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Lógica Formal

Distinção validade –
verdade
A Professora: Vanessa Silva
Sumário

A lógica como estudo da validade dos argumentos.


O que se entende por argumento?
O que são proposições?
Como se distinguem as noções de validade e de verdade?
Quais as diferenças entre argumentos dedutivos e argumentos indutivos?
Objetivos Específicos
 Definir «lógica».
 Compreender os significados de «raciocínio», «inferência» e «argumento».
 Distinguir «lógica formal» de «lógica informal».
 Conhecer a estrutura do argumento.
 Definir «proposição».
 Explicitar o conceito de «juízo».
 Analisar a estrutura do argumento.
 Distinguir «verdade» de «validade».
 Compreender em que consistem os argumentos dedutivos.
 Compreender a noção de «forma lógica».
 Diferenciar «argumento dedutivo válido» de «argumento dedutivo inválido».
 Compreender a noção de «argumento sólido».
 Distinguir «validade dedutiva» de «validade não dedutiva».
De que trata a Lógica?
Lógica: o que se segue do quê?

A lógica trata da relação de consequência. O que principalmente queremos saber,


nesta disciplina, é o que se segue do quê. Por exemplo, se eu disser que alguns
acontecimentos são ações, pode concluir-se daí que algumas ações são acontecimentos; e
ainda que seja verdade que todas as ações são acontecimentos, isso não pode deduzir-se
daquela afirmação. Analogamente, se digo que o sol é uma estrela mortal, segue-se do que
digo que alguma estrela é mortal; e ainda que todas as estrelas sejam mortais, isso não se
pode concluir dali. Uma noção aparentada com a de consequência lógica é a de argumento
válido. Um argumento é uma maneira de estabelecer ou suportar uma conclusão a partir de
certas premissas: um encadeado de enunciados que, partindo das premissas, conduz passo
a passo até à conclusão desejada; e só é válido, ou logicamente correto, se a conclusão for
uma consequência lógica das premissas. Um argumento válido é uma espécie de prova
condicional: uma prova de que a conclusão é verdadeira se as premissas o forem.
Em lógica queremos saber que argumentos são válidos e que argumentos não o são.
Conceitos Nucleares

Lógica – Ciência geral da inferência, fundada por Aristóteles. Divide-se hoje em


lógica formal e lógica informal. A lógica formal é o estudo sistemático das
formas válidas e inválidas dos argumentos. Avalia o modo como se chega à
conclusão a partir das premissas.

 Argumento – refere-se, genericamente, ao complexo formado por uma ou


várias proposições (premissas), a partir da (s) qual (ais) se infere uma
proposição (conclusão). Existe, portanto, uma grande proximidade entre os
termos argumento, inferência e raciocínio. Inferir é chegar a uma conclusão a
partir de um conjunto de premissas, ou seja, é apresentar um argumento.
Argumentar é expressar um raciocínio.
Distinção validade – verdade
O que (não) é uma proposição:
Uma proposição é expressa por uma frase, mas nem todas as frases exprimem proposições.
Vamos explicar isto partindo de exemplos:
1. “Quantos anos tens?”
(uma frase interrogativa: não exprime uma proposição)
2. “Estuda todos os dias!”
(uma frase onde se dá um conselho: não exprime uma proposição)
3. “Quero tirar positiva a Filosofia!”
(uma frase que exprime um desejo: não exprime uma proposição)
4. “Juro que amanhã trago o livro.”
(uma frase que exprime uma promessa: não exprime uma proposição)
5. “Deus existe.”
(uma frase declarativa: exprime uma proposição)
6. “O Homem não é livre.”
(uma frase declarativa: exprime uma proposição)
O que (não) é uma proposição:
Logo, não exprimem proposições as frases que exprimem:
• Perguntas (1)
• Exclamações, ordens, conselhos (2)
• Desejos (3)
• Promessas (4)

Exprimem proposições as frases (5 e 6) declarativas (isto é, que exprimem ideias,


pensamentos) e com valor de verdade (isto é, que podem ser verdadeiras ou falsas) – dito
de outro modo: que têm sentido. (Repara que nenhuma das frases 1-4 obedece e tem estas
características).

Portanto, em síntese, uma proposição é o pensamento expresso por uma frase declarativa
que pode ser verdadeira ou falsa.
Conceitos Nucleares

Proposição – noção elementar da lógica. Embora a formulação precisa possa variar,


designa, genericamente, o que se afirma, declara ou propõe quando se exprime
uma asserção, enunciado indicativo ou declarativo, suscetível de ser encarado como
verdadeiro ou falso, isto é, suscetível de possuir valor de verdade. Uma proposição
é a expressão de um juízo.

 Valor de verdade – expressão lógica clássica ou bivalente que se refere ao facto de


uma proposição poder ser verdadeira ou falsa. A verdade ou falsidade, valores que
se excluem mutuamente, são propriedades que podem unicamente ser atribuídas
às proposições e nunca aos argumentos.
«As partes relevantes de um argumento são, em primeiro lugar, as suas premissas. As
premissas são o pinto de partida, ou o que se aceita ou presume, no que respeita ao argumento.
Um argumento pode ter uma ou várias premissas. A partir das premissas, os argumentos derivam
de uma conclusão. Se estamos a refletir sobre um argumento talvez por termos relutância em
aceitar a sua conclusão, temos duas opções. Em primeiro lugar, podemos rejeitar uma ou mais das
suas premissas. Em segundo lugar, podemos também rejeitar o modo como a conclusão é extraída
das premissas. A primeira reação é que uma das premissas não é verdadeira. A segunda é que o
raciocínio não é válido. É claro que o mesmo argumento pode estar sujeito a ambas as críticas: as
premissas não são verdadeiras e o raciocínio aplicado é inválido. Mas as duas críticas são distintas
(e duas expressões, “não é verdadeira” e “não é válido”, marcam bem a diferença).
No dia a dia, os argumentos também são criticados noutros aspetos. As premissas podem
não ser muito sensatas (…) Mas “lógico” não é um sinónimo de “sensato”. A lógica interessa-se em
saber se os argumentos são válidos, e não se são sensatos. E vice-versa, muitas das pessoas a que
chamamos “ilógicas” podem até usar argumentos válidos, mas serão patetas por outros motivos.
A lógica só tem uma preocupação: saber se não há maneira de as premissas serem
verdadeiras e a conclusão falsa.»
S. Blackburn, Pense. Uma Introdução à Filosofia.
Como se distinguem as noções de validade e de
verdade?

A partir da leitura do texto anterior, podemos concluir


que:

→Das proposições dizemos que são verdadeiras ou falsas.


→Dos argumentos afirmamos que são válidos ou inválidos.
→A validade refere-se à forma/ estrutura dos argumentos.
→A verdade diz respeito ao conteúdo/ matéria das
proposições.
Como se distinguem as noções de validade e de
verdade?
Consideremos os exemplos que se seguem.

Argumento 1 Argumento 2

Os ursos-polares são mamíferos. Os carapaus não são mamíferos.


Todos os mamíferos respiram por pulmões. Todos os mamíferos respiram por pulmões.
Logo, os ursos polares respiram por pulmões. Logo, os carapaus não respiram por pulmões.

As conclusões dos argumentos apresentados são ambas verdadeiras. Efetivamente, os ursos-polares


respiram por pulmões, o mesmo não acontecendo com os carapaus. Mas não precisamos de ser especialistas
em zoologia para rapidamente percebermos que há qualquer coisa de errado com o argumento 2. Quanto ao
primeiro, independentemente de sabermos ou não o que são ursos-polares, se reconhecermos como
verdadeiras as premissas, somos forçados a aceitar a conclusão.
Como se distinguem as noções de validade e de
verdade?

Dizemos então que o argumento 1 é No caso do argumento 2, tanto as


válido. Não há alternativa à conclusão premissas como a conclusão são verdadeiras, mas o
apresentada. A conclusão não é apenas argumento carece da propriedade validade: é por
verdadeira, é também uma consequência lógica isso, inválido. A conclusão não é uma consequência
das premissas. Percebemo-lo a partir da forma
lógica ou estrutura formal do argumento. lógica das premissas. Uma das premissas do
Qualquer outro argumento que respeite argumento diz que os mamíferos, todos eles,
rigorosamente a mesma forma lógica será respiram por pulmões, mas não diz que apenas os
também válido. mamíferos respiram por pulmões.
Como se distinguem as noções de validade e de
verdade?
O argumento 2 é, assim, Um argumento inválido pode ter premissas e
um exemplo de mau argumento. conclusão verdadeiras, do mesmo modo que um
Diz-se que um argumento é mau argumento válido pode ser constituído por premissas e
quando apresenta, para a sua conclusão falsas. A virtude essencial de um argumento
conclusão, um suporte débil ou
nenhum suporte em absoluto. válido não reside no facto de as premissas serem
Inversamente, o argumento 1 é verdadeiras ou falsas, mas no facto de a conclusão se
um bom argumento. Um seguir necessariamente das premissas, o que acontece
argumento é bom quando é no argumento 1 – por isso se disse que a sua conclusão
válido ou quando as premissas
apoiam, no sentido mais forte que era consequência lógica das premissas – e não no
há, a sua conclusão. Reserva-se argumento 2 – por isso se disse que a sua conclusão
frequentemente o termo sólido não era consequência lógica das premissas.
para nos referirmos a argumentos
válidos com premissas Sabemos que é impossível que, num argumento válido,
verdadeiras. as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa.
Como se distinguem as noções de validade e de
verdade?
Circunstâncias em que um argumento tanto pode ser válido como inválido

Todas as Todas as Algumas Algumas Todas as premissas


premissas são premissas são premissas são premissas são são verdadeiras e
falsas e a falsas e a verdadeiras, verdadeiras, a conclusão é
conclusão é falsa. conclusão é outras falsas e a outras falsas e a verdadeira.
verdadeira. conclusão é conclusão é falsa.
verdadeira.

Circunstância em que um argumento é, apenas, por isso, inválido.

Todas as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa.


Como se distinguem as noções de validade e de
verdade?
Concluímos assim que:
→A validade é uma propriedade que se refere
exclusivamente à forma lógica ou estrutura formal do
argumento.
→O conteúdo específico das premissas e da conclusão
não é relevante para determinar a validade dos
argumentos.
→A validade é uma importante propriedade dos
argumentos. Se, e apenas se, nos basearmos em
informação verdadeira e, simultaneamente,
raciocinarmos validamente, é seguro que não
chegaremos a uma conclusão falsa.
Como se distinguem as noções de validade e de
verdade?

Premissas
verdadeiras + Argumento
válido = Conclusão
verdadeira

Dado que a validade é uma virtude que depende exclusivamente de procedimentos


formais, é possível desenvolver um estudo sistemático dos argumentos válidos. Disso se
ocupa a lógica formal.
De acordo com uma vasta tradição de lógicos, apenas os argumentos dedutivos
podem ser classificados formalmente como válidos ou inválidos.
Quais as diferenças entre argumentos dedutivos e
argumentos indutivos?

Consideremos o seguinte argumento:

Todos os marsupiais são mamíferos.


O canguru é um marsupial.
Logo, (é necessariamente verdade que) o
canguru é mamífero.

Animais marsupiais.
Quais as diferenças entre argumentos dedutivos e
argumentos indutivos?

O exemplo considerado é um argumento dedutivo e, neste caso, válido, pois a conclusão é


consequência lógica das premissas. Alguém que aceite as premissas mas rejeite a conclusão incorre
em contradição, uma vez que a conclusão está implicada pelas premissas. Se as premissas forem
verdadeiras, a conclusão será garantidamente verdadeira. Dizemos, por isso mesmo, que o
argumento é válido. Por outras palavras, argumentos como este (por vezes ditos dedutivamente
válidos) preservam a verdade. Mas, num certo sentido, eles não são ampliativos: a conclusão não vai
além das premissas, isto é, não diz mais do que aquilo que estas implicam.
Quais as diferenças entre argumentos dedutivos e
argumentos indutivos?
Afirmar que um argumento dedutivo válido
preserva a verdade não nos deve levar ao
equívoco de imaginar que tal acontece com
qualquer argumento dedutivo.
Apenas nos argumentos dedutivos válidos (e só
nesses) é impossível a conclusão ser falsa e as
premissas serem verdadeiras.
Nem só as deduções válidas são bons
argumentos. Um argumento pode ainda ser um
bom argumento quando as premissas sustentam a
conclusão de alguma maneira não dedutiva, por
exemplo, indutivamente.
Quais as diferenças entre argumentos dedutivos e
argumentos indutivos?

Todas as nozes observadas até hoje têm casca.


Assim sendo, (com um forte grau de probabilidade)
todas as nozes terão casca.

ou

Todas as nozes observadas até hoje têm casca.


Portanto, (com um forte grau de probabilidade) a
próxima noz a ser observada terá casca.
Quais as diferenças entre argumentos dedutivos e
argumentos indutivos?
Ao contrário dos argumentos
dedutivos, as inferências indutivas
não nos levam a uma conclusão que
realmente deriva das premissas, Todos os argumentos pretendem, em geral,
mas a extrapolações: do particular justificar a sua conclusão. Quando a pretensão é,
para o geral, do observável para o
mais especificamente, a de garantir ou estabelecer a
não-observável, do conhecido para o
desconhecido, do passado e verdade da conclusão, o argumento é dedutivo;
presente para o futuro, etc. a quando a pretensão é, mais especificamente,
conclusão de uma inferência suportar ou apoiar a probabilidade da verdade da
indutiva ultrapassa as premissas, no conclusão, o argumento é indutivo. Quando estas
sentido em que a verdade conjunta pretensões mais específicas são conseguidas, os
das premissas não garante a argumentos dizem-se, respetivamente/tecnicamente,
verdade da conclusão. válidos e fortes.
Quais as diferenças entre argumentos dedutivos e
argumentos indutivos?

Os argumentos indutivos, conduzem-se


sempre a conclusões prováveis, plausíveis ou
verosímeis. São ampliativos, mas não são
demonstrativos, dado que a conclusão é uma
extrapolação a partir das premissas. Os argumentos
indutivos nunca provam algo definitivamente. É
sempre perfeitamente possível que as premissas
sejam verdadeiras, mas a conclusão seja falsa.
O raciocínio científico, que infere leis ou
princípios gerais a partir de observações
particulares, é frequentemente apresentado como
paradigma de raciocínio indutivo.
Conceitos Nucleares
Validade – virtude geralmente atribuída às inferências ou argumentos dedutivos cuja
forma obedece a regras lógicas. Um argumento dedutivo diz-se válido quando, e apenas
quando, a conclusão se segue (ou deriva) necessariamente das premissas, isto é,
quando é impossível que todas as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa.

 Forma lógica – diz respeito à estrutura de uma frase ou argumento partilháveis com outras
frases e argumentos. Por exemplo, os argumentos «Todos os cavalos são animais; o
Rocinante é um cavalo; logo, o Rocinante é um animal» e « Todos os filósofos são críticos;
Sócrates é filósofo; logo, Sócrates é crítico» partilham a mesma forma lógica: «Todo o A é
B; C é A; logo C é B». Uma vez que se trata de uma forma válida, qualquer argumento que
partilhe exatamente esta mesma estrutura ou forma lógica será válido,
independentemente do conteúdo atribuído às variáveis. A, B e C. A lógica é a ciência que
procura isolar formas lógicas de inferência, sistematizando as que são válidas e as que não
são.
Conceitos Nucleares

Dedução – é o processo de inferência pelo


qual de uma ou mais proposições
(premissas) se conclui necessariamente
um outra proposição (conclusão) nelas, de
algum modo, incluída ou por elas
implicada. Dizemos, assim, que a
conclusão de um argumento dedutivo
válido é uma consequência necessária ou
lógica (deriva) das premissas. Os
argumentos dedutivos são, nesse sentido,
não ampliativos.
Proposta de trabalho!
I. Identifique as premissas (explícitas e/ou implícitas) e a conclusão dos seguintes
argumentos.

1. Considerando que o Sporting, o Futebol Clube do Porto e o Benfica escolheram


animais selvagens e/ou mitológicos como símbolos, segue-se que é bastante
provável que outros clubes também façam escolhas semelhantes.

2. Admitindo que a raiz quadrada de 9 é 3, conclui-se que o quadrado 3 é 9.

3. Provo que a raiz quadrada de 9 é 3 se, e somente se, o quadrado de 3 for 9.

4. Um ano bissexto é maior do que um ano não bissexto, porque um ano bissexto
tem 366 dias, enquanto um ano não bissexto tem apenas 365.
Proposta de trabalho!

II. Indique as proposições no conjunto que se


segue.

1. Nem todos os insetos têm asas.


2. É verdade que nem todos os insetos têm
asas?
3. Se acordar cedo, irei correr.
4. Não te atrases com os trabalhos de casa.
5. Suricatas, lobos e abelhas não são animais
solitários. 8. Ou vou estudar ou vou dormir.
6. Declaramo-lo culpado.
9. A que horas pensas estar
7. Se é maior do que 2, então não será 1.
disponível?
Proposta de trabalho!

III. Identifique, no conjunto que se segue, as afirmações


verdadeiras.

1. Um argumento válido pode ter uma ou mais premissas


falsas.
2. Um argumento válido pode ter uma conclusão falsa.
3. Um argumento válido pode ter premissas falsas e
conclusão verdadeira.
4. Um argumento válido pode ter premissas verdadeiras e
conclusão falsa.
5. Um argumento inválido pode ter premissas e conclusão
verdadeiras.
Correção!
I.
1. Premissas: o Sporting escolheu animais selvagens e/ ou mitológicos como símbolo; o Futebol Clube do
Porto escolheu animais selvagens e/ ou mitológicos como símbolo; o Benfica escolheu animais selvagens
e/ ou mitológicos como símbolo; conclusão: é bastante provável que outros clubes também escolham
animais selvagens e/ ou mitológicos como símbolo.

2. Premissa: a raiz quadrada de 9 é 3; conclusão: o quadrado de 3 é 9.

3. Premissa: se o quadrado de 3 for 9; conclusão: a raiz quadrada de 9 é 3.

4. Premissas: um ano bissexto tem 366 dias; um ano não bissexto tem apenas 365; conclusão: um ano
bissexto é maior do que um ano não bissexto.

II.
III.
1;3;5;7;8.
1;2;3;5.
Sugestões de enriquecimento:

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