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Procriação Medicamente Assistida

Fertilização e Infertilização

A fertilização e a infertilização são termos opostos que se referem à capacidade de um


organismo, especialmente em relação à reprodução.

A fertilização é o processo no qual um óvulo gâmeta feminino) se funde com um


espermatozoide (gâmeta masculina) e forma-se um zigoto. O zigoto é a primeira célula de um
novo organismo e contém o conjunto completo de cromossomos, metade dos quais vêm da
mãe e metade do pai. A fertilização é o evento fundamental na reprodução sexual e dá início ao
desenvolvimento do embrião.
A infertilização, por outro lado, é a incapacidade de um organismo (geralmente seres humanos)
de conceber um filho de forma natural. Pode ser causado por diversos fatores, tanto em
homens quanto em mulheres, e pode ser temporário ou crónico.
Portanto, a fertilização refere-se ao processo de fecundação, fusão de óvulo e espermatozoide
para a reprodução, enquanto a infertilização é uma incapacidade de conceber devido
naturalmente a várias causas.

A infertilidade pode afetar tanto homens quanto mulheres e pode ter uma variedade de causas
em ambos os sexos.
A infertilidade é considerada um problema de saúde pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
e pode ser definida como a ausência de gestação após 12 meses de tentativas

Infertilidade no Homem

Problemas:
Anomalias na produção do esperma (os espermatozoides com morfologia anormal têm
dificuldade em fertilizar um óvulo.)

Causas dessas anomalias:


Varicocele (uma dilatação anormal das veias no escroto pode levar ao superaquecimento dos
testículos, prejudicando a produção de esperma); Doenças autoimunes (anticorpos ou
antiespermatozoides); Infeções (exemplo: papeira); Descida incompleta dos testículos e
Disfunções hormonais

Problemas:
Disfunção sexual- problemas de ereção e ejaculação (a ejaculação retrógrada, na qual o
esperma entra na bexiga em vez de ser liberado pelo pênis (volta para trás), pode causar
infertilidade)

Causas da disfunção sexual:


Stresse, fármacos, tabagismo, álcool, mau sono , má alimentação, etc.
Problemas:
Problemas testiculares- obstrução do epidídimo ou dos canais deferentes (uma obstrução nos
canais que transportam o esperma pode impedir a ejaculação do esperma).

Causas desses problemas testiculares:


Anomalia congénita (defeitos no nascimento); Infeções ou inflamações provocadas por agentes
sexualmente transmissíveis.

Técnicas de diagnóstico:
- Análise do sémen (espermograma)
- Análise aos níveis hormonais (deteção de testosterona no sangue)
- Ecografia escrotal e transretal
- Ressonância magnética à hipófise, à pélvis e ao escroto

Infertilidade na Mulher:

Problemas:
Problemas na ovulação- a anovulação, ou ausência de ovulação, é uma causa comum de
infertilidade. Pode ser devido a distúrbios hormonais, síndrome dos ovários poliquísticos (SOP),
entre outros.

Causas:
Idade (a fertilidade nas mulheres diminui com a idade, especialmente após os 35 anos);
Síndrome do ovário poliquístico; obesidade e exercício em excesso

Problemas:
Bloqueio das trompas de Falópio- a obstrução ou danos nas trompas de Falópio podem impedir
que o óvulo alcance o útero e o esperma alcance o óvulo.

Causas desse bloqueio:


Infeções sexualmente transmissíveis (clamídia e papiloma vírus, por exemplo)

Problemas:
Problemas no útero- anormalidades no útero, como pólipos e miomas, podem dificultar a
implantação do óvulo fertilizado.

Causas desses problemas no útero:


Endometriose (a endometriose é uma condição em que o tecido que normalmente reveste o
útero cresce fora do útero e que pode causar aderências e cicatrizes que afetam a fertilidade),
Fibromas e Pólipos
Técnicas de diagnóstico:
- Testes de ovulação (deteção de LH na urina)
- Ecografia aos ovários (observação da estrutura dos folículos)
- Ecografia ao útero (observação das mudanças cíclicas do endométrio)
- Histerossalpingografia (exame radiológico ao útero e às trompas)

Infertilidade em Portugal:

Segundo dados da Associação Portuguesa de Fertilidade, a infertilidade atinge 15 a 20% dos


casais em todo o mundo – 300 mil em Portugal.

Segundo dados da Associação Portuguesa de Fertilidade, em todo o mundo, 48,5 milhões de


casais não conseguiram ter um filho após 5 anos de tentativas. E um em cada dez casais
precisa de ajuda para conseguir ter um bebé.
Além disso, é importante recordar que cerca de 25 a 40% dos casais com dificuldades
reprodutivas relatam sinais de ansiedade e depressão mais elevados comparativamente com
os casais férteis.

Dos 300 mil casais inférteis em Portugal (segundo a estimativa), 40% dos casais estarão
relacionados com causas femininas, outros 40% com causas masculinas, 20% com outras
causas.

A infertilidade pode ser tratada com sucesso por meio de intervenções médicas, incluindo
medicamentos, cirurgia e outras técnicas. O tratamento terapêutico depende da causa
subjacente da infertilidade em cada indivíduo. Portanto, se um casal está a passar por
problemas de infertilidade, é aconselhável consultar um especialista em reprodução ou um
ginecologista para avaliação e orientação personalizada.

A infertlização é cada vez menos uma condição permanente, podendo ser ultrapassada, como
já referimos anteriormente, através do recurso à procriação medicamente assistida (PMA).

A PMA enquadra um conjunto de técnicas e tratamentos médicos destinados a favorecer a


gravidez em caso de problemas de fertilidade masculina, feminina ou ambas. Os
procedimentos de reprodução assistida envolvem, geralmente, a manipulação, em laboratório,
de espermatozoides, de oócitos II ou de embriões. De entre essas técnicas, destacam-se a
inseminação intrauterina, a fertilização in vitro e a injeção intracitoplasmática de
espermatozoides.

Inseminação Intra-uterina:

A inseminação intrauterina (IIU), é um tratamento de reprodução medicamente assistida, de


baixa complexidade, breve e indolor, no qual se procede à colocação de espermatozoides
cuidadosamente selecionados (após processos de recolha, lavagem com meios adequados e
seleção dos espermatozoides mais capazes) diretamente no útero da mulher, próximo do
momento da ovulação. A IIU pode ser antecedida da estimulação ovárica, de modo a controlar o
crescimento e o amadurecimento dos folículos e a aumentar as probabilidades de uma
fertilização bem sucedida.

Para além de ter um custo mais reduzido, comparado com outros métodos de inseminação
artificial, o processo é menos invasivo para o paciente. É no entanto menos eficaz, em
comparação com a fertilização em vitro, por exemplo.

Esta técnica é utilizada, por exemplo para homens com:

- Baixa contagem de espermatozoides;


- Baixa mobilidade dos espermatozoides;
- Disfunção erétil.

E para mulheres com:

- Problemas na ovulação;
- Alterações no muco cervical.

Fertilização In vitro

A fertilização in vitro (FIV), consiste na fecundação do oócito, fora do corpo humano, em


ambiente laboratorial (in vitro), com a finalidade de obter embriões que possam ser transferidos
para o útero, permitindo que este continue o seu processo de desenvolvimento.

Apesar da sua taxa de sucesso estar entre 25% a 30%, é umas das técnicas mais usadas,
devido, principalmente, ao seu custo.

A FIV envolve, normalmente, as seguintes etapas:

- Estimulação dos ovários - A estimulação é realizada com gonadotrofinas injetáveis para


ajudar no amadurecimento de vários folículos, mas pode não ser este necessário este
procedimento, se houver um oócito desenvolvido naturalmente, durante o ciclo
menstrual.
- Recolha de oócitos - O desenvolvimento folicular é monitorizado, através de ecografias,
e determinado o momento certo para a colheita dos ovócitos. A recolha é feita por via
transvaginal e punção de folículos.
- Fertilização dos oócitos - Os oócitos, quando retirados, são colocados numa placa de
cultura e incubados com espermatozóides colhidos no dia da fertilização, ou
preservados a gelo (Criopreservados).
- O crescimento dos embriões em laboratório - Depois da fecundação, os embriões,
resultantes do procedimento anterior, são deixados em fase de desenvolvimento
durante 2 a 5 dias. A sua seleção vai ser de acordo com a sua morfologia e capacidade
de divisão.
- Implantação dos embriões - Um ou alguns dos embriões resultantes são inseridos no
útero, através de uma cânula, pelo canal vaginal. Duas semanas após a transferência do
embrião, é realizado um teste ao sangue para determinar se ocorreu, ou não, o processo
de gravidez.

Curiosidade:
A gravidez múltipla constitui o maior risco da FIV, e, devido às complicações que a mesma
causa, tem se verificado uma redução do número de embriões transferidos para o útero de uma
vez só, sendo cada vez mais frequente a implantação de apenas um embrião.

Injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI)

A técnica de injeção intracitoplasmática (ICSI) é semelhante à fertilização in vitro,


distinguindo-se dela pela forma como ocorre a fertilização.

Na ICSI recorre-se a uma micropipeta para a injeção de um único espermatozoide num oócito,
de forma que ocorra a fecundação. Dependendo do número de espermatozóides obtidos, a ICSI
permite que o embriologista fertilize vários óvulos. Isto aumenta as hipóteses de sucesso em
casos de infertilidade masculina ou baixa qualidade dos óvulos.

Este processo é adequado a problemas de infertilidade masculina como:

- Baixa mobilidade ou morfologia irregular dos espermatozoides;


- Baixo número de espermatozóides no esperma;
- Vias genitais bloqueadas, que tenham feito vasectomia.

Para que a fecundação aconteça, um único espermatozoide tem de penetrar no óvulo para que
se possam fundir. Às vezes, a membrana externa do óvulo pode ser demasiado espessa ou
forte, ou o esperma pode estar demasiado fraco para conseguir penetrar no óvulo. Se este for o
caso, então o procedimento de ICSI pode ser indicado.

Inseminação post mortem

A Inseminação post mortem consiste na introdução na cavidade uterina (inseminação


intrauterina) de espermatozoides, previamente criopreservados, após a sua preparação
laboratorial, ou seja, permite a possibilidade de inseminação artificial com o sémen do marido
já falecido.
O sémen do homem, já falecido, pode então ser utilizado no prazo de três anos contados a
partir da morte do homem. No entanto, se não houver autorização por parte deste, o processo
não poderá avançar e a amostra será destruída.

A partir de novembro de 2021, a inseminação post mortem passou a ser permitida. Com isto, as
mulheres em Portugal passaram a poder engravidar de todas as técnicas disponíveis.

Questões bioéticas

A procriação medicamente assistida (PMA) levanta várias questões éticas, uma vez que é um
processo complexo que envolve intervenções médicas para facilitar a concessão ou a gravidez.
Vou apresentar alguns argumentos a favor e contra para fornecer uma visão mais abrangente.

Alguns dos aspectos éticos mais importantes relacionados à PMA são:


- Será legítimo recorrer à reprodução medicamente assistida?
- Será ético poder-se escolher a cor dos olhos, a pele e o sexo do bebé?
- Será ético utilizar a reprodução medicamente assistida para originar bebés doadores?

Será legítimo recorrer à reprodução medicamente assistida?


A questão da reprodução medicamente assistida é complexa e envolve considerações éticas,
culturais, religiosas e científicas.Vou apresentar alguns argumentos a favor e contra para
fornecer uma visão mais abrangente.

Argumentos a favor:
- Realização do desejo de ter filhos (muitos casais enfrentam dificuldades naturais para
conceber, a reprodução medicamente assistida oferece a oportunidade de realizar o
desejo de ter filhos biológicos);
- Avanços científicos e tecnológico;
- Oportunidade para grupos específicos (a reprodução assistida pode ser a única opção
para determinados grupos, como casais do mesmo sexo, mulheres solteiras ou pessoas
com problemas de saúde que dificultam a concepção natural);
- Prevenção de doenças genéticas (algumas técnicas de reprodução assistida, como a
seleção embrionária, permitem a identificação e prevenção de doenças genéticas
hereditárias).

Argumentos contra:
- Preocupações éticas e religiosas (algumas pessoas argumentam que uma intervenção
humana na concepção vai contra princípios éticos ou religiosos, como a crença de que
a vida começa no momento da concepção);
- Custo financeiro e acesso desigual (é inacessível para muitas pessoas, o que cria
disparidades socioeconômicas e limita o acesso a determinados grupos);
- Riscos para a saúde (algumas técnicas de reprodução assistida podem estar associadas
a riscos para a saúde das mães e dos bebês, como gravidez múltipla e complicações
médicas).

Na nossa opinião: Todos temos o direito de construir uma família independentemente dos
processos utilizados; Para além disso, concordamos que a PMA deve ser sempre utilizada com
um fim em si mesmo e nunca por um meio.

Será ético poder-se escolher a cor dos olhos, a pele e o sexo do bebé?
A questão da seleção de características específicas, como cor dos olhos, cor da pele e sexo do
bebê, por meio de técnicas de reprodução assistida levanta considerações éticas complexas.
Aqui estão alguns argumentos a favor e contra essa prática:

Argumentos a favor:
- Autonomia reprodutiva (os defensores da seleção de características genéticas
argumentam que os pais têm o direito de tomar decisões sobre a concepção e o
desenvolvimento de seus filhos, visto que essas decisões não causam danos
significativos aos indivíduos envolvidos);
- Prevenção de doenças genéticas (não ocorre a transmissão de doenças genéticas
graves, melhorando a saúde global da futura criança);
- Realização de Preferências Pessoais (alguns pais podem desejar escolher
características específicas para realizar suas próprias preferências pessoais).

Argumentos contra:
- Risco de Discriminação (uma seleção de características específicas pode levar a
preocupações sobre a criação de uma sociedade que valoriza certos traços e
discrimina outros, perpetuando ideias específicas sobre superioridade ou inferioridade
com base em características físicas);
- Perpetuação de estereótipos (uma seleção de características como cor da pele e sexo
pode perpetuar estereótipos culturais e de gênero, contribuindo para a falta de
diversidade e acessibilidade);
- Questões éticas e morais.

Na nossa opinião: Concordamos tanto com argumentos a favor, visto que permitiria evitar que
o bebé nascesse com doenças genéticas, como aqueles que são contra, uma vez que, se todos
tivéssemos a oportunidade de escolher as características que pretendemos acabaria por não
haver qualquer diversidade no mundo, o que poderia causar discriminação por parte da
sociedade.

Será ético utilizar a reprodução medicamente assistida para originar bebés


doadores?
A questão de utilizar a reprodução medicamente assistida para originar bebês doadores (é
gerada uma criança compatível para doar células-tronco, que são células com a capacidade de
recompor tecidos danificados, para um irmão que esteja doente) levanta sérias considerações
éticas. Aqui estão alguns argumentos a favor e contra essa prática:

Argumentos a favor:
- Salvar vidas (e a intenção é criar um bebê doador com a finalidade de salvar vidas, por
exemplo, para fornecer órgãos ou tecidos para um irmão ou parente doente, alguns
argumentos que isso pode ser ético, pois está relacionado à promoção da vida e saúde);
- Alívio do sofrimento (se uma criança gerada por meio de reprodução assistida aliviar o
sofrimento ou melhorar a qualidade de vida de outra pessoa, isso pode ser visto como
um ato ético);
- Escolha informada e consentimento (se os pais estão completamente informados sobre
os riscos e implicações da criação de um bebê doador e fornecem um consentimento
informado).

Argumentos contra:
- Autonomia da criança (uma criança não tem autonomia na decisão de ser concebida
com esse propósito, isso levanta questões sobre a justiça e o respeito pelos interesses
e direitos da criança);
- Risco de exploração (pode ser visto como instrumentalização da criança para atender
às necessidades de outros);
- Dignidade humana (diminui a criança a um objeto de uso).

Na nossa opinião: Discordamos desta tese, uma vez que, as crianças não devem ser originadas
apenas para este fim, ou para satisfazer as necessidades do outro. Para além disso, é errado, já
que as crianças não dão qualquer consentimento para tal ação.

Conclusão
Com a realização deste trabalho ficámos a conhecer e depreender melhor a distinção entre
fertilidade e infertilidade, as várias causas e problemas que apresenta (tanto na mulher como
no homem), algumas das diversas técnicas de procriação medicamente assistida, e, por fim, as
questões éticas que este tema levanta.

Webgrafia
https://ceti.pt/inseminacao-intrauterina-iiu/?gclid=Cj0KCQiApOyqBhDlARIsAGfnyMpJ6VoLOIu
6FrdsDqY6cTvHnk3bsImucRS3Z1HhoQthtR_s0QtItTYaAq6LEALw_wcB (20 de outubro)
https://ceti.pt/fertilizacao-in-vitro-fiv/?gclid=Cj0KCQiApOyqBhDlARIsAGfnyMoR02wiZnALFN4
DPc3qRGRnVxKJ5WrZKArlrPpJ6xpdGhI_45FhjVgaAvqrEALw_wcB (22 de outubro)
https://www.cnpma.org.pt/cidadaos/Paginas/tecnicas-de-pma.aspx (22 de outubro)
https://pt.slideshare.net/JaquelineAlmeida26/slides-de-reproduo-assistida-alunos (26 de
outubro)
https://observador.pt/2022/05/16/infertilidade-a-dois/ (10 de outubro)
Jorge Reis, António Guimarães, Ana Bela Saraiva, Hugo Novais, (2023) Odisseia. Portugal: Porto
Editora;
Powerpoints disponibilizados na classroom pela professora;
https://www.publico.pt/2023/08/16/sociedade/noticia/nasceu-bebe-portugal-recurso-insemi
nacao-posmorte-2060419 (11 de novembro)
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150424_doador_recem_nascido_fn (18 de
novembro).

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