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O INCONSCIENTE É AUSÊNCIA DA
MEDIAÇÃO DAS EMOÇÕES1
Inara Barbosa Leão
Resumo
Neste estudo revisamos as explicações sobre o que seria a função das
emoções e se implicam no inconsciente. Buscamos por alguns dos criadores
e estudiosos da teoria psicológica Sócio-Histórica que tiveram como foco a
participação do processo afetivo emocional na constituição da consciência e
do inconsciente individual, tal como Vigotski e, dentre os brasileiros, Silvia
Lane. Nosso objetivo é recompor a origem das ideias acerca desse processo
psíquico e da sua função mediadora nas relações interpsicológicas, sociais e
intrapsicológicas, estabelecidas entre as demais funções e sistemas da
consciência. Ao retomarmos tal discussão, pretendemos contribuir para o
entendimento do processo afetivo emocional, que, apesar de ser fundante da
ciência psicológica, geralmente é secundarizado nas analises da consciência
e suas as características racionais, por serem estas as que são valorizados na
sociedade capitalista, orientada pelas ciências naturalistas e preditivas.
Porém, o afeto e a emoção são processos dialéticos que promovem as
relações sociais ou interações interpsicológica, as quais afetam os seus
participantes levando-os a interiorizarem-las transformam-as de processos e
conteúdos sociais em processos e conteúdos sociais que permitem e
promovem as atividades intrapsicológicas. Assim, sofrem alterações devidas
às relações entre as emoções e a racionalidade. É que estas se tornaram
mediadas pelas representações simbólicas, que ao possibilitarem o
raciocinio os condicionam conforme as regras culturais do momento
histórico as manifestações emocionais. Mas as situações sócio-emocionais –
aquelas em que as emoções são condições sociais para o acontecimento -
implicam, na construção do sentido individual que promove no plano do
pensamento, a necessidade de objetivar o real, de pensá-lo com as categorias
lógicas elaboradas pelo grupo social. Quando essa transformação não
ocorre, temos conteúdos inconscientes.
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Capitulo do Livro: PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA E O CONTEXTO BRASILEIRO:
INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL.
Neste estudo pretendemos analisar as explicações sobre o afeto
feitas por alguns estudiosos da teoria psicológica Sócio-Histórica, que
tiveram como foco a participação do proceso afetivo emocional na
constituição da consciência individual. Para tanto, selecionamos alguns
estudos clásicos (Vigotski, 1925/1972; Vygotski, 1925/1991a; Vygotski,
1930/1991b; Vygotski, 1932/1993; Vigotsky, 1933/2004; Vigotski,
1934/2004; Heller, 1979; Veer, 1987; Leontiev, 1978/1978; Lane & Sawaia,
1995), que nos permitiram retomar a gênese das ideias acerca do que seja a
afetividade, entendida e explicada psiologicamente mas, a partir dos
fundamentos do materialismo histórico dialético. Que mostra-nos que é um
processo psíquico desencadeado pelo afeto e cuja função é mediar as
relações interpsicológicas, sociais e as intrapsicológicas, estabelecidas entre
as pessoas e suas funções e sistemas psíquicos.
Ao retomarmos a esta temática, pretendemos ampliar o
entendimento do processo afetivo que, apesar de ser inerente a psicologia,
foi secundarizado nas discussões sobre a consciencia, desde que esta, como
as demais ciencias, passou a ser determinada pelo capitalismo. Sob este a
característica humana mais valorizadas pela sociedade é a racionalidade;
que lhe é propia e necessária para reproduzir a sua orientação derivada das
ciências naturalistas e preditivas. Tanto é que o afeto e suas transformações
em sentimento e emoção, só vão merecer investigações mais aprofundadas e
serem mostrados como centrais ao psiquismo nas teorías psicológicas de
base epistemica materialista histórica e dialética, pois esta ultima impõe as
suas considerações, tal como constatamos na Teoria de Wallon, elaborada
na França, e na teoría Sócio-Histórica, desenvolvida na União Soviética.
Porém, examinaremos a relação entre esses dois elementos:
consciencia e afeto, como decorrente das suas capacidades de organizarem a
consciência, uma vez que a sensibilidade ao afeto é o critério principal da
definição do que seja a propriedade consciente do psiquismo (Vigotski,
1932/1993, 1925/1972). Nos humanos, cujo nível da organização do
psiquismo é o mais desenvolvido, a consciência está constituída por dois
subcomponentes básicos: o intelecto e o afeto. Portanto, a compreensão da
primeira só pode se dar quando ela é abordada de maneira a explicar como
os outros dois se relacionam. Consideramos, então, como Vigotsky
(1932/1993) que a separação do aspecto intelectual de nossa consciência do
seu lado afetivo, volitivo, é uma das falhas fundamentais da psicologia
tradicional, idealista. Devido a este equívoco, o intelecto passou a ser
considerado como um fluxo autônomo de pensamentos que se pensam a si
mesmos; como se fosse independente da vida real, dos motivos de viver, dos
interesses e das atrações do ser humano inteligente, tal como podemos
constatar nas explicações cognitivistas, como as de Piaget.
Contra tal posicionamento, Vigotski (1925/1991a) faz a crítica
às teorias sobre emoção presentes na psicologia do fim do século XIX e
começo século XX, que são as mesmas que ainda são, extemporaneamente,
tomadas como fonte de explicações sobre os homens do século XXI. Nesta,
afirma que a Teoria das Emoções de James (1905), desevolvida nos Estados
Unidos, dá sustentação a aquela interpretação da consciência ao minimizar a
importancia psíquica dos aspectos sentimentais. Isso porque, James alterou a
ordem dos três elementos habituais que constroem a emoção: a causa dos
sentimentos, sua manifestação corporal e o próprio sentimento, e assim
inverteu a sequencia do proceso afetivo-emocional, e tornou o afeto
decorrente do sentimento. Também, deslocou os sentimentos e as emoções
únicamente para as condições bio-fisiológicas, tal como a Reflexologia
russa já vinha insistindo em explicar. A pesar dos equivocos, Vigotsky
destacou que analisada dialeticamente a Teoria de James mostrava algumas
características verdadeiras do processo e indicou que assinalaria
[…] tão só que nela se põe perfeitamente às claras: o
caráter reflexo dos sentimentos, o sentimento como
sistema de reflexos e o caráter secundário da consciência
dos sentimentos, quando sua própria reação serve de
excitante a uma reação nova, interna. Também pode ver-
se aqui o valor biológico do sentimento enquanto reação
avaliadora rápida de todo o organismo ao seu próprio
comportamento, como ato do interesse do organismo na
reação, como organizador interno de todo o
comportamento presente no momento dado.
(VYGOTSKI, 1925/1991a, p. 55).
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Vale lembrar que em sua origem o signo é qualquer coisa material perceptivel pelos
sentidos, que devido a certas peculiaridades, pode tornar-se um meio de transmissão de
infromações sobre outras coisas ou processos. Neste sentido os signos são substitutos de
outros objetos. Os signos não são resultados da interação imediata entre diferentes objetos
materiais, uma vez que são criados pelo homem. Neles esta presente o elemendo das
convenções e por isso, se estabelece entre tal signo e a coisa designada, uma relação de
representação, uma aparencia na identidade de ser, entendendo este último como
complemento da realidade.
Leontiev (1978/1987) complementa o enunciado de Vigotski
sobre a emoção ser sociocultural e depender da ontogeneses, ao afirmar que
as especificidades, a diversidade e a complexidade dos estados emocionais
resultaram da divisão da sensorialidade primária, onde os aspectos
cognitivos e afetivos se encontravam fundidos. Foi esta divisão que
possiblitou que quando a afetividade e o pensamento surjam em situações
objetivas sejam percebidos através da linguagem.
Isto se deveu, às mudanças nas funções desempenhadas pela
afetividade e as suas consequentes diferenciações ao longo do
desenvolvimento. Os efeitos das alterações das funções da afetividade se
apresentam imediata e independentemente da vontade: transformam-se em
diferentes emoções.
As emoções são, então, estados predominantemente ideais e
situacionais, com os quais estão vinculados sentimentos objetivos, tais como
as vivências emocionais estáveis, cristalizadas no objeto da atividade; que
tornam-se estados de ânimo, fenômenos subjetivos muito importantes por
suas funções nos comportamentos dos sujeitos.
É assim que a afetividade, sob a influencia social e maior
independência da sensorialidade, passa a ser manifestada pelas palavras e
torna-se emoções. Como tal, se diferencia em varias formas de expressão
porque ao ser determinada pelos pensamentos ou pelas situações torna-se
estado. Os estados são condições relativamente duradouras, persistem
enquanto a situação ou o pensamento desencadeador se mantém. Estes
estados manifestam os sentimentos que são as formas como as emoções são
vivenciadas, e que se cristalizam na palavra. Mas, a emoção tem função
específica para cada pessoa e esta função individualizada é que promove a
atividade. Esta função especificamente motivadora da atividade é
denominada na Teoria Sócio-Histórica de sentido pessoal da emoção. (Leão,
1999).
Heller (1979), também argumenta que a afetividade
funcionalmente é a energia para as atividades, e está estruturada conforme o
meio sóciocultural. Afirma que a condição para aprender a atividade
intencional e o pensamento, no caso de seres não guiados pelos instintos
como os homens, são os sentimentos. E, a formação dos tipos de
sentimentos necessários para a homeostase e a seleção, em uma sociedade
ou meio, é uma pré-condição para a ação e para o pensamento. O fato de
que o homem sinta não é algo adquirido, mas cada sentimento particular
está relacionado de algum modo com a aprendizagem ou é claramente
aprendido. Os afetos exigem que se aprenda a identificar não só os
sentimentos como também os objetos que os produzem. Os estímulos em
relação aos quais devemos reagir afetivamente são culturalmente definidos.
Já os sentimentos orientativos e as emoções são totalmente aprendidos em
todos os seus aspectos. Cada um desses sentimentos é conseqüência da
reintegração do conhecimento e da ação no sentimento.
Assim cada homem constitui seu mundo próprio em sua relação
com o mundo, através dos processos de interiorização, objetivação e auto-
expressão e trata de manter e expandir sua identidade no mundo dado, sobre
o qual seleciona o quê perceber, pensar e agir. Portanto, os componentes
sentimentais reais desse mundo próprio são sempre sentimentos orientativos
e emoções.
Ainda que o sentimento seja primário filogeneticamente em
comparação com o pensamento e a ação, o elemento constitutivo que se
torna mais importante do homem nas sociedades complexas é ser consciente
porque a consciencia lhe permite atuar inteligentemente. Para tanto, só pode
cumprir esta função na realidade o sentimento no qual se tenha integrado o
conhecimento e a ação que o leva a estabelecer objetivos.
Conseqüentemente, os sentimentos se diferenciam pela aprendizagem, o que
os torna parte orgânica do processo da aprendizagem social em geral.
A Emoção
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O sentido é subjetivo e decorre da individualização do significado que o representado tem
para cada consciência. Isto se dá porque a realidade aparece ao homem na sua significação
social, mas mediada pela sua experiência individual da prática social e a ela integrada. É
um fato psicológico que depende de cada um se apropriar e assimilar, ou não, uma dada
significação, do grau da assimilação e do que ela se torna para cada um. Ou seja, o sentido
subjetivo e pessoal é dependente da interação entre o sujeito e o seu meio. (LEÂO, 1999)
desencadeia. Consequentemente, os motivos que impulsionam a atividade
geram as emoções propriamente ditas.
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Signos entendidos como entidade semiológica que substitui o objeto a conhecer,
representando-o aos indivíduos e apresentando-lhes em lugar do objeto.
pressuposto da divisão natural entre mente e corpo e, à proposição das
emoções como processos corporais que não podem dar origem às emoções
„superiores‟ e nem permitir a conexão entre as emoções e os demais
processos psicológicos e com a consciência em geral. Consequentemente,
não se poderia abordar a diferença de qualidade das emoções infantis em
relação à dos adultos; ainda mais quando se atribui estas diferenças à sua
vinculação ao desenvolvimento dos processos cognitivos.
Na crítica à chamada dimensão centrífuga da teoria de James-
Lange e seu suporte nas propostas de Descartes, Vigotski salientou que, ele
aceitava, condicionalmente, e na mesma perspectiva anunciada por
Descartes (de emoções produzidas na alma), a possibilidade de se dar
emoções intelectuais puras, sem correlações corporais, mas que manteriam
um caráter mecanicista inadequado ao entendimento das qualidades
superiores das emoções humanas. Na dimensão centrípeta das emoções
considerou o enfoque mecanicista e causal inadequado à abordagem e
explicação dos processos psicológicos superiores tais como o pensamento, a
volição etc.
Discordou, porém, das conclusões daqueles que dizem ser
impossível qualquer explicação causal e que por isso se deve voltar às
interpretações hermenêuticas.
A crítica de Vigotski é que tanto os subjetivistas
(hermenêuticos) como os objetivistas compartilham de uma mesma
interpretação equivocada da causalidade, ainda que abordem fenômenos
diferentes e os estudem desvinculadamente um dos outros. Isto impediria de
se encontrar um caminho para entender o vínculo entre os pensamentos e os
sentimentos por um lado, e destes com a atividade do corpo.
Buscou, então, a possibilidade de construir uma explicação mais
aceitável da causação em Psicologia na Ética, de Espinoza. Mas as
contribuições e modificações que a obra de Espinosa poderiam determinar
para o estudo das emoções e da psicologia, elaboradas por Vigotski, nunca
foram localizadas pois o artigo acima mencionado estava incompleto e já foi
publicado sob várias denominações como: Espinosa, As teorias de Descartes
e Espinosa sobre as paixões à luz da neuropsicologia moderna, o que
evidentemente tem dificultado o esclarecimento de suas intenções neste
estudo.
O que se pode destacar dessa vinculação de Vigotski a Espinosa
é que este contrapôs-se a seu contemporâneo Descartes. Tanto que em
vários pontos na parte três da sua Ética, negou a dicotomia entre alma e
corpo e apresentou o homem numa perspectiva monista, como duas
manifestações da mesma substância. Deduz-se que Espinosa estendia o
enfoque determinista a todas as ações humanas e à alma, negando a alma
livre e indeterminada de Descartes, bem como criticando o seu dualismo.
Calcado nestes pressupostos e esforçando-se para entender como
se dá a causalidade e o determinismo5 nos processos psicológicos superiores
e as relações entre os processos emocionais superiores e inferiores, Vigotski
parte da perspectiva genética para comprovar que é impossível dividir as
emoções em duas partes, uma que pertença à classe superior e outras à
inferior e que a única diferença ocorre em complexidade, uma vez que todas
as emoções são capazes de atingir todos os níveis da nossa evolução
sentimental.
Em sua tese de doutoramento apresentada na PUC-SP em 1996,
Bonin investiga os trabalhos de Luria que aprofundam os estudos sobre a
função genética da linguagem e sua participação nos processos de
constituição e desenvolvimento emocionais e da consciência. A partir destes
estudos afirma que Luria e Vigotski consideravam que tanto os primatas
como as crianças pré-verbais expressam emoções através de gritos e choros,
sem que a atividade intelectual esteja imbricada no planejamento dessas
ações. Somente quando a criança une sua vocalização ao pensamento, passa
a entender que os sons podem se referir a determinados objetos (referentes),
inicia a fala propriamente dita e a partir dela dá-se a modificação de
diferentes processos elementares, tal como a emoção. A emoção, através da
fala, passa de processo elementar a processo superior.
Neste novo patamar ocorrem mudanças nas vivências
emocionais devidas ao fato do mundo emocional do homem ser mais rico e
não só vinculado aos motivos biológicos. Isto promove a avaliação das
correlações das ações realmente exeqüíveis com as intenções iniciais e
possibilita a previsão dos seus acertos, levando a que as categorias afetivas
formem no homem vivências e estados emocionais que superam os limites
das reações afetivas imediatas vinculadas ao seu pensamento e processadas
com a participação imediata da linguagem - formam o caráter.
Bonin (1996) demonstra estas afirmações apresentando alguns
estudos de Luria. Este, sob a influência de Freud, estava interessado na
dinâmica da vida mental, mas procurava estudar os estados emocionais
complexos por meios experimentais, enfatizando a observação da atividade.
Dedicou-se ao estudo das condições emocionais que provocam neuroses,
centrando-se, principalmente, na questão do conflito.
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O Determinismo é uma Teoria filosofica segundo a qual todos os fatos são considerados
como consequências necessárias de condições antecedentes.Sua expressão como
deteminismo cultural propões que a conduta individual é modelada pelo tipo de sociedade
em que vive.Já o deteminismo psíquico é uma teoria que afirma que o curso do pensamento
e da decisão voluntária é condicionado por certos princípios gerais.
Nestes estudos Luria conseguiu mostrar que o afeto alterava a
dinâmica dos processos mentais superiores, obstruindo e dificultando certas
associações. A possibilidade de associações era diminuída, as reações
motoras também tornavam-se instáveis e, em alguns casos, havia aparente
perda de uma habilidade coordenada e regular de pressionar uma bolinha de
borracha; os sujeitos chegavam a ter tremores nas mãos, antes que
demonstrassem problemas na fala. Assim, notou que os indivíduos podiam
reagir de maneira diferenciada a situações traumáticas e que isto
provavelmente estava relacionado ao tipo de personalidade dos sujeitos.
Buscou então descobrir quais os problemas que levam à desorganização das
reações emocionais relatadas acima e como na maioria dos casos, o
comportamento desses indivíduos que demonstram alterações emocionais,
se desviavam minimamente das pessoas “normais”, chegou à conclusão que
existe uma certa relação entre esses distúrbios e a neurastenia produzida por
uma vida estressante.
Luria realizou também pesquisas para estudar o efeito de
traumas e complexos emocionais no comportamento. Os resultados
revelaram que o conflito afetava a associação com determinadas palavras
relacionadas ao mesmo, distúrbios nas suas reações motoras e variação na
respiração. Porém, quando a situação afetiva aparecia na consciência, o
comportamento do sujeito mostrava uma agitação motora intensa, o que o
levou a explicação que esta renova a estrutura dinâmica porque a separação
da consciência e a simultânea separação da área motora, parece ser o
mecanismo que preserva a personalidade da super excitação e da
desorganização relacionada aos conflitos explícitos. A presença desta
barreira funcional entre a expressão motora e o conflito afetivo, na atividade
da pessoa, evita a desorganização total do seu comportamento e mantém, de
certa forma, a integridade da personalidade evitando crises intensas.
Luria (apud BONIN, 1996) procurou também estudar
experimentalmente a neurose e demonstrou a existência de mediação verbal
entre a estimulação e a reação motora, seguida de outros aspectos
fisiológicos. Entendeu que a fala pode regular o comportamento, e que a
regulação pela auto-instrução pode acontecer com outros tipos de elementos
das atividades e funções. E concluiu, assim como Bruner, que existem
signos icônicos, que como a fala, podem controlar a excitação e, ao mesmo
tempo, organizar o comportamento. Ou seja, é possível que até símbolos
visuais ao atuarem sobre as manifestações afetivas, tenham o mesmo valor
da fala nessa regulação. Pois, também as imagens que surgem na arte
plástica, no cinema, etc., em uma determinada cultura, servem para regular a
afetividade.
Portanto, corroborando os resultados acima, Leontiev
(1978/1987) confirma que os processos e estados emocionais dos homens
adquiriram seu próprio desenvolvimento em função da sua vinculação com a
atividade e a linguagem e, assim, participam da estruturação da
personalidade.
A interação intrapsicológica entre as emoções e a racionalidade
se tornou dependente do desenvolvimento do pensamento organizado com
representações simbólicas, que condicionam conforme as regras culturais do
momento histórico as manifestações emocionais. Estas mediações
simbólicas levaram a que a evolução de uma controle as manifestações da
outra, reciprocamente. Como na nossa cultura é o pensamento que tende a se
desenvolver mais intensamente e a representar-se pela linguagem verbal,
será principalmente através desta que a emoção passará a se expressar. Mas
as situações sócio-emocionais implicam, no plano do pensamento, a
necessidade de objetivar o real, de pensá-lo em potencial. Isto será
possibilitado pela apropriação das categorias enquanto noções lógicas que
refletem as propriedades e as relações mais gerais dos fenômenos reais, já
elaboradas pelo grupo social. A ausencia da efetivação desse processo ou de
parte da simbolização e construção do sentido, manterá a representação
inconsciente.
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