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º ANO
Ano letivo 2018-2019
I - Racionalidade argumentativa da Filosofia e a dimensão discursiva do trabalho filosófico
Para responder aos problemas que colocam, os filósofos apresentam teses e desenvolvem
teorias.
Uma tese corresponde a uma ideia que se quer afirmar a propósito de um dado problema.
No âmbito da filosofia, uma tese constitui uma resposta a um problema em aberto, estando, por
conseguinte, sujeita à discussão. Para defender uma ideia, ou tese, é necessário construir bons
argumentos.
Na base do trabalho filosófico estão o pensamento (raciocínio lógico) e a argumentação.
Para assegurar a qualidade e o rigor dos argumentos que apoiam as suas teses e teorias, os
filósofos recorrem à lógica.
Exemplo de um argumento:
Os alunos da turma 10A são estudantes de Filosofia.
Pedro e Miguel são alunos da turma 10A.
Logo, Pedro e Miguel são estudantes de Filosofia.
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Um argumento tem subjacente uma inferência ou raciocínio, uma operação mental
através da qual chegamos a uma conclusão partindo de determinadas razões e efetuando a
transição lógica entre proposições. Quando essa transição lógica falha, percebemos que algo está
errado. Vejamos:
É nas frases que usamos no nosso discurso que encontramos expressas as proposições
que compõem os argumentos. Contudo, nem todas as frases expressam proposições. As frases
associadas a atos de interrogar, ordenar, exclamar, pedir, chamar, prometer não se enquadram na
categoria das frases que expressam proposições, pois não podem ser classificadas como
verdadeiras ou falsas. Só as frases declarativas é que expressam proposições, dado que podem
ser classificadas como verdadeiras ou falsas.
A proposição é o pensamento ou conteúdo, verdadeiro ou falso, expresso por uma frase
declarativa. A mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases declarativas.
A proposição relaciona pelo menos dois termos. O termo é geralmente entendido como a
expressão verbal do conceito. O conceito constitui o elemento básico do pensamento e é a
representação intelectual de determinada realidade.
A operação mental que permite estabelecer uma relação entre conceitos e que está
subjacente à formação de proposições é o juízo.
1.5. Verdade, validade e solidez
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Exemplo:
Todos os portugueses são europeus.
João é português.
Logo, João é europeu.
Contudo, pode dar-se o caso de alguns argumentos válidos apresentarem premissas falsas.
No exemplo apresentado, não temos a certeza se João é português. Por isso, para ficarmos
plenamente convencidos, é importante averiguar a verdade das proposições.
Os argumentos válidos constituídos por proposições verdadeiras denominam-se argumentos
sólidos. Nesse sentido, a solidez já pressupõe a validade.
Exemplos:
Todos os portugueses são europeus.
João Sousa é português.
Logo, João Sousa é europeu.
Entende-se por falácia todo o argumento inválido, embora aparente ser válido. As falácias
formais são aquelas que decorrem apenas da forma lógica do argumento, sendo por isso
cometidas ao nível dos argumentos dedutivos. As falácias informais são cometidas ao nível dos
argumentos não dedutivos, resultando de aspetos que vão para lá da forma lógica do argumento.
Veremos diferentes exemplos destes tipos de falácias mais à frente.
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Tipos de proposições Forma lógica
Tipo A Universal afirmativa Todo o S é P.
Tipo E Universal negativa Nenhum S é P.
Tipo I Particular afirmativa Algum S é P.
Tipo O Particular negativa Algum S não é P.
CONTRÁRIAS
A E
I O
SUBCONTRÁRIAS
Inferir por oposição consiste em tirar de uma proposição outras proposições, alterando a
quantidade e/ou a qualidade, e em concluir imediatamente, a partir da verdade ou falsidade da
proposição inicial, a verdade ou falsidade daquelas que se obtêm.
Regra das contrárias: duas proposições contrárias não podem ser ambas
verdadeiras ao mesmo tempo. Mas da falsidade de uma não se pode concluir a
falsidade ou veracidade da outra. Por isso, não são a negação uma da outra.
Regra das subcontrárias: duas proposições subcontrárias não podem ser ambas
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falsas ao mesmo tempo, mas podem ser ambas verdadeiras. Não são a negação uma
da outra.
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das proposições simples e dos operadores utilizados.
2.2. As conectivas (Operadores proposicionais / verofuncionais) e formas
proposicionais
e Conjunção
ou Disjunção inclusiva
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Eis a tabela de verdade da negação:
P P
V F
F V
P Q PQ
V V V
V F F
F V F
F F F
O operador “ou” pode ter um sentido inclusivo ou exclusivo.
A disjunção inclusiva (P Q) é uma proposição sempre verdadeira, exceto quando P e Q
forem simultaneamente falsas.
P Q PQ
V V V
V F V
F V V
F F F
A disjunção exclusiva (P Q), por sua vez, é uma proposição que é verdadeira se P e Q
possuírem valores lógicos distintos, e falsa se possuírem o mesmo valor lógico.
P Q PQ
V V F
V F V
F V V
F F F
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A condicional, ou implicação material (P → Q), é uma proposição que só é falsa se P – o
antecedente – for verdadeira e Q – o consequente – for falsa. Nas restantes situações, a
proposição é verdadeira. O antecedente é uma condição suficiente para o consequente, o qual é
uma condição necessária para o antecedente.
P Q P→Q
V V V
V F F
F V V
F F V
P Q P↔Q
V V V
V F F
F V F
F F V
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2.4. Tabelas de verdade, tautologias, contradições e contingências
As tabelas de verdade permitem-nos determinar se uma proposição complexa é uma
tautologia – fórmula proposicional sempre verdadeira –, uma contradição – fórmula proposicional
sempre falsa – ou uma contingência – fórmula proposicional que tanto pode ser verdadeira como
falsa.
P Q ( P Q) ↔ (P Q)
V V F F F F V
V F F V V F F
F V V V F F F
F F V V V F F
P Q (P Q) → P
V V V V
V F V V
F V V F
F F F V
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2.5. Inspetores de circunstâncias
Uma forma de inferência dedutiva é válida se, e somente se, a fórmula proposicional
(implicativa) que lhe corresponde for uma tautologia.
Para a determinação da validade das formas de inferência dedutiva, é habitual o uso dos
inspetores de circunstâncias – que, no fundo, consistem numa sequência de tabelas de verdade,
que são feitas para as premissas e para a conclusão.
Como num argumento dedutivo válido é impossível que as premissas sejam verdadeiras e a
conclusão falsa, num inspetor de circunstâncias um argumento válido será aquele em que não
existe nenhuma linha (circunstância) que torne as premissas verdadeiras e a conclusão falsa.
Vejamos um exemplo.
Em vez do símbolo , também poderemos usar o símbolo , que se designa por “martelo semântico”.
Ambos se leem “Logo”, um indicador de conclusão.
P Q P → Q, P Q
V V V V V
V F F V F
F V V F V
F F V F F
A primeira linha exprime a única circunstância em que as premissas são verdadeiras. Ora, dado
que tal circunstância também torna a conclusão verdadeira, o argumento é considerado válido.
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Vejamos agora o respetivo inspetor de circunstâncias:
P Q P → Q, Q P
V V V V V
V F F F V
F V V V F
F F V F F
P Q R (P Q) → R, R PQ
V V V F F V V F F
V V F F F V F F F
V F V V V V V V V
V F F V V F F V V
F V V F F V V F F
F V F F F V F F F
F F V F V V V F V
F F F F V V F F V
Há três circunstâncias (1.ª, 5.ª e 7.ª) em que ambas as premissas são verdadeiras e a
conclusão é falsa. Logo, o argumento é inválido.
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2.6. Formas de inferência válida
Apresentam-se de seguida algumas formas de inferência válida, acompanhadas de
exemplos:
P→Q
Modus ponens: Se canto, então sou feliz. Canto. Logo, P
Q
sou feliz.
Modus tollens: Se canto, então sou feliz. Não sou feliz. P→Q
Logo, não canto. Q
P
PQ
Silogismo disjuntivo (disjunção inclusiva): Penso ou sinto. P
Q
Não penso. Logo, sinto.
Leis de De Morgan:
– negação da conjunção: Não é verdade que sou (P Q)
injusto e cruel. Logo, não sou injusto ou não sou cruel; PQ
– negação da disjunção: Não é verdade que há (P Q)
sol ou chuva. Logo, não há sol e não há chuva. PQ
Negação dupla: Não é verdade que eu não penso. Logo, eu penso. P
P
2.7. Variáveis de fórmula
As letras maiúsculas do meio do alfabeto – P, Q, R – são usadas para representar
determinadas proposições simples. A fim de saber o que simboliza cada uma dessas letras
proposicionais, cria-se um dicionário ou uma interpretação.
Todavia, as proposições podem ser simples ou complexas. Assim, é costume usarem-se as letras
iniciais do alfabeto – A, B, C, etc. – para aquilo a que se chama variáveis de fórmula, as quais
representam qualquer tipo de proposição (simples ou complexa).
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A→B
B
A
OU AA
Nota: o símbolo significa, no presente contexto, que tanto
se pode inferir validamente num como noutro sentido.
P→Q
Falácia da afirmação do consequente: Q
Se trabalho, então ganho dinheiro. Ganho dinheiro. Logo, P
trabalho.
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P→Q
Falácia da negação do antecedente:
P
Se trabalho, então ganho dinheiro. Não trabalho. Logo, não Q
ganho dinheiro.
Aplicar o conhecimento de diferentes falácias formais e não formais na verificação da estrutura e qualidade
argumentativas de diferentes formas de comunicação.
A indução por generalização consiste num argumento cuja conclusão é mais geral do que
a(s) premissa(s).
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Exemplo:
Todos os peixes observados até agora respiram através da absorção do oxigénio presente
na água.
Logo, todos os peixes respiram através da absorção do oxigénio presente na água.
Exemplo:
Fiz um teste de Filosofia e foi difícil.
Logo, todos os testes de Filosofia são difíceis.
Exemplo:
Com base em inquéritos realizados ao conjunto dos estudantes portugueses do ensino
superior, constata-se que todos eles valorizam este tipo de ensino.
Logo, todos os portugueses valorizam o ensino superior.
Exemplo:
Todos os cavalos observados até hoje nasceram quadrúpedes.
Logo, o próximo cavalo a nascer também nascerá quadrúpede.
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Exemplo:
A temperatura na Terra nunca apresentou variações significativas no passado.
Logo, ela nunca apresentará variações significativas no futuro.
Exemplo:
O cantor A canta bastante bem.
O cantor B tem um timbre e uma extensão vocal semelhantes aos do cantor A.
Logo, o cantor B também canta bastante bem.
Exemplo 1:
O carro da marca X é bastante potente.
O carro da marca Y tem a mesma cor e o mesmo tamanho que o carro da marca X.
Logo o carro da marca Y também é bastante potente.
(Neste caso, as semelhanças não são relevantes no que diz respeito à conclusão.)
Exemplo 2:
O médico A, que estudou numa Universidade de prestígio, é um profissional excelente.
O médico B estudou na mesma Universidade.
Logo, O médico B também é um profissional excelente.
(Neste caso, as semelhanças relevantes no que diz respeito à conclusão não são em
número suficiente.)
Exemplo 3:
As máquinas não são conscientes de si.
A mente humana é como uma máquina.
Logo, a mente humana não é consciente de si.
(Neste caso, existem diferenças relevantes entre a mente humana e as máquinas, no que
diz respeito àquilo que é afirmado na conclusão.)
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O argumento de autoridade pode ser definido como o argumento que se apoia na opinião
de um especialista ou de uma autoridade para fazer valer a sua conclusão.
Exemplo:
Galileu afirmou que todos os corpos caem com aceleração constante.
Logo, todos os corpos caem com aceleração constante.
Quando estes requisitos não são cumpridos, comete-se a falácia do apelo ilegítimo à
autoridade.
Exemplo 1:
Estudos indicam que comer um ovo por dia prejudica a saúde.
Logo, comer um ovo por dia prejudica a saúde.
(Será necessário referir quem foram os autores do estudo; existe controvérsia entre os
especialistas relativamente a este assunto; além disso, o argumento talvez seja mais fraco
do que o argumento contrário.)
Exemplo 2:
Um membro do governo afirmou que, desde que o governo iniciou funções, a felicidade dos
cidadãos aumentou bastante.
Logo, desde que o governo iniciou funções, a felicidade dos cidadãos aumentou bastante.
(Além de não ser referido o nome da pessoa invocada, talvez também não se trate de uma
autoridade efetiva na área em questão, sendo inclusive alguém com interesses pessoais no
âmbito do assunto em causa; além disso, existe certamente controvérsia entre os
especialistas relativamente a este assunto.)
Exemplos:
Andar a pé é um desporto saudável. Logo, andar a pé é um desporto que faz bem à saúde.
A falácia do falso dilema é a falácia que consiste em reduzir as opções possíveis a apenas
duas, ignorando-se as restantes alternativas, e em extrair uma conclusão a partir dessa disjunção
falsa. “Falso dilema” é sinónimo de “falsa dicotomia”.
Exemplo:
Ou votas no partido x, ou será a desgraça do país.
Não votas no partido x.
Logo, será a desgraça do país.
Embora seja válido em termos dedutivos, este argumento exprime um falso dilema: ignora-
se a possibilidade de todos os outros partidos poderem evitar a desgraça do país.
A falácia da falsa relação causal – conhecida também como “post hoc, ergo propter hoc”,
que significa “depois disto, logo por causa disto” – é a falácia que se comete sempre que se toma
como causa de algo aquilo que é apenas um antecedente ou uma qualquer circunstância acidental.
Trata-se, por isso, de concluir que há uma relação de causa e efeito entre dois acontecimentos que
se verificam em simultâneo ou em que um se verifica após o outro.
Exemplos:
Sempre que eu entro com o pé direito no campo, a minha equipa ganha o jogo.
Logo, a causa das nossas vitórias é o facto de eu entrar com o pé direito no campo.
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Exemplos:
A tua tese de que tudo é composto de átomos está errada, porque cheiras mal da boca
sempre que a proferes.
Sartre estava errado a respeito do ser humano, porque não ia regularmente à missa.
A falácia ad populum é a falácia que se comete quando se apela à opinião da maioria para fazer
valer a verdade de uma conclusão.
Exemplos:
A maioria das pessoas considera que a leitura é uma perda de tempo. Logo, a leitura é uma
perda de tempo.
A falácia do apelo à ignorância é a falácia que se comete quando uma proposição é tida
como verdadeira só porque não se provou a sua falsidade ou como falsa só porque não se provou
que é verdadeira.
Exemplos:
Não existem fenómenos telepáticos, porque até agora ninguém provou que eles existem.
A alma é imortal. Isto porque ninguém provou que a alma morre com o corpo.
(Note-se que em momento algum António defende que não devemos comer qualquer tipo
de carne, sugerindo que sejamos vegetarianos – “comer alface” –, mas apenas aquele tipo
de carne sujeito às condições descritas. O argumento é assim deturpado e simplificado.)
Exemplo:
Se jogares a dinheiro, vais viciar-te no jogo. Se te viciares no jogo, perderás tudo o que
tens. Se perderes tudo o que tens, terás de mendigar. Se tiveres de mendigar, ninguém te
dará nada. Se ninguém te der nada, morrerás à fome. Logo, se jogares a dinheiro, morrerás
à fome.
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