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AULA 6 – FILOSOFIAS

MODERNA E
CONTEMPORÂNEA

• Diferenciar as principais correntes do pensamento filosófico.


• Identificar e analisar a relação entre filosofia, ética e educação.
• Reconhecer as principais tendências político-filosóficas que tem permeado o discurso sobre
educação brasileira.
CONTEXTUALIZANDO A APRENDIZAGEM
Prezado aluno(a), a Filosofia, conhecida como a “mãe de todas as ciências” como já vimos na
Aula 5, nos permite entender melhor como que as ideias têm o poder de influenciar todos os
caminhos da história da humanidade, sejam na busca do conhecimento, na organização
política, na formação dos valores, na identidade dos povos.

Nesta aula, conheceremos um pouco mais sobre estas influências filosóficas. Você já parou
para pensar como elas podem influenciar nosso cotidiano?

Vocês perceberão que muitas destas ideias estão presentes nos dias de hoje, em diversos
setores e manifestações do mundo moderno, ou como tem sido denominado, Pós-moderno.

Bons estudos!

Mapa mental panorâmico


Para contextualizar e ajudá-lo(a) a obter uma visão panorâmica dos conteúdos que você estudará na Aula 6, bem como entender a inter-
relação entre eles, é importante que se atente para o Mapa Mental, apresentado a seguir:

FILOSOFIAS MODERNA E CONTEMPORÂNEA

1 A FILOSOFIA MODERNA

1.1 OS CAMINHOS DO RENASCIMENTO

1.2 O GRANDE RACIONALISMO DO SÉCULO XVII

1.2.1 GALILEU GALILEI: UM MUNDO SEM ENCANTOS, APENAS NÚMEROS

1.2.2 FRANCIS BACON: O MÉTODO EXPERIMENTAL CONTRA OS ÍDOLOS

1.2.3 RENÉ DESCARTES: UM MUNDO DE IDEIAS CLARAS E DISTINTAS

1.3 A QUESTÃO DO CONHECIMENTO E A FILOSOFIA DO SÉCULO XVIII

1.3.1 JONH LOCKE: A EXPERIÊNCIA COMO FONTE DAS IDEIAS

1.3.2 DAVID HUME: A FORÇA DO HÁBITO NA FORMAÇÃO DAS IDEIAS

1.3.3 IMMANUEL KANT: O TRIBUNAL DA RAZÃO

1.4 O ILUMINISMO

1.5 O ESTADO ABSOLUTISTA

1.5.1 THOMAS HOBBES (1588-1679)

2 A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA – A QUESTÃO SOCIAL


2.1 HEGEL E O IDEALISMO ALEMÃO

2.2 O POSITIVISMO DE AUGUSTO COMTE

2.3 EXISTENCIALISMO E PÓS-MODERNISMO

2.3.1 AS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA E O NASCIMENTO DA PSICOLOGIA

2.3.2 FILÓSOFOS INSPIRADORES DO EXISTENCIALISMO

2.3.2.1 KIERKEGAARD: O INDIVÍDUO E SUA ESPECIFICIDADE NO MUNDO

2.3.2.2 NIETZSCHE: DO JULGAMENTO DA CIVILIZAÇÃO À QUESTÃO DA EXISTÊNCIA HUMANA

2.3.2.3 HEIDEGGER: O SENTIDO DO SER

2.3.2.4. SARTRE: A RESPONSABILIDADE DO HOMEM SOBRE TUDO AQUILO QUE FAZ

FILOSOFIAS MODERNA E CONTEMPORÂNEA

1 A FILOSOFIA MODERNA

Afinal, pode a razão conhecer Deus? Percorrendo tortuosos labirintos, o pensamento medieval não é conclusivo. Estaria o problema na
fé, que não pode ser provada, ou na razão, que é incapaz de conhecer a verdade?  

1.1 OS CAMINHOS DO RENASCIMENTO

Com o florescimento do comércio e o desenvolvimento da burguesia, formulou-se um novo modelo de homem e de sociedade que foi
substituindo os valores dominantes na Idade Média. Assim, a mentalidade burguesa começou a propor: em vez de um mundo
centrado em Deus (teocêntrico), um mundo centrado no homem (antropocêntrico). Trata-se do desenvolvimento do humanismo.
• Em vez de um mundo explicado pela fé (pelas verdades reveladas), um mundo explicado pelas operações racionais (pelas
verdades estabelecidas pela razão). Trata-se o desenvolvimento do racionalismo e da ciência experimental.

• Em vez da ênfase no ideal de coletivismo fraternal da cristandade, um mundo marcado pela individualidade dos homens e pelas
diferenças regionais entre as nações. Trata-se do desenvolvimento do individualismo burguês e do nacionalismo, que se
manifestava na formação dos Estados modernos.

Este período de transição entre a mentalidade medieval e a mentalidade moderna ficou caracterizado pelo movimento artístico e
científico denominado Renascimento (séculos XV e XVI).

O universo ganha um novo centro e se torna infinito.

É preciso lembrar que a transição da mentalidade medieval para a científica moderna não foi um processo súbito, tranquilo e sem
resistências. Foi até criada uma lista de livros proibidos pela Igreja, denominado de INDEX. Pioneiros da ciência sofreram perseguição do
Tribunal da Inquisição. Exemplo marcante dessas perseguições é o julgamento do pensador italiano Giordano Bruno, que apresentou a
teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico e defendeu que o universo é um todo infinito, cujo centro não está em parte alguma.
Nicolau Copérnico foi um sacerdote polonês que escreveu o livro  Da revolução das esferas celestes, em que combatia a teoria
geocêntrica e propunha a teoria heliocêntrica. O livro de Copérnico foi publicado no ano de sua morte- 1543 e escapou, de início, à
condenação católica, que viria com a reativação da Inquisição, após o Concílio de Trento(1545-1563). (COTRIM, 2006, 196)
1.2 O GRANDE RACIONALISMO DO SÉCULO XVII

As conquistas e realizações renascentistas deixaram o homem comum desorientado e desconfiado. O mundo racionalmente
ordenado e unificado da Antiguidade já não existia mais.

Uma das concepções fundamentais até então, era a noção aristotélica de espaço hierarquizado, em que cada lugar tinha uma
qualidade diferente da de outro lugar. Quando ficou demonstrado que a Terra não era o centro do universo, o espaço passou a ser
homogêneo e os lugares tornaram-se equivalentes, sem um ponto fixo e referencial, sem uma hierarquia.

O homem só encontraria um novo centro em si mesmo, isto é, na razão.

1.2.1 GALILEU GALILEI: UM MUNDO SEM ENCANTOS, APENAS NÚMEROS

Nascido na cidade italiana de Pisa, Galileu Galilei (1564-1642) é considerado um dos fundadores da física moderna.

Durante o período medieval, observar as coisas, agir sobre a natureza e pensar como matemático, eram atividades heterogêneas que
não se combinavam. Entretanto Galileu, professor de matemática, decidiu de forma inovadora, aplicar a matemática no estudo da
natureza.

Por contrariar a visão tradicional do mundo, Galileu foi advertido pelas autoridades católicas, que o julgavam um herege. O
pioneirismo rebelde de Galileu, atraiu sobre ele a fúria do tribunal da Inquisição.

1.2.2 FRANCIS BACON: O MÉTODO EXPERIMENTAL CONTRA OS ÍDOLOS

Nascido em Londres, Francis Bacon (1561-1626) pertencia a uma família de nobres.

Francis Bacon realizou uma obra científica de inegável valor. É considerado um dos fundadores do método indutivo de investigação
científica. Atribui-se a ele, também, a criação do lema “saber é poder”, que revela sua firme disposição de ânimo de fazer dos
conhecimentos científicos um instrumento prático de controle da realidade. Segundo ele a ciência deve valorizar a pesquisa
experimental. 

Mas para isso, era necessário o cientista se libertasse daquilo que ele denominava “ídolos”, isto é, as falsas noções, os preconceitos, os
maus hábitos mentais.
Ídolos: os responsáveis pelo insucesso da ciência

Em sua obra Novum Organun, Francis Bacon destaca quatro gêneros de “ídolos” que bloqueiam a mente humana, denominando-os
ídolos da tribo, da caverna (alusão ao mito da caverna de Platão), do mercado ou foro e teatro. Seriam eles os responsáveis pelos
insucessos da ciência.
• Os ídolos da tribo: estão fundados na própria natureza humana, na própria tribo ou espécie humana. O intelecto humano é
semelhante a um espelho que reflete desigualmente os raios das coisas e dessa forma, as distorce e corrompe.

• Os ídolos da caverna: são os dos homens enquanto indivíduos. Pois cada um tem uma caverna ou uma cova que intercepta e
corrompe a luz da natureza.

• Os ídolos do foro: provenientes, de certa forma do intercurso e da associação recíproca dos indivíduos do gênero humano entre si.

• Os ídolos do teatro: são aqueles que imigram para o espírito dos homens por meio das diversas doutrinas filosóficas e também
pelas regras viciosas da demonstração. (COTRIM, 2006, p. 198))

Segundo Cotrim (2006), para combater os erros provocados pelos ídolos, Francis Bacon propôs o método indutivo de investigação,
baseado na observação rigorosa dos fenômenos naturais e do cumprimento das seguintes etapas:
• Observação da natureza para coleta de informações.

• Organização racional dos dados recolhidos empiricamente.

• Formulação de explicações gerais (hipóteses) destinada à compreensão do fenômeno estudado.

• Comprovação da hipótese formulada mediante experimentações repetidas, em novas circunstâncias.

1.2.3 RENÉ DESCARTES: UM MUNDO DE IDEIAS CLARAS E DISTINTAS

“Penso, logo existo” (René Descartes)

René Descartes (1596-1650) nasceu em La Haye, França, pertencendo a uma família de prósperos burgueses. Viajou muito e conviveu
com vários sábios da época.

Temendo perseguições religiosas e tendo em mente a condenação de Galileu, tomou uma série de cautelas na exposição de suas
ideias. O que publicou é suficientemente vasto e valioso para situá-lo como um dos pais da filosofia moderna.

Descartes afirmava que, para conhecermos a verdade, é preciso de início, colocarmos todos os nossos conhecimentos em dúvida,
questionando tudo para, criteriosamente, analisarmos se, de fato, existe algo na realidade de que possamos ter plena certeza.

Fazendo uma aplicação metódica da dúvida, o filósofo foi considerando como incertas todas as percepções sensoriais, todas as
noções adquiridas sobre os objetos materiais. E prosseguiu assim, cada vez mais colocando em dúvida a existência de tudo aquilo que
constitui a realidade e o próprio conteúdo dos pensamentos. Finalmente, estabeleceu que a única verdade totalmente livre de dúvida
era a seguinte: meus pensamentos existem.  E a existência desses pensamentos se confunde com a essência da minha própria
existência enquanto ser pensante. Disto discorre a célebre conclusão de Descartes: Cogito ergo sum ou “Penso logo existo”.

É preciso esclarecer que o termo pensamento utilizado por Descartes tem um sentido bastante amplo, abrangendo tudo o que
afirmamos, negamos, sentimos, imaginamos, cremos e sonhamos. Assim, o ser humano era, para ele, uma substância essencialmente
pensante.

Da afirmação cartesiana “Penso, logo existo”, que conhecida como cogito, podemos extrair esta importante consequência: o
pensamento (consciência) é algo mais certo do que a existência “matéria corporal). Note-se que é a partir do “penso” que ele conclui
“logo, existo”.

Baseando-se nesse princípio, toda filosofia posterior que sofreu a influência de Descartes assumiu uma tendência idealista, isto é, uma
tendência a valorizar a atividade do sujeito pensante em relação ao objeto pensado.
Descartes foi também um racionalista convicto. Recomendava que desconfiássemos das percepções sensoriais, responsabilizando-as
pelos frequentes erros do conhecimento humano. Dizia que o verdadeiro conhecimento das coisas externas devia ser conseguido
através do trabalho lógico da mente. (COTRIM, 2006)

O método cartesiano – o Método científico

Da sua obra O discurso do método, podemos extrair quatro regras básicas, consideradas por Descartes capazes de conduzir o espírito
na busca da verdade.

1- Regra da evidência: só aceitar como verdadeiro, desde que seja absolutamente evidente por sua clareza e distinção.

2- Regra da análise: dividir cada uma das dificuldades surgidas em tantas partes quantas forem necessárias para resolvê-las melhor.

3- Regra da síntese: ordenar o raciocínio dos problemas mais simples para os mais complexos.

4- Regra da enumeração: realizar verificações completas e gerais para se ter absoluta segurança de que nenhum aspecto do
problema foi omitido. (COTRIM, 2006, p. 201)

1.3 A QUESTÃO DO CONHECIMENTO E A FILOSOFIA DO SÉCULO XVIII

Na trilha do grande racionalismo do século XVII, o homem vai adquirindo confiança em seus poderes. A mente humana lança-se ao

desafio de entender a sua própria capacidade de produzir conhecimentos. O empirismo se desenvolve afirmando que a base de todo

conhecimento deriva da experiência sensível, externa e interna. Para os empiristas não existem ideias inatas. E nada se encontra na

mente que não tenha, antes, passado pelos sentidos.

1.3.1 JONH LOCKE: A EXPERIÊNCIA COMO FONTE DAS IDEIAS

Nascido em Wrington, Inglaterra, Jonh Locke (1632-1704), durante os tempos da universidade, decepcionou-se com o aristotelismo e a
escolástica medieval, enquanto tomava contato com o pensamento de Francis Bacon e René Descartes. Regressando da França,
onde esteve exilado, participou em 1688, da chamada Revolução Gloriosa.

Pensadores como Platão, Santo Agostinho e René Descartes afirmavam que o homem possui certas ideias inatas (inatismo), isto é,
ideias anteriores a toda e qualquer experiência sensorial; ideias que existem na mente humana desde o nascimento e, com o tempo se
manifestam. Locke combateu duramente essa doutrina, afirmando que nossa mente, no instante do nascimento é como uma tábula
rasa, um papel em branco sem nenhuma ideia previamente escrita.

Locke retomava, assim, a tese empirista, segundo a qual nada existe em nossa mente que não tenha origem nos sentidos. Todas as
ideias que possuímos são adquiridas ao longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. Locke utiliza o termo
ideia no sentido de todo o conteúdo do processo do conhecimento.

Para ele, nossas primeiras ideias, as sensações, nos vêm à mente através dos sentidos (experiência sensorial), sendo moldadas pelas
qualidades próprias dos objetos externos. Como exemplo de sensação citam-se: as ideias de amarelo, branco, quente, frio, mole, duro,
amargo, doce etc.

Locke define a reflexão como nosso “sentido interno”, que se desenvolve quando a mente se debruça sobre si mesma, analisando suas
próprias operações. (MARTINS e ARANHA, 2003)

1.3.2 DAVID HUME: A FORÇA DO HÁBITO NA FORMAÇÃO DAS IDEIAS


Nascido na Escócia, David Hume (1711-1776), estabeleceu contatos com grandes pensadores da época, entre eles Adam Smith e
Jean-Jacques Rousseau.

Na obra Investigação acerca do entendimento humano, Hume formulou sua teoria do conhecimento. Dividiu, primeiramente, tudo
aquilo que percebemos em impressões e ideias. As impressões referem-se aos dados fornecidos pelos sentidos, como, por exemplo, as
impressões visuais, auditivas, táteis. As ideias referem-se às representações mentais (memória, imaginação) derivadas das impressões.

Assim, toda ideia é uma cópia de alguma impressão. Essa cópia pode possuir diferentes graus de fidelidade. Hume é um empirista.

A percepção repetida e habitual de uma determinada impressão ou fato (por exemplo, o nascimento do sol todos os dias) nos leva a
elaborar ideias sobre os fenômenos naturais, através da generalização indutiva.      

Para Hume, somente o raciocínio dedutivo utilizado na matemática fundamenta-se numa lógica racional.

Questionando a validade lógica do raciocínio indutivo, o grande valor da obra de Hume foi ter deixado um importante problema para
os teóricos do conhecimento (epistemologistas). Afinal, é ou não possível partirmos de experiências particulares para chegarmos a
conclusões gerais, representadas pelas leis científicas. (MARTINS e ARANHA, 2003)

1.3.3 IMMANUEL KANT: O TRIBUNAL DA RAZÃO

Nascido na Alemanha, Kant (1724-1804), teve uma vida longa e tranquila, dedicada ao ensino e à investigação filosófica.

Uma das mais importantes questões que domina o pensamento de Kant é o problema do conhecimento humano, a questão do saber.
Esse problema é examinado na obra Crítica da razão pura, na qual distingue duas formas básicas do ato de conhecer:
• Conhecimento empírico (a posteriori): aquele que se refere aos dados fornecidos pelos sentidos, isto, que é posterior à
experiência. Exemplo: este livro tem capa verde.

• Conhecimento puro (a priori): aquele que não depende de quaisquer dados dos sentidos, ou seja, que é anterior à experiência.
Nasce puramente de uma operação racional. Exemplo: duas linhas paralelas jamais se encontram no espaço. Essa afirmação
(juízo) não se refere a esta ou àquela linha paralela, mas a todas. É uma afirmação universal. Além disso, é uma afirmação que,
para ser válida, não depende de nenhuma condição específica. Trata-se de uma afirmação necessária.

O conhecimento puro, portanto, conduz a juízos universais e necessários, enquanto o conhecimento empírico, não possui essas
características.

Os juízos por sua vez, são classificados em dois tipos: os analíticos e os sintéticos.

O juízo analítico é aquele em que o predicado já está contido no sujeito. Ou seja, basta analisarmos o sujeito para deduzirmos o
predicado. Exemplo: O quadrado tem quatro lados. Analisando o sujeito quadrado, concluímos, necessariamente, o predicado: tem
quatro lados.

O juízo sintético é aquele em que o predicado não está contido no sujeito. Nesses juízos, acrescenta-se ao sujeito algo de novo, que é o
predicado. Assim, os juízos sintéticos enriquecem nossas informações e ampliam o conhecimento. Exemplo: Os corpos se movimentam.
Por mais que analisemos o conceito corpo (sujeito) não extrairemos a informação representada pelo predicado se movimentam.

Por fim, analisando o valor de cada juízo, Kant chega à seguinte classificação:

Juízo analítico

Serve apenas para tornar mais claro, para explicitar aquilo que já se conhece do sujeito. Não dependendo da experiência sensorial, o
juízo analítico é universal e necessário. Mas, a rigor, é pouco útil, no sentido de que não conduz a conhecimentos novos.

Juízo sintético a posteriori

Está diretamente ligado a nossa experiência sensorial. Tem uma validade sempre condicionada ao tempo e ao espaço em que se deu
a experiência. Não produz, portanto, conhecimentos universais e necessários.

Juízo sintético a priori

É o mais importante por dois motivos: a) não estando limitado pela experiência, é universal e necessário; b) seu predicado acrescenta
novas informações ao sujeito, possibilitando uma ampliação do conhecimento.

Segundo Kant, a matemática e a física são disciplinas científicas por trabalharem com juízos sintéticos a priori.

Como se formam os juízos sintéticos a priori?


De acordo com Kant, esses juízos se fundamentam nos dados captados pelos sentidos e na organização mental desses dados,
seguindo certas categorias apriorísticas do nosso entendimento. O conhecimento, portanto, é o resultado de uma síntese entre o sujeito
que conhece e o objeto conhecido. É impossível conhecermos as coisas em si mesmas (o ser em si). Só conhecemos as coisas tal como
as percebemos (o ser para nós). (MARTINS e ARANHA, 2003)

1.4 O ILUMINISMO

A razão em busca de liberdade

O desenvolvimento do capitalismo nos séculos XVII e XVIII foi acompanhado pela crescente ascensão social da burguesia e sua
tomada de consciência como classe social. Paralelamente, o racionalismo imperava na Europa, transmitindo a confiança de que a
razão era o principal instrumento do homem para enfrentar os desafios da vida e equacionar os problemas que o rodeavam. O
despertar da Revolução Industrial e o sucesso da ciência em campos como a química, a física e a matemática inspiravam filósofos de
todas as partes. Surge, então um novo mito, a ideia de progresso.

Havia a crença de que a razão, a ciência e a tecnologia tinham condições de impulsionar o trem da história numa marcha contínua
em direção à verdade e à melhoria da vida humana.

Aos poucos vai se desenvolvendo um pensamento que culminaria no movimento cultural do século XVIII denominado Iluminismo,
Ilustração ou Filosofia das luzes. (COTRIM, 2006)

A burguesia e o Iluminismo – O Iluminismo foi um movimento burguês. Os valores fundamentais defendidos pelo Iluminismo podem ser
relacionados com a principal atividade econômica da burguesia, representada pelo comércio.

Vejamos, então, quais eram esses valores e sua vinculação com o ato de comércio: Igualdade jurídica; Tolerância religiosa ou
filosófica; Liberdade pessoal e social; Propriedade privada.

Vejamos alguns dos principais expoentes desse período:

MONTESQUIEU (1689-1755): Jurista francês que escreveu O espírito das leis. Nessa obra, defende a separação dos poderes do Estado
em Legislativo, Executivo e Judiciário como forma de evitar abusos dos governantes e proteger as liberdades individuais.

VOLTAIRE (1694-1778): Um dos mais famosos pensadores do Iluminismo, com seu estilo literário irônico e vibrante destacou-se pelas
críticas que fazia ao clero católico, à intolerância religiosa e à prepotência dos poderosos.

Em termos políticos, não era propriamente um democrata, mas defensor de uma monarquia respeitadora das liberdades individuais,
governada por um soberano esclarecido. Foi um dos que organizou a famosa Enciclopédia.

DIDEROT (1713-1784) e D’ALEMBERT (1717-1783): Foram os principais organizadores de uma enciclopédia de 33 volumes, que pretendia
resumir os principais conhecimentos da época nos campos científico e filosófico. Essa obra contou com a colaboração de numerosos
autores. A Enciclopédia exerceu grande influência sobre o pensamento político burguês, defendendo, em linhas gerais, o racionalismo,
a independência do Estado em relação à Igreja e a confiança no progresso humano através das realizações científicas e
tecnológicas.

ROUSSEAU (1712-1778): Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra na Suíça, transferindo-se para a França em 1742, onde escreveu
suas grandes obras. Entre elas podemos destacar O contrato social, na qual expõe a tese de que o soberano deve conduzir o Estado
segundo a vontade geral de seu povo, sempre tendo em vista o atendimento do bem comum. Somente esse Estado, de bases
democráticas, teria condições de oferecer a todos os cidadãos um regime de igualdade jurídica. Rousseau glorifica os valores da vida
natural e ataca a corrupção, a avareza e os vícios da sociedade civilizada. Faz inúmeros elogios à liberdade de que desfrutava o
selvagem, na pureza do seu estado natural, contrapondo-o à falsidade e ao artificialismo do homem civilizado. Foi dessas ideias que
nasceu o mito do “bom selvagem”. Rousseau é considerado o “Pai da Revolução Francesa”.
ADAM SMITH (1723-1790): Foi o principal representante do liberalismo econômico e autor do livro Da riqueza das nações. Criticou a
política mercantilista, baseada na intervenção do Estado na vida econômica. Para ele, a economia deveria ser dirigida pelo jogo livre
da oferta e da procura de mercado (laissez-faire).

Segundo Adam Smith, o trabalho em geral representa a verdadeira fonte de riqueza para as nações, devendo ser conduzido pela livre
iniciativa dos particulares. (MARTINS e ARANHA, 2003)

1.5 O ESTADO ABSOLUTISTA

A teoria política como parte da teoria do poder.

O termo política vem do grego polis (cidade-Estado), servindo para designar, desde a Antiguidade, o campo da atividade humana
que se refere à cidade, ao Estado e às coisas de interesse público.

Dependendo do uso que se faz do poder social, podemos identificar dois tipos básicos de ação política:
• A ação política de interesse público, que se caracteriza pelo uso do poder social com a finalidade de alcançar o bem comum da
maioria do povo.

• A ação política de interesse particular, que se caracteriza pelo uso do poder social em benefício de pessoas ou grupos
privilegiados, desprezando-se o bem comum.

A tipologia das três formas de poder.

Os estudos de política geralmente iniciam com uma análise do fenômeno do poder. Poder é a posse dos meios que levam à produção
de efeitos desejados. (Bertrand Russell)

Em outras palavras, o indivíduo que detém os meios de poder torna-se capaz de exercer várias formas de domínio e, por meio delas,
pode alcançar os efeitos que desejar.

Entre os diversos tipos de domínio, costuma-se destacar o poder do homem sobre a natureza e o poder do homem sobre outros
homens.

A ciência política estuda, sobretudo, o poder do homem sobre outro homem, isto é, o poder social, mas também se interessa pelo
poder sobre a natureza na medida que essa categoria de domínio se transforma em instrumento de poder social.

Se levarmos em conta o meio pelo qual se serve o detentor do poder para conseguir os efeitos desejados, podemos destacar três
formas de poder: o econômico, o ideológico e o político.

O poder econômico utiliza a posse de certos bens socialmente necessários para induzir aqueles que não os possuem a adotar
determinado comportamento, como, por exemplo, realizar determinado trabalho.

O poder ideológico utiliza a posse de certas ideias, valores, doutrinas para influenciar a conduta alheia, induzindo as pessoas a
determinados modos de pensar e agir.

O poder político utiliza a posse dos meios de coerção social, isto é, o uso da força física considerada legal ou autorizada pelo direito.

Podemos dizer, enfim, que o poder econômico se preocupa em garantir o domínio da riqueza controlando a organização das forças
produtivas. O poder ideológico preocupa-se em garantir o domínio sobre o saber controlando a organização do consenso social. E o
poder político preocupa-se em garantir o domínio da força controlando a organização dos instrumentos de coerção.

(COTRIM, 2006, p. 205)

1.5.1 THOMAS HOBBES (1588-1679)

O Estado para domar o lobo do próprio homem


Para o filósofo inglês Thomas Hobbes, o homem, embora vivendo em sociedade, não possui o instinto natural de sociabilidade. Cada
homem sempre encara seu semelhante que precisa ser dominado. Onde não houve o domínio de um homem sobre o outro existirá
sempre uma competição intensa até que esse domínio seja alcançado.

A consequência óbvia dessa disputa infindável dos homens entre si teria gerado um permanente estado de guerra e de matança nas
comunidades primitivas. Nas palavras de Hobbes: o homem era o lobo do próprio homem (homo homini lupus).

Só havia uma solução para dar fim à brutalidade social primitiva: a criação artificial da sociedade política, administrada pelo Estado.
Para isso, os homens tiveram que firmar um contrato entre si, pelo qual cada um transferia seu poder de governar a si próprio a um
terceiro – o Estado – para que esse Estado governasse a todos, impondo ordem, segurança e direção à conturbada vida social.

Hobbes apresentou essas ideias no seu livro Leviatã, no qual o Estado é comparado a uma criação monstruosa do homem, destinada a
pôr fim à anarquia e ao caos da comunidade primitiva. O nome “Leviatã” refere-se ao monstro bíblico citado no Livro de Jó (Bíblia).
(COTRIM, 2006, p. 209) 

2 A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA – A QUESTÃO SOCIAL

Em meio a ruínas, o pensamento se ergue, autoconfiante. “Não podíamos renunciar à esperança de nos tornarmos cada vez mais
razoáveis, cada vez mais independentes dos objetos exteriores e de nós mesmos. A palavra liberdade soa tão bem que não a
poderíamos dispensar, mesmo que não exprimisse mais do que um erro”. (Goethe).

2.1 HEGEL E O IDEALISMO ALEMÃO

A incessante busca da totalidade e do absoluto.

O final do século XVIII e o início do século XIX foi um período de grandes contradições. Entre um cenário de esperança e decepção
que se desenvolve o Idealismo alemão.

Hegel (1770-1831), nasceu na Alemanha, e foi o principal expoente do idealismo alemão. Sua obra costuma ser apontada, com
frequência, como o ponto culminante do racionalismo.

Vejamos alguns tópicos de sua filosofia.

- A relação entre história e filosofia

O momento histórico em que Hegel viveu contribui para que sua obra fosse marcada por uma tentativa de conciliar a realidade
contraditória com o pensamento. Isto é, a história com a filosofia. Para isso, reestruturou o método dialético.

- A dialética hegeliana: uma concepção para explicar as mudanças e contradições do mundo

A dialética hegeliana se constitui de três etapas: a tese (ou afirmação), a antítese (ou negação da afirmação) e a síntese (ou negação
da negação, que é uma nova afirmação).

Em outras palavras, toda afirmação contém em si a sua própria negação. Isso gera uma relação dinâmica de enfrentamento entre
opostos. Dessa contradição resulta um produto, que é a superação desses opostos.

Saindo do plano lógico para o da realidade, Hegel exemplifica essa relação dialética entre as coisas da seguinte maneira: a tese é o
indivíduo, a antítese é o povo, a síntese é o Estado.

- O lugar da filosofia: ao final

Hegel diz que “o que é real é racional”. Portanto, não se pode negar o real sem negar também a razão. A filosofia (expressão mais alta
do espírito absoluto) terá a tarefa de compreender aquilo que é, mas não poderá dizer como o mundo deve ser, porque ela vem
sempre depois. Ela é como a “ave de Minerva” (da deusa da sabedoria), que “só levanta vôo ao anoitecer”, isto é, quando o curso da
realidade já estiver concluído. (COTRIM, 2003)

2.2 O POSITIVISMO DE AUGUSTO COMTE


A adaptação tecnocientífica do Iluminismo à era industrial.

O termo positivismo foi adotado por Augusto Comte para designar toda uma diretriz filosófica marcada pelo culto da ciência e pela
sacralização do método científico.

O positivismo expressa um tom geral de confiança nos benefícios da industrialização, bem como um otimismo em relação ao progresso
capitalista, guiado pela técnica e pela ciência.
O positivismo reflete no plano filosófico, o entusiasmo burguês pelo progresso capitalista e pelo desenvolvimento técnico-industrial.

Embora muito criticado no plano teórico, é uma doutrina extremamente influente no plano prático. Ainda hoje continua bem viva e
atuante em nossa sociedade.

Características gerais do positivismo

O objetivo do método positivo de investigação é a pesquisa das leis gerais que regem os fenômenos naturais. Assim, o positivismo se
diferencia do empirismo puro porque não reduz o conhecimento científico somente aos fatos observados. É na elaboração das leis que
reside o grande ideal das ciências.

Com base nessas leis, o homem torna-se capaz de prever os fenômenos naturais, podendo agir sobre a realidade. Ver para prever é o
lema da ciência positiva. As transformações impulsionadas pelas ciências visam o progresso; este, porém, deve estar subordinado à
ordem. Temos, então, um novo lema positivista, aplicado à sociedade: ordem e progresso.

Comte, aponta as características fundamentais que distinguem o positivismo das demais filosofias:

- a realidade; - a utilidade; - a certeza; - a precisão; - a organização; - a relatividade. (CHAUÍ, 2006)

2.3 EXISTENCIALISMO E PÓS-MODERNISMO


EXISTENCIALISMO - Termo usado para designar a filosofia de pensadores que se preocuparam com a existência finita do homem no
mundo, descartando questões metafísicas, como a imortalidade e a transcendência.

Como é aplicado a filósofos muito diferentes, há quem negue sua existência como escola do pensamento.

Os nomes mais identificados com o Existencialismo são os franceses: Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961).

É um movimento do século XX, mas tem fortes raízes na obra de filósofos de origem alemã do século XIX, como Kierkegaard e
Nietzsche.

Os existencialistas rejeitam o princípio do cartesianismo, de que o homem existe porque pensa.

Para eles o ser humano pensa porque existe.

A consciência para os existencialistas, não antecede a experiência. Ela é parte da existência que, por sua vez, é construída com a
vivência, o contato com outras pessoas e objetos.

O próprio homem cria essa existência em função de seus sentimentos, desejos, e, principalmente, de suas ações.  Ele se forma a partir
de suas escolhas. Por isso, os existencialistas pregam a liberdade e a responsabilidade e rejeitam o conformismo. (COTRIM, 2006, p. 265)

2.3.1 AS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA E O NASCIMENTO DA PSICOLOGIA

Nas primeiras décadas do século XX, o mundo estava em crise. A filosofia também. A esperança de um mundo mais livre e mais justo

não se concretizara, trazendo a descrença na política e na ideia de história como progresso.

Freud explora o inconsciente. Diversos pensadores passam a questionar o sentido da vida humana. Explodem as guerras, a barbárie
fascista, a revolução sexual, o anseio de liberdade dos povos oprimidos. A força dos fatos históricos é, enfim, grande demais para ser
ignorada.

Atenta à complexidade do mundo, a filosofia incorpora as discussões sociais, éticas e existenciais do período.        

Sem Deus para lhe dizer como agir, e repelindo a voz ditatorial do Estado totalitário, o homem contemporâneo sente toda a solidão de,
por conta própria, construir seu próprio destino. Vivencia, assim, um sentimento de angústia, vazio e desamparo. E parte em busca do
sentido da existência, o que marcaria profundamente essa nossa época de ansiedade, o século XX.

O termo existencialismo designa o conjunto de tendências filosóficas que, embora divergentes em vários aspectos, têm na existência
humana o ponto de partida e objeto fundamental de reflexões.

Podemos dizer que o conceito existencialismo é geralmente tomado como algo que se refere à condição específica do homem como
ser no mundo.

Existir, então, implica a relação do homem com outros seres humanos, com as coisas e com a natureza. Relações múltiplas, concretas e
dinâmicas. Enfim, relações determinadas e indeterminadas, isto é, possíveis de acontecer ou não.
Identificamos nos filósofos existencialistas algumas concepções básicas, cujo traço comum é a visão dramática do destino do homem.
Como por exemplo:
• O ser humano é representado como uma realidade imperfeita, aberta e inacabada, que foi “lançada” ao mundo e vive sob
riscos e ameaças.

• A liberdade humana não é plena, mas condicionada às circunstâncias históricas da existência. Nesse sentido o querer não se
identifica ao poder. O homem age no mundo superando ou não os obstáculos que se lhe apresentam.

• A vida humana não é um caminho linear em direção ao progresso, ao êxito e ao crescimento. Ao contrário é marcada por
situações de sofrimento, como a doença, a dor, as injustiças, a luta pela sobrevivência, o fracasso, a velhice e a morte. Assim, não
podemos ignorar o sofrimento humano, a angústia interior, a exploração social. É preciso considerar esses aspectos adversos da
vida e encará-los de frente. (COTRIM, 2003. P. 266)

2.3.2 FILÓSOFOS INSPIRADORES DO EXISTENCIALISMO

As filosofias existencialistas surgiram no século XX, mas sofreram grande influência do pensamento de alguns filósofos do período

anterior.

Vejamos então um pouco do pensamento de alguns desses filósofos inspiradores ou precursores do existencialismo.

2.3.2.1 KIERKEGAARD: O INDIVÍDUO E SUA ESPECIFICIDADE NO MUNDO

O ser humano é a síntese de infinito e finito, de eterno e transitório, de liberdade e necessidade.

Escritor, filósofo e teólogo dinamarquês (1831-1855). Sofreu forte influência do pai, que vivia torturado por incertezas religiosas.

Muitas vezes utilizando pseudônimos, publicou uma série de livros, tais como: O conceito de angústia, Temor e tremor, O desespero
humano, etc. Sua forma de escrever é poética, irônica e muitas vezes obscura.

Kierkegaard, procurou em sua filosofia, destacar as condições específicas da existência humana e incorporá-las às reflexões filosóficas.
É normalmente considerado o “Pai do existencialismo”.

Em sua obra Kierkegaard procura analisar os problemas da relação existencial do homem com o mundo, consigo mesmo e com Deus.

As relações do homem com o mundo – outros seres humanos e a natureza – são dominadas pela angústia. A angústia é entendida
como os sentimentos profundos que temos ao perceber a instabilidade de viver num mundo de acontecimentos possíveis, sem
garantia de que nossas expectativas sejam realizadas. “No possível tudo é possível”. Assim, vivemos num mundo onde tanto é possível a
dor como o prazer, o bem como o mal, o amor como o ódio, o favorável como o desfavorável.

A relação do homem consigo mesmo é marcada pela inquietude e pelo desespero. Isso por duas razões fundamentais: ou porque o
homem nunca está plenamente satisfeito com as possibilidades que realizou ou porque não conseguiu realizar o que pretendia,
esgotando os limites do possível e fracassando diante de suas expectativas.

A relação do homem com Deus seria talvez a única via para a superação da angústia e do desespero. Contudo, é marcada pelo
paradoxo de compreendermos pela fé o que é incompreensível pela razão. (COTRIM, 2006, p. 275)

2.3.2.2 NIETZSCHE: DO JULGAMENTO DA CIVILIZAÇÃO À QUESTÃO DA EXISTÊNCIA HUMANA


O maior dos acontecimentos recentes – que “Deus está morto”, que a crença no Deus cristão caiu em descrédito – já começa a
lançar suas primeiras sombras sobre a Europa.

Nietzsche nasceu em 1844 na Alemanha. Nietzsche escreveu sob a forma de aforismos (máximas ou sentenças curtas que exprimem
um conceito) a maior parte de suas obras. Tratou de diversos temas como religião, moral, artes, ciências, etc. Seu conjunto revela, no
entanto, como preocupação básica uma crítica impiedosa à civilização ocidental. Crítica à massificação, à visão de mundo
burguesa, ao conservadorismo cristão etc. Dessa crítica surgiu também a questão do valor da existência humana.

A Filosofia de Nietzsche não deixou pedra sobre pedra. Foi um tribunal do qual não escapou nem mesmo a própria filosofia, reduzida a
pedaços. “Não sou um homem, sou uma dinamite”.

As metamorfoses espirituais da civilização


Em sua análise da civilização, Nietzsche identifica três períodos no percurso ideológico do Ocidente. Eles podem ser definidos pelas
seguintes frases:
• “Tu deves”: período em que há o domínio da moral e da religião, isto é, o domínio do dever. O homem tem a “ilusão” de
estabelecer verdades definitivas.

• “Eu quero”: período de decadência do mundo do dever e de ascensão da vontade. É o declínio dos valores supremos
estabelecidos no período anterior.

• “Eu sou”: período que corresponderá a uma nova relação do indivíduo com a sua existência.

A filosofia de Nietzsche situa-se fundamentalmente na etapa do “Eu quero” do século XIX, quando os valores morais estavam em crise,
dando origem ao niilismo europeu. “Quem vos fala é o primeiro niilista perfeito da Europa”.

O niilismo de valores fez surgir o niilismo existencial, a experiência de que não vale a pena viver.

A vida é uma dor sem sentido.

Através da doutrina do eterno retorno, Nietzsche pensará a superação do niilismo. Nietzsche se proclamou “o primeiro niilista perfeito”,
mas acrescentou depois “que superou o niilismo” pois acreditava na vontade humana e na capacidade de se produzirem valores
“afirmativos da vida”. (COTRIM, 2006, p. 276)

2.3.2.3 HEIDEGGER: O SENTIDO DO SER

Somente na clara noite do nada da angústia surge a originária abertura do ente enquanto tal (...)

Alemão, Martin Heidegger (1889-1976), em 1933, ano em que Adolf Hitler tornou-se chanceler da Alemanha, foi nomeado reitor da
Universidade de Freiburg, aderindo formalmente ao partido nazista.

Não muito tempo depois, talvez por tomar consciência das crescentes atrocidades praticadas pelos nazistas, demitiu-se da
Universidade. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, buscou o isolamento em sua casa nas montanhas. Até sua morte, manteve
raros contatos sociais, relacionando-se apenas com reduzido grupo de amigos. (COTRIM, 2006)

O ente e o ser

Heidegger sempre negou que fosse um existencialista. Para ele a questão fundamental da filosofia não é o homem e sim o ser, a
essência, não só do homem como de todas as coisas. Uma filosofia que colocasse o homem como centro de preocupação, seria
antes uma antropologia.

A filosofia heideggeriana criticou basicamente a antiga confusão entre o ente e o ser, ocorrida ao longo da história da filosofia.

Para Heidegger, o ente é a existência, o modo de ser do homem. O ser é a essência, aquilo que determina a existência ou o modo de
ser do homem. (COTRIM, 2006)

O despertar pela angústia

Um dos objetivos básicos da obra de Heidegger Ser e Tempo é investigar o sentido do ser. Para efetuar tal tarefa, começou
investigando o ser que nós próprios somos.

Criando uma terminologia própria, Heidegger denomina o modo de ser do homem, nossa existência com a palavra Dasein, cujo
sentido é ser-aí, estar-aí.

Analisando a vida humana, descreve três características básicas que marcam a existência inautêntica.
• O fato da existência: o homem é “lançado” ao mundo, sem saber por quê. Ao despertar para a consciência da vida, já está aí,
sem ter pedido.

• O desenvolvimento da existência: o ser humano estabelece relações com o mundo (ambiente natural e social historicamente
situado). Para existir, o homem projeta sua vida e procura agir no campo de suas possibilidades. Assim, move uma busca
permanente para realizar aquilo que ainda não é. Em outras palavras, existir é construir um projeto.

• A destruição do eu: na busca de realizar seu projeto, o homem sofre a interferência de uma série de fatores adversos que o
desviam de seu caminho existencial. Trata-se do confronto entre o eu com os outros.  Em vez de tornar-se si mesmo, o homem
torna-se aquilo que os outros desejam. O sentimento profundo que faz o homem despertar da existência inautêntica é a angústia,
pois ela revela a nossa impessoalidade no cotidiano. O abandono de nosso próprio eu diante da opressão do mundo como um
todo. O homem sente-se assim como um ser-para-a-morte. (COTRIM, 2006, p. 278))

2.3.2.4. SARTRE: A RESPONSABILIDADE DO HOMEM SOBRE TUDO AQUILO QUE FAZ


Nascido em Paris, Jean-Paul Sartre (1905-1980) tornou-se o filósofo mais conhecido da corrente existencialista.

Sartre recebeu significativa influência filosófica de Heidegger. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, participou da luta de
resistência francesa contra o nazismo. Aderiu ao marxismo, considerando-o como a filosofia de sua época. Mais adiante rompeu com o
Partido Comunista, acusando-o de desviar do sentido autêntico do marxismo.

A principal obra filosófica de Sartre é O ser e o nada, publicado em 1939. Nessa obra, ele ataca duramente a teoria aristotélica da
potência. Para Sartre, o ser é o que é. Trata-se, na linguagem sartriana, do ente em si.

Mas, além do ente-em-si, Sartre concebe a existência do ser especificamente humano, denominando-o ente para si. O ente para si
específico do homem se opõe ao ente em si, que representa a plenitude do ser. Portanto, para Sartre, a característica tipicamente
humana é o nada: um “espaço aberto”. Esse “nada”, próprio da existência, faz do homem um ente não-estático, não-compacto,
acessível às possibilidades de mudança.

Se o homem fosse um ser cheio, total, pleno, com uma essência definida, ele não poderia ter nem consciência, nem liberdade.
Primeiro, porque a consciência é um espaço aberto a múltiplos conteúdos. Segundo, porque a liberdade representa a possibilidade de
escolha. Por intermédio dela, o homem revela suas aspirações por algo que ele ainda não é.

Assim, para Sartre, se o homem não expressasse esse “vazio do ser”, sua consciência já estaria pronta, acabada, fechada. Tampouco
poderia manifestar liberdade, pois estaria totalmente preso à realidade estática do ser pleno.

Por isso, o homem tem como característica específica o não-ser, algo indefinido e indeterminado. Por esse mesmo motivo, não
podemos falar da existência de uma natureza humana universal, mas sim de uma condição humana, isto é, o conjunto de limites a
priori que esboçam a sua situação fundamental no universo.

Um dos valores fundamentais da condição humana é, segundo Sartre, a liberdade, em situações concretas, que impulsiona a conduta
humana, que gera a incerteza, que leva à procura de sentidos, que produz a ultrapassagem de certos limites. (MARTINS e ARANHA,
2003)

Figura 1- Frase

Fonte: Disponível em Créditos

Sugerimos o vídeo abaixo, com uma entrevista muito interessante com o professor Mário Sérgio Cortella.

https://www.youtube.com/watch?v=IH4WgV72Gtc

• Texto:
• Pensar a vida, saltar o abismo.

• Livro: Por que fazemos o que fazemos? Mário Sérgio


Cortella. Editora Planeta.
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RECAPITULANDO
CRÉDITOS
Figura 1 - Fonte Disponível em: <https://bit.ly/2N8eb7r> Acesso em 12 de set. 2018.

REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia – História e grandes temas. São Paulo: Saraiva, 2006.

MARTINS, Maria Helena Pires; ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: Introdução a Filosofia. São Paulo: Moderna, 2003.
Niilismo
Niilismo: é uma doutrina filosófica que um pessimismo e ceticismo extremos perante qualquer situação ou realidade possível. Consiste
na negação de todos os princípios religiosos, políticos e sociais.

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