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De que forma se organizam os efeitos das pulsões e seus respectivos

destinos?
Apesar de conhecer as diretrizes a respeito do que propõe a pergunta
acima, ainda nos cabe, em primeiro lugar, comentar os aspectos sociais
envolvidos nos eventos que corroboram tal questão.
Então, podemos dizer que algumas condições permeiam nossas vidas,
de forma a tomar corpo e nos organizar socialmente a nos revelar em forma de
urgência, o que podemos chamar de pressa.
A pressa é a urgência social que demanda das relações de produção e
consumo a satisfazer as exigências idealistas do imaginário contemporâneo a
busca do que propõe o capital.
E assim, os ideais legitimados pelo discurso capitalista, nos põe diante
das impossibilidades de satisfação, do que, de certo modo, a partir dos
sintomas que denunciam a nefasta lógica do capital, nos impõe como resposta
a isso, nossa inclusão em alguma categoria da psicopatologia contemporânea.

Algo mais está invariavelmente envolvido na vida mental do


indivíduo, como um modelo, um objeto, um auxiliar, um
oponente, de maneira que, desde o começo, a psicologia
individual, nesse sentido ampliado, mas, inteiramente
justificável das palavras, é, ao mesmo tempo, também
psicologia social ( Freud,1921).

É nesse contexto proposto por Freud que nos valemos para pensar a
partir das mudanças sociais, uma delas é a pandemia do “Corona Vírus’, não
só, mas, sobretudo o que dele decorre e, de algum modo, nos põe diante da
nossa subjetividade em confronto com o mundo propriamente dito.
Viver no mundo sem ser do mundo, de certo modo, é não passar a vida
inteira acreditando que nosso problema é o outro; não, não é. Sabemos disso
no final de tudo, quando percebemos que tudo se resume a nós mesmos.
No confronto nós e civilização; deve-se esclarecer que, Freud, no artigo
sobre narcisismo, ele emerge questões sobre o destino das pulsões e, uma vez
concentradas no eu infantil, nem sempre, comenta Freud, toda libido se
dissolveu em investimento objetais.
Então,...

Sabemos que, quando as moções pulsionais libidinais entram


em conflito com as concepções culturais e éticas do indivíduo,
o destino das moções será o recalque patogênico.
Todavia, não estamos com isso querendo dizer que na
condição do recalque o sujeito passa ter um conhecimento
meramente intelectual sobre a existência dessas concepções
[Vorstellungen], ele continua a considerá-las parâmetros
fundamentais, para si próprio e, se submete de fato às
exigências que derivam dessas concepções culturais e éticas.
Já dissemos que o recalque ocorre a partir do Eu, mas
poderíamos ser mais precisos: ele parte da avaliação que o Eu
faz de si mesmo (Freud, 1914/2004, p. 112).

Ainda considerando Freud, infere-se disso que o social participa como


condicionante na construção subjetiva do recalque. Lembrando de que cada
sujeito, em sua singularidade, constrói diferentes Ideais de Eu no processo de
recalcamento.
Assim, no que identificamos acima, podemos nos permitir pensar em
nossa necessidade de amores objetais. Francamente, a necessidade de amar
é nossa marca mais humana; o próprio amor objetal, nesse caso, o que
identifica o amor que nos faz construir a própria civilização, sob os auspícios de
um egoísmo primário a justificar este amor.
Uma vez em que se pode justificar o termo objetal, a partir de um
egoísmo primário, significa isso, que podemos tomar o outro como objeto de
nosso interesse, porquanto, enquanto por ele formos satisfeitos, não se
romperia os laços civilizatórios, caso em contrário, revelaríamos nossa
verdadeira face; utilitária e narcísica (Freud, 1930/2010).
Dito isso, podemos nos ater ao que de fato nos trouxe até o presente
momento. As pulsões. Então, no contexto do que podemos pensar em termos
evolucionistas, Freud vai considerar as pulsões mediadas por exigências que
para satisfazê-las, o sistema nervoso se utilizará de processos cada vez mais
complexos e elaborados.
O que se pode a esse respeito pensar, é que de algum modo, as
pulsões, menos os estímulos externos, que são os propulsores dos progressos
a levar o sistema nervoso realizar de forma ilimitada, em sua máxima
capacidade, o atual estagio de desenvolvimento que se encontra ou nos
encontramos (Freud, 1915/2004, p.147 – 148).
Pensar dessa forma nos conduz entender que as pulsões, a partir dos
estímulos externos e, de algum modo, sem relação com tais estímulos, estaria
além da evolução do indivíduo e, bem mais próximo de condicionar a evolução
humana. Nesse caso, biologicamente falando,

A pulsão nos aparecerá como um conceito limite entre o


psíquico e o somático, como o representante psíquico dos
estímulos que provêm do interior do corpo e alcançam a
psique, como uma medida da exigência de trabalho imposta ao
psíquico em consequência de sua relação com o corpo ( Freud,
1915/2004, p.148).

Com essa consideração freudiana, vê-se a pulsão além de estímulos


internos e, psiquicamente, revelar-se-ia como uma demanda que não fala, mas,
que supõe a linguagem a estabelecer os laços sociais.
É com isso que podemos dizer que a pulsão guarda relação com a
linguagem a influenciar nas significações e sentidos estabelecidos pelo
aparelho psíquico, especificamente, o Eu dos indivíduos.
Assim, considerando-a um paradoxo de uma demanda que não fala,
mas, supõe a linguagem; as vicissitudes das pulsões, mesmo não se revelando
verbalmente, estão condicionadas à linguagem em suas estruturas, o que nos
permite considerar o desejo e a pulsão, como dois momentos da demanda.
Por um lado temos a pulsão que não se revela e não se pode interpretá-
la; por outro, o desejo passível de interpretação. Ambos se revelam como
vetores da demanda.
O desejo se configura, pode-se dizer o que se encontra no próprio
impulso a defesa contra ele. Seja o desejo como uma defesa contra o desejo.
“A única coisa pela qual um sujeito na psicanálise pode ser culpado é de ter
cedido a respeito de seu desejo” ( Lacan – Ética da psicanálise).
Então, falamos dos efeitos das pulsões, e esses efeitos estão na
fisiologia psicológica dos seus destinos. Por fim, podemos figurar a demanda
na assertiva shakespeariana: “Ser ou não ser, eis a questão”.

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