Você está na página 1de 27

SEXUALIDADE

EM UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL


Grupo:
Aline Rodrigues Solovijovas RA 007973, Cláudia de Oliveira RA 008349,
Elaine A. Almeida Garibalde RA 008541, Thalita R. Silveira RA 982206

 INTRODUÇÃO 

Desde a origem dos tempos, quando o caos do mundo foi desfeito e surgiram as
forças cósmicas que conduziriam o Universo, já estava presente a simbologia da
cópula, do ato sexual como engendradores de novas forças e seres.
É o poeta Hesíodo do século VII a.C., o primeiro de que se tem notícia, quem
aborda a questão narrando a sua Teogonia e relacionando a copulação à origem do
Cosmos.
Depois, surge o homem criado por Deus pela modelação do barro. Aborrecido e
solitário, o homem não encontra companhia adequada entre os animais. Necessário foi
inventar também a mulher. Dois seres livres na Terra, no Cosmos. Viviam puros e nus
e sem ter acesso ao " fruto do conhecimento " e da noção do Bem e do Mal. E veio a
tentação. Eva não resistiu e provou da maçã.
"E foram abertos os olhos de ambos e souberam que estavam nus. Os humanos
saem, portanto, da inocência natural, para ter acesso à humanidade. De fato, na
tradição israelita, a nudez é indecente, sinal de entrada no mundo desregrado. A
conseqüência seguinte é o abandono do Paraíso e o castigo divino. O homem é
condenado ao duro trabalho dos campos e a mulher a parir na dor. É neste momento
que ela recebe o nome de Eva, ou seja, mãe dos viventes.[ Assim, o primeiro casal é
expulso pelo Criador do Éden]. Ele [ o casal ] provou da árvore do Discernimento-do-
Bem-e-do-Mal, que o torna semelhante ao Criador. Não se pode admitir que ele se
aproprie da Árvore da Vida que tornaria o humano igual a Deus".
( Catonné, p.48 )
Muito embora alguns insistam na ideia de que o pecado original tenha sido pela
Gula ( daí o costume do jejum e recolhimento aos mosteiros dos monges na Idade
Média que alegavam que a comida gerava um excesso de energia que seria
extravasada através da liberação do prazer pelo sexo ), prevalece o consenso sobre o
pecado pela Desobediência e o consequente acesso ao fruto do conhecimento do Bem
e do Mal, ( talvez da nudez e do sexo).
E como fruto do sexo surge a humanidade. No início dos tempos, o sexo foi
apenas a condição necessária à perpetuação da espécie humana, cumpriu uma função
biológica.
Com o decorrer dos tempos, passou o sexo a expressar as relações sociais e
simbólicas do homem referendando a divisão de trabalho e a delegação de papéis em
uma determinada sociedade. Tal evolução só pode ser mais bem compreendida com a
introdução do conceito de relações de gênero ”que permite uma passagem da análise
do sexo biológico/genético para as relações entre o masculino e o feminino como
construções sociais e históricas" ( BOCK 2001, p. 180 ).
Assim, o feminino e o masculino são construções sociais que variam conforme o
contexto histórico em que se inserem. Como construções, carregam em si muitas
contradições. Essas contradições podem ser observadas ao se analisar a própria
história do homem através dos tempos.
Junto com a história humana surge a construção da ideia do que seja
sexualidade em cada tempo e em cada sociedade. Essa ideia está sempre carregada
dos valores e significações próprios de cada contexto. Não se pode dizer que
evoluem ou que regridem, mas que acompanham a história dos homens. Muito
embora a sexualidade e tudo que a ela se relaciona seja uma opção individual, trata-se
de um conceito, de uma ideia construída coletivamente.
Vejamos como isso se dá.

CONSTITUIÇÃO DA SEXUALIDADE AO LONGO DOS GRANDES PERÍODOS


DA HISTÓRIA: UMA ABORDAGEM HISTÓRIO-CULTURAL

 Em princípio, a determinação do sexo é biológica ( genética ). No entanto, o


sexo é a expressão das condições sociais, culturais e históricas e a sexualidade é um
processo simbólico construído historicamente de acordo com os valores e costumes de
uma determinada sociedade. Ou,
"O sexo social – portanto, o gênero - é uma das relações estruturantes que
situa o indivíduo no mundo e, determinam ao longo da sua vida; oportunidades,
escolhas, trajetórias, vivências, lugares, interesses". ( Lavinas apud Kahhale,
2000).
Temos o masculino e o feminino e, o que importa são as relações de gênero que
permitem uma reflexão da construção histórico-cultural a partir das diferenças
biológicas.
"A sexualidade é um processo simbólico e histórico que expressa a constituição da
identidade do sujeito, como ele vive a questão da intimidade (público versus privado ), da
significação das normas, da moral e da ética grupal ( grupo no qual se insere ). ( Kahhale,2000)
A sexualidade é um problema antropológico fundamental, pois desde os
primórdios dos tempos o sujeito se viu confrontado a uma dupla dimensão:
 com o mundo natural no qual está imerso ( cosmos );
 com seu corpo e o caráter sexual deste.
Segundo Catonné ( 1994 ): "é a partir dessa dupla polaridade que o homem se
reflete como ser no mundo e elabora os símbolos com os quais constrói sua existência
social. É também a partir dessa dupla polaridade que ele fabrica seus mitos". E constrói
seus símbolos, conceitos e significados. Constrói também sua sexualidade.
1. A SEXUALIDADE NA IDADE ANTIGA
( do surgimento da escrita – 3000 a.C. até a queda do Império Romano do
Ocidente no ano de 476 de nossa era )

HESÍODO E A TEOGONIA ( século VII a.C. )

Esse poeta grego nos narra como surgiram as forças cósmicas primordiais e as
relações sexuais que as animavam:
No princípio era o caos. Depois de uma estrondosa separação surgiram a Terra (
Gaia ) e o Amor, o mais belo dos deuses. Gaia era constantemente solicitada
sexualmente por Urano ( Céu ). Dessas cópulas diversas nasceram os filhos. Urano,
tomado de grande ira por aqueles frutos, escondeu os próprios filhos no seio da terra.
Gaia, visando punir o pai que privara os filhos da luz, confeccionou uma foice de metal
branco com a qual planejou decepar os testículos de Urano. E seria seu filho Cronos
quem se incumbiria da tarefa. O tempo ( Chronos, em grego ) é, desde então, o
princípio da separação entre Céu e Terra. Do membro mutilado de Urano jorrou uma
espuma branca que era ao mesmo tempo esperma e espuma do mar. Da castração
original surgiu o princípio da disjunção entre o feminino e o masculino. Nascera Afrodite
( Aphros =espuma ), a deusa do Amor que fora prontamente cercada pelo belo deus
Desejo. Assim, pelas palavras de Catonné ( 1994 ) "desde sua origem, essa cosmo-
teologia é sexualizada. Os seres divinos, nos quais os homens se projetam, são
precedidos de movimentos de aproximação e de separação. No curso desses
movimentos o deus Amor está onipresente". E essa idéia de união é, aqui,
essencialmente sexual.
De acordo com Catonné ( idem ), a onipresença do amor também pode ser
verificada em O Banquete, obra de Platão segundo a qual o amor permite ao ser
humano atingir o divino em si mesmo e imortalizar-se pelo pensamento. Mostra-se a
transposição do amor carnal para a soberania das ideias: primeiro amam-se belos
corpos com um amor sexual. A sensualidade é estendida a todos os belos corpos. Em
seguida, amam-se belas almas capazes de belas ações. E, por último e como
consequência das etapas anteriores, ama-se o conhecimento, a intelectualidade, ama-
se a ciência. O amor, como filosofia, ignora a atividade sexual. Platão sacrifica o amor
em nome da busca da verdade e, para isso é necessário sacrificar o sexo.
Essa inversão de valores no jogo do amor masculino do jovem grego quando da
passagem da erótica comum e carnal à erótica filosófica também é analisada por
Michael Foucault ( 1985 ): "os jovens amantes apaixonam-se pela verdade e
renunciam aos prazeres sexuais".
E o que tudo isso tem a ver com uma abordagem histórico-cultural da
sexualidade? Ora, pode-se perceber que as modalidades da sexualidade são relativas
ao tempo histórico e elaboradas a partir da ideia de cada contexto. Avancemos para
que possamos melhor compreender isso.

O AMOR SAGRADO NA BABILÔNIA

 A civilização babilônica é nosso ancestral cultural mais antigo. Essa civilização


de regadio desenvolveu-se às margens dos rios Tigre e Eufrates por volta do IV milênio
a.C. tendo se constituído em primeiro lugar pelos sumérios, em seguida pelos
babilônicos, pelos assírios e finalmente pelos caldeus. Sua sociedade estava
organizada em homens livres (grandes proprietários e comerciantes), homens
inferiores (camponeses, artesãos) e escravos (por nascimento, dívida e prisioneiros de
guerras). Eram politeístas e naturalistas – deuses eram incorporações de forças da
natureza. (Marone, 1985)
O amor para esse povo era uma atividade natural retomada culturalmente nas
práticas do culto sexual com preces eróticas aos deuses – o que era muito comum
entre os babilônios. A família era patriarcal, o casamento arranjado. O marido podia
repudiar a mulher estéril. Ele poderia possuir amantes, concubinas e esposas
secundárias. O adultério, apesar de punido, era frequente. Reinava certa liberdade
sexual em que proibido era o incesto, a violência sexual, o desrespeito aos dias de
jejum sexual previsto e a prática sexual com as sacerdotisas reservadas aos deuses.
Eram permitidas relações homossexuais como práticas naturais.
Em vista disso, percebe-se que todo o conjunto de costumes sociais é que
determinava o permitido e o não permitido culturalmente para a prática sexual.
Aprendiam-se socialmente as leis que deveriam ser individualmente respeitadas.

A ANTIGUIDADE CLÁSSICA

A sociedade grega era tão assimétrica quanto à babilônica preservando a


similitude quanto ao modo de produção, a organização social e alguns costumes
sociais para a sexualidade.

 SEXUALIDADE NA GRÉCIA

Para os gregos, a beleza física era indissociável de espírito elevado. E essa


díade era grandemente enaltecida e cultuada. Beleza e harmonia eram fundamentais
nas concepções gregas de mundo e de instituições sociais.
O conceito moderno de pederastia a define como o contato sexual entre um
homem e um rapaz bastante jovem, a atração sexual de um adulto por uma criança ou
ainda homossexualismo masculino. Todavia, na Antiguidade, esse termo referia-se ao
amor de um adulto por um rapaz que, tendo ultrapassado a puberdade, não atingira a
fase adulta. Nessa relação, a beleza e a vaidade eram reciprocamente apreciadas.
A pederastia na Antiguidade não se referia somente à homossexualidade, mas à
prática adulta de assumir a responsabilidade pelo desenvolvimento moral, intelectual e
educacional de um rapaz. Alguns autores presumem que essa prática tenha origem por
volta do século VI a.C. tendo sua origem na camaradagem guerreira. Marrou, citado
por Cattoné ( 1994 ), propõe uma explicação cultural para esse fenômeno:
"A pederastia helênica parece-me, de fato, como sendo um dos vestígios mais
nítidos e duráveis da Idade Média feudal. Sua essência é ser um companheirismo
entre guerreiros. A homossexualidade grega é de tipo militar..."
Pensadores como Platão incentivavam a resistência às paixões pregando que a
perda do controle sobre si mesmo tornaria o homem vil cidadão. Repugnava-se a
pederastia por alegar que nem os animais se uniam a outros do mesmo sexo. Ou seja,
a prática era contrária às leis da natureza.
Sob outras visões, a tentativa de extrapolar a pederastia educacional era
desaprovada – não que não ocorresse – e quem o fizesse corria o risco de perder para
sempre seus direitos cívicos. O que era reprovada era a relação movida
exclusivamente pelos prazeres do corpo.
Numa sociedade escravocrata como a grega, a passividade sexual representava
a infâmia para um cidadão: a homossexualidade não era só a expressão de poder e
dominação do senhor sobre o escravo, mas a possibilidade de homens livres
incorporarem-se à sociedade. Era como um rito. Essa função social da pederastia de
tornar o rapaz livre em cidadão e, consequentemente, em homem sexualmente ativo,
se dá por meio de uma situação paradoxal de passividade na relação amorosa. Tal
relação era desfeita quando o jovem adentrava na fase adulta quando assumiria o
papel inverso ao de efebo.
Havia indignidade em continuar a assumir um papel passivo como o fora na
adolescência. Cattoné diz que a pederastia era uma relação normal e valorizada por
razões ao mesmo tempo afetivas e sociais. "Aos olhos dos gregos, nada é mais belo
que o efebo e nada é mais nobre que o sentimento que se dedica a uma pessoa tão
bela."
Assim, pode-se concluir que a homossexualidade grega não era desvio de
conduta, mas relações entre pessoas do mesmo sexo. Ou, nas palavras de
Catonné: "Na Antiguidade, tem-se um apetite sexual que se satisfaz indistintamente
com os dois sexos. O que importa não é uma identidade ou uma diferença de sexo,
mas uma relação de afetividade ou de passividade".
É possível que as longas ausências dos maridos em razão de guerras e a forma
pela qual era tratado pela família e pela sociedade – sempre como um ser inferior e
incapaz destinada unicamente à procriação sendo o prazer privilégio das hetaíras e
concubinas – tenham gerado um sentimento de solidariedade entre as mulheres
traduzido no amor homossexual. Remontando provavelmente aos séculos VII e VI a.C.,
o amor sáfico ( relativo a Safos de Lesbos ) tinha por objetivo a iniciação a uma vida
sentimental e erótica refinada. Esse tipo de relacionamento não perdurou pois a mulher
assumiu o papel único de perpetuar a espécie. Tais relacionamentos passaram a ser
desprezados sendo a mulher ativa tomada por monstro sexual ao assumir um papel
reservado unicamente ao macho.
Sólon, ao organizar o prazer na antiga Grécia, afirmava que a prostituição
destinava-se a servir jovens afoitos, preservar a pureza da raça e proteger castidade
das esposas. E Cattoné, mais uma vez, resume a prática sexual na Grécia:
"À heterossexualidade cabe a formação do indivíduo físico. A homofilia
encarrega-se do indivíduo social e cultural. O adulto jovem e ativo, após seu
casamento, pode buscar o prazer com as mulheres ou com os rapazes, ou ainda com
ambos. É uma questão de escolha guiada por um gosto pessoal". ( p. 38 ) 
 SEXUALIDADE EM ROMA
A civilização romana desenvolveu-se inicialmente na Itália, mas a conquista de
vastas regiões colocou os romanos em contato com diversos povos e culturas levando-
os a realizar uma grande síntese cultural que foi exemplarmente transmitida aos
períodos seguintes. Roma passou por três organizações políticas: a monarquia, a
república e o império.
Tão diversa econômica e politicamente da Grécia, Roma manteve quase os
mesmos costumes sexuais com algumas adaptações. A bissexualidade foi mantida
porém o parceiro passivo deveria ser um escravo a quem caberia a completa servidão,
fosse ela em quaisquer âmbitos. Nessa sociedade, obtinha-se prazer quando se era
livre e proporcionava-se quando se era servil.
O casamento era visto diferente do grego: era uma união informal de homens e
mulheres livres tão fácil de ser constituída quanto de ser desfeita ( exceção feita
ao confarreatio – um tipo de difícil dissolução ). A ruptura poderia ser feita até pela
mulher e o cônjuge não precisava ser necessariamente informado da decisão. As
razões podiam ser desde o enfado do marido, a esposa infértil, imoral, extravagante até
o fato de o cônjuge estar envelhecendo. O grande vínculo das uniões em todas as
classes era, sem dúvida o dote: desposava-se um dote.
Do período republicano ao período imperial romano vigoraram duas morais
principais:
 era recomendável ao cidadão casar-se. A esposa era um instrumento
emprestável e podia-se reavê-lo desde que houvesse consenso entre os dois.
 O homem de bem só faria amor com o objetivo da procriação e passava a
respeitar a esposa que ascenderia na ordem social.
Essa segunda moral estóica pregava aos sábios e homens de bem a ataraxia –
estado em que a alma, pelo equilíbrio e moderação na escolha dos prazeres sensíveis
e espirituais, atinge o ideal supremo da felicidade: a imperturbalidade ( Dicionário
Aurélio).
Essa recomendação não é a mesma da moral cristã ainda vindoura, mas fazia
parte de um projeto racional que permitiria viver uma vida comedida e feliz se vivida
através de uma nova ética proposta e não de uma nova moral ( certo/errado ).
Ao fim do Império romano a orientação da ética sexual conduzia à
heterossexualidade com o objetivo da perpetuação da espécie sem eliminar a
bissexualidade. Seria o cristianismo, a nova religião que grassava pelo mundo, o
responsável por essa ruptura e pela formação de uma nova moral. E essa nova moral
trazida pelos padres da Igreja primitiva era rígida e severa. A vida íntima era
vasculhada, vigiada, denunciada e punida. Avancemos para o próximo período
histórico para verificar como se deu essa transformação.
2. A SEXUALIDADE NA IDADE MÉDIA ( Da queda do Império Romano no
ano de 476 à tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453 ) 
Durante a Idade Média foi possível perceber a forte influência da Igreja Católica
na regulamentação de condutas amorosas, conjugais e sexuais. Os objetivos da Igreja
visavam ao enquadramento da população a novas formas de se conceber o homem
daquele tempo. Eram as leis de Deus que falavam mais alto e o homem era entendido
como um simples mortal, sujeito às leis do céu e do inferno, criadas por homens em
nome de Deus.
O período medieval, iniciado por volta do século V d.C, é caracterizado pelo
início de novas formas de relação entre os homens em que havia a colisão dos dois
modos de produção: primitivo e antigo, formando a ordem feudal, a qual se propagou
por toda a Europa.
O feudalismo foi produto de um processo gradual, que se iniciou com o que se
pode chamar de simbiose das formações sociais romana e germânica. A penetração
germânica deu-se inicialmente através da agricultura, estendendo-se gradativamente a
outras atividades, como por exemplo, às militares e às políticas.
A Idade Média foi um período de rebelião social, de banditismo e de
ressurgimento de culturas arcaicas. A diferença do nível de desenvolvimento entre os
derrotados e os invasores era imensa. Os costumes dos bárbaros eram primitivos, os
conhecimentos, rudimentares, no entanto, os povos vencidos eram obrigados a se
submeter aos costumes dos invasores.
A única instituição que sobreviveu, ilesa em meio a esse conturbado período de
transição, foi a Igreja cristã tendo conseguido converter os bárbaros ao cristianismo e
tendo fortalecido sua ideologia expansionista.
Costumes e comportamentos tidos no início da civilização cristã como
aceitáveis, como a nudez, as carícias, a prostituição, os filhos ilegítimos, a fornicação, o
aborto e o divórcio são considerados pecado na Idade Média.
Essa nova condição era resultado da interpretação dos religiosos preocupados
em normatizar as condutas humanas pregadas como condição de salvação da alma.
Entre os ideais cristãos, destaca-se o pensamento de Santo Agostinho que compôs os
alicerces da Igreja medieval. Embora nascido na Antigüidade, sua influência religiosa e
moral sobreviveu aos tempos.
O controle exercido pela Igreja sobre a sexualidade deu-se inicialmente junto à
nobreza e posteriormente abrangeu as camadas mais pobres. Os meios utilizados para
esse controle eram o medo, a culpa, a idéia de inferno, o castigo e principalmente a
prática da confissão que representava o meio do pecador conseguir absolvição. A idéia
da vinculação sexo-pecado foi bastante difundida. Tanto o ato sexual quanto o desejo
sexual eram julgados como pecado sob a mesma rigidez.
Somente a Igreja e os padres tinham acesso aos escritos da época guardados
nos templos religiosos. A Bíblia escrita manualmente em papiro era traduzida somente
por alguns padres ficando portanto carregada de interpretações pessoais. Este livro
sagrado de difícil acesso passou a ser o mais importante da época. Por isso, foi fácil
para o clero ter o domínio sobre a vida e a mente do homem. A Igreja ficou sendo o
único elo de ligação entre Deus e os homens e ditava as leis do certo e do errado além
de cuidar da alma e proporcionar a salvação.
A Igreja declarava que o sexo era pecaminoso e que o homem deveria somente
preocupar-se com as coisas divinas e não se apegar aos prazeres carnais. A palavra
amor era um sentimento exclusivo entre Deus e os homens e a única relação que
deveria unir homem e mulher seria a necessidade de procriar. Neste contexto, a mulher
tornou-se a própria imagem do pecado, a chave do inferno, um ser extremamente
perigoso, sem valor e grandemente discriminada.
Em uma sociedade extremamente dualista, onde o bem e o mal estavam sempre
juntos, as mesmas pessoas que pregavam a palavra de Deus dispunham-se a exaltar o
poder do demônio sendo que esta era a melhor maneira que o clero possuía para
controlar a vida dos homens. Junto ao controle da vida vinha o controle dos bens
materiais, visto que estes bens eram frutos do pecado. Os religiosos apregoavam que
os homens não deveriam acumular riqueza na terra, pois a única alegria para estes
seria herdar o descanso eterno no paraíso. Somente o clero estava longe do pecado,
livre para guardar grandes riquezas.
Essa rígida condenação, assim como a estreita vigilância sobre o sexo
empreendida pela Igreja marcaram fortemente a vivência da sexualidade humana
nesse período histórico. A introdução dessa concepção da necessidade de repressão
da sexualidade representava para a Igreja um dos meios de por fim nos vestígios de
uma antiga tradição religiosa que sacralizava a sexualidade e, em especial, o poder
sexual da mulher, cultuando uma divindade feminina. Na medida em que a Igreja
pretendeu afirmar-se como a única e exclusiva fé, a persistência destes vestígios não
podia ser tolerada. Tornou-se, então, necessário erradicá-los, combinando para isso
repressão e cooptação.
Nesse plano da repressão, o sexo foi maculado pelo pecado e permitido apenas
como meio para a procriação. Milhares de mulheres ligadas à antigas práticas
religiosas foram perseguidas e mortas sob a acusação de feitiçaria. A castidade, o
casamento e a fidelidade foram valorizados. O sexo antes ou fora do casamento
mantinha-se interdito e a idéia de que a vida profissional e a afetiva se contrapunham
estava intensamente presente nas pregações que, nesta conjuntura, começavam a
dirigir-se, de forma mais direta, ao público feminino.
Durante o que se convencionou chamar Idade Moderna ocorreram novas
transformações referentes à idéia de sexualidade. Observemos como se construíram
tais modificações.
3. A SEXUALIDADE NA IDADE MODERNA ( da queda de Constantinopla em
1453 até o Iluminismo ) 
Pudemos perceber até aqui que o sexo expressa as condições históricas
concretas e culturais em que o indivíduo está inserido. Seguindo essa abordagem,
passamos agora do período que compreende a Idade Média, como vimos
anteriormente, para tratar das mudanças e rupturas que ocorreram na Idade Moderna,
em seguida na Idade Contemporânea, e que influenciaram decisivamente a concepção
de sexualidade na história da humanidade.
A Idade Moderna é o período da história compreendido aproximadamente entre
a queda de Constantinopla, em 1453, e a Revolução Francesa, em 1789. Foi um
período de grandes transformações sociais, econômicas, políticas e culturais. Uma das
grandes mudanças econômicas foi, com o enfraquecimento da sociedade feudal, o
início do capitalismo, caracterizado pelo advento do comércio e das grandes
navegações e descobertas. Juntamente com essas transformações econômicas, houve
uma rejeição da cultura medieval, a busca de novas formas de arte e um maior
interesse pelos pensamentos clássicos, caracterizado pelo retorno à cultura greco-
romana, o que propiciou o aparecimento de uma nova maneira de ver a vida e as
formas estéticas. Este movimento é denominado Renascimento.
O Renascimento foi um movimento cultural que se iniciou na Itália, na Baixa
Idade Média, e se propagou por toda Europa nos séculos XV e XVI. À medida que a
Renascença se desenvolvia, os reis e príncipes foram apossando-se das terras feudais
e constituindo fortes governos nacionais. O comércio se intensificou e muitas pessoas
trocaram o campo pelas cidades em formação. As maiores conquistas da Renascença
foram realizadas no campo do conhecimento e das artes pois, por se considerar a
Idade Média um período de ignorância e superstição, tentou-se modelar a civilização
segundo os modos de vida da Grécia e Roma antiga. Os valores de beleza desta
época também foram retomados, fazendo reaparecer o conceito de beleza dada ao
corpo e ao nu, representados agora em pinturas e esculturas, o que abalou costumes e
instituições, em especial a Igreja Católica, que havia imposto seus princípios na Europa
durante quase mil anos.
Essa influência Renascentista sobre os costumes e valores, somada ao
crescente desprestígio da Igreja Católica no ocidente nos séculos XIV e XV,
desencadeou a Reforma e a Contra Reforma. A Reforma foi a cisão da Igreja Católica
decorrente de profundas divergências dentro da Igreja ocidental ao longo século XVI,
criticada por se interessar apenas em seu próprio enriquecimento material e pela
ignorância e relaxamento moral do baixo clero. A Contra-Reforma foi tanto a reação da
Igreja que permaneceu fiel à tradição do papado Romano, em oposição ao
protestantismo emergente, quanto o movimento reformista no interior da Igreja Católica
no decorrer dos séculos XVI e XVII. Essas profundas mudanças assinaladas no plano
social, econômico, político e cultural influenciaram de maneira significativa o conceito
de sexualidade na Idade Moderna.
Grieco (1991) faz uma análise sobre as mudanças ocorridas em relação à
sexualidade no período que vai do Renascimento à Idade Moderna. Segundo este
autor, questões como o asseio e a higiene pessoal, por exemplo, são conceitos que
sofreram uma significativa transformação entre os finais da Idade Média e o século
XVIII. A higiene corporal que dependia outrora de banhos regulares e do luxo das
saunas passou nos séculos XVI e XVII a ser feita por artifícios secos e elitistas. O
hábito do banho, quer em estabelecimentos públicos quer na privacidade do lar,
praticamente desapareceu durante estes séculos. No caso dos banhos públicos foi
tanto o receio de contágio de doenças (peste e sífilis), como uma atitude mais rígida
em relação à prática da prostituição (atividade paralela em muitos banhos) que levaram
ao encerramento da maior parte destes estabelecimentos. No caso dos banhos
privados, foram desaparecendo as tinas de banho devido a uma crescente
desconfiança em relação à água e o desenvolvimento de novas técnicas de higiene
pessoal tais como os pós e os perfumes.
Após o movimento da Reforma e Contra Reforma, as autoridades civis e
religiosas, pregadores católicos e puritanos, perseguiram todas as formas de nudez e
sexualidade extraconjugal. Novas atitudes em relação ao corpo e novas regras de
comportamento promoveram a castidade e o pudor da vida cotidiana. O pudor virou um
símbolo de distinção social e moral utilizado pelas classes médias ( burguesia ) da
sociedade ascendente, que condenavam tanto a grosseria física das classes inferiores
como a indiferença libertina da aristocracia.
Nesta sociedade, as mulheres foram particularmente as maiores vítimas desta
moralidade sexual, pois eram vistas como sedutoras e tentadoras que levavam os
homens ao pecado.
Os bordéis que antes eram autorizados e incentivados em toda Europa pelas
municipalidades para responder às necessidades de um grande número de
adolescentes sexualmente maduros que se casavam tardiamente e também para
combater a homossexualidade masculina, começaram a ser considerados um dos
maiores males sociais da época. Essas mesmas municipalidades que outrora
encorajavam a prostituição, no século XVI passaram a se preocupar não só com o
direito criminal mas também com as ofensas morais e voltaram-se contra essas casas
acusando as prostitutas de propagarem a devassidão e a doença, de fomentarem
motins e outras modalidades de perturbações da ordem pública, de incentivarem o
adultério e de dissiparem fortunas familiares. Essas mulheres passaram a ser, assim
como os vagabundos e as bruxas, uma classe popular criminosa que deveria ser
eliminada.
Até meados do século XVIII, a Igreja e o Estado impuseram deliberadamente
seus direitos sobre o corpo e a sua sexualidade. Condenavam o erotismo em função de
uma concepção conjugal natalista.
Para as autoridades civis e religiosas havia dois tipos de comportamento sexual:
um aceitável, presente nas relações conjugais e praticado em função da procriação, e
outro repreensível, por ser governado pela paixão amorosa e pelo prazer sexual,
considerado ilegítimo por conceber o sexo como um fim em si mesmo e utilizar
métodos contraceptivos. Entretanto, a paixão não era condenável apenas fora do
casamento. Ela tornou-se condenável também dentro dele por ameaçar a idéia
contratual da afetividade conjugal e a saúde dos filhos, com a contaminação do amor
terrestre em detrimento do amor espiritual.
A respeito desse comportamento sexual repreensível, Grieco (1991) acrescenta
que os manuais de confissão incitavam padres a pregarem, em especial aos solteiros,
contra o coito interrompido, a homossexualidade, a bestialidade e a masturbação,
alegando que estes eram pecados sexuais que iam contra a função de procriação do
sexo.
A repressão da concubinagem e de todas as formas de sexo não conjugal,
característicos dos séculos XV e XVII, tiveram uma grande influência na diminuição da
taxa de natalidade de crianças ilegítimas. De acordo com o mesmo autor, há
divergências quanto às interpretações sobre a incidência de métodos contraceptivos na
época. Alguns atribuem esta diminuição das concepções pré-nupciais e da taxa de
natalidade ilegítima do final do século XVII a um aumento da masturbação e do coito
interrompido, enquanto outros apontam a hipótese da interiorização do puritanismo da
época.
A única forma de masturbação autorizada por confessores católicos e doutores
em medicina, era a auto-manipulação feminina, tanto como preparação para a relação
sexual (para facilitar a penetração), quanto para atingir o orgasmo depois que o marido
tivesse ejaculado precocemente, pois este ato era considerado pela medicina tão útil
ao ato de procriação como a ejaculação masculina.
A influência dos pais na escolha dos cônjuges tornou-se comum. Criaram-se
várias regras contra o casamento sem o consentimento dos pais que
consequentemente foram privando os jovens da escolha de seu companheiro (a). Esse
modelo paternalista de casamento desempenhava papel crucial nas ambições sociais,
econômicas e políticas dos extratos médios e altos da sociedade, pois representava
um status para a família.
Essa concepção de sexualidade começou a ser modificada apenas no decorrer
do século XVIII com o Iluminismo , pois as idéias trazidas por este movimento sobre
Deus, a razão, a natureza e o homem se cristalizaram e acabaram produzindo avanços
revolucionários na arte, na filosofia, na política e também nas relações sociais. A
oposição às idéias religiosas, a usurpação da figura de Deus e, em especial, o culto à
razão feito pelos pensadores iluministas influenciou o mundo contemporâneo e fez
nascer uma convicção, rica de esperanças e projetos, de que a história humana está
em contínuo progresso.
O século XVIII assistiu a um crescimento do casamento igualitário, baseado no
afeto mútuo e na compatibilidade sexual. A prostituição também aumentou tanto em
decorrência da moral libertina do Iluminismo, como pelo aumento das mulheres
desempregadas, de mães solteiras e de pobres.
Se antes nas classes inferiores o afeto mútuo e o casamento eram mais
facilmente conciliáveis pela presença de práticas como o namoro, por volta de 1750,
houve um crescente aumento dos nascimentos ilegítimos entre as classes mais pobres,
indicando um distanciamento entre o amor e o sexo. Já nas classes média e alta, deu-
se o inverso, pois se assistiu ao alargamento de um modelo de compatibilidade de
sentimentos e atração sexual mútua.
A concepção sobre a família também começou a modificar-se . Analisando
documentos iconográficos, por exemplo, Airés (1987) demonstra que até o século XVI
eram raros os retratos das cenas de interior e de família, pois costumeiramente se
retratavam multidões e cidades povoadas. Segundo o autor, a iconografia da família
aumentou de forma gradual, chegando a ser extremamente rica no século XVII, embora
o principal ainda fosse a representação da vida exterior e pública. Para o autor, essa
característica da iconografia faz alusão à realidade da época, pois até o século XVII a
família não existia como valor. A vida era "vivida em público", não havia intimidade. As
pessoas viviam misturadas umas as outras: senhores e criados, crianças e adultos em
casas abertas a visitantes.
O sentimento de família se desenvolveu entre os séculos XV e XVIII,
primeiramente limitando-se às classes abastadas (a aristocracia, a burguesia, artesãos
e comerciantes), depois, a partir do século XVIII, estendendo-se a todas as camadas
sociais. A família tornou-se uma sociedade fechada onde seus membros gostam de
permanecer. Deixou de ser apenas uma instituição do direito privado para a
transmissão dos bens e do nome para assumir uma função moral e espiritual, pois
passou a ter o papel de formar os corpos e as almas, utilizando-se da educação (daí o
grande desenvolvimento da escola no século XVII).
O desenvolvimento industrial da sociedade cooperou para o aparecimento
dessas transformações das relações sociais no âmbito familiar. Com a inserção da
mulher no mercado de trabalho, a casa perdeu seu caráter público e a vida familiar e
profissional de homens e mulheres sofreu profundas modificações no decorrer do
século XVIII e principalmente no século XIX .
A relação homem/ mulher continuou sendo caracterizada em geral pela
submissão desta à autoridade daquele, porém, não se pode por isso concluir que este
século foi um período sem transformação de valores. De fato, começou a se perceber
que a condição da mulher de companheira do homem e reprodutora da espécie era
mais passível de mudança do que se imaginava, fator fundamental para possibilitar as
novas perspectivas da vivência feminina que surgiriam no século XX.
É neste século que surgem também as primeiras demonstrações de militância
feminista, movimento que começará a aparecer enquanto prática revolucionária depois
de 1830.
A revolução industrial possibilitou a vivência das mulheres num ambiente social
não mais restrito ao lar o que, apesar da exploração do trabalho feminino nas fábricas,
acabou abrindo espaço para sua atuação como trabalhadora e cidadã, um mundo
pertencente até então ao universo masculino.
Segundo Fraisse e Perrot ( 1991 ) , se a mulher burguesa "pode parecer
infinitamente mais confinada que a aristocrata das luzes", ela ganha, por outro lado,
poderes até então inexistentes, como o da maternidade tal como a concebemos hoje.
Para o autor, não se trata apenas de um simples lugar na atribuição de uma função
supervalorizada neste século, mas do direito de atuar diretamente na "formação do
homem", papel que a mulher saberá utilizar tanto como um poder para se refugiar
quanto como um meio de obter outros poderes no espaço social.
A imagem coletiva criada sobre a mulher, baseada num ideal uniforme de
submissão começa a ser desfeita progressivamente e vai sendo substituída por
identidades femininas que se multiplicam: a de mãe, de trabalhadora, a de esposa, a
de emancipada, a de celibatária, etc. Essa diversidade de papéis vivida nas
experiências individuais cheias de contradições e tensões por mulheres comuns
começa a transgredir o ideal até então fixado pela sociedade e modificar a imagem da
mulher encerrada no espaço doméstico, iniciando uma alteração nas próprias relações
entre os sexos e caracterizando um período de intensa agitação e angústia nas
concepções pessoais sobre a sexualidade.
4. A SEXUALIDADE CONTEMPORÂNEA ( da Revolução Sexual – 1950 – aos
dias atuais )
A concepção de sexualidade é uma forma de abordar o sexo que pertence à
contemporaneidade. A sexualidade humana até bem pouco tempo era abordada com
enfoques meramente biologistas, ahistóricos e descritivos, sem uma compreensão
sociológica e histórica.
O termo "sexualidade", separado da marca biológica e procriativa da palavra
sexo, tem uma utilização bastante recente e revela uma tentativa de entender a
amplitude cultural histórica da ação e comportamento do ser humano nesta área. De
fato, a sexualidade assim como todas as outras facetas da vida social humana não é
algo estático, mas dinâmico, que vai sendo construído e transformado conforme as
ações do homem sobre o seu meio, as quais, por sua vez, provocam mudanças no
próprio comportamento do homem e na sua sexualidade.
Dessa forma, podemos entender a sexualidade como uma qualidade do sexo
essencialmente humana, não restrita ao nível de sexualidade do mundo animal, mas
sim com dimensões culturais, históricas, morais e sociais, ou seja, como resultado da
evolução cultural da espécie humana em sociedade ( Nunes, 1996 ).
Desde a década de 20 pode-se observar algumas tentativas importantes de se
fazer uma interpretação histórico-cultural da sexualidade, como os esforços da
Psicanálise, da escola de Frankfurt, entre outros.
Podemos definir como Sexualidade Contemporânea o período em que se inicia a
descristianização das sociedades, caracterizado principalmente pela Revolução Sexual
ocorrida em meados do século XX. Segundo Catonné ( 1994 ), os acontecimentos
deste período histórico modificaram quase dois milênios de história, rompendo o ideal
ascético que ditou a conduta sexual conforme as regras da lei cristã até esta época,
baseadas na culpa sexual, nas confissões e penitências da Igreja.
A Revolução Sexual foi como se denominou o movimento ocorrido na Europa
em defesa da liberação sexual, da prática do sexo natural (sem repressão social ) e da
sexualidade alternativa , que teve forte expressão no feminismo, nos movimentos das
comunidades gays e nas manifestações da juventude parisiense com o lema : "Faça
amor, não faça guerra", entre as décadas de 50 e 60.
A Revolução Sexual, que é uma demonstração da necessidade de mudanças
sentida pelos indivíduos nesse período histórico, originou-se num contexto social
bastante propício: a crise da Modernidade desencadeada após o fim da segunda
Grande Guerra e as conseqüências políticas, éticas, sociais, religiosas e filosóficas
desta. A crise de valores e de paradigmas, a convivência com a idéia de morte gerada
pela guerra, a ascensão da sociedade industrial, a presença da mulher no campo do
trabalho e sua maior participação social devido às novas condições geradas pelo
capitalismo formaram um cenário propício às tentativas de conquistar uma sexualidade
com maior liberdade .
Levantando a bandeira da liberação sexual conforme as idéias defendidas por
Reich (autor do livro : A Revolução Sexual ) e trazendo consigo promessas de prazer e
liberdade, a revolução atingiu rapidamente as massas do pós-guerra , criando um clima
de euforia e otimismo sexual, expresso na reivindicação do direito ao prazer.
O surgimento da pílula anticoncepcional teve uma contribuição fundamental na
expansão deste movimento e das idéias de sexualidade natural, pela possibilidade que
criou de um controle mais efetivo da natalidade. Para as mulheres, a contracepção
modificou a própria percepção da sua sexualidade pois tornou possível a vivência da
sexualidade no sentido amplo da palavra, permitindo o prazer sexual desvinculado das
gestações repetidas e da dor do parto. Consequentemente, as pressões para a
constituição de famílias numerosas deram lugar à tendência de famílias pequenas,
outorgando à mulher além do controle artificial da natalidade, uma maior influência
sobre os filhos e o marido no âmbito familiar. A contracepção efetiva, portanto,
significou mais que uma capacidade aumentada de se limitar a gravidez. Segundo
Giddens, esta conquista
"...marcou uma profunda transição na vida pessoal. Para as mulheres - e, em
certo sentido, diferente, também para os homens - a sexualidade tornou-se maleável,
sujeita a ser assumida de diversas maneiras, e uma 'propriedade' potencial do
indivíduo."
( Giddens, 1993, : 37 ).
A pílula foi colocada no mercado americano no início da década de 60. Na
França, foi legalizada em 1967, apesar da clara contrariedade da Igreja por considerar
(ainda hoje) a sexualidade dissociada da procriação no casamento cristão uma ofensa
às leis sagradas, bem como a concepção sem união, possível hoje através das
técnicas modernas de fecundação in vitro ( Catonné, 1994).
As influências da Revolução Sexual estenderam-se até a década de 80,
propagadas principalmente pela mídia que conquistou seu espaço de influência sobre
as massas nesse período. O entusiasmo pela sexualidade natural só foi reprimido com
a chegada do vírus HIV. A descoberta da AIDS, como ficou conhecida esta doença, no
início dos anos 80, marcou uma ruptura nesta marcha revolucionária da sexualidade
liberal. O medo da contaminação e as interpretações místicas e moralizantes da sua
causa, como a do castigo pelas práticas sexuais consideradas anormais revitalizaram
os preconceitos contra os homossexuais e os grupos de risco e marcaram
acentuadamente as práticas sexuais desta década, espalhando uma moral de medo e
controle da sexualidade humana. As idéias de "amor livre " que tinham forte
repercussão ainda nesse período foram sendo substituídas pela idéia de "sexo seguro".
Analisando as conseqüencias da revolução, encontramos abordagens
divergentes entre os autores contemporâneos.
Para Foucault ( 1984 ), a revolução sexual ocorreu de forma gradual e foi
assimilada lentamente nas sociedades industrializadas. Porém, principalmente nos
países em que a industrialização era um fenômeno recente, as mudanças foram
repentinas e avassaladoras, fortemente influenciadas pela rapidez das transformações
políticas e econômicas, o que contribuiu para uma visão equivocada da Revolução
Sexual, sem a transformação efetiva de valores e concepções.
Nunes , analisando a sexualidade conforme a ótica abordada por Foucault,
afirma:
"A revolução sexual que a Europa vivenciara como uma variante da liberação
humana, tornava-se a negação das transformações dos papéis sexuais, uma
compensação imediatista, potencialmente capaz de ser explorada pela ansiedade da
época." ( Nunes, 158: 1996 )
A liberação sexual seria nesta concepção um meio de estimulação consumista
utilizada pelo capitalismo, que rapidamente percebeu a força acumulada numa
sociedade de repressão sexual, transformando o corpo do homem e da mulher em
mercadorias e promovendo a venda de produtos para compensar a frustração
existencial através da quantificação de práticas sexuais apenas.
Giddens aborda a questão de um outro ponto de vista. Para ele, a Revolução
sexual abriu espaço para a manifestação das minorias e possibilitou uma mudança de
mentalidade, substituindo a idéia de perversão pela idéia de diversidade sexual e,
embora ainda haja muita recriminação por parte de grupos hostis e de idéias
conservadoras e essas pessoas ainda sofram preconceitos, a simples existência de
minorias diferentes em seu modo de viver a sexualidade já demonstra uma
transformação da sociedade.
Para Foucault, portanto, as mudanças na sociedade são convertidas sempre em
novos mecanismos de repressão e controle sobre o indivíduo. Para Giddens, elas
também revelam um passo à frente para a reflexão, o que lhes confere um caráter
emancipatório. 
Sem dúvida, apesar do enfoque atual da questão podemos observar que as
mudanças no modo de ver a sexualidade continuam ocorrendo lentamente na
sociedade e, admitindo que a sexualidade é algo essencialmente social, ou seja,
moldada conforme as influências culturais e históricas a que o indivíduo está
submetido, não podemos deixar de perceber que a vivência da sexualidade no plano
pessoal continua sendo influenciada por um controle social. Porém, não podemos
deixar de admitir que as transformações históricas e sociais ocorridas neste século
trouxeram inúmeras mudanças na forma de os indivíduos perceberem e viverem a sua
sexualidade. A vida em sociedade sempre vai moldar e reprimir de alguma forma a
sexualidade dos seus cidadãos ( Gikovate, 1993 ), porém, não há dúvidas que muitas
modificações já ocorreram, principalmente em se tratando do papel da mulher, que
analisaremos mais detalhadamente a seguir, devido a sua importância.
Entendemos, portanto, a sexualidade de cada período histórico como
característica de sua época, não considerando que ela necessariamente se modifique
de modo linear no decorrer do tempo, para uma maior liberdade ou maior repressão,
mas percebendo-a como uma construção social , específica e diferente em cada
período e sociedade.
A SEXUALIDADE BRASILEIRA:
  No Brasil, a repressão sexual fundamentada sobre princípios éticos e religiosos
formatou a sexualidade em seus moldes desde os tempos da colonização, com
discursos moralistas e práticas perversas, reveladas na marginalização e exploração
das índias, das mulheres negras, crianças e escravos, tratados como objetos ao dispor
dos seus senhores, inclusive para as satisfações de ordem sexual. Apesar de ter
surgido no cenário das nações e povos no alvorecer da Modernidade, o século XVI, o
nosso país teve a forte influência dos jesuítas em sua colonização, o que nos deu uma
concepção dualista do corpo e da alma, consagrada pela ética agostiniana e
extremamente marcada pela pregação cristã do pecado.
Durante o período de economia agrária colonial, a sexualidade principalmente da
mulher brasileira era bastante marcada pela repressão social. O marido tinha amplos
poderes e ainda o direito de castigar fisicamente sua mulher. Além disso, nas classes
dominantes, a mulher era confinada no interior da casa, sob as ordens de um marido
ou pai distante e autoritário, rodeado de escravos e concubinas. Seu papel principal era
o de reprodutora.
Nas classes populares, as mulheres livres gozavam de maior liberdade pessoal,
inclusive no que diz respeito à sua sexualidade. Segundo Sardenberg ( 1994 ), no
entanto, a sua situação não era menos opressiva do que a das mulheres da classe
dominante. Além de enfrentarem um trabalho estafante, que exigia muito esforço físico,
muitas vezes eram abandonadas, tendo de desenvolver atividades paralelas para o
sustento dos filhos. Conforme a mesma autora, nesse período não se tem registros de
uma "insubordinação" consciente de mulheres.
No decorrer do século XVIII, os discursos oficiais ( Igreja, escola ) continuaram
abordando a sexualidade sobre a ótica do pecado, encarando as mudanças de
comportamento da sociedade brasileira como perversão e desordem, numa análise
sempre moralista.
Quanto às influências da Revolução Sexual da Europa, ocorreram num ambiente
ainda mais permeado por contradições e conservadorismo no Brasil, devido ao período
da ditadura militar pela qual o país passava. Segundo Nunes ( 1996 ), as mudanças
ocorridas foram marcadas pela visão consumista do capitalismo emergente e pela
mídia brasileira que, se por um lado abriu espaço para programas femininos e para a
discussão da sexualidade feminina, por outro contribuiu para a expansão da exploração
estética e pornográfica do corpo e da mulher, sem abalar os alicerces do patriarcalismo
e do machismo ainda tão arraigados em nossa cultura.
O desenvolvimento tardio de uma visão mais ampla sobre a sexualidade pode
ser exemplificado nos dados sobre a educação sexual nas escolas brasileiras.
O período que vai de 1930 a 1950 é apontado por Nunes como um período de
ausência de iniciativas institucionais e jurídicas de promover a educação sexual.
Algumas poucas tentativas de inserir o tema nas escolas, restritas a abordar a
sexualidade em seu caráter puramente biológico, foram fortemente contrariadas e
reprimidas pela Igreja, pela imprensa, por associações de pais e pela opinião pública,
acusadas de promover "a ruína da família e dos valores religiosos e morais da
sociedade".
Apenas a partir da década de 70 começaram a surgir os primeiros trabalhos
científicos sobre o tema, apresentados em congressos brasileiros, e projetos de lei
defendendo a sua inclusão no currículo escolar. É também nesta década que se dá a
ação pioneira em educação sexual nas escolas, através de um grupo de atuantes
educadoras e ativistas do movimento feminista no Rio de Janeiro e São Paulo.
Ainda na década de 80, porém, a sexualidade era abordada através de um
discurso normativo e institucional, em defesa intransigente do matrimônio e da família
patriarcal tradicional. As escolas começam a demonstrar alguma preocupação com a
questão oferecendo aulas ou cursos ministrados por padres e agentes pastorais de
formação religiosa, católica ou protestante.
 A SEXUALIDADE FEMININA E A QUESTÃO DE GÊNEROS
  Certamente, um dos temas de maior relevância na questão da sexualidade
atualmente é a relação entre os gêneros, a discussão das diferenciações estabelecidas
entre o homem e a mulher e, mais especificamente, o papel da mulher: sua atuação na
família e na sociedade.
A concepção de gênero , assim com a de sexualidade humana, é relativamente
recente. A expressão começou a ser utilizada nos anos 60 como uma tentativa de
explicar as relações entre o feminino e masculino de maneira mais ampla,
considerando-as construções históricas e sociais.
Segundo Kahhale ( 2001 ), as relações de gênero de uma sociedade expressam
o caráter social da determinação dos sexos e influenciam diretamente a constituição da
identidade do indivíduo, suas escolhas e vivências.
O gênero, nesta visão, seria uma forma de conceber a sexualidade construída
histórica e socialmente, partindo das diferenças biológicas mas levando em
consideração principalmente as complexas relações humanas e o contexto histórico.
Este enfoque abre a possibilidade de compreender as escolhas, oportunidades e
vivências do indivíduo determinadas pelo sexo.
Com relação ao 'gênero feminino', os séculos XVIII e XIX ainda foram fortemente
marcados pelas concepções dos períodos históricos anteriores, baseadas nas
diferenças biológicas/genéticas dos sexos, com uma visão preconceituosa do papel da
mulher, que continuava sendo relegado ao de procriadora.
A sexualidade feminina é um enfoque bastante recente, iniciado principalmente
com o movimento do feminismo ocorrido em meio do século passado. Os ideais sobre
a mulher até este período ainda apresentavam uma visão medieval. A gravidez de uma
moça solteira, por exemplo, durante boa parte do século continuou sendo vista quase
como um crime e como algo sob a responsabilidade exclusiva da mulher. De fato, na
Grã Bretanha, segundo dados apresentados por Giddens (1993), uma moça solteira
que ficasse grávida poderia ser autuada, internada em reformatórios ou hospitais
mentais ou ainda ser presa de acordo com o Ato de Deficiência Mental, promulgado em
1913, que dava às autoridades locais o poder de aplicar tais medidas, já que a gravidez
ilegítima era em si um sinal de subnormalidade.
Com isso, a iniciação sexual das moças permaneceu durante muito tempo um
tabu. As mães insistentemente ensinavam suas filhas que não deveriam jamais
entregar-se a um homem antes do casamento, pois desse modo, conseguindo o que
queria ( sexo ) ele jamais se casaria com ela. Diversas pesquisas apresentam dados
sobre como a sexualidade feminina era reprimida pela sociedade. Uma pesquisa
realizada por Lilian Rubin ( Giddens, 1993 ) sobre o comportamento de moças por volta
da década de 50, por exemplo, demonstrou que as mulheres não falavam sobre sua
sexualidade e que a perda da virgindade antes do casamento era um risco para a
reputação das garotas ( embora representasse o contrário para os garotos ) o que fazia
com que elas procurassem adiar seu envolvimento sexual o máximo possível ou jamais
admiti-lo.
A identidade da mulher subordinada, construída ao longo dos milênios, começou
a ser vista de um modo diferente na cultura ocidental quando surgiram as primeiras
idéias socialistas na Europa, no começo do século XIX, provocadas principalmente pelo
fracasso da revolução burguesa em 1789. As liberdades formais, meramente
ideológicas: no discurso e no papel, que esta revolução criou estavam ( como ainda
estão ) longe de satisfazer as exigências de liberdades reais, o que começou a
provocar desejo de mudança de alguns paradigmas.
Os socialistas apontaram que o posicionamento inferiorizado da mulher na
cultura das sociedades era fruto das relações sociais, da maneira como as sociedades
se organizaram e se estruturaram para produzir bens econômicos. Mostraram que a
questão de gêneros não era uma diferença biológica, mas uma diferença construída
socialmente, que portanto, poderia ser modificada.
Para os socialistas, as relações de gênero, divididas entre papéis masculinos e
femininos haviam sido socialmente construídas através da história de acordo com a
ideologia patriarcal e assumidas pelo capitalismo de modo a favorecer a obtenção de
lucros. Segundo Viezzer ( 1989 ), a confusão entre o natural e o histórico, presente na
divisão do ser humano na categoria de gêneros, seria uma das principais armas da
classe dominante para se fazer acreditar que é "natural" uma classe ser subordinada à
outra dentro da sociedade. Além disso, a presença de um "exército de reserva" de
trabalhadores à disposição por menores salários só poderia ser conseguida com a
ideologia de inferioridade do sexo feminino.
É certo que muitas modificações já podem ser observadas com relação à mulher
na sociedade, principalmente depois do surgimento da pílula e sua popularização pelo
movimento feminista, que permitiu à mulher uma igualdade de poder sobre o seu corpo
como o homem e, consequentemente, aumentou sua autonomia. Porém, as
transformações da sexualidade feminina não significaram uma emancipação social e
econômica completa da mulher, pois nesse âmbito ainda podem ser observadas
enormes disparidades com relação aos homens.
Catonné ( 1993 ) aponta que a diferença global entre os salários masculinos e
femininos é de 1/3 e que todo setor que se "feminiza" tende a se desvalorizar. Para ele,
continua-se a opor um trabalho assalariado, primeiramente masculino, a uma atividade
doméstica, essencialmente feminina.
Viezzer ( 1989 ) reforça essa opinião argumentando que em todas as partes do
mundo os homens têm maior acesso à propriedade de terra, aos recursos sociais, à
tecnologia e às posições políticas, maior mobilidade física e menos responsabilidades
do que as mulheres na unidade doméstica. Além disso, de modo geral não lhes cabe o
cuidado das crianças e dos velhos.
Essas diferentes possibilidades reforçam as desigualdades nas relações entre
homem e mulher no âmbito pessoal. Ainda hoje, nessa relação a iniciativa é masculina,
na maioria dos casos. Pertence ao homem o papel de propor e à mulher o de dispor.
 É certo que a maior parte dos homens já admite as mudanças no
comportamento do sexo oposto e chegam até mesmo declarar-se favoráveis a que as
mulheres sejam intelectual e economicamente iguais a eles e mais ativas no
relacionamento. Contudo, as pesquisas mais específicas, como as realizadas por
Muraro ( 1983 ) e Grassi (1996), demonstram que existe um desconforto óbvio e
profundamente arraigado quando estes mesmos homens se defrontam com as
implicações de tal realidade.
Essas contradições demonstram o conflito que ainda permanece nos indivíduos
nesse período de tantas mudanças. Certamente, mais algum tempo se fará necessário
até que homens e mulheres possam compreender de maneira menos conflituosa as
suas igualdades e diferenças e exercer de maneira mais plena sua sexualidade.
CONCLUSÃO 
Tendo em vista a exposição anterior pode-se perceber como os diferentes
valores, crenças, organização social e econômica, religião e a própria cultura das
sociedades em seus respectivos tempos históricos influenciam a construção da
concepção de sexualidade por seus indivíduos.
Na Antigüidade a sexualidade era tratada e vivida de uma forma mais livre, sem
grandes tabus. A homossexualidade, por exemplo, apesar de ser rejeitada como o ato
em si, era aceito como forma de submetimento do escravo pelo homem livre.
Durante a Idade Média, devido à grande força e pressão da Igreja Católica,
assiste-se a um período de contenção da sexualidade restrita apenas aos leitos
conjugais, de maneira comedida, desvinculada do prazer e direcionada exclusivamente
à procriação.
No início da Idade Moderna, com o Renascimento, pode-se perceber uma certa
tendência à maior liberação das condutas sexuais. O total divórcio entre a fé e a razão
experimentado coloca o homem no centro da reflexão humanista. Essa moral individual
preservava a liberdade e tudo que permitisse ao homem uma escolha racional do bem.
A nova concepção de Homem e de sexualidade passa a ser expressa inclusive através
da arte. No entanto, com o advento da Reforma Protestante e da Contra – Reforma
Católica, mais uma vez a religiosidade cercea e determina os rumos e a formação do
conceito de sexualidade.
Uma grande e significativa revolução no conceito e vivência da sexualidade só
será verificado em meados da década de 1950 com a chamada Revolução Sexual em
que, principalmente a mulher passa a assumir um novo papel social e sexual. Passam
a ser discutidas as relações de gênero.
Assim, pode-se inferir que o que define a sexualidade depende do momento
histórico bem como do contexto histórico de uma sociedade na qual o homem /
indivíduo se insere.
Nesse sentido, segundo Kahhale, a
sexualidade deve sempre ser pensada e debatida a partir do campo das
relações sociais, da cultura, dos valores e formas sociais de vida. Algo vivido no âmbito
individual, mas cuja constituição nos sujeitos é possibilitada e caracterizada pelas
normas e valores sociais, pois só assim se escapa da discussão naturalizante e / ou
moralista ( p.184 ).
E complementa quando discursa sobre o prazer:
"é uma experiência dos indivíduos singulares, mas suas referências, suas
possibilidades e limites e suas estimulações e impedimentos estão nas relações
sociais e na cultura; e é deste lugar que cada um retirá os elementos para construir sua
singularidade / identidade" ( p. 184 ).
Depreende-se desse discurso que a abordagem histórico-cultural tem por
objetivo resgatar a gênese da sexualidade que vivenciamos em nossa sociedade atual.
Ela está repleta de significações que lhe foram agregadas ao longo dos avanços,
retrocessos, e da própria história do homem. É Kahhale quem, sabiamente conclui:
"a leitura histórica é a real possibilidade de compreensão dos tabus que
caracterizam a sexualidade e também a possibilidade de desenvolvimento de versões
menos preconceituosas e moralistas do assunto, sem perder, no entanto, a perspectiva
de que os homens, por necessidade sociais ( algumas já superadas ), "inventaram"
regras e formas para a sexualidade, ou melhor, inventaram a sexualidade" ( p. 185 ) .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
AIRÉS, Philippe; BÉJIN, André (Orgs). Sexualidades Ocidentais:
contribuições para a história e para a sociologia da sexualidade. 3ª ed. São Paulo:
Brasiliense, 1987. 
BERNARDI, Marcello. A Deseducação Sexual. São Paulo: Summus, 1985. 
KAHHALE, E.M.P. Subsídios para reflexão sobre sexualidade na
adolescência. In: BOCK, A. M. B; GONÇALVES, M. G. M; FURTADO, O.
(Orgs.) Psicologia Sócio–Histórica: uma perspectiva crítica e psicologia. São
Paulo: Cortez, 2001.
SARDENBERGB, C. M. B. Feminismos, feministas e movimentos
sociais.In: BRANDÃO, Margarida Luiza R. ; Bingemer, Maria Clara L. (Orgs.) Mulher e
relações de gênero. São Paulo: Loyola, 1994. 
CABRAL, J.T. A sexualidade no mundo ocidental. Campinas: Papirus, 1995. 
CATONNÉ, J. P. A sexualidade ontem e hoje. Coleção Questões da nossa
época. São Paulo: Cortez, 1994 
DUBY, Georges; PERROT, Michele (Orgs). História das mulheres no
ocidente: do Renascimento à Idade Moderna. Vol. 3. São Paulo: Afrontamento,
1991. 
FRAISSE, G; PERROT, M. Introdução: Ordens e liberdades. In: DUBY, Georges;
PERROT História das mulheres no ocidente: O século XIX. Vol. 4. São Paulo:
Afrontamento, 1991.
GRIECO, S. F. M. O corpo, aparência e sexualidade. In: DUBY, Georges;
PERROT História das mulheres no ocidente: do Renascimento à Idade
Moderna. Vol. 3. São Paulo: Afrontamento, 1991.
EISLER, Riane. 0 Prazer Sagrado: sexo, mito e a política do corpo. Rio de
Janeiro: Rocco, 1996.  
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A vontade de saber. Tradução
de Maria Thereza da Costa Albuquerque. Rio de janeiro: Graal, 1984.
______ História da Sexualidade II : o uso dos prazeres. Tradução de Maria
Thereza da Costa Albuquerque. Rio de janeiro: Graal, 1996. 
_______ História da Sexualidade III: o cuidado de si. Tradução de Maria
Thereza da Costa Albuquerque. Rio de janeiro: Edições Graal, 1985. 
GIDDENS, Anthony. A Transformação da Intimidade: Sexualidade, amor e
erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: UNESP, 1993. 
GIKOVATE, Flávio. Namoro, Relação de Amor e Sexo. São Paulo:
Moderna,1993.
GOBBI, Maria Aparecida. Lápis Vermelho é de Mulherzinha: Desenho
infantil, relações de gênero e educação infantil. Campinas, SP. Tese de Mestrado -
UNICAMP, 1997.
GRASSI, Maria Virgínia F. Cremasco. A sexualidade e o ser: Uma
compreensão do vivenciar masculino. Campinas, SP : [s/n] Tese de Doutorado-
UNICAMP, 1996.
LEVI, G. & SCHMITT, J. C. História dos Jovens: da antiguidade à era moderna.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 
MARONE, G. T. e FRANCO JR, H. História Geral I – Livro 8 – Sistema Anglo de
Ensino. São Paulo : Anglo, 1985. 
MONTSERRAT, Moreno. Como se ensina a ser menina: O sexismo na
escola. São Paulo: Moderna, Ed. Da UNICAMP, 1999. 
MURARO, Rose Marie. Sexualidade da Mulher Brasileira. Corpo e classe
Social no Brasil. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1983. 
NUNES, César Aparecido. Filosofia, Sexualidade e Educação: As relações
entre os pressupostos ético-sociais e histórico-culturais presentes nas
abordagens institucionais sobre a educação sexual escolar. Tese de
Doutoramento em Educação Unicamp, 1996.
 NUNES, César. Sexualidade(s) Adolescente(s): Uma abordagem didática
das manifestações da sexualidade na adolescência. Florianópolis, SC : Sophos,
2001.
PIMENTEL, Sílvia. A mulher e a constituinte: uma contribuição ao debate.
São Paulo: Cortez, EDUC, 2 ª edição, 1987.
RAGO, Margareth. Os prazeres da noite Porstituição e códigos da
sexualidade feminina em São Paulo ( 1890 1930 ). Rio de Janeiro : Paz e Terra,
1991.
REICH, Wihelm. A Revolução Sexual. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
RIBEIRO, Marcos. Menino Brinca de Boneca? . São Paulo: Moderna, 1990.
SIMONNET, D. Sexo e poder à moda antiga. Tradução de Clara Allain. Jornal
Folha de São Paulo. São Paulo 15 / 09 / 2002. Caderno Mais !
SUPLICY, M. Sexo se aprende na escola. São Paulo: Olho d’Água, 1995.
 VIEZZER, Moema. O Problema não Está na Mulher. São Paulo: Cortez, 1989

Você também pode gostar