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Fundações e Obra

de Terra
Profª. Thamires Ferreira Schubert

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Profª. Thamires Ferreira Schubert

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

S384f

Schubert, Thamires Ferreira

Fundações e obra de terra. / Thamires Ferreira Schubert. – Indaial:


UNIASSELVI, 2020.

257 p.; il.

ISBN 978-65-5663-067-0

1. Fundações (Engenharia). – Brasil. Centro Universitário Leonardo


Da Vinci.

CDD 624.15

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico e futuro engenheiro! Seja bem-vindo a esta etapa do
seu curso na disciplina de Fundações e Obras de Terra. Este livro didático foi
escrito para servir de base para a disciplina que tem como objetivo explorar
e conhecer os tipos de fundações mais comuns utilizados na construção civil
e algumas obras de terra como taludes e barragens.

Vamos começar a imaginar que você iniciou um trabalho num


escritório de projetos para fundações. A ideia é que esse livro sirva de base
para algumas situações que você encontraria no cotidiano, mesmo que certas
dúvidas sejam sanadas apenas na prática. A leitura dos conceitos e resolução
de exercícios ajudará a entender as situações básicas que você encontrará e
incentivará você a buscar mais conhecimentos, pois o aprendizado deve ser
uma prática constante.

Você verá que fundações são estruturas que seguram as construções,


ou seja, são a base que aguenta os esforços de uma obra e transmite para o
solo. Por sua vez, quando se trata de obras de terra, o solo é considerado um
material de construção e não mais apenas um apoio.

O livro didático está dividido em três unidades separadas da seguinte


forma:

A Unidade 1 traz conceitos iniciais de fundações e seus tipos, bem


como uma breve revisão de mecânica dos solos. É preciso relembrar algumas
definições sobre solos que serão utilizadas para esse material.

A Unidade 2 apresenta o dimensionamento de fundações rasas e


profundas e a explicação sobre recalques e a Unidade 3 aborda as obras de
terra como taludes, estradas e aeroportos e barragens.

Em todas as unidades, você encontrará indicações de leituras


complementares e sugestões vídeos para estimular a busca por mais
conhecimentos. Ao fim de cada tópico você terá uma lista de exercícios para
fixar o conteúdo. Aproveite todos os recursos que o livro oferece e bons
estudos!

Profª. Thamires Ferreira Schubert


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES............................................... 1

TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS..................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 TIPOS DE FUNDAÇÃO ..................................................................................................................... 5
3 SEGURANÇA DAS FUNDAÇÕES................................................................................................. 11
3.1 USO DE FATOR DE SEGURANÇA GLOBAL OU MÉTODO DE VALORES
ADMISSÍVEIS................................................................................................................................. 14
3.2 USO DE FATOR DE SEGURANÇA PARCIAL OU MÉTODO DE VALORES
ADMISSÍVEIS................................................................................................................................. 15
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 20

TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS............................... 21


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 21
2 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS .................................................................................................... 22
3 PERMEABILIDADE E ÁGUA NO SOLO...................................................................................... 43
4 TENSÕES NO SOLO ........................................................................................................................ 49
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 56
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 57

TÓPICO 3 — INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA............................................................................ 59


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 59
2 INVESTIGAÇÃO DE CAMPO ....................................................................................................... 61
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 73
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 75
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 76

UNIDADE 2 —FUNDAÇÕES............................................................................................................. 79

TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS................................................................................................. 81


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 81
2 TEORIA DA CAPACIDADE DE CARGA..................................................................................... 82
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 115
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 116

TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS................................................................................... 119


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 119
2 TIPOS DE FUNDAÇÃO PROFUNDA......................................................................................... 119
3 TEORIA DA CAPACIDADE DE CARGA................................................................................... 123
4 DIMENSIONAMENTO.................................................................................................................. 137
4.1 DIMENSIONAMENTO DE ESTACAS..................................................................................... 138
4.2 DIMENSIONAMENTO DE BLOCOS DE COROAMENTO PARA FUNDAÇÕES
PROFUNDAS............................................................................................................................... 143
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 152
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 153

TÓPICO 3 — RECALQUE.................................................................................................................. 155


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 155
2 TIPOS DE RECALQUE.................................................................................................................... 156
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 170
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 172
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 173

UNIDADE 3 —OBRAS DE TERRA................................................................................................. 175

TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES............................................................................... 177


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 177
2 CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS................................................................................... 179
2.1 DESPRENDIMENTO DE TERRA OU ROCHA...................................................................... 179
2.2 ESCORREGAMENTO (LANDSLIDE)...................................................................................... 181
2.3 RASTEJO (CREEP)....................................................................................................................... 182
2.3.1 Causas dos movimentos.................................................................................................... 183
3 ANÁLISE DA ESTABILIDADE..................................................................................................... 184
3.1 FATOR DE SEGURANÇA (FS).................................................................................................. 186
3.2 RUPTURA COM SUPERFÍCIE PLANAR................................................................................ 187
3.2.1 Taludes em solos não coesivos e secos............................................................................ 187
3.2.2 Taludes em solos não coesivos e completamente submersos....................................... 188
3.2.3 Taludes em solo não coesivos com presença de nível d’água...................................... 189
3.2.4 Taludes em solo coesivo e com fluxo de água paralelo à superfície........................... 189
3.2.5 Taludes em solo coesivo e com fluxo de água horizontal............................................. 190
3.2.6 Taludes com ruptura não drenada................................................................................... 191
3.3 RUPTURA COM SUPERFÍCIE CIRCULAR............................................................................ 191
3.3.1 Método de Hoek e Bray..................................................................................................... 191
3.3.2 Ábacos de Taylor................................................................................................................. 198
3.3.3 Método de equilíbrio-limite.............................................................................................. 201
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 209
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 210

TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA......................................................................................... 213


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 213
2 TIPOS DE BARRAGENS................................................................................................................ 215
2.1 BARRAGENS DE CONCRETO................................................................................................. 219
2.1.1 Barragens de peso............................................................................................................... 219
2.1.2 Barragens de arco-gravidade............................................................................................ 220
2.1.3 Barragens de contraforte.................................................................................................... 221
2.2 BARRAGENS DE ATERRO . ..................................................................................................... 222
2.2.1 Barragens de terra............................................................................................................... 223
2.2.2 Barragens de enrocamento................................................................................................ 224
3 ESTABILIDADE DE BARRAGENS.............................................................................................. 225
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 232
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 233
TÓPICO 3 — PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES.......................................................................... 235
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 235
2 CAUSAS DE PATOLOGIAS EM FUNDAÇÕES........................................................................ 237
2.1 RECUPERAÇÃO DE FUNDAÇÕES . ...................................................................................... 241
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 246
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 249
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 250

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 251
UNIDADE 1 —

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE
FUNDAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender a importância do estudo de fundações na engenharia;

• conhecer os tipos de fundações;

• compreender as etapas de um projeto de fundações;

• identificar os critérios de segurança das fundações.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

TÓPICO 2 – REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

TÓPICO 3 – INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1 INTRODUÇÃO

A história das fundações vem acompanhando o crescimento da sociedade


desde que o homem deixou de ser nômade e precisou elaborar algum abrigo que
servisse como moradia: o local precisava permanecer de pé como um local para
descanso, provavelmente entre a era paleolítica e neolítica, conforme afirmam
Hachich et al. (1998). Entre muitas experiências de erros e acertos, construções
foram erguidas e os estudos de solos e fundações foram se aprimorando. Muitos
pesquisadores colaboraram para os conhecimentos que temos atualmente, como
J. H. Lambert (1772), Coulomb (1773), entre outros até chegar em Therzaghi
(1943), conhecido como o pai da mecânica dos solos e da engenharia geotécnica
(HACHICH et al., 1998).

A engenharia geotécnica é uma área da engenharia civil que aborda os


conceitos de mecânica dos solos e das rochas aplicados aos projetos de obras de
terra, como estruturas de contenção e para fundações (DAS BRAJA, 2007). Este
livro didático tem como foco principal o estudo de fundações, seus conceitos
iniciais, utilização e dimensionamento.

De acordo com o dicionário Michaelis (2019), a palavra fundação significa


fundar ou erigir e no contexto da construção, quer dizer um conjunto de obras
que sustenta e assenta os fundamentos de uma edificação. É a fundação que
transmite as cargas aplicadas pela construção para o solo. O projeto de fundações
compõe o dimensionamento das fundações e é uma etapa que deve ser feita com
muito cuidado para que a base seja executada de forma que sustente a obra que
virá a ser construída.

Fundações com projetos mal elaborados ou mal executados podem


acarretar em problemas nas edificações como inclinações, afundamento ou,
em casos mais graves, em colapso de toda a estrutura. Um dos exemplos mais
conhecidos de problemas com fundações é a Torre de Pisa. Segundo matéria da
revista Mundo Estranho (2011), a resposta para a inclinação desse caso histórico é
o grande recalque que a edificação sofreu. De forma resumida, um recalque é um
assentamento de um solo, ou seja, um rebaixamento do terreno que pode levar a
alguma movimentação da estrutura que está apoiada nessa região. O terreno em
que a Torre foi construída era predominantemente de argila e areia e a fundação
não foi profunda suficiente para evitar o afundamento da obra.

3
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Outro caso (HYPESCIENCE, 2015) com problema de fundação ocorreu


em 2009, em Xangai, na China, quando um prédio de 13 andares tombou inteiro.
O relatório apontou que a escavação para construção de um subsolo no prédio
e chuvas excessivas foram as prováveis causas principais do tombamento. Por
conta da estrutura do prédio ser mais resistente do que a fundação, a edificação
caiu sem danos (ESTRUTURANDO, 2015). Na Figura 1 é possível verificar a
fundação exposta e o prédio tombado inteiro.

FIGURA 1 – PRÉDIO TOMBADO EM XANGAI

FONTE: <http://estruturandocivil.blogspot.com/2015/08/em-2009-um-predio-desabou-inteiro-
-mas.html>. Acesso em: 14 set. 2019.

Isso nos lembra de outro estudo muito importante na etapa inicial de uma
construção: o estudo do terreno. Além de conhecer as cargas que a edificação
transmitirá para a fundação e essa, por sua vez, ao solo, é preciso avaliar em qual
tipo de terreno a obra estará assentada para dimensionar se o solo vai suportar
todas as cargas. Nesse momento, o solo é visto como um apoio para a construção.
Essa ideia muda quando o solo é tratado como um material de construção, para as
obras de terra como aterros, barragens, aeroportos etc. Por isso, este livro didático
que tem como nome, Fundações e Obras de Terra, apresentará os assuntos na
ordem do título.

Assim, Caputo (2017) estabelece duas etapas iniciais do estudo de


fundação, são elas: cálculo das cargas atuantes sobre a fundação e estudo do
terreno. O autor define alguns critérios para a escolha do tipo de fundação que
veremos nas seções seguintes, bem como análise do solo, com uma breve revisão
de conceitos de mecânica dos solos e investigação geotécnica. Para as obras de
terra, voltaremos a tratar de algumas características dos solos e falaremos sobre
medidas de estabilização para aumentar a segurança e reduzir a movimentação
de terra.

4
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS

2 TIPOS DE FUNDAÇÃO
As fundações têm o objetivo de transmitir a carga gerada pela estrutura
da construção para o terreno. Contudo, existem vários tipos de fundações que
devem ser escolhidos com base em alguns critérios. São dois grandes grupos de
fundações: as superficiais e as profundas.

As fundações superficiais, também conhecidas como diretas ou rasas,


são utilizadas quando o solo logo abaixo da construção suporta suas cargas. As
fundações profundas, por sua vez, são aquelas que estão localizadas no solo mais
distante da construção. Velloso e Lopes (2010, p. 11) diferenciam os dois tipos de
fundação de acordo com o critério “de que uma fundação profunda é aquela cujo
mecanismo de ruptura de base não surgisse na superfície do terreno”, ou seja,
está afastada suficiente da superfície de modo que se houver alguma alteração na
sua estrutura, não aparecerá.

A NBR 6122 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,


1996), relativa ao projeto e execução de fundações, define uma fundação superficial
quando se tem profundidade de assentamento menor do que duas vezes a menor
dimensão da fundação. Enquanto a fundação profunda apresenta essa distância
maior do que o dobro de sua menor dimensão e com valor mínimo de três metros.

Segundo Hachich et al. (1998), se um prédio possui dois subsolos, uma


fundação assentada a 7 metros abaixo do nível da rua, pode ser considerada uma
fundação rasa, conforme indicado na Figura 2.

FIGURA 2 – RELAÇÃO ENTRE DIMENSÃO DA FUNDAÇÃO E PROFUNDIDADE

FONTE: Hachich et al. (1998, p. 227)

Os tipos de fundações estão apresentados a seguir e a forma de


dimensionamento será apresentada na Unidade 2. A Figura 3 indica um desenho
esquemático dos tipos de fundações.

5
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

FIGURA 3 – TIPOS DE FUNDAÇÕES

FONTE: De Brito (2014, p. 24)

• Fundações rasas: entre as fundações rasas, a NBR 6122 (ASSOCIAÇÃO


BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1996) indica os seguintes tipos:
sapatas, blocos, radier, sapatas associadas, vigas de fundação e sapatas corridas.
O Quadro 1 resume os tipos de fundações conforme Caputo (2017) as classifica.

QUADRO 1 – TIPOS DE FUNDAÇÕES RASAS

Fundações rasas
Isolada Excêntrica Corrida
Sapata Viga de equilíbrio Sapata corrida
Bloco Viga de fundação
Radier
Fonte: A autora

Caputo (2017) define fundações isoladas como estruturas que suportam


a carga de um pilar somente, sendo essa estrutura um bloco ou uma sapata. A
pressão (p) que o solo recebe é estabelecida pela equação p= P/S, em que P é a
carga do pilar e S é a área da base da fundação.

A sapata é um elemento de concreto armado, “dimensionado de modo


que as tensões de tração nele produzidas não sejam resistidas pelo concreto, mas
sim pelo emprego da armadura” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 1996, p. 2). Geralmente são menores que os blocos e trabalham à
flexão. Podem ter como formato da base um quadrado, retângulo, círculo ou
octógono, como ilustrado na Figura 4. Para um quadrado, deve-se respeitar a
relação L=B e para um retângulo L >B.
6
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS

As sapatas associadas são aquelas utilizadas para pilares que estão


localizados muito perto, que não estejam em um mesmo alinhamento, situação
na qual uma sapata pode atender a dois ou mais pilares.

FIGURA 4 – TIPOS DE SAPATA

Quadrada Retangular

Circular Poligonal Sapata isolada de


concreto armado

FONTE: Silva Filho e Gurjão (2016, p. 24)

E
IMPORTANT

Você se lembra do conceito de flexão? É o esforço que tende a dobrar uma


estrutura, causando uma “barriga”. Se você colocar muitos livros no meio de uma prateleira
e essa carga for maior do que sua resistência, a prateleira vai ceder nesse ponto.

O bloco é uma estrutura com grande altura, normalmente de concreto


simples (material composto por cimento, areia, brita e água, com baixa resistência
à tração) que suportará os esforços de compressão. Pode ter o formato de bloco
escalonado ou de tronco de cone, como ilustrado na Figura 5.

7
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

FIGURA 5 – BLOCOS DE FUNDAÇÕES

a) Bloco Tronco-cônico b) Bloco Escalonado


FONTE: Hachich et al. (1998, p. 227)

A fundação excêntrica é utilizada quando a resultante das cargas não está


atuando no centro de gravidade da base, como acontece em divisas de terrenos
ou alinhamentos de calçadas (CAPUTO, 2017). Aplica-se uma viga de equilíbrio
para corrigir a falta de excentricidade dessa carga.

As fundações corridas são estruturas que transmitem uma carga


distribuída linearmente, como a sapata corrida, a viga de fundação e o radier.
A sapata corrida tem definição semelhante à sapata como fundação isolada,
com a diferença da carga ser distribuída linear e não pontualmente. A viga de
fundação suporta a carga de vários pilares que tenham centros em um mesmo
alinhamento, oposto ao caso das sapatas associadas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 1996). Por fim, o radier é uma laje de concreto armado
que compreende todos os pilares ou carregamentos da edificação. A Figura 6
apresenta os principais tipos de fundações superficiais.

8
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS

FIGURA 6 – PRINCIPAIS TIPOS DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Bloco Sapata

Viga de fundação ou sapata corrida

Vista lateral Seção tipo bloco Seção tipo sapata

Radier

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 12)

NOTA

Uma carga distribuída linearmente atua sobre uma peça ao longo de seu
comprimento.
Uma carga pontual atua em uma área tão pequena, que pode ser considerada
apenas um ponto.
Carregamento pontual
nte
ar me
ine
idol
tr ibu
dis
to
m en
ga
rre
Ca

FONTE: <https://engenheirocaicara.com/querido-monstrinho-rm-carga-pontual-e-distribuida-
-momento-fletor-e-esforco-cortante/>. Acesso em: 15 out. 2019.

• Fundações profundas: as principais fundações profundas são estacas, tubulões


e caixões. As estacas, também chamadas de estacas de sustentação, são peças
longas na forma de um cilindro ou prisma. Como será visto no cálculo de

9
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

dimensionamento na Unidade 2, a estaca apresenta uma parcela de resistência


lateral do solo. Os tubulões têm formato cilíndrico, geralmente com base
alargada, e diferentemente da estaca, são estruturas que necessitam da descida
de trabalhadores na área escavada para limpar corretamente a base onde
serão inseridas. Os caixões têm formato retangular na sua seção transversal e
normalmente, tem dimensões maiores que as fundações do tipo tubulão.

A Figura 7 mostra os principais tipos de fundações profundas, começando
pela estaca mais à esquerda, tubulão e caixão.

FIGURA 7 – PRINCIPAIS TIPOS DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 13)

E
IMPORTANT

A NBR6122, em sua atualização de 2010, redefiniu os conceitos de viga de


fundação e radier. A viga de fundação tinha como diferença da sapata corrida o tipo de
carga que recebia. A partir de 2010, as fundações que recebem cargas de pilares num
mesmo alinhamento ou cargas linearmente distribuídas, podem ser chamadas de sapatas
associadas. O termo radier, pela norma antiga, era utilizado para a fundação que suportava
as cargas de todos os pilares de uma estrutura, enquanto a sapata corrida era denominada
para as situações em que a fundação suportasse a carga de parte dos pilares. A norma
6122/2010 aceita o termo radier para ambos os casos. Velloso e Lopes (2010, p. 12) sugerem
“adotar as expressões utilizadas na Franca (país onde se originou a expressão radier): radier
parcial, para o caso de receber parte dos pilares e radier geral, para o caso de receber
todos os pilares da obra”. Para o estudo das fundações e dimensionamentos, utilizaremos
as terminologias da norma 6122 de 1996, sem comprometimento ao conteúdo.

10
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS

DICAS

Caputo (2017) lista outros tipos de fundações profundas como as fundações


flutuante, sobre aterro compactado, em blocos arrumados, em concreto submerso, por
congelamento do terreno e melhoramento de solo. Para aprofundamento no assunto,
sugere-se a leitura do livro Mecânica dos solos e suas aplicações, volume 2 (CAPUTO, 2017).

3 SEGURANÇA DAS FUNDAÇÕES


As fundações precisam ser dimensionadas corretamente e com muita
atenção, considerando todos os critérios que a NBR 6122 recomenda. Os
elementos de projeto não se restringem apenas ao cálculo da fundação em si, mas
em diversas etapas que avaliam desde a área de interesse para a obra, até os dados
da estrutura que será construída, bem como de construções vizinhas. Velloso e
Lopes (2010) separam o processo para desenvolver um projeto de fundações em
quatro etapas:

1. Topografia da área: a região que receberá a construção precisa ser estudada


por meio de levantamento planialtimétrico (dimensões do terreno e diferenças
e níveis). Se a vizinhança apresentar elementos que possam interferir no
terreno em estudo, como taludes e encostas, esses elementos também devem
ser avaliados.
2. Dados geológico-geotécnicos: o solo que está abaixo do terreno (subsolo) deve
ser investigado. Podem ser analisadas pesquisas feitas anteriormente sobre a
região.
3. Dados sobre construções vizinhas: as estruturas que estão próximas ao
terreno devem ser avaliadas para entender quais impactos podem ocorrer com
a movimentação de terra no lote de interesse. Realiza-se levantamento das
construções como: número de pavimentos, carga média por pavimento e tipos
de fundações.
4. Dados da estrutura a ser construída: é preciso conhecer tipo e uso da edificação,
bem como seu sistema construtivo, para saber a quantidade de carga que o solo
deverá suportar.

Observando as etapas de um projeto de fundações, percebe-se que se inicia


pela camada superior do solo, para conhecer seu interior e, por fim, conhecer os
dados da obra que será construída no local. Um estudo desse porte envolve vários
profissionais realizando um trabalho em conjunto. De acordo com as informações
de cada fase do projeto, o engenheiro poderá escolher a fundação que melhor
atenda às condições, lembrando também do fator econômico. Velloso e Lopes
(2010) trazem alguns exemplos de fundações que exigem mais atenção, como as
fundações de pontes, que precisam ainda avaliar o regime dos rios e erosões que
possam ocorrer.
11
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

No caso de construções em centros urbanos, em áreas densamente


edificadas, a avaliação da vizinhança é fundamental para definir o tipo de fundação
e método construtivo, pois é preciso minimizar o impacto nas construções já
existentes.

Você já imaginou bater uma estaca no centro de uma cidade, com um


hospital como construção vizinha? Nesse caso, podem existir muitas restrições,
como de acesso até o local, pois muitas vezes os equipamentos são grandes e pode
ser necessária uma mobilização do fluxo de carros para chegar até o terreno. Além
disso, um hospital exige diminuição de barulho no seu entorno, você consegue
imaginar se a execução de uma estaca cravada no solo emite muito ou pouco
barulho? Além da segurança e economia, essa questão pode limitar as opções
para escolher a fundação dessa obra.

Em se tratando de segurança, como definir que uma fundação foi


dimensionada corretamente e é segura? Hachich et al. (1998) afirmam que uma
fundação é classificada como segura quando consegue suportar as cargas que
nela são transmitidas ao longo de toda a sua vida útil. Essas cargas são ações que
podem afetar a estrutura classificadas de acordo com a NBR 6122, como:

• Ações permanentes: valores constantes ou que alteram pouco ao longo de


praticamente toda a vida útil da obra.
• Ações variáveis: valores tem variações que não põem ser desprezadas, como o
vento, correnteza etc.
• Ações excepcionais: duram pouco e acontecem poucas vezes, como explosões,
incêndios, enchentes.

A NBR 6122 aponta que o projeto de fundações deve apresentar segurança


em relação ao estado-limite último e ao estado-limite de serviço par a combinação
dessas ações. Hachich et al. (1998, p. 197) definem o conceito de estado-limite
como “qualquer condição que impeça a estrutura de desempenhar essas
funções”. Se a fundação alcançar essa condição, ocorrerá a ruína da estrutura.
O estado-limite último (ELU) indica o esgotamento da capacidade da fundação,
podendo ocasionar colapsos parciais e/ou totais. Já o estado-limite de serviço
(ELS) (também conhecido como estado-limite de utilização) está relacionado às
situações em que acontecem deformações.

Com relação aos critérios para o projeto de fundações, o ELS está ligado
a deformação aceitável quando a estrutura estiver submetida às cargas. ELS
corresponde a segurança ao colapso do solo e dos elementos estruturais da
fundação (VELLOSO; LOPES, 2010).

A Figura 8 apresenta alguns problemas que podem ocorrer nas fundações


devido a projetos deficientes: (a) deformações excessivas, (b) colapso do solo, (c)
tombamento, (d) deslizamento, (e) colapso estrutural.

12
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS

FIGURA 8 – PROBLEMAS NAS FUNDAÇÕES

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 16)

Muitas vezes, na engenharia, utilizamos dados aproximados para estimar


o cálculo numa situação ideal. No caso das fundações, precisamos pensar num
dimensionamento que minimize as incertezas que podem ocorrer na execução.
Para isso, utilizam-se coeficientes de segurança (ou fatores de segurança) que
consideram as resistências do solo e da estrutura menores e aumentam as cargas
solicitantes para dar uma “folga” ao projeto. Assim, projeta-se pensando que o
solo é mais fraco do que realmente é, e as cargas que atuarão na fundação são
maiores, prevendo que as cargas mudem ou garantindo que a carga real (que é
menor) será suportada.

Velloso e Lopes (2010) abordam a segurança de fundações, indicando os


métodos e coeficientes que podem ser utilizados no projeto. A seguir, resumiremos
as informações que servirão de consulta para o dimensionamento das fundações
rasas e profundas.

Um projeto de fundações, em teoria, deveria levar em consideração todos


os aspectos do solo, das cargas e das estruturas da própria fundação. Contudo,
existem muitas incertezas que não podem ser levantadas, como características

13
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

do solo não identificadas na investigação geotécnica, simplificações nos métodos


para dimensionamento ou execução da fundação. Por isso, é preciso considerar
uma margem de segurança.

São dois tipos de coeficientes de segurança, global e parcial. O coeficiente


de segurança global considera as incertezas nas investigações geotécnicas, nos
parâmetros dos materiais, nos métodos de cálculos nas ações e execuções e é
utilizado no Método de Valores Admissíveis. Para o coeficiente de segurança
parcial, as incertezas são analisadas com coeficientes de ponderação e utiliza-se o
Método de Valores de Projeto.

3.1 USO DE FATOR DE SEGURANÇA GLOBAL OU MÉTODO


DE VALORES ADMISSÍVEIS
No caso de utilizar o coeficiente global, e, por consequência, o Método
de Valores Admissíveis, as tensões que vêm das ações características σk devem
ser menores que as tensões admissíveis dos materiais do solo, σadm. Essa tensão
admissível é a relação entre as tensões de ruptura (ou escoamento, também
conhecidas como últimas), σrup, e o coeficiente (ou fator) de segurança global, FS.
Indicando pelas fórmulas, temos:

NOTA

A tensão admissível de um solo significa a capacidade de carga desse solo


dividido pelo fator de segurança. Espera-se que a tensão que o solo sofrerá seja menor do
que a admissível, para não ocorrer deformação. Estima-se que o solo resistirá a um valor
menor do que ele suporta na realidade.

A Tabela 1 apresenta os valores dos coeficientes de segurança globais


mínimos de acordo com NBR 6122.

14
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS

TABELA 1 – FATORES DE SEGURANÇA GLOBAIS MÍNIMOS

Condição Fatores de Segurança


Capacidade de carga de fundações superficiais 3,0
Capacidade de carga de estacas ou tubulões, sem prova de carga 2,0
Capacidade de carga de estacas ou tubulões, com prova de carga 1,6
FONTE: NBR 6122 (2010, p. 6)

3.2 USO DE FATOR DE SEGURANÇA PARCIAL OU MÉTODO


DE VALORES ADMISSÍVEIS
Para esse caso, pretende-se avaliar as incertezas de forma separada, uma
vez que são variáveis independentes. As tensões que vem das ações características
σk são multiplicadas pelos coeficientes de segurança parciais (também conhecidos
como fatores de majoração de cargas) γf, resultando na ação de projeto, que
devem ser menores que as resistências de projeto, σd, que são tensões de rupturas
dos materiais já reduzidas pelos coeficientes de segurança (fatores parciais de
minoração das resistências, γm). Acompanhando pelas equações:

Precisamos saber quanto a estrutura da fundação suporta. Para isso,


calcula-se o valor da tensão de ruptura σrup (também conhecida como capacidade
de carga) por meio de três métodos:

• por provas de carga;


• métodos semiempíricos ou empíricos;
• métodos teóricos.

TUROS
ESTUDOS FU

Esses métodos serão explicados na Unidade 2, quando falarmos sobre


dimensionamento da fundação.

15
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Vimos que um projeto de fundações requer o conhecimento tanto do solo


no local da obra, quanto das edificações vizinhas. Além disso, o projeto precisa
ser dimensionado de forma segura e economicamente viável. Com todas essas
informações, na prática, ainda precisamos escolher entre os diversos tipos de
fundação apresentados, seja fundação rasa ou profunda.

A escolha do tipo de fundação pode fazer um paralelo com as etapas do


projeto de fundação mencionadas anteriormente. Rebello (2008) descreve uma
série de atividades que devem ser avaliadas para a escolha da fundação. Alguns
termos ainda serão desconhecidos para você, mas é interessante que você se
acostume com eles e perceba sua importância ao estudá-los mais adiante. A seguir,
veremos algumas dicas para auxiliar na escolha da fundação mais adequada para
o projeto (REBELLO, 2008):

a) Ter alguns conhecimentos prévios: saber as cargas que serão transmitidas ao


solo pela obra que deverá ser construída no local e ter o relatório de sondagem
do solo. A sondagem é uma investigação geotécnica que será abordada no
Tópico 3 dessa Unidade.
b) Definir se a fundação será rasa ou profunda: pode ser usado o critério
da sondagem SPT que investiga a resistência a penetração do solo e pela
profundidade. Quanto mais difícil de “furar” um solo, mais resistente ele é
e, por isso, mais N golpes serão necessários para a penetração. Sugere-se que
uma fundação direta é econômica para um valor de N maior ou igual a 8 e
profundidade até 2 metros. Senão, utiliza-se a fundação profunda.
c) A fundação rasa alcança profundidades menores e tem custo menor do que a
profunda. A análise econômica deve ser levada em consideração na execução
da fundação, mantendo a qualidade técnica.
d) Entre as sapatas isolada e corrida, no caso de escolher utilizar uma fundação
rasa, é preciso ter claro o uso de cada uma. A sapata isolada serve para cargas
concentradas (pilares) e a sapata corrida para cargas distribuídas linearmente
(alvenarias).
e) Se a fundação profunda foi a escolhida, primeiro deve-se tentar utilizar a opção
mais barata entre elas (broca), estudando se ocorre o atendimento aos critérios
de segurança. A broca deve ir até a profundidade do solo que apresente valor
N maior que 12 no SPT e deve ter comprimento menor que 6 metros. Além
disso, não deve ser executada abaixo do lençol freático. Nesse caso, a carga por
pilar deve ser menor do que 40 toneladas-força.
f) Caso haja impossibilidade de utilizar a broca ou se a carga no pilar for maior do
que o limite (40 toneladas-força) e até 160 toneladas-força, sugere-se o estudo
da estaca Strauss ou estaca de forma mecânica com trado espiral. Ambos os
tipos não podem ser executados abaixo do nível freático.
g) A estaca seguinte que deve ser estudada, caso não tenha sido possível usar
as anteriores, é a estaca pré-moldada de concreto. Que é mais cara do que as
opções de estaca Strauss ou estaca com trado espiral, mas permite a execução
abaixo do nível de água.

16
TÓPICO 1 — CONSIDERAÇÕES INICIAIS

h) As próximas opções que podem ser avaliadas são as estacas hélice contínua,
estacas Franki e o tubulão. A estaca Franki suporta cargas de pilar acima de 500
toneladas-força e o tubulão aguenta pequenas cargas, mas pode ser utilizado
em locais que não permitam o acesso a grandes equipamentos para a execução
de outras estacas. Todos esses tipos de fundação podem ser feitos abaixo do
nível de água.

De forma genérica, Caputo (2017) indica alguns aspectos que devem ser
avaliados para a escolha da fundação:

• Carga a que se deve suportar.


• Tempo disponível para execução do serviço.
• Características do solo que o elemento de fundação atravessará. Bem como as
dos estratos onde ela se apoiará.
• Disponibilidade de equipamento e facilidade de transportá-lo até a obra.
• Disponibilidade de material para o elemento de fundação.
• Condições das estruturas vizinhas.

O Quadro 2 indica algumas sugestões para a escolha da fundação


conforme as condições do subsolo.

QUADRO 2 – SUGESTÕES PARA ESCOLHA DA FUNDAÇÃO

Possibilidades de fundação
Condições do subsolo
Estruturas leves, flexíveis Estruturas pesadas, rígidas
Camada resistente à 1) Sapatas ou blocos
1) Sapatas ou blocos
pequena profundidade 2) “Radier” raso
1) “Radier” profundo
1) Sapatas em solo não
com eventual estrutura de
coesivo previamente
Camada compressível enrijecimento
compactado
de grande espessura 2) Estacas de grande
2) “Radier” raso
comprimento
3) Estacas flutuantes
3) Estacas flutuantes
1) Estacas de ponta
2) Sapatas ou blocos
Camadas fracas
em solo não coesivo 1) Estacas de ponta ou tubulões
sobrejacentes a uma
previamente compactado 2) “Radier” profundo
camada resistente
ou em solo pré-carregado
3) “Radier” raso
1) “Radier” profundo
Camada resistente (fundação flutuante)
1) Sapatas ou blocos
sobrejacente à camada 2) Estacas de grande
2)“Radier” raso
fraca comprimento ou tubulões,
atravessando a camada fraca
1) “Radier” profundo
Camadas fracas e 1) Sapatas ou blocos
2) Estacas ou tubulões apoiados
resistentes alternadas 2) “Radier” raso
numa camada resistente
FONTE: Caputo (2017, p. 208)

17
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

É interessante perceber como as informações de Rebello (2008) e Caputo


(2017) se complementam, pois, no início, a inexperiência pode nos forçar a
escolher a fundação com maior custo ou exagerar nos coeficientes de segurança.
Ao compreendermos os critérios de escolha, poderemos optar pela fundação que
melhor atenda o projeto de interesse.

Ficou evidente a quantidade de critérios para a escolha de uma fundação


que atenda aos critérios da obra e, principalmente, de segurança. Apesar de todo
esse cuidado, não é raro que ocorra alguma deformação na estrutura que está
apoiada na fundação. Entre vários exemplos, Caputo (2017, p. 550) apresenta o
caso da ponte sobre o Rio da Prata na rodovia Belo-Horizonte-Brasília, ocorrido
em 1962.

Tratava-se de uma ponte em concreto armado, com 190 metros


de extensão e fundações em estacas pré-moldadas de 40x40cm,
o seu comprimento entre 7 e 14 metros. O terreno é constituído
superficialmente por camadas de areia fofa, capeando (ou seja,
encapando, ocultando) uma alteração de rocha (calcário totalmente
decomposto) de alta resistência à penetração. As estacas foram
cravadas com auxílio de jato d’água até atingirem a camada resistente,
embora possivelmente não alcançando profundidade suficiente.
Por ocasião das enchentes de dezembro de 1962 a ponte ruiu, tendo
sido a causa, provavelmente, o solapamento das pontas das estacas, o
que exemplifica, dentre muitos casos estudados na literatura técnica,
que as fundações profundas também estão sujeitas ao problema de
erosão (CAPUTO, 2017, p. 550).

NOTA

Solapamento significa queda das encostas causadas pelo aumento da


profundidade das calhas dos rios e erosões das margens dos cursos d’água, pode ser
entendido como a destruição da base de alguma estrutura.

DICAS

Deseja ler um pouco mais sobre a importância de um bom projeto para evitar
problema nas fundações? Acesse o site e leia o texto Fundação mal projetada é “raiz” de
problemas: https://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/fundacao-mal-projetada-e-raiz-de-
problemas_7942_10_0.

18
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• É fundamental considerar a importância desse tipo de obra no momento de


elaborar um bom projeto de fundações.

• Existem alguns tipos de fundações, separadas entre fundações rasas e


profundas

• Devem-se verificar alguns critérios de segurança para o dimensionamento de


fundações.

• A escolha de uma fundação está relacionada a diversas variáveis e é preciso


analisar essas condições com bastante cuidado para elaborar um bom projeto
de fundações.

19
AUTOATIVIDADE

1 Quais são os tipos de fundações mais comuns para uma obra? Organize em
formato de tabela, indicando as características principais de cada tipo e sua
utilidade.

2 Como uma fundação é definida como uma estrutura segura?

3 Quais são as etapas de um projeto de fundações?

4 A NBR 6122 define as cargas que podem afetar a estrutura de uma fundação.
Descreva cada uma delas.

20
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

REVISÃO DE CONCEITOS DE
MECÂNICA DOS SOLOS

1 INTRODUÇÃO

Um dos conhecimentos que o engenheiro civil deve ter na realização do


projeto de uma estrutura é sobre o local em que a estrutura vai descarregar os
esforços atuantes sobre ela. Esses esforços serão transferidos por meio da fundação
até o solo. De acordo com o tipo de solo reconhecido é que se definirá o tipo de
fundação da estrutura, o dimensionamento da fundação e a profundidade dela.

Para saber sobre o solo em que se está trabalhando é necessário fazer


uma investigação geotécnica, tema que será abordado no próximo tópico. Porém,
antes disso, abordaremos alguns conceitos de mecânica dos solos que devem ser
relembrados para melhor entendimento das próximas seções.

De acordo com Pinto (2006), o conhecimento deste material da natureza


(o solo), heterogêneo e de complicado comportamento se deve aos estudos de
Karl Terzagui, engenheiro civil, conhecido internacionalmente como fundador
da mecânica dos solos.

O solo é dito como um material de difícil compreensão de seu


comportamento devido a sua heterogeneidade, ou seja, por ser constituído por
um conjunto de partículas com água ou outro líquido e mais o ar em espaços
intermediários, como ilustrado na Figura 9.

FIGURA 9 - CONSTITUIÇÃO COMUM DOS SOLOS

FONTE: Massocco (2019, p. 40)

21
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Ainda, segundo Pinto (2006), a origem dos solos se deu devido à


decomposição das rochas que constituíam inicialmente a crosta terrestre. Essa
decomposição se dá por meio de agentes físicos e químicos. Essas decomposições
fazem com que diferentes partículas se misturem, com diferentes tamanhos e
diferentes composições químicas. O solo acaba sendo a atuação simultânea de
processos físicos e químicos sobre a rocha de origem.

2 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS


Os solos podem ser divididos em três classes, de acordo com Maciel Filho
e Nummer (2011):

• Solos residuais: aqueles que permanecem no local da rocha de origem.


observando-se uma gradual transição da superfície até a rocha. Para que
ocorram os solos residuais, é necessário que a velocidade de decomposição de
rocha seja maior que a velocidade de remoção pelos agentes externos.
• Solos sedimentares: aqueles que sofrem a ação de agentes transportadores, e
podem ser classificados de acordo com o agente transportador. Os aluvionares
são aqueles transportados pela água, os eólicos transportados pelo vento, os
coluvionares transportados pela gravidade e os glaciares pelas geleiras.
• Solos de formação orgânica: aqueles de origem essencialmente orgânica, pode
ser de natureza vegetal (plantas, raízes) ou animal (ex.: conchas).

Diante disso, cada solo apresenta uma composição química e mineralógica.


Os minerais que se encontram nas rochas são os derivados da rocha de origem
(minerais primários) e mais outros minerais que foram formados durante a
decomposição (minerais secundários). Pinto (2006) afirma que é muito comum,
entretanto que as partículas sejam constituídas de um único mineral e que o
quartzo é um mineral presente na maioria das rochas. O quartzo é resistente à
degradação e forma grãos de siltes e areias. Já os argilominerais são originados
pelo feldspato. O feldspato é o mineral mais atacado pela natureza, pois forma
frações mais finas de solo. O comportamento deste tipo de solo (argilominerais) é
extremamente diferenciado dos siltes e areia, essa diferença é devido ao tamanho
reduzido das partículas e principalmente pela constituição mineralógica.

DICAS

O detalhamento dessas estruturas mineralógicas não será abordado neste


livro didático, mas podem ser encontrados de forma mais detalhada em livros como o de
Homero Pinto Caputo – Mecânica dos Solos e suas Aplicações – Fundamentos – Volume 1.

22
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Uma das características que faz os solos serem diferenciados é o tamanho


da partícula que os compõe. Para termos uma ideia: um grão de areia tem
dimensões entre 1 a 2 mm, porém, existem partículas de argila com espessura na
ordem de 10 Angstron que é 0,000001 mm (PINTO, 2006). A Figura 10 mostra a
proporção do tamanho entre os grãos de areia e argila. Ou seja, a diversidade do
tamanho dos grãos que se pode encontrar nos solos é enorme e consequentemente
o comportamento de um solo com grãos maiores é diferente daquele com grãos
menores, e nós como engenheiros civis devemos saber diferenciá-los. Além disso,
nos solos convivem partículas de tamanhos diversos e visualmente ou pelo
simples manuseio é difícil de identificar o tamanho das partículas.

FIGURA 10 - RELAÇÃO ENTRE GRÃO DE AREIA E GRÃO DE ARGILA

FONTE: Massocco (2019, p. 11)

A denominação específica do solo pelo tamanho dos grãos é determinada


pelos limites das frações de solo. Os limites variam conforme os sistemas de
classificação adotados pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas,
conforme a Tabela 2.

TABELA 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS PARTÍCULAS SEGUNDO A NBR6502


Solo Dimensão (mm)
Matacão Φ <250
Pedra de mão 60<Φ<250
Pedregulho grosso 20<Φ<60
Pedregulho médio 6<Φ<20
Pedregulho fino 2<Φ<6
Areia grossa 0,6<Φ<2
Areia média 0,2<Φ<0,6
Areia fina 0,06<Φ<0,2
Silte 0,002<Φ<0,06
Argila Φ<0,002
FONTE: Adaptado de NBR 6502 (1995)

23
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Podemos dividir os tipos de solo em:

• Solo arenoso: podem ser compostos de grãos grossos, médios e finos (visíveis
a olho nu). Os seus grãos são facilmente separáveis uns dos outros quando
estão secos e apresentam alta permeabilidade, que é uma grande capacidade
de circulação de água por meio dele. 
• Solo argiloso: apresentam grãos microscópicos, de cores vivas e de grande
impermeabilidade. Ao contrário da areia, o solo argiloso possui grande
capacidade de aglutinação.
• Solo siltoso: o silte está no intervalo entre a areia e a argila, apresenta grão
de dimensões muito pequenas, mas não apresenta coesão. O terreno com solo
siltoso tem pouca estabilidade a longo prazo, apresentando facilmente erosão
e desagregação natural. A Figura 11 apresenta alguns exemplos de solo.

FIGURA 11 - TIPOS DE SOLO (A) ARENOSO; (B) ARGILOSO; (C) SILTOSO

(a) (b) (c)


FONTE: <portalsaofrancisco.com.br>. Acesso em: 29 set. 2019.

Como dito anteriormente, o solo é composto por água, ar e sólidos. Então,


ele possui duas fases físicas, uma fluida (água/gases) e uma sólida (CAPUTO,
1988). As partículas que formam a parte sólida possuem diferentes formas:

• Poligonais angulares: apresentam um contorno irregular (ex.: areia, silte e


pedregulhos).
• Poligonais arredondadas: têm a superfície arredondada (ex.: seixo rolado).
• Lamelares: têm duas dimensões que predominam (ex.: solo argiloso). Tem
como propriedade principal a compressibilidade e a plasticidade.
• Fibrilares: uma das dimensões é mais predominante que as outras (ex.: solos
orgânicos).

A Figura 12 mostra alguns formatos de partículas sólidas presentes nos


solos.

24
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

FIGURA 12 - ALGUNS FORMATOS DE PARTÍCULAS SÓLIDAS

FONTE: Massocco (2019, p. 39)

Análise granulométrica

Como mencionado, o solo é composto por partículas diversas (de


diferentes tamanhos e formas). Como podemos identificar o tipo de partículas
que definem o comportamento de um determinado solo?

Um exemplo básico de difícil identificação, utilizado na literatura de


Caputo (2017) e Pinto (2006), é quando grãos de areia estão envoltos por uma
grande quantidade de partículas argilosas finíssimas. Os autores dizem, que,
neste caso, o solo apresenta “[...] o mesmo aspecto de uma aglomeração formada
exclusivamente de partículas argilosas [...]. Quando na verdade são grãos de areia
envoltos pelas partículas de argila” (PINTO, 2006, p. 21). Neste caso, quando secas,
as duas formações, com areia ou com argila, são difíceis de se identificar. Ou seja,
não saberemos que tipo de solo estamos lidando. Porém, quando esses materiais
são umedecidos eles apresentarão diferente textura e poderemos definir com mais
precisão o tipo de solo. Com a umidade, as partículas argilosas se transformam em
uma pasta fina enquanto a partícula arenosa revestida é facilmente reconhecida
pelo tato. Conclui-se, então, que, na tentativa de identificar o solo de forma tátil-
visual dos grãos do solo, é fundamental que eles se encontrem bastante úmidos.

A análise granulométrica é uma forma de identificação do solo a partir


das partículas constituintes. Essa análise consiste em duas fases, a primeira é o
peneiramento e a segunda é a sedimentação, procedimentos descritos na NBR
7181/84 que trata da análise granulométrica de um solo.

25
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Peneiramento: a primeira etapa, o peneiramento tem como limitação a


abertura da malha de peneiras, conforme apresentado na Figura 13, que podem
não ser tão pequenas quanto ao diâmetro de interesse. O material é peneirado
conforme as malhas definidas por norma em uma sequência. O material que passa
por cada malha de peneira é pesado e este é chamado de peso seco da amostra e é
também conhecido como a “porcentagem que passa”. A porcentagem de material
que passa na sequência de cada malha de peneira é representada graficamente
em função da abertura da malha de cada peneira. A abertura da malha, ou seja,
o espaço permitido para os grãos passarem pela peneira é considerado como
o diâmetro das partículas, porém, vale lembrar que este diâmetro é o diâmetro
equivalente, não real, pois as partículas não são esféricas, ou seja, perfeitamente
arredondadas. A menor peneira utilizada é a de número 200 (que se refere a uma
abertura de 0,075 mm). Essa abertura ainda é muito maior que as dimensões mais
finas do solo. Quando o interesse é conhecer as distribuições granulométricas
das partículas mais finas do solo, então se emprega a segunda etapa da análise
granulométrica, a sedimentação (PINTO, 2006).

A curva granulométrica é a representação gráfica da distribuição


granulométrica do solo.

• Abscissas: diâmetro dos grãos.


• Ordenadas: porcentagens, em peso, dos grãos de diâmetros inferiores aos da
abscissa correspondente.

FIGURA 13 – PENEIRAS

FONTE: Mello (2019, p. 33)

A porcentagem acumulada é a soma dos percentuais retidos nas peneiras


superiores, com o percentual retido na peneira em estudo.

Sedimentação: então, quando se tem interesse de se conhecer distribuição


granulométrica das partículas mais finas do solo, se utiliza a técnica da
sedimentação (CAPUTO, 1988). Essa técnica se baseia na Lei de Stokes. O princípio
é o seguinte: a velocidade de queda de partículas esféricas em um fluido atinge
um valor limite que depende do peso específico do material da esfera , do peso
específico do fluido , da viscosidade do fluido (μ) e do diâmetro da esfera (D),
conforme a expressão a seguir.
26
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Moura (2015) explica que se deve colocar aproximadamente 60 g de


solo em suspensão em aproximadamente 1 litro de água. Em consequência, as
partículas do solo cairão com uma velocidade proporcional ao quadrado do seu
diâmetro. No início da mistura (água/solo), a densidade da suspensão é uniforme,
conforme o tempo passa a densidade da suspensão deixa de ser uniforme, pois
as partículas maiores que originalmente se encontravam na superfície caem com
uma maior velocidade que as partículas menores. Quando as partículas maiores
caem, a densidade na parte superior do frasco diminui. O diâmetro da maior
partícula presente em cada seção pode ser obtido pela Lei de Stokes.

NOTA

Esse ensaio envolve vários detalhes, que são melhor compreendidos em aulas
de laboratório.

Como visto na Tabela 2, existem diversas faixas de tamanho de grãos


e para cada faixa granulométrica uma denominação. Com a realização das
etapas da análise granulométrica, então, é possível determinar a porcentagem
correspondente a cada uma das faixas de tamanho de grão especificadas pela
norma através da curva granulométrica, ver Figura 14.

A curva granulométrica é traçada por pontos em um diagrama


semilogarítmico, no qual, sobre os eixos das abscissas, são marcados os logaritmos
das dimensões das partículas e sobre o eixo das ordenadas as porcentagens, em
peso, de material que tem dimensão média menor que a dimensão considerada.

27
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

FIGURA 14 – E EXEMPLO DE CURVA DE DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA DO SOLO

FONTE: Pinto (2006, p. 21)


28
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

A Figura 15 apresenta exemplos de curvas granulométricas de alguns solos


brasileiros. Segundo Pinto (2006), é de se notar que as mesmas designações usadas
para expressar as frações granulométricas de um solo são as empregadas para
definir o próprio solo. Um exemplo é: um solo é designado como argila quando
o seu comportamento é de um solo argiloso, mesmo que em sua composição
contenham partículas de diâmetro que correspondem às frações de silte e areia.

FIGURA 15 – CURVA GRANULOMÉTRICA DE ALGUNS SOLOS BRASILEIROS

FONTE: Pinto (2006, p. 24)


29
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Conforme a distribuição dos grãos na amostra do solo se pode determinar


o Coeficiente de Uniformidade (CUN) e o Coeficiente de Curvatura (CC)

Coeficiente de Uniformidade (CUN)

• Cun (U) < 5 → solo uniforme (mal graduado)


• 5 < Cun (U) < 15 → solo medianamente uniforme (medianamente graduado)
• Cun (U) > 15 → solo desuniforme (bem graduado)

FIGURA 16 – EXEMPLO DE DISTRIBUIÇÃO DOS GRÃOS

FONTE: Mello (2019, p. 34)

Coeficiente de Curvatura (CC)

Fornece a ideia do formato da curva permitindo detectar descontinuidades


no conjunto.

30
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Índices físicos

Vamos relembrar agora os índices físicos dos solos. Como sabemos,


apenas uma parte do volume do solo é ocupado por partículas sólidas, o resto do
volume é ocupado por líquido e gás, os chamados vazios do solo. Esses vazios
são os volumes ocupados pela água (volume líquido) e o ar (volume gasoso). O
comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma das
três fases (sólido, água e ar) e diversas relações são utilizadas para expressar as
proporções entre elas (PINTO, 2006).

Na Figura 17, essas três fases são representadas, na primeira imagem


as três fases são representadas separadas por volume e na terceira imagem são
apresentadas em função de volume de sólidos (a relação entre cada fase e a
fase sólida). As relações entre os índices físicos, indicadas a seguir, podem ser
encontradas em qualquer livro de Mecânica dos Solos, como Caputo (1988) e
Pinto (2006).

FIGURA 17 - AS FASES DO SOLO COM RELAÇÃO À VOLUME, MASSA E PESO. (A) FASES COM
RELAÇÃO A VOLUMES; (B) FASES COM RELAÇÃO AO PESO E MASSA

(a) (b)
FONTE: Massocco (2019, p. 42)

O volume total corresponde ao somatório do volume sólido, volume de


água e volume de ar, conforme a equação a seguir:

31
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

As partículas de solo também são preenchidas de vazios, estes, por sua


vez, são o somatório do volume de água e volume de ar dos constituintes do solo:

O volume total também pode ser escrito como a soma do volume de


sólidos com o volume de vazios:

Em princípio, as quantidades de água e ar podem variar. A evaporação


pode diminuir a quantidade de água, substituindo-a por ar, e a
compressão do solo pode provocar a saída de água e ar, reduzindo o
volume de vazios. O solo, no que se refere às partículas que constituem,
permanece o mesmo, mas seu estado altera. As diversas propriedades
do solo dependem do estado em que se encontra. Quando diminui o
volume de vazios, por exemplo, a resistência aumenta (PINTO, 2006,
p. 36).

Os índices (relações) que se correlacionam com os pesos e os volumes das
três fases são os indicados a seguir e são exemplificados na Figura 14.

Umidade: relação entre o peso da água e o peso do sólido

Índice de vazios: relação entre o volume de vazios e o volume das


partículas sólidas

Porosidade: relação entre o volume de vazios e o volume total. Indica


a mesma coisa que o volume de vazios. O resultado é em percentual ou entre
valores de 0 a 1 (caso não haja multiplicação por 100).

32
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Grau de saturação: relação entre o volume de água e o volume de vazios.


Varia de zero (solo seco) a 100% (solo saturado).

S = 0% - solo completamente seco


0%<S<100% - solo não saturado
S = 100% - solo completamente saturado

Peso específico dos sólidos: relação entre o peso das partículas sólidas e
o seu volume.

Peso específico da água: adota-se sempre 10 kN/m³, embora possa variar


um pouco com a temperatura.

Peso específico natural: relação entre o peso total do solo e o seu volume
total.

Peso específico aparente seco: relação entre o peso dos sólidos e o volume
total. Corresponde ao peso específico que o solo teria se estivesse seco.

Peso específico aparente saturado: peso específico do solo se ele ficasse


saturado e se isso ocorresse sem variação de volume.

33
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Peso específico submerso: é o peso específico do solo quando submerso.


Serve para o cálculo de tensões efetivas. Equivale ao peso específico natural
menos o peso específico da água.

Desses índices apresentados, três são calculados em laboratório: umidade,


peso específico dos grãos e o peso específico natural. O peso específico da água
já é determinado por norma. O volume adotado para os sólidos é igual a 1. Com
isso, as outras relações são facilmente obtidas conforme as expressões a seguir.
Para melhor entendimento das expressões se sugere voltar e entender a Figura
13. Podemos relacionar com o índice de vazios, peso específico dos sólidos, assim,
conforme Figura 18, teremos relações com o índice de vazios.

FIGURA 18 – CORRELAÇÕES ENTRE ÍNDICES FÍSICOS

FONTE: Adaptado de Higashi (2012)

34
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

• Limite de Atterberg: apenas a distribuição granulométrica não é capaz de


caracterizar o comportamento dos solos da forma necessária para o estudo
das fundações. O comportamento de partículas de minerais de argila difere
devido à estrutura mineralógica. O comportamento dos solos finos dependerá
de diversos fatores, tais como: sua composição química e mineralógica; sua
umidade; sua estrutura e seu grau de saturação. Quanto menor a partícula
de um solo, maior será sua superfície específica e, portanto, maior será sua
plasticidade.

A forma prática de identificar a influência das partículas argilosas é feita


pela determinação dos ditos Limites de Atterberg (MELLO, 2019). A Figura 19
e a Figura 20 nos ajudam a compreender melhor o que os limites de Atterberg
se referem.

FIGURA 19 - RELAÇÃO DO SOLO COM A ÁGUA E OS LIMITES DE ATTERBERG

FONTE: Mello (2019, p. 55)

Como pode ser encontrado em diversos materiais sobre solos (CAPUTO,


1988; PINTO, 2006; ALMEIDA, 2005; MOURA, 2015), o estado líquido é
caracterizado pela ausência de resistência ao cisalhamento e o solo assume
a aparência de um líquido. Quando o solo começa a perder umidade, passa
a apresentar o comportamento plástico, ou seja, deforma-se com variação
volumétrica (sem fissurar-se ao ser trabalhado). Ao perder mais água, o material
torna-se quebradiço (semissólido). No estado sólido não ocorrem mais variações
volumétricas pela secagem do solo. A Figura 20 indica os limites de Atterberg,
conforme a umidade aumenta indo para o lado direito.

35
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

• Limite de Liquidez (LL): teor de umidade no qual o solo começa a se comportar


como um líquido, ou seja, flui.
• Limite de Plasticidade (LP): teor de umidade no qual o solo começa a comportar
como um material plástico.
• Limite de Contração (LC ou LR): teor de umidade a partir do qual reduções da
umidade não acarretam redução de volume da amostra.

FIGURA 20 - LIMITES DE ATTERBERG EM FUNÇÃO DO TEOR DE UMIDADE E ESTADOS DE


CONSISTÊNCIA

FONTE: Almeida (2005, p. 95)

Na sequência, conheceremos como se realizam os ensaios para determinar


os três limites.

• Ensaio de Limite de Liquidez: o ensaio consiste em colocar o solo misturado


com água em uma concha, fazendo nele uma ranhura. Posteriormente,
a concha é golpeada contra uma superfície dura até fechar a ranhura em
um determinado comprimento. O solo tem a umidade correspondente ao
limite quando as bordas inferiores da ranhura se tocam num determinado
comprimento, após certo número de golpes. Como apresentado na Figura
21, o aparelho utilizado para a realização desta técnica é conhecido como
Aparelho de Casagrande. Nele são colocados 70 g de solo, que passa na
peneira com abertura igual a 0,42 mm, homogeneizada com água até formar
uma pasta, na calota do aparelho. O limite de liquidez é então obtido como
sendo a umidade correspondente a 25 golpes.

E
IMPORTANT

Todo o procedimento de estabelecimento do limite de liquidez pode ser


melhor compreendido com a leitura da Norma NBR 6459.

36
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

FIGURA 21 – ENSAIO DO LL (A) APARELHO DE CASAGRANDE, (B) CONCHA DO APARELHO DE


CASAGRANDE – ETAPAS DO ENSAIO

Antes do ensaio

Depois do ensaio

(a) (b)

FONTE: Caputo (2017, p. 54)

Com o ensaio se obtém pontos experimentais em um gráfico de “Teor de


umidade X log (n° de golpes)”. Ajusta-se uma reta passando por esses pontos,
como na Figura 22. O limite de liquidez corresponde à umidade para a qual foram
necessários 25 golpes para fechar a ranhura.

FIGURA 22 - GRÁFICO DE TEOR DE UMIDADE X LOG(N° DE GOLPES)

FONTE: Varela (2013, p. 19)

37
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

• Ensaio de Limite de Plasticidade: esse ensaio pode ser encontrado com mais
detalhes na NBR 7190. O ensaio corresponde a um teor de umidade mínimo no
qual a coesão é pequena para permitir deformação, porém, suficientemente alta
para garantir a manutenção da forma adquirida (ALMEIDA, 2005). Algumas
etapas do ensaio são apresentadas na Figura 23.

FIGURA 23 - ENSAIO DO LIMITE DE PLASTICIDADE

FONTE: Mello (2019, p. 58)

Conforme Mello (2018), para determinação do limite de plasticidade são


usados 50,0 g de material passando na peneira com abertura igual a 0.42 mm. O
material homogeneizado com água até adquirir característica plástica, toma-se
cerca de 15,0 g e sobre uma placa de vidro, procura-se fazer pequenos cilindros de
solo com 3 mm de diâmetro e cerca de 10 centímetros de comprimento, rolando
o solo entre a mão e a placa de vidro até que o cilindro apresente as primeiras
fissuras. A umidade desse material é definida com limite de plasticidade do solo
ensaiado. O limite de plasticidade será o valor médio de pelo menos três valores
de umidade (teores de umidade) considerados satisfatórios. Se não for possível
obter o cilindro com 3 mm de diâmetro, a amostra deve ser considerada como não
apresentando limite de plasticidade (NP).

• Índice de plasticidade: através dos valores dos limites de consistência é comum


proceder-se ao cálculo de outros dois índices, a saber: o índice de plasticidade
(IP) e o índice de consistência (IC). No entanto, o IC por não acompanhar com
fidelidade as variações de consistência de um solo, tem caído em desuso. O
valor do IP pode ser obtido pela diferença entre o LL e o LP (ALMEIDA, 2005).

38
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

O índice de plasticidade procura medir a plasticidade do solo e,


fisicamente, representa a quantidade de água necessária a acrescentar ao solo
para que este passe do estado plástico para o líquido. A seguir, são apresentados
alguns intervalos do IP para a classificação do solo quanto a plasticidade.

IP – índice de plasticidade.

Solos fracamente plásticos.......................... 1 < IP < 7.


Solos medianamente plásticos..................... 7 < IP < 15.
Solos altamente plásticos................................ IP > 15.

Os valores típicos para solos brasileiros encontram-se na Tabela 3:

TABELA 3 - VALORES TÍPICOS DE LL E IP DE SOLOS BRASILEIROS

SOLOS LL IP
Arenoso fino, laterítico 29 11
Arenoso fino, laterítico 44 13
Solo de basalto, laterítico 43 16
Solo saprolítico de gnaisse 48 16
Solo saprolítico de granito 48 16
Argila orgânica de várzea quaternárias 70 30
Argilas orgânicas de baixadas litorâneas 120 60
FONTE: Varela (2013, p. 22)

• Sistema Unificado de classificação: o sistema unificado de classificação surgiu


da necessidade da organização das diversas diferenças comportamentais dos
solos para os interesses da engenharia. Segundo Pinto (2006), o objetivo da
classificação sob o ponto de vista da engenharia é poder estimar o provável
comportamento do solo nos programas de investigação. Esse sistema de
classificação foi elaborado por Casagrande, para obras de aeroporto, e
atualmente é utilizado principalmente pelos geotécnicos que trabalham com
barragens de terra. Em linhas gerais, os solos são classificados, nesse sistema,
em três grandes grupos, de acordo com Caputo (1988):

1. Solos grossos: aqueles cujo diâmetro da maioria absoluta dos grãos é maior
que 0,074 mm (mais que 50% em peso, dos seus grãos, são retidos na peneira
n. 200); Pedregulhos – areias – solos pedregulhosos ou arenosos com pouca
quantidade de finos (silte e argila).
2. Solos finos: aqueles cujo diâmetro da maioria absoluta dos grãos é menor que
0,074 mm; Siltes-argilas
3. Turfas: solos altamente orgânicos, geralmente fibrilares e extremamente
compressíveis.

39
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Nesse sistema, todos são identificados pelo conjunto de duas letras


(ALMEIDA, 2005). A primeira letra indica o principal tipo de solo, podendo ser:

G .......................... Pedregulho (do inglês Gravel).


S .......................... Areia (do inglês Sand).
M ......................... Silte (do sueco Mo).
C ......................... Argila (do inglês Clay).
O ......................... Solo orgânico (do inglês Organic).

A segunda letra indica as características complementares do solo:

W ........................ Bem graduado (do inglês Well graded).


P .......................... Mal graduado (do inglês Poorly).
H ......................... Alta compressibilidade (do inglês High compressibility).
L .......................... Baixa compressibilidade (do inglês Low compressibility).
Pt ......................... Turfas (do inglês Organic).

Exemplos:

CL – solo argiloso de baixa compressibilidade.


SM – solo argiloso com certa quantidade de siltes (finos não plásticos).
SW – solo arenoso, bem graduado.
CH – solo argiloso, altamente compressível.

As classificações a seguir estão de acordo com a literatura de Pinto (2006).

• Solos de granulação grossa (pedregulhos e areias): sendo de granulação


grosseira, o solo será classificado como pedregulho ou areia, dependendo de
qual destas duas frações granulométricas predominar. Por exemplo, se o solo
possui 30% de pedregulho, 40% de areia e 30% de finos, ele será classificado
como areia – S.

Após reconhecer se o solo como granulação grossa, falta saber se são


“bem graduados” ou “mal graduados”. Os solos “bem graduados” são chamados
assim pelo fato de que a existência de grãos com diversos diâmetros confere ao
solo, em geral, melhor comportamento sob o ponto de vista de engenharia. As
partículas menores ocupam os vazios correspondentes às maiores, criando um
maior entrosamento, do qual resulta menor compressibilidade e maior resistência.

• Solos de granulação fina (siltes e argilas): quando a fração fina é predominante,


o solo será classificado em silte (M), argila (C) ou solo orgânico (O), não em
função da porcentagem das frações granulométricas silte ou argila, mas pela
atividade da argila. São os índices de consistência que melhor indicam o
comportamento argiloso. Analisando os índices e o comportamento de solos,
Casagrande notou que colocando o IP do solo em função do LL, num gráfico, os

40
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

solos de comportamento argiloso se faziam representar por um ponto acima de


uma reta inclinada, denominada linha A. Solos orgânicos, ainda que argilosos,
e solos siltosos, são representados por pontos abaixo da linha A que tem como
equação a reta:

que no seu trecho inicial é substituída por uma faixa horizontal correspondente
a IP de 4 a 7. Este gráfico é denominado de Carta de Plasticidade (ver Figura 24)
e para a classificação destes solos, basta localizar o ponto correspondente ao par
de valores IP e LL.

FIGURA 24 – GRÁFICO CARTA DE PLASTICIDADE


60
Linha B

CH aA
nh
índice de plasticidade

40 Li

MH
CL
ou OH
20

ML
ou OL
0
0 20 40 60 80 100

Limite de liquidez
FONTE: Pinto (2006, p. 56)

Os solos orgânicos se distinguem dos siltes pelo seu aspecto visual, pois
se apresentam com uma coloração escura típica (marrom-escuro, cinza-escuro
ou preto). Como característica complementar dos solos finos, indica-se a sua
compressibilidade, definindo-se como de alta compressibilidade (H) os solos
possuem LL>50. Da mesma forma, define-se como de baixa compressibilidade (L)
os solos que apresentam LL<50. Quando os índices indicam uma posição muito
próxima às linhas, é considerado um caso intermediário e as duas classificações
são apresentadas. Na Tabela 4 temos um esquema para classificação pelo
Sistema Unificado.

41
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

TABELA 4 - CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS DE ACORDO COM O SISTEMA UNIFICADO

Classificação geral Tipos principais Símbolos

Pedregulho ou solos
SOLOS GROSSOS GW, GP, GM e GC
pedregulhosos
(Menos que 50%
passando na #200)
Areias ou solos arenosos SW, SP, SM e SC
Baixa compressibilidade
(LL<50)
SOLOS FINOS ML, CL, e OL
(Mais que 50% passando Siltosos ou argilosos
na # 200) Alta compressibilidade
(LL>50)
MH, CH e OH
SOLOS ALTAMENTE
Turfas Pt
ORGÂNICOS
FONTE: Caputo (1988, p. 185)

Vamos aplicar um exemplo de classificação para melhor entendimento.


Imaginemos um dado solo com os seguintes índices:

• Porcentagem que passa na peneira N° 4 = 100.


• Porcentagem que passa na peneira N° 200 = 86.
• Limite de liquidez = 55.
• Índice de plasticidade = 28.

Classificaremos o solo usando o Sistema Unificado de Classificação,


fornecendo o símbolo de grupo. Foi dado que a porcentagem que passa na
peneira N° 200 é 86 (ou seja > 50%), portanto, é um solo fino. Usando a Tabela 4
encontramos o símbolo de grupo CH.

Trabalhando com solos, seja para tráfego de máquinas ou construções, é


importante a caracterização dos solos para que se tenha segurança na execução
dessas operações. Por exemplo, solos que apresentam, em sua forma textural,
alta porcentagem de finos, são muito influenciados pela umidade, além da forma
das partículas e da sua composição química e mineralógica, causando grandes
variações nas suas propriedades plásticas (SOUZA; RAFULL, VIEIRA, 2000). A
variação desses parâmetros físicos acaba causando diferente comportamento da
fundação de uma estrutura. Por isso é muito importante fazer a caracterização/
classificação do solo que se vai trabalhar para executar uma fundação.

Conhecer esse tipo de informação é imprescindível para o sucesso e


segurança de uma construção, já que a classificação dos solos objetiva estimar
qual será o comportamento mais provável, possibilitando que a determinação da
infraestrutura da construção seja realizada da melhor forma.

42
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

3 PERMEABILIDADE E ÁGUA NO SOLO


O objetivo básico deste subtópico é fornecer as informações necessárias
para o entendimento físico da presença da água nos solos e para a resolução de
problemas que envolvem percolação de água no solo.

Com muita frequência, a água ocupa a maior parte ou a totalidade dos


vazios do solo. Submetida a diferenças de potenciais, a água desloca-se no seu
interior (PINTO, 2006). A permeabilidade é a propriedade que o solo apresenta de
permitir o escoamento da água através dele, sendo o seu grau de permeabilidade
expresso numericamente pelo “coeficiente de permeabilidade”. O conhecimento
da permeabilidade de um solo é de importância em diversos problemas práticos
de engenharia, tais como: drenagem, rebaixamento do nível d'água, recalques
etc. A determinação do coeficiente de permeabilidade é feita tendo em vista a lei
experimental de Darcy (1856), de acordo com a qual a velocidade de percolação é
diretamente proporcional ao gradiente hidráulico (PINTO, 2006).

O estudo da permeabilidade da água no solo é muito importante para


quando o engenheiro se depara com alguns problemas práticos que o envolvem.
A seguir são listados alguns problemas citados por Pinto (2006):

• no cálculo das vazões, como, por exemplo, na estimativa da quantidade de


água que se infiltra numa escavação;
• na análise de recalques, porque, frequentemente, o recalque está relacionado
à diminuição de índice de vazios, que ocorre pela expulsão de água desses
vazios;
• nos estudos de estabilidade, porque a tensão efetiva (que comanda a resistência
do solo) depende da pressão neutra, que, por sua vez, depende das tensões
provocadas pela percolação da água.

A água subterrânea é originada predominantemente da infiltração das


águas das chuvas, sendo esse processo de infiltração de grande importância na
recarga da água no subsolo. A recarga depende do tipo de rocha, cobertura vegetal,
topografia, precipitação e da ocupação do solo. A posição do lençol freático no
subsolo não é, entretanto, estável, mas bastante variável. Isso representa dizer
que, em determinada região, a profundidade do lençol freático varia segundo
as estações do ano. Em consequência da infiltração, a água precipitada sobre a
superfície da terra penetra no subsolo e através da ação da gravidade sofre um
movimento descendente até atingir uma zona onde os vazios, poros e fraturas se
encontram totalmente preenchidos com água. Essa zona é chamada zona saturada
ou freática. Essa zona é separada por uma linha conhecida como nível freático
ou lençol freático, abaixo da qual estará o solo na condição de submersão (se
em condição de água livre), e acima estará o solo saturado até uma determinada
altura. Nos solos, por capilaridade, a água se eleva por entre os interstícios de
pequenas dimensões deixados pelas partículas sólidas, além do nível do lençol
freático. A altura alcançada depende da natureza do solo (MELLO, 2019).

43
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Caputo (1989) explica que Darcy verificou em 1850, de forma experimental,


como os diversos fatores geométricos, indicados na Figura 25, influenciavam a
vazão da água, expressando a equação que ficou conhecida pelo seu nome. Os
princípios de Darcy mostram que a vazão que entra é igual à vazão que sai e o que
varia é a velocidade de entrada e saída da água no solo. Além disso, ele concluiu
que os fatores geométricos influenciam a vazão da água e a velocidade. Assim,
Darcy (1850) determinou a equação:

Em que:

k – coeficiente de permeabilidade
A – é a área do permeâmetro (será apresentado na sequência)
Q – vazão do solo
h – é a carga que dissipa
L – é o comprimento do solo

= i – gradiente hidráulico

NOTA

É bom relembrar que a vazão é dada em L/s ou m³/s. Um volume dividido por
um tempo. E que 1 m³ = 1000 L.

O coeficiente de permeabilidade varia para os diferentes solos e, para


um mesmo solo, depende essencialmente da temperatura e do índice de vazios.
Quanto maior for a temperatura, menor é a viscosidade da água e, portanto, mais
facilmente ela se escoa pelos vazios do solo com o correspondente aumento do
coeficiente de permeabilidade (CAPUTO, 1988).

O ensaio realizado para a medição da percolação é realizado em um


permeâmetro (ver Figura 25 e Figura 26). O permeâmetro serve de introdução
ao entendimento do comportamento da água ao passar pelos vazios do solo e se
adequa como um modelo do fluxo d’água em problemas reais de engenharia. A
Figura 27 corresponde a um permeâmetro onde não há deslocamento de água,
pois a bureta que o alimenta está no mesmo nível de saída da água, ou seja, na
mesma cota.

44
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

FIGURA 25 – EQUIPAMENTOS DE FIGURA 26 – ENSAIO MONTADO COM


PERMEÂMETRO DE CARGA CONSTANTE PERMEÂMETRO DE CARGA CONSTANTE

FONTE: <https://sites.fct.unl.pt/declabs/pages/ FONTE: <https://sites.fct.unl.pt/declabs/pages/


laboratorio-2-de-mecanica-dos-solos-labgeo>. laboratorio-2-de-mecanica-dos-solos-labgeo>.
Acesso em: 5 nov. 2019. Acesso em: 5 nov. 2019.

FIGURA 27 – MODELO TEÓRICO DE PERMEÂMETRO SEM FLUXO DE ÁGUA

FONTE: A autora

A Figura 28 representa um permeâmetro em que há fluxo de água, neste


exemplo existe uma coluna de água acima do nível de saída (h), que corresponde
que há deslocamento de fluido. De uma forma simplificada, Darcy gostaria de
compreender a vazão da água em um solo quando nele fosse aplicado uma carga
de água (um peso de água fazendo pressão).

45
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

FIGURA 28 – PERMEÂMETRO COM FLUXO

FONTE: Massocco (2019, p. 145)

A determinação de k pode ser feita por meio de fórmulas que o relacionem


com a granulometria, no laboratório utilizando-se os “permeâmetros”: (a) de
nível constante ou de (b) nível variável (CAPUTO, 1988).

a) Permeâmetro de carga constante (Figura 29): é urna repetição da experiência


de Darcy, o permeâmetro mantêm a carga h, durante um certo tempo, a água
percolada é colhida e seu volume medido. Conhecidas a vazão e as características
geométricas, o coeficiente de permeabilidade é calculado pela Lei de Darcy.
Esse permeâmetro é empregado geralmente para solos granulares (arenosos).
E o coeficiente k é determinado medindo-se a quantidade de água, mantida
em nível constante, que atravessa em um determinado tempo t uma amostra
de solo de seção A e altura L conhecidas. A quantidade de água que atravessa
a amostra é recolhida em um recipiente graduado, onde é medido: Seja Q essa
quantidade. Por intermédio da fórmula:

46
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

FIGURA 29 – PERMEÂMETRO DE CARGA CONSTANTE

FONTE: Caputo (1988 p. 72)

Em que h é o desnível entre a superfície de entrada da água e a superfície


de saída, tem-se imediatamente:

b) Permeâmetro de carga variável (Figura 30): quando o coeficiente de


permeabilidade é muito baixo, a determinação pelo permeâmetro de carga
constante é pouco precisa. Emprega-se, então, o de carga variável. Ele é
considerado mais vantajoso que o anterior, sendo preferencialmente usado
para solos finos.

FIGURA 30 – PERMEÂMETRO DE CARGA VARIÁVEL

FONTE: Caputo (1988 p. 72)

47
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Outras técnicas também podem ser utilizadas além dos ensaios em


laboratório. A percolação da água no solo também pode ser medida no decorrer
de sondagens de reconhecimento de solo durante a perfuração. São os chamados
ensaios em campo. Porém, os ensaios em campo são menos precisos que os
realizados em laboratório, entretanto, neste caso, os solos estão em sua situação
real.

Outra forma de medir o coeficiente de permeabilidade dos solos é por meio


de métodos indiretos. A velocidade com que um solo recalca quando submetido a
urna compressão depende da velocidade com que a água sai dos vazios. Depende,
portanto, de seu coeficiente de permeabilidade. Ensaios de adensamento (ainda
não apresentados nessa literatura) são realizados para o estudo de recalques e de
seu desenvolvimento ao longo do tempo. Pela análise desses dados com base nas
teorias correspondentes, pode-se obter o coeficiente de permeabilidade do solo
ensaiado (PINTO, 2006).

A permeabilidade é uma das propriedades do solo com maior faixa de


variação de valores e é função de diversos fatores, dentre os quais podemos citar o
índice de vazios, temperatura, estrutura do solo, grau de saturação e estratificação
do terreno (MELLO, 2018).

É interessante notar que os solos finos, embora possuam índices de vazios


geralmente superiores àqueles alcançados pelos solos grossos, apresentam
valores de coeficientes de permeabilidade bastante inferiores a estes.

Os coeficientes de permeabilidade são tanto menores quanto menores


os vazios nos solos e, consequentemente, quanto menores as partículas. Para os
solos sedimentares, como ordem de grandeza, os seguintes valores podem ser
considerados, como apresentados na Tabela 5.

TABELA 5 – DEFINIÇÃO DE VALORES DE K PARA SOLOS SEDIMENTARES


SOLO K (m/s)
Argilas <10-9m/s
Siltes 10-6 a 10-9 m/s
Areias argilosas 10-7
Areias finas 10-5
Areias médias 10-4
Areias grossas 10-3

FONTE: Adaptado de Caputo (1988)

48
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

4 TENSÕES NO SOLO
Para a aplicação da Mecânica dos Sólidos Deformáveis aos solos, deve-se
partir do conceito de tensões. Uma maneira adequada consiste na consideração
de que os solos são constituídos de partículas e que forças aplicadas a eles são
transmitidas de partícula a partícula, além das que são suportadas pela água dos
vazios (PINTO, 2006).

As tensões no solo, de maneira simplificada, podem ser divididas em


geostáticas e induzidas. As tensões geostáticas são aquelas decorrentes do
próprio peso, do próprio do solo e da água presente em seus interstícios. Já as
tensões induzidas são causadas por elementos externos, podendo ser sobrecarga
de trânsito, fundações etc. (MARINHO, 2018).

Vale lembrar o conceito de tensão: a tensão é a aplicação de uma força


sobre a área de um elemento.

Todos os materiais, inclusive os solos, de que são formados os corpos (ou


meios) reais se deformam, em maior ou menor intensidade, sob a ação do seu
peso próprio ou das cargas que lhes são impostas. O comportamento do material,
quando carregado, depende, naturalmente, das tensões nele instaladas. Assim, se,
aumentando as tensões, as deformações crescem proporcionalmente, diz-se que
o material se encontra no “estado elástico”; se, continuando a crescer as tensões,
passam-se a observar deformações apreciáveis, revela-se o "estado plástico"; a
seguir, aparecem fissuras locais e atinge-se o "estado de ruptura" (MELLO, 2018).

Quando se começa a analisar a aplicação de força sobre o solo,


verifica-se que as forças são transmitidas de partícula a partícula, e
esta transmissão é bastante complexa, porque depende do tipo de
mineral de que aquele solo é composto. Para solos arenosos (areia e
siltes), em que o diâmetro do grão na grande maioria é considerado
grande (maiores que 0,072 mm), a transferência se faz pelo contato
direto do grão. Para solos tidos como argila (grãos menores que 0,072
mm), as forças de cada contato são muito pequenas e a transmissão
pode ocorrer por água adsorvida (MASSOCCO, 2019, p. 124).

E
IMPORTANT

Adsorver é diferente de absorver! A palavra absorver está mais incorporada ao


nosso cotidiano e quer dizer aspirar, sugar. O termo adsorver está relacionado com a água,
significando a fixação das moléculas de um fluido a uma superfície sólida. Como explica Rocha
(2019), a água adsorvida é uma pequena porção de água que está ligada à parede do grão.

49
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Observando os gráficos na Figura 31, nota-se que, de maneira geral, as


tensões geostáticas serão mais elevadas quanto maior for a profundidade do
ponto analisado, enquanto as tensões induzidas serão menores quanto maior a
distância do ponto analisado ao ponto de aplicação na carga.

FIGURA 31 – VARIAÇÃO DA TENSÃO NO SOLO CONFORME A PROFUNDIDADE E A


CARGA APLICADA

FONTE: <https://www.guiadaengenharia.com/tensoes-solos-geostaticas/>. Acesso em: 5 nov. 2019.

Pinto (2006) sugeriu um corte plano numa massa de solo que interceptaria
grãos e vazios e, só eventualmente, uns poucos contatos para compreendermos
melhor as tensões no solo. Considere-se, porém, que tenha sido possível colocar
uma placa plana no interior do solo como se mostra esquematicamente na Figura
32 (que é urna representação muito simplificada, pois no plano do papel não
se consegue representar adequadamente os contatos que ocorrem no espaço e,
numa seção transversal plana, vários grãos são seccionados internamente, e não
nos pontos de contato).

FIGURA 32 – ESQUEMA DO CONTATO ENTRE GRÃOS PARA A DEFINIÇÃO DE TENSÕES

F N F F
N N

T T
T

área

FONTE: Pinto (2006, p. 83)

50
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

O estado de tensões no solo obedece a um conjunto de equações de


equilíbrio, compatibilidade e às leis constitutivas do material. Em alguns casos,
a própria distribuição de tensões devido ao peso próprio pode ser complexa,
dependendo da geometria do terreno. Como é impossível desenvolver modelos
matemáticos com base nas inúmeras forças, a sua ação é substituída pelo conceito
de tensões.

A somatória das componentes normais ao plano, dividida pela área total


que abrange as partículas em que os contatos ocorrem, é definida como tensão
normal.

A somatória das forças tangenciais, dividida pela área, é referida como


tensão cisalhante.

Tensão total: nos solos, ocorrem tensões devidas ao peso próprio e as


cargas aplicadas. Na análise do comportamento dos solos, as tensões devidas
ao peso têm valores consideráveis, e não podem ser desconsideradas. Quando
a superfície do terreno é horizontal, aceita-se, intuitivamente, que a tensão
atuante num plano horizontal a uma certa profundidade seja normal ao plano
(PINTO, 2006).

No caso particular de terrenos planos e horizontais com camadas de


solo também horizontais e sem carregamento externo, os cálculos das tensões
tornam-se bastante simples. Não existirão tensões cisalhantes nos planos
horizontal e vertical.

A tensão total vertical é calculada pelo peso de solo acima da profundidade


considerada. Caso o peso específico seja constante com a profundidade (uma
única camada), a tensão vertical será dada por:

Quando o terreno é formado por várias camadas de solo com diferentes


pesos específicos (estratificado), a tensão vertical total resulta do somatório das
parcelas de cada camada:

51
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Em que: zi e γi são as espessuras das camadas e os pesos específicos,


respectivamente.

Para melhor entendimento da formulação, segue a Figura 33 de um


exemplo simples de solo estratificado.

FIGURA 33 – TENSÃO TOTAL NO SOLO ESTRATIFICADO

FONTE: <https://www.guiadaengenharia.com/tensoes-solos-geostaticas/>. Acesso em: 5 nov. 2019.

DICAS

Para os itens a seguir, foram consultados os livros de Caputo (1988) e Pinto


(2006). Sugere-se que esses materiais sejam lidos, se houver necessidade de mais
informações.

Pressão neutra – (pressão da água dos poros): a pressão neutra ou


poropressão é a pressão na água dos vazios do solo e é dada pela carga piezométrica
da Lei de Bernoulli. Quando há um nível d’agua sem fluxo a pressão neutra (u)
será a pressão hidrostática e é dada por:

Sendo:

γw – peso específico da água (10kN/m³)


zw – altura da coluna de água

52
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Tensão efetiva: é a tensão suportada pelos grãos do solo, ou seja, é a tensão


transmitida pelos contatos entre as partículas. O princípio das tensões efetivas é
dado pelo princípio das tensões efetivas de Terzaghi.

A tensão total, como falamos anteriormente, pode ser dividida em duas


partes:

1. Parcela suportada pela água nos espaços vazios. A tal tensão daremos o nome
de poropressão (ou pressão neutra).
2. Restante da tensão total suportada pelos sólidos em seus pontos de contato. A
soma das componentes verticais das forças desenvolvidas em tais pontos por
unidade de área de seção transversal é chamada de tensão efetiva.

Sendo:

– tensão efetiva
– tensão total
– poro-pressão

O deslocamento das partículas depende das tensões transmitidas


entre os grãos, ou seja, da tensão. Logo, sempre que houver uma variação na
tensão efetiva ocorrerão variações volumétricas no solo, podendo ser recalque
ou expansão. Tal variação pode ser gerada por um acréscimo de tensões totais
devido a carregamentos externos ou mesmo por variações na poropressão, como
no caso de elevação ou rebaixamento de lençol freático (MARINHO, 2018). Outra
característica do solo que é intimamente ligada à tensão efetiva é a sua resistência.
Uma maior tensão efetiva, ou seja, uma maior tensão normal entre as partículas,
eleva a capacidade resistente a cisalhamento do solo. Vale ressaltar também que
para o cálculo da tensão efetiva em solos que se encontram em camadas submersas
é necessário utilizar o peso do solo submerso, de forma que um acréscimo na
pressão neutra sobre uma camada não tenha efeito nas propriedades mecânicas
do solo.

Exemplo: vamos calcular a tensão total, efetiva e poropressão no ponto A,


de acordo com o perfil de solo ilustrado a seguir (MARINHO, 2018).

53
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

FONTE: <https://www.guiadaengenharia.com/tensoes-solos-geostaticas/>. Acesso em: 5 nov. 2019.

Inicialmente, calcularemos a tensão efetiva no ponto A. Ela será composta


pelas seguintes parcelas:

1. Solo 1 seco, que se encontra acima do nível d’água.


2. Solo 1 submerso.
3. Solos 2, que também se encontra submerso.

Logo, temos:

Lembrando que:

E considerando γw= 10kNm3 temos:

Agora, calcularemos a poropressão. Lembrando que esta independe


do solo, devemos considerar apenas a altura da coluna d’água acima do ponto
A. Logo:

54
TÓPICO 2 — REVISÃO DE CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

Por fim, a tensão vertical total no ponto A será a soma da tensão efetiva
com a poropressão. Logo:

DICAS

Seria interessante você revisar um pouco da matéria deste tópico assistindo os


vídeos sobre ÁGUA NOS SOLOS (Me Salva! ANS01 – Água no solo – Mecânica dos Solos
https://www.youtube.com/watch?v=3Yzv00AM38Y) e de TENSÕES NO SOLO SECO (Me
Salva! ATS02 – Tensões no Solo Seco – Mecânica dos Solos https://www.youtube.com/
watch?v=rBQ6YZbWjz8).

Caso você tenha alguma dúvida sobre o conteúdo do de mecânica dos solos e quer
relembrar melhor os conceitos você pode rever a apostila de Mecânica dos Solos da
UNIASSELVI. Lá os conceitos estão mais detalhados e você compreenderá melhor esta aula.

55
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• É necessário relembrar alguns conceitos de mecânica dos solos para reconhecer


as características de cada solo e aplicá-los na matéria de fundações.

• O engenheiro deve ter conhecimento das características do tipo de solo a ser


trabalhado durante a execução de uma fundação.

• O solo é denominado de acordo com o tamanho de suas partículas.

• A classificação dos solos pode ser feita por meio da análise granulométrica
(peneiramento e sedimentação), os limites de Atterberg e o Sistema Unificado
de Classificação.

• A água tem influência na permeabilidade e nas tensões no solo.

56
AUTOATIVIDADE

1 Tem se 1900 g de solo úmido, que será compactado num molde, cujo volume
é de 1000 cm3. O solo seco em estufa apresentou um peso de 1705 g. Sabendo-
se que o peso específico dos grãos (partículas) é de 2,66g/cm3 determine:

a) o teor de umidade;
b) a porosidade;
c) o grau de saturação;

dados: γG =2,66g / cm3


P = 1900g
PG =1705g
V = 1000cm3

2 Uma amostra de solo foi coletada em campo. Verificou-se que a amostra,


juntamente com seu recipiente, pesava 120,45 g. Após permanecer em estufa
a 105 °C, até estabilizar o peso, o conjunto pesava 110,92 g. Sendo a massa
do recipiente de coleta da amostra de 28,72 g, qual a umidade deste solo?

3 Um terreno é constituído de uma camada de areia fina e fofa, com γn= 17 kN/
m³, com 3 m de espessura, acima de uma camada de areia grossa compacta,
com γn = 19 kN/m³, e espessura de 4 m, apoiada sobre um solo de alteração
de rocha, como se mostra na Figura. O nível d’água encontra-se a 1 m de
profundidade. Calcule as tensões verticais no contato entre a areia grossa e
o solo de alteração, a 7 m de profundidade.

57
4 No permeâmetro mostrado na Figura abaixo, adote h = 28 cm; z = 24 cm
e L = 50 cm. A seção transversal do permeâmetro é de 530 cm². O peso
específico da areia é de 18 kN/m³. Mantida a carga hidráulica, mediu-se
um volume de 100 cm³ escoando em 18 segundos. Qual o coeficiente de
permeabilidade do material (PINTO, 2006, 131)?

FONTE: Pinto (2006, p. 113)

58
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

1 INTRODUÇÃO

Nós já falamos sobre a importância de analisar, investigar, estudar o


solo. Todavia, como fazemos isso? O que fazemos com os resultados dos ensaios
realizados?

O objetivo de realizar uma investigação geotécnica é, principalmente,


saber se o solo que vai receber a fundação vai suportar as cargas da edificação
que será construída. De acordo com Hachich et al. (1998), precisa-se identificar e
conhecer as diversas camadas do solo para diminuir as incertezas do projeto. Essa
identificação pode ser feita por ensaios em laboratório, mas o mais comum são os
ensaios in situ, o que quer dizer, realizado no próprio local.

A Figura 34 apresenta um perfil geotécnico que mostra diversas camadas


de solos que são possíveis de serem identificadas por meio de ensaios. Geralmente,
no Brasil, gasta-se de 0,2 a 0,5% do custo total da obra para as etapas de sondagem
(SCHNAID; ODECBRECHT, 2012).

FIGURA 34 – PERFIL GEOTÉCNICO TÍPICO DA REGIÃO SUL DE SANTA CATARINA

FONTE: Heidemann (2015, p. 1)

59
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

A sondagem auxilia no conhecimento das características do solo, as


camadas existentes, profundidade do lençol freático e a resistência, que, entre
eles, é o fator mais importante para o dimensionamento da fundação. Godoy
(1971), conforme citado por Barros (2011), afirma que a sondagem deve resultar
nas seguintes informações:

• identificação das camadas de solo até a profundidade de interesse;


• identificação das propriedades das camadas, como compacidade para areias
ou consistência para argilas;
• determinação da espessura das camadas;
• análise de água no subsolo.

A quantidade de pontos para sondagem é definida pelo tamanho da área


a ser construída, ou seja, pela área que será ocupada no terreno. A NBR 8036
indica que o número mínimo de pontos deve ser dois para área de projeção em
planta do edifício de até 200 m² e três para área entre 200 m² e 300 m².

De forma geral, deve ser feito: uma sondagem para cada 200 m² de área da
projeção em planta do edifício até 1200 m² de área. Entre 1200 m² e 2400 m² deve
ser feita uma sondagem para cada 400m² que excederem a área de 1200 m². Acima
de 2400 m² de área, cada projeto de fundação elabora o número de sondagem,
lembrando que os pontos principais para sondagem estão localizados nas áreas
com maior incidência de carga da obra.

Entre os ensaios mais utilizados estão o “Standard Penetration Test” (SPT),


o STP-T que é uma variação do primeiro, o ensaio de penetração de cone (CPT) e
ensaio de palhetas, que serão detalhados no tópico seguinte.

A investigação geotécnica deve ser elaborada em etapas, conforme


explicam Velloso e Lopes (2010):

• Investigação preliminar: é a primeira etapa para conhecer as principais


características do solo em questão. Deve-se tentar alcançar a profundidade das
rochas para a caracterização.
• Investigação complementar ou de projeto: nessa etapa, procura-se determinar
as características das camadas mais importantes.
• Investigação para execução: essa etapa busca confirmar algumas informações
que podem trazer riscos ou incertezas para a execução da fundação.

A seguir, serão apresentados os principais ensaios para investigação do


solo.

60
TÓPICO 3 — INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

2 INVESTIGAÇÃO DE CAMPO
O ensaio Standard Penetration Test (SPT) é o ensaio mais utilizado para
sondagem. Rebello (2008) explica que é um ensaio de fácil interpretação pelos
profissionais, pois obedece a um padrão internacional. No Brasil, é normatizado
pela NBR n° 6484, que explica que o ensaio é realizado com a queda de um peso
para a penetração de um tubo no solo.

De forma mais detalhada, utiliza-se um equipamento como um tripé,


mas de quatro apoios, que permite uma queda de um peso de 65 kgf a 75 cm de
altura, sendo esse peso e altura padronizados. Esse peso cai em cima de um tubo
chamado de haste que tem um amostrador na ponta (local onde vai adentrando
o solo que está sendo perfurado). A perfuração avança na medida em que o solo,
desagregado com auxílio de um trépano, é removido por circulação de água
(lavagem). O índice de resistência à penetração (N) correspondente ao número
de golpes associados à penetração dos últimos 30 cm do amostrador padrão,
juntamente com a amostra coletada no amostrador ou por outro processo, fornece
apenas uma indicação qualitativa das propriedades mecânicas e estratigráfica solo
(MARANGON, 2018). O equipamento de sondagem está mostrado na Figura 35.

FIGURA 35 – ETAPAS NA EXECUÇÃO DE SONDAGEM A PERCUSSÃO: (A) AVANÇO DA SONDA-


GEM POR DESAGREGAÇÃO E LAVAGEM; (B) ENSAIO DE PENETRAÇÃO DINÂMICA (SPT)
Roldana

Tripé
Peso

Guia

Bomba
Revestimento Hastes

Trecho instável

Trépano
(a) (b)
Amostrador

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 38)

61
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

As etapas do ensaio são: escava-se a primeira camada de 1 metro do solo


para colocação do amostrador. Anota-se o número de golpes necessários para
cravar os 45 cm do amostrador em 3 conjuntos de golpes para cada 15 cm. O
resultado do ensaio SPT é o número de golpes necessário para cravar os 30 cm
finais (desprezando-se, portanto, os primeiros 15 cm, embora o número de golpes
para essa penetração seja também fornecido) (VELLOSO; LOPES, 2010).

As vantagens deste ensaio com relação aos demais são: simplicidade do


equipamento, baixo custo e obtenção de um valor numérico de ensaio que pode
ser relacionado por meio de propostas não sofisticadas, mas diretas, com regras
empíricas de projeto. Apesar das críticas pertinentes que são continuamente feitas
à diversidade de procedimentos utilizados para a execução do ensaio e à pouca
racionalidade de alguns dos métodos de uso e interpretação, esse é o processo
dominante ainda utilizado na prática de Engenharia de Fundações (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2012).

Execução do ensaio: Schnaid e Odebrecht (2012) detalham melhor


o procedimento: com o amostrador devidamente posicionado no fundo da
perfuração, na profundidade de ensaio, coloca-se cuidadosamente o martelo
sobre a cabeça de bater (conectada à composição da haste) e mede-se a penetração
da composição decorrente do peso próprio do martelo. Caso esse valor seja
representativo, ele é registrado na folha de ensaio (ex.: P/32 – peso para 32 cm
de penetração permanente). Caso não haja penetração, marcam-se sobre a haste
três segmentos de 15 cm cada um e inicia-se a cravação, contando-se o número
de golpes necessários para a cravação de cada segmento (ex.: 5/15, 7/15 e 9/15).
Como nem sempre é possível obter um número exato de golpes para cada 15 cm
de penetração, recomenda-se anotar o valor efetivamente aplicado (ex.: 5/14, 7/16
e 9/15). O número de golpes NSPT utilizado nos projetos de engenharia é a soma
dos valores correspondentes aos últimos 30 cm de penetração do amostrador.

Adicionalmente, apresenta-se o número de golpes para a penetração dos


30 cm iniciais. Diferenças elevadas no número de golpes referentes aos primeiros
e aos últimos 30 cm poderão indicar amolgamento do solo ou deficiência
na limpeza do fundo do furo de sondagem. Há, ainda, duas representações
adicionais: quando o solo é mole ou muito resistente. No primeiro caso, pode-se,
com um único golpe, penetrar além dos 15 cm iniciais, registrando-se o número
de golpes com a penetração correspondente (ex.: 1/45 - 45 cm de penetração
para um golpe). Em solos muito resistentes, por sua vez, pode ser necessário um
número superior a 30 golpes para a penetração dos 15 cm. Nesse caso, registra-se
o número de golpes efetivamente executados com a respectiva penetração (ex.:
30/10 - 30 golpes para 10 cm de penetração).

Limita-se o número de golpes para evitar danos às roscas e à linearidade


das hastes. A Figura 36 exemplifica melhor as medidas em que se é ensaiado cada
etapa de 1 m, sendo 55 cm de abertura e 45 cm de ensaio, em que esses 45 cm são
divididos em três partes de 15 cm.

62
TÓPICO 3 — INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

FIGURA 36 – ESQUEMA DE EXECUÇÃO DA PROFUNDIDADE DA SONDAGEM

FONTE: Brito (2017, p. 36)

O perfil geotécnico, ver Figura 37, é um gráfico munido de várias


informações, divididas em colunas, em que todas essas colunas estão em função
da profundidade do solo. A primeira parte do perfil contém as informações sobre
o índice de resistência à penetração do solo, o NSPT, em função da profundidade
(VIANA, 2018). A segunda parte consta os resultados propriamente ditos, que
são os seguintes:

• Nível a que se encontra o lençol freático.


• Classe geológica.
• Perfil geológico.
• Profundidade a que se encontram as diferentes camadas presentes na amostra
do terreno.
• Classificação do material presente nas camadas.

Todavia, caso não se tenha informações sobre a classificação do material


presente nas camadas, apenas de posse do índice NSPT é possível fazer uma
interpretação das condições do solo.

63
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

FIGURA 37 – GRÁFICO DO PERFIL GEOTÉCNICO

FONTE: Viana (2018)

A Tabela 6, retirada da ABNT NBR 6484/2001, faz uma síntese da


classificação em função do índice de resistência.

TABELA 6 – ÍNDICE DE RESISTÊNCIA À PENETRAÇÃO

Solo Índice de resistência à penetração N Designação1)


≤4 Fofa(o)
5a8 Pouco compacta(o)
Areias e siltes
9 a 18 Medianamente compacta(o)
arenosos
19 a 40 Compacta(o)
>40 Muito compacta(o)
≤2 Muito mole
3a5 Mole
Argilas e siltes
6 a 10 Média(o)
argilosos
11 a 19 Rija(o)
>19 Dura(o)

64
TÓPICO 3 — INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

1) As expressões empregadas para a classificação da compacidade das areais (fofa,


compacta etc.), referem-se à deformabilidade e resistência destes solos, sob o ponto
de vista de fundações, e não devem ser confundidas com as mesmas denominações
empregadas para a designação da compacidade relativa das areias ou para a situação
perante o índice de vazios críticos, definidos na Mecânica dos Solos.

FONTE: NBR 6484 (2001, p. 17)

Os resultados dos ensaios são influenciados por diversos fatores, como


a integridade e variação nas dimensões do equipamento, o treinamento da
equipe que o executa, profundidade da investigação, solo prospectado etc.
(HEIDEMANN, 2015).

Por isso, foi proposta uma correlação para se transformar o NSPT medido
em um valor de penetração de referência, com base no padrão americano de N60.
A correlação é obtida pela seguinte expressão:

Quando os resultados de ensaios forem interpretados visando à estimativa


de parâmetros de comportamento do solo, deve-se verificar a necessidade da
correção de N.

DICAS

Seria ótimo se você, acadêmico, pudesse conhecer e ler a NBR 6484. Essa
Norma prescreve o método de execução de sondagens de simples reconhecimento de
solos, com SPT.

DICAS

Se interessou por esse ensaio? Aproveite os recursos digitais para conferir o


passo a passo: https://www.youtube.com/watch?v=kObR7PoxGx8 (Ensaio SPT – como é
feito? De O Canal da Engenharia).

65
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

(CPT) e Piezocone (CPTU): os ensaios de cone e piezocone, conhecidos


pelas siglas CPT (cone penetration test) e CPTU (piezocone penetration test),
respectivamente, caracterizam-se internacionalmente como uma das mais
importantes ferramentas de prospecção geotécnica. Resultados de ensaios podem
ser utilizados para a determinação estratigráfica de perfis de solos, a determinação
de propriedades dos materiais prospectados, particularmente em depósitos de
argilas moles, e a previsão da capacidade de carga de fundações (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2012).

Segundo Heidemann (2015), seu uso é recomendado principalmente em


depósitos de solo compressível e de baixa resistência. Hoje o ensaio é executado
comercialmente por diversas empresas estabelecidas no Brasil e na América do
Sul. As dificuldades inerentes à comparação de resultados obtidos com diferentes
equipamentos levaram à padronização do ensaio pela IRTP/ISSMFE (1977,
1988a), acompanhado de normas e códigos regionais e nacionais: no Brasil, NBR
12069/1991 (MB-3406) (ABNT, 1991); (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012).

Dentre as principais vantagens do ensaio, destacam-se a rapidez de


execução, a confiabilidade dos resultados, o baixo custo e o fato de que se
obtêm numerosos resultados ao longo da profundidade ensaiada (HACHICH
et al., 1998).

Execução do ensaio: o ensaio consiste basicamente na cravação, a


velocidade lenta e constante (2 cm/s), de uma haste com ponta cônica, medindo-
se a resistência encontrada na ponta e a resistência por atrito lateral. Esse ensaio
é normalizado pela NBR 12069. A Figura 38 apresenta os componentes de um
modelo de ponta de piezocone que pode ser utilizado neste tipo de investigação.

FIGURA 38 – PARTES DE UM PIEZOCONE RESISTIVO

FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 67)

66
TÓPICO 3 — INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

No primeiro sistema desenvolvido, o atrito era medido em toda a haste,


tendo esse cone – hoje em desuso – sido conhecido como “cone de Delft” ou “de
Plantema” (Figura 39). Posteriormente, desenvolveu-se um cone com uma luva de
atrito – conhecido como cone “de Vermeiden” ou “de Begemann” –, que avança
primeiramente a ponta e depois a luva, para medição alternada da resistência
de ponta (qc), e do atrito lateral local (f). Nesses dois sistemas, as cargas (e daí
as tensões) são geralmente medidas por sistemas mecânicos (ou hidráulicos) na
superfície, daí serem chamados de “cones mecânicos”. Hoje em dia o sistema
de medição é modernizado e os procedimentos de ensaio são padronizados;
os equipamentos, porém, podem ser classificados em três categorias: (a) cone
mecânico, caracterizado pela medida, na superfície, via transferência mecânica das
hastes, dos esforços necessários para cravar a ponta cônica qc e do atrito lateral fs;
(b) cone elétrico, cuja adaptação de células de carga instrumentadas eletricamente
permite a medida de qc e fs diretamente na ponteira; e (c) piezocone, que, além
das medidas elétricas de qc e fs , permite a contínua monitoração das pressões
neutras u geradas durante o processo de cravação. O piezocone desmontado
permite visualizar o elemento poroso, o transdutor de pressão e o conjunto de
células de carga referente à ponta cônica e à luva de atrito.

FIGURA 39 - ENSAIO CPT (A) PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO E (B) VISTA DE UM EQUIPA-


MENTO (DESENVOLVIDO PELA COPPE-UFRJ JUNTAMENTE COM A GROM – AUTOMAÇÃO E
SENSORES)

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 42)

67
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Os principais atrativos do ensaio são o registro contínuo da resistência


à penetração, fornecendo uma descrição detalhada da estratigrafia do subsolo,
informação essencial à composição de custos de um projeto de fundações, e a
eliminação da influência do operador nas medidas de ensaio (qc , f, u).

Velloso e Lopes (2010) apresentam o resultado típico de um ensaio CPT


(ver Figura 40). No primeiro gráfico, é apresentado um perfil de resistência de
ponta e de atrito lateral local. O segundo gráfico apresenta a razão entre o atrito
lateral local e a resistência de ponta, R = f / qc , que dá uma indicação do tipo de
solo atravessado. O terceiro gráfico apresenta as poropressões medidas no ensaio
– o que é possível quando se utiliza um piezocone –, podendo-se observar que
nas areias a poropressão é próxima da hidrostática, enquanto nas argilas há um
excesso de poropressão gerado na cravação do cone.

FIGURA 40 - RESULTADO DE UM ENSAIO CPTU (REALIZADO COM PIEZOCONE)

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 43)

O equipamento de cravação, como indicado na Figura 41, consiste de uma


estrutura de reação sobre a qual é montado um sistema de aplicação de cargas.
Em geral, utilizam-se sistemas hidráulicos para essa finalidade, sendo o pistão
acionado por uma bomba hidráulica acoplada a um motor a combustão o elétrico.
Uma válvula reguladora de vazão possibilita o controle preciso da velocidade de
cravação durante o ensaio. A penetração é obtida por meio da cravação contínua
de hastes de comprimento de 1 m, seguida da retração do pistão hidráulico para
o posicionamento de nova haste. Esses conjuntos podem ser tanto utilizados
em terra (onshore) como em água (nearshore e offshore), ilustrado na Figura 42
(SCHNAID; ODEBRECHT, 2012).
68
TÓPICO 3 — INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

FIGURA 41 – SISTEMAS DE CRAVAÇÃO EM OPERAÇÃO NO BRASIL EM TERRA

(a) (b)
FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 70)

FIGURA 42 – SISTEMAS DE CRAVAÇÃO SUBMERGÍVEL E PLATAFORMAS

(a) (b)
FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 71)

Através dos valores das resistências de ponta (qc) e/ou do atrito lateral
localizado (f), associados com a profundidade de execução do ensaio, pode-se
estimar:

• Via correlações de natureza empírica, o módulo de elasticidade (E) dos solos.


• Via correlações de natureza semiempírica, o valor do ângulo de resistência ao
cisalhamento de solos granulares e o valor da resistência ao cisalhamento não
drenada (Su) de solos coesivos.
• Via associação direta do fenômeno; o comportamento de fundações quanto às
características de deformação e capacidade de suporte.

Adicionalmente, através do valor da razão de atrito (R= f / qc) pode-se


obter o tipo de solo penetrado (MARANGON, 2018).

69
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

Segundo Heidemann (2015), o ensaio possui como vantagens:

• Penetração rápida (20 mm/s).


• Obtém perfil estratigráfico contínuo.
• Alta pressão e repetibilidade.
• Processamento automático dos dados.
• Possibilidade de execução por um único operador.
• Redução dos custos.

E desvantagens:

• Impossibilidade de coleta de amostras.


• Necessidade de operador treinado.
• Equipamento e suporte técnico relativamente complexo.

Palheta: o ensaio de palheta (vane test) é tradicionalmente empregado na


determinação da resistência ao cisalhamento não drenada (Su) de depósitos de
argilas moles. Além disso, é possível obter alguma informação sobre a história de
tensões do solo e de sua sensibilidade.

DICAS

Seria ótimo se você, acadêmico, pudesse conhecer e ler a NBR 10.905/1989.


Essa Norma prescreve o método de execução de sondagens do ensaio de palheta in situ.

O ensaio de palheta visa determinar a resistência não drenada do solo


in situ (Su). Para tanto, utiliza uma palheta de seção cruciforme que, quando
cravada em argilas saturadas de consistência mole a rija, é submetida a um
torque necessário para cisalhar o solo por rotação em condições não drenadas.
É necessário, portanto, o conhecimento prévio da natureza do solo onde
será realizado o ensaio, não só para avaliar sua aplicabilidade, como para,
posteriormente, interpretar adequadamente os resultados. Embora o ensaio possa
ser executado em argilas com resistências de até 200 kPa, a palheta especificada na
Norma Brasileira apresenta desempenho satisfatório em argilas com resistências
inferiores a 50 kPa.

A palheta é constituída de quatro aletas, fabricadas com aço de alta


resistência, com diâmetro de 65 mm e altura de 150 mm. A haste fabricada com
aço é capaz de suportar o torque aplicado, conduz a palheta até a profundidade
do ensaio. O tubo é preenchido com graxa para evitar a entrada de solo e
eventuais atritos mecânicos (HEIDEMANN, 2015). Detalhes do equipamento
estão ilustrados na Figura 43.

70
TÓPICO 3 — INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

FIGURA 43 - PALHETAS DE VANE TEST: (A) PALHETA DE AÇO; (B) MODELO DE PALHETA PARA
ENSAIO NA SUA VERSÃO MAIS SIMPLES; (C) EQUIPAMENTO PARA ENSAIO DE PALHETA IN SITU

Haste Mesa de torque


Torquímetro

Rolamentos

Tubo de proteção
Sapata de
Superfícies proteção
de ruptura

Palheta

(a) (b) (c)


FONTE: Schnaid e Odebrecht, (2012, p. 119) apud Ortigão e Collet (1987)

A medida do torque T versus rotação permite a determinação dos valores


de SU do solo em condições natural e amolgado. Para tal utiliza-se a seguinte
expressão, onde o torque é utilizado em kN.m:

Após a medida de SU em condições indeformadas são aplicados 10 giros


rápidos à haste com intuito de amolgar o solo. Após esse procedimento faz-se
nova medida de SU , desta vez em condições amolgadas (SUR). A partir dessas duas
medidas se determina a sensibilidade da argila (ST) Schnaid e Odebrecht, (2012).

Na Tabela 7, apresenta-se a classificação das argilas quanto à sensibilidade,


proposta por Skempton e Northey (1952).

71
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

TABELA 7 - CLASSIFICAÇÃO DA SENSIBILIDADE DAS ARGILAS

Sensibilidade ST
Baixa 2–4
Média 4–8
Alta 8 – 16
Muito alta >16
FONTE: NBR 6502 (1995, p. 17)

A Tabela 8 resume os três tipos de ensaio apresentados, que são os mais


utilizados no Brasil, indicando os tipos de solo em que o ensaio é melhor aplicável
e as principais características que podem ser determinadas pelo ensaio.

TABELA 8 - TIPO DE ENSAIO APLICADO PARA CADA SOLO E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS


QUE PODEM SER DETERMINADAS

Tipo de solo
Principais características
Tipo de ensaio que podem ser
Melhor Não
determinadas
aplicável aplicável

Avaliação qualitativa do
1- Ensaio
estado de compacidade.
padronizado de Granulares
Comparação qualitativa da
penetração (SPT)
estratigrafia do subsolo.
Avaliação contínua da
compacidade e resistência
2- Ensaio de
de solos granulares.
Penetração de Cone Granulares
Avaliação contínua de
(CPT)
resistência não drenada de
solos argilosos.

3- Ensaio de Resistência não drenada de


Coesivo Granulares
Palheta solo argilosos.

FONTE: Adaptado de Marangon (2018)

72
TÓPICO 3 — INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA

LEITURA COMPLEMENTAR

SONDAGEM DE SOLO AJUDA A EVITAR PROBLEMAS DE FUNDAÇÃO

Artur Quaresma Filho

A sondagem do solo é um trabalho é indispensável em qualquer tipo de


obra, pois fornece características precisas sobre o terreno. Também conhecida
como radiografia de solo, é uma ação indispensável em qualquer tipo de obra e
deve ser realizada juntamente com o estudo topográfico. É por meio dela que são
determinados tipo e resistência do solo, profundidade de cada camada e presença
de água no subsolo. “É o primeiro trabalho a ser feito. Não é possível executar
a sondagem de modo adequado sem as referências da topografia, pois os furos
para análise do subsolo têm de estar locados em pontos exatos do terreno e no
nível geral em que a edificação estará”, afirma o engenheiro Artur Quaresma.

O porte da obra e o tamanho do terreno são características que influenciam


a atividade. Em áreas menores, realizar apenas um furo é um erro que pode
resultar em dados imprecisos. “Às vezes, amostrar somente um ponto não é
significativo. O mínimo recomendado são dois furos e o ideal são três. Quando
são feitos dois pontos de sondagem, ao traçar o provável perfil do subsolo, só
haverá um plano de interpretação. Já quando há três perfurações, o resultado
abrangerá três planos de interpretação”, explica o especialista, lembrando que,
em terrenos maiores, o número de pontos varia conforme o tamanho da área.
“Questão de igual importância é a distância entre os furos: não é recomendável
que os pontos tenham mais do que 25 m de distância entre si”, completa.

TIPOS DE SONDAGEM

Existem dois tipos e o primeiro deles é à percussão. Esse trabalho


consiste em cravar o amostrador padrão no terreno, por meio de golpes de
martelo, para medir a resistência do solo. A cada metro de profundidade, se
obtém uma medida de resistência. Quando se encontra uma rocha, não é mais
possível cravar o equipamento e se torna necessário cortar a pedra. Essa ação é a
chamada sondagem rotativa. Para realizá-la, é usada coroa de diamante na ponta
da tubulação fincada no solo, cortando a rocha e permitindo o aprofundamento
do equipamento, que avança conforme vai rodando e cortando o minério. "Esse
tipo não mede a resistência da rocha, mas indica sua qualidade, apontando sua
condição, como eventuais fraturas ou se está conservada, entre outras informações.
Caso seja necessário obter a resistência da rocha, é retirado tarugo e ensaiado em
laboratório”, fala Quaresma.

Em algumas situações, é necessário executar os dois tipos de sondagem


no mesmo terreno. Isso acontece, por exemplo, quando um trabalho à percussão
é iniciado, mas, em determinado momento, ao encontrar uma pedra no caminho,

73
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FUNDAÇÕES

não é mais possível avançar. Segundo Quaresma, é necessário definir se ali há


somente uma bola de pedra, chamada matacão, com outras camadas de solo
abaixo ou se aquilo já é a rocha. Nesse momento, a sondagem à percussão é
interrompida e a rotativa é iniciada. "Se avançar, conclui-se que era realmente
a rocha, porém, se voltar para o solo, fica constatada a presença do matacão”,
detalha o profissional.

POR QUE FAZER A SONDAGEM?

Quando não se conhece o que há no subsolo, é grande a chance de super


ou subdimensionar a fundação ou a estrutura. Para evitar acidentes e também
economizar no total gasto com a construção, é fundamental conhecer a resistência
do solo. “A compreensão exata da capacidade do solo, aliada a um bom projeto,
resultará em estrutura mais leve, o que requer menor quantidade de matéria-
prima”, destaca Quaresma. Além disso, corrigir os danos resultantes de problemas
de fundação quando a obra já está pronta ou em andamento é ação difícil e cara.
“É muito mais barato investir em uma boa sondagem", alerta.

CUSTOS DO TRABALHO

De acordo com Quaresma, as empresas especializadas oferecem seus


serviços a partir de 40 m de sondagem, e o preço médio varia entre R$ 100 e R$
150/m². A partir desses números, é possível calcular um custo de R$ 5 mil a R$
10 mil. “O que são esses valores em uma obra que custa milhões? Por isso, não
vale a pena correr riscos”, aconselha o profissional, que finaliza: “O investimento
na atividade e no projeto reflete em economia na execução da obra, além de
proporcionar conforto e estabilidade”.

Contratar empresas de confiança para a execução do trabalho é outra


medida de segurança. “Como todo mercado, há os mais variados tipos de
fornecedores que oferecem serviços de sondagem. A atividade exige perícia
do operador e, por isso, as empresas devem contar com equipe qualificada e
experiente”, diz o engenheiro.

FONTE:<https://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/sondagem-de-solo-ajuda-a-evitar-problema-
-de-fundacao_11828_10_0>. Acesso em: 6 fev. 2020.

74
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem três formas principais de investigação geotécnica por meio de ensaios


in situ.

• São vários os detalhes da técnica do ensaio SPT, sua execução e os resultados


obtidos e a tabela de classificação do solo de acordo com o ensaio.

• Os ensaios possuem diferenças entre suas aplicações e conheceu o ensaio CPT


e CPTU, a execução desses ensaios, sua metodologia, as suas vantagens e
desvantagens e os resultados que se pode obter de cada um.

• Pode-se utilizar o ensaio de palheta e observar sua metodologia e a classificação


dos solos argilosos de acordo com o resultado do ensaio.

CHAMADA

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

75
AUTOATIVIDADE

1 (UEG – JT – GO, 2016) Considerando os métodos diretos de investigação do


subsolo, analise a validade das afirmações a seguir.

I- O método de sondagem conhecido como de percussão com circulação de


água permite a coleta de amostras do terreno, a diversas profundidades,
possibilitando o conhecimento da sua estratigrafia.
II- O método de sondagem por trados é simples, rápido e econômico, sendo
utilizado em investigações das condições geológicas superficiais.
III- A sondagem realizada somente pelo processo rotativo justifica-se
apenas quando a rocha aflora ou quando há necessidade da investigação
pormenorizada com coleta de amostras de solos residuais que na maioria
dos casos recobrem o maciço rochoso.
IV- Com relação às sondagens mistas, recomenda-se sua execução em
terrenos com a presença de blocos de rochas, matacões etc. sobrejacentes
à camada de solo.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Apenas as afirmações I, II e III são verdadeiras.
b) ( ) Apenas as afirmações I, II e IV são verdadeiras
c) ( ) Apenas as afirmações I, III e IV são verdadeiras.
d) ( ) Todas as afirmações são verdadeiras.

FONTE: <https://resolvamais.com.br/questoes-de-concurso/452510/sondagem-exercicios-
-exercicio_99>. Acesso em: 6 fev. 2020.

2 (CEV-URCA, 2019) A sondagem de simples reconhecimento a percussão,


SPT (Standard Penetration Test), é normalizado no Brasil pela NBR 6484.

I- “N” se refere ao índice de resistência à penetração, cuja determinação


se dá pelo número de golpes correspondente à cravação de 45 cm do
amostrador-padrão, após a cravação inicial de 15 cm.
II- O ensaio é capaz de ultrapassar e posicionar o nível d'agua, além de ser de
baixo custo e fácil execução.
III- Tem como inconvenientes os fatos de não medir a resistência à penetração
do solo e não poder ser realizado em locais de difícil acesso.
IV- Não ultrapassam matacões e blocos de rocha e podem ser detidas por
pedregulhos ou solos muito compactos.

Agora, assinale a alternativa que corresponda às sentenças CORRETAS:


a) ( ) I, II e III estão corretas.
b) ( ) II, III e IV estão corretas.
c) ( ) II e IV estão corretas.
d) ( ) I e III estão corretas.
e) ( ) Todas estão corretas.

FONTE: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/e270aca1-a7>.
Acesso em: 6 fev. 2020.
76
3 (UNEMAT, 2018) O laudo de sondagem de um terreno indicou Índices de
Resistência à Penetração (NSPT) com valores inferiores a 5 (cinco). Com
base nesta informação, assinale a alternativa que descreve esse tipo de
terreno.

a) ( ) Argila rija.
b) ( ) Areia compacta.
c) ( ) Silte argiloso médio.
d) ( ) Solo mole.
e) ( ) Argila dura.

FONTE:<https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/f96e8e6d-7f>.
Acesso em: 6 fev. 2020.

4 (DPE-RS, 2014) A prospecção dos solos para se obterem dados que


permitam projetar as fundações de uma obra pode ser executada por
meio do SPT (Standard Penetration Test) ou por meio do CPT (Cone
Penetration Test), sendo as principais diferenças entre esses dois tipos
de sondagem:

I- Para um mesmo número de furos e num mesmo local, o método SPT tem
menor custo que o método CPT.
II- O método SPT é executado por meio de percussão, enquanto o CPT é
executado por meio de pressão.
III- O método CPT fornece resultados mais completos que o SPT.

Quantas dessas afirmativas estão CORRETAS?


a) ( ) Somente a primeira está correta.
b) ( ) A segunda e a terceira estão corretas.
c) ( ) Somente a segunda está correta.
d) ( ) A primeira e a terceira estão corretas.
e) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.

FONTE:<https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/cabd39f9-dc>.
Acesso em: 6 fev. 2020.

5 (CESPE, 2013) Julgue o item seguinte, acerca de mecânica dos solos.

Caso um perito queira certificar-se da existência de uma camada de solo mole,


ele pode recorrer a ensaios in situ do tipo vane test (ensaio de palheta) para
medir a resistência não drenada do solo.

( ) Certo.
( ) Errado.

FONTE:<https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/371fe83b-4c>.
Acesso em: 6 fev. 2020.

77
78
UNIDADE 2 —

FUNDAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar os tipos de fundações;

• entender a diferença de utilização entre as fundações rasas e profundas;

• aprender a dimensionar as fundações;

• compreender os tipos de recalques que podem ser causados em uma


fundação e os efeitos destes movimentos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – FUNDAÇÕES RASAS

TÓPICO 2 – FUNDAÇÕES PROFUNDAS

TÓPICO 3 – RECALQUES

CHAMADA

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em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

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80
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

FUNDAÇÕES RASAS

1 INTRODUÇÃO

Como visto na unidade inicial, a fundação é a parte da estrutura


responsável por transmitir as cargas até o terreno (solo). Para isso, deve-se
determinar o tipo de fundação adequada para cada projeto. Segundo Caputo
(1988), o estudo de toda fundação compreende preliminarmente duas partes
essencialmente distintas:

• Cálculo das cargas atuante sobre a fundação.


• Estudo do terreno.

Então, para entender melhor: o tipo de fundação a ser escolhido dependerá


do peso da estrutura que será construída sobre ela e também dependerá de
como o solo (terreno) responde às aplicações desse peso. Devem-se conhecer as
camadas (materiais) do terreno, para que o solo suporte a estrutura sem que ocorra
ruptura. Além disso, deve-se ter cuidado para que a fundação a ser construída
não cause danos das estruturas vizinhas. A escolha do tipo de fundação deve
atentar também para o aspecto econômico.

Os principais tipos de fundações podem ser reunidos em dois grandes


grupos: fundações superficiais e fundações profundas. As fundações superficiais,
apresentadas na Figura 1, são também conhecidas como fundações rasas. Elas são
empregadas onde as camadas de subsolo imediatamente abaixo da estrutura são
capazes de suportar as cargas. As fundações profundas são utilizadas quando o
solo abaixo da estrutura não é resistente às cargas aplicadas, então se opta por
alcançar camadas mais profundas que sejam resistentes (CAPUTO, 1988).

Fundação isolada é a que suporta apenas a carga de um pilar. Pode ser um


bloco ou uma sapata. Em qualquer dos dois tipos, a pressão transmitida no terreno
é dada por p=P/S, em que P é a carga do pilar e S é a área da base da fundação
(CAPUTO, 2017).

• Blocos: são usualmente fundações de concreto simples e com grande altura, o


que lhes confere rigidez.
• Sapatas: são fundações de concreto armado e de pequena altura em relação às
dimensões da base. São semiflexíveis e ao contrário dos blocos que trabalham
à compressão, as sapatas trabalham à flexão.

81
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

• Fundação excêntrica: é aquela em que a resultante das cargas aplicadas não


passa pelo centro de gravidade da base, é o caso das fundações em divisas de
terrenos.
• Sapata corrida: sapata sujeita a carga distribuída (às vezes chamada de
baldrame).
• Viga de fundação: elemento de fundação superficial comum a vários pilares,
cujos centros, em planta, estão situados num mesmo alinhamento.
• Grelha: elemento de fundação constituído por um conjunto de vigas que se
cruzam nos pilares.
• Radier: elemento de fundação que recebe todos os pilares da obra.
• Sapata associada: elemento de fundação que recebe parte dos pilares da obra,
o que a difere do radier, sendo estes pilares não alinhados, o que a difere da
viga de fundação (VELLOSO; LOPES, 2010).

FIGURA 1 – PRINCIPAIS TIPOS DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Bloco Sapata isolada Viga de fundação

Grelha Radier

FONTE: Pereira (2017, s.p.)

2 TEORIA DA CAPACIDADE DE CARGA


A capacidade de carga de um solo, σr , é a pressão que, aplicada ao solo
através de uma fundação direta, causa a sua ruptura. Alcançada essa pressão,
a ruptura é caracterizada por recalques incessantes, sem que haja aumento da
pressão aplicada. A pressão admissível σadm de um solo é obtida dividindo-se a
capacidade de carga σr por um coeficiente de segurança, η, adequado a cada caso
(CAPUTO, 2017).

82
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

Velloso e Lopes (2010) esclarecem que a determinação da tensão admissível


dos solos pode ser feita através das seguintes formas:

• Pelo cálculo da capacidade de carga, através de fórmulas teóricas.


• Pela execução de provas de carga.
• Pela adoção de taxas advindas da experiência acumulada em cada tipo de
região razoavelmente homogênea.

Os coeficientes de segurança em relação à ruptura, no caso de fundações


rasas, situam-se geralmente entre 3 (exigidos em casos de cálculos e estimativas)
e 2 (em casos de disponibilidade de provas de carga (FABRÍCIO; ROSSIGNOLO,
[20--]).

Agora, consideraremos uma sapata de concreto armado, de base B


e comprimento L, localizada a uma profundidade h do solo. Essa sapata está
recebendo uma carga P, vertical de compressão, no seu topo. Essa sapata
transfere a carga ao maciço rochoso, gerando tensões. Essas tensões são normais
(perpendiculares) à base da sapata no contato (solo-sapata) e é expressa pela
seguinte equação:

FIGURA 2 – CARGAS SOBRE SAPATA

FONTE: Adaptado de Barros (2011)

83
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Segundo Cintra, Aoki e Albieri (2011), o aumento gradativo da força


P, e, consequentemente, da tensão, provocará o surgimento de uma superfície
potencial de ruptura no interior do solo. A resistência máxima que o sistema
(sapata-solo) suporta até o momento antes de gerar ruptura é denominada de
capacidade de carga do elemento de fundação, que é representada por σr (onde a
letra r é a inicial da palavra ruptura).

Se a carga continuar sendo aumentada, os recalques crescerão


continuamente até que se dê a ruptura do solo. Nesse caso, atingiu-se o limite de
resistência da fundação, ou a capacidade de carga na ruptura. A ruptura do solo
dada por uma fundação rasa se dá basicamente por três mecanismos (VELLOSO;
LOPES, 2010):

FIGURA 3 – TIPOS DE RUPTURA EM FUNDAÇÕES RASAS

Carga
Recalque

Ruptura Geral

Carga
Recalque

Ruptura Local

Carga
Recalque

Puncionamento

FONTE: Vésic (1963) apud Velloso e Lopes (2010, p. 56)

A ruptura geral, ou generalizada, é caracterizada pela existência de uma


superfície de deslizamento contínua que vai da borda da base do elemento
de fundação até a superfície do terreno. A ruptura é repentina e a carga bem
definida. Observa-se a formação de protuberância nas superfícies e a ruptura é
acompanhada por tombamento da fundação.

A ruptura por puncionamento, ao contrário, não é fácil de ser


observada. Com a aplicação da carga, o elemento de fundação tende a afundar
significativamente, em decorrência da compressão do solo subadjacente. O solo
externo à área carregada não é afetado. O equilíbrio da fundação no sentido
vertical e horizontal é mantido.

84
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

A ruptura local é claramente definida apenas sob a base do elemento de


fundação. Esse é um caso intermediário dos dois descritos anteriormente.

Cintra e Aoki (2010) afirma que a ruptura geral ocorre em casos de solos
mais resistentes (menos deformáveis). A superfície de ruptura é contínua de uma
borda da base da sapata até a outra borda da superfície do solo (Figura 3). A
ruptura é súbita, levando ao tombamento da sapata e para pequenos valores de
recalque, como mostra o gráfico da Figura 3.

Do contrário, a ruptura por puncionamento ocorre nos solos deformáveis


(menos resistentes). Ao invés de ocorres o tombamento, ocorre a penetração cada
vez maior da sapata, podendo observar a tendência do solo de acompanhar o
recalque da sapata. A carga de ruptura é atingida para recalques mais elevados

Segundo a NBR 6122/2010, a tensão admissível ou tensão resistente de


projeto deve ser fixada a partir da utilização e interpretação de um ou mais dos
seguintes procedimentos:

• Métodos teóricos (racionais): são aqueles que utilizam teorias (teoria de


capacidade de carga), tais como a de Terzagui, Brinco Hansen e Vésic,
adicionadas a parâmetros geotécnicos do solo obtidos em ensaios laboratoriais.
• Métodos empíricos: são métodos que relacionam o resultado de ensaios (como
SPT, CPT) com tensões admissíveis ou tensões resistentes de projeto. Devem
ser utilizados com muita cautela e somente como ponto de partida para pré-
dimensionamentos. Entretanto, apesar disso, constituem um excelente ponto
de referência de cálculo.
• Provas de cargas: este método, aliado a uma adequada interpretação e definição
da carga de ruptura é o melhor e o mais recomendado método para definição
da capacidade de suporte de uma fundação. Em função dos custos elevados e
dificuldade de execução, as provas de cargas, em especial estáticas, são pouco
realizadas na prática corriqueira de engenharia de fundações.

a) Métodos teóricos

Método de Terzagui: Terzaghi, o pai da mecânica dos solos, foi o primeiro


no desenvolvimento de uma teoria de capacidade de carga de um sistema solo-
sapata. Ele aplicou o cálculo para a capacidade de carga de um solo homogêneo
que suporta uma fundação corrida e superficial, apresentado no desenho
esquemático da Figura 4 (CAPUTO, 2017).

85
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 4 – MODELO TEÓRICO DE RUPTURA PROPOSTA POR TERZAGHI

FONTE: Tsuha (2019, s.p.)

A equação geral da capacidade de suporte de fundações superficiais


contém três parcelas, referente à: coesão, sobrecarga e cisalhamento. Considerando
um solo rígido, uma ruptura geral e uma sapata com L >> B e a profundidade da
sapata muito menor que a base da sapata (H<B), a Figura 5 mostra os parâmetros
da equação da tensão de ruptura.

FIGURA 5 – PARÂMETROS DA FUNDAÇÃO PARA A TEORIA DE TERZAGHI

FONTE: Tsuha (2019, s.p.)

86
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

c = coesão do solo
B = largura da base da sapata
γ = peso específico do solo subjacente à sapata
Nc,Nγ,Nq= fatores de capacidade de carga
Sc,Sγ,Sq= fatores de forma da sapata
q = (γD) = sobrecarga de embutimento da sapata

O Quadro 1 e o Quadro 2 apresentam os parâmetros tabelados de


capacidade de carga e fatores de forma, respectivamente para inserir na equação
da tensão de ruptura.

QUADRO 1 – VALORES DOS FATORES DE CAPACIDADE DE CARGA PELA TEORIA DE TERZAGHI


ᶲ 0° 5° 10° 15° 20° 22,5° 25° 27,5° 30° 32,5° 35° 37,5° 40° 42,5°
Nc 5,1 6,5 8,3 11,0 14,8 17,5 20,7 24,9 30,1 37,0 46,1 58,4 75,3 99,2
Nq 1,0 1,6 2,5 3,9 6,4 8,2 10,7 13,9 18,4 24,6 33,3 45,8 64,2 91,9
Nγ 0,0 0,3 0,7 1,6 3,5 5,0 7,2 10,4 15,2 22,5 33,9 54,5 81,8 131,7
FONTE: Caputo (2017, p. 217)

QUADRO 2 – VALORES DOS FATORES DE FORMA DA SAPATA PELA TEORIA DE TERZAGHI


Coeficientes de forma
Forma da fundação
Sc,Sq Sγ
Corrida 1,0 1,0

Retangular (b<a)

Quadrada (a=b)
1,3 0,6
Circular (D=b)
FONTE: Caputo (2017, p. 217)

Para ruptura localizada, Terzagui propõe (CAPUTO, 2017):

Segundo Velloso e Lopes (2010), Hansen em 1961, fez importante


contribuição ao cálculo da capacidade de carga das fundações submetidas a um
carregamento qualquer, mostrada na Quadro 3.

87
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

QUADRO 3 – FATORES DE CAPACIDADE DE CARGA

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 74)

Método de Brinch Hansen com contribuição de Vésic: para o caso


de uma carga excêntrica (Figura 6), Hansen (1961) utilizou o conceito de área
efetiva da fundação. Para levar em conta a forma da fundação, sua profundidade
e a inclinação da carga, introduziu os fatores de forma, de profundidade e de
inclinação da carga, respectivamente. Em trabalhos posteriores ele introduziu os
fatores de inclinação do terreno e de inclinação da base da fundação (VELLOSO;
LOPES, 2010).

FIGURA 6 – ANÁLISE DE BRINCH HANSEN

FONTE: Sales (2006, p. 30)

A equação utilizada por Hansen é especialmente interessante para sapatas


submetidas a cargas excêntricas e inclinadas, cuja equação fornece a tensão de
ruptura que atua na área útil (A`) mais fortemente carregada na fundação.

88
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

Vésic (1975) (apud VELLOSO; LOPES, 2010) é um dos principais autores


sobre o tema capacidade de carga de fundações. Partiu de seus estudos a
identificação dos tipos de ruptura do solo. Vésic sugere a adoção da equação
proposta por Terzagui, sendo que sejam utilizados os fatores de capacidade de
carga de Caquot-Kérisel (1953) e fatores de forma da sapata de De Beer (1967)
(SALES, 2006).

Em que:

S – fator de forma
i - fator de inclinação da carga
d - fator de profundidade
b - fator de inclinação da base da fundação
g - fator de inclinação do terreno

O Quadro 4 indica as equaçoes dos fatores de carga.

QUADRO 4 – FATORES DE CAPACIDADE DE CARGA POR VÉSIC

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 74)

Vésic também calculou os valores de capacidade de carga em função de


Ø, reproduzidos na Tabela 1 que contém duas colunas adicionais para a relação
Nq / Nc e para tg (Ø).

89
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

TABELA 1 – FATORES DE CAPACIDADE DE CARGA (VÉSIC, 1975)

Ø◦ Nc Nq Ny Nq / Nc tg (Ø)
0 5,14 1,00 0,00 0,20 0,00
5 6,49 1,57 0,45 0,24 0,09
10 8,35 2,47 1,22 0,30 0,18
15 10,98 3,94 2,65 0,36 0,27
20 14,83 6,40 5,39 0,43 0,36
25 20,72 10,66 10,88 0,51 0,47
30 30,14 18,40 22,40 0,61 0,58
35 46,12 33,30 48,03 0,72 0,70
40 75,31 64,20 109,41 0,85 0,84
45 133,88 134,88 271,76 1,01 1,00
50 266,89 319,07 762,89 1,20 1,19
FONTE: Adaptado de Cintra e Aoki (2010, p. 33)

QUADRO 5 – FATORES DE FORMA “S” (VÉSIC)

Fundação Sc Sq Sy
Corrida 1,0 1,0 1,0

Retangular

Circular e
0,6
quadrada

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 75)

Para os fatores de inclinações da carga, apresentam-se as equações a seguir


(VELLOSO; LOPES, 2010):

Conforme a carga seja inclinada paralelamente à menor dimensão B ou à


maior dimensão L, respectivamente, se a inclinação da carga fizer um ângulo θ
com direção de L, adota-se:

90
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

Nessas expressões, V e H são as componentes vertical e horizontal da


carga. A componente horizontal H deve satisfazer à condição:

Em que:

A‛- área efetiva da fundação


ca- aderência entre solo e fundação
δ- ângulo de atrito entre solo e fundação

Os autores da teoria recomendam tomar no caso de solos arenosos δ = Ø‛


e ca = 0. No caso de solos argilosos saturados, em condição não drenada, δ = 0‛ e
ca = Su. Para a determinação da área efetiva da fundação deve-se assumir:

A’ = B’ L’ = área reduzida.
B’ = B – 2ex.
L’ = L – 2ey.

Em que:

ex = excentricidade em x.
ey = excentricidade em y.

QUADRO 6 – FATORES DE PROFUNDIDADE “D” (VÉSIC E OUTROS AUTORES


DESACONSELHAM O USO DE FATORES DE PROFUNDIDADE)

91
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FONTE: Adaptado de Velloso e Lopes (2010)

Obs.: válido desde que 0 < ω < Ø/2 . Caso ω > Ø/2 é recomendável proceder-
se a uma análise de estabilidade de taludes

Quando em condição não drenada, isto é, quando o material consiste


em argila saturada e o carregamento se dá de forma rápida tanto quanto não há
dissipação do excesso de poropressão gerado, deve-se adotar na análise a fórmula
generalizada de Hansen para o caso não drenado (HEIDEMANN, 2015).

QUADRO 7 – FATORES DE CORREÇÃO

Fator de forma

Fator de inclinação de carga

Fator de inclinação da base “b”

Fator de inclinação do terreno “g”

FONTE: Adaptado de Velloso e Lopes (2010)

Solo estratificado: as formulações apresentadas anteriormente para o


cálculo da capacidade de carga de fundações superficiais foram desenvolvidas
considerando o maciço de solo como homogêneo. Segundo Cintra e Aoki (2010),
não é raro que o solo se apresente estratificado em camadas distintas. Neste caso,
é preciso ter em conta a distribuição das tensões em diferentes camadas. Segundo
ele, de uma forma simplificada, a propagação de tensões é dada por um bulbo de
tensões, mediante uma inclinação 1:2, conforme ilustrado na Figura 7.

92
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

FIGURA 7 – PROPAGAÇÕES DE TENSÕES SEGUNDO UMA INCLINAÇÃO 2:1

FONTE: Cintra, Aoki e Albieri (2011, p. 37)

A principal preocupação do projetista de fundações ao se deparar com um


maciço de solo estratificado, ou seja, não homogêneo, deve ser com a existência
de camadas de solo com capacidade de carga inferior às tensões que se propagam
desde a camada resistente onde se encontra assentada a fundação superficial
projetada (CINTRA; AOKI; ALBIERI, 2011). Uma solução prática para este caso
consiste em:

• Determinar a capacidade de carga para a camada resistente (σr1) onde será


apoiada a fundação superficial.
• Determinar a capacidade de carga para um elemento de fundação superficial
fictício apoiado no topo da camada que se deseja analisar (σr2).
• Calcular a parcela de σr1 que se propaga até o topo da camada que se deseja
analisar (∆σ).
• Comparar ∆σ com a σr2 para verificar se a camada analisada é capaz de
suportar as tensões que se propagam desde a camada resistente, ou seja, deve-
se verificar se ∆σ ≤ σr2.

93
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Caso a segunda camada seja menos resistente que a primeira, adota-se


uma solução prática aproximada, que consiste, inicialmente, em obter a média
ponderada dos dois valores, dentro do bulbo de tensão, em que a + b = 2 B em
que a é a parcela referente à primeira camada e b referente à segunda camada
(CINTRA; AOKI; ALBIERI, 2011).

O cálculo de ∆σ pode ser feito pela Teoria da Elasticidade aplicada à


Mecânica dos Solos. Entretanto, segundo Cintra, Aoki e Albieri (2011), um cálculo
preliminar de ∆σ pode ser feito admitindo que a propagação de tensões ocorra
mediante uma inclinação 2:1 (V:H), utilizando a seguinte expressão:

Em que:

∆σ: parcela de σr1 propagada até a profundidade z.


B: menor dimensão da fundação superficial.
L: comprimento da fundação superficial.
z: distância vertical entre a base do elemento de fundação e a camada a
ser analisada.

Influência do lençol freático

Velloso e Lopes (2010) explicam que, ao observarmos uma fórmula de


capacidade de carga, como a de Terzaghi, vemos que a água, ao submergir o solo,
afeta o valor de y, que está presente em dois dos termos da equação. A influência
é considerada apenas na capacidade de carga drenada. Podemos distinguir dois
casos como apresentados na Figura 8.

Caso 1 – o nível d`água está entre o nível do terreno e a base da fundação.


Caso 2 – o nível d`água está entre a base da fundação e o limite da
superfície de ruptura.

94
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

FIGURA 8 – INFLUÊNCIA DO LENÇOL D`ÁGUA: (A) CASO 1 E (B) CASO 2

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 81)

O procedimento do Caso 1 deve ser:

- termo em q calcular com


- usar y‛ no termo em y

Em que:

y‛ é o peso específico submerso


ynat é o peso específico para o solo acima do lençol d`água

Um procedimento simples para o Caso 2:

- termo em q calcular com ynat


- termo em y calcular com

Outras considerações (NBR 6122/2010):

• Determinada a capacidade de carga aplica-se o coeficiente de segurança (FS)


apropriado para a obtenção da tensão admissível. A NBR 6122/2010 recomenda
um FS = 3 quando a capacidade de carga é determinada por métodos teóricos.
• Em planta, as sapatas isoladas ou os blocos não devem ter dimensões inferiores
a 0,60 m.
• A cota de apoio de uma fundação deve ser tal que assegure que a capacidade
de suporte do solo de apoio não seja influenciada pelas variações sazonais
de clima ou alterações de umidade. Nas divisas com terrenos vizinhos, salvo
quando a fundação for assente sobre rocha, a profundidade de assentamento
não deve ser inferior a 1,5 m.
• Em casos de obras cujas sapatas ou blocos estejam majoritariamente previstas
com dimensões inferiores a 1,0 m, essa profundidade mínima pode ser
reduzida.

95
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

b) Métodos semiempíricos

A partir de ensaios SPT: o método de capacidade de carga a partir do


ensaio de SPT é, no meio técnico brasileiro, bastante difundido. Para isso, por
meio da equação a seguir, se relaciona a capacidade de carga do solo com o NSPT.

Em que N é a média dos valores de NSPT medidos dentro da profundidade


compreendida pelo bulbo de tensões. O bulbo de tensões atinge uma profundidade
de 1,5 a 2 vezes a largura da sapata.

Essa expressão é válida para qualquer solo natural no intervalo 5


≤NSPT≤20. Esse intervalo de validade procura: (i) não permitir o emprego de
fundação rasa quando o solo for mole ou fofo; (ii) limitar a tensão admissível
máxima a 0,4 MPa (valores mais elevados podem ser utilizados somente com
ensaios complementares ou análise de especialistas) (HEIDEMANN, 2015).

A Figura 9 apresenta um exemplo com a estimativa da propagação de


carga no bulbo de tensões.

FIGURA 9 – EXEMPLO PARA ESTIMATIVA DE TENSÃO ADMISSÍVEL NO BULBO DE TENSÕES A


PARTIR DE ENSAIOS SPT

FONTE: Heidemann (2015, p. 44)

A partir de ensaios CPT: a tensão admissível para projetos de sapatas pode


ser estimada com base em valores de resistência de ponta qc (MPa), medidos
nos ensaios CPT/CPT-U. Essas expressões são recomendadas para solos com qc
≥ 1,5MPa. O valor da tensão admissível estimada deverá ser limitado a 0,4 MPa
(HEIDEMANN, 2015).

96
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

• Para sapatas apoiadas sobre argilas: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑞𝑐 /10.


• Para sapatas apoiadas sobre areias: 𝜎𝑎𝑑𝑚 = 𝑞𝑐 /15.

A Figura 10 mostra um exemplo com a estimativa da propagação de carga


no bulbo de tensões.

FIGURA 10 – EXEMPLO PARA ESTIMATIVA DE TENSÃO ADMISSÍVEL NO BULBO DE TENSÕES A


PARTIR DE ENSAIOS CPT

2B

Argila Arenosa

Areia Fina

Areia Grossa

FONTE: Heidemann (2016, p. 44)

c) Prova de carga

Segundo Cintra, Aoki e Albieri (2011), além da forma teórica para o


cálculo de capacidade de carga, também temos o método experimental por meio
de provas de carga em placa, realizadas na etapa de projeto da fundação. Esse
ensaio consiste na instalação de uma placa (Figura 11), na mesma cota de projeto
da base da sapata, e aplicação de carga, em estágios, com medida simultânea de
recalques. Essa placa é circular, rígida e de aço, com diâmetro de 0,80 m.

A prova de Carga em Placa é normalizada pela: NBR 6489 – Prova de


carga direta sobre terreno de fundação.

97
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 11 – ENSAIO DE PROVA DE CARGA COM PLACA METÁLICA

FONTE: Geoax (2019, s.p.)

Da prova de carga, obtemos uma curva tensão x recalque que, pela


tradição em fundações, representa os recalques no eixo das ordenadas, voltado
para baixo, em consonância com o fato de que os recalques são deslocamentos
verticais para baixo. Cintra, Aoki e Albieri (2011) apresentam duas curvas típicas,
Figura 12, uma obtida em ensaio de placa com argila porosa na cidade de São
Paulo e a outra com areia argilosa porosa em São Carlos, SP.

FIGURA 12 – CURVAS DE TENSÃO X RECALQUE DE ENSAIO DE PLACA.: (A) EM ARGILA; (B)


EM AREIA

FONTE: Cintra, Aoki e Albieri (2011, p. 42)

Na primeira curva, identificamos uma ruptura nítida para uma tensão


de cerca de 160 kPa, ou seja, uma tensão de ruptura igual a 160 kPa, enquanto
nas segunda as tensões são crescentes com os recalques, exigindo um critério
arbitrário para definir a ruptura, entendida como ruptura convencional, como o
de Terzaghi (1942), por exemplo, que considera a tensão correspondente ao ponto
a partir do qual o trecho final da curva se transforma em linha reta não vertical, o
que resulta em uma tensão de ruptura igual a 144 kPa.

98
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

Os solos que apresentam curva de ruptura geral, isto é, com uma tensão de
ruptura bem definida (σR), são solos resistentes (argilas rijas ou areias compactas).
Os solos que apresentam curva de ruptura local, sem uma definição do valor de
ruptura, são solos de baixa resistência (argilas moles ou areias fofas).

A tensão admissível do solo, com base nos resultados de uma prova de


carga (desprezando o efeito de escala), é obtida do menor valor entre:

Em que:

σ25 é a tensão correspondente a um recalque de 25 mm (ruptura


convencional);
σ10 é a tensão correspondente a um recalque de 10 mm (limitação de
recalque).

d) Dimensionamento

Segundo da NBR 6122, as fundações superficiais devem ser definidas por


meio de dimensionamento geométrico e de cálculo estrutural.

No dimensionamento geométrico devem-se considerar as seguintes


solicitações:

• cargas centradas;
• cargas excêntricas;
• cargas horizontais.

A área de fundação solicitada por cargas centradas deve ser tal que a
pressão transmitida ao terreno, admitida uniformemente distribuída, seja menor
ou igual à pressão admissível. A NBR 6122 afirma que uma fundação é solicitada
à carga excêntrica quando submetida a:

• uma força vertical cujo eixo não passa pelo centro de gravidade da superfície
de contato da fundação com o solo;
• forças horizontais situadas fora do plano da base da fundação;
• qualquer outra composição de forças que gerem momentos na fundação.

As sapatas para pilares isolados, as vigas de fundação e as sapatas corridas


podem ser calculadas, dependendo de sua rigidez, como placas ou pelo método
das bielas. Em qualquer dos casos deve-se considerar que:

99
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

• quando calculadas como placas, deve-se considerar o puncionamento, podendo-


se levar em conta o efeito favorável da reação do terreno sob a fundação, na
área sujeita ao puncionamento;
• para efeito de cálculo estrutural, as pressões na base da fundação podem ser
admitidas como uniformemente distribuídas, exceto no caso de fundações
apoiadas sobre rocha;
• para efeito de cálculo estrutural de fundações apoiadas sobre rocha, o elemento
estrutural deve ser calculado como peça rígida, adotando-se o diagrama de
distribuição mostrado na Figura 13.

FIGURA 13 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES EM FUNDAÇÃO APOIADA EM ROCHA

FONTE: NBR 6122 (1996, p. 12)

Blocos: o dimensionamento estrutural dos blocos é feito de tal modo que


dispensem armação (horizontal) para flexão. Assim, as tensões de tração, que
são máximas na base, devem ser inferiores à resistência à tração do concreto
(HEIDEMANN, 2015). São elementos de apoio construídos com concreto
sem utilização de armadura, e caracterizados por uma altura relativamente
grande, necessária para que trabalhem essencialmente por compressão. O
dimensionamento de blocos é feito simplesmente adotando-se: β ≥ 60º, ou pelo
seguinte critério para blocos corridos, indicados na Figura 14.

FIGURA 14 – ÂNGULO β NOS BLOCOS

FONTE: NBR 6122 (1996, p. 12)

100
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

Sapatas: o dimensionamento geométrico de fundações diretas e seu


posicionamento em planta é a primeira etapa de um projeto, a ser feito para
uma tensão admissível σadm previamente estimada. A determinação das
dimensões é feita por tentativas, até obter-se as proporções que conduzam a um
dimensionamento estrutural econômico.

De acordo com Heidemann (2015), o dimensionamento econômico será


aquele que conduz a momentos aproximadamente iguais nas duas abas, em
relação à mesa da sapata. Para isso os balanços “c” deverão ser aproximadamente
iguais nas duas direções. No caso de pilares de edifícios a dimensão mínima é da
ordem de 80 cm. Para sapatas corridas, adota-se um mínimo de 60 cm de largura.
As dimensões obtidas são normalmente arredondadas para variar de 5 em 5 cm.

Deve-se fazer uma estimativa da área da base, supondo a sapata submetida


à carga centrada (sem momentos):

Em que:

P → é a força normal nominal do pilar;


σadm → é a tensão admissível do solo;
α → é um coeficiente que leva em conta o peso próprio da sapata.

Pode-se assumir para esse coeficiente um valor de 1,05 nas sapatas


flexíveis e 1,10 nas sapatas rígidas. As dimensões A e B devem ser escolhidas,
sempre que possível, de tal forma a resultar em um dimensionamento econômico.
A condição econômica nesse caso ocorre quando os balanços livres (distância em
planta da face do pilar à extremidade da sapata) forem iguais nas duas direções.
Essa condição conduz a taxas de armadura de flexão da sapata aproximadamente
iguais nas duas direções ortogonais.

A altura da sapata “h” é igual a altura útil “d”, medida da armadura


inferior até o topo da sapata, mais o cobrimento da armadura, como apontado
na Figura 15.

FIGURA 15 – RELAÇÃO ENTRE O TAMANHO DA SAPATA E O TAMANHO DO PILAR

101
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FONTE: Heidemann (2015, p. 53)

As sapatas podem, estruturalmente, se comportarem como elementos


rígidos ou flexíveis. Conforme a NBR 6118/2014 (item 22.4.1), a classificação das
sapatas quanto à rigidez é função da altura apresentada em relação à base (B),
conforme Figura 16.

FIGURA 16 – CRITÉRIO DE RIGIDEZ DAS SAPATAS

FONTE: Heidemann (2015, p. 64) e NBR 6118 (2014, p. 168)

Nas sapatas rígidas:

• Há flexão nas duas direções A e B, com a tração na flexão sendo uniformemente


distribuída na largura da sapata. As armaduras de flexão AsA e AsB são
distribuídas uniformemente na largura L e B.
• Há atuação de força cortante nas duas direções (A e B), não apresentando ruptura
por tração diagonal, e sim por compressão diagonal. Não há possibilidade de
punção.

Por outro lado, nas sapatas flexíveis:

• Há flexão nas duas direções, mas a tração na flexão não é uniforme na largura.
• Há a necessidade de verificação de punção.

Na Figura 17, é apresentado um desenho esquemático de uma sapata,


com as dimensões necessárias para sua especificação e execução.

102
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

FIGURA 17 – DESENHO ESQUEMÁTICO DE UMA SAPATA ISOLADA, DE FORMA RETANGULAR

FONTE: Sales (2006, p. 40)

Segundo Sales (2006), os seguintes requisitos devem ser obedecidos no


dimensionamento de uma fundação por sapatas.

Distribuição Uniforme de Tensões: o centro de gravidade da área da


sapata deve coincidir com o centro de gravidade do pilar, para que as pressões
de contato aplicadas pela sapata ao terreno tenham distribuição uniforme
(Figura 18).

FIGURA 18 – DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES NA SAPATA

FONTE: Fabrício e Rossignolo ([20--], p. 41)

Dimensionamento Econômico: as dimensões L e B das sapatas, e �


e b dos pilares, devem estar convenientemente relacionadas a fim de que o
dimensionamento seja econômico. Isso consiste em fazer com que as abas
(distância d da Figura 19) sejam iguais, resultando momentos iguais nos quatro
balanços e secção da armadura da sapata igual nos dois sentidos. Para isso, é
necessário que L-B= � – b.

Sabe-se ainda que L x B = Asapata, o que facilita a resolução do sistema.

103
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 19 – DETALHE CONSTRUTIVO DA SAPATA

FONTE: Fabrício e Rossignolo ([20--], p. 41)

Recalques diferenciais: as dimensões das sapatas vizinhas devem ser tais


que eliminem, ou minimizem, o recalque diferencial entre elas. Sabe-se que os
recalques das sapatas dependem das dimensões delas.

Sapatas apoiadas em Cotas Diferentes, ilustradas na Figura 20: no caso


de sapatas vizinhas, apoiadas em cotas diferentes, elas devem estar dispostas
segundo um ângulo não inferior a α com a vertical, para que não haja superposição
dos bulbos de pressão. A sapata situada na cota inferior deve ser construída em
primeiro lugar. Podem ser adotados, α = 60° para solos e α = 30° para rochas.

104
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

FIGURA 20 – SAPATAS APOIADAS EM COTAS DIFERENTES

FONTE: Fabrício e Rossignolo ([20--], p. 42)

Dimensões mínimas → sapatas isoladas = 80 cm e sapatas corridas = 60 cm.

Sapatas associadas: casos em que as cargas estruturais são muito altas


em relação à tensão admissível do solo ou haver superposição de áreas. A sapata
deverá estar centrada no centro de carga dos pilares. Quando há superposição
das áreas de sapatas vizinhas, procura-se associá-las por uma única sapata, sendo
os pilares ligados por uma viga (ROSSIGNOLO; FABRÍCIO, [20--]). Na Figura 21,
sendo P1 e P2 as cargas dos dois pilares, a área da sapata associada será:

FIGURA 21 – GEOMETRIA DE SAPATA ASSOCIADA

FONTE: Fabrício e Rossignolo ([20--], p. 42)

105
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

O centro da gravidade das cargas será definido por .

A sapata associada deverá ser centrada em relação a este centro de


gravidade das cargas. A seguir, apresentamos o procedimento de cálculo para
sapato associada:

1. Calcular as coordenadas do centro de carga:

d – distância entre pilares


Pn – carga do pilar n
xn, yn – distância x e y do centro do pilar ao ponto de referência.

2. Área da sapata:

3. Dimensões da sapata:

Para pilares de mesma carga

Para pilares de carga diferente

106
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

xmax, ymax – distância entre o CG e a face externa do pilar mais afastado


(medido sobre o eixo da viga).

4. Verificar se com os valores “B” e “A” encontrados, os balanços “x” ficaram


ou não discrepantes. Se ficarem discrepantes (balanços muito diferentes),
redimensionar.

Exemplo: dimensione uma sapata associada no caso de carregamento de


dois pilares:

P1= 600kN
P2 =500kN.
σadm=100kPa

107
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Sapata de divisa: quando o pilar está situado junto à divisa do terreno, e


não é possível avançar com a sapata no terreno vizinho, a sapata fica excêntrica
em relação ao pilar. A distribuição das tensões na superfície de contato não é mais
uniforme.

FIGURA 22 – EXCENTRICIDADE DE CARGA

FONTE: Fabrício e Rossignolo ([20--], p. 44)

108
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

No caso de pilares encostados em divisas, ou junto ao alinhamento de


uma calçada, como na Figura 23, não é possível projetar-se uma sapata centrada
no pilar, recorrendo-se a vigas de equilíbrio (viga alavanca) a fim de corrigir a
excentricidade existente (HEIDEMANN, 2015).

FIGURA 23 – SAPATAS PARA PILARES DE DIVISAS

FONTE: Heidemann (2015, p. 62)

Procedimento de cálculo:

1. Estima-se R1

R1=1,1 P1 *carga de 10% a mais imposta pela excentricidade.

2. Dimensiona-se a fundação para R1 (largura B1)

Lembrando que 2,5 B ≥ L ≥ 1,5 B *é interessante trabalhar com sapatas retangulares.

3. Calcula-se a excentricidade “e” e faz-se o ΣM2= 0 obtendo-se o valor de R1

NOTA

* (b) menor lado

109
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

4. Com R1 real redimensiona-se a área da fundação (A) e calcula-se L1 a partir de


B1.
5. Verifica-se se B1 (passo 2) e L1 (passo 4) satisfazem a condição 2,5B ≥ L ≥ 1,5B.
Caso não satisfaça, volta-se a etapa 2 e recalcula-se B1.
6. A fundação de P2 é uma fundação isolada central que sofre alívio com emprega
da viga alavanca. Para o dimensionamento de R2:

NOTA

*Se precisar redimensionar, manter o valor de b e variar o valor de L, para


manter a excentricidade.

Entenderemos esse tipo de situação fazendo um exercício exemplo:


determine as dimensões (em planta) para as fundações destinadas ao recebimento
das cargas de P1=350kN. O pilar P1 encontra-se na extremidade de um terreno. O
desenho mostra a disposição e dimensões dos pilares.

110
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

Assumindo L=2B → B=1,15 m e L=2,3 m

B=1,15 m e L=2,35 m

111
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Carregamento excêntrico e momento em fundações: Heidemann (2015)


afirma que em muitos casos práticos, além de uma carga vertical, atua também
um momento na fundação, mostrado no desenho da Figura 24. Esse momento
pode ser aplicado por cargas aplicadas excentricamente ao eixo da sapata, por
efeito de pórtico em estruturas hiperestáticas, por cargas horizontais aplicadas à
estrutura (empuxo de terra em muros de arrimo, vento, frenagem etc.).

112
TÓPICO 1 — FUNDAÇÕES RASAS

FIGURA 24 – MOMENTO EM SAPATAS

FONTE: Heidemann (2015, p. 60)

Exemplo: considera a sapata com uma carga sobre ela excêntrica, com os
seguintes dados, determine as tensões admissíveis máxima e mínima:

Radiers: segundo a norma brasileira de fundações, NBR 6122, a expressão


radier deve ser usada apenas quando uma fundação superficial associada recebe
todos os pilares da obra. Quando uma fundação desse tipo recebe apenas uma
parte dos pilares, deve ser chamada de sapata associada. Embora, do ponto de
vista técnico, os dois tipos de fundação podem ser tratados da mesma maneira
(VELLOSO; LOPES, 2004).

Na Figura 25, são listados em ordem crescente de rigidez relativa diferentes


tipos de radiers.

113
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 25 – RADIERS: (A) LISOS, (B) COM PEDESTAIS OU EM LAJE COGUMELO, (C) NERVURA-
DOS (VIGA INVERTIDA) E (D) EM CAIXÃO

FONTE: Velloso e Lopes (2004, p. 163)

e) Disposições construtivas

Segundo a NBR 6122:

• Em planta, as sapatas ou os blocos não devem ter dimensão inferior a 60 cm.


• A base de uma fundação deve ser assente a uma profundidade tal que garanta
que o solo de apoio não seja influenciado pelos agentes atmosféricos e fluxos
d’água. Nas divisas com terrenos vizinhos, salvo quando a fundação for assente
sobre rocha, tal profundidade não deve ser inferior a 1,5 m.
• Nos terrenos com topografia acidentada, a implantação de qualquer obra e de
suas fundações deve ser feita de maneira a não impedir a utilização satisfatória
dos terrenos vizinhos.

114
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem as fundações profundas e rasas.

• Entre as fundações rasas existem diversos tipos.

• Pode-se determinar a capacidade de carga de fundações rasas.

• Os métodos apresentados para o cálculo da capacidade de carga das fundações


rasas utilizados são: teórico, semiempírico e de prova de carga.

• Cada tipo de fundação tem um dimensionamento e foram apresentadas as


fórmulas básicas para esse cálculo.

115
AUTOATIVIDADE

1 Estime a capacidade de carga de um elemento de fundação por sapata, com as


seguintes condições de solo e valores médios no bulbo de tensões (CINTRA;
AOKI, 2010).

a) argila rija (γ = 19kN/m³) com NSPT= 15


b) areia compacta (γ = 18kN/m³ e γsat = 21kN/m³) com NSPT= 30

2 Estime a capacidade de carga de um elemento de fundação por sapata


indicado na figura a seguir, considerando na segunda camada argila mole
com NSPT= 4 (CINTRA; AOKI, 2010).

- Areia compacta: γ = 18kN/m³

116
3 (Adaptado de CINTRA; AOKI, 2010) Dado o perfil representativo do terreno
a seguir, determinar a tensão admissível para o projeto das fundações
por sapatas de um edifício residencial com um subsolo, considerando
sapatas quadradas de 1 a 3 m de lado, apoiadas à cota -4 m pelo método
semiempírico.

4 Dimensionar por meio do método baseado no ensaio SPT a fundação para


a situação mostrada a seguir:

117
118
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

FUNDAÇÕES PROFUNDAS

1 INTRODUÇÃO

Como abordado na Unidade 1, as fundações profundas são utilizadas


em profundidade maior do que duas vezes a sua menor dimensão, com limite
mínimo de três metros (HEIDEMANN, 2015). Esse tipo de fundação transmite
a carga pela lateral do elemento e pela sua ponta. Logo, a resistência total (PT)
da fundação profunda é a somatória da resistência lateral (Pfuste) e resistência de
ponta (Pponta). A Figura 26 mostra, como indicado na NBR 6122, onde estão as
resistências que também podem ter outras simbologias como R para resistência
total, RL (ou Ra) para resistência lateral e RP para resistência de ponta.

FIGURA 26 – CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES PROFUNDAS

P
Carga

Fuste

Ptotal= Pponta + Pfuste

Ponta Fuste Total


Recalque
Ponta

Fonte: Heidemann (2015, p. 68)

2 TIPOS DE FUNDAÇÃO PROFUNDA


Como mencionado anteriormente, as fundações profundas podem ser
estacas, tubulões e caixões. As estacas são elementos que não dependem a descida
de operários para sua colocação. O tubulão pode ser diferenciado do caixão pelo
seu formato, sendo o primeiro cilíndrico e o segundo, um prisma (ARAÚJO, 2014).
Com relação às estacas, é possível classificá-las conforme o efeito provocado no
solo e material utilizado. As estacas podem ser fabricadas em madeira, aço,
concreto e mista, podendo ser pré-moldadas ou moldadas no solo (CAPUTO,
2017).

119
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

O Quadro 8 apresenta os tipos de estaca classificadas pelos seus respectivos


efeitos de deslocamento. Para os efeitos de deslocamento, o solo onde a estaca é
inserida se desloca na horizontal. As estacas sem deslocamento têm pouco impacto
na retirada do solo. Já os efeitos de substituição acontecem nas estacas cravadas,
retirando o solo e ocupando esse espaço com a estaca (VELLOSO; LOPES, 2010).

QUADRO 8 – ESTACAS CONFORME EFEITOS DE DESLOCAMENTO

Tipo de execução Estacas


Madeira
Pré-moldadas de concreto
Grande Tubos e aço de ponta fechada
Tipo Franki
De deslocamento
Microestacas injetadas
Perfis de aço
Pequeno Tubos de aço de ponta aberta
Estacas hélice especiais
Estacas com revestimento metálico
Sem deslocamento perdido que avança à frente da escavação
Estacas raiz
Escavadas sem revestimento ou com uso
de lama
De substituição Tipo Strauss
Estacas hélice contínua em geral
FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 182)

DICAS

Velloso e Lopes (2010) apresentam cada tipo de estaca detalhadamente, bem


como as cargas de trabalho típicas e suas dimensões. A leitura dos capítulos 10 e 11 é
recomendada.

O conhecimento dos tipos de estacas é importante, pois isso pode alterar


seu dimensionamento. A seguir citaremos alguns exemplos.

Estacas de madeira: as estacas de madeira são peças cravadas no solo, com


diâmetro variando entre 22 a 30 cm e normalmente são de aroeira, maçaranduba,
eucalipto e peroba-do-campo. Durante a execução da fundação, para preservar o
formato da estaca, utiliza-se uma ponta metálica na extremidade que penetra no
solo e no outro lado, coloca-se um anel metálico em volta da estaca para evitar
que a peça de madeira de rompa (CAPUTO, 2017). Na Figura 27, apresenta-se um
desenho esquemático da proteção para a estaca de madeira.

120
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Velloso e Lopes (2010) afirmam que no Brasil é mais comum utilizar as


estacas de madeira para obras provisórias, diferentemente da Europa e Estados
Unidos. Como vantagens, cita-se facilidade para trabalhar com o material, como
para o corte e preparação para a execução da cravação no solo.

FIGURA 27 – ELEMENTOS DE PROTEÇÃO PARA ESTACA DE MADEIRA

FONTE: Constancio (2004, p. 2)

Estaca metálica: as estacas metálicas são elementos de fundação que


podem ter diversos formatos: perfis laminados ou soldados, simples ou
múltiplos, tubos ou trilhos (CAPUTO, 2017). Como indicado na Figura 28, as
estacas metálicas podem apresentar para as seções transversais o formato (a)
perfil de chapas soldadas, (b) perfil I laminado ou associados (duplo), (c) perfil
tipo cantoneira, associados (duplo), (d) tubular, (e) trilhos associados (duplo) e (f)
trilhos associados triplos.

FIGURA 28 – FORMATOS DE ESTACA METÁLICA

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 192)

121
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Além do aço, pode-se acrescentar cobre na composição da estaca para


oferecer resistência à corrosão. Como vantagens, Velloso e Lopes (2010) citam
a variedade de formatos, o que possibilidade maior adaptação conforme
necessidade, facilidade em transporte e manuseio e de cravação, pois podem
ultrapassar camadas mais resistentes sem ruptura, quando comparadas às estacas
de madeira ou concreto pré-moldado. Uma das desvantagens é o valor elevado
do elemento. A Figura 29 mostra um exemplo de estaca metálica cravada no solo.

FIGURA 29 – ESTACAS METÁLICAS

FONTE: Pereira (2019, s.p.)

Estaca de concreto: esse tipo de fundação pode ser concreto armado ou


protendido, fabricados por vibração ou centrifugação. Os formatos mais comuns
estão indicados na Figura 30, com as seções transversais típicas (a até d) e a seção
longitudinal com armadura típica (e).

FIGURA 30 – ESTACAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 198)

122
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Quando comparadas com as estacas de concreto moldadas in loco, as


estacas pré-moldadas têm a vantagem do controle de qualidade no concreto
e garantir mais segurança na passagem por solos moles. Como a principal
desvantagem, se a profundidade do solo não for verificada corretamente, podem
ocorrer problemas para cortar ou emendar a estaca de concreto (VELLOSO;
LOPES, 2010).

Estacas de concreto moldadas no solo: a estaca moldada no local da obra


tem a vantagem de ser concretada no comprimento que necessário e passar
por camadas resistentes. Como comentado na estaca pré-moldada, a qualidade
do concreto pode ser inferior, exigindo equipe experiente para a execução
(HEIDEMANN, 2015).

Conforme apresenta Caputo (2017), vários são os tipos da estaca moldada


in situ (no local): estaca simples, estaca Franki, estaca escavada com uso de fluido
estabilizante, estaca escavada com trado mecânico (sem fluido estabilizante), estaca
raiz, estaca com injeção (ou microestacas), Estaca hélice contínua monitorada e
Estaca hélice de deslocamento monitorado.

As estacas são dimensionadas conforme o tamanho da área da sua seção,


da carga usual, carga máxima e o tamanho máximo do seu comprimento. A
técnica construtiva também faz diferença, ou seja, se a estaca é pré-moldada ou
moldada in loco.

3 TEORIA DA CAPACIDADE DE CARGA


Sabendo que as fundações transmitem para o solo a carga da estrutura
que estão “segurando”, é preciso que esse solo aguente esse carregamento.
A determinação da capacidade de carga do solo uma etapa importante para o
projeto de fundações e existem muitas fórmulas para isso. Pela importância do
seu uso, abordaremos principalmente sobre as estacas.

Cintra e Aoki (2011, p. 11) definem a capacidade de carga como “o valor


da força correspondente à máxima resistência que o sistema pode oferecer ou do
valor representativo da condição de ruptura do sistema”.

E
IMPORTANT

Ruptura aqui não significa quebra da estrutura, mas está relacionado ao


recalque constante de uma estaca, que só para quando a carga aplicada é diminuída.

123
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Como mencionamos, a capacidade de carga para as fundações profundas


deve levar em consideração a capacidade de carga da base ou ponta (RP) e a parcela
de carga absorvida pelo atrito ao longo da sua superfície lateral (Ra) (CAPUTO,
2017). A equação a seguir indica a capacidade de carga sendo a soma dessas duas
componentes.

Para estacas pequenas de comprimento, a reação de ponta predomina,


enquanto para estacas mais longas é o oposto. Se a estaca tem apenas o efeito
lateral, chama-se estaca flutuante.

Para uma fundação profunda, como estacas isoladas, Caputo (2017) explica
que a capacidade de carga pode ser calculada por métodos estáticos (teóricos ou
empíricos), analíticos ou provas de carga, semelhante às fundações rasas. Para
estacas em grupo, a capacidade de carga é calculada em função do comprimento,
diâmetro das estacas bem como da distância entre estacas e do tipo de solo em
que a fundação está inserida.

A resistência lateral é definida pela multiplicação da área lateral da estaca


pela resistência de atrito lateral. A resistência de ponta é a multiplicação da área
da ponta da estaca pela tensão de ruptura na ponta da estaca.

Em que:

A�= área lateral da estaca;


Ap= área da ponta da estaca;
fs = resistência de atrito lateral;
σrup= tensão de ruptura na ponta da estaca.

Os métodos para o cálculo da capacidade de carga serão apresentados a


seguir, separados pelo tipo de fundação e as teorias mais importantes serão mais
detalhadas.

Capacidade de carga para estacas

Várias fórmulas e métodos foram elaborados para determinar a


capacidade de cargas.

124
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Métodos estáticos: utiliza equações que foram obtidas por meio de


ensaios e laboratório ou in situ, separados por métodos racionais ou teóricos e
semiempíricos. Velloso e Lopes (2010) esclarecem que os métodos racionais
abordam soluções teóricas de capacidade de carga e parâmetros do solo. Os
métodos semiempíricos utilizam ensaios feitos de penetração em campo, como
o CPT e o SPT.

NOTA

Lembra que vimos esses ensaios na Unidade 1? Se preciso, volte e revise esse
conteúdo.

Velloso e Lopes (2010) lembram que ainda existem os métodos empíricos,


que avaliam a capacidade de carga baseado nas camadas de solo que a fundação
atravessa. Os autores afirmam que o método empírico é mais grosseiro, sendo
levado em conta apenas como uma estimativa.

De forma geral, os métodos estáticos consideram o equilíbrio entre a carga


aplicada, o peso próprio da fundação (estaca ou tubulão) e a resistência oferecida
pelo solo (REBELLO; VELOSO, 2010). Entre os métodos estáticos, veremos os
métodos analíticos e os semiempíricos (Aoki e Velloso; Decourt e Quaresma)

a) Métodos analíticos: a teoria de capacidade de carga de Terzaghi determina


a tensão de ruptura do solo, considerando que as resistências de ponta (RP) e
lateral (RL) são calculadas pelas seguintes fórmulas (CAPUTO, 2017).

Em que:

Ap = área de ponta da estaca;


c' = coesão do solo no qual encontra-se apoiada à estaca;
γ'= peso específico aparente natural do(s) solo(s) ao longo da profundidade
de instalação da estaca;
γ'b= peso específico aparente natural do solo que ocorre sob a base da estaca;
B = diâmetro da estaca;
Nc ,Nq ,Nγ – fatores de carga (Terzaghi, Brinch Hansen, Vesic).

125
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Para completar a fórmula da resistência de ponta (RP), precisamos de


parâmetros da estaca e do solo. Para a variável N, correspondente aos fatores de
carga, os valores são tabelados e devem ser escolhidos de acordo com o ângulo de
atrito (φ’) do solo que suporta a fundação, apresentados na Tabela 2. A diferença
entre os parâmetros é entre a ruptura: para Nc, Nq, Ny é ruptura geral para solos
de elevada resistência; para N’c, N’q, N’y é ruptura local para solos de baixa
resistência (VELLOSO; LOPES, 2010).

TABELA 2 – FATORES DE CAPACIDADE DE CARGA

∅’ (◦) Nc Nq Nγ N’c N’q N’γ


0 5,7 1,0 0 5,7 1,0 0
5 7,3 1,6 0,5 6,7 1,4 0,2
10 9,6 2,7 1,2 8,0 1,9 0,5
15 12,9 4,4 2,5 9,7 2,7 0,9
20 17,7 7,4 5,0 11,8 3,9 1,7
25 25,1 12,7 9,7 14,8 5,6 3,2
30 37,2 22,5 19,7 19,0 8,3 5,7
35 57,8 41,4 42,4 25,2 12,6 10,1
40 95,7 81,3 100,4 34,9 20,5 18,8
45 172,3 173,3 297,5 51,2 35,1 37,7
FONTE: Heidemann (2015, p. 79)

Heidemann (2005) lembra que existem outras equações para os métodos


analíticos como Meyerhof (1953), Berezantzev et al. (1961), Vésic (1972), que
trazem fatores de carga específicos. Para a resistência lateral, Velloso e Lopes
(2010) apresentam a seguinte equação:

Em que:

U= perímetro da estaca
τ�= resistência ao cisalhamento entre o solo e o fuste da estaca
L= comprimento da estaca com atrito lateral τ�
τ� = tensão efetiva horizontal
δ= ângulo de atrito ente solo e estaca ao longo do comprimento L da estaca
a= adesão entre solo e estaca

126
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Para o cálculo da variável resistência ao cisalhamento entre o solo e o fuste


da estaca, pode-se utilizar a equação proposta por Meyerhof (VELLOSO; LOPES,
2010) para solos granulares, quando a adesão entre o solo e a estaca é nulo (a=0)

Em que:

Ks= coeficiente de empuxo horizontal após a execução da estaca.

O valor para o coeficiente de empuxo (Ks) pode ser encontrado na Tabela


3. O ângulo de atrito entre solo e estaca (δ) pode ser considerado igual ao ângulo
de atrito do solo para estacas com rugosidade normal (VELLOSO; LOPES, 2010).

TABELA 3 – VALORES PARA KS E Δ


Tipo de estaca Ks δ
Solo fofo Solo denso
Aço 0,5 1 20º-30º
Concreto 1,0 2 3/4 ∅’
Madeira 1,5 3 2/3 ∅’

FONTE: Cintra e Aoki (2010, p. 21)

b) Métodos semiempíricos

Aoki e Velloso: de acordo com Caputo (2017), esse método foi elaborado
como resultado de uma comparação entre as provas de carga em estacas e os
dados do ensaio SPT ou CPT. A resistência de ponta é definida por:

Em que:

qc = resistência da ponta do ensaio de cone


K = fator de correção entre qc e o índice à penetração (Nspt), função do Solo
(Tabela 4)
N = índice de resistência a penetração (Nspt)
Ap= área da seção transversal da ponta da estaca
F1 = fator de transformação que engloba o tipo de estaca e o tipo de escala
entre a estaca (protótipo) e o cone do CPT (modelo) (Tabela 5)

127
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Enquanto a resistência por atrito lateral é dada por:

Em que:

qc= resistência da ponta do ensaio de cone


F2= fator de transformação que engloba o tipo de estaca e o efeito de escala
entre a estaca (protótipo) e o cone do CPT (modelo) (Tabela 5).
α = fator que correlaciona a resistência lateral fs com a resistência de ponta
qc (Tabela 4)
K= fator de correção entre qc e o índice à penetração (Nspt), função do Solo
(Tabela 4)
NL= índice de resistência a penetração (Nspt) no metro analisado
U = perímetro da estaca

Para completar as resistências pelo método de Aoki-Velloso, seguem as


tabelas com os valores dos parâmetros.

TABELA 4 – VALORES DE K E A PARA O MÉTODO DE AOKI E VELLOSO


Tipo de solo K (MPa) α(%)
Areia 1,00 1,4
Areia siltosa 0,80 2,0
Areia silto-argilosa 0,70 2,4
Areia argilosa 0,60 3,0
Areia argilo-siltosa 0,50 2,8
Silte 0,40 3,0
Silte arenoso 0,55 2,2
Silte areno-argiloso 0,45 2,8
Silte argiloso 0,23 3,4
Silte argilo-arenoso 0,25 3,0
Argila 0,20 6,0
Argila arenosa 0,35 2,4
Argila areno-siltosa 0,30 2,8
Argila siltosa 0,22 4,0
Argila silto-arenosa 0,33 3,0
FONTE: Adaptado de Caputo (2017, p. 336)

128
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

TABELA 5 – VALORES DE F1 E F2 PARA O MÉTODO DE AOKI E VELLOSO

Tipos de estaca F1 F2
Franki 2,5 5,0
Metálica 1,75 3,5
Pré-moldada de concreto 1,75 3,5
Escavada 3,0 6,0
Hélice/Raiz/Ômega 2,0 4,0
FONTE: Caputo (2017, p. 336)

Logo, Heidemann (2015) define a carga de ruptura como (Rrup)

Para aumentar a segurança, a NBR 6122 sugere utilizar um fator de


segurança no valor de 2, encontrando a carga admissível (Radm)

Decourt e Quaresma: nesse método, a capacidade de carga das estacas


é determinada pelo resultado do ensaio SPT e a carga de ruptura tem a mesma
equação de Aoki-Velloso (CAPUTO, 2017).

Para a carga admissível, o método apresenta um valor de segurança para


cada parcela da equação, sugerindo que FSP=4 e FSL=1,3:

Para completar as fórmulas, precisamos dos valores de resistência de ponta


(Rp) e resistência lateral (Rl). Heidemann (2015) indica as equações acrescentando
os valores de a e β, que foram incluídas por Décourt, posteriormente, para que as
fórmulas pudessem ser utilizadas para qualquer tipo de estaca.

129
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Em que:

Np= média entre o valor correspondente à ponta da estaca, o imediatamente


inferior e o imediatamente superior
C= fator de carga (Tabela 6)
Ap= área da seção transversal da ponta da estaca
α = coeficiente em função do tipo de estaca e tipo de solo (Tabela 7)

A Tabela 6 apresenta os valores de C (fator de carga) para a resistência de


ponta, conforme o tipo de solo.

TABELA 6 – VALORES PARA O FATOR C

Tipo de solo C (kPa)


Argilas 120
Silte argiloso (solo residual) 200
Silte arenoso (solo residual) 250
Areia 400
FONTE: Adaptado de Caputo (2017, p. 337)

Para o atrito lateral:

Sendo rl:

Em que:

Nl= resistência a penetração SPT na lateral da estaca no trecho analisado


Δl=comprimento do trecho analisado
U= perímetro da estaca

Para determinar Nl:

Se Nspt<3 assume-se N=3


Se Nspt>50 assume-se N=50

A Tabela 7 e a Tabela 8 apresentam os valores para os coeficientes a e β.


Para estacas cravadas, a e β serão igual a 1,0.

130
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

TABELA 7 – VALORES TÍPICOS PARA A


Tipos de estaca
Tipos de solo Escavada Hélice Injetada sob
Escavada em geral Raiz
(bentonita) contínua altas pressões
Argilas 0,85 0,85 1,0 1,5 1,0
Solos
0,60 0,60 0,30 0,60 1,0
intermediários
Areias 0,50 0,50 0,30 0,50 1,0
FONTE: Heidemann (2015, p. 84)

TABELA 8 – VALORES TÍPICOS PARA Β

Tipos de estaca
Tipos de solo Escavada Escavada Hélice Injetada sob
Raiz
em geral (bentonita) contínua altas pressões
Argilas 0,80 0,90 1,0 1,5 3,0
Solos
0,65 0,75 1,0 1,5 3,0
intermediários
Areias 0,50 0,60 1,0 1,5 3,0

FONTE: Heidemann (2015, p. 84)

Exemplo: determinar a capacidade de carga de uma estaca (ou conjunto


de estacas) pré-moldada(s) de concreto armado para o perfil de solo da Figura 31.
A carga advinda da superestrutura é de 450 kN (MARINHO, 2019).

FIGURA 31 – PERFIL PARA EXEMPLO

Areia argilosa

Argila arenosa

Argila areno-siltosa

Fonte: Marinho (2019, s.p.)

131
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

1. Escolha das estacas: primeiramente, é preciso determinar o tipo de estaca e


suas dimensões.

O enunciado determina a utilização de estaca(s) pré-moldadas de


concreto. A partir disso, observando os vários subtipos de estaca pré-moldada
de concreto na Tabela 9, escolhe-se um dos modelos, levando em consideração
o custo e a carga usual. É preciso optar por uma estaca que suporte a carga, sem
superdimensionamento, mas mantendo a segurança.

TABELA 9 – MODELOS DE ESTACAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO

Tipo de estaca Dimensão (cm) Carga usual (KN)


20x20 250
25x25 400
Vibrada quadrada
30x30 550
35x35 800
∅20 300
Vibrada circular ∅29 500
∅33 700
∅20 250
Protendida circular ∅25 500
∅33 700
FONTE: Marinho (2019, s.p.)

De acordo com a Tabela 9, pode-se escolher, por exemplo, duas estacas do


tipo vibrada quadrada de tamanho 20 cm x 20 cm, que suporta a carga e 450KN.
Será escolhida a estaca vibrada quadrada 30 cm x 30 cm, para que seja necessário
a cravação de apenas uma estaca.

Utilizando o método Aoki-velloso, a Tabela 5 apresenta os valores de
transformação, que, nesse caso, serão:

F1= 1,75
F2= 3,50

Observando o perfil do solo na Figura 31, o local para implantação da


estaca apresenta três tipos de solo: areia argilosa, argila arenosa e argila areno-
siltosa. Como apresentado na Tabela 4, os valores do fator de correção (K) e os
valores de fator de correlação entre a resistência lateral e de ponta (α) para o solo
do exemplo estão indicados na Tabela 10.

132
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

TABELA 10 – VALORES DE K E Α PARA O EXEMPLO

Tipo de solo K (MPa) α (%)


Areia argilosa 0,60 3,0
Argila arenosa 0,35 2,4
Argila areno-siltosa 0,30 2,8
FONTE: Marinho (2019, s.p.)

Lembrando as fórmulas para o método de Aoki-Velloso:

Carga de ruptura:

Resistência de ponta:

Resistência lateral:

Agora, é preciso identificar qual a profundidade necessária para a estaca


suportar a carga. Para cada metro de solo, é preciso calcular as resistências. Assim,
para organizar melhor os cálculos, sugere-se que seja elaborada uma tabela que
contenha os resultados dos cálculos.

A primeira tabela tem os dados da resistência de ponta (Rp), na Tabela 11.

TABELA 11 – CÁLCULO DA RESISTÊNCIA DE PONTA

Prof (m) Nspt F1 K(KN/cm²) Ap (cm²) Rp( KN)


1 3 1,75 0,06 900 92,57
2 3 1,75 0,06 900 92,57
3 5 1,75 0,06 900 154,29
4 6 1,75 0,035 900 108,00
5 8 1,75 0,035 900 144,00
6 13 1,75 0,035 900 234,00
7 17 1,75 0,035 900 306,00
8 25 1,75 0,035 900 450,00
9 27 1,75 0,03 900 416,57
10 32 1,75 0,03 900 493,71
11 36 1,75 0,03 900 555,43
FONTE: Marinho (2019, s.p.)

133
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Para o cálculo da resistência lateral, a Tabela 12 mostra os valores para


cada metro de profundidade.

TABELA 12 – CÁLCULO DA RESISTÊNCIA LATERAL

PL unitária PL acumulada
Prof (m) Nspt F2 K(KN/cm²) α Perímetro
(KN) (KN)
1 3 3,5 0,06 3% 120 cm 18,51 18,51
2 3 3,5 0,06 3% 120 cm 18,51 37,03
3 5 3,5 0,06 3% 120 cm 30,86 67,89
4 6 3,5 0,035 2,4% 120 cm 17,28 85,17
5 8 3,5 0,035 2,4% 120 cm 23,04 108,21
6 13 3,5 0,035 2,4% 120 cm 37,44 145,65
7 17 3,5 0,035 2,4% 120 cm 48,96 194,61
8 25 3,5 0,035 2,4% 120 cm 72,00 266,61
9 27 3,5 0,03 2,8% 120 cm 77,76 344,37
10 32 3,5 0,03 2,8% 120 cm 92,16 436,53
11 36 3,5 0,03 2,8% 120 cm 103,68 540,21
FONTE: Marinho (2019, s.p.)

Depois de calculadas as resistências de ponta e lateral para cada metro


de profundidade, somamos os valores para encontrar a capacidade de carga,
indicados na Tabela 13.

TABELA 13 – CAPACIDADE DE CARGA

Prof (m) PP (KN) PL acumulada (KN) Pr ( KN)


1 92,57 18,51 111,09
2 92,57 37,03 129,60
3 154,29 67,89 222,17
4 108,00 85,17 193,17
5 144,00 108,21 252,21
6 234,00 145,65 379,65
7 306,00 194,61 500,61
8 450,00 266,61 716,61
9 416,57 344,37 760,94
10 493,71 436,53 930,24
11 555,43 540,21 1095,63
FONTE: Marinho (2019, s.p.)

Segundo a NBR 6122, deve ser considerado um fator de segurança para


o cálculo da capacidade de carga no valor de 2,0. A Tabela 14 mostra os valores
encontrados.

134
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

TABELA 14 – CAPACIDADE DE CARGA COM FATOR DE SEGURANÇA

Prof (m) Pr ( KN) Padm ( KN)


1 111,09 55,54
2 129,60 64,80
3 222,17 111,09
4 193,17 96,58
5 252,21 126,10
6 379,65 189,82
7 500,61 250,30
8 716,61 358,30
9 760,94 380,47
10 930,24 465,12
11 1095,63 547,82
FONTE: Marinho (2019, s.p.)

Resultado: utilizando o método de Aoki-Velloso, seria necessária uma


estaca pré-moldada de 30 cm x 30 cm com 10 m de profundidade para garantir
uma transmissão de 465,12 KN ao solo, valor superior aos 450 KN advindos da
superestrutura. Ou seja, nessa profundidade, considerando o fator de segurança,
a estaca suportaria o valor de 450KN que a estrutura transmite para a fundação,
mais 15,12 KN.

Com o método de Decourt e Quaresma, o procedimento de cálculo é


o mesmo, alterando as fórmulas para as resistências de ponta e lateral. Dessa
forma, escolhendo a mesma estaca pré-moldada de 30 cm x 30 cm, seria preciso
uma profundidade de 11 metros para garantir uma transmissão de 511,16 KN ao
solo, valor que ultrapassa a necessidade de 450 KN do enunciado do exemplo.

Capacidade de carga para tubulões

Enquanto as estacas apresentam resistência de ponta e de fuste (lateral),


para os tubulões pode ser considerada apenas a parcela da capacidade de carga da
base (ponta). A seguir, serão apresentados os métodos: empírico e semiempírico
de Aoki e Velloso e Decourt e Quaresma.

Método empírico: assim como para as fundações rasas, o método


empírico utiliza os dados do ensaio SPT para determinar a tensão admissível
(HEIDEMANN, 2015)

Em que:

135
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Nspt= é a média de valores de Nspt na profunidade 2B abaixo da base do


tubulão (B=base do tubulão) ou o valor de Nspt na base quando este é o menor
contido pelo bulbo q= é a tensão efetiva aplicada na cota da base do tubulão.

Método semiempírico: para os métodos semiempíricos, apresentam-se


equações específicas para tubulões de Aoki e Velloso e Decourt e Quarema.

Aoki e Velloso determinam que a tensão de ruptura na base do tubulão


pode ser calculada por (VELLOSO; LOPES, 2010).

Em que:

Nspt= é a média de valores de Nspt na profunidade 2B abaixo da base do


tubulão (B=base do tubulão)
K= coeficiente que depende do tipo de solo (Tabela 4).

Considera-se um fator de segurança igual a 2 com tensão admissível sendo

Para Decourt e Quaresma, a tensão de ruptura na base é:

Em que:

Nspt= é a média de valores de Nspt na profunidade 2B abaixo da base do


tubulão (B=base do tubulão)
C= é um fator característico do solo (Tabela 6)
α= é um coeficiente de redução (Tabela 7)

A tensão admissível para os dois métodos é dada pela equação:

Para Aoki e Velloso, considera-se o fator de segurança igual a 2 e para


Decourt e Quaresma o valor é 4.

Provas de carga estática: a NBR 12131/2006 (ABNT, 2006) aborda a prova


de carga estática para estacas e tubulões, definindo o ensaio como a aplicação
de esforços estáticos à fundação e verificação dos respectivos deslocamentos. A
Figura 32 mostra o gráfico para determinar a carga de ruptura por prova de carga
estática.

136
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

FIGURA 32 – DETERMINAÇÃO DA CARGA DE RUPTURA

FONTE: Heidemann (2015, p. 87)

O ensaio é ilustrado na curva, até o momento de ruptura e resulta na


equação:

Em que:

Δr= recalque de ruptura convencional


D= diâmetro da estaca
R= carga de ruptura convencional
L= comprimento
A= área da seção da estaca
E= módulo de elasticidade da estaca
Em relação ao módulo de elasticidade, pode-se estimá-lo por
, sendo fck na unidade MPa.

4 DIMENSIONAMENTO
O dimensionamento é elaborado de acordo com o tipo de fundação
profunda. A seguir, serão detalhados os cálculos para as estacas e para os blocos
de coroamento (para 1 e para 2 estacas).

137
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

4.1 DIMENSIONAMENTO DE ESTACAS


Podemos pensar em três situações: a fundação receberá a carga de apenas
um pilar isolado, o pilar que transmite a carga é um pilar de divisa (quando o
pilar está na extremidade do terreno e não pode ter a fundação centralizada nele)
e a associação de pilares próximos. Para cada caso, devemos fazer considerações
diferentes, segundo Constancio (2004).

a) Pilar isolado: a quantidade de estacas (n) para esse caso é estabelecida conforme
a equação (CONSTANCIO, 2004).

Em que:

N= número de estacas
P= carga de pilar
Pe= carga de trabalho da estaca
1,10= coeficiente onde leva em conta o peso próprio da estaca

Pilar de divisa: a Figura 33 ilustra o pilar de divisa (P1) que tem sua
fundação dimensionada pelos seguintes parâmetros para determinar o número
de estacas para a sua fundação (1) e para a fundação ao lado (2).

Em que:

b0= menor dimensão do pilar


l= distância entre os centros dos pilares

Em que:

138
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

FIGURA 33 – FUNDAÇÃO EM PILAR DE DIVISA

FONTE: Constancio (2004, p. 30)

Não é indicado que sejam utilizadas estacas de diâmetros diferentes para


o mesmo bloco. O parâmetro “a”, indicado na Figura 33, é tabelado conforme
o fabricante da estaca, alterando o valor da excentricidade (e), que pode ser
minimizado alinhando as estacas (para no máximo 4 estacas) (CONSTANCIO,
2004). Alguns valores de referência podem ser encontrados na Tabela 15.

139
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

TABELA 15 – VALORES DE REFERÊNCIA PARA DIMENSIONAMENTO DE ESTACAS

Seção Transversal Comprimento


Tipo de estaca Carga (KN) d (m) a (m)
(cm) normal (m)
15 x 15 150 0,60 0,30 3a8
20x 20 200 0,60 0,30 3 a 12
Pré-moldada 25 x 25 300 0,65 0,35 3 a 12
fuste quadrado 30 x 30 400 0,75 0,40 3 a 12
35 x 35 500 0,90 0,40 3 a 12
40 x 40 700 1,00 0,50 3 a 12
∅20 200 0,60 0,30 4 a 10
∅25 300 0,65 0,30 4 a 14
Pré-moldada ∅30 400 0,75 0,35 4 a 16
fuste circular ∅35 550 0,90 0,40 4 a 16
∅40 700 1,00 0,50 4 a 16
∅50 1000 1,30 0,50 4 a 16
∅60 1500 1,50 0,50 4 a 16
FONTE: Alonso (2001, p. 74)

Exemplo: para os pilares da Figura 34, dimensionar a fundação profunda


utilizando estacas pré-moldadas de concreto com diâmetro de 35 cm e carga
usual de 55 tf (CONSTANCIO, 2004):

FIGURA 34 – DESENHO ESQUEMÁTICO DE PILAR DE DIVISA

FONTE: Constancio (2004, p. 37)

140
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

NOTA

As unidades de força estão em toneladas-força. Lembrando a conversão de


unidades: 1 KN= 0,10 tf.

Dimensionamento do Pilar 1:

a=0,40m (Tabela 15)

141
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Dimensionamento do Pilar 2:

142
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

c) Associação de pilares: se um mesmo bloco recebe mais de dois pilares, chama-


se associação de pilares. Para esse caso, Constancio (2004) sugere que o ponto
de aplicação da resultante das cargas coincida com o centro de gravidade (CG)
do bloco, como mostra a Figura 35.

FIGURA 35 – ASSOCIAÇÃO DE PILARES

FONTE: Constancio (2004, p. 31)

A quantidade de estacas é calculada por:

Exemplo: utilizando os dados do exemplo anterior, considerando os


pilares da Figura 34 para encontrar o número de estacas e a distância de centro
de gravidade:

4.2 DIMENSIONAMENTO DE BLOCOS DE COROAMENTO


PARA FUNDAÇÕES PROFUNDAS
Rebello (2008) lembra que as fundações diretas, como o nome diz,
transmitem as cargas da superestrutura para o solo diretamente pelo elemento de
fundação. Para as fundações profundas, é preciso ter um elemento de ligação entre

143
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

a superestrutura (pilar) e a estaca, por exemplo, chamado de bloco de fundação


ou bloco de coroamento. A NBR 6118:2014 regulamenta a construção dos blocos,
representado no desenho da Figura 36, que pode ser tanto para estacas, como
para tubulão.

FIGURA 36 – BLOCO DE FUNDAÇÕES

FONTE: Bastos (2017, p. 5)

O dimensionamento dos blocos será visto a seguir, separado por número


de estacas que chegam ao elemento de ligação. Será utilizado o método das
bielas, que é o mais usual, como afirma Caputo (2017). Esse método pode ser
aplicado somente para bloco rígidos. Como indica a NBR 6118, o bloco pode ser
considerado rígido se a seguinte expressão for verificada.

Do contrário, o bloco é considerado flexível, de forma semelhante às


sapatas.

Bastos (2017) explica que o método das bielas consiste em admitir que
exista uma treliça para o bloco formada por bielas e tirantes. As barras tracionadas
(tirantes) estão na posição horizontal e as barras comprimidas e inclinadas (bielas)
estão entre a interseção com as estacas e a interseção com o pilar. Conforme
Heidemann (2015), as bielas comprimidas transmitem a carga da base do pilar,
para o topo do bloco, até o topo das estacas. Para isso, o bloco precisa ter altura
suficiente e a biela deve ter inclinação mínima de 45°. A Figura 37 ilustra a biela
na cor vermelha e o tirante na cor verde.

144
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

FIGURA 37 – DESENHO DAS BIELAS E TIRANTES NUM BLOCO

FONTE: Heidemann (2015, p. 112)

Conforme explica Bastos (2017), a quantidade de estacas por bloco


dependerá da capacidade de carga da estaca, da característica do solo e do
tipo de construção. Para estruturas menores, como casas térreas ou sobrados,
normalmente podem ter apenas duas estacas por bloco. Para construções
maiores, como edifícios de vários pavimentos, geralmente utilizam-se mais de
duas estacas.

ATENCAO

O detalhamento das fórmulas do método das bielas pode ser encontrado no


livro de Rebello (2008) e, de forma resumida, em Heidemann (2015). O material de Rebello
(2008) apresenta algumas considerações sobre o posicionamento de estacas nos blocos.
Para entender melhor esse conteúdo, sugere-se a leitura do Capítulo 11: Blocos sobre
estacas e tubulões – blocos de fundações.

Bloco para 1 estaca: para a utilização de apenas uma estaca, Rebello (2008)
indica a distância mínima de 1,0 metro entre o eixo da estaca e as laterais do
bloco. A Figura 38 apresenta os estribos que compõem a armadura para o bloco
sobre uma estaca.

De acordo com Bastos (2017), a força de tração (Td) é determinada por:

145
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Para o cálculo da armadura, a área da armadura é:

com , sendo γs=1,15 (coeficiente de minoração do aço).

FIGURA 38 – DETALHAMENTO DA ARMADURA DO BLOCO PARA UMA ESTACA

FONTE: Bastos (2017, p. 3)

A Figura 39 sugere as dimensões mínimas para o bloco sobre uma estaca.


Para simplificar o cálculo, estima-se que os estribos verticais e horizontais
apresentem a mesma área.

146
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

FIGURA 39 – DIMENSÕES MÍNIMAS DO BLOCO

FONTE: Bastos (2017, p. 3-4)

Bloco para 2 estacas: para um bloco sobre duas estacas, a Figura 40 mostra
a biela comprimida e as forças que atuam.

FIGURA 40 – BLOCO SOBRE DUAS ESTACAS

FONTE: Bastos (2017, p. 5)

147
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Segundo Heidemann (2015), a força de tração na amadura principal (Rs)


é:

A carga na biela (Rc) é:

Considerando que o ângulo limite esteja entre 45 e 55◦, a relação da altura


útil do bloco é:

A soma da altura útil (d) e do cobrimento (d’) resulta na altura total do


bloco (h):

Sendo que

Além desses parâmetros, recomenda-se avaliar a resistência da treliça,


ou seja, a resistência à compressão da biela e a resistência à tração dos tirantes.
Heidemann (2015) indica que se deve considerar que as tensões atuantes nas
seções do pilar e da estaca devem ser menores do que a tensão de esmagamento
do concreto.

148
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

Em que:

Ap= área do pilar


Ae= área da estaca
Kr= 0,9 a 0,95 – coeficiente que leva em consideração a perda de resistência
do concreto ao longo do tempo devido às cargas permanentes (efeito Rüsch).

O cálculo das armaduras pode ser feito para a armadura principal, pela
seguinte equação:

Segundo a NBR 6118, deve-se colocar armaduras laterais e superiores para


blocos com duas ou mais estacas em uma única linha. Para a armadura superior,
pode ser considerada como uma parcela de 20% da armadura principal. A Figura
41 apresenta as armaduras e para cada face, a armadura de pele e estribos verticais
são calculados por:

Em que:

B= largura do bloco (cm)


O espaçamento da armadura de pele (Sp) é

Considera-se para os estribos verticais:

149
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 41 – DESENHO DAS ARMADURAS

FONTE: Heidemann (2015, p. 116)

A seguir, na Figura 42 e Figura 43, ilustram-se blocos com mais de duas


estacas.

DICAS

Se você quer saber como se calcula um bloco para mais estacas, sugere-se a
leitura de Bastos (2017).

150
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES PROFUNDAS

FIGURA 42 – BLOCO SOBRE TRÊS ESTACAS

FONTE: Bastos (2017, p. 11)

FIGURA 43 – BLOCO SOBRE QUATRO ESTACAS

FONTE: Bastos (2017, p. 17)

151
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem vários tipos de estacas conforme seu material de fabricação e forma de


execução.

• Pode-se dimensionar o número de estacas de acordo com a carga transmitida.

• As estacas podem receber as cargas por meio de um bloco chamado de bloco


de fundações ou coroamento.

• O dimensionamento pode ser feito pelo método das bielas.

152
AUTOATIVIDADE

1 Considerando estacas pré-moldadas de concreto centrifugado, com


diâmetro de 0,33 m, carga de catálogo de 750 KN e comprimento de 12 m,
cravas em local cuja sondagem com Nspt é representada na figura a seguir,
com a ponta na cota -13 m, fazer a previsão de capacidade de carga dessa
fundação utilizando o método de Aoki-Velloso.

Areia fina a média,


argilosa, marrom
(sedimento cenozóico)
Formação Rio Claro

Linha de seixos

Areia fina, argilosa,


avermelhada
(solo residual)

Areia argilosa, variegada


(saprolito de arenito)
Formação Itaqueri

Silte argiloso, variegado


(saprolito de basalto)
Formação Serra Geral

153
154
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

RECALQUE

1 INTRODUÇÃO

Muitos recalques ocorreram em edificações que acabaram se tornando


conhecidas por estarem fora do prumo. Um recalque muito conhecido é o da
Torre de Pisa (Figura 44), que possui 58 metros de altura, que por seu desaprumo
se tornou um dos pontos turísticos mais visitados na Itália. Ela apresentava até
1990 uma inclinação atingindo 4,5m e então foi interditada para uma reparação
que foi concluída em 2001. Outro famoso exemplo é dos edifícios da Cidade do
México, que chegam a atingir cerca de 2 metros de recalque, como por exemplo,
o Palácio de Belas Artes. No Brasil o caso mais conhecido, são os edifícios de
Santos/SP (CINTRA; AOKI, 2010).

FIGURA 44 – CASOS DE RECALQUE EM ESTRUTURAS: (A) TORRE DE PISA – ITÁLIA; (B) PALÁCIO
DE BELAS ARTES – MÉXICO; (C) EDIFÍCIO DE SANTOS – BRASIL

(a) (b) (c)


FONTE: Mundo Estranho (2018) FONTE: Barros (2016) FONTE: Barros (2016)

Segundo Cintra e Aoki (2010), a maioria dos edifícios sofrem recalque de


poucas dezenas de milímetros, normalmente invisível a olho nu. Por isso, deve
fazer parte da rotina de projetos de fundações a estimativa dos recalques, e, mais
do que isso, a adequação do projeto para que os recalques sejam inferiores aos
valores admissíveis.

Cintra e Aoki (2010) definem como recalque de uma sapata, o deslocamento


vertical para baixo, da base da sapata em relação a uma referência fixa.

155
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Os recalques são a resposta natural do solo ao carregamento, mas algumas


intervenções podem provocar recalques excessivos ou aumentar a velocidade de
recalques naturais.

• Rebaixamento do lençol freático.


• Solos colapsíveis.
• Escavações em áreas adjacentes às fundações.
• Vibrações.
• Escavação de túneis.

No caso da Torre de Pisa, o recalque foi causado por sua fundação ser
do tipo superficial, acentuada sobre um solo heterogêneo. Na cidade do México,
os recalques foram causados devido à sobrecarga do solo e à modificação do
regime hidrológico. A cidade do México foi fundada sobre uma camada de argila
muito mole com mais de 30 metros, causando uma condição muito difícil para a
execução de fundações (CAPUTO, 2017).

2 TIPOS DE RECALQUE
• Recalque em fundações rasas: de acordo com Caputo (2017), a superposição
de bulbos de pressão é também uma das causas de recalques (caso típico da
cidade de Santos/SP). A Figura 45 refere-se ao caso de construções simultâneas
e a construções sucessivas. Em todos os dois casos, o aparecimento de recalque
poderá ser atribuído à superposição de tensões.

FIGURA 45 – CASOS DE SUPERPOSIÇÃO DE TENSÕES EM FUNDAÇÕES. (A) CONSTRUÇÕES


SIMULTÂNEAS; (B) CONSTRUÇÕES SUCESSIVAS

(a) (b)
FONTE: Caputo (2017, p. 405)

156
TÓPICO 3 — RECALQUE

Além do recalque total (ou absoluto) de cada sapata, temos o recalque


diferencial (ou relativo) entre duas sapatas. A variabilidade o maciço de um solo
gera recalques desiguais. Recalques absolutos elevados, mas de mesma ordem de
grandeza em toda a fundação, geralmente podem ser tolerados pois os recalques
diferenciais é que são preocupantes (CINTRA; AOKI, 2010). Porém, os recalques
diferenciais normalmente são maiores quanto maiores os recalques absolutos.
Então a magnitude do recalque absoluto serve como uma medida indireta de
recalque diferencial.

O recalque absoluto S, que dá origem ao recalque diferencial, pode ser


decomposto em três parcelas: Se(recalque elástico), ρa (consolidação primária) e
ρs (consolidação secundária).

Os recalques de deformação elástica decorrem de um fenômeno geral:


todo material se deforma quando carregado (CAPUTO, 2017). Em solo arenoso é
bastante importante, sendo de pouca importância em solos argilosos saturados.

O recalque elástico, com base na teoria da elasticidade, quando se tratando


de areia e argila, é calculado pelas seguintes equações:

Areia

Argila

Em que:

σ0- pressão aplicada


B- largura/diâmetro da área carregada
Es- módulo de elasticidade
Iu- fator de influência
µ0 e µ1- são fatores de influência do embutimento da sapata e da espessura
da camada de solo (utilizam-se os ábacos da Figura 46).

Esse tipo de recalque é instantâneo, acontece no decorrer da construção


(CAPUTO, 2017).

157
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 46 – FATORES µ0 E µ1 PARA O CÁLCULO DE RECALQUE ELÁSTICO DE SAPATA

FONTE: Janbu et al. (apud CINTRA; AOKI, 2010, p. 68)

Na Tabela 16 são apresentados alguns valores de módulo de elasticidade


E para se utilizar no cálculo do recalque elástico, porém, vale lembrar que os
valores para Es apresentados são típicos, recomendando-se que, para projeto,
sejam obtidos a partir de ensaios triaxiais.

Existem ainda algumas correlações empíricas para argilas não drenadas,


por exemplo:

- Eu/Su = 400 a 500 (pequenas deformações, alto FS)


- Eu/Su = 100 (grandes deformações, próximo à ruptura

158
TÓPICO 3 — RECALQUE

TABELA 16 – VALORES TÍPICOS DE MÓDULO DE ELASTICIDADE

Tipo de solo Es (MPa)


Muito mole 1
Mole 2
Média 5
Argila
Rija 7
Muito rija 8
Dura 15
Fofa 5
Pouco compacta 20
Areia Medianamente compacta 50
Compacta 70
Muito compacta 90
Pouco compacta 50
Areia com pedregulhos
Compacta 120
FONTE: Heidemann (2015, p. 56)

Os recalques por adensamento ocorrem devido à consolidação do solo,


devido à redução de índices de vazios causado pela aplicação de uma carga sobre
ele. Esse tipo de recalque é de grande importância em argilas e é pouco significativo
nas areias, já que nas areias a dissipação de poropressão é instantânea, contrário
ao fenômeno nas argilas (HEIDEMANN, 2015). Quando as tensões finais são
inferiores à tensão de pré-adensamento da argila então se tem a aplicação da
fórmula apresentada utilizando-se apenas Cr.

O cálculo do recalque por adensamento é realizado pela seguinte


expressão:

Em que:

Cc- coeficiente de compressão


Cr- coeficiente de recompressão
e0- índice de vazios inicial
H- espessura da camada compressível
σf- tensão efetiva inicial no centro da camada compressível
σi- tensão efetiva final no centro da camada compressível

Caso a tensão de pré-adensamento seja ultrapassada pela pressão final,


então se deve calcular o recalque em duas parcelas: uma utilizando Ccr tendo
como σ’f a tensão de pré-adensamento (σ’p), e a outra usando Cc, em que
a σ’i é a pressão de pré-adensamento e a final é a tensão total provocada pelo
carregamento, mais a tensão inicial.
159
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Existem também os recalques por adensamento secundário (creep), que são


provocados por efeito de fluência. Eles apresentam uma influência relativamente
pequena nos recalques totais de obras de pequeno e médio porte, e são de difícil
previsão. Esse tipo de recalque normalmente ocorre em estruturas muito grande,
geralmente em patrimônio histórico.

Exemplo: calcule o recalque por adensamento causado por um aterro,


demonstrado na Figura 47 que será construído e transmitirá uma pressão
uniforme de 40 KPa. Considere a tensão de pré-adensamento de 25 KPa superior
à tensão efetiva (JULIERME, 2018).

Dados:
Cc= 2,4
Cr=0,45
Cv= 4,7*10-2 m²/dia
e0= 2,4
g da água: 1kgf/m³

FIGURA 47 – ATERRO PARA EXEMPLO

FONTE: Julierme (2018, s.p.)

160
TÓPICO 3 — RECALQUE

NOTA

Acadêmico, precisamos conhecer as tensões no solo, tópico de Mecânica dos


Solos. Se for necessário, revise esse conteúdo para melhor entendimento.

• 1º: cálculo da tensão inicial (σi) na cota -9m (plano médio da camada
compressível), sendo H a espessura de cada camada

• 2º: cálculo da tensão no aterro (σa):

• 3º: cálculo da tensão final (σf):

• 4º: cálculo da tensão de pré-adensamento (σp):

• 5º: cálculo o recalque (ρa):

• Recalque em fundações profundas: o recalque sofrido pelas fundações


profundas pode ser considerado de menor proporção quando comparado
com as fundações rasas, porém sua estimativa é mais complexa. De acordo
com o método de Poulos e Davis em 1980, o recalque (ρ) sofrido por uma
estaca tem os parâmetros conforme Figura 48 e é determinado pela expressão
(HEIDEMANN, 2015):

161
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Em que:

Em que:

P= carga aplicada
I= produto dos fatores de correção
Es= módulo de elasticidade do solo
D= diâmetro da estaca
Db= diâmetro da base da estaca
Eb= módulo de elasticidade do solo resistente em que a estaca se apoia
K= fator de rigidez da estaca em relação ao solo
Ep= módulo de elasticidade da estaca
Ra= razão entre a área da seção transversal estrutural da estaca e área do
círculo externo (para estacas maciças Ra=1)
U= coeficiente de Poisson

FIGURA 48 – PARÂMETROS PARA DETERMINAÇÃO DO RECALQUE

FONTE: Heidemann (2015, p. 90)

De acordo com Velloso e Lopes (2010), a Tabela 17 apresenta os valores


das propriedades de deformação do solo.

162
TÓPICO 3 — RECALQUE

TABELA 17– INFORMAÇÃO SOBRE DEFORMAÇÃO DO SOLO

Solo Consistência E g
Argila Mole 0,4
Média 200< (E/Su)<400 0,3
Rija 0,15
Areia Fofa 27-55 Mpa
Medianamente compacta 55-70 Mpa 0,3
Compacta 70-110 Mpa
FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 321)

módulo de elasticidade da estaca (Ep) assume-se o valor conforme


material da estaca:

Para o concreto: Ep= 21000 a 28000 Mpa


Para o aço: Ep= 205000 Mpa
Para a madeira (eucalipto): Ep= 13600 Mpa

Para encontrar os outros parâmetros para o cálculo do recalque, é preciso


consultar o ábaco da Figura 49, para determinar Rk, Figura 50, para I0, Figura 51,
para Rb, Figura 52, para Rh e Figura 53, para Rv.

FIGURA 49 – ÁBACO PARA CÁLCULO DE RK

FONTE: Heidemann (2015, p. 91)

163
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 50 – ÁBACO PARA O CÁLCULO DE I0

FONTE: Heidemann (2015, p. 91)

FIGURA 51 – ÁBACO PARA CÁLCULO DE RB

164
TÓPICO 3 — RECALQUE

FONTE: Heidemann (2015, p. 92)

FIGURA 52 – ÁBACO PARA CÁLCULO DE RH

FONTE: Heidemann (2015, p. 92)

165
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 53 – ÁBACO PARA CÁLCULO DE RV

FONTE: Heidemann (2015, p. 93)

Exemplo: calcule o recalque da estaca da Figura 54 (BITTENCOURT,


2019), considerando uma estaca maciça e de concreto cm módulo de elasticidade
de 25000 MPa.

FIGURA 54 – ESTACA PARA CÁLCULO DE RECALQUE

FONTE: Bittencourt (2019, p. 13)

166
TÓPICO 3 — RECALQUE

Utilizando as fórmulas:

Sendo:

Calculando a média do módulo de elasticidade do solo

Buscando o restante dos dados nos ábacos: para obter I0, observando a
Figura 55, utiliza-se k=369,8 e a razão entre comprimento da estaca (L) e diâmetro
(D) que é 40:

FIGURA 55 – ÁBACO 1

FONTE: Bittencourt (2019, p. 14)


167
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Dessa forma, I0= 0,053

FIGURA 56 – ÁBACO 2

FONTE: Bittencourt (2019, p. 14)

Da Figura 56, Rk= 1,65

Dos ábacos apresentados na Figura 57, com a relação entre a profundidade


do solo (H) e o comprimento da estaca (L) que é de 0,4, encontram-se Rh= 0,88 e
Rv= 0,935.

FIGURA 57 – ÁBACO 3 E 4

FONTE: Bittencourt (2019, p. 15)

168
TÓPICO 3 — RECALQUE

Com esses dados, é possível calcular o recalque:

E
IMPORTANT

Para ser um bom profissional, é preciso estar em constante contato com as


novidades da nossa área. A norma NBR 6122, que contempla o projeto e execução de
fundações foi atualizado no ano de 2019 e traz algumas mudanças, como abordado no
texto a seguir (NAKAMURA, 2018):

169
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

LEITURA COMPLEMENTAR

REVISÃO DA NBR 6122 TRAZ NOVIDADES NO PROJETO E


EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES

Juliana Nakamura

Equipamentos e metodologias executivas foram incorporados ao texto


da ABNT NBR 6122. As inovações estão relacionadas aos concretos utilizados,
considerações em relação à ação do vento e à quantidade de provas de carga
exigidas.

A atualização de normas técnicas é um processo importante e necessário


para adequar as exigências às novas práticas e inovações desenvolvidas pelo
mercado. Elaborada em 1996 e submetida a uma revisão em 2010, a ABNT NBR
6122 – Projeto e Execução de Fundações passou recentemente por esse processo
de atualização. O novo texto, elaborado após mobilização da comunidade
geotécnica desde 2016, já foi submetido à consulta pública e deve entrar em vigor
ainda no primeiro semestre de 2019. A norma dispõe dos critérios gerais que
regem as fundações de todas as estruturas convencionais da engenharia civil,
incluindo residências, edifícios, pontes e viadutos.

A revisão é bastante abrangente e buscou alinhar a norma de fundações


às demais NBRs em vigor que tratam das estruturas de concreto armado. “As
inovações introduzidas se deram, especialmente em relação aos concretos
utilizados, às considerações em relação à ação do vento e à quantidade de
provas de carga exigidas”, conta o engenheiro Frederico Falconi, coordenador da
comissão que trabalhou na revisão da norma.

No caso do concreto utilizado nas fundações profundas, por exemplo,


o novo texto leva em consideração, além do tipo de fundação, a classe de
agressividade ambiental, conforme definida na ABNT NBR 6118 – Estruturas de
concreto armado – Procedimento.

Outra novidade é a limitação do uso de tubulões, necessária para


atendimento das normas do Ministério do Trabalho.

“O novo texto da NBR 6122 apresenta várias atualizações conceituais.


Podemos destacar a adequação aos requisitos para atendimento ao método
dos estados limites e ajustes em fatores de segurança e coeficientes de
ponderação, principalmente quando temos ações de vento combinadas às de
cargas verticais”, acrescenta Luiz Aurélio Fortes da Silva, vice-presidente de
Tecnologia e Qualidade da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria
Estrutural (Abece).

170
TÓPICO 3 — RECALQUE

Também foram promovidos ajustes nos anexos que tratam dos


procedimentos executivos de diversos tipos de estaca, destacando-se novas
considerações em relação as resistências de ponta de estacas.

FUNDAÇÕES MAIS SEGURAS E ECONÔMICAS

A expectativa é a de que a nova norma influencie positivamente os projetos


e a execução de fundações. “A progressiva necessidade da realização de prova
de cargas melhorará a assertividade das fundações projetadas e executadas,
reduzindo a possibilidade de recalques excessivos e ou diferenciais”, cita Silva.

O vice-presidente da Abece conta que durante as décadas de 1990 e 2000,


a evolução de sistemas computacionais para a elaboração de projetos estruturais
permitiu avanços expressivos. “As análises estruturais globais considerando as
ações de vento foram muito facilitadas e, hoje, a maioria dos projetos estruturais
apresenta tabelas completas de reações de apoio nas fundações. Sem contar que
os edifícios projetados também são mais complexos do que os projetados no
passado”, compara.

Em paralelo surgiram e se consagraram novos métodos executivos de


fundações que tornaram viáveis soluções mais sofisticadas e confiáveis. Entre
essas tecnologias é possível citar estacas hélices contínuas, metálicas, escavadas,
barretes e as paredes diafragmas, que viabilizaram projetos com maior número
de subsolos.

É nesse contexto que o novo texto da NBR 6122 se insere. “Trata-se de


uma consolidação dos conceitos mais modernos, já contemplando boas técnicas
para se projetar fundações”, diz Silva. Ele conta que, para o futuro, espera-se que
a interação entre os projetistas de estruturas e de fundações seja ainda maior na
busca de soluções mais assertivas, compatibilizadas e econômicas.

Falconi concorda e diz que são muitos os ganhos esperados com a


publicação do novo texto, dados os avanços do conhecimento desde a norma
de 2010 e os avanços tecnológicos dos equipamentos. “Maior segurança, limites
mais bem definidos, avanço contínuo do conhecimento e maior interação entre os
projetistas que sempre resulta em projetos melhores”, conclui Falconi.

FONTE:<https://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/revisao-da-nbr-6122-traz-novidades-
-no-projeto-e-execucao-de-fundacoes_18607_10_0>. Acesso em: 13 fev. 2020.

171
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• As fundações podem sofrer movimentações gerando recalques na estrutura.

• Os recalques acontecem tanto nas fundações rasas como nas profundas.

• Existe diferença nos métodos para calcular o recalque em fundações rasas e em


fundações profundas.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

172
AUTOATIVIDADE

1 Dimensionar uma fundação rasa e calcular o recalque para a seguinte


situação.

2 Dimensionar uma fundação rasa e calcular o recalque para a seguinte


situação.

173
174
UNIDADE 3 —

OBRAS DE TERRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender os conceitos básicos da estabilidade de taludes;

• compreender como funcionam as barragens de terra e sua estabilidade;

• obter conhecimento das possíveis patologias que podem ocorrer nas


fundações executadas;

• entender a relação entre os danos da construção e suas causas;

• observar alguns exemplos de recuperação da fundação.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – ESTABILIDADE DE TALUDES

TÓPICO 2 – BARRAGENS DE TERRA

TÓPICO 3 – PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

175
176
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

ESTABILIDADE DE TALUDES

1 INTRODUÇÃO

Em muitos casos de obras, o solo não funciona apenas para um suporte da


estrutura, como vimos até esta parte do livro didático. Pode também ser utilizado
como um material de construção de obras. Por exemplo: aterros, barragens,
pavimentos de rodovias e aeroportos.

Nestes casos, as características do solo devem satisfazer algumas exigências


próprias de cada projeto. Quando o solo disponível não atende a essas exigências
se deve recorrer a tratamentos adequados para que então ele esteja de acordo com
as características apropriadas para determinado uso de projeto.

Para definir se um determinado tipo de solo está de acordo com a


necessidade de projeto, são realizadas algumas análises. Essas análises serão
abordadas na Unidade 3.

Começaremos falando das obras de estabilidade de talude. Taludes são


considerados quaisquer superfícies inclinadas que limitam um maciço de terra,
de rocha ou de terra e rocha. Eles podem ser de origem natural, como o caso das
encostas, ou artificiais, como os taludes de corte de aterros (CAPUTO, 2017). A
Figura 1 apresenta um modelo de talude com as terminologias mais usuais.

Segundo Bressani (2007), as encostas são os taludes ditos naturais,


em que a ruptura se dá principalmente dentro de uma topografia/geologia
predominantemente natural. Os taludes são as conformações topográficas
geradas por corte ou aterros executados pelo homem.

177
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 1 – TERMINOLOGIA DE ATERROS

Coroamento ou Crista

Talude

Altura (H)
Corpo do Talude

Ângulo de Inclinação (α)


Pé do Talude
Terreno de Fundação
FONTE: Caputo (2017 p. 428)

Um fator surpreendente para muitas pessoas é que deslizamentos podem


ocorrer praticamente em qualquer lugar do mundo. O ponto de vista tradicional
de que deslizamentos estão restritos a áreas extremamente íngremes e terrenos
inóspitos não reflete adequadamente a natureza real do problema. De alguma
maneira, a maioria dos países do planeta já foi afetada por esse tipo de fenômeno.
A razão para tal amplitude geográfica está muito relacionada à existência de
vários mecanismos desencadeadores. Chuvas em excesso, terremotos, vulcões,
incêndios florestais e outros mecanismos recentes, como certas atividades
humanas perigosas, são apenas algumas das causas-chave que podem provocar
um deslizamento (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008).

O estudo de taludes depende das condições da natureza dos materiais


e agentes perturbadores, quer de natureza geológica, hidrológica e geotécnica,
o que nos tornam da maior complexidade, abrindo amplos horizontes aos
especialistas (CAPUTO, 2017).

No Brasil podemos citar diversos acidentes fatais ocorridos nos últimos


anos. Em Santa Catarina, eventos de deslizamentos de taludes vêm ocorrendo
devido aos efeitos de chuvas intensas e prolongadas na região. Um desastre citado
na literatura de Caputo (2017) é o ocorrido em Santa Catarina em 2008 e Paraná e
Santa Catarina em 2009. Outros ocorridos no sudeste do país foram os de Angra
dos Reis e São Paulo em 2010, com inundações associadas aos escorregamentos
de encostas. Esses acidentes são catastróficos, podendo causar perdas humanas e
grandes perdas materiais.

De acordo com Caputo (2017), mesmo a Mecânica dos Solos tendo
surgido com a necessidade de explicar os fenômenos de instabilidade de taludes
e apesar do avanço destes estudos, ainda hoje, esse fenômeno é um dos maiores
problemas a se resolver da Mecânica dos Solos, devido à correta quantificação
dos parâmetros dos materiais, aos aspectos teóricos da previsão dos mecanismos
de evolução com o tempo e da exata análise dos esforços solicitantes e resistentes.

178
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

2 CLASSIFICAÇÃO DOS MOVIMENTOS


Um deslizamento é definido por Highland e Bobrowsky (2008) como um
movimento de descida de materiais em declive que ocorre na ruptura de uma
superfície. Esses materiais podem ser compostos exclusivamente por rocha ou
por solo, ou uma mistura de ambos. A ruptura pode ser curva (escorregamento
rotacional) ou plana (escorregamento translacional). Conforme ressaltam os
autores, é preciso observar que “os deslizamentos podem envolver outros tipos
de movimentos, tanto no desencadeamento e da ruptura ou posterior a ele, se
as propriedades são alteradas durante o movimento do material” (HIGHLAND;
BOBROWSKY, 2008, p. 7). Os principais tipos de movimentos podem ser
classificados em três grandes grupos:

2.1 DESPRENDIMENTO DE TERRA OU ROCHA


É uma porção de maciço terroso ou de fragmentos de rocha que se destaca
do resto do maciço, caindo livre e rapidamente, acumulando-se onde estaciona.
Trata-se de fenômeno localizado. É evitável pelos processos comuns de prevenção
e, quando necessário, utiliza-se de recursos de estabilização (CAPUTO, 2017).

Os desmoronamentos são movimentos rápidos, resultantes da ação da


gravidade sobre a massa de solo que se destaca do restante do maciço e rola
talude abaixo. Há um afastamento evidente da massa que se desloca em relação
à parte fixa do maciço (BITTENCOURT, [20--]).

As quedas ocorrem mundialmente em taludes íngremes ou verticais –


também em áreas litorâneas e ao longo de taludes rochosos de rios e ribeirões.
O volume de material em uma queda pode variar substancialmente, de rochas
individuais ou torrões de solo a blocos maciços de milhares de metros cúbicos
de volume (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008). Já os tombamentos ocorrem por
todo o globo, com predominância em terreno de estrutura colunar vulcânica ou
rocha sedimentar interdigitada e fissurada ao longo de cortes de rodovias, cursos
de rios e ribeirões com margens íngremes. As Figuras 2, 3 e 4 apresentam alguns
tipos de movimentos devido ao desprendimento de terra ou rocha.

179
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 2 – MOVIMENTO DE BLOCO ROCHOSO/QUEDAS

FONTE: Bittencourt ([20--], p. 10)

FIGURA 3 – MOVIMENTO DE BLOCO ROCHOSO/TOMBAMENTO

FONTE: Bittencourt ([20--], p. 11)

180
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

FIGURA 4 – MOVIMENTO DE BLOCO ROCHOSO/ROLAMENTO DE BLOCO

FONTE: Bittencourt ([20--], p. 12

2.2 ESCORREGAMENTO (LANDSLIDE)


O escorregamento é um deslocamento rápido de uma massa do solo ou de
rocha que, após rompimento do maciço, desliza para baixo e para o lado de uma
superfície de deslizamento. O escorregamento é classificado como rotacional
(Figura 5) ou translacional (Figura 6) conforme o movimento aconteça, a rotação
ocorre em caso de solos coesivos homogêneos e a translação no caso de maciços
rochosos estratificados. Se a superfície de deslizamento passar acima ou pelo pé
do talude, será um escorregamento superficial ou ruptura de talude, e se por
um ponto afastado do pé do talude, escorregamento profundo, ruptura de base
ou ruptura sueca (por ter sido observado a primeira vez nos acidentes ocorridos
durante a construção das ferrovias suecas) (CAPUTO, 2017).

FIGURA 5 – ESCORREGAMENTO ROTACIONAL

FONTE: Bittencourt ([20--], p. 7)


181
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 6 – ESCORREGAMENTO TRANSLACIONAL

FONTE: Bittencourt ([20--], p. 8)

2.3 RASTEJO (CREEP)


É o deslocamento lento e contínuo de camadas superficiais sobre camadas
mais profundas, com ou sem limite definido entre a massa de terreno que se
desloca e a que permanece estacionária, exemplificado na Figura 7. A velocidade
de rastejo é, geralmente, muito pequena. A curvatura dos troncos de árvore,
inclinação de postes e fendas no solo são alguns dos indícios da ocorrência de
rastejo (CAPUTO, 2017).

FIGURA 7 – MOVIMENTO TIPO RASTEJO

FONTE: Bittencourt ([20--], p. 6)

182
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

2.3.1 Causas dos movimentos


As classificações de diferentes tipos de deslizamentos são associadas a
mecanismos específicos de falhas em taludes e às propriedades e características
desses tipos de falhas geológicas. As causas podem ser naturais ou feitas pelo
homem. As causas naturais podem ser divididas em três mecanismos principais de
desencadeamento que podem ocorrer isoladamente ou em combinação – (1) água,
(2) atividade sísmica, e (3) atividade vulcânica. Os efeitos de todas essas causas
variam muito e dependem de fatores como a declividade da encosta, a morfologia
ou a forma do terreno, o tipo de solo, a geologia subjacente e se há pessoas ou
estruturas sobre as zonas afetadas (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008).

Os movimentos causados pela atividade humana são devidos à expansão


da população para novas terras e criação de bairros, vilas e cidades. Perturbação
ou alteração dos padrões de drenagem, desestabilização das encostas e remoção
da vegetação são fatores comuns, induzidos pelo homem, que podem dar início
a deslizamentos de terra. No entanto, deslizamentos também podem ocorrer em
áreas outrora estáveis, devido a atividades humanas como irrigação, irrigação
de gramado, drenagem de reservatórios (ou criação desses), vazamento de
tubulações, escavação ou ocupação imprópria de encostas (HIGHLAND;
BOBROWSKY, 2008).

Muitas vezes, as causas dos escorregamentos de taludes provêm do


aumento de peso do talude e a diminuição da resistência ao cisalhamento
do material. Nas estações chuvosas o solo tende a ficar mais saturado e o
peso específico do material e o excesso de umidade reduzem a resistência ao
cisalhamento pelo aumento da pressão neutra, ou seja, ocorre uma união dos
fatores que causam os movimentos de taludes. Assim se explica a ocorrência da
maioria dos escorregamentos no período de grandes precipitações pluviométricas
(CAPUTO, 2017).

Outra grande causa dos movimentos são as escavações feitas muito


próximas ao pé do talude, normalmente realizadas para a implantação de uma
nova obra (CAPUTO, 2017).

As causas então podem ser classificadas entre reais – do escorregamento


ou de imediatas, que pode ser, por exemplo, um forte aguaceiro. O Quadro 1
seleciona os fatores dos movimentos de encostas de acordo com Varnes (1978)
(CAPUTO, 2017).

E
IMPORTANT

No Brasil as atividades de engenharia geotécnica associadas à estabilidade de


encostas são normalizadas pela NBR 11682 – Estabilidade de Taludes.

183
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

QUADRO 1 – FATORES RELACIONADOS AO MOVIMENTO DE ENCOSTAS SEGUNDO VARNES, 1978

Ação Fatores Fenômenos naturais


Remoção da massa
Erosão, escorregamentos, cortes.
(lateral ou da base)
Peso da água da chuva, neve,
granizo etc.
Acúmulo natural de material
Sobrecarga (depósitos)
Aumento da Peso da vegetação
solicitação Construção de estruturas,
aterros etc.
Terremotos, ondas, vulcões etc.
Solicitações dinâmicas Explosões, tráfego, sismos
induzidos.
Água em trincas, congelamento,
Pressões laterais
material expansivo etc.
Características Textura,
Características geomecânicas do
inerentes ao estrutura,
material, estado de tensões iniciais.
material geometria etc.
Mudanças Mudanças nas Intemperismo, redução da coesão,
Redução da ou fatores características ângulo de atrito. Elevação do nível
resistência variáveis do material d’água.
Enfraquecimento devido ao rastejo
progressivo.
Outras causas
Ação das raízes das árvores e
buracos de animais.
FONTE: Caputo (2017, p. 434)

3 ANÁLISE DA ESTABILIDADE
Como base em estudos teóricos, ou seja, analisando a estabilidade dos
solos na teoria, os especialistas consideraram o talude como uma massa de solo
submetida a três campos de forças: as devido ao peso, ao escoamento da água e à
resistência ao cisalhamento.

Caputo (2017) divide os métodos de estudo de análise dos taludes em dois


– método de análise de tensões e método de equilíbrio limite:

• Métodos de análise das tensões: calcular as tensões em todos os pontos de


meio e compará-las com as tensões resistentes; se aquelas forem maiores do que
estas, aparecerão zonas de ruptura; e zonas de equilíbrio, em caso contrário.
• Métodos de equilíbrio limite: isolar massas arbitrárias e estudar as condições
de equilíbrio, pesquisando a de equilíbrio mais desfavorável.

184
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

Atualmente existem diversos métodos de análise de estabilidades de


taludes e muitos deles sob a forma de programas computacionais que permitem
uma análise mais automática, mas a qualidade dos resultados deve passar pela
sensibilidade de projetista para determinar o método mais adequado ao seu caso
e pela qualidade do modelo geométrico definido para o programa processar
(HEIDEMANN, 2015).

O Quadro 2 apresenta alguns dos principais métodos de estabilidade e os


tipos de ruptura para os quais são empregados.

QUADRO 2 – MÉTODO DE CÁLCULO DE ESTABILIDADE E TIPOS DE RUPTURAS PESQUISADAS

MÉTODOS DE ANÁLISES DE ESTABILIDADE


GEOMETRIA DA DINÂMICA DO
TIPO NOME
RUPTURA PROCESSO
Espiral logarítmica Ruptura Espiral
Taylor
Fellenius
Bishop Ruptura circular
Equilíbrio limite
Spencer Não condicionado
Tridimensional por estruturas
Janbu reliquiares
Morgenstern e Price
Ruptura não
Elementos Finitos
circular
Diferenças Finitas
Análise limite Multiblocos
Tombamento/
Queda de blocos Condicionado
Planar 1 plano por estruturas
Equilíbrio limite Biplanar em cunha 2 planos reliquiares
Multiplanar Vários planos
FONTE: Filho e Virgili (1998 apud OLIVEIRA, 2006, p. 15)

A seguir, serão apresentados alguns métodos para análise de estabilidade


de encostas e taludes, baseados no princípio do equilíbrio limite e que são
empregados principalmente para a verificação dos fatores de segurança que
regem a estabilidade desses maciços.

A análise da estabilidade de taludes e maciços rochosos por via analítica


tem como princípio base o método do equilíbrio limite. No entanto, para cada
mecanismo de ruptura existem certos aspectos que são necessários ter em conta
quando feita a análise (GONÇALVES, 2013). Este ponto não tem por objetivo a
descrição do método do equilíbrio limite, apenas são apresentados para cada
mecanismo os aspectos que são levados em conta na determinação do fator de
segurança pelo método de equilíbrio limite.

185
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

3.1 FATOR DE SEGURANÇA (FS)


O fator de segurança é a relação entre os esforços estabilizantes
(resistentes) e os esforços instabilizantes (atuantes) para determinado método de
cálculo adotado. Porém, essa determinação, derivada do cálculo, não é o fator de
segurança realmente existente, devido à imprecisão das hipóteses, incertezas dos
parâmetros do solo adotado etc., de acordo com a NBR 11682 (ABNT, 1991).

Conforme Caputo (2017), um talude é considerado estável quando seu


fator de segurança mínimo for maior que o fator de segurança requerido e este
for maior que 1,5. Um talude é considerado em estado de iminência de ruptura
quando seu fator de segurança mínimo for igual a 1,0 e um talude é considerado
instável quando seu fator de segurança mínimo for menor que 1,0. A Norma NBR
11682 estabelece um padrão de fator de segurança mínimo através da utilização
de modelos matemáticos (Quadro 3).

QUADRO 3 – PADRÕES DE SEGURANÇA QUANTO À UTILIZAÇÃO DE MODELOS MATEMÁTICOS

Método baseado no
Tensão-deformação
Grau de segurança equilíbrio-limite
necessário ao local Padrão fator de segurança
Padrão: Deslocamento máximo
mínima (*)
Alto 1,50 Os deslocamentos máximos
Médio 1,30 devem ser compatíveis com o
grau de segurança necessário
ao local, à sensibilidade de
construções vizinhas e à
Baixo 1,15
geometria do talude. Os valores
calculados devem ser justificados.

FONTE: ABNT (1991, p. 18)

Os fatores de segurança que expressam a estabilidade de um talude


ou uma encosta são calculados pelo quociente entre a resistência do terreno e
as forças motoras, ao longo da superfície de movimentação. Necessitam do
pré-estabelecimento da geometria da ruptura e a admissão de um regime de
deformação do tipo rígido-plástico, simplificador do verificado em terrenos
naturais. A adoção de um determinado valor de FS, num projeto visando à
implantação de talude, depende de vários fatores, entre os quais destacam-se as
consequências potenciais associadas a instabilidade do talude, a dimensão do
talude, a heterogeneidade do maciço investigado, a base de dados utilizada entre
outros (AUGUSTO FILHO; VIRGILI, 1998).

Conforme Fiori e Carmignani (2001), define-se o fator de segurança, como


a razão entre a resultante das forças resistentes ao escorregamento e a resultante
das forças solicitantes ou favoráveis ao movimento. O fator de segurança é dado
por:

186
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

A força resistente é função dos parâmetros de resistência do solo (c e Ø )


e as forças solicitantes são determinadas através das forças externas aplicadas
(gravidade, carregamento) e pelo peso próprio da massa de solo (OLIVEIRA,
2006).

E
IMPORTANT

Você se lembra dos conceitos de mecânica dos solos? Os parâmetros do solo


c e Ø significam, respectivamente, coesão e ângulo de atrito.

3.2 RUPTURA COM SUPERFÍCIE PLANAR


Algumas rupturas em solo, rocha, ou na interface entre ambos se
desenvolvem sob a forma planar, e, neste caso, as análises, em nível de estudo
inicial ou pré-projeto, ou para projetos em condições bastante simples, podem ser
realizadas supondo taludes infinitos (HEIDEMANN, 2015).

Embora sejam análises mais simples, os métodos apresentados a seguir


tendem a oferecer bons resultados, dentro de suas limitações. Para isso, no
entanto, é crucial que os parâmetros de entrada sejam representativos da situação
analisada.

3.2.1 Taludes em solos não coesivos e secos


Na Figura 8, são ilustradas as forças consideradas no caso de um talude
de solo não coesivo e seco e as respectivas equações para determinar o fator de
segurança do talude.

187
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DE FORÇAS E EQUAÇÃO PARA O CASO DE TALUDES COM


SOLO NÃO COESIVOS E SECOS

FONTE: Heidemann (2015, p. 18)

Exemplo: um talude com altura de 22 metros e comprimento de 45 metros,


com solo seco, não coesivo e ϕ=32º, encontra-se em segurança? A inclinação (β)
desse talude é de 26° e tem o FS de:

Conclusão: o talude não está estável, pois FS < 1,5.

3.2.2 Taludes em solos não coesivos e completamente


submersos
As equações da determinação de um talude com solo não coesivos e
completamente submersos são representadas na Figura 9. Neste caso, o cálculo
do Fator de segurança é idêntico ao de solos não coesivos e secos.

188
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DE FORÇAS E EQUAÇÃO PARA O CASO TALUDES COM SOLO


NÃO COESIVOS E COMPLETAMENTE SUBMERSOS

FONTE: Heidemann (2015, p. 18)

3.2.3 Taludes em solo não coesivos com presença de


nível d’água
Neste caso, os efeitos de poropressão são levados em conta e a expressão
para solos secos é modificada, resultando em:

3.2.4 Taludes em solo coesivo e com fluxo de água


paralelo à superfície
Segundo Heidemann (2015), este caso é bastante importante para a
análise de ruptura translacional em solos tropicais. Em muitos casos a ruptura
se dá em uma interface solo-rocha e os parâmetros de resistência são os da
interface, ver Figura 10. É importante conhecer a posição do nível d’água para
análises mais precisas.

189
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 10 – REPRESENTAÇÃO DE FORÇAS E EQUAÇÃO PARA O CASO DE TALUDES EM SOLO


COESIVO E COM FLUXO DE ÁGUA PARALELO À SUPERFÍCIE

FONTE: Heidemann (2015, p. 19)

Essa expressão pode ser empregada também para casos em que o solo é
friccional e coesivo, mas não há presença de água, fazendo com que m=0.

3.2.5. Taludes em solo coesivo e com fluxo de água


horizontal
Um exemplo típico de aplicação desta forma de análise é a ocorrência de
rebaixamento rápido do nível d’água em barragens, em que a água presente no
maciço, saturado tende a escoar de forma horizontal, ver Figura 11.

FIGURA 11 – REPRESENTAÇÃO DE FORÇAS E EQUAÇÃO PARA O CASO DE TALUDES EM SOLO


COESIVO E COM FLUXO DE ÁGUA HORIZONTAL

FONTE: Heidemann (2015, p. 19)

190
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

3.2.6. Taludes com ruptura não drenada


Ocorrem em solos argilosos com ruptura rápida, não drenada, sendo a
resistência ao cisalhamento expressa por Su. O Fator de Segurança é dado por:

3.3 RUPTURA COM SUPERFÍCIE CIRCULAR


Além da ruptura planar, podem ocorrer rupturas que apresentam
superfícies circulares, ou seja, em formato semelhante a um círculo. Como explica
Marangon (2009, p. 18), a superfície circular “é muito mais comum quanto maior
a homogeneidade da massa do solo”.

Para calcular essas rupturas serão abordados, a seguir, o Método de Hoek


e Bray, Ábacos de Taylor e os métodos de equilíbrio-limite.

3.3.1 Método de Hoek e Bray


Este método é baseado no método de círculo de atrito, é uma simplificação
que considera algumas hipóteses para a análise (HEIDEMANN, 2015):

• O material é homogêneo e isotrópico.


• Resistência ao cisalhamento é dada por .
• A superfície de ruptura circular passa pelo pé do talude (em geral, esta é a
superfície mais crítica desde que φ ≥ 5◦).
• Existência de trinca de tração.
• A localização das trincas de tração e da superfície de ruptura são tais que o fator
de segurança fornecido pelos ábacos para geometria considerada é mínimo.
• Podem ser consideradas diferentes condições de fluxo de talude.

O processo de análise consiste em:

1. Decide-se sobre as condições de água no talude (para cada condição existe um


ábaco específico).
2. Calcula-se o valor adimensional: , em que c é a coesão,γ é o peso
específico aparente, H é a altura do talude e Ø é o ângulo de atrito.
3. Pelo ábaco selecionado encontra-se o valor correspondente de
para o valor adimensional calculado no passo 2.
4. Calcula-se o fator de segurança.

191
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

A seguir, são apresentados os ábacos empregados no método de Hoek e


Bray. As condições de drenagem são definidas com base na relação entre altura
do talude (H) e a distância entre o pé do talude e o ponto onde o nível de água
(NA) atinge a superfície.

GRÁFICO 1 – ÁBACO 1 DE HOEK E BRAY (1981) PARA UMA ROTURA CIRCULAR. TALUDE EM
CONDIÇÕES COMPLETAMENTE DRENADO

FONTE: Wyllie e Mah (2004, p. 183)

192
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

GRÁFICO 2 – ÁBACO 2 DE HOEK E BRAY (1981) PARA UMA ROTURA CIRCULAR. SUPERFÍCIE
FREÁTICA A 8Π NO PÉ DO TALUDE

FONTE: Wyllie e Mah (2004, p. 184)

193
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

GRÁFICO 3 – ÁBACO 3 DE HOEK E BRAY (1981) PARA UMA ROTURA CIRCULAR. SUPERFÍCIE
FREÁTICA A 4Π NO PÉ DO TALUDE

FONTE: Wyllie e Mah (2004, p. 185)

194
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

GRÁFICO 4 – ÁBACO 4 DE HOEK E BRAY (1981) PARA UMA ROTURA CIRCULAR. SUPERFÍCIE
FREÁTICA A 2Π NO PÉ DO TALUDE

FONTE: Wyllie e Mah (2004, p. 186)

195
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

GRÁFICO 5 – ÁBACO 5 DE HOEK E BRAY (1981) PARA UMA ROTURA CIRCULAR. TALUDE COM-
PLETAMENTE SATURADO SUJEITO À FORTE SOBRECARGA DEVIDO AO PESO DA ÁGUA

FONTE: Wyllie e Mah (2004, p. 187)

Exemplo: utilizando o método de Hoek e Bray, determine o fator de


segurança para um talude de 10 metros de altura e 7 metros de comprimento e as
seguintes propriedades:

196
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

De acordo com o roteiro de cálculo, observando o ábaco 1, com o talude


totalmente drenado:

(O valor 0,60 foi retirado do eixo das ordenadas, no lado esquerdo).

(O valor 0,08 foi retirado do eixo das abscissas).

Conclusão: o talude não é estável.

197
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

3.3.2 Ábacos de Taylor


Os primeiros ábacos de estabilidade foram preparados por Taylor (1948)
e apresentam aplicação bastante restrita, sendo baseado no método de Culmann
para rupturas em cunha, ver Figura 12. Ao se empregar o método de Taylor, as
análises são feitas em termos de tensões totais, assumindo o solo homogêneo, e se
restringindo a problemas de geometria simples.

Quando as análises são feitas em termos de Su, assume-se a resistência não


drenada constante com a profundidade, embora dificilmente esta hipótese seja
verificada em campo. Taylor pesquisou o círculo crítico (FS=1) considerando o
problema de um talude simples e superfície de ruptura circular. Com base nesta
geometria, Taylor sugere o cálculo do fator de estabilidade (N) correspondente
à ruptura. O roteiro a seguir permite a aplicação do método de Taylor
(HEIDEMANN, 2015).

• Assumir um valor de FS = FS1


• Calcular o valor de φmob → tanφmob = tanφ/ FS1
• A partir de φmob, β,γ e H → determinar cmob
• Calcular FS2 = c/cmob
• Caso FS1≠ FS2 retornar para o primeiro passo.

Em que H – altura do talude; β – inclinação do talude; γ – peso específico


do solo; DH – profundidade da superfície de ruptura. D = Dh/ H.

198
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

FIGURA 12 – ÁBACO DE TAYLOR - GRÁFICO DO NÚMERO DE ESTABILIDADE

FONTE: Taylor (1948, p. 459)

Exemplo (CHAMECKI; CALLIARI, 1999):

Verificar a estabilidade do talude esquematizado na imagem a seguir


utilizando o Ábaco de Taylor:

199
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 13 – DESENHO ESQUEMÁTICO DE TALUDE

FONTE: Chamecki e Calliari (1999, p. 92)

DADOS:

• características do solo c = 3, φ = 20 e γ = 1,85 tf/m³.


• características do talude β = 33º e H = 15 m.

Sugere-se a solução do problema por tentativa:

• 1º Tentativa:

Arbitrando-se F1’ = 1,9 para a 1º tentativa, vem:

Pelo ábaco da Figura 12, obtém-se o ponto correspondente a:

Ângulo do talude β = 33º no eixo das abcissas, e ∅d = 10,85º (interpolação


aproximada entre as curvas ∅d = 10º e ∅d = 15º). Determinado o ponto, verifica-se
no eixo das ordenadas o valor do número de estabilidade N correspondente. No
caso, N = 0,078.

Sabe-se que:

Como o valor de F1’ calculado, resultou diferente de F1 arbitrado, deve-se


fazer nova tentativa.

200
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

• 2º Tentativa:

Arbitrando-se F2’ = 1,6 vem:

Do gráfico de número de Estabilidade, com β = 33º e ∅d = 12,82º, obtém-se


N =0,067.

Como cd = N x γ x H então cd = 0,067 x 1,85 x 15 = 1,86 tf/m²

Como F2 resultou igual a F’2, o seu valor será o coeficiente de segurança do


talude, ou seja, F= 1,6. Conclusão: Talude estável, pois F > 1,5.

3.3.3 Método de equilíbrio-limite


Como explica Heidemann (2005), os métodos de equilíbrio-limite partem
das seguintes considerações:

• O solo se comporta como material rígido-plástico, ou seja, rompe basicamente


sem se deformar.
• As equações de equilíbrio estático são válidas até a iminência de ruptura,
quando na realidade o processo é dinâmico.
• O fator de segurança é constante ao longo da linha de ruptura, isto é, ignoram-
se eventuais fenômenos de ruptura progressiva.

Entre os diversos métodos para análise de estabilidade de encostas por


equilíbrio limite, os mais difundidos são Felenius, Bishop, Bishop Simplificado,
Spencer e Morgenstern-Price. Dentre os mencionados, o de Morgenstern-Price é o
que efetua análise mais rigorosa requerendo cálculos mais ostensivos. Os demais
métodos podem ser aplicados manualmente de forma relativamente simples, bem
como implementados na forma de programas de computador (HEIDEMANN,
2005). A seguir, serão apresentados os métodos de Fellenius e Bishop simplificado.

• Método de Fellenius: supõe uma superfície circular e é baseado na divisão da


massa de solo em lamelas. O Fator de Segurança pode ser obtido através da
seguinte expressão:

201
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

Heidemann (2015) reforça que esse método pode levar a graves erros, pelo
tratamento que dá às poropressões. A rigor, as forças resultantes das poropressões,
atuam também nas faces entre lamelas. Como são forças horizontais, elas têm
componentes na direção da normal à base das lamelas, que é a direção de
equilíbrio das forças. Na prática, poropressões elevadas implicam valores de N
negativos, quando então são tomados como nulos na sequência dos cálculos.

Executando este fato, o Método de Fellenius continua usado pela sua


simplicidade sendo mais conservativo que outros mais rigorosos, como Bishop
Simplificado, por exemplo (HEIDEMANN, 2015).

O Método de Fellenius admite que as forças entre lamelas sejam paralelas


a suas bases; além disso, ignora forças resultantes de pressões neutras atuantes
nas faces entre lamelas. A vantagem desse método é a simplicidade da expressão
do coeficiente de segurança, sem cálculos iterativos, que é uma característica do
Método de Bishop Simplificado. A desvantagem manifesta-se em casos em que
as pressões neutras são elevadas, situação em que o Método de Fellenius não
consegue levar em conta as forças resultantes dessas pressões nas faces verticais
das lamelas. No caso de u≅0, esse efeito é inconsequente (MASSAD, 2010).

Exemplo (CHAMECKI; CALLIARI, 1999): utilizando os mesmos dados


do exemplo anterior, que foi resolvido utilizando o Ábaco de Taylor, verifique a
estabilidade do talude com o método de Fellenius.

DADOS:

• características do solo c = 3,φ = 20 e γ = 1,85 tf/m³.


• características do talude β= 33º e H = 15 m.

Obs.: considerar o centro de rotação obtido pela tabela de Fellenius e


ruptura de pé de talude.

É preciso determinar o centro de rotação por meio da tabela de Fellenius,


conforme admitido no enunciado do exercício. Com centro no ponto 0 obtido
desta forma, e ruptura de pé de talude conforme o anunciado do problema, traça-
se a superfície de ruptura. No exemplo, a cunha de ruptura (na seção transversal)
foi dividida em cinco fatias. A resolução está apresentada no esquema, quadro e
cálculos a seguir.

202
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

FIGURA 14 – CUNHA DE RUPTURA - FELLENIUS

FONTE: Chamecki e Calliari (1999, p. 95)

TABELA 1 – CÁLCULO PELO MÉTODO DE FELLENIUS

Componentes do Peso (tf)


Fatia Nº Área (m²) Peso= Área*γ (tf)
Normal Tangencial

1 56,98 54 -19

2 153,14 152 -6

3 213,68 206 55

4 191,11 160 100

5 79,68 50 62

ΣWN=622 ΣWT=192

FONTE: Chamecki e Calliari (1999, p. 95)

203
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

• Comprimento da linha de deslizamento (superfície de ruptura)

�= raio * ângulo central (em radianos)

• Coeficiente de Segurança

Que pode ser simplificado como:

Em que WN é a parcela normal do Peso e WT é a parcela tangencial do


Peso.

Conclusão: talude estável para o centro de rotação e a superfície de


ruptura adotados.

• Método Simplificado de Bishop: apresenta uma equação que permite o cálculo


do fator de segurança de um determinado círculo. Nesta equação é necessário
que se pesquisem vários círculos para encontrar o valor mínimo de FS. As
hipóteses simplificadoras adotadas para este método relacionam as forças entre
as fatias e a determinação da força normal à base da fatia. A resultante das
forças entre as fatias deve ser considerada horizontal e o tipo da superfície de
ruptura é circular onde, tem-se n hipóteses sobre o ponto de aplicação da força
normal e (n-1) sobre a magnitude das forças tangenciais entre fatias. O fator de
segurança é determinado a partir da consideração de equilíbrio de momentos.
O método de Bishop, na prática aconselha considerar estável o talude em que:
FSmim> 1,5.

Para esse método admite-se que a linha de ruptura seja um arco de


circunferência e a massa de solo é subdividida nas fatias como mostra a Figura 15.
Considera-se o equilíbrio de forças verticais da fatia e o equilíbrio de momentos
de todas as fatias (HEIDEMANN, 2005).

204
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

FIGURA 15 – ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM TALUDE FRENTE À RUPTURA CIRCULAR - DIVI-


SÃO EM LAMELAS

FONTE: Massad (2010, p. 56)

A Figura 15 mostra uma lamela genérica com a indicação das forças e


dos parâmetros desconhecidos. O equilíbrio das forças ainda envolve o peso da
lamela (P), as forças resultantes da poropressão na base(U) e nas faces da lamela,
e as forças E e X, atuantes na face da lamela (MASSAD, 2010).

FIGURA 16 – LAMELAS DE BISHOP – FORÇAS ATUANTES

FONTE: Massad (2010, p. 62)

No entanto, as forças entre lamelas (E e X) não geram momento, pelo


princípio da ação e reação (como em duas lamelas adjacentes), e os efeitos se
anulam. O método de Bishop original incluía estas forças E e X, no entanto, a não

205
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

consideração das mesmas conduziu a um erro de aproximadamente 1% no valor


de FS, Daí Bishop ter recomendado o não emprego das mesmas, razão pela qual
o foi agregado ao nome de método o termo simplificado (MASSAD, 2010).

No método de Bishop simplificado o equilíbrio de forças é feito na direção


vertical conforme mostrado na figura anterior. E expressão final que permite
calcular o fator de segurança para uma superfície de ruptura arbitrária é a
seguinte:

Como se pode observar, a incógnita FS aparece nos dois lados da igualdade,


o que resulta na necessidade de um processo iterativo para determinação de FS.

O cálculo iterativo do Fator de Segurança (FS) é feito da seguinte forma:


adota-se um valor inicial FS, entra-se na Eq. 7, extrai-se um novo valor de FS2, que
é comparado ao inicial FS1. Para o problema corrente, basta obter precisão decimal
no valor de FS. Se a precisão escolhida não for atingida, repete-se o procedimento.
Obtendo-se FS1=FS2, repete-se o cálculo para outro círculo de ruptura potencial
com diferentes centros de circunferências e raios (MASSAD, 2010).

Entre as dificuldades existentes na aplicação do método duas condições


merecem atenção:

• Na região do pé do talude, alfa pode ser negativo, Quando 1/ki menor igual a
0,2 sugere-se o emprego de outro método.
• Se FS menor 1,0 e se a poropressão for suficientemente grande, então o
denominador de k pode se tornar negativo.

Frequentemente FS Bishop simplificado aproxima de 1,15 Fs de Fellenius.

Exemplo (CHAMECKI; CALLIARI, 1999): utilizando os mesmos dados do


exemplo anterior, verifique a estabilidade do talude com o método simplificado
de Bishop.

DADOS:

• Características do solo c = 3, φ = 20 e γ = 1,85 tf/m³.


• Características do talude β = 33º e H = 15 m.

206
TÓPICO 1 — ESTABILIDADE DE TALUDES

Obs.: considerar o centro de rotação obtido pela tabela de Fellenius e


ruptura de pé de talude.

Também, neste método, a resolução apresentada é por tentativas neste


caso. O centro de rotação, superfície de ruptura e fatias utilizadas foram idênticos
aos do método de Fellenius. A sequência de cálculo está apresentada a seguir. Os
valores de bi, hi e αi foram obtidas na seção transversal do talude. As tentativas
devem ser repetidas até que se obtenha um coeficiente de segurança calculado
(F”), igual ao arbitrado (F’). As fatias estão mostradas a seguir.

FIGURA 17 – CUNHA DE RUPTURA – BISHOP SIMPLIFICADO

FONTE: Chamecki e Calliari (1999, p. 98)

Os cálculos podem ser feitos com as equações simplificadas:

207
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

TABELA 2 – CÁLCULO PELO MÉTODO BISHOP SIMPLIFICADO


Fatias 1 2 3 4 5
Base bi (m) 7,7 7,7 7,7 7,3 7,3
Alt. Média h’i (m) 4,6 11,3 15,7 15,0 8,0
Peso (Wi) = (bi* h’i * γ) (tf) 65,53 160,97 223,65 202,58 108,04
αi -24º -4º 14º 32º 56º
W x senαi -26,65 -11,23 54,11 107,35 89,57 Σ=213,15
xi = bi (c’+γh’itgφ’) 46,95 81,69 104,50 95,63 61,22
Com F’1=1,5-> tgφ'/F1= 0,242
0,81 0,98 1,03 0,98 0,76
Assim, ki
Xi/ki 57,96 83,36 101,46 97,58 80,55 Σ=420,91
Com F’2= 3,0-> tgφ'/F2= 0,121
0,86 0,99 1,00 0,91 0,66
Assim, ki
Xi/ki 54,59 82,52 104,50 105,09 92,76 Σ=439,46
Com F’3= 1,5-> tgφ'/F2= 0,181 0,84 0,98 1,01 0,94
0,72
Assim, ki
Xi/ki 55,89 83,36 103,47 101,73 85,03 Σ=429,48
FONTE: Chamecki e Calliari (1999, p. 97)

1º tentativa:
F’1= 1,5

Portanto, F’1 ≠ F″1

2º tentativa:
F’2= 3,0

Portanto, F’2 ≠ F″2

3º tentativa:
F’3= 2,01

Portanto, F’3 ≠ F″3 = 2,01

Conclusão: como F > 1,5 o talude é estável para o centro de rotação e a


superfície de ruptura adotados.
208
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem os taludes naturais e aqueles construídos pelo homem.

• Eles apresentam um fator de estabilidade que pode ser determinada pelo Fator
de Segurança.

• Quando os taludes estão instáveis eles podem sofrer uma movimentação da


sua massa e esta movimentação pode ser dada de diferentes formas.

• Existem diferentes maneiras analíticas e numéricas para calcular a estabilidade


de um talude, dependendo da sua geometria e características mecânicas e
físicas do solo que o compõe.

209
AUTOATIVIDADE

1 (INFRAERO, 2011) O processo de estabilização de um terreno inclinado,


que foi objeto de trabalho para contenção de escorregamentos, está
corretamente associado com:

a) ( ) Erosão superficial, que é uma forma de estabilidade muito comum


e depende de condições geológicas, topográficas e climáticas, sendo
agravada pelas constantes precipitações pluviométricas, que favorecem
o processo erosivo.
b) ( ) Drenagem, que é de grande importância na estabilidade dos taludes,
tanto a drenagem superficial, através de canaletas, como a profunda,
por meio de furos horizontais.
c) ( ) Aumento da inclinação do talude, que de uma maneira geral, é o método
mais simples de reduzir o peso e aumentar seu ângulo de inclinação.
d) ( ) Limpeza do talude e a capinação, os quais são métodos que facilitam o
escoamento das águas pluviais.
e) ( ) Muros de arrimo convencionais, que são bastante instáveis, passíveis
de desmoronamento.

FONTE: INFRAERO. Prova FCC Engenheiro Civil - Estruturas - Edificações. 2011. Disponível
em: <https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/75c27d9b-d0>. Aces-
so em: 10 dez. 2019.

2 Quais são as hipóteses básicas do método de equilíbrio limite?

3 Indique as hipóteses implícitas no Método de Fellenius. Comente as


vantagens e desvantagens de usar esse método em detrimento ao de Bishop
Simplificado.

4 Um projeto prevê a execução de um talude em um solo puramente friccional,


conforme mostrado. Assumindo-se o solo seco, este talude será estável após
a execução frente a uma ruptura plana? Caso não, qual a inclinação máxima
para que o talude se encontre minimamente estável? E em segurança?

φ' = 31º

210
5 Qual o fator de segurança para o talude mostrado a seguir? Supõe-se a
ocorrência de ruptura plana a uma profundidade de 4 m por conta de uma
camada de material mais frágil com φ′ = 23º e c′ = 35kPa. O solo movimentado
apresenta γnat = 18 kN/m3. (β = 37º)

6 Calcule o fator de segurança, para o caso de ruptura plana, para uma


barragem de enrocamento conforme mostrado a seguir, quando esta sofre
rebaixamento rápido. Qual o fator de segurança quando a barragem está
cheia?

7 Determine o fator de segurança do talude mostrado, empregando o método


de Hoek e Bray.

211
212
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

BARRAGENS DE TERRA

1 INTRODUÇÃO

As barragens de terra são elementos construídos em vales para represar a


água do local com o fechamento transversal desse vale. As principais finalidades
são: abastecimento de cidades, auxílio na irrigação e produção de energia elétrica
(MELLO; TEIXEIRA, 1963). Essas construções estão presentes há muito tempo,
com seus primeiros registros há mais de 6,8 mil anos, com uma barragem de
12 metros de altura, localizada no Egito, de acordo com Thomas (1976 apud
MASSAD, 2010).

Antigamente, as barragens eram construídas com material transportado


manualmente e compactado por pisoteamento por homens ou animais. Ao longo
do tempo, novas técnicas foram criadas e aprimoradas para melhorar a qualidade
e garantir mais segurança às construções. Massad (2010) afirma que em 1820 foi
introduzida a utilização de porções de argila no solo da barragem para evitar
vazamentos. Para contornar a falta de material terroso disponível, estima-se que
em 1850 tenha iniciado o uso de enrocamento, ou seja, o empilhamento de rochas.
Nessa época, as rochas eram simplesmente colocadas em cima das outras, e,
portanto, não eram compactadas. Isso gerou problemas de infiltração e recalques.

Por volta do fim do Século XIX, iniciou-se a prática da compactação


mecânica, e, atualmente, os aterros de enrocamento são executados com rolos
compactadores vibratórios (MASSAD, 2010). O Quadro 4 ilustra alguns exemplos
de barragens e evolução na história.

213
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

QUADRO 4 – BARRAGENS NA HISTÓRIA

Ano Registro ou ocorrência Local

Barragem de Sadd-El-Katara
4800 a. C. Altura: 12m Egito
Destruída por transbordamento
Barragem de terra
500 a. C. Altura: 12 a 27 metros Sri Lanka
13000000m³ de material
Norte da Itália
100 a. C. Barragens romanas em arcos
Sul da França
Barragem Madduk-Masur
1200 d. C. Altura: 90 metros Índia
Destruída por transbordamento
Barragem de Estrecho de Rientes
1789 Altura: 46 metros Espanha
Destruída logo após o primeiro enchimento
Telford introduz o uso de núcleos argilosos em
1820 Inglaterra
barragens de terra e enrocamento
Barragem de Fort Peck
Fim do século
Altura: 76 metros EUA
XIX
100000000m³ de material
Experiências de Darcy
1856 França
Velocidade de percolação da água
1859 Patente do primeiro rolo compactador a vapor Inglaterra
Surge o primeiro rolo compactador tipo pé de
1904 EUA
carneiro
A mecânica dos solos consolida-se como
1930-40 EUA
ciência aplicada
Rolos compactadores vibratórios EUA
Barragem de Nurek (URSS) com 312 metros URSS
Hoje
Barragens com membranas Brasil
Barragens em terra armada E outros
FONTE: Massad (2010, p. 174)

No Brasil, Vargas (1977 apud MASSAD, 2010) explica que as primeiras


barragens foram construídas no início do Século XX, no Nordeste, no intuito de
reduzir as secas da região. Em 1947, a barragem de Terzaghi foi inaugurada no
Rio de Janeiro como um momento importante, pois foi a primeira vez no país que
se utilizou um filtro vertical para drenagem interna.

Assim como a escolha do tipo de fundações, optar por determinada


barragem requer estudo da região e do solo. Prefere-se um local que tenha
topografia favorável com queda natural e que a região ofereça materiais para a
construção (MELLO; TEIXEIRA, 1963).

214
TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA

Caputo (2017) diz que a escolha do local para construção da barragem


depende de condições geológicas e geotécnicas da região, bem como de fatores
hidráulicos, hidrelétricos e político-econômicos.

Conforme sugestão de Caputo (2017), entre os estudos preliminares para


a construção de uma barragem estão:

• Investigação topográfica: a topografia influencia na escolha do tipo de barragem,


por exemplo, vales apertados indicam que as margens não foram erodidas,
o que revela a existência de rocha de boa qualidade. Caso o vale seja muito
aberto e plano, pode ser um indicativo de material erodido, como depósitos
de aluvião e rocha de má qualidade (MELLO; TEIXEIRA, 1963). Assim, o
levantamento topográfico auxilia na escolha da barragem e da localização onde
será construída, bem como a sua bacia de acumulação (CAPUTO, 2017).
• Investigação hidrológica: tem o objetivo de conhecer o regime de águas da
região. De acordo com Massad (2010), o fator hidrológico-hidráulico deve
ser estudado, pois influencia na determinação da altura, sobre-elevação da
barragem, dimensões do vertedouro e necessidade de desvio do rio durante
a construção da barragem. Em alguns casos, pode-se optar por executar uma
barragem autovertedora, ou seja, que suporta o transbordamento caso a
barragem se encha acima do limite. Essa escolha também tem influência na
investigação hidrológica.
• Investigação geológica: pretende estudar as rochas e a capacidade de suporte
de carga para resistir às cargas da estrutura com a ausência e presença de água
(CAPUTO, 2017).
• Investigação geotécnica: estuda as propriedades dos materiais da fundação e
do empréstimo, que é o solo coletado para construção da barragem (CAPUTO,
2017).

2 TIPOS DE BARRAGENS
As barragens têm como objetivo principal o represamento de água, e, para
isso, existem vários tipos de barragens. Mello e Teixeira (1963) apresentam quatro
tipos fundamentais de barragens:

• barragem de gravidade;
• barragem e gravidade aliviada;
• barragem em arco;
• barragens de terra e de enrocamento.

Mello e Teixeira (1963) citam a barragem de gravidade como as mais


antigas em uso pelo homem. No passado, eram construídas em alvenaria depois
mudaram para concreto simples e ciclópico.

215
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

NOTA

Concreto ciclópico é o concreto comum (cimento, água, areia e brita) com


o acréscimo de pedras grandes, como o matacão. Também chamado de fundo de pedra
argamassada é, geralmente, utilizado em fundações, muros de arrimos e barragens
(ECIVIL, 2019).

Uma barragem pode ser considerada de grande porte quando possui


altura superior a 15 m. Se a altura da barragem estiver entre 10 e 15 metros, é
preciso que sejam satisfeitas as condições a seguir para ser caracterizada como
grande porte:

• Comprimento de crista igual ou superior a 500 metros.


• Reservatório com volume total superior a 1000000 m³.
• Vertedouro com capacidade superior a 2000 m³/s.
• Barragem com condições difíceis de fundações.
• Barragem com projeto não convencional.

Conforme Carvalho (2011), as barragens são compostas pelos seguintes


elementos:

1. Crista: parte superior da barragem, normalmente tem largura maior que três
metros, dependendo da necessidade de tráfego, que dará acesso a serviços
de manutenção. A cota da crista, ou seja, a altura da barragem deve ser
equivalente ao nível máximo de água mais a borda livre do reservatório. É
necessário um sistema de drenagem na crista para evitar erosão e acúmulo de
água (GOUVEIA, 2019).
2. Borda livre: distância vertical entre a crista da barragem e o nível de água do
reservatório (GOUVEIA, 2019).
3. Talude de montante: parte do maciço que fica em contato com a água do
reservatório. Montante é área entre a represa e a nascente do rio (GOUVEIA,
2019).
4. Proteção do talude de montante (rip-rap): pedras lançadas ou colocadas de
forma arrumada para proteger o talude (GOUVEIA, 2019).
5. Talude de jusante: parte que fica entre a barragem e a foz do rio (GOUVEIA,
2019).
6. Proteção do talude de jusante (rama ou outro elemento).
7. Trincheira de vedação.
8. Filtro horizontal.
9. Filtro vertical.
10. Dreno de pé.
11. Cortina de injeção.
12. Poço de alívio.

216
TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA

13. Tapete impermeável.


14. Sistema e drenagem das águas pluviais.

A Figura 18 e a 19 ilustram a disposição dos principais elementos de uma


barragem de terra homogênea. Esse tipo de barragem é composto por apenas um
material no seu interior. Também é necessário um sistema de extravasamento
(vertedouro ou sangradouro, ver) e comportas (CARVALHO, 2011).

FIGURA 18 – PRINCIPAIS ELEMENTOS DE UMA BARRAGEM DE TERRA (HOMOGÊNEA)

FONTE: Carvalho (2011, p. 3)

FIGURA 19 – PRINCIPAIS ELEMENTOS DE UMA BARRAGEM DE TERRA (ZONADA)

FONTE: Carvalho (2011, p. 3)

217
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

A Figura 20 apresenta outros elementos de uma barragem, como caixa de


nível, tubulação de fundo e sangradouro (ou vertedouro), em ordem numérica
crescente.

FIGURA 20 – ELEMENTOS DE BARRAGEM

FONTE: Carvalho (2011, p. 4)

As barragens podem ser classificadas de acordo com o material de


construção: de concreto, de terra e de enrocamento. A seguir, detalharemos as
barragens de concreto e de terra, que são as mais comuns. A Figura 21 apresenta
alguns exemplos de barragens em desenho esquemático, sendo barragem de
gravidade (1), em arco (2), de contraforte (3) e de terra (4).

FIGURA 21 – EXEMPLOS DE BARRAGENS

FONTE: Armelin e Ferreira (2003, p. 3)

218
TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA

2.1 BARRAGENS DE CONCRETO


As barragens de concreto podem ser barragem de peso ou gravidade,
arco-gravidade, abóbadas ou contrafortes (CAPUTO, 2017).

2.1.1 Barragens de peso


A barragem de peso, também conhecida como barragem de gravidade, tem
a estabilidade garantida pelo peso da própria estrutura. “O terreno de fundação
deve ter boas características de resistência, deformabilidade e estanqueidade”
(CAPUTO, 2017, p. 510).

A Figura 22 mostra a barragem de Grande Dixence, localizada na Suíça,


represa a água vinda de geleiras da região e foi construída entre 1951 e 1965. Suas
dimensões são grandes proporções com uma base de 200 metros de espessura,
695 metros de comprimento e 285 metros de altura (MY SWITZERLAND, 2019).

FIGURA 22 – BARRAGEM GRANDE DIXENCE

FONTE: My Switzerland (2019, s.p.)

A Figura 23 mostra as forças que atuam na barragem de peso, sendo elas


o empuxo hidrostático da água (EH), a resultante das subpressões (U) que atua
na base da barragem gerando uma tendência para desestabilizá-la, pois reduz o
efeito do peso próprio (P) que é uma força estabilizadora (MASSAD, 2010).

Para verificação da estabilidade desse tipo de barragem, Massad (2010)


explica que se devem observar dois aspectos: primeiro a estabilidade em relação
ao deslizamento, comparando a força do empuxo hidrostático da água (EH) com
a força de cisalhamento (T) e segundo a estabilidade em relação ao tombamento.
Também é preciso avaliar a resultante das forças atuantes, para que a localização
dessa resultante esteja localizada no terço médio da base.

219
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 23 – FORÇAS EM UMA BARRAGEM DE PESO

FONTE: Massad (2010, p. 176)

2.1.2 Barragens de arco-gravidade


A barragem do tipo arco-gravidade é composta por curvas em planta e
com face convexa para montante (CAPUTO, 2017). A Figura 24 mostra a barragem
em arco de Inguri, na Geórgia, para produção de energia elétrica, possui altura de
271 metros (ENGWHERE, 2019).

220
TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA

FIGURA 24 – BARRAGEM DE INGURI

FONTE: Newagecinema (2019, s.p.)

Mello e Teixeira (1963) afirmam que as barragens em arco devem ser


executadas em vales apertados, em que a rocha do fundo de vale e das ombreiras
tenha qualidade. Nesse caso, parte da carga é transmitida para as encostas e a
estabilidade da barragem é feita pelo peso próprio (CAPUTO, 2017). Comparado
a uma barragem de peso, a barragem de arco-gravidade utiliza um volume
substancialmente menor (QUINTAS, 2002).

2.1.3 Barragens de contraforte


Conforme Caputo (2017) menciona, as barragens de contraforte são
compostas de cortina e contraforte (em amarelo na Figura 25).

FIGURA 25 – BARRAGEM DE CONTRAFORTE

FONTE: Gomes (2013, p. 7)

221
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

Podem ser dos seguintes tipos (CAPUTO, 2017):

• barragem de cortina plana: caso a cortina em laje armada seja apoiada nos
contrafortes;
• barragem de abóboda ou cúpulas múltiplas: caso a cortina seja composta por
uma série de abóbodas ou cúpulas engastadas nos contrafortes;
• barragem de gravidade aliviada: caso a cortina seja formada por um contraforte
espesso a montante.

FIGURA 26 – BARRAGEM NO CANADÁ (HYDRO-QUÉBEC)

FONTE: Naghettini (1999, p. 146)

2.2 BARRAGENS DE ATERRO


As barragens de terra podem ser subdivididas em barragens de terra, de
enrocamento e mistas. Suas estruturas têm formato trapezoidal, são homogêneas
ou zonadas (divididas em zonas) (QUINTAS, 2002). A Figura 27 apresenta as
seções típicas de uma barragem homogênea (a) e de uma barragem zonada (b),
que pode ser em terra e enrocamento.

222
TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA

FIGURA 27 – SEÇÕES TÍPICAS DE BARRAGENS DE ATERRO


a)

b)

FONTE: Dorth, Costa e Silva (2019, p. 13-14)

2.2.1 Barragens de terra


A barragem de terra homogênea é o tipo mais utilizado no Brasil, pelas
condições topográficas e disponibilidade de material terroso, ver Figura 28. É uma
construção que permite que suas fundações sejam mais deformáveis, executadas
sobre solos moles (MASSAD, 2010).

223
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 28 – BARRAGEM DE ALIJÓ, PORTUGAL

FONTE: CNPGB (2019, s.p.)

Já a barragem zonada também é uma barragem de terra, construída com


um único solo de empréstimo, mas a compactação é realizada de forma diferente
em cada porção de solo, conferindo umidades distintas para cada zona (MASSAD,
2010). Ou seja, é uma barragem formada por um núcleo de terra impermeável,
limitado por zonas permeáveis (CAPUTO, 2017).

O perfil zonado apresenta um núcleo, normalmente de material argiloso


que impede que a percolação da água, ou seja, a água não consegue passar
por essa região. A estabilidade é garantida por dois maciços estabilizadores
localizados a montante e a jusante do núcleo. Além disso, é necessário o uso
de drenos e filtros para manter o escoamento da água e evitar infiltrações e
acúmulos (QUINTAS, 2002).

2.2.2 Barragens de enrocamento


A barragem de enrocamento pode ser definida como uma barragem
composta por mais de 50% de material permeável compactado ou descarregado
(QUINTAS, 2002). Sua estabilidade é influenciada pelas rochas que a compõem.

Após estudar os vários tipos de barragens, a Figura 29 traz um resumo


dos exemplos mencionados, mostrando a seção típica e a vista em planta de
cada um.

224
TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA

FIGURA 29 – RESUMO DOS TIPOS DE BARRAGENS

Material de Construção Seção Transversal Típica Vista em Planta

concreto ou alvenaria
de pedra bruta

concreto

concreto

terra e/ou rocha

FONTE: Naghettini (1999, p. 140)

3 ESTABILIDADE DE BARRAGENS
De acordo com Naghettini (1999), as forças que atuam em barragens
estão demonstradas na Figura 30 e correspondem à gravidade (P- peso próprio
da estrutura da barragem), empuxo hidrostático (representado na imagem pelas
letras H) e a força relacionada à pressão ascensional exercida pelo escoamento
da água pela sua base. O terreno onde está assentada a barragem recebe os
esforços resultantes, e, por sua vez, reage com tensões de intensidade igual e
sentido contrário.

225
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 30 – FORÇAS ATUANTES EM BARRAGENS

FONTE: Naghettini (1999, p. 141)

Peso da barragem: produto entre volume da barragem pelo peso específico


do material utilizado. A linha de ação da força passa pelo centro de gravidade da
seção da barragem (NAGHETTINI, 1999).

Forças hidrostáticas: atuam tanto a montante quanto a jusante, tem uma


componente horizontal (Hh) exercida na projeção da face da barragem em um
plano vertical, sua linha de ação está na altura de h/3 em relação a base, sendo
(NAGHETTINI, 1999)

Com:

h = profundidade
γ = peso específico da água

A componente vertical é o peso da coluna de água sobre a face da barragem


e sua linha de ação passa pelo centro de gravidade dessa coluna (NAGHETTINI,
1999).

Pressões ascencionais: são o resultado da água sob pressão que percola da


base da barragem. A resultante que tem sua linha de ação passando pelo centro
geométrico do diagrama trapezoidal de pressões corresponde a (NAGHETTINI,
1999):

226
TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA

Em que:

t= largura da base
h1= altura hidrostática no calcanhar da barragem
h2= altura hidrostática no pé da barragem

O solo logo abaixo da barragem deve ser capaz de suportar os esforços


que recebe da fundação considerando a ausência e presença de água. Naghettini
(1999) reforça que barragens podem ter sua segurança comprometida por conta
da ruptura das camadas subjacentes do subsolo.

As barragens de peso ou gravidade têm as mesmas condições de


estabilidade que os muros de arrimos, devendo ser consideradas as forças verticais
(V), horizontais (H) e momentos (CAPUTO, 2017). Ou seja, para a segurança
contra o tombamento, a somatória dos momentos deve ser nula, para a segurança
contra o escorregamento (deslizamento)

Sendo f o coeficiente de atrito da barragem com o terreno, com valores


entre 0,5 e 0,8 (CAPUTO, 2017). Para a segurança contra a ruptura da fundação,
avalia-se a pressão admissível do terreno (p) comparada à pressão máxima.

Para uma análise mais completa, devem-se avaliar as condições de


segurança para a situação em que o nível de água do reservatório esteja no máximo
(barragem em carga) e no mínimo (barragem sem carga) (CAPUTO, 2017).

Caputo (2017) explica que para a estabilidade de uma barragem de terra é


preciso analisar a estabilidade do corpo da barragem e do solo de fundação.

Para o corpo da barragem, consideram-se o problema dos recalques, da


ruptura de taludes e das tensões cisalhantes geradas na base do terrapleno. Os
recalques podem ser reduzidos quando bem executado e sua análise é feita de
acordo com os métodos mostrados no Tópico 1 da Unidade 3. Para as barragens,
devem ser considerados os efeitos gerados pela água, como as pressões neutras e
as forças de percolação (CAPUTO, 2017).

Como já mencionado, o solo da fundação deve resistir aos esforços da


barragem. Para uma barragem de seção triangular, pode-se estimar um valor de
tensão máxima de cisalhamento (t) pela teoria de plasticidade:

227
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

Em que:

H= altura da barragem
h= altura da camada compressível do solo abaixo da barragem
B= largura da seção da barragem triangular

Caputo (2017) observa que essa equação tem a seguinte restrição:

Se h > B, considera-se:

E a condição de estabilidade fica estabelecida por (CAPUTO, 2017):

Em que τ é a resistência ao cisalhamento o terreno de fundação.

Quando a estabilidade das barragens não consegue ser mantida, podem


ocorrer rupturas. Caputo (2017) afirma que as causas mais frequentes são
extravasamento, infiltrações e escorregamentos.

O extravasamento é o aumento do nível de água, de modo que ultrapasse


a crista da barragem. Esse acontecimento não é desejável e pode ser evitado por
um vertedouro bem dimensionado que consiga eliminar a água do reservatório
em excesso (CAPUTO, 2017).

Para reduzir a ocorrência do extravasamento, Caputo (2017) orienta


que a crista da barragem deve ter uma determinada distância R (chamada de
revanche, ou freeboard) do nível de água máximo. A Figura 31 ilustra o efeito do
extravasamento e a distância R, que pode ser considerada como

Em que h é dado em metros e representa a altura das ondas e v (m/s) é a


velocidade das ondas produzidas pelo vento (CAPUTO, 2017).

228
TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA

FIGURA 31 – EXTRAVASAMENTO DE BARRAGEM

FONTE: Caputo (2017, p. 536)

A altura das ondas, segundo Caputo (2017), pode ser estimada pela
fórmula de Stevenson:

Em que L (km) é o máximo comprimento retilíneo do reservatório, normal


ao eixo da barragem, também conhecido como fetch. Para a velocidade da onda,
utiliza-se a relação de Gaillard (CAPUTO, 2017):

Outra causa de ruptura de barragens são as infiltrações que podem ocorrer


tanto através do corpo da barragem como da sua fundação e podem comprometer
a estabilidade da obra. As pressões de percolação, ou seja, as pressões da água
se movimentando no solo, podem se tornar excessivas gerando o carreamento
(transporte) das partículas finas no local em que ocorre a infiltração onde houver
material mais permeável, seja na barragem ou na fundação. Assim, forma-se
um caminho por onde esse carreamento acontece, causando um orifício cada
vez maior em formato tubular, como apresentado na ilustração da Figura 32
(CAPUTO, 2017) como uma erosão negativa.

229
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 32 – CARREAMENTO DE MATERIAL

FONTE: Caputo (2017, p. 537)

Essa erosão negativa é conhecida como erosão tubular ou piping e pode


comprometer seriamente a estabilidade da barragem, inclusive levando-a ao
colapso. Para evitar esse processo, Caputo (2017) sugere que a saída da água seja
facilitada e a sua velocidade seja reduzida. “No corpo da barragem, a orientação
favorável ao percurso da água é obtida pela instalação de sistemas drenantes”
(CAPUTO, 2017, p. 538).

Quando o piping ocorre no terreno da fundação, a recomendação para


proteção é o uso de um tapete impermeabilizante a montante, a construção de
uma trincheira de vedação (cut-off) ou a construção de poços de alívio, ilustrados
na Figura 33 (CAPUTO, 2017).

FIGURA 33 – TIPOS DE DRENOS

FONTE: Caputo (2017, p. 538)

230
TÓPICO 2 — BARRAGENS DE TERRA

Caputo (2017) afirma que a utilização do filtro, tapete e trincheira, em


conjunto, garantem a proteção da barragem, evitando os efeitos da percolação.

FIGURA 34 – CUT-OFF E POÇO DE ALÍVIO

FONTE: Caputo (2017, p. 538)

A última causa para ruptura de barragem é o escorregamento. Segundo


Caputo (2017, p. 540), os escorregamentos “acontecem quando as tensões de
cisalhamento ultrapassam as resistências ao cisalhamento do solo”.

231
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• As construções de barragens acontecem há muitos anos na história.

• As barragens são obras de grandes proporções e exigem diversos estudos para


escolher o tipo ideal e o melhor local para sua execução.

• Existem vários tipos de barragens.

• As barragens podem se romper por questões hidráulicas ou estruturais.

232
AUTOATIVIDADE

1 Na figura a seguir, é apresentada a seção transversal da construção de


uma barragem de enrocamento com núcleo de argila. A camada sob o solo
arenoso subjacente à barragem é uma rocha de boa qualidade, podendo ser
considerada impermeável do ponto de vista prático. As letras indicadas
na imagem a seguir correspondem a quais elementos de uma barragem?
(Adaptado de CEBRASPE, 2002).

FONTE: CEBRASPE (CESPE) – Perito Criminal Federal/Área 7/2002. Disponível em: <https://
www.tecconcursos.com.br/conteudo/questoes/51091>. Acesso em: 23 dez. 2019.

2 Quais são os principais tipos de barragens? Quais são suas diferenças?

3 É possível afirmar que a construção de barragens é algo novo na engenharia?


Quando foram encontrados os primeiros registros de barragens?

4 Assim como para a escolha das fundações, projetar uma barragem exige
alguns estudos. Quais são eles? O que eles querem garantir?

5 Quais são as forças atuantes numa barragem?

6 Cite as condições de estabilidade para uma barragem do tipo gravidade.

233
234
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

1 INTRODUÇÃO

Segundo Helene (1992), patologia pode ser compreendida como o ramo


da engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e as origens das
anomalias das construções civis, ou seja, é o estudo das partes que compõem o
diagnóstico do problema.

De acordo com Miltitsky, Consoli e Schnaid (2015), o comportamento de


uma fundação em longo prazo pode ser afetado por inúmeros fatores, iniciando
por aqueles decorrentes do projeto propriamente dito, que envolve o conhecimento
do solo, passando pelos procedimentos construtivos e finalizando por efeitos de
acontecimentos pós-implantação, incluindo sua possível degradação. Segundo
eles, a ocorrência de patologia e a necessidade de reforço da fundação implicam,
além de custos que podem chegar a valores muitas vezes superiores ao custo
inicial, em estigma para a obra; abalo da imagem dos profissionais envolvidos na
construção; longos, caros e desgastantes litígios para identificação das causas e
responsabilidades; necessidade de evacuação de prédios; interdição de estruturas,
entre outras complicações.

Muitos são os casos famosos de monumentos históricos que foram


danificados por patologias, e muito desses ficaram mundialmente conhecidos
devido a tal patologia em sua fundação. Alguns casos clássicos são apresentados
na Figura 35 e já foram comentados no tópico em que falamos sobre os recalques
de fundações. Casos como: a Torre de Pisa e da Cidade do México têm sido muito
investigados mundialmente por especialista na área.

No caso brasileiro são conhecidas as edificações de Santos em São


Paulo que apresentaram deslocamento diferencial dos apoios diferencialmente,
inclinando as estruturas. Várias propostas de correção foram feitas para reverter
a situação. A origem do problema foi a deficiência do solo de Santos, formado
por uma camada superficial de areia sobre uma extensa camada de solo argiloso,
muito compressível. Como as fundações dos edifícios eram sapatas, o sistema
fundação-solo não foi adequado e muitos (cerca de cem) destes prédios passaram
a inclinar-se (LMC USP, 2001).

235
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 35 – EXEMPLOS DE PATOLOGIAS EM FUNDAÇÕES (A) TORRE DE PISA; (B) CATEDRAL


DA CIDADE DO MÉXICO; (C) LITORAL DE SANTOS - SP

(a) (b)

(c)
FONTE: Máquina de aprovação (2017, p. 1)

Um dos exemplos de Santos (SP), construído em 1967, com 17 andares


e 55 m de altura, o Núncio Malzoni teve suas fundações diretas apoiadas em
uma camada de areia fina e compacta com 12 m de espessura apoiada sobre uma
camada de 30 m de argila mole. Os recalques ocorridos neste edifício levaram-no
a sair 2,10 m do prumo, como ilustrado na Figura 36.

Segundo o LMC USP (2001), o projeto de reaprumo do prédio foi


considerado inédito no mundo, foi visitado por engenheiros de diversos países
como México, Canadá e Japão, e até por um dos engenheiros responsáveis pela
solução adotada na Torre de Pisa, que veio conhecer a técnica utilizada.

236
TÓPICO 3 — PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

FIGURA 36 – DESAPRUMO EDIFICIO MAZONI - SANTOS, SP

FONTE: <http://www.lmc.ep.usp.br/people/hlinde/Estruturas/images/Conceito%20-%20des-
loc_apoios/inclinacao.jpg>. Acesso em: 13 mar. 2020.

2 CAUSAS DE PATOLOGIAS EM FUNDAÇÕES


Uma fundação adequada é aquela que apresenta o fator de segurança à
ruptura (estrutural e geológica) e recalques compatíveis com o funcionamento do
elemento suportado. O conhecimento de todas as possibilidades de problemas
permite uma ação mais qualificada dos diferentes tipos que se pode intervir
na fundação. Na ocorrência de patologias devem-se caracterizar os possíveis
mecanismos causadores e então a solução do problema requer essencialmente a
identificação das causas do processo de transferência das cargas da estrutura para
o solo (MILTITSKY; CONSOLI; SCHNAID, 2015).

Os autores, Miltitsky, Consoli e Schnaid (2015), apresentaram o fluxograma


da Figura 37 para explicar melhor as etapas de projeto de fundações e as possíveis
causas das patologias nas fundações.

237
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

FIGURA 37 – FLUXOGRAMA DAS ETAPAS DE PROJETO DE FUNDAÇÕES E AS POSSÍVEIS


CAUSAS DAS PATOLOGIAS

Conceitos básicos da Recalques: efeitos e


Capacidade de carga mecânica dos solos valores admissíveis

Patologia de
fundações
Comportamento do solo
Ausência
Interação solo x estrutura
Falha ou insuficiência
Análise e cálculo
Interpretação inadequada
Especificações construtivas

Investigação Análise
do subsolo e projeto

Execução Eventos
pós-conclusão

Alteração de uso e
carregamento
Tipo de fundação:
Movimentos de massa:
superficiais e profundas
fatores externos
Vibrações e choques
Degradação

FONTE: Miltitsky, Consoli e Schnaid (2015, p. 16)

As anomalias mais frequentes encontradas em fundação segundo Cánovas


(1988) são originadas por:

a) Falha ou negligência no processo de investigação geotécnica.


b) Fundações Inadequadas: dimensões das fundações inadequadas ou aumento
nas cargas ou sobrecargas previstas em projeto.
c) Recalques do Solo: que podem provocar um estado de fissuração na estrutura
podendo levá-la ao colapso. Ex.: torre de Pisa (Itália) e as edificações da cidade
de Santos-SP.
d) Mudanças nas condições do solo: umidade relativa do solo ou alteração no
nível do lençol freático com a exploração da água subterrânea.

A causa mais frequente de problemas em fundações é a falha durante a


investigação do subsolo. Sua identificação e a caracterização de seu comportamento
são essenciais à solução de qualquer problema, devido ao solo ser o meio que
suportará as cargas (MILITITSKY; CONSOLI; SCHNAID, 2005).

238
TÓPICO 3 — PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

Segundo Logeais (1982), quando se trata de problemas patológicos com


ênfase em fundações, estudos comprovam que, a maior parte das anomalias
ocorre devido ao desconhecimento das características do solo. Na Figura 38,
observa-se um problema característico de erro na investigação do solo, onde um
matacão (volume pequeno de rocha) foi confundido com uma camada inteira
rochosa e foi adotada uma solução de fundação inadequada para o perfil de solo.

FIGURA 38 – PRESENÇA DE MATACÃO NO SOLO

FONTE: Miltitsky, Consoli e Schnaid (2015, p. 53)

Durante a execução de fundações diretas (sapatas ou tubulões), a


ocorrência dos matacões dificulta a implantação destes elementos, ora impedindo
que o horizonte resistente previsto em projeto seja atingido, ora oferecendo
indevida base em fundações previstas para apoiar na rocha.

FIGURA 39 – NÚMERO INSUFICIENTE DE INVESTIGAÇÕES: OS MATACÕES PODEM SER


CONFUNDIDOS COM A OCORRÊNCIA DE PERFIL DE ROCHA CONTÍNUA, (A) PERFIL REAL; (B)
PERFIL ADOTADO (INTERPRETAÇÃO EQUIVOCADA)

FONTE: Miltitsky, Consoli e Schnaid (2015, p. 54)

239
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

A ausência de investigação do subsolo é típica em obras de pequeno e


médio porte, em geral por motivos econômicos. Essa ausência de investigação
nestes casos é uma prática inaceitável. A normalização vigente deverá nortear
o tipo de programa de investigação, o número mínimo de furos de sondagem
e a profundidade de exploração (MILITITSKY; CONSOLI; SCHNAID, 2015). A
NBR 8036 (ABNT, 1983) define que o tipo de estrutura, as condições geotécnicas
do subsolo e suas características especiais definirão o número de sondagens e
a sua localização em planta. Em quaisquer circunstâncias o número mínimo de
sondagens deverá ser de 2 para área da projeção em planta do edifício até 200 m²,
e 3 para área entre 200 m² e 400 m².

Para Caputo (2017), os acidentes das obras ou das construções vizinhas


ocorrem basicamente devidos a recalques diferenciais pronunciados ou à ruptura
da fundação (do próprio elemento estrutural ou do terreno em que se apoia), sendo
diversos os fatores causadores. Esse tipo de anomalia provém dos Recalques do
Solo que podem provocar um estado de fissuração na estrutura podendo levá-la
ao colapso.

Uma forma de reconhecer a ocorrência de movimentação das fundações é


o aparecimento de fissuras nos elementos estruturais. Segundo Miltitsky, Consoli
e Schnaid (2015), toda vez que a resistência dos componentes da edificação ou
conexão entre elementos for superada pelas tensões geradas por movimentações,
ocorrem fissuras. O Quadro 5 apresenta alguns padrões típicos de fissuras
causadas por recalques de fundações de pilares internos com recalque na
extremidade. Muitas vezes a definição e identificação do tipo de movimento são
complexas, pois, a movimentação pode estar vinculada a diferentes elementos
que compõe a edificação, causando efeitos combinados. Para a identificação mais
correta é necessário fazer um acompanhamento das deformações e controle do
recalque para a identificação do movimento causador.

240
TÓPICO 3 — PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

QUADRO 5 – PROVÁVEIS DIAGRAMAS DE ESFORÇOS E FISSURAS EM ESTRUTURAS DE


CONCRETO POR RECALQUES DE FUNDAÇÕES DE PILARES INTERNOS E NAS EXTREMIDADES

RECALQUE CENTRAL

RECALQUE NA EXTREMIDADE

FONTE: Mañá (1978 apud MILTITSKY; CONSOLI; SCHNAID, 2015, p. 26)

2.1 RECUPERAÇÃO DE FUNDAÇÕES


Os conhecimentos básicos de mecânica dos solos, como capacidade
de carga e recalques admissíveis, devem ser utilizados para o diagnóstico do
problema. Com alguns dados como tipo de fundação, informações em relação

241
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

à investigação geotécnica do solo, projetos e cálculos de dimensionamento


da fundação, pode-se realizar uma intervenção na estrutura e recuperá-
la, se possível, para garantir a integridade estrutural e o uso da edificação
(MILITITSKY; CONSOLI; SCHNAID, 2005).

Outra causa relacionada às patologias nas fundações é o mau


dimensionamento das estruturas, algumas vezes causado por erros na
determinação das cargas e também por não considerar nos cálculos solicitações
ao próprio comportamento do solo, acarretando ruptura nas fundações. Esses
problemas são relacionados à etapa de projeto e podem ser classificados como
(MILITITSKY; CONSOLI; SCHNAID, 2005):

Relativos ao solo: descrição das patologias envolvendo o solo como


causador do problema.

Exemplo: adoção de perfil de projeto otimista (superestimativa do


comportamento), sem a caracterização adequada de todas as situações
representativas do subsolo, como a localização de camadas menos resistentes
ou compressíveis (Figura 40).

FIGURA 40 – PERFIS (A) OTIMISTA; (B) REAL DO SOLO

FONTE: Miltitsky, Consoli e Schnaid (2015, p. 60)

Relativos a mecanismos: problemas causados pela ausência de identificação


de mecanismos causadores de mau comportamento ou colapso.

Exemplo: quando uma fundação transfere carga ao solo e essa


transferência é considerada de forma isolada, a existência de outra solicitação
altera as tensões na massa de solo. Nas situações em que ocorre sobreposição de
esforços de fundações superficiais no solo, sem avaliação adequada de seu efeito,
os resultados obtidos na análise não são representativos.

242
TÓPICO 3 — PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

FIGURA 41 – SUPERPOSIÇÃO DE TENSÕES EM FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

FONTE: Miltitsky, Consoli e Schnaid (2015, p. 72)

Relativos ao desconhecimento do comportamento real das fundações:


cada tipo de fundação mobiliza cargas e deforma de maneira específica, o que
afeta o desempenho da estrutura apoiada sobre elas.

Exemplo: adoção de sistemas de fundações diferentes na mesma


estrutura, em razão das características de variação de cargas, variação de
profundidade das camadas resistentes do subsolo ou condições locais restritas de
acesso, sem preparação por juntas de comportamento ou avaliação adequada de
compatibilidade de recalques das diferentes fundações.

FIGURA 42 – SISTEMA DE FUNDAÇÕES DIFERENTES ORIGINADAS POR CARGAS DIFERENTES,


NÃO SEPARADOS POR JUNTAS, PROVOCANDO RECALQUES DIFERENCIAIS

FONTE: Miltitsky, Consoli e Schnaid (2015, p. 65)

243
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

Relativo a estruturas da fundação: problemas causados pelo projeto ou


detalhamento estrutural do elemento de fundação.

Exemplo: uso das solicitações obtidas ao nível do terreno para o


dimensionamento de fundações enterradas, sem a consideração das alterações,
por exemplo, o possível aumento dos momentos atuantes.

FIGURA 43 – USO DE MOMENTOS DO NÍVEL DE SOLO EM FUNDAÇÕES ENTERRADAS

FONTE: Miltitsky, Consoli e Schnaid (2015, p. 92)

As falhas de execução constituem o segundo maior responsável pelos


problemas de comportamento das fundações, de acordo com Miltitsky, Consoli
e Schnaid (2015). Os autores confirmam que mesmo no caso de contratação de
empresas especializadas para a execução de fundações, é necessário fiscalizar a
execução. Um exemplo, uma estaca nem sempre é executada conforme os requisitos
definidos no projeto, pois depende da variabilidade das condições de campo.
Além da possibilidade de variação das características do subsolo identificadas
na etapa de investigação, existem limitações de capacidade de equipamento e de
geometria (comprimentos e diâmetros, por exemplo), e as condições de campo,
muitas vezes, obrigam a mudanças substanciais no projeto original. Fundações
por estacas exigem uma comunicação eficiente entre o projetista e o executante,
de forma a garantir que as reais condições construtivas sejam observadas e o
projeto se adapte à realidade.

244
TÓPICO 3 — PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

Outro aspecto importante que pode gerar ou agravar patologias existentes


está relacionado à degradação dos materiais, principalmente quando estes são
colocados em contato com o solo e água ou são enterrados. Miltitsky, Consoli e
Schnaid (2015) explicam que é na etapa de investigação do subsolo que pode se
identificar elementos com potencial para degradação, com base na resistividade
do solo, pH, teor de sulfatos e cloretos.

DICAS

Para mais informações, sugere-se a leitura do Capítulo 6 do livro Patologia


nas fundações, no qual os autores apresentam dados de degradação para materiais como
concreto, aço, madeira e rocha.

Assim, observa-se que com os conhecimentos de mecânica dos solos é


preciso investigar o subsolo de forma precisa e viável economicamente, para
executar o projeto de estruturas, seja ele de fundações, de taludes ou barragens, de
forma adequada para garantir a estabilidade e segurança. Obras comprometidas
podem trazer riscos à estrutura, à comunidade vizinha, gerando custos, perda de
tempo, de bens materiais, e em casos extremos, perdas humanas.

245
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

LEITURA COMPLEMENTAR

O ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE MARIANA E SEUS


IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS

Luciano M. N. LOPES

Criadas para receberem os rejeitos provenientes do processo de extração


de minério de ferro pela mineradora Samarco S/A, as barragens de Fundão e
Santarém estavam localizadas num complexo que, ironicamente à tragédia
anunciada, chamava-se “Alegria”.

Estudos preliminares (BRASIL, 2015) apontam que, somente na barragem


de Fundão, havia aproximadamente 50 milhões de m³ de resíduos, classificados,
segundo a NBR 10.004, como sólidos, não perigosos e não inertes, como o ferro e
o manganês, ou seja, sua composição era formada basicamente por areia e metais.

No dia 5 de novembro de 2015, por volta das 16h20min., a barragem de


Fundão entrou em colapso e rompeu-se. Com a ruptura, cerca de 34 milhões de
m³ de rejeitos de minério, o equivalente a quatorze mil piscinas olímpicas, foram
diretamente lançados no meio ambiente, atingindo a barragem de Santarém, logo
à jusante, causando-lhe sérias avarias e o seu transbordo. Os 16 milhões de m³
restantes ainda continuam sendo despejados, vagarosamente, seguindo o sentido
da correnteza das águas em direção à foz do Rio Doce, no oceano espírito-santense
(BRASIL, 2015).

Segundo Gonçalves, Vespa e Fusco (2015), as barragens do complexo


operavam através de um método tradicionalmente utilizado em todo mundo:
o aterro hidráulico. Nesse sistema, os resíduos separados do ferro durante
o processo de mineração são escoados até as bacias (barragens) por força da
ação gravitacional. Já a filtragem da água é realizada pela areia, localizada
estrategicamente na parte frontal dessas bacias.

A despeito do sistema de aterro hidráulico ser o mais utilizado em todo


mundo, atualmente existem técnicas mais modernas que permitem a drenagem
mais segura dos resíduos da mineração através de filtros. Esse novo sistema,
entrementes, eleva em até seis vezes os custos de produção, o que tem inviabilizado
sua utilização pela maioria das empresas. Desta forma, esclarece Edilson Pissato,
professor de geologia de engenharia da Universidade de São Paulo (USP), as
mineradoras preferem assumir os riscos advindos da utilização de sistemas mais
tradicionais e menos onerosos (GONÇALVES; VESPA; FUSCO, 2015).

No caso do rompimento da barragem de Mariana/MG os especialistas são


uníssonos em afirmar que a utilização de técnicas mais modernas de filtragem
dos resíduos, a manutenção correta das barragens, a utilização de instrumentos

246
TÓPICO 3 — PATOLOGIA DAS FUNDAÇÕES

de monitoramento eletrônico, a implementação de sistemas de alerta, a adoção de


planos emergenciais e, sobretudo, uma fiscalização séria e eficiente pelos órgãos
competentes são medidas que, se estivessem em pleno funcionamento, certamente
teriam evitado o desastre ou minimizariam seus impactos socioambientais.

AS PROVÁVEIS CAUSAS DO ROMPIMENTO

[...] Peritos do setor afirmam que as possíveis causas para o rompimento


da barragem devem estar relacionadas ao processo de liquefação; aos abalos
sísmicos que antecederam o desastre; a falhas na construção/manutenção das
barragens; a uma fiscalização deficitária pelos órgãos competentes e à utilização
do reservatório acima de sua capacidade de armazenamento.

Para a maior parte dos especialistas, entretanto, o processo de liquefação


configura-se na hipótese mais provável para o colapso da represa de Fundão.
O fenômeno emerge quando a camada de areia depositada na parte frontal das
barragens opera no sentido inverso à sua utilização, ou seja, ao invés de expelir
a água, ela a retém. Isso ocorre devido a mudanças abruptas na pressão interna
do depósito, fazendo com que a areia se transforme em lama e deixe de filtrar os
resíduos.

A segunda causa refere-se aos pequenos tremores que precederam à


tragédia. Segundo sismógrafos da Universidade de Brasília (UNB), no dia do
rompimento das barragens, pelo menos onze pequenos abalos sísmicos, cujas
magnitudes oscilaram entre 1,7 a 2,7 graus na Escala Richter, foram detectados
nas áreas correspondentes às localidades de Mariana, Itabira e Itabirito. Todavia,
ainda não há como se afirmar, de forma cabal, se existe uma correlação entre
os tremores e o rompimento das barragens, conforme asseverou George Sandi
França, professor chefe do Observatório Sismológico da UNB.

O aumento exacerbado na produção de minério de ferro pela empresa


extrativista alicerça a terceira hipótese como causa provável da tragédia. Somente
no último ano, houve um incremento da ordem de 37% na geração do minério.
Com a aceleração da produção e o consequente aumento do volume de rejeitos,
a empresa iniciou, em julho de 2015, obras de elevação de sua estrutura com o
objetivo de ampliar sua capacidade de armazenamento. Acredita-se que, mesmo
após as obras de ampliação, houve um acúmulo de material superior à capacidade
suportada pela barragem, causando-lhe o seu rompimento.

A última teoria diz respeito à negligência da mineradora Samarco e à


vigilância deficitária dos órgãos responsáveis pela fiscalização.

Ao ignorar os laudos que alertavam tanto sobre as falhas na construção


como na manutenção da barragem a empresa de mineração demonstrou evidente
descaso e assumiu para si os riscos da tragédia que, entrementes, poderia ter sido
evitada se houvesse rigor nas fiscalizações e na vigilância realizadas pelos órgãos
competentes.

247
UNIDADE 3 — OBRAS DE TERRA

A despeito de suas causas e consequências ainda serem objetos de análise


de estudos complexos e aprofundados, a tragédia de Mariana, ainda em curso, já
é considerada por muitos especialistas como o maior desastre socioambiental da
história do Brasil.

FONTE: LOPES, L. M. N. O rompimento da barragem de Mariana e seus impactos socioambientais.


Sinapse Múltipla, v. 5, n. 1, p. 1-14, 2016. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/
sinapsemultipla/article/view/11377/9677. Acesso em: 13 mar. 2020.

248
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem construções que sofrem recalques significativos.

• Podem ocorrer patologias nas fundações por diversas causas.

• Informações do solo que não condizem com a realidade podem produzir


projetos com erros.

• O mau dimensionamento das estruturas pode gerar vários problemas.

CHAMADA

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

249
AUTOATIVIDADE

1 O que significa patologia na área da engenharia?

2 Por que os edifícios de Santos em São Paulo sofreram recalques?

3 Quais são os principais problemas que podem ocorrer nas fundações?

4 De acordo com a NBR 8036, qual é o número mínimo de pontos de sondagens


para análise do solo?

5 O que as fissuras em uma estrutura podem representar?

6 As estruturas das fundações devem ser dimensionadas corretamente para


transmitir as cargas ao solo de forma segura. Um mau dimensionamento
pode ocorrer por erros na determinação das cargas da estrutura que
está acima das fundações ou do próprio solo. Assim, cite os problemas
relacionados a essa etapa do projeto.

250
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