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Deus)
A questão levantada pelo título desta leitura recebeu sua forma específica
através de Tomás de Aquino na sua Suma Teológica I, Quest.2, Art.3.
Esta questão não permite uma resposta simples como se o tema divino fosse
uma entidade com propriedades sobre as quais alguém pode levantar
proposições do tipo que se aplicam as coisas do mundo externo. Não estamos
nos voltando para Deus como uma coisa, mas como o parceiro numa busca que
indaga e que se move dentro de uma realidade formada por linguagem
participatória. Além disso, nós mesmos somos parte da realidade questionada
que nós estamos linguisticamente pretendendo como se fosse um objeto externo
sobre o qual nós podemos falar como se fossemos sujeitos cognitivos diante de
objetos de cognição. A busca noética da estrutura de uma realidade que inclui a
divindade é, em si mesma, um acontecimento dentro da realidade que estamos
questionando. Por isso, em cada pronto no processo, nos deparamos com o
problema de uma investigação sobre algo experimentado como real antes que a
investigação sobre a estrutura de sua realidade tenha começado. O processo de
nosso intelecto em busca da nossa fé também pode ser formulado como nossa
fé em busca de nosso intelecto, é um acontecimento primário.
1. Filosofia e religião
2. Filosofia e teologia
3. Teologia natural e teologia revelatória
4. Fé e razão
5. Razão e revelação
6. Ciência e religião
7. Teologia natural e teologia sobrenatural
No artigo da Suma sobre a questão se Deus existe, a qual o título desta leitura
se refere, Tomás alcançou um certo grau de clareza sobre sua estrutura
paradoxal. A questão a respeito do que se diz de Deus não é levantada
arbitrariamente, mas pressupõe um artigo escritural de fé. Este artigo é a fórmula
do EU SOU O QUE SOU (ego sum qui sum) do Êxodo 3.14. Se não houvesse
nenhum símbolo de fé já na existência histórica, não haveria nenhuma questão.
Este artigo de fé é parte do processo de questionamento noético em relação a
seu significado. A “questão de Deus” não pode ser feita inteligivelmente a menos
que a questão de Deus seja parte da realidade a ser explorada. O símbolo do
divino EU SOU (ego sum) é parte da consciência exploratória que aproxima o
símbolo da fé como a resposta a uma indagação que surge de experiências
particulares com a realidade. Pois o divino EU SOU (ego sum) da Escritura
simboliza o polo necessário da realidade no qual sua particularidade fenomenal
é experienciada somente como contingente. A tensão experienciada entre
contingência e necessidade é a estrutura da realidade na qual está em questão
na questão sobre a divindade.
Esta estrutura é então seguida por Tomás nas cinco bem-conhecidas
experiências de realidade contingente. Na primeira das tensões experienciadas,
a realidade está em movimento e o movimento requer um motor. Neste nível
particular alguém só pode prosseguir de um movimento particular para seu motor
particular e continuaria prosseguindo indefinidamente sem alcançar uma
explicação do fenômeno do movimento. A fim de tornar-se inteligível, o processo
do movimento particular requere um primeiro motor (primum movens). E nesse
processo noético de análise Tomás identifica o primeiro motor como o algo
(hoc) ao “qual todos dão o nome de Deus” (omnes intelligunt Deum), como o algo
(hoc) que todos entendem ser Deus. O Deus dessa proposição é a resposta
respondendo à estrutura da questão noética.
A “prova ontológica” rejeitada por Tomás não existia ainda no seu tempo na
forma simbólica. A palavra ontologia aparece no século XVII na obra de Clauberg
Elementa philosophiae sive ontosophiae (1647) e obteve aceitação entre os
filósofos através do seu uso no século XVIII por Leibniz, Wolf e Kant. As
Meditações de Descartes não estão ainda dificultadas pelo termo, e está talvez
seja a razão do porquê elas ainda estarem perto da questão anterior de Anselmo
(que Descartes pode não ter conhecido) porque elas dependem da dinâmica do
movimento de busca na tensão de perfeição-imperfeição. Na Crítica da Razão
Pura, Kant aplica o símbolo prova ontológica para a meditação cartesiana como
um termo já em uso geral.
Os dados que acabamos de dar apontam para uma área de discurso que se
move antes, à margem da análise experiencial exata; eles sugerem a tentativa
de estabelecer ontologia como um sinônimo mais preciso para metafísica e
assim estabelecer a metafísica como alternativa polêmica à teologia. O termo
metafísica, em si, foi introduzido por Tomás na filosofia ocidental pelo
seu comentário à Metafísica de Aristóteles com base no desenvolvimento do
termo pelos filósofos árabes. Estamos tocando no problema da deformação
reflexiva da realidade experiencial através dos simbolismos reflexivos
condicionados por situações historicamente concretas.
Isso não quer dizer que não exista um problema experiencial real na base da
deformação, nem que esse problema não foi visto e tratado pelo próprio Tomás.
A distinção da qualificação primária (priora simpliciter) da fé da posteriora da sua
realidade obtida de seus efeitos torna possível negar as priora que não permitem
suas propriedades serem conhecidas como se fossem propriedades de uma
coisa. E como as propriedades coisificadas não são conhecidas exceto através
dos seus efeitos, as priora da fé podem ser negadas quanto a sua realidade. A
base experimental dessa consequência é apresentada por Tomás no simbolismo
escritural: “Disse o tolo em seu coração: Não há Deus.” A confusão deformativa
no “coração” do tolo (insipiens) é a fonte experiencial que traz o problema da
estrutura não-coisificada dos símbolos divinos a atenção. É no seu coração (cor
suum) no homem que é o lugar experiencial de uma posição hipostatizante ou
de uma negação da divindade.
Mas em que sentido Anselmo pode conectar o termo prova com uma busca
noética em resposta ao movimento do Espírito, uma busca que ele corretamente
reconhece como uma oração? A chave para essa resposta é dada no fato de
que o termo não ocorre no próprio Proslógio mas somente na discussão com
Gaunillo. Não há nenhuma razão para que o termo seja usado no Proslógio; uma
vez que quando aquele que crê explora a estrutura racional de sua fé, a
existência de Deus não está em questão. Em sua resposta, no entanto, Anselmo
deve usar o termo “prova” porque Gaunillo encena o papel do tolo que diz “não
há Deus” e assume que o explorador da fé está engajado em uma “prova” para
a asserção que Deus existe. A reflexão noética do espiritualista adquire o caráter
de uma proposição afirmativa a respeito da existência de Deus somente quando
confrontada pelo tolo, insipiens, que avança na proposição negativa de que Deus
não existe. O simbolismo da busca noética ameaça cair em uma disputa sobre
prova ou não-prova de uma proposição quando o tolo entra na discussão. A
existência de Deus pode tornar-se duvidosa porque, sem dúvida, o tolo existe.
O tolo não pode ser facilmente ignorado. A tolice de responder ao apelo divino
por negação ou evasão é uma possibilidade humana tanto quanto à resposta
positiva. Como potencialidade está presente em todo homem, incluindo quem
crê; e em certas situações históricas sua atualização pode se tornar uma força
social massiva. Mas quem, ou o quê, é um tolo?
Embora Platão não dê uma força específica para o conjunto, mas refira-se a ele
apenas como sendo de uso geral no seu meio intelectual, provavelmente é
produto de uma escola sofista, pois tem a mesma estrutura de um conjunto de
proposições preservadas no ensaio de Górgias, Sobre o Ser:
1. Nada existe.
2. Se algo existe, é incompreensível.
3. Se é compreensível, é incomunicável.
Os conjuntos sugerem que, nas escolas sofistas, o desprezo dos deuses havia
crescido para uma perda geral do contato experiencial com a realidade cósmico-
divina. Os padrões triádicos de proposições negativas parecem ter se
desenvolvido como uma expressão para a contração resultante da existência do
homem. A aceitação em massa desse padrão incitou Platão tão fortemente como
um desafio à sua busca noética do fundamento divino que ele devotou todo o
livro X da sua obra Leis para a refutação desse padrão. Os detalhes dessa
refutação, resultando nas proposições positivas que os deuses existem, que eles
se importam com os homens, e que eles não podem ser feitos cúmplices da
criminalidade humana oferecendo subornos dos lucros do crime, não são nossa
preocupação atual. Mas devemos considerar sua análise do desafio noético e a
linguagem desenvolvida para sua articulação.
A fim de sentir a tensão cultural nessa invocação mental de “Deus” sem nomeá-
lo, deve-se estar ciente do declínio da fides nos muitos deuses como aparece,
por exemplo, na invocação paródica de Aristófanes, Thesmophoriazusae, com
seus toques femininos: Ore aos deuses, aos olimpianos e olimpianas, aos píticos
e píticas, a todos os délficos e délficas (330-33). O um “Deus” platônico é a
divindade experienciada como presente além dos muitos deuses que, como a
invocação de Aristófanes mostra, estão experiencialmente morrendo. A análise
noética cria uma nova forma diferenciada de oração além das antigas invocações
de musas e dos deuses. O que está sendo diferenciado na experiência noética
é a Unidade da divindade além da pluralidade dos deuses.
“Do apeiron não há começo (arché)…mas mas isso parece ser o começo de
todas as outras coisas e para envolver (periechein) e dirigir tudo, como todos
dizem que não postulam outras causas, como mente ou amor, acima e além do
apeiron. E esta é a divina (to theion); porque é imortal (athanaton) e indestrutível
(anolethron), como Anaximandro diz.”
“Vamos falar desta maneira, primeiro invocando o próprio Deus, não em palavras
faladas, mas nos estendendo com nossa alma em oração a Ele, capazes de orar
sozinhos somente a Ele.”
III. A oração no Timeu de Platão, desta vez invocando o theos soter(48d) como
Platão começa na tentativa de encontrar a linguagem adequada para falar sobre
o pólo da não-coisa na tensão entre o formante divino e o receptivo mas
resistente não-formado chora (espaço):
“E, como antes, agora, no começo de nossa conta, devemos chamar a atenção
de Deus, o Salvador, para nos trazer em segurança através de uma exposição
nova e inusitada para uma conclusão baseada na probabilidade, e assim
começarmos a nossa conta uma vez mais”.