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Características do Iluminismo
Apesar de haver divergência de pensamentos entre os diversos autores
iluministas, é possível anotar algumas tendências gerais comuns: “O que
caracteriza as luzes, além da valorização do homem [...] é uma profunda
crença na Razão humana e nos seus poderes” (FORTES, 1985, p. 9).
Observa-se também “a partir da ascensão do pensamento filosófico e científico,
em meados do século XVI, uma mudança acerca da funcionalidade da ciência
e do lugar do indivíduo no mundo” (MELLO; DONATO, 2011, p. 248). Vemos
assim o racionalismo como “propulsor do saber” e a defesa do conhecimento
científico e racional como meio para a superação de preconceitos e
ideologias tradicionais e busca do Esclarecimento. De modo geral, Giles (1987)
aponta que o Iluminismo fundamentou-se em três pilares: natureza,
razão e progresso. Natureza é entendida a partir da ideia de que o universo é
governado por leis universais como no caso das leis do movimento do sistema
newtoniano. A razão é o que possibilita não descobrir pela observação tais leis
desvelando todas as aparentes divergências e rejeitando tudo o que é baseado
apenas na autoridade. O progresso resume os ideais do Iluminismo: a partir da
compreensão das leis da natureza, a partir da razão, a humanidade poderia,
enfim, caminhar em direção ao progresso.
Além disso, os filósofos do iluminismo tinham um ideal de luta pela
liberdade, como dizia Diderot “o espírito do nosso século parece ser da
liberdade” (apud FORTES, 1985). Em que o homem não deveria se guiar pelos
pensamentos de outrem, mas pensar por si só, sendo dono do seu “próprio
nariz”, se tornando um homem racional, deixando de lado
as ideologias retrógadas que cerceiam a liberdade e se voltando para a razão.
Há, portanto, uma defesa intransigente da liberdade entre os pensadores
iluministas (liberdade política, religiosa, de expressão, de imprensa).
A liberdade individual se torna o centro da discussão sobre
política, à medida que a filosofia política iluminista promovia a
centralidade dos direitos individuais, diferenciando os
compromissos dos antigos e medievais da ordem e hierarquia.
Nesse sentido, podemos afirmar que o iluminismo teve sua
primeira expressão teórica, mais concentrada, em fins do século
XVII, com o inglês John Locke – considerado o pai do
liberalismo –, preocupado em “modificar” a concepção de súditos
da coroa britânica para cidadãos. Defenderia a liberdade e a
tolerância religiosa (MELLO; DONATO, 2011, p. 253).
Outra característica é a crítica aos valores da Igreja Católica e o anti-
clericalismo. Os filósofos combatiam com todas as forças a imposição da
verdade pela Igreja: “para ser efetivamente livre a Razão não pode se
submeter a nenhuma autoridade que a transcenda ou a nenhuma regra que lhe
seja extrínseca: ela é, para si mesma, sua própria regra” (FORTES, 1985,
p.18).
Há ainda uma confiança no desenvolvimento do “espírito científico”
(com ênfase na visão de mundo mecanicista e no naturalismo) e nas ideias de
progresso. A popularização do conhecimento científico deu uma certa
confiança ao “espírito das luzes” de que alcançaríamos um maior grau de
desenvolvimento. “É a ciência que dá ao século XVIII a segurança e a
confiança na razão. O sucesso das ciências experimentais alimentou a ideia de
que o mesmo método leva a um progresso concreto em todas as áreas da
cultura e da vida” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 606).
Referências Bibliográficas
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário
de Política. 11. ed. Brasília: Editora UnB, 1998. Vol. I.
DUPAS, Gilberto. O mito do progresso. São Paulo: UNESP, 2006.
FEITOSA, Charles. Explicando a Filosofia com Arte. Rio de Janeiro: Ediouro,
2004.
FORTES, Luiz Roberto Salinas. O Iluminismo e os Reis Filósofos. 3. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1985. (Coleção Tudo é História, 22).
GILES, Thomas Ransom. História da educação. São Paulo: EPU, 1987.
KANT, I. Textos Seletos. Trad. Floriano de Souza Fernandes. 2. ed.
Petrópolis: Vozes, 1985.
MELLO, Vico Denis S. de; DONATO, Manuella Riane A. O Pensamento
Iluminista e o Desencantamento do Mundo: modernidade e a Revolução
Francesa como marco paradigmático. Revista Crítica Histórica, Ano II, nº 4,
dezembro/2011.
MÖLLER, Mathias Alberto. Esclarecimento e emancipação nos textos políticos
de Kant. Filogenese, v. 7, n. 2, p. 27-45, 2014. Acesso em: 02 out. 2020.
PAZZINATO, A. L.; SENISE, M. H. V. História moderna e
contemporânea. São Paulo: Ática, 1992.