1) O documento discute a visão de Freud sobre sexualidade e como ela é uma construção social e histórica, variando de acordo com época e cultura;
2) Ao longo da história, a Igreja e outras instituições promoveram uma moral sexual que via a sexualidade apenas como meio de procriação;
3) Freud propôs uma visão revolucionária ao entender a sexualidade como algo inerentemente humano, independente de sua finalidade biológica.
1) O documento discute a visão de Freud sobre sexualidade e como ela é uma construção social e histórica, variando de acordo com época e cultura;
2) Ao longo da história, a Igreja e outras instituições promoveram uma moral sexual que via a sexualidade apenas como meio de procriação;
3) Freud propôs uma visão revolucionária ao entender a sexualidade como algo inerentemente humano, independente de sua finalidade biológica.
1) O documento discute a visão de Freud sobre sexualidade e como ela é uma construção social e histórica, variando de acordo com época e cultura;
2) Ao longo da história, a Igreja e outras instituições promoveram uma moral sexual que via a sexualidade apenas como meio de procriação;
3) Freud propôs uma visão revolucionária ao entender a sexualidade como algo inerentemente humano, independente de sua finalidade biológica.
Falar de sexualidade em Freud, e sua relação com os sofrimentos
psicológicos, a princípio nos remetem a uma questão social relacionada com o que se compreende das atividades sexuais humanas. Tal fato, de certo, é uma questão social que decorre de processos culturais, dentro dos variados ambientes sociais em que no percurso de desenvolvimento do ser humano, se deu por relações de poder nas variadas contingências sociocultural. Então, nesse processo cultural das relações sociais, pode-se pensar em duas situações que nos levam a pensar o sexo sob dois aspectos: o conceito de sexo e gênero. Para não haver dúvidas a respeito do que desejo relacionar, vamos entender que sexo e gênero se distinguem por construções sociais, em que, masculinidade e feminilidade se definem por mutua oposição em um contexto relacional de poder. É esse poder que Bourdieu vai sinalizar como ‘construção naturalizada’. Em seu conceito de (habitus), como o que nos condiciona a uma maneira de ser, uma tendência, uma inclinação; o que inclui autodisciplina e censura. ( Bourdieu,1986). Vale sinalizar, que a constituição do habitus de gênero, de certa forma, nos conduz pensar no processo de transferência do individual para o coletivo, em que, a construção do indivíduo e do mundo se articula a estruturas objetivas e subjetivas, respectivamente o princípio de visão e divisão. Tais princípios, de algum modo, conduzem-nos às práticas e atos classificatórios, em relação às coisas do mundo, a partir de distinções redutíveis à oposição entre masculino e feminino. Até aqui, pode-se dizer que a relação sexo e gênero, são, certamente, uma construção social e cultural, e o que se produziu e se produz a esse respeito é, desde a concepção bíblica a era moderna, compreensões tão variadas que Freud definiu a sexualidade como tudo o que está relacionado com a distinção entre os dois sexos. Por tudo isso, talvez, o tenha concluído que, o que é sexual seja da ordem do impróprio. E nesse pensamento, o que é sexual “reúne uma referência ao contraste entre sexos, à busca de prazer, à função reprodutora e às características de algo que é impróprio e deve ser mantido secreto” (Freud, 1976b, p. 356). É justamente nesse processo social conflituoso, em que os sexos e gêneros se confundem numa ordem proposital das relações de poder; nesse caso, masculino e feminino se subjugam ao tempo histórico, em que, a família, a escola e a igreja lhes impõem como ordem social a divisão social dos sexos. Tal divisão, no pensamento de Bourdieu, caracteriza-se nessas instâncias sociais, em que, a Família legitima a dominação inscrita na visão masculina e, estabelecida pela divisão sexual do trabalho, garantidos pelo direito e entalhado na linguagem. Quanto à Igreja, em sua moral familiarista, bem arranjada no que se organiza o poder patriarcal, seus valores e, principalmente, pelo caráter dogmático do catolicismo, não só, mas, da filosofia que dele decorre e estrutura outros pensamentos religiosos, tão radicais quanto, a manter a mulher no contexto inato da inferioridade. Por fim, não menos perturbador, temos a Escola e, mesmo que a cisão com a Igreja a tenha libertado, ainda assim, organiza-se a partir do patriarquismo e, se legitima pela figura do educador em suas composições retrogradas do “ordem e progresso”. E quando se fala em ordem e progresso, temos a mão do Estado, legitimado por um acordo tácito, a “ratificar e reforçar as prescrições e as proscrições do patriarcado privado com as de um patriarcado público, inscrito em todas as instituições encarregadas de gerir e regulamentar a existência quotidiana da unidade domestica” [...] Bourdieu (1999). Dito isso, uma pequena digressão nos colocará no rumo certo do que desejamos finalizar com a ideia acima proposta, como introdução ao nosso pensamento clínico, quando o que nos interessa, é tão somente, entender a inserção do sujeito nessa trama social da sexualidade. Então, ‘a sexualidade, tal como entendemos, é efetivamente uma invenção histórica, mas, que se efetivou progressivamente à medida que se realizava o processo de diferenciação dos variados campos sociais, e sua lógica específica’. (Pierre Bourdieu). É com esse pensamento que vamos encontrar em Freud, em ‘Os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade’, o que se pode chamar de primeiro momento, em que houve efetiva preocupação em se pensar a sexualidade. Isso, no modelo freudiano de pensar. Entretanto, convém lembrar, e nesse caso vamos pensar (Foucault, 1985), quando ele sinaliza para o fato de que o discurso sexualidade está presente em diferentes momentos histórico, identificado pelo conceito de que o controle da vida social e política, de certa forma, explicam-se pelo controle do corpo e da sexualidade. Sendo assim, pode-se pensar que, nossas práticas, teóricas e clínica, são tributárias da cultura, o que nos permite pensar em uma psicanálise distante de uma cultura moral sexual, que não produzisse conflitos psicológicos, certamente, a psicanálise na existiria nos molde de sua fundação. Por isso, quando pensamos a sexualidade em seus primórdios, percebemos que cada instância social promulgou sua moral, e o discurso sobre a sexualidade passa atrelado a mecanismos que visavam o controle, a regulamentação, e mesmo, o comportamento desviante de uma sexualidade formatada aos critérios sociais, é assim considerado como uma ameaça ao poder instituído. Vesse que na idade média, os filósofos, detentores do saber médico, estimavam a sexualidade, ora como elemento da procriação, ora como condição médica. O Estoicismo vai transformar radicalmente o pensamento deles, no âmbito do que reservavam à busca do prazer, fazendo com que a sexualidade fosse centrada no casamento. Assim, o que em algum momento era luxúria, desvio do “normal”, ganha no casamento a permissão para os que consideravam o prazer um momento indispensável. E quando o prazer com aval do matrimônio se torna motivo constrangedor para o ideal teológico, surge o celibato como purificador da alma. Tal pureza, preconizada por grandes padres; Agostinho, Jerônimo e Tomás de Aquino; contribuíram, eles, para a manutenção do negativismo ao sexo, que só se justificava como mister procriador. Tal condição fez surgir uma moralidade sexual. De tal pensamento, pode-se dizer que dos males o menor seria o casamento; entretanto, ainda se vivia um impasse ao considerar a virgindade em oposição ao casamento. Nesse impasse, o casamento era considerado como local dos desejos carnais, e ao mesmo tempo defendido como fonte de procriação e, de algum modo, espaço de fidelidade e sacramento. Quando comparados, o casamento perderia para a virgindade, sendo aquele, o prazer da carne, e este, a contingência absoluta. É claro que, não sendo possível a contingência em sua totalidade, o melhor seria circunscrever o desejo e aprisioná- lo no casamento. Então, quando o tempo passa, e as ideias se modificam, de algum modo, passa à vontade divina e, torna-se um paradigma de reflexão moral, quando se diz que tudo o que é agradável a Deus, é o que é natural; neste caso, “o coito natural”. Divide-se assim, o sexo para procriação; o que é normal, e o sexo infecundo, o que é anormal. Desse modo, tudo o que desvia do sexo natural, ou seja, do ato de procriar, passa a ser a depravação, o condenável, certamente. Podemos dizer que a sexualidade desviada de seu objetivo profícuo, torna-se um pecado contra o que é de caráter natural e, configuram-se aberrações, a saber: Pedofilia, Necrofilia, Exibicionismo, Sadismo, Frotterismo, e outros mais. Assim, com as transformações sociais, a concepção de sexualidade muda o contexto de vida doméstica, e isso tende afetar o Estado, uma vez que tais mudanças trazem prejuízos a ele, uma vez que a população passou a ser um recurso humano a serviço do Estado. Mas, segue-se a isso uma perspectiva que tende a mudar a concepção de sexualidade, não só, mas, nos remete a uma dimensão maior a considerar o indivíduo em um contexto em que a sexualidade passa ser subjetiva ao ser, deixa o modelo religioso para o médico, e então, passa vigorar a sexualidade de prática sadia, e aquela que é perigosa. Por conta disso, a biologização vai diferenciar os sexos e legitimar a sexualidade normal. (Sarasin, 2002). Diante do que vimos até o momento e, do que já tínhamos como conhecimento de mundo sobre o assunto, pode-se observar que no alvorecer do século XIX, Freud vai subverter a ideia de sexualidade, quando se concentra na diferença entre o objeto sexual e, a finalidade sexual. Seja o objeto de desejo, e o que com ele se deseja sexualmente. Ao resolver as ideologias sociológicas, concernentes à sexualidade, ela é em cada ser humano uma história singular, e não se manifesta de forma universal. Segundo Freud (1976), ‘ não se pode exigir uma idêntica conduta sexual para todos’. Tal conduta, não se faz a “escolha sexual”, seja a fixação heterossexual ou homossexual, sem uma explicação; visto ser a escolha, repousar na bissexualidade humana, e mesmo, na sexualidade infantil de natureza perversa e polimorfa. Por fim, pode-se considerar que a concepção freudiana de sexualidade resulta em um novo paradigma: - a sexualidade em todas as suas manifestações são conteúdos tipicamente humanos, e não há como pensar o bom ou mau sexo, ou o sadio e o doente. Certo é que não há compatibilidade da sexualidade com as exigências da civilização; e no entendimento de Freud, tal consideração se constitui, ante, fonte de mal estar, do que, de felicidade. O que nos mostrou essa sucinta digressão, é a certeza de que, nas palavras de Freud, ‘ o homem não é senhor de sua própria morada’. Tudo o que disso decorre, nos permite pensar o mundo em suas transformações sociais, e o que se buscou como verdade, transfigurou-se como relação de poder a garantir a sexualidade caráter normal e o patológico. Mas, foi no interior de toda essa transformação que a psicanálise surge a partir do discurso médico e, transformou-se em novo paradigma às questões da psique humana, e mesmo sua sexualidade. Fato que nos permite ressalta-la como uma ciência a reclamar dos seus adeptos a confrontar os movimentos sócio- históricos, e re-construir teses mais sustentáveis frente as demandas dos próximos séculos.
REFERÊNCIAS:
BOURDIEU, Pierre. La domination masculine. Paris: Seuil, 1999.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I, II e III: Rio de Janeiro: Graal, 1984 – 1985. FREUD, Sigmund (1905), Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Rio de Janeiro: Imago, 1976, v. VII.