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MECÂNICA DOS SOLOS


APLICADA À GEOTECNIA
2

Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim

MECÂNICA DOS SOLOS APLICADA À


GEOTECNIA
1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2021
3

© 2021 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
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Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim

Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Pelaquim, Flávia Gonçalves Pissinati
P381m Mecânica dos solos aplicada à geotecnia / Flávia
Gonçalves Pissinati Pelaquim, – Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A. 2021.
43 p.

ISBN 978-65-5903-118-4

1. Mecânica dos solos. 2. Formação dos solos.


3. Geotecnia. I. Título.

CDD 624.1513
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes - CRB: 010289/O

2021
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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CEP: 86041-100 — Londrina — PR
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MECÂNICA DOS SOLOS APLICADA À GEOTECNIA

SUMÁRIO

Origem, formação e classificação dos solos___________________ 05

Perfis geotécnicos e interpretação de ensaios ________________ 20

Tensão x deformação nos solos_______________________________ 37

Hidráulica nos solos___________________________________________ 54


5

Origem, formação e classificação


dos solos
Autoria: Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim
Leitura crítica: Alana Dias de Oliveira

Objetivos
• Descrever o surgimento da Mecânica dos Solos e da
Geotecnia e seu contexto em obras civis.

• Compreender a origem e a formação dos solos e sua


aplicação na Engenharia Geotécnica.

• Aprender sobre os principais sistemas de


classificação dos solos e como utilizá-los na
Engenharia Geotécnica
6

1. O surgimento da mecânica dos solos e da


geotecnia
A mecânica dos solos é conhecida desde que o homem entrou em
contato com o solo para usá-lo como material de construção ou como
apoio de uma estrutura, embora ela só tenha sido conhecida com esse
nome em 1925, na Áustria, quando Karl Terzaghi publicou o livro A
Mecânica dos Maciços de Terra Baseada na Física do Solo, onde ordena os
conhecimentos adquiridos anteriormente e propõe novos, nascendo a
Mecânica dos Solos aplicada à Engenharia Civil (DAS, 2007).

Os trabalhos referentes aos solos publicados antes de 1925 não estavam


organizados, ainda que tenham contribuído para o avanço da Mecânica
dos Solos até então. Na Figura 1 é possível observar a linha do tempo
da evolução da mecânica dos solos e, consequentemente, da geotecnia
como ciência, considerando as principais contribuições que alguns
pesquisadores famosos fizeram.

Figura 1–Linha do tempo da evolução da mecânica dos solos


como ciência

Fonte: adaptada de Das (2007).


7

1.1 E como trabalhamos com a Engenharia Geotécnica


hoje?

Praticamente todo projeto ou construção civil depende do conhecimento


do comportamento dos solos e/ou das rochas para a correta avaliação e
proposição de soluções aos problemas de engenharia. Nesse contexto,
chamamos de Geotecnia, ou Engenharia Geotécnica, o ramo dentro
da Engenharia Civil que trata da compreensão do que é o solo, do seu
aproveitamento como material de construção, da sua capacidade de
absorver as cargas aplicadas em sua superfície e de interagir com as
obras implantadas em seu interior.

Atualmente, pode-se dividir a geotecnia em geotecnia básica e geotecnia


aplicada. Na geotecnia básica é possível aprender aspectos técnicos com
o intuito de auxiliar a compreensão dos conceitos da área envolvidos nas
soluções propostas aos problemas de geotecnia aplicada. Nesse sentido,
são exemplos de estudos vinculados à geotecnia básica: a geologia da
engenharia, a mecânica dos solos, a mecânica das rochas, os taludes
e escavações, as estruturas de arrimo e as fundações. Já a respeito da
geotecnia aplicada temos a engenharia de barragens, a engenharia de
fundações, a engenharia de pavimentação, a engenharia de túneis e a
geotecnia ambiental.

Agora que você já percebeu o quanto é importante o estudo da


Geotecnia, a seguir você irá relembrar alguns conceitos que serão muito
úteis para a disciplina.

2. O conceito de solo para a Geotecnia

De modo generalista, o manual o Sistema Brasileiro de Classificação dos


Solos, elaborado pela Embrapa (2013), define solo como um sistema
heterogêneo, estruturado e dinâmico, apresentando uma fase sólida,
formada de minerais e compostos orgânicos, e uma fase porosa que
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podemos chamar de vazios do solo, a qual pode ser preenchida total


ou parcialmente por porções líquidas e gasosas, dependendo da
característica de saturação do material. Já no contexto da Engenharia
Geotécnica, o solo pode ser descrito como um material estruturado,
característico de determinado local e, via de regra, com função de
suporte para as obras civis e que é obtido por escavação, não sendo
necessária utilização de técnicas especiais como explosivos ou ponta
diamantada.

3. Origem e formação dos solos e seu vínculo


com a engenharia geotécnica

O solo provém da desintegração e decomposição das rochas devido


à ação do intemperismo, seja ele físico ou químico. Normalmente,
os diferentes tipos de intemperismos ocorrem simultaneamente,
porém, um mais pronunciado que o outro. O intemperismo físico
provoca a desintegração da rocha formando sedimentos, sem alterar
a composição mineralógica da rocha mãe. Já o intemperismo químico
é caracterizado por reações químicas entre os minerais constituintes
da rocha e soluções aquosas de diferentes teores. Em uma rocha já
fragmentada pelo intemperismo físico, os processos intempéricos
químicos são mais intensos, pois existe maior área superficial exposta
às reações químicas.

Além da ocorrência do intemperismo, a formação de diferentes


tipos de solos depende das características ambientais envolvidas.
Os principais fatores que influenciam no processo de formação
do solo são a rocha mãe (ou material de origem), os organismos e
microrganismos, o clima (temperatura e precipitação), a fisiografia
(relevo) ou topografia e o tempo.
9

A composição mineralógica e a textura da rocha de origem são


elementos importantes na fase inicial dos processos de intemperismos.
Dessa forma, uma mesma rocha pode formar solos com propriedades
diferentes, enquanto rochas diferentes poderão formar solos com
mesma textura.

O clima é o fator preponderante no tipo e extensão do intemperismo,


sendo representado pela temperatura e pela chuva. Na região
equatorial, onde a temperatura e a pluviosidade são altas, o
intemperismo químico é mais intenso, atingindo grandes profundidades
e formando solos de grandes espessuras. Já nas regiões temperadas,
onde as estações são bem mais definidas, ocorre a atuação conjunta dos
dois tipos de intemperismo, com predominância dos processos físicos
no inverno e os químicos no verão.

A topografia do terreno, por sua vez, controla a percolação, infiltração e


a velocidade superficial da água e a erosão, formando solos diferentes
em taludes íngremes e em áreas pouco inclinadas. O tipo de vegetação,
por sua vez, determina a quantidade de ácidos orgânicos que atacam
a rocha e que são importantes na formação de alguns tipos de solos.
No entanto, o tempo de atuação de cada um desses fatores determina
diferentes tipos de solos.

A título de exemplificação, imagine duas situações: onde quatro dos


cinco fatores de formação do solo mencionados são os mesmos, mas
um deles muda, por exemplo, o clima. Sob o mesmo material de origem,
sob o mesmo tipo de relevo e pelo mesmo tempo, se fosse possível
observarmos um solo que se desenvolve em um clima tropical e outro
em um clima ártico, veríamos perfis de solos totalmente diferentes,
apenas por que no primeiro teríamos a predominância do intemperismo
químico (uma vez que temos regimes de precipitações e temperaturas
sazonais), enquanto que para o segundo predominaria o intemperismo
físico (com pouca oscilação de temperatura e a água quase sempre
presente, porém em seu estado sólido).
10

Esse é um exemplo extremo, mas você quer ver como isso está
acontecendo mais perto de você do que imagina? Suponha uma cidade
cuja topografia é bem acidentada. Nesta cidade, existem regiões mais
altas e planas, mas também existem regiões próximas a fundos de
vales ou rios. Dessa forma, construir a mesma residência nessas duas
condições diferentes requisitará do projetista pensar em soluções
diferentes. Enquanto na primeira a capacidade suporte do solo em
subsuperfície possa demandar que façamos fundações profundas, na
segunda pode ser que o afloramento do nível d’água seja uma limitação
construtiva para algumas técnicas de fundações ou contenções.
Sem maiores detalhes, não podemos dizer se realmente é isso que
acontecerá, mas sugere que seu projeto pode mudar muito, mesmo os
locais de alocação da obra estando a poucos quilômetros de distância.

Agora você já consegue imaginar quantos tipos diferentes de solos


podemos ter se começarmos a variar cada vez mais os nossos fatores de
formação dos solos. Aqui está a complexidade de se trabalhar com esse
material (pensando apenas em sua formação). Portanto, é preciso ter em
mente ainda que, mais do que só seu aspecto final, qualquer pequena
variação afeta seu comportamento e culmina na necessidade de uma
análise mais pontual para proposição de soluções de engenharia. Desse
modo, conhecer sobre sua origem e formação pode ajudar nas tomadas
de decisão dos profissionais envolvidos em um projeto geotécnico.

4. Classificação dos solos e sua importância na


engenharia geotécnica

Classificar um solo é incluí-lo em um determinado grupo composto


por solos de características e propriedades geotécnicas similares,
com a finalidade de poder estimar o provável comportamento do
solo para uma adequada análise do problema. Nesse sentido, os
sistemas de classificação de solos ajudam a organizar ideias e orientar
11

o planejamento das investigações e obras. A preocupação em se


estabelecer um sistema de classificação global na mecânica dos solos
se deve à grande variedade dos solos existentes com seus particulares
comportamentos, constituição, origem e formação, que dificultam o
estudo de caracterização deles.

A classificação dos solos pode ser baseada em diversos aspectos


da geotecnia, de acordo com os interesses, como na movimentação
de sedimentos, no tamanho das partículas, na pedologia etc. Os
quesitos, que devem ser obedecidos num sistema de classificação,
ainda que sejam variáveis, são: simplicidade, fácil memorização, rápida
determinação do grupo pertencente, ser flexível e capaz de expansões
futuras e permitir subdivisões. A seguir, abordaremos sobre os
principais métodos e sistemas de classificação que podemos utilizar na
prática.

4.1 Sistemas de Classificação

a. Classificação preliminar

Geralmente, a primeira classificação de solo que fazemos quando nos


deparamos com um problema geotécnico, na hora do reconhecimento
de campo, é a classificação por meio da análise visual-táctil, ou seja,
pelo reconhecimento do material através de características de fácil
determinação, como a cor e a textura. Os testes mais comuns para essa
identificação dos tipos de solo estão compilados no quadro a seguir.

Quadro 1 – Técnicas para realização da análise tátil-visual


Técnica Procedimento / Explicação
Fricciona-se certa quantidade de solo entre as mãos
para sentir a textura das partículas que o compõem.
Sensação
Quanto mais argiloso o solo, o aspecto seco aproxima-
ao tato
se a de um talco e úmido, a sabão em pedra. Já as areias
são ásperas e causam a sensação de esfoliação.
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Molda-se pequenos cilindros com porções de solo.


Enquanto as argilas são moldáveis, diferentes das
Plasticidade
areias e siltes, que geralmente se desintegram no
processo, demonstrando menor plasticidade.
A partir de amostras secas, indeformadas ou
compactadas, os solos argilosos tendem a formar
torrões difíceis de se desagregarem com um aperto
Resistência entre os dedos, demonstrando elevada resistência.
Essa resistência é decrescente ao observarmos os
solos siltosos (que apresentam pequena resistência
e as areias puras nem chegam a formar torrões.
Pressiona-se certa porção de solo úmido na palma
da mão. Após isso, propicie leves batidas. Ao abrir
a mão, caso seja visível água na superfície do solo,
deve-se perceber a velocidade com a qual ela
Água
permeia o solo novamente. Em solos arenosos,
intersticial
devido a geralmente mais alta permeabilidade, a
água permeia e possibilita o surgimento de trincas na
amostra; já para solos argilosos a água permanece
por mais tempo e não ocorre trincamento do solo.
Coloca-se num recipiente solo e água. Promove-se a
Dispersão agitação e após a mistura deixe-a sob sedimentação.
em água As areias sedimentam mais rapidamente que
as argilas e essas turvam a suspensão.

Fonte: adaptado de Sousa Pinto (2006).

b. Classificação pedogenética geral

Este sistema de classificação se baseia no conhecimento da gênese


dos solos, isto é, sua origem e evolução ao longo do tempo, para
análise de sua cor, da macroestrutura e diversidade das camadas ao
longo da profundidade. Apesar de termos inúmeras metodologias que
poderiam complementar esta classificação, muitas vezes, na prática,
o que requeremos é saber se o solo é residual ou transportado, ou se
trabalharemos nas camadas superficiais ou em um solo de alteração.
Essas informações já auxiliam o profissional e possibilitam a tomada de
algumas decisões em campo.

Sendo assim, alguns termos são muito utilizados e precisamos


conhecê-los bem. Podemos dividir os solos quanto a sua classificação
pedogenética, como:
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• Solo superficial: corresponde ao solo das camadas próximas a


superfície (nível do terreno) que comumente apresentam matéria
orgânica. Podem ter espessura variando de centímetros a alguns
metros. Esse solo possui estrutura, cor e constituição mineralógica
diferentes das camadas inferiores, apresentando acentuado grau
de intemperismo.

• Solo de alteração: corresponde ao solo fruto da decomposição


das rochas, devido ao intemperismo. Comumente se encontra
subjacente ao solo superficial apresentando granulometria
crescente com a profundidade e espessuras que podem chegar a
dezenas de metro, dependendo do perfil geológico-geotécnico.

• Solo residual: os solos residuais são aqueles em que a rocha


é intemperizada e as partículas formadas se estruturam sob o
material de origem.

• Solo transportado (ou sedimentar): corresponde ao solo oriundo


do transporte e deposição de material, devido aos processos
geológicos de superfície. O solo transportado pode ser classificado
de acordo com o agente transportador. O solo coluvionar, por
exemplo, é transportado pela ação da gravidade, o solo aluvionar,
pela ação da água e os depósitos eólicos, pelo vento.

• Solo orgânico: são os solos formados pela mistura de restos de


organismos, animais ou vegetais, com sedimentos preexistentes.
São encontrados em áreas adjacentes aos rios, nas baixadas
litorâneas e nas depressões continentais.

c. Classificação granulométrica

A granulometria, por si só, possibilita uma classificação prévia do solo


quanto à textura, ou seja, ao tamanho das partículas constituintes.
Neste sistema de classificação, há a divisão do solo em classes como:
pedregulho, areia, silte e argila, em função do diâmetro das partículas.
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A classificação granulométrica pode ser feita por meio do ensaio


de granulometria, o qual determina as porcentagens em peso das
diversas partículas constituintes do solo, representadas pela curva
de distribuição granulométrica. Após as determinações, é possível
simplesmente atribuir um nome ao solo considerando as duas
frações de maior ocorrência, aplicando o sufixo ‘oso’ ou ‘osa’ na
segunda classe, ou aplicando alguma outra metodologia, como a
utilização do Diagrama Textural do USDA (United States Department of
Agriculture).

Segundo Das (2007), além dessas classificações que parecem mais


simplistas, porém muito úteis, existem as classificações técnicas
que comumente são empregadas pelos engenheiros geotécnicos: o
Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS), a classificação
AASHTO (American Association of State Highway and Transportation
Officials) e o Sistema MCT (Mini-Compacted Tropical) de classificação
para solos tropicais.

d. Sistema Unificado de Classificação dos Solos

Historicamente, o SUCS foi desenvolvido para a classificação dos solos


utilizados para a construção de aeroportos pelo United States Corps
of Engineers. Em 1942, Casagrande apresentou o SUCS, baseando-
se nos parâmetros do solo quanto à granulometria e aos limites de
consistência. Nesse sistema, o solo é representado por duas letras: um
prefixo, ligado ao tipo de solo, e um sufixo, ligado às características
granulométricas e de plasticidade. Em resumo, apresentamos os
prefixos e os sufixos no Quadro 2. A seguir, você compreenderá melhor
como é possível fazer a combinação entre essas letras, culminando na
denominação do solo.
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Quadro 2 – Prefixos e sufixos utilizados no SUCS


Prefixos Sufixos
G (gravel) pedregulho W (well) solos bem graduados

S (sand) areia P (poorly) solos mal graduados

C (clay) argilas
—————————————————---------
M (mó) siltes inorgânicos e areia fina
O (organic) argilas e siltes orgânicos L (low) solos de baixa compressibilidade

Pt (peat) turfa H (high) solos muito compressíveis

Fonte: elaborado pela autora.

De acordo com Sousa Pinto (2006), o primeiro passo para essa


classificação é diferenciação em solos grossos e finos. Os solos são
divididos em granulares, quando mais que 50% ficam retidos na # 200,
e finos, quando mais que 50% passam na # 200. Os solos granulares
são divididos em pedregulhos e areias, e os solos finos em silte e areia
muito fina, argila inorgânica e siltes e argilas orgânicas. Além deles,
também são classificados os solos turfosos, de alta compressibilidade e
constituintes de grande quantidade de matéria orgânica.

Em relação aos sufixos, os pedregulhos e as areias são ainda


subdivididos pelos sufixos W (well) e P(poorly), característica relacionada
ao coeficiente de não uniformidade do solo, dado pela divisão do D60
(diâmetro abaixo do qual se situam 60%, em peso, das partículas)
por D10 (analogamente, diâmetro que, na curva granulométrica,
corresponde à porcentagem que passa igual a 10%). Há a possibilidade
de serem adotados sufixos como outro tipo de solo fino, caso a
determinação seja considerável. Já os grupos dos solos finos são
subdivididos pelos sufixos H (high) e L (low), definidos em função do
índice de plasticidade e o limite de liquidez, que geram uma carta de
plasticidade (SOUSA PINTO, 2006), apresentada na Figura 2. A linha A
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separa os solos orgânicos e inorgânicos e tem sua equação representada


por IP = 0,73 (LL–20). A linha B é paralela ao eixo das ordenadas, de
equação LL = 50, dividindo os solos de alta compressibilidade, à direita,
e de baixa compressibilidade, à esquerda. De modo sucinto, a Figura 3
apresenta um esquema para a classificação pelo SUCS.

Figura 2 – Carta de plasticidade para classificação de solos finos

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 68).

Figura 3 – Esquema para a classificação prévia pelo SUCS

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 68).


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e. Classificação AASHTO (ou HRB)

A classificação AASHTO, ou HRB (Highway Research Board), foi proposta


para a utilização na área de estradas. Este sistema de classificação se
baseia nas características do solo quanto à granulometria, ao limite de
liquidez, ao índice de plasticidade, além do índice de grupo. De posse
dos dados de laboratório, iniciamos a classificação com o auxílio do
Quadro 3. A classificação é realizada da esquerda para a direita, por
eliminação, assim, o primeiro grupo que coincidir com as características
do solo será o grupo procurado para a classificação.

Quadro 3–Classificação de solos pelo sistema AASHTO


Materiais siltosos
Materiais granulares e argilosos
Classificação Geral
(35 % ou menos passando na peneira nº 200) (mais de 35 % passando
na peneira nº 200)
A-1 A-2 A-7
Grupo A-3 A-4 A-5 A-6 A-7-5
A-1-a A-1-b A-2-4 A-2-5 A-2-6 A-2-7
A-7-6
Peneiração -
% que passa:
50
Nº 10
máx.
30 50 51
Nº 40
máx. máx. máx.
15 25 10 35 35 35 35 36 36 36 36
Nº 200
máx. máx. máx. máx. máx. máx. máx. mín. mín. mín. mín.
Fração que passa nº40:
40 41 40 41 40 41 40 41
LL (%)
máx. mín. máx. mín. máx. mín. máx. mín.
10 10 11 11 10 10 11 11
IP (%) 6 máx. NP
máx. máx. mín. mín. máx. máx. mín. mín.
8 12 16 20
Índice de grupo 0 0 0 4 máx.
máx. máx. máx. máx.
Pedra
britada Areia Areia e areia siltosa Solos Solos
Materiais que predominam
Pedregulho fina ou argilosa siltosas argilosos
e areia
Comportamento
Excelente a bom Fraco a pobre
geral do subleito

Legenda: solo A-7: se IP ≤ LL-30, será A-7-5; se IP > LL-30, será A-7-6.

Índice de Grupo (IG): IG = (P0.075mm − 35)[0,2 + 0,005.(wL − 40)] + 0,01.(P0.075mm −15).(IP −10)

Fonte: adaptado de Senço (2007).


18

A primeira característica a ser observada no Quadro 3 é a constatação


da porcentagem do material que passa na peneira nº 200, sendo
considerado solo de granulação fina aquele que tem mais de 35 %
das partículas passando pela abertura dessa peneira. Nesses casos,
os grupos nos quais ele poderá ser classificado são A-4, A-5, A-6 e A-7.
Quando menos que 35 % das partículas passarem pela peneira nº 200, o
solo é caracterizado como sendo de granulação grosseira, enquadrando-
se em um dos seguintes grupos: A-1, A-2 e A-3. Note que essa
classificação é diferente dos Sistema SUCS, que utiliza como divisão para
solos finos e granulares a porcentagem de 50% (SOUSA PINTO, 2006).

Considerando as variações de classificação que podem ser obtidas


para o sistema AASHTO, suas definições correspondem a: Grupo A-1:
pedregulho e areia grossa bem graduados, com pouco ou nenhuma
plasticidade; Grupo A-2: pedregulho e areia grossa bem graduados, com
material cimentante de natureza friável ou plástica; Grupo A-3: areias
finas não plásticas; Grupo A-4: solos siltosos com pequena quantidade
de material grosso e de argila; Grupo A-5: solos siltosos com pequena
quantidade de material grosso e de argila, rico em mica e diatomite;
Grupo A-6: argilas siltosas medianamente plásticas com pouco ou
nenhum material grosso; Grupo A-7: argilas plásticas com presença de
matéria orgânica.

f. Classificação MCT (Mini-Compacted Tropical)

Os sistemas anteriores apresentados não têm sido satisfatórios na


classificação dos solos tropicais, comumente utilizados em projetos de
pavimentos, devido a esses solos apresentarem um comportamento
bastante diferenciado. Por isso, Nogami e Villibor (1980) propuseram
uma classificação mais específica para os solos tropicais, com o objetivo
de serem mais bem utilizados em projetos de estradas, o sistema MCT.
Essa classificação, por sua vez, divide os solos tropicais em dois grupos:
os solos de comportamentos laterítico e não laterítico. Para caracterizá-
los, é preciso seguir um roteiro de procedimentos específicos.
19

Os solos lateríticos são típicos da evolução de solos de clima quente,


com regime de chuvas moderadas a intensas, bastante encontrado
no Brasil. Comumente se apresentam não saturados, com elevado
índice de vazios, possuindo, portanto, pouca resistência quando não
compactados. Esses solos possuem coloração avermelhada devido
à elevada concentração de ferro e alumínio na forma de óxidos e
hidróxidos e apresentam grande porcentagem de minerais cauliníticos
na sua fração argila.

Neste tema, você pôde compreender porque é tão importante saber


mais sobre a origem e o tipo do solo com o qual trabalharemos. Essas
são as características pedogenéticas que podem te auxiliar na tomada
de decisões e perceber quais aspectos precisam ser levados em
consideração para que o projeto geotécnico seja elaborado e executado
com rigor técnico e segurança necessários.

Referências Bibliográficas
ALMEIDA, G. C. P. Caracterização física e classificação dos solos. Juiz de Fora:
UFJF, 2004. Disponível em: http://ufrrj.br/institutos/it/deng/rosane/downloads/
material%20de%20apoio/APOSTILA_SOLOS.pdf. Acesso em: 14 dez. 2020.
DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. 6. ed. São Paulo: Thomson
Learning, 2007.
EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Sistema brasileiro de
classificação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: EMBRAPA-SPI, 2013.
NOGAMI, J. S.; VILLIBOR, D. F. Caracterização e classificação geral de solos para
pavimentação: limitações dos métodos tradicionais, apresentação de uma nova
sistemática. In: REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO, 15., 1980, Belo Horizonte.
Anais [...] Belo Horizonte: [s.n.], 1980.
SENÇO, W. Manual de técnicas de pavimentação. 2. ed. São Paulo: PINI, 2007.
ISBN: 978857266199-7.
SOUSA PINTO, C. Curso básico de mecânica dos solos: em 16 aulas–com exercícios
resolvidos. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. ISBN: 978858623851-2. 
20

Perfis geotécnicos e interpretação


de ensaios
Autoria: Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim
Leitura crítica: Alana Dias de Oliveira

Objetivos
• Compreender o que são e como utilizar perfis
geotécnicos de interesse em obras.

• Descrever os principais métodos utilizados para


exploração do subsolo por meio de ensaios in situ.

• Conhecer os principais métodos laboratoriais


utilizados para complementar a exploração do
subsolo por meio de perfis de solo.
21

1. Perfis geotécnicos

Um pré-requisito para projetos em que se deseja segurança e economia é


representar as camadas presentes de solo em profundidade, acrescidas de
parâmetros úteis ao dimensionamento de obras geotécnicas.

Desse modo, para a determinação de um perfil geotécnico apropriado


para a utilização em projetos é preciso contar com uma exploração de
subsolo, a partir da aplicação de técnicas de investigação em campo e
laboratório. De acordo com Das (2007), esses perfis devem permitir:

• A definição da natureza e estratigrafia das camadas de solo.


• Obter amostras para identificação tátil-visual e ensaios de
laboratório necessários.
• Determinar a profundidade e natureza do topo rochoso (se
encontrado).
• Avaliar quaisquer problemas especiais de construção em relação
às estruturas próximas existentes.
• Avaliar as condições de água subterrânea.
• Estimar as propriedades geomecânicas dos materiais presentes.

1.1 Exploração de subsolo: ensaios in situ

Entende-se por ensaios in situ (ou de campo), os ensaios realizados


no solo e local de construção da obra. Eles permitem a obtenção de
parâmetros dos solos, como o coeficiente de permeabilidade, o módulo de
deformabilidade, o coeficiente de empuxo em repouso e a resistência ao
cisalhamento, que são necessários para o dimensionamento de obras.

A primeira forma de utilizar os ensaios in situ é por meio da


determinação direta de alguns parâmetros dos solos por meio do
resultado dos ensaios. Quando isso não é possível, pode-se construir
modelos matemáticos que representem melhor os fenômenos físicos
22

vistos in loco ao ensaiar o material para a posterior determinação de


parâmetros. De acordo com Massad (2010), independentemente do
método que o ensaio utilize, geralmente, os ensaios em campo são mais
rápidos e menos onerosos do que os ensaios de laboratório.

Os principais ensaios a serem considerados na análise do perfil de


solo em campo são: de penetração dinâmica (sondagem de simples
reconhecimento tipo SPT (Standard Penetration Test, ou sondagem
rotativa); de penetração estática (CPT – Cone Penetration Test);
pressiométricos (PMT – Pressuremeter Test); dilatométricos (DMT –
Dilatometer Test); ensaio de palheta (VST – Vane-Test ou Vane Shear Test);
ensaio de medida de pressão neutra; prova de carga; e permeabilidade.

Além disso, é preciso salientar que alguns desses ensaios servem


para determinar a estratigráfica do solo ao longo da profundidade de
análise, enquanto outros são úteis para a obtenção de determinada
característica do solo em um dado ponto de interesse no projeto (como:
a cota das fundações, a linha de corte do terreno etc.).

A sondagem de simples reconhecimento, ou SPT (em português, ensaio


de penetração padrão), é o método de investigação do solo mais
empregado, atualmente, no Brasil. Entre as vantagens de sua utilização,
segundo Belicanta (1998), temos a simplicidade do método, o baixo
custo de execução a obtenção de valores que podem ser relacionados
diretamente com alguns parâmetros empíricos de projeto.

A realização dos ensaios de investigação possibilita estimar a densidade


dos solos granulares e a consistência de solos coesivos por meio da
mensuração da resistência dinâmica com o auxílio de um simples
reconhecimento feito por sondagem, além da coleta de amostras
para cada camada, e a indicação da profundidade do nível freático
(SCHNAID; ODEBRECHT, 2012). Nesse contexto, destaca-se que o ensaio
SPT não determina diretamente os parâmetros de resistência do solo
prospectado, ele na verdade obtém o número de golpes necessários
para cravar determinado comprimento do amostrador no furo. Desse
modo, as correlações do valor “N” obtido metro a metro do solo são
comparadas e relacionadas com a expectativa de seu comportamento.
23

A normatização deste ensaio é dada pela ABNT (Associação Brasileira de


Normas Técnicas) por meio da NBR 6.484 (ABNT, 2020a). O ensaio se inicia
com a escavação de 1 m de profundidade com trado tipo concha; em
seguida, faz-se a cravação de um tubo bipartido padronizado por meio de
golpes, com a contagem de quantos golpes são necessários para cada um
dos três incrementos de 15 cm. A somatória dos golpes necessários para
cravar os últimos 30 cm será o valor que adotamos como “N”. A figura a
seguir apresenta o equipamento (tripé) utilizado no ensaio e, no detalhe, o
amostrador padrão com suas medidas pré-definidas.

Figura 1 – Equipamento e amostrador padrão utilizados para a


sondagem SPT

Nota: em (A) – Equipamento utilizado para o ensaio SPT (na figura, representação da
sondagem abaixo do nível d’água): Tripé, hastes de perfuração, trépano, reservatório de
água, mangueiras de pressão, motor. Em (B)–amostrador padrão utilizado para prospecção
do solo.

Fonte: Das (2007, p. 533).


24

Os demais ensaios mencionados têm sua importância, porém são


indicados para situações bastante específicas.

A sondagem rotativa, geralmente, é iniciada quando o SPT atinge


o estrato rochoso, matacões ou solos impenetráveis à percussão.
Nela, utiliza-se um motor projetado para sejam obtidas amostras de
materiais rochosos por meio da ação perfurante dada por forças de
penetração e rotação.

A prospecção tipo CPT (em português, ensaio de penetração estática


do cone) tem começado a se destacar no mercado nacional devido à
possibilidade de se obter as características do solo por correlações,
por ser um ensaio que minimiza as perturbações no solo e por
ser mais preciso que o SPT. No entanto, tal ensaio ainda necessita
de mão de obra especializada, não coleta amostra para inspeção
visual, não penetra em camadas muito densas e com a presença de
matacões ou pedregulhos e é realizada com um equipamento difícil
de se transportar e interpretar, caso o software não seja plenamente
compreendido.

O Vane-Test (VST), comumente chamado em ensaio de palheta, é


normatizado pela NBR 10.905 (ABNT, 1989) e tem como objetivo
medir a resistência ao cisalhamento não drenada de solos coesivos
moles saturados.

Além disso, existem os ensaios pressiométricos e dilatométricos


que, mesmo partindo de princípios diferentes, em sua grande
parte, possibilitam determinar características de deformabilidade
e de resistência ao cisalhamento, além do coeficiente de empuxo
no repouso. No Quadro 1 apresentamos os ensaios de campo
mencionados até aqui e suas características.
25

Quadro 1 – Principais ensaios de campo e suas características


Tipo de Solo
Tipo de Principais características que
Ensaio Melhor podem ser determinadas
Não aplicável
aplicável
Avaliação qualitativa do estado
1–Ensaio de Penetração de compacidade ou consistência.
Granulares -
Padrão (SPT) Comparação qualitativa da
estratigrafia do subsolo
Avaliação contínua da
Solos com
compacidade e resistência de
2–Ensaio de Penetração presença de
Granulares solos granulares. Avaliação
Estática do Cone (CPT) matacões e
contínua de resistência não
pedregulhos
drenada de solos argilosos
Resistência não drenada
3–Ensaio de Palheta Coesivo Granulares
de solos argilosos
4–Ensaio Coeficiente de empuxo no
Pressiométrico ou Granulares - repouso; compressibilidade e
Dilatométrico resistência ao cisalhamento.

Fonte: Marangon (2018, p. 123).

Com isso, podemos notar que, na maioria dos ensaios citados


anteriormente, é possível obter as características de resistência e
estratigrafia do solo, geralmente com o solo sendo levado à ruptura
por qualquer que seja o modo, ora por rotação, ora por deslocamento
ou por expansão de cavidade cilíndrica. Independentemente disso, os
demais ensaios in situ já mencionados avaliam especificamente outras
características que podem ser necessárias ou auxiliarem na tomada de
decisão dos projetistas.

A poropressão ou pressão neutra é a pressão da água que preenche


os espaços vazios entre as partículas sólidas. Nesse sentido, sua
determinação é essencial para alguns tipos de obras como barragens,
aterros sobre solos moles, entre outras, onde há a presença ou
percolação de água. De acordo com Massad (2010), a determinação
pode ser realizada no ensaio CPT com variante – o ensaio CPTu.
26

Outro modo de determinar a pressão da água no solo é por meio


de piezômetros, onde os mais comuns são os piezômetros do tipo
Casagrande ou do tipo Corda Vibrante.

A prova de carga, também, é um método de avaliar o subsolo, porém


de modo mais específico. Trata-se de uma técnica específica utilizada
na determinação de uma curva carga-recalque do solo, com o intuído
de verificar sua capacidade de carga. O ensaio consiste em aplicar
um esforço estático a uma placa rígida e registrar os deslocamentos
correspondentes. Por exemplo, sua realização para obras com fundação
direta é normatizada pela NBR 6.489 (ABNT, 2019). Apesar de não
possibilitar a exploração convencional do subsolo, como a determinação
da estratigrafia, ela pode elucidar aos projetistas as características
de resposta do solo às solicitações simuladas (DAS, 2007). Por fim, os
ensaios de permeabilidade in situ, ou condutividade hidráulica, mais
comuns são:

Bombeamento de água de poços ou de furos de sondagens: é a


maneira mais simples e direta de se medir a permeabilidade de uma
camada de solo in situ. A água é bombeada ou lançada até se atingir um
regime permanente de fluxo, quando se procede a medida da vazão
(MASSAD, 2010).

Permeâmetro Guelph: o Permeâmetro Guelph (Figura 2) é destinado à


medição da condutividade hidráulica saturada, bem como do potencial
de fluxo matricial e do parâmetro da extensão capilar macroscópica
do solo. Os testes in situ possibilitam o entendimento e observação da
dinâmica do processo de percolação com o solo saturado em função do
tipo de solo e carga hidráulica aplicada.
27

Figura 2 – Permeâmetro Guelph

Fonte: adaptada de Soto (1996) e Geoquality (2021).

1.1.1 Interpretação dos resultados: exploração de subsolo

Para utilizar um perfil geotécnico, o projetista precisa lidar com as


incertezas do projeto, como a real extensão vertical e lateral das
camadas do subsolo. Por mais ampla que sejam as prospecções
realizadas, dificilmente as condições do perfil são plenamente definidas.

Sendo assim, geralmente, a representação é feita de maneira


simplificada (ou planificada), o que sugere que é preciso fazer
extrapolação para a concepção do projeto como um todo. Em outras
palavras, o perfil geotécnico é modelado sob a forma 2D, admitindo
zonas homogêneas, da realidade geotécnica 3D. A Figura 3 apresenta
um exemplo de simplificação geralmente feita.
28

Figura 3 – Simplificações realizadas no perfil geotécnico

Fonte: adaptada de Magalhães (2015, p. 83).

Uma informação interessante é que para solos tropicais residuais esta


simplificação precisa ser avaliada com cautela, uma vez que o subsolo
desses locais apresenta grande variabilidade e heterogeneidade.

Além da exploração de subsolo por meio de ensaios de campo, por


vezes, é necessária uma complementação, isto é, utilizar também
ensaios de laboratório.

1.2 Exploração de subsolo: ensaios de laboratório

Para determinados projetos, a completa caracterização de um solo


contempla, além da prospecção do subsolo, análises em laboratório.
Os resultados podem auxiliar na compreensão do comportamento do
material sob o qual uma obra será alocada.

Os principais ensaios de laboratório empregados nesse contexto são:


caracterização física (umidade, peso específico do solo e dos sólidos,
limites de consistência e granulometria) e hidromecânica (ensaios de
compactação, Índice de Suporte Califórnia – ISC/CBR, permeabilidade,
adensamento e resistência ao cisalhamento).
29

A umidade gravimétrica é obtida conforme o Anexo 1 da NBR 6.457


(ABNT, 2016a). Nessa determinação, avalia-se a relação entre a massa
de água e a massa de sólidos da amostra. Logo, sua determinação é útil
para a compreensão do estado e comportamento do solo ao longo da
execução e vida útil da obra.

Ainda, existe a umidade que denominamos como volumétrica.


Enquanto na umidade gravimétrica se avalia a característica em
termos de massa, na umidade volumétrica, determina-se o
conteúdo de água em termos de volume, por meio da relação entre
o volume de água e o volume total de uma amostra. Nesse caso,
sua utilização está geralmente relacionada aos projetos geotécnicos
que utilizam os princípios da mecânica dos solos não-saturados,
lidando com maiores incertezas como a variação da sucção e,
consequentemente, comportamento do solo.

O peso específico do solo se refere à relação de massa por volume da


amostra de solo. A metodologia estabelecida pela norma NBR 16.867
(ABNT, 2020b) é baseada na determinação a partir de corpos irregulares,
neste caso, um corpo de prova com diâmetro de aproximadamente 5
cm, do qual obtém-se a massa em balança convencional e o volume por
meio do peso imerso na água, utilizando uma balança hidrostática. Em
projetos geotécnicos, esse parâmetro é utilizado para cálculo de tensões
geostáticas, sobrecargas de aterros, entre outros.

Já o peso específico dos sólidos é obtido pela razão entre a massa


de sólidos por volume de sólidos. O método utiliza a comparação
de massas de picnômetros de 500 mL com água ou água e solo
(partículas que sejam menores que 4,8 mm). Ao final do teste,
pode-se determinar a densidade dos sólidos presente na amostra.
Ainda, destaca-se que esse índice físico, junto à umidade e ao peso
específico dos solos, é essencial para a determinação dos demais
índices, como peso específico aparente seco, índice de vazios,
porosidade e grau de saturação.
30

Ainda nos ensaios de caracterização, a granulometria e os Limites de


Liquidez (LL) e Plasticidade (LP) do solo são fundamentais. Em muitos
casos, fazemos correlações indiretas do resultado das sondagens, por
exemplo, do SPT com estas características, no entanto, nem sempre esta
classificação indireta é suficiente. Quando o projetista achar necessário
ele pode solicitar a coleta de amostra e determinação da granulometria,
limites e índices do solo por meio dos procedimentos previstos na NBR
7.181 (análise granulométrica) (ABNT, 2016b), NBR 6.459 (determinação
do limite de liquidez) (ABNT, 2016c) e NBR 7.180 (determinação do limite
de plasticidade) (ABNT, 2016d).

Para a granulometria são utilizados dois métodos: peneiramento da


fração granular e sedimentação em meio líquido da fração fina. Para
o limite de liquidez, por sua vez, utiliza-se a concha de Casagrande e a
relação de número de golpes e a umidade da amostra ensaiada, onde
o LL será a umidade necessária para que 25 golpes fechem a ranhura
provocada no solo dentro da concha. Já o valor de LP é obtido pela
média da umidade de, pelo menos, três cilindros moldados semelhantes
ao padrão, também chamado de gabarito (diâmetro de 3 mm e
comprimento de 100 mm), que apresente leves fissuras superficiais.

Todos esses ensaios citados são realizados em laboratório com controle


de execução e emissão de laudos, assinados pelo responsável técnico.

Em relação aos ensaios relacionados ao comportamento hidromecânico,


o ensaio de compactação realizado em laboratório serve para nortear
os parâmetros de projeto que devem ser adotados (ou alcançados)
in loco, na obra. Desde pequenas edificações até grandes obras de
arte, pavimentos de estradas e rodovias, praticamente todas as obras
contemplam em pelo menos algum ponto do processo construtivo a
compactação do solo.

Para definir as características de peso específico aparente seco


máximo (γdmáx) e a umidade ótima (ωótima) de compactação,
31

seguimos o proposto pela NBR 7.182 (ABNT, 2016e). Para tanto são
compactados, pelo menos, 5 corpos de prova em diferentes umidades,
com a finalidade de se obter uma curva de compactação. Tal curva
precisa contemplar pontos no ramo crescente e no ramo decrescente,
também conhecidos por pontos no ramo seco e úmido da curva,
respectivamente.

Na maioria dos projetos, busca-se realizar a compactação em campo no


Grau de Compactação (GC) que se traduz na relação entre γd obtido em
campo e o γd máx obtido em laboratório. Esse GC deve ser maior ou igual
a 98 % e umidade de compactação com desvio de ± 2,0 % da ωótima. Claro
que isso não é uma regra, essas especificações de projeto cabem ao
engenheiro responsável determinar.

Há casos em que não é interessante, por exemplo, fazer a compactação


na umidade ótima. A título de exemplificação, imagine uma barragem de
terra zonada (Figura 4). Conhecendo as características do solo utilizado,
é possível se chegar a uma solução em que seja cabível fazer o núcleo
compactado com umidade acima da ótima, com o intuito dele ser mais
impermeável do que quando compactado normalmente, ou quando
estes taludes forem compactados com umidade abaixo da ótima, com
a finalidade de sofrerem menor variação volumétrica na alteração
da saturação com o rebaixamento do nível d’água a montante ou até
mesmo em eventos pluviométricos intensos no talude a jusante.

Figura 4 – Exemplo de barragem de terra com solo compactado

Fonte: adaptada de Massad (2010, p. 64).


32

Se a compactação do solo estiver vinculada a uma obra de pavimentação


de ruas, estradas ou rodovias, além da determinação dos parâmetros
de γd,máx e ωótima também será necessário atender em projeto
um índice chamado de Índice de Suporte Califórnia (ISC, do inglês
California Bearing Ratio – CBR). Esse ensaio, padronizado pela NBR 9.895
(corrigida em 2017) (ABNT, 2017), determina a relação entre a resistência
à penetração de um cilindro padronizado em uma amostra do solo
compactado e a resistência do mesmo cilindro em uma brita graduada
padrão. Além disso, o ensaio determina o valor de expansão do solo
que permanece imerso em água por quatro dias. Uma vez obtidos
os parâmetros para os materiais, dentre eles o solo do subleito do
pavimento, sua adequação aos requisitos de projeto é analisada.

É possível também determinar o coeficiente de permeabilidade dos


solos em laboratório. Há diferentes ensaios para essa determinação,
mas, via de regra, eles se diferenciam entre ensaios de carga constante
e ensaios de carga variável. O termo “carga” está relacionado à carga
hidráulica aplicada ao corpo de prova ensaiado. A carga hidráulica
constante geralmente é empregada para a determinação do “k”
(coeficiente de permeabilidade) de solos mais permeáveis, como os
arenosos não compactados, enquanto se utiliza de carga hidráulica
variável para solos menos permeáveis, geralmente com maior teor de
finos, com distribuição granulométrica menos contínua e amostras
compactadas.

O ensaio de adensamento é regido pela Teoria do Adensamento,


desenvolvida por Terzaghi, que tem como objetivo obter os parâmetros
necessários para se encontrar os recalques que o solo pode sofrer. Para
o estudo da compressibilidade dos solos é utilizado um equipamento
chamado de oedômetro, ou prensa de adensamento.

Nesse ensaio, um corpo de prova cilíndrico é moldado dentro de um


anel metálico e colocado na câmara. Duas pedras porosas perfazem
as faces drenantes e uma carga axial é aplicada na parte superior e é
33

distribuída uniformemente pela área do corpo de prova. Devido ao anel


metálico, o solo se deforma apenas verticalmente. Durante o ensaio
são realizados diferentes estágios de carregamento axial com aumento
gradual da carga, e cada estágio dura 24 horas, tempo necessário para
que as deformações se mantenham constantes para cada carga. Ao
longo de cada estágio são feitas leituras de deformação vertical, por
meio de um extensômetro, resultando em uma curva semi-logarítmica.
O resultado do ensaio deverá ser interpretado e utilizado pelo
responsável técnico da obra onde pode ocorrer adensamento. Segundo
Ortigão (2007), dentre os parâmetros a serem obtidos, tem-se a tensão
de pré-adensamento e o coeficiente de adensamento.

Por fim, a resistência ao cisalhamento é a propriedade responsável por


manter a estrutura do solo estável, sem romper, quando solicitado.
Os parâmetros de resistência são dependentes das características
intrínsecas do solo, como ângulo de atrito interno e coesão, do
carregamento aplicado e do confinamento ou intervenções de outras
obras.

Os ensaios mais comuns realizados em laboratório para a determinação


dos parâmetros de resistência e seus princípios básicos estão
apresentados a seguir:

Cisalhamento direto: ensaio no qual um corpo de prova é colocado


em uma caixa bipartida que tem uma de suas partes móveis. Aplica-se
uma força normal e, com a movimentação de uma das partes da caixa,
é aplicada uma força tangencial. Essas duas forças, divididas pela área
transversal do corpo de prova, resultam nas tensões normal e cisalhante
no plano horizontal imposto. A partir do gráfico plotado com essas
duas forças (normal nas abcissas e tangencial nas ordenadas), pode-se
encontrar o ângulo de atrito interno do solo pela inclinação da reta e a
coesão pelo ponto de intersecção do eixo y.
34

Compressão triaxial: ensaio no qual um corpo de prova cilíndrico é


submetido a um estado hidrostático de tensões e a um carregamento
axial. Em seguida, a amostra é impermeabilizada e colocada no interior
de uma câmara. Com o preenchimento da câmara com água, uma
pressão confinante é aplicada. A carga axial é gradualmente imposta por
meio de um cabeçote. A tensão devido a este carregamento é chamada
de tensão desviatória (diferença entre as tensões principais maior,
chamada axial, e menor, chamada confinante). Ao longo do ensaio são
feitas as leituras de carregamento axial e deformação vertical do corpo
de prova. Com os resultados de diversos corpos de provas rompidos,
pode-se traçar os círculos de Mohr e a envoltória de resistência.

Vale destacar que, todos esses ensaios de laboratório são realizados a


partir de amostras coletadas ao longo do perfil do solo. Logo, fazer as
análises laboratoriais metro a metro, como são os resultados obtidos
pela sondagem in situ tipo SPT, ou qualquer outra com espaçamentos
ainda menores, seria inviável. Sendo assim, é importante ter em mente
que a amostragem para análises laboratoriais deve ser bem planejada,
realizando-se os ensaios apenas nos pontos de verdadeiro interesse
para o projeto.

Neste tema, você pôde aprender sobre ensaios de campo e de


laboratório para exploração do solo, além disso, pôde compreender que
ensaios de campo podem ser menos precisos, uma vez que precisam
de correlações empíricas para a interpretação dos parâmetros obtidos.
No entanto, os ensaios de campo possibilitam uma amostragem quase
integral e reconhecimento das camadas de um perfil. Em compensação,
mesmo sendo mais precisos, ensaios de laboratório avaliam poucas
amostras por vez, o que pode limitar a representatividade do todo.
Com isso, podemos concluir que os dois tipos de investigação são
complementares e que, quando ambos são realizados para determinado
estudo geotécnico, a apreciação dos resultados será mais assertiva.
35

Referências Bibliográficas
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6.457: preparação de
amostras de solo para ensaio de compactação e ensaios de caracterização: método
de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2016a.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6.489: solo: prova de carga
estática em fundação direta. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6.459: determinação do
limite de liquidez. Rio de Janeiro: ABNT, 2016c.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6.484: solo – Sondagens de
simples reconhecimentos com SPT: método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2020a.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7.180: solo: determinação do
limite de plasticidade. Rio de Janeiro: ABNT, 2016d.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7.181: solo: análise
granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT, 2016b.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7.182: solo: compactação. Rio
de Janeiro: ABNT, 2016e.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9.895: solo: índice de suporte
Califórnia (ISC): método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2016.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10.905: solo: ensaios de
palheta in situ: método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 1989.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 16.867: solo: determinação
da massa específica aparente de amostras indeformadas: método da balança
hidrostática. Rio de Janeiro: ABNT, 2020b.
BELINCANTA, A. Avaliação dos fatores intervenientes no índice de resistência
à penetração do SPT. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Universidade de São
Paulo, São Carlos, 1998.
DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. 6. ed. São Paulo: Thomson
Learning, 2007.
GEOQUALITY. Ensaio de permeabilidade em campo com permeâmetro Guelph.
2021. Disponível em: http://geoquality.com.br/ensaio-com-perme%C3%A2metro-
guelph.html. Acesso em: 5 mar. 2021.
MASSAD, F. Mecânica dos solos experimental. São Paulo: Oficina de Textos, 2010.
MAGALHÃES, M. S. Dimensionamento de estruturas de contenção atirantadas
utilizando os métodos de equilíbrio limite e de elementos finitos. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2015.
36

MARANGON, M. Capítulo 5–Resistência ao cisalhamento dos solos. Notas de aula:


Mecânica dos Solos II. Juiz de Fora: NuGeo/Núcleo de Geotecnia, 2018. Disponível
em: https://www.ufjf.br/nugeo/files/2013/06/MARANGON-2018-Cap%c3%adtulo-05-
Resist%c3%aancia-at%c3%a9-pag-1261.pdf. Acesso em: 6 jan. 2021.
ORTIGÃO, J. A. R. Introdução à mecânica dos solos dos estados críticos. 3. ed. Rio
de Janeiro: Terratek, 2007.
SCHNAID, F.; ODEBRECHT, E. Ensaios de campo e suas aplicações à Engenharia
de Fundações. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.
SOTO, M. A. A. Estudo da condutividade hidráulica em solos não saturados.
Dissertação (Mestrado em Geotecnia)–Universidade de São Paulo, Escola de
Engenharia de São Carlos, São Carlos, 1996.
37

Tensão x deformação nos solos


Autoria: Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim
Leitura crítica: Alana Dias de Oliveira

Objetivos
• Compreender as tensões no subsolo referentes ao
peso próprio e ao acréscimo de tensões devido a
carregamentos externos.

• Descrever os principais métodos de cálculo das


tensões para tensões geostáticas e devido a
carregamentos externos.

• Relacionar o princípio do adensamento e


deformações do solo com as tensões devido a
carregamentos externos.
38

1. Tensões do solo

A maioria dos problemas de engenharia de solos requer o conhecimento


das tensões aplicadas no subsolo, sejam elas referentes ao peso
próprio das camadas adjacentes ou ao acréscimo de tensões devido aos
carregamentos externos.

Por ser um meio trifásico (três fases físicas – sólida/grãos, líquida/água


e gasosa), quando submetido ao um carregamento, o solo possui um
comportamento bastante específico. As tensões cisalhantes induzidas
deverão ser suportadas somente pela estrutura sólida, uma vez que nem
a água, nem o ar oferecem resistência ao cisalhamento. Em contrapartida,
segundo Das (2007), as tensões normais deverão ser suportadas parte pela
estrutura sólida e parte pela fase fluida.

Nesse contexto, conforme explica Sousa Pinto (2006), chamamos de


poropressão ou pressão neutra (u) a pressão atuante na água e de tensão
efetiva ( ) a tensão atuante nos contatos entre os grãos. A soma dessas
duas parcelas (Equação 1) resultam na tensão total ( ) e constitui um
princípio da Mecânica do Solos válido para solos saturados sem fluxo de
água:

(1)

Ainda considerando essas condições, a poropressão tem a intensidade


igual, em qualquer direção, para qualquer ponto, sendo demonstrada pela
Equação 2:

(2)

Onde: - peso específico da água; hw - altura da coluna d’água.


39

1.1 Tensões geostáticas

Segundo Sousa Pinto (2006), os esforços geostáticos correspondem aos


esforços devidos ao peso próprio do solo. Se considerar um terreno
horizontal, é possível calcular o acréscimo de em uma profundidade z,
que é relativo ao peso do solo sobrejacente varia linearmente. Quando o
subsolo é homogêneo (constituído por um único tipo de solo), a varia
somente com a profundidade e é calculado conforme a Equação 3.

(3)

Onde: - peso específico natural do solo; z – profundidade.

Se o subsolo for estratificado (composto por camadas), a varia também


com o peso específico natural, que difere para cada camada. Portanto,
para um subsolo estratificado, a é dada pela somatória expressada na
Equação 4.

(4)

Onde: - peso específico natural do solo da camada i; zi - profundidade da


camada i.

Ainda, é possível calcular as tensões horizontais totais ( ) que atuam no


elemento de solo, conforme a equação a seguir:

(5)

Onde: K - coeficiente de empuxo (caso não se permita deformação do solo


na direção horizontal, deve-se utilizar o coeficiente de empuxo em repouso
(K0)).
40

A título de exemplificação, a Figura 1 mostra uma camada de solo


totalmente saturado em que não há percolação e os gráficos da
variação de tensão total, poropressão e tensão efetiva em função da
profundidade (DAS, 2007). Nesse contexto, é importante destacar que,
quando há percolação, a poropressão deve ser calculada levando em
consideração o fluxo.

Figura 1 - Exemplo de variação das tensões geostáticas com a


profundidade

Fonte: Das (2007, p. 183).

1.2 Esforços externos

A construção de uma obra num terreno aplicará na cota de apoio uma


carga que se propagará no subsolo provocando acréscimo na tensão
efetiva inicial do solo. Esse acréscimo na tensão efetiva é proporcional à
carga da obra e pode acarretar deformações no solo e, consequentemente,
recalque da estrutura.

A distribuição dos esforços externos no solo é obtida pelas formulações em


função: do tipo, magnitude e geometria da área carregada, além da cota
analisada. De acordo com Sousa Pinto (2006), a solução dos problemas fica
determinada com base em duas hipóteses sobre o solo: homogeneidade
41

(mesmas propriedades em todos os pontos do maciço) e isotropia (em cada


ponto do maciço as propriedades são iguais nas três direções). A seguir são
apresentadas as soluções para casos práticos mais frequentes.

A Figura 2 indica a distribuição das tensões normais em planos horizontais


com a profundidade (A), a variação dos acréscimos da tensão vertical ao
longo da linha vertical (B) e as isolinhas de tensões formadas no interior do
maciço quando aplicada uma tensão em superfície (C), também chamadas
de bulbos de tensão.

Figura 2 - Distribuição de tensões com a profundidade

Nota: em (A) distribuição das tensões normais em planos horizontais com a profundidade;
em (B) variação dos acréscimos da tensão vertical ao longo da linha vertical; em (C) bulbos
de tensão.

Fonte: adaptada de Sousa Pinto (2006, p. 163-164).

1.1.1 Carga pontual

A solução de Boussinesq (1885 apud DAS, 2007), refere-se aos


carregamentos provocados por uma carga pontual (ou concentrada)
atuando num ponto de origem de um sistema cartesiano ortogonal e
42

situado na superfície do terreno, conforme Figura 3. Com tais parâmetros, a


tensão vertical efetiva ( ) é determinada por meio da Equação 6.

(6)

Onde: P - carga pontual; z - profundidade de análise; r – descentralização do


ponto de análise em relação ao de aplicação da carga.

Figura 3 - Esquema para solução de carga concentrada aplicada na


superfície

Fonte: Das (2007, p. 212).


43

1.1.2 Carregamento retangular uniformemente distribuído

Para determinar o acréscimo de tensão causado por carregamento


retangular uniformemente distribuído em uma superfície de lados a
e b (Figura 4), desde que o ponto a ser analisado esteja no vértice do
carregamento, a tensão vertical efetiva ( ) pode ser calculada pela
Equação 7 – solução de Newmark.

(7)

Onde: P - carga retangular uniformemente distribuída; - fator de


influência (determinado pelo ábaco - Figura 5, em função de m e n).

Figura 4 - Esquema da solução de carregamento retangular

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 167).


44

Figura 5 - Ábaco para cálculo do acréscimo de tensões verticais por


uma carga uniformemente distribuída em área retangular (solução
de Newmark)

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 167).


45

Caso o ponto de avaliação do acréscimo de tensão não passe pelo


vértice, em profundidade, da área carregada, deve-se subtrair ou
adicionar, convenientemente, as áreas carregadas, conforme exemplo a
seguir, onde se quer determinar a influência do carregamento da área
hachurada no ponto X (Figura 6).

Figura 6 - Exemplo de processo de cálculo de acréscimo de tensão


com carregamento sobre placas retangulares que não coincidem
com o vértice

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 167).

1.1.3 Carregamento circular uniformemente distribuído

Os esforços verticais ( ) provocados por esse tipo de carregamento, na


vertical, podem ser calculados pela equação a seguir.

(8)

Onde: p - carga circular uniformemente distribuída; - Fator de


influência, tabelado em função de R/z (raio por profundidade) (ábaco
apresentado na Figura 7) – Solução de Love (1976).
46

Figura 7 - Ábaco para determinação de fatores de influência para


solução de carga uniformemente distribuída em placa circular

Nota: x – descentralização do centro do carregamento circular e o ponto de avaliação do


acréscimo de tensão vertical.

Fonte: Sousa Pinto (2006, p. 170).


47

1.1.4 Carregamento de comprimento infinito com formato


triangular e trapezoidal

Carothers (1924 apud SOUSA PINTO, 2006) propôs a solução para


carregamento em forma de triângulo isósceles baseada no esquema
ilustrado pela Figura 8 (A), e na forma de trapézio retângulo baseada no
esquema ilustrado pela Figura 8 (B), considerando um ponto A qualquer,
em profundidade.

Figura 8 - Esquema para solução de diferentes tipos de


carregamentos

Nota: em (A) carregamento em forma de triângulo isósceles de comprimento infinito; em


(B) carregamento em forma de trapézio retângulo de comprimento infinito.

Fonte: adaptada de Falcetta (2020, p. 4).

As Equações 9 e 10, por sua vez, são utilizadas para a solução de acréscimo
de tensão vertical e horizontal para carregamentos em forma de triângulo
isósceles de comprimento infinito.
48

(9)

(10)

Onde: P - o maior valor do carregamento distribuído; e - ângulos


formados entre a extremidade do carregamento e o ponto analisado
em profundidade; x - descentralização do ponto analisado em relação
a extremidade interior do carregamento triangular; b - comprimento
do carregamento distribuído; r1 e r2 - distâncias entre a extremidade do
carregamento e o ponto analisado em profundidade.

Já as Equações 11 e 12 são utilizadas para a solução de acréscimo de tensão


vertical e horizontal para carregamentos em forma de trapézio retângulo de
comprimento infinito.

(11)

(12)

Onde: P - o maior valor do carregamento distribuído; - ângulo formado


entre a extremidade do carregamento uniformemente distribuído e o ponto
analisado em profundidade; - ângulo formado entre a extremidade
do carregamento triangularmente distribuído e o ponto analisado em
49

profundidade; a - comprimento do carregamento triangularmente


distribuído; b - comprimento do carregamento uniformemente distribuído;
r0, r1 e r2 - distâncias entre o encontro dos dois tipos de carregamento e as
extremidade do carregamento triangular e uniformemente distribuídos e o
ponto analisado em profundidade, respectivamente.

2. Adensamento e deformações do solo devido


a carregamentos externos

Os solos possuem comportamento tensão-deformação próprios em função


da sua estrutura multifásica. Admitindo o solo como saturado, sua variação
de volume, quando submetido a um esforço de compressão, tem como
princípio desprezar a compressibilidade das fases sólida e fluida frente à
grandeza dos esforços aplicados na prática. Assim, segundo Caputo (1996),
a variação do volume deverá ocorrer por redução de vazios, que estão
completamente preenchidos, devido a expulsão da água intersticial.

O fenômeno de adensamento se refere às variações volumétricas que


ocorrem nos solos finos ao longo do tempo, a fim de que o solo fique em
equilíbrio com as novas tensões aplicadas (DAS, 2007).

Já o recalque total que uma estrutura sobre um solo fino pode sofrer é
composto por várias parcelas: o recalque imediato estudado pela teoria da
elasticidade, o recalque por adensamento e o recalque secundário (SOUSA
PINTO, 2006).

De modo genérico, segundo Caputo (1996), é possível calcular o recalque


total ( ) de uma camada de solo compressível de espessura H, a qual
sofreu uma variação no índice de vazios ( ), considerando compressão
unidirecional e admitindo também que os sólidos desta camada sejam
incompressíveis. O cálculo desse recalque pode ser feito conforme a
equação a seguir.
50

(13)

Onde: ei - índice de vazios inicial da camada.

Considerando a teoria envolvida no recalque por adensamento, a equação


fundamental do adensamento, desenvolvida por Terzaghi, permite calcular
o coeficiente de adensamento ( Cv ) a partir das características do solo
que interferem na velocidade de adensamento, conforme a Equação 11
(MARANGON, 2018).

(14)

Onde: k - coeficiente de permeabilidade; e - índice de vazios do solo;


– peso específico da água; av - coeficiente de compressibilidade, dado por

; mv - coeficiente de deformação volumétrica, dado por

Além disso, para conhecer completamente o recalque por adensamento é


necessário definir se a camada compressível é drenada por uma ou duas
faces drenantes (mais permeáveis), determinar a altura de drenagem
(Hd ) do problema (definida como sendo a distância máxima que a água
terá que percolar até sair da camada adensável) – Figura 10 e estimar
adequadamente a sobrecarga sobre a camada de argila se propaga
linearmente ao longo da profundidade (MARANGON, 2018).
51

Figura 9 – Definição da altura de drenagem da camada compressível


do solo

Fonte: adaptada de Marangon (2018, p. 83).

Após isso, admitindo o incremento de pressão hidrostática


imediatamente após a aplicação do carregamento como sendo igual
ao acréscimo de tensões ( = ), é possível determinar o valor
numérico do fator tempo (Tv ), de acordo com Das (2007), o qual se trata
de um fator adimensional que retira da solução as características do solo
que interferem no processo de adensamento. Esse fator é determinado
numericamente conforme a Equação 15.

(15)

Onde: t - tempo de análise.

A partir disso é possível definir a porcentagem de adensamento (U) em função


do tempo utilizando as seguintes relações empíricas (Equação 13 e 14):

(16)
52

(17)

Outro parâmetro útil nas análises de recalque por adensamento é a


determinação da tensão de pré-adensamento ( ), ou seja, a maior
tensão que o solo já esteve submetido na natureza (CAPUTO, 1996).
Graficamente, pode ser determinada por métodos gráficos, como o
método de Pacheco e Silva (DAS, 2007).

Ainda de acordo com Caputo (1996), o solo pode ser classificado em três
categorias, de acordo com o valor da tensão de pré-adensamento. O
Quadro 1 apresenta tais classificações, suas representações e as equações
utilizadas para o cálculo do recalque.

Quadro 1 - Classificação do solo quanto a tensão de pré-


adensamento

Nota: - Recalque; – índice de vazios inicial; Cc – coeficiente de compressão,


relacionado a faixa de tensão caracterizado pela reta virgem ( ); Cr –
53

coeficiente de recompressão, relacionado com a faixa de tensões antes da tensão de pré-


adensamento.

( ); – tensão de pré-adensamento; – Tensão efetiva vertical; –


acréscimo de tensão efetiva vertical.

Fonte: adaptado de Das (2007) e Marangon (2018, p. 147).

Os menores recalques podem ser esperados para solos pré-


adensados cuja somatória da tensão efetiva inicial e o acréscimo de
tensão efetiva vertical não ultrapassem o valor de tensão de pré-
adensamento do solo. Para as demais classificações, há a necessidade
de se desenvolver os cálculos pertinentes.

Por fim, segundo Caputo (1996), a compressão secundária é


correspondente à variação de volume adicional a qual ocorrerá
próximo ao final e/ou após o adensamento do solo, sendo dada pela
fluência, ou rearranjo, das partículas.

Referências Bibliográficas
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: fundamentos. 6. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 1996.
DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. 6. ed. São Paulo: Thomson
Learning, 2007.
FALCETTA, F. A. M. Mecânica dos solos 1: segunda parte. 2020. Disponível em: http://
www.fec.unicamp.br/~caxd/falcetta/_resumos/eng13.pdf. Acesso em: 12 jan. 2021.
MARANGON, M. Compressibilidade e adensamento do solo. 2018. Disponível
em: http://www.ufjf.br/nugeo/files/2013/06/Marangon-Cap%C3%ADtulo-03-
Compressibilidade-e-Adensamento-2018-at%C3%A9-pag-90.pdf. Acesso em 12 jan.
2021.
SOUSA PINTO, C. Curso básico de mecânica dos solos: em 16 aulas -
com exercícios resolvidos. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. ISBN:
978858623851-2.
54

Hidráulica nos solos


Autoria: Flávia Gonçalves Pissinati Pelaquim
Leitura crítica: Alana Dias de Oliveira

Objetivos
• Compreender o conceito de permeabilidade do solo
e as principais leis de fluxo que regem a percolação.

• Descrever os principais princípios dos métodos


de determinação da permeabilidade dos solos em
laboratório.

• Conhecer fatores que relacionam a permeabilidade


com algumas avaliações particulares do
comportamento dos solos.
55

1. Condições da água no solo

O solo possui uma estrutura sólida arranjada composta por partículas


minerais e orgânicas e que em seus vazios pode ser encontrada água e/
ou ar. Considerando que essa fase fluida do solo seja a água, segundo
Das (2007), há a possibilidade desse líquido estar sob equilíbrio
hidrostático ou fluir sob a ação da gravidade quando submetida a um
potencial hidráulico.

Para que você compreenda bem os conceitos relacionados ao movimento


da água no solo, a seguir abordaremos sobre a propriedade que permite
que a água flua em seus vazios e as peculiaridades dessa ocorrência.

2. Permeabilidade dos solos

É denominada de permeabilidade dos maciços terrosos a propriedade


do material expressa pela menor ou maior facilidade em deixar a água
percolar entre os vazios do solo (CAPUTO, 1996). De modo geral, adotamos
os princípios da hidráulica convencional, considerando escoamentos
permanentes, aplicados aos conceitos da mecânica dos solos.

2.1 Leis de fluxo

Quando a água do solo está em equilíbrio hidrostático, é possível dizer que


a componente de tensão do solo, conhecida por poropressão da água ou
pressão neutra, pode ser calculada pela simples multiplicação do peso
específico da água pela altura de coluna d’água. Em contrapartida, quando
está em fluxo sob a ação da gravidade, tal parcela precisa ser calculada
levando em consideração os princípios da hidráulica dos solos. Para
isso, são utilizadas as chamadas Leis de Fluxo, que regem como deve ser
calculada a variação da poropressão no maciço.
56

Para tratar da permeabilidade na Mecânica dos Solos, segundo


Fernandes (2016), é interessante ter em mente que trabalhamos com
uma aproximação de escoamento laminar, caracterizado por um
movimento das partículas do fluido em trajetórias retas paralelas.

A partir desse preceito, e de experimentos empíricos, Sousa Pinto (2006)


explica que Darcy propôs uma relação matemática para determinar a
velocidade de descarga de um fluido no solo (Equação 1). Além disso,
pode-se chamar a divisão da perda de carga pela distância de percolação
do fluido como gradiente hidráulico (i). Desse modo, a conhecida Lei de
Darcy pode ser expressa considerando a vazão do fluido e uma seção
normal à direção do escoamento do fluido, o que resulta na Equação 2.

(1 e 2)

Onde: v–velocidade; K–coeficiente de permeabilidade de Darcy


(explicado mais extensamente nos próximos itens); ∆H–perda de carga;
L–distância de percolação; Q–vazão; A–seção transversal do escoamento.

Além da Lei de Darcy, outra relação matemática utilizada nos cálculos


que envolvem a percolação de água no solo é a Lei de Bernoulli. Das
(2007) explica que a Lei de Bernoulli utiliza o princípio da conservação
da energia e permite determinar a carga hidráulica total de um fluido
incompressível, em escoamento permanente, dividindo em três parcelas
de cargas: altimétrica (de posição), piezométrica (de pressão) e cinética
(de movimento, relativa à velocidade do escoamento). Para valer a Lei de
Bernoulli, a carga hidráulica total (HT) deve ser constante para qualquer
seção de escoamento do fluido, conforme a Equação 3.

u v2 u v2
H T = 1 + 1 + z1 = 2 + 2 + z 2 = cte (3)
γ w 2g γ w 2g
57

Onde, para cada seção “i” temos: HT–carga hidráulica total; ui / –carga
piezométrica; vi²/ 2g – carga cinética; zi – carga altimétrica; ui – pressão
neutra; vi – velocidade do fluido; g – força de gravidade; = massa
específica da água.

Na mecânica dos solos, a parcela relativa à carga cinética pode ser


desconsiderada, já que velocidade de percolação da água nos solos é muito
baixa. Desse modo, considerando esse movimento, há a necessidade se
de considerar o atrito viscoso da água com os grãos do solo. Esse atrito,
portanto, resulta numa perda de carga (∆H) que deve ser quantificada na
equação de Bernoulli. Por fim, é possível expressar a variação das parcelas
de carga hidráulica em solos de acordo com a Equação 4.

u1 u2
HT =
γw
+ z1 =
γw
+ z 2 + ∆H (4)

A Figura 1-A ilustra como a HT da água em uma seção de referência é


dividida nas parcelas altimétrica, piezométrica e cinética. Já a Figura 1-B
ilustra a HT de uma linha de fluido percolando por um meio poroso, no
caso o solo.

Figura 1 – Representação da carga hidráulica total de um fluido em


uma seção de escoamento

LHT - Linha de carga total; LP - Linha piezométrica; LF - Linha de fluxo; NR – Nível de referência.
58

Fonte: elaborada pela autora.

Sendo assim, partindo de um ponto onde a carga é plenamente


conhecida é possível determinar o valor de poropressão d’água que está
em fluxo sob a ação da gravidade em qualquer ponto do maciço de solo.

2.2 Coeficiente de permeabilidade (K)

Como foi visto, o coeficiente de permeabilidade se trata de um


parâmetro caraterístico do solo que está relacionado a facilidade com a
qual a água consegue fluir entre os grãos. Neste item, você aprenderá
como obtê-lo em laboratório e quais os fatores que influenciam na
permeabilidade do solo.

2.2.1 Determinação do K

a. Métodos indiretos

O coeficiente de permeabilidade (K) pode ser obtido por meio dos


chamados métodos indiretos, ou seja, na utilização de correlações que
utilizam outros parâmetros do solo.

Para solos granulares, uma correlação bastante conhecida é a equação


de Hazen (Equação 5), válida para areias e pedregulho com coeficiente
de não uniformidade menor que 5:

K = C ⋅ De2 ( cm / seg ) (5)

Onde: De– diâmetro efetivo ou D10 do solo (cm); C – coeficiente referente


à forma da curva granulométrica – varia entre 90 a 120, sendo 100 o
valor mais utilizado.

Para solos finos, o valor de K pode ser estimado a partir dos parâmetros
do ensaio de adensamento, conforme as equações a seguir:
59

(6 e 7)

Onde: Hd – altura de drenagem; av – coeficiente de compressibilidade;


– peso específico (ou massa específica) da água; t50– tempo
correspondente à ocorrência de 50% do adensamento primário (s); e0–
índice de vazios inicial; Cv– coeficiente de consolidação/adensamento;
mv– coeficiente de variação volumétrica.

De modo genérico, podem ser utilizadas as equações de Taylor (Equação


8) ou de Konezy-Carman (Equação 9).

(8)

(9)

Onde: e – índice de vazios, – peso específico do fluido; – viscosidade


do fluido;k0 – fator que depende da forma dos poros e da tortuosidade
da trajetória da linha de fluxo; S – superfície específica do solo;D10 –
diâmetro equivalente; C – fator de forma.

b. Métodos diretos

Os métodos diretos se referem às práticas de laboratório e de campo


para determinação do K do solo, utilizando um equipamento chamado
de permeâmetro. Os ensaios podem ser realizados de dois modos: à
carga constante e à carga variável, mas ambas se baseiam na Lei de
Darcy para o cálculo de K.

I. Ensaio de permeabilidade do solo com carga constante


60

Um corpo de prova com área de seção transversal de altura A e altura


L é colocado no permeâmetro e nesse ensaio é submetido à uma carga
hidráulica (h) constante (sem mudança entre os níveis do reservatório
inferior e superior), conforme a Figura 2.

Em uma proveta graduada, o volume de água que percola o corpo de


prova em um determinado tempo é coletado. Com esses dados, aplica-
se a Lei de Darcy e determina-se K, conforme é mostrado por meio da
Equação 10:

v h v⋅ L
Q=
t
= K ⋅i ⋅ A = K ⋅ ⋅ A ⇒ K =
L A⋅ h⋅ t
(10)

Onde: v – volume percolado; L – altura do corpo de prova; A – área da seção


transversal do corpo de prova; h – perda de carga do ensaio; t – tempo.

Figura 2 – Ensaio de permeabilidade com carga constante

Fonte: elaborada pela autora.


61

Esse tipo de ensaio, à carga constante, é utilizado para solos granulares


(como areias e pedregulhos) ou com comportamento similar, cujas
permeabilidades são altas e, consequentemente, o tempo de percolação
da água nesses solos não é longo, sendo fácil de ser determinado
(FERNANDES, 2016).

II. Ensaio de permeabilidade do solo com carga variável

Os solos finos, cuja permeabilidade é baixa, requerem um tempo bem


maior para percolar um volume considerável de água por meio deles
em relação aos solos granulares. Devido à essa característica, para a
determinação de K em solos finos, utiliza-se o ensaio à carga variável,
cujo esquema é ilustrado pela Figura 3.

Neste ensaio, é necessário medir o tempo necessário para água percolar


no solo, tendo como referência o volume de água infiltrado. Para isso,
utiliza-se uma bureta na parte superior do permeâmetro. Assim, por
meio da integração da Lei de Darcy para a variação de nível e tempo,
chegamos às seguintes expressões (Equações 11 e 12):

a⋅ L h0 a⋅ L h0
K=
A ⋅ ∆t
⋅ ln
h1
K = 2 ,3 ⋅
A ⋅ ∆t
⋅ log
h1
(11 e 12)
ou

Onde: a – área de seção da bureta; L – altura do corpo de prova; A – área


da seção transversal do corpo de prova; ∆t – variação do tempo; h0 e h1
– leituras inicial e final da altura da coluna d’água dentro da bureta, ao
longo do tempo.
62

Figura 3 – Ensaio de permeabilidade com carga variável

Fonte: elaborada pela autora.

Vale ressaltar que os ensaios para determinação do coeficiente


de permeabilidade (K) do solo não representam fielmente o
comportamento do solo, pois as amostras podem não apresentar as
particularidades do solo em campo. Porém, de acordo com Fernandes
(2016), pode-se considerar que o K obtido em laboratório, sob condições
impostas de fluxo unidirecional, representa a pior condição de fluxo
possível, sendo aceitável que em campo eventualmente será menor,
diminuindo os problemas gerados com a percolação.

III. Solos estratificados

Em situações reais de campo, é comum lidar com perfis estratificados


(compostos por diferentes materiais sobrepostos). Nesse caso, há duas
possibilidades: ou considera-se as particularidades de cada camada e aplica
um processo interativo para a resolução dos problemas que envolvem
63

percolação, ou adota-se um K equivalente a todo o sistema, trabalhando


com uma única variável que será representativa do processo todo.

Para o segundo caso, o valor de K equivalente pode ser obtido a partir


do K de cada um dos solos presentes e da direção do fluxo de água
verificado. A Figura 4 ilustra as condições de fluxo de água paralelo e
perpendicular a estratificação e suas respectivas fórmulas de cálculo.

Figura 4 – Condições de fluxo e fórmulas para determinação do K


equivalente

Nota: em (A) situação de fluxo de água paralelo a disposição das camadas; em (B),
perpendicular.

Fonte: adaptada de DAS (2007).


64

Para projetos onde é preciso verificar o fluxo de água dentro do maciço,


segundo Fernandes (2016), é possível trabalhar separadamente com os
coeficientes vertical e horizontal determinados ou como um coeficiente
genérico, dado pelo média geométrica dos coeficientes correspondentes
às direções ortogonais. A Equação 13 apresenta essa relação.

(13)

2.2.2 Fatores que influenciam na permeabilidade do solo

Existem fatores ligados às características do solo e às características


do fluido que podem interferir na permeabilidade. A seguir, procura-se
comentar as mais importantes.

a. Características do solo

Segundo Sousa Pinto (2006), quanto às características do solo, as que


mais influenciam na permeabilidade são:

• Tamanho das partículas: ao analisar a permeabilidade do solo, de


modo geral, considera-se que os solos grossos apresentam maior
permeabilidade (ou maior facilidade em deixar a água percolar
por entre grãos), pois apresenta baixa força de superfície das
partículas. Já os solos finos, como possuem forças de superfícies
mais significativas e variáveis, exercem grande influência no
comportamento quanto à sua permeabilidade, tendendo a
diminuí-la. Apesar disso, não ser uma regra geral, muitas vezes,
nos ajuda na prática nos ajudando a analisar melhor as situações
que encontramos em campo.

• Vazios do solo: a permeabilidade está diretamente relacionada


com o tamanho dos vazios do solo, pois quanto maiores forem os
poros e sua quantidade relativa à fração sólida, mais permeável o
solo será.
65

• Grau de saturação (Sr): a presença de ar nos vazios do solo dificulta


a percolação da água, podendo, por assim dizer, que quanto maior
Sr, maior será o valor de K.

• Estrutura: pode-se dizer que um solo no estado disperso


apresentará permeabilidade menor que no estado floculado, se
apresentarem em ambos o mesmo e.

b. Características do fluido

Quanto às características do fluido, as duas propriedades que mais


influenciam na permeabilidade do solo são a viscosidade e a massa
específica (SOUSA PINTO, 2006). Ambas variam com a temperatura,
sendo a viscosidade a mais sensível. Com a finalidade de se minimizar o
efeito da variação da viscosidade com a temperatura, é comum corrigir
o coeficiente de permeabilidade (K) do solo para a temperatura de
referência 20°C, obtido por meio da Equação 14.

µT
K 20 = ⋅K
µ 20 T (14)

Onde: K20 – coeficiente de permeabilidade a 20°C; KT – coeficiente de


permeabilidade a T°C; µ20 – viscosidade da água a 20°C; µT – viscosidade
da água a T°C.

2.3 Forças de percolação e ruptura hidráulica dos solos

Segundo Das (2007), quando há movimento de água no solo, devido ao


atrito viscoso entre a água e os grãos do solo, ocorre perda de carga. O
atrito viscoso consiste, nada mais nada menos, em uma transferência
de energia da água para os grãos, a qual gera uma força efetiva pois se
transfere de grão a grão, definida como força de percolação. A ruptura
hidráulica é o processo de perda da resistência e da estabilidade de uma
massa de solo por efeito das forças de percolação.
66

Fernandes (2016) confirma que, na maioria das vezes, são as forças de


percolação as responsáveis pela instabilidade de taludes, problemas em
aterros e barragens e erosão, sendo de extrema importância seu estudo.

Para a determinação das forças de percolação (Fp ), utiliza-se a Equação


15. Caso seja necessário, é possível determinar a força de percolação por
unidade de volume (fp ), obtendo-se o valor por meio da Equação 16.

γ w ⋅i ⋅ A ⋅ L
Fp = γ w ⋅ i ⋅ A ⋅ L fp = = i ⋅γ w (15 e 16)
e A⋅ L

Onde: – massa específica da água; i - gradiente hidráulico; A – área


normal à aplicação da força; L – comprimento de percolação.

a. Fenômeno da areia movediça e piping

O fenômeno da areia movediça pode ser definido como a ocorrência


de uma força de percolação (gerada por um fluxo ascendente de água
atravessando um meio arenoso) se igualar ou superar a força (ou
tensão) efetiva no maciço, acarretando perda de resistência, fenômeno
ilustrado pela Figura 5. A ocorrência de areia movediça na natureza é
rara, mas o homem pode criar essa situação nas suas obras.

Figura 5 – Ilustração do fenômeno da areia movediça

Fonte: Falcetta (2020, p. 7).


67

A areia, segundo o esquema da Figura 5, está submetida a uma carga


hidráulica (h), responsável pelo fluxo ascendente da água na direção que
mostra a seta em azul. Desse modo, de acordo com Falcetta (2020), é
possível determinar o valor de tensão total e pressão neutra no ponto A,
respectivamente, por meio das Equações 17 e 18.

σ A = γ w ⋅ h1 + γ sat ⋅ L e u = γ w ⋅ ( h + h1 + L ) (17 e 18)

O autor ainda evidencia que, se ocorrer um aumento da altura de carga


h até que a tensão total se iguale à pressão neutra, a tensão efetiva
é anulada, o solo perde resistência e passa a se comportar como um
líquido (FALCETTA, 2020). Nesse momento, o valor de h é considerado
crítico, denominado hc , e é determinado pela Equação 19.

(19)

Por fim, Falcetta (2020) ainda expõe que o gradiente hidráulico crítico (ic)
pode ser determinado em função da hc , conforme a equação a seguir.

hc γ′
ic = =
L γw
(20)

Outro tipo de ruptura hidráulica é o piping (traduzido como


entubamento). Ele resulta do carreamento de partículas do solo por
forças de percolação elevadas. Geralmente, esse fenômeno ocorre na
saída da água no talude de jusante de barragens de terra, isso porque
nestes locais as tensões normais são pequenas e resultam em baixas
forças de atrito entre as partículas possibilitando que elas sejam
arrastadas pelas forças de percolação. Trata-se de uma erosão interna
que gera preocupação por ser progressiva e visível em estágios já
avançados da obra.
68

b. Filtros de proteção

Segundo Sousa Pinto (2006), tanto o fenômeno da areia movediça


como outros processos de erosão interna do solo, como o piping em
barragens, podem ser evitados com o aumento da tensão efetiva sem
aumento da pressão neutra, com redução da vazão de percolação ou
com adoção de dispositivos de drenagem.

Um dos modos de evitar rupturas hidráulicas, portanto, é por


meio dos chamados filtros de proteção. Trata-se de um elemento
construído por camadas de materiais granulares (areias e
pedregulhos), os quais permitem a drenagem da água sem carrear
partículas do solo. Das (2007) explica que o material a ser utilizado
como filtro de proteção deve obedecer a certas condições: possuir
vazios suficientemente pequenos para impedir a passagem dos grãos
do solo a ser protegido e possuir vazios suficientemente grandes para
permitir a drenagem da água e controle das forças de percolação. As
duas condições são satisfeitas pela relação determinada por Terzaghi:
4a5 ⋅ D15S < D15F < 4a5 ⋅ D85S

A escolha do material a ser utilizado como filtro é feita por meio da


curva granulométrica do solo que se deseja proteger. Dessa forma,
define-se o D15S e o D85S do solo e aplica-se a condição acima para
determinar os limites para D15F (pontos A e B da Figura 6). A partir
dos pontos A e B, as curvas granulométricas são desenhadas com
coeficientes de não uniformidade iguais ao da curva granulométrica
do solo a ser protegido, conforme ilustra a Figura 6.
69

Figura 6 – Exemplo para escolha da faixa granulométrica do filtro

Fonte: Falcetta (2020, p. 6).

Nota-se que o critério definido por Terzaghi não define as dimensões do


filtro a ser utilizado, somente uma faixa de variação granulométrica, na
qual qualquer material que se situe nessa faixa servirá de filtro para o
solo a ser protegido (FALCETTA, 2020).

Referências Bibliográficas
CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: fundamentos. 6. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 1996.
DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. 6. ed. São Paulo: Thomson
Learning, 2007.
FALCETTA, F. A. M. Mecânica dos solos 1: segunda parte. 2020. Disponível em: http://
www.fec.unicamp.br/~caxd/falcetta/_resumos/eng13.pdf. Acesso em: 12 jan. 2021.
FERNANDES, M. M. Mecânica dos solos: conceitos e princípios fundamentais. São
Paulo: Oficina de Textos, 2016.
SOUSA PINTO, C. Curso básico de mecânica dos solos: em 16 aulas–com exercícios
resolvidos. 3. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. ISBN: 978858623851-2.
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