passa a correr mais riscos desnecessários.

Visão gerencial
Nos dias de hoje, de um modo geral, os Engenheiros de Estruturas estão confiando demais nos computadores.
Isso é um fato consumado. A visão global do projeto e a sensibilidade com relação à ordem de grandeza dos
resultados estão sendo “perdidas”.

219
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Para que isso seja evitado, mais do que saber executar os cálculos nos mínimos detalhes, é necessário saber
gerenciar o projeto.
No caso de pilares, antes mesmo de entrar a fundo no seu dimensionamento, é fundamental detectar quais são
os pontos críticos da estrutura. Qual lance de pilar eu não posso errar? Qual aquele que devo introduzir mais
segurança? Quais são aqueles que eu não preciso me preocupar?

As respostas dessas questões são a chave para um bom cálculo de pilares. Acontece que respondê-las, quase
sempre, não é uma tarefa fácil e direta como se imagina.
A seguir, serão apresentados alguns pontos que podem auxiliá-lo a responder essas perguntas.

Concepção e análise estrut


Foque a análise estrutural em primeiro lugar. Se essa etapa for bem resolvida, “meio caminho estará andado”
para que o projeto seja um sucesso. Muitas vezes, quando surgem problemas no dimensionamento, os porquês
dessas ocorrências são encontrados na modelagem adotada. O dimensionamento das armaduras é reflexo
direto da análise estrutural.
Uma simples visualização gráfica da distribuição de esforços ao longo do edifício já pode auxiliar bastante.
Na medida do possível, duplique edifícios, estude várias alternativas, de tal forma a obter uma “estrutura ideal”.
Nisso, o computador pode nos ajudar bastante.
Um estrutura bem concebida e analisada adequadamente dificilmente gerarão problemas durante o
dimensionamento e detalhamento de pilares.

Valores globais
Durante a elaboração de um projeto estrutural, não é função do Engenheiro de Estruturas verificar os
resultados obtidos por um sistema computacional nos mínimos detalhes. Nem existe tempo disponível para
isso. O objetivo é evitar que erros grosseiros passem de forma despercebida.
Por isso, num primeiro momento, é conveniente recorrer a relatórios que forneçam resultados globais que
despertem algum tipo de sensibilidade com relação aos cálculos efetuados pelo computador. Somente utilize
relatórios que possuem detalhes de esforços, que geralmente são listagens “infinitas”, quando for necessário
averiguar algum valor específico após o checklist inicial.
Não adianta abrir um relatório de montagem de carregamentos utilizados no dimensionamento de pilares para
ser verificado do início ao fim. Ele é bastante útil apenas no momento em que se deseja saber, por exemplo,
porque a magnitude de um esforço num determinado lance de pilar está exagerada.

220
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
A seguir, serão apresentados e discutidos alguns valores que podem ser úteis durante a avaliação global do
cálculo de pilares.

Índice de esbeltez
Basicamente, os pilares podem ser classificados de acordo com o seu índice de esbeltez da seguinte forma:

Nas estruturas usuais de concreto armado, a grande maioria dos pilares tem um índice de esbeltez inferior a 90.
Em certos casos particulares na qual a arquitetura do edifício impõe uma geometria mais ousada, adotam-se
pilares mais esbeltos (90 <  ≤ 140). Casos de pilares com índice de esbeltez superior a 140 são raros e devem
ser evitados.

A definição do índice de esbeltez de um trecho de pilar depende diretamente das condições de vínculo em suas
extremidades. Usualmente, elas são consideradas livres ou restritas à translação e à rotação, muito embora na
vida real de edifícios de concreto armado, que é monolítica, nenhum desses casos (totalmente livre ou
totalmente restrito) ocorra.
Embora os sistemas computacionais atuais procurem detectar as condições de vínculo dos pilares de forma
automática, é sempre conveniente averiguar se os valores de esbeltez de cada lance estão dentro do esperado.

221
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Lembre-se sempre que um pilar com λ = 90 já é bastante esbelto. Num trecho biapoiado com seção de 25 x 40,
para atingir esse valor é necessário um comprimento equivalente de 6,5 m.
É conveniente evitar a adoção de pilares esbeltos num edifício de forma generalizada, pois isso pode
comprometer à segurança do edifício. veis às imperfeições geométricas e aos efeitos de 2ª ordem.
Não é porque existem processos que permitem o cálculo de pilares com até λ = 200, que os pilares com esbeltez
elevada devem ser definidos de forma generalizada e arbitrária.
Após o processamento do edifício, procure separar os trechos de pilares com λ > 90 para serem avaliados com
mais detalhes.

222
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Taxa de compressão
Um pilar de concreto armado está predominantemente sujeito a uma compressão gerada pelas ações atuantes
no edifício. De uma forma geral, é interessante avaliar o nível de compressão nos lances de pilares calculando a
tensão ou a força normal adimensional gerada pelas cargas verticais totais.

 Sd ( f .N Sk ) / Ac N Sd / Ac N Sd
= = = =
 Rd f ck /  c f cd Ac . f cd

É difícil estabelecer um limite máximo para a tensão de compressão ou para a força normal adimensional, visto
que o dimensionamento final da seção do pilar é dependente de diversos outros fatores. Mas, de uma forma
geral,  ≥ 1,0 já representa uma taxa de compressão considerável.
Após o processamento do edifício, procure dar atenção a trechos de pilares com  ≥ 1,2, e verifique a
possibilidade diminuir a taxa de compressão aumentando a seção de concreto ou alterando a estrutura.
Além disso, é recomendável que os pilares tenham taxas de compressão similares na base do edifício, de tal
forma a evitar uma situação em que alguns deles estejam “folgados” e os outros “muito carregados”.

223
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Taxa de armadura
A NBR 6118:2014 estabelece 0,4%.Ac e 8%.Ac como taxas geométricas de armaduras longitudinais mínimas e
máximas numa seção de pilar, respectivamente. Na prática, valores acima de 2%.Ac já podem ser considerados
elevados.
Após o processamento do edifício, separe os trechos de pilares que possuem uma taxa de armadura superior a
2%.Ac, e verifique a possibilidade diminuir esse valor aumentando a seção de concreto ou alterando a estrutura.

Na vida real
De acordo com o exposto anteriormente, não significa que nunca possamos definir um lance com  > 90 ou com
 > 1,2 ou com uma taxa de armadura superior a 2%.Ac, pois, na vida real, são situações que invariavelmente
acontecem.
O importante é ter noção do que elas representam para o comportamento da estrutura, de tal forma a sempre
priorizar um cálculo de pilares que alie segurança e economia.
Cada Engenheiro, com a sua experiência, deve ir memorizando em sua mente valores ou índices globais que o
auxiliem a gerenciar o cálculo de pilares. Na prática, muitas vezes, isso acaba até sendo mais importante do que
saber calcular “um pilar na mão”.

Imperfeições geométricas
Já foi dito que um pilar de concreto armado é bastante sensível perante as imperfeições geométricas locais, e
que a consideração das mesmas é obrigatória em seu cálculo.
A NBR 6118:2014 estabelece duas alternativas para se considerar as imperfeições geométricas locais: pela
verificação do momento mínimo de primeira ordem (M1d,mín) ou pela aplicação de uma excentricidade adicional
gerada por uma inclinação a.

Efeitos locais de 2ª ordem


Devido ao fato de que a recente norma de concreto permite a aplicação de 4 métodos distintos, gerou-se muitas
dúvidas com relação a esse assunto no meio técnico profissional. Qual método devo utilizar?

224
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Conforme já foi apresentado, cada um dos métodos tem suas próprias limitações muito bem prescritas na NBR
6118:2014. No entanto, sob o ponto de vista gerencial de projeto, pode-se definir a abrangência de cada um dos
processos de uma forma um pouco mais específica. Isso será discutido nos itens seguintes.

Aspectos gerais
Conforme se pôde observar durante a resolução dos exemplos ao longo do curso, o uso de processos mais
sofisticados (pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r e método geral) tende a levar a um dimensionamento
mais econômico. Em certos casos, a redução da armadura não é pequena.

No entanto, é importante ter em mente que o uso de processos mais refinados, e a conseqüente redução de
armaduras, leva a uma estrutura “mais enxuta”, e portanto, que fica mais propensa a atingir um Estado Limite
Último. Na vida real, não temos a noção exata do quanto estamos perto ou longe do ELU considerado nos
cálculos.
Por isso, é recomendável que o uso de processos mais refinados no dimensionamento de armaduras de pilares,
de forma generalizada, seja feito apenas se o Engenheiro tenha total segurança e controle da
modelagem utilizada para simular a estrutura. Caso contrário, deve-se sempre primar pela segurança da
estrutura.
É muito importante lembrar que existem especialistas renomados que defendem que uma maior segurança
seja introduzida no cálculo atual dos pilares.
Vale a pena se arriscar?

Estudar e experimentar
Nos sistemas computacionais atuais, pode-se verificar um lance de pilar por qualquer um dos métodos
de forma bastante fácil. Isso auxilia, e muito, no entendimento do assunto (que é complexo), em adquirir
mais confiança nos resultados emitidos pelo computador e em enxergar melhor as aproximações inerentes de
cada método.
É recomendável, portanto, que se utilize o software como ferramenta de aprendizado, e não apenas
como ferramenta de projeto. Na medida do possível, estude casos aplicando os 4 métodos disponíveis para
análise dos efeitos locais de 2ª ordem.

Pilar-padrão com 1/r aproximada X Pilar-padrão com κ aproximada


Para o dimensionamento de pilares retangulares com armadura simétrica e λ < 90, sugere-se aplicar o método
do pilar-padrão com rigidez κ aproximada. Esse processo, ao mesmo tempo em que é um pouco
mais econômico que o pilar-padrão com 1/r aproximada, já foi exaustivamente estudado, é seguro e está
sendo largamente aplicado nos dias atuais.

225
Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Em casos de pilares com λ < 90, não-retangulares ou com armadura assimétrica, recomenda-se o uso do pilar-
padrão com 1/r aproximada.

Pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r


Na grande maioria dos casos, o método do pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r resultará num
dimensionamento mais econômico que os métodos comentados no item anterior.
É importante ressaltar que pequenas variações do valor da rigidez extraída do diagrama em relação ao κ
aproximado, podem gerar alterações bruscas no momento total final (MSd,tot).
O uso o pilar-padrão acoplado é obrigatório para o dimensionamento de pilares com esbeltez entre 90 e 140.
Em casos de pilares não-retangulares ou com armadura assimétrica, seu uso deve ser feito com certas
restrições.
Embora possa ser aplicado no dimensionamento de pilares com λ < 90, de forma generalizada, recomenda-se o
uso do pilar-padrão acoplado a diagramas somente em casos específicos. Por exemplo: quando o Engenheiro da
obra solicita a verificação de um lance de pilar em que o seu concreto não atingiu a resistência esperada, e é
necessário analisar com mais precisão se o mesmo pode ser mantido ou precisa ser refeito.

Método geral
Para o dimensionamento de armaduras, de forma generalizada, sugere-se utilizar sempre os métodos
aproximados, devido ao fato de que processamento com o método geral é bem mais lento do que o cálculo com
qualquer processo aproximado, pois para cada trecho de pilar analisado pelo método geral é necessário
executar uma busca iterativa da sua posição final de equilíbrio.
Num processamento que leve em conta todos os pilares de um edifício via método geral pode-se tornar muito
mais oneroso que o cálculo com um dos métodos aproximados. Isso pode prejudicar significativamente a
produtividade durante a elaboração do projeto.
Assim como o pilar-padrão acoplado a diagramas N, M, 1/r, o método geral é mais indicado para verificação de
situações específicas, como foi exemplificado no item anterior. Nesses casos, sua grande vantagem é que ele
nos consegue retratar a real situação do pilar perante o ELU.
O uso do método geral é obrigatório para pilares com λ > 140. Recomenda-se adotar um coeficiente ponderador
adicional (γn = 1,4) nesses casos.

Pilar-parede
A análise de pilares-parede ainda tem um longo e difícil caminho de estudos e pesquisas, de tal forma a se
chegar a resultados sempre seguros e coerentes com a prática.
Encare o processo aproximado para análise dos efeitos localizados de 2ª ordem presente na NBR
6118:2014 apenas como um método alternativo, que pode ser adotado na falta de uma análise mais rigorosa.
Na medida do possível, evite a adoção de pilares-paredes com grandes esbeltez, pois isso poderá resultar num
elevado consumo de armaduras em suas extremidades livres. Muitas vezes, ao aumentar um pouco a espessura
da lâmina, os efeitos localizados de 2ª ordem podem se tornar insignificantes.
Uma outra boa alternativa já abordada anteriormente é o enrijecimento das extremidades do pilar-parede com
“dentes de concreto”.
Os efeitos localizados de 2ª ordem somente são preponderantes em paredes de concreto com elevada esbeltez.

Casos especiais
Em casos particulares e especiais, sempre procure privilegiar a segurança.

Isso, sim, é uma regra geral no dimensionamento de pilares de concreto armado.


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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
TENDÊNCIAS
Prever o futuro é uma tarefa bastante complicada, mas é possível fazer algumas indicações com relação ao
cálculo de pilares de concreto armado.

Complexidade inevitável
Embora todo tipo de aproximação de um problema de Engenharia seja algo extremamente salutar (na essência,
fazer Engenharia, muitas vezes, é simplificar o que existe na vida real), o cálculo de pilares tenderá a ser cada
vez mais refinado e sofisticado, tornando-se, inevitavelmente, mais complexo.
Se existisse uma fórmula simples que possibilitasse o cálculo de todo e qualquer tipo de pilar de forma precisa,
segura e infalível, seria ótimo! Talvez isso venha a ocorrer no futuro, mas é pouco provável por enquanto.

Uso intenso de computadores


O uso de computadores estará cada vez mais presente na análise de pilares. No dia-a-dia de elaboração de
projetos estruturais, onde cada vez mais a produtividade se torna um requisito indispensável, fica difícil
imaginar o trabalho de um Engenheiro de Estruturas sem o auxílio de sistemas computacionais.

Futuros modelos
Conforme já foi apresentado logo no início desse curso, o cálculo de pilares que efetuamos hoje em dia possui
várias aproximações.
Vamos relembrar como calculamos os
Inicialmente, a estrutura como um todo é calculada no computador por meio de uma modelagem numérica
(modelo global).

- Os pilares estão imersos


nesse modelo global,
vinculados às vigas.
- A rigidez à flexão EI da
seção transversal dos
pilares é minorada a fim de
considerar a não-
linearidade física de forma
aproximada (0,7.EIc ou
0,8.EIc).
- Os efeitos globais de 2ª
ordem são avaliados pelo
coeficiente z ou pelo
processo P-.
- Podem ser consideradas
as imperfeições
geométricas globais.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Uma vez efetuado o cálculo global, cada lance de pilar é extraído desse modelo e passa a ser analisado de forma
isolada (modelo local).

- As vinculações no topo e na
base passam a ser tratadas de
forma bastante simplificada
(apoios simples ou engaste).
- A não-linearidade física, por
sua vez, é considerada de
forma mais refinada (1/r
aprox., rigidez aprox., rigidez
acoplada a diagrama N, M,
1/r).
- Os efeitos locais de 2ª ordem
são então avaliados por pilar-
padrão ou processo iterativo
mais refinado (“P-”).
- São consideradas as
imperfeições geométricas
locais e a fluência.

Note que foram adotados dois tipos de modelos, global e local, na análise de um mesmo pilar. E que, para cada
um deles, são impostas simplificações distintas, embora o elemento estudado seja o mesmo.
- Por que considerar a NLF de forma distinta nos modelos globais e locais?
- Os efeitos de 2ª ordem globais e locais não acontecem de forma conjunta?
Enfim, são aproximações necessárias para se viabilizar o dimensionamento de pilares durante a elaboração de
um projeto estrutural no atual estágio da Engenharia.
É de se esperar, no entanto, que esse tipo de abordagem evolua. É quase que certo que o cálculo de pilares vai
ser aperfeiçoado de tal forma que essas simplificações, aos poucos, sejam deixadas de lado.
IMPORTANTE: é fundamental ressaltar que o uso de modelos mais rebuscados exige um completo
entendimento dos conceitos aplicados na resolução dos mesmos.

Pórtico Não-linear Físico e Geométrico (NLFG)


A seguir, será apresentado um novo tipo de modelagem, chamado daqui em diante de “Pórtico NLFG” (pórtico
não-linear físico e geométrico), que pode se tornar comum no dia-a-dia do Engenheiro de Estruturas.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Seja uma estrutura hipotética de concreto


armado, conforme mostra a figura ao lado.

Processo de verificação

Imagine que as armaduras nos pilares e nas vigas sejam


conhecidas, e que se deseja verificar a estrutura no Estado
Limite Último (ELU) perante as solicitações normais,
considerando as não-linearidades (física e geométrica) de
forma refinada.

Discretização
Toda a estrutura é então modelada por meio de um pórtico espacial, sendo que cada vão de viga e lance de pilar
é discretizado por várias barras.

Essa discretização mais refinada permitirá uma melhor análise dos efeitos das não-linearidades física e
geométrica.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Não-linearidade física
A não-linearidade física nas vigas e pilares do Pórtico NLFG é considerada por meio da obtenção de rigidezes à
flexão EI a partir das relações momento-curvatura (M x 1/r ou N, M, 1/r) em cada seção do pórtico espacial.
As rigidezes de cada barra que representam um trecho de viga ou pilar são calculadas de acordo com a
geometria e as armaduras detalhadas em cada elemento estrutural, bem como os esforços solicitantes iniciais
obtidos por um pré-processamento. Dessa forma, a consideração aproximada comumente adotada nos modelos
ELU (0,4.EIc para vigas e 0,8.EIc para pilares), é integralmente substituída por um cálculo mais refinado.

Nos pilares, são calculadas as rigidezes à flexão nas duas direções (EI y e EIz). Nas vigas, é calculada apenas a
rigidez à flexão EIy. A rigidez lateral EIz, comumente modificada para simular o efeito de diafragma rígido das
lajes, não é corrigida.

Nos pilares, as rigidezes são calculadas


exatamente de acordo com o diagrama
N, M, 1/r definido na NBR 6118:2014.
Ou seja, considera-se uma tensão de
pico igual a 1,1.fcd, com a possibilidade
de considerar f3 = 1,1.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Já, nas vigas, as rigidezes são obtidas


com o diagrama calculado com
0,85.fcd e f3 = 1,0.
As forças normais nas vigas também
são consideradas.

Tanto nas vigas e pilares, as rigidezes podem ser obtidas por meio da linearização dos diagramas momento-
curvatura nas quais as duas direções são desacopladas (reta), ou por meio da curva oblíqua (superfície) obtida
com os esforços solicitantes concomitantes nas duas direções.

Não-linearidade geométrica
A não-linearidade geométrica, ou seja, a influência da forma da estrutura à medida que o carregamento é
aplicado sobre a mesma, é considerada por meio de uma análise não-linear na qual a posição de equilíbrio da
estrutura é calculada iterativamente (P-).

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
A grande diferença é que, como cada lance de pilar e vão de viga é discretizado em inúmeras barras, além dos
efeitos globais de 2ª ordem, são flagrados também os efeitos locais de 2ª ordem, de forma conjunta e
concomitante.

Outro grande avanço é que as vinculações nos extremos de cada lance de pilar
no cálculo dos efeitos locais de 2ª ordem são consideradas de forma mais
realista. Não há mais a aproximação de considerar cada trecho biapoiado ou
engastado na base.

Imperfeições geométricas
No Pórtico NLFG, podem ser consideradas imperfeições geométricas globais ou locais. Essas imperfeições são
impostas no modelo através da alteração direta da geometria da estrutura.

Uma grande vantagem desse tipo de abordagem é que os efeitos gerados pelas imperfeições locais passam a ser
absorvidas por todo conjunto de vigas e pilares, e não mais apenas por um lance de forma isolada.

Fluência
O efeito da fluência ou deformação lenta do concreto é considerado por meio de uma correção direta nas
deformações em cada seção, que por sua vez influencia diretamente na curvatura da mesma.
Essa correção é feita através de uma majoração nas deformações no concreto (encurtamentos) por (1+ ),
sendo  o coeficiente de fluência definido na NBR 6118:2014.

Dessa forma, a obtenção da rigidez EI do diagrama momento-curvatura é alterada.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Verificação ELU
Ao término do processamento, após a obtenção dos esforços finais em cada barra do Pórtico NLFG, é realizada a
verificação de cada trecho de viga e pilar perante os esforços normais (força normal + momentos fletores) no
Estado Limite Último (ELU), levando-se em conta todas as prescrições presentes na NBR 6118:2014.

A seguir, serão apresentados alguns exemplos analisados no Pórtico NLFG

EXEMPLO ESTACA
Exemplo de verificação de uma estaca (pilar) de seção variável submersa no mar que sustenta uma parte de
uma superestrutura de uma ponte por meio do pórtico não-linear físico e geométrico (NLFG). Foram
consideradas vinculações elásticas na parte inferior do elemento para simular o solo, bem como também no
topo para adequar a rigidez de uma ponte. Seus dados são apresentados a seguir.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Inicialmente, foi criado um edifício com pisos intermediários onde serão definidas as molas do solo e a variação
de seção da estaca.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A estaca foi modelada por um único elemento com variação de seção. Foi executado o processamento global
para montagem de um modelo inicial. Depois, foram impostas as condições de contorno (molas) e os
carregamentos no programa de edição de dados de pórtico.

No editor de pilares, foram adicionadas as armaduras previamente conhecidas.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Foram configurados os critérios do pórtico não-linear físico e geométrico. O cálculo da rigidez EI foi habilitado
somente para pilares (estaca). A favor da segurança, foi determinada a análise pela reta, muito embora fosse
possível também utilizar a superfície N, M, 1/r (curva oblíqua) para cada seção.

A imperfeição geométrica foi simulada por uma inclinação global, resultando uma excentricidade no topo de 4,2
m em ambas as direções.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Executando o processamento do pórtico NLFG, chegou-se numa rigidez média igual a 0,24*.EIc.

Lembrando que foi adotado um GamaC = 1,9, conforme definido nos dados da estaca.

A rigidez secante obtida pelo diagrama N, M, 1/r é apresentada a seguir.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Seria possível fazer a análise também utilizando a rigidez obtida pela superfície N, M, 1/r para cada seção.

Dessa forma, rigidez média atingiria 0,46*.EIc.


É possível visualizar os diagramas de deslocamentos (1ª e 2ª ordem) e força normal (N Sd = 430,7 tf no topo e
NSd = 539,8 tf na base).

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Força cortante (VSd = -23,0 no topo) e momento fletor numa direção (MSd = -231,6 tf.m no topo e MSd = 156,4
tf.m junto ao topo do solo submerso).

Força cortante (VSd = -31,4 no topo) e momento fletor na outra direção (MSd = 312,1 tf.m no topo e MSd = -220,8
tf.m junto ao topo do solo submerso).

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A seção crítica é a do topo, cuja curva de interação é apresentada a seguir.

EXEMPLO SÓCULO
Trata-se de um edifício hipotético ilustrado abaixo cujo objetivo é analisar pilares com sóculos.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

Note que foram definidos 4 pavimentos: um contendo as sapatas, outro para simular o solo (com 2 pisos
repetidos), o térreo (chamado de Fundação para ficar compatível com a sua nomenclatura) e o primeiro
pavimento. Os quatro pilares, que são idênticos, possuem 3,0 m acima do topo da sapata confinados pelo solo,
acrescidos de 3,5 m livres até as vigas do 1º pavimento. Nos três primeiros pavimentos, os pilares possuem
seção de 60 cm X 60 cm. Já, no último, possuem 50 cm X 50 cm. Veja as plantas a seguir.

Ao processar o edifício globalmente, ativando o dimensionamento, detalhamento e desenho de vigas e pilares,


obtêm-se automaticamente o seguinte desenho de armação.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

O dimensionamento das armaduras dos pilares levou em consideração a variação de seção, pé-direito de 6,25 m
(6,5 – ½ da altura da viga) e apoios articulados no topo e na base (bi-rotulado). Isso fica claro ao visualizar o
relatório de montagem de carregamentos do CAD/Pilar, parcialmente mostrado abaixo.

É importante salientar que o lançamento usual desta estrutura no sistema conduziria a um cálculo de um pilar
bi-rotulado com pé-direito de 6,25 m e seção única. Para introduzir a variação de seção no cálculo automático
efetuado pelo sistema, foram definidas cargas verticais com valores muito pequenos nos pilares no pavimento
Fundação.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)
Até o presente momento, as condições de vinculação conferidas pelo solo não foram consideradas. Para atender
este requisito, bem como refinar a análise, passarei a utilizar o Pórtico Não-Linear Físico e Geométrico (Pórtico
NLFG).
A geração deste modelo é baseada no pórtico espacial ELU do edifício e utiliza as reais armaduras detalhadas
nas vigas e nos pilares para cálculo da rigidez EI a partir de diagramas N, M, 1/r.

Partindo destes princípios, foram introduzidos coeficientes de molas arbitrários nos nós do pórtico ELU que
estão vinculados pelo solo.

Ao processar o Pórtico NLFG, então, obtém-se os seguintes resultados (diagrama de momentos fletores).

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A rigidez EI em cada trecho dos pilares foi calculada levando-se em consideração a variação de seção e as reais
armaduras detalhadas.

Os efeitos locais de 2ª ordem que, neste caso são pequenos, pois os pilares são robustos, foram calculados por
uma análise não-linear geométrica refinada. Veja abaixo o diagrama de deslocamentos.

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Pilares de Concreto Armado (Alio E. Kimura)

A verificação ELU à flexão composta oblíqua nas vigas e nos pilares pode ser facilmente realizada.

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