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Módulo 1 – Bases histórico-filosóficas do humanismo em Psicologia

O Humanismo como movimento recorrente no pensamento ocidental

Bibliografia Básica: HOLANDA, A. Fenomenologia e Humanismo, Parte II, pp. 105 – 118
(Introdução; 1. Há uma “questão” humanista; 2. O que é o Humanismo)

O Humanismo não é exclusividade da Psicologia. Pelo contrário, sua história remonta ao


nascimento da filosofia. Segundo o historiador Holanda (2015), o primeiro humanista foi Sócrates,
filósofo conhecido pela frase “só sei que nada sei”. Nessa frase paradoxal está contida uma das
principais características do Humanismo ao longo da história do pensamento ocidental: a
afirmação da capacidade de pensar-se do homem. Na história da filosofia, Sócrates é o filósofo
que, dialogando, revela que verdades defendidas por seus interlocutores eram pressupostos
adquiridos de outrem. Dessa primeira desconstrução, surge a possibilidade de uma verdade
própria, fruto do próprio raciocínio. Isso é possível, pois o homem é capaz de pensar e refletir
sobre si mesmo e seu mundo ao redor.

Ao longo da história, surgem em vários momentos movimentos que buscam resgatar a


dignidade do homem, ou seja, seu lugar peculiar na natureza, caracterizado pela capacidade de
conhecer (-se). Desse modo, não é possível falar de um Humanismo, mas, sim, de uma atitude
humanista de pensamento, que se dedica à questão crucial: quem sou eu?
Holanda (2015, p.108) indica como características essenciais do humanismo:
1) “a luta do homem que reflete sobre si mesmo; é refletir sobre o embate do ser humano que
pensa a natureza e a realidade incluindo-se em relação a estas”;
2) a reflexão sobre a “constituição da subjetividade”, do “sujeito no mundo que habita”;
3) a reflexão do “lugar do sujeito que pensa” no mundo e no conhecimento. Isso está presente no
pensamento grego e latino dos séculos antes de Cristo, reaparece no final da Idade Média, no
chamado Renascimento, preparando a época moderna, quando novamente anima as reflexões
do homem sobre si mesmo e seu mundo
.
O historiador Abbagnano (1992, apud Holanda, 2015), nessa mesma direção, resume o
Humanismo como o movimento literário e filosófico Renascentista, que acontece no final do
século XIV, na Itália, assim como toda filosofia que tome o homem como “a medida de todas as
coisas”.
Esta concepção – de que o homem é a medida de todas as coisas –, remonta ao filósofo
Heráclito de Éfeso (535 a.C. – 475 a.C.), mas foi assim enunciada por Protágoras de Abdera (490
a.C. – 415 a.C.). O sentido dessa afirmação aponta para a interligação de homem e realidade e
para o alcance do conhecimento, que é possibilidade humana.

3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

A Psicologia Humanista do século XX encontrou no Humanismo, movimento filosófico medieval,


fundamentação para as suas posições na Psicologia. Esse movimento filosófico combateu a
Escolástica, recolocando como centro das reflexões o Homem, como fizera a cultura clássica
anteriormente. Das ideias e citações abaixo, as que correspondem aos ideais do Humanismo são:

I – “Qual é a utilidade de conhecer a natureza dos quadrúpedes, aves, peixes e serpentes e não
conhecer ou até mesmo negligenciar a natureza do homem?” (Petrarca)
II – O homem é um ser que, diferentemente dos demais, não tem lugar ou aspecto fixo, não tem
forma determinada nem leis que determinam sua natureza. Ele pode escolher para si mesmo seu
lugar e sua natureza e criar leis para si mesmo. (Pico della Mirandola)
III – Como a mente do homem foi criada pelo sopro de Deus e seu corpo, do barro, o homem
reúne as naturezas mortal e imortal. (Philo)

A) I e II, apenas.
B) II e III, apenas.
C) I, II e III, apenas.
D) I, apenas.
E) II, apenas.

Seus estudos da fundamentação filosófica da Psicologia Humanista devem ter-lhe mostrado que
os Humanistas medievais recuperam a dignidade do homem, mostrando que é dotado de livre
arbítrio, e colocaram a natureza humana como foco das reflexões filosóficas. Assim, as
afirmações I, II e III expressam esses ideais. A alternativa correta é C.

O Renascimento: movimento humanista medieval


Bibliografia Básica: HOLANDA, A. Fenomenologia e Humanismo, Parte II, pp. 105 – 118
(Introdução; 1. Há uma “questão” humanista; 2. O que é o Humanismo)
Todo mundo conhece a imagem do homem vitruviano, elaborada por Leonardo da Vinci (1452
– 1519). Para muitos, é um símbolo do Renascimento, pois retrata a homem como parte da
natureza, tal como conhecido e conhecível pelo esforço racional humano. Ou seja, contrapõe a
representação do homem elaborada por ele mesmo, recorrendo aos instrumentos e cálculos
humanos, às representações alegóricas bíblicas. Nesse desenho, retrata, cuidando para revelar
com clareza, o corpo humano na sua simétrica e bela perfeição. Os gregos e os latinos,
antecedentes do pensamento cristão que domina a cultura (arte, filosofia) já nos primeiros cinco
séculos d.C., também buscavam conhecer e representar o corpo humano tal como pode ser (e
muitas vezes é) na sua humana perfeição.

Os historiadores são unânimes ao apontar como característica do Renascimento o resgate dos


gregos e latinos clássicos. O Renascimento é movimento cultural que acontece na Europa
Ocidental, tendo seu berço na Itália, entre a segunda metade do XIV e o começo do XVII. Retoma
os clássicos, pois recoloca o homem na sua vida terrena no centro das preocupações.
Anteriormente, o homem era pensado como parte da criação divina e sua existência e trajetória
terrenas como preparação para a vida após a morte. Ou seja, na Idade Média preocupava-se
mais com a alma imortal do homem do que como sua vida mortal. No lugar da vida monástica,
tida como máximo valor humano, o Humanismo renascentista cede espaço para os prazeres
humanos ordinários. Ao invés de pesquisar a vida após a morte, o interesse científico se volta
para a vida mundana.

O termo HUMANISMO está relacionado com o professor ou aluno de studia humanitatis


(humanidades), isto é, textos clássicos sobre gramática, retórica, poética, filosofia moral (ser
humano e suas relações com os demais) e história. O conhecimento de latim e grego levou
humanistas a traduzirem a filosofia grega para um latim elegante. É neste período que se inicia.

Os humanistas acreditavam no poder do homem de planejar sua vida, comandar seu destino e
direcioná-lo para a liberdade, a justiça e a paz. É nesta época que surge a ideia de “livre arbítrio”
como dádiva divina ao homem, que o torna responsável por suas escolhas. Assim como a
liberdade, a dignidade do homem volta a ser tema filosófico, como fora outrora com os gregos e
os latinos a.C.
No pensamento humanista renascentista, o homem era responsável por tornar o mundo seu
lar, reconhecendo as necessidades que o ligam a ele. Apareceram discussões sobre a felicidade
humana, sobre o livre arbítrio, o destino, a fortuna, sobre o lugar do homem no cosmos.
As mesmas questões e preocupações reaparecem na fenomenologia, no início do XX. Edmund
Husserl descreve a crise das ciências, que assumem o modelo científico-natural, que abstrai o
homem, para o conhecer. Ao fazerem isso, deixam de lado a especificidade humana, que é sua
condição de conhecedor do mundo e de si. Perguntando “o que é o homem?”, as ciências-
naturais tornam-no um “que”, um objeto, perdendo de vista subjetividade (sujeito). De maneira
semelhante, os psicólogos humanistas nos EUA criticaram as abstrações e o cientificismo do
behaviorismo e da psicanálise em voga na época. Recolocaram no centro das preocupações a
saúde, o potencial e a liberdade humanos, esquecidos pelas pesquisas do homem doente
(psicopatologia).

Atividades Recomendadas

3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:


O Humanismo na psicologia foi influenciado pelo Renascimento, movimento cultural da Europa
Ocidental entre os séculos XIV e XVII. Sobre esse movimento, é correto afirmar:

I – O Renascimento irrompeu contra a Escolástica, colocando o homem no centro das


preocupações especulativas.

II – Para o Renascimento, o aspecto mais importante do homem é sua alma imortal.

III – O “livre-arbítrio” foi fortemente defendido pelos humanistas, que acreditavam no poder do
homem de planejar sua vida, comandar seu destino e direcionar-se para a liberdade.

IV – O Renascimento se opôs à hegemonia da religião cristã na produção de conhecimento. Os


filósofos humanistas eram adversários da Igreja.

Está correto apenas o que se afirma em:

A) I e II, apenas
B) II e III, apenas
C) I, II e III, apenas
D) III e IV, apenas.
E) I e III, apenas.
Se você leu os textos atentamente e compreendeu os aspectos principais do Humanismo
renascentista terá identificado a alternativa E (I e III, apenas) como a correta. A afirmação II indica
que a “alma imortal” do homem é o aspecto mais importante para o Renascimento. Isso está
errado, pois a preocupação com a alma imortal trazia junto uma desconsideração da vida terrena.
Os Humanistas voltam a atenção para a existência e para o mundo ao redor do homem, as
escolhas que faz, como exerce seu livre arbítrio na direção do bem. A afirmação IV propõe que o
Humanismo Renascentista se opunha à Igreja. Está errado. Os Humanistas não se opõem à
filosofia cristã que os antecede. O que fazem é mudar o foco de interesse para o homem
histórico, mortal, deixando em segundo plano das reflexões a alma imortal.

Módulo 2: Psicologia Humanista norteamericana – A “Terceira Força”


Objetivo: Situar o surgimento da Psicologia Humanista e conhecer seus principais autores.
Bibliografia básica: HOLANDA, A. Fenomenologia e Humanismo, Parte II, pp.146 – 172

Psicologias Humanistas
Reunimos sob o nome de “Psicologias Humanistas” vários modelos de compreensão de
homem que, embora divirjam entre si, convergem na ênfase dada ao sentido das vivências
humanas e na liberdade como condição ontológica,. Tomaremos como foco de nossos estudos a
Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Carl Rogers a partir da década de 1950, a
Gestalt-Terapia, por Fritz Perls na mesma época e a Psicologia Existencial-Humanista,
desenvolvida por Carl Rogers.
As Psicologias Humanistas florescem nos Estados Unidos a partir da década de 1950. Esse
período que seguiu a Segunda Guerra Mundial estava marcado pelos horrores provocados pela
humanidade, assim como pelo temor constante da autodestruição atômica na Guerra Fria. Nas
décadas seguintes cresceram as tensões e disputas raciais em busca do fim da discriminação e
os Estados Unidos se envolveram com a Guerra do Vietnã, que resultou na morte de milhares de
jovens soldados e na mobilização de parcela considerável da sociedade pela paz.
Nesse momento histórico, a Psicologia estava dividida entre duas “forças”: A Psicanálise
freudiana, que apresenta o homem como um organismo determinado por impulsos inconscientes
que buscam a satisfação do prazer ou a evitação do desprazer, e o Behaviorismo, que é a
aplicação do modelo científico-natural de conhecimento, apresentando o homem como um
organismo determinado por sua história de modelagem e pelo ambiente.
Assim, a Psicologia Humanista surge como a Terceira Força na psicologia. A Terceira Força
considera as psicologias de sua época deterministas, pois buscam determinar a causa dos
comportamentos humanos. Para isso, recorrem a modelos explicativos que não abarcam aquilo
que o humano tem de mais peculiar: a liberdade. Ao posicionar a questão do sentido da vida
como a mais importante, estão afirmando que a existência humana é livre e capaz de fazer
escolhas em direção ao que é significativo em sua vida. Proclamam também que o ser humano é
animado por uma força vital, que o impulsiona ao crescimento e à complexificação da existência.
(Figueiredo, 2012)

Atividades Recomendadas

4) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

A Psicologia Humanista foi caracterizada por Erich Fromm como a Terceira Força na Psicologia.
Sobre isso, é verdadeiro afirmar:

I – A Psicologia Humanista é a Terceira Força, que surge em oposição à Psicanálise de Freud (1ª
Força) e ao Behaviorismo de Skinner (2ª Força).
II – A Psicologia Humanista surge no começo do séc XX em reação à psicologia “pouco científica”
do XIX, que era baseada na consciência e na introspecção. É ciência aplicada, e enquanto tal
busca a previsão e o controle do seu objeto de estudo (o humano).
III – A Psicologia Humanista de Rogers, Fromm, Horney defende que o sentido dos
comportamentos humanos pode ser descoberto a partir de uma análise da história de
modelagem.
IV – A Terceira Força defende que ser humano é ser livre e responsável por si mesmo. Seu
destino está em suas mãos. Para isso, o homem dispõe de responsabilidade, envolvimento,
capacidade de ação, de fazer escolhas e de crescer.
V – A Psicologia Humanista considera que “o ser humano é, em seu cerne, um organismo em que
se pode confiar.”
Estão corretas as afirmações:

A) I, II e III, apenas.
B) II, III e IV, apenas.
C) I, IV e V, apenas.
D) III, IV e V, apenas.
E) I, II, IV e V, apenas.

Considerando as afirmações acima, identificamos que a I, a IV e a V estão corretas. Portanto, a


resposta é C. A afirmação II está incorreta, pois a Psicologia Humanista não surge como
aplicação do método científico-natural de pesquisa nem concebe o homem como passível de
previsão e controle. Pelo contrário, busca a liberdade do humano e os meios para resguardar ou
resgatar essa liberdade. A afirmação III está incorreta, pois afirma que as motivações humanas
podem ser compreendidas como causas, isto é, determinantes do comportamento. O ser humano
é essencialmente aberto para o seu futuro, existindo enquanto processo dirigido à realização
pessoal.

A “Terceira Força” em Psicologia


Bibliografia básica: HOLANDA, A. Fenomenologia e Humanismo, Parte II, pp.146 – 172
A Psicologia Humanista é crítica em relação à hegemonia do conhecimento científico na
investigação sobre o humano. Coloca como questão para a Psicologia se não há outras formas
de conhecimento sobre o seu “objeto”, o humano.
O conhecimento científico trabalha com fatos, que são mensuráveis. Segue regras
precisas de observação e investigação, que recebem o nome de ‘método’, para assegurar a
veracidade do conhecimento produzido. Apesar da pretensa objetividade, há um pressuposto que
fundamenta esse modelo de investigação. A ciência pressupõe que a natureza funciona de
acordo com leis gerais e que o homem pode descobri-las através de rigoroso método de
investigação. Opera sobre a cisão Sujeito – Objeto; os objetos são as partes da natureza e o
Sujeito é o pesquisador, aquele que é capaz de investigar e explicar o funcionamento da
natureza.
A cisão Sujeito - Objeto pode ser retraçada à obra do filósofo René Descartes (1596 –
1650). Ele propõe à filosofia que supere o conhecimento vago e especulativo que a dominou por
séculos, buscando uma fundamentação sólida e certa. Encontra-a no conhecimento preciso da
matemática, para a qual 2 + 2 sempre serão igual a 4. No início do Discurso do Método (1637),
ele aponta a insuficiência do senso comum para o conhecimento certo. Escreve:
... a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que os
outros, mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não
considerarmos as mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo
bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, tanto quanto das maiores virtudes, e os
que só andam muito lentamente podem avançar muito mais, se seguirem sempre o caminho reto,
do que aqueles que correm e dele se distanciam. (p.41)

A partir da consideração de um método preciso de conhecimento racional, Descartes formula a


divisão da natureza em dois tipos de substâncias: res cogitans (coisa pensante) e res extensa
(coisa extensa). Podemos identificar nessa dualidade a divisão presente no nosso modelo
científico entre Sujeito (res cogitans) e Objeto (res extensa).
A Psicologia enquanto ciência padece de um difícil problema. O “objeto” de suas
pesquisas é também o sujeito que investiga. Para a Psicologia Humanista está claro que o
“objeto” de pesquisa da Psicologia é o Ser Humano. Sendo assim, a investigação não pode seguir
os mesmos métodos e critérios de investigação de objetos naturais, mensuráveis.
Assim, as Psicologias Humanistas surgem como um novo caminho – uma mudança de
paradigma – na investigação sobre o humano. No início, desenvolvem-se a partir da prática de
psicólogos norteamericanos. Carl Rogers é o maior exemplo disso. Mas são vários autores com
contribuições às vezes divergentes entre si, que converge na compreensão do humano como livre
e responsável. Num segundo nomento, esses psicólogos humanistas encontram nas filosofias
fenomenológicas e existenciais alguns fundamentos para esta abordagem vanguardista. Resume
Holanda (2015, p.166):
O movimento humanista foi sendo enriquecido com contribuições de um pensamento
“fenomenológico-existencial” , que confere um “aplicativo-existencial” ao movimento. (Gonzalez,
1988). Um ilustrativo do significado do movimento humanista e do que representou, podemos
encontrar nas palavras de Matson (1978): “A Psicologia Humanista não é apenas o estudo do ‘ser
humano’; é um compromisso com o devir humano” (p.69). Isto demonstra o que realmente “unia”
a diversidade desse autores.

Como já visto, a Psicologia Humanista do século XX encontra no Renascimento, movimento


artístico e filosófico iniciado no século XV de revalorização do humano, em oposição ao
Escolasticismo. Os filósofos Humanistas introduziram a noção de livre-arbítrio, pois acreditavam
no poder do homem de planejar sua vida, comandar seu destino e direcioná-lo para a liberdade, a
justiça e a paz. Além do Humanismo filosófico, a Psicologia Humanista encontra fundamentação
teórica no Existencialismo (Kierkegaard, Sartre).
Sob a categoria “Psicologia Humanista” encontraremos o pensamento de autores diversos,
como Kurt Goldstein, Abraham Maslow, Thomas Greening, Karen Horney e Erich Fromm. Além
destas influências, Holanda (2015) indica a fenomenologia de Husserl e a fenomenologia-
existencial de Heidegger como as mais importantes fundamentações teóricas. Os humanistas
compartilham, portanto, da ênfase no conhecimento da singularidade, assim como na postulação
de uma força criativa, tendente à autorrealização e ao crescimento.
Em todos os autores mencionados acima também encontramos a ênfase na liberdade para
fazer escolhas e na responsabilidade pela própria vida. Também compartilham a ênfase no
conhecimento da singularidade, assim como na postulação de uma força criativa, tendente à
autorrealização e ao crescimento. Por exemplo, Maslow ficou conhecido pela Pirâmide das
Necessidades, na qual expõe que estamos sempre em direção a experiências e realizações mais
complexas, pois o ser humano, diferentemente dos animais, não vive apenas em função da
realização das necessidades.
Nós fazemos escolhas em nome de nossa realização existencial. Quanto maior o nosso grau
de liberdade, mais criativos serão nossos recursos para lançarmo-nos em direção ao nosso
futuro. Como afirma Holanda (2015, p.169), “As propostas das psicologias humanista (americana)
e existencial (europeia) foram reações aos reducionismos vigentes; ambas valoram as dimensões
‘superiores’ da personalidade – coo razão, liberdade, autonomia, criatividade, responsabilidade,
dentre outras [...]”

Referências bibliográficas
DESCARTES, René. Obra Escolhida. Trad. Guinsburg, J e Prado Jr., B. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1994.
Atividades recomendadas:

3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

No século XIX, iniciou-se um movimento de questionamento da metodologia natural-científica na


investigação do humano. Esta parte do pressuposto de que a natureza está aí e funciona de
acordo com leis que o homem pode descobrir objetivamente. Os objetos são parte do mundo. Os
sujeitos podem conhecê-los. A partir dessa crítica, surge a diferenciação entre Ciências Naturais
e Ciências Humanas. Das alternativas abaixo, aquela que expressa corretamente o tipo de
relação estabelecida, a origem da objetividade científica, a natureza do que é investigado e o
objeto de investigação é:
A) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos
fatos que surgem dos objetos puros.
B) As Ciências Naturais trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos
fenômenos que surgem da relação homem-mundo.
C) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos
fatos.
D) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Sujeito, buscando a objetividade nos
fenômenos que surgem da relação homem-mundo.
E) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos
fenômenos que surgem da relação homem-mundo.

Se você leu atentamente os textos, compreendeu que as Ciências Naturais estabelecem relações
Sujeito-Objeto, pois compreendem o investigado como fato objetivo. Já as Ciências Humanas
estabelecem relações Sujeito-Sujeito, tendo como ‘objeto’ os fenômenos, cuja significação brota
da intersubjetividade. Diante disso, a alternativa que apresenta corretamente o paradigma da

Módulo 3: Os pressupostos epistemológicos e ontológicos da Abordagem Centrada na


Pessoa, desenvolvida por Rogers.

Compreensão do conceito de Pessoa presente na obra de Carl Rogers

Bibliografia básica: ROGERS, C. “Ser o que realmente se é: Os objetivos pessoais vistos por um
terapeuta.” Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Bibliografia complementar: AMATUZZI, M. “Abordagem Centrada na Pessoa e
Psicoterapia” Rogers: Ética Humanista e Psicoterapia. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.

Carl Rogers, o fundador dessa abordagem, nasceu em 8 de janeiro de 1902 em Oak Park,
Illinois, nos Estados Unidos. Trabalha como psicólogo desde 1927 realizando psicodiagnóstico
infantil, aconselhamento de pais, estudantes e adultos e psicoterapia no Centro de Prevenção de
Violência contra a Criança (NY). Rogers falece em 4 de fevereiro de 1987. Visita o Brasil algumas
vezes na década de 1970.
Nessa época, a Psicologia norteamericana está dividida entre behaviorismo e psicanálise,
ambas apoiadas nas ciências naturais. Para Rogers, a metade do século XX é uma época que
valoriza a tecnologia como valor máximo, aplicando esse valor às relações humanas. Com isso,
visando um tratamento eficiente, o psicólogo mantém uma postura distanciada de seu “objeto de
estudo”, o paciente. Além disso, o ser humano é visto como “vítima passiva de forças”, sejam elas
impulsos inconscientes, pressões sociais ou condicionamentos.
Através de seu trabalho como psicólogo no Centro de Prevenção, Rogers percebe os
efeitos positivos de uma postura acolhedora e respeitosa com seus clientes. Essa postura se
contrapõe à postura distanciada, científica, dos psicólogos da época. Colocando-se assim na
relação com os clientes, Rogers descobre que todo indivíduo tem a capacidade de descobrir e
buscar o que é melhor para si mesmo. Essa ideia está em sintonia com a compreensão
humanista, que, como já discutido, enfatiza a liberdade e a responsabilidade essenciais do
homem.
A hipótese sobre o ser humano formulada por Rogers é a seguinte: “Os indivíduos
possuem dentro de si vastos recursos para a autocompreensão e para a modificação de seus
autoconceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo. Esses recursos podem ser
ativados se houver um clima, passível de definição, de atitudes psicológicas facilitadoras.” (p.38)
Em outras palavras, as pessoas são capazes de perceber e compreender o que acontece em
suas vidas e de se posicionarem em relação a esses acontecimentos. Para isso, precisam dispor
de liberdade e criatividade diante das situações da vida.
O termo “responsabilidade” tem dois significados aqui. O primeiro é o significado mais
corrente do termo: os acontecimentos de minha vida estão sob meu encargo. O segundo
significado enfatiza a etimologia da palavra, indicando a capacidade de responder. Ser
responsável significa ser capaz de responder ao que me solicita. Esse responder não é um mero
reflexo, mas um posicionamento do indivíduo em relação ao que lhe advém. É, portanto, um ato
de livre determinação do homem, mas que exige criatividade.
A psicologia da época de Rogers estuda o ser humano visando descobrir as causas
determinantes de seu comportamento. A psicanálise hipotetiza as pulsões como princípio dos
comportamentos. Ademais, explica que as pulsões, correlatos psíquicos dos instintos, objetivam a
satisfação do prazer ou alívio do desprazer. Na vida em sociedade, esses impulsos, que
facilmente nos levariam a destruir o próximo para satisfazer nossos desejos, precisariam ser
reprimidos. A partir de sua experiência no contato com pessoas que atendia, Rogers vê-se
obrigado a contestar essa hipótese. Segundo ele, “O ser humano é, em seu cerne, um organismo
em que se pode confiar.” (p.41)

Atividades recomendadas:

A Terapia Centrada no Cliente, desenvolvida por Rogers, oferece ao cliente um espaço de


acolhimento e aceitação a fim de que ele possa assumir sua própria vida e “tornar-se quem é”,
desenvolvendo uma atitude de maior consideração em relação a si mesmo e às situações
significativas de sua vida. Essa abordagem assenta sobre uma compreensão de homem que
afirma que:

a) os indivíduos possuem dentro de si recursos para compreenderem-se e para modificar seus


conceitos, suas atitudes e seu comportamento. Esses recursos podem ser ativados a partir de
atitudes psicológicas facilitadoras.
B) quando são ainda bebês, os indivíduos são objeto dos afetos dos pais. Esses afetos são
introjetados e formam a personalidade da pessoa. As relações significativas posteriores são
reedições dessas experiências primeiras.
C) os indivíduos são determinados pelo meio em que vivem. Assim, a história de vida é
determinante do jeito que ela se relacionará com os demais ao longo da vida.
D) os indivíduos têm uma tendência a se anularem em favor dos outros. Assim, tornar-se quem
se é significa entender o quanto é nocivo agradar aos outros.
E) o único aspecto realmente importante da vida é o aqui-e-agora; a história de vida e as
expectativas em relação ao futuro são secundários.

Seus estudos devem ter-lhe auxiliado a perceber que as alternativas B e C apresentam hipóteses
deterministas sobre a natureza humana, que não correspondem à perspectiva de Carl Rogers. A
alternativa D interpreta equivocamente a noção de “tornar-se quem se é”, pois pressupõe que os
outros são nocivos para a pessoa. A alternativa E desconsidera a importância da história de vida
e dos projetos existenciais. Portanto, a alternativa correta é a A, que apresenta a compreensão de
pessoa como um organismo que tende à auto-realização e é, em sua essência, confiável.

A Tendência Atualizante

Bibliografia básica: ROGERS, C. “Ser o que realmente se é: Os objetivos pessoais vistos por um
terapeuta.” Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Bibliografia complementar: AMATUZZI, M. “Abordagem Centrada na Pessoa e
Psicoterapia” Rogers: Ética Humanista e Psicoterapia. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.
O ser humano não é determinado por forças que o impelem a destruir o outro ou si mesmo.
Pelo contrário, todo organismo busca a autorrealização e o crescimento cada vez mais plenos.
Realizar-me como indivíduo significa também ajudar os outros na busca da autorrealização.
Assim, Rogers formula que todo organismo possui uma tendência natural a um desenvolvimento
mais completo e mais complexo. Isso pode ser observado em todos os organismos e não seria
diferente com o ser humano. Nossos processos naturais também estão voltados para a
manutenção, para o crescimento e para reprodução do organismo que somos. Essa tendência
natural ao desenvolvimento mais completo e mais complexo recebe o nome de Tendência à
Autorrealização (ou Tendência Atualizante).
Na Abordagem Centrada na Pessoa, todos os comportamentos humanos são
manifestação dessa tendência à autorrealização, o que significa que buscam a manutenção e o
crescimento do organismo. Todas as pessoas possuem essa tendência intrínseca para buscar
estados novos de maior complexividade afetividade e cognitiva.
A compreensão da tendência atualizante intrínseca às pessoas é o fundamento da
proposta rogeriana para a psicoterapia.

Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a concepção de homem
desenvolvida por Carl Rogers. Relacione essa concepção com os aspectos gerais das
Psicologias Humanistas vistos no Módulo 01.
2) Reflita sobre a sua recepção dessa concepção otimista da essência humana. Você se percebe
disposto a reconhecer que a “essência das pessoas é digna de confiança” (p.66)? Quais
motivações você identifica para o seu posicionamento?
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

Rogers reconhece nos seres humanos a tendência à autorrealização. Diz ele:

Quer falemos de uma flor ou de um carvalho, de uma minhoca ou de um belo pássaro, de uma
maçã ou de uma pessoa, creio que estaremos certos ao reconhecermos que a vida é um
processo ativo, e não passivo. Pouco importa que o estímulo venha de dentro ou de fora, pouco
importa que o ambiente seja favorável ou desfavorável. Em qualquer uma dessas condições, os
comportamentos de um organismo estarão voltados para a sua manutenção, seu crescimento e
sua reprodução. Essa é a própria natureza do processo a que chamamos vida. Esta tendência
está em ação em todas as ocasiões. Na verdade, somente a presença ou ausência desse
processo direcional total permite-nos dizer se um dado organismo está vivo ou morto. (Rogers,
1983, apud Moreira, 2007, p.52)

Sobre a tendência à autorrealização está correto afirmar:

A) A preocupação com uma possível tentativa de suicídio evidencia a presença de uma tendência
destrutiva no âmago da condição humana.
B) Esta tendência se manifestará somente se houver, por parte do indivíduo, conscientização de
sua existência.
C) Esta tendência pode ser frustrada ou desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que se
destrua também o organismo.
D) Sem estímulo externo, não há como esta tendência ser desenvolvida pelos organismos.
E) Esta tendência e sua manifestação independem da relação com o meio, sempre se
manifestará da mesma forma, na mesma intensidade em todos os indivíduos.

A afirmação A apresenta uma tentativa de suicídio como evidência de uma tendência


destrutiva na essência humana. Como vimos no texto acima e nas leituras indicadas, uma das
principais contribuições de Rogers para a Psicologia foi a formulação de uma visão otimista do
homem: “a essências das pessoas é digna de confiança”, pois a tendência à autorrealização visa
a manutenção e o crescimento do organismo. Essa afirmação está, portanto, incorreta.
A afirmação B indica uma condição para a manifestação da tendência à autorrealização.
Como vimos, essa tendência é intrínseca aos organismos e está sempre presente e atuante,
extinguindo-se apenas quando o organismo morre. Está, portanto, incorreta.
Na afirmação C lemos que a “tendência pode ser frustrada ou desvirtuada, mas não pode
ser destruída sem que se destrua também o organismo.” Está correto que ela pode ser frustrada
ou desvirtuada. Devido a situações desfavorecedoras o organismo pode ficar limitado na sua
capacidade de buscar desenvolvimentos criativos, restringindo seus comportamentos apenas aos
de sobrevivência. Porém, mesmo desvirtuada ou frustrada a tendência à autorrealização
permanece presente e atuante. Por isso, através de um clima facilitador, pode encontrar modos
mais apropriados de manifestação, que conduzam a pessoa (o organismo) a modos mais
complexos de vida. Esta afirmação está correta. Vejamos as demais.
A afirmação D apresenta como condição para a tendência à autorrealização a presença de
estímulos externos. Há dois erros nessa afirmação. Primeiro, a autorrealização é inerente,
intrínseca aos organismos. Lembremos, entretanto, que toda manifestação acontece no meio em
que o organismo vive. O segundo erro está em condicionar a tendência à autorrealização a
estímulos. Se necessitasse de estímulos externos ela seria um reflexo e não uma força motriz,
origem de todos os comportamentos. Ela é iniciadora.
A afirmação E ignora a influência do meio em que vive o organismo. Como vimos, cada
organismo interage constantemente com seu meio. Os meios podem ser mais ou menos
favorecedores para a expressão da tendência à autorrealização, podendo até sistematicamente
frustrá-la. Como o meio em que o organismo vive é fundamental para seu crescimento, a relação
de ajuda na Abordagem Centrada na Pessoa é pensada como um ambiente facilitador.
Outro equívoco na afirmação E é a ideia de que a tendência à autorrealização se manifesta
da mesma forma em todas as pessoas. Como cada pessoa tem uma história de vida singular,
pois desenvolveu-se em ambientes diferentes, relacionando-se de formas diferentes consigo
mesmo e com os outros, a tendência à autorrealização se manifesta de modo singular em cada
pessoa ou organismo.

O objetivo da Psicoterapia e o lugar do terapeuta na Terapia Centrada na Pessoa

Bibliografia básica: ROGERS, C. “'Ser o que realmente se é': Os objetivos pessoais vistos por um
terapeuta.” Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Bibliografia complementar: AMATUZZI, M. “Abordagem Centrada na Pessoa e
Psicoterapia” Rogers: Ética Humanista e Psicoterapia. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.

“Tornar-se quem se é” é o objetivo da relação terapêutica. Significa poder experimentar


seus sentimentos e se relacionar consigo mesmo e com os outros de modo profundo, complexo e
satisfatório. Porém, as relações vivenciadas podem conduzir à direção oposta. Circunstâncias
ameaçadoras fazem com que o indivíduo priorize a defesa de sua integridade, ficando limitada na
sua capacidade de experimentar a complexidade de sentimentos presentes nas relações
humanas. Outras circunstâncias podem levar o indivíduo a falsear ou negar a sua realidade
vivenciada, ou ainda a reprimir seus sentimentos e desejos. Por exemplo, uma criança pode
sentir inveja diante do nascimento de um irmão, mas esse sentimento é mal visto e repreendido
pelos pais. Isso pode levar essa criança a reprimir sentimentos percebidos como errados, ficando
limitado na sua capacidade de se relacionar com os demais, pois a inveja é um sentimento
humano.
A Abordagem Centrada na Pessoa compreende que a repetição e o acúmulo de ameaças à
integridade ou repressão de sentimentos, que experimentamos na família, na escola e na cultura
podem limitar nossa liberdade de nos reconhecermos como somos e nossas necessidades, de
experimentarmos nossos sentimentos e de realizarmos escolhas pertinentes ao nosso
desenvolvimento pessoal e relacional.
O terapeuta nesta abordagem é um facilitador do desenvolvimento pessoal. É alguém que
se dispõe a compreender o cliente, respeitá-lo e aceitá-lo tal como ele próprio de percebe. Vê o
cliente como pessoa, isto é, um ser livre e responsável, capaz de compreender-se e transforma-
se, e relaciona-se com ele enquanto tal. A partir dessa relação terapêutica, a pessoa (cliente)
começa a afastar-se de modelos falseados de si mesmo, encaminhando-se para maior
autonomia. Torna-se progressivamente mais responsável por si mesmo, pois capaz de decidir-se
sobre quais são comportamentos e sentimentos significativos e quais não. Encaminha-se, assim,
para uma realidade mais fluida, em processo.

Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a concepção de homem e de
psicoterapia desenvolvida por Carl Rogers e buscando os nexos entre ambas.
2) Responda: fundamentado na abordagem desenvolvida por Carl Rogers, qual é a importância
do autoconhecimento do terapeuta para a relação terapêutica?
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

Com relação à Abordagem centrada na pessoa de Carl Rogers nós podemos afirmar que:

I – Trata-se de uma abordagem que ressalta a importância de que o terapeuta desenvolva um


conjunto de atitudes que serão fundamentais para a mudança da pessoa, muito mais do que
recursos técnicos de intervenção terapêutica.
II – A abordagem centrada preocupa-se fundamentalmente com intervenções que visam o
conteúdo daquilo que se fala na sessão.
III – Na medida em que o terapeuta interage de modo autêntico, acolhedor, compreensivo e
aceitando as pessoas, estas desenvolvem uma atitude de maior consideração em relação a si
mesmas e fazendo com que elas se tornem mais congruentes.

Estão corretas:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I e III, apenas.

Se você leu e compreendeu os textos indicados para estudo, pôde perceber que a
afirmação I está correta, pois a Terapia Centrada no Cliente foi desenvolvida a partir da
percepção de Rogers de que certas atitudes por parte do terapeuta eram mais propiciadoras de
mudanças do que as técnicas. Rogers conhecia bem as técnicas psicológicas utilizadas na
primeira metade do século XX, pois iniciou sua carreira como conselheiro psicológico. Sua
postura acolhedora, compreensiva, revelou-se mais facilitadora de mudanças do que as técnicas
persuasivas empregadas pela psicologia da época. Isso levou-o a conclusão de que a
autenticidade, a compreensão e aceitação incondicional do terapeuta são condições suficientes
para a autocompreensão e automodificação dos clientes. A afirmação III também está correta. A
afirmação II está incorreta, pois processo terapêutico depende de que o terapeuta consiga
propiciar um ambiente facilitador para o cliente. Portanto, a alternativa correta é E.

4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução.
Busque respostas às suas dúvidas na bibliografia indicada ou através de novas pesquisas
bibliográficas. Caso suas dúvidas persistam, apresente-as ao professor nas aulas presenciais.

Módulo 4: A Gestalt-terapia de Perls. Suas interlocuções com o pensamento humanista.


Fenômenos psicológicos à luz da Gestalt-Terapia.
Objetivo: Conhecer os pressupostos teóricos da Gestalt-terapia e a articulação com as
abordagens humanistas em psicologia. Diferenciar os pressupostos e os objetivos da Gestalt-
terapia das demais abordagens humanistas.

Dados biográficos de Fritz Perls e o desenvolvimento da Gestalt-Terapia

Bibliografia Básica: PERLS, F. (1988) “Fundamentos” A Abordagem Gestáltica e Testemunha


Ocular da Terapia, cap. 1.

Bibliografia complementar: MENDONÇA, M. “A psicologia humanista e a abordagem gestáltica”


In: FRAZÃO, L. M. & FUKUMITSU, K. O. (orgs.) Gestalt-terapia.

A Gestalt-terapia é uma abordagem terapêutica que enfatiza a responsabilidade e a


liberdade essenciais do ser humano perante a sua existência. Seu desenvolvimento deve-se
principalmente ao trabalho de Frederik Perls, cujo nome ficou associado a esse modelo de
atendimento psicoterápico.
Perls nasce em 1893 na Alemanha, onde forma-se médico sob supervisão de Kurt
Goldstein, neurologista estudioso da percepção em pacientes com ferimentos cerebrais. Inicia
sua análise com Wilhelm Reich, dissidente da psicanálise freudiana. A influência de Reich faz-se
sentir na importância que a Gestalt-terapia atribui ao corpo. Com a ascensão do nazismo, Perls,
já casado com Laura Perls, foge para a África do Sul, onde funda um Instituto de Treinamento
Psicanalítico. Data dessa época o seu primeiro livro Ego, fome e agressão (Ego, Hunger and
Agression, 1947).
Em 1946 muda-se para os EUA, estabelecendo-se em Nova Iorque. Lá tem contato com a
psicóloga humanista Karen Horney. Com a contribuição de Laura Perls, que era estudiosa da
Psicologia da Gestalt, começa a dar corpo ao modelo de atendimento que realiza em workshops
nos EUA. O nome Gestalt-terapia aparece pela primeira vez em 1951 (no livro O Início da Gestalt-
terapia). Pouco depois fundam o Instituto de Gestalt-terapia de Nova Iorque.
Seguindo as ideias de Reich, Perls enfatiza a experiência corpórea como possibilidade de
expressão. Fritz desenvolve essa compreensão na Gestalt-terapia através de uma concepção
holística de homem. Há um paralelismo entre corpo e mente, de modo que ambos expressam
vivencias. O homem é um organismo total que busca constantemente o equilíbrio através de
trocas com o meio.
Na Psicologia da Gestalt Perls descobre que o “homem não percebe as coisas isoladas e
sem relação, mas as organiza no processo perceptivo como um todo significativo” (Perls, 1988,
p.18) a partir de um interesse motivador. Essa mesma teoria fornece outros conceitos
importantes: figura-fundo, princípio de pregnância e teoria de campo.

Atividades recomendadas
1. Pesquise na bibliografia a vida e a obra de Fritz Perls e Laura Perls.
2. Pesquise inserção da Gestalt-terapia no Brasil. É difundida? Dispõem de centros de estudo e
treinamento?
3. Pesquise na internet vídeos que mostram Fritz Perls realizando workshops e sessões
terapêuticas. Descreva a postura dele nos atendimentos. Essa postura está em acordo com os
fundamentos da Gestalt-terapia? Por que? Está em acordo com a Psicologia Humanista? Por
que?
4. Acompanhe o exercício abaixo:

A imagem abaixo costuma ser usadas para se estudar a relação figura/fundo, estudada pela
Psicologia da Gestalt e apropriada pela Gestalt-terapia.
Sobre o termo Gestalt é correto afirmar que:

a) refere-se à figura, que emerge a partir de um fundo. No caso da figura, a Gestalt é aquilo que
vejo primeiro, seja um cálice ou dois rostos.
b) refere-se a um todo, a uma configuração estrutural que faz do todo uma unidade maior do que
a soma das partes.
c) refere-se ao fundo, que determina que aspecto da figura aparece. No caso, se eu vejo os
rostos primeiro, a Gestalt é fundo branco.
d) é sinônimo de awareness, isto é, a percepção global de si mesmo.
e) refere-se à possibilidade de perceber todas as imagens contidas numa mesma imagem.
Perceber somente o rosto ou o cálice na figura é uma Gestalt-parcial.

Se você leu atentamente os textos indicados, lembra-se de que o termo Gestalt,


apresentado pela Psicologia da Gestalt, refere-se a uma forma. A forma organiza-se como um
todo estruturado a partir da relação figura-fundo. A percepção humana se dá através de todos
organizados (Gestalt), por isso Fritz Perls utilizará esse termo para a terapia focada na
capacidade de interação saudável indivíduo-meio que ele desenvolve. Das alternativas
fornecidas, devemos encontrar aquela que apresenta adequadamente essa noção do termo
Gestalt. A alternativa A indica como Gestalt apenas a figura que aparece. Está, portanto,
incorreta. A alternativa C propõe o oposto: que o fundo é a Gestalt. A alternativa D apresenta
esse conceito como sinônimo de awareness, importante conceito da Gestalt-terapia que designa
a capacidade de apercepção da totalidade presente. Está incorreta, portanto. A alternativa E
refere-se a todas as figuras possíveis de serem vistas no desenho, estando também incorreta. A
alternativa que apresenta corretamente o conceito de Gestalt é B.

Principais conceitos da Gestalt-terapia

Bibliografia Básica: PERLS, F. (1988) “Fundamentos” A Abordagem Gestáltica e Testemunha


Ocular da Terapia, cap. 1.

Bibliografia complementar: FRAZÃO, L.M. “Psicologia da Gestalt” In: FRAZÃO, L. M. &


FUKUMITSU, K. O. (orgs.) Gestalt-terapia.

A Psicologia da Gestalt estuda a percepção humana. Sua conclusão básica é de que o


homem percebe totalidades, e não partes isoladas. Uma séria de pontos sequenciais, próximos
uns aos outros, por exemplo, é visto como uma ‘linha’. A Gestalt-terapia busca seu nome no
conceito de Gestalt, que se pode traduzir por ‘forma’. Gestalt significa também um ‘todo’. Nesta
concepção, o todo é sempre diferente da mera soma das partes. Perls (1988) define esse
conceito como: “forma, configuração, modo particular de organização das partes individuais que
entram em composição.” (p.18) Disso se desdobra a concepção de que os indivíduos vivenciam
totalidades. As totalidades se organizam como figuras sobre um fundo, organizadas de acordo
com o interesse do indivíduo.
De acordo com a visão holística que fundamenta a Gestalt-terapia, os indivíduos são
totalidades corpo-mente e ambos modos de ação, psíquico ou físico, são formas de expressão. O
princípio que rege as ações do organismo é a homeostase, processo por qual busca o equilíbrio.
As necessidades orgânicas e psicológicas geram desequilíbrio, que o organismo busca restaurar.
Entretanto, a vida é um processo contínuo de desequilíbrio e busca de equilíbrio, nunca atingindo
o equilíbrio absoluto. O mesmo processo regula a tendência à sobrevivência de todo organismo.
Os organismos agem em ‘campos’. Esse é um conceito da Psicologia da Gestalt,
desenvolvido pelo psicólogo Kurt Lewin. Um campo é uma totalidade em equilíbrio de forças e
todos os acontecimentos no campo são funções desse campo total. Os comportamentos do
indivíduo, em resposta a suas necessidades, podem estar em relação mútua com o meio no qual
acontecem ou em relação conflituosa. Neste caso, há dispêndio desnecessário de energia e
perda da capacidade do indivíduo de interagir com seu meio. Isso pode culminar num processo
neurótico: “Se, por alguma alteração no processo homeostático, o indivíduo for incapaz de
manipular seu meio a fim de atingi-las [necessidades], comportar-se-á de modo desorganizado e
ineficaz.” (Perls, 1988, p. 33)
A Gestalt-terapia é um processo a partir do qual o organismo (no caso, o cliente) pode
recuperar sua capacidade de relação com o meio, reconhecendo suas necessidades e agindo
eficazmente de acordo com elas.

Atividades recomendadas
1. Leia atentamente os textos indicados, prestando atenção aos conceitos que fundamentam esta
abordagem. Marque-os e construa um glossário para seus estudos.
2. Pesquise através de bibliografia e da internet a Psicologia da Gestalt. Estabeleça uma relação
entre a Psicologia da Gestalt e a Gestalt-terapia a partir de seus principais conceitos.
3. Acompanhe o exercício abaixo:
Fritz Perls (1988) considera que “se não nos podemos compreender nem entender o que
fazemos, não podemos pretender resolver nossos problemas nem esperar viver vidas
gratificantes.” (p. 17). Por essa razão, a Gestalt-terapia deve repousar sobre fundamentos claros
e compreensíveis, ao invés de obscuros e irracionais. A Gestalt-terapia por ele iniciada segue
algumas premissas básicas. Indique-as abaixo:

I – A autorregulação, que é o processo através do qual o organismo interage com o meio.


II – A homeostase, segundo a qual o organismo busca permanecer em equilíbrio e evitar o
desequilíbrio.
III – o conceito de Gestalt, que se refere ao todo figura-fundo.
IV – A projeção, a partir do qual o organismo projeta no ambiente os significados que lhe são
satisfatórios.

São premissas da Gestalt-terapia apenas:


a) I, III e IV.
b) II e IV.
c) I, II e IV.
d) I e III.
e) I e II.

A leitura atenta do enunciado indica que precisamos avaliar as afirmações tendo em vista a
correção dos conceitos gestálticos que apresentam. A afirmação I fala de autorregulação, que é a
capacidade do organismo de interagir com seu meio na busca do equilíbrio homeostático. Está
correta. A afirmação II apresenta o conceito de homeostase, que é a busca contínua pelo
equilíbrio, que nunca é atingido pois o campo é móvel e as necessidades, fluídas. Esta afirmação
apresenta incorretamente a noção de homeostase. A afirmação III apresenta corretamente a
noção de Gestalt, central na Gestalt-terapia. A afirmação IV fala de projeção, que é um
mecanismo neurótico. Na projeção, o indivíduo torna o meio responsável por algo que se origina
no eu, desapropriando-se de seus impulsos e necessidades. Não se refere exclusivamente a
significados satisfatórios, dado que podem ser projetados aspectos insatisfatórios do indivíduo
também. A alternativa correta é D (I e III, apenas.)

A Gestalt-terapia como possibilidade de atuação do psicólogo.

Bibliografia Básica: PERLS, F. (1988) “Fundamentos” A Abordagem Gestáltica e Testemunha


Ocular da Terapia, cap. 1.

Bibliografia complementar: MENDONÇA, M. “A psicologia humanista e a abordagem gestáltica”


In: FRAZÃO, L. M. & FUKUMITSU, K. O. (orgs.) Gestalt-terapia.

A gestalt-terapia é um modelo de atendimento terapêutico para crianças, adultos, casais e


grupos, que promove a recuperação e/ou a ampliação da capacidade de conscientização
(awareness) no aqui-agora, possibilitando contato mais pleno e trocas mais eficientes com o
meio. Esta proposta se fundamenta na compreensão de que o sofrimento psicológico é a
expressão de dificuldades em perceber as próprias necessidades, as ações voltadas para
satisfazê-las e o caráter ‘nutritivo’ ou ‘tóxico’ das trocas com o meio. O campo (indivíduo-meio)
muda constantemente de acordo com as mudanças de equilíbrio intrínsecas e geradas pelo
organismo em busca de sua homeostase. Nos processos neuróticos há uma confusão entre
indivíduo e meio, de modo que o organismo perde a sua capacidade de interagir com eficiência.
Segundo Perls (1988), a neurose ocorre quando “a busca do equilíbrio do homem o leva a retirar-
se mais e mais, a permitir que a sociedade o influencie demais, a subjugá-lo com suas
exigências, ao mesmo tempo a separá-lo do convívio social, a pressioná-lo e moldá-lo.” (p.56)
Vale destacar que a Gestalt-terapia reconhece a neurose como um processo, não como uma
estrutura. Com a capacidade de autorregulação limitada, cada nova situação propicia ao indivíduo
que aumente seu desequilíbrio.
A Gestalt-terapia aproxima-se das terapias humanistas por compreender as pessoas como
livres e responsáveis. O termo ‘responsabilidade’ deve ser entendido como capacidade de
responder, e não somente como obrigação de responder pelos atos. Nesse contexto, a Gestalt-
terapia promove a autonomia através da capacidade de responder às situações vivenciadas pelos
pacientes.
O Gestalt-terapeuta é um facilitador da conscientização (awareness) da situação presente,
aqui-agora, do paciente. Para isso, oferece condições para o encontro dual EU-TU (tematizado
por Martin Buber), no qual cada um reconhece a liberdade e responsabilidade ontológicas do
homem. A relação terapêutica é horizontal, isto é, não há um agente de mudanças (terapeuta) e
um objeto (paciente). A relação se estabelece entre dois iguais, sendo que um deles (o terapeuta)
dispõe-se a facilitar a conscientização (awareness) do outro (paciente).
A Gestalt-terapia reconhece que frequentemente os pacientes procuram o Gestalt-
terapeuta esperando que ele provoque transformações, mas cuida para que o paciente torne-se
consciente (aware) dessa postura de vitimização, que dificulta a liberdade, a autonomia e a
responsabilidade.

Atividades recomendadas
1. Leia atentamente os textos indicados, anotando suas dúvidas.
2. Considere a perspectiva gestáltica como modelo de trabalho do psicólogo. Justifique a sua
inserção no âmbito das psicologias humanistas.
3. Acompanhe o exercício abaixo.

Nas primeiras sessões, Fernanda parece não conseguir dizer o que quer dizer e se perde entre
palavras chegando a dizer, entretanto, coisas que parecia não querer dizer. Seu discurso compõe
frases como: não sei por que estou aqui; acredito que ninguém pode me ajudar; ninguém me
ajuda; estou sozinha; diga-me o que fazer. Parece que Fernanda perdeu o sentido de quem é, e
principalmente, de quem deve viver a sua vida. Suas demandas incluíam solicitações que se
perdiam num mundo dos porquês e das tentativas de explicações em busca de uma cura para
tudo que estava acontecendo em sua vida, uma vida que muitas vezes não identificava como
sendo dela própria.

A partir da perspectiva da Gestalt-terapia, leia atentamente as afirmações abaixo sobre o modo


como se abordaria esta situação terapêutica:

I – Fernanda pede explicações e se perde nos porquês, pois não observa e não parece saber
descrever o que está fazendo e como (aqui e agora).
II – Fernanda perde o sentido de quem é, pois não está consciente (awareness) de sua situação
existencial.
III – Fernanda busca explicações e justificativas, pois não se reconhece como autora de sua
própria vida.
IV – Fernanda perde o sentido de quem é, pois parece ter traumas infantis importantes que
precisam ser analisados.
V – Fernanda espera que o terapeuta lhe diga quem ela é, dado que esse é o papel do terapeuta
na Gestalt-terapia.

Apresentam leituras corretas dos fenômenos clínicos apresentados somente as afirmações:

A) I, II e V.
B) I, II e IV.
C) II, IV e V.
D) I, II e III.
E) I, II, III e V.

Se você leu atentamente os textos indicados, foi capaz de perceber que as afirmações I, II e III
estão corretas. A primeira apresenta a dificuldade vivenciada por Fernanda de descrever-se, isto
é, de aperceber-se de si na situação presente. Com isso, perde a capacidade de trocar com o
meio eficientemente. A segunda afirmação apresenta-a como não estando aware de sua
situação. Esse modo de estar presente nas situações faz com que sinta dificuldades nas suas
vivências, mas atribua essas dificuldades a motivos alheios, sem reconhecer a sua participação
(afirmação III). A afirmação IV apresenta “traumas infantis importantes” como motivo das
dificuldades atuais. Como vimos, é no aqui-agora que se encontram as dificuldades, e não no lá-
então. Portanto, não são traumas infantis, mas sua dificuldade de conscientização (awareness)
da situação atual, acompanhada da perda de contato, que motivam as dificuldades vivenciadas. A
última afirmação apresenta o papel do Gestalt-terapeuta como “dizer a Fernanda quem ela é”.
Porém, como vimos, o terapeuta facilita o processo de awareness no aqui-agora, acompanhando
os pacientes no resgate de sua autonomia. Portanto, a alternativa correta é D.

4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução.
Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa de saná-las.
Caso elas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.

Módulo 05: Psicologia Humanista como ética


Objetivo: Reconhecer a atitude ética do psicólogo humanista.
Bibliografia básica: AMATUZZI, M. A Abordagem Centrada na Pessoa como Ética das Relações
Humanas. Rogers: Ética Humanista e Psicoterapia. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.

Abordagem Centrada na Pessoa como ética das relações humanas


A palavra “ética” é definida no Dicionário Houaiss como:
1. parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem,
disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das
normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social. (Dicionário
Houaiss online, 2016)
Dessa definição deriva o significado de conjunto de regras e valores morais. Ao formar-se
psicólogo, você comprometer-se-á com o Código de Ética profissional, que rege os
comportamentos aceitos e não aceitos dos psicólogos no exercício profissional.
Etimologicamente, ética deriva de duas palavras gregas que compartilham a mesma raiz: éthos
e êthos. A primeira significa costume, uso, hábito e a segunda, caráter, maneira de ser de uma
pessoa, disposições naturais de alguém. A disciplina filosófica Ética trata da segunda.
O que significa, então, afirmar, como Amatuzzi (2010), que a Abordagem Centrada na Pessoa,
de Carl Rogers, traz contribuições éticas e é, ela própria, uma ética? Significa que as propostas
de Rogers não se dirigem a técnicas, manejos e procedimentos do psicólogo, como um código de
ética faria, mas, sim, à sua atitude. Significa ainda mais que isso: que, embora a ACP seja tida
como uma abordagem psicológica, ela propõe uma atitude, um modo de ser em relação com os
outros e consigo mesmo.
Já foi visto com Holanda (2015) que as Psicologias Humanistas são um acontecimento recente
numa história de resgate da ética do pensamento. Assim como o Humanismo renascentista
recolocou como centro de preocupação o homem, resgatando sua dignidade, devolvendo-lhe sua
responsabilidade por seu ser e se seu mundo, a ACP surge como abordagem psicológica (no
primeiro momento ela é Terapia Centrada no Cliente) para, em seguida, tornar-se uma reflexão
sobre as relações humanas. (Amatuzzi, 2010)
Diferenciando-se das psicologias em voga nos EUA na década de 1940, Rogers assume a
crença na orientação positiva e na tendência ao crescimento das pessoas. Tal atitude manifesta-
se na relação com o cliente como horizontalidade, ou seja, o psicólogo deixa de ser um “vidente
ilustrado” (Amatuzzi, 2010, p.11), que usa teorias psicológicas gerais e causalistas para
diagnosticar e intervir, para “facilitar ao o outro o recurso às suas próprias fontes interiores”
(Amatuzzi, 2010, p.12). Contribui, portanto, postulando um modo de acontecer a relação
psicólogo-cliente que resguarda (e resgata) sua autonomia e sua responsabilidade.
Atividades recomendadas
1. Leia atentamente a bibliografia indicada.
2. Pesquise na literatura e na internet sobre a Ética na filosofia.
3. Pesquise o Código de Ética Profissional do Psicólogo, considerando se ele se dirige a
comportamentos ou a atitudes.
4. Acompanhe o exercício abaixo:
Segundo Amatuzzi (2010), A Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Carl Rogers, é
uma ética. Diz ele:
“Trata-se de olhar o ser humano (pessoas, comunidade, humanidade) com um senso de respeito
que decorre da natureza própria e original desse objeto. É olhar para ele não como algo útil, mas
como ser portador de um valor próprio e inalienável, como ser que me impõe algo de absoluto. É
respeitá-lo naquilo que ele é.” (21)
Nessa afirmação, estão contidos os seguintes pressupostos:
I – O ser humano é autônomo e capaz de orientar sua própria vida de forma positiva para si
mesmo e para a coletividade.
II – A Abordagem Centrada na Pessoa desenvolve técnicas e procedimentos voltados para uma
relação mais igual entre os participantes.
III – A ACP é etica porque se refere àquele que procura atendimento psicológico como cliente, ao
invés de paciente.
IV – A ACP reconhece o valor único de cada pessoa.
Estão corretas somente as afirmações:
A) I e II.
B) II e III.
C) III e IV.
D) I e IV.
E) I, II e IV.
Se você leu atentamente a apresentação acima e a bibliografia indicada, terá identificado a
alternativa D como correta. A afirmação II propõe que a ACP desenvolve técnicas, mas a atitude
da pessoa é mais importante do que as técnicas que utiliza. Por isso, as reflexões da ACP se
dirigem para as atitudes, não para as técnicas. Rogers chega a propor que “na relação de ajuda,
devemos abandonar todas as técnicas e procedimentos padronizados, todas as estratégias pré-
fabricadas” (Amatuzzi, 2010, p.12). A afirmação III indica uma mudança de nomenclatura, que,
embora correta, não necessariamente traz consigo uma mudança de atitude. Esta, sim, é que é a
especificidade da ACP, que a torna uma ética das relações humanas.

A relação psicólogo – cliente na Abordagem Centrada na Pessoa: Relação ética

Bibliografia básica: AMATUZZI, M. A Abordagem Centrada na Pessoa como Ética das Relações
Humanas. Rogers: Ética Humanista e Psicoterapia. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.

“Tornar-se quem se é” é o objetivo da relação terapêutica. Significa poder experimentar seus


sentimentos e se relacionar consigo mesmo e com os outros de modo profundo, complexo e
satisfatório. Porém, as relações vivenciadas podem conduzir à direção oposta. Circunstâncias
ameaçadoras fazem com que o indivíduo priorize a defesa de sua integridade, ficando limitada na
sua capacidade de experimentar a complexidade de sentimentos presentes nas relações
humanas. Outras circunstâncias podem levar o indivíduo a falsear ou negar a sua realidade
vivenciada, ou ainda a reprimir seus sentimentos e desejos. Por exemplo, uma criança pode
sentir inveja diante do nascimento de um irmão, mas esse sentimento é mal visto e repreendido
pelos pais. Isso pode levar essa criança a reprimir sentimentos percebidos como errados, ficando
limitado na sua capacidade de se relacionar com os demais, pois a inveja é um sentimento
humano.
A Abordagem Centrada na Pessoa compreende que a repetição e o acúmulo de ameaças à
integridade ou repressão de sentimentos, que experimentamos na família, na escola e na cultura
podem limitar nossa liberdade de nos reconhecermos como somos e nossas necessidades, de
experimentarmos nossos sentimentos e de realizarmos escolhas pertinentes ao nosso
desenvolvimento pessoal e relacional.
O terapeuta nesta abordagem é um facilitador do desenvolvimento pessoal. É alguém que se
dispõe a compreender o cliente, respeitá-lo e aceitá-lo tal como ele próprio de percebe. Vê o
cliente como pessoa, isto é, um ser livre e responsável, capaz de compreender-se e transforma-
se, e relaciona-se com ele enquanto tal. A partir dessa relação terapêutica, a pessoa (cliente)
começa a afastar-se de modelos falseados de si mesmo, encaminhando-se para maior
autonomia. Torna-se progressivamente mais responsável por si mesmo, pois capaz de decidir-se
sobre quais são comportamentos e sentimentos significativos e quais não. Encaminha-se, assim,
para uma realidade mais fluida, em processo.
Esse modo de compreender a relação terapêutica se desenvolve ao longo da obra de Rogers
para uma atitude nas relações humanas, isto é, não exclusivamente na relação terapêutica. O
pressuposto humanista – resgate da dignidade humana, afirmação de sua responsabilidade,
liberdade e autonomia – aparece na Abordagem Centrada na Pessoa como atitude de reconhecer
que “O ser humano tem algum poder sobre as determinações que o afetam, e esse poder é, na
verdade, mais relevante para o desenvolvimento do que aquelas determinações.” (Amatuzzi,
2010, p.17) Refere-se a um modo de ser, isto é, de assumir-se e estar com outro, como pessoa,
no sentido da relação Eu-Tu descrita por Martin Buber.
Rosmaninho (2015) descreve os modos de relação Eu-Tu e Eu-Isso:
Para Buber existem duas formas básicas do homem se relacionar: uma ele chamou de Eu-Isso e
outra de Eu-Tu. São modos do homem se relacionar e se colocar diante do outro e do mundo. Na
relação Eu-Isso, o homem se coloca diante do mundo como algo objetivo e, nessa atitude, ele se
torna capaz de conhecer e habitar o mundo. Já na relação Eu-Tu, o homem se coloca em relação
a um outro, que pode ser uma outra pessoa, uma obra artística ou literária, ou, ainda, uma
situação vivenciada. A relação Eu-Tu é marcada pelo impacto da presença do outro, é um
encontro no qual o homem é atravessado pela potência e pela força da vivência do outro. Este
encontro foge às apreensões usuais e se recusa a ser sistematizado ou
esquematizado. (Rosmaninho, 2015, p.176-7)
Na ACP, a relação Eu-Tu descreve o encontro inter-humano, no qual cada participante é aceito
como pessoa autônoma, livre, criativa e capaz de dirigir suas ações na direção do crescimento do
crescimento, da complexificação e da realização. Isso porque a pessoa que assim se coloca na
vida reconhece a existência de uma tendência formativa universal. (Amatuzzi, 2010)
Referência bibliográfica: ROSMANINHO, M. A relação Eu – Tu no encontro terapêutico. In:
EVANGELISTA, P. (org) Psicologia fenomenológico-existencial – Possibilidades da atitude
clínica fenomenológica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Via Verita, 2015, pp. 173 – 182.

Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a concepção de homem e de
psicoterapia desenvolvida por Carl Rogers e buscando os nexos entre ambas.
2) Responda: fundamentado na abordagem desenvolvida por Carl Rogers, qual é a importância
do autoconhecimento do terapeuta para a relação terapêutica?
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

Com relação à Abordagem centrada na pessoa de Carl Rogers nós podemos afirmar que:

I – Trata-se de uma abordagem que ressalta a importância de que o terapeuta desenvolva um


conjunto de atitudes que serão fundamentais para a mudança da pessoa, muito mais do que
recursos técnicos de intervenção terapêutica.
II – A abordagem centrada preocupa-se fundamentalmente com intervenções que visam o
conteúdo daquilo que se fala na sessão.
III – Na medida em que o terapeuta interage de modo autêntico, acolhedor, compreensivo e
aceitando as pessoas, estas desenvolvem uma atitude de maior consideração em relação a si
mesmas e fazendo com que elas se tornem mais congruentes.

Estão corretas:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I e III, apenas.

Se você leu e compreendeu os textos indicados para estudo, pôde perceber que a
afirmação I está correta, pois a Terapia Centrada no Cliente foi desenvolvida a partir da
percepção de Rogers de que certas atitudes por parte do terapeuta eram mais propiciadoras de
mudanças do que as técnicas. Rogers conhecia bem as técnicas psicológicas utilizadas na
primeira metade do século XX, pois iniciou sua carreira como conselheiro psicológico. Sua
postura acolhedora, compreensiva, revelou-se mais facilitadora de mudanças do que as técnicas
persuasivas empregadas pela psicologia da época. Isso levou-o a conclusão de que a
autenticidade, a compreensão e aceitação incondicional do terapeuta são condições suficientes
para a autocompreensão e automodificação dos clientes. A afirmação III também está correta. A
afirmação II está incorreta, pois processo terapêutico depende de que o terapeuta consiga
propiciar um ambiente facilitador para o cliente. Portanto, a alternativa correta é E.

4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução.
Busque respostas às suas dúvidas na bibliografia indicada ou através de novas pesquisas
bibliográficas. Caso suas dúvidas persistam, apresente-as ao professor nas aulas presenciais.

Módulo 05 – O Aconselhamento Psicológico com prática psicológica humanista

História do Aconselhamento Psicológico


Bibliografia básica:SCHMIDT, M. L. S. “O nome, a taxonomia, e o campo do Aconselhamento
Psicológico”, In: MORATO, H.T.P. et al. (Coord.) Aconselhamento Psicológico numa
perspectiva fenomenológica existencial: uma introdução. Cap. I, p. 1-21.

O surgimento do Aconselhamento Psicológico como modelo de intervenção psicológica está


vinculado a alguns acontecimentos históricos nos Estados Unidos, como a fundação de Centros
de Orientação Infantil e Juvenil para pais e filhos, a criação de serviços de Higiene Mental e
Centros de Aconselhamento Pré-Matrimonial e Matrimonial, ao surgimento de instituições de
Assistência Social que necessitavam oferecer apoio emocional aos seus clientes e ao
desenvolvimento de serviços de assistência psicológica nas empresas.
No começo do século XX, o aconselhamento não é realizado por psicólogos. O conselheiro é um
perito no assunto a ser tratado, enquanto o aconselhando, alguém que necessita de orientação. O
Aconselhamento pode ser profissional, vocacional, educacional ou marital. Diferencia-se bastante
da prática psicoterapêutica, então restrita à psicanálise. Segundo Scheefer (p.16) o
Aconselhamento visa a ajudar na tomada de uma decisão e envolve informações objetivas que
permitem ao orientando utilizar melhor seus recursos pessoais.
Dentre os principais autores ligados ao início da teorização sobre Aconselhamento Psicológico,
destacam-se Parsons e Rogers. O primeiro era engenheiro e compreendia o aconselhamento
como o fornecimento de informações e conselhos sobre escolha profissional, baseada na
experiência do orientador. A partir da década de 1940, o trabalho como conselheiro leva Carl
Rogers a questionar o modelo vigente, propondo em seu lugar o aconselhamento não-diretivo.
Concomitantemente, ele desenvolve a Terapia Centrada no Cliente. O Aconselhamento é
apresentado como um tipo de contato direto com o indivíduo a fim de lhe fornecer assistência na
modificação de suas atitudes.
O Aconselhamento distingue-se da Psicoterapia, pois se trata de um auxílio para o aconselhando
maximizar seus recursos pessoais e fazer escolhas. Pode ser útil também como prática
educativa, preventiva ou de apoio situacional. Geralmente é um processo de curta duração,
diferenciando-se do modelo tradicional de psicoterapia, de longa duração, que visa a
reestruturação da personalidade e o tratamento de problemas emocionais e patologias.

1) Pesquise na bibliografia e na internet sobre o trabalho do psicólogo no começo do século XX.


2) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, atentando para o contexto histórico do
aparecimento do Aconselhamento Psicológico e seus primeiros teóricos.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

O surgimento do Aconselhamento Psicológico está vinculado à criação de centros de orientação


infantil, de serviços de higiene mental, de centros de aconselhamento pré-matrimonial e
matrimonial nos EUA nas primeiras décadas do século XX. Sobre os profissionais que exerciam o
aconselhamento nesse período é verdadeiro afirmar:

I – Os conselheiros eram psicólogos treinados na escuta da demanda do cliente. A demanda era


considerada a partir do contexto de vida de cada cliente.
II – Os conselheiros ajudavam os aconselhandos a tomarem decisões em sua vida nos âmbitos
profissional, educacional, e matrimonial, entre outros.
III – Aos conselheiros era importante conhecer profundamente o campo no qual aconselhavam;
isto é, o conselheiro matrimonial conhece o que é o casamento e fornece informações sobre isso
ao noivo(a) indeciso(a).
IV – O conselheiro cuida para que aquilo que ele considera o melhor para o cliente não apareça,
reservando ao aconselhando o poder de tomar suas decisões.

Está correto o que se afirma em:

A) I, e II, apenas.
B) II e III, apenas.
C) I e IV, apenas.
D) I, II e III, apenas.
E) II, III e IV, apenas.

Seus estudos devem ter-lhe dado subsídios para reconhecer que a afirmativa I está incorreta,
pois os primeiros conselheiros não eram necessariamente psicólogos. Eles eram pessoas com
conhecimento sobre um determinado assunto, como o casamento ou o trabalho, etc. Ademais, a
preocupação deles não era a de compreender a demanda do cliente à luz do contexto de vida do
mesmo, mas comparar o perfil do aconselhando com as demandas da situação sobre a qual ele
pede conselhos.
Você deve ter identificado que as afirmativas II e III estão de acordo com a bibliografia, mas que a
IV está incorreta, pois os primeiros Conselheiros assumiam o lugar de conhecedores sobre o
assunto em questão, deixando claro que seu conselho era a indicação correta.
Portanto, a alternativa correta é B.

Introdução ao Aconselhamento Psicológico na perspectiva da Psicologia Humanista

Bibliografia básica:SCHMIDT, M. L. S. “O nome, a taxonomia, e o campo do Aconselhamento


Psicológico”, In: MORATO, H.T.P. et al. (Coord.) Aconselhamento Psicológico numa
perspectiva fenomenológica existencial: uma introdução. Cap. I, p. 1-21.

O aconselhamento psicológico nasce nos anos 1930 nos Estados Unidos como especialidade e
área de atuação e saber do psicólogo. No início é estreitamente ligado à orientação vocacional e
à psicometria, focando as pesquisas em testes vocacionais e outros meios de medição de
aptidões.
A primeira teoria mais expressiva chama-se Traço e Fator e foi desenvolvida pelo engenheiro
William Parsons. A teoria Traço e Fator parte do pressuposto de que o aconselhamento deve
focar o processo de ensino do aconselhando, pois tem como meta a solução de problemas
específicos de adaptação do indivíduo nas áreas educacional e profissional através do
desenvolvimento de atitudes e comportamentos (os “traços”) condizentes com o esperado para a
realização da atividade proposta (os “fatores”).
Williamson, um dos expoentes do aconselhamento psicológico na Teoria Traço e Fator, define-o
como um atendimento que auxilia o indivíduo a aprender determinadas matérias escolares,
condutas adequadas de cidadania, valores sociais e todos os outros hábitos, habilidades, atitudes
e crenças que constituem um ser humano normal. Em outras palavras, o processo teria o objetivo
de eliminar ou modificar comportamentos considerados inadequados. A mudança de
comportamentos e atitudes, segundo o autor, seria satisfatória para o aconselhando e para a
sociedade em que vivia. Nesse sentido, a Teoria Traço e Fator, articulada à vertente experimental
dos estudos psicométricos, dá ao Aconselhamento uma aura de cientificidade e abre espaço para
a prática do psicólogo.
A Psicologia ainda não estava regulamentada como profissão nos EUA e aqueles que praticavam
a psicologia buscavam delimitar seu campo de atuação. Uma possibilidade era a psicoterapia,
que, na época, era prerrogativa dos médicos e encontrava na psicanálise a teoria que a
fundamentava. A psicoterapia tinha como público indivíduos que sofriam de distúrbios
psicológicos mais graves, exigindo tratamentos prolongados. O Aconselhamento Psicológico
surge como possibilidade de prática psicológica voltada para questões de desajustamento,
orientando o aconselhando na obtenção das habilidades que o tornam ajustado ao seu meio. Isso
pode ocorrer num período mais curto do que a psicoterapia de longa duração.
Em 1942, Carl Rogers publica o livro Aconselhamento e Psicoterapia, lançando as bases da
primeira fase de suas ideias: a terapia não-diretiva. A não-diretividade é geralmente associada a
total não-interferência do terapeuta (ou conselheiro) no processo do cliente. Sua proposta surge
em oposição ao processo de aconselhamento da Teoria Traço e Fator, que é considerada
prepotente e autoritária por situar o conselheiro no lugar de quem sabe o caminho certo para
modificar os comportamentos desajustados e desadaptados socialmente do aconselhando. Nesse
sentido, o conselheiro psicológico que segue a proposta de Rogers coloca-se como “um ouvinte
interessado e compreensivo, que, pela técnica da reflexão, queria proporcionar que a esfera de
exploração pessoal do cliente ou aconselhando se configurasse o mais proximamente possível de
suas vivências e percepções atuais e conscientes.” (Schmidt, 2009, p. 5). Com suas ideias,
Rogers elimina a distinção entre aconselhamento e psicoterapia.

Atividades recomendadas:

1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os argumentos utilizados pela
autora, em defesa de suas teses.
2) A partir da leitura, procure definir as características da Teoria Traço e Fator. Confronte se sua
definição está de acordo com a que Schmidt apresenta: como uma teoria que se fundamenta na
educação e que tem como finalidade a solução de problemas específicos através do ajustamento
do indivíduo.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

Historicamente, a Teoria Traço e Fator foi aquela que deu origem ao Aconselhamento
Psicológico, tendo surgido nos Estados Unidos, nas primeiras décadas do século XX.

Com relação a aconselhamento nessa teoria, assinale a alternativa incorreta:

A) É uma modalidade psicoterapêutica;


B) Está ligado à psicometria;
C) Pretende resolver problemas específicos do indivíduo;
D) Está ligado à Orientação Vocacional;
E) Abre um campo de trabalho para o psicólogo.

Se você compreendeu adequadamente o conteúdo que estudou terá assinalado a alternativa A).
O aconselhamento na Teoria Traço e Fator é um processo educativo, não psicoterapêutico.

O Aconselhamento Psicológico fundamentado na Abordagem Centrada na Pessoa

O psicólogo norteamericano Carl Rogers não distingue aconselhamento psicológico e


psicoterapia, pois considera que ambos consistem em contatos diretos com o indivíduo com o
objetivo de facilitar mudanças significativas em suas atitudes e comportamentos. Esses encontros
são marcados pelas atitudes facilitadoras – aceitação incondicional, compreensão empática e
congruência – que propiciam um ambiente de desenvolvimento psicológico ao indivíduo.
Atualmente, o aconselhamento psicológico é prática exclusiva de psicólogos, caracterizada por
centrar-se nas potencialidades e nos aspectos saudáveis dos indivíduos, não nas suas
fragilidades ou aspectos psicopatológicos. Além disso, o aconselhamento também tem como foco
o modo como a pessoa se percebe e os projetos pessoais que quer realizar para desempenhar
um papel social produtivo.
Pode-se também caracterizar o aconselhamento como um atendimento psicológico em períodos
de crise, no qual o objetivo é facilitar as escolhas do indivíduo na situação que vive, escolhas
essas das quais depende seu desenvolvimento posterior.
Assim, esse atendimento está voltado a questões situacionais, ao apoio e à prevenção, mais
comumente dirigido à solução de problemas.
No entanto, como assinala Schmidt logo no início de seu texto, aconselhamento tem dois
sentidos: pode indicar os significados de sugestão, recomendação e orientação, mais próximos
ao sentido de aconselhamento na perspectiva tradicional; pode ainda denotar a situação em que
várias pessoas se reúnem para pensar e decidir com justeza a respeito de algo de seu interesse,
o que se aproxima da definição de Rogers da relação de ajuda presente tanto no aconselhamento
quanto na psicoterapia.

Atividades recomendadas:

1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os argumentos utilizados pelas
autoras, em defesa de suas teses.
2) A partir da leitura, procure definir aconselhamento psicológico. Confronte se sua definição está
de acordo com a que as autoras apresentam: aconselhamento psicológico é um atendimento
psicológico que comumente é diferenciado da psicoterapia. É mais próprio para períodos
situacionais de crise, tem uma duração mais curta que a psicoterapia e não leva em conta a
questão da normalidade ou da psicopatologia, mas a capacidade do indivíduo de lidar com as
questões que o afligem.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

Com relação ao Aconselhamento Psicológico proposto por Carl Rogers está correto afirmar que:

I) É um atendimento que se diferencia da psicoterapia para a maioria dos autores. No entanto,


para Rogers, o aconselhamento não se distingue da psicoterapia, pois ambos têm como objetivo
o desenvolvimento psicológico do indivíduo;
II) É um atendimento que tem como foco a cura dos aspectos psicopatológicos do indivíduo;
III) É um atendimento mais adequado às situações de crise e para facilitar as escolhas do
indivíduo.

Estão corretas apenas as afirmações:


a) I;
b) I e III;
c) II e III;
d) II;
e) III.

Se você compreendeu adequadamente o conteúdo estudado, terá assinalado a alternativa b, pois


Rogers desfaz a fronteira que separa psicoterapia do aconselhamento psicológico ao objetivar o
desenvolvimento de potencialidades do indivíduo. É por isso que os aspectos psicopatológicos
não são o foco dessa modalidade de atendimento (afirmação II).

4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução.
Busque respostas às suas dúvidas na bibliografia indicada ou através de novas pesquisas
bibliográficas. Caso suas dúvidas persistam, apresente-as ao professor nas aulas presenciais.

Módulo 07: Plantão Psicológico

Bibliografia básica: CHALOM, M. et al. A experiência de implantação de um serviço de plantão


psicológico no Projeto esporte-Talento por alunos de graduação do IPUSP. In: MORATO, H. T. P.
(Org.) Aconselhamento Psicológico centrado na pessoa: novos desafios, p. 177-185.

Bibliografia complementar: CAUTELLA, W. Plantão Psicológico em hospital psiquiátrico. In: In:


MORATO, H. T. P. (Org.) Aconselhamento Psicológico centrado na pessoa: novos desafios,
p. 161-175.

Introdução ao Plantão Psicológico

O Plantão Psicológico é um modelo de atendimento psicológico que se coloca disponível


para acolher a experiência do cliente no momento em que ele se decide por procurar o psicólogo.
Seguindo essa mesma orientação, é o cliente que determina o foco da sessão. O objetivo do
encontro é propiciar uma compreensão da situação atual e o resgate de liberdade e autonomia.
Trata-se, portanto, de um esclarecimento da situação vivenciada.
Não exige um setting terapêutico como outros modelos de atendimento psicológico,
podendo acontecer dentro de instituições. Exige apenas que a instituição e o profissional
garantam a sistematicidade do serviço. Nos relatos de experiência de CHALOM et al. (1999) e
CAUTELLA (1999), o plantão ocorre em instituições em dias e horários previamente combinados.
Sempre nos períodos determinados há psicólogos-plantonistas disponíveis para atender os
interessados. Essa sistematicidade e a disponibilidade do psicólogo oferecem àqueles que
procuram atendimento um ponto de referência em momentos de necessidade.
O Plantão, em geral, acontece em apenas um encontro. Existe a possibilidade de ser
marcar retornos e follow up, mas o sentido do plantão é resgatar a capacidade de apropriação da
situação existencial, o que não necessita de mais do que um encontro bem feito. O agendamento
de retornos já é uma modificação em relação à proposta original, pois, nessa situação, o
psicólogo determina quando o cliente deve voltar, decidindo por ele.
É um modelo que corresponde bem às possibilidades de prática psicológica em instituições, pois
não há agendamento prévio, tampouco fila de espera. Todas essas condições facilitam a
implementação do serviço nas instituições e viabilizam o atendimento a um número expressivo de
pessoas.

Atividades Recomendadas
1. Leia os textos indicados.

2. Pesquise na bibliografia sobre a história deste modelo de atendimento.

3. Responda: qual é o papel do cliente no plantão psicológico? E do psicólogo?

4. Acompanhe o exercício abaixo:

Caracterizam o modelo de atendimento chamado Plantão Psicológico:

I – A delimitação do foco do atendimento, isto é, a realização de um diagnóstico informal para


delimitar quais assuntos serão trabalhados e como o serão.
II – O Plantão Psicológico deve trabalhar em parceria com psicólogos que realizam
psicodiagnóstico, pois os clientes que passam pelo plantão precisam já estar triados.
III – O objetivo da sessão de Plantão Psicológico, fundamentado na fenomenologia-existencial, é
o esclarecimento da situação atual do paciente, através do que se torna possível uma
compreensão mais ampla do que motivou a busca pelo atendimento.
IV – Diferentemente de outros modelos de atendimento psicológico, o Plantão Psicológico não
necessita de um espaço físico delimitado para acontecer. O setting desse atendimento é formado
pela privacidade e intimidade que surgem do próprio encontro entre psicólogo e paciente.

Estão corretas:

A) I, II, III e IV.


B) I, II e III, apenas.
C) II e III, apenas.
D) II, III e IV, apenas.
E) III e IV, apenas.

Se você leu os textos e compreendeu esta modalidade de atendimento, foi capaz de identificar
que as afirmações I e II estão incorretas. A primeira propõe a delimitação de um foco para o
atendimento, quando o objetivo do Plantão é o esclarecimento da situação existencial. A segunda
apresenta o Plantão como um serviço psicológico indicado pelo psicodiagnóstico. Porém, é um
atendimento que acontece no momento da demanda e não necessita a indicação prévia. A
alternativa correta, portanto, é E.

Sentido da intervenção psicológica no Plantão Psicológico


O objetivo do plantão psicológico é o atendimento no momento da procura do cliente, o
que possibilita um esclarecimento da situação atual que a motivou e a descoberta dos modos
próprios de lida com ela. O psicólogo-plantonista precisa ter disponibilidade para lidar com o não-
planejado. Este é um aspecto crucial deste modelo de atendimento, no qual o psicólogo coloca-se
a disposição para acolher a demanda que aparecer, no momento em que acontece. Também é
necessário que o plantonista compreenda como possível o acontecimento de um único encontro.
Como já foi visto, o Plantão pode disponibilizar retornos, mas o objetivo não depende do
prolongamento dos atendimentos. Ademais, o plantonista fica disponível para receber o paciente
quando este tomar iniciativa por buscar ajuda, o que deixa de acontecer se o psicólogo indicar se
e quando deve retornar.
As intervenções do psicólogo-plantonista têm o sentido de abrir a compreensão da
experiência do cliente, cultivando uma fala própria. Assim, não cabe a ele explicar o que está
vendo ou propor alternativas. Fazer isso seria pressupor a incapacidade do cliente de lidar com
sua situação, o que, do ponto de vista das abordagens humanistas, seria desconsiderar sua
capacidade de autocompreensão e autodeterminação. Em geral, esse é um dos motivos da
procura nas instituições, pois estas determinam as possibilidades existenciais de seus agentes,
despindo-os de singularidade. (CAUTELLA, 1999) O plantão surge, assim, como resgate da
autonomia do cliente para a autoria de sua narrativa.

Atividades Recomendadas

1. Leia os textos indicados.

2. Pesquise na bibliografia e na internet pesquisas que relatam experiências deste modelo de


atendimento.

3. Acompanhe o exercício abaixo:

Um cliente (Jorge) procurou o plantão psicológico pois descobriu que sua esposa (Maria)
o estava traindo. Tiveram uma briga violenta e Maria foi embora de casa. Jorge não sabe aonde
ela foi, mas acredita que tenha fugido com o amante. Ele está transtornado, relata que às vezes
nem consegue ir ao trabalho; quando vai, fica distraído, triste, pensando em toda essa situação.
Sente muita raiva de Maria, mas também saudades.
O atendimento aconteceu com um psicólogo-plantonista humanista. A postura que condiz com
esse modelo de atendimento e com essa compreensão de homem é:

A) percebendo a angústia de Jorge, encaminhá-lo imediatamente para um processo de


psicoterapia breve.
B) procurar ouvi-lo com atenção, explorando com ele seus sentimentos diante destas situações e,
com isso, compreender melhor o que o aflige.
C) orientá-lo a procurar Maria, explicar a ela como se sente e que a quer de volta.
D) convidar a família de Jorge para o retorno, a fim de compreender como eles percebem os
modos como ele está reagindo diante dessa situação. Assim, o psicólogo tem outras versões da
história e consegue entender de maneira mais abrangente a situação.
E) explorar com ele o sentido de sua raiva, auxiliando-o a se dar conta de que deve contratar um
advogado para iniciar um processo de divórcio.
Se você leu atentamente os textos e compreendeu este modelo de atendimento psicológico,
identificou que a alternativa B é a única compatível com a proposta. A alternativa A confunde o
plantão com uma triagem. As alternativas C e D não compreendem que o objetivo do plantão é
auxiliar o paciente a esclarecer a sua situação (isto é, como o paciente percebe, sente e
compreende a sua situação). A alternativa E propõe um encaminhamento infundado para a
situação.

4. Estude a bibliografia indicada e realize os exercícios deste módulo. Se persistirem as dúvidas,


procure um(a) professor(a) desta disciplina para esclarecimentos.

Módulo 8 – Oficinas de Criatividade

Bibliografia básica: SCHMIDT, M.L.; OSTRONOFF, V.H. Oficinas de criatividade: Elementos


para a explicitação de propostas teórico-práticas. In: MORATO, H. T. P. (Org.) Aconselhamento
Psicológico centrado na pessoa, p. 335-344.

O termo Oficina remete a ofício, a artesanal. As Oficinas de Criatividade são espaço terapêuticos
com o objetivo de resgatar possibilidades criativas na vida dos participantes. A criatividade pode
ser descoberta (ou redescoberta), pois é condição humana para as abordagens humanistas em
psicologia, e sua (re)apropriação repercute na vida dos participantes das oficinas, pois abre novos
modos de se relacionar consigo mesmos e com os demais.
Historicamente, as Oficinas de Criatividade surgem no contexto das experiências grupais
intensivas da Abordagem Centrada na Pessoa e da Gestalt-terapia das décadas de 1960 a 1980.
Nessas experiências (chamadas Workshops, que, traduzido literalmente, significa Oficina), os
participantes desenvolviam novos modos de se relacionar com os demais. Iniciavam o Workshop
desencontrados, estranhando-se, e encerravam o período (que podia durar de 1 a 10 ou mais
dias) organizados como grupo.
As Oficinas de Criatividade conferem organização a essa experiência. Oferecem um
ambiente protegido e atividades temáticas que facilitam a confiança no processo e à entrega ao
potencial criativo de cada um.
Propõe-se um processo de 6 a 8 sessões. Os facilitadores organizam o grupo e elaboram
propostas temáticas. Estas utilizam materiais expressivos e/ou atividades corporais, solicitando
que os participantes experimentem-se sensorialmente, sem a referência de “certo” ou “errado”
(que frequentemente bloqueiam a criatividade).
São exemplos de recursos usados nas Oficinas de Criatividade: Corporais, que favorecem a
sensibilização, conscientização e expressão, ampliando o contato com o próprio corpo e com os
sentimentos; Sensibilização sensorial, que abre novos canais de conhecimento do mundo
pouco experimentados; Música, que é afetiva, criadora de climas emocionais e convidativa ao
ritmo; Recursos plásticos, que concretizam a experiência pessoal.

Atividades Recomendadas
1. Leia os textos indicados.

2. Responda: “As Oficinas de Criatividade não são psicoterapia, mas são terapêuticas. Por que?”

3. Acompanhe o exercício abaixo:

As Oficinas de Criatividade utilizam os mais variados recursos como ferramentas para explorar
diferentes formas de expressão e desenvolver novas formas de linguagem. Segundo Cupertino
(2008, p.18),

Há uma mobilização no sentido de tornar o ambiente mais lúdico e interessante, de desenvolver


habilidade na exploração de diferentes formas de expressão e linguagem, no entrecruzamento da
escolha do tema, dos recursos de exploração (plásticos, corporais) e no efeito esperado,
estabelecendo a situação de diálogo entre a linguagem expressiva de caráter artístico e a
linguagem formal e conceitual de uma ou mais disciplinas.
Referência bibliográfica: CUPERTINO, C. M. B. (Org.) Espaços de criação em Psicologia: oficinas
na prática. São Paulo: Annablume, 2008.

Esta modalidade de atenção psicológica, de fundamentação humanista-fenomenológica, propicia


muitas transformações na atitude dos participantes das oficinas. Dentre essas transformações, é
correto afirmar que as Oficinas de Criatividade propiciam:

I – o acolhimento e esclarecimento de angústias trazidas pelos participantes e o encaminhamento


para o serviço psicológico mais adequado.
II – espaços de escuta para as vivências cotidianas e a possibilidade de ressignificação.
III – novas formas de contato entre os participantes, a aceitação de diferenças e reinserção social.
IV – a expressão de sentimentos, a emergência de significados inconscientes e o reconhecimento
da importância do trabalho do psicólogo.

A) I, II, III e IV.


B) I, II e III, apenas.
C) I, II e IV, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I e IV, apenas.

Se você compreendeu os objetivos das Oficinas de Criatividade, identificou que apenas as


afirmações II e III estão corretas. A Oficina de Criatividade não elabora um psicodiagnóstico, de
modo que não é uma intervenção que determina encaminhamentos. É um modelo de intervenção
que se fundamenta em abordagens humanistas e fenomenológicas, de modo que não há
“emergência de significados inconscientes”. A alternativa correta é D.

Lugar e função do psicólogo na Oficina de Criatividade

Bibliografia básica: SCHMIDT, M.L.; OSTRONOFF, V.H. Oficinas de criatividade: Elementos


para a explicitação de propostas teórico-práticas. In: MORATO, H. T. P. (Org.) Aconselhamento
Psicológico centrado na pessoa, p. 335-344.

O Oficineiro é o psicólogo que organiza as atividades da Oficina de Criatividade. Seu


papel no grupo é de coordenador e facilitador do processo. Schmidt e Ostronoff (1999)
caracterizam as Oficinas como “espaços de elaboração da experiência pessoal e coletiva através
do uso de recursos expressivos, tais como movimento corporal e atividades de expressão plástica
e de linguagem” (p.335), que revitalizam a vida social ou comunitária tornando-a mais criativa e
solidária. Cabe ao Oficineiro facilitar os processos criativos e criadores nos grupos.
São várias as tarefas do coordenador. Cabe a ele, primeiramente, constituir o grupo,
atento às necessidades que motivaram a escolha da Oficina de Criatividade como modelo de
atendimento e às peculiaridades da população que atenderá. Feito isso, deve definir se o grupo é
aberto ou fechado, o local onde acontecerá, planejar um roteiro de atividades (que será
reelaborado ao longo do processo) e disponibilizar os materiais que serão utilizados. Além disso,
deve divulgar o início do grupo, de modo que as pessoas se interessem e participem.
Atento às necessidades do grupo, o Oficineiro escolhe o tema adequado às necessidades
identificadas e os recursos que melhor atendam à exploração desse tema.
Como modelo geral, acontecem de 6 a 8 encontros, que podem ser divididos em: 1.
Aquecimento, no qual os participantes se voltam para a experiência imediata e se prepararam
para entrar em contato consigo mesmos, com os outros e com o tema proposto; 2. Realização da
atividade, que é quando entram em contato com a temática proposta e utilizam os recursos
indicados para entrar em contato consigo mesmos e se expressarem; 3. Fechamento, que é ó
compartilhar a experiência própria na realização da atividade com os demais e criar um espaço
de discussão e socialização.

Atividades Recomendadas

1. Leia os textos indicados.

2. Responda: Qual é o papel do psicólogo nas Oficinas de Criatividade?

3. Responda: É necessário ser psicólogo para coordenar Oficinas de Criatividade? Justifique a


sua resposta.
4. Acompanhe o exercício abaixo:

De acordo com Schmidt & Ostronoff (1999), as oficinas de criatividade funcionam como espaços
de elaboração da experiência pessoal e coletiva através do uso de recursos expressivos, tais
como o movimento corporal e atividades de expressão plástica e de linguagem. Neste contexto, o
psicólogo poderá atuar como oficineiro, cabendo a ele o desempenho de algumas tarefas
específicas. Tendo em vista o papel do oficineiro e a natureza de sua intervenção, assinale a
alternativa INCORRETA:

A) Em uma oficina de criatividade, uma das tarefas primordiais do oficineiro é ensinar habilidades
específicas. Desta maneira, é esperado que ele proponha somente oficinas que envolvam
atividades que são compatíveis com suas habilidades;
B) O oficineiro é um facilitador que se oferece de maneira atenta, autêntica e respeitosa à
convivência com o outro, proporcionando o compartilhamento da experiência;
C) O oficineiro é o responsável pelo planejamento das oficinas, decidindo sobre a constituição de
cada grupo, a escolha do tema adequado e a determinação dos recursos;
D) As intervenções do oficineiro ao longo das atividades tem o intuito de facilitar a explicitação dos
modos de criar de cada um dos participantes;
E) Em alguns casos, cabe ao oficineiro a tarefa de explicitar a demanda junto ao grupo, avaliando
se a proposta de uma oficina de criatividade seria a mais adequada para as expectativas do grupo
naquele momento.

Se você leu os textos e compreendeu o papel do psicólogo nas Oficinas de Criatividade,


identificou que todas as afirmações acima estão corretas exceto A. Esta sugere que as
habilidades trabalhadas na Oficina devam ser apenas aquelas já conhecidas e familiares aos
participantes. Isso está errado, pois a proposta das Oficinas é experimentar novos modos de ser
relacionar com o mundo, através de canais de comunicação e expressão diversos.

Oficinas de criatividade, constituição dos grupos e elaboração das experiências

Bibliografia obrigatória:

SCHMIDT, M. L. S. e OSTRONOFF, V. H. “Oficinas de criatividade: elementos para a explicitação


de propostas teórico-práticas.” In: MORATO, H. T. P. (Coord.) Aconselhamento Psicológico
Centrado na Pessoa: novos desafios. Cap. 20, pp. 329-338.

A constituição dos grupos de participantes é de suma importância numa oficina de criatividade.


Há dois modos de formação de grupos: no primeiro o grupo se constitui de um coletivo já
existente, como uma equipe de trabalho numa instituição; no segundo, o grupo se forma a partir
da divulgação de oficinas oferecidas pelo facilitador.
No primeiro caso, é necessário explicitar-se a demanda do grupo para se saber se as oficinas são
a melhor resposta a ela. Nesse sentido, é de suma importância que o psicólogo venha a conhecer
as motivações, expectativas e objetivos do grupo, e se o nível de integração do grupo é
compatível com a realização das oficinas, uma vez que estas não são o melhor tipo de
atendimento psicológico a um grupo desintegrado.
No segundo caso, o grupo é formado circunstancialmente, em função da participação na oficina.
Ao oficineiro, neste tipo de coletivo, cabe definir a população-alvo e a temática, a duração, o local
e o horário das oficinas. Cabe também a ele saber quais são as expectativas e motivação das
pessoas com relação à realização dos trabalhos.
É fundamental também que o oficineiro esteja atento aos efeitos que as oficinas acarretarão na
instituição onde elas são oferecidas, tendo em vista certos “transtornos” que elas acarretam, uma
vez que quebram a rotina institucional, e que mobilizam não apenas os participantes, mas
também aqueles que ficam fora delas.
As oficinas proporcionam a elaboração de experiências pessoais e coletivas através das
produções, que se realizam no eixo da aprendizagem significativa. Essas produções
testemunham não só a força criativa das pessoas e grupos quando lhes é oferecido condições
facilitadoras, mas também o desejo de compartilhamento de experiências. Assim, as oficinas
rompem com o isolamento, ativam laços sociais e comunicacionais. Possibilitam também o
desenvolvimento de sentimentos de pertença social dos participantes.

Atividades recomendadas:

1) Faça uma leitura criteriosa do texto de Schmidt e Ostronoff., observando os argumentos


utilizados pelas autoras, em defesa de suas teses.

2) A partir da leitura, procure explicitar os aspectos importantes da constituição dos grupos em


oficinas de criatividade. Também defina o que as oficinas proporcionam aos participantes.

3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

Assinale a alternativa correta:

Uma equipe de professores do 1º ciclo do Ensino Fundamental de uma escola pública da região
oeste de São Paulo pediu a um psicólogo que realizasse oficinas de criatividade com eles. Num
encontro que teve com eles para conhecer sua demanda, o psicólogo observou que os
professores não conseguiam se entender quanto às suas expectativas em relação às oficinas, e
que, na verdade, o pedido do trabalho havia partido de apenas dois professores. Os outro
cinco da equipe estavam em dúvida se era melhor participarem das oficinas ou de uma análise
institucional, para tentarem resolver suas dificuldades.

Diante do enunciado acima podemos dizer que:

as oficinas de criatividade não são a melhor resposta à demanda dos professores

PORQUE
As oficinas de criatividade, enquanto modalidade de atendimento que possibilita a elaboração das
experiências pessoais, é mais eficaz se houver integração no grupo.

a) As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira;


b) As duas afirmativas são verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira
c) As duas afirmativas são falsas;
d) A primeira afirmativa é correta e a segunda é falsa;
e) A primeira afirmativa é falsa e a segunda é correta.

Se você tiver compreendido

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