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Neste texto nos propomos refletir sobre a visão do social na Psicologia a partir do
modo como este se apresenta e é compreendido em três abordagens representativas do
pensamento psicológico no século XX.
1. A PSICOLOGIA COMPORTAMENTALISTA
Para essa psicologia experimental, e também para a psicologia behaviorista que surgiu
posteriormente, o externo referia-se mais a coisas ou fenômenos que atuavam como estímulos
objetivos, do que a um sistema que poderíamos definir propriamente como social. A visão do
externo poderia ser mais facilmente inserida em um tipo de ambientalismo do que em uma
definição de cultura. A dimensão simbólica e cultural do social era totalmente ignorada por uma
psicologia que se concentrava nos indivíduos como seres naturais e que via a realidade como
conjuntos de eventos e estímulos objetivos. O resultado foi uma visão objetivista do meio e do
próprio indivíduo. A consciência se localizava “dentro” e o comportamento se situava “fora”,
mas, na realidade, ambos se apresentavam no território objetivo, e o interno era definido por
reações comportamentais no plano experimental. As duas tendências se situavam em uma
epistemologia cujo núcleo era a relação estímulo-resposta.
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caráter subjetivo. Dentro dessa visão comportamental do pensamento psicológico, o social e o
subjetivo, em sua relação íntima e necessária, foram eliminados.
2. A PSICANÁLISE E O HUMANISMO
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Com a psicanálise, pela primeira vez na literatura psicológica, o social se expressa em nível
simbólico nas consequências do conflito edipiano. No entanto, no pensamento psicanalítico,
mantém-se a dicotomia entre o social e a psique, na medida em que a psique é considerada
como atributo relevante do individual e que as unidades para compreendê-la estão baseadas
em aspectos bioenergéticos dos indivíduos.
A separação entre o social e a psique impede que se saia de uma representação naturalista
da psique e que se passe a uma compreensão do impacto da condição histórico-cultural do ser
humano na organização e no funcionamento de sua vida psíquica.
Ao desenvolver um imaginário pulsional, a psicanálise faz com que seja mais difícil pensar
nas outras unidades de organização da psique, pois a pulsão induz a que busquemos os núcleos
dinâmicos da psique na natureza humana; e induz também a uma representação da organização
psíquica centrada no inconsciente como instância de base, a partir do conceito de repressão.
Dessa forma, cria-se uma representação da psique como um espaço interno a que só se chega
através da compreensão do inconsciente como linguagem, desenvolvida por Lacan.
Nesse sentido, o ideal auto-regulador do sujeito reduz toda a complexidade que sua
condição social envolve, cercada permanentemente por formas simbólicas que estão mais além
de sua capacidade consciente. O humanismo nos transmite um quadro transparente de
processos que, na realidade, são opacos e inacessíveis de forma direta à consciência. E mais
ainda, a consciência não representa uma capacidade onipotente do homem, a partir da qual
este pode controlar-se a si próprio e a tudo que o rodeia. Isso significa uma compreensão
racionalista da consciência muito presente na concepção de sujeito desenvolvida pela psicologia
humanista.
É inegável que a consciência é uma via de produção de sentido que implica representações
e formulação intencionais, no entanto, ela está sempre constituída por processos de sentido
que se integram a essas representações e que ficam fora da “visibilidade” consciente do sujeito.
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O humanismo, assim como a psicanálise, especialmente, a partir da década de 1960, foi-se
orientando cada vez mais à análise do mundo social em que o sujeito se desenvolvia. Isso
permitiu, sobretudo a Rollo May e Carl Rogers desenvolver reflexões sobre os impactos de
situações sociais complexas sobre o desenvolvimento do indivíduo...
Quero examinar esta crise [refere-se à crise gerada pela guerra no Vietnã]
como um exemplo ilustrativo do fato de que todos nós, sejamos a favor ou
contra a guerra, estamos presos em uma situação histórica de convulsão na
qual não existe uma noção clara do certo e do errado, e na qual a confusão
psicológica é, portanto, inevitável; e – um fato mais aterrador que os demais
– nenhuma pessoa ou grupo de pessoas encontra-se na posição de exercer
um poder significativo. O poder assume um caráter anônimo, automático e
impessoal. (MAY, 1974, apud GONZÁLEZ REY, 2004, p.22).
Nesta reflexão, May nos coloca diante de um sujeito dominado por forças sociais que
transcendem a onipotência da consciência. Assim, progressivamente vai-se ampliando a
reflexão acerca das dimensões de subjetivação do social, com contribuições significativas da
Psicologia Social.
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Texto para uso em sala de aula, compilado pela Profª Cida Craveiro a partir de: