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RENASCIMENTO E ILUMINISMO

O início do período moderno traz consigo


mudanças nas mais diversas áreas da vida;
vão ocorrer transformações na área da
arte, da ciência e assim também, na área
da filosofia, trazendo novas reflexões sobre
o mundo aliadas ao pensamento científico
da época. Para estudarmos a filosofia
nesse período, é necessário considerar o
contexto histórico das análises filosóficas
que se desdobram, começando a entender
a filosofia moderna pelo marco importante
do Renascimento e do Iluminismo.

O Renascimento e o Iluminismo vão nomear dois períodos


diferentes da história europeia, trazendo as transformações nos
diferentes campos da vida do período moderno, cada um com
suas áreas de modificação.

O Renascimento, presente nos séculos XIV a XVI, se distingue


como um movimento abrangendo a política e campo artístico
que consegue espaço na região da Itália, expandindo a
aceitação dos valores humanistas e criando um novo modelo
político. Esse movimento se faz essencial para tornar possível o
desenvolvimento do Iluminismo posteriormente.

O Iluminismo, portanto, se dá como um movimento posterior, no século XVII, que se fixa


primeiramente na Inglaterra e na França antes de se expandir para o mundo, com ideais
parecidos com os do Renascimento, mas que adquirem maior sofisticação e com um
grau de abrangência bem maior.

RENASCIMENTO
Marcando o início da Idade Moderna, os filósofos nesse período se determinam por esse
interesse no rompimento com as tradições. A substituição do sistema feudal traz novas
maneiras na forma de viver e de se perceber como indivíduo inserido na sociedade; é
com essas modificações econômicas que se gera a aparição do
Renascimento, além da retomada dos valores da Antiguidade
Clássica que se afastam das imposições religiosas de um momento
medieval. Podemos destacar nas ciências a importância de
Galileu Galilei nesse momento e a busca pela aceitação da teoria
Heliocêntrica, confrontando a influência da Igreja Católica.

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Apesar desse afastamento do momento anterior, é importante lembrar que a filosofia
Filosofia Moderna

desse período não deixou de considerar a religiosidade e sua importância, como


podemos ver em um dos principais filósofos do período moderno, René Descartes,
que ainda aponta a utilização de seus pensamentos para provar a existência de
Deus. A diferença dessa conjuntura é que o foco dessas investigações mudam para
colocar o ser humano no centro das atenções, que podemos
perceber na prova da existência de Deus de Descartes sendo
uma consequência de sua investigação sobre a prova da
própria existência humana como ser pensante.

O pensamento teocêntrico se desloca para um pensamento


antropocêntrico, tendo o homem como protagonista de sua
própria história. Essa mudança também é perceptível na
filosofia política com o exemplo de Nicolau Maquiavel, que produz seus estudos
pautando um governo essencial dos homens ao separar a política da moralidade
cristã. Além disso, uma característica de valorização dos prazeres materiais e
sensoriais, anteriormente reprimida pelo pensamento cristão na Idade Média, é
retomada no Renascimento pela doutrina ética e filosófica da Antiguidade conhecida
como Hedonismo, apreciando a busca por esses prazeres.

RACIONALISMO
No período do Renascimento, o destaque da razão será um elemento muito
importante, sendo a razão humana a principal temática a ser explorada. A observação
atrelada à experimentação vai conduzir os processos de busca do conhecimento de
maneira mais prática do que comparado
à filosofia na Antiguidade, que possuía
uma forma muito mais contemplativa.

Outra característica importante que


a prevalência da razão trouxe para
esse contexto foi o Naturalismo, que,
diferentemente do pensamento medieval
anterior, como em São Tomás de Aquino,
ultrapassa a visão do meio e da natureza como a criação que prova o criador, adotando
uma postura de possibilidade com o seu redor baseada na crença de que a natureza
poderia ser compreendida e desbravada através de um conhecimento racional.

ILUMINISMO
A partir do século XVII, fazendo uso das mudanças trazidas pelo pensamento racional,
o Iluminismo surge como movimento cultural valorizando a crença na razão e busca
pelo conhecimento, com o intuito das modificações políticas, econômicas e sociais. A
produção filosófica no período iluminista tem nomes de grandes pensadores da filosofia
estudando e produzindo reflexões sobre seu contexto. Dentre eles, podemos citar:

f John Locke: Filósofo contratualista que desenvolve a noção de direitos


inalienáveis, como à felicidade, à vida, à liberdade e à propriedade, servindo de
influência para o pensamento iluminista.

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f Voltaire: Pensador que sustenta a defesa da liberdade de expressão e vida

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criativa, trazendo uma contraposição ao absolutismo e idealizando uma desconexão
da interferência religiosa no sistema político.

f Montesquieu: Filósofo francês que dá ênfase na ideia da separação dos poderes


a partir da defesa de que apenas um poder seria capaz de frear outro poder,
contrapondo também a ideia absolutista.

f Jean-Jacques Rousseau: Filósofo contratualista que obteve uma fama polêmica ao


criticar as artes e as ciências como formas de corrupção do indivíduo, ainda se efetiva
como um dos grandes expoentes do iluminismo por defender uma prevalência da
soberania popular e exaltar a ideia da liberdade, mesmo que no ideal do bom selvagem.

f Denis Diderot: Escritor e filósofo que ganhou destaque por sua participação
na realização da Enciclopédia, instrumento de armazenamento de saberes racionais
que se opõe à produção do conhecimento puramente religioso.

f Isaac Newton: Abordando a produção científica do iluminismo temos a participação


desse cientista dando continuidade à revolução científica de Galileu Galilei.

A racionalidade se demonstra no Iluminismo como um ponto principal que passa


a guiar não apenas as ciências naturais mas também as ciências humanas; assim, o
pensamento racional que antes era voltado apenas para explicar a natureza começa a
ser utilizado para compreender as relações entre os indivíduos.

IMMANUEL KANT
O filósofo iluminista Immanuel Kant tem grande destaque nesse
período principalmente por uma de suas obras, intitulada de
Que é o Esclarecimento?, também referida como “O que é o
Iluminismo”. Nessa obra, é trazida uma discussão fundamental
desse filósofo que se baseia em dois conceitos chaves:
Immanuel Kant

f Maioridade: Se baseia numa situação de autonomia, na


qual o indivíduo é capaz de assumir um pensamento por si próprio e sair da sua
condição de menoridade.

f Menoridade: Se baseia numa situação de heteronomia, que não implica em


uma incapacidade de entendimento, mas sim a impossibilidade de fazer uso do seu
próprio entendimento, se apoiando em outros.

Sua obra começará trazendo essa perspectiva essencial logo de início:

“ESCLARECIMENTO [«Aufklärung»] é a saída do homem de sua menoridade, da


qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu
entendimento sem a direção de outro indivíduo.”
(KANT, Immanuel. Que é Esclarecimento? In: KANT, Immanuel. IMMANUEL KANT: textos seletos.
2. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1985. Cap. 4. p. 53-61. Tradução: Raimundo Vier e Floriano de
Sousa Fernandes.)

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Assim, a proposição sobre a menoridade consistirá na perspectiva dessa situação do
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indivíduo se apoiar no caminho de menos esforço, que seria deixar um outro pensar e
raciocinar por ele, em contraposição à ele refletir para e sobre si mesmo; as principais
causas da permanência na menoridade seriam uma circunstância de preguiça e covardia
por parte do indivíduo. Essas amarras naturais geram uma comodidade e conforto, ao
passo que a saída da menoridade requer esforço. Assim, Kant evoca o lema Sapere
Aude, que significa “Ouse saber”, trazendo o atrevimento de se esforçar para pensar e
buscar o conhecimento por conta própria.

“O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra


na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si
mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu
próprio entendimento, tal é o lema do do esclarecimento [«Aufklärung»].”
(KANT, Immanuel. Que é Esclarecimento? In: KANT, Immanuel. IMMANUEL KANT: textos seletos.
2. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1985. Cap. 4. p. 53-61. Tradução: Raimundo Vier e Floriano de
Sousa Fernandes.)

Diante das considerações não apenas de Kant, mas dos pensadores no Iluminismo
no geral, é possível perceber o caráter de transformação do pensamento que
ocorre nesse período, não estando limitado à uma visão única da forma de pensar,
explorando o rompimento com tradições e limitações existentes anteriormente na
busca do conhecimento.

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