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Filosofia e a sua dimensão discursiva

Problemas filosóficos:
Os problemas filosóficos não são empíricos.
São concetuais, como a matemática.
Mas não são problemas matemáticos.

Problemas
 
Empíricos Concetuais
   
Ciências Ciências Matemática Filosofia
naturais sociais

Problemas em aberto:
Em filosofia, estudamos os problemas em aberto.
Em vez de procurarmos apenas compreender as ideias dos filósofos, temos de
aprender a discutir ideias filosóficas.
Isso faz-se recorrendo a instrumentos lógicos que vamos estudar de seguida.

Sete exigências da discussão filosófica:


1. Ouvir ou ler atentamente a interlocutor e tentar genuinamente compreender
as suas ideias e razões.
2. Explicar com a máxima clareza e rigor as nossas ideias e razões.
3. Estar disposto a mudar de ideias e a ser corrigido.
4. Aceitar o direito de o interlocutor pensar de maneira diferente da nossa, ainda
que não tenha razões adequadas a seu favor.
5. Informar-se adequadamente sobre o tema em discussão estudando livros e
artigos relevantes.
6. Dominar os instrumentos lógicos da discussão crítica de ideias.
7. Encarar a discussão como uma maneira de descobrir a verdade, e não como um
despique para ver quem ganha.

O que é um raciocínio?
Um raciocínio é um conjunto de proposições em que se visa justificar uma delas (a
conclusão) com base nas outras (as permissões).

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Conclusões relativas ao valor da filosofia

Lida com questões fundamentais relativas ao sentido da nossa existência,


permitindo examinar os princípios em que ela se baseia;
Permite alargar os nossos horizontes de reflexão de conhecimento alimentando
o sentimento de admiração perante o mistério das coisas;
Ajuda-nos a proceder de forma racional, com sabedoria, orientando-nos na
vida;
Tem um papel libertador, pois ajuda-nos a examinar os preconceitos e as
crenças que só uma razão autónoma é capaz de questionar.

Características da Filosofia

Universalidade  os problemas são comuns a toda a humanidade, todos os seres


humanos em determinada altura colocam questões que pela sua natureza são de
ordem filosófica – procura compreender o real na sua totalidade.

Radicalidade  o questionamento filosófico tenta encontrar a raiz dos problemas, é a


procura dos fundamentos últimos do real, questionamento constante, o filósofo é um
homem insatisfeito que desafia permanentemente os seus limites.

Historicidade  cada filósofo é fruto do seu tempo, e as suas respostas aos problemas
têm que ser enquadradas no seu contexto histórico, mas isto não quer dizer que as
questões filosóficas não permaneçam em aberto.

Autonomia  pensar por si próprio – o filósofo ousa pensar por si mesmo servindo-se
da sua própria razão.

Racionalidade  definição rigorosa de conceitos; exigência de uma função analítica


para compreender o real. Por exemplo, se eu digo “Agir moralmente e fazer o bem”,
não estou a dizer a ninguém o que se deve fazer enquanto não esclarecer o conceito
de bem.

Mas afinal o que é uma ação?


Uma ação é algo que um agente faz voluntário ou intensionalmente que resultam por
vezes de deliberação, seja ela racional ou não.

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Rede conceptual da ação humana

Ação  ato voluntário, consciente, livre e intencional.

Agente  aquele que age, aquele a quem é atribuída a ação. É o ser humano que
produz a ação e é responsável por ela, o que implica a liberdade e vontade.

Por que fez ele isso? Porquê?


Motivo  aquilo que justifica a ação, a sua razão de ser ou seu porquê.

O que quer fazer o agente?


Intenção  o que o agente que fazer ao agir. Uma ação é realizada intencionalmente
quando é realizada por algum motivo.
A intenção constitui o estado mental mediante o qual se concretiza, se anula ou se
mantém um certo estado de coisas.

Juízos de facto e juízos de valor

Juízos de facto:
 Afirmações/proposições que pretendem descrever a realidade.
 São claras e objetivos (não dependem da preferência ou apreciação do sujeito).
 São empiricamente verificáveis.
 Podem ser verdadeiros ou falsos.
 Quando verdadeiros, é possível o seu reconhecimento por todos
(universalizáveis).

Juízos de valor:
 Expressões que pretendem avaliar a realidade.
 São subjetivos, pois resultam da apreciação do sujeito.
 Não são empiricamente verificáveis.
 Muitas vezes não são consensuais.

O que são valores?

“Diremos que o valor é uma maneira de ser ou de agir que uma pessoa ou uma
coletividade reconhecem como ideal e que faz com que os seres ou as condutas às
quais é atribuído sejam desejáveis ou estimáveis”
Guy Rocher, Sociologia geral

Juízos:
 De facto: descritivos.
 De valor: normativos; não normativos.

Os valores são hierquizáveis

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Propriedade dos valores segundo a qual se subordinam uns aos outros em função da
valorosidade que cada um tem para o sujeito.

Os valores são bipolares

Circunstâncias de cada valor oscilam entre dois polos, isto é, de um valor positivo se
colocar simetricamente em relação a um valor negativo que é o seu contrário.

Valor positivo Valor negativo


Bom Mau
Belo Feio
Útil Inútil

Os valores são plurais


É possível classificar os valores considerando a sua dimensidade.

Valores:
 Úteis
 Vitais
 Espirituais (intelectuais, morais, estéticos)
 Religiosos

Subjetivismo

Os juízos de valor são relativos aos sujeitos.


A tese central da teoria subjetivista é que os juízos de valor são meras
expressões das preferências dos sujeitos.

Argumento da discordância
 O argumento da discordância a favor do subjetivismo diz que o que respeita
aos juízos de valor, só há discordâncias: o que uma pessoa considera bom ou
aceitável, outra considera mau ou inaceitável.
 Se os juízos de valor fossem objetivos e não subjetivos não haveria discordância
alguma.

Duas objeções
 A primeira objeção é que não é verdade que discordemos quanto a todos os
valores.
 A segunda objeção põe em causa a ideia de que se um juízo de valor não há
discordância. Pelo contrário, há muitos casos em que estamos perante juízos
que não são subjetivos e, no entanto, há discordância.

Argumento do conflito de valores

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 Quando há conflitos de valores não parece haver uma maneira objetiva de
decidir quem tem razão (como acontece nos juízos de facto), e é por isso que
os valores são subjetivos.

Objeção ao argumento de valores


 Se utilizarmos o véu da ignorância para fazer decisões não as estaremos a
tomar de forma subjetiva.
 O argumento do conflito de valores baseia-se, ao que parece, na premissa falsa
de que não há maneiras objetivas de resolver.
Consequentemente, não parece um argumento cogente.

Relativismo

A tese central da teoria relativista é que os juízos de valor são relativos às


sociedades.
O relativista pensa que os juízos de valor não passam de preferências sociais.

O argumento da diversidade cultural


 O argumento da diversidade cultural baseia-se de que diferentes sociedades
têm padrões e códigos morais completamente diferentes.
 Se os valores não fossem relativos às sociedades, não encontraríamos esta
diversidade cultural.

Objeção ao argumento da diversidade cultural


Uma objeção importante ao argumento da diversidade cultural põe em causa a ideia
de que se um juízo, seja de facto ou de valor, for aceite por uma sociedade e rejeitado
por outra, então esse juízo é relativo. Mas há muitos casos em que é aceite numa
sociedade em outra é rejeitado e, no entanto, não se trata de juízos relativos.

O argumento da tolerância
O argumento da tolerância a favor do relativismo baseia-se na ideia de que, se não
aceitarmos o relativismo dos valores, seremos intolerantes. Seremos intolerantes
porque iremos impor os valores da nossa sociedade a sociedades diferentes da nossa
que pensamos estarem completamente erradas, ou porque não seremos capazes de
compreender apreciar diferentes costumes, tradições e maneiras de fazer coisas.

Objeção ao argumento da tolerância


Esta objeção ao argumento da tolerância diz que este pressupõe erradamente que
devemos aceitar todos os costumes, tradições e maneiras de fazer as coisas, sem
exceção. Apesar de ser verdade que devemos aceitar todas as diferenças que não
prejudicam seja quem for, não é verdade que devemos aceitar todas as diferenças,
incluindo as que incluem explorar, maltratar, mutilar e fazer sofrer as outras pessoas.

Objetivismo

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A tese central da teoria objetivista é que alguns juízos de valor são objetivos.
O objetivista não defende que todos os juízos são objetivos.

O argumento da tolerância

O argumento da tolerância baseia-se na ideia que a tolerância não é um valor


moralmente relativo às sociedades. Se o juízo de valor que devemos ser tolerantes
fosse apenas relativo à nossa sociedade, então seria aceitável que as outras sociedades
não fossem tolerantes. Mas não é aceitável que as outras sociedades não fossem
tolerantes.

Objeção ao argumento da tolerância

Uma maneira de objetar ao argumento da tolerância é aceitar que a tolerância é


mesmo relativa às sociedades, apesar de isso nos parecer implausível. Mas só nos
parece implausível porque a nossa sociedade é tolerante.

O argumento da imparcialidade

O argumento da imparcialidade a favor da teoria objetivista é a ideia que se não


existissem juízo de valor objetivos, não haveria juízos de valor imparciais. Uma vez que
temos vários exemplos de juízos de valor imparciais, concluímos que há juízos de valor
objetivos.

Objeção ao objetivismo

Se agíssemos sempre de maneira imparcial, teríamos que, por exemplo, deixar de


privilegiar os nossos amigos e familiares, a quem damos mais atenção e apoio do que
aos estranhos. Por exemplo, um santo moral, uma pessoa imparcial do ponto de vista
moral. Dificilmente esta pessoa poderia ter uma vida pessoal plenamente realizada,
pois daria sempre a mesma atenção a todas as pessoas.

A fundamentação da moral

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A
fundamentação
da moral

O que está em
Teorias
causa?

Utilitarismo:
Deontologismo:
O bem último A ação correta maximizar a
agir por dever
felicidade

Felicidade Consequências Vontade boa Intenções

Esquema - a fundamentação da moral

Fundamentação da moral  é importante justificar adequadamente as nossas deias


morais, pois se não procurarmos justificar é mais provável que estejamos enganados.

Bem último  temos de esclarecer o que é o bem último para podermos justificar
adequadamente as nossas ideias morais.

O que é uma ação correta?

As duas questões centrais da ética, que justificam se uma ação é correta ou incorreta,
são: “O que é o bem último?” e “Qual é o critério da ação correta?”

Utilitarismo e felicidade

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Felicidade e imparcialidade
Segundo a teoria utilitarista do bem, a única coisa boa em si mesma é a
felicidade.
A felicidade que conta moralmente não é apenas a nossa, mas sim a de todas
as pessoas. Além disso, a nossa felicidade não cinta mais do que a dos outros,
nem menos.
Do ponto de vista utilitarista, pensamos imparcialmente quando damos à
felicidade dos outros exatamente a mesma importância que damos à nossa.

Hedonismo

Bentham

Felicidade  é apenas o prazer e a ausência de dor, sendo o sofrimento a dor e a


ausência de prazer.

A teoria utilitarista é hedonista quando concebe a felicidade em termos de dor;


quando concebe a felicidade em termos de realização pessoal, por exemplo,
não é hedonista.
Bentham media a felicidade e a dor atendendo à sua intensidade e duração.
(Quando fazemos o cálculo do prazer, devemos subtrair a dor)

O hedonismo de Bentham é quantitativo, contando apenas a quantidade de prazer.

Mill

Na avaliação de uma vida boa não basta ter em conta a quantidade dos
prazeres, mas também a sua qualidade.
Alguns prazeres, em virtude da natureza, são mais valiosos que outros.
Prazeres que resultam do uso das nossas capacidades intelectuais são
superiores e que os prazeres corporais são inferiores.

O hedonismo de Mill é qualitativo, sendo a qualidade mais importante do que a


quantidade.

Objeção ao hedonismo

Segundo Nozick, não é verdade que uma vida seja boa apenas devido às experiências
agradáveis que a constituem. A autenticidade das nossas experiências é algo
intrinsecamente valioso. Uma visa constituída por experiências ilusórias, ainda que
muito agradáveis, tem menos valor do que uma vida real. O mundo ilusório é uma
farsa, sendo uma farsa é falso.

Utilitarismo e consequências

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Se aceitarmos que o bem último é a felicidade, o critério da ação correta é a promoção
da felicidade. É uma teoria consequencialista pois só as consequências contam para a
correção de uma ação.

Consequencialismo e maximização

Uma ação é moralmente correta, se, e só se, tendo em conta as alternativas, for
aquela que mais felicidade trouxer a um maior número de agentes morais. Caso
contrário, a ação é moralmente errada.

A objeção dos limites da maximização

Segundo os critérios do utilitarismo, o mero facto de uma ação fazer muitas pessoas
felizes não a torna correta. Em particular, é moralmente errado maltratar uma pessoa
para beneficiar as outras.

A objeção da exigência excessiva

Se tivéssemos a obrigação moral de agir sempre de forma a maximizar a felicidade,


deixaríamos de poder fazer a maior parte das coisas que gostamos de fazer. Mas isto é
demasiado exigente. Logo, defendem os críticos, o utilitarismo é falso.

Ética de Mill (resumo)

O que é o bem último? A felicidade.


A felicidade de que? De toda a gente.
O que é a felicidade? O prazer.
Que tipos de prazeres há? Superiores e inferiores.
O que é correto fazer? O que tiver como consequência o maior bem para a maior
felicidade para o maior número de pessoas.

Kant
Quatro questões kantianas:
O que posso saber? Conhecimento.
O que devo saber? Ética.
O que me cabe esperar? Deus/alma/mundo.
O que é o Homem?

Kant e a vontade boa

As intenções são importantes para avaliar a correção moral de uma ação.

A teoria do bem

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A ideia de que o bem último é a vontade boa baseia-se no argumento do que
todas as outras coisas podem ser usadas para o mal.
Só a vontade boa não pode ser usada para o mal.

A importância das intenções

A vontade boa é o bem último.


Na avaliação moral das ações a única coisa que interessa são as intenções dos
agentes, e não as consequências daquilo que fazem.

Agir por dever ou de acordo com o dever

Existem três tipos de ação:


Por dever – não é moralmente correta porque não resulta da intenção de
cumprir o dever.
Conformes ao dever – a ação não é moralmente correta se não tem a intenção
de cumprir o dever; agir por compaixão ou dever também não é moralmente
correto pois limitamo-nos a agir de acordo com a sua preferência pessoal pelos
clientes.
Contrárias ao dever – maltratar uma pessoa.

Imperativo

Princípio ou mandamento que ordena determinada ação.

Imperativo hipotético

Ordena que se realize determinada ação em concreto para atingir um determinado


fim. A obrigação de lhe obedecer é condicional porque a realização, ou não, da ação
depende de desejarmos o que com ela podemos obter.

Imperativo categórico

Mandamento que exige que a vontade seja exclusivamente orientada pela razão, para
tal tem que ser independente de desejos, inclinações particulares e interesses. Ordena
que uma ação seja realizada por ser boa em si mesma e não por causa dos seus
efeitos.

Ética moral Kantiana

Porque a sua teoria ética nunca nos indica o que fazer em determinada situação
concreta é classificada como uma ética formal.

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Normas do imperativo categórico
1. Perguntarmo-nos se queremos que ela se torne lei universal (esta primeira
formulação garante a imparcialidade e o desinteresse pessoais).
2. A segunda questão a que devemos responder é se, com a nossa ação, estamos
a tratar o outro como um fim em si mesmo (valor absoluto).

Imperativo hipotético Imperativo categórico


Faz A, se quiseres B Faz B.
Cumpre as tuas promessas se quiseres
Cumpre as tuas promessas!
ser bem visto.
Condicionado. Incondicionado.
O que ordena é um meio para algo. O que ordena é um fim em si.
A vontade é heterónoma (determinada A vontade é autónoma (determinada por
por algo que lhe é exterior. um princípio que dá a si mesmo).
Não depende exclusivamente da razão. Depende exclusivamente da razão.

Ética de Kant (resumo)

O que é o bem último? A vontade boa.


O que é a vontade boa? A vontade de cumprir o dever.
O que é cumprir o dever? Obedecer ao imperativo categórico.
Basta agir de acordo com o dever? Não, é preciso agir por obediência à lei moral.
A lei moral é dada por quem? Pela razão incondicionada.
As pessoas têm direito e deveres absolutos? Sim.

Ética, direito e política

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O problema da justificação do Estado

O que é o Estado?

É uma instituição que organiza e regula a vida social, exercendo o seu poder sobre os
cidadãos e manifestando-se sob a forma de autoridade.
A característica essencial de um Estado é a soberania ou o poder político autónomo,
isto é, a capacidade de construir leis jurídicas e de tomar decisões que regulam a vida
publica de uma sociedade, sem se submeter a qualquer outro poder.

Ética, direito e política

Ética: o que é o bem último e a ação correta?


Direito: quais as normas e leis de uma sociedade bem ordenada?
Política: como estruturar o Estado, organizar a sociedade e governar os cidadãos?

Teoria do direito divino


O direito tem origem divina; tem um fundamento sagrado.

Teoria naturalista do direito


O direito tem origem na razão natural; tem um fundamento natural.
Teoria positivista do direito
O direito tem origem em convenções humanas; tem um fundamento convencional.

Teoria do direito divino


 Direito e ética não se distinguem, pois, ambos têm a mesma origem e
fundamento, que é Deus.
 A lei encontra-se nos livros sagrados, o que é moralmente corrente é o que a lei
diz é o que é moralmente correto.
 É a perspetiva que vigora nos teocracios.

Teoria naturalista (jusnaturalismo)


 Direito e ética são diferentes, mas o direito baseia-se na ética.
 A lei tem um caracter universal, pois decorre da reflexão natural de qualquer
ser humano sobre o que é correto ou incorreto; deve, portanto, ser consistente
com a ética.
 É a perspetiva presente, por exemplo, na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, da ONU.

Teoria positivista (jusositivista)

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 Direito e ética são diferentes e independentes.
 A lei decorre de necessidades concretas de cada sociedade; sociedades
diferentes têm problemas diferentes e, portanto, diferentes códigos e sistemas
jurídicos.
 É a perspetiva predominante na atual teoria do direito, patente na diversidade
de sistemas jurídicos: o que a lei permite num ordenamento jurídico não é
permitido em outro (ex.: leis sobre o limite de velocidade automóvel).

Origem e fundamento das Relação entre direito e


Teorias do direito
leis ética
Divino (Teocracia) Deus (livros sagrados) Não há distinção
São áreas diferentes, mas
Natural (Naturalismo) Natureza (Razão humana) o direito depende da
ética.
Sociedade (Convenções São áreas diferentes e
Positivo (Positivismo)
escritas) independentes.

Desobediência civil

É o ato publico de violação deliberada de leis consideradas injustas.


Numa teocracia (sistema de governo em que as leis e a vida política são
submetidas a uma dada religião) não parece ser um problema pois a lei e a
moral são a mesma coisa.
Naturalismo: a desobediência civil não só parece justificada como pode mesmo
ser considerada necessária.
Positivismo: recusam qualquer recurso à desobediência civil.

Discriminação positiva
Consiste em tratar certos grupos de pessoas de forma preferencial, beneficiando-os
deliberadamente, de modo a compensá-las por terem sido anteriormente vítimas de
discriminação.

Liberdade e justiça social

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Liberalismo

É a perspetiva segundo o qual é liberdade individual é o valor fundamental que


uma sociedade deve preservar.

Igualitarismo
É a perspetiva segundo a qual a igualdade é o valor fundamental que uma sociedade
deve promover.

Liberdade
Negativa: ausência de coerção.
Positiva: é o controlo efetivo sobre a própria vida.

O problema da justiça social


O problema é que as formas mais extremas:
 Do liberalismo parecem admitir que uma sociedade em que pessoas são muito
ricas e outras muito pobre pode ser justa.
 Do igualitarismo parecem admitir que uma sociedade em que têm todos o
mesmo nível de riqueza é sempre justo.

Poderá mesmo uma sociedade com desigualdades ser justa?


E será uma sociedade sem desigualdades sempre justa?

A teoria da justiça de Rawls


 Jon Rawls pensa que não basta saber se uma sociedade é mais ou menos
igualitária para decidir-se se desejaríamos viver nela.
 Os princípios em que uma sociedade deve assentar têm de conduzir a decisões
justas acerca de casos concretos.

Posição original: imaginar que estamos numa situação inicial hipotética, na qual vamos
ter de escolher os princípios da sociedade em que iremos viver.

Véu da ignorância: usado por Rawls para ilustrar a circunstância em que temos de
avaliar princípios da justiça de forma imparcial, sem ter em conta a nossa condição
partical.

Princípios da justiça
Devemos garantir três coisas:
Os mesmos direitos e deveres básicos para todos;
As desigualdades só seriam admissíveis se todos beneficiassem com isso, em
especial os mais desfavorecidos;
Ninguém seria beneficiado ou prejudicado pela sorte natural ou pelas
circunstâncias sociais.

Maximizar o mínimo
Sob o véu ignorância, o mais racional é jogar pelo seguro.

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Utilitaristas: defendem que devemos maximizar a felicidade geral.
Exemplo da regara de maximin.

Pior resultado possível Melhor resultado possível


Opção A Pobreza extrema Riqueza extrema
Opção B Pobreza acentuada Riqueza acentuada
Opçao C Pobreza moderado Riqueza morada
De acordo com a regra de maximin, a decisão menos arriscada seria escolher a opção
C, pois é aquela em que o pior que nos poderia acontecer é o melhor possível.

Critica liberalista de Nozick


Nozick defende o libertarismo, que é uma forma mais radical de liberalismo.
Critica o princípio da diferença.
Nozick considera que tirar a uns para dar a outros sem o consentimento dos
primeiros é tratar as pessoas como se elas não fossem pertença de si próprias,
isto é, trata-as como meros meios e não como fins. É uma forma de
instrumentalização das pessoas, violando a sua autonomia, e portanto, os seus
direitos mais básicos.

Critica comunitarista de Sandel


Não concorda com a ideia liberal de que o bem comum seja simplesmente o
resultado da combinação das preferências individuais.
Ao contrário de Rawls, comunitaristas caracterizam o bem comum como aquilo
em nome do qual se avaliam as preferências individuais.
Só a comunidade permite encontrar, em conjunto, o modo de vida que define
uma vida boa, que é afinal o bem comum.
Na opinião de Sandel, segue-se que o modo proposto por Rawls para
encontrarmos os princípios da justiça falha completamente. Sandel está a
referir-se à posição original e, em particular, ao véu da ignorância.
Não basta as nossas escolhas serem imparciais para serem boas.

A dimensão religiosa

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Religião e sentido

Condições do sentido:
Uma atividade tem sentido quando é um meio adequado para uma finalidade de valor.
Por vezes descobrimos que fizemos algo sem sentido:
Porque não era um meio adequado.
Porque o que queríamos não era alcançável.
Porque o que queríamos não tinha valor.

Perspetiva pessimista não religiosa

A existência humana é absurda, porque caso deixemos de existir não faz qualquer
diferença.
Estamos muito atarefados a fazer várias coisas, mas cuja existência é irrelevante.

Argumento da morte

Daqui a um milhão de anos estaremos todos mortos. Não podemos alcançar as nossas
finalidades porque somo mortais.
É por isso que a nossa existência não tem sentido.

Objeção ao argumento da morte

Nem sempre a morte nos impede de alcançar as nossas finalidades.


Muitas das nossas mais importantes finalidades são alcançadas em vida.
Por isso, o facto de estarmos mortos daqui a um milhão de anos é irrelevante.

Argumento do tédio

Nenhuma das finalidades que alcançamos na vida é realmente importante.


Assim que alcançamos ficamos cheios de tédio e temos de encontrar outra.
Por isso, a nossa existência não tem sentido.

Objeção ao argumento do tédio

É irrelevante que qualquer das nossas finalidades seja forte de tédio se for
perlongada para sempre.
Somos seres temporais e tudo o que for perlongada para sempre parece
destituído de sentido.
O que conta é o que tem valor do nosso ponto de vista de seres temporais e
mortais.

Resposta religiosa

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A ideia central da teoria religiosa é a de que Deus dá sentido à nossa existência. Deus
criou-nos com um objetivo em mente e garante-nos a eternidade.

Argumento do propósito

Baseia-se na ideia de que Deus dá sentido à nossa existência porque lhe dá


propósito ou finalidade de valor.
A nossa existência tem um propósito de valor, dado por Deus, e é por isso que
não é absurda.

Objeção do propósito

Põe em causa a ideia de que basta que uma existência tenha um propósito de valor
para ter sentido.

Argumento de eternidade

Baseia-se na ideia de que a nossa existência tem sentido porque não é efémera (Deus
garante-nos a eternidade, por isso a nossa existência tem sentido).

Objeção ao argumento da eternidade

Põe em causa a ideia de que a efemérida seja importante no que respeita ao


sentido da existência.
Uma existência absurda e efémera não ganha sentido se deixar de ser efémera
e se tornar eterna.
Uma existência com sentido mas efémera não perde o sentido que tinha por
não ser eterna.

A perspetiva não religiosa otimista

É a ideia de que, se a nossa existência for uma entrega ativa a atividades de


valor genuíno, tem sentido.
O sentido da existência tem duas condições: entrega ativa e valor genuíno.
São precisas as duas condições ao mesmo tempo.

Argumento da entrega

A entrega ativa é necessária para o sentido.

Objeção ao argumento da entrega

Por vezes, tal entrega não parece necessária para sentido.


É falso que a entrega ativa seja uma condição necessária do sentido.
O argumento do valor genuíno

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Não basta o sentimento subjetivo de realização para que a nossa existência tenha
sentido.

Objeção ao argumento do valor genuíno

Põe em causa a importância de valor genuíno, apesar de conceder que há diferenças


entre o valor genuíno e o valor ilusório.

Deus existe ou não?

Não é uma questão de


Há provas
provas
Fideísmo, aposta de Desígnio, cosmológica e
Deus existe
Pascal. ontológica.
De quem é o ónus da
Deus não existe O problema do mal.
prova.

Kierkegaard e o fideísmo

A fé não é uma questão de provas.


É até incompatível com as provas: não é possível ter fé na existência de Deus se
soubermos que existe.

Argumento da fé

É inadequado exigir provas e argumentos a favor da existência de Deus porque, ao


fazê-lo, estamos a eliminar o que há de especial na vida religiosa, que se funda na fé;
ora, do seu ponto de vista, a fé é incompatível com provas e argumentos.

Objeção ao argumento da fé

Se não for correto enganar os outros, não é correto ter fé. Assim, a objeção é que o
argumento em defesa da crença sem provas é circular.

A aposta de Pascal

Se considerarmos todas as alternativas, vemos que temos tudo a ganhar se


Deus existir e formos crentes, ao passo que nada perdemos de importante se
formos crentes e Deus não existir.
Se acreditarmos e Deus realmente não existir, nada ganhamos de importante;
mas temos tudo a perder se não acreditarmos e Deus afinal existir.
Logo, o mais razoável a fazer é acreditar em Deus.

Deus existe Deus não existe


Somos crentes Tudo a ganhar Nada a perder

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Não somos crentes Tudo a perder Nada a ganhar

Objeção à aposta de Pascal

É falso que tenhamos tudo a perder se não acreditarmos em Deus.

A divindade teísta

 Omnipotente: pode fazer tudo


 Omnisciente: sabe tudo.
 Sumamente boa: moralmente perfeito.
 É criadora: fez o universo.
 É uma pessoa: não é uma força da natureza, é um agente como nós.

Cícero e a prova do designo

A ordem que observamos no Universo, em que diversas partes se organizam entre si, é
prova da existência de Deus.

A versão de semelhança

O Universo é semelhante a um artefacto: ambos são constituídos por muitas partes


interligadas entre si, que permitem várias funções. Ora, se no caso do telemóvel
concluímos que foi criado por seres inteligentes, devemos concluir o mesmo
relativamente ao universo: também este foi criado por um ser inteligente. Esse ser
inteligente é Deus.

Objeção à versão da semelhança

Uma objeção ao argumento anterior é que há uma diferença muito importante entre
os artefactos e o Universo. Nos primeiros, a nossa conclusão é correta porque já vimos
várias; e, em todos os casos, os artefactos foram feitos por seres inteligentes. No caso
do Universo, contudo, não vimos vários, só vimos um Universo. Por isso, não sabemos
se foi ou não feitos por seres inteligentes.

A versão de ordem

Se Deus não existe, o acaso é responsável pela ordem que observamos no Universo.
Mas o acaso não pode ser responsável por tal ordem, tal como as nuvens não podem
escrever por mero acaso – Os Maias.
Logo, Deus existe.

Objeção à versão da ordem

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Esta objeção põe em causa a segunda premissa do argumento do desígnio
anterior, mostrando que o acaso é muitas vezes responsável pela ordem.
A ordem não pode ser natural, alguém teve de a conceber e criar. Charles
Darwin tem uma teoria que prova que em muitos casos a ordem tem origem no
mero acaso.

Leibeniz e a prova cosmológica

A própria existência do Universo é prova da existência de Deus: há algo em vez de


nada porque Deus criou tudo.

Versão da causa primeira

Tudo tem uma causa.


Logo, o universo tem uma causa, que é Deus.

Objeção à versão da causa primeira

Se a ideia é que Deus se causa a si mesmo, porque não pode o Universo causar-se a si
mesmo?

Versão da sequência de causas

Ou a sequência de seres para no Big Bang ou continua para sempre.


Se para no Big Bang, temos de supor que foi Deus quem o criou.
Se não para no Big Bang, temos de supor que foi Deus quem criou essa sequência
infinita.
Logo, em qualquer dos casos, Deus existe.

Duas objeções à versão da sequência de causas

Pressupõe-se sem justificação que caso o Big Bang seja a origem de tudo, não
há outra maneira de o explicar exceto recorrendo a Deus. Mas parece haver
outras maneiras. Logo, a premissa é pelo menos duvidosa.
Se a sequência de seres não para no Big Bang, se é infinita, temos mesmo de
supor que Deus o criou? Talvez a sequência seja externa e seja impossível que
não exista. Ou talvez tenha surgido do nada. Assim, a premissa é pelo menos
duvidosa.

A prova ontológica

Supor que Deus não existe leva a uma contradição, e isso é a prova da sua existência.

O argumento ontológico

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Há dois aspetos importantes para compreender o argumento:
 Distinção entre existir no pensamento e existir na realidade.
 Ideia de grandiosidade.
A ideia de Santo Anselmo é que Deus é um ser de tal modo superior, que é
inconcebível que exista outro que seja superior a ele.

Objeção ao argumento ontológico

O facto de definirmos algo como a coisa mais grandiosa não faz essa coisa passar a
existir. Do mesmo modo, também não parece correto concluir que Deus existe só
porque o definimos como o ser mais grandioso.

Críticas à perspetiva religiosa

O ónus da prova

Um ónus é um custo que temos de pagar.


É preciso provar que Deus não existe ou basta mostrar que as provas da sua
existência são inadequadas?

O problema do mal

A existência de tanto mal gratuito no Universo, moral e natural, é prova da


inexistência de Deus?
Se Deus existisse, não existiria mal.
Mas o mal existe.
Logo, Deus existe.

A defesa do livre-arbítrio

A defesa do livre-arbítrio é uma objeção à primeira premissa do argumento do


mal, e aplica-se mais facilmente ao caso do mal moral. A ideia é que Deus é
compatível com o mal moral porque permitir o mal moral é a única maneira
que Deus tem de possibilitar a existência de outra coisa muito importante: o
livre-arbítrio humano.
O mal moral existe porque os seres humanos têm livre-arbítrio. Deus não
poderia criar seres humanos moralmente significativos a menos que lhes desse
livre-arbítrio. Mas, a partir do momento em que temos livre-arbítrio, podemos
escolher entre o bem e o mal.

Resposta ao mal natural

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Um mundo com mal natural permite a existência de bens que de outro modo
não poderiam existir. Ao permitir o mal natural, Deus está a promover por
outros meios.
Não há incompatibilidade entre Deus e o mal natural.

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