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CIENTÍFICA e TECNOLÓGICA
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EXAME de 2012 – 1ª fase
GRUPO IV
1. Leia o texto seguinte.
Texto E
[…] Quando analisamos os nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos ou sublimes
que possam ser, sempre constatamos que eles se decompõem em ideias simples copiadas de
alguma sensação ou sentimento precedente. Mesmo quanto àquelas ideias que, à primeira
vista, parecem mais distantes dessa origem, constata-se, após um exame mais apurado, que
dela são derivadas. A ideia de Deus, no sentido de um Ser infinitamente inteligente, sábio e
bondoso, deriva da reflexão sobre as operações da nossa própria mente e de aumentar sem
limites aquelas qualidades de bondade e de sabedoria.
David Hume, «Investigação sobre o Entendimento Humano», in Tratados Filosóficos I,
Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002
1.1. Nomeie os tipos de perceção da mente, segundo Hume.
Cenário de resposta
Os dois tipos de perceções da mente, segundo Hume, são as impressões e as ideias.
Cenário de resposta
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
- relação entre as impressões e as ideias e entre as ideias simples e as ideias complexas;
- identificação da ideia de Deus como ideia complexa que tem por base ideias simples que a
mente e a vontade compõem e potenciam.
Cenário de resposta
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
– distinção entre o empirismo de Hume, segundo o qual o conhecimento tem origem nas
impressões, e o racionalismo inatista de Descartes, que reconhece um papel fulcral às ideias
inatas consideradas como princípio do conhecimento;
– referência à relação entre ideias simples e ideias complexas na filosofia empirista de Hume;
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– caracterização das ideias inatas no racionalismo de Descartes como ideias provenientes da
razão, claras e distintas, garantindo a certeza e a universalidade do conhecimento, e das ideias
provenientes dos sentidos como ideias falíveis, incertas e confusas, que não conduzem ao
conhecimento;
– comparação entre o valor da ideia de Deus na filosofia de Hume e o valor da ideia de Deus na
filosofia de Descartes;
– caracterização da ideia de Deus na filosofia de Hume como ideia a que nenhum objeto da
experiência sensível corresponde;
– caracterização da ideia de Deus, ideia inata do ser perfeito e infinito, como garantia do valor
do conhecimento, fundamento da verdade, na filosofia de Descartes.
Cenário de resposta
O primeiro princípio indubitável aceite por Descartes é o cogito [ergo, sum].
Cenário de resposta
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.
Explicitação de duas das seguintes características, integrando a informação do texto:
– voluntária (duvidar é uma decisão intelectual, é um ato de vontade livre);
– provisória (duvidar tem por finalidade alcançar uma verdade que resista à dúvida – cogito);
– hiperbólica ou excessiva (duvidar consiste em rejeitar como falso tudo o que possa suscitar a
mínima dúvida, chegando-se a atingir, neste processo, a crença natural na existência da
realidade exterior).
Cenário de resposta
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
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– distinção entre o inatismo cartesiano, segundo o qual existem na razão ideias que não têm
origem nos sentidos, e o empirismo de Hume, segundo o qual todas as ideias têm origem nas
impressões;
– caracterização das ideias inatas, no âmbito do racionalismo de Descartes, como ideias que
proporcionam um conhecimento claro e distinto;
– distinção entre impressões e ideias (simples e complexas), no âmbito do empirismo de
Hume;
– oposição entre a crença cartesiana na certeza inabalável e no conhecimento universal
(fundamentado na existência de Deus) e as impressões como limite ao conhecimento na
filosofia de Hume.
Nota – A apresentação de afirmações relativas apenas a um dos autores é classificada com
zero pontos.
EXAME de 2013 – 1ª fase
6. Considere os seguintes enunciados relativos ao estatuto do cogito, no sistema de
Descartes.
O cogito é
(A) 2 é correto; 1, 3 e 4
são incorretos.
(B) 2 e 3 são corretos;
1 e 4 são incorretos.
(C) 1, 2 e 3 são corretos; 4 é incorreto.
(D) 1 e 4 são corretos; 2 e 3 são incorretos.
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de poder ou conexão necessária. Mas quando aparecem muitos casos uniformes, e o mesmo
objeto é sempre seguido pelo mesmo evento, começamos a ter a noção de causa e de
conexão.
David Hume, Tratados Filosóficos I, Investigação sobre o Entendimento Humano,
Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002 (texto adaptado)
A partir do texto, exponha a tese empirista de Hume sobre a origem da ideia de conexão
causal.
Na sua resposta, integre, de forma pertinente, informação do texto.
Cenário de resposta
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.
– Apresentação da perspetiva empirista de David Hume: o conhecimento do mundo está
limitado àquilo de que temos experiência.
– Esclarecimento da ideia de conexão causal: perante dois acontecimentos sucessivos, o
primeiro dá origem ao segundo, ou o segundo ocorre porque o primeiro existiu anteriormente.
– Apresentação das razões pelas quais a ideia de conexão causal não pode ser adequadamente
justificada pela experiência: a experiência apenas pode revelar a sucessão e a conjunção
constante de acontecimentos, mas não nos dá a ideia de conexão necessária entre
acontecimentos.
–– Explicitação do fundamento da ideia de conexão causal: é o peso do hábito que nos leva a
crer que dois acontecimentos que se sucedem ou que acontecem conjuntamente têm uma
relação causal entre si.
EXAME de 2013 – 2ª fase
6. Os racionalistas defendem que
GRUPO IV
1. Leia o texto seguinte.
Dado que nascemos crianças e que formulámos vários juízos acerca das coisas sensíveis
antes que tivéssemos o completo uso da nossa razão, somos desviados do conhecimento da
verdade por muitos preconceitos, dos quais parece não podermos libertar-nos a não ser que,
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uma vez na vida, nos esforcemos por duvidar de todos aqueles em que encontremos a mínima
suspeita de incerteza. Será mesmo útil considerar também como falsas aquelas coisas de que
duvidamos, para que assim encontremos mais claramente o que é certíssimo e facílimo de
conhecer.
Descartes, Princípios da Filosofia, Lisboa, Editorial Presença, 1995
A partir do texto, esclareça o papel da dúvida cartesiana no «conhecimento da verdade»
Na sua resposta, integre, de forma pertinente, informação do texto.
Cenário de resposta
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.
– Explicação do carácter metódico da dúvida cartesiana.
– Apresentação do critério cartesiano de verdade: a evidência como clareza e distinção das
ideias.
– Explicação do carácter radical ou hiperbólico da dúvida cartesiana.
– Explicitação das razões para duvidar: os erros dos sentidos; a dificuldade em distinguir
claramente o sonho da vigília; a hipótese do génio maligno.
– Identificação do cogito como primeiro princípio indubitável e fundamento do saber.
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicitação das razões usadas no texto:
– se as ideias não derivassem das impressões dos sentidos, os cegos e os surdos seriam
capazes de formar ideias das cores e dos sons, respetivamente;
– os cegos e os surdos são incapazes de formar ideias das cores e dos sons, respetivamente.
OU
– se as ideias não derivassem das impressões dos sentidos, as pessoas com uma incapacidade
que as priva de um certo tipo de sensações poderiam, ainda assim, ter as ideias
correspondentes;
– as pessoas com uma incapacidade que as priva de um certo tipo de sensações não podem ter
as ideias correspondentes.
1.2. Concordaria Descartes com a tese segundo a qual «todas as nossas ideias […] são cópias
das nossas impressões»?
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Justifique a sua resposta.
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Identificação da posição de Descartes:
– Descartes não concordaria com a tese apresentada.
Justificação:
– temos ideias que não poderiam ter tido origem nos sentidos, como o cogito / «eu penso»,
cuja origem é a priori / só pode ser o próprio ato de pensar;
– temos ideias inatas, (como a ideia de Deus,) que possuímos desde que nascemos, sem
qualquer intervenção dos sentidos.
(A) impressões.
(B) pensamentos.
(C) sentimentos.
(D) hábitos.
GRUPO IV
1. Leia o texto seguinte.
Se perguntar a mim próprio «Estou a beber?» ou «Está ele a pensar?», a resposta pode ser
«Sim», «Não» ou «Talvez». Mas se perguntar a mim próprio «Estou a pensar?», a resposta
apenas pode ser «Sim». Fazer essa pergunta a mim próprio é o mesmo que eu pensar. Seria
autorrefutante perguntar a mim próprio «Estou a pensar?» e responder «Não».
T. Chappell, The Inescapable Self – An introduction to Western philosophy,
London, Weidenfeld & Nicolson, 2005, pp. 28-29 (adaptado)
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Justificação da irrefutabilidade do cogito:
– Descartes submete todas as suas crenças a uma dúvida metódica, para determinar se alguma
é indubitável;
– é impossível duvidar de que existimos (como seres pensantes) enquanto estamos a pensar,
pois isso não seria coerente;
– há uma crença que resiste à dúvida: o cogito.
1.2. Explique o argumento de Descartes para duvidar dos seus raciocínios matemáticos mais
evidentes.
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação do argumento de Descartes:
– o argumento de Descartes para duvidar dos seus raciocínios matemáticos mais evidentes é o
do génio maligno;
– o argumento do génio maligno levanta a hipótese de uma entidade externa controlar a nossa
mente, fazendo-nos acreditar, por exemplo, que 2 + 2 = 4;
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– o argumento do génio maligno, diferentemente dos outros (argumentos das ilusões dos
sentidos e do sonho), põe também em causa as crenças que não dependem dos sentidos / a
priori.
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação do argumento de Descartes:
– o argumento (ontológico) baseia-se na análise da ideia de Deus ou de ser perfeito;
– a ideia de algo perfeito implica a sua existência, pois a existência é uma perfeição.
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– No caso de o examinando considerar que o argumento de Descartes não é bom:
GRUPO IV
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Distinção entre as questões de facto e as relações de ideias:
– as verdades acerca das relações de ideias são verdades intuitiva ou demonstrativamente
certas (OU que podem ser descobertas pela razão); (em contrapartida,) as questões de facto
apenas podem ser decididas recorrendo à experiência;
– o contrário de uma verdade acerca de relações de ideias implica uma contradição e,
portanto, é logicamente impossível; (ao invés,) o contrário de uma verdade acerca de questões
de facto não implica uma contradição e, portanto, é logicamente possível.
1.2. Tendo em conta que «o Sol não vai nascer amanhã não é uma proposição menos
inteligível nem implica maior contradição do que a afirmação de que ele vai nascer», como
explica Hume que estejamos convencidos de que o Sol vai nascer amanhã?
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da explicação de Hume:
– a propensão da mente para acreditar que o Sol nascerá amanhã é um efeito do «hábito» ou
do «costume»;
– essa propensão é formada a partir da experiência da conjunção constante de dois objetos
(ou acontecimentos) distintos: o fim do período noturno e o nascimento do Sol;
– o «hábito» inevitavelmente leva a que, na presença de um objeto (ou acontecimento),
esperemos que o outro ocorra.
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Nota – Uma resposta que consista na mera transcrição ou citação do texto deve ser
classificada com zero pontos.
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicitação da crítica de Hume ao ceticismo de Descartes:
– a dúvida universal de Descartes também se aplica às nossas faculdades, impedindo-nos de
confiar nelas;
– mas a dúvida universal só pode ser ultrapassada usando precisamente essas faculdades em
que deixámos de confiar;
– assim, uma vez estabelecida, a dúvida universal não poderia ser ultrapassada (nem permitiria
alcançar um princípio original indubitável que fosse o fundamento de todo o conhecimento).
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Distinção entre a perspetiva racionalista de Descartes e a perspetiva empirista de Hume no
que respeita à fundamentação do conhecimento:
– para Descartes, o conhecimento fundamenta-se em verdades conhecidas a priori;
– para Hume, o conhecimento fundamenta-se em verdades conhecidas a posteriori;
– as verdades a priori (por exemplo, a verdade de que eu sou uma coisa que pensa ou a
verdade de que Deus existe) são, para Descartes, os primeiros princípios de todo o
conhecimento;
– o raciocínio pelo qual são descobertos os primeiros princípios de todo o conhecimento segue
o modelo da matemática e assegura a certeza que, segundo Descartes, a fundamentação do
conhecimento requer;
– algumas verdades a posteriori (por exemplo, a verdade de ter sentido frio ao tocar um
pedaço de gelo) são, para Hume, os dados empíricos básicos requeridos para o conhecimento
do mundo;
– os dados empíricos básicos resultam de impressões simples fornecidas pela experiência.
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EXAME de 2015 – ÉPOCA ESPECIAL
GRUPO IV
1. Leia o texto.
Os empiristas aceitam que algumas verdades podem ser conhecidas a priori, mas essas
verdades são consideradas […] não-instrutivas […]. Ao tomarmos conhecimento de que os
solteiros são homens não-casados, não aprendemos nada de substancial acerca do mundo […].
D. O’Brien, Introdução à Teoria do Conhecimento, Lisboa, Gradiva, 2013, p. 62
Compare as posições de Descartes e de Hume acerca da importância do conhecimento a
priori.
Na sua resposta, integre a informação do texto.
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Comparação das posições de Descartes e de Hume sobre a importância do conhecimento a
priori:
– Hume defende que o conhecimento a priori estabelece relações de ideias (ou relações entre
conceitos), ao passo que Descartes defende que algum conhecimento a priori é acerca do
mundo;
– Hume considera que o conhecimento a priori não tem importância como meio para
descobrir o mundo – com esse tipo de conhecimento, «não aprendemos nada de substancial
acerca do mundo» –, ao passo que Descartes defende que o conhecimento do mundo mais
importante é a priori;
– os empiristas, como Hume, consideram que as verdades conhecidas a priori são «não-
instrutivas», ou seja, não são informativas (ou não têm conteúdo factual), ao passo que os
racionalistas, como Descartes, consideram que as verdades conhecidas a priori são certas (ou
evidentes, ou claras e distintas), são aspetos fundamentais do mundo e delas se deduzem
outras verdades acerca do mundo.
GRUPO IV
1. Leia o texto.
Desde há muito notara eu que, no tocante aos costumes, é necessário às vezes seguir,
como se fossem indubitáveis, opiniões que sabemos serem muito incertas […]. Mas, porque
agora desejava dedicar-me apenas à procura da verdade, pensei que era forçoso que eu
fizesse exatamente ao contrário e rejeitasse, como absolutamente falso, tudo aquilo em
que pudesse imaginar a menor dúvida [...].
R. Descartes, Discurso do Método, Lisboa, Edições 70, 2000, p. 73 (adaptado)
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Descartes decide rejeitar «tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida». Partindo
do texto, exponha as razões que justificam esta decisão .
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Exposição, a partir do texto, das razões que justificam a decisão de Descartes de rejeitar
«como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida»:
– no que respeita às questões práticas da vida – «no tocante aos costumes» –, Descartes
defende ser necessário aceitar como certo o que é duvidoso, pois a dúvida apenas conduziria à
indecisão; porém, no que respeita «à procura da verdade», justifica-se rejeitar
(completamente) o que ofereça a menor dúvida;
––Descartes pretende «agora» descobrir verdades que sirvam de fundamento ao edifício do
conhecimento;
–– para poderem fundar o conhecimento, essas verdades, ou primeiros princípios (ou
fundamentos), têm de ser indubitáveis (absolutamente certas).
2. Leia o texto.
Quando pensamos numa montanha de ouro, estamos apenas a juntar duas ideias
consistentes, a de ouro e a de montanha, as quais já conhecíamos anteriormente. Podemos
conceber um cavalo virtuoso porque, a partir dos nossos próprios sentimentos, podemos
conceber a virtude, e podemos uni-la à forma e à figura de um cavalo, animal que nos é
familiar. […] A ideia de Deus, no sentido de um Ser infinitamente inteligente, sábio e bondoso,
deriva da reflexão sobre as operações da nossa própria mente e de aumentar sem limites
aquelas qualidades de bondade e sabedoria.
D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, IN-CM, 2002, p. 35 (adaptado)
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Justificação, a partir do texto, da afirmação segundo a qual Hume dá uma explicação empirista
da origem de todas as ideias:
− Hume defende a perspetiva empirista segundo a qual todos os materiais do pensamento são
fornecidos pela experiência (seja a experiência externa, seja a interna);
− as ideias, mesmo as mais fantasiosas ou distantes da experiência, são produzidas pelo
pensamento a partir de materiais fornecidos pela experiência (externa ou interna);
−− por exemplo, a ideia de Deus – de «um Ser infinitamente inteligente, sábio e bondoso» –
deriva das impressões internas das «operações da nossa própria mente», nomeadamente, da
ampliação das nossas «qualidades de bondade e sabedoria».
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EXAME de 2016 – ÉPOCA ESPECIAL
9. Imagine que decide submeter as suas ideias ao teste da dúvida proposto por Descartes.
Qual das ideias seguintes seria a mais resistente à dúvida?
10. De acordo com Hume, as ideias acerca da natureza só estão adequadamente justificadas
quando se apoiam
GRUPO IV
1. Leia o texto.
Agora, vou considerar com mais exatidão se não encontrarei em mim outros conhecimentos
de que porventura não me tenha apercebido. Estou certo de que sou uma coisa que pensa.
Mas não saberei também o que se requer para que eu tenha a certeza de alguma coisa? Neste
primeiro conhecimento [sou uma coisa que pensa] nada mais se encontra além de uma
perceção clara e distinta daquilo que conheço; a qual seguramente não seria suficiente para
me dar a certeza da verdade dessa coisa, se pudesse alguma vez revelar-se falsa uma coisa que
eu compreendesse assim tão clara e distintamente. E, por consequência, parece-me que já
posso estabelecer, como regra geral, que é verdadeiro tudo aquilo que compreendemos tão
claramente e tão distintamente.
R. Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Almedina, 1985, p.136
(adaptado)
Reconstitua o argumento de Descartes apresentado no texto.
Cenário de resposta
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros igualmente relevantes.
Reconstituição do argumento de Descartes apresentado no texto:
– Descartes está certo de que é uma coisa que pensa;
– nesse conhecimento (sou uma coisa que pensa) há uma compreensão clara e distinta do que
é afirmado;
– se o que é compreendido com clareza e distinção pudesse (alguma vez) ser falso, Descartes
não estaria certo de que é uma coisa que pensa; mas isso não é possível;
– por consequência, Descartes estabelece como regra geral que tudo o que é compreendido
clara e distintamente é verdadeiro.
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EXAME de 2017– 1ª fase
GRUPO V
Suponhamos então que a mente seja, como se diz, uma folha em branco, sem quaisquer
carateres, sem quaisquer ideias. Como é que a mente recebe as ideias? […] De onde tira todos
os materiais da razão e do conhecimento? A isto respondo com uma só palavra: da
EXPERIÊNCIA.
J. Locke, Ensaio sobre o Entendimento Humano, Vol. I, Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 2014, p. 106 (adaptado)
Concorda com a posição expressa no texto?
Na sua resposta,
‒ identifique e esclareça o problema filosófico a que o texto responde;
‒ apresente inequivocamente a sua posição;
‒ argumente a favor da sua posição.
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Nota – Os aspetos constantes dos cenários de resposta apresentados são apenas ilustrativos,
não esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis.
Identificação e esclarecimento do problema filosófico a que o texto responde:
- problema da fonte (origem) do conhecimento.
– o problema consiste em determinar se o conhecimento provém fundamentalmente dos
sentidos (é a posteriori) ou antes da razão (é a priori)
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida:
No caso de o examinando concordar com a posição expressa no texto e defender que a
experiência é a fonte de todo o conhecimento.
− se, por exemplo, uma pessoa não dispuser do sentido da visão, não poderá formar
impressões da cor dos objetos nem, por consequência, poderá formar as ideias
correspondentes;
− é a experiência que fornece os materiais mais básicos do conhecimento do mundo, ou
impressões (todas as ideias derivam das impressões dos sentidos; por exemplo, a ideia de
maçã deriva da impressão de maçã);
− por conseguinte, o conhecimento do mundo natural (conhecimento substancial) não é
possível sem recurso à experiência (o conhecimento do mundo natural é a posteriori) (a
atividade dos sentidos é indispensável ao processo de conhecimento do mundo natural);
− é possível obter conhecimento matemático (por exemplo, que três vezes cinco é igual a
metade de trinta) ou conhecimento conceptual (por exemplo, que todas as esferas têm
superfície curva) sem recurso à experiência (apenas pelo pensamento), isto é, a priori, mas o
conhecimento a priori, tratando-se de conhecimento meramente conceptual ou meramente
linguístico, não pode ser considerado conhecimento substancial;
−o conhecimento científico (com exceção da matemática) depende da observação e da
experiência: o teste das teorias depende sempre de dados fornecidos pela experiência
(experimentais), e não apenas do raciocínio.
No caso de o examinando não concordar com a posição expressa no texto e defender que a
experiência não é a fonte de todo o conhecimento.
− algum conhecimento do mundo, e não apenas o conhecimento meramente conceptual ou
linguístico, é obtido recorrendo exclusivamente ao pensamento, isto é, a priori;
− há factos básicos que são conhecidos a priori, não dependendo o conhecimento desses
factos das impressões dos sentidos; por exemplo, o conhecimento da nossa existência (o
cogito) é um caso de conhecimento a priori que não é meramente conceptual nem linguístico,
tratando-se de conhecimento substancial;
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− o conhecimento matemático, pela certeza que oferece (por ser infalível, tal como o cogito), é
o modelo de conhecimento; ora, este conhecimento é a priori;
− além da certeza que proporciona, o conhecimento matemático tem aplicação no mundo,
como mostram as ciências naturais, que recorrem à matemática para formularem as suas
teorias; por ter aplicação no mundo, o conhecimento matemático é substancial;
− os sentidos (e a experiência) não podem ser a fonte de todo o conhecimento, porque os
sentidos são enganadores; por exemplo, nós sabemos que o Sol é maior do que a Terra, mas os
sentidos indicam exatamente o contrário.
GRUPO IV
1. Apresente uma proposição que, de acordo com Hume, não possa ser refutada por meio da
experiência. Justifique.
Na sua resposta, indique se a proposição apresentada é uma relação de ideias ou uma questão
de facto.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação de uma proposição:
– O triângulo tem três lados.
Justificação da resposta apresentada: – a proposição apresentada é uma relação de ideias;
– uma relação de ideias (é uma verdade necessária que) resulta da mera análise das ideias
envolvidas (é a priori), e é verdadeira ou falsa dependendo apenas dessas ideias, e não dos
factos (do mundo);
– assim, a proposição «o triângulo tem três lados» é verdadeira apenas em virtude das ideias
envolvidas, quer existam triângulos no mundo quer não; logo, como a verdade de uma relação
de ideias não depende de factos, aos quais teríamos acesso por meio da experiência, a
proposição não pode ser refutada pela experiência.
2.1. Neste texto, apresenta-se e critica-se a noção de causa considerada por Hume. Explique as
falhas apontadas no texto a essa noção de causa.
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A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação das falhas apontadas no texto à noção de causa considerada por Hume:
– no texto defende-se que a noção de causa de Hume é a de algo ser seguido constantemente
pelo efeito (em que tomamos como causa o primeiro acontecimento e como efeito o
acontecimento que lhe sucede);
– ora, é falso que essa noção de causa seja aquela que de facto temos:
• há acontecimentos que se sucedem constantemente (que constantemente são seguidos um
do outro), mas que ninguém considera serem a causa ou o efeito um do outro; por exemplo, o
dia e a noite sucedem-se constantemente, mas ninguém pensa que são causa ou efeito um do
outro;
• há acontecimentos singulares, que geralmente aceitamos serem causados, relativamente aos
quais não temos experiência de qualquer conjunção constante; é o caso, por exemplo, do
acontecimento em que o mundo começou a existir, que ocorreu uma única vez, mas que,
ainda assim, julgamos ser causado.
GRUPO III
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‒ fazemos juízos errados acerca das coisas exteriores a nós, e o erro mais importante nos
nossos juízos é o de afirmarmos que as ideias provenientes dos sentidos representam
adequadamente as coisas exteriores a nós;
‒ se confrontarmos, por exemplo, duas ideias diferentes acerca do Sol, uma proveniente dos
sentidos, que o representa como muito pequeno, e outra proveniente dos raciocínios dos
astrónomos, que o representa como um corpo maior do que a Terra, a razão persuade-nos de
que seria errado afirmar que a ideia acerca do Sol proveniente dos sentidos é aquela que
representa adequadamente o Sol.
GRUPO IV
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- Não é possível distinguir o sonho da vigília / Descartes (assim como qualquer pessoa) poderia
estar a sonhar quando pensava estar acordado / as nossas perceções podem levar-nos a crer
em falsidades.
As coisas corpóreas podem não existir de um modo que corresponda exatamente ao que
delas percebo pelos sentidos, porque, em muitos casos, a perceção dos sentidos é muito
obscura e confusa; mas, pelo menos, existem nelas todas as propriedades que entendo clara
e distintamente, isto é, todas aquelas que, vistas em termos gerais, estão compreendidas no
objeto da matemática pura.
R. Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, 1985, p. 210
(texto adaptado).
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EXAME de 2018 – 2ª fase
7. A dúvida cartesiana também se aplica às crenças a priori. O argumento que permite pôr
em causa as crenças a priori é o argumento
(A) das ilusões dos sentidos.
(B) do sonho.
(C) do génio maligno.
(D) da existência de Deus.
8. Imagine que Descartes era forçado a concluir que, afinal, Deus pode ser enganador; nesse
caso, para ser coerente, ele teria de aceitar que
(A) apenas as sensações corporais podem ser falsas.
(B) as ideias claras e distintas podem ser falsas.
(C) é falsa a ideia de que ele próprio existe enquanto pensa.
(D) os sentidos são mais importantes do que a razão.
GRUPO IV
Como é que Hume explica que tenhamos a ideia de conexão necessária entre acontecimentos?
Na sua resposta, integre adequadamente a informação do texto.
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Tendo refletido sobre aquilo de que duvidava, e que, por consequência, o meu ser não era
inteiramente perfeito, pois via claramente que conhecer é uma maior perfeição do que
duvidar, lembrei-me de procurar de onde me teria vindo o pensamento de alguma coisa de
mais perfeito do que eu; e conheci, com evidência, que se devia a alguma natureza que
fosse, efetivamente, mais perfeita. […] Para conhecer a natureza de Deus, tanto quanto
disso a minha [natureza] é capaz, bastava-me considerar, acerca de todas as coisas de que
em mim encontrava alguma ideia, se era, ou não, perfeição possuí-las.
R. Descartes, Discurso do Método, Lisboa, Edições 70, 2003, pp. 76-77 (texto adaptado).
Ao analisarmos os nossos pensamentos ou ideias, por mais compostas e sublimes que
sejam, sempre descobrimos que elas se resolvem em ideias tão simples como se fossem
copiadas de uma sensação ou sentimento precedente. Mesmo as ideias que, à primeira
vista, parecem afastadas desta origem, descobre-se, após um escrutínio mais minucioso,
serem dela derivadas. A ideia de Deus, enquanto significa um Ser infinitamente inteligente,
sábio e bom, provém da reflexão sobre as operações da nossa própria mente, e eleva sem
limite essas qualidades de bondade e sabedoria.
D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Edições 70, 1985, p. 25 (texto
adaptado).
Compare as perspetivas de Descartes e de Hume acerca da origem da ideia de Deus.
Na sua resposta, integre adequadamente a informação dos textos.
Cenário de resposta
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Comparação das perspetivas de Descartes e de Hume acerca da origem da ideia de Deus:
‒ Descartes afirma que «o pensamento de alguma coisa de mais perfeito do que eu [...] se
devia a alguma natureza que fosse, efetivamente, mais perfeita», ou seja, que a ideia de
perfeição não pode ter tido origem num ser imperfeito como ele (porque duvidar é uma
imperfeição, e ele duvida);
‒ Hume, em contrapartida, afirma que as ideias, «por mais compostas e sublimes que sejam»,
são copiadas «de uma sensação ou sentimento precedente», ou seja, que a ideia de Deus é
uma ideia composta, formada pela associação e pela ampliação de ideias simples provenientes
da observação das operações da nossa mente;
‒ segundo Descartes, a ideia de Deus não tem origem empírica / é inata;
‒ em contrapartida, Hume considera que a ideia de Deus tem origem empírica.
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8. Imagine que submetia as suas opiniões ao teste da dúvida proposto por Descartes. Qual das
opiniões seguintes seria a mais resistente à suspeita de falsidade?
GRUPO IV
2. Leia o texto seguinte. Há uma questão que, na evolução do pensamento filosófico ao longo
dos séculos, sempre desempenhou um papel importante: Que conhecimento pode ser
alcançado pelo pensamento puro, independente da perceção sensorial? Existirá um tal
conhecimento? […] A estas perguntas […] os filósofos tentaram dar uma resposta, suscitando
um quase interminável confronto de opiniões filosóficas. É patente, no entanto, neste
processo […], uma tendência […] que podemos definir como uma crescente desconfiança a
respeito da possibilidade de, através do pensamento puro, descobrirmos algo acerca do
mundo objetivo. A. Einstein, Como Vejo a Ciência, a Religião e o Mundo, Lisboa, Relógio
D’Água Editores, 2005, p. 163. (Texto adaptado)
Será que tanto Descartes como Hume contribuíram para a «crescente desconfiança» referida
no texto? Justifique a sua resposta.
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GRUPO IV
1. Depois de ter superado o teste da dúvida, Descartes restabelece a confiança nos sentidos.
No texto seguinte, Descartes esclarece em que circunstâncias se justifica confiar nos
sentidos.
No que se refere ao bem do corpo, os sentidos indicam muito mais frequentemente a verdade
do que a falsidade. E posso quase sempre utilizar mais do que um sentido para examinar a
mesma coisa; e, além disso, posso utilizar tanto a minha memória, que associa as experiências
presentes às passadas, como o meu intelecto, que já examinou todas as causas de erro. Por
isso, não devo continuar a temer que seja falso o que os sentidos me dizem habitualmente;
pelo contrário, as dúvidas exageradas dos últimos dias devem ser abandonadas como risíveis.
[…] E não devo ter sequer a menor dúvida da sua verdade se, depois de apelar a todos os
sentidos, assim como à minha memória e ao meu intelecto, para examinar as indicações que
receber de qualquer destas fontes, não houver conflito entre elas.
R. Descartes, Meditações sobre a Filosofa Primeira, Coimbra, Almedina, 1976, pp. 224-225.
(Texto adaptado)
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EXAME de 2019 – Época especial
GRUPO IV
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