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AMOR
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14/08/2022 15:37 A Vida Conjugal e o Autoconhecimento. - Blog do IJEP
que passou por diferentes adaptações no decorrer dos anos. Hoje ainda é movido por
romantismo e algumas crenças nos induzem a pensar que sempre teremos alguém ao
nosso lado. Em termos gerais, a visão conjugal do casamento é que ele envolve a união
de dois seres por toda a vida, pelos atos de amor e pelos filhos que esse amor traz.
Inicialmente, todos os melhores sonhos são projetados nele e os envolvidos têm como
propósito uma vida em conjunto. Mas C. G. Jung nos alertou: “Como relacionamento
psíquico o matrimônio é algo complicado, sendo constituído por uma série de dados
subjetivos e objetivos que em parte são de natureza muito heterogênea” JUNG, O/C 17,
par. 324). E complementou: “Não existe nenhum relacionamento psíquico entre dois
seres humanos, se ambos se encontrarem em estado inconsciente” (JUNG, O/C 17,
par. 325). Também não existem receitas prontas que resolvam questões relacionadas
ao conteúdo psíquico que envolve a vida conjugal. Para tanto, o caminho mais
assertivo é promover o autoconhecimento de cada cônjuge, que possibilita tornar
conscientes os conteúdos inconscientes, favorecendo assim o encontro de indivíduos
para viverem o enlace matrimonial.
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Vindo ao encontro, podemos perceber que até hoje recebemos influências de muitas
gerações e também dos escritos da Bíblia Sagrada, que trazem a ideia de que Deus
criou a mulher para ser a companheira do homem: “Não é bom que o homem esteja
só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele (Gênesis 2:18). É transmitido pela igreja
que o propósito de Deus para o casamento é gerar filhos. Da mesma forma, que o
casamento deve durar para sempre, até que a morte separe o casal. E quantas mortes
em vida ocorrem na vida conjugal? Morte da confiança, do respeito, do
companheirismo, contrapondo as promessas matrimoniais: “Prometo ser fiel na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe por todos
os dias da minha vida.” Não é algo fácil de se cumprir, principalmente no mundo
imediatista e descartável em que vivemos! Martha Medeiros, com a crônica
Promessas Matrimoniais, traz valiosas reflexões, que são diferentes das promessas
tradicionais: “Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não
uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar? […]
Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não
porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem
informados sobre a realidade que os aguarda? […]
Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve
na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado
pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum
elimina?”
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Muitos filmes traduzem luzes e sombras sobre casamento. Entre tantos que
apresentam essa temática, podemos citar: O Casamento dos Meus Sonhos, que
envolve um evento romântico inesquecível. Cinco Anos de Noivado, apresenta
noivado longo, com cerimônia diurna. A despedida de solteiro comparece em Noivas
em Guerra e Casamento Grego ocorre em cerimônia gigantesca. Mamma Mia, por sua
vez, inspira noivos praianos. E para descontrair e rir muito, Missão Madrinha de
Casamento. A crença que o amor envolve duas metades que se unem e se completam é
um dos padrões enraizados e fonte de muitas inquietações e sofrimentos. Neste
sentido, Jung nos deixou reflexões: “Para tornar-se consciente de mim mesmo, devo
poder distinguir-me dos outros. Apenas onde existe essa distinção, pode aparecer um
relacionamento” (JUNG, O/C 17, par. 326). Da mesma forma, orientou-nos sobre a
importância de trazer conteúdos inconscientes para a luz da consciência: “Quanto
maior for a extensão da inconsciência, tanto menor se tratará de uma escolha livre no
casamento; de modo subjetivo isto se faz notar pela coação do destino, claramente
perceptível em toda a pessoa apaixonada” (JUNG, O/C 17, par. 327). No começo do
relacionamento projetamos e vivemos muitos sonhos, mesmo assim adaptar-se ao
mundo do outro é algo desafiador. Guiados pela liberdade da escolha ou pelo destino,
sempre temos tempo de ressignificarmos velhos padrões.
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pelos fios da alegria, da tristeza, do prazer, da dor, do medo e da fé, fazendo laços e
nós harmoniosos e desfazendo os patológicos”. Projetamos no nosso cônjuge alguns
dos nossos aspectos sombrios, que muitas vezes são as causas das desavenças. Ao
mesmo tempo, em função das influências externas, usamos máscaras – denominadas
personas – para nos apresentarmos de forma mais favorável, porém muitas vezes
envolvidas por medo das dificuldades e medo de nos entregarmos ao amor. O medo da
intimidade e a perda da privacidade são fatores que assustam os indivíduos,
dificultando a verdadeira entrega ao relacionamento. De forma similar, a falta de uma
comunicação mais assertiva é causa de muitos embates. Somos tomados por
inúmeras atividades, vivemos apressados e não temos mais tempo para
estabelecermos um diálogo saudável.
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Fontes de Referência:
BRAGA, Roberto Carlos. Como é grande o meu amor por você. Álbum Roberto Carlos
em Ritmo de Aventura. CBS, 1967.
__________ Sobre o amor [tradução de Inês A. Lohbauer]. Aparecida, SP: Ideias &
Letras, 2005.
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https://www.ijep.com.br/index.php/artigos/show/casamento-e-a-psicologia-
junguiana.
https://www.letras.mus.br/tom-jobim/49040/.
Amar É Mudar A Alma De Casa | Poema de Mário Quintana com narração de Mu…
Mu…
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EMI, 2002.
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ATUALIDADES
Barbies, ursos, pocs, twinkies, twunks, lontras, discretos, pintosas e mais. A profusão
de tribos que a comunidade gay (aqui só o G do LGBTQIA+ mesmo) usa para se
classificar pode ser um tanto estranha para quem a observa de fora. Trata-se de uma
tipologia que varia, tanto geograficamente quanto com o tempo, mas que sempre
marca a diferença entre corpos e comportamentos. Mas o que há por traz desse afã
classificatório? Esse artigo busca entender, a luz da psicologia junguiana, porque esse
sistema de tribos existe na comunidade gay e como isso repercute na psique desses
homens.
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Para quem não está familiarizado com esses termos essa taxonomia pode muito bem
causar um bocado de estranhamento, mas talvez o estranhamento seja uma
abordagem interessante para o fenômeno, afinal, por que seria interessante
classificar pessoas dessa maneira? Afinal, é estranho que um grupo que já é
marginalizado queira entre seus pares gerar mais categorias e eventual
(re)marginalização. Também é estranho porque entre heterossexuais não existe de
maneira tão patente esse fenômeno. É interessante notar aqui que também existe tal
fenômeno entre mulheres lésbicas, mas em menor grau.
A primeira explicação possível para tal fenômeno seria sociológica. Essa classificação
faz parte de um jogo de desejo, valor e pertencimento. O que faz bastante sentido, mas
não parece bastar, afinal, esses jogos não são exclusividade da comunidade gay. Deve
haver algo específico nas vivências gays que favoreçam o surgimento dessas
classificações
Mas observemos outra definição para persona, dessa vez do livro Tipos Psicológicos:
“A persona é, pois, um complexo funcional que surgiu por razões de adaptação ou de
necessária comodidade, mas que não é idêntico à individualidade.” (JUNG, 2013,
§735). Podemos dizer que as classificações das quais estamos tratando se enquadram
nessa definição? Afinal tais classificações adaptam alguém a sociedade? A sociedade
em geral com certeza não, mas definitivamente podem servir para se navegar dentro
da comunidade gay. Obviamente, uma persona só faz sentido dentre aqueles que
reconhecem aquele “personagem”, então apenas entre quem entende o que é um
twink, fara sentido ser ou não ser um twink.
É talvez seja esse o ponto central desse artigo: tais classificações, por pior que sejam,
estão de alguma maneira servindo para que indivíduos transitem dentro da
comunidade gay. Esses personagens estão na realidade pautando maneiras de se ser
gay, dando imagens a vivências múltiplas do que é ser um homossexual masculino.
Obviamente categorias não possuem a complexidade nem a potência de personas
mais antigas e elaboradas como personas profissionais, por exemplo, nem tão pouco
costumam ser de tamanha importância para o indivíduo quanto essas. Mas não
deixam de pautar as subjetividades e ordenar vivências. Contudo o leitor há de
perguntar, não são essas classificações muito pobres e superficiais? E uma resposta
sincera seria sim, são. Mas há uma razão para essa superficialidade: a escassez de
narrativas de vida homossexuais nas quais se pautar. Poderíamos até dizer, uma
escassez de mitologia que dê conta dessas subjetividades.
E aqui entra o segundo ponto desse artigo: de onde homens homossexuais estão
retirando material para entender a própria vivência relacional? Primeiramente a
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maioria dos homossexuais adultos de hoje não teve contato com histórias de vida de
outros homossexuais enquanto cresciam, já deixando um vácuo de referências do que
é ser gay. Já na mídia até pouco tempo era quase inexistente na mídia de amplo
alcance narrativas sobre personagens homossexuais (sejam homens ou mulheres). Os
poucos personagens homossexuais que surgiam costumavam ser vilões ou estar em
algum tipo de papel cômico, geralmente jocoso. Havia poucas representações
saudáveis possíveis para um homem gay nessas narrativas. Mesmo em produções que
tratavam de questões LGBTQIA+ as narrativas não costumavam ser mais favoráveis,
visto que, por muito tempo, quase todas tratavam mais dos aspectos trágicos dessas
condições, e, por melhor que o filme seja, é difícil imaginar uma vida a dois feliz com
O Segredo de Brokeback Mountain como horizonte. E se nessas duas instâncias o
material já é pobre, não há nem o que se dizer em relação a disponibilidade de
material mitológico e literário acerca do tema.
Essa aridez narrativa pode ter sido uma das forças motrizes para o surgimento
dessas classificações. Na ausência de boas histórias com bons personagens, foi
surgindo uma plêiade de estereótipos mais ou menos caricatos para tentar dar conta
de subjetividades que não se encontravam representadas facilmente. Obviamente,
isso tem um custo psíquico para os indivíduos que passam a se identificar com esses
papéis, como lembra Jung:
“Essas identificações com o papel social são fontes abundantes de neuroses. O
homem jamais conseguirá desembaraçar-se de si mesmo, em benefício de uma
personalidade artificial. A simples tentativa de fazê- lo desencadeia, em todos os
casos habituais, reações inconscientes: caprichos, afetos, angústias, ideias
obsessivas, fraquezas, vícios etc. O “homem forte” no contexto social é,
frequentemente, uma criança na “vida particular”, no tocante a seus estados de
espírito. Sua disciplina pública (particularmente exigida dos outros) fraqueja
lamentavelmente no lar e a “alegria profissional” que ostenta mostra em casa um
rosto melancólico. Quanto à sua moral pública “sem mácula”, tem um aspecto
estranho atrás da máscara – e não falemos de atos, mas só de fantasias: suas
mulheres teriam muitas coisas para contar. Quanto ao seu abnegado altruísmo, a
opinião dos filhos é outra.” (JUNG, 2015, §307)
Que poderíamos então imaginar de um homem gay que chegue na análise
identificado com um desses personagens? Que neuroses estariam ocultas por trás dos
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esforços para ser uma barbie? O que ocultaria um orgulho exagerado em ser um urso?
A que custos ocorre a performance necessária para ser entendido como discreto?
Certamente, cada caso precisa de atenção própria e estender generalizações talvez só
nos leve de volta para a superficialidade que essas classificações trazem a princípio.
De qualquer forma, uma das funções da análise nesses casos seria alargar os
horizontes imaginais da experiência do que é ser um homem gay. Para além dos
estereótipos postos, quem é o indivíduo por trás da máscara? A pessoa que existe por
trás de um desses personagens bidimensionais necessariamente será muito mais
interessante do que qualquer classificação da conta, mas talvez ela não tenha boas
maneiras de contar a sua história para si própria.
Para esses indivíduos a análise talvez possa ser um lugar para reverter essa
aridez de narrativas. Mesmo que não tenhamos uma ampla disponibilidade de
narrativas mitológicas sobre homossexualidade masculina elas existem. E para
muitos casos será útil valer-se desses mitos para encontrar formas mais
interessantes de se imaginar gay. Talvez a parceria entre Gilgamesh e Enkidu possa
ensejar uma discussão sobre dinâmicas de casal. Ou talvez o caso de Ossaim
seduzindo Oxóssi possa ajudar numa discussão sobre as consequências de se mudar
para a casa do namorado. Certamente, o rapto de Ganimedes por Zeus também poderá
dizer algo sobre a condição de homens gays. As incursões amorosas de Apolo com
seus parceiros masculinos, no entanto, provavelmente só renderão ampliações para
cenários menos favoráveis.
Mas se na mitologia não encontrarmos algo que nos seja interessante a produção
cultural dos últimos tem proporcionado novos personagens (agora mais complexos e
menos abjetos) que também podem ajudar num processo de se reinventar gay.
Recentemente, a série Heartstopper, adaptada do quadrinho de mesmo nome, traz o
retrato de um amor adolescente entre dois rapazes, algo impensável há uma década
num programa de TV. O filme Me Chame Pelo Seu Nome trata do tema do primeiro
amor (e da primeira decepção amorosa). Filmes como De Repente Califórnia e
Delicada Atração mostram casais gays que se formam, mesmo perante adversidades.
Weekend relata o relacionamento efêmero, mas intenso entre dois homens ao longo
de um fim de semana. E mesmo numa série humor, o relacionamento de Mitchell e
Cameron de Modern Family talvez ajude alguém a se entender como parte de um
casal. Obviamente os filmes de abordagem mais trágica e de crítica social como
Brokeback Mountain, Filadélfia, Garotos de Programa e Maurice também podem ser
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muito interessantes no contexto da análise, mas é sem dúvida um alívio que não
tenhamos apenas filmes tristes.
Certamente há muito mais nesse curioso hábito classificatório do que esse artigo da
conta. Mas espero que esse possa ajudar analistas, analisandos e curiosos a expandir
um pouco suas visões sobre a questão das identidades gays. A verdade é que não existe
um jeito só de se ser homossexual (como não existe um jeito só de se ser
heterossexual) e é necessário abandonar classificações e papéis que absorvemos em
nossa trajetória, tenham elas vindo de uma sociedade heteronormativa ou de dentro
da própria comunidade LGBTQIA+. Tais classificações, afinal, acabam por limitar as
experiências e subjetividades do indivíduo. As temáticas LGBTQIA+ praticamente
inexistem na obra junguiana, e nem poderia ser diferente, seria absolutamente
anacrônico esperar o contrário. Mas isso não significa de maneira alguma que a
clínica junguiana não tenha muito a oferecer aos homossexuais. Na análise podemos
buscar formas de existir que sejam não só mais saudáveis, mas que também estejam
em maior consonância com o Self e o processo de individuação da pessoa.
Bibliografia
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Gabriel Andrade
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