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OPROBLEMA DA

NATUREZA DOS
JUÍZOS MORAIS

07 / 05 /2019 JOSÉ CARDOSO


CLARIFICAÇÃO DOS CONCEITOS

• Juízo - qualquer tipo de afirmação ou negação entre duas ideias ou dois


conceitos.
• Juízo de valor - Expressão ou manifestação de uma preferência ou de uma
escolha. Avaliação sobre diferentes aspetos da realidade. Os juízos morais podem
ser considerados juízos de valor (com conteúdo moral).

• A moral (é a soma total do conhecimento que se adquire sobre o mais alto e


nobre, e que uma pessoa respeita na sua conduta), está relacionada com os
costumes, os valores, as crenças e as normas de uma pessoa ou de
um grupo social. A moral serve de guia, por assim dizer, uma vez que distingue o
que é correto do que é incorreto.
JUÍZO MORAL
• Proposição que expressa uma avaliação das ações a partir da adoção
de um determinado padrão ou critério valorativo (princípio ou
condição que serve de base a valoração e que permite distinguir
as coisas que têm valor daquelas que não têm;
• Ato mental que estabelece se uma determinada conduta ou situação
tem conteúdo ético ou se, pelo contrário, carece destes princípios;

• Realiza-se a partir do sentido moral de cada indivíduo e responde a


uma série de normas e regras que vão sendo adquiridas ao longo da
vida. O juízo moral é um juízo de valor.
ENUNCIAÇÃO DO PROBLEMA
• Neste capítulo vamos estudar o problema da justificação dos juízos morais e algumas
tentativas de o resolver.
• As questões que agora se colocam são as seguintes: podemos dizer que acerca de
problemas éticos há juízos verdadeiros e falsos? Há juízos morais universalmente
válidos ou objetivos? Há verdades morais objetivas? Há princípios e normas morais
que, seja onde for, é errado não respeitar?

• E, se há verdade em questões morais, esta é objetiva e universal, vale para todos ou é


relativa? Se for meramente relativa, é relativa a quê? Ao indivíduo e respetivos sentimentos
(subjetivismo moral) ou à sociedade e cultura em que vivemos e em que somos moralmente
educados (relativismo moral)?
• Por outro lado, será que, independentemente da referência ao indivíduo e aos seus
sentimentos, à sociedade e às suas crenças, a Deus e aos seus mandamentos, não há verdades
morais evidentes por si mesmas que constituem um padrão objetivo e neutro de moralidade?
(objetivismo moral).
ENUNCIAÇÃO DO PROBLEMA

• Algumas pessoas acreditam que o aborto, independentemente do estádio de


desenvolvimento do feto, é errado. Outras acreditam que, praticado nas
primeiras semanas de gravidez, nada tem de moralmente errado. Umas pessoas
acreditam que o sexo antes do matrimónio é errado, outras discordam. Há
desacordo acerca da moralidade do terrorismo, da guerra, da eutanásia, de
comer carne, de pagar impostos e muito mais. O desacordo moral parece ser
uma característica inevitável da vida humana.
ENUNCIAÇÃO DO PROBLEMA

• Diferentes sociedades, culturas e diferentes indivíduos discordam


frequentemente acerca do que é bom e mau, correto ou incorreto. É muito
difícil pôr as pessoas de acordo sobre questões morais. As disputas muitas
vezes vezes parecem intermináveis e insolúveis. Por isso muitas pessoas
perguntam: “Há verdade e falsidade em assuntos morais?”, “Faz sentido
dizer que uma crença moral é correta e que outra é errada?”

• Várias teorias sobre a natureza dos juízos morais tentaram responder a


estas questões fundamentais. Vamos conhecer sumariamente algumas.
SUBJETIVISMO MORAL

• O que é o subjetivismo moral?


É a teoria (relativa ao problema da natureza dos juízos morais)
segundo a qual o valor de verdade dos juízos morais depende das
crenças, sentimentos e opiniões dos sujeitos que os emitem. Os
juízos morais exprimem sentimentos de aprovação e de desaprovação
e dependem desses sentimentos. Não há verdades morais objetivas e
universais. O subjetivismo moral dirá que cada indivíduo julga a
situação a partir do seu código moral (um conjunto de princípios e
de normas) é que nenhum desses códigos é mais verdadeiro do que
o outro.
SUBJETIVISMO MORAL

• O subjetivismo moral é uma forma de relativismo segundo a qual


cada indivíduo responde às questões morais baseado no seu
código moral pessoal e não pode estar errado se os seus juízos
corresponderem aos seus sentimentos. Os nossos juízos morais
baseiam-se nos nossos sentimentos e, como os sentimentos são
subjetivos, nenhum juízo moral é objetivamente certo ou errado.

• O subjetivismo moral nega que haja objetividade em ética e não


admite que haja valores absolutos. Opõe-se ao objetivismo moral.
SUBJETIVISMO MORAL
“A cada um a sua verdade em assuntos morais”

JOÃO MIGUEL

«É moralmente errado matar


animais para os comermos «É moralmente correto matar
além de desnecessário» animais para os comermos»

Segundo o subjetivismo ambos os juízos morais são verdadeiros porque cada um está em
conformidade com os princípios em que cada um dos indivíduos acredita. Uma vez que João aceita o
princípio de que matar animais para os comer não é incorreto, o seu juízo é verdadeiro para ele.
Como Miguel tem como princípio moral pessoal que é errado matar animais para esse fim, o seu
juízo também é verdadeiro. Para o subjetivismo moral não tem sentido perguntar quem está
errado acerca da correção ou incorreção moral de matar animais para os comer.
SUBJETIVISMO MORAL

• Segundo o subjetivismo, os juízos morais apenas exprimem


posições pessoais de aprovação ou reprovação.

O problema (a que o subjetivismo moral responde):


Serão os valores morais relativos?

A resposta:
- Sim, os valores morais são relativos às opiniões e sentimentos das
pessoas / indivíduos que os defendem.
SUBJETIVISMO MORAL

• Argumento central do subjetivismo moral:

PREMISSA 1 Diferentes indivíduos discordam acerca do que é


correto ou incorreto.

Não existe um critério objetivo que nos permita


distinguir o que é correto do que é errado (quem
PREMISSA 2
tem razão).

PREMISSA 3 Logo, todos temos razão.


SUBJETIVISMO MORAL

• A 1ª premissa apresenta-nos um facto: é do senso-comum que existe discórdia


no que toca a questões morais.
• A 2ª premissa é uma consequência da 1ª: o subjetivista acredita que é por
haver essa discórdia que não existem valores absolutos, que possam ser
aplicados a todos. Afirma antes que todos temos razão, que a validade dos
valores morais depende do código moral da pessoa/indivíduo que o defende.

• Ex: Se João acredita que X é correto e Miguel acredita que X não é correto,
segundo esta teoria ambos têm razão, visto que a validade de cada crença
depende dos sentimentos e crenças da pessoa que a defende.
SUBJETIVISMO MORAL

• Logo, não parece existir razão para criticarmos as opiniões uns dos
outros: são igualmente boas, não temos o direito de as julgar nem
o critério objetivo (ou neutro) para o fazer.
• A partir deste argumento e da sua explicação, delinearam-se três
aspetos que tornam o subjetivismo moral atraente: esta teoria
procura promover a liberdade, autonomia e tolerância das/entre
as pessoas.
SUBJETIVISMO MORAL – ARGUMENTOS
Por que razões é o subjetivismo moral atraente?

• Os defensores do subjetivismo moral apresentam vários argumentos a seu favor.

1º O subjetivismo moral parece respeitar a liberdade e a autonomia das


pessoas:
• A cada qual a sua opinião de acordo com aquilo em que acredita e em nenhum
caso o juízo moral de uma pessoa é mais correto ou razoável do que o de outra.
A tolerância parece ser um elemento central do subjetivismo moral. Rejeita a
subordinação do indivíduo ao modo de pensar da maioria da sociedade e
não acredita em verdades morais absolutas e objetivas. Não há princípios e
normas morais a não ser os que cada indivíduo escolhe para si mesmo. Cada
um deve ter a liberdade e autonomia para decidir o que é moralmente
correto ou incorreto.
SUBJETIVISMO MORAL – ARGUMENTOS

2º O subjetivismo moral parece promover a tolerância:

Aos que defendem a tolerância e o diálogo entre culturas os


subjetivistas morais alegam que também os indivíduos devem ser
tratados com tolerância. O subjetivismo moral, a que podemos
chamar relativismo individual, afirma que todas as opiniões acerca de
assuntos morais e estilos de vida devem ser considerados igualmente
boas. A tolerância parece ser um elemento central do subjetivismo
moral. Ninguém pode dar lições de moral a ninguém. A cada qual a
sua verdade e assim deve ser.
SUBJETIVISMO MORAL – ARGUMENTOS

3º O subjetivismo moral parece tornar compreensível o progresso moral,


devido à intervenção de alguns reformadores morais:

Os reformadores morais são pessoas que desafiam as conceções morais vigentes


num dado momento da história em nome de convicções pessoais.
Como o subjetivismo moral rejeita a subordinação do indivíduo ao modo de
pensar da maioria da sociedade e não acredita em verdades morais absolutas e
objetivas, parece estar em boas condições para justificar a rejeição por parte de
certos indivíduos daquilo que a maioria pensou e tentou impor. Cada um de nós
decide de modo autónomo o seu estilo de vida e os valores que estão corretos.
Quem desafia os valores estabelecidos está a agir corretamente desde que esteja a
ser fiel aos seus sentimentos.
SUBJETIVISMO MORAL – OBJEÇÕES
Por que razões é o subjetivismo moral criticável?
Que objeções se lhe colocam?

1ª O subjetivismo moral é contraditório ou auto-refutante:


Para os subjetivistas nenhum princípio ético é verdadeiro para todas as pessoas em
todos os tempos e lugares. Contudo, os subjetivistas morais pensam que a sua teoria é
a verdade que vale para todas as pessoas em todos os tempos e em todos os lugares.
Transformam uma posição relativista em verdade absoluta, o que é contraditório.
Por outro lado, o subjetivismo moral afirma que nenhuma perspetiva moral é mais
verdadeira ou melhor do que outra. Mas como o subjetivismo é também uma
perspetiva moral, então não é melhor do que qualquer outra.
Se esta teoria defende que todos os indivíduos têm razão, então também têm razão
aqueles que defendem que o subjetivismo está errado. Portanto, é verdade que o
subjetivismo está errado.
SUBJETIVISMO MORAL – OBJEÇÕES
2ª O subjetivismo moral torna inviável a discussão de questões morais:
O subjetivismo moral parece sugerir que não podemos dizer que as opiniões e juízos
morais dos outros estão errados. Basta que os nossos juízos morais estejam de acordo
com os nossos sentimentos para serem verdadeiros. Um genuíno debate moral em
que cada interlocutor tente convencer o outro das suas razões acerca de algo em
que acredita perde qualquer sentido. Para o subjetivista será mesmo sinal de
intolerância. A ética não parece ser para o subjetivista uma questão de argumentação
racional. Qualquer posição ética é tão plausível como qualquer outra.
Exº
Imaginemos que o João defende que o aborto é errado e que a Maria defende que o
aborto é moralmente aceitável. Segundo o subjetivista, eles não estão realmente
em desacordo sobre se o aborto é ou não moralmente legítimo. Estão
simplesmente a exprimir os seus sentimentos sobre a moralidade do aborto.
SUBJETIVISMO MORAL – OBJEÇÕES

3ª O facto de as pessoas terem crenças opostas acerca


de questões morais não prova que essas crenças
sejam ambas verdadeiras.

Em situações em que houver posições morais contraditórias não


podem ser todas corretas.
Se dois indivíduos não estão de acordo acerca de um dado assunto, então têm
ambos razão, ou seja, as suas crenças são ambas verdadeiras. Mas e se as duas crenças se negam
uma à outra, e se se contradizem? Duas crenças que se contradizem não podem ser ambas
verdadeiras.
O subjetivismo moral faz da ética um domínio completamente arbitrário. Segundo esta teoria,
nenhum ponto de vista, por muito monstruoso que seja, pode ser considerado moralmente errado.
SUBJETIVISMO MORAL – OBJEÇÕES

4ª O subjetivismo acredita que não há verdades absolutas porque os assuntos


morais são objeto de discórdia generalizada; mas isso não quer dizer que não
existam verdades objetivas ou respostas corretas.

Será que o facto de as pessoas discordarem acerca da existência de Deus prova


que não há uma resposta à questão Será que Deus existe? Durante muito tempo
as pessoas pensaram que as doenças eram causadas por demónios (resposta
incorreta). Sabemos hoje em dia que na maioria dos casos são causadas por
microrganismos, tais como bactérias e vírus (resposta incorreta).
RELATIVISMO MORAL CULTURAL

• O relativismo moral cultural é a teoria segundo a qual o valor de verdade dos


juízos morais é sempre relativo ao que cada sociedade acredita ser
verdadeiro ou falso.
• Para o relativismo moral cultural a existência de diversas e opostas conceções
sobre o que é certo e errado implica que não há respostas objetivamente
verdadeiras às questões morais. A verdade moral é uma questão de contexto
cultural. Que uma ação seja boa ou má depende das normas morais aprovadas
na sociedade em que é praticada. Por isso a mesma ação pode ser errada numa
sociedade e correta noutra (por exº o Irão tolera o apedrejamento até à morte
da mulher adúltera. Nós condenamos essa prática). A moral é relativa.
• O relativismo moral cultural promove a coesão social de uma sociedade e a
tolerância entre sociedades diferentes.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL

«Matar é errado», «Roubar é incorreto» e «Mentir é imoral». Será que estes


juízos são verdadeiros?
Será que são objetivos e universais? «Há verdade e falsidade em assuntos
morais?» «Faz sentido dizer que uma crença moral é correta e que outra é
errada?»

O relativismo cultural afirma que aqueles juízos são verdadeiros mas não em
todo o lado e para todas as pessoas. A verdade dos juízos morais é relativa ao
que cada sociedade aprova. Moralmente verdadeiro é o que cada sociedade – ou
a maioria dos seus membros - acredita ser verdadeiro. Moralmente verdadeiro é
igual a socialmente aprovado e moralmente errado é igual a socialmente
desaprovado.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL

Um juízo moral é falso quando os membros – a maioria – de uma sociedade o


consideram falso e verdadeiro quando o consideram verdadeiro. Assim, afirmar
que «Matar é errado» significa dizer «A sociedade X considera que matar é
moralmente incorreto». Afirmar que «Matar é moralmente correto» significa
dizer «A sociedade X considera que matar é moralmente correto».
As convicções da maioria dos membros de uma sociedade são a autoridade
suprema em questões morais. O relativismo cultural acerca de assuntos morais
afirma que o código moral de cada indivíduo se deve subordinar ao código moral
da sociedade em que vive e foi educado. Os juízos morais de cada indivíduo
são verdadeiros se estiverem em conformidade com o que a sociedade a que
pertence considera verdadeiro.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL

• Argumento central do relativismo moral cultural:

O que é considerado moramente correto ou incorreto


PREMISSA 1 varia de sociedade para sociedade (diversas culturas
dão diferentes respostas às mesmas questões morais).

O que é moralmente correto ou incorreto depende do


PREMISSA 2 que cada sociedade acredita ser moralmente correto
ou incorreto.

Logo, não há nenhuma resposta objetivamente


PREMISSA 3 verdadeira a essas questões (não há verdades morais
universais).
RELATIVISMO MORAL CULTURAL

Devemos julgar as ações dos membros de uma sociedade pelas


normas estabelecidas no interior dessa sociedade e não mediante as
crenças morais de outras sociedades. Cumprir essas normas é agir
bem, não as respeitar é agir imoralmente.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL

• O relativista moral partilha a convicção básica de que o desacordo existente


entre os seres humanos sobre o que é moralmente certo ou errado é a prova de
que não há verdades morais objetivas* e de amplitude universal, isto é, não
temos uma base objetiva para distinguir o bem do mal.

*Verdades morais objetivas – são verdades que valem independentemente do


que possamos pensar. São independentes das crenças e dos hábitos culturais. Os
adversários do relativismo moral afirmam, por exemplo, que um juízo moral
como “A discriminação racial é errada” é objetivamente verdadeiro, ou seja, vale
independentemente do que as pessoas pensam sobre a discriminação racial.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

Por que razões é o relativismo moral cultural criticável?


Que objeções se lhe colocam?

1ª O relativismo moral é auto-refutante:

O relativismo moral afirma que não há verdades morais objetivas, ou seja, que
todas as verdades morais são relativas. Mas isso é transformar a proposição
“Nenhuma verdade moral é objetiva” numa verdade absoluta. Ora, isso significa
que nem tudo é relativo. Logo, dizer que todas as verdades morais são relativas é
falso. O relativismo refuta-se a si próprio. É a teoria segundo a qual tudo é
relativo exceto o próprio relativismo.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

2ª O relativismo moral torna incompreensível o progresso moral:

É verdade ou pelo menos parece que não há acordo entre os seres humanos sobre
muitas questões morais. Mas também é verdade que a humanidade tem realizado
progressos no plano moral. A abolição da escravatura, o reconhecimento dos
direitos das mulheres, a condenação e a luta contra a discriminação racial
são exemplos. Falar de progresso moral parece implicar que haja um padrão
objetivo com o qual confrontamos as nossas ações. Se esse padrão objetivo não
existir não temos fundamento para dizer que em termos morais estamos melhor
agora do que antes. No passado, muitas sociedades praticaram a escravatura
mas atualmente quase nenhuma a considera moralmente admissível (logo,
verifica-se aqui que houve progresso moral).
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

2ª O relativismo moral torna incompreensível o progresso moral (cont.):

Muitos de nós e com razão consideramos esta mudança de comportamento e de


atitude um sinal de progresso moral. Mas se para o relativismo moral nenhuma
sociedade esteve ou está errada nas suas crenças e práticas morais torna-se difícil
compreender a ideia de progresso moral. Tudo o que o relativismo moral nos
permitiria dizer é que houve tempos em que a escravatura era moralmente
aceitável e que agora ela é já não é aceite.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

3ª O relativismo moral parece convidar-nos ao conformismo moral, a seguir,


em nome da coesão social, as crenças dominantes (a ação dos reformadores
morais é sempre incorreta):
Os reformadores morais são pessoas que desafiam as conceções morais vigentes num
dado momento da história em nome de convicções pessoais. Tentam alterar
significativamente o modo de pensar, de agir e de sentir de uma dada sociedade porque o
consideram moralmente errado nalguns aspetos importantes.
Algumas pessoas ao longo da história quiseram e conseguiram mudar a nossa maneira de
pensar acerca de certos problemas morais.
Nelson Mandela lutou contra o apartheid na África do Sul; Martin Luther King lutou contra
a segregação racial nos EUA. Essas pessoas fizeram bem à humanidade, combateram
injustiças e devemos-lhes grande progresso moral. Ora, o relativismo moral parece
implicar que a ação dos reformadores morais é sempre incorreta.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

3ª O relativismo moral parece convidar-nos ao conformismo moral, a seguir,


em nome da coesão social, as crenças dominantes (a ação dos reformadores
morais é sempre incorreta) – cont.:

Segundo o relativismo, as crenças da maioria dos membros de


uma sociedade são a verdade em matéria moral, como aquilo que é
socialmente aprovado (o que significa aprovado pela generalidade dos
membros de uma sociedade) é verdadeiro e deve ser seguido, então
Mandela e Luther King comportaram-se de forma moralmente errada.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

4ª Há uma diferença significativa entre o que uma sociedade acredita ser


moralmente correto e algo ser moralmente correto:

O relativismo moral considera que é moralmente correto o que uma sociedade


acredita ser moralmente correto.
Por exº se uma sociedade rejeita o direito das mulheres ao voto e a igualdade de
oportunidades no acesso a empregos, diremos que isso é moralmente correto só
porque é socialmente aprovado. As sociedades são moralmente infalíveis? Então
por que mudaram a o longo da história várias das suas convicções?
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

4ª Há uma diferença significativa entre o que uma sociedade acredita ser


moralmente correto e algo ser moralmente correto (cont.):

O relativismo moral transforma a diversidade de opiniões e de crenças morais


em ausência de verdades objetivas. Mas isso pode ser sinal de que há pessoas
e sociedades que estão erradas e não de que ninguém está errado. Se duas
sociedades têm diferentes crenças acerca de uma questão moral, o relativista
conclui que então ambas as crenças são verdadeiras. Os adversários do
relativismo moral consideram que essa discórdia pode ser sinal de que uma
sociedade está certa e a outra está errada.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

5ª O relativismo moral reduz a verdade ao que a maioria julga ser


verdadeiro:
É moralmente correto o que é aprovado pela sociedade, então é moralmente correto o que a
maioria considera moralmente correto. Desde quando o que maioria pensa é verdadeiro e
moralmente aceitável?
Esta ideia para ser contraditória com a ideia de tolerância tão prezada pelo relativismo moral.
Por um lado, é muito discutível que uma crença moral seja verdadeira porque a maioria a
partilha. Vários exemplos históricos como o nazismo (os nazis acreditavam e fizeram com que a
maioria dos alemães acreditassem que os judeus eram sub-humanos e que exterminá-los era um
favor que faziam à humanidade. Isso é claramente falso) e o apartheid provam que muitas vezes
as crenças da maioria são moralmente erradas e perniciosas.
Por outro lado, muitas vezes uma sociedade está quase dividida ao meio no que respeita a
questões morais (caso do aborto). Como decidir quem tem razão?
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

5ª O relativismo moral reduz a verdade ao que a maioria julga ser


verdadeiro (cont.):

O relativismo moral parece convidar-nos ao conformismo moral, a seguir, em


nome da coesão social, as crenças dominantes. O conformismo não parece ser
uma atitude moralmente desejável. Impede a reforma e melhoria moral de
uma sociedade. Frequentemente transforma-se em obediência cega.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

6ª Partindo do facto de que há discórdia entre as várias sociedades acerca do


que é moralmente certo ou errado, o relativismo moral acaba por tornar
impossível em real debate moral entre sociedades ou entre membros de
sociedades diferentes:

Por exº consideremos as seguintes afirmações: “Segundo as crenças morais da


sociedade a que pertenço, o comportamento dos cidadãos da sociedade X é
errado” e “Segundo as crenças morais da sociedade X, o comportamento dos seus
cidadãos não é moralmente errado”.
Para o relativista não podemos dizer que os cidadãos da sociedade X estão
errados. É errado segundo os nossos padrões, mas não é errado segundo os seus.
RELATIVISMO MORAL CULTURAL – OBJEÇÕES

6ª Partindo do facto de que há discórdia entre as várias sociedades acerca do que é


moralmente certo ou errado, o relativismo moral acaba por tornar impossível em
real debate moral entre sociedades ou entre membros de sociedades diferentes
(cont.):

As duas proposições não se contradizem, não são incompatíveis. Não há, nesta
perspetiva, práticas morais em si mesas erradas. Se considerarmos que o relativismo
moral é correto, ninguém pode provar que sociedade tem razão numa disputa
moral. Não podemos dizer que uma está objetivamente errada e a outra certa.
Segundo o relativismo moral o modo como olhamos para as crenças e práticas de outras
culturas é habitualmente condicionado pelo nosso modo de ver. Ora, devemos evitar a
falsa e intolerante convicção de que o nosso modo de ver é a única forma de ver. Temos
de aceitar o que os membros de outras culturas pensam e fazem sem tentar corrigi-
los.
OBJETIVISMO MORAL
A tese central desta teoria é a de que há verdades morais universais e os juízos morais têm valor
de verdade e este em nada depende da perspetiva do sujeito que os profere. 

Os juízos morais podem ser justificados de forma racional e imparcial. 


•Examinemos o seguinte exemplo: 
•Uma pessoa afirma que “X é moralmente aceitável”, enquanto outra afirma que “X é
moralmente inaceitável”. 
Será que estas pessoas estão em desacordo? 
Não, responde o subjetivista moral. Essas pessoas estão simplesmente a expressar os
seus sentimentos face a X. Se são sinceras quanto a isso, então aquelas afirmações são
ambas verdadeiras.
OBJETIVISMO MORAL

Não, responde o relativista cultural, se essas pessoas pertencerem a culturas


diferentes, a primeira na qual X seja aprovado, a segunda na qual X seja reprovado. 
Segundo o relativista cultural, não há razões para contestar qualquer dos juízos
morais, desde que cada um deles expresse a perspetiva maioritária de cada
sociedade. 
- Sim, responde o objetivista moral. As pessoas que exprimem estes juízos estão
de facto em desacordo e estes não podem ter o mesmo valor de verdade. Por isso o
subjetivismo moral e o relativismo cultural não podem ser teorias corretas. 

• Para o objetivismo, um juízo moral tem de ser apoiado em boas razões que
são imparciais. 
OBJETIVISMO MORAL

O objetivismo moral reconhece que há juízos que exprimem meras


preferências pessoais e não precisam de ser acompanhados de razões,
como quando alguém diz “eu gosto de café” ou “eu prefiro chá”. 

Por exemplo, “X é um homem mau” é um juízo moral verdadeiro


se for sustentado por razões melhores que os juízos alternativos. E
quanto melhor for a justificação que suporta um juízo moral, mais
razões teremos para considerá-lo objetivamente verdadeiro. 
OBJETIVISMO MORAL

Os juízos morais precisam de ser avaliados de forma racional


e imparcial de forma a descobrirmos se estão corretos ou não,
por isso devem utilizar-se critérios transubjetivos de valoração,
ou seja, critérios que possam ser aceites por qualquer indivíduo
racional e que ultrapassam a perspetiva de cada um, permitindo
avaliar com imparcialidade os atos e as práticas sociais. 
OBJETIVISMO MORAL

Mas, se os juízos morais são independentes dos sentimentos, dos costumes


sociais e da vontade divina, baseiam-se em quê? Segundo os objetivistas
morais, baseiam-se na razão, ou seja, na capacidade humana de “raciocinar,
compreender, ponderar, ajuizar, etc.” - numa palavra, na capacidade de
pensar. Ao pensar sobre questões morais como o aborto, a mentira ou a pena
de morte, não nos limitamos a emitir juízos, tentamos também justificar
esses juízos através das melhores razões que conseguirmos descobrir.
OBJETIVISMO MORAL
Exº Imagina que um aluno considera que um determinado teste é injusto. 

Será que este juízo é objetivo? 


Sim, se for apoiado pelas melhores razões, tais como: 

A. O teste abrangia em pormenor assuntos sem importância, ignorando os considerados importantes pelo
professor.

B. O teste abrangia assuntos não tratados nem nas aulas teóricas nem nas práticas. 

C. O teste era demasiado extenso, nem os melhores alunos o poderiam realizar no tempo previsto. 
O professor não apresenta argumentos para se defender e pode-se supor que a, b e c são verdadeiras. 

Assim sendo, não terá o aluno provado que o teste foi injusto? Que mais poderíamos desejar a
título de prova? 

Adaptado de James Rachels, Elementos de filosofia moral, Gradiva, pp. 65-71 


OBJETIVISMO MORAL

• Havendo verdades objetivas podemos considerar como


certas ou erradas certas práticas morais de certas culturas
ou de indivíduos. A moral é a mesma para todos e não
depende de crenças culturais, de sentimentos
individuais nem de Deus.
OBJETIVISMO MORAL - ARGUMENTOS

Principais argumentos:

1º Argumento das boas razões:


Para o objetivismo, um juízo moral tem de ser apoiado em boas
razões que são imparciais.
Por exemplo, “X é um homem mau” é um juízo moral verdadeiro
se for sustentado por razões melhores que os juízos alternativos.
OBJETIVISMO MORAL - ARGUMENTOS

2º Argumento das consequências indesejáveis:


Se o subjetivismo moral ou o relativismo moral estivessem corretos
teríamos de aceitar perspetivas morais consideradas inaceitáveis, como a
escravatura, o racismo, etc. Estas perspetivas conduzem a consequências
sociais e culturais indesejáveis, pelo que não temos boas razões para as
aceitar.

3º Argumento da coincidência dos valores:


Se analisarmos várias culturas, encontramos uma grande coincidência em
algumas crenças fundamentais acerca de valores. Exemplo: a interdição de
matar, de roubar, etc.
OBJETIVISMO MORAL - OBJEÇÕES

Por que razões é o relativismo moral cultural criticável?


Que objeções se lhe colocam?

1ª A ideia de que todos reconhecemos de igual modo o que é correto ou


incorreto (independentemente das circunstâncias  e da cultura a que
pertencemos), não se verifica na prática:

Uma ideia que não só não se verifica na prática, de acordo com o relativismo
cultural, como acaba por negar a responsabilidade que cada um de nós tem, tal
como defende Sartre: cada um tem de escolher por si próprio os seus valores,
uma vez que não existem respostas simples para as questões éticas.
OBJETIVISMO MORAL - OBJEÇÕES

2ª Não reconhece que factos e valores são coisas distintas.

Os que se opõem ao objetivismo defendem que nenhuma descrição


factual conduz imediatamente a um juízo de valor, serão sempre
necessários argumentos adicionais - não podemos determinar o que
devemos fazer a partir de uma descrição científica do mundo. Existem
sempre nas nossas avaliações pressupostos individuais que têm a ver
com a nossa educação moral.

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