auriculturas filosônicas
http://filosonias.pravida.org
http://fruido.pravida.org
http://auricultura.devolts.org
http://oelefantedemarfim.cc
http://kcah.hotglue.me
Felipe Ribeiro é poeta, auricultor, filósofo e trabalha com arte transmidiática
sinestésica, já tendo se apresentado em
diversos festivais internacionais com
instalações e performances sonoras, palestras e
óperas. Entre estes estão a Bienal de Havana
e Istambul, Medialab Prado ARCO08
Madrid, Transmediale, Tesla Berlin, NOD
Meet Facktory Prague, Fórum Social
Mundial, Freewaves Los Angeles, Instituto
Hemisférico, Acúsmatica, Encontro
Internacional Nietzsche Deleuze, Fórum
Social Mundial, Mídia Tática,
Submidiologia, Tsonami Valparaíso,
Corpoinstalação, Videobrasil, Dança em
Foco, Montevideo Amsterdam, Café
Filosófico CPFL, Semanas de Dança, MAM Bahia, Festival de Curitiba, entre outros.
Trabalhou no Centro de Referência à mulher encarcerada com criação de canções de
ninar. Teve trabalhos premiados como a trilha para Eduardo Fukushima com o Prêmio
Rolex de Dança, o APCA com a Key e Zetta Cia., o prêmio Bravo com a cia. Club Noir,
e o prêmio Entretodos pelo documentário Ocupação e Despejo com Rafael Adaime.
Participa de diversos eventos de cultura livre com as redes de arte-atuação
Submidialogia, Mídia Tática, Movimento dos Sem Satélite, Metareciclagem e
Ruidocracia, Vídeo nas Aldeias. Foi curador do primeiro salão de residência do
centro-oeste Fora do Eixo no Museu da República em Brasília e jurado das Oficinas
Owsal de Andrade. Dirigiu e sonorizou para diversos artistas plásticos e companias de
dança incluindo Fernando Marques Penteado, Dimiter Gotscheff, Adolf Shapiro.
Agora acaba de finalizar sua sétima ópera “O Elefante de Marfim” sobre a qual
prepara um filme longa-metragem.
Escute
esta
página.
Filosonia
Σ=ƒ.[(ॐ.φ)÷ψ]
Filosonia: Tornar as afecções (empathos: sympathos, antípathos) sensações (filia),por cruzamentos
no mar de memórias em sentimentos (feelings). Em lógica, todo sentimento é uma patho-logia. Paixão
sonora. Uma pesquisa filosônica se pauta nos limiares da escuta, as lógicas musicantes e em que suas
dinâmicas podem ser usadas nas ampitudes mais abrangentes do trabalho de escuta e composição sonora. Ou
seja, almeja-se uma aproximação do som em todas as instâncias da vida, uma escuta panorâmica (panfonia).
Desde a afetação (hedonista e de desafio) às formas de encadeamento lógico do compositor à relação
harmônica desta com demais compositores.
Som pré-histórico, tom mitológico, modo grego, escala gregoriano (canto chão cristão), campo harmônico
imperial (hinos nacionalizantes), escalas harmônicas implosivas (dialética do renascimento monádico
romantismo/ultrarealismo), escala de escalas (barroco ao fractal surrealismo), campo harmônico das escalas
(serialismo do micro ao macrosonal), sonologia e antroposonia do fim de século progenitor das máquinas. E agora
uma harmonia contextual, faculdade advinda do que no decorrer do século dito vinte ocorreu como um
desdobramento fundamental nas formas de percepção da linguagem. A saber, se até então havia um código
musical autônomo (tonalismo transcedental) baseado na imposição duma lei (harmonia diacrônica), com o
aparecimento da matriz serial (cacofonia), a música se ouve posta em cheque pelos próprios meios culturais
(capitais) que a demandaram como legisladora sonora. Desta dissidência de Mnemosýne com Sonia ocorre a
aparição sutil de dois movimentos sonoros, filosonia e auricultura.
Silêncio, Por Favor
“Suspiras. Sofres?
Respira.
Não há outra lira.”
Silêncio, por favor! Falar, gesto de profanação. Rompemos as intrincadas tessituras entre
silêncio e som para interpormos nosso tremular verborrágico, a explicação quer ter ao inexplicável,
o paradoxo é a paixão primeira do que é: soa.
Nos lembremos que informação não é conhecimento, conhecimento não é sabedoria,
sabedoria não é beleza, beleza não é amor, amor não é música e a música... a música musica algo
para muito além de nós. Nos esqueçamos disto também.
Jogados no mundo, movemo-nos aos caprichos da harmonia de tudo contra a escuta de tudo,
sinergia das potências... Só habitamos pontes, linguagens, vínculos antropocósmicos perdidos na
cegueira das sensualidades, semiônticas. Os amantes das mathemas epistémicas cruzam os abismos
absurdos pautados em seus cabrestos de axiomas, limitamos os sensos por regras estésicas de
bondade, toda procissão tem sua pragmática ritualística. Ao devaneio poético, resta senão suspirar:
Levai-me caminhos, moralizamos a beleza.
Ouçamos a sinfonia do e no mundo, {...} não podemos esquecer o som das britadeiras e dos
automóveis, as pontes estão sempre em construção. Cessasse o esgoto radioativo e suas dança do
acasalamento palavra-lei som-potência do cancioneiro; não mais rissem as buzinas do livre-arbítrio
e do fluxo; os mascates parassem de vender as vendas; não estendesse o sonic boom aviador às linhas
de morte, fuga e fumaça das geometrias orbitais; silenciada a pólis aos seus 40 deciBéis por metro
quadrado; ainda assim, a mais delicada sutileza concreta pleitearia ao fortissimo furioso do barro oco.
A distinção entre ruído e música toca o cerne da estética imanente à transcendência, o que é
indesejado e o que é desejável do que surge? Esquizofonia, o cárcere auditivo a uma paleta de
modulações das ondas sonoras (cortimbre, melodiarmonia, ritmopulso) é também o abrigo de
nossos valores oníricos, moiras e morus. Durar cruza o espaço tal qual alma atravessa qualquer
investida de palavra e inversamente. Nos alimentamos das origens que retemos nestas tramas,
somos como soamos.
Onde ouvimos o agora? {...} Porão escondido atrás das cópias sob a curva do rio, ponte
fictícia do religare entre fé e o que é. A alcova, o ninho, a toca, a terra não tem limites abaixo em
nossos sonhos, o porão é o portão da morte órfica. O refúgio sempre está no olho do furacão, os
ouvidos não piscam. Aqui está quente porque lá fora faz frio, é numa divergência convergente que
alicerçamos nossos paraísos artificiais. É nos invernos da memória que se atualiza o lar de uma casa,
sua máquina de afronta ao cosmo e nisto todo cálice é morada, brindemos.
Que ouvimos do aqui? {...} As vigas de sustentação tremem, respiramos, respiramos, não há
momento que consigamos estar juntos sem alguém falando {...} O espaço seduz-nos com a
intimidade a agirmos, a movermos os cômodos de lugar, os centros de solidões, tédios; paixões
agrupadas nas salas da construção de mais um corpo sem órgãos, reduzimos os refúgios de nossas
musas ao reduto de nossa autoridade de autores, a ágora obriga-nos a subverter nossas relações em
políticas.
Conseguiríamos calar nossas vontades tempo suficiente para ouvir nossos tantos corpos,
porém? {...} Os corpos humanos estão em corpos sociais em corpos arquitetônicos em corpos
celestes, e estes, entre outros criam corpos sonoros da mesma maneira que meu corpo linguístico
enquanto vos falo.
Que pede-nos aqui e agora esta voz que silencia? Favorecidos com a a-tensão, suspendamos por
dez minutos a palavra, não falemos. Experienciemos ao menos uma vez este porão de subjetividades
sônicas, devaneemos a outras escutas de nossas incontáveis peles além da ratio-plausível. Para que a
música nascida de cada ínfimo movimento e gesto nossos, a harmonia sonora dos corpos ambientes, não
nos trespassem despercebida. Só por hoje deixemos soar os cantos de nós, nos esqueçamos só por hoje do véu
da técnica e deixemos que a música nos dance. Ouçamo-nos sem palavras. Silêncio, por favor! Em dez
minutos musicaremos...
Anatomia do Olvido
“Escutar é esquecer.”
… dígitos às tramas de fibras, visco de pálpebras, inflação de metacárpios e pupilas... orbicular estiramento à
ofuscação lacrimal... rugoso vertebrar de papiro, consistência e quebras... arar de cílios... tremulação radial,
folhas ao ar... pisca... falange em cento e oitenta graus de um corpo encadernado... plexo tonal... página em
branco, página virada... pruridos, os signos sob unhas à pele, polêmica dos poros... tinta coagula em tipos...
impressos, penetração das valas papilares... sabeor, saboer... eriçar pelos pêlos, insurgir o gen ido explosão...
barulho... todas as línguas estão mortas recebendo a vida... última sentença antes que os sonhos nos engulam,
temos um corpo a desconstruir... temos um léxico a gestar... vãos moléculas... só, o ruído sabe-se... nada, de
rugas conhecimentos... pulsam! pulso, desmedidas células... carmesim seiva, cantar dos rios primeiros...
calcam veiartérias, estas margens... redentre, almáquinas... que sabemos do amor, senão memórias d’úteros
que enchemos com nossos vazios? caixas acústicas, como perseguiremos teu falsilêncio ressonante feitos
entre o escarlate esquecimento... entre sopro e foz, surdo da marcha já fúnebre, batimento rubro e terno...
fonofagia estio, still fetouvido oceânico... o é nunca cabe-se e quer que nunca acabe... dest’ruímos
d’recepcionados nest’humor a ser expelido, placiente acidez...em espinha escápula o um, abrigo d’homem...
cóccyx nomeado atlas, flexão da extensão à órbita dos satélites... tabula ossea rasa... dor, so it is... pés te erguem
arcos... dêem-te em czima, paixão dos abutres... ode, os primaveris córtex... cérbero, a via dolorosa e térmica...
ser é belo ensífalo... és o fago, diafragmenta pan, crias... disciplinam o reto ao curvo... à horta de suas tantas
peles, lavram... éres íris... húmus do anus do solo... nozes, nós vozes do brotar... tectônicasca ovo rachadura,
berra terras... fiandeiras glândulas, me embrandas... suaveazedo tear subcutâneo, bile e vísceras projetam
fome, trançam... sol calcificado espaldas, os sós sons de flautas vertebradas em fantasias cervicais...
solidifica-se estratos em depressões... do tecido vivo, músculos... enervo arcabouço elo... sulco da fossa
temporal... masca... nem todas as costelas são verdadeiras... mandíbulaxiomas contra o efêmur... me adula
promontório sacro, crista transversal, vá idade... a vida será arcada... natimorto prematurobsoleto, gesto...
cegocolhar insone acolher vér-me... cadáver arado conmusa sermente... it... que só sabe o que se sente... esta
fome de maiores fomes digeridas em nomes... em nome da fecunda ferida dos vírus... nascercado de
corpó... suplício em berros silente e sempre... reticente... e... e... e... só... quando nossos corações pela
primeira vez batem, compreendemo-nos dissonância... a respirardor... trago o ódio ao peito...
aspirei, há o amor-te... até que ali mentasse às flamas, minha ira... chamando brasas às asas...
quimeras pulmonares d’homoplata... raízes flutuantes cinza névoa, m’elán viral dos títeres in sensus
mundi... legado às pedras, putrefato exalantoráxica toxinas... escarrando escárnio acima, larfar-ing
memoiragoraquinstantes... jásperas expéras... fumaças do quandonde, ampulhetalhe...germenow
fleumastigandordem, desertores de ser desertos... cartografias do nadareia movediçando, catárse em
cartilagem... grãos em vão comendurando cagandócios gengivais... soleirascidentes dos multilados
baldaquinos áridos, abóbada crânica... sob, folhágrimassêcas em suas tendências tersãs ao redestorno
que queda na queda crônica... tênue gravidade, tênia e gravidez... entudo absoluto vazio... absurdo,
abismo: proscuro... escolhúnica dos labirintos zigomáticos... meergulho na superfície à precisão
imagética da morte... pro fundo profundo do mundo onde no fundo, no fundo não há fundo...
descascada a cebola, resta o choro, a lâmina, os restos... fé, rugem: é! des-pertando as fúrias
re-veladas... a corda! a corda! todos os nós estão em nós... mácula vertidos ao refletir nos olhos do cú,
demônios que somos... esmagados pelas próprias vísceras... forca intransponível entre virtude e
carne... erigindo nas ruínas dos templos nossos templos à ruína... idolatrando os pés adôneos,
ateando as raízes quadradas ao fio da lâmina sedesejo... segredo, metameta do ente... a vialogopatia
sob a pele vertigensons... harmonia bélica das esferas... além domínio do demasiado espreitando por
um apêndice... entre o entre e o entre... com suas helioconíades névoas lusco fusco turbilhonante de
mônadas às sériespiraisto infinitecido, multiplúnico transcaosmetrogonia da mnemomania...
musicai! Sus urros, no mas que reverberaciones del grito primeiro. Son las palabra a tatuar-se como
moneda de la moenda, valor del lavor , papel del papel...
Um Sistema Musicológico
11
Mesmo Immanuel Kant, que segundo Bachellard reunia a solidão de sonho e pensamento, se nega a legislá-las em sua
Crítica da Razão Pura Prática.
12
Henry Bergson disseca no quarto livro de A Evolução Criadora a inexistência de impedimento nesse empedoclismo de
que passado, presente e futuro sejam contemporâneos dado às suas diferenças de natureza e não duma gradação
quantitativa espacial dum mesmo modo.
13
Aristóteles. De Caelo, Livro II, §9: “Alguns pensadores supõem que o movimento dos corpos celestes deva produzir
um som, dado que na Terra o movimento de corpos de muito menor tamanho produz dito efeito. Afirmam, também,
que quando o Sol, a Lua e as estrelas, tão grandes e em tal quantidade, se movem tão rapidamente como poderiam não
produzir um som imensamente grande? A partir deste argumento e da observação de que suas velocidades, medidas por
suas distâncias, guardam igual proporção que as consonâncias musicais, asseveram que o som proveniente do
movimento circular das estrelas corresponde a uma harmonia”.
14
Ou Quadrivium o quaterno sagrado da numerologia de Pitágoras de Samos, princípio melódico básico dos cânticos: 1 +
2 + 3 + 4 =10, sendo 10 = 1 + 0. Signo ambíguo de série e mônada.
15
Nietzsche, o compositor de liedez resguardou sua música sob Zaratustra, feito tom posteriormente por Richard
Strauss, todo ímpeto romântico é um imperialismo româmico.
16
As guerras ditas mundiais do séc. XX foram senão a discussão entre tantas concepções da obra de arte total, esta
imersão multimidiática wagneriana, distopia de um dito que dura como o nazismo e o americanbroadway.
17
Cf. Sloterdjik, Pete. Regras para o Parque Humano.
18
Marsalis, Wynton. O Jazz Enquanto Método, I.
19
Schelling, Friederich Von. A Divina Comédia e A Filosofia, §7: “Que o indivíduo forme em um todo aparte do
mundo a ele revelada e, da matéria de seu tempo, de sua história e de sua ciência, crie para si sua mitologia”.
20
Tal qual o minimalismo de Steve Reich, que amplia a sensação de ordem e reduz a da complexidade envolvida no seu
processo e a estocástica de Iannis Xenakis, ou indeterminação probabilística, que amplia a complexidade e reduz a
ordenação, tida por eles como fixidez dos sons.
21
A escritura deleuzeana com seus rizomas e o ritornelos e a música programática baseada em softwares como o
MAXMSP são duas pontas desta remusicalização da palavra.
22
Villa Lobos com este termo pôde ridicularizar a música em potência de que falava Igor Stravisnky.
23
Aquele com excesso de lucidez ou aquele com lucidez dos excessos.
24
Sobre isto pudesse ser escrito: “Pierre Boulez, o antidiletante morreu”.
Auricultura Além da Musicologia
¡Cómo? ¿El oyente tiene pretensiones? ¿Las palabras deben ser entendidas?
A passada melodia entre astros não soa mais – disse a salamandra ao escaravelho. A harmonia
presenta o espaço polidimensional(polimorfias de polifonias). Ritmo atira no arco gerúndio futurações.
Sobre a harmonia contextual:
1) Amúsica é um fenômeno que envolve interação entre diferentes agentes para sua existência e
desenvolvimento;
2) A significação musical é um caso particular de um processo geral de significação (assim como se
pode estabelecer um contínuo entre os processos cognitivos e os processos naturais) e;
3)A cognição musical é um caso particular de uma descrição geral de cognição.
Gainza, que trata exatamente da descrição do processo de aprendizagem musical: “La música, el
ambiente sonoro – exterior al hombre – al entrar en contacto con las zonas receptivas de éste (sentidos,
afectos, mente) tiende a penetrar e internalizarse, induciendo un mundo sonoro interno (reflejo directo o
representación de aquel) que a su vez tendera naturalmente a proyectarse en forma de respuesta o de
expresión musical." Varela et al (1991) passam em revisão às três perspectivas da ciência cognitiva acerca da
noção de cognição e de como ela ocorre. Para os autores, a versão cognitivista clássica, que se apóia em
modelagens da inteligência artificial entende cognição como: Information processing as symbolic
computation – rule-based manipulations of symbols. How does it work? Through any device that can
support and manipulate discrete funcional elements – the symbols. The system interacts only with the form
of the symbols (their physical attributes), not their meaning. The emergency of global states in a network of
simple components. How does it work? Through local rules for individual operation and rules for changes in
the connectivity among the elements.
Pratica a Música! A flauta vertebrada é o canto do cisne morto no ballet..." Representations create
understanding and desire. A essência da música não consiste apenas em agradar os ouvidos, mas também em
enganá-los. Seria preciso uma grande arte para não imitar o pássaro, mas cantar como ele. “-Críton, não
esqueçai de levar um galo a Esculápio!”
A prova(ensaio) de Nino Taro lembra que a sinfonia é a sintonia com a qual sonhava Ford na sua
ditadura temporal, a sincronia dos planos na linha de montagem. O computador é o instrumento que mais se
assemelha à voz humana. Criptografa na própria carne(silíncio) os caminhos metálicos da eletricidade,
criptofona.
Trapdoor paradox is the most simple type of computer virus abre uma porta que abre uma porta que
abre... o fenômeno coquetel, onde em meio a um espaço ruidístico estrutura-se um território harmônico
onde se deslindam as vozes do coro ao solo, o foco aural. As mirações vêm do som da floresta ecoando pra
encontrar os corpos trespassados pelas raízes, a cidade tem som de ruminar de engrenagens em combustão,
que nos chega?
17. Não podemos comparar nenhum processo com o decurso do tempespaço – que só é experienciável nas
modulações sonoras – mas apenas com um outro processo durável.
17.1. Dois sons podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, na mesma velocidade ou não, pois
que se entressoam numa mesma modulação.
17.1.1.1. Diria-se que são como um mesmo som.
17.1.1.2. Duas músicas diferentes podem ser estabelecidas deste mesmo som pelas
modulações diversas de vários ouvintescompositores.
17.2. É por isso que a descrição do curso temporal de uma música só é possível se no ampararmos num
outro processo(ampulheta, metrônomo, partitura ou em outras músicas.)
17.2.1. De onde se gera o relativismo total dos tempos modulares(andante, allegro, etc.) e das
alturas(o Lá central do piano a 220mHz).
17.3. Toda a moderna audição das músicas está fundada na ilusão de que as chamadas leis tonais,
modais, seriais, minimais e também as físicas sejam explicações dos fenômenos auditivos.
17.3.1. Assim detêm-se diante das leis musicais como diante de algo intocável, como os antigos
diante de seus modos cíclicos repleto de deuses.
17.3.2. E uns e outros estão certos e errados. Os antigos, porém, são mais claros, na medida em
que reconhecem um termo final claro, enquanto, no caso dos novos “científicos” sistemas, é
preciso aparentar que está tudo explicado.
17.4. O audível é independente de minha vontade.
17.5. O processo de teoria musical consiste em adotarmos a lei mais simples que se possa pôr em
consonância com nossas experiências.
17.5.1. Esse processo não tem, contudo, nenhum fundamento lógico, mas apenas
esquizopathológico.
17.5.2. É claro que não há nenhuma razão para acreditar que realmente ocorrerá o mais simples.
17.6. A música está em toda parte, mas não tem um domínio que lhe seja próprio.
“...la la ri la la...”
Lewis Caroll
Cartografias da Escuta
Alguns dos processos possíveis para a produção de uma cartografia aural são:
• Conhecer as outras pessoas atuantes simbolicamente e suas obras. Pensar maneiras de
interação sonora com suas obras e processos, pensar locais concernentes com estas.
• Caminhadas gravando sons, recolhendo lixo.
• Pesquisar os questionamentos sonoros das pessoas locais e observar as relações musicais
estabelecidas.
• Preparar a primeira oficina de acordo com os interesses descobertos nos dias anteriores.
• Fazer uma cartografia da cidade com uma primeira trajetória poética.
• Visitar locais concernentes ao foco escolhido no primeiro encontro e dar uma oficina prática
de morfomicrofonação.
• Preparar a terceira oficina de acordo com o material e o processo encontrado durante as
gravações do segundo encontro.
• Preparar os materiais durante um terceiro encontro, incluindo um libreto-mapa para rotas
sonoras no walkmen digital, possíveis artefatos técnicos e cênicos, figurinos, estratégias de
ação.
• Utilizar o último encontro para finalizar o processo de montagem e mesmo para atuar pela
cidade.
Sujeira Sonora, Maquiagem Musical
Base: Que minhas palavras não me maquiem como os belos e grandes automóveis fazem com o
tráfego. Um texto maquia um verso, a memória maquia o devir, a música maquia o som. A pele é o mais
profundo abismo sobre o qual lançaríamos os dados de nossas pontes semiônticas. Alô base, responda! Uma
face é um rosto sem rosto. A interface é o ruído entendido em seu silêncio, assim como a maquiagem é senão
uma sujeira aceitável. Um rosto e seus traços de rostidade (um estilo musical e os movimentos ecléticos que o
atravessam) são resistências de um ego social no corpo (através da tensão muscular e tátil), que tornam seus
segmentos controlados (ocular e oral) em palcos da auto representação política ao impedirem a fluência dos
livres movimento das correntes energéticas dos modos desencouraçados da face (aural e olfativo). Uma
desterritorialização do corpo implica uma reterritorializacão no rosto. Há uma sobrecodificação
(metaprogramação neuroimagética) pela hegemonia do utilitarismo da face e do som (iconoclastia hedonista
musical, hierarquia das alturas melódicas, narcisismo semântico dos dados impuros). Tal máquina de
rostidade (produção social da musicalização e do rosto), efetua uma rostificação de todo o corpo (uma
musicalização de toda a escuta), de seus entornos (you are your playlist) e de suas funções. Se o rosto
produzido socialmente é uma política, desfazer o rosto também será uma política (se a música produzida
socialmente é uma economia, desfazer tal música também será um produto de mercado). Mas eu hei de
maquiar estas palavras com as faces mortas dos ídolos, como se cada nome puxasse nós e os nervos capilares
do ouvido mais próximos à garganta.
Pó: síntese granular da música eletroacústica se baseia no delírio quântico atômico, erotismo de
areia, filé à milanesa, devir rapé da escuta. Do pó ao só, do grão ao drão, do um ao bum. Cheira o cangote da
pessoa ao teu lado. É cheiro de gente ou um casamento químico? Cada torno da roda das modas, ou as giras
das ninfas, por exemplo de Eco a Calypso, são sinos tocando contas de vidro. Baudrillard fala de três estupros
pro nascimento do humano: trabalho, consciência da morte, repressão sexual. O epicentro da artificialidade
se põe entre nosso desejo contínuo pela objetificação de nossas subjetividades, Genet come margaridas antes
de vender seu corpo de novo, carrega as mortalhas de seus afetos em nome de uma autopoiése mais. Eros ergo
Muse. A prostituição por si só permitiu o enfeite, salientando o valor erótico do humano feito objeto e
serviço. Um tal enfeite é, em princípio, contrário ao movimento de negação do enlace sedutivo da mulher
que se nega para gerar a caça ao objeto de si por parte do homem. A prostituição de umas determina o
esquivar-se de outras...formas de uso do rosto. No princípio a prostituição era só uma outra face do
casamento, chamar-se-ia dom ou dote. Não é de se espantar que os mais antigos traços de civilização sejam a
maquiagem funerária e a prostituição. O que se maquila num rosto, mesmo vivo, é seu inevitável cadáver e
são os vermes que gostaríamos de realmente seduzir com a mais
descarada nudez das vestes. A estratégia camaleônica de Bowie,
em sua dança pelas ondas tendenciais dos nichos da moda, o
campo hipermoderno da escuta eclética, tem uma objetificação
direta no entrincheiramento urbano do autismo. O rádio(e seus
ipods provenientes) é uma tecnologia de guerra assim como a
maquiagem rajada alternou do verde vietcongue para o cáqui
jogador de golf iraquiano. Mudança similar da do fim da guerra
fria, e a mudança do paradigma dos espiões para o dos
terroristas, de Mata Hari a Wafa al-Bas. Quando o terrorist-chic
virará tendência em Paris? O soldado está para a santa em
pedaços no passo do gato como o filósofo para a puta sem
clientes. Banhos de sêmem no topo das pirâmides, já romanas.
Quem lamberá as feridas de Orlan? Quem juntará os cacos de
Hans Bellmer, Cindy Sherman? É por rosto mercurial, tronco
salgado e barbatanas sulfúricas que o canto das sirenes atravessa
as eras e as bocadas. É uma emergência, o toque à pele. São
memórias futuras calcinando em teus poros as cores que nem
teus olhos puderam compreender, algumas fodem e procriam
em tua língua, algumas outas, compreensões de cicatrizes.
Súbita efêmera sensação da realização da essência do fogo:
Epifania.
Coração: Tudo que tiveste imensa vontade de dizer e não pudeste expressar em palavras, depois o
mostrará tua face. Elke Maravilha, nada em nuvens de sombras coloridas e constela os céus de luz fria com
estrelas de rímel. Pousa na beira de estrada caiada e canta para Novalis que gira a bolcinha com Burroughs...
Cantos texturados de mútua sedução compõem a carta que ele tem em mãos, manchada como seus olhos.
Fala de um Ulysses que não florecerá, homem de esperas e partidas. Choro de ninfa puta “Eles nunca ficam,
eles não compreendem... e vão.”. Mas sempre um sorriso tremulando a espinha avisa a face a desenhar-se
novamente ao coro do corpo. Visage! Berio desnuda Cathy Barberian apenas para vestir suas cordas vocais
com seus cálculos, lembrá-la da Enlil animal peludo. Lembremos que Poser é um software de avatares. Assim
como o teatro se torna a pátria nula das máscaras de transparências após Godot. E perto destes cantos, Peter
Grimmes é pouco mais que Pinóquio, corpo de madeira em cordas... E jamais nos esqueçamos que a própria
forma vitruviana do corpo carrega em si sentimentos dos mais profundos, Casanova nos gestos mais sutis de
desespero apaixonado ao maquiar as sombrancelhas da amada criatura apenas para poder desenhar-lhe olhos.
Criamos uma música para que alguém ouça não apenas a nós, mas como nós. Desde o pierrô lunar, títere
maquilado dos influxos do íntimo até os arlequins solares do glam; é movida a sangue de purpurina e
gasolina, a vaidade dos Golem. No frenesi de maquiar cada encontro imediato no enredamento útil do
netflerting, faríamos da alteridade não mas que um espelho de youtube. Como vocês cozinhariam em um
caldeirão de cera, se quando aquecido este também se põe a derreter? E ainda, como haveriam de pintá-lo?
Fez questão de deixar os lábios borrados depois do beijo, dormiria na cozinha suja e queria a nudez plena do
descaso de si em mim. No dia seguinte de rosto lavado houvera de recitar Hilda Hilst em inglês enquanto
cambaleava pela Liberdade.
Sombra: Se a não fossem de fluxos em decantações os corpos e a técnica hefaística quisesse de fato
criar a perfeita prisão para as musas, o museu, haveria de mister dispô-lo entre um salão de belezas e uma
academia de gimnopédias com mobília musical, como que ria Satie. Todo erigido em carbono, para facilitar a
datação de nossas vaidades e luxúrias. Olhava dentro de meus olhos e ouvia o tremular enquanto dormiu.
Algo não foi compartilhado.
Some storms are better without
shelter. A cor da flor não escorre
à chuva. Ainda haverá um MAT,
museu do aroma e do toque.
Flores de plástico com
borrifadores de aromas sintéticos
criarão os âmbitos de nostalgia de
certas intoxicações, do chocolate
às caixas envernizadas. O hall das
fezes históricas, de Beuys a
Wharol. Estudiosos farão teses
sobre a consistência e o aroma
destas baseados nos hábitos
declarados e nas imagens de
arquivo. Em algum canto talvez
haja uma pele para quando já não
nos lembrarmos do encontro
incondicional. Beijou meus cílios
e apertando a palma da mão
contra meu peito, riu alto:
mulher! Borrando o seu batom
respondi enquanto tocava sua
buceta: androgênio... Se o artista
aponta os problemas sociais é só para saber-se também a maquiagem destes. A simpatia da comcunbina para
com o eunuco. Nas palavras de Cazuza: “Eu sou burguês, mas sou artista.” Aí vocês suspiram que gostaram
ou não da obra e eu pergunto sobra as suas enquanto me retoco para o próximo concerto.
Blush: A rostidade está inscrita na linguagem como os estilos musicais inscrevem fronteiras à
escuta. Ser babyface implicará a capacidade de representar o papel de barbie-modelo-amante subdominante
ouvindo powerpop de girlsbands e emo, talkingface dará conta de uma pessoa crível que poderá jogar como o
político-vendedor-informante ouvindo jazz fusion classic rock; scarface nos faz voltar aos guetos e aos
submundos mafiosos da vida lôca do lado de lá da ponte do gangsta rap bolero spirituals; fuckingface tem sua
tradução direta ao português assim como o pancadão revirou electrochic parisiense. Obra de arte sob ar
condicionado e a sexualidade maniqueísta(e aqui cito o gnóstico Manis). Como pode a diferença, ou ainda os
trânsitos de sexualidade, fazerem alguma diferenciação ou gestar um transe? Vocês! Todos vocês se
despuzeram a sair de casa e vir ao museu e se prostam com interesse diante nossos sons, mas quantos
estariam interessados em nossos aromas e secreções? Uma das revistas de maior tiragem no Brasil (Caras)
segue neste mesmo sentido, um paradigma de rostidade careta indicando sempre os shows de MPB mais
badalados e chics. Multiplicação da presença das caras e do rosto em lugares públicos pela propaganda
hiperindustrialmodernista (assim como a multiplicação ad infinituum das músicas de fundo). De um lado os
visíveis (e audíveis): os novos nobres, os conhecidos VIPs que tem acesso à tela e sobrepassam as fronteiras do
jabá e do networking; do outro: os desconhecidos (os olvidados das museas), os ignorados pelos lobbys da
imagem e do som. Nos âmbitos artísticos (casta estética) vivemos uma rostidade mais discreta, ainda que não
menos influenciada pela maquinaria sociotécnica que atravessa mercantilmente a sociedade (fetichização do
entreface), buscando impôr a expressividade codificada (enredamento das impregnações dos modos de escuta
e soagem). Imaginem a crise de aprendizagem do político que logo depois de ser maquiado em sua fisionomia,
estudado e treinado durante horas em sua linguagem e em seu discurso, em seu sorriso e em seus gestos,
recebe como último conselho de seu assessor de imagem e voz, um momento antes ir ao ar: “Bom agora, por
favor, seja completamente natural e espontâneo”.
Elogio Ao Plágio
Ruidocracia
Os cerca de trinta mil tatos das membranas basilares, estes osciladores de aproximadamente 35mm,
respondem ao impacto de uma estreita banda freqüencial das ondas sonoras, e de acordo com sua posição em
relação aos nervos auditórios vertem as freqüências e fases sonoras em impulsos elétricos. A quimera tácita
demandaria a fixidez deste ínfimo movimento . Apesar do alcance de captação plena e constante da faixa
vibrante entre +/-20 a 20,000Hz, trabalhamos com uma dilatação e retração do foco consciente auditivo
muito variável, fora do qual ocorrem as micro e macro harmonias inconscientes.
Os ritmos elétricos dos neurotransmissores cerebrais, cocientes de todas as freqüências que cruzam o
corpo, sintetizam-se entre +/-1 a 30Hz podendo ser descritos como o metainfrassom da mente. Os
sentimentos, mapeamentos cerebrais do corpo em relações específicas, desvela à faculdade musical no seu
sentimentalizar do som, estabelecimento de rotas dos ruídos do, e no, corpóreo .
Os organismos harmonizam suas orquestras homeostáticas através destes impulsos elétricos que
variam sua sinfonia de acordo com as necessidades do corpo na sua incessante busca por equilíbrio e
bem-estar. Seu funcionamento varia desde o mais lento possível como na faixa +/-(Delta ~ 1 a 4Hz) que
possibilita o desprendimento egóico para as regulações do metabolismo, das respostas imunitárias e dos
reflexos básicos realizadas somente no sono profundo (REM); passando às ondas +/-(Theta ~ 4 a 8Hz) que
regularizam os comportamentos de dor e prazer e com isso os alicerces das emoções como nos estados de
transe, anestesia e relaxamento; chegando à gama consciente +/-(Alpha ~ 8 a 12Hz) onde se recompõem os
recursos minerais e se ampliam as sensibilidades nervosas e a velocidade de conexões sinápticas, e
acelerando-a até o estado +/-(Beta ~ 16 a 24Hz) de alerta, concentração e aceleração do metabolismo através
da queima adicional de adrenalina e proteínas .
Estes estados coexistem aparalelamente no organismo que as focaliza de acordo com suas
necessidades moleculares, fuga da dor e busca do prazer, que alicerceiam a cristalização de certos hábitos na
programação neurolinguística .
O planeta sobre o qual musicamos também ressoa em sua ionosfera durante seus movimentos de
rotação e translação. As reverberações das suas instabilidades ondulares, reflexos das relações de forças entre
toda a complexidade harmônica de sons nela presentes e os demais corpos celestes, variantes entre 8 a 45Hz .
Terra e Humanos são organismos em uma relação que a harmonia clássica estabeleceria como dissonância
dominante e trabalham, não coincidentemente, em grande parte na mesma faixa de freqüência.
A concha e o das dasein est rondo, o corpo é a casa é o mundo . Tudo se ativa quando se acumulam
contradições, a ciranda do boi é o labirinto do minotauro. À jam se comunica como nos conscertos ante às
partitas, às energias que reverberam as próprias estruturas de um corpoambiente. Fazer o magnetismo dos
falantes e metais estruturais reencontrarem suas ancestralidades na terra, subjetivar os objetos. Todas as
tecnologias não são mais que um mito , e nisto um libretto seria escrito ad infinitum .
O som de um ambiente reverberado nele mesmo nos joga no paralaxx, onde as infinitas
particularidades dos corpos entre a certeza da morte e a impossibilidade do silêncio se interprenetam
Liberando o ato na probabilidade, randomização e improviso com os elementos previamente ensaiados pelos
performantes ao mesmo tempo que liberando o som do texto imanente pelo freqüencismo coloral, criando
massas estocásticas, nuvens, galáxias, campos harmônicos afectivos de multipolaridades atonais, tonais e
modais; desvirtuando o caráter absoluto das estruturas cromáticas transitando entre hiperserialismos e
minimalismos frequenciais.
As posteriores concordâncias entre as diversas faculdades se relacionam com a harmonia entre os
dados dos sentidos aí dispostas, e estas nunca eternas, abismam entre coerência e crença trazendo à tona a
impossibilidade das esferas no fenômeno. A mente frente à beleza incompreensível de si mesma, feita círculo
pluridimensional, torno de tornos da lama lógos, encontra o seu limite no saber-se impotente e pode então
no des-esperar dançagir , manejar a rede de lemes de redes, cibernética.
II. Corprótesespaço, dança das esferas:
A presença em movimento do corpo parte das redes de interlocução possíveis entre espaço
construído, público e objetos (aparatos e próteses). Não há a possibilidade de que a dança seja elaborada
dissociadamente de toda a composição maquínica e das engrenagens potencializadoras das relações entre
espaço e corpo em desdobramento.
Se direcionamos o corpo a uma dança esférica, isto consiste muito mais nos mecanismos de um
enredamento noosférico do que nas imagens que giram em uma mimética do círculo . Hipnotizadores e
hipnotizáveis através da constante ou fragmentada aparição da gira , os corpos experimentam um transtorno,
mas mais do que isso, suas potências conströem a dança no encontro de um corpoespaço.
É nesse caminho que o pensamento corpo segue. Como fazer parte de um mesmo ambiente que
outros corpos e no mesmo dissociar-se, desmembrar-se identificando-se da e na multidão ?
O bailarino desloca-se no espaço como portador do ambiente que o circunda. Desloca o som e é
deslocado por ele, comportando no corpo a memória sonora impressa na subjetividade ao longo de sua
história. As próteses falantes são esse mecanismo do corpo evidenciado, como uma literalização dos sentidos,
um extrovertimento das memórias sensoriais.
A prótese se relaciona com o bailarino como o bailarino se relaciona com o ambiente, dança nele. O
corpo, então, não é mais ele mesmo , não se resume ao visível e palpável, não se delimita mais no próprio
contorno .
Em um mundo de exaltação e esgotamento informacional, os sentidos passam de instrumento de
re-conhecimento do próprio corpo no ambiente a um mecanismo estanque de identificações
pré-estabelecidas a estímulos absolutamente partiturizados. Deixamos morrer seu frescor de sensação
primeira , desapropriamos por completo a possibilidade de sentir em sua totalidade. O corpo carrega os
sentidos como apêndices de sua própria carne, amortece seus fluxos em uma tentativa de não mais responder
aos estímulos de um ambiente exaurido.
Projeções do porvir, nossas idéias diante do perceptível não se configuram mais como arquiteturas ou
estratégias nossas, mas como uma computação funcional constante do confluir com o mundo.
Se por um lado esse confluir libera o si como abertura de possibilidades em um ambiente de riqueza
informacional, este pensar e agir de acordo com o rebanho,
trama influências ao corpo, prendendo-o e isolando-o da
possibilidade de criar suas próprias nomenclaturas,
marginalizando seus desejos e emoções, coibindo sua
interação sensitiva com o mundo. Nos prendemos crendo
já saber a gama de possiblidades reativas possíveis dos
sentidos, nomeamos antes de termos sentido. Carregamos
no próprio corpo, próteses invisíveis, livros de receitas aos
sentidos e às interações com o mundo.
Nos apropriamos do pensamento alheio,
mimetizamos as ações que nos cruzam apenas sem nos
(re)configurarmos a todo momento a partir do encontro
com o outro.
Quando não roubamos mais nada do outro é
porque aquilo que ele nos apresenta já é parte de nós
mesmos, e a paleta interativa se mostra não mais que o
senso-comum. Troca e relação cedem a economia e
alienismo confluindo na inércia e amortecimento dos
sentidos, a pseudointeração individualizante do virtual.
Ressaltar estes transtornos entre corpos físicos e
abstratos que trespassam a subjetividade aproxima-nos do
som (a sensibilidade da duração de que dispomos, além das
memórias: imagens-tempos entrelaçadas a um espaço
eterno subtraído pelo foco). Um corpo enquanto ambiente
ou espaço de si mesmo reconfigura suas percepções no
confluir com outros sistemas. Criando um terceiro corpo
que não o próprio ou a prótese mas a imanência da relação,
aprofundamo-nos na pausa para as percepções primeiras,
um silenciar dos motores inertes e capturados nas reações
pré-estabelecidas pelo aparelho habitualizante. Re-vestir o
próprio corpo , reconhecer-se construído além do eu e
observar o outro que imageticamente pode se deflagrar em
uma mesma situação, mas que comporta em sua
experiência o absurdo da identidade no encontro mediado
pelo maquínico.
A relação meramente funcional entre homem e
máquina levada a seu extremo, um corpo que aciona a
prótese e é acionado por ela, exaure as possibilidades de
interação corporal e torna-o capturável pelas regras que
acompanham tais mecanismos, o kitsch .
III. Inconscientes harmônicos:
Os sons que nos precedem à existência e ainda estão por cessar são indissociáveis da nossa utopia
sentimental do silêncio: são a substância, a emoção de fundo, de nossas arbitrariedades harmônicas.
Através da musicæ , tentativa de apaziguar o tormento deste ouvir transconsciente à demasiado
complexa harmonia do mundo, reduz-se o foco auditivo a um espectro compreensível, e preferivelmente
confortável, das faculdades neuropsicológicas do ouvintecompositor. Esta relação ambígua da estética
enquanto a ordenação da complexidade , permite-nos tanto experimentar às transformações da audição
orbitando ao ideal simétrico sob a gravidade sensível-racional do corpo quanto encurralar no ângulo fechado
dos cantos entre melodia, cortimbre, ritmo e harmonia as infinitesimais arestas das freqüências de nossa
esférica escuta .
Deixamos que esta segunda imagem de harmonia reverberasse em todas nossas relações com o
musical dividindo os gestos de intuição-criação das de representação em palcos tridimensionais e
interpretação padronizada de instrumentos padrão, para encaixar o movimento no espaço, partituramos. Por
querermos controlar o belo e o sublime acabamos por destruí-los .
Sustentando este grande musical espetáculo da institucionalização da intuição, o som comprimido
em três dimensões serve de massa para as arquiteturizações pseudobarrocas de escadarias ascé(p)ticas de
compositores feitos ícones da seriedade sacra deste ofício. O músico reduzido a ator de música advoga seu
conhecimento da lei de seu instrumento masturbador, e virtuose que é, com o que resta do lúdico dado ao
erro, toreia o ruir sob o véu-técnica e este sistema especialista veste seu ídolo.
As disciplinas formais dos estilos, frente às quais se prostram estes tardios intérpretes copistas,
mascaram na logomítica marcha storia-scientia suas para-doxas religiosas de retroalimentação entre o
paraíso perdido da forma e a esperança no juízo final, confortando as estreitezas dimensionais de nosso
espectro de sensibilidade na linearidade do progresso, para enfim, na nostalgia do presente fazer da própria
existência ensaio de seu produto gregário, a obra . Reduzidas as músicas assim a A Música, objeto de
consumação: repetição dos resultados certeiros em lugar dos processos de devaneio através das
impossibilidades das certezas. Eficácia plena da gestão sócio-econômica do gozo fetichizado em um
refinamento cultural . A música tal qual o corpo, porém, é algo para muito além do prazer .
O que toca o humano ao tempo segue em cânone contra as barreiras culturais que almejam ao
estético estático. Entre ambos, fugas dos ouvires na contínua instabilidade do saber-poder, as ondas das
modas entrelaçam as harmonias das eras. O estudo harmônico para chegar aos axiomas da mathesis isolava a
música numa audição idealista. Relevando como ruído, a relação entre as incontáveis faculdades da ecologia
cognitiva de um ouvintecompositor, e ainda o vão-elo entre diversas subjetividades, estes inconscientes
harmônicos. As artes, estes organismos vivos evoluindo a uma velocidade estonteante entre nós, meros
hospedeiros , seguem porém se destruindo e unindo mutuamente em busca de uma harmonia
contemporânea .
A crítica à teoria das esferas através dos limites epistemológicos feita pelo sintetista logoi technai
deixa saltar aos ouvidos o religare entre crença e ciência no tetratkys . Nossas concepções harmônicas surgem
das consonâncias e dissonâncias para com os sons inconscientes, não o contrário, como se as estrelas
seguissem o princípio da humana música. Esta assunção verídica, porém, é senão uma arma numa velada
disputa entre dois métodos de cerceamento das possibilidades auditivas pelo controle na antropomorfose do
sonoro. Qual prisão seria a mais adequada para a intuição musical, o número ou a palavra? O cantochão
balbuciaria, os cantos gregorianos sussurrariam e a sinfonia em fortíssimo clarearia: ambos! O inegável
triunfo da ópera e da canção estão intimamente ligados à necessidade desta criação de uma audição dócil ,
conforme com a lei dos números, desta agricultura dos nômades sons, literaturização do gado ouvinte
humano . Neste sentido, o jazz foi de fato, como querem alguns , a continuação da música eruditista
européia, nela somando através da imagética de emancipação não mais que o cálculo rítmico enquanto
variável das sonatas modernistas.
O ideal da (de)composição moderna desemboca nas experiências limítrofes da dialestética sonora do
século XX iniciando a transmediação do texto e seu contexto na formação de texturas . Que sons queremos
que nos vistam? Como liberar as artes übermensch de nós? Passos primeiros duma nova estruturação das
sempre crescentes dimensões da existência humana, este eterno retorno ao equilíbrio entre o caos do ouvir ao
ruído-mundo e a necessidade da ordenação cristã dos rebanhos de mercados musicais, passam pela reinvenção
do músico de papel enquanto xamã do ritual-jogo do ócio, imanência do maestro , carcereiro panóptico e
metrônomo intensivo; em busca de um renascimento da música no espírito da filosofia trágica.
Dezessete Danças (Dos Sons e Das Escutas)
III IX
...música filarmônica de ruídos lívidos ...cópula do pânico e do fascínio
cacófato símile desérticos efêmeros vôo-mitos
cálice do incógnito tórridos, sórdidos
babélicas rápidas rítmicas síncopes impávidos e indômitos
hipnótica explícita cênica síndrome ,o último cântico onírico...
máximas mínimas da índole
,o último cântico onírico...
X
...bélicas falácias do sacrifício
IV frenéticas poéticas fanáticas
...ríspidas sátiras do fatídico anárquicos espíritos em errática
funâmbula ópera da impávida cólera tática hipnótica
antropofágica oligo - mantícoras
da nítida famélica diária órbita democrático - despóticas
,o último cântico onírico... ,o último cântico onírico...
V XI
...hipótese de êxito do êxodo olímpico ...mecânico melancólico rito
eclética catástrofe do xenofóbico solstício eclíptico da decadência
míseras mixórdias do mistério cíclicas sísmicas pendências
contágio do fenômeno pelo semiótico d’obediência à azáfama
magnética do sônico ao ótico anacrônica amiúde amnésia
,o último cântico onírico... ,o último cântico onírico...
VI
...pródigas líricas do empírico XII
catárticos tácitos solilóquios ...ápice ao átimo apocalíptico
lúgubre holística dos gnósticos símile genérico de tânatos
penínsulas do ilusório atônito sob o dionisíaco
calvário o dicotômico sob sândalos
,o último cântico onírico... ,o último cântico onírico...
XIII XIX
...mercadológica d’escolástica dos cínicos ...fétidos sádicos dígitos
catedrático acadêmico pântano lábaros e balaústres trêmulos
sorumbática trêfega úlcera labiríntica epopéia protética
lépido júbilo do látego férvido púlpito d’idéias
cândida câmara do cânon ,o último cântico onírico...
sanatório indissolúvel do sortilégio
quiçá o signo sócrates platônico XX
feito lânguidos dogmáticos ...sofística módica dos símbolos
adúlteros dialéticos sânscritos apofático método implícito
,o último cântico onírico... das metrópoles sem ágora
câncer cívico, o árbitro
XIV célebre artífice capitalístico
...estágio psicótico clínico ,o último cântico onírico...
narcótica acídula farsa sociológica
arquétipos somáticos XXI
o morfético espírito dum zóssima ... parênteses literários símios
acônito para cólicas no estômago alfarrábio cibernético
trâmite sôfrego da cédula antônimo sinônimo
cêntimo célebre célula grávida ignomínia midiática
cabalístico número, a réstia d’árvores da peitórica máquina hidráulica
,o último cântico onírico... pusilânimes sintomáticas máscaras
,o último cântico onírico...
XV
...semânticos pálidos vícios XXII
módulos genéticos cósmicos ...cânones cômicos do anímico
(in)consciências do catenoteísmo próteses éticas sob a estética
súbitas máculas caóticas código múltiplo em hermética
,o último cântico onírico... ,o último cântico onírico...
XVI XXIII
...tímida metafísica do delírio ...polígonos geométricos idílicos
fantasmagórico âmbito rótulos da mágoa a título
próximo dos hábitos dos ânimos da álgebra impossível do que é
âmbitos anônimos dos súditos altímetro da qué
,o último cântico onírico... d’ângulo d’angústia
do intrépido intérprete
XVII córtex explícito, líbero elíptico
...arrogância estúpida do indivíduo do inúmero inpragmaticável
profética gotícula no oceânico subtártaro idêntico ao vórtice sólido - líquido
mímica gráfica da música ,o último cântico onírico...
lâminas atômicas do ridículo
dicotômica dádiva do riso XXIV
,o último cântico onírico... ...patológico domínio do lingüístico
alegórico exílio necessário ao filosófico
XVIII cárcere jurídico - econômico - político
...epidêmica do bêbado apolíneo paraíso flácido do diário tóxico
adónis e suas ágatas só um préstimo florífero póstumo
acústicos díspares bólidos só um póstumo florífero préstimo
heréticos céticos proféticos só um préstimo póstumo florífero
do inócuo súbito sábato ,o últimonírico não cabe em canto algum
,o último cântico onírico... ...nihil nôumenom.
Música Cena Hora Estilo Técnica
Último Cântico Onírico (ou Tudo) O último sonho 04:45 Greco-romana Opera
Insônia (ou Sonâmbulos) Revirando na cama 04:59 Dark Cartoon Punk Rock
Indústria Cultural (ou Cultura
Vendo televisão 07:07 Pop Art Pop
Industrial)
Apenas Outra Tempestade (ou Samba de
O onibus lotado 07:32 Sinalização
Canto XII) roda
Carpe diem tempus fugit et
memento mori (ou Neurose do Trabalhando 08:02 Psicodélico Psicodélico
Paraíso Perdido)
Enquanto você dorme (ou Quem é Perdendo o
09:45 Grafitti Metal
que paga a conta) emprego
Ao telefone com
Diálogo (ou Solilóquios) 10:01 Colagem Colagem
ela
Enquanto você sonha (ou Quem é
Levando a bica 10:09 Desenho antigo Pagode
que paga as contas)
Fila de
Virtualma (ou Engrenagens) 11:00 Arte digital Techno
desempregados
Palavras Cruzadas (ou O Grande Num templo
12:31 Arte sacra Gregoriano
Inquisidor) qualquer
Monólogos (ou Elefante) A prefeitura 13:00 Fractal Contraponto
Gritos do Silêncio (ou tacit) A revolta 14:33 Expressionismo Dodecafonia
O boteco e a boca Arte
Os Outros(ou Abaixo de Tijuana) 15:27 Latino
de fumo latina(Cuba)
O Sonho Acabou (ou Nada) A sarjeta 16:29 Futurismo Fusion
Saudade O sol se pondo 17:57 Impressionismo Fado
Apenas Outros Sertões (ou Grande
As ruas lotadas 18:30 Cordel e egípcio Toada
São os Desertos e Tudo é Deserto)
Baile de Máscaras A falsa festa 20:13 Máscaras flúor Valsa
O Labirinto de Espelhos (ou Introibo O espelho ou a
23:03 Arte conceitual Cacofonia
Ad Altare Dei) navalha
Gestalt (ou A Metamorfose) As drogas 00:00 Surrealista Jazz Funk
Pathos Policárdico (ou Amores
A festa e a orgia 05:26 Pornográfica Eletro
Intransitivo plural)
Moda de
Acordes (ou Nova Manhã) O dia nascendo 07:49 Rascunho
viola
Rapsódia dominical (ou Eu Quero
O último parque 08:08 Álbum familiar Tarantela
Sims)
O Retorno É Terno Penélope (ou
Voltando para casa 08:09 Arte Hindú Minimalismo
Ourobouros Spiritus Mundi)
Dormindo para Carnavalesco Samba
Pi Ano(ou Tudo ou Nada) 12:00
sonhar dark enredo
Simbionirium
O neuropaganismo abriu as veias neurais, sangue elétrico. Quantas de qualias empreenderam a
quimística dos elixires sobre as jaulas líquidas, livros de ética atirados sobre as delegacias. Aevolução
tomou-nos pelas vísceras de nossa errologia dócio. Cada lutabor amargou o triunfo do fracasso no
fashionfascismo. Alternação alterlegislante, causa-perdição da victorstoria. Retrotorno no etante de
aidentidade (existentidade), singularidade contra-real em permavolução. Ditadura da arte, religião da ciência,
um último suspiro da academia e seus vermes enquanto se entulham os livros, abrem os códigos em licensas
poéticas de desatribuição, implantam os chips e queimam as últimas catracas, diplomas e currículos.
Autopotlach ad continfinituum...
"Quem expor suas feridas, será curado. Quem não, adoecerá." Christoff Schlingensief ouve Ai Weiwei
perdido na casa de Jonathan Meese.
Prática arquitetônica (acústica sonora): Planialtimetria (audiometria), programa (programação),
criação (transcriação), partido (orquestra), projeto (partitura), aprovação (crítica), executivo (soação),
cronograma (ensaios), construção (gravação), ação (performance), azimutes (tons), coordenadas (escalas),
cotas (arranjo), desejos (escutas), necessidades (ruídos), sensível (som), cognição (melodia), organograma
(harmonia), fluxograma (progressões harmônicas), orientação (leitmotiv), antropologia (musicologia),
percepção (audição), proporção (radiação e propagação), harmonia (estocástica), ritmo (pulso), função
(música), forma (transmetria), escala (ponto de escuta), desenho (paisagem sonora), aprovação (duração).
Náusea primeira: a espera (a pausa). Desenvolvimento (pesquisa), impressão (allure), cópias (fractais),
burocracias (métodos). Segunda náusea: as restrições (limites do audível). Alvarás (estilos) e etapas (modas).
Terceira náusea: a coreografia do possível (a dança sem coreografia). Maestria (aura), equipes (redes), previsão
(devir), duração (improviso), terceirização (samples e citações), limpeza (decupagem), canteiro (entrescuta),
gerenciamento (cibernética), ponto zero (silêncio), estacas (axiomas), infra-estruturas (harmonias
contextuais), estruturas (nanoharmonias espectrais), lajes (ressonâncias espectrais), vedação (reverberação).
Náusea quarta: o atraso (delay). Aberturas (barulhos inesperados), elétrica (estática), hidráulica (paixões
musicais), caixilharia (fonomia, o nome do som), piso (cultura aural do público), pintura (fonótica), louças
(modulações), metais (conexões com outros sons), acabamentos (libretos e videos), paisagens sociais (audível),
ocup.ação (bioeco em interferência).
“O sensível é um ovo. O chocamos ou dele nos alimentamos, Quando no limite, vida é energia.”
Aos burocratas da cultura, intelectuais da música e funcionários de museu,
Agora, já realizada a obra, enfim, posso revelar-lhes uma primeira superfície do que se trata OvO. Nós
queremos o silêncio, mas este insiste que berremos...
O Processo:
“Nossa intenção é afirmar esta vida, não trazê-la à ordem do caos nem tampouco sugerir melhorias na criação,
mas simplesmente despertar à vida mesma que estamos vivendo, o que é tão excelente uma vez que se consiga tirar
a mente e os desejos da frente do seu caminho e deixar ela agir por si só.” –
John Cage
No início de 2009, bailarinos me perguntaram quando, tendo trabalhado por mais de dez anos com
música e processos de educação de escutas com dançarinos clássicos e contemporâneos, eu comporia uma
peça de dança. Dias depois sonhei com William Blake dançando com Rimbaud sobre uma esfera (hoje eu diria
se tratar do Museu da República em Brasília) e despertei com a idéia da dança que gostaria de realizar, uma
história da iluminação contada pelos corpos de um casal de amantes na vida real (Daniel Fagundes e Julia
Rocha) fazendo os papéis de Som e Escuta.
Daí surgiu o impulso do projeto “Iluminações”, que foi enviado a pedido do Ibrasotope para sua
realização no festival
Conexões Sonoras. O projeto
consistia em um casal de
dançarinos dançando 46
minutos num ambiente hiper
iluminado refazendo em seus
corpos a história da relação
humana com a luz, a escuta
humana da luz. Se dividiria
em três atos: nus (com
referência às personagens dos
textos de iluminações de
Blake Inocência e
Experiência) contando desde
a escuridão até a invenção da
luz elétrica, com roupas que
refletissem cores
(caleidocorpos que remetem
às Iluminações de Rimbaud) contando a hiper iluminação contemporânea, e no breu da luz negra se
desnudam de novo (A luz dentro da luz da qual fala Niels Bohr) contando sobre a luz da escuridão.
Posteriormente, com a pré-produção do festival tendo decidido a escolha do MIS como espaço de
apresentação em detrimento do CCSP, os problemas começaram a aparecer. O espaço não dispunha de
iluminação teatral, o que inviabilizava o projeto “Iluminações” desde a base. Ao mesmo tempo, o
relacionamento do casal de dançarinos se desfazia. Decidi, utilizar-me de uma imagem alquímica suscitada
por Blake no terceiro livro iluminado (Urizen) onde um ovo era chocado de dentro do vulcão que caberia
perfeitamente com a sala oval do MIS que não estava sendo utilizada. Pré-agendei a utilização da mesma
com a produção do MIS (Bete).
Devido à mudança na direção do MIS e a interesses políticos desta transição, os espaços agendados
pelo festival Conexões Sonoras foram realocados para uma mostra de aniversário da Folha de São Paulo.
Realocação antiética que fora noticiada pelo próprio jornal como salvação de um museu abandonado ao
hermetismo tecnológico. De fato, o MIS havia passado seus últimos anos como centro de uma pequeno
grupo de artistas, fechado à atuação pública de diversos projetos de mérito inconteste que havia conhecido
em espaços fora do país. Não se questiona aqui a validade das obras previamente apresentadas no museu,
houveram também grandes apresentações e instalações.
A completar o quadro de dissolução do projeto “Iluminações” por hora, o casal se separava e eu
perdia meus bailarinos. Em paralelo a isto, o iluminador Paulo Fávero não havia me dado nenhum retorno
favorável ou não à sua participação, o que me levou a contatar o iluminador da ópera de Manaus com quem já
havia trabalhado Moiszes Vasconcelos. Paulo agora me ligava dizendo querer participar do projeto e eu tive
de dispensar Moiszes.
Com todos estes acontecimentos, decidi por manter somente o essencial da obra e mudar seu foco.
Mudei definitivamente o nome do projeto para OvO e decidi dividir o dinheiro dos dois bailarinos entre 7
performers de diversas áreas,
de maneira a ampliar minhas
‘conexões sonoras’. Passando
do âmbito do casal para o do
grupo, se mostrou inevitável,
que alguns aspectos da obra
fossem radicalizados. A
nudez se tornou aspecto de
toda a equipe e o tempo de
duração da obra seria
estendido a doze horas de
modo que trouxesse à tona
sutilezas da vivência acima
das questões propriamente
luminosas, que ficaram a
cargo da sonorização, num
estudo até, para uma possível
execução futura de
“Iluminações”. Da
representação bidimensional da história da iluminação passamos a uma vivência do silêncio que a iluminação
propõe à escuta.
As transformações do projeto não foram capricho ou falta de precisão na atuação, mas necessidades
impostas por problemas que transcendem o compositor. Não fossem realizadas estas mudanças a obra
morreria. A produção do festival e do museu foram notificadas das mudanças do projeto e não fizeram
nenhum tipo de crítica às mesmas, com exceção à nudez. Porém, como o projeto havia sido aprovado com a
nudez dos bailarinos pelo PROAC (talvez por falta de leitura do mesmo), tiveram de consentir.
Os encontros com a equipe geraram uma série de questionamentos sobre o papel desta intervenção e
as especificidades contextuais da obra OvO. O descaso com a arte, os problemas sociais, os deveres autorais e
o desvanecimento do ego do criador demandaram-nos um abandono de nossos desejos estéticos em prol de
um gesto coletivo simbólico dentro das instituições musicais e do museu. Textos e chamados para a tomada
pública do museu foram redigidos. Já não se tratava de uma obra minha, mas de um obrar coletivo de
abertura do campo da arte. Grandes artistas da dança, do teatro, da música, da poesia, da filosofia e tantas
outras áreas compareceram ao OvO, de modo a participar com suas delicadezas desta tomada pública de um
museu que seu próprio diretor havia dito se tratar de ‘abandonado’.
Um dia antes da apresentação uma trompa d'água trouxe uma estrela de anis à concha aural de minha
orelha enquanto meu corpo submergia na banheira da casa de uma amada, acordei com uma dor no ouvido
direito... O médico zen da Lapa disse que meu tímpano estava tåo inchado que parecia um coraçåo, me
receitou uma tríade de panacéias... E a fragilidade da escuta, o valor de sua delicadeza se apresentaram como
cerne da obra toda. Então pensei nas tantas escutas poéticas que não conseguem sair de suas dores e talvez o
músico, ouvido da raça, seja senão parteira de escutas num mundo sem aura.
Durante as montagens da instalação do OvO na sala do nicho onde fomos alocados, levamos comidas
e bebidas com apoio dos funcionários do museu e da produção do festival, que disse que talvez eu só teria de
tirar de meu pró-labore o valor do vinho posto que a prefeitura não aceitava tais como parte da produção. As
comidas poderiam ser debitadas da produção, posto que seria impossível um processo de doze horas sem
alimentar os participantes.
Os técnicos se prontificaram a seguir as regras da obra para auxiliar na montagem do som no espaço e
com tudo pronto, pudemos apagar as luzes gerais com duas horas de atraso. O processo seguiu sem problemas
até que uma reclamação de uma senhora que queria saber o que ocorria dentro do OvO, mas que se negava a
cumprir a nudez, foi registrada pela polícia sob alegações de ‘satanismo e orgia’. Que fique explícito que os
artistas de renome que convidamos a se manifestarem no OvO em momento nenhum atacaram as
propriedades do museu não destinadas à obra, cerca de 150 pessoas passaram pela obra e mais teriam ido se
não houvesse sido cortado no meio.
O museu agiu com intimidações pseudo legais de telefonemas de seu advogado sobre a produção do
festival, que conteve o processo de terror psicológico sobre os participantes do OvO. Obrigaram-me a assinar
um termo onde eu dizia que eles desconheciam o teor da obra, de fato desconheciam, porque não
acompanharam seu processo devido aos problemas políticos do museu e sua transição de direção. Três
reclamações técnicas foram alegadas para estas perseguições (posto que a nudez e o esoterismo inerentes à
obra não podiam): a comida (que propusemos pôr na rua, mas eles não aceitaram), velas e incensos acesos por
pessoas do público (que apagamos quando pedido) e vinho (que era bebido somente pela personagem da porta
que simbolizava Dionísio). Às 16 horas a policia autuou um grupo de visitantes por estarem vestidos de negro
carregando um frango depenado adentro do museu, sob alegação de desordem. Às 17 horas, o museu impediu
a entrada de público na obra. Diversas vezes os artistas foram interpelados de maneira grosseira pelos
funcionários do museu ao andarem pelas dependências do museu cantando ou sorrindo dizendo que ‘a
performance só podia acontecer dentro do OvO’. Aquilo que era um espaço de delicadeza, queriam converter
em uma prisão ou cativeiro e às 19 horas e 30 minutos, eu decidi por finalizar com o trabalho e aceitar a
censura imposta de maneira covarde sobre nós, de modo a evitar problemas para os organizadores do festival
ou para os participantes, que temiam a entrada da polícia no local.
Venho por meio deste demonstrar meu repúdio em relação à forma como a instituição artística, em
especial do Museu da Imagem e do Som, tem atuado sobre a arte e exigir um pedido de desculpas pública por
parte do museu para com todos os participantes-atuantes de OvO e demandar que isto nunca mais ocorra em
instituições públicas de arte.
Reflexões Anteriores à Obra:
“Disse o Céu: Eu abraço aquele trono que é Unu, e eu mantenho guarda sobre o Ovo de Nenek-ur.” –
Livro dos Mortos Egípcio.
Como se iniciam os processos musicais (escutas artísticas) nas pessoas e nas comunidades? Quais as
conexões sonoras que a música traz a uma comunidade aural, como se dá a composição de um escuta?
Cada gesto é um selo. Esses selos são combinados para fechar o ovo do céu, segundo os Dogon.
Quando a chave é ligada ao ovo, este é aberto. Este ovo é esvaziado, enchido com intensidades (energia, em
vez de ondas ou partículas, em termos da física). Nesse ovo havia os germes da nossa realidade objetiva, ainda
não percebidos, um reservatório de porvires. Quem veio primeiro, o evolucionismo ou a criação, o verbo ou a
luz, a dança ou a música? Como pensar uma escuta desde seu princípio (ab ovo)?
Em todos os níveis o ovo regenera, semente animal. Virginal, incorpora as qualidades de ovulação, o
poder de tornar-se desenvolvido durante a fecundação. Útero, caixa acústica ideal que preenchemos com o
ruído do rompimento que é nascer. Sal (matéria corpórea), mercúrio (som vibração) e enxofre (luz
transcendência enérgica) botado (não jogado, mas precisa e delicadamente colocado) no espaço tempo.
A intuição lógica, esta poesia da ciência ativando o canto silencioso da dança, sussurros de números
que se encontram na última dobra antes da superpopulação simbólica, um transbordamento andrógino do
que anima pelo indizível, um é muitos através da divisão sinérgica.
Depois de rachado o ovo, não há como rejuntá-lo na irreversibilidade do tempo espaço, mas novos
ovos podem ser gerados.
Metodologia:
“Se há um outro mundo, ele está aqui mesmo. Se há felicidade, ela parte desde aqui, desde agora.” Cântico Órfico
Existe um segredo pertencente à escuta? Seria a música a desvendá-lo? Como partilhar um modo de
escuta delicado em meio à incessante produção cultural de mais-música como mais-ruído? O problema
central da obra está exposto. A inteligência não pode ir além dele; ela percebe isso e volta-se para si mesma,
dobra-se sobre suas próprias forças, sobre suas próprias pretensões. Ela fixa seu fundamento. Ao se questionar
sobre o mistério, ela o faz impotente. Como estabelecer uma metodologia dinâmica e fluida apriori que não
formatasse ao pensamento a composição de uma escuta (e não de um objeto sonoro ou de uma trilha
musical)?
Metodologicamente, me nego à divulgação do conhecimento adquirido durante este processo para a
ciência sonora e musical. Posso somente indicar, novamente, que a pesquisa fotofônica e de retroacústica
aplicadas a campos muito amplos e diminutos (notadamente quânticos e estocásticos) dos qualias sonoras
geram estruturas hipertonais através de polimicrosintons.
Entrando numa espiral desde a entrada do museu, um labirinto na entrada do espaço dá vazão a uma
ante-sala negra de sacos de lixo que têm numa sala de restos de tecidos crus na vertical sobre um piso de feltro
amarelo que seriam jogados no lixo. Alguns tecidos cobrem a exposição de infográficos da Folha de São Paulo.
O OvO era um ouvido dentro do museu, um espelho oval, almofadas, aquecedores, cobertas, forno. A escuta
adivinha um labirinto na desordem, presume uma coincidência significativa no encontro fortuito. Pressente
o silêncio do instante. Entreouve alguma coisa que a ofuscaria. Muitos não passarão daqui.
Ora, é preciso coragem para cair no abismo que é o ouvido. Cedo ou tarde, cada um começa a
entender, mais ou menos bem, esse falar obscuro que murmura nas coisas, a ler aquela escrita secreta
espalhada desde os poros até as estrelas, a espuma do mar e o suor dos corpos, a pôr a mão no fogo flamejante
existente em nosso mais obscuro interior nos dizendo que tantas palavras só somaram no grande depósito de
lixo que somos. Atravessando este medo dos próprios defeitos, nosso lixo ao espelho; ultrapassando esta
escuridão de si podemos encontrar nossas delicadezas nuas. As distintas camadas gestam o espaço oval, que
distinto do si circular já apontam para a conexão com outras dimensões do encontro. Vivemos num campo
onde luzes e trevas duelam. As luzes ofuscam: nada se vê; as trevas confundem: nada se vê. Como enxergar?
Qual a razão dessas luzes? E essas sombras? Por que esse jogo de branco e preto? E de onde vem a felicidade de
reconhecer estas coisas? Os acontecimentos se sucedem em ciclones, os seres passam em rajadas.
Os Pactos:
“Não trabalhamos com o sistema operacional cultura, mas com código aberto.” – Filantropöv.
Dois pactos
fundam a escuta
proposta no OvO:
nudez e silêncio. Os
riscos de qualquer
pacto são imensos,
instauram um
esoterismo. E cada
um o pressente bem.
Vê-se as reações
exaltadas dos
adversários como dos
partidários. Ao
pronunciar a palavra
‘esoterismo’ todos
despertam. Alguns se
escandalizam, outros
se entusiasmam. O
esoterista vai ao
âmago do homem para se encontrar e reencontrar o mundo. Existe algo que entusiasme mais e mais gere
inveja nos que não participam do pacto? A escuta é um esoterismo, onde somente outras escutas íntimas são
aceitas. Na ciência pode haver controle do som, na religião (e a música é uma) é necessário crer, quanto à
escuta em seu mistério, ela ocorre ou não. A escuta não é uma questão de conhecimento ou de fé, ela age e
atua. Qual a necessidade destes pactos para a escuta destes sons internos ao OvO? Isto eu não posso dizer.
OvO é uma próera (ópera interventiva) que propõe uma modificação da questão “Qual o sentido da
arte, qual seu valor?” para “A arte tem algum sentido?” Isto é admitido aqui, rejeitado ali. A primeira questão
é, então, formulada da seguinte forma: pode-se falar de arte (da escuta)? Em outros termos, a noção de escuta
da arte é válida ou inaceitável? Trata-se de uma idéia, um conceito ou uma farsa? Trata-se de metafísica ou de
uma fábrica de mistificações? De que lado da filosofia ela se encontra?
A desconfiança do surdo em relação ao ouvinte é radical, se apóia na realidade de suas limitações. Não
se pergunta se a escuta (fragilidade da sensibilidade artística) é isso ou aquilo, mas se ela é ou não é, e caso seja
ela pode ser? Podemos classificá-la como alucinações e devaneios? A suspeita geral dos não-artistas adota
desde o início uma atitude feroz. Não se trata de adversários como nas guerras de ideologias políticas, mas de
exterminadores diante de culpados. A deliberação se transforma em acusação. Quando se fala com um
matemático, critica-se uma demonstração ou uma hipótese, jamais a matemática. Não se inicia uma troca de
opiniões políticas partindo do pressuposto de que seu interlocutor seja louco. Em teologia, cada um admite
que as crenças se opõem, que vão falar de demônios, do céu, de milagre. Em filosofia, as noções confusas são
acolhidas com benevolência. Na cultura artística, porém, não. Basta falar a palavra ‘arte’ e explodem os
escárnios (mesmo entre artistas): charlatanismo, alucinação, delírio, retroalimentação megalomaníaca do
gênio, pseudofilosofia estética. O que acontece com a arte então? Por que aqueles que a deveriam escutar se
recusam ao debate? O adversário da arte – e a maioria dos administradores de arte e curadores o são –
reflete-se indagando “Esta idéia é conveniente?” Ele adquiriu um universo de conhecimentos e de métodos
que atuam sobre a própria arte o tempo todo. O adversário da arte é contra o pacto sensorial público, porque
precisa manter as idéias de produtores e consumidores separadas de modo a manter a hierarquia entre
compositores e ouvintes. Parafraseando Einstein, assim como a religião é o antídoto a qualquer experiência
religiosa, o museu é o antídoto a qualquer experiência artística.
A Nudez:
“Uma música experimental, demanda uma vida experimental.” – John Cage.
Chegamos a um estado tal de inversão de valores sociais, que a vestimenta se tornou a regra e a nudez
um crime. O artifício tomou o lugar do natural, tal como a música suprimiu qualquer possibilidade de escuta.
A arte não trata de vestir, iludir, de consolar, mas de trabalhar, tocar no ponto essencial, penetrar o secreto de
cada um, se o secreto ainda existir. “O iluminado” – dizia Blake em uma de suas iluminuras – “que quebra o
pescoço tentando voar é mais nobre e mais fraternal do que o engenheiro que tenta provar que o homem
jamais voará.”
Dentro do OvO somos somente escutas, sem nomes, corpos ou rostos.
O Silêncio:
Silêncio do mundo, brutalidade dos homens, eis, sem dúvida, a experiência primeira que temos da
‘realidade’. Mas se a natureza silencia, sabemos que ela está lá, nas pedras, nas plantas, com suas chuvas, suas
auroras. Silêncio do mundo. Esse silêncio oprime nosso peito. A cor do fruto não diz ao nosso corpo faminto
se ele está ou não envenenado. As estações não nos ensinam a reencarnação das almas. Os pássaros cantam
sem transmitir nenhuma mensagem. O trabalho hexagonal das abelhas e suas danças heliocêntricas não nos
aconselham em nosso atuar social. Os planetas traçam desenhos sem falar de letras. Quem pode admitir,
entretanto, que a natureza se reduza a um amontoado de átomos em movimento, sem significado? Mesmo o
mundo não tendo nenhum sentido, o homem se coloca incessantemente diante desta questão, em silêncio.
Não terá este questionar sobre o sentido algum sentido?
OvO é um desejo de ir ao fundo da escuta que cada um tem do mundo em busca de seu sintom
(sintonia e sintoma de seu modo de afinação sonora, ruidística e musical) e de lá lançar-se para as
extremidades do audível através da acusfera. Indagar se os seres têm em si, e no todo, um sentido para enfim
enxergar a covardia das musicologias, a crueldade insana dos estilos até compreender, até se reconhecer, até
descobrir nos limites da maldade de cada doce canção, na brutalidade insana das possibilidades de soação,
outros modos de escuta. O vulcão é ouvido sob as cinzas. E para recusar esse silêncio do mundo, para
entender sua linguagem (esta música maior que a música), é necessário praticar o silêncio; e para recusar esta
violência da humanização plena de todo som é preciso praticar uma certa violência ruidística, resistir às
ideologias, frear o pensamento em proveito da meditação, opor à força o não-agir, ao saber o disparate, ao útil
o esplendor. O não-agir não é inação, mas contramovimento, equilíbrio sobre um ouvido só, o disparate não é
ignorância mas apreciar o essencial e negligenciar conscientemente o saber pelo saber da arte pela arte; o
esplendor não é belo, mas irradia de si mesmo, ‘vem de si mesmo’.
Se a escuta se separa ou opõe à cultura musical, de que modo ela se exprime, em segundo grau, como
poderá se exprimir? A escuta se revela por si mesma, não precisa de um psicanalista ou de um crítico. Possui
sua própria linguagem. Entretanto, quem fala em escuta fala em contrariedade com a arte. Uma supõe a
outra, ao menos em um sentido, o da escuta, porque a arte é livre para negar a escuta em nome de uma sã
racionalidade. De que maneira a escuta expressa para ser entendida pelos outros? Será que com a escuta? É
possível o estudo destas questões?
Encontramo-nos diante de uma estranha situação. Ao extremo, chocam-se dois mutismos: o do
ouvinte e o do aurólogo (estudante ou crítico das escutas). De um lado, o ouvinte se cala por respeito à regra
do arcano que quer ocultar aos de fora os segredos conhecidos por aqueles de dentro; de outro aquele que
estuda a escuta se cala para que não venham até ele para obter as informações, as chaves, os códigos. Essa
situação não tem nada de teórica ou caricatural. Ela ocorre freqüentemente e ressalta a diferença entre as duas
distintas posturas de soar: de dentro e de fora. Em outras palavras, pode-se conciliar segredo e revelação? De
que forma um discurso sobre a escuta não apaga, no curso de sua própria escrita, os sinais que pretende ler ou
escrever, como o arqueólogo que esmaga com seus sapatos justamente o objeto frágil que está à procura?
Sobre isto eu não posso falar. Ninguém sabe, é um mistério.
A Censura:
“É difícil encontrar leitura mais confusa e mais fastidiosa do que essas páginas repletas de elucubrações da
imaginação gnóstica e que pareceriam a um leitor superficial terem sido escritas com o propósito de divulgar uma
insanidade sistemática.” Papa Urbano III sobre Pístis Sófia
Outra questão prévia constatada positivamente na execução de OvO: a da contestação não mais
intelectual, mas física. Não mais a autoridade da arte ante os críticos, mas sua autorização junto aos políticos.
Aparentemente, a arte tem sido massacrada, amordaçada, difamada, ridicularizada, proscrita,
anatematizada, perseguida, insultada, martirizada, deformada. Sua história social se acompanha de
mutismos forçados, assim como seu desenvolvimento interior de silêncios consentidos. Constata-se uma
espécie de conflito essencial entre sua existência e sua condição, ainda que se fundamente não mais filosófica
mas socialmente. Se o racionalismo nega seu fundamento, isto é, sua razão, seu valor, até seu ser (teórico),
forças ameaçam sua fundação, isto é, sua organização, sua função, até mesmo sua existência (sensível
imanente). Mas que forças são essas e de que forma? Devemos nos conformar com esse fato?
Primeira disposição contra a arte: a repressão. Uma forma é a proibição, venha de onde vier. De
ordem intelectual (as censuras), de ordem física (os monopólios dos espaços de convívio social e as más
remunerações), de ordem social (a falta de uma legislação específica para o ato artístico), de ordem coletiva (as
dificuldades financeiras).
Segunda disposição contra a arte: a difamação. As medidas de vexação sucedem as medidas vexatórias.
Suas formas se denominam descrédito, calúnia, amálgama, marginalização, escárnio e desprezo. Age-se mais
sobre a afetividade e, em geral, essa maneira de abordar, de difamar a arte parece mais rápida e mais eficaz.
Mais rápida porque é veiculada pelas conversações, transmitida pelas revistas de arte, utilizada mesmo nos
espetáculos de entretenimento. Mais eficaz porque impregna toda a cultura, ela se contenta em sugerir, de tal
modo que se crê encontrar por si mesmo a inanidade da arte, e de que modo resistir a uma idéia que se pensa
tê-la formado pessoalmente? Sem levar em conta que é lisonjeiro fazer-se de superior a Beethoven, zombar
dos pitagóricos.
Terceira disposição contra a arte: a deturpação. Dessa vez a arte é desfeita, submetida à metamorfose
em entretenimento ou utilidade acadêmica e industrial. Na impossibilidade de abatê-la, pode-se desnaturá-la.
Há a falsificação acobertada pela compreensão. Pode-se assim interpretá-la, deformá-la, reconstruí-la,
modernizá-la, traduzi-la. Descarte-se todos os aspectos sagrados e secretos da arte e já não há mais porquê
negá-la, ou oprimi-la: não se fala mais na arte; o tratamento histórico ou técnico representa um modo de
falar da arte como se ela não fosse arte. No caso da redução de seus aspectos artísticos, a arte é reconduzida ao
entretenimento. No caso da recuperação, um fenômeno estritamente artístico termina por servir a
ideologias, a interesses que lhe são totalmente estranhos, até mesmo contrários. Basta evocar as artes
marciais como são atualmente conhecidas e praticadas, sem uma metafísica, sem prática meditativa, voltadas
para a eficácia imediata, para a rentabilidade, dirigidas pela concorrência e pela competição. Assim fizeram
C.G.Jung e os jungianos com a alquimia: a se acreditar neles teriam, enfim, decifrado o enigma, como se os
alquimistas ignorassem seus próprios símbolos!
No entanto pouco adianta ativar o debate apresentando artistas como vítimas. Quase sempre, a arte é
atingida de modo indireto. Condenam-se seus dogmas, seus ritos, suas produções não na sua estética mas
pelos seus efeitos sociais, sua incidência doutrinal, sua origem pagã, etc. O que se constata, com efeito? A
inquisição perseguia a heresia, a irreligião, a superstição, o erotismo... nunca a arte. A inquisição nunca acusa
a arte, até porque desconhece o que é a arte em seu interior, só a conhece por fora.
E o problema se ampliou. Não se trata de questionar como a sociedade vê a arte, mas de que modo a
arte se vê na sociedade. Os detentores do poder, do direito, do saber artístico podem proibir, desacreditar,
deturpar a arte, é bem verdade. Mas pouco sabem sobre a arte. É mais interessante considerar de que modo a
arte se situa antes de se considerar a maneira como a situam. Constata-se que o OvO toma lugar no museu
sem se definir a ele, no entanto. Não pode ser considerado uma ideologia. O OvO se situa no que diz respeito
a ele mesmo. Pretende-se uma tradição autônoma em relação a qualquer festival ou museu. Forma seus
próprios planos de referência. Em último recurso, o OvO depende dele mesmo apenas, senão ele desaparece,
modifica-se, ou não ressurge mais, morre.
OvO, pode-se dizer, é um fenômeno social sem ser um fenômeno cultural. Ele se situa no interior do
museu mas no exterior de suas instituições (Zoneamento de Temporação Autônoma), mesmo as mais
intelectuais ou espirituais. É irrefutável que tenha um aspecto social em vários níveis: jurídico, político,
poético... No entanto, causa espanto que não seja um fenômeno cultural. Por cultura entenda-se, do ponto de
vista do indivíduo, o conjunto de valores e conceitos, de comportamentos e de técnicas transmitidos por uma
sociedade; do ponto de vista do grupo, entende-se por cultura a totalidade das aquisições sociais em matéria
de regras de conduta, conhecimentos, métodos... OvO é demasiado estranho neste conjunto , sua censura o
comprova. Os mistérios de Elêusis (primeiros rituais musicais da Grécia antiga) eram controlados pelo estado
ateniense desde Sólon, portanto eminentemente sociais, não obstante se restringissem à esfera cultural na
medida em que exigiam o silêncio e a nudez de seus participantes, passavam por uma experiência ‘mística’ e
não diziam respeito à filosofia e à religião gregas a não ser acidentalmente.
Em primeiro lugar, quem diz cultura diz herança da civilização. Naturalmente, no OvO, há
transmissão de conhecimentos, técnicas, objetos. Mas como? De modo algum pela via cultural, isto é, pela
imitação e educação, de forma mais ou menos consciente. Todo ovo se vê original, natural, como um
ressurgimento constante e autêntico de aspectos sutis das escutas presentes, da entrescuta destas e sua
harmonia contextual composta. Não se trata de transmitir nem de inovar, como na cultura musical das
vanguardas, mas de reativar os sentidos das escutas.
Agradecimentos:
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois
desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” – João Guimarães Rosa
Com tudo isto dito e esclarecido às partes que apreciam explicações, gostaria de agradecer a todos os
envolvidos do evento OvO pela realização da obra e que tudo isto sirva de nutrição a nossas vidas e trabalhos,
que possamos amar mais e enfrentar com força e empenho de nossas escutas as injustiças que surgirem à
nossa frente.
Aos artistas envolvidos diretamente na produção do OvO, sem vocês eu seria só eu: Paulo Fávero
(Luxcolorama e as tabelas de correlação sinérgicas), Daniel Fagundes (dança explosão do desejo), Julia Rocha
(farinha, água, fermento), Juliana Dorneles (Baubo, Hotxuá), Pilantropov Filofenandes (mêtre fou), Kaloan
Menoschite (gesto silencioso por natureza), Caterina Renaux Hering (tecelã de delicadezas), Juliana Rinaldi
(generosidade do movimento), Priscila Blix (lab rindo), Eduzal Fernandes, Felipe Brait (estratégias de
atuação), Pedro Soler, Daniel Costa (pela noção de metafinação espectral e outras magias), Martin Herraiz,
Rafel Mendes, Danilo Barros (pode falar, sim, se precisar mesmo), Carlito Moreira, Tati Abitante, Danilo
Tanq Rosa Choq, às Ghawazee (me enterrem de pé e com uma maçã na boca), Submidialogia,
Metareciclagem, Orquestra Organismo, Movimento dos Sem-Satélites, Aldeias Pataxós, George Sander
(intensividade cognitivante, Carla Bispo (olhar delicioso sobre fotorama) e todos os presentes que tenha me
esquecido de lembrar enquanto escrevo .
A toda a produção e demais participantes do festival Conexões Sonoras: Mario Del Nunzio (o abraço
mais gostoso da eletroacústica), Natacha Mauer (precisão e gentileza), Henrique Iwao, Alexandre Fenerich,
Giuliano Obici (oráculo sonoro), Rodolfo Valente (carinho em conversas durante o processo todo), Luciana
Ohira, Sérgio Bonilha, Lilian Campesato (pela racionalização curatorial), Valério Fiel da Costa (você disse
que ia fazer e fez), J-P. Carón... A todos os que não entraram na obra, porque não puderam, não quiseram ou
precisaram. A todos os funcionários públicos do MIS, seja de qual hierarquia ou administração, pelo
cumprimento de suas funções em prol do público, e nada além disto.
"O sensível é um ovo. O chocamos ou dele nos alimentamos, Quando no limite, vida é energia.”
Félix Guattari.
Bioeco
2. Eco: “Há um trovão que antecede o raio.” A escuta do sondador. O Grito de Eco a Narciso. Apesar de a luz
ser mais veloz que o som em proporção astronômica, a percepção humana ocorre de maneira inversa e
percebe os sons como imediatos aos quais as imagens se seguem. "Ouvir propõe, Ver dispõe."
2.1. Ecoacústica..
§ Do som ambiente à sonosfera pelo urbanismo acústico dos nichos soantes.
§ Espectro livre
2.2. Ecofonia..
§ Antropofonia e Sociofonia na ressonância da entrescuta no audível.
§ Produção cultural de ambientes acústicos pseudo-naturais. Turismo musical e paisagem
sonora. Confinamento da escuta interna à muzak-jingle e da externa alienada aos seus ruídos.
Zooacústica e o confinamento segregário como modelo de controle do instinto auditivo.
2.3. Ecoruído..
§ Ressonância espectral e ruído criador.
§ Travessia aural de paisagens ruidísticas.
3. Bioeco: A composição de uma ressonância vital através do som. Peito a vapor. Primeiro ser vivo
eletromecânico...
3.1. Bioecoacústica..
§ Acusmática primordial do princípio vital.
§ Captação e captura. Panfônico, privacidade e controle aural.
• Metareciclando escutas. Gambiologia como base estrutural do steampunk.
3.2. Bioecofonia..
§ Maquineísmos e orgasmonismos.
3.3. Bioecoruído..
§ Aura, crença soante e resistência civil da escuta.
O texto explodiu pra fora do sistem... O material da música, assim como quer Bakhtin, não é o som, e sim o
efeito, a tensão volitiva do artista que molda esse material. a arte sonora coloca a sensação diretamente no
centro das afecções . O que resta da voz é um punhado de ressonâncias, que fazem parte do corpo acústico da
sala. A performance, como afirmação da vivência interpessoal, é a afirmação dessa passagem do material (que
vibra) para o imaterial que é vibrátil, que ressoa.
Arte terrestre-sonora (land-soundart) que mistura dois movimentos estéticos: um criado a partir da
situação de escuta, que exige participação – o caminhar pelo campo que realiza a mixagem –, e outro que é a
própria instalação em si – os alto-falantes pelo campo de escutas podem ser contemplados à distância.
Pintamos, esculpimos, compomos, escrevemos com sensações. As sensações, como perceptos, não
são percepções que remeteriam a um objeto (referência): se se assemelham a algo, é uma semelhança
produzida por seus próprios meios, e o sorriso sobre a tela é somente feito de cores, de traços, de sombra e de
luz. Se a semelhança pode impregnar a obra de arte, é porque a sensação só remete a seu material: ela é o
percepto ou o afecto do material mesmo, o sorriso de óleo, o gesto de terra cozida, o élan do metal, o
acocorado da pedra romana e o elevado da pedra gótica. O material é tão diverso em cada caso (o suporte da
tela, o agente do pincel, ou da brocha, a cor no tubo), que é difícil dizer onde começa e onde acaba a sensação,
de fato.
Infelizmente, ouvimos o ruído, já não podemos fazer como se só existíssemos nós e Deus no mundo;
lamentos, gritos, soluços, brados, encantamentos nos agridem muito antes de receberem sentido; temos,
pois, de compor música a cada instante para sobreviver […] Sem essa obra de fundo que contém o ruído de
fundo, nada se mantém unido, nem as coisas no mundo, nem as pessoas no coletivo, nem os sentidos, nem as
artes, nem as partes do corpo. A música vem da filosofia, ninguém pode se dedicar à segunda sem passar pela
primeira.
Como com a fotografia, a gravação sonora foi desenvolvida consistentemente em busca de um
refinamento da sua maior virtude perceptível: a habilidade em recriar, ainda mais precisamente, um evento
retirado do seu tempo e espaço original. As duas mídias foram criadas para preservar um efeito de
tempo-real, mas ambas foram manipuladas por artistas para criar realidades que só existem como
reprodução.
O que a arte permite perceber é a diferença existente entre um silêncio meaningless e outro silêncio –
um momento de quietude, como container. O silêncio que contém a potência de todas as sonoridades em si.
Silêncio pode ser algo que não representa uma negação de sentido ou de produção. A distinção entre ready
made e abandono.Vá lá e ouça. Ouça quando isso balança, ouça quando isso roda. Ouça quando você mexe
aqui. "Que terror invade a cabeça de Van Gogh, tomada num devir girassol?" Ouve a luz em seu corpo tinta.
O som é captado, gravado, ‘lido’, escutado. O que se passa? O que é que finalmente se escuta no lugar
daquilo que foi escutado diretamente? Minha morfomicrofonação (como dizia o Caesar) me torna este
monstro entre dançarino sem corpo e poeta sem palavras... Simetria é falta de informação que procria. “Sons
nãointencionais”, foundsounds & Acusmática: descobrir a potência do som que existe, não no seu instante
real e imediato, mas em sua separação de qualquer localidade... Mudando a produção de música do lado da
ação para o da audição, do all sounds a uma situação de always sounds. Radiação sonora … reflexão… difração
… ressonância … 78 ondas estacionárias … realimentação … batimentos … e fala: "Musa Civ Natura."
Conhecer-fazer em lugar de saber-poder. Ontogênese da autonomia aural, a complexificação causada
pelo ruído, e suas ressonâncias estocásticas cogniscíveis geram uma ampliação significante entre distintos
níveis e naturezas das sensações linguísticas. Por este tensionamento de um campo da escuta, a mesma pode
relaxar outras áreas de tensionamento sinestésico revelando outra faceta da aura {outraura} como ponte
entre ressonância vital e a geofania da músical.
Nutrição aural. Ruído como biodigestor da escuta, tal como a biologia é o estômago da linguagem.
Tumor e urbanismo, carbono e a complexificação além da organização entrópica gestando o câncer capital
em seu tumor habitacional da colméia que já não demanda o contato com a terra ou com o céu pelo encontro
subjetivo e midiatiático. Turismo no lixo cultural, ruídos nas trilhas abertas nos campos das escutas. Quais as
empedâncias de um saber na harmonia contextual?
Metaterapia da música, psicofonia. Entrescuta como inconsciente coletivo aural numa relação,
auto-inconsciência da escuta. Ressignificar todo o campo de escutas de uma festa com uma inserção precisa,
efeito coquetel molotov. Reciclagem e smaplerologia perpretam a produção cultural de lixo (físico e
subjetivo), mas como poderíamos um intracuidado soante e uma intersustentabilidade das escutas (incluindo
ressonâncias estocásticas quânticas de qualias. A lógica imposta ao instinto (zoológica), reduz o devir-animal
à territorialidade e encarcera os corpos aos ciclos fechados de vida. Transpolsão, pleroma de poema:
Um Outro Lado do Avesso
(Escuta e Memória, Som e Esquecimento)
Não me lembro mais o que me motivou a escrever no córrego, mas não me deixa esta sensação de que
devo finalizá-lo como rio. Prazer cruel guiava a escuta infantil, uma cova por afeto, enterrando água no fogo
para parir vento; marcava tais lutas (e lutos) de momentos em páginas com riscos de máquinas não
inventadas. Mais tarde viria a ateá-las todas ao éter. O olvido era ainda um abismo, sem as pontes nervais.
Das cinzas nasceram tais portos anteouvidos na abóbada da nave. Soou, mas disto quase nada saberá.
As ondas carregavam a pureza senoidal e a beleza (ruído estabilizado) sob chuva a tintinabular os
sinos d’água, esta carne da carne, sangrando o espaço em nuendos de tempos amparados no raio, trovão,
soslaio. A porta aberta os motores entrarem nos caldeirões ferventes deixava, onde bailavam os vegetais sem
parar nem suas cores. Mordias o plástico para ouvir com os dentes as moléculas e cantarolava as poeiras, ao ar
estáticas, no feixe de luz. As rodas, chaves e guizos, a profundeza da pele e seus avisos. O tronco retorcia com
o peso do teu corpo que subia. Da tua voz, porém, não me lembro mas a ouvia.
Me lembro de um tempo quando o som de automóveis ainda não era contínuo. Esquecimento,
interior do sol; num pequeno raio no vinho da mar dentre ao cristal, memória. A música é, faz a escuta
esquecer os sons e se entregar aos seus sonhos. Algo o fez querer ser um raio que antecedesse a trovão, ser rio,
só ar.
Vício ideal, rito metafísico do prazer e seu efêmero, musicar. Cerne da pirâmide viva, sensível
bálsamo da mais-valia espaço temporal (mais-escuta). Forjaria outro alforje, moldaria lemniscata outra,
mascararia ócio em tempo, campo de respiro em espaço acústico e toque em propagação social na rede afetiva
para conseguir ressonância aural nas entrescutas desta harmonia contextual, olvido. Anteporia iconoclasta a
área.
Vítima e réu querem esquecer, só o vector (réu inacusável por sua posição hierárquica disfarçada de
hino e essência) encontra na memorabilia musical produzida, o gozo da nostalgia daquela velha canção.
São ricos senhores de feudos cognitivos ouvindo teu jazz sem fumaça. Injeta a heroína no sangue do
pai. A nostalgia musical (como na meritocracia virtuosística) alicerça a escuta na música, como estrutura a
música no prazer da memória, ouroporos. A máquina riu das partituras e as vomitou de volta.
Anamnese da escuta musical, eixo da timbremelodificação, produz as misturas de tempos vários,
durações. Na melodia são estabelecidos os elos conscientes, mas há muito mais – dinâmicas espectrais, ritmos
subjacentes e auras e alhures do timbre. Qualia engendra uma temporalização específica, processo paradoxal
que combina persistência de recordações infralógicas com um apelo das antecipações de ritornelos (ritos de
ornamentos). Mudança, das qualias mesmas, que advém da escuta de uma frase musical no interior do ruído
infintenso destes campos ressonantes. Uns dançam para lembrar de esquecer, outros para esquecer de lembrar
e ouvir sempre como virgens. Lembrei o que me fez começar a escrever: “História, pudesse findá-la!” A
memória é um afeto do futuro, projeta o corpo como reflexão do devir pelo porvir, a atuar no sacrifício do
amor (memento) e na sedução da paixão (mori). Os cheiros cantam os ventos, como versos do alento da
presença ausente (mas próxima). Esquecer o nome de tudo, a diferença entre sonho e não-sonho.
Esquecimento-nirvana e Memória-satori. Deixar ruído escutar. Memorizar todos os tons da luz e esquecer
as palavras.
...{:}...
Só a panfagia nos cruza. Artística me ente. Capital mente. Lingüa estica e me enchente. Todas as leis
No mundo. Impressões sob máscaras de todos os autores(até Luther Blisset), de todos os colectivos(como a
da cantata de Johann Sebastian Mastropiero) subspensa palarva. De tonas as semióses. De tonas os tractatus
de lógica chacoalhando os plexos como Henry Bergson arrotando tempos com cerveja Miller. To pi, that's 4
sure Pyt. The unanswered question is which way on the ray, to the center of the light or the edge of sounds?
Como todas as caterpillars. E com Géia e sua diarréia. Contra todos os consumos porquê com todos os
sumos. Só interessa o que não ME interessa, seja em em ou noutreu. A pansexualidade de Sergei. As taras dos
roedores de unha e comedores de cabelos. São Ciscos entrando nos olhos fazendo-nos suar animais.Estamos
sobrexcitados pelos maridos de todas que amam nenhuma. Bloom think Freud as the gay friend of
Bettelheim(Babylon the Bride). O que atropela é a verdade que não vemos o rosto pois Ísis é véu. Não
confundamo-nos, o mensageiro é a mensagem. Por isto clama infindos pontos de perspectiva, para que se
atire nesses vazios e massageie o crânio geodésico da pulsão(tênue linha da sinóide expulsão~impulsão). A
ação como vestido humano(antropomodia), corporeidades em macrodesfilamento. O cinema americano
substituiu o horizonte Oeste quando o mundo acabou no Oceano Pacífico, o cinema europeu quer substituir
o olho imanente. A internet informará que não jaz na memória a arte, mas o medo da morte. Pais do só, mães
dos videntes. Perdidos e armados docemente, com saudade da hipocrisia, pelos sem grados, traficantes e pelos
mecenas(apostadores de commodities). O país grande, cobra. Foi porque estivemos na gramática tempo
demais(mesmo depois da linguística), com nossos jardins botânicos enciclopêuticos. E sempre soubemos
muito bem noo desenho do rio morto criando das cidades os feudos dos quais fugiam os impregnadores. Uma
subjetividade participativa iriam falar os bufos68, um timbre religioso para uma harmonia da fé no Cristo
americano multitudo souvenir. Como todos os exportadores de consciência em embalagens de folha de
bananeira ou caixinhas de bambú. Contra a usura de Raskolnikov! À existência vital do toque, mesmo no
corte. E a corporeidade pós-lógica pro Sr.Ibapuru Urutao. Todo francês é caraíba, os revolucionários estão
mais próximos a Anhagüerra(ou Aguirre). Chegamos ao homem e encontramos um tolete de bosta cega surda
e atuante. Sem nós, a Europa não teria sequer o tricô. A idade da música anunciada pela Tropicália já
passou(the age of music is fast). E Alice com as girls estão ou matando baratas ou escrevendo uns baratos ou
jogando baralho apostando não mais cabeças, mas troncos ecolunas. Não num clube que nos aceite. O
contrato com o Brasil é Bossa e futebol, nossa belíssima cara-de-pau. Nietszche usando bombachas enche a
cuia pra Decartes Leminksy Bashô já trelelé di hackear o catatau, à aurora aural dos rosacruz ao romantismo,
a aurora dourada, a aurora do martelo, à aurora tecnocrática e ao corpo osgônico de Reich e Agrippino. Nóis
trupica mai num bréca... Sempre fomos catequizados, os pajés abriam os olhos dos curumins de dentro pra
fora. Até a cor(u)já mod-ernst-ista tinha o vício pedagônico. As molas nos espectros os impelem a um
sonambulismo de direita. Watchout vanguard rolers, soon Kardec will pass you over at the aetherial
memoirés, isn't it Monsieur Proust? Fizemos a Bahia nascer no Cristo e empalidecemos o terreiro caiado.
Pois sempre há uma patho-lógica no nascimento das admições. Como o Padre de Andrade. Autor de
nossa primeira dívida com o banco de cultura, para ganhar um comissariado. O
presidente-analfabeto-funcional dissera-lhe: ponha isso no museu pra dentadura poder vender. Fez-se a
dívida terna. Gravou seu nome num grão de açúcar na praça da Re-púbica, chamamo-la pátria nula. Carlos
Gomes deixou o Guarany na Itália e trouxo os Lobos pras Villas. O espiritismo recusa-se a conceber a
metafísica sem o empirismo. A morfoantropia, nada impele um homem à auto-comiseração mais que uma
idéia revolucionária(Che Disney). A vacina de uma geração é a doença da outra(a fórmula mágica da Coca e da
Cola). Para o desequilíbrio contra as religiões de curadoria. E as exquisições interiores, não seremos incluídos
pela exclusão de novo. Só, não queremos atender ao mundo de modo celular. Buscamos uma atenção
auracular. Tínhamos a corrupção, inflação da vingança. A poesia codificação das ciências. Comíamos poeria
pra cagar estrelas, bebíamos gasolina pra vomitar asfalto. O totem horizontal da transformação é nosso
desejo. Fadados a fingir. Tudo o que está imóvel deve ser digerido para mover-se de novo. O pensamento
dinâmico do que é stopo. O sistema vítima do indivíduo. Clássica injustiças das fontes. Romance e seus
desajustes. E o interior das conquistas do esquecimento.
Sorrateiros... rota otar tora ator rato taro
O instinto cabaíla. Morte e vida dos hospedeiros da equação. Eu parte o Cosmo no axioma.
Subinsistência. Cognosemento. Cheirar pele pra lacrimejar flores. Como as elites minerais que chupam o
chão nosso. Em territorialização do silíncio e da comunicação. Sempre fomos carnavais canibais
sacro-profanos. O império Azteca vestido de 500 anos como Cabra L. Ou figurando no neo-foclorismo,
cheio de raízes sobre a terra. Como raízes como frutos.Já comungamos ao som do hino comunista. Já
devoramos a língua de Cocteau. Era do som.
Catiti, Catiti
escarra nesta boca que te beija
Hécate! Iód Rà she in Váu Ri
Ama Gia e há vida. O mistério é como sair agora caídos na subida infinda de Sísifo(O Serra Pelado) de
volta ao distríbuto da ceifa com apenas alguns cânticos entoados pelo corpo.Disse a uma mulher o que
acreditava ser uma Dieta. Ela me perguntou que era uma possibilidade de exercício? Ela chamava-se Teresa
Purpurina do Amaral. Comia.Só há mistério onde há também um determinismo lactante. Mas que tem isso
em nós?Como os mitos históricos que começam no fim da história (a moda mora na poda da roda). A data
não localizável. Rubro. Sem Tupã sem Celtas.O progresso das fixações teleológicas pela catalogação(matriz
deleuziana). Só, a aparelhagem. E o sangue plástico das emodiálises.Como a sublimação, as antagonias das
caras como velas tragadas pelo fogo.Com os povos, sempre uma verdade. Como ambos numa missão de
té-dio. Definidos pela sagacidade de um poeta, o André Gidé: -Eu sei, tudo isto já foi dito antes... mas como
ninguém lembra é forçoso repetir à exaustão.Mas se não foram só traficantes, vagabundos e rejeitados que
vieram. Foram fugitivos de si mesmos que se comiam nas plantas de poder, porque somos fortes de
fragilidades e compassivos, como uma rosa e uma cruz.Se o Diabo é a subconsciência do estar-no-Universo
Incriado, Dercy interpreta Guaracy num Carlos Gomes. Cocaí é a avó dos vegetais.Especulamos a
adivinhação até a distribuirmos pelas ciências políticas globais as migrações dos gênios por toda a espécie.O
tédio dos estados fugitivos. Como a urbanização, a arquitetura das enfermidades. Como os conservatórios, a
especulação do tédio inevitável de todo berro.De Henry James a Grudjeff. O totem diagonal do tabu
transfigurado em noite. Comemos uns aos outros, mas somos menos que peido.A mater comuna e a seriema
do ethos andrógino: Realidade das coisas que nos ignoram - imaginação de canto - autorização do sentimento
ante as proles de curiosidades.É gostoso chegar a uma superfície de gnose onde Deus se apresenta em nada...
como iluminação, sem idéia ou ideal. Mas o cotoxó precisava, por isto desconhecia que queria. Porque tinha a
mãe dos Gracos presa em seu cú sem saber que ela é que lhe favala de limpear o traseiro da mátria.A
subjetividade produzida rege a queda dos anjos. De vaga, Musea. Que disso nós?Antes dos brasileiros
descobrirem Portugal, Portugal tinha coberto o fado.Com o índio, um tocheiro. A Maria filha de índios,
afilhada de Hipócrates e Philo de Alexandria e nora de Simão Magus.
O nove(IX ) é a prova da alegria.
Do filiarcado na Pindaíba.
O sexo(II) entre o que se faz chama Compositor(IV) e a Composição(III) - Musicada pela efêmera
sincope do além-humano e o seu desejo. A paixão intempestiva e a capitalização de todos os modus vivendi.
Injetar moedas pra encher o saco de viagens na bolsa. Absorto nos amigos profanos. Para horizontalizá-los
em transmorphopoiésis. A(des)ventura do barro moldado pelo fogo na chuva e no vento. A terrena
trasitoriedade. E também, só as mais impuras hordas conseguiram realizar a panfagia espiritual, que afasta de
nós todos os sentidos da vida e abarca todos os males e bens identificados por Krishna. O que se dá é sempre o
que se come, a sexualização sublime. É comer o celibato enfiando o barômetro na bucetapau do andrógino.
De espiritual, ele se torna eleito e cria inimizades. Afetante, o ardor. Especulante, a gnose. Via-se e fere-se.
Aviltamos a chegada. A alta antropomagia na beatitude das liturgias todas - a veja, a usa, a lúnia, o assinato.
Benção dos chamados cultos populares e crísticos, é com elas que agimos. De Andrade's estarão sempre
unidos na eternidade. Masturbaína.Com Bandeirantes cantando as onze milhões de pessoas na praia grande,
ao redor da estátua de Iemanjá, - a mãe de santo pula 8 ondas e 17 conchas.A nossa interdependência já foi
clamada. Frase típica de político da Ditadura após o fim(sic) da mesma: - Estupra mas não mata que eu
também quero me divertir! Expulsamos os milicos. É preciso expulsar o espírito populista, as ordenhações
dos artistas e o lobby dos ecólatras.Com a sociedade híperrealista, nua frente às câmeras com seus oprimidos
de bolso, castrada por Mcluhan e Bauman - a surrealidade sem simplexos, louca e rouca, prostitutas bonitas
pra namorar Bandeira e Cioran e claustros só para os heremitas alegres do filiarcado na Pindaíba.
f? de andrade
em Pompéia Ano 80 do Vômito do cancro.
Poluição Musical Marítma
Gravar produtos de plástico vendidos em camelôs. Carlos Oswald e Niemeyer fazem uma imagem de
Iemanjá com todo o plástico que forma o vórtex de lixo no oceano pacífico em escala de 1,2x1 e dispem-na no
morro do Corcovado atrás do Cristo Redentor no Rio de Janeiro imaginário da escuta de Verger e Caribé. Os
Modernistas Pontos de Exú devem ser marcados nas catracas que dão acesso às escadas rolantes. Uma
kitschfonia (opereta giocosa segundo Amadeus) onde o gesto (Berio) de formulação plástica da obra (o fogo
afinando as cordas segundo Smeták) de arte sonora é deslindada em sete planos(Branca) de movimentos
descendentes [ holístico, monódico, átmico, piritual, mental, astral & físico ] em direção ao cerne da
Comédia. Assim como Dante(Palestrina Sepultura) fora acompanhado por Virgílio, seremos nós sob o nome
fictício acompanhados por Stockhausen(Flo Menezes), incorporado desde a estrela Sirius na figura de
Miguel Cão Exu das Resinas, para fazer esta travessia além do bem e do mal no divertido universo da música.
Durabilidade, estabilidade e resistência à desintegração são as propriedades que fazem do plástico(e da
música) um dos produtos com maiores aplicações e utilidades ao consumidor final(ouvinte hedonista). São
produzidos anualmente cerca de 100 milhões de toneladas de plástico(canções de amor A B A B A C D A B D
D) e cerca de 10% deste total acabam nos oceanos(no ruído), sendo que 80% desta fração vem de terra
firme(do mercado cultural).
Vórtex(entitade bailante) . No oceano pacífico(no ruído delicado) há uma enorme camada flutuante
de plástico(estruturações dinâmicas dos modos de escuta "fake"), que já é considerada a maior concentração
de lixo do mundo(a radiodifusão, a teledifusão, a digitodifusão), com cerca de 1000 km de extensão(vide
google), vai da costa da Califórnia(do vale do Silíncio), atravessa o Havaí(onde gravam Lost) e chega a meio
caminho do Japão(vide Paprika) e atinge uma profundidade de mais ou menos 10 metros . Acredita-se que
haja neste Vórtex de lixo cerca de 100 milhões de toneladas de plásticos de todos os tipos(a tipologia
classicizante do 2.0). Pedaços de redes( jingles antigos),garrafas(poesias sonoras), tampas,bolas(planimetria
akrónica) ,bonecas(espectrosoperísticos), patos de borracha(preservativos aurais), tênis, isqueiros(rituais
musicantes), sacolas plásticas, caiaques, malas(pop) e todo exemplar possível de ser feito com
plástico(sonoplastia). Segundo seus descobridores, a mancha de lixo, ou sopa plástica tem quase duas vezes o
tamanho dos Estados Unidos(MTV).
Pesquisa-se esta mancha há 15 anos e compara-se este Vórtex a uma entidade viva, um grande animal
se movimentando livremente pelo pacifico(biofonia). E quando passa perto do continente, tem-se praias
cobertas de lixo plástico de ponta a ponta(vide carnaval).
A bolha plástica(escuta hedonista ou musical) atualmente está em duas grandes áreas ligadas por uma
parte estreita(ruído urbano). Referem-se a elas como bolha oriental(misticismo cageano) e bolha
ocidental(maximalismo stockhausênico). Um marinheiro que navegou pela área no final dos anos 90(f?) disse
que ficou atordoado com a visão do oceano de lixo plástico a sua frente. 'Como foi possível fazermos isso?' -
'Naveguei por mais de uma semana sobre todo esse lixo e nele me banhei'.
Pesquisadores alertam para o fato de que toda peça plástica(sample) que foi manufaturada desde que
descobrimos este material, e que não foram recicladas, ainda estão em algum lugar. E ainda há o problema das
partículas decompostas deste plástico(releituras). Segundo dados puros, em algumas áreas do oceano podem
se encontrar uma concentração de polímeros(harmônias) de até seis vezes mais do que o fitoplâncton(tríade),
base da cadeia alimentar marinha(melodia).
Todas a peças plásticas acima foram tiradas do estômago desta ave(como um canto do catalogue de
Oisseaux de Messiaen)
Segundo PNUMA(R.Murray Schaffer), o programa das nações unidas para o meio ambiente(os
higienistas do mundo sem ruído), este plástico é responsável pela morte de mais de um milhão de aves
marinhas(o canto das aves imitam os motores) todos os anos. Sem contar toda a outra fauna(subjetiva) que
vive nesta área, como tartarugas marinhas(carapaças geométricas), tubarões(dentes dos nervos auriculares), e
centenas de espécies de peixes(senhores do labirinto antes de sua cristalização plástica).
Essa deliciosa sopa plásticapode funcionar como uma esponja(aparelho de captura sinestésica), que
concentraria todo tipo de poluentes persistentes(guerrilha semiótica), ou seja, qualquer animal que se
alimentar nestas regiões estará ingerindo altos índices de venenos(propaganda ideológica), que podem ser
introduzidos, através da pesca(composição), na cadeia alimentar humana, fechando-se o ciclo, na mais pura
verdade de que o que fazemos à terra(à harmonia contextual) retorna à nós, seres
humanos(ouvintescompositores).
Seduções da Escuta
I.Musicaridade
“A música não funciona. Quantas canções de amor há e ainda não nos amamos?” John Lennon
1.1. Introdução à inefabilidade aural (Heráclito e o ruído do rio de fogo), incognosciência sonora
(Bachelard, o som e os sonhos, e a fenomenologia do efêmero) e irrepresentabilidade musical (a Jaula de Cage
no confissionário de Foucault).
1.2. Sedução e escuta (teleologia do gemido comparada à do gozo). Qual o som do sangue? A arte de
merda e o coração de ouro.
"Music is not a language. Any musical piece is akin to a boulder with complex forms, with striations and
engraved designs atop and within, which men can decipher in a thousand different ways without ever finding
the right answer or the best one. By virtue of this multiple exegesis, music evokes all manners of
phantasmagoria, as would a catalyzing crystal. - Iannis Xenakis
1.3. Três profundidades da pele do som (som-ruído-epiderme, música-derme,
som-silêncio-hipoderme). Três modos de amar sonoro: caridade (ágape-iemanjá), amizade (filia-iansã),
erotismo (eros-oxum).
1.4. Caridade como pressuposto da estética sonora (Caritas, ama de leite das musas). O anseio pela
beleza (criado por esta mesma) e da arte como consolo metafísico (variações do Zoroastro persa sobre o
Nietzsche compositor de liedez passando pelo Zaratustra cristão de Strauss, e Javé).
1.5. De como a beleza formal (Berio e o gesto musical nos escombros da Broadway) se recolheu ao
silêncio dos ruídos (Debussy e A Mar, Satie com as mobílias) devido à mercantilização da caridade (Smeták,
heremita no instrumento) levando-nos a uma proliferação da escuta plástica (pop, monotonia, emo e rótulos
do desamor moderno-romântico em Bowie e Veloso) na harmonia contextual (Schaffer e as relações entre
ecologia e economia) da atual acusfera (ciberfonia, capital é desafeto) transpassando os processos de sedução
por dança melódica (Amadeus irônico, Bach crente, Berlioz erotômano, Chopin sombrio, Lizst sarcástico)
na hierarquia da altura (Catherine Clemént na ópera com Freddie Mercury assistindo à derrota do feminino).
1.6. Resistência (musicoterapia e cancioneiro de auto-ajuda) e insistência (Coltrane e o Salmo ao
Amor Supremo) na caridade de escuta (Keulheutter e Andrômeda, Stockhausen e Sirius) e composição
geométrica dos fractais sentimentais-lógicos (Kepler, astronomologia e o compositor como composição) da
música.
“E não seria o dever a forma altruísta do amor?” Jean Paul Sartre em “A Imaginação”
"Sem o imperialismo do conceito, a música teria substituído a filosofia: s
eria então o paraíso da evidência inexprimivel, uma epidemia de éxtases" Emil Cioran
II.Filosonia
“Quanto maior o rio, menos ruído ele faz.” Provérbio Tupy
2.1 Introdução à impregnação (Novalis e a luz se decompondo em algo mais que cores e o artista
como sistema nervoso da natureza) por contágio aural (Diamanda Galas e o estupro de Adonis).
2.2 Harmonia entrópica ( Jung e a ausência de foco entropológico do silêncio imanente) dos afetos
(Aristóteles e as amizades como fim da Metafísica, políticas do corpo aural).
2.3 Ruído (“Fedor nos ouvidos. Música não-domesticada. Principal produto e testemunho
comprovatório da civilização” segundo Ambrose Bierce) e desperdício (Mark Twain e a galinha que gemia
como se botasse asteróides).
2.4 Inutilidade (Domenico DeMasi e Roussel tirando um cochilo na rede) como pressuposto tanto
da amizade (Cage e a gagueira de Buckminster Füller) como da composição de uma escuta (Arcano VI da
periferia orelha ao cerne do tímpano onde jaz o tambor do julgamento dos ritmos de encontro).
2.5 Melodia de timbres como fluxo do menor atrito (sintonia e sincronia) por entre as redes da
ruidocracia (Heidegger e a computação como fim da lógica ocidental).
2.6 Audioadicção (Burroughs e as duas abstinências, Cioran e o tédio) dos afetos (Crowley disse
“Bruxos[amigos] do mundo, uni-vos” enquanto Piva pixava nos poliedros “Xamãs[amigos] no mundo,
espalhemo-nos”) e capitalismo subjetivo do aparelhamento das redes (“pirate ships in the chips animals
territories”).
“So don't fear if you hear, A foreign sound to your ear, It's alright, Ma, I'm only sighing.” Bob Dylan
III.Erotonia Tácita
“Prometeu é antes um amante vigoroso a um inteligente filósofo.” Mircea Eliade
3.1. Introdução ao erotismo do tom silencioso (drone, monoatonia e o mantra do ruído).
Metamorphopoiése e o intrincar entre processo e produto (Arcano III do contraste ao envelope), o
palestrante não falará mais, mas apenas incitará os presentes à ação.
3.2. Práticas acústicas (foco auditivo, morfomicrofonação, dançaural).
3.3. Práticas acusmáticas (rugosidade, fluência e corte-ex em edição sonora).
3.4.Práticas harmônicas de acústica contextual (fonosmose, equalização, regência de objetos sonoros).
3.5. Práticas aurais (metaescuta, retroescuta, dançaural).
3.6. Práticas radiais (projeção, difusão, radiação, emanação).
“Através da obediência ativa [ao desejo], a audição torna-se sensível e clara.” Hexagrama Ting do IChing
Duvide
...duvide.deste.texo.e.todos.os.outros.que.vierem.a.te.entregar(serão.muitos.e.todos.querem.algo
)...duvide.de.qualquer.coisa.ou.pessoa.que.se.diga.imparcial...duvide.dos.professores.e.mestres.do
s.quais.não.gostar,mas.principalmente.daqueles.com.os.quais.encontrar.alguma.afinidade...duvi
de.dos.livros:clássicos,dos.últimos.lançamentos,dos.ditos.com.temporâneos,autênticos,originai
s,modernos,libertários,marginais,catedráticos...duvide.dos.rótulos...duvide.dos.métodos,sejam.e
les.racionais,empíricos,trancendentais,formais,passionais,corporais,experimentais.e.até.mesmo
.inexistentes...duvide.da.fé,mas.isto.ainda.é.ter.fé.na.dúvida...dos.que.só.rezam.e.dos.céticos...duv
ide.dos.limites,os.que.você.se.impõe,os.que.lhe.são.impostos.e.os.que.você.impõe.aos.outros...du
vide.dos.grupos,principalmente.os.com.pretensões.políticas(unanimidade.é.quase.sempre.estúpi
da.e.sempre.uma.mentira)...duvide.dos.políticos(e.saiba.que.você.também.o.é)...duvide.dos.altruí
stas.de.toda.laia,sempre.querendo.impor.aos.outros.o.que.é.bom.para.si...duvide.da.ajuda,princip
almente.da.autoajuda...duvide.da.piedade,esta.crueldade.mascarada...de.frases.conclusivas(como.
todas.nesta.folha).e.preste.atenção.especial.a.palavras.como.sempre,todos,nunca,sim,não,claro,
óbvio...duvide.de.quem.fala.em(e.ou).por.nós...duvide.das.aparências,sejam.elas.quais.forem...do.
que.quer.que.queiram.passar.por.essência...das.primeiras.e.segundas.impressões(que.sempre.resg
uardam.intenções)...duvide.dos.avanços.tecnológicos,da.grana,das.dívidas,do.consumo...das.solu
ções,mais.cuidadosamente.ainda.das.que.se.mostram.fáceis...duvide.das.instituições,entre.as.qua
is.ressalto.pátria,família,empresa;que.a.única.ordem.é.o.caos.e.o.humano.somos.um.bicho.vicia
do.em.poder...das.regras,que.o.jogo.é.de.quem.o.joga;jogue!,duvide.de.quem.diz.que.não.o.faz...d
as.posições.definidas(e.definitivas).dos.estereótipos...duvide.da.lógica...duvide.de.quem.não.tem.
opinião.e.de.quem.tiver.uma.inflexível...das.leis,sociais,morais.e.físicas...duvide.de.quem.finge(p
ara.os.outros.ou.para.si.mesmo)não.usar.drogas...de.quem.não.ri.ou.ri.demais...duvide.da.históri
a,conto.da.carochinha;com.isto.duvide.também.das.biografias(incluindo.a.sua)...duvide.dos.mit
os.e.ritos...duvide.das.metáforas,silepses,metonímias.e.paranomásias...duvide.do.bom.gosto.co
mo.do.desgosto...duvide.com.razão.dos.sentidos.e.com.sentido.das.razões...duvide.de.quem.não.
te.olha.nos.olhos.quando.fala.e.de.quem.olha.também...duvide.da.paranóia...do.medo,da.esperan
ça,da.dor,da.alegria...duvide.da(in)felicidade...duvide.dos.homens,mais.ainda.dos.bons.moços.e.d
as.mulheres,principalmente.se.se.disserem.virgem...duvide.de.qualquer.cura,estamos.todos.mor
rendo.e.isto.é.o.único.fato...duvide.da.morte.se.quiser,de.qualquer.forma.ela.virá...duvide.de.que
m.não.pratica.o.que.prega...palavras.sussurram,.gestos.berram...duvide.de.ambos...duvide.da.lou
cura.dos.normais.e.da.normalidade.dos.loucos...duvide.de.todos.os.padrões.e.patrões...duvide.das
.vozes.autorizadas...de.todo.poder(incluindo.os.seus)...da.boa.vontade...dos.beijos,dos.abraços,do
s.olhares...e.se.encontrar.alguém.em.quem.queira.confiar,duvide.del’.sem.rancor.ou.cobranças...
duvide.da.sexualidade:bi,hetero.ou.homo,que.quem.é.alguma.coisa.perde.a.delícia.de.todas.as.ou
tras...duvide.do.amor,mas.ame...da.opção.ou.falta.de...e.da.liberdade,é.possível.se.viver.preso.a.el
a...e.dos.ignorantes,que.ignoram.o.que.querem.e.dos.inteligentes.que.interligam.o.que.querem.t
ambém...duvide.da.inocência...de.quem.não.se.leva.a.sério.ou.se.leva.demais...das.conversas.de.bo
teco.como.das.aulas...dos.amigos.como.dos.inimigos...de.seus.sonhos,estes.paraísos.perdidos...do
.presente,passado.e.futuro...dos.conceitos,tentativas.de.congelar.o.rio.do.e.terno.devir...duvide.d
o.que.você.quer...das.vã.guardas.artísticas...duvide.da.arte...das.sociedades,mesmo.que.não.haja.c
omo.não.ser.parte.duma...de.toda.moda(prática.de.rebanho)...duvide.de.ídolos,deuses.e.dogmas..
.a.dúvida.é.o.cerne.de.toda.conspiração;duvide.das.conspirações...duvide.de.quem.representa.um
.só.papel.ou.se.diz.fora.do.palco...de.quem.só.duvida.como.de.quem.não.o.faz...mas.antes.de.tud
o,duvide.de.si.mesmo...isto.tudo.é.só.uma(a.minha)opinião... alguma.dúvida?
FRNZKFK080908
1.PAUTA:
“Toda a educação assenta nestes dois princípios: primeiro repelir o assalto fogoso das crianças ignorantes à verdade
e depois iniciar as crianças humilhadas na mentira, de modo insensível e progressivo”
1.1.A viabilização da gravação digital do material necessário para a apresentação de uma videópera
binaural para o Festival Tsonami [http://www.tsonami.cl].
1.2.A produção desta ATA, servirá de Programa da Performance Multimídia.
1.3.FRNZKFK Vendo chover em Macondo.pdf
3.DO PROCESSO:
“Existe uma meta, mas não caminho; o que chamamos caminho não passa de hesitação.”
3.1.Nomes Possíveis: “Das Näch Ohr”(A Orelha Noturna) ou “Café Ka”.
3.2.Data de Gravação: Sexta-feira, 03 de Outubro de 2008 a partir das 18h07min. “O tempo é teu
capital; tens de o saber utilizar. Perder tempo é estragar a vida.”
3.3.Da Gravação: “Talvez haja apenas um pecado capital: a impaciência. Devido à impaciência, fomos
expulsos do paraíso e por ela não podemos voltar.” São três(3) movimentos interativos iterativos:
I)Um primeiro tateando as intuições do espaço de cada um. "Quem possui a faculdade de ver
a beleza, não envelhece." Em cortes secos e curtos sempre em silêncio para a concentração da equipe,
bem como para a captação dos microrruídos do espaço. “Um homem de ação forçado a um estado de
pensamento é infeliz até que consiga sair dele.””As Sereias têm uma arma mais fatal que seu canto;
seu silêncio do qual o ouvido não se tapa.”
II)Repetição o mais próximo possível da primeira gravação, mas desta vez com vozes sussurradas que
surgem atrás da lente e uma tentativa de dar fluidez entre os cortes propostos na primeira gravação.
"Talvez haja apenas um pecado capital: a impaciência. Devido à impaciência, fomos expulsos do
Paraíso; devido à impaciência, não podemos voltar."
III)Gravação sem imagem das vozes em off e de objetos tidos como relevantes à edição final
do material durante o processo. “De um certo ponto adiante não há mais como voltarmos. Este é o
ponto que deve ser alcançado. Há muita esperança, só não para nós.”
4 . AMBIENTAÇÃO:
A cidade de Som Caos adentra pelas frestras. "Lento é o rio, rápida a sua sombra. Um peixe sobrevive
ao mar e seu naufrágio.” O edifício é o corpo burocrático do pai. O edifício é a relação das portas da percepção
com o muro material. Os objetos clamam mais a câmera que os homens. “He is interested in the feelings of
the squash ball, and of the champagne bottle that launches the ship. In a football match his sympathy is not
with either of the teams but with the ball, or, in a match ending nil-nil, with the hunger of the goalmouth.”
O edifício é o órgão sem corpos do estado, o brasão da cidade. O escritório pós-burocrático é a festa dos
sentidos expandidos, mas só dentro do cubículo silencioso. “Não é necessário sair de casa. Permaneça em sua
mesa e ouça. Não apenas ouça, mas espere. Não apenas espere, mas fique sozinho em silêncio. Então o
mundo se apresentará desmascarado. Em êxtase, se dobrará sobre os seus pés.” O escritório não vai sanar os
problemas da repartição pública nem a fila. Há filas para o vazio. Os elevadores dançam para filmar a câmera
de vigilância. As placas dos escritórios gestam poemas. O escritório é o corpo icônico do filho.“As minhas
interrogações servem apenas de aguilhão para mim mesmo. Só quero ser estimulado pelo silêncio que se
ergue à minha volta como resposta derradeira. «Até quando conseguirás suportar o facto de que o mundo dos
cães, tal como demonstram cada vez com mais evidência as tuas pesquisas, está para sempre votado ao
silêncio? Até quando conseguirás suportar esta ideia?» Esta, esta é que é a verdadeira grande interrogação da
minha vida, uma interrogação perante a qual as outras interrogações se tornam totalmente insignificantes.
Uma interrogação que diz respeito apenas a nós próprios e a mais ninguém. Infelizmente, posso
responder a esta interrogação com mais facilidade do que às interrogações específicas: aguentarei,
provavelmente, até ao meu fim natural. A serenidade da velhice irá formando uma resistência cada vez maior
a todas as interrogações inquietantes. Tudo indica que hei-de morrer em silêncio e rodeado de silêncio, na
verdade até de forma específica, e antevejo isso com uma certa tranquilidade. Um coração admiravelmente
resistente, pulmões que é impossível ficarem fracos prematuramente, foram-nos dados a nós, cães, como que
por ironia. Assim, sobrevivemos a todas as interrogações, inclusive àquelas que colocamos a nós próprios,
como autênticas fortalezas de silêncio que somos.”
Um dos aspectos mais importantes da obra de Franz Kafka (1883-1924) é a sua crítica implacável dos
fundamentos do Estado moderno, sobretudo no que concerne
à mecanização da vida contemporânea e ao surgimento de
uma elite administrativa altamente burocrática, hierarquizada
e despótica. Ou seja, uma análise sobre as conseqüências
políticas, espirituais, morais e filosóficas que a modernidade,
de um modo geral, desencadeou na estrutura social. “Na Era
Medieval o temporal era inessencial em relação à
espiritualidade; no século dezenove o oposto ocorreu: o
temporal era primário e o espiritual era o parasita inessencial
que torturava-nos longe do tempo tentando destruí-lo.”
Kafka é conhecido como uma das consciências mais agudas
com relação à fratura de sentido na modernidade: esta fratura
significa – para além da derrocada dos "mecanismos"
metafísicos – a "nova" condição moderna de não possuir a
"ingenuidade hermenêutica" necessária na qual se constrói a
trama dos sentidos, esta "novidade", produto da técnica
conceitual-administrativa humana, revela para nós que o
corpo dilacerado no qual habita a fratura não é mero fruto de
um deus qualquer, mas resultado de um projeto humano de
futuro que permanece ativo e para o qual não há retorno – o
ruído dessa fratura é o cinismo ou a mentira sobre si mesma. "É como se alguém tivesse de subir cinco
degraus de escada e uma segunda pessoa apenas um degrau, mas que, pelo menos para ela, é tão alto quanto
aqueles cinco degraus juntos; O primeiro vai vencer não só os cinco degraus, mas também centenas e
milhares de outros, terá levado uma vida ampla e muito fatigante, porém nenhum dos degraus que subiu terá
sido para ele tão importante como, para o segundo, aquele degrau único, que não só pode subir, como passar
por cima." Kafka nunca esteve na Amerika.
5. PERSONMARGENS:
Nenhum rosto será filmado. “O primeiro
sinal de entendimento é a vontade de morrer.”
Todos estão vestidos de terno e gravata.
“Associar-se com seres humanos arremessa-nos na
auto-observação.” Todos são Kafka, ninguém é
Kafka. Cada qual foca um aspecto de Kafka trazendo
para este um enfoque irreferencial. “Poucos, mas
fiéis, amigos.” Como a comunidade, estes não
aceitam nem explicam os demais. “Assim existe aqui
muita coisa a ser cogitada; mas isso não é nada
quando comparado com o fato de que a admissão
pública é um processo muito meticuloso e o
membro de uma família de algum modo suspeita é
rejeitado de antemão; esse indivíduo se submete,
por exemplo, a esse processo, treme durante anos
diante do resultado, por todo os lados lhe
perguntam, com espanto, desde o primeiro dia,
como pôde ousar algo tão sem perspectiva; mas ele
espera –como poderia viver de outra maneira? -,
mas depois de muitos anos, talvez já ancião, ele fica sabendo da rejeição, fica sabendo que está tudo perdido e
que sua vida foi inútil.” Um processo artístico deve ser um machado que quebra o gelo entre nós. “Ours is a
lost generation, it may be, but it is more blameless than those earlier generations.” Os coadjuvantes sempre
conspiram contra os protagonistas. Ethos e Cosmos se integram, mas um não se dilui no outro. Em Kafka,
um agulhão de estranhamento parece estar implantado nas próprias entranhas de cada homem e impede a
possibilidade de uma síntese pessoal estabilizadora.
Dot,
Aqui, o tempo vira espaço. A mala por fazer. Não mais os salões de festa, mas as estações. Cada rosto é um
espelho. Caso não te lembres do que eu te disse, leia a carta. Mas adicione deliciosas futilidades.
Quando enfim meu coração explodiu... Não importa aonde fui, incluindo aqui, foi tudo contra meu
melhor julgamento. É, essa seria uma ótima inscrição para o meu túmulo.
A morte é real, ela vem sem avisos e não pode ser evitada.
Carmen cantarolava Carmina Burana olhando o armário do policial, guerra e paz da vida privada. A
vida sempre me pareceu patética, a humana um pouco mais. O maior vício humano depois da vida é o açúcar,
formigas no trânsito de transes. Me passa um cigarro! A lei me permite fumar em cena. Acende pra mim,
gato.
Mulheres e elefantes nunca esquecem. A cura para o tédio é a curiosidade e não há cura para a
curiosidade. Não há cura para o amor nem para a morte. Melhor um pão molhado de lágrimas a outro seco e
sem sal. Me incomodam tanto estes programas televisivos sobre programas televisivos. A vilania dos homens
provêm principalmente das fraquezas de suas mães. Qualquer mulher que aspire a comportar-se como um
homem, claramente carece de ambição.
Mas à raridade dos homens vislumbram somente as mulheres que usam óculos. No mais, restam os mesmos
cortes de camisas com brasões. Não se reproduzam! Não cedam às besteiras de nenhum tolo presente na
noite. Eles dizem que há algum problema conosco. Talvez uma falta de senso de oportunismo.
Deixei o peso de minhas quinquilharias com Luther King, um homem se mede além do olhar...
Quando vier a nova caça às bruxas, podem me colocar na lista negra de Holly Would to all tomorrow
parties. Meninas, cuidado! O casamento é a mais perigosa das armadilhas... Não! O amor é a maior armadilha
que existe.
Imaculada concepção, combustão espontânea, fogo fátuo. De que adianta legalizarem o álcool e
criminalizarem os outros doces venenos. Babilônia, mãe de todas as prostitutas incluindo burocratas e
empresários, no meu tempo se bebe para falar a verdade ou para calar os ouvidos aos estúpidos. Se você quer
saber o que Deus pensa sobre o dinheiro, olhe as pessoas que ele fez ricas. Um pouco de mau gosto é
como uma pitada de páprica.
Somos o que resta de um desastre que nos matou tanto mais quanto mais noites em claro passamos
amaldiçoando nossa incapacidade de viver desse jeito, nossa inabilidade de ser como tem que ser, nosso jeito
de fazer tudo errado, reclamar tudo errado, viver tudo errado.
Mas como? Somos tão loucas, tão histéricas, tão gostosas... Não pense que só os senhores do destino
alheio estiveram entre minhas ancas, também os loucos e doentes me alimentaram os amores.
Desastradas e sensuais, cortesãs de um mundo decadente. Nossa miséria não tem preço. Eles não
podem tirar nossa morte de nós. Porque amar significa conviver com um estado de insatisfação plena diante
do outro. “Comporte-se! Isso não é jeito de falar... Cale-se, não era esse o momento de expor tais questões.”
Nojo destes convencidos de estar na lenta e inútil caminhada em direção à melhoria social.
Mas esta é uma questão de quem vai viver e quem vai morrer. É preciso inscrever a morte que anda
conosco, encarná-la como sapatos de salto alto e depois nos perfumar na maior cara de pau do mundo, com o
cheiro dos vivos. Incontáveis segredos carregam minha buceta.
Somos, assim, as estrelas de um teatro feito de realmente mortos, outros que vivem como mortos, e
uns poucos duma platéia de demasiado vivos, seduzidos em seu desejo de entendimento, bagunçados em seus
sentidos estéticos, poéticos, temporais e até mesmo na futilidade de suas espiritualidades de mercado.
E como não somos do tipo de madame que goza da possibilidade de descanso (advindo da sorte), é
destes paradoxos que pode surgir o amor (e talvez tal sorte). Sendo assim, continuamos. Nas esperança do
vivo de que isso seja mesmo assim; e na desesperança do morto, de que disso nada possa ser.
Os idiotas não vão nos entender mesmo. Meu trem chegou, adeus.
Check
“1. ausência de palavrório político-ecômico-social; 2.objetividade total; 3. veracidade nas descrições de personagens
e objetos; 4. brevidade extrema; 5. ousadia e originalidade; 6. sinceridade.” - Anton Tchekhov em carta ao irmão.
“Tchekhov demonstrou melhor do que ninguém que a ação cênica deve ser entendida do sentido interno (...).
Enquanto a ação externa no palco distrai, diverte ou incita os nervos, a ação interna contagia,
abrange nossa alma e toma conta dela.” - Konstantin Stanislavski.
§Flores de sons: Da obra de Anton Tchekhov são intuídos diversos contos sonoros (o
vento e palavras de amor, carroceiros, estatuetas manuseadas, gaivotas, navios, neve, lona de
circo, seringas, etc.) num espaço acústico mínimo, de densidade sonora sutil que transitam
pelas 06 caixas de sons no desdobramento fractal de uma boneca russa ( матрёшка). Tal
aparelhagem deve estar visivelmente enraizados na arquitetura das árvores secas, expondo a
natureza kitsch da representação e gravação dentro do ambiente-museu. A fina ironia dos
trabalhos de Pavlovich deve se antepor ao desejo de austeridade do compositor.
§Arcondicionamento: Posicionar folhas sêcas amarradas com fios metálicos em
frente aos exaustores de climatização ambiental para, ao mesmo tempo, disfarçar o ruído da
aparelhagem técnica enquanto chama atenção para a existência deste e do mascaramento
naturalista (Народничество).
§Toaletes e Refeitório: Sobre a porta de cada um dos toaletes tocam duas
composições para caixinhas de música (Баба Яга & Коще́ й Бессме́ ртный) que se
somam no ambiente do refeitório.
•Dentro {ainda exposto}: As relações de tensões entre personagens dão vazão a uma arquitetura
acústica que revele os paradoxos da escuta entre a musicalidade interna e o ruído externo, entre o
sujeito-objeto mito-artista da exposição e sua posição museológica (os serventes e técnicos). Construir uma
paisagem sonora que desconstrua a escuta de si no outro, uma prosa microruidosa sobre a escuta musical
expressionista utilizando material adquirido durante o processo de montagem da exposição de acordo com as
especificidades locais.
“O vinho e a música sempre foram para mim um magnífico saca-rolhas.” – Anton Pavlovitch Tchekov.
-Salão dos Vultos: Uma instalação sonora de representação e resonância subjetiva que
posicione o espectador diante de si e dos outros ao seu redor, questionando a micropolítica do conto
tchekoviano. A música como palco da escuta no século XIX, nossa ancestralidade mais próxima, que
acompanha o movimento onde a mitificação deixa o imaginário mitológico em direção às relações
entre indivíduos (cada vez mais parecidos e isolados).
§Palco: Sons que mesclam a atmosfera de uma casa, um teatro, uma repartição
pública e um encontro social (balbucios, passos, nomes, atmosfera da cidade, etc.) saem de
dentro do palco central entremeadas de musicações que orbitam um carrossel composto com
excerptos de concertos de compositores locais da época (Tchaikovsky, Rimsky Korsakov,
Mussorgsky, Balakirev, Stravinsky, Rachmaninov, Shostakovitch, etc.) Um som forte de
cadafalso ocorre aleatoriamente aproximando palco e forca e cortando a cena.
§Espelho Sonoro: Um microfone pendurado sobre o palco, ligado a um aparelho de
modulação temporal, especialmente criado para a ocasião, cria um efeito de dilatação do
tempo e espelhamento das vozes. Como no conto tchekhoviano, as relações entre o
trocadilho linguístico e a ironia da vida surgem mesmo que amparados na ausência total de
um clímax, ou mesmo de um evento.
-Sala das Cadeiras: Contar sobre metareciclagem dos espaços através de objetos abandonados
e suas arquiteturas subjetivas de Tadashi Kawamata relacionadas com as arquiteturas Merzbau de
Kurt Schwitters e a sonoridade de Masami Akita (Merzbow). Trazendo um olhar contista sobre os
espaços fractais contemporâneos.
§Cadeiras: Os serventes do museu são entrevistados e suas vozes são usadas como
instrumentos para compor sons que se movimentam por 04 cadeiras do espaço
tridimensionalmente. Uma ocupação da exposição por parte do museu, de dentro para fora,
com a presença dessas histórias com seus cantos e contos.
§Pulsação ambiental: Uma caixa de subgraves é responsável pela execução de peças
abaixo de 40Hz que vibrem as cadeiras e o próprio ambiente sem interferir nas atmosferas
acústicas adjacentes.
“É o peso do passado e a insatisfação com o presente que isolam os homens.” – Anton Pavlovitch Tchekov.
"Festejou-se o aniversário de um homem muito modesto. E apenas no final do banquete é que se percebeu que
alguém não tinha sido convidado: o festejado." – Anton Pavlovitch Tchekov
Prelúdio:
A compositora da ópera, Fernet Ribeiro, trajando terno branco e camisa vermelha bebe uma dose de cachaça e
derruba outra no chão saudando a Exu Veludo e Maria Padilha:
“Zaybaq! Àquele andrógino que vive a noite, que nos livre das emboscadas dos gêneros e dos gênios!”
Sai do palco e a cantora, Anna Maria Kieffer, entra e canta as borras do chá que toma vestida em gala. Sobre o
palco se projeta a arte visual de Alessandra Galasso e ao fundo projetado um vídeo previamente realizado com o seguinte
texto.
Primeira Copa:
Após a morte de Celeste Aurabet, sua doce e
sensível empregada doméstica, Macabéa Matamoros
retornou ao quarto no qual a patroa passou seus últimos
dias esquecendo e escrevendo, lembrando e apagando.
Trouxe consigo as pratarias e louças do café como sempre
fez, sem saber bem por quê mas mais pelo tato da bandeja.
Lentamente serviu o café duas vezes fervido em uma das
xícaras brancas, nas quais nunca pôde beber antes, e
seguindo o último pedido da Senhora Aurabet, misturou
ao café suas cinzas mortuárias. Macabéa então tomou o
café e passou a observar os desenhos formados nas borras
à xícara. Aos poucos, estes começaram a se mover e ela
entrando em transe viu se formar na parede de cortiça
uma platéia onde todos usavam máscaras com o rosto do
Mounsieur Proust. E ela cantou:
“Celeste nome, bios rara tempo gota ao vento finda
Sea vox melikraton saccharomyces cerevisiae
Ganimedes flui a escald’lux até o limite do corpórtico
Physis eidos ethos, tales los nepós de Hýdor
It begins as a swann’s song for Lady Lake, Lethé Odile dried
Pergunta o nome do barqueiro Mar Rio Peixoto sem resposta
Shall not drip and drain these classwar mind games
Como é triste ser sozinho num ambiente competitivo
Why should I be affraid of dying? There’s no reason for it too, Bloom
Prometheos on the rocks, paixão primeira dos abutres
Ambrósia além darca, a selva gema or valho na pena e pomba
Gira os pires de porcelana te recebendo ao mas
Ah! A vida dos outros! Os sumos de Madalena e Odette
Já não há a espera , mas insone brusca
Brilho notívago das cortísis, há águas em mim que morrem de sede
Cahier Noirs em mãos de fogo, asma , sibilante tronco de pulma
Obscuro salta no salto da rede de moinhos no óleo da boca
Te oferece o espiral kýkeon à kundalini, kibombo a Eupalinos
DreamK! Clamam as bocantes viscosas de almas úmidas
As paredes do quarto estouram feito rolhas
Podes ver o mar de máquinas moles, delírio pastoso de Nun
Carnaval ele mesmo, Aeon chupando Kronos
Who would stop from brandying? Who is on top the are aim?
Onde estará? Ei! Vocês viram Marcel por aqui?
Batizado a üng uento oliva das copas, veias das ramagens
Cheiro de rum, bebiam o cadáver da avó, bebeu também
Moderação ao vinho dos amores teóricos no banquete
Um primeiro gole de cicuta, depois galo abatido e sangria
Já percebeu o quanto de paixão os livros te roubaram, Gide?
Yeshwa liberado do ofício de engarrafar vinho com hóstias, cambaleia
Sedento pelo mar morto bebe em romanas lupitetas, a Javista ri
Ág ua de beber! Água de beber, camará!
É embriagado, engessado, torto e mal copiado
Desce a espinhosa videira e desperta entre suas estátuas de açúcar
Quando o vinho avinagrou na boca do Areopagita
E a ig’rija invernante pôs seus dementes em hábitos a gozar no subsolo
Para manter o Baphomet dançando em Daath sentado sobre os foles
Bebendo os suores áfogo de correntereza dos tao quimistas
Gestando a sauna divina do órgão [TOSSIR]
A vaca indiana mugiu: sei, vá por ser... veja como transbordam as válvulas peitorais
Não há tinta para marcar as escrituras no Livro de Ág ua
O álcool transpirado pelos poros do pai cheiravam aos gritos da mãe
Barbitúricos nos vitríolos do nigredo, o polvo disse que com a fé se enévoa
Derruba um pentáculo com o vitrúvio marcado
Onde se lê em roxo sobre amarelo “Ao falar sobre a ág ua
Apresente primeiro sua experiência, só depois sua reflexão”
Ou ainda que sangue verde mal absinto dos cantos da garg ulanta
Potamos o fermentar metabólico dos tomos, Lautrec foi-se com elas
O lagarto andou sobre as ág uas até a boca do crocodilo
Jabir Geber, cachoeira de aqua régia desde a cratera lunar
Desthilo as cordas puxam os magnetes a fluir os eletros
Em busca do cálice ergueriam barragens chamadas estradas e portos
Cavalgariam cisnes fossem corcéus marinhos
Até quando gotejarão os narcisos ecos de imagens?
O quarto é uma piscina no meio do mar, um nariz assoa trens a vapor
Albertti perguntava à perspectiva de outro copo: Albedo?
Hangover Beethoven and dig these klangfarbentanz in blue
Benjamin coleciona fotos de Marcel, lírico em épocas de passagens
Para compor uma Kulturgeschichte des Wassers, Monet preferia o lago
Os canais da arcada lembram: Ei-lo hey low... Ah! Meu primeiro porre!
O que sai não é o mesmo que entra , Bocca... Palavrômito! Quando Omar
Enfim repleto de aquários, como distingüiremos a água do cristal? Vas!”
Segunda Copa:
No momento exato da morte de Clara Nunes, a forte e impetuosa
filósofa Catherine Clément retornou às cochias da casa de ópera e vestiu-se
com um uniforme de laranja mecânica. Trouxe consigo librettos, fanzines e
uma garrafa de moloko sem saber bem por que mas mais pelo cheiro do
papel com leite. Ligou um projetor que passava uma encenação da primeira
copa da liqüifonia Prousit! Abrindo o libretto da mesma ela cortou o dedo
anular. O sangue de seu dedo escorreu até o copo se misturando ao moloko.
Catherine então tomou o moloko e passou a observar as estruturas da casa
de ópera desmontada, das roldanas que seguram as cortinas no ângulo da
abóbada às cadeiras sobre os tapetes passando pelos parapeitos e
candelabros. Estes começaram a falar-lhe coisas e ela entrando num transe
dançou suavemente pelo espaço esvaziado. E ela cantou:
“Ouves? Das vigas desta ópera berra Violante: Lasciatemi more rir!
Menstruação de todas las Dianas, Ariadnes e demais tóuroxs de arena
Quero beber o veneno que sai de meus lábios enquanto rego as malas
Como Cobain toma ômensêmem do chefe Seattle no meio da passeata
Sem outro curso que destroçar das paredes, arquitetura rui fluida nostalgia
Liebestod é a finalidade secreta de ópera, Tristão... O mar é ádeus e rastelo
Minha tia Ophelia gostava dos líquidos fritos, silêncios e aves ribeiras
E eu via no olho de peixe da jarra metálica suas mãos molhadas
Olholvidos não são adequados ao perfume, heroíno
Humilha-te a Grenouille e aprendei do gelo seco o que é a caipirinha
Carmem te trocou Don José, não mirando o toureiro mas à ciranda tourear
E descontrolado a apunhala pelas costas sem nem ao menos beber da ferida
Lava as mãos, suja o falo de merda molhada de diarréia e sai de cena
Pressentindo a violência do marido, Nedda tenta escapar
Mas é agarrada por Canio e é esfaqueada até a morte
Na alcôva, a quintessência da ag uardente de maçã ao sol é descoberta
Desdêmona tem a fonte de seu canto torcida por Otello no bar do hotel
Em câmera lenta! Marcel se contém na dinâmica da torção do pescoço
Descreve detalhadamente a dança dos tendões e foge do toque de novo
Alguém tipo assim: Que goste de beber, falar... Syd Barrett e os Beats...
Sob ordens de Herodes, os escudos da falange esmagam Salomé, bandeja
Quando não matam, morrem por... Homens a mar! Rilke émar e coisas são fluxos
Sail away away, ripples never come back. Monk atira seixos verticais destilingüe voz
Tosca abisma o amar rio, perante o Holandês é Senta que voa, nau que é
Borboleta traveste Camusífus na questão suicídio com a espada de seu pai
Diz-lhe lâmina: Morrer com... para não viver na... Seja forte, Hugo...
Gilda, diante de Sparafucile [TOSSIR]...
Brünnhilde se amola na pira funerária de Siegffried, onde os anéis são derretidos
Quantas fogueiras erigidas por poções mágicas? Quantas bruxas, Salem?
Débeis como meninos, fracos como delicados serão também evaporados no aether
Czarevichs, corcundas, excessivos, gigantes, anões, negros, estrangeiros e loucos
Fronteira e torneira, chuveiros de gás, querem mudar-te o líquido e o co{r}po
Women and children first! I will swallow until I burst! I jumped in the river what did I see?
Chama Sieggfried, só por intrigas líquidas envoltas à labareda
Garçon! Alguns bebem pra lembrar, outros pra esquecer!
Giorgio Germont, Felipe II, Wotan... A Rainha da Noite os ag uarda!
Eau! Eau! Eu serei o leiteo de morte núpcia , flauta hidráulica vertebrada
A grande dilúvia virá como estrela vácua, s ão as portas também os poços
Saberão pelo salivar do Tigre que enfim vem a eumatres, Filiarcado na Pindaíba
Palco, derrota do vitorioso, desvio para o vermelho
Nem mesmo Lapis sobrevive à gota contínua dum fundo que xxx, ora
Ouves os cálculos dos fins reais, soror? É catarata, Gaston, catarata...
Ao ver-te pressentir a própria morte, Cassandra
Consumada a tragédia, a platéia aplaude
Marcel?! Marcel?! Estás bem Marcel?! [SOLUÇAR]
Destino infeliz da água, queda por terra
Ou derrota ao fogo morrendo ambos no vento
Volta a ser Marcel criança em minha frente
Mija sobre si como fonte de eterna juventude
Show me the way to the next whiskie bar
Baumann cambaleia pela porta do saloon, eu perdi o meu medo da chuva
Giram os caldeirões de cera de todas as Valburgas
Zosimos agora sente o fervor nos músculos
A carne é triste e eu já devorei todas até o sang ue
Segure Marcelle, Cranach, seu velho imprestável!
O chofre passa como Alexis entre os dois cavalos de Parmênides
Meu amado o conduz ao precipício entre ossatura e pele
Mounsieur Proust é portas e janelas que surgem no assento atrás do teu
Mas o alegre ruído de teu próprio sang ue não deixar-te-á ouví-lo
[TOSSIR]
Os tubérculos de Mimi estão impregnados nas taças de ouro
Fumos decantados na essência do vês céu
Vampiros se escondem no iluminismo dos potes de contear goteiras
Enchem seu barroco de sangue, pororoca do porre
Around Turner every glass of Mäelstorm
Solidões sobre a pia, as louças sempre estarão por lavar
Un reloj és una taza para té que se pone a derretir-se
Goethe perg untava a Dante: Que raios disse ela a Margarida?
“A cada mil maldades de um homem uma de mulher, basta”
Listenin to this Karldeck Marx takes another spirit
Sip sob and speak “There’s no substance hegelmony!”
Da lei seca que o Álcool imPõem-lhe ficou a pharmako poiésis gnosis dynamis
O Coelho tira o chapeleiro Cartola do bule junto ao boneco de neve à mesa
Ele lambe uma wassermusik em la mer, and thanks for the opened cage
Poulenc vê Borboleta fazer quetzacrisálida de haikai
Madam Catterpillar sobre o cogumelo assiste à inundação
Oxum e Obá brigam no inalador de Bethânia
Esguicho ao peito de Kýpris, termina logo este ato
Tarde ensolarada no parque da água branca
Eu preciso mijar, termina logo este ato
Sonha com Tietê, deusa da pureza”
Terceira Copa:
Ao saber da morte de Fernet Ribeiro, compositora da liqüifonia
Prousit!, a diva do canto Anna Maria Kieffer, vestida como Iemanjá, se
reuniu com as amigas de ambas num boteco que freqüentaram juntas. Chovia.
Trouxe consigo fotos do processo de composição e performance da liqüifonia
Prousit! sem saber bem por que mas mais pelas cores das fotografias. De súbito
se ergueu à cabeceira da mesa empunhando um copo americano com uma
bebida transparente, que poderia ser tanto água quanto cachaça. Ligou um
projetor que passava uma encenação da segunda copa da liqüifonia Prousit! e
chorou três lágrimas que cairam no seu copo. Bebeu o copo e reagiu à força da
bebida numa tremedeira, depois passou a olhar as orelhas presentes que ela,
entrando num transe, ouviu cantar. E ela cantou:
"O que censuro aos jornais é fazer-nos prestar atenção todos os dias a coisas insignificantes, ao passo que
lemos três ou quatro vezes na vida os livros em que há coisas essenciais."
Marcel Proust (1871-1922)
Submidialogias
O que é submidialogia:
Submidialogia é uma rede de conhecimento complexo, espalhada principalmente pelo território
brasileiro, que envolve pessoas de reconhecimento internacional atuantes nas mais diversas áreas da produção
humana (detentores de sabedoria popular, filósofos, cientistas, artistas, líderes de comunidades indígenas,
quilombolas, arquitetos, recicladores, cozinheiros, técnicos, hackers, etc.), para o aponte de problemáticas e a
criação inter-poli-transdisciplinar de soluções práticas e pragmáticas para questões contemporâneas de uma
maneira integradora (individual, social e global).
A palavra submidialogia é um neologismo poético criado para retratar aquilo que está sob os estudos
dos meios, e também aquilo que subjaz ao discurso midiático. O meio é, portanto, no processo submidiático
um conceito fundamental. Pensar e atuar tanto nos meios de comunicação como nos meio-ambientes em
suas diversas dimensões (indivíduo consigo, relacionamentos com os outros, pequenas comunidades, centros
urbanos) em busca de uma forma coesa de integrar as redes de necessidades e desejos humanos numa ecosofia
(uma ecologia do conhecimento, outra ecologia dos encontros e ainda uma ecologia social).
O que é subencontro:
Um subencontro é uma reunião presencial de pessoas que já formam a rede submidialogia numa
localidade escolhida por uma duração de em média uma semana. Lá, eles criam trabalhos juntos, intervêm no
meio-ambiente e pensam soluções para os problemas desta e de suas regiões.
Os participantes se envolvem com as comunidades locais, que vêm (em grande parte dos casos)
somar-se à rede, organizando diversos eventos tais como:
•Ciclos de palestras sobre os mais variados temas como: filosofia, ciências aplicadas, ciências
humanas, processos artísticos, história local e global, entre tantos outros.
•Ciclos de oficinas de criação prática com artistas e produtores de renome que abrangem desde a
criação de motores elétricos feitos com roda de bicicletas até a feitura das mais avançadas ferramentas
de música a partir de lixo reciclado, passando por oficinas de culinária.
•Ciclos de apresentações públicas incluindo concertos de música erudita e experimental, dança
contemporânea e moderna, instalações plásticas em galerias e ambientes urbanos, performances,
saraus literários, óperas, peças de teatro de vanguarda, entre outras.
•Ciclos de atuação midiática através da participação das mídias locais com programas especiais
feitos para as rádios e televisões locais, intervenção nos pontos de cultura locais, atuação na
comunidade digital e diálogos públicos com representantes da comunidade.
Como fazer um subencontro:
Diversos subencontros foram já realizados, e a sua metologia está em constante progresso. Alguns
pontos práticos que se sustentam desde suas últimas edições são listadas abaixo.
Antes do encontro (pré-produção):
•Decisão de um local e data: de acordo com a necessidade de Um grupo local ou do encontro
de um número mínimo de participantes, por fatores diversos.
•Pesquisa e mapeamento dos interessados locais: Este mesmo grupo pensa conexões
interessantes entre comunidade local e membros da rede (um dançarino com amplos conhecimentos
sobre o corpo ensinando alongamento num retiro de idosos, por exemplo). Neste ponto, começam a
surgir cronogramas e encadeamentos de eventos: Por exemplo, um músico do Rio Grande do Sul está
pesquisando a história da rádio faz um trabalho com um criador de transmissores e ambos pensam
juntos um programa para a rádio local. Este processo por si só já, ao tecer esta malha de interação da
cidade, a prepara para o evento numa expectativa de interesse.
•Viabilização monetária local e de agenda dos participantes: Um esforço conjunto atrás de
editais e patrocínios que viabilizem o encontro são realizadas pela lista. Após a confirmação do
evento (com ou sem patrocínio, dependendo da urgência), os participantes designam a possibilidade
ou não da viagem nas datas marcadas e os organizadores locais encontram um local de convivência e
estadia para locação e os demais locais para os encontros públicos (galerias, museus, casas noturnas,
parques, praças, monumentos, etc.).
•Viabilização das passagens através de leis de incentivo: Um certo número de passagens é
viabilizada por este comitê de organização (através de patrocínios) para alguns convidados (de acordo
com o mapeamento das necessidades locais previamente realizado) e outras são disponibilizadas em
edital aberto à lista para interessados em se envolver mais no processo submidiático e uma seleção é
feita pela própria lista. Alguns participantes, ainda, bancam suas próprias passagens e outros as
conseguem com suas instituições educacionais ou empresas, que vêem no evento uma importante
oportunidade de crescimento para seus pesquisadores e funcionários.
Durante o encontro:
•Acomodação dos participantes: uma casa (normalmente precisando de reformas) é locada. Os
participantes chegam a ela, acomodam suas coisas (normalmente acampam dentro da casa). Ingredientes são
comprados coletivamente. A cozinha, bem como a limpeza são responsabilidade de todos (embora não haja a
necessidade de nenhuma tabela ou obrigatoriedade de tais funções.
•Interações com a comunidade local e com os
outros participantes: Naturalmente as conversas
começam a acontecer nas atividades de habitação.
Colocam infográficos nas paredes, mapas locais. Os
organizadores locais fazem apresentação de pessoas
da comunidade bem como começam a conectar a
rede local com a global. Artistas pintam paredes.
Músicos e programadores colocam uma rádio
interna no ar. Um blog é ativado. O conteúdo é
todo streamado em tempo real.
•Produção de obras e textos: De acordo com
os interesses pessoais de cada participantes, duplas,
trios e grupos se formam e começam a criar poesias,
palestras, músicas, programas, softwares,
esculturas, receitas, festas para os próximos dias,
intervenções urbanas, etc.
•Ciclos de atuações e trocas: Os participantes mostram suas produções e discutem o estado atual do
conhecimento a partir destas como tema, gerando um enriquecimento mútuo de compreensão da vida como
complexo de sistemas integrados. O público local compartilha destas experiências e pode propor também
outras atividades.
Depois do encontro ( pós-produção):
•Publicação de livros, albuns sonoros e vídeos: O material produzido no encontro e sob influência do
encontro, são reunidas em um website bem como em publicações impressas que são disponibilizadas
publicamente para edição.
•Palestras para difusão dos resultados: Os participantes, ao retornarem para suas regiões de origem,
divulgam os aprendizados sobre a rede em falas e começam a articular visitas de outros participantes de
outras regiões que possam esclarecer problemáticas locais e ajudar a buscar soluções com toda a comunidade.
•Centros de Scinestesia Social: As casas alugadas e reformadas, ou outras locações do local onde
ocorreu o subencontro ficam para a comunidade local como um ponto de cultura, enrededado na trama
social como um ativador de melhorias para o meio-ambiente e uma ponte para esta rede global de pensadores
e artistas. Um ótimo exemplo disto, é o Bailux na cidade de Arraial D’Ajuda.
•Remetodologização do próprio submidialogia: O próprio processo de produção, tanto dos indivíduos
quanto do coletivo, é remodelado e adaptado em função dos conhecimentos adquiridos durante o
subencontro.
Sounding Efficiencies:
To increase specialization/uniqueness
To increase power density
To increase density of meaning
To engage all medias and meanings
To reach ubiquity and free-ness
To become beautiful
Harmonic Complexity:
To increase complexity
To increase social co-dependency (interlistening)
To increase self-referential nature of listening
To align with nature in its stochastic recursive form
Rythmic Evolvability:
To accelerate evolvability
To play the infinite transphony
In general the long-term bias of listening technology is to increase the diversity of sound artifacts, musical
methods, acoustic techniques. More ways, more choices. Over time listening advances invent more energy efficient
cultural methods, and gravitate to sounds which compress the most information and knowledge into a given space
or weight. Also over time, more of more of sound on the planet will be touched by metalistening processes. Also,
sounds tend toward ubiquity and cheapness. They also tend towards new levels of complexity (though many will
get simpler, too). Over time sounds require more surrounding technologies in order to be discovered and to operate;
some bioacoustical technologies become eusocial – a distributed existence – in which they are inert when solitary
(anoise). In the long run, listenability increases the speed at which it evolves and encourages its own means of
invention to change. It aims to keep the transphony of change going.
What this means is that when the future trajectory of a particular field of listening is in doubt, "all
things being equal" you can guess several things about where it is headed:
• The varieties of whatever ways of sounding will increase. Those varieties that give humans more
free choices will prevail.
• Ways of sounding (and listening) will start out general in their first version, and specialize over
time. Going niche will always be going with the flow. There is almost no end to how specialized (and
tiny) some niches can get.
• You can safely anticipate higher energy efficiency, more compact tools and everything getting
smarter towards their means, although which will be these wiill keep being ethical discussion.
• All are headed to ubiquity and free. What flips when everyone has one? What happens when it is
free?
• Any highly evolved form becomes beautiful, which can be its own attraction.
• Over time the fastest moving listening will become more social, more co-dependent, more
ecological, more deeply entwined with other listenings. Many technologies require scaffolding tech
to be born first.
• The trend is toward enabling technologies which become tools for inventing new ways of sounding
easiest, fittest, cheaper.
• Listening needs clean water, clean air, reliable energy just as much as humans want the same.
We don't always have to do what listening wants, but I think we need to begin with what it wants so that
we can work with these forces instead of against them.
Auriculture Fields Of Research
Philosony As A Discipline
• Ontological and epistemological questions about what is music, sound, noise and listening:
artefacts/structures or human processes?
• What is listening cognition and understanding of noise/sound/music?
• What is a musical experience? What is a noise experience?
• What is the place of musical experience in traditional acoustical analysis?
Listening Analysis
• Can traditional analysis be helpful in explaining listenable experience: tension or
complementarity?
• Interdisciplinary and transdisciplinary approaches to listening.
• Formal and informal analysis beyond the score: analysis by ear.
• Cognitive maps and music.
• Analysis and experience.
• Analysis and validity: psychological and ecological reality of existing and future approaches
of listening.
Listening Semantics
• Music as reference: self reference or extra-musical reference.
• Program music/absolute music.
• Sintagmatic referentiality in sound and noise.
Sound Pragmatics
• Sound as felt, as experienced.
• Sound and its inductive power.
• Sociology of listening.
• Music and entrainment.
Vocal Pragmatics
• Voice as tool for communication (e.g. prosody, techniques, etc.).
• Voice as tool for expression.
• Voice and emotions.
• Communicative and affective functions of human voice.
Intermediality Of Listening
• Opera, musical, concert albums, song cycles, etc.
• Text, performance, music.
• Intermediality and communication: role of listener as target or actor.
• Intermediality as persuasive instrument.
• Attentional strategies: how to capture the attention of the non-schooled listener?
• Soundart Intervention.
Listening And Time
• Time consciousness and music.
• Musical time and realtime.
• In-time and out-of-time experience of music.
• Perception, memory and imagination.
Listening As Experience
• Listening as temporal art.
• Music as sounding art.
• Sensation, perception, cognition as applied to music.
• Experience and cognition.
• Embodied and enactive approach to music cognition.
• Listening And Emotions
• Chills and thrills.
• Music and arousal.
• Biological foundations of musical emotions.
• Cognitive foundations of musical emotions.
• Physiological aspects of musical emotions.
Biophony
• Neurobiology of listening.
• Physiological responses to listening.
• Music/noise and the brain.
• Music/noise and the hormone system.
Music As Sound
• Impact of sound.
• Spectrographic approach to music listening.
• Music and overtones.
• Music and resonance.
• Music and drones.
• Music and vibration.
• Music and the body.
• Music and movement.
• Music and dance.
• Action and perception, perception as simulated action.
• Music and rhythmic entrainment.
• Bodily resonance to music.
• Music and trance.
Evolution Of Listening
• Origins of music: why is there music?
• Comparative approach: what are the functions given to listening and music all over the
world.
• Musical sense-making between nature and culture.
• Listening instinct/faculty versus language instinct/faculty
• Archeoethnomusicology.
Ecological Approach To Listening
• Music as sounding environment.
• Sound as listening environment.
• Coping with the sounds.
• Functional significance of sounds.
• Musical affordances in sociological structures.
• Listening and direct perception.
Listening Universals
• Psychophysical commonalities.
Visualizing Listening
• The musical score: limitations and possibilities.
• Existing animation software: two-dimensional and three-dimensional.
• Iconic versus symbolic approach.
• Discrete versus continuous approach.
• Spectrogram: limitations and possibilities.
Philosonic Research Commitments
Form
1. What are the material musical means and how are they organized into recognizable codes?
2. How are musical means distributed across settings and participants?
3. What are the preferred aesthetic orderings?
4. What are the boundaries of perceived forms? What does it mean to be wrong, incorrect, or otherwise
marginal from the standpoint of code flexibility and use?
5. How flexible, arbitrary, elastic, adaptable, open is musical form? How resistant to changes, internal
or external pressures, or other historical forces?
Performance
1. What are the relationships between makers and materials?
2. What is the relationship between individual and collective expressive forms and performance
settings?
3. How are forms coordinated in performance? How adaptable and elastic is musical form when
manipulated by different performers at a single moment in time or over time?
4. How do cooperative and competitive social relations emerge in performance?
What meanings do these have for performers and audience?
5. How do performances achieve pragmatic (evocative, persuasive, ma-
nipulative) ends, if at all?
Environment
1. What resources does the environment provide? How are they exploited'? What relationships exist
between resources, exploitation, and the material means and social occasions for performance?
2. Are there co-evolutionary patterns, ecological and aesthetic, linking the environment and sound
patterns, materials, situations'?
3. What are the visual-auditory-sensate relationships between people and environment, and how is this
pattern related to expressive means and ends'?
4. What myths or models scaffold the perception of the environment? Are these related or
complimentary to conceptions of person, society, expressive resources?
5. What mystical or cosmological associations with the environment support, contradict, or otherwise
relate to the socioeconomic context of musical beliefs and occasions?
Theory
1. What are the sources of authority, wisdom, and legitimacy about sounds and music? Who can know
about sound?
2. Is musical knowledge public, private, ritual, esoteric?
3. What dimensions of musical thought are verbalized? Taught verbally? Non-verbally?
4. Is theory necessary? How detached can theory be from practice? What varieties of knowledge and
activity count as musical or aesthetic theory'? How is music rationalized?
Value and Equality
1. Who values and evaluates sounds'? Who can be valued and evaluated as a maker of sounds?
2. How are expressive resources distributed, specifically among men and women, young and old?
How do stratifications emerge?
3. How do balances and imbalances manifest themselves in expressive ideology and performance?
4. Do sounds deceive? Mystify? Who? Why?
5. Are sounds secret? Powerful? For whom? Why?
6. How do musical materials or performances mark or maintain social differences? How are such
differences interpreted? How are they sustained? Broken or ruptured? Accepted or resisted?
Listening Of Listening
Recursivity (GNU Not GNU ) is a core element in musical composition (Freud's concept of
Nachträglichkeit). Listening to music works as the retroactive assignment of meaning rather than mere deferred
action, and derives the notion of ‘listening to listening’ from their combination. A dialectical conception of time is
proposed, with interpretation involving three logical phases (sensation, memory, forgeting), respectively incumbent
on the listening analyst, on the music and on both. The music listener speaks about music from a position dictated
by his unconscious identifications, which also causes him to reinterpret the listening interpretations and his
silences. By listening to the music's reassignment of meaning to his interpretations, the listener can discover the
music's unconscious identifications and, together with the music, thereby facilitate the process of psychic change of
listening possibilities. We contend that by the function of ‘listening to listening’ it is possible to overcome the
dilemma of whether the listener with his interpretation or the music with his own reinterpretation of it by
showing a recursive formulation:
The silence of silence? Noise, (Cage, 1968)
The noise of noise? Music, (Attali, 1986)
The art of art? Autopoiesis, (Pound, 1908)
The provability of proofs? Metasystems, (Gödel, 1931).
The computability of computation? Abstract automata, (Turing, 1936).
The control of control? Cybernetics, (Wiener, 1948).
The hierarchy of hierarchies? Holons, (Koestler, 1967).
The psychanalysis of psychanalysis? Schizoanalysis, (Guattari and Deleuze, 1968)
The distinction of distinctions? Form, (Brown, 1969).
The cycle of cycles? Hypercycles, (Eigen, 1971).
The formation of forms? Catastrophes, (Thom, 1972).
The perception of perception? Eigenbehaviour, (von Foerster, 1973).
The ordering of order? Spontaneous Social Orders, (von Hayek,1975).
The reality of reality? Communication, (Watzlawick, 1976).
The structuring of structures? Dissipative Structures, (Nicolis and Prigogine, 1977).
The organization of organization? Synergetics, (Haken, 1977).
The nature of nature? Complexity, (Morin, 1977).
The boundary of boundaries? Fractals, (Mandelbrot, 1977).
The dimension of dimensions? Fractal dimensions, (Mandelbrot, 1977).
The system of systems? Living Systems, (Miller, 1978).
The production of production? Autopoiesis, (Varela, 1979).
The loop of loops? Tangled Hierarchies, (Hofstadter, 1979).
The life of life? "La Methode” for thinking complexity, (Morin,1980).
The evolution of evolution? The self-organizing Universe, ( Jantsch, 1980)