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PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

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1 – INTRODUÇÃO

1.1 - PATOLOGIA

Patologia: palavra de origem grega composta pela junção dos vocábulos


PATHOS, que significa doença e LOGOS, que significa estudo.

Patologia é a ciência que estuda a origem, os sintomas e a natureza das


doenças.

Patologia das construções pode ser entendida como estudo das causas, efeitos
e conseqüências do desempenho insatisfatório das construções ou de seus
elementos.

Envolve conhecimentos multidisciplinares.

1.1.1 - Causas

Causa da manifestação patológica é o fator que motivou o desempenho


insatisfatório.

FATORES: podem ser congênitos ou adquiridos.

Fatores congênitos: decorrentes de falhas originadas na construção.

Fatores adquiridos: decorrentes de alterações impostas, posteriormente, à


construção ou a seus elementos.

FATORES: endógenos ou exógenos

Fatores endógenos, intrínsecos ou internos: inerentes ao próprio imóvel,


decorrentes de falhas de projeto ou execução, aplicação de materiais ou
métodos inadequados, utilização inadequada ou esgotamento da vida útil.

Fatores exógenos ou externos: provocadas por ações, voluntárias ou não,


impostas por elementos não pertencentes à construção.

FATORES: de ordem física ou química.

Fatores físicos: envolvem elementos físicos como ação de cargas, temperatura,


dimensões, etc.

Fatores químicos: envolvem reações químicas

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2 - SOLOS

2.1 GEOTECNIA: AS RESPONSABILIDADES DAS INVESTIGAÇÕES


GEOLÓGICAS

Os vários acidentes que infelizmente vêm ocorrendo amiudadamente em obras


de engenharia em todo o país, alguns poucos chegando ao noticiário de mídia,
têm trazido à baila a íntima relação dessas obras com os terrenos geológicos
em que são construídas. E, por conseguinte, a enorme importância que as
investigações geológicas têm para o êxito técnico desses empreendimentos.

Necessário, nesse contexto, que todos os profissionais de Engenharia tenham


um exato e uniforme entendimento sobre o significado e as características
conceituais e metodológicas dessas investigações.

Ainda que em todas as fases de um empreendimento deva existir sempre um


sadio e eficiente espírito de equipe, uma ação colaborativa e interdisciplinar
entre as diversas modalidades profissionais atuantes, é fundamental que nunca
se perca de vista a responsabilidade maior que uma modalidade deve exercer,
e por ela responder, em cada atividade e em cada fase.

Nas investigações geológico-geotécnicas que antecedem o Projeto e o Plano


de Obra e se prolongam no período de obra e na própria operação do
empreendimento, essa responsabilidade maior é da Geologia de Engenharia,
entendida essa geociência aplicada como a responsável pela interface
tecnológica do Homem com o meio físico geológico.

E para tanto é preciso que fique muito claro a todos que a missão da Geologia
de Engenharia não se reduz a entregar ao projetista um arrazoado acadêmico
sobre a geologia local, a posição do NA, um punhado de perfis e seções
geológicas e outro punhado de resultados de ensaios com os índices de
comportamento geotécnico dos diversos materiais presentes. O trabalho da
Geologia de Engenharia transcende essa limitada visão meramente descritiva e
parametrizadora, ainda infelizmente bastante comum entre geólogos
executantes e engenheiros demandantes.

A abordagem da geologia de engenharia é essencialmente fenomenológica.


Todos os dados e informações anteriormente mencionados são muito
importantes, mas o produto final e essencial das investigações geológico-
geotécnicas na fase anterior ao Projeto e ao Plano de Obra é um Quadro
Fenomenológico onde todos esses parâmetros não estejam soltos ou isolados,
mas sim associados e vinculados a esperados comportamentos do maciço e
dos materiais afetados pelas futuras solicitações da obra. Ou seja, a missão
essencial da geologia de engenharia é oferecer ao projetista o quadro completo
dos fenômenos geológico-geotécnicos que podem potencialmente ser
esperados da interação entre as solicitações próprias da obra que será
implantada e as características geológicas (materiais e processos) dos terrenos
que serão por ela afetados.

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Assim, todo o esforço investigativo deve ser orientado, desde o primeiro
momento, a propor, aferir, descartar e confirmar hipóteses fenomenológicas, de
forma, ao final, ter concluído seu quadro fenomenológico real. Ou seja, não faz
desde há muito mais sentido uma campanha investigativa cega,
geometricamente sistemática ou coisas do gênero. Esse império do
padronizado e do repetitivo não é o império da inteligência, da competência e
da eficiência.

A esse quadro fenomenológico a geologia de engenharia junta suas sugestões


de cuidados e providências que projeto e obra deverão adotar para ter esses
fenômenos sob seu total controle.

A partir desse ponto a Geologia de Engenharia entrega o bastão de comando


(e responsabilidade maior) para a Engenharia Geotécnica, passando a
assumir, nesta nova fase, o papel de apoio e complementação. Lembrando que
a frente de obra sempre constituirá o lócus privilegiado para a confrontação das
hipóteses levantadas com o real, para as investigações complementares que
se mostrem necessárias e para o monitoramento dos parâmetros geotécnicos
envolvidos nos fenômenos identificados como possíveis.

Deve-se então, por corolário, afirmar que não faz sentido um sistema de
monitoramento geral e universal. Um sistema de monitoramento, seja ele visual
ou instrumental, é sempre específico, voltado a permitir o acompanhamento
ininterrupto, durante e após a obra, da eventual evolução de um determinado
fenômeno potencialmente esperado.

Assim, em uma mesma obra poderemos e deveremos ter diversos sistemas de


monitoramento, cada qual especificamente associado a uma hipótese
fenomenológica. Donde, mais uma vez, se depreende a enorme importância do
Quadro Fenomenológico elaborado pela Geologia de Engenharia.

Esse quadro deve ser tido como completo e final para uma determinada
combinação geologia/solicitações de obra, mas se por algum motivo houver
alguma alteração no tipo de solicitações, por exemplo, se for alterado o método
construtivo, há que ser rever e atualizar o quadro, pois a geologia continuará a
mesma, mas alterar-se-iam as solicitações, e portanto o resultado dessa nova
interação poderá ser fenomenologicamente diferente.

Dentro desse entendimento, será de total responsabilidade da Geologia de


Engenharia qualquer problema que venha a acontecer e que decorra de
fenômeno geotécnico que não tenha sido previsto em seu Quadro
Fenomenológico. Como será de total responsabilidade do projetista ou dos
elaboradores do Plano de Obra qualquer problema que ocorra por não ter sido
levado em conta algum fenômeno potencial incluído no referido Quadro.

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2.2 PRINCIPAIS TIPOS DE SOLO

O terreno faz parte de qualquer construção, afinal é este que dá sustentação à


sua carga e também determina características fundamentais do projeto, em
função de seu perfil e de características físicas como elevação, drenagem e
localização. No que tange à mecânica dos solos, é importante conhecer os três
tipos básicos de solos: arenoso, siltoso e argiloso.

Para efeito prático de uma construção, é preciso conhecer o comportamento


que se espera de um solo quando este receber os esforços. Para tanto, a
Mecânica dos Solos divide os materiais que cobrem a terra em alguns grandes
grupos:

• Rochas (terreno rochoso);

• Solos arenosos;

• Solos siltosos e

• Solos argilosos.

Essa divisão não é muito rígida, ou seja, nem sempre ou quase nunca, se
encontra solos que se enquadram em apenas um dos tipos. Por exemplo,
quando dizemos que um solo é arenoso estamos na verdade dizendo que a
sua maior parte é areia e não que tudo é areia. Da mesma forma, um solo
argiloso é aquele cuja maior proporção é composto por argila.

O principal critério para fazer a classificação acima é o tamanho dos grãos que
compõem o solo. O quadro a seguir mostra os diâmetros dos grãos (em mm)
para cada tipo básico de solo:

Tipo de solo: Argila Silte Areia Areia Areia Pedregulho


fina média Grossa
Diâm. Grãos Até 0,005 a 0,05 a 0,15 a 0,84 a 4,8 4,8 a 16
(mm): 0,005 0,05 0,15 0,84

Com se pode deduzir da tabela acima, uma argila é formada por grãos
extremamente pequenos, invisíveis a olho nu. As areias, por sua vez, têm
grãos facilmente visíveis, separáveis e individualizáveis, o mesmo acontecendo
com o pedregulho. Estas características mudam o comportamento do solo,
conforme veremos adiante.

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2.2.1 Solos Arenosos

São aqueles em que a areia predomina. Esta compõe-se de grãos grossos,


médios e finos, mas todos visíveis a olho nú. Como característica principal a
areia não tem coesão, ou seja, os seus grãos são facilmente separáveis uns
dos outros.

Por exemplo, pense na areia seca das praias, em como é fácil separar seus
grãos. Quando a areia está úmida ganha algo como uma coesão temporária,
tanto que até permite construir os famosos “Castelos” que, no entanto,
desmoronam ao menor esforço quando secam. A areia úmida na praia serve
até como pista de corrida graças a essa coesão temporária. Mas os solos
arenosos possuem grande permeabilidade, ou seja, a água circula com grande
facilidade no meio deles e secam rapidamente caso a água não seja reposta,
como acontece nas praias.

Imagine a seguinte situação: fazermos uma construção sobre um terreno


arenoso e com lençol freático próximo da superfície. Se abrirmos uma vala ao
lado da obra, a água do terreno vai preencher a vala e drenar o terreno. Este
perderá água e vai se adensar, podendo provocar trincas na construção devido
ao recalque provocado. A ilustração a seguir mostra o que pode acontecer:

Note-se que esta é uma situação clássica, e acontece diariamente nas cidades
litorâneas, como Santos-SP, onde são muito conhecidos os prédios inclinados
na beira da praia. Estes foram feitos com fundação superficial que afundou
quando mais e mais construções surgiram ao lado pois estas, além de
aumentarem as cargas no solo, ajudaram a abaixar o nível do lençol freático
que, por sua vez, já vinha diminuindo devido à crescente pavimentação das
ruas.

Estradas construídas em terreno arenoso não atolam na época de chuva e não


formam poeira na época seca. Isto porque seus grãos são suficientemente
pesados para não serem levantados quando da passagem dos veículos, e
também não se aglutinam como acontece nos terrenos argiloso. Estes, em
comparação, quando usados em estradas sem pavimentação, tornam as pistas
barrentas nas chuvas e na seca endurecem. Já estradas com pisos siltosos
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geram muito pó, quando os veículos passam, tudo isto em função do tamanho
dos grãos e de como eles se comportam na presença da água.

2.2.2 Solos Argilosos

O terreno argiloso caracteriza-se pelos grãos microscópicos, de cores vivas e


de grande impermeabilidade. Como conseqüência do tamanho dos grãos, as
argilas:

• São fáceis de serem moldadas com água;

• Têm dificuldade de desagregação;

• Formam barro plástico e viscoso quando úmido e

• Permitem taludes com ângulos inclinados. É possível achar terrenos argilosos


cortados assim onde as marcas das máquinas que fizeram o talude duraram
dezenas de anos.

Em termos de comportamento, a argila é o oposto da areia. Devido à sua


plasticidade e capacidade de aglutinação, o solo argiloso é usado há milhares
de anos como argamassa de assentamento, argamassa de revestimento e na
preparação de tijolos. As lendárias Torres de Babel, assim como todas as
edificações importantes da Babilônia, foram feitos de tijolos de barro cozidos ao
sol.

A maior parte do solo Brasileiro é de solo argiloso e este tem sido utilizado de
maneiras diferentes ao longo da nossa história, desde a taipa de pilão do
período colonial até os modernos tijolos e telhas cerâmicas, sem falar dos
azulejos e pisos cerâmicos.

Os grãos de argila são lamelas microscópicas, ao contrário dos grãos de areia


que são esferoidais. As características da argila estão mais ligadas à esta
forma lamelar dos grãos do que ao tamanho diminuto.

Os solos argilosos distinguem-se pela alta impermeabilidade. Aliás, são tão


impermeáveis que se tornaram o material preferido para a construção de
barragens de terra, claro que devidamente compactadas. Quando não há argila
nas imediações vai se buscar onde ela estiver disponível, em regiões que
passam a ser denominadas “áreas de empréstimo”.

2.2.3 Solos Siltosos

O Silte está entre a areia e a argila e é o “primo pobre” destes dois materiais
nobres. É um pó como a argila, mas não tem coesão apreciável. Também não
tem plasticidade digna de nota quando molhado.

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Estradas feitas com solo siltoso formam barro, na época de chuva e muito pó
quando na seca. Cortes feitos em terreno siltoso não têm estabilidade
prolongada, sendo vítima fácil da erosão e da desagregação natural, exigindo
mais manutenção e cuidados.

2.2.4 Outras Denominações

A divisão feita pela Mecânica dos Solos é meramente científica, na natureza os


solos são encontrados em diversas proporções e recebem nomes populares
dependendo de seu tipo e conforme cada região do Brasil. Veja alguns outros
termos:

• Piçarra: Rocha muito decomposta e que pode ser escavada com pá ou


picareta.

• Tabatinga ou turfa: Argila com muita matéria orgânica, geralmente


encontrada em pântanos ou locais com água permanente (rios, lagos), no
presente ou no passado remoto.

• Saibro: Terreno formado basicamente por argila misturada com areia.

• Moledo: Rocha em estado de decomposição mas ainda dura, tanto assim que
só pode ser removida com martelete a ar comprimido.

Apresenta-se, a seguir, um quadro com os usos mais recomendáveis para os


três tipos de solo:
USO SOLO ARENOSO SOLO SOLO
SILTOSO ARGILOSO
FUNDAÇÃO É adequado, mas Similar ao solo É usual e
DIRETA necessita atenção aos arenoso, porém recomendável,
recalques devido ao é menos mas também
abaixamento do lençol sensível ao ocorrem
freático. Durante a lençol freático e problemas de
execução, é difícil também é mais recalques em
manter a estabilidade fácil de função do lençol
das paredes laterais escavar. freático. Dirante a
escavação, é fácil
de manter a
estabilidade das
paredes laterais.

FUNDAÇÃO EM Difícil de cravar frente É usual, por ser Usual, mas a


ESTACA ao atrito lateral. Em possível tirar estaca
terrenos molhados, é partido tanto do geralmente
preciso fazer cravação atrito lateral precisa atingir

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a ar comprimido. quanto da profundidades
resistência de maiores para
ponta para aumentar
aborver a capacidade de
carga. carga.
CORTES E Não recomendável, Possível, mas é Possível devido à
TALUDES SEM pois o talude fica preciso levar grande coesão e
PROTEÇÃO instável. em conta a estabilidade.
coesão e o
ângulo de atrito
para
dimensionar o
talude. A altura
de corte é
menor do que
para as argilas.
ESFORÇOS EM Esforços são maiores, Comportamento Esforços são
ESCORAMENTO levando à idêntico ao solo menores, o
necessidade de arenoso. escoramento
escoramento pode ser bem
contínuo. espaçado e não-
contínuo.
RECALQUES Recalques em solo Intermediário Recalques
FRENTE ÀS arenoso são imediatos entre areia e extremamente
CARGAS à aplicação das argila. lentos, pode levar
cargas, mas podem décadas para
ocorrer posteriormente ocorrer a
devido à mudança do estabilização.
lençol freático.
ADENSAMENTO Adensamento ocorre Há Há adensamento
E apenas se houver adensamento se houver perda
COMPACTAÇÃO perda de água. A se houver de água.
compactação se faz perda de água. Compactação é
com vibração. Compactação é feita com
feita com percussão e com
percussão ou rolos.
com rolos (pé-
de-carneiro)
DRENABILIDADE Ocorre facilmente, Aceita água Alta
mas precisa cuidado passante, mas impermeabilidade
com a instabilidade necessita dificulta a
das paredes e do verificação drenagem.
fundo das valas. cuidadosa da
coesão e
ângulo de
atrito.
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MATERIAL DE Não recomendável, Utilizável desde Recomendável
BARRAMENTO por ser permeável e que com maior pela
sem coesão. Os coeficiente de impermeabilidade,
taludes são instáveis e segurança. coesão e ângulo
haveria fluxo intenso Tem pouca de atrito
de água pela coesão e os favoráveis à
barragem. taludes ficam estabilidade.
mais abatidos

O reconhecimento do tipo de solo pode ser complicado. Em geral, os solos


estão misturados, é difícil achar um solo que seja 100% argila ou 100% areia.
Por isto, usa-se denominações como “argila silto-arenosa”, “silte argiloso”,
“areia argilosa” e similares. A determinação do tipo de solo é fundamental para
a construção civil, em especial para o cálculo da movimentação de terra e para
a escolha das fundações.

Justamente pela dificuldade em determinar o tipo de solo e em determinar suas


características para a escolha de fundações é que se faz o denominado
“ensaio à percussão”, mais conhecido como “ensaio SPT”, que mostramos no
artigo a seguir. Com os parâmetros SPT em mãos torna-se possível escolher a
fundação com precisão ou, caso o projetista ainda sinta falta de alguma
informação, poderá solicitar um teste mais específico.

2.3 INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

A sondagem a percussão é também chamada de “Simples reconhecimento” ou,


ainda, de “Sondagem SPT”. Este nome vem da abreviação dos termos ingleses
“Standard Penetration Test”, ou seja, “Teste de Penetração Padrão”. Este
processo é muito usado para conhecer o sub-solo fornecendo subsídios
indispensáveis para escolher o tipo de fundação. Conheça um pouco mais
sobre este teste tão importante para a Arquitetura e a Construção Civil.
O projeto de fundações é uma etapa importante de qualquer construção, de
todos os portes. Afinal, é sobre a fundação que repousa todo o peso da obra, e
de nada adiante construir sobre uma base instável.

O conhecimento do tipo de solo, conforme já mostramos em artigo anterior, é


importante para se conhecer o comportamento esperado ao receber as cargas,
mas para saber o melhor tipo de fundação é preciso saber:

• Quais são os tipos de solo que estão sob a obra, qual a profundidade e
espessura das camadas;
• Qual é a profundidade do lençol freático;

• Qual é a capacidade de carga do sub-solo, nas diversas profundidades;

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• Como o solo se comporta ao receber carga.

Para obter estes tipos de informação o teste mais econômico e elucidativo é o


ensaio SPT. A partir dele o projetista de fundações poderá solicitar exames
mais específicos, caso ache necessário.

2.3.1 Equipamentos
Utilizados

O equipamento para a
sondagem a percussão é
simples e pode ser
relativamente barato.
Existem soluções mais
sofisticadas em termos de
facilidade e precisão, mas o
material básico consiste em:

• Tripé equipado com


sarilho, roldana e cabo;

• Tubos metálicos de
revestimento, com diâmetro
interno de 63,5 mm (2,5”);

• Hastes de aço para avanço


da perfuração, com diâmetro
interno de 25 mm;

• Martelo de ferro para


cravação das hastes de
perfuração, do amostrador e Equipamento para ensaio de percussão e
do revestimento. Seu medição do SPT de subsolo.
formato é cilíndrico e o peso é de 65 kg;

• Conjunto motor-bomba para circulação de água no avanço da perfuração;

• Trépano de lavagem constituído por peça de aço terminada em bisel e dotada


de duas saídas laterais para a água a ser utilizada;

• Trado concha com 100 mm de diâmetro e helicoidal com diâmetro de 56 a 62


mm;

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• Amostrador padrão de diâmetro externo de 50,8 mm e interno de 34,9 mm,
com corpo bipartido (vide figura abaixo).

Com equipamento tão simples, é de suma importância que o pessoal que vai
manuseá-lo seja bem treinado, sério e atento. Daí de percebe a importância de
escolher uma boa empresa de sondagem, pois um teste mal feito pode levar a
conclusões errôneas e interferir negativamente na escolha e dimensionamento
da fundação, ou seja, haverá um aumento no custo e possível perda na
qualidade da edificação.

2.3.2 Como é Feita a Sondagem

O ensaio consiste em fazer uma perfuração vertical com diâmetro normal 2,5"
(63,5mm). A profundidade varia com o tipo de obra e o tipo de terreno, ficando
em geral entre 10 a 20 m. Enquanto não se encontra água, o avanço da
perfuração é feita, em geral, com um trado espiral (helicoidal).

O avanço com trado é feito até atingir o nível de água ou então algum material
resistente. Daí em diante, a perfuração continua com o uso de trépano e
circulação de água, processo denominado de “lavagem”. O trépano é uma
ferramenta da largura do furo e com terminação em bisel cortante, usado para
desagregar o material do fundo do furo.

O trépano vai sendo cravado no fundo do furo por repetidas quedas da coluna
de perfuração (trépano e hastes). O martelo cai de uma altura de 30 cm, e a
queda é seguida por um pequeno movimento de rotação, acionado
manualmente da superfície, com uma cruzeta acoplada ao topo da coluna de
perfuração. Injeta-se água sob pressão pelos canais existentes nas hastes,
esta água circula pelo furo arrastando os detritos de perfuração até a
superfície. Para evitar o desmoronamento das paredes nas zonas em que o
solo apresenta-se pouco coeso é instalado um revestimento metálico de
proteção (tubos de revestimento).

A sondagem prossegue assim até a profundidade especificada pelo projetista


(que se baseia na norma), ou então até que a percussão atinja material duro
como, por exemplo, rocha, matacões, seixos ou cascalhos de diâmetro grande.

Durante a perfuração, a cada metro de avanço é feito um ensaio de cravação


do amostrador no fundo do furo, para medir a resistência do solo e coletar
amostras. Esse ensaio, denominado ensaio de penetração ou ensaio SPT, é
feito com equipamento e procedimento padronizados no mundo todo, para
permitir a correlação de seu resultado com a experiência consolidada de muitos
estudos feitos no Brasil e no exterior.

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O amostrador
(figura ao lado) é
cravado através do
impacto de uma
massa metálica de
65 kg caindo em
queda livre de 75
cm de altura. O
resultado do teste
Amostrador padrão para ensaio SPT. A padronização
SPT será a internacional permite comparações entre estudos feitos em
quantidade de diversas partes do mundo.
golpes necessários
para fazer penetrar os últimos 30 cm do amostrador no fundo do furo. Se o solo
for muito mole, anota-se a penetração do amostrador, em centímetros, quando
a massa é simplesmente apoiada sobre o ressalto. A medida correspondente à
penetração obtida por simples apoio, ou zero golpes, pode ser expressiva em
solos moles. Na penetração por batida da massa conta-se o número de golpes
aplicados, para cada 15 cm de penetração do amostrador.

As diretrizes para a execução de sondagens são regidas pela NBR 6484,


"Execução de Sondagens de simples reconhecimento", a qual recomenda que,
em cada teste, deve ser feita a penetração total dos 45 cm do amostrador ou
até que a penetração seja inferior a 5 cm para cada 10 golpes sucessivos. A
cada ensaio de SPT prossegue-se a perfuração (com o trado ou o trépano) até
a profundidade do novo ensaio.

No Brasil, as empresas de sondagem estão adquirindo equipamentos com


sistema hidráulico e movidos por motor a combustão, para execução do ensaio
SPT, cujo amostrador é cravado no terreno por meio de martelo mecânico.

2.3.3 Critérios de Paralisação da Sondagem

O processo de perfuração, por trado ou lavagem, associado aos ensaios


penetrométricos, será realizado até onde se obtiver nesses ensaios uma das
seguintes condições:

1 - Quando em 3 m sucessivos se obtiver índices de penetração maiores do


que 45/15;
2 - Quando em 4 m sucessivos forem obtidos índices de penetração entre
45/15 e 45/30;
3 - Quando, em 5 m sucessivos, forem obtidos índices de penetração entre
45/30 e 45/45 (número de golpes/espaço penetrado pelo amostrador).

Caso a penetração seja nula dentro da precisão da medida na seqüência de 5


impactos do martelo o ensaio será interrompido, não havendo necessidade de
obedecer o critério estabelecido acima.

Entretanto, ocorrendo essa situação antes de 8,00 m, a sondagem será


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deslocada até o máximo de quatro vezes em posições diametralmente opostas,
distantes 2,00 m da sondagem inicial.

2.3.4 Coleta de Amostras

Na sondagem a percussão, são coletadas amostras obtidas pelo amostrador e


aquelas retiradas nos avanços dos furos entre um e outro ensaio de SPT, por
trado ou lavagem. As amostras retiradas do amostrador devem ser
acondicionadas em frascos herméticos para a manutenção da umidade natural
e das suas estruturas geológicas.

As amostras de trado devem ser acondicionadas em sacos plásticos ou


ordenadas nas próprias caixas de amostragem. As amostras retiradas por
sedimentação da água de lavagem ou de circulação também devem ser
guardadas. Elas são constituídas principalmente pela fração arenosa do solo
original, pois os finos geralmente são levados pela água de circulação da
sondagem.

2.3.5 Índice de Resistência à Penetração

O índice SPT foi definido por Terzaghi-Peck, que nos diz que o índice de
resistência à penetração (SPT) é a soma do número de golpes necessários à
penetração no solo, dos 30 cm finais do amostrador. Despreza-se portanto o
número de golpes correspondentes à cravação dos 15 cm iniciais do
amostrador.

Ainda que o ensaio de resistência à penetração não possa ser considerado


como um método preciso de investigação, os valores de SPT obtidos dão uma
indicação preliminar bastante útil da consistência (solos argilosos) ou estado de
compacidade (solos arenosos) das camadas do solo investigadas. Veja a
tabela abaixo:

Índices de resistência à penetração e respectivas designações


Índice de Resistência á
Solo Designação
Penetração
Areias e siltes <= 4 Fofo
arenosos
5 - 10 Pouco compacto

14
Medianamente
11 - 30
compacto
31 - 50 Compacto
> 50 Muito compacto
<= 2 Muito mole
3-4 Mole
Areias e siltes 5 - 8 Média
argilosos 9 - 15 Rija
16 - 30 Muito rija
> 30 dura

2.3.6 Número de Furos

A NBR 8036/83 (Programação de sondagens de simples reconhecimento dos


solos para fundações de edifícios) estabelece os números de perfurações a
serem feitas, em função do tamanho do edifício, conforme segue:

• No mínimo uma perfuração para cada 200m² de área da projeção em planta


do edifício, até 1.200m² de área;

• Entre 1.200 m² e 2.400m² fazer uma perfuração para cada 400 m² que
excederem aos 1.200 m2 iniciais;

• Acima de 2.400m² o número de sondagens será fixado de acordo com o plano


particular da construção.

Em quaisquer circunstâncias o número mínimo de sondagens deve ser de 2


para a área da projeção em planta do edifício até 200m², e três para área entre
200m² e 400m².

2.3.7 Interpretação dos Resultados

Na maioria dos casos, a interpretação dos dados SPT visa a escolha do tipo
das fundações, a estimativa das taxas de tensões admissíveis do terreno e
uma previsão dos recalques das fundações.

Assim, a empresa encarregada de fazer o ensaio fornece um relatório dos


trabalhos e uma desenho esquemático de cada furo. A partir daí, cabe ao
projetista interpretar os resultados para escolher o tipo de fundação ou, se
ainda achar os dados inconclusivos, pedir algum ensaio mais específico.
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A escolha do tipo de fundação é feita analisando os perfis das sondagens,
cortes longitudinais do subsolo que passam pelos pontos sondados. A pressão
admissível a ser transmitida por uma fundação direta ao solo depende da
importância da obra e também da experiência acumulada na região, podendo
ser estabelecida em função de índice correlacionado com a consistência ou
compacidade das diversas camadas do subsolo.

O quadro abaixo apresenta uma correlação do mesmo tipo, para solos


coesivos, igualmente estabelecida por Terzaghi-Peck. Esta correlação entre o
índice de resistência à penetração e a resistência à compressão simples é
ainda menos precisa que a anterior e tem também caráter indicativo.

Relação entre tensão admissível e número de golpes (SPT)


Tipo de solo Consistência SPT Tensão admissível (Kg/cm²)
Muito mole <2 < 0,25
Mole 2a4 0,25 a 0,5
Média 4a8 0,5 a 1,0
Argila
Rija 8 a 15 1a2
Muito rija 16 a 30 2 a 4
Dura > 30 maior que 4
Fofa <= 4 <1
Pouco compacta 5 a 10 1a2
Areia Medianamente compacta 11 a 30 2 a 4
Compacta 31 a 50 4 a 6
Muito compacta > 50 >6
Além da tabela anterior, é possível estimar a carga admissível em um solo
mediante a fórmula abaixo:

Assim, por exemplo, um solo com índice SPT de 20 teria uma tensão
admissível de 3,47 Kg/cm/² e outro com SPT 16 teria uma tensão admissível de
3 Kg/cm/². Mas devemos ressaltar que estes valores, tanto das tabelas quanto
da fórmula acima, são muito genéricos e imprecisos. Só mesmo uma análise
criteriosa da sondagem por um técnico especializado pode determinar com
precisão o melhor valor para a resistência do solo.

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Isto porque além do tipo de solo e sua resistência SPT, o projetista deve levar
em conta outros fatores inerentes às fundações (forma, dimensões e
profundidade) e ao terreno que servirá de apoio, analisando a profundidade,
nível d'água e possibilidade de recalques, além da existência de camadas mais
fracas abaixo da cota de nível prevista para assentar as fundações.

2.3.8 Apresentação dos Resultados

Os dados colhidos na sondagem são mostrados na forma de perfil individual do


furo, ou seja, um desenho que traduz o perfil geológico do subsolo na posição
sondada, baseado na descrição dos “testemunhos”, aquelas amostras colhidas
durante a perfuração. A descrição dos testemunhos é feita a cada manobra e
inclui:

1 - Classificação litológica: Cor, tonalidade e dados sobre formação geológica,


mineralogia, textura e tipo dos materiais.

2 - Estado de alteração das rochas: Trata-se de um fator que faz variar


extraordinariamente suas características. As descrições do grau de alteração
das rochas, embora muito informativas, são até certo ponto subjetivas por se
basearem normalmente na opinião do autor da classificação.

3 - Grau de fraturamento: Uma das maneiras de avaliar o grau de fraturamento


da rocha é através do número de fragmentos por metro, obtido dividindo-se o
número de fragmentos recuperados em cada manobra pelo comprimento da
manobra.

2.3.9 Perfis Geológicos Típicos

O solo varia de região para região, dentro do próprio lote podem ocorrer
variações bruscas de composição e resistência do solo, daí a importância de
seguir os procedimentos normatizados para ter uma representação o mais fiel
do subsolo em estudo.

2.4 PATOLOGIA GEOTÉCNICA

A engenharia geotécnica deve ser praticada integralmente para não se tornar o


agente causador de manifestações patológicas. Sua aplicação, sem considerar
a intuição, pode ser catastrófica. A origem das manifestações patológicas, em
engenharia geotécnica, ou seja, em obras de: contenções, taludes, fundações,
barragens e outras; está relacionada a diversos fatores, mas um é o principal e
essencial, assim chamado de intuição, percepção, bom senso ou senso crítico.

17
A prática do engenheiro geotécnico tem sido exercida de forma dicotômica. No
que se refere à questão já tão polemizada entre a experiência e a teoria (lógica
matemática).

Desse modo, acredita-se que as questões polemizadas, entre teoria e prática,


teriam sido atendidas. Ou seja, haveria a aplicação dos aspectos teóricos e
práticos.

Entretanto, muitas vezes isso não é realizado, ou seja, o projeto tem sido
reduzido a um desenho apenas e pior, até as questões lógicas da engenharia
geotécnica, como o cálculo e as investigações geotécnicas, têm sido
negligenciados.

O poder econômico e político têm corrompido o meio técnico levando a uma


prática de engenheira geotécnica lamentável. Pois, é sabido o quanto às
sondagens, ensaios e outros procedimentos consagrados, vêm sendo
negligenciados, e quando realizados, de forma inadequada, acarretando em
conseqüências desastrosas.

Mas, o fato é que o engenheiro geotécnico, parece ter perdido seu senso
crítico. Pode-se lembrar de um artigo de Peck, de 1980, intitulado “Onde Foi
Parar O Senso Crítico?”, no qual relata diversos insucessos de obras de
barragens, atribuídos à falta de bom senso.

O que é interessante ressaltar, que quando explica o bom senso/senso crítico


leva a questão da falta de experiência dos engenheiros “calculistas”, isto é, a
supervalorização dos cálculos (método dos elementos finitos) em detrimento a
experiência. E, explica não ser contra os cálculos.

Considera-se atual a questão colocada no artigo de Peck (1980),


principalmente pela “atualidade” da questão, lembremos dos insucessos
recentes, e conclui-se que a sociedade especializada ainda não conseguiu
implantar tal conduta, pressionada que é pelos poderes dominantes. Não se
deseja aqui, eximi-la da responsabilidade. Muito pelo contrário, entende-se que
todo e qualquer profissional que se submete, a tal comportamento, está se
permitindo a corrupção de seus valores mais profundos e éticos.

Quanto à explicação de Peck, de colocar o senso crítico relacionado apenas


com a experiência, tenho a considerar minha opinião contrária, ou uma
interpretação diferente da que tive, ao ler seu artigo.

Pode-se compreender que existem três fatores a serem considerados, para


consecução de uma boa engenharia geotécnica, que são: teoria, prática e
intuição e este último pode ser entendido como percepção, bom senso ou
senso crítico.

A engenharia geotécnica deve ser exercida, de forma integral, contemplando

18
três aspectos ao mesmo tempo, ou seja: a razão (matemática, cálculo), a
prática (ação) e a energia essencial que é a intuição.

Assim, pode-se concluir, que a boa engenharia geotécnica, só será profícua, ao


considerar a teoria conjuntamente com a experiência, sem excluir, mas muito
ao contrário, considerando necessariamente e principalmente a intuição ou
percepção, como um fator indispensável à boa prática da engenharia.

No caso da engenharia geotécnica, o engenheiro deve se por em ação,


utilizando as técnicas existentes, e mais adequadas, caso a caso, tanto nas
investigações como nos cálculos, além de sua experiência e a bibliografia
existente e, conjuntamente com as ferramentas vindas da teoria, que
representa os pesquisadores e a prática vivenciada em projetos e obras. Mas,
sem perder o senso crítico, o bom senso, a intuição e percepção.

Voltando a questão de Peck (1980) tem-se a ratificar que o ser humano parece
estar totalmente alheio às infinitas oportunidades metafísicas, reduzindo e
ainda, precariamente, a engenharia geotécnica, a aspectos eminentemente
sensoriais, indo do particular para chegar no geral, deixando de lado sua
capacidade e idéias ou senso crítico.

Até certo momento da vida profissional, o engenheiro normalmente se depara


com a dúvida de qual seria o caminho mais adequado a seguir. Seduzido pela
teoria (pesquisa acadêmica), mas com certa insatisfação, pois sente a
necessidade dos aspectos práticos referentes à execução das obras.

Se bem que para realizar um bom projeto, é dever do engenheiro geotécnico


imaginar a execução da obra projetada. Assim, ele deve definir as etapas e a
seqüência construtiva e as especificações técnicas de execução, além do
controle tecnológico. Também é indispensável considerar que o projetista
geotécnico realize a assessoria técnica a obra, procurando identificar se as
premissas de projeto estão se confirmando, e ajustá-las as reais condições de
campo.

2.5 ESCORREGAMENTO DE TALUDES E ENCOSTAS

Na época de chuvas é comum ocorrer os deslizamentos ou escorregamentos


de taludes e encostas. Em zonas urbanizadas estas ocorrências são mais
graves, pois envolvem vidas humanas muito mais efetivamente.

2.5.1 Competência da Solução

Entende-se que a solução para esses problemas é de competência dos


engenheiros civis, apesar de algumas escolas de arquitetura terem, em seus
currículos, as cadeiras de mecânica dos solos e obras de terra, que tratam do
assunto e, dos geólogos que deveriam sempre estar assessorando e
trabalhando junto com engenheiro civil especializado em geotecnia.
19
No entanto, os cursos de graduação devem ser entendidos como básicos, pois
o tempo disponível para da engenharia geotécnica é muito inferior ao
necessário. E, portanto, julga-se indispensável o envolvimento de engenheiros
civis especializados em geotecnia para conceberem as soluções aos
problemas de escorregamentos ou movimentações de solo.

2.5.2 Conhecimentos Básicos

Os conhecimentos básicos que devem estar na mente dos profissionais


envolvidos com os deslizamentos de terra serão descritos a seguir:

• Existem agentes e causas deflagradoras dos escorregamentos. Os agentes


podem ser predisponentes ou efetivos, estes podem ser preparatórios ou
imediatos. Os agentes predisponentes referem-se, principalmente, aos
aspectos geológicos, hidrológicos e morfológicos. Os preparatórios são aqueles
que progressivamente causam um efeito nocivo à estabilidade do maciço de
terra e ou rocha;

• As causas da ação dos agentes podem ser resumidas em um aumento da


solicitação da estrutura do maciço e ou em uma redução da resistência dos
materiais do maciço;

• As principais causas que deflagram os movimentos de terra são: as águas


subterrâneas, as chuvas e as ações antrópicas;

• As principais ações antrópicas são: lançamento e concentração de águas,


execução de aterros e cortes inadequados, lançamentos de matérias diversos
em taludes e encostas e remoção de cobertura vegetal.

2.5.3 Providências Técnicas

Identificada uma área crítica, recomendam-se as seguintes providencias


genéricas, a serem atribuídas a um engenheiro civil geotécnico:

• Investigar os itens supracitados, através de visita ao local, consulta a mapas


geológicos, morfológicos e outros. Além da execução de sondagens, ensaios
de laboratório e campo, pesquisas bibliográficas e levantamentos topográficos;

• Analisar e interpretar as informações geotécnicas do item anterior, além de


outras específicas que dependem de cada caso;

• Diagnosticar o problema identificando sua causa ou fenomenologia e


gravidade a curto, médio e longo prazo;

• Determinar soluções possíveis e providências necessárias, tanto as


imediatas, como outras a médio e longo prazo.
20
2.5.3 Questão Filosófica

Sugere-se, sempre, que empresas especializadas em projetos e consultoria em


engenharia geotécnica sejam consultadas, para investigar e interpretar as
condições geotécnicas e diagnosticar o problema, oferecendo alternativas de
solução. Depois, poderão ser efetuados estudos econômicos, considerando os
riscos a população e recursos disponíveis e prazos envolvidos.

Recomenda-se como filosofia praticar engenharia geotécnica de uma forma


que os problemas sejam tratados de forma transparente desde as dificuldades
nas investigações geotécnicas até a avaliação dos resultados da obra. Ou seja,
a prática desta especialidade trata dos solos cujos comportamentos são
bastante variáveis e peculiares sendo muitas vezes difícil sua investigação.
Assim, o engenheiro geotécnico deveria muitas vezes avaliar os resultados das
obras, sem que a sociedade pusesse em duvida sua capacidade. Mas, sim se
entende sua dificuldade e ignorância sempre afeta às suas tomadas de
decisões.

Concluída a fase de investigações, caracterizado o problema do ponto de vista


geotécnico, entende-se ser indispensável ao proprietário da obra ou órgão
público o conhecimento da causa ou origem do problema, objeto daquela
intervenção geotécnica.

Portanto, julga-se importante que a sociedade tenha não apenas a solução do


problema, mas também, o conhecimento das incertezas geotécnicas que
justificam as investigações e a avaliação de desempenho. Entende-se ser esta,
a melhor forma para conjuntamente com o interessado, escolher a melhor
solução técnica e econômica para o problema.

2.5.4 Contratação do Projeto

O responsável por uma área afetada pela instabilização deverá saber contratar
os serviços de projeto e consultoria para que as recomendações apresentadas
anteriormente sejam efetivamente implementadas. Caso contrário, a
probabilidade do problema se repetir ou até se agravar e dos riscos
aumentarem elevando os custos da solução final serão maiores.

Assim recomenda-se a execução de um termo de referência na contratação


destes serviços que contemplem no mínimo o atendimento as normas
brasileiras da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e ao
Programa de Qualidade Setorial da ABEG (Associação das Empresas de
Projeto e Consultoria de Engenharia Geotécnica) desenvolvido inicialmente
para o programa de qualidade QUALIHAB do CDHU (Companhia de Habitação
e de Desenvolvimento Urbano do Estado de São Paulo).

A contratação de empresas executoras de obras nem sempre é desejável. Pois


21
estas empresas geralmente são especializadas em determinadas soluções de
contenções e não contemplariam, portanto todas as alternativas. Para cada
problema há uma série de possíveis para uma solução mais econômica de um
dado problema forçando assim uma solução conveniente a si próprio.

2.5.5 Conteúdo do Projeto

O termo de referência deve conter a descrição dos serviços a serem


desenvolvidos pelo engenheiro geotécnico. Este instrumento tem como função
dar transparência às envolvidas na contratação do conteúdo do trabalho a ser
desenvolvido e, portanto nivelar os custos das propostas ofertadas pelos
interessados na execução do projeto.

O projeto deverá conter:

a) Conhecimento do Problema

• Possibilidade de riscos de novos deslizamentos;

• Comprometimento de edificações ou outras obras do entorno;

• Geometria do problema (inclusive da ruptura);

• Situação do sistema de drenagem;

• Análise dos condicionantes geológicos;

• Mecanismo, causa, origem e fenomenologia do problema.

b) Levantamento Planialtimétrico Cadastral

• Referencial de nível seguro (marco de concreto) para projeto e obra;

• Densidade de pontos de levantamento, mínimo 200 por hectare;

• Desenho em CAD.

c) Investigação Geológico-Geotécnica

• Justificativa do programa realizado para conhecer os tipos e comportamento


de solos;

• Perfil e outros resultados das investigações;

22
• Camadas tipicamente semelhantes, identificadas através de índices e
parâmetros geotécnicos;

• Justificativa do que e como foi adotado para representar os tipos e


comportamentos dos solos.

d) Parâmetros Geotécnicos

• Justificativa de como foram adotados os parâmetros para os cálculos;

• Justificativa dos tipos de solos e comportamentos adotados;

• Agrupamento dos parâmetros por camadas.

e)Hipóteses e Metodologias de Cálculo

• Hipóteses, modelos mentais, físicos e matemáticos adotados;

• Justificativa técnica econômica da solução;

• Solução de contenção e ou estabilização adotada, conforme origem, causa ou


fenomenologia do problema;

• Hipóteses e metodologias de cálculo adotadas;

• Referências bibliográficas adotadas, indicando: autor(es), data, livro, tese,


artigo, congresso, volume e página;

• Referências das formulas expressões e parâmetros junto com os cálculos.

f) Cálculos e Resultados

• Cálculos e resultados, sempre com correspondente justificativa;

• Justificativa de todos os termos, parâmetros e variáveis (com referências);

• Seções e outras peças gráficas indicando:

- A obra com dimensões;

- O correspondente perfil geológico geotécnico.

g) Planta da Situação Atual

23
h) Planta da Situação Projetada

• Elementos geométricos necessários à quantificação e execução da obra;

• Seções e detalhes que permitam compreensão da obra.

i) Quantitativos e Custos

• Quantitativos e custos

• Relação dos itens do quantitativo e especificações técnicas.

j)Métodos e Etapas Executivas

• Seqüência de execução da obra.

k) Especificações Técnicas e Critérios de Medição e Pagamento

• Procedimentos e controles tecnológicos a serem atendidos pelo executor da


obra;

• Especificações de execução e recebimento, que deverão estar relacionadas


com item de quantitativos, conforme cada item de medição.

l) Contratação da Obra

m) Acompanhamento Técnico da Obra

Manda a boa norma (e o bom senso!) que o acompanhamento técnico das


obras seja realizado por engenheiro geotécnico.

2.6 ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES

A estabilização de taludes naturais, de corte ou de aterros compactados talvez


seja a demanda mais comum do grande universo das obras da Engenharia
Geotécnica. Seja em obras viárias, em barragens, em mineração, em
canalização de cursos d’água, em terraplenos para instalações industriais ou
comerciais, em zonas de expansão urbana, em escavação de valas, em
encostas naturais de regiões serranas, etc., lá estão os taludes a representar
ameaças graves e reais para a implantação e a operação dos serviços
pretendidos.

Em um país como o nosso, com grande parte de seu território caracterizado


24
por um clima úmido e quente, o que se traduz em forte atuação do
intemperismo químico sobre os maciços e em índices pluviométricos críticos,
fenômenos de instabilidade de taludes impõem-se sobremaneira como comuns
e problemáticos.

Pode-se afirmar que em termos teóricos e práticos a Geotecnia brasileira


destaca-se, inclusive em termos internacionais, por sua grande evolução,
especialmente a partir dos anos 60, no entendimento e no enfrentamento do
problema.

No entanto, por motivos que demandariam uma maior análise, o que se tem
visto mais recentemente é o predomínio, ou do descaso, quando então “torce-
se” para que não aconteça nada com o talude e incorpora-se o risco de
enfrentar-se as conseqüências de uma eventual ruptura ou erosão
generalizada, ou da adoção cômoda da “moda” tecnológica do momento para
uma pretendida solução do problema.

Essa questão do modismo em obras de engenharia é um dos fatores que mais


depõem contra a imagem técnica nacional. Pois que o modismo expõe
justamente a fragilidade técnica para a compreensão e avaliação do problema
real e singular que se enfrenta, providência que, se bem conduzida, propiciaria
a escolha de uma solução específica ótima para cada caso em particular. Com
certeza, sempre mais segura e mais econômica.

É prática do modismo na engenharia o caminho inverso do pensamento


racional e científico: “tem-se a solução e sai-se à procura do problema”.

Na linha do modismo, por muito tempo enfrentamos, no caso da estabilização


de taludes, a “ditadura” do muro de gravidade de concreto. Seguiram-lhe os
extensos retaludamentos em bermas de alívio. Mais à frente, apresentou-se a
“panacéia” da cortina e dos painéis atirantados. Logo adiante apareceram os
“milagrosos” gabiões, sendo indicados para todo tipo de fenômeno. Todas
essas alternativas, com maior ou menor intensidade, lançaram também mão
dos polêmicos drenos horizontais profundos. Algumas técnicas
complementares também gozaram seus momentos de fama e cobiçado
modismo: hidro-semeadura, geo-téxteis, telas orgânicas, terra armada, entre
outras. Mais recentemente tenho percebido a adoção de mais um modismo,
desta vez o concreto projetado com tela de armação, técnica também
conhecida por “tela argamassada”.

Seja o caso de uma suspeita de ruptura profunda, seja o caso do risco de


desprendimento de blocos de rocha, seja o caso de uma desagregação ou uma
erosão superficial ou outro fenômeno qualquer, lá está a “milagrosa” solução:
tela argamassada. E para completar a precariedade do conhecimento técnico,
instala-se a indefectível malha geométrica daqueles drenos de PVC, desde a
base até praticamente o limite superior do talude, como se o nível d’água
pudesse variar com essa extensão vertical em um talude de corte. Fosse o
caso de se aliviar eventuais sub-pressões entre a face do talude e a crosta de
concreto por águas infiltradas, bastaria que se picotasse (perfurasse) esta
25
crosta, obedecendo a mesma malha geométrica, com um bom martelo de
ponta, o que dispensaria aquela infinidade de tubos “espetados” passando a
idéia de sofisticados drenos.
Enfim, a base do modismo tecnológico está no descaso com a necessidade de
uma boa investigação fenomenológica, e seu resultado prático é a profusão de
obras de estabilização que não têm absolutamente nada a ver com os reais
fenômenos de instabilidade ocorrentes nos taludes a que se destinam. Uma
enganosa facilidade de momento que leva inexoravelmente a gastos
desnecessários (“matando moscas com canhão”) ou a problemas que vão
desde graves acidentes a enormes despesas com serviços de manutenção,
sobre-conservação e recuperação para um futuro próximo. Como sempre, uma
“esperta” economia em projeto e em consistentes estudos preliminares
continua vitimando o orçamento de contratantes, impondo-lhes com freqüência
graves problemas de ordem logística e jurídica. Como também colaborando
para corroer sua imagem social.

O abandono do deletério modismo tecnológico passa pela disposição de


contratantes, projetistas e empreiteiras em retornar à velha e sábia verdade de
ordem geológico-geotécnica: o procedimento de estabilização de um talude, de
qualquer natureza, inicia-se, necessariamente, pela exata compreensão
qualitativa e quantitativa do fenômeno geológico-geotécnico que se está
enfrentando. Somente essa compreensão, para o que a participação de uma
boa Geologia de Engenharia é indispensável, permitirá a adoção de uma
solução perfeitamente solidária e adequada ao fenômeno. Adicionalmente, a
segurança proveniente dessa compreensão libera o projetista para a adoção de
Coeficientes de Segurança mais modestos e para uma maior ousadia na
escolha da solução de engenharia. Do que decorrerão, em relação direta,
obras mais econômicas e eficazes. Enfim, e resumindo, retornar ao primado da
inteligência e do bom senso.

2.7 A IMPORTÂNCIA DA CAMADA SUPERFICIAL DE SOLOS

No âmbito da Geologia de Engenharia e da Agronomia talvez não haja


recomendação técnica mais simples e importante do que essa para orientar as
atividades humanas no meio urbano e no meio rural.
Ainda que de forma resumida e superficial, cabe, de início, esclarecer uma
questão terminológica. Os geólogos de engenharia e os agrônomos usam
termos diferentes para classificar as diferentes camadas de solos. Os primeiros
adotam a seguinte série para o que denominam de camadas: solo orgânico
(camada superficial dessimétrica rica em matéria orgânica); solo superficial
(camada bastante afetada pelo intemperismo e pelos processos de laterização
e pedogênese, cuja espessura varia de 0,5 m a alguns metros); solo saprolítico
ou solo de alteração de rocha (camada de solo com minerais já alterados
quimicamente, mas que guarda várias feições herdadas da rocha original, com
espessuras extremamente variáveis, desde decímetros até mais de uma
dezena de metros); finalmente, com profundidade praticamente ilimitada, rocha
pouco alterada ou sã. Já os agrônomos, que ao invés de camada usam o termo
horizonte, classificam a mesma seqüência com as seguintes denominações:
26
horizonte A, horizonte B, horizonte C e rocha, agregando às propriedades
descritas características próprias do comportamento agronômico destes solos.

Em regra, a camada de solo superficial (horizonte B agronômico) tem uma


composição bem mais argilosa do que as camadas inferiores (solo saprolítico –
horizonte C agronômico), especialmente considerando o perfil de solos típico
do embasamento geológico cristalino (rochas magmáticas e metamórficas), o
que lhe confere uma coesão entre partículas muito maior, tornando-a, por
conseguinte, mais resistente aos processos erosivos de superfície. Vale
lembrar que a argila é o tipo de solo formado por minerais com a granulometria
mais fina (o diâmetro das partículas é inferior a 0,002 mm), o que resulta em
uma propriedade altamente ligante, ou seja, a argila dá coesão aos grãos
minerais formadores dos solos.

É interessante a explicação do motivo pelo qual há mais minerais argilosos na


proximidade da superfície dos terrenos. Os minerais das rochas primárias
(magmáticas ou metamórficas) se formaram em condições extremas de
temperatura e pressão. Ou seja, são ambientalmente compatíveis com essas
condições extremas e, portanto, francamente desarmônicos com as condições
ambientais hoje vigentes na superfície do planeta. O processo de alteração de
uma rocha é, assim, um processo químico e físico-químico que caminha em
direção à produção de novos minerais, mais compatíveis com o meio ambiente
da superfície. Desses novos minerais, os mais equilibrados com esse novo
ambiente são os argilosos.

Além do intemperismo (desagregação e alteração físico-química dos minerais


da rocha), dois outros fenômenos são importantes na formação dos solos
superficiais e influem em suas características. A pedogênese, que envolve
alteração bioquímica dos minerais, e a laterização, que implica a migração de
íons no interior do solo. Ambos os fenômenos contribuem para a produção de
minerais argilosos e para a cimentação das partículas por diversas classes de
óxidos, o que concorre também para uma maior ligação entre as partículas
desses solos. Graças a esses fatores, os solos superficiais (horizonte B
agronômico) de rochas cristalinas e de muitas rochas sedimentares chegam a
ser 30 vezes mais argilosos do que os solos das camadas inferiores e até 100
vezes mais resistentes à erosão.

27
Perfeita distinção entre a camada superficial, com solos mais argilosos e
laterizados, e o solo de alteração mais profundo, silto-arenoso, extremamente
erodível, em terrenos cristalinos do Planalto Paulistano.

Evidência da maior resistência dos solos superficiais à erosão em terrenos


sedimentares da
Bacia do Paraná, local próximo a Piracicaba - SP.

28
Distinção nítida entre o horizonte superficial mais argiloso e laterizado e o solo
de alteração subjacente. Terrenos metamórficos do Grupo São Roque
próximos a Cotia-SP.

Solos superficiais expostos à erosão por seqüência descontrolada e predatória


de desmatamento, agricultura e pecuária. Região de Governador Valadares -
MG.

No meio rural há um problema adicional grave: o desmatamento para


exploração de madeira, para avanço de atividades agrícolas ou pecuárias, o
revolvimento contínuo dos solos superficiais e a não adoção de técnicas
conservacionistas de cultivo, entre outros procedimentos, fazem com que os
principais elementos nutritivos desses solos sejam lixiviados (carreados por
percolação de água), o que os torna progressivamente estéreis para a
agricultura.

Tal deficiência em parte só pode ser compensada mediante expressivo gasto


com fertilizantes, corretivos e defensivos agrícolas. Entre as técnicas

29
conservacionistas de cultivo, destacam-se o emprego de curvas de nível, o
plantio direto, a rotação e a combinação de culturas.

Do ponto de vista econômico, os processos erosivos em áreas rurais e urbanas


brasileiras acarretam prejuízos da ordem de bilhões de dólares ao ano para o
país. A perda média de solos por erosão superficial nas áreas rurais utilizadas
para atividades agropecuárias no Brasil é estimada em 25 toneladas de solo
por hectare em um ano. Isso significa a perda de algo próximo a um bilhão de
toneladas de solo por ano, o que, para tornar o desastre ainda maior, promove
intenso assoreamento de cursos d’água, lagos e várzeas.

Na área urbana o problema não é menor. Na região metropolitana de São


Paulo, por exemplo, a perda média de solos por erosão é estimada entre 10 e
15 toneladas de solo por hectare ao ano, levando à liberação de até 3,5
milhões m³/ano de sedimentos, que irão assorear a rede de drenagem natural e
construída. Esse fenômeno é hoje responsável por enormes problemas para a
infra-estrutura urbana, como a degradação de áreas residenciais periféricas e o
agravamento do porte e da intensidade das enchentes. Nas cidades, o principal
fator de remoção da camada superficial de solos está na danosa cultura da
terraplenagem, implementada de forma intensa, extensa e despropositada nas
frentes de expansão urbana, via de regra removendo por completo os solos
superficiais e expondo à erosão os solos mais sensíveis das camadas
inferiores. As extensas terraplenagens são parte de um preguiçoso e
irresponsável procedimento tecnológico pelo qual se busca adaptar a natureza
às disposições de projetos-padrão, ao invés de, criativamente, adaptá-los às
condições naturais (no caso, o relevo) das áreas onde são implantados.

Os prejuízos para a sociedade brasileira advindos da remoção e do


revolvimento de solos superficiais no meio rural e urbano são de tal magnitude,
que estão a exigir uma verdadeira cruzada tecnológica em favor de sua
preservação. Tal campanha deverá ser promovida pelo poder público, em
todos os níveis, e pelos empreendimentos privados diretamente envolvidos
com o problema. Mas, certamente, a primeira iniciativa caberá ao meio técnico-
científico do país.

2.8 EXECUTANDO ATERROS SEM MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS

Há muito aterro sendo feito de forma inadequada, sob as mais variadas


justificativas. Porém, sem tecnologia correta, cria-se um mito que não condiz
com a verdade. Seja qual for o volume de aterro, qual seja o solo do local e das
possibilidades de áreas de empréstimo (de onde se remove o solo), há um
procedimento executivo de engenharia civil geotécnica adequado, que
proporcionará economia e segurança.

Sem a devida aplicação dos conhecimentos geotécnicos na execução desses


aterros, muitos problemas poderão ocorrer, tanto em pequenas como em
grandes obras de engenharia, conforme exemplificado a seguir:

30
• Recalques e afundamentos de piso, ruas, vias e fundações;

• Vazamentos de redes hidráulicas e sanitárias;

• Deslizamentos de taludes, contenções e muros de arrimo;

• Vazamentos de lagoas de tratamento de resíduos e líquidos;

• Erosões internas em diques e barragens;

• Impossibilidade de enchimento de lagoas, diques e barragens, devido à perda


de água.

O termo “área de empréstimo”, freqüentemente utilizado, não deveria ser


chamado assim, pois não se “empresta” mas sim se “remove” definitivamente
daquele local os solos que serão utilizados para aterro. Mas o importante é a
questão da distância do local de empréstimo até obra de aterro, pois este,
muitas vezes em zonas urbanizadas, é fator determinante nos custos da obra.

Tem-se um problema multidisciplinar na questão das jazidas de solos (áreas de


empréstimo), pois existem vários aspectos a serem considerados, sejam:
econômicos (função da distância de transporte e do valor da propriedade onde
se executará as escavações); licenciamento ambiental e o geotécnico, fator
técnico fundamental, que envolve a adequação dos solos a serem explorados
para o aterro desejado.

Neste texto, será abordado apenas o problema de engenharia geotécnica.


Ressaltam-se a seguir, os aspectos referentes às propriedades de engenharia
do aterro a ser executado e o solo proveniente da área de empréstimo. Isto é,
ao projetar um aterro temos que conhecer as propriedades de engenharia dos
solos a serem utilizados e que virão do empréstimo.

Têm-se as propriedades de resistência, compressibilidade, e permeabilidades,


que serão determinadas através de ensaios de laboratório realizados em
amostras de solos extraídas das áreas de empréstimo.

2.8.1 Jazidas de Solos

Geralmente têm-se várias possibilidades de áreas de empréstimo e, cada uma


destas, têm diversas camadas de solo com diferentes características e em
profundidades distintas. Isto requer um estudo de alternativas, procurando
identificar entre elas a melhor alternativa técnica e econômica de empréstimo.

Freqüentemente questiona-se: isso é muito complicado e caro? E a resposta é:


não.

31
O que será apresentado é a boa técnica, necessária para não ocorrerem
problemas futuros nas obras de aterro. Este procedimento deve,
evidentemente, ser revestido de bom senso pois, sempre se deve observar o
custo e o benefício envolvido na obra.

O mito ou a prática atualmente reinante, que é absurda, impõe à sociedade um


comportamento patológico, que é o de passar a acreditar que o errado é que é
o certo. Ou seja, a “ignorância” pela falta do emprego dos conhecimentos da
boa prática de engenharia, acarreta em oportunidades para negócios não
éticos, onerando a sociedade como um todo.

Portanto, de volta à questão técnica, é preciso projetar a execução do aterro


com conhecimento prévio dos solos existentes, mais próximos ao local da obra
e nas áreas de menor custo de escavação. Quero dizer que o aterro deveria
ser projetado para os solos de menor custo, existentes próximo à obra.
Contrariando, a prática que se vem observando, é que se desenvolve um
projeto e depois disto é que se parte para procurar um empréstimo.

Ora, sabe-também se que alguns profissionais “experientes”, até por força do


mito criado, praticam o contrário. Mas, é justamente este um dos objetivos do
presente artigo, mostrar uma realidade aplicável por ser boa para a sociedade,
contrariando uma prática sócio-patológica que onera e trás riscos a todos.

Os solos para execução dos aterros são provenientes de escavações e,


através dos ensaios de laboratório, se determinam as propriedades de
resistência, compressibilidade e ou permeabilidade, se e quando necessárias
para as diferentes obras. Com estes parâmetros tornam-se possíveis os
cálculos de engenharia geotécnica que, então, proporcionarão o
dimensionamento dos taludes, aterros e camadas, entre outras, que trarão a
devida segurança às obras.

Mas existe outro aspecto fundamental no sucesso do empreendimento, que é o


controle tecnológico, o qual tem que ser feito durante a execução de aterros.

Antes de passar á questão executiva do aterro, deve-se destacar este fator


crucial, que não vem sendo aplicado nas obras de terraplenagem, que é o de
controlar as tais propriedades de engenharia, que na fase de projeto nortearam
o cálculo e o dimensionamento das estruturas (obras) de terra.

Ora, é fácil entender que os parâmetros geotécnicos são indispensáveis aos


cálculos de engenharia, que redundaram no projeto do aterro. Mas agora,
como saber se estas importantes propriedades, estarão sendo observadas no
aterro executado?

Muitos colegas, diriam que através do controle tecnológico, determina-se o


grau de compactação e o desvio de umidade dos solos de aterro. E, isso está
correto, entretanto, não está ai a resposta completa ou adequada, pois esse
procedimento largamente empregado atualmente e é necessário, porém não
suficiente, pois não determina as propriedades de resistência;
32
compressibilidade; e ou permeabilidade e, conseqüentemente, não é feita a
verificação se as propriedades encontradas correspondem às adotas no
projeto.

Ao longo do tempo, têm-se observado várias manifestações patológicas nas


obras de aterro e torna-se indispensável um alerta como se faz agora, não só
apresentando as anomalias, como a origem dos problemas e propondo os
fundamentos para os procedimentos a serem adotados.

2.8.2 Exemplo Prático de Sistema de Controle

A seguir, apresenta-se uma seqüência de atividades construtivas que


englobam o controle tecnológico de aterros.

Deverão ser realizadas visitas periódicas com os seguintes objetivos:

• Certificar que a geometria de execução está de acordo com o projeto;

• Determinar a altura de escavação até o solo de fundação;

• Demarcar faixas de compactação na largura do rolo compactador;

• Calcular a espessura da camada compactada (no máximo 20 cm);

• Dimensionar a sobre-largura dos taludes;

• Solicitar a execução de gabarito para verificar a inclinação do talude;

• Especificar as cotas, largura e inclinação das bermas e platôs;

• Durante as escavações, coletar amostras indeformadas para execução de


ensaios triaxiais;

• Garantir que o encontro do aterro com o maciço de solo natural seja feito em
degraus;

• Garantir que a compactação no encontro fique de acordo com o projeto.

• Caso o aterro tenha altura maior que o comprimento da lança da retro

33
escavadeira, o corte da sobre-largura deverá ser realizado conforme esquema
a seguir:

• A drenagem provisória deverá ser executada antes da fase de compactação e


outras fases das obras e deverá ser ajustada, quando necessário, durante a
obra.

• Lançamento e espalhamento das camadas soltas de aterro;

• Definir previamente as faixas de compactação por meio de cruzetas e


estacas;

• Colocar piquetes a cada 10 metros, para verificar a espessura da camada


compactada;

• As faixas de compactação das camadas devem ser sobrepostas, conforme


esquema a seguir:

• Controlar visualmente a homogeneidade, verificando se há mudança de solo


proveniente da área de empréstimo.

• Coletar amostras para ensaios de caracterização e próctor normal para cada


mudança solo (adotando no mínimo 3 amostras);

• Fazer um “croqui” com a locação e numeração da coleta de amostras.

• Quando houver mudança de solo da área de empréstimo ou mudança de


jazida, devem-se ter definidas as especificações técnicas deste solo antes do
lançamento.

• O lançamento e espalhamento deverão ser executados em uma única faixa.

34
Assim, mesmo após um período de chuvas, tem-se frente de trabalho no
restante da praça que se encontra compactada e selada.

• Verificar a homogeneidade do solo de fundação, quanto à resistência;

• Exigir uniformidade das camadas, através do número de passadas do rolo


compactador;

• A espessura da camada não deve ter mais que 20cm compactada, salvo se
existir na obra equipamento que permita espessuras maiores;

• Executar coleta de corpos de prova por cravação de cilindros tipo triaxial ou


hilf, e copinhos, para determinação de densidade e umidade em laboratório a
cada 300m³, no mínimo dois por camada e, quando houver mudança do tipo de
solo, proveniente de área de empréstimo;

• O engenheiro deverá comparar os resultados dos ensaios de laboratório com


o grau de compactação (GC) e o desvio de umidade (∆h) especificados em
projeto, e informar imediatamente ao encarregado de campo;

• Solicitar escarificação para recompactação, secagem ou umedecimento da


camada, caso não se apresente nas condições especificadas no projeto.

• Solicitar que a última camada seja selada sempre que os serviços forem
paralisados ou quando houver iminência de chuvas.

• Fazer um “croqui” com a locação e numeração dos ensaios realizados;

• Solicitar execução de proteção superficial em taludes.

2.9 RECALQUES POR REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO

Os recalques provenientes do rebaixamento do lençol freático têm sido muito


comuns, ultimamente, tendo inclusive dado origem a freqüentes demandas
judiciais. Ora, o problema é sobejamente conhecido da engenharia geotécnica
e poderia ter sido evitado com a aplicação das técnicas recomendáveis.

Recorda-se que, lá pelos fins da década de 70, quando já tinha os recalques


presentes como objeto de atenção e quantificação em projetos de geotecnia
para obras sanitárias de escavação de valas. Então porque atualmente este
problema tem gerado tantas controvérsias na sociedade?

O fato é que não têm se dado à devida atenção a esta questão, talvez face às
“dificuldades” de um diagnóstico geotécnico adequado. É verdade que existem
dificuldades, entretanto elas são socialmente inerentes à responsabilidade dos
35
profissionais encarregados, ou seja, para verificar a existência da possibilidade
de recalques, provenientes do rebaixamento do lençol freático, o engenheiro
civil geotécnico deve inicialmente conhecer as diferentes camadas,
espessuras, distribuição e comportamento dos diversos solos afetados pelo
provável ou possível rebaixamento do lençol freático.

Para tanto, é necessário fazer sondagem na região do entorno da futura


escavação e na área a ser afetada por tal rebaixamento, a qual poder-se-ia
denominar de “área” ou “raio de influência” ou, ainda, “cone de depressão do
lençol freático”. Caberia ao engenheiro geotécnico encomendar tais
investigações, estimar as diferentes camadas existentes sob a influência da
depressão do lençol freático e estimar a variação de pressão de água nos
vazios dos solos.

Há aqui, dois grandes problemas, que raramente são contingenciados em


projetos de obras de escavação urbanas, ou melhor, em obras de subsolos de
prédios.

1 - Criou-se uma cultura de não aplicação das técnicas já conhecidas porém


não aplicadas, caindo essas no desconhecimento.

2 - Pode-se também entender que seriam as dificuldades de executar as


sondagens fora do local da obra que prejudicam a avaliação do subsolo.

Os dois fatores, somados, acabaram criando o costume, cultura, ou


inadequação do que se faz atualmente, isto é, realizar as investigações apenas
no terreno objeto da obra, não se fazendo sondagens nos vizinhos e ou nas
ruas próximas.

Essa precariedade também afeta o projeto das contenções. Para sua


realização, exige-se o conhecimento das camadas dos solos da área da obra
para fora dela, o que se sabe não ser uma realidade.

Pode-se justificar esse procedimento na impossibilidade prática e econômica


de fazer sondagens fora da área da obra. Trata-se, sim, de uma dificuldade
que, culturalmente, foi aceita como impossibilidade mas, na verdade, é um mito
que se criou. Deve-se investigar melhor a região do entorno da obra de
escavação, sempre que o efeito do rebaixamento do lençol freático for possível
de ocorrer.

2.9.1 A importância do Lençol Freático

Outro grande problema está na estimativa da pressão de água intersticial dos


solos, que é obtida a partir da rede de fluxo, formada pela percolação de água
no subsolo proveniente do lençol freático e da escavação a ser executada.
Essa demanda (rede de fluxo) está atrelada à determinação do comportamento
dos solos, em face da percolação de água.

36
Mais especificamente, o engenheiro civil geotécnico deveria programar ensaios
de permeabilidade dos solos ao longo das camadas existentes. Estes ensaios
podem ser feitos nos furos de sondagem ou através da obtenção de amostras
indeformadas dos solos e subseqüente realização de ensaios de laboratório.

Como expressado acima, não se tem conhecimento deste tipo de


procedimento, na maioria dos casos, ou seja, obras de edificações com
subsolos. Talvez seja muito rara essa prática, porém é sobejamente conhecida
no meio geotécnico e utilizada em outros tipos de obras de escavação abaixo
do lençol freático.

Assim, também não cabe dizer que “não seria possível realizar tais ensaios e
sondagens” mas, sim que sua prática não é contingenciada por razões de
“dificuldades econômicas”. Entende-se que, tecnicamente, é obrigatório o uso
destas técnicas para que a sociedade não padeça com mais este ônus
causado pelo poder econômico e político ou pela incompetência da engenharia
brasileira.

Realizadas essas investigações geotécnicas, segue-se o estudo com a


realização de ensaios de adensamento em amostras provenientes das
camadas envolvidas no processo, que irão permitir a quantificação da
compressibilidade das camadas do solo.

Ressalta-se também um fator muito importante: o rebaixamento natural do


lençol freático verificado em regiões que recebiam uma determinada
contribuição das chuvas e que por uma ocupação intensa e abertura de ruas
seguidas por pavimentação e drenagem superficial impedem a infiltração de
água no subsolo e, conseqüentemente, acarretam a depressão do lençol
freático. Esse fato se dá ao longo do processo de ocupação e
impermeabilização, que pode ser adicionado aos provenientes das obras de
escavação.

Também se deve destacar que a depressão do lençol freático depende do


tempo em que o sistema de rebaixamento é utilizado para propiciar a
escavação dos subsolos, ou do bombeamento, realizado no fundo das
escavações, esteja em funcionamento.

Para viabilizar a escavação de subsolos abaixo do nível de água, muitas vezes


utiliza-se de algum sistema de rebaixamento do nível d’água (em solos mais
permeáveis). Outras vezes o rebaixamento se faz naturalmente com as
escavações (solos de baixa permeabilidade), neste caso executa-se apenas o
bombeamento no fundo da cava.

Também há situações em que, após a conclusão das obras, ainda se continua


bombeando a água do subsolo, tornando-se parte integrante do sistema de
drenagem dos subsolos dos edifícios.

O que se deseja esclarecer é que estas circunstâncias devem ser consideradas


37
nos projetos de rebaixamento do lençol freático, o que raras vezes é efetuado
pelos responsáveis. A quantidade de água retirada do subsolo e não reposta
pelo homem ou pela natureza (infiltração das águas de chuvas) criará um
déficit hídrico deprimindo o lençol freático, com conseqüentemente aumento da
predisposição para o efeito de recalques.

38
3 - FUNDAÇÕES

A ocorrência de manifestações patológicas nas fundações em obras civis tem


sido observada e reportada com certa freqüência, tanto no Brasil como no
exterior. Alguns casos clássicos como a Torre de Pisa (Itália) e a Cidade do
México fizeram a fama de determinados monumentos e locais e foram
extensivamente estudados e apresentados em publicações técnicas.

No Brasil, destacam-se as edificações da cidade de Santos (São Paulo) e do


litoral de Santa Catarina pelos desaprumos apresentados, também com
referências em inúmeras publicações especializadas. Estudo de casos podem
ser encontrados em Cunha, et al. (1996).

As manifestações patológicas são, normalmente, decorrentes das incertezas e


riscos inerentes à construção e á sua vida útil de uma edificação e que devido
aos inconvenientes causados pelo seu aparecimento fica clara a necessidade
de serem evitadas, nas várias etapas da vida de uma fundação.

No entanto, o reforço se faz necessário em situações extremas, em que as


fundações existentes se mostrem inadequadas para o suporte das cargas ou,
ainda, quando ocorre aumento no carregamento e este novo valor não pode
ser absorvido sem riscos e reduções consideráveis nos coeficientes de
segurança. Em geral, a execução de reforço em fundação é um trabalho
oneroso e causador de transtornos aos usuários da obra, exigindo que se
realizem estudos e orçamentos cuidadosos para uma avaliação adequada da
viabilidade e conveniência de tais serviços.

O presente texto mostra, de forma bastante resumida, os problemas de


fundações que costumam ocorrer, bem como suas origens. Também apresenta
a natureza e tipos de intervenções existentes para o sistema solo-fundação-
estrutura, com vistas a modificar seu
desempenho.

O tema é bastante amplo e este material deverá servir apenas como roteiro de
estudo. Mais detalhes sobre o tema pode ser obtido nas bibliografias
recomendadas, que serviram como referência na elaboração deste trabalho.

3.1 Problemas Relativos a Análise e Projeto

A análise de um problema de fundações ocorre a partir da determinação das


solicitações ou cargas de projeto e da adoção de um modelo de subsolo,
obtidos com base em investigações geotécnicas. Essas informações são
interpretadas à luz do conhecimento estabelecido sobre o comportamento do
solo sob carga, ou transmissão de esforços à massa de solo. Freqüentemente
os principais problemas que ocorrem na fase relativa à análise e elaboração de
um projeto de fundação envolvem (Milititsky e Schnaid, 2005):

_ O comportamento do solo;
39
_ Os mecanismos de interação solo-estrutura;

_ O desconhecimento do comportamento real das fundações;

_ A estrutura de fundação;

_ As especificações construtivas;

_ Fundações sobre aterros.

3.2 Investigação do Subsolo

A falta ou inadequação da investigação do subsolo são as causas mais


freqüentes de problemas nas fundações. Uma vez que o solo é o meio que vai
suportar as cargas, sua identificação e a caracterização de seu comportamento
são essenciais para solução de qualquer problema.

Manifestações patológicas decorrentes de incertezas quanto às condições do


subsolo:

_ Ausência de investigação;

_ Investigação insuficiente;

_ Investigação com falhas (má qualidade);

_ Interpretação inadequada dos dados do programa de investigação;

_ Casos especiais: influência da vegetação, colapsividade, expansibilidade,


zonas de mineração, zonas cársticas (rochas calcárias ou dolomíticas) e
ocorrência de matacões.

3.2.1 Programa de investigação

a) Programa Preliminar: normalmente desenvolvido com base no SPT,


segundo a NBR 6484 (ABNT, 2001).

b) Programa Complementar: depende das condições geotécnicas e estruturais


do projeto, podendo envolver tanto ensaios de campo (cone, piezocone,
pressiômetro, palheta, sísmica superficial, etc) como de laboratório
(adensamento, triaxiais, cisalhamento direto, dentre outros).

Mais detalhes sobre estas técnicas e procedimentos pode ser obtido em


Schnaid (2000) e
Souza Pinto (2001).

40
3.3 PATOLOGIA DE FUNDAÇÕES

3.3.1 Manifestações de mau desempenho

Quando há mau desempenho de uma fundação, aparecem manifestações


decorrentes deste fato, através de danos que podem ser verificados nas peças
de fundação e na obra como um todo.

NAS PEÇAS DE FUNDAÇÃO:

i. Deterioração dos materiais que as compõem, com a conseqüência perda de


resistência.

ii. Ocorrência de deformações excessivas, perda de recobrimento da armadura,


oxidação das barras de aço, esmagamentos, rupturas e fissuras nas peças em
concreto armado.

iii. Degradação das superfícies de concreto, sendo os principais mecanismos


de degradação a carbonatação, lixiviação, retração, fungos e concentração
salina.

iv. Reação álcali-agregado que ocorre entre os álcalis ativos disponíveis no


concreto e alguns minerais presentes em certos tipos de rocha que, em
condições particulares ambientais, provocam a deterioração do concreto
(fissuras, deslocamentos e perda de resistência mecânica) pela ação de
reações expansivas.

v. Oxidações e/ou corrosões nas estacas metálicas. vi. Ocorrência de


apodrecimento e a degradação da madeira (ataques biológicos, mudanças
físicas e químicas) principalmente na região do topo, com perda de material
nas estacas de madeira.

NA OBRA:

i. Recalques.

ii. Desaprumos.

3.3.2 Tipos de danos

DANOS ARQUITETÔNICOS – comprometem a estética da edificação.

_ Trincas em paredes e acabamentos;

_ Recalques em pisos;

_ Rompimento de painéis de vidro ou mármores;


41
_ Desaprumo de edifícios;

_ Desaprumo de murros de arrimo, etc.

O reforço é desnecessário, pois não há risco à segurança (estabilidade da


construção).

DANOS FUNCIONAIS – comprometem a utilização da edificação.

_ Desgaste excessivo dos trilhos-guia de elevadores;

_ Inversão de declividades de pisos;

_ Refluxo ou ruptura de tubulações de rede de esgotos e/ou águas pluviais;

_ Mau funcionamento de portas e janelas (emperramento);

_ Aparecimento de trincas por onde pode passar umidade;

_ Em pisos industriais prejuízos na operação de máquinas, empilhadeiras,


estocagem de materiais, etc.

A partir de certos limites, será necessário o reforço, uma vez que podem advir
transtornos no uso da construção.

DANOS ESTRUTURAIS – comprometem a estabilidade da estrutura.

_ Vigas;

_ Lajes;

_ Pilares.
O reforço é sempre necessário, pois sua ausência implica instabilidade da
construção, podendo até mesmo levá-la ao colapso.

3.3.3 Causas dos danos

Causas prováveis (fatores de grande risco) para o mau desempenho de uma


fundação:

_ Incertezas quanto às condições do subsolo;

_ Avaliação errônea dos valores dos esforços provenientes da estrutura


(subdimensionamento);

42
_ Adoção inadequada da tensão admissível do solo ou da cota de apoio das
fundações;

_ Modelos inconvenientes de cálculo das fundações;

_ Cálculo estrutural incorreto;

_ Má execução por imperícia ou má-fé da mão de obra, seqüência construtiva


inadequada,

_ Má qualidade dos materiais empregados;

_ Influências externas (escavações ou deslizamentos não previsíveis,


agressividade ambiental, enchentes, construções vizinhas, descalçamento das
fundações por escavações vizinhas);

_ Modificação no carregamento devido a mudança de utilização da estrutura


(acréscimos ou ampliação de áreas), efeito piscina (entupimento de drenos),
sobrecargas não previstas;

_ Ventos em galpões industriais;

_ Falha de manutenção em obras críticas.

3. 4 Conceitos Básicos Relativos a Recalques

Na maioria dos problemas práticos, o projeto de fundação é governado por


considerações de recalques. Os valores limites citados na literatura são
variáveis de acordo com o tipo e função da superestrutura.

O problema é complexo e envolve: características do subsolo, tipo e porte da


estrutura e os materiais empregados.

Os recalques têm sido estabelecidos de maneira empírica; sendo baseados em


casos de obra em que os recalques da fundação foram observados.

3.4.1 Tipos de movimentos em fundações

Recalque (S) – é o deslocamento total sofrido por qualquer ponto de fundação;

Inclinação (β) – descreve a rotação em corpo rígido de toda a estrutura;

Recalque Diferencial (δ) – diferença de recalques entre dois pontos, após


eliminação do recalque uniforme e da rotação;

Distorção angular (β) – é a rotação da linha ligando dois pontos, depois de


descontado o desaprumo:
43
β = δ/L
onde L = distância entre os dois pontos

RECALQUE UNIFORME:

_ Típico de estruturas rígidas e terreno uniforme;

_ A estrutura praticamente não sofre;

_ Danos funcionais e estéticos;

_ Ruptura das redes externa;

_ Alteração nos passeios e calçadas.

INCLINAÇÃO UNIFORME:

_ Típico de estruturas rígidas e terrenos linearmente desuniforme;

_ Recalques linearmente desuniforme;

_ Estrutura sofre pequenos danos;

_ Desaprumos.

RECALQUES DIFERENIAIS – DISTORÇÕES ANGULARES

_ Solos heterogêneos;

_ Recalques distorcionais;

_ Estrutura sofre danos e fissurações.

3. 4.2 Movimentos limites de fundações

A fixação dos limites aceitáveis para os movimentos de uma fundação esbarra


na enorme dificuldade de se avaliar a interação fundação-estrutura e na
quantidade de materiais envolvidos nas construções.

Os valores apresentados a seguir devem ser interpretados como indicativo e


foram baseados em um número limitado de casos.

_ b = 1/500: limite seguro para evitar danos em paredes de edifícios.

44
_ b = 1/300: limite a partir do qual começam aparecer trincas em paredes de
edifícios.

_ b = 1/150: limite a partir do qual pode esperar danos estruturais em edifícios


correntes.

3.4.3 Controle de recalques

O controle de recalque é recomendado quando:

_ Existem dúvidas referentes ao comportamento de uma fundação;

_ O projeto apresenta aspectos especiais;

_ É necessário acompanhar seu desempenho, em razão de escavação de


grande porte nas próximidades.

O procedimento consiste na medida de forma regular, com equipamento


topográfico de precisão ligado a um marco de referência, da evolução dos
recalques com o tempo ou com os estágios de carregamento (ABNT NBR
9061/1981). As medidas são realizadas, sendo os resultados apresentados em
gráficos tempo versus recalque.

3.4.4 Controle de verticalidade

O controle de verticalidade dos prédios é comum quando se executam


escavações nas proximidades de edificações, como forma de acompanhar os
efeitos produzidos. Refere-se à leitura periódica de verticalidade realizada com
aparelho topográfico de precisão, sempre nos mesmos pontos, resultando em
planilhas e gráficos.

No monitoramento devem ser considerados os efeitos da temperatura nos


elementos da obra, sendo preferível que as leituras sejam sempre realizadas
pelo mesmo operador, na mesma hora, podendo haver caso contrário uma
superposição de efeitos de difícil avaliação.

3.4.5 CONTROLE DE TRINCAS

O controle de trincas é outra forma usual de acompanhamento de patologias e


consiste no controle sistemático de abertura e extensão de trincas, como forma
de caracterizar a gravidade do problema e seu aspecto ativo ou estabilização.
As medidas podem ser realizadas com paquímetro ou fissurômetros.

É importante acompanhar a progressão das trincas e sua dimensão utilizando


várias propostas de descrição de sua severidade.
45
3.5 VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE E DO DESEMPENHO DAS
FUNDAÇÕES

Os principais objetivos do controle de qualidade das fundações consistem:

a) Na integridade da fundação e sua resistência como elemento estrutural;

b) Na rigidez e a resistência do sistema solo-estrutura de fundação.

As questões básicas referem-se aos critérios de escolha, tipos e número de


ensaios a realizar durante e após a construção.

A verificação de desempenho é mais difícil de ser realizada nas fundações do


que em qualquer outra etapa da obra. As principais causas dessa dificuldade
são: a complexidade e a heterogeneidade dos solos e de suas características;
a impossibilidadede visualização das fundações após sua execução; e as
incertezas e dificuldades inerentes a ensaios de campo.

Esses fatores que dificultam a verificação do desempenho das fundações


servem também para comprovar sua necessidade, pela incerteza que existe,
em maior ou menor grau, nos métodos executivos dos diferentes tipos de
fundações. (Niyama et al., 1998).

A NBR 6122 (ABNT 1996) descreve detalhadamente as características que


devem apresentar os diferentes tipos de fundações, advindo daí controle,
verificações e observações a serem realizados durante a execução das
fundações. Para fundações profundas recomenda-se, ainda, a publicação da
Associação Brasileira de Empresas de Fundações e Geotecnia, ABEF (2004).

3.5.1 Provas de carga estáticas

A finalidade do ensaio de carregamento estático é a determinação da carga de


ruptura do sistema. A prova de carga, principalmente a estática, é o meio mais
confiável e indiscutível de avaliar esta carga, apesar do progresso alcançado
nos métodos semiempíricos.

O ensaio consiste no carregamento do elemento de fundação em incrementos


progressivos de carga aplicada no topo com a medida dos deslocamentos
correspondentes, obtendo-se a curva carga-deslocamento, conforme NBR-
12131 (ABNT, 1991).

A realização de provas de carga em elementos de fundações profundas


instrumentados com extensômetros de resistência tem contribuído para o
conhecimento dos regimes de tensão e deformação ao longo do fuste e na
base. Com as leituras da instrumentação da fundação, determina-se a carga
correspondente em cada seção instrumentada, e os gráficos de transferência
46
de carga em função da profundidade, para cada estágio de carga e descarga.
Conhecidos os valores da carga de cada nível da seção instrumentada,
determina-se sua tensão lateral em cada trecho, a resistência lateral e a curva
da mobilização da resistência em função de seu deslocamento. Obtém-se
também a curva mobilizada da resistência de ponta da estaca em função do
deslocamento. Resultados de prova de carga instrumentada podem ser obtidos
em Mota (2003).

A forma da curva carga-deslocamento depende da geometria (comprimento e


diâmetro do elemento de fundação e das espessuras das camadas de solo) e
da reologia dos diferentes materiais componentes deste sistema. A reologia é
caracterizada pela forma da curva tensão-deformação-tempo obtida em
laboratório.

3.5.2 Provas de carga dinâmicas em fundações profundas

A prova de carga dinâmica é um ensaio em que, a partir da aplicação de um


carregamento dinâmico axial, de qualquer espécie, pretende obter a estimativa
da capacidade de carga estática do sistema estaca-solo. A análise do processo
é feita com base nos fundamentos da teoria da equação da onda, aplicada à
cravação ou à recravação de uma estaca.

O ensaio de carregamento dinâmico tradicional consiste na aplicação de um


ciclo de impactos com energia constante, ou seja, com um peso caindo de uma
mesma altura sobre um conjunto de amortecimento colocado sobre o sistema
fundação-solo. Neste ensaio, registram-se os sinais de força e velocidade para
cada golpe com o equipamento PDA (Pile Driving Analyser). A análise é feita
para um carregamento, ou seja, um impacto que seja considerado
representativo do ensaio cíclico.

Em 1989 o Prof. Aoki iniciou uma nova metodologia denominada de ensaio de


carregamento dinâmico de energia crescente. Este ensaio é realizado com a
aplicação de impactos do martelo de alturas crescentes de queda (bate-
estacas), e registros em campo com o equipamento PDA.

Obtém-se a resistência estática mobilizada em cada golpe (RMX) e o


deslocamento máximo descendente (DMX), na seção onde foram instalados os
transdutores. Dessa forma, determina-se uma curva de RMX versus DMX
similar à curva carga-recalque obtida em uma prova de carga estática. Maiores
detalhes podem ser obtidos na NBR- 13208 (ABNT, 1994).

A interpretação do ensaio pode ser feita pelo Método Case (teoria de impacto
de dois corpos rígidos) e Métodos com base na teoria da equação de onda
(problema inverso).

3.5.3 Verificação da integridade em fundações profundas

47
O ensaio de carregamento dinâmico, como visto anteriormente, além de
promover a avaliação da capacidade de carga de fundações profundas permite
a verificação da integridade do elemento ensaiado. O conhecimento das
condições físicas do elemento embutido é tão importante quanto a sua
capacidade de carga, já que a existência de trincas, alargamentos,
estrangulamentos ou seccionamentos, influi de maneira decisiva no bom
desempenho de uma fundação profunda. Isto se torna da maior importância
quando o tipo de fundação são estacas moldadas in loco, já que o próprio
método executivo não proporciona a padronização das dimensões da seção do
fuste.

No caso de estacas pré-moldadas, o processo de embutimento no maciço de


solo provoca tensões de tração elevadas no topo da estaca, devido ao impacto
do martelo.

Estas tensões podem gerar danos estruturais no elemento, que são detectados
quando se executa o ensaio com o PDA (Foá, 2001).

No entanto, na prática, não é operacional e economicamente viável ensaiar


todo um estaqueamento com o PDA. Uma alternativa usada é o ensaio de
integridade de baixa deformação ou, simplesmente, ensaio de integridade de
estacas, PIT (Pile Integrity Test).

O PIT tem a vantagem de ser um ensaio não-destrutivo, ganhando larga


utilização na engenharia, permitindo a realização de vários ensaios no mesmo
local ou em locais próximos, de modo a analisar imperfeições nas
determinações das características das fundações ou variações destas com o
tempo. Desta forma, pode-se avaliar a condição estrutural em qualquer estágio
de sua vida útil.

Em virtude da facilidade de movimentação em campo, o PIT surge como uma


alternativa para análise da integridade física de fundações profundas, como
comprovado em Cunha & Costa (1998), Foá (2001) e Mota (2003), em ensaios
da integridade de fundações escavadas assentes na argila porosa do Distrito
Federal.

Em casos de reforço de estruturas, esta técnica revelou-se muito útil para


avaliar as características estruturais e geométricas (desconhecidas) de
fundações preexistentes, indicando o largo potencial de uso do ensaio de PIT
em toda a sorte de problemas de fundações profundas. O ensaio é viável
devido a sua fácil e rápida execução, caracterizando-se como uma excelente
ferramenta na avaliação da performance de fundações profundas em serviço
(Foá et al., 2000).

O ensaio consiste na instalação de um acelerômetro de alta sensibilidade no


topo da fundação a ser ensaiada, fixado através de uma cera adesiva especial.
Em seguida, são aplicados sucessivos golpes com um martelo manual. Cada
golpe gera uma onda de compressão que se propaga pelo fuste e sofre
reflexões ao encontrar uma variação nas características do material (área da
48
seção, peso específico, ou módulo de elasticidade), pela presença de atrito
lateral ou resistência de ponta, ou pela própria ponta da estaca. Após um certo
tempo, a onda retorna ao topo, onde é captada pelo acelerômetro.

Como a onda trafega com uma velocidade fixa, conhecendo-se esta velocidade
e o tempo transcorrido entre o golpe e a chegada da reflexão, pode-se
determinar a exata localização da variação de impedância na base da
fundação.

A verificação da integridade é feita por meio da interpretação da forma do sinal


de velocidade medido. Qualquer variação das características de impedância do
elemento de fundação, resistência desenvolvida no fuste ou na ponta desta
resulta em mudanças na forma do sinal. Estas variações permitem estabelecer
conclusões com relação à qualidade do concreto da fundação profunda, bem
como quanto à localização de alguma trinca ou vazio no fuste.

Segundo Globe et al. (1998), o ensaio PIT possui vantagens que o tornaram
popular:

_ Execução extremamente rápida. Pode-se ensaiar até 30 fundações por dia;

_ Capacidade de detectar danos na superfície do fuste;

_ Equipamento leve e portátil, exigindo um mínimo de recursos durante os


ensaios;

_ Forma rápida e barata para analisar a integridade das fundações.

Segundo o mesmo estudo, o PIT tem algumas desvantagens e limitações:

_ Pouca precisão na análise da intensidade do dano;

_ Dificuldade de detecção de um segundo dano no fuste abaixo de uma grande


variação de impedância do material da fundação;

_ Difícil interpretação, em alguns casos, dos sinais obtidos por influência do


atrito lateral que também provoca reflexões da onda;

_ Impossibilidade de distinguir entre variação de geometria da seção e variação


de qualidade do concreto (peso específico e/ou módulo de elasticidade);

_ Limitação de comprimento da estaca (30 vezes o diâmetro equivalente);

_ Dificuldade de detecção de dano muito próximo da ponta.

Existem histórias de sucessos e fracassos deste ensaio, embora tenha uma


boa aplicabilidade prática. É um ensaio útil para detectar falhas que, de outra
maneira, passariam despercebidas, por vezes comprometendo a construção.
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Sobre esse assunto, é interessante o que diz a norma americana, ASTM D-
5882-96 (ASTM, 1996) citada por Gonçalves et al. (2000): "O teste de
integridade pode não identificar todas as imperfeições, mas pode ser uma
ferramenta útil para identificar grandes defeitos dentro do comprimento efetivo.
Também, o teste pode identificar pequenas variações de impedância que talvez
não afetem a capacidade de carga da estaca. Para estacas que têm pequenas
variações de impedância, o engenheiro deve usar seu julgamento quanto à
aceitabilidade das mesmas, considerando outros fatores como redistribuição de
carga para estacas adjacentes, transferência de carga ao solo acima do
defeito, fatores de segurança aplicados e requisitos de carga estrutural".

Entretanto o PIT ainda é o melhor ensaio desenvolvido até o presente


momento para testar uma grande quantidade ou até mesmo todas as estacas
de uma obra. Nas estacas moldadas in loco, aumenta-se indiscutivelmente a
confiabilidade das fundações, que, de outra maneira, teriam que ser avaliadas
apenas por meio do controle da execução. Uma prova disto é a utilização
satisfatória dos ensaios de PIT em diversas obras do Distrito Federal, onde
havia dúvidas com relação à integridade física de estacas escavadas.

3.6 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do problema é fundamental para permitir uma diretriz adequada


na decisão da necessidade ou não da aplicação de reforços.

Procedimentos:

_ Levantamento de documentação – projetos;

_ Inventário de danos ocorridos para quantificar e interpretar o direcionamento


dos movimentos;

_ Investigação geotécnica complementar – campo e laboratório;

_ Instrumentação da obra para avaliar a magnitude e a velocidade das


deformações.

3.7 REFORÇO DE FUNDAÇÕES

Os reforços de fundações representam uma intervenção no sistema solo-


fundaçãoestrutura existente, visando modificar seu desempenho, de tal forma a
fazer com que ele volte a garantir as condições mínimas de estabilidade e
funcionalidade que uma determinada obra exige Gotlien (1998).

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Tipos de Reforço:

a) Reforço Corretivo: tem por objetivo corrigir ou adequar uma fundação


aumentando-se suas dimensões ou profundidade, proporcionando maior
capacidade de carga para correção de recalques excessivos ou prevenir contra
provável colapso da estrutura.

b) Reforço Preventivo: é aquele executado para prever acréscimo de carga,


execução e escavação em obras adjacentes, falhas detectadas durante a
construção e variações das condições geotécnicas do solo, etc.

c) Reforço Substitutivo: é aquele executado para substituição de uma fundação


danificada ou como ocorre na maioria dos casos a modificação de uma
fundação por outra, para criar ou aumentar, por exemplo, o número de
subsolos.

d) Reforços Provisórios: utilizado para execução dos reforços permanentes –


normalmente não são desfeitos, mas são dispensáveis.

e) Reforços Permanentes: necessário em função do mau desempenho das


fundações, ou aumento do nível de carga. Atua como complemento à
capacidade de carga.

f) Reforço com Levantamento: apesar de raro, é possível levantar nivelando


uma estrutura. O levantamento normalmente se faz através de
macaqueamento muito bem controlado, desligando as fundações antigas da
estrutura e apoiando-as sobre as novas já reforçadas.

g) Reforço com Abaixamento: o abaixamento da estrutura se faz por corte,


saturação (enfraquecimento do terreno do lado resistente) ou através do
fechamento de uma bateria de pequenos furos horizontais, chamados de furos
de alívio, executados no terreno, apoiando a estrutura nas novas fundações
previamente executadas em cotas mais baixas.

As soluções para os serviços de reforços são variadas e dependem dos


condicionantes do problema: tipo de solo, urgência, fundações existentes, nível
de carregamento, espaço físico disponível, técnica, fatores econômicos e
acesso. Os métodos mais comuns:

a) Diretos: intervém diretamente sobre a fundação existente;


b) Indiretos: execução de novos elementos de fundações;
c) Reforço no Terreno de Apoio: intervém no terreno de apoio das fundações;
d) Mistos: um ou mais métodos simultaneamente.

A seguir alguns tipos de soluções:

a) Reparo ou Reforço dos Materiais (problema estrutural);


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b) Enrijecimento das Estruturas;
c) Aumento da Área de Assentamento;
d) Estacas Prensadas (Mega);
e) Estacas Injetadas ou Escavadas;
f) Estacas Convencionais;
g) Sapatas, Tubulões e Estacas Adicionais;
h) Melhoria das Condições do Solo (injeção de pasta de cimento, injeção de
resinas químicas e cogelamento).

Segundo Gotlien (1998) a escolha do tipo de reforço a ser adotado vem em


decorrência
do diagnóstico alcançado e da experiência e julgamento dos profissionais
envolvidos no
problema. A seguir as diversas condicionantes:

_ Técnicas;
_ Econômicas;
_ Exeqüibilidade;
_ Segurança.

Para se obter bom desempenho dos reforços projetados deve ser dado
atenção as
seguintes condições:

_ Continuidade e ação estrutural;


_ Garantir transferência de carga;
_ Garantir boa conexão entre o concreto velho e novo;
_ Considerar diferença de inércia causada pelo novo elemento no bloco de
fundação;
_ Verificar o dimensionamento estrutural das peças.

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