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BORGES
A ARTE DE PROJETAR
ESTRUTURAS
DE CONCRETO ARMADO
1ª Edição
a arte de projetar estruturas de concreto armado 1
1ª edição
a arte de projetar estruturas de concreto armado 2
Autor e Ilustrador
Matheus Silveira Borges é Engenheiro Civil (2015), Especialista em Estruturas na
Construção Civil (2016) e Mestre em Modelagem Computacional e Sistemas
(2018) e professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - IFNMG (2017).
Índice
Autor e Ilustrador 3
1. O material concreto armado 7
1.1 O concreto sozinho 7
1.2 O concreto armado 8
1.3 Produção do concreto e suas falhas… 10
1.4 O tal do Fck 10
1.5 E o aço? 10
1.6 Os concretos e os aços comerciais 11
Concreto 11
Aço 12
2. Ações estruturais 14
2.1 O que são as ações estruturais 14
2.2 Tipos de ações estruturais 15
2.3 Valores característicos e de projeto 16
2.4 Segurança estrutural 17
2.5 A combinação das ações 17
3. Concepção Estrutural e Estabilidade Global 23
3.1 Introdução à tal de estabilidade global 23
3.2 E como medir uma instabilidade? 24
3.2 O gama-z 25
4. Lajes de concreto armado 31
4.1 Lajes Treliçadas 31
5. Vigas de concreto armado 37
5.1 Um pouco sobre vigas de concreto armado 37
5.1.1 Conceito de vigas 37
5.1.2 Como funcionam as vigas de concreto armado 38
5.1.3 Domínios do concreto 39
5.2 Pré-dimensionamento de vigas 40
5.2.1 Método Simplificado 41
5.2.2 Método da Flecha 42
5.2.3 Método dos Domínios do Concreto 49
5.3 Prescrições (regras) de dimensionamento 51
5.3.1 Dimensões mínimas 51
5.3.2 Armadura mínima 52
5.3.3 Armadura máxima 52
5.3.4 Espaçamentos mínimos entre barras 52
5.4 Métodos de dimensionamento 53
5.4.1 Método K3 e K6 53
5.4.1.1 Dimensionamento de vigas simplesmente armadas 53
a arte de projetar estruturas de concreto armado 6
6 63
Pilares de concreto armado 63
6.1 Introdução ao estudos dos pilares 63
6.2 Anatomia de um pilar de concreto armado 64
6.3 O que você precisa saber para calcular um pilar 66
6.4 O tal do índice de esbeltez 66
6.5 Classificação dos pilares quanto ao tipo de carregamento e geometria na
arquitetura 69
6.6 Prescrições normativas 70
6.6.1 Seção de concreto 70
6.6.2 Diâmetro de armaduras 71
6.6.1 Área de aço 72
6.6.2 Espaçamentos entre armaduras 72
6.6.3 Espaçamento entre estribos 72
6.7 Dimensionamento das armaduras 72
Anexos 86
a arte de projetar estruturas de concreto armado 7
E isso é algo bem ruim pela ótica das estruturas, pois normalmente, os
elementos estruturais são a todo momento tracionados (e comprimidos
também), inviabilizando o uso do concreto sozinho para confecção das nossas
estruturas.
Perceba que onde tem tração, tem armadura! E onde tem somente
compressão, teoricamente, não precisamos de armadura, já que o concreto dá
conta sozinho.
Porém, nem tudo são flores! Por questões construtivas, temos que ter
armadura na parte de baixo e na parte de cima das vigas, mesmo sem precisar.
Isso porque temos que garantir o formato geométrico da viga e para tal,
precisamos de armaduras para fazer a função de quina.
Assim, por mais que somente em uma face exista tração, teremos que ter
armaduras nas duas faces da viga.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 10
Com isso, ele passa a ser um material com uma razoável margem de
incerteza no seu processo produtivo. E isso é, para nós, um grande desafio.
E para isso, são necessários ensaios de laboratório que nos dão uma pista
do quanto um concreto aguenta.
Imagine que você moldou 100 corpos de prova de uma obra. Depois de 28
dias, você irá rompê-los na prensa.
1.5 E o aço?
Bom, ao contrário do concreto e sua frágil cadeia de produção, o aço é
um material com um maior controle de qualidade em sua produção. Isso faz
com que sua utilização não precise de tanta preocupação quanto à sua
qualidade original.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 11
Então por que usamos concreto armado e não uma estrutura somente de
aço?
Concreto
Aço
O aço é vendido hoje em duas formas principais: CA-50 e CA-60. Ainda, temos o
CA-25, que apresenta um conjunto de aplicações mais restrito. Eu mesmo nunca
vi usando o CA-25.
Bitola (mm) Bitola (pol) Área (cm²) Massa (kg/m) Preço - 2023
Bitola (mm) Bitola (pol) Área (cm²) Massa (kg/m) Preço - 2023
OBS: Os preços acima são estimados e servem apenas para fins de realização
dos exercícios deste livro.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 13
Exercícios
2.5 Nós temos três tipos de aço para construção civil: CA-25, CA-50 e CA-60. Eles
têm a mesma aderência ao concreto? (Se vocês ainda não conhecem os tipos de
aço, uma rápida consulta à internet irá auxiliá-los)
2.6 Para relembrarmos de Resistência dos Materiais: Qual é o esforço que o aço
causa no concreto quando eles são submetidos aos esforços de tração?
a arte de projetar estruturas de concreto armado 14
2. Ações estruturais
Na laje acima, percebemos que cada componente construtivo tem o seu
peso específico, que é fornecido pela NBR 6120. Porém, como determinar como
essas ações irão atuar na estrutura e como serão feitas as combinações delas
dentro dos estados limites de desempenho?
É bem isso que vamos aprender neste capítulo mega especial! Vamos lá?
Ou seja, uma ação representa nada mais do que um esforço para que
algo se movimente. Porém, se não tivermos movimentação, não quer dizer que
a arte de projetar estruturas de concreto armado 15
não tivemos a ação. Apenas, alguma reação exercida por algum elemento da
estrutura foi competente o bastante para bloquear a eficácia desta ação em um
processo físico de ação e reação.
Ou seja, existe uma certa lógica da duração das ações estruturais. Nesse
sentido, podemos classificar as nossas ações da seguinte forma:
Durante toda a vida desta árvore, o tronco estará aplicando seu peso
sobre as raízes.
Porém, nessa norma, o que temos como dados de consulta são valores
característicos de ações. E o que vem a ser isso na prática?
Na NBR 6118:2014, essas ponderações são feitas pelo método dos estados
limites. Ou seja, ao invés de majorar uma carga especificamente com um
coeficiente de segurança fixo (estratégia determinística), fazemos as
combinações das mais diversas cargas contemplando as chances de que elas
ocorram de forma simultânea (estratégia probabilística).
Valores γf
Tipo de Recalques de apoio
combinação de Permanentes (g) Variáveis (q) e retração (ε)
ações D F G T D F
Normais 1,4(a) 1 1,4 1,2 1,2 0
Especiais/
construção 1,3 1 1,2 1 1,2 0
Excepcionais 1,2 1 1 0 0 0
OBS: D é desfavorável, F é favorável, G representa as cargas variáveis em geral e T é a
temperatura. (a) Para as cargas permanentes de pequena variabilidade, como o peso
próprio das estruturas, especialmente as pré-moldadas, esse coeficiente pode ser
reduzido para 1,3.
Exemplo 1
Perceba que nesta combinação, temos uma carga que alivia o pilar, ou
seja, com ela, o pilar fica menos carregado. O complicado é que essa é uma
ação variável e portanto, pode ser que em algum momento não esteja
carregando a estrutura. Com isso, precisamos fazer uma combinação retirando
ela para ver o que teremos atuando no nosso pilar:
Ou seja, sem essa ação, a estrutura alcançará seu ponto crítico. Assim, Fd
= 18,2tf.
Exemplo 2
Assim, teremos:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 20
Exercícios
G1 = 10KN/m
a arte de projetar estruturas de concreto armado 22
G2 = 5KN/m
Q1 = 20KN
Q2 = 5KN
C1 = G1D + G2D + Q1 + Q2
C2 = G1D + G2F + Q1 + Q2
C3 = G1D + G2D + Q1
C4 = G1D + G2D + Q2
C5 = G1D + G2D
a arte de projetar estruturas de concreto armado 23
Mas olha só: Durante a faculdade, aprendemos muito sobre uma coisa
que tem um nome parecido: estaticidade.
E como você já deve está esperando, essas duas coisas não são iguais.
Mas então, o que vem a ser estabilidade?
Até aí tudo bem. O grande problema é que, depois de algum tempo, você
vai cansar e com isso, o cimento vai começar a “querer” cair dos seus braços.
Agora, apesar do equilíbrio ainda existir, ele começou a mostrar que pode
ser perdido a qualquer momento. Ou seja, agora ele está um equilíbrio instável.
Ah! Matheus, mas medir o deslocamento lateral não é uma boa… Imagine
que o ciclista esteja fazendo uma curva. É natural que ele incline a bicicleta para
fazer a curva e isso nada tem a ver com o ciclista cair, não é mesmo?
3.2 O gama-z
O gama-z é o coeficiente de instabilidade que faz exatamente isso! Ele
compara os deslocamentos causados pela ação do vento (que são normais e
esperados) com os que acontecem por outros motivos (como por exemplo
assimetria na estrutura).
Com isso, ele consegue medir o que vai acontecer em dias que não
estiverem ventando, ou seja, causados por características “pessoais” da
estrutura.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 26
Exemplo
Exercícios
onde,
Faça uma análise desta fórmula e indique qual a importância de cada elemento
no resultado final.
E = 10GPa
6. Ainda, na sua opinião, o resultado que você encontrou é uma verdade plena?
Ou existem variáveis na estrutura modelada que, se alteradas, mudarão
totalmente os resultados?
Como a teoria das lajes maciças é idêntica à das vigas e nosso tempo não
permite estudar todos os tipos de lajes, vamos focar nas lajes pré-moldadas.
Acima, eu reproduzi uma das tabelas que tem no manual, que foi feita
especificamente para a vigota modelo TB 8L.
Vamos a um exemplo?
Exemplo 1
Consultando a legenda...
A flexão pura, tal como calculamos, é uma abstração teórica (tal como
muita coisa em cálculo estrutural), porém, de grande valor pedagógico. Vale
lembrar ainda que a flexão é um tipo de solicitação que automaticamente traz
junto de si esforços de compressão e de tração.
Mas o que tem por trás dessa ideia de usar armaduras para combater
tração? Como se comporta o concreto quando inserimos um material estranho a
ele. A seguir, vamos dar uma olhada em um dos fundamentos mais importantes
do dimensionamento de vigas de concreto armado: os domínios do concreto.
- Domínio II, onde a peça trabalha sob tração, mas agora também com um
pouco de compressão.
- Método simplificado;
- Método da Flecha;
Assim, teremos que condicionar nossa flecha ao limite l/250. Como aqui
temos uma flecha para baixo, iremos adotar -l/250. Teremos então:
existência, visto que, na prática, essa defasagem no Q total irá gerar apenas
alguns ajustes dimensionais no processo de dimensionamento no ELU.
Voltando ao cálculo…
Isolando o I, temos:
Uma outra análise que podemos fazer é considerar agora o peso próprio
acrescido à carga que está atuando:
Eu morei em uma casa assim em Montes Claros! A ideia desse balanço era
diminuir a flecha das lajes! Legal, não é?
Eu faço assim para que, sob qualquer alteração que fizermos na viga
durante as demais etapas do cálculo, não corrermos o risco de sairmos dos
domínios II e III.
Dessa premissa, podemos partir para uma análise bem simples usando as
tabelas de K3 e K6 (Anexo I).
ξ =
C-20 C-25 C-30
x/d
0,259 62,1 49,7 41,4
Vamos à um exemplo?
Exercícios
a)
a arte de projetar estruturas de concreto armado 51
b)
Esse valor de 12cm tinha muito sentido quando os pilares também podiam
ter 12cm de menor lado. Porém, após a revisão da norma em 2014, os pilares
passaram a ter lado mínimo de 14cm. Então, por questão construtiva e prática,
podemos deliberar que, na maioria das vezes, utilizaremos 14cm em nossas
vigas.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 52
Fck 20 25 30 35 40 45 50
ρmín 0,15 0,15 0,15 0,164 0,179 0,194 0,208
As,mín = ρmín.Ac
As,max = 0,02.Ac
No caso dos estribos, temos que o seu diâmetro não pode exceder 10% da
base bw da viga.
5.4.1 Método K3 e K6
OBS: Aqui, é necessário sempre analisar o ξ da viga, deve ser menor que
0,45, sendo a NBR 6118. Se for maior, teremos uma viga duplamente armada,
que é algo que ainda vamos ver…
Tabela 1
Exemplo Resolvido
2. Calculando o K6:
Verificando a linha neutra, temos que ξ = 0,12. Ou seja, estamos no domínio II.
Assim, temos que conferir na Tabela 1 qual o As maior e mais próximo do que
calculamos e ver a viabilidade de sua utilização. Vamos lá?
OBS: Podemos utilizar essas bitolas mais finas nos porta-estribos, que são as
armaduras colocadas apenas para garantir o formato retangular da viga.
vamos fazer três vigas iguais com esse mesmo detalhamento (em projetos reais,
ocorre de termos vigas iguais).
Agora, eu penso que em caso de trocar isso direto na obra, não o façam
sem a comunicação e autorização do projetista, pois pode colocar em risco a
garantia da responsabilidade técnica dele e com isso, você assumiria riscos
além dos de sua atribuição inicialmente prevista.
Exemplo Resolvido
Considere também:
- Classe de agressividade II
Resolução:
Com isso, teremos que dimensionar nossa viga para um momento negativo de
38KN.m.
Parte II - Dimensionamento
- bw = 20cm
eh = bw - 2r - 2ϕ
eh = 12,5cm
Como os limites mínimos são: 2cm, ou ϕl, ou 1,2.ϕag, temos que o mínimo, de
fato, será 2,28cm. Ou seja, o critério da distância mínima foi atendido também!
Exercícios
Q = 10KN/m, L1 = 4m e L2 = 1m
1. Dimensione a viga acima para que ela trabalhe dentro do Domínio II.
2. Dimensione a viga acima para que ela trabalhe dentro do Domínio III.
a arte de projetar estruturas de concreto armado 64
Simples igual morder água, não é mesmo? Vamos lá então para o nosso
estudo?
calculam.
Exercícios
4. Qual deve ser a seção mínima (quadrada) para um pilar de um galpão com
k=2 e L = 7m?
Um caso que não faz diferença prática é quando você tem um pilar pouco
carregado e com as especificações mínimas de norma. Neste caso, nosso
dimensionamento trabalha com folga em termos de segurança quanto aos
carregamentos.
Assim, você majorar 25% de uma carga pequena talvez nem altere o
dimensionamento, visto que ela já estava bem acima do admissível.
Nessa ótica, se você tiver como escolher, a análise estrutural mostra que
é viável e a arquitetura não ficar comprometida, na minha opinião, o melhor
pilar mínimo é 20cm x 20cm. Para grandes taxas de carga, ele ainda permanece
com 4@10.0mm, pois essas cargas não são majoradas. Outra vantagem é que
ele tem inércia boa para os dois sentidos.
Mas como eu disse, tem que sempre verificar qual a melhor solução para
cada projeto! A ideia dessa minha fala é apenas passar um pouco de minha
experiência e sairmos um pouco das páginas da literatura e irmos para a prática
de projeto!
Agora, algo que temos que verificar são situações em que não se limitam
a esses fatores construtivos e sim em fatores da mecânica do concreto armado.
Você irá perceber que esse valor não existe nos ábacos. Ou vamos no
valor de 0,05 ou vamos no de 0,10. Neste caso, o mais próximo é o de 0,10.
Observações:
- Fcd = 17850KPa.
- Fyk = 434782KPa.
- kflambagem = 1.
Com isso, temos que nosso pilar será classificado como robusto λ <= 35, e
portanto, somente o momento a consideração do momento de 1ª ordem será
necessário.
Agora, iremos proceder quanto ao cálculo da armadura. Para tal, iremos calcular
o valor de υ. Nesta etapa do cálculo, visando o uso dos Ábacos de Venturini
(1987), vamos calcular os valores adimensionais υ e μ:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 76
Com isso, iremos usar o Ábaco A-2 (p. 39 do material disponibilizado neste tópico
do Classroom) para encontrar o ω:
Como fyk = 500000 KPa, temos que fyd = 434782KPa. Assim, teremos que:
A = 0,0625m²
I = 3,25 x 10-4
i = 0,072m
λ = 41
d’/h = 0,10
Nd = 1200 KN
Como o nosso λ está entre 35 e 90, além do M1d, temos que calcular o M2d. Para
isso, vamos usar o Método do Pilar Padrão com Curvatura Aproximada, descrito
no item 15.8.3.3.2 da norma NBR 6118:2014. (AltoQI, 2021). Para isso vamos,
assumir que as seguintes relações são válidas:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 79
Ainda,
Como fyk = 500000 KPa, temos que fyd = 434782KPa. Assim, teremos que:
a arte de projetar estruturas de concreto armado 81
Exercícios
- Nd = N x 1,4.
- Fcd = 17850KPa.
- Fyk = 434782KPa.
Nd = 1580KN
Seção 20cm x 40cm
λ ≤ 35
3. Agora, vamos para um caso interessante. Considere que o pilar acima tem
carga Nd = 0KN.
Nd = 20KN.
Nd = 2000KN
Mxd = 1000KN.cm
a arte de projetar estruturas de concreto armado 85
Nd = 2000KN
Mxd = 1000KN.cm
Seção 20cm x 20cm
λ = 90
Nd = 2000KN
Mxd = 1000KN.cm
Seção 20cm x 20cm
λ = 35
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Anexos
Anexo I - Tabela do Método K3 e K6
A partir daqui, a viga continua no Domínio III, mas agora excede o limite da NBR 6118.
Com isso, devemos utilizar uma viga duplamente armada para que a linha neutra
retorne ao limite de até 0,45d