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Uma agenda para Jovens

Pesquisadores (as)
Caminhos Investigativos II

Marisa Vorraber Costa


◦A autora destaca que não se pode falar de
caminhos investigativos de pesquisa de
forma abstrata.
◦Reporta-se ao trabalho do seu bolsista de
Iniciação Científica, Mauro Grün, sobre
“Pesquisa e Contingência”.
◦Neste trabalho, o pesquisador relata que
suas preconcepções sobre pesquisar foram
abaladas e que sua maior certeza era que
não tinha certeza aonde seu trabalho iria
levar.
◦Grün relata que estava “parado diante de uma
encruzilhada”, onde diversos caminhos (de
pesquisa) se apresentavam como sendo possíveis.
◦Comenta o contato com seu objeto de
estudo/pesquisa, “a escola”, onde havia um enorme
espaço contingencial de dúvidas e incertezas.
◦Então, por que se eu já sabia que o acaso e a
contingência tinham papel importante na pesquisa
científica mesmo assim eu alimentava uma
representação de ciência como certa e definitiva?
◦A contingência, as dúvidas, as incertezas são em
geral desconsideradas em nossa representação de
ciência, ainda muito atreladas à Ciência Moderna.
Qual o argumento central da autora?

◦Marisa Costa nos fala de uma série de


mudanças e transformações relacionadas à
Crise da Modernidade, que justificariam
uma nova agenda de pesquisa para
pesquisadores (as).
◦Uma nova agenda pautada pelos
questionamentos e contestações da Ciência
Moderna.
A Modernidade
◦Os contornos da Modernidade teriam
iniciado por volta do séc. XVI, se revelado
com mais nitidez ao longo do XVII, com o
Renascimento e se consolidado no séc. XVIII
com o Iluminismo.
◦Nascia o mito do progresso e a obsessão pela
novidade.
◦Ignorar a tradição para dedicar-se ao futuro,
que seria sempre melhor do que o passado.
◦Convicções da Modernidade
◦A palavra moderno
popularizada pelo filósofo,
teórico político, escritor e
compositor autodidata suíço
Jean Jacques Rousseau (1712-
1778)
◦Expressa essa “moda” de
distanciar-se do passado e de
buscar o novo em direção ao
futuro, que seria sempre
melhor e mais perfeito que o
passado.
Convicções da Modernidade

◦René Descartes - (Meditações Metafísicas - séc.


XVII) penso logo existo – defendeu que a razão
iluminaria o mundo, contra a religião e a
superstição.
◦No Iluminismo – Século XVIII – A crença de que
a razão produziria a liberdade, a justiça, a
igualdade.
◦Na Ciência Moderna, os conhecimentos seriam
traduzíveis em fórmulas físico-matemáticas,
dotadas de objetividade. O real tornava-se
matematizável e comprovável cientificamente.
◦O subjetivo deveria ser descartado.
Convicções da Modernidade
◦ A Ciência Moderna como o único conhecimento válido,
universal e verdadeiro.
◦ Esta nova concepção de Ciência foi desenvolvida pelo
físico, matemático e astrônomo florentino Galileu Galilei
(1564-1642) e pelo filósofo francês, físico e matemático
René Descartes (1596-1650)
Convicções da Modernidade

◦A crença na exclusividade da razão para


conhecer, suspeitando-se da fé e da
intuição.
◦Aspiração de que os conhecimentos fossem
dotados do máxima objetividade.
◦O real é comprovável experimentalmente,
segundo métodos rigorosos.
◦.
◦Também a formulação do
conceito de autonomia do
filosofo alemão Immanuel
Kant (1724-1804), em que o
ser humano racional deixa
de ser submisso e passa ser
dono do seu próprio
destino, autônomo e livre
de tutelas exteriores.
A Crise da Modernidade ou Crise de Paradigmas
◦No final do século XX, todo esse conjunto de
certezas que constituíram os pilares da
Ciência Moderna estaria entrando em crise.
◦Segundo o sociólogo português Boaventura de
Sousa Santos (1989), uma Crise de
Paradigma, um deslocamento do Paradigma
da Ciência Moderna ou Iluminista para o
Paradigma Pós-Moderno,
◦Esta Crise se caracteriza por um profundo
abalo nas formas de entender e explicar o
mundo e de boa parte das certezas edificadas
ao longo da Modernidade.
Crise da Modernidade ou Crise de
Paradigmas

◦A Crise da Modernidade emerge desde


o final do século XIX e ao longo do
século XXI, pós II Guerra Mundial (1945)
pós “crise de 1989”, pós derrubada dos
regimes socialistas e da queda do muro
de Berlim.
◦Passa-se a suspeitar que o discurso da
razão levou aos totalitarismos, ao
nazismo, facismo, holocausto, aos
campos de concentração e as bombas
atômicas.
Crise da Modernidade

◦A Crise da Modernidade emerge do


fracasso da modernidade em
conseguir elevar os níveis de bem
estar social por meio do uso da razão,
da ciência e da tecnologia.
Crise da Modernidade
◦A razão é denunciada como o principal agente
da dominação.
◦Pensadores como os filósofos Friedrich
Nietzsche (1844-1900), Michel Foucault (1926-
1994) e Jean François Lyotard (1924-1998)
argumentaram que a Modernidade provocou não
o progresso mas a dominação e a opressão.
Lyotard, A condição Pós-Moderna, de 1979.

◦Simplificando ao extremo, considera-se


pós-moderna a incredulidade em relação
aos metarrelatos" (Lyotard, 1979/2000, p.
XVI).
◦Em vez da metanarrativa, da grande teoria
que propõe um caminho único e uma
explicação exclusiva, recorre-se ao
advento de várias teorias e pequenos
relatos descontínuos e circunstanciais.
O Pós-Modernismo
◦Neste sentido, a Pós-Modernidade é um
movimento que toma como referência a oposição
aos pressupostos da Modernidade.
◦Questiona os pressupostos da Modernidade, as
ideias de razão, ciência, progresso, que apesar de
evidentes benefícios, levaram ao pesadelo de
sociedades totalitárias, sistemas brutais de opressão
e exploração que produziram sofrimento e
infelicidade.
Pós-Modernismo
◦ Coloca sob suspeita a ideia de um
conhecimento universal e totalizante, capaz
de englobar o caráter objetivo do mundo.
Prefere o local e o contingente.
◦ Coloca sob suspeita as grandes narrativas,
os grandes sistemas explicativos
(positivismo, marxismo).
◦ De acordo com o sociólogo e filósofo
polonês Zygmunt Bauman (1925-1917)
estaríamos entrando na Era da
fragmentação.
O Pós-Modernismo
◦ O pós-modernismo também coloca em
questão a ideia de progresso, que está no
centro da concepção moderna de
sociedade.
◦ Para o pós-modernismo, o progresso não é
algo necessariamente desejável ou benigno.
◦ O avanço da ciência e da tecnologia,
apesar dos evidentes benefícios, tem
resultado em aspectos claramente
indesejáveis, particularmente, a destruição
do meio ambiente.
Pós-Modernismo X Identidade
◦O pós-modernismo questiona o sujeito
racional, unitário, centrado e autônomo da
modernidade.
◦O sujeito pós-moderno é fragmentado e
dividido. Para o pós-modernismo, o sujeito
não possui nenhuma propriedade
essencial, originária, intrínseca.
◦O sujeito é resultado de um processo de
produção cultural, social e histórico.
Pós- Modernismo X Identidade
◦A identidade do sujeito pós-moderno
torna-se móvel, continuamente
transformada, em relação às várias
posições identitárias que assumimos em
diferentes momentos de nossas vidas.
◦Esse deslocamento advém da erosão da
identidade única da classe social e da
emergência de novas identidades
relacionadas aos novos movimentos
sociais e às Políticas de Identidade.
◦Não é difícil verificar que a cena social e
cultural contemporânea apresenta muitas
das características que são descritas na
literatura pós-moderna:
◦A fragmentação, os hibridismos, as
múltiplas identidades.
◦Um cenário de incertezas, em termos
políticos, culturais e epistemológicos.
◦Daí a necessidade de uma nova agenda de
pesquisa.
O Pós-Modernismo

◦Abandona-se a ênfase na verdade, para


destacar o processo pelo qual
determinadas representações são
transformadas em verdade.
◦Questiona o conhecimento europeu
como sendo o lugar privilegiado a partir
do qual se inventam e nomeiam as
“outras” culturas. Portanto, faz a crítica do
eurocentrismo.
A agenda para Pesquisadores (as)
no século XXI
◦Para Marisa Vorraber Costa, todas
estas mudanças, deslocamentos
apontam para a necessidade de
uma nova agenda para a pesquisa,
mesmo que provisória.
◦Registra que a agenda é provisória,
e que a ordem que adotou é
aleatória e não tem nenhum sentido
hierárquico.
Uma agenda para Jovens Pesquisadores (as)
no século XXI
◦Primeiro ponto - Pesquisar é uma aventura
seja um bom detetive, esteja atento as
pistas, aos rastros, aos detalhes, as
intuições.
◦Segundo ponto - Abdicar a pretensão de
formular verdades objetivas e aceitar a
provisoriedade do conhecimento.
◦Não ter a pretensão de contar a verdade
total e definitiva sobre seu tema.
Resultados de pesquisa são parciais e
provisórios.
◦Terceiro ponto - Pesquisar é problematizar
fontes, dados empíricos, artefatos culturais,
interrogá-las através da teoria, uma forma de
transformar um tema geral de pesquisa em um
objeto próprio de investigação.
◦Quarto ponto- Não pretenda retratar a “realidade
objetiva”, mas interpretar as diferentes
narrativas sobre a realidade.
◦Quinto ponto - O novo nem sempre é melhor que o
velho. Desconfie da narrativa do progresso linear
inventada pela modernidade, da noção de que a
história da humanidade é a história do progresso.
◦Sexto ponto – Evite o dogmatismo científico ou
filosófico, dialogue, ponha suas ideais em
discussão.
◦Sétimo ponto - A neutralidade da pesquisa é
uma quimera. A produção do conhecimento é
sempre situada e está sempre a serviço de
interesses.
◦Oitavo ponto - Ciência e ética devem ser
indissociáveis, lembre-se de que não se pode fazer
qualquer coisa em nome da ciência. Descuidar-se
disso é colocar em risco o planeta e os seres que o
habitam. (bomba atômica, experimentos com
seres humanos vivos da indústria farmacêutica).
◦Nono ponto - Pesquisa é uma atividade que exige
reflexão, rigor, ousadia, dedicação, persistência
requisitos de quem se dedica a pesquisa.
◦Décimo ponto - Pesquisar é uma tarefa social,
divulgue sua pesquisa e procure conhecer as dos
outros e quando possível devolver seus resulatados
◦ A investigação científica é sobretudo um
trabalho coletivo. Neste sentido, de que forma o
meu estudo contribuirá para o desenvolvimento
social e para o conhecimento acadêmico sobre
determinado tema?
◦Décimo primeiro ponto - Não transforme
seu saber em autoridade, lembre-se de que o
que produzimos são verdades
incompletas, provisórias, sempre em
aberto.
◦Décimo segundo ponto – Seja um
pesquisador engajado, a pesquisa é uma
prática social e deve dialogar com o
mundo.
Pesquisa na perspectiva dos
Estudos Culturais
• Nesta perspectiva é fundamental
reconhecer que enfrentamos um
questionamento radical das concepções de
produção do conhecimento, no sentido de
superar uma visão da ciência iluminista
em que o rigor é assegurado por supostos
atributos de neutralidade e objetividade.
• Portanto, não importa o método que
utilizamos para chegar ao
conhecimento;
• o que de fato faz diferença são as
interrogações que podem ser
formuladas na pesquisa articuladas às
relações de poder.
• Portanto, é preciso desconfiar das
máximas que levaram a crença em uma
racionalidade infalível e na existência de
verdades transcendentais.
• Neste sentido, não existe “um caminho
certo”, uma “prescrição infalível”, cada
pesquisador inventará seu próprio
caminho.

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