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DISCIPULADO

Cultivando relacionamentos
Transformando vidas
Fortalecendo a Igreja

Curso ministrado na classe de adultos

Igreja Presbiteriana do Parque São Domingos

2017
2

Conteúdo

Pra começo de conversa....

Aula 01: O que significa ser discípulo? ................................................................ 04

Aula 02: discipulado: um estilo de vida, não um programa ..................................08

Aula 03: O propósito do discípulo: a glória de Deus ........................................... 13

Aula 04: O discípulo e seu crescimento espiritual ............................................... 18

Aula 05: O cuidado de uns pelos outros ............................................................... 22

Aula 06: Ajudando um ao outro pelo aconselhamento......................................... 27

Aula 07: Discipulado em Pequenos Grupos ......................................................... 33

Aula 08: Plenitude do Espírito e vida familiar ..................................................... 38

Aula 09: O mito do casamento perfeito ................................................................ 42

Aula 10: O discípulo e o culto em família ............................................................ 46

Aula 11: Meu filho, meu discípulo ....................................................................... 51

Aula 12: Aprendendo a lidar com o conflito ......................................................... 57

Aula 13: ansiedade: Sua Causa, consequências e cura ......................................... 62

Aula 14: O contentamento ................................................................................... 66

Aula 15: O discípulo e as provações .................................................................... 71

Aula 16: O discípulo e sua vida de oração ........................................................... 76

Aula 17: A obediência do discípulo ..................................................................... 82

Aula 18: Confissão: O discípulo buscando restauração ......................... ............ 87

Aula 19: O discípulo e o Compromisso com a Igreja Local ................................ 92

Aula 20: O discípulo e a evangelização .............................................................. 97

Conclusão .......................................................................................................... 102


3

PRA COMEÇO DE CONVERSA....


O que é discipulado? O que é ser discípulo? Por que ele é tão importante na
vida da igreja? Há com certeza uma diversidade de opiniões quanto ao
propósito e modo de realizá-lo.

O crescimento sustentável da igreja está ligado


ao valor que damos ao discipulado.

Cremos que sem um discipulado intencional, organizado e direcionado, a igreja


local estará sujeita a diversas enfermidades. Dentre muitas, corremos o risco de
termos cristãos nominais, sem qualquer compromisso com as exigências do
cristianismo genuíno. O chamado para o discipulado é o processo de transformar
pessoas comuns em discípulos de Jesus. Pessoas comuns são transformadas em
discípulos por meio do relacionamento com Cristo.

Nosso tema nesse ano traz o seguinte slogan: “Discipulado: cultivando


relacionamentos, transformando vidas e fortalecendo a igreja”.

Nossa proposta com este curso é dar uma compreensão do que significa ser um
discípulo de Cristo e como podemos ser usados por Deus para discipular outras
pessoas.

Discipulado não é um programa. Discipulado é uma relação comprometida e


pessoal, onde um cristão mais maduro ajuda outros cristãos a aproximarem-se mais
de Jesus e assim reproduzirem. Isso mesmo. Queremos através dos nossos
relacionamentos com irmãos mais maduros, transformar pessoas em discípulos e
assim fortalecer nossa igreja.

Nossas aulas foram preparadas objetivando desenvolver o caráter de Cristo na


nossa vida e assim nos desafiar a nos envolvermos no discipulado de outras
pessoas.

Que Deus nos ajude nessa santa, necessária e desafiadora caminhada.

Rev. Gildásio Reis


4

AULA 01

O QUE SIGNIFICA SER DISCÍPULO?

Não é novidade para ninguém de que a falta de discipulado na igreja


pode trazer diversas consequências. Dentre elas: liderança
despreparada, crentes imaturos, crentes nominais e ausência de
crescimento da igreja.

Ao adotar o tema do discipulado para 2017, nossa igreja deseja trabalhar muito mais a
videira (pessoas) do que a treliça (programação). Queremos investir em pessoas. E
desejamos ver ao longo do ano, gente
cuidando de gente. Queremos Discípulo •procura ajuda de outros para ser
como Cristo
crescer e entendemos que o
crescimento espiritual vem através •procura ajudar outros a serem
da compreensão e da prática de
Discipulado como Cristo
princípios dados pela Palavra de
Deus.

Independente de quanto tempo somos crentes, ou independente do cargo que ocupamos


na igreja, ou de quanto conhecimento temos da Bíblia, precisamos continuar crescendo
na vida cristã. Mas o que devemos entender por discipulado? Esse é o nosso objetivo na
aula de hoje.

I. Termos bíblicos para definir o que é um discípulo


Existem pelo menos três palavras no Novo Testamento que nos ajudam a conceituar o
que seja um discípulo.1

a) A primeira é akolouthéo (seguir), que indica a ação de alguém em seguir outra pessoa,
tornando-se assim seu discípulo. O sentido mais primitivo dessa palavra trazia a ideia de
ir atrás de alguém, ir para algum lugar com outra pessoa ou seguir a opinião de alguém.

b) A segunda palavra é mathetés (aprendiz). Todo discípulo deve ser um aprendiz. Por
meio do ensino e da experiência de vida, ele deve adquirir o conhecimento que lhe
possibilitará viver uma nova vida. Mathetés traz a ideia de alguém que ouviu o chamado
de seu mestre e resolveu unir-se a ele.

1
D. Muller, In: DISCIPULO. COLIN Brown, Ed. Dicionário Internacional de Teologia do Novo
Testamento (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1981), vol. 1, p. 666
5

c) Uma terceira palavra é mimeomai (imitar), que enfatiza um tipo de comportamento e


relacionamento modelado em outra pessoa.

Sendo assim, podemos dizer que um discípulo é um seguidor (Mt 4.18-22; Mc 1.14-20),
um aprendiz (Mt 11.29; Fl 4.9), alguém que imita (Ef 5.1; I Co 11.1) ou é modelado por
outra pessoa.

Devemos ter cuidado para não fazer distinção entre cristão e discípulo. Todo crente é um
discípulo. Lemos no livro de Atos que o termo discípulo é usado também como sinônimo
de crente. O discípulo é um aluno que aprende não só a verdade através de seu mestre,
mas também imita seus atos e seu estilo de vida, com a finalidade de crescer em sua vida
cristã e depois ensinar a outros a fazer o mesmo.

Ser discípulo não significa fazer parte de uma classe diferenciada, ou


ter uma vida mais elevada ou um segundo passo de fé subsequente à
salvação. Não existe discipulado à parte da salvação. Por isso todo
cristão é um discípulo (Mt 28.19,20).

Cristão é alguém que tomou uma decisão de seguir a Cristo e assumiu um compromisso
de servi-lo, de se submeter a ele com fé e obediência. O objetivo de todo cristão é o de
ser um discípulo de Jesus Cristo. Por isso não podemos fazer distinção entre cristão e
discípulo.

II. Um discípulo é alguém que tem maturidade.


O que devemos entender por maturidade? Para alguns, maturidade espiritual significa
conhecer a Bíblia. Quanto mais uma pessoa conhece a Bíblia, mais espiritual ele ou ela
é. Para outros, maturidade espiritual significa a habilidade de louvar e adorar. Se as
pessoas valorizam e amam o louvor à Deus, elas podem ser consideradas maduras. E
ainda para outros, maturidade é piedade. O “mais profundo” que alguém ande com Deus,
mais maduro aquela pessoa é. Para outros, maturidade significa ação social. Maturidade
espiritual é estar envolvido com o pobre e oprimido, aliviando seus problemas. E outros
dizem que maturidade significa ganhar almas. A pessoa verdadeiramente espiritual será
um evangelista pessoal. E para outros, maturidade significa experimentar a totalidade do
Espírito Santo e exercitar os dons do Espírito de maneiras espetaculares.

A Bíblia usa uma variedade de termos e metáforas para descrever maturidade espiritual.
Tais termos como provado (2 Co 9.13), maduro (Ef 4.13), santo (1 Ts 4.3), e completo
(Tg 1.4) referem-se ao conceito de maturidade espiritual. Metáforas tais como Cristo
habitando nos crentes (Ef 3.17), permanecendo em Cristo (Jo 15.5), e crentes andando
como Jesus andou (1 Jo 2.6) também descrevem o conceito de maturidade. Mas nenhuma
definição única e simples é oferecida. Portanto uma definição teológica dever ser
estabelecida para trazer a profundidade do dado bíblico para ser significativa.
6

Paulo em Cl 1:28 diz: “o qual nós anunciamos, advertindo a todo


homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que
apresentemos todo homem perfeito em Cristo”.

Note bem que Paulo diz que ensinava com uma finalidade: “apresentar todo homem
perfeito em Cristo”. Obviamente que perfeito aqui não significa ausência de pecados,
mas, maturidade espiritual. O que queremos dizer por maturidade cristã é o processo de
santificação, o caminho progressivo para a conformidade à imagem de Cristo no crente.
A imagem original, desfigurada com a Queda (Gn 1:26-27), porém agora é renovada em
Cristo quando da conversão (Cl 1:15; Rm 8:29; I Jo 3:2, II Co 9:18). Sabemos que a
conversão apenas dá início a uma nova vida, mas, ao nascer o novo crente inicia uma
longa caminhada na espiritualidade, a qual necessitará de uma educação e que seja cristã,
a fim de proporcionar-lhe crescimento na fé, e assim, torná-lo “perfeito” em Cristo, ou
seja, um crente maduro.
Esta maturidade cristã (santificação progressiva) pode ser vista em passagens como Cl
3:9,10, onde o apóstolo Paulo lembra a seus ouvintes de que eles se despiram do velho
homem e se revestiram do novo. Este novo homem é descrito como aquele “que se refaz
para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (v.10).
A palavra grega usada aqui por Paulo traduzida por “que se refaz” ou que “está sendo
refeito”, e significa uma renovação que perdura por toda a vida do crente.2
Um crente maduro é aquele que está crescendo progressivamente e continuamente sendo
transformado à imagem de Cristo, e sob a obra graciosa do Espírito Santo, ele prossegue
mortificando as práticas pecaminosas a que era inclinado. (cf. 2 Co 3:18; Cl 3:3; Rm 6:6;
8:13; Ef 4:22-24)3

III. Um discípulo é alguém que decidiu “carregar sua cruz”.


Jesus afirmou: “qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu
discípulo” (Lucas 14:27). Nesse versículo Jesus nos dá uma clara definição do que seja
um discípulo. As expressões “após mim” e “tome a sua cruz” não deixam dúvidas do que
significa seguir a Cristo:

a) “Após mim”: A vida cristã, o discipulado, começa em Cristo. Se tirarmos Cristo do


cristianismo, não sobrará praticamente nada. Cristo é o centro; tudo o mais gira ao redor
dele;

b) “Tome a sua cruz”: (Lc 14.27) – essa expressão traz a ideia de renúncia (Lc 14.33),
de morte para o “eu” (I Co 15.31; Rm 8.36; Gl 2.19,20). Quando Jesus chamava alguém
para segui-lo fazia questão de instruir esta pessoa quanto ao custo de uma decisão como
esta. Por isso, pessoas que tinham um coração dividido e que não estavam dispostas a um
comprometimento sério com ele, não o seguiam (Lucas 14.28-30; Mateus 10.32-39).

2
Robertson, Archibald Thomas. Word Pictures In The New Testament. Grand Rapids, Michigan: Backer
Book House. 1931
3
HOEKEMA, Antony. Salvos Pela Graça – A Doutrina Bíblica da Salvação. São Paulo, SP: Cultura
Cristã. 1997. p. 214
7

Ser um discípulo de Jesus é muito mais que tomar uma decisão de fazer parte de uma
igreja, ou decidir “aceitar Jesus” ou abraçar um conjunto de crenças. Podemos dizer que

Um discípulo é alguém que, arrependido de seus pecados, tomou a


decisão de receber a Jesus como seu Senhor e Salvador, renunciando sua
própria vida e em plena submissão a Jesus, assume um compromisso
radical de continuar crescendo em sua vida cristã.4

Assim, devemos entender que fazer discípulos não é apenas levar pessoas para a igreja.
Não basta conduzir indivíduos ao evangelho. Esso é apenas o começo. Mas depois, faz-
se necessário ensinar como o evangelho é necessário para aplicação em todas as esferas
da vida.

Conclusão:

Na aula de hoje aprendemos a definir o que devemos entender o que é um discípulo.


Nosso grande propósito é sermos uma igreja onde cada membro se torne um discípulo
verdadeiro de Cristo e discipulador de outros crentes. Desejamos ser cristãos maduros
espiritualmente, cultivando relacionamentos, transformando vidas e assim, fortalecendo
cada vez mais a nossa igreja.

Aplicando o ensino
1) Você consegue agora dar uma definição do que é ser um discípulo? Qual seria sua
definição?
2) Compartilhe com os demais colegas de classe, em que a aula de hoje foi útil a
você.
3) Existe alguma coisa na sua vida cristã que deve mudar a partir de sua compreensão
da aula de hoje? O quê?

4
Os destaques que faço nesta definição assinalam os elementos que entendo que devem estar presentes no
discipulado: Arrependimento (Lc 5.32); renúncia (Lc 14.33); submissão (Lc 14.27) e compromisso (Tg
2.17,26).
8

AULA 02
DISCIPULADO: UM ESTILO DE
VIDA, NÃO UM PROGRAMA
Texto básico: Lucas 14.27

INTRODUÇÃO

Em nossa primeira aula vimos o que é ser discípulo. Agora, nossa questão é: o
discipulado. Como a igreja deveria ver o discipulado? A igreja não deveria ver o
discipulado primariamente como um
evento especial ou um programa.
Discípulo •procura ajuda de outros para ser
como Cristo Discipulado não é algo ocasional ou
fora do normal, algo que pode ser
•procura ajudar outros a serem isolado do resto de nossa vida cristã.
Discipulado como Cristo
Ser um cristão é ser um discípulo de
Cristo. E ser um discípulo de Cristo
significa
Portanto, as igrejas deveriam ver o discipulado como um estilo de vida. O discipulado
deveria constituir uma parte normal de ser um cristão e um membro de igreja. É o que um
seguidor de Cristo faz.
Isso significa que igrejas podem ou não usar programas para promover o discipulado.
Mas elas definitivamente desejam promover uma cultura de discipulado. Deveria ser
normal que cristãos mais novos discutissem assuntos espirituais durante refeições com
cristãos mais velhos. Deveria ser normal que cristãos mais novos passassem tempo nas
casas de cristãos mais velhos para ver como eles aplicam sua fé a cada área da vida, até
como eles colocam as suas crianças para dormir. Pela graça de Deus, uma igreja que
fomenta uma cultura de discipulado será cheia de membros que parecem mais e mais com
o Senhor Jesus (1Co 11.1).

I. O discipulado no Antigo Testamento


A ideia de discipulado, embora com algumas diferenças, pode ser encontrada também no
Antigo testamento (I Cr 25.8; Is 8.16; 50.4). Não vamos encontrar ali a palavra
discipulado, mas o processo de obedecer e ensinar a Palavra de Deus está presente no AT.

De fato, o Antigo Testamento já tratava desse assunto desde os tempos de Moisés. Ele
discipulou Josué, “o jovem que não se apartava da tenda” (Êx 33.11). Josué era seu
discípulo, ou servidor (Êx 24.13) e seguia de perto as ordens de Moisés (Êx 17.9) e
assimilou bem os ensinamentos de seu mestre. Quando o ministério de Moisés estava
chegando ao seu término, foi Josué quem o Senhor providenciou para colocar em seu
lugar (Dt 3.28), de modo que lemos: “O Senhor engrandeceu a Josué diante dos olhos de
todo o Israel; e temeram-no, como haviam temido a Moisés, todos os dias da sua vida”
(Js 4.14; Êx 24.13; 33.11; Nm 11.28).
9

Em outros lugares do Antigo Testamento ainda podemos ver este tipo de relacionamento
acontecendo. Samuel tinha um grupo de profetas sob sua orientação (I Sm 10.5-10; 19.20-
24). A relação Elias e Eliseu é outro exemplo (I Rs 19.19-21). E ainda podemos fazer
referência ao relacionamento entre Baruque e Jeremias (Jr. 36.26; 43.3). Esses poucos
exemplos servem para nos mostrar que o discipulado não é uma ideia nova.

A tarefa é fazer discípulos e a forma como isto é feito é através do


ensino. Confira nos seguintes textos: Dt 4.10; 6. 10-12; 8.17; 9.4-6;
11.1; 14.23; Is 26.9; Jr 10.2; Sl 25.4

II. O discipulado no Novo Testamento


No NT o discipulado era uma prática bastante comum. Em um sentido mais amplo, o
termo “discípulo” é usado para se referir a todos aqueles que criam em Jesus ou
procuravam seguir seus ensinamentos (Jo 8.30,31; Mt 5.1,2; Lc 6.17). E de maneira mais
restrita, o termo é utilizado para se referir a um grupo de amigos e às pessoas do círculo
mais íntimo de Jesus (Mt 10.1; 11.1; Lc 9.54; Jo 6.8). E como já foi dito aqui
anteriormente, a palavra discípulo é usada insistentemente e de maneira consistente como
sinônimo de crente no livro de Atos (6.1,2,7; 11.26; 14.20,22; 15.10).

Um dos melhores exemplos de discipulado no NT é visto na pessoa do apóstolo Paulo.


Antes de discipular, ele foi discipulado por Gamaiel e Barnabé (Atos 4.36-37; 8.1-3; 9.1-
30; 13.1-13). Ele discipulou Silas (At 15.40); Timóteo (At 16.1,2); Áquila e Priscila (At
18.8); Erasto (At 19.22; Rm 16.33) e outros. O apóstolo emprega o termo manthano
(aprender) várias vezes como sinônimo ou tendo o mesmo sentido de “receber” alguma
coisa pelo ensino, pelo exemplo ou por escrito. Para Paulo, aprender é: a) receber e
acolher a doutrina cristã (Rm 16.17); b) receber os ensinos e os exemplos cristãos (1Co
4.6; Fp 4.9; 2Tm 3.14) e c) ser instruído por alguém nas verdades do Evangelho (Cl 1.7).
O alvo do “aprender” é chegar ao conhecimento da verdade (2Tm 3.7).

III. O que é discipulado?


Penso que até aqui já tenha ficado claro o que significa ser um discípulo. Devemos agora
ter uma compreensão do que é o discipulado. Para isso começaremos oferecendo a
definição de Keith Philips. Para ele:

O Discipulado Cristão é um relacionamento do Mestre e aluno, baseado


no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o Mestre reproduz muito
bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo, de forma que o
aluno se torne capaz de treinar outros para ensinar, ainda, a outros.5

Por essa definição de Keith Philips somos levados a entender que o discipulado não deve
ser entendido como uma sala de aula cheia de alunos recebendo instruções de um
professor. Não é simplesmente um curso doutrinário ou uma orientação esporádica na

5
PHILIPs, Keith. A Formação de Um Discípulo. Editora Vida. São Paulo: 1983. p. 16
10

qual uma pessoa, quando precisa, procura alguém mais experiente para receber uma
ajuda. Pode até conter estes elementos, mas vai além disso. Considerando e desdobrando
a definição acima, podemos extrair pelo menos quatro implicações ou pressupostos do
discipulado:

A. O discipulado é essencialmente relacional.

É um envolvimento entre pessoas. É quando alguém toma a iniciativa de investir em


outras vidas. É um espaço onde o processo ensino-aprendizagem ganha um aspecto mais
informal. De fato, aprendemos isso com Jesus. Em João 10.11-15 lemos que Ele como
bom pastor conhecia suas ovelhas e era por elas conhecido. Discipulado é relacional. Não
se pode prescindir disso. Só poderemos discipular com eficácia através da intimidade,
compartilhando os momentos comuns, onde o discípulo aprende de forma prática (Lc.
9:10).

B. Discipulado é um relacionamento entre mestre e aluno.

Na relação do discipulado um discípulo mais maduro ajuda outros também a


amadurecerem na fé e a crescerem na vida cristã (2 Tm 2.2). Um bom exemplo dessa
relação mestre-aluno pode ser visto no relacionamento de Paulo com Timóteo. O apóstolo
escreveu a seu discípulo: “Mas você tem seguido de perto o meu ensino, a minha conduta,
o meu propósito, a minha fé, a minha paciência, o meu amor, a minha perseverança, as
perseguições e os sofrimentos que enfrentei...” (2Tm 3.10,11).

Vemos claramente nessa passagem, não apenas o aspecto relacional conforme apontado
anteriormente, mas também que o discipulado é uma relação entre mestre e aluno. Paulo
diz: “Você tem seguido de perto”. Discipulado é estar junto. Timóteo seguiu Paulo de
perto e assim pôde observar a vida dele. Pôde vivenciar, não apenas as conquistas de
Paulo, mas também seus sofrimentos e frustrações.

C. Discipulado é uma dinâmica de reprodução e multiplicação.

“O que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo


transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2 Tm 2.2)

Jesus fez discípulos e ordenou a eles que também fizessem discípulos (Mt. 28:19). O
discipulado é um meio eficaz de se produzir tanto a quantidade como a qualidade de
crentes que Deus deseja. O discipulador sabe que a responsabilidade não termina até que
seu discípulo chegue à maturidade espiritual e a capacidade de reproduzir. Discipulado é
reprodução de qualidade que assegura que o processo da multiplicação espiritual
continuará na geração seguinte (I Co 4.14-17; 2 Tm 2.1.2; Fl 3.17; I Co 11.1).

O mestre deve reproduzir na vida do aluno a plenitude da vida que ele desfruta em Cristo.
Um discípulo maduro tem de ensinar a outros crentes como viver uma vida que agrade a
Deus, equipando-os a treinar outros e assim por diante.
11

A reprodução é um importante aspecto do discipulado. É o que podemos entender do


termo grego mimeomai (imitar). Como já vimos, esse termo descreve ou enfatiza a
natureza de um tipo de comportamento modelado em outra pessoa.6

Cristãos são imitadores, primeiro de Deus, depois uns dos outros. Nós crescemos na graça
de Deus por ouvirmos e imitarmos. Considere as seguintes passagens:

 “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11.1);


 “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e,
considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram” (Hb 13.7);
 “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso
praticai; e o Deus da paz será convosco” (Fp 4.9);
 “Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé,
longanimidade, amor, perseverança” (2Tm 3.10);
 “Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom” (3Jo 11).

D. Discipulado é imitar ou tornar-se à imagem de Cristo. (Mt. 10:24,25).

Ainda um quarto e último aspecto do discipulado é que quando investimos em discipular


alguém objetivamos levar essa pessoa a ser madura em sua fé. Essa maturidade ocorre
dentro de um processo, o qual a bíblia chama de santificação. Trata-se do caminho
progressivo para a conformidade à imagem de Cristo no crente. A imagem original,
desfigurada com a Queda (Gn 1:26-27), mas que é renovada em Cristo no ato da
conversão (Cl 1:15; Rm 8:29; I Jo 3:2, II Co 9:18) e continua sendo aperfeiçoada através
do ensino e do discipulado (Cl 1.18; 3.8-10).

“A maior dificuldade na conversão é ganhar o coração para Deus. A maior


dificuldade após a conversão, é manter o coração em Deus”! (John Flave)

Em Lucas 6.40, lemos que “todo aquele, porém, que for bem instruído será como seu
mestre”. O alvo do discipulado é mudar o comportamento das pessoas e não somente
passar informações para serem absorvidas de maneira intelectualizada. O discipulado não
se limita a dar informação. Visa a transformação de vidas (Cl 1.28; 2.7). Visa nossa
semelhança com Jesus.

O discipulado não é um programa. Nem mesmo deveria ser confundido com uma série de
estudo de lições bíblicas. Não é um curso de iniciação doutrinária que ocorre em
encontros semanais. Como também não é um novo sistema de culto nos lares. Embora o
discipulado recorra à organização de um programa, o estudo sistemático de lições
doutrinárias, e aconteça em encontros semanais, ele é um princípio de formação e de
transformação (Colossenses 1.28). Discipular é um princípio de formação, é ensinar um
discípulo a viver - pensar, decidir, interpretar, construir, agir, relacionar, produzir, e tudo
isso com uma mente cristã.

6
COLIN Brown, Ed. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (São Paulo, Ed. Vida
Nova, 1981), vol. 1, p. 666 -
12

Conclusão:

Devemos ver o discipulado como um processo de desenvolvimento e formação


do ser humano. Esse processo é chamado na Escritura de santificação progressiva
(Cl 3:9,10). Na dinâmica do discipulado o objetivo é levar o aluno a uma
maturidade e crescimento em sua vida cristã.

Aplicando o ensino:
1. Converse com os demais colegas da classe: Como você poderia se envolver com
a prática do discipulado em nossa igreja?
2. Comece um estudo bíblico em sua casa e convide alguém para participar.
13

AULA 03
O PROPÓSITO DO DISCÍPULO: A
GLÓRIA DE DEUS
Texto básico: “Quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer,
fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31).
Introdução
Se você saísse pela rua perguntando a dez pessoas quaisquer o que elas consideram ser o
maior tema do mundo, obteria na certa uma variedade de respostas: — Dinheiro. Amor.
Casamento. Sexo. Liberdade. Segurança. Status. Prazer. Paz. Felicidade. Mas do ponto
de vista de Deus, há apenas uma resposta. É o maior tema do mundo, da Palavra de Deus,
de todo o universo. Vai além da razão da Criação, da razão de se viver a vida cristã, da
razão pela qual Deus fez ou fará todas as coisas. Você sabe qual é? Encontramos a
resposta no chamado Catecismo Menor. Eis a primeira pergunta:

"Qual o principal propósito do homem?" A resposta segue:


"Glorificar a Deus e ter prazer n'Ele para sempre".

Esse deve ser o principal alvo na vida do discípulo de Jesus.

O Alvo Principal da Vida. A glória de Deus! Por que o homem está sobre a terra? Por
que Deus se preocupou em redimi-lo? Qual o propósito da vida? Como é que toda a
Criação — hoje tão corrompida e deformada — vai terminar, afinal? Para a glória de
Deus. É essencial que entendamos o conceito bíblico da glória de Deus.

I. O que é a glória de Deus?


O que significa glorificar a Deus? Isso pode ser mal compreendido se não tivermos
cuidado. Glorificar é como a palavra embelezar. Mas embelezar geralmente tem o sentido
de “fazer uma coisa ficar mais bela do que é”, melhorar sua beleza. Isso não é de modo
algum o que queremos dizer com glorificar a Deus. Não se pode tornar Deus mais glorioso
ou mais lindo do que ele já é. Ele não pode ser melhorado, “nem é servido por mãos
humanas, como se de alguma coisa precisasse” (At 17.25). GLORIFICAR – não significa
acrescentar mais glória a Deus.
Glorificar a Deus não significa torná-lo mais glorioso, pois Deus tem glória intrínseca à
sua própria natureza (cf. Is 6:3). Sua glória não é algo que lhe foi dada, mas tal lhe
pertence em virtude daquilo que ele é. Mesmo que ninguém viesse a dar glória a ele, ainda
assim ele continuaria sendo glorioso, pois tal glória é uma combinação de todos os seus
atributos.
14

Calvino disse que a “glória de Deus é quando sabemos o que ele é”7. Isto significa dizer,
que reconhecemos quem é Deus e, assim, o valorizamos acima de todas as outras coisas
(I Co 10.31). Calvino novamente é enfático: “Não busquemos nossos próprios interesses,
mas antes aquilo que compraz ao Senhor e contribui para promover sua gloria”8
A glória de Deus é sua essência. Por outro lado, a glória de Deus está em Sua essência,
em Sua natureza. Está no Seu ser, tão parte dEle como Sua graça, Sua misericórdia, Seu
poder e Seu conhecimento. Todos infinitos. Só podemos reconhecer, e dizer: "É verdade.
Deus é glorioso!"
A ressurreição de Lázaro ilustra a glória do Salvador. Lembre-se de como Jesus se
demorou além do Jordão até saber que Lázaro estava morto. Jesus amava profundamente
a Lázaro, mas esperou por sua morte para fazer um milagre. Quando o Senhor ordenou
que removessem a pedra tumular, Marta protestou. Mas Jesus respondeu "Não te disse eu
que se creres verás a glória de Deus? " (João 11:40).
O que era, neste caso, a glória de Deus? Que atributo seria demonstrado? Poder — o
mesmo grande poder usado na Criação — seria neste momento demonstrado com a
ressurreição de Lázaro. Marta não deu a glória a Deus. É algo que Ele já possuía. Mas
neste momento, Sua natureza seria revelada em glória. E o foi.
Em João 17:24 Jesus orou, "Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam comigo
também os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste..." A resposta
a essa oração será cumprida em Apocalipse 21:23, que descreve a Nova Jerusalém como
não tendo necessidade de sol ou lua, "pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a
sua lâmpada". Isso demonstra de maneira belíssima que a glória é parte essencial e
intrínseca da própria natureza de Deus.
Já que isto é verdadeiro, a glória de Deus é algo que Ele não dá ao homem. Isaías 48:11
declara: "A minha glória não dou a outrem". Deus não distribui Sua própria natureza.
Jesus coloca dentro de nós a Sua glória, mas jamais a coloca sobre nós e nem dentro de
nós se não estivermos nEle. Quando Deus dá de Sua glória ao crente, é Ele mesmo quem
vem habitar em sua vida. Mas a glória não é nunca do receptor, pois Deus não Se despe
da Sua glória.
Podemos usar a ilustração do anel que Faraó deu a José. Ele o tirou e deu a José, colocando
também uma corrente de ouro sobre o seu pescoço (Gênesis 41:42). "Somente no trono
eu serei maior do que tu", declarou Faraó (v.40). Em outras palavras: "Eu te darei um anel
e uma corrente, mas o trono continua sendo meu". Assim também Deus não Se desfaz de
Sua glória. Temos, portanto, o primeiro aspecto de nossa definição do que seja a glória
de Deus. É intrínseca a Ele e somente Ele a possui. É a soma de Seus atributos. Não pode
ser diminuída.

7
Calvino, João. Citado por Leonard T. Van. Estudos no Breve Catecismo de Westminster. São Paulo,SP:
Editora Os Puritanos. 2000 p.7
8
Calvino, João. A Verdadeira Vida Crista. São Paulo, SP: Editora Novo Século, p.30
15

II. Por que Glorificar a Deus?


Vejamos rapidamente o porquê antes de sabermos como.

1ª.) A razão mais óbvia pela qual devemos glorificar a Deus é porque Ele nos criou. O
Salmo 100 diz simplesmente: "Foi ele quem nos fez" (v.3). Compare isto com Romanos
11:36: "Porque dele, por meio dele, e para ele são todas as cousas. A glória pois, a ele
eternamente. Amém". Por que Deus merece glória? Porque ele nos deu nossa existência,
nossa vida e tudo que existe — esta é a primeira razão.

2ª.) Segundo, devemos glorificar a Deus porque Ele fez todas as coisas para render-Lhe
glória. Provérbios 16:4 diz: "O Senhor fez tudo para um fim". Fez todas as coisas para
que falem de Sua glória, para que irradiem Sua glória. A Criação demonstra os Seus
atributos, Seu poder, Seu amor, Sua misericórdia, Sua sabedoria, Sua graça. E toda a
Criação rende glória a Ele. As estrelas - "Os céus declaram a glória de Deus..." (Salmo
19:1). Os animais - "O* animais do campo me honrarão..." (Isaías 43:20). Os anjos - por
ocasião do nascimento de Cristo os anjos cantaram "Glória a Deus nas alturas..." (Lucas
2:14). Se as coisas abaixo do homem na ordem da Criação glorificam a Deus, poderemos
fazer menos do que dar a glória devida ao Seu nome? Deus recebe glória até dos
incrédulos que não escolheram glorificá-lo.

3ª.) Podemos dar como terceira razão pela qual é necessário glorificá-lo o fato que Deus
julga aqueles que se recusam a glorificá-lo. Temos um bom exemplo disso no caso do
Faraó do Egito, na época em que Deus libertou Seus filhos da escravidão. Esse homem
lutou contra Deus com todas as suas forças. Mas Deus declarou: "glorificar-me-ei em
Faraó..." (Êxodo 14:17). E assim o fez. Mais cedo ou mais tarde, todos darão glória a
Deus, voluntária ou involuntariamente.

III. Como podemos glorificar a Deus?


1º.) Glorificamos a Deus nas atividades mais simples: A Bíblia diz: “quer comais, quer
bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. (1 Coríntios
10:31). Isto significa que a glória de Deus deve fazer parte de todas as nossas atividades
e atitudes. Tudo quanto formos fazer, deve ser feito para a glória de Deus.

2º.) Glorificamos a Deus através das boas obras: Mt 5.16: a Bíblia diz: ` Assim brilhe
também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem a vosso Pai que está nos céus` Mt 5.16. O segundo princípio que Deus nos
revela de como podemos glorificar a Deus é através das boas obras. Isto é, as boas obras
são frutos dos dons e talentos que Deus deu a cada cristão, portanto, o que cada crente
precisa fazer é colocar em prática a graça de Deus que foi derramada sobre nós.

3º.) Glorificamos a Deus através da Adoração (culto): Sl 29.2: ´Tributai ao Senhor,


filhos de Deus, tributai ao Senhor glória e força. Tributai ao Senhor a glória devida ao
16

seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade` Sl 29.2. Adorar a Deus é cultuar a
sua glória em momentos específicos: seja pessoal, familiar ou como igreja. Adorar a Deus
é cultuar a sua glória em Espírito e em Verdade: Jo 4.24. Adorar a Deus é exaltar a sua
glória através do nosso culto racional (espiritual): que são sacrifício vivos, santo e
agradável a Deus: Rm 12.1.

4º.) Glorificamos a Deus, quando testemunhamos dele. (2 Ts 3:1; At 13:48)

Paulo escreveu: "Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se
propague, e seja glorificada, como também está acontecendo entre vós" (II
Tessalonicenses 3:1). Como a Palavra estava sendo glorificada neles? Quando ouviram e
creram. Foram salvos e Deus foi glorificado. As pessoas ouvem a voz de Deus e
respondem-na.

Glorificamos a Deus quando enaltecemos Sua glória perante o mundo. Não é somar algo
a Sua natureza, mas apenas demonstrar a glória de Deus às pessoas. I Crônicas deixa isso
bem claro. Davi diz: "Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos as suas
maravilhas" (I Crônicas 16:24).
Mais uma ilustração: "Os gentios, ouvindo isso, regozijavam-se e glorificavam a palavra
do Senhor..." (Atos 13:48). Quando ouviam Paulo pregar, glorificavam a Deus. A
apresentação da Palavra, portanto, dá glória a Deus. Cada vez que você vai dar aquela
aula para a criançada ou dirige um estudo bíblico em sua casa - ou mesmo cada vez em
que você se senta com sua família e começa a falar da Palavra de Deus - você está dando
glória a Deus.

5º.) Glorificamos a Deus, quando confiamos e descansamos nele. (Fl 4:11,12 ; 2 Co


1:30)

Uma quarta forma de glorificar a Deus é confiar nEle. Romanos 4:20 diz que Abraão
"pela fé se fortaleceu, dando glória a Deus". Deus é glorificado quando se confia nEle. A
incredulidade questiona a Deus e difama a Sua glória. O maior problema em se transmitir
a glória de Deus ao mundo é que ela tem que vir através de nós! Gostamos de citar o
versículo "E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus,
cada uma de vossas necessidades" (Filipenses 4:19). Mas quando nossa vida entra em
crise ficamos arrasados. Desmoronamos — e todos, no serviço e em casa, sabem disso.
E as pessoas dizem: "Que Deus que você tem! Nem você confia nEle." Deus é glorificado
quando cremos nJEle, quando descansamos, plenamente seguros nEle. Isto glorifica a
Deus. Sempre penso nos três jovens israelitas e sua experiência na fornalha ardente.
Quando prestes a serem lançados na fogueira, eles não disseram: "Temos um problema
prático. Qual versículo se aplica aqui? " Não, eles declararam com ousadia: "O nosso
Deus, a quem servimos, quer nos livrar... nos livrará da fornalha de fogo ardente" (Daniel
3:17). Com isso, entraram. Se tivessem se apavorado, caído no chão, rastejado perante a
estátua de ouro, não teriam glorificado a Deus. Deus é glorificado quando confiamos
nEle! (1 João 5:10).
17

6º.) Glorificamos a Deus, obedecendo-o, fazendo a sua vontade (João 12:27,28; Mt


26:39,42; Mc 14:36; Lc 22:42)
Outro aspecto de se ter como alvo a glória de Deus é que o fazemos quando estamos
contentes em realizar Sua vontade, não importando o custo. Jesus orou: "Agora a minha
alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta
hora. Pai, glorifica o teu nome..." (João 12:27,28).
E no Jardim do Getsêmani Jesus pediu: "Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice;
todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres" (Mateus 26:39,42; Marcos 14:36;
Lucas 22:42). Em outras palavras: "Pai, se através disto Tu receberás glória, eu me
submeto. Glorifíca a Teu nome, Pai, não obstante o que custar para mim".

"Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse


é o que me ama..." (João 14:21).

Deus não espera perfeição absoluta. Se você fizer alguma coisa errada ou tiver alguma
falha, Ele não diz que você está acabado e não é mais cristão. Não, pois Deus olha para o
jorrar constante de um coração que tem em si o espírito de obediência. O verdadeiro
cristão tem o desejo de se submeter a Jesus Cristo mesmo que nem sempre ele consiga
cumprir o desejado.

Conclusão
Salmo 73:25: "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na
terra". O salmista tinha prazer em Deus - e em gozá-lo para sempre, no porvir. Nossa
alegria no céu será a mesma que experimentamos aqui. O céu será a expressão plena desse
gozo, totalmente desimpedido do pecado. Jesus orou: "Para que o meu gozo permaneça
em vós" (João 15:11). A alegria de Cristo que conhecemos agora será a alegria conhecida
perfeitamente no céu. A maior promessa da Bíblia encontra-se em 1 Tessalonicenses 4:17:
"...e assim estaremos para sempre com o Senhor". Isto é gozo!

O alvo supremo do homem é glorificar a Deus — e gozá-lo para sempre! - Uma chave
muito antiga para o crescimento espiritual, mas que sempre abre a fechadura.

 Atenção: Na próxima aula estudaremos o tema: Obediência.


18

AULA 04
O DISCÍPULO E SEU
CRESCIMENTO ESPIRITUAL
“Então, disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: “Se
permanecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis
meus discípulos. E conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará.” João 8.31,32
Introdução

A vida resulta em crescimento. Vida espiritual resulta em crescimento espiritual. Ou, pelo
menos deveria ser assim. Você' está crescendo? Se não estiver crescendo, ou não estiver
satisfeito com o seu índice de crescimento, a aula de hoje vai lhe ajudar. Esteja certo de
que Deus deseja que todo o crente atinja a maturidade espiritual. Sua Palavra nos ordena.

"Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso


Senhor e Salvador Jesus Cristo..." (II Pedro 3:18).

É esta a nossa obrigação e nosso privilégio. A cada dia, podemos progredir em nossa vida
espiritual prosseguindo num conhecimento mais pleno, mais alto, mais pessoal e
experimental de Deus e de Cristo.

I. O que não é crescimento espiritual


Primeiramente precisamos saber que algumas pessoas têm ideias erradas quanto ao que
significa o crescimento espiritual.

1º.) O crescimento espiritual nada tem a ver com o favor de Deus. Deus não nos ama
mais à medida em que nos tornamos mais espirituais. Às vezes os pais ameaçam seus
filhos: "Se você fizer isso, Deus não vai mais gostar de você". De forma nenhuma! O
amor de Deus não é condicionado ao nosso comportamento. Quando ainda éramos fracos,
injustos, pecadores e inimigos (Romanos 5:6-10), Deus provou seu amor por nós
enviando-nos Seu Filho para morrer pelos nossos pecados. Deus não nos ama mais apenas
porque crescemos.
2º.) O crescimento espiritual nada tem a ver (necessariamente) com o tempo.
Não se mede crescimento espiritual pelo calendário. É possível uma pessoa ser cristã
durante meio século e ainda permanecer um bebê espiritual.
3º.) O crescimento espiritual nada tem a ver (necessariamente) com o conhecimento.
Uma pessoa pode conhecer muitos fatos, ter muitas informações, mas isso não é o mesmo
que ter maturidade espiritual. A não ser que o conhecimento resulte na sua conformidade
a Cristo, ele será inútil. Para ter valor, este conhecimento tem que transformar a vida.
19

4º.) O crescimento espiritual nada tem a ver com atividade.

Algumas pessoas pensam que crentes maduros são aqueles que estão sempre ocupados.
Mas a ocupação no trabalho da igreja não resulta em maturidade cristã, e nem a substitui.
Pode até ser um obstáculo ao que é realmente vital e importante na vida do crente. No
capítulo sete de Mateus, lemos sobre um grupo que clamará por aceitação da parte de
Cristo baseado em obras maravilhosas. Mas Ele os lançará fora. Ocupação não resulta em
salvação — menos ainda em maturidade.

5º.) O crescimento espiritual nada tem a ver com prosperidade.

Algumas pessoas dizem: "Veja só como Deus tem me abençoado. Tenho dinheiro, uma
casa maravilhosa, um bom carro e um emprego seguro. Deus tem me abençoado porque
eu O tenho honrado." Não acredite nisso. Deus pode ter permitido que você tivesse
sucesso — ou até você mesmo pode ter forçado a situação — mas isso não é sinal de
crescimento espiritual. Veja II Coríntios 12:7-10.

II. A Escritura: A chave mestra para o crescimento espiritual.


Chave mestra é uma chave projetada para abrir uma série pré-determinada de fechaduras,
como por exemplo todas as portas de um setor ou de um departamento. É usada
principalmente por motivos de segurança para agilizar o acesso em casos de emergência.
Podemos dizer que a Bíblia é a chave mestra para abrir todas as demais portas que nos
ajudarão em nosso crescimento espiritual.

Uma das declarações que a Bíblia faz de si mesma é que a Palavra de Deus É viva. "Fostes
regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a Palavra de
Deus, a qual vive e é permanente" (1 Pedro 1:23). Paulo refere-se à Bíblia como a Palavra
da Vida (Filipenses 2:16). O escritor de Hebreus declara ser a Palavra de Deus viva e
eficaz (Hebreus 4:12). Como a Palavra de Deus está viva?

1) Primeiramente, a Bíblia está viva em si mesma. Em qualquer geração e idade, toda


pessoa que lê a Bíblia encontra vida e vigor. Estes livros ainda contêm mistérios que
homem nenhum penetrou. Cada vez que os lemos ficamos deslumbrados ante a novidade.

a) A Bíblia é viva devido à sua atualidade. Você já folheou seus velhos livros de
escola? A maioria está desatualizada. A ciência continua a fazer novas descobertas
e novos livros são produzidos, no entanto, a Bíblia jamais se desatualiza.

b) A Bíblia é viva porque ela discerne os corações. Possui uma percepção interior
surpreendente. A Bíblia é uma espada afiada de dois gumes que discerne os
pensamentos e os propósitos do coração (Hebreus 4:12). Revela exatamente
aquilo que somos. E por isso que aqueles que desejam permanecer no erro não a
leem. Ela os descobre. Estas são algumas das razões pelas quais dizemos que a
Palavra de Deus é viva em si mesma.

2) Em segundo lugar, a Bíblia transmite vida. Não apenas a contém, mas transmite vida.
O maior poder de qualquer organismo vivo é a capacidade de se reproduzir. Os nossos
pensamentos e palavras são incapazes disso. Poderíamos falar o dia todo sem
20

produzirmos vida espiritual. Mas a Palavra de Deus é viva e reproduz vida. Tiago 1:18
nos diz: "Pois segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade..." A Palavra
de Deus é que faz isso. O Espírito Santo utiliza se da Palavra para produzir novo
nascimento. A única forma de se tornar filho de Deus é ser gerado pela Palavra, a semente
de nova vida.

3) Um terceiro aspecto - a Bíblia sustenta a vida espiritual. A vida exige alimento, e a


Palavra de Deus é esse alimento. Pedro disse: "Desejai ardentemente, como crianças
recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento
para a salvação" (I Pedro 2:2).

Há outros lugares em que a Bíblia fala de si mesma como sustento: "Achadas as Tuas
palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração..."
(Jeremias 15:16).

Paulo lembra a mesma coisa a Timóteo, vista de outro ângulo: "Expondo estas cousas aos
irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras da fé e da boa
doutrina que tens seguido" (I Timóteo 4:6).

O alimento do crente é a Palavra de Deus. Precisamos dela


como um nenê precisa de leite, mas precisamos também crescer
para finalmente podermos comer carne.

4) Uma quarta razão pela qual dizemos que a Palavra de Deus vive é que ela transforma
a vida.

Paulo escreveu aos crentes de Éfeso recomendando que “Vos renoveis no espírito do
vosso entendimento" (Efésios 4:23). E em Romanos 12.2 o apóstolo diz que a renovação
das nossas mentes é algo que deve ocorrer para que sejamos transformados. Mesmo como
crentes, precisamos permitir que a Palavra nos transforme. Não somos perfeitos ao nos
tornarmos cristãos. O Espírito Santo ainda tem muito a fazer para nos moldar conforme
a imagem de Cristo. Mesmo depois que entramos na família de Deus, a velha mente, com
seus hábitos de preocupação egoísta, com sua imaginação e apetites para as coisas erradas
ou duvidosas da vida - tudo isto tem que ser retirado. Como? Pela Palavra de Deus.

A melhor coisa que pode acontecer na nossa vida, após a salvação, é aprender a estudar a
Palavra de Deus noite e dia. Pois quanto maior a devoção que dedicamos no estudo da
palavra, mais podemos contemplar o rosto de Jesus Cristo através das páginas das
Escrituras, mais o Espírito de Deus me transforma segundo a imagem de Seu Filho. O
estudo bíblico precisa se tornar a paixão do nosso coração.

Todas as coisas boas vêm através dela. Se desejamos viver, a Palavra de Deus nos
vivifica. Se desejamos crescer, é a Palavra de Deus que nos dá o crescimento. E se
desejamos ser transformados, é enquanto focalizamos nossa atenção em suas páginas que
a Palavra de Deus nos transforma.
21

SUGESTÕES PRÁTICAS PARA SEU RELACIONAMENTO COM A


PALAVRA
Gostaria de sugerir quatro coisas específicas que você pode fazer a fim de usar a Palavra
de deus para o seu crescimento espiritual.

1) Primeiro: creia nela. Muitas coisas e muitas pessoas tentarão desviar sua atenção
e afeto, mas faça sua, a resposta de Pedro: "Senhor, para quem iremos? Tu tens as
palavras de vida eterna". (João 6:68). Creia na Bíblia. Aceite-a como revelação de
Deus.

2) Em segundo lugar, estude-a. Espero que, como Apoio, você se torne poderoso nas
Escrituras (Atos 18.24). Quando Jesus abriu e explicou as Escrituras aos dois
discípulos no caminho para Emaús, eles comentaram "Não nos ardia o coração? "
(Lucas 24.32). Estudar a Palavra deverá aquecer e inflamar o coração.

3) Em terceiro lugar, ame a Palavra de Deus. Dê a ela do seu tempo e de sua atenção
como você faria com qualquer outro objeto de estimação. "Quanto amo a tua lei!
É a minha meditação todo o dia," diz o salmista (Salmo 119.57). Será que você
pode dizer isto?

4) Em quarto lugar, obedeça a Palavra de Deus. Faça o que ela diz. A obediência a
Deus não é opcional, nem é algo ao qual você se submete se tem vontade. É
obrigatória. Não seja um ouvinte apenas da Palavra. Tiago 1.22

Conclusão:
Na aula de hoje aprendemos que a Palavra de Deus é a grande chave para ajudar você a
crescer espiritualmente. No entanto, há outras chaves, cada uma desvendando um novo
tesouro do crescimento espiritual. Nas próximas aulas estaremos estudando estas outras
“chaves”. Cada uma é baseada nesta Chave que estudamos hoje: a Palavra de Deus. Cada
uma é um princípio que vamos extrair da Palavra de Deus.

Aplicando o ensino
1. De acordo com a aula de hoje, que decisão prática você vai tomar para começar a
crescer na sua vida cristã? Compartilhe com a classe. Seja específico.
22

AULA 05
O CUIDADO DE UNS PELOS
OUTROS
Texto Básico: Colossenses 3.16

Introdução

Como vimos na aula 2, discipulado é relacionamento. No entanto, a marca mais evidente


de nossa época é o individualismo. Quantas vezes você já foi capaz de dizer “eu preciso
de você!”. Qual foi a última vez que você disse isso para sua esposa, seu esposo, seus
filhos, um irmão ou uma irmã na igreja? A quem você recorre nos momentos em que
precisa de consolo?

Deus determinou que cuidássemos uns dos outros. Vemos, amplamente, por toda a Bíblia,
instruções acerca do cuidado mútuo. Nesta lição, veremos um princípio muito importante
do discipulado e examinaremos como o Espírito Santo nos habilita a cuidar uns dos
outros, e como devemos praticar isso, visando despertar em nós a necessidade de
proximidade e comunhão.

I. Necessitamos uns dos outros

Pelo que lemos nas Escrituras, a soberba é um pecado odioso para Deus, o qual tem
consequências desastrosas (Rm 1.28). O orgulho, a vaidade, a autossuficiência, todos
derivados de um coração soberbo, são desastrosos, porque impedem, dentre outras coisas,
que busquemos ajuda tanto em Deus quanto nas pessoas ao nosso redor. Nós nos
consideramos tão autossuficientes, que não vemos no outro um ponto de apoio e refúgio
nos momentos de necessidade. Elevamos o “eu” como detentor de razões e soluções.
Tornamo-nos individualistas. Achamos que podemos sempre resolver nossos problemas
com nossos próprios meios, como se fosse possível renunciar a ajuda das pessoas que
estão ao nosso redor.

Por outro lado, nós nos recusamos a oferecer ajuda àqueles que estão sofrendo. Muitas
vezes, passamos ao largo, como as personagens da Parábola do Bom Samaritano, que
evitaram “se contaminar” com aquele homem caído na estrada (Lc 10.25-37,
especialmente os v. 31 e 32). Há muitas pessoas “caídas” por aí e nós, tantas vezes, não
nos ocupamos delas, preferindo, tantas outras vezes, julgá-las temerariamente.

A Palavra do Senhor nos ensina que a vida cristã não pode ser vivida isoladamente (Hb
10.25), pois somos uma família (Ef 2.19), escolhida antes da fundação do mundo (Ef 1.4)
para viver em comunhão uns com os outros (At 2.42-47), com alegria e devoção e,
especialmente, cuidando uns dos outros, pastoreando, aconselhando, admoestando e
orando (Cl 3.16-17; Tg 5.16). A vida cristã precisa ser fundamentada no “eu preciso de
você”. Devemos declarar uns aos outros a nossa incapacidade de lidar com os problemas,
23

e reconhecer que somos devedores uns aos outros do amor com que somos amados pelo
Senhor.

II. A ação do Espírito Santo em nós

Para nos tornarmos membros uns dos outros, carecemos da ação do Espírito Santo em
nossa vida. Ninguém pode oferecer o que não possui. Portanto, somente aqueles que têm
o fruto do Espírito podem oferecê-lo satisfatoriamente às demais pessoas.

Aprendemos que o fruto do Espírito é: “… amor, alegria, paz, longanimidade,


benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5.22). Nesse contexto,
Paulo afirma que “se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl 5.25). Ou
seja: os verdadeiros cristãos são preenchidos pela ação do Espírito Santo de Deus e isto
os habilita a propagar a verdadeira comunhão de uns para com os outros. Tendo o fruto
do Espírito operante não nos deixaremos “possuir de vanglória, provocando uns aos
outros, tendo inveja uns dos outros” (Gl 5.26).

O Espírito Santo faz com que nos tornemos amigos uns dos outros, e próximos, a ponto
de se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram (ver Rm 12.9-21). Peter
Beyerhaus afirmou:

“A obra do Espírito Santo é tão corporativa como individual. Ele constrói a vida da igreja
estabelecendo o elo místico entre Cristo, a cabeça, e a igreja, seu corpo. Mediante essa
obra, a presença real do Senhor é sentida na adoração da congregação. Ele equipa a igreja
para sua missão por meio de ministérios e serviços vocacionais. Como aquele que
convence, ele abre o caminho para o mundo descrente. Os charismata, ou seja, dons
espirituais complementares, unem todos os cristãos como membros de um só corpo para
o serviço mútuo (1Co 12)”9

De que modo o Espírito Santo, agindo em nós e guiando os anjos do Senhor, nos ensina?

A. Guiando para o ministério

Na experiência de Felipe com o eunuco, vemos o Espírito do Senhor, um anjo, guiar seu
servo para o cuidado do outro: “Dispõe-te e vai para o lado do Sul, no caminho que desce
de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto” (At 8.26). O Espírito do Senhor conduz seus
servos para o exercício da obra. Devemos entender essa fala como uma comunicação
natural entre o Espírito Santo do Senhor e os cristãos. É claro que não se tratam de “novas
revelações”, mas da interação espiritual entre nós e Deus, fruto da providência do Senhor
em guiar-nos. É a maneira “mui santa, sábia e poderosa de [Deus] preservar e governar
todas as suas criaturas e todas as suas ações, para a sua própria glória” (Catecismo
Maior de Westminster, pergunta 18).

9
Peter Beyerhaus, Dicionário de ética cristã, Carl Henry (org.), Editora Cultura Cristã.
24

B. Provendo para a vida

O Espírito Santo do Senhor provê o sustento para os crentes. Muitas vezes, sem sabermos,
Deus está suprindo nossas necessidades mais profundas. Isso enquanto sofremos e
imaginamos que o Senhor não se importa conosco. Costumamos pensar que Deus tem
prioridades maiores do que cuidar de nós. Mas não é assim. Ele é Deus. Nem o tempo,
nem o espaço o limitam; ele pode ouvir todas as orações ao mesmo tempo e dá atenção a
todos, sem necessidade de filas ou senhas. O Espírito Santo do Senhor provê nosso
sustento e segurança, mesmo quando dormimos: “…aos seus amados ele o dá enquanto
dormem” (Sl 127.2). O Espírito também provê para que possamos prover para aos outros:
“Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o saber acolheram
anjos” (Hb 13.2).

C. Protegendo de todas as coisas

Há vários exemplos na Bíblia em que Deus, por meio de seu Espírito e dos anjos do
Senhor, protege seus servos. Um dos casos mais marcantes é o de Daniel e seus amigos,
conforme narrado em Daniel 3.28: “Falou Nabucodonosor e disse: Bendito seja o Deus
de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo e livrou os seus servos, que
confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar o seu
corpo, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus”. Podemos nos
lembrar de Paulo, e das tantas vezes que o Senhor livrou o apóstolo: naufrágios, picada
de víbora, perseguição, etc. Deus tem um propósito sublime em nossa vida e, mesmo
quando não percebemos, Deus está nos protegendo de todo mal.

D. Servindo-nos em tudo de que necessitamos

A Bíblia afirma que “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra”
(Sl 34.7). Aqueles que confiam no Senhor sabem que Deus destina seu santo Espírito para
cuidar deles, consolando-os, amparando-os e servindo-os. Quando Jesus Cristo contou
aos seus discípulos sobre seu retorno ao Céu, ele disse: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos
dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade,
que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque
ele habita convosco e estará em vós” (Jo 14.16-17). Observe os detalhes do texto: (1)
Jesus afirma: “ele [o Pai] vos dará”, o Espírito Santo pertence a nós. Ele está conosco por
determinação de Deus Pai, a fim de que não fiquemos sozinhos e desamparados; (2)
“outro Consolador”, Cristo é nosso Consolador e, ainda assim, Deus, o Pai, nos dará
outro, o Espírito Santo, que nos guiará à verdade; (3) “esteja para sempre convosco”, não
há nenhum momento em nossa vida em que o Espírito Consolador não esteja presente.
(4) “porque ele habita convosco e estará em vós”, duas dimensões: “habita conosco”, ele
mora onde estamos, permanece junto de nós, e “está em nós”, porque atua dentro, em
nosso interior, onde somente o Espírito pode entrar (cf. Sl 139.23-24).

Se os anjos do Senhor e o Espírito Santo de Cristo agem em nós e nos ensinam, devemos
repetir suas ações e, desse modo, abençoar nossos irmãos e irmãs em Cristo. Vejamos que
atitudes podemos ter para com nossos irmãos em Cristo, utilizando nossos dons. De
acordo com John MacArthur Jr., os principais dons que devemos usar como cristãos são:
25

1. Profecia (Rm 12.6; 1Co 14.3), capacidade de pregar ou proclamar a verdade de Deus
a outros, para edificação, exortação e encorajamento.

2. Ensino (Rm 12.7), capacidade de ensinar as verdades da Palavra de Deus.

3. Fé (1Co 12.9), capacidade de confiar em Deus, sem dúvida ou inquietação, a despeito


das circunstâncias. Aqueles que são especialmente inclinados a sentir ansiedade devem
procurar pessoas que têm aplicado esse dom e seguir o exemplo delas.

4. Sabedoria (1Co 12.8), capacidade de aplicar a verdade espiritual à vida. Crentes


dotados de sabedoria são, também, bons modelos para as pessoas ansiosas.

5. Conhecimento(1Co 12.8), capacidade de compreender os fatos. É o lado intelectual do


entendimento da verdade bíblica.

6. Discernimento (1Co 12.10), capacidade de distinguir a verdade do erro – para discernir


o que é de Deus e o que é ardil satânico.

7. Misericórdia (Rm 12.8), capacidade de manifestar o amor de Cristo em atos de


benevolência.

8. Exortação (Rm 12.8), capacidade de encorajar, aconselhar e confortar os outros com


verdade bíblica e amor cristão. Os que são inclinados à ansiedade precisam ter humildade
suficiente para ouvir e valorizar o que as pessoas com o dom da exaltação têm a dizer.

9. Doação (Rm 12.8), capacidade de prover para a obra do Senhor e para outros que têm
dificuldade de suprir as próprias necessidades materiais. Isso deriva do propósito de
confiar suas posses materiais ao Senhor.

10. Administração (Rm 12.8; 1Co 12.28), capacidade de organizar e liderar com empenho
espiritual. É um dom chamado de”dom de comandar ou governar”.

11. Ajuda (Rm 12.7; 1Co 12.28), capacidade de servir fielmente “por trás das cortinas”,
dando assistência à obra do ministério de forma prática.

Todos esses dons só fazem sentido se forem aplicados individualmente no corpo de


Cristo, a igreja. Paulo afirma, enfaticamente, que os dons existem para que o corpo de
Cristo seja aperfeiçoado, edificado e cresça (Ef 4.11-13).

Abraham Kuyper escreveu:

“A Igreja de Cristo é um corpo e, como os membros crescem a partir de um corpo,


e não são acrescentados a ele, vindos de fora, também a semente da igreja deve
ser procurada nesta, e não no mundo (…) O próprio Espírito Santo é um dom da
graça, mas quando ele concede dons espirituais, ele nos adorna com ornamentos
santos (…) os dons são operações adicionais da graça (…) a ação da graça é para
nossa própria salvação, alegria e edificação; os dons nos são dados para os outros”

(A obra do Espírito Santo, Editora Cultura Cristã).


26

John MacArthur Jr. enumerou algumas atitudes, que são apontadas na Bíblia e que devem
fazer parte de nosso dia a dia na igreja:

1. Confessarmos nossos pecados uns aos outros (Tg 5.16).


2. Edificarmos uns aos outros (1Ts 5.11; Rm 14.19).
3. Levarmos as cargas uns dos outros (Gl 6.2).
4. Orarmos uns pelos outros (Tg 5.16).
5. Sermos benevolentes uns para com os outros (Ef 4.32).
6. Sujeitarmo-nos uns aos outros (Ef 5.21).
7. Sermos hospitaleiros uns com os outros (1Pe 4.9).
8. Servirmos uns aos outros (Gl 5.13; 1Pe 4.10).
9. Consolarmos uns aos outros (1Ts 4.18; 5.11).
10. Corrigirmos uns aos outros (Gl 6.1).
11. Perdoarmos uns aos outros (2Co 2.7; Ef 4.32; Cl 3.13).
12. Admoestarmos uns aos outros (Rm 15.14; Cl 3.16).
13. Instruirmos uns aos outros (Cl 3.16).
14. Exortarmos uns aos outros (Hb 3.13; 10.25).
15. Amar uns aos outros (Rm 13.8; 1Ts 3.12; 4.9; 1Pe 1.22; 1Jo 3.11,23;4.7,11).

Devemos desenvolver nosso ministério, sempre tendo em vista o corpo de Cristo.


Devemos estar atentos e ajudar o outro em sua tribulação. Não devemos ser
individualistas nem egoístas, olhando apenas nosso próprio umbigo. O crente olha para
afrente, adiante, pensando nas pessoas ao seu redor, copiando o exemplo sublime de
Cristo, que deu sua própria vida em favor de seus amigos.

Conclusão

O Espírito Santo do Senhor está conosco sempre, ele nos guia, provê tudo de que
necessitamos na vida, nos proteges e nos serve dia após dia. O Espírito Santo do Senhor
nos ensina a cuidar também de nossos irmãos e irmãs em Cristo. Ele nos dá vida e nos
encoraja a andar uns com os outros, suportando uns aos outros, em amor. Se quisermos
alcançar o sucesso em nossos relacionamentos, se quisermos nos tornar melhores em
nossa vida em comunidade, precisamos prestar atenção no Espírito agindo em nós e agir
conforme sua instrução.

Aplicação

Liste algumas atitudes que você pode ter em sua igreja. Pense em áreas da igreja que
estejam carentes e nas quais você possa colaborar, usando seus dons. Reúna-se com seus
colegas de classe e discuta com eles o que vocês podem fazer efetivamente pela igreja,
para demonstrar que o Espírito Santo age em vocês e, pela ação do Espírito, vocês também
podem agir pela igreja. Depois, comuniquem ao pastor a decisão do grupo e peçam o
auxílio dele.

Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão – Vencendo
a Ansiedade.
27

AULA 06
ACONSELHAMENTO BÍBLICO
O DISCÍPULO AJUDANDO OUTROS A CRESCER NA VIDA CRISTÃ

“Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos


mutuamente em toda a sabedoria ...” Colossenses 3:16

Introdução

Provavelmente você já tenha ouvido o velho ditado: “Se conselho fosse bom, ninguém
dava, vendia”. Bom, isso é um dito popular que acreditamos estar totalmente errado. Na
verdade, o aconselhamento é muito bom. Mais que isso, o aconselhamento é bíblico. Uma
prática que pode, e muito, nos ajudar na prática do discipulado em nossa igreja. Nós, os
cristãos, não estamos imunes aos problemas que a vida trás. Também enfrentamos a
depressão, abuso de álcool e drogas, ansiedade, medo, distúrbios diversos, preocupação
com as finanças, crise no casamento, dificuldades na criação de filhos e uma variedade
de outros problemas que resultam em sofrimento.

Seguramente, irmãos mais experientes e maduros na fé, comprometidos com o Reino de


Deus, poderão, utilizando-se da Escritura Sagrada, ajudar as pessoas a lidarem com seus
problemas e também crescerem na fé e na vida cristã, fortalecendo assim a igreja. Mas o
que é aconselhamento bíblico e como podemos utilizá-lo como instrumento no
discipulado e assim trazer saúde à igreja do Senhor?

O QUE NÃO É ACONSELHAMENTO BÍBLICO?

Primeiramente, precisamos deixar claro o que não é aconselhamento bíblico.

1) Aconselhamento Bíblico não é uma atividade reservada somente para os pastores ou


apenas para os profissionais.

Entendemos que algumas pessoas são chamadas por Deus e capacitadas com dons
específicos para desenvolverem o ministério de aconselhamento numa escala maior e com
mais profundidade (Ef. 4.11,12,16; I Co 12.7,12-27; I Pe 4.10). Não obstante, de acordo
com as Escrituras, todos os cristãos deveriam em alguma medida estarem aptos a
aconselhar em certas situações.10

O ensino das Escrituras é que todo crente pode e deve ser um conselheiro bíblico.
Podemos ver esse ensino à luz de Gálatas 6.1-5: “Irmãos, se alguém for surpreendido
nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te
para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis
a lei de Cristo”. Lemos também em Colossenses 3.16: “Habite ricamente em vós a

10
Eyrich, Howard & Hines, Wiliam. Cura para o coração. São Paulo – SP: Cultura Cristã, p. 65.
28

Palavra de Cristo; ensinai e aconselhai uns aos outros com toda a sabedoria, e cantai
salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão no coração”.

Quando Paulo escreveu aos crentes da igreja de Roma (Rm 15.14) disse: “E certo estou,
meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito de que estais possuídos de bondade, cheios
de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros”. Era a
compreensão do apóstolo que toda a igreja, e não apenas os líderes, admoestasse uns aos
outros, em outras palavras, que se aconselhassem mutuamente.

Lemos em Tito 2.1-6 que o Apóstolo Paulo encarregou homens e mulheres mais velhos
de instruir os homens e mulheres mais jovens, respectivamente. Todo crente é chamado
para que “fale cada um a verdade com o seu próximo” (Efésios 4.25), e ainda: “exortai-
vos mutuamente cada dia” (Hebreus 3.13).

Como fica claro nessas passagens, corrigir, aconselhar, ensinar, não são responsabilidades
restritas aos pastores e oficiais da igreja. O mandamento é para o cristão.

2) Aconselhamento bíblico não é uma atividade opcional para a Igreja. Na Bíblia vemos
em várias situações Deus nos instruindo quanto ao cuidado que devemos ter uns com os
outros. Os chamados "mandamentos recíprocos", aparecem pelo menos 36 vezes no NT.
E são imperativos, ou seja, são mandamentos, são ordens de Deus à sua igreja, e não uma
opção. Por exemplo: "Acolhei-vos uns aos outros" (Rm. 15:7); "Tende igual cuidado uns
pelos outros" (I Co.12:24b-25); "Confessai os vossos pecados uns aos outros" (Tg. 5:16);
"Perdoai-vos uns aos outros" (Ef. 4:31,32).

3) Em terceiro lugar, aconselhamento bíblico não é aconselhamento psicológico. Num


primeiro momento, parece que o conselheiro bíblico e o terapeuta fazem as mesmas
coisas, porém, convém destacar que tratam de atividades distintas. Embora ambos estejam
envolvidos em ajudar as pessoas, existem diferenças entre as duas propostas.

A questão não é se a Psicologia, como ciência que alega ser, é ruim ou não. A questão é
que ela não se utiliza da Escritura Sagrada com a finalidade de conhecer e aconselhar as
pessoas (2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.4). A Bíblia sim, tem sempre a última palavra sobre o
homem, valores e sobre a vida. No aconselhamento bíblico, fazemos uso da Palavra de
Deus e não dos ensinamentos de pensadores como Freud, Adler, Jung, Erickson, dentre
outros. A Bíblia, seguramente, tem orientação para nossa vida, em todas as áreas. A Bíblia
é nossa única regra de fé e prática.

O QUE É ACONSELHAMENTO BÍBLICO?

Quando falamos de “aconselhamento” estamos falando de uma palavra que na língua


Grega (noutecia.), é formada por duas palavras: Ela é formada pelo substantivo grego
“nous” que significa “mente” e pelo verbo “tetéo”, que significa “colocar”. Juntando-se
os dois termos temos: Colocar na mente.

“Habite ricamente em vós a palavra de Cristo, instruí-vos e


ACONSELHAI-VOS mutuamente em toda a sabedoria, louvando a
Deus com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão em vossos
corações” Colossenses 3:16
29

Assim, quando falamos de ACONSELHAMENTO BÍBLICO, estamos falando de


colocar as ESCRITURAS na mente de uma pessoa. O termo noutheteo tem três
significados básicos: admoestar (At 20:31; Rm 15:14; I Co 4:14; I Ts 5:12,14), aconselhar
(Cl 3:16) e advertir (Cl 1:28; II Ts 3:15) e sempre dá a ideia de mostrar ao irmão o seu
erro através da Palavra de Deus e auxiliá-lo na correção deste. Pelo menos é isso que
Paulo fala do propósito da Escritura. Diz ele: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e
útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para
que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra." (3.15-16).

Segundo John F. MacArthur, Jr.,

“Aconselhamento é, por definição e inclinação, um ministério de ajuda. Ele


pressupõe um indivíduo que está sendo confrontado por certo grau de confusão,
decepção ou desespero e uma segunda pessoa que se empenha para ajudar
analisando a situação do aconselhamento, procurando desemaranhar as questões
envolvidas, de forma a oferecer conselhos e direções úteis e benéficas”.11

O trabalho do Conselheiro Bíblico, então, é discernir pensamentos e/ou comportamentos


que Deus quer mudar, fazendo uso da Palavra de Deus para mudar os pensamentos e
comportamentos que desagradam a Deus, para o benefício da pessoa que está sendo
aconselhada e para a Glória de Deus. Todo esse trabalho recebe o nome de
ACONSELHAMENTO BÍBLICO.

À luz de algumas passagens do livro de Provérbios, podemos constatar a importância do


aconselhamento bíblico na vida da igreja:

a. Pv 11:14 O aconselhamento traz segurança


b. Pv 12:1 Rejeitar o aconselhamento correto demostra estupidez.
c. Pv 12:15 O aconselhamento traz sabedoria.
d. Pv 15:10 O aconselhamento nos livra do mal e até da morte.
e. Pv 15:22 O aconselhamento traz progresso em nossa vida.
f. Pv 15:31,32 O aconselhamento traz entendimento.

A PALAVRA DE DEUS E O ACONSELHAMENTO.

A Bíblia nos ensina como podemos fugir da corrupção que existe no mundo e em nosso
próprio coração. Ela nos ensina como podemos ser eficientes no ministério cristão;
como ser bons maridos e esposas, pais e filhos; como ser bons cidadãos, como amar a
Deus e ao nosso próximo (2 Pe 1.3,4). A Bíblia também nos ensina como resolver
nossos problemas à maneira de Deus (1 Co 10.13; Rm 8.32-39). Ela nos ensina como
ter alegria, paz, mansidão, paciência, bondade, amabilidade e autocontrole (2 Pe 1.5-
7; Gl 5.22,23). A Bíblia nos ensina tantas coisas preciosas a respeito de Deus, da vida
presente e da vida eterna. Na verdade, as Escrituras não contêm toda a vontade de
Deus, mas toda a vontade de Deus que quis que soubéssemos está contido na Bíblia.
(Dt. 29.29; Jo 21.25).12

11
MACARTHUR, Jr., John F. & Mack , Wayne A. Introdução ao Aconselhamento Bíblico. São Paulo -
SP: Hagnos, 2004. p. 87.
12
MACK, Wayne. A utilidade das Escrituras no Aconselhamento. Fé para hoje. São José dos Campos,
SP, ano 2004, n. 24, p. 16-19.
30

Veja o que diz a nossa Confissão de Fé de Westminster na Seção VI:


“Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória
dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na
Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela”.

Em razão disso, o aconselhamento bíblico está fundamentado, de modo consciente e


abrangente, na Bíblia, extraindo dela a sua compreensão a respeito de quem é o homem,
da natureza de seus problemas, dos “porquês” destes problemas e de como resolvê-los.13

Por isso, o conselheiro precisa estar comprometido com a suficiência das Escrituras para
resolver e compreender todas as dificuldades não-físicas, relacionadas ao pecado, que
afetam o próprio indivíduo e seu relacionamento com Deus, com ele mesmo e com o
próximo.

Tomemos como exemplo algumas passagens. O Salmo 19:7-1 enfatiza a suficiência das
Escrituras em duas maneiras:

a. O que a Palavra de Deus é.

1) Lei do Senhor que é perfeita e completa v. 7.


2) Testemunho do Senhor que é seguro e confiável v. 7.
3) Preceitos do Senhor que são corretos e justos v. 8.
4) Mandamento do Senhor que são puros ou claros v. 8.
5) Temor do Senhor que é limpo trazendo sabedoria v. 9.
6) Juízos do Senhor que são verdadeiros v. 9.
7) É desejável como ouro e mel v. 10.

b. O que a Palavra de Deus faz.

1) Restaura a alma v. 7.
2) Torna os simples em pessoas sábias v. 7.
3) Alegra o coração v. 8.
4) Ilumina os olhos v. 8.
5) Produz o temor do Senhor em nós v. 9.
6) traz gozo para a vida v. 10.
7) Concede direção, proteção e recompensa v. 11.

QUALIDADES NECESSÁRIAS DO CONSELHEIRO CRISTÃO

Esse é um ponto muito importante no estudo do nosso tema. As Escrituras nos ensinam
que a igreja local deve ser o instrumento usado por Deus para ajudar as pessoas. Dessa
forma a igreja precisa ter pessoas aptas para realizar o aconselhamento bíblico. (Gl 6.1,2;
Cl 3.16; 1 Ts 5.14,15).

O Conselheiro bíblico não é um profissional que atende a pessoa e a ouve sem


experimentar algum tipo de emoção. Somos pessoas que amamos a Deus, que amamos o

13
ADAMS, Jay E. Conselheiro capaz. São José dos Campos: Fiel, 1982. p. 47
31

povo de Deus e que servimos ao Senhor servindo a seu povo. Sendo assim, algumas
qualidades do conselheiro bíblico são:

1) O conselheiro bíblico precisa ter relacionamento com o Senhor.

Os conselheiros só serão capazes de ajudar as pessoas, se elas mesmas também estão


experimentando transformação de maneira pessoal. A menos que tenhamos um
relacionamento constante com o Senhor, estaremos impossibilitados de ajudar outros a
serem transformados. Paulo, em Gálatas 6.1 escreve: “Vós que sóis espirituais, corrigi-os
com espírito de brandura...”. A não ser que o conselheiro seja alguém espiritual, íntimo
de Deus, o aconselhado não deve colocar sua vida nas mãos de uma pessoa que também
está precisando de ajuda. Jesus alertou: “Pode, porventura, um cego guiar a outro cego?
Não cairão ambos no buraco? ” (Lucas 6:39). Em Mateus 7.5, Jesus ensina: “Tira
primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho
de teu irmão”.

O conselheiro cristão deve ser o primeiro a ter a experiência de ser transformado pela
Escritura Sagrada e de estar sendo moldado, segundo “a mente de Cristo” (1 Coríntios
2.16).

2) O Conselheiro bíblico precisa conhecer as Escrituras.

A pessoa envolvida no ministério de aconselhamento precisa conhecer a Escritura. No


aconselhamento fazemos uso da palavra de Deus e a aplicamos às mais diversas situações.
Por isso, precisamos lê-la, estudá-la, conhecê-la para a aplicarmos, primeiramente na
nossa vida, depois na vida daqueles que queremos ajudar.

A Escritura é a fonte de toda verdade. Paulo escrevendo a Timóteo diz: "Toda a Escritura
é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a
instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para
toda boa obra." (3.15-16).

Não podemos esquecer de que à luz da Escritura Sagrada, a Queda afetou todo ser humano
(Ef 2.1-12). Em razão disso, nossos relacionamentos foram afetados, nossas motivações.
Nosso coração se tornou corrupto. "Porque do coração procedem os maus pensamentos,
mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias." (Mateus 15.19).
Boa parte dos problemas que enfrentamos na vida são meras consequências do nosso
distanciamento de Deus.

A Palavra de Deus tem, portanto, poder para mudar o comportamento. Portanto, o


conselheiro cristão deve saber que a Palavra de Deus é a única ferramenta capaz de
“discernir os pensamentos e os propósitos do coração” (Hebreus 4.12).

3) O conselheiro bíblico precisa ser dedicado à oração.

O aconselhamento secular falha por não depender de Deus e por confiar na sabedoria e
força humanas para alcançar seu objetivo. No aconselhamento bíblico é diferente. A
oração é parte da solução dos problemas do aconselhado. Na oração revelamos nossa total
dependência de Deus para alcançar as mudanças desejadas. (Cl 4.2; I Tes 5.17)
32

4) O conselheiro bíblico precisa manifestar respeito pelo aconselhado.

Às vezes o aconselhado abre o seu coração contando pecados secretos. Por vezes
podemos até ficar chocados com aquilo que ouvimos. No entanto, precisamos respeitar e
saber que o aconselhado é uma pessoa, criada à imagem de Deus, valiosa aos olhos do
Senhor, que no momento passa por uma crise e veio lhe pedir ajuda. Não a condene. Não
dê uma de “amigos de Jó”. Respeite sua confissão e seu desabafo. Aspereza e falta de
humildade minam a bondade, que é essencial para um tratamento correto do irmão faltoso.

Isto não significa aceitar um comportamento errado. É respeitar a pessoa que está
querendo ajuda como pessoa. Paulo em Gálatas 6.1, nos ensina que devemos corrigir com
espírito de brandura, humildade e amor. E lembre-se de que todos nós precisamos de
aconselhamento porque somos também frágeis e propensos a cair.

5) O conselheiro bíblico precisa saber guardar sigilo.

Abrir o coração com alguém não é nada fácil. Muitas vezes é um desnudar da alma, e isso
pode ser doloroso para a pessoa. O que um conselheiro ouve deve morrer com ele. Ele
não deve passar adiante aquilo que ele ouve em um ambiente de orientação espiritual,
nem mesmo para outras pessoas interessadas no assunto.

O conselheiro deve saber que comentar com outras pessoas, sem a devida autorização do
aconselhado, o que lhe foi dito em confiança acabará com a relação conselheiro-
aconselhado. Se isso acontecer, você terá traído quem confiou em você. Poucas coisas
são tão ruins para um conselheiro que ser conhecido como fofoqueiro, como alguém que
passa para frente coisas que ouviu em confidência. Lemos em Provérbios 11.13 “O que
anda mexericando descobre [revela] o segredo, mas o fiel de espírito o encobre”. Em
Provérbios 20:19 lemos que “O mexeriqueiro trai a confiança; portanto, evita o que muito
abre os seus lábios”.

Conclusão e aplicação:

Esperamos que a aula de hoje tenha lhe ajudado a perceber a importância do


aconselhamento bíblico na vida da igreja. Trata-se de um ministério a ser exercido pelo
corpo de Cristo, dentro da dinâmica da igreja local. Cristãos comprometidos, que amam
a Palavra de Deus e que amam a igreja, serão capazes de aplicar os princípios aqui
expostos e assim ajudar a transformar vidas para a Glória de Deus.
33

AULA 07
OS BENEFÍCIOS DOS PEQUENOS GRUPOS NA
IGREJA
Textos básicos: Atos 2.46; At 5.42

Introdução

Uma das estratégias bastante utilizadas nas igrejas, visando seu crescimento e saúde
espiritual, é o chamado “Pequenos Grupos”. Outros nomes têm sido dados para um
projeto desta natureza, dentre eles “igrejas em células”, “grupos familiares” e
“koinonias”.14 Mas o nome que damos não é tão significativo. Importante mesmo é saber
que a prática de se reunir nos lares para estudar a bíblia é muito antiga pois já encontramos
sua utilização na Bíblia. Os primeiros cristãos já se reuniam nas casas com a finalidade
de ler as Escrituras e adorar a Deus (At 2.42-47; 5.42; 10.24-48; 12.12; 20.7-12; Rm 16.3-
5,14-15).

Creio que a igreja do Senhor, ao utilizar os Pequenos Grupos, pode experimentar


revitalização e crescimento, não apenas numericamente, mas na maturidade espiritual. O
ministério de Pequenos Grupos tem tudo para viabilizar este sonho.

BASE BÍBLICA PARA OS PEQUENOS GRUPOS

O ministério de Pequenos Grupos não é uma novidade dos nossos tempos e nem fruto de
uma ação imatura ou de um modismo ministerial. Os pequenos grupos são bíblicos e
estratégicos.

1. A Igreja é o Corpo de Cristo.

Como grupo social organizado, a igreja possui uma personalidade jurídica, uma estrutura
física onde os cristãos se reúnem para adorar a Deus. No entanto, a igreja não pode ser
identificada com um prédio. Como já vimos em aula anterior, uma das figuras que Paulo
usa para descrever a igreja é o corpo humano. Assim como o corpo humano é organizado
para funcionar pela cooperação e interdependência das muitas partes, assim também a
Igreja, como um corpo, revela sua unidade (Ef 2.19; Rm 12.4-5). Esse Corpo, a igreja, é
governado por um "cabeça" - Cristo, e tem muitos membros, cada um deles dotados e
investidos por Deus a fim de contribuir para a obra de todo o corpo (Rm 12.4-5; 1Co
12.12-1; Ef 4.4-5).

Sendo assim, todos os membros numa igreja local são necessários para o seu
desenvolvimento. Há uma interdependência dos membros no corpo. Os Pequenos Grupos
são uma estrutura prática para viabilizar nossa vivência como corpo de Cristo.

14
ROBSON, Russ & Bill Donahue. Edificando uma Igreja de Grupos Pequenos. São Paulo:
Editora Vida. 2003. p. 15
34

2. A igreja é uma família

Esta figura ressalta um aspecto muito importante na vida da igreja. Numa família, os
membros têm intimidade e cuidam uns dos outros. Assim deve ser na igreja (I Tm 5.1,2;
II Co 11.2; 6.18; Ef 2.19; 3.14; 5.32.). Num Pequeno Grupo ouvimos uns aos outros,
servimos uns aos outros, cuidamos uns dos outros, levamos as cargas uns dos outros. No
entanto, existem basicamente três grandes temores na vida em comunidade para
desfrutarmos de Intimidade:

1) Medo da rejeição: toda aproximação num relacionamento é carregada de suspeitas.


Como vou ser recebido? Vou ser aceito do jeito que sou? Posso ser ridicularizado pelas
minhas preferências?

2) Medo de confidências serem violadas: todo ser humano tem seus segredos. Alguns têm
deslizes e pecados por traz. Quem é que não tem medo de confidenciar algum segredo ou
fraqueza e isto se tornar público?

3) Medo de ser manipulado: Em alguns relacionamentos domésticos o amor pode estar


sendo confundido como manipulação. Você recebe se fizer isso ou aquilo? Eu te dou se
fizer por merecer? Muitas vezes na dinâmica familiar alguns sentimentos são aviltados
por esse tipo de manipulação. Ninguém gosta de ser manipulado em seus sentimentos,
mas de ser respeitado, ser aceito, ser ouvido, ser considerado.

Para vivermos nesta grande família espiritual precisamos ter coragem de caminharmos
em direção a intimidade relacional e afetiva. Os Pequenos Grupos são uma estrutura
prática para viabilizar nossa vivência como a família de Deus.

3. A Igreja no período apostólico reunia-se em grupos pequenos.


Michael Green ao escrever sobre a importância dos lares no ministério de evangelização
feito pela igreja primitiva, nos informa que as casas dos cristãos eram úteis em muitos
sentidos. Diz ele:

Atos dos Apóstolos nos mostra como as casas eram usadas para reuniões
de oração (Atos 12.12) para ocasiões de comunhão (Atos 21.7), para
celebrações da Santa Ceia (Atos 2.46) para vigílias de oração, culto e
ensino (Atos 20.7), para reuniões evangelísticas improvisadas (Atos
16.32), para reuniões programadas com o fim de se ouvir o evangelho
cristão (Atos 10.22), para responder perguntas (Atos 18.26), para o
ensino organizado (Atos 5.42).15

Duas coisas ficam claras na Bíblia, quando pensamos nas reuniões dos primeiros cristãos:

 Eles se reuniam no Templo de Jerusalém, nas sinagogas e nas casas. (At 2:46-
47; At. 5:42; 12.12; 20.7-12; Rm 16.3-5, 14,15).
 Os diáconos e os apóstolos eram pequenos grupos (At. 13:13; 15:22); 15:39,
40; 18:18 etc.)

15
GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. SP: Edições Vida Nova. 1989. p. 262
35

O ministério de Jesus foi um exemplo de um pequeno grupo. Liderou por cerca de 3 anos
e meio um grupo básico de 12 pessoas e estes, após o Pentecostes, multiplicando-se
mudaram a história do mundo.

Ao longo da história tivemos vários líderes que fizeram uso dos Grupos Pequenos como
uma estratégia de dar uma nova vitalidade para a igreja. No Séc. XVII Philip Jacob Spener
(1635-1705) iniciou um movimento de pequenos grupos que foi denominado de “reunião
piedosa”. Ele tinha como objetivo fortalecer a fé dos cristãos e levá-los à maturidade. No
século XVIII John Wesley, visando a comunhão entre os cristãos e o cuidado pastoral
sobre eles, enfatizou a importância desse ministério para a igreja. No século XX o grande
incentivador do movimento de pequenos grupos foi David (Paul) Yonggi Cho, pastor da
Igreja do Evangelho Pleno, na Coréia. Esse autor disseminou o conceito de pequenos
grupos por meio de livros e conferências.16 Depois deles, tantos outros fizeram uso deste
recurso.

OS BENEFÍCIOS DOS PEQUENOS GRUPOS

Por que é importante participar de um pequeno grupo, já que participo dos cultos da
igreja? O que vou ganhar saindo da minha casa ou abrindo a minha casa para participar
de um pequeno grupo? Vejamos, então, pelo menos sete razões para se participar de um
pequeno grupo:

1) Estudo da Palavra: As Escrituras contêm orientações fartas sobre a função da


liderança em ensinar a Palavra de maneira individual e privada (At 2.46; At 20.20; 2 Tm
2.2; Mt 13.10,11). Ao se referir ao trabalho do pastor puritano Richard Baxter (1615-
1691), Cláudio Marra diz que, “é muito instrutivo observar que, para ele, a instrução dos
crentes em particular não era apenas uma alternativa, um método entre tantos, que poderia
ser adotado ou descartado.17

De fato, em seu livro O Pastor Aprovado, Richard Baxter faz um alerta aos pastores, onde
ele revela a sua preocupação com o ensino das famílias:

Seu objetivo é ser eficiente no ministério com as famílias. Portanto,


procurem informar-se sobre como cada família está organizada, e como
Deus é adorado ali. Visitem as famílias quando elas estão desfrutando
lazer e procurem ver se o chefe da família ora em seu lar lê as Escrituras,
presta culto doutras maneiras.18

2) Prática da vida cristã: Temos a tendência de ouvir sermões e pregações e


permanecermos inativos. Faz parte de nossa natureza pecaminosa não colocar em
prática o que aprendemos sobre Deus. Fazer parte de um Pequeno Grupo nos
ajudará a colocar em prática o que se aprende na igreja. O pequeno grupo exerce
a supervisão, encorajamento e prestação de contas dos progressos da nossa vida.
(Mt 7.24)

16
CRUZ, Valberto da; RAMOS, Fabiana. Pequenos Grupos: para a igreja crescer
integralmente. Viçosa: Ultimato, 2007, p.56,57
17
MARRA, Cláudio. A Igreja Discipuladora. SP: Cultura Cristã. 2007. p. 89
18
BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado, SP: PES. 1989. p. 109
36

3) Comunhão e auxílio mútuos: As Escrituras constantemente ressaltam a


centralidade dos relacionamentos. No pequeno grupo, aprendemos a amar as
pessoas, através de um relacionamento mais próximo, onde conhecemos cada
pessoa pelo seu nome, por suas características pessoais, etc. Num Pequeno Grupo
é possível levar as cargas uns dos outros, orar uns pelos outros, aconselhar uns
aos outros. No Pequeno Grupo os cristãos assumem a responsabilidade pelo bem-
estar mútuo (Gn 4.9-10; Gl 6.1-2; Hb 10.24-25). A verdadeira comunhão não se
dá facilmente numa multidão de 300 ou 2000 pessoas.

4) Evangelização: No pequeno grupo, é possível levar visitantes que ainda não têm o
costume de irem à igreja. Eles poderão, então, conhecer o amor de Deus em um
grupo menor e, depois, sem preconceitos ou receios, poderão participar dos cultos
na igreja. A evangelização é mais completa e concreta através dos relacionamentos
pessoais, já que as pessoas podem iniciar seu contato com o evangelho não apenas
ouvindo a pregação, mas vendo o evangelho funcionar na vida de cristãos com
quem convivem.

5) Pastoreio pelos leigos: Os pequenos grupos são um suporte de oração e estendem


os limites do cuidado do rebanho. Muitas pessoas da igreja enfrentam sérios
problemas. Dificuldades financeiras, enfermidades, problemas no casamento,
pecados costumeiros. Em um Pequeno Grupo é possível encontrar conforto, alívio
espiritual, ensino e esperança. (2 Co. 1.3-7). Muitos problemas do rebanho podem
ser resolvidos com desabafos, intercessão e aconselhamento mútuos, troca de
experiência ou exortações amorosas, o que pode acontecer muito bem nos
relacionamentos afetivos.19

Em um Pequeno Grupo o suporte de oração para qualquer fase ou dificuldade da vida é


muito maior. Saber que há pessoas intercedendo por nós, nos faz sentir abraços e
cuidados. Sentimos as orações dos irmãos fazendo diferença em nossas vidas. (Tg 5:16)

6) Aprendizado: Em um Pequeno Grupo as perguntas são possíveis. Perguntar é


essencial para qualquer processo de aprendizagem e crescimento, e o culto coletivo
não viabiliza essas perguntas. O Pequeno grupo é um excelente espaço para
tirarmos nossas dúvidas acerca da vida cristã e da vida diária. (Nicodemos e Jesus
– Jo 3:1-21)

Reunir poucas pessoas e colocar a Bíblia em suas mãos, gera o ambiente e a ocasião ideal
para que todos contribuam com seus conhecimentos, testemunhos, compartilhem suas
dúvidas e confessem suas mazelas e pecados. De tal maneira que a palavra de Deus possa
aplicar-se às situações específicas de cada pessoa.

O PERFIL DO LÍDER DO PEQUENO GRUPO.


O líder é o principal responsável pelo grupo. Cada Pequeno Grupo deve ter 2 ou até 4
líderes que podem alternar a responsabilidade para dirigir os estudos. Cremos que um
dos grandes segredos para o sucesso dos pequenos grupos é o time de líderes deste

SITTEMA, John. Coração de Pastor – Resgatando a Responsabilidade Pastoral do Presbítero.


19

São Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã. 2004 . p.189


37

ministério. Pensando nisto, alinhamos algumas qualidades e responsabilidades deste


líder:

a) São líderes comprometidos com a visão de Deus: São pessoas que amam ao
Senhor e querem ver outros crentes crescendo na vida cristã.

b) São líderes que conhecem a Bíblia. Ele precisa ter conhecimento das Escrituras,
porque este é o primeiro material que ele vai usar. O líder deve ser “apegado à
palavra fiel” (Tt 1:9; Js 1:7-8).

c) São líderes responsáveis: O líder responsável leva seu trabalho a sério; não
transfere responsabilidades a outrem quando estas são suas.

d) São líderes com um comportamento exemplar: Um líder pode ensinar muito com
sua vida, desde que ela esteja em harmonia com as Escrituras. Em Filipenses,
Paulo nos convida a olhar para a sua vida e imitar o seu comportamento: “Irmãos,
sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em
nós” (Fl 3:17) e “O que também aprendestes, e recebestes e vistes em mim, isso
praticai” (Fl 4:9).

e) Estão disponíveis: Liderar requer tempo para se preparar para cada encontro e
para o cuidado das pessoas que estão sob seus cuidados.

f) São ensináveis: Ser líder de um pequeno grupo exige excelência e competência.


E ninguém se torna excelente a menos que admita a necessidade de melhorar
sempre. O líder de pequeno grupo como qualquer outro líder precisa ter disposição
para aprender. A conhecida máxima é bem apropriada aqui: “Quem pára de
aprender hoje, não terá o que ensinar amanhã”. (Provérbios 18.15)

g) Leais à liderança pastoral da igreja: O perigo de um pequeno grupo, é que ele pode
se tornar um foco de divisão na igreja. Líderes que não seguem a visão da igreja,
do Conselho da Igreja, terminam por provocarem discórdias e conflitos na igreja.

Conclusão: Os Pequenos Grupos objetivam oferecer a oportunidade de relacionamentos


íntimos no contexto da igreja: relacionamentos das pessoas entre si e de todas com o
Senhor Jesus.

Perguntas para discussão

1. Diante do estudo de hoje, você não acha que vale à pena você participar de um
Pequeno Grupo?
2. Que barreiras existem que podem dificultar a sua participação num Pequeno
Grupo?
3. Você estaria disposto a ser um líder de um Pequeno Grupo? Que tal conversar
com seu pastor sobre isso?
4. Você estaria disposto a chamar outras pessoas para formarem um Pequeno Grupo?
Quem seriam estas pessoas?
5. Qual é, na sua opinião, o maior benefício de um Pequeno Grupo?
38

AULA 08
PLENITUDE DO ESPÍRITO E VIDA FAMILIAR
Texto básico: Efésios 5.18–6.4

Introdução: A família é, com toda a certeza, uma das instituições mais bombardeadas
da atualidade. Há quem diga que a família é uma instituição falida. Outros afirmam que
a família tradicional não tem mais lugar no mundo pós-moderno. Apesar de todos esses
ataques malignos, nós cremos na família como instituição de Deus e bênção eterna para
a humanidade. Cremos que Deus criou uma família perfeita no Éden que foi corrompida
pelo pecado, mas que em Cristo tem recebido graça para lidar com os desafios, ser feliz
e bem-sucedida. Esta revista irá abordar várias questões relacionadas à família, como os
papéis do esposo, da esposa e dos filhos na família, o lugar da comunição, finanças e sexo
no casamento, e também a questão do divórcio e novo casamento. Todos estes assuntos
serão abordados à luz daquilo que Deus nos revelou em sua Palavra. Nesta primeira lição,
trataremos acerca da plenitude do Espírito Santo na vida familiar.

I. Princípios bíblicos gerais

A. Garantia

Ser um cristão não é garantia de um casamento feliz. Infelizmente, algumas igrejas


comprometidas com a teologia da prosperidade fazem promessas quanto ao casamento
que vão além daquilo que Deus nos prometeu em sua Palavra. A felicidade e o sucesso
de um casamento não dependem de ritos, correntes de oração ou simples determinações
verbais. Ir à igreja e frequentá-la regularmente, por si só, não faz do casamento uma
bênção.

Diante de tanta confusão nos casamentos, é preciso lembrar que é na Bíblia que
encontramos instruções seguras e preciosas acerca do casamento, tanto para os maridos
quanto para as esposas, e também para a criação dos filhos (cf. Ef 5.22, 25; 6.1-4). A
continuidade e estabilidade da paz e da felicidade no casamento depende do cumprimento
e obediência das instruções e mandamentos que Deus determina em sua Palavra.

B. Dificuldades

Contudo, ser comprometido com o padrão bíblico de casamento pode gerar ainda maiores
dificuldades. Aqueles que amam a Deus e sua Palavra irão perceber que aplicar os ensinos
bíblicos ao casamento não é algo fácil.

Para grande parte dos descrentes os problemas no casamento são resolvidos com base no
divórcio. Mas os cristãos sabem que Deus odeia o divórcio (Ml 2.16) e, portanto, deverão
empregar todos os esforços para manter o casamento, tais como renúncia e reconciliação.

C. Família e fé

Família não é um assunto à parte da nossa fé. Há cristãos que separam a sua fé do modo
como vivem em família. Ou seja, uma coisa é o que creem, outra é o que vivem. Essa é
39

uma visão extremante equivocada. Os cristãos devem orientar seu casamento de acordo
com os princípios revelados por Deus em sua Palavra. Portanto, as regras práticas para o
casamento e a família (Ef 5.18–6.4) não devem ser dissociadas da doutrina cristã. Como
veremos, somente uma compreensão adequada da relação entre Cristo e a sua Igreja nos
ajudará a ter um casamento feliz.

D. O conceito bíblico de casamento

O conceito bíblico de casamento é único e diferente de todos os demais. O casamento é


uma instituição divina, algo criado e ordenado por Deus para a bênção da raça humana.
A igreja de Jesus Cristo, mesmo vendo com tristeza todas as mudanças nos valores da
sociedade quanto ao casamento, guia-se pelos padrões de Deus revelados na sua Palavra,
que são valores santos, estáveis e imutáveis (Sl 119.160; Mt 24.35).

II. A família no contexto do Espírito

A. A raiz dos problemas na família

Todos os cristãos podem ser cheios do Espírito Santo. Podemos começar a ser cheios dele
colocando em ordem o nosso casamento e relacionamento com os filhos. O modo como
vivemos para Deus e como nos relacionamos com ele afetam diretamente a nossa família.

A raiz da infelicidade de muitos casamentos está na dureza do coração, como disse Jesus
(Mt 19.8). As frequentes exortações de Paulo para que os maridos amem suas mulheres,
e estas sejam submissas a eles, indicam que os cristãos casados devem estar sempre alerta
contra o egoísmo, a rebeldia e o orgulho que inundam os seus corações (Jr 17.9; Mt 15.19;
Pv 4.23). As pessoas encontram as mais variadas justificativas para se divorciar como
incompatibilidade de gênios (a mais comum), falta de comunicação, problemas
financeiros (muito comum também), problemas sexuais (como se tudo de resumisse
nisso) e, “o amor acabou…”. Mas o grande problema que leva o casamento ao fim é o
pecado da dureza do coração, a nossa carne – a velha natureza (Tg 4.1; Gl 5.19-21) e a
falta de andarmos diariamente no Espírito (Gl 5.16; Ef 5.18).

B. Educação e cultura no casamento

Educação e cultura não são suficientes para fazer um casamento feliz. Uma pessoa pode
ser muito educada e muito culta, mas se ela não tiver a ação do Espírito sobre a sua vida,
nada disso pode assegurar a felicidade do seu casamento. Educação, cultura e
conhecimento são coisas boas e devem, quando possível, ser adquiridas. Mas elas não
substituem o poder do Espírito Santo, que habilita duas pessoas pecadoras e diferentes a
viverem felizes, por muitos anos, debaixo do mesmo teto. Casais cristãos não estão livres,
de maneira alguma, de passar por lutas e dificuldades, mas é o poder do Espírito que os
ajudará a vencer tais desafios e serem vitoriosos (Jo 16.33). É pela maravilhosa graça de
Jesus que os casais, mesmo os mais simples, com pouco ou nenhuma cultura, conseguem
ser muito felizes (Sl 69.13-14).
40

C. Não dependa de você mesmo

Não devemos depender de nossas próprias forças. Manter um casamento a vida toda é
uma luta diária, não é algo fácil e jamais o será. Qual marido consegue, com suas próprias
forças, amar a sua esposa como Cristo amou a igreja? Qual esposa consegue, por si
mesma, ser submissa ao marido em humildade? Quais pais conseguem criar bem os seus
filhos, ou quais filhos conseguem obedecer aos seus pais em todo o tempo? A reposta é:
nenhum!

Somos pecadores e incapazes de obedecer aos mandamentos do Senhor por nossa própria
vontade ou força. Devemos depender da ação do Espírito Santo sobre nós, moldando-nos
cada dia mais à imagem de Jesus Cristo. Veja o que a Escritura afirma: “E todos nós, com
o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”
(2Co 3.18).

Precisamos ser pessoas cheias do Espírito Santo, controladas e capacitadas pelo Espírito
Santo, para podermos obedecer a Deus no que diz respeito à família e, consequentemente,
ter um lar feliz e duradouro.

III. Espiritualidade e felicidade no lar

A vida no Espírito é o estilo de vida adequado ao casamento. Uma pessoa cheia do


Espírito Santo é de fácil convívio, alegre, aberta; ela ama, é uma pessoa que está
procurando o bem dos outros. Não há nada melhor para um casamento do que um alto
nível de vida espiritual. Aquele que está cheio do Espírito produz o fruto do Espírito (Gl
5.22-25). Neste sentido, vejamos quais são as características do fruto do Espírito e como
elas se aplicam ao casamento.

A. Amor

Muitos confundem o amor no casamento com atração física ou companheirismo, embora


estes tenham o seu lugar. O amor do qual Paulo está falando é o mesmo amor de Cristo
pela sua igreja – é um amor profundo, santo e incondicional. Ninguém consegue amar
dessa maneira se não for pela ação sobrenatural do Espírito. Talvez seja por isso que
casais que não vivem uma vida espiritual profunda não consigam desfrutar dessa
dimensão do amor conjugal. Para aqueles que estão cheios do Espírito Santo, amar não é
um problema (Ef 5.25).

B. Alegria e paz

O Espírito Santo é a única e verdadeira fonte de alegria e paz. A “alegria” e a “paz”


produzidas pelo dinheiro, sucesso, bens e fama são falsas e passageiras. A verdadeira
alegria e paz que fluem dentro de um lar cristão são produzidas por pessoas que estão
cheias do Espírito. Uma família pode ser muito carente, ter uma casa simples e pouca
cultura, mas se estiver cheia do Espírito certamente desfrutará de alegria e paz incontáveis
(Jo 14.27).
41

C. Longanimidade, benignidade e bondade

Essas três características do fruto do Espírito estão relacionadas. Longanimidade significa


paciência. É somente o Espírito Santo que nos dá aquela paciência necessária para
aceitarmos e superarmos as nossas diferenças no lar. É ele quem nos controla nos
momentos de tensão. Benignidade e bondade são características semelhantes. Elas se
manifestam na atitude de buscar o bem da outra pessoa, seja do marido, da esposa ou dos
filhos. É o Espírito Santo quem nos capacita a desejar e a fazer o bem em nosso lar (Cl
3.12).

D. Fidelidade

Essa é a qualidade de alguém em quem podemos confiar sempre. Manter-se fiel nos dias
de hoje está cada vez mais difícil, principalmente num tempo de tanta traição e adultério.
Ninguém consegue se manter fiel ao cônjuge durante toda a sua vida se não for pela
graciosa ação do Espírito Santo, conforme ensinou Jesus (Mt 5.28).

E. Mansidão e domínio próprio

Ser manso significa agir com gentileza de atitude, em contraste com a grosseria. Mansidão
também tem que ver com o falar de forma suave e jamais levantar a voz para outra pessoa.
Mansidão é aquela capacitação do Espírito Santo para suportarmos com gentileza e
paciência as provocações que surgem no contexto da vida, especialmente no casamento.
Mansidão para suportar a ironia, o sarcasmo, os gritos, os acessos de raiva e as
incompreensões é fruto do Espírito. Ao mesmo tempo, somos chamados a ter domínio
próprio. Isso significa capacidade de autocontrole (Tg 3.13). De todas as qualidades
necessárias para que haja um casamento feliz, talvez essa seja a mais essencial. O nosso
coração só pode ser domado pela ação sobrenatural do Espírito Santo agindo em nós.

Conclusão: Como vimos, para que alguém possa fazer do seu lar um lugar feliz e
abençoado é necessário estar cheio do Espírito Santo (Ef 5.18). Ninguém, por si só, seja
por meio do dinheiro e/ou dos bens, é capaz de fazer do seu lar um lugar feliz. A felicidade
e a durabilidade do casamento dependem da ação do Espírito. Estar cheio do Espírito
significa produzir o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.

Aplicação: Estar cheio do Espírito significa ler a Bíblia e orar todos os dias. Ore
intensamente por consagração espiritual. Ore com todo o fervor por sua família.
Busquem, com todas as forças, realizar o culto doméstico. Isso fortalece a família em
termos espirituais e de comunhão. Procure servir ao Senhor na igreja, com toda a sua
família. Envolva a sua família nas atividades da igreja, como escola bíblica dominical,
culto, estudo bíblico, reunião de oração, encontros de casais, acampamentos, passeios.
Faça tudo o que estiver ao seu alcance para que toda a família sirva ao Senhor (Js 24.15).

Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Nossa Fé -– A Bíblia
e a Sua Família.
42

AULA 09
O MITO DO CASAMENTO PERFEITO
LIDANDO COM AS ILUSÕES SOBRE A VIDA CONJUGAL

Introdução: Não é nenhuma novidade de que todas as pessoas entram para o casamento
com algumas expectativas. Isso é normal. Porém, o que ocorre é que, geralmente, muitas
destas expectativas não são reais. Elas têm suas origens em heranças e valores familiares,
conversas com amigos, livros lidos, ideias próprias e também da sociedade e seus meios
de comunicação.

É extremamente importante refletir um pouco sobre este tema. Isso porque as expectativas
irreais nos relacionamentos familiares são responsáveis por grande parte dos problemas
e frustrações que atingem em cheio nossas famílias.

Precisamos encarar o fato de que mesmo construindo uma família segundo a orientação
de Deus, o casamento ainda não será perfeito. Como bem disse o Rev. Adão Carlos: “O
único homem que podia ser um marido perfeito não se casou. Este homem é Jesus Cristo,
e o casamento não fazia parte de sua missão neste mundo. A mulher que tinha maiores
probabilidades de ser uma esposa perfeita era Eva, antes de pecar. Mas ela se deixou
seduzir pela serpente, arrastou seu marido para o pecado e arruinou a humanidade.
Todos os maridos são imperfeitos. Todas as esposas são imperfeitas. Logo, não pode
existir casamento perfeito”.

Quais são suas expectativas em relação ao casamento? Será que estas expectativas são
realistas? Casar com expectativas irreais e não ter os pés no chão por certo trará muitas
desilusões no relacionamento conjugal.

I. AS TRÊS FASES DO CASAMENTO

1ª.) Fase do encantamento: Ocorre quando o casal se sente plenamente realizado e


absolutamente preenchido pelo outro. Nesta fase “o amor é cego”. A sensação é de
completude e totalidade. Nesta fase, nenhum dos dois enxerga o "Real", mas sim aquilo
que foi idealizado, sonhado, desenhado no tempo de namoro e noivado. Ela o vê como o
"príncipe", ele a vê como uma "princesa encantadora".

2ª.) Fase do desencantamento: É a fase da confrontação das expectativas irreais do


casamento, quando começamos a ver as diferenças entre as imagens que construímos do
outro e os seus lados sombrios no cotidiano.

É nesta fase que muitas pessoas se desesperam na tentativa de mudar o outro, afim de que
ele corresponda à imagem idealizada. Você não aceita como ele é. Neste momento as
pessoas são capazes de qualquer coisa: sufocam, oprimem, chantageiam, ameaçam,
castigam-se mutuamente.

3ª.) Fase da maturidade: Quando os dois, marido e mulher, conscientes do que significa
"Casamento", conseguem superar as fases difíceis e seguir juntos, pode-se chegar a um
momento de integração. Podemos dizer que os dois atingiram o equilíbrio entre a
43

individualidade e intimidade. Não existe mais disputa sobre o quanto é meu; quanto é seu
quanto é nosso, o que há é companheirismo, compromisso de amizade e comunhão.
É claro que as fases não são rígidas, com tempos definidos e sequência predeterminada,
com uma, necessariamente seguindo a outra.

II. EXEMPLOS DE MITOS OU DE EXPECTATIVAS IRREAIS

Casar com expectativas irreais e não ter os “pés no chão” por certo trará desilusões,
especialmente nos primeiros anos do casamento. Sem perceber, o cônjuge que possui
expectativas não comunicadas, baseia sua aceitação do outro na performance por ele
apresentada. Se um cônjuge age como o outro espera, ele é aceito. Caso contrário, haverá
frustração e briga. A performance se torna a “cola” que segura o relacionamento. Porém,
com o tempo, essa “cola” começa a se desgastar, desgrudar, especialmente quando
surgem as pressões, tensões e estresse da vida. Vejamos algumas dessas expectativas
irreais:

1) Em primeiro lugar, eu preciso encontrar a pessoa perfeita para me casar. Essa


pessoa não existe. Não viemos de uma família perfeita, não somos uma pessoa perfeita e
nem encontraremos uma pessoa perfeita. Além disso, essa ideia já parte de um
pressuposto errado, pois é uma afirmação tácita de que já somos uma pessoa perfeita e
que o nosso cônjuge é quem precisa se adequar a nós. Esse narcisismo é erro gritante.
Produz uma auto avaliação falsa e inevitavelmente deságua numa relação conjugal
adoecida.

2) Em segundo lugar, se meu cônjuge me ama nunca vai sentir-se atraído (a) por outra
pessoa. Há muitas pessoas que depois do casamento descuidam-se da sua aparência.
Esquecem-se de que o amor precisa ser constantemente regado e o relacionamento
constantemente cultivado. É sabido que os homens são atraídos por aquilo que veem e as
mulheres por aquilo que ouvem. Sendo assim, as mulheres precisam ser mais cuidadosas
com sua aparência física e os homens mais atentos às suas palavras. A mulher precisa
cativar constantemente seu marido e o marido precisa conquistar continuamente sua
mulher. Qualquer descuido nessa área pode ser fatal para a felicidade e estabilidade do
casamento.

3) Em terceiro lugar, se meu cônjuge casou-se comigo nunca vai esperar que eu mude.
Um cristão não pode adotar o slogan de Gabriela: “Eu nasci assim, eu cresci e eu vou
morrer assim”. A indisposição para mudança é um perigo enorme para a felicidade
conjugal. Não somos um produto acabado. Estamos em constante transformação. Somos
desafiados todos os dias a despojar-nos de coisas inconvenientes e a agregarmos valores
importantes à nossa vida. A acomodação no casamento é um retrocesso, pois num mundo
em movimento, ficar parado é dar marcha ré. A vida cristã é uma corrida rumo ao alvo.
Nosso modelo é Cristo e todos os dias precisamos ser mais parecidos com Jesus. Para
isso, precisamos abandonar atitudes pecaminosas e adotar posturas piedosas.
44

4) Em quarto lugar, se eu casar com uma pessoa crente, o meu casamento estará
seguro e feliz. Ser um cristão verdadeiro não é garantia de que o casamento e a família
darão certos. O erro do movimento de batalha espiritual ou da chamada “Teologia da
prosperidade” é o de achar que expulsar o demônio, amarrar espíritos, ungir fotografias,
é o caminho para um lar feliz. Casamento feliz é resultado de praticar os princípios da
Palavra. Obedecer a Deus.

5) Em quinto lugar, se meu cônjuge me ama, nunca vai discordar de mim. O casamento
não é a união de dois iguais. Homem e mulher são dois universos distintos. A ideia de
almas gêmeas é absolutamente equivocada. O impressionante do casamento é que, sendo
tão diferentes, homem e mulher são unidos numa aliança indissolúvel, para se tornarem
uma só carne. As diferenças existem, entretanto, não para destruir o relacionamento, mas
para enriquecê-lo; não para separar o casal, mas para complementar a relação conjugal.

6) Em sexto lugar, nosso relacionamento sexual será sempre romântico e cheio de


prazer. Na prática, nem sempre é assim. O relacionamento sexual exige compromisso e
tempo de aprendizagem. O sexo não pode ser separado de outras áreas do casamento. A
relação física começa pela manhã, quando o casal se despede para um dia de trabalho. As
tensões surgem quando o casal não reconhece que o sexo, além de ser uma experiência
física, é também mental, emocional e espiritual.

7) Em sétimo lugar, sinais de fracasso no casamento são fáceis de serem detectados.


Um dos grandes perigos é que os casais enfrentam uma separação gradual e sutil. O
fracasso conjugal é um processo, não um ato. O caos não acontece da noite para o dia.

III. O QUE FAZER PARA TER UM CASAMENTO REAL.

1) Aceitar a verdade bíblica de que você é uma pessoa pecadora, casada com um
pecador. I Tm 1.15

Aceite a realidade e coloque os pés no chão. É preciso ter uma compreensão bíblica da
pessoa com quem estamos casados. “A maioria dos problemas que enfrentamos no
casamento não é intencional nem pessoal. Na maioria das situações matrimoniais, você
não é confrontado com dificuldades porque seu cônjuge teve a intenção de dificultar sua
vida. Isso pode ser em algumas vezes. Mas na maior parte, você está sendo afetado pelos
pecados, fraquezas, e falhas da pessoa com quem está vivendo.

Egoísmo, insensível, ciúmes, amargura, ira, orgulho, grosseria, gritaria, etc. Gálatas
5.16-21; Tiago 4.1

2) Lembre-se de que você está vivendo num mundo caído.

Vivemos nosso casamento num mundo que as coisas não funcionam direito. Sofremos
os efeitos de um mundo danificado. I Pe 1.6,7
45

3) Olhe para os fracassos do seu cônjuge como uma oportunidade de ministério.

Deus está dando a você a chance de servir a Ele, ajudando na transformação de seu
cônjuge. Não deixe esta oportunidade lhe escapar. Não transforme a oportunidades de
servir a Deus e a seu cônjuge em momentos de irritação. Trabalhe em favor de seu cônjuge
e não contra ele. Ef 5. 26-28

4) O casamento é a oportunidade de você mesmo ser transformado.

Deus deseja usar as dificuldades para moldar você. Para ilustrar, dou apenas três pequenos
exemplos:

a. Pense na lista que Paulo cita em Gl 5.22,23. Quantos destas expressões e


manifestações do Espírito Santo, você precisa praticar em seu relacionamento
conjugal? Amor, alegria, longanimidade, benignidade e mansidão, fidelidade.

b. Pense em um lar cheio de conflitos. Deus pode estar querendo lhe ensinar a ser
um pacificador (Mt 5.9).

c. Pense em algo que seu cônjuge lhe fez e lhe feriu. Paulo diz que devemos perdoar
os nossos devedores. Cl 3.13

5) “Você precisa viver seu casamento com uma mentalidade de ceifa”. Gl 6.7

Se desejamos viver um relacionamento harmonioso em nosso lar, precisamos ter em


mente que nossos atos sempre nos trarão consequências. Existe uma relação natural entre
as sementes que plantamos e os frutos que colhemos. Vivemos e colhemos tudo aquilo
que plantamos, quer seja em palavras ou em atitudes. Tudo o que fazemos reflete em
nossas próprias vidas. Colhemos exatamente aquilo que plantamos. Se você planta
carinho, vai colher carinho. Mas se você planta ira, vai colher incompreensão. Ilustração:
dois cachorros numa casa cheia de espelhos.

CONCLUSÃO: Os cônjuges que acreditam no mito do casamento perfeito acabam


fazendo cobranças exageradas de si mesmo ou do outro, com o objetivo de atingir a
perfeição. Isso gera um clima de grande insatisfação e eles ficarão sempre frustrados. O
relacionamento vai se deteriorando. Além disso, aqueles que já passaram para a família
ou para a comunidade a imagem de casal perfeito correm o sério risco de assumir uma
postura hipócrita para manter tal imagem. Por isso, você tem a opção de mudar sua
perspectiva quanto à realidade de seu casamento.

Devemos lutar por um bom casamento; um casamento real e não um imaginário.


46

AULA 10
O CULTO DOMÉSTICO
“Se o Senhor não edificar a casa,
em vão trabalham os que a edificam...” Salmo 127.1

Introdução
A família não é o produto de uma necessidade ou convenção social, nem uma invenção
cultural moderna e descartável. A Bíblia apresenta a família como uma instituição que
nasceu no coração de Deus desde a Criação, como fonte de bem-estar para o ser humano.
A família foi sabiamente planejada por Deus (Gn 2.24). Você, certamente, já deve ter
ouvido esta frase: “famílias fortes, igrejas fortes”. Em outras palavras, somente teremos
igrejas fortes com o fortalecimento das famílias.

A saúde espiritual da igreja depende muito do que


acontece dentro do lar.

O puritano Richard Greenham declarou que “se queremos que a igreja de Deus continue
em nós, devemos trazê-la a nossa casa e nutri-la em nossas famílias”.20

A DIFÍCIL REALIDADE DE ALGUMAS FAMÍLIAS

A família é muito importante, mas infelizmente, há aqueles, que por razões diversas, não
investem em suas famílias. Há pessoas que cuidam mais da casa, do carro, do seu próprio
lazer, mas negligenciam o cuidado com a família. Em quantos lares cujos negócios vão
bem, e eles mesmos vão mal. Quantas casas limpinhas e bem arrumadas, onde moram
famílias que estão se desintegrando. Quantos executivos que dirigem bem suas empresas,
mas que não conseguem dirigir bem o seu lar.

Em muitos casos, as pessoas, mesmo morando na mesma casa, se comportam sem


vínculos familiares, cada qual com sua própria vida. Vivem dispersas e alheias, cada um
com sua vida, seus projetos, sonhos e, muitas vezes, suas próprias crenças.

Há brigas dentro de casa por causa de dinheiro. Há casamentos frustrados. Maridos e


esposas que vivem debaixo do mesmo teto, fazem suas refeições juntos, dormem lado a
lado na mesma cama, mas experimentam solidão. Existem casais que acabam se

20
Citado por Leland Ryken. Santos no Mundo. Editora Fiel. São José dos Campos, SP: 1992. p.99
47

envolvendo em relacionamentos fora do casamento, gerando cada vez mais


distanciamento e frustração entre os casais.
Há lares onde os filhos são irreverentes e indiferentes aos pais. Há brigas constantes entre
os membros da família. Não bastasse tudo isso, considerando a evolução dos costumes e
das leis, estamos vendo que em várias partes do mundo estão sendo aprovadas leis para
legitimar a chamada “família homo afetiva”, ou seja a formação da família por pessoas
do mesmo sexo.

No entanto, é importante deixar claro que problemas familiares existem desde que a
família existe. Basta olhar para a primeira família, e ali já vemos a dificuldade do marido
e mulher em assumirem a culpa pelo erro cometido. Um tentando empurrar a culpa para
cima do outro.

Não podemos perder de vista que a família é um projeto divino, nasceu no coração e na
mente de Deus. Como inverter este triste quadro e transformar o lar em um exemplo mais
vívido dos propósitos de Deus?

VIDA ESPIRITUAL E CULTO EM FAMÍLIA

Temos que ter em mente que casamento, criação de filhos, vida financeira, não são
assuntos que devam ser tratados à parte de nossa fé (Efésios 5.18 - 6.4). Não podemos
dissociar espiritualidade da vida familiar. O culto doméstico é um excelente caminho se
queremos renovar a nossa família. Esta prática no lar é o cimento armado, o alicerce
seguro que não pode ser esquecido, se de fato queremos uma casa edificada solidamente.

Não é suficiente que oremos em particular como indivíduos, em privado, em nossas casas,
mas que também adoremos a Deus conjuntamente com nossas famílias. Ao menos uma
vez na semana, toda família cristã deveria se reunir para adorar ao Senhor; pais, filhos,
esposas, mães e irmãos. Precisamos nos reunir para dar graças a Deus pelas bênçãos
derramadas sobre nossos queridos, para buscar ajuda na solução de problemas que
normalmente afligem aos lares, para confessar pecados, para orientar nossos filhos
adolescentes, etc. As vantagens e bênçãos da adoração em família são inumeráveis.

Primeiro, a adoração em família irá prevenir de muitos pecados. Alimenta a alma e


comunica um sentido da majestade de Deus, coloca verdades solenes na mente e nos faz
ver as bênçãos de Deus sobre o lar. A piedade pessoal vivenciada no ambiente doméstico
é um instrumento poderoso para transmitir a piedade aos nossos filhos, e como sabemos,
as crianças são facilmente influenciáveis pelo exemplo:

Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em


Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos,
a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de
nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus
descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e não se
48

esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os


mandamentos; e que não fossem, como seus pais, geração
obstinada e rebelde, geração de coração inconstante, e cujo espírito
não foi fiel a Deus. (Sl. 78:5-7)

A adoração em família é um meio poderoso e eficaz para dissipar as discórdias, dar


sabedoria para a tomada de decisões em situações conflitantes, prepara o ambiente
doméstico para o diálogo e o conhecimento melhor uns dos outros e um melhor
relacionamento entre pais e seus filhos adolescentes. É indiscutível. A adoração em
família, mais até, do que a adoração privada, traz benefícios para toda a casa.

“Porém, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei, hoje, a quem


sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam
dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra
habitais. Eu e minha casa serviremos aos Senhor” Josué 24.15

Foram os Puritanos quem criaram o lema: “Cada casa uma pequena igreja”. Eles
defendiam que o pai deve ser o sacerdote do lar tal como o pastor de uma igreja. O pai
deve liderar os membros da família a adorar a Deus em casa. Os filhos devem aprender o
temor a Deus, pelo exemplo e o ensino dos seus pais. Foi também um puritano quem
disse: “Uma família sem oração é como uma casa sem teto, aberta e exposta a todas as
tormentas do céu”

Deus ordena aos pais crentes que transmitam a Palavra aos seus filhos. A fé começa em
casa. É no ambiente familiar que aprendemos a orar, louvar e ler a Bíblia. Pais crentes
precisam influenciar espiritualmente os seus filhos. Pois, quando os lares cristãos são
fortes, a igreja é forte e influenciadora.

OBJEÇÕES OU DIFICULDADES ALEGADAS PARA O CULTO DOMÉSTICO

Não obstante ser tão claro na Bíblia a importância de se fazer o culto em família, ainda
podemos encontrar pessoas que tentam justificar21 porque não fazem o culto doméstico:

1. Trabalho demais e não tenho tempo para realizar o culto em família: Sem dúvida,
quem mora nas grandes cidades, tem muitas atividades. Mas por mais difícil e lotada que
seja nossa agenda, se houver esforço para priorizar um tempinho junto com sua família
em adoração, certamente conseguiremos realizar o culto doméstico. Outra coisa é que se
temos tempo para recreações e diversões, por que não conseguiríamos tempo para a
adoração em família?

2. Todo mundo tem horário diferente de trabalho e estudo e nunca estamos todos
juntos em casa: Se temos agendas conflitantes, então devemos fazer um esforço para
harmonizá-las. Podemos cancelar algumas atividades que não são tão importantes quanto
21
http://www.monergismo.com/textos/adoracao/CultoDomestico_Beeke.pdf
49

o culto doméstico. Podemos quem sabe fazer dois, três cultos se for preciso para alcançar
todos. Se em um dos cultos você não puder estar presente, delegue sua esposa ou um dos
filhos para realizar.

3. Chego cansado do trabalho e não tenho forças para fazer o culto doméstico:
Entendo e compreendo esta dificuldade mas gostaria que você mesmo assim se
esforçasse. Lute para que Deus seja adorado em sua casa. Peça-lhe força e disposição.
Dr. Joel Beeke: “Se Jesus não estava muito cansado ao ponto de morrer por você, você
não deveria ficar muito cansado para viver para Ele”.

4. Meu cônjuge não é crente: Talvez essa seja uma das maiores dificuldades. No entanto,
ore a Deus para lhe dar sabedoria. Chame seu cônjuge para participar. Se ele não quiser,
faça com seus filhos, mesmo que no começo haja resistência. Chame um dos presbíteros
para fazer um culto doméstico com sua família. Não desista deles. Veja que o que está
em jogo é se vão adorar outros deuses ou vão adorar a Jesus.

5. Não sei ensinar e nem liderar um culto doméstico: Simples, peça para o pastor, ou
um dos presbíteros da sua igreja para lhe ensinar. George Whitefield: “o coração
corretamente motivado não requer habilidades incomuns para realizar o culto doméstico
de maneira decente e edificante”. E o mais importante, peça ao Espírito Santo para Lhe
mostrar como fazê-lo, e assim a boca fala daquilo que está cheio o coração. Como afirma
Provérbios 16.23: “o coração do sábio é mestre de sua boca e aumenta a persuasão nos
seus lábios”.

BENEFÍCIOS DO CULTO DOMÉSTICO

Como vimos na sessão anterior, são muitos os obstáculos que precisamos vencer para
reservar um momento adequado em nossa casa para a adoração ao Senhor em família.
Vejamos alguns benefícios que o culto em família pode nos trazer:

1) O culto em família nos dá mais disposição para enfrentarmos as atividades diárias


com um coração mais alegre (Colossenses 3.17).
2) O culto em família nos dá força e paciência para enfrentarmos as adversidades, o
desânimo e as frustrações da vida (Hebreus 2.18).
3) O culto em família nos torna mais conscientes, no decorrer do dia, da presença de
Deus e nos ajuda a vencer pensamentos impuros e outros inimigos da nossa
espiritualidade, que porventura possam nos atacar (Filipenses 4.4-7).
4) O culto em família incentiva a paz no lar, suavizando as asperezas do
relacionamento no lar e enriquece grandemente o convívio em família. (Efésios
6.1-9).
5) O culto em família ajuda a manter os filhos na fé (II Timóteo 3.15-17).
6) O culto em família reforça o trabalho pastoral e, além disso, estimula em muito a
participação na Igreja. (Romanos 15.6-7.)
7) O culto em família faz de um lar exemplo e estímulo a outros lares, para que
tenham a mesma vida de devoção e adoração a Deus. (Atos 2.46,47).
50

CONCLUSÃO

Família bem-sucedida não acontece por acaso. Não podemos colocar a família no piloto
automático. Ser um cristão genuíno não é garantia de que o casamento e a vida familiar
darão dar certo. “A grande diferença entre um lar seguro e estável e um lar desmoronando
não está na ausência de lutas, mas sim no terreno onde suas raízes foram fincadas. ” Nossa
casa não precisa de quadros evangélicos, Bíblias abertas ou de palavras bonitas na porta,
nosso lar precisa de Jesus, pois somente Ele pode estruturar a nossa família. ”Se o Senhor
não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam. ” Sl 127.1

Dr. Howard Hendricks conta a história22 do pregador inglês Richard Baxter. Durante três
anos este homem altamente capacitado por Deus pregou de todo o seu coração a um povo
rico e sofisticado, mas sem resultados visíveis. Finalmente, Baxter clamou a Deus:
"Senhor, faz algo por este povo ou então eu morro."

Conforme relato do próprio pregador, foi como se Deus tivesse respondido em voz bem
alta e recomendado a ele: "Baxter, você está trabalhando no lugar errado. Está esperando
que o avivamento venha através da igreja. Tente pelo lar." Baxter começou a visitar os
lares, ajudando famílias a organizarem um "altar familiar", até que o Espírito Santo ateou
fogo naquela congregação e fez dela uma igreja forte.

Aplicando o ensino:

1. Coloque no seu coração o propósito de realizar o Culto Doméstico pelo menos uma
vez por semana.
2. Escolha o melhor dia e horário onde se possa reunir o máximo possível de pessoas da
sua família.
3. Desligue a televisão, os aparelhos de celulares e não permita que nada venha distrair a
família nesse momento.

22
http://www.monergismo.com/textos/adoracao/CultoDomestico_Beeke.pdf
51

AULA 11
MEU FILHO, MEU DISCÍPULO
Texto básico: Deuteronômio 6.4-9, 20-25

Introdução

Em sermão pregado em Massachussets, em 1811, Samuel Worcester disse que, “Em todos
os relacionamentos da vida necessitamos de uma grande medida da graça de Deus para
executar muitas das várias obrigações de nossos deveres relacionais; mas dificilmente
precisamos de mais graça divina do que para ser pais e chefes de família. Ter filhos a
nosso cargo, para serem criados para Deus e para a glória eterna em seu reino, é
certamente uma situação de alta responsabilidade, cujos deveres não são desempenhados
sem grande sabedoria, diligência e piedade.”

I. Criar filhos na admoestação do Senhor

Criar filhos para Deus e para a glória eterna é uma responsabilidade da qual só damos
conta pela graça de Deus. É ele quem nos habilita a cumprirmos esses compromissos com
seriedade e dignidade. É Deus quem nos dá sabedoria para que a admoestação do Senhor
seja regra de vida prática na vida de nossos filhos.

Para bem desempenharmos nossos deveres para com nossos filhos, devemos ter uma fé
viva nas promessas graciosas da aliança para que, ao entregá-los a Deus no batismo, a
entrega seja total e para, daí em diante, termos firme confiança na bênção de Deus sobre
eles.

Essa fé não é uma confiança vã de que o Senhor os salvará, quer sejamos fiéis ou não.
Pelo contrário, é um reconhecimento tal da promessa e da fidelidade de Deus, que
seremos constantemente induzidos a olhar para Deus e depender humildemente da sua
graça. É uma fé que honra a Deus e atribui toda a glória da nossa salvação e da salvação
de nossos filhos às riquezas da misericórdia de Deus.

Nossa preocupação com a salvação de nossos filhos é diretamente proporcional à nossa


fé e piedade. Quanto maior, mais nos dedicaremos à oração por nossos filhos, e à
instrução deles.

Nosso ponto de partida na criação de filhos é a Palavra de Deus. Daí podemos escolher
uma variedade de métodos e ideias que vão nos ajudar a cumprir nosso propósito. É
necessário, entretanto, cuidado para não fazer do método escolhido uma camisa de força,
nem depositar no método escolhido uma confiança inadequada. É preciso ter sempre em
vista as promessas e exigências pactuais, pois elas nos tornam gratos a Deus e
dependentes dele.

Ao examinarmos a Bíblia, verificamos que são poucas as instruções específicas de como


os pais devem agir na esfera da aliança. O modelo pactual passa um conjunto de princípios
52

fundados na verdade e um modo de vida baseado nessa verdade. Esse modelo abrange a
vida como um todo. Trata-se mais sobre quem somos, do que sobre o que fazemos. Trata-
se mais da vida que vivemos diante de nossos filhos, do que das regras que forçamos
nossos filhos a seguir.

a. O que significa criar

Há muito engano hoje a respeito da palavra criar. Para muitos homens, criar filhos
significa sustentá-los financeiramente até que eles consigam emprego e passem a pagar
as próprias despesas. Criar para eles é basicamente dar comida, sustento, educação e
emprego para os filhos.

A Bíblia não conhece uma criação de filhos limitada apenas à alimentação do corpo, mas
a que traz consigo a idéia de nutrir, sustentar, prover, em todas as áreas, na área material,
na área psicológica, na área intelectual e especialmente, no relacionamento com Deus.

Particularmente, cremos que a mais importante tarefa que os pais crentes têm nesta vida
é criar os filhos nos caminhos do Senhor. Ensinar os filhos a conhecer a Deus é mais
importante do que educá-los física e intelectualmente. Aliás, a verdadeira cultura e o
verdadeiro conhecimento são precedidos pelo conhecimento de Deus e de nós mesmos.
O modelo cristão de criação de filhos fundamenta-se em educar os filhos nos caminhos
do Senhor nosso Deus, utilizando-se para isto de todos os recursos válidos (ver Gn 18.19;
Dt 4.9; 6.7; etc.). Os pais devem inculcar diariamente aos seus filhos todos os preceitos
do Senhor. Deixar de fazê-lo seria, por contraste, negligenciá-los ou deixá-los entregues
a si mesmo. Filhos entregues a si mesmos são órfãos de pais vivos.

b. O que significa disciplinar

A Palavra de Deus diz que devemos criar os filhos na disciplina e na admoestação do


Senhor. A palavra disciplinar (paideia) empregada por Paulo é usada no Novo
Testamento no sentido de “treinar”. No grego antigo, significava treinar uma pais, criança
em grego. Aqui nós já vemos então algo muito importante quanto à disciplina de filhos.
Disciplinar não é descarregar sobre eles a nossa ira e frustração pelo que fizeram, mas
corrigi-los com o fim de treiná-los. Qualquer disciplina que é feita sem este propósito não
é disciplina, segundo a Palavra de Deus, mas é provocar os filhos a ira. Se vamos corrigir
fisicamente o nosso filho, devemos fazê-lo com a consciência de que o estamos treinando,
para que ele aprenda a diferença entre o certo e o errado – e tudo isto para o bem daquela
criança. A disciplina pode ser feita verbalmente, mas o conceito envolve particularmente
a correção física.

Para muitas pessoas amar os filhos e discipliná-los fisicamente são duas coisas
incompatíveis. Para elas, quem ama não faz isso. Punir os filhos fisicamente é sinônimo
de agressão e ódio, nunca de amor. Mas há vários textos da Palavra de Deus,
especialmente no livro de Provérbios, que nos mostram os benefícios para nossos filhos
de usarmos a correção física: “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara
da disciplina a afastará dela” (Pv 22.15); “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o
que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 13.24); “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a
criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe. Corrige o teu filho, e te dará
descanso, dará delícias à tua alma” (Pv 29.15,17).
53

Notemos ainda que Paulo diz que devemos criar os filhos na “disciplina do Senhor”. Esta
expressão significa a disciplina que vem do Senhor. Isto quer dizer que é o Senhor Jesus
quem na verdade deseja disciplinar os nossos filhos – nós somos instrumentos dele e
devemos nos colocar nas suas mãos para que, por nosso intermédio, ele ensine os nossos
filhos no caminho em que devem andar.

c. O que significa admoestar

Paulo menciona não só a disciplina, mas também a admoestação do Senhor. Admoestar


também traz a ideia de corrigir, embora não necessariamente de forma física. É corrigir
os pensamentos e ideias da criança.

O instrumento pelo qual isso é feito, é a Palavra de Deus. Ela é o instrumento divinamente
ordenado para orientar a criança na formulação correta das suas ideias, na aquisição de
valores corretos que vão servi-la até o fim da vida. A ideia contida neste termo é que nós
devemos, não apenas disciplinar fisicamente uma criança, mas conversar com ela e
colocar as suas ideias em ordem. Admoestar a criança no Senhor significa mostrar-lhe
pelo diálogo, instrução e encorajamento quais as implicações espirituais de suas atitudes,
como as promessas e advertências de Deus se aplicam à sua vida. Os pais são
instrumentos do Senhor deste aspecto também.

II. Ensinar a criança

“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se
desviará dele.” (Pv 22.6). Há três palavras nesse versículo que exigem especial atenção:

1ª) Ensina. A palavra hebraica para “treinar” é hanak. Em geral é traduzida como
“dedicar”, mas uma tradução mais precisa seria “iniciar”. É quase certo que se refira a
uma ação comunitária.

2ª) Criança. Apesar de hanak referir-se quase certamente a uma ação comunitária, o
versículo não diz ‘treina as crianças’ (no plural). Esse treinamento exige conhecimento
da singularidade de cada criança e sabedoria para encontrar métodos e estilos apropriados.

3ª) Caminho. O contexto de Provérbios 22.6 é o contexto do livro todo de Provérbios, que
é parte da Literatura de Sabedoria do Antigo Testamento. Portanto, esse versículo refere-
se ao caminho da sabedoria. A ideia essencial dos escritos de sabedoria da Bíblia é a de
uma forma de pensar e atitude a respeito das experiências da vida, incluindo assuntos de
interesse geral e de moralidade básica.

Está refletido nos ensinos do Antigo Testamento o ensino de um Deus pessoal, que é
santo e justo, e que espera que aqueles que o conhecem mostrem seu caráter nos muitos
afazeres práticos da vida. Portanto, a sabedoria hebraica não era teórica e especulativa.
Era prática, baseada em princípios revelados de certo e errado, para serem vividos no
cotidiano.

A Palavra declara categoricamente que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e


o conhecimento do Santo é prudência” (Pv 9.10). O uso do nome Senhor, o nome pessoal
de Deus mais intimamente associado ao pacto, indica que o caminho da sabedoria é o
54

caminho da vida pactual entre o povo de Deus. Paulo se vale dessas ideias em sua carta à
igreja de Éfeso: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina
e na admoestação do Senhor” (Ef 6.4). A palavra traduzida por disciplina (instrução, na
NVI), vem da palavra grega paideia, que significa disciplinar, punir e corrigir. Instrução,
do grego nouthesia, compreende admoestação, instrução e aviso.

Necessário, portanto, estudar cada criança para descobrir como Deus criou a sua
individualidade. Precisamos orar por sabedoria para canalizar e expandir as inclinações
naturais da criança, sem restringir seu modo de ser. É preciso respeitar a maravilhosa
criatividade de Deus ao criar cada criança para as coisas que ele mesmo propôs para cada
uma delas.

Há muitas maneiras de se pôr esse princípio em prática, tais como:

1. Ler o livro de Provérbios com frequência e escolher um provérbio por semana


para ser decorado durante o culto doméstico, aplicando o verso às experiências de
vida da criança ou adolescente. Por exemplo: “A resposta branda desvia o furor,
mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15.1); “Até a criança se dá a conhecer pelas
suas ações, se o que faz é puro e reto” (20.11); “Confia no Senhor de todo o teu
coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os
teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas” (3.5,6).
2. Desligar a televisão e ler histórias bíblicas para as crianças, de modo que elas
conheçam bem esses personagens e eventos. Pode ser planejada uma
dramatização dessas histórias em reuniões de família.

III. Mostrar e falar

O livro de Deuteronômio é um manual de sobrevivência familiar e nacional. É o registro


dos discursos de despedida de Moisés aos israelitas, antes de sua morte e tomada de posse
da terra prometida sob a liderança de Josué. O povo estava às margens dessa terra habitada
por nações mais fortes e mais numerosas, mas Moisés não vacilou. Sua mensagem era
cheia de esperança baseada nas promessas de Deus. Moisés deu instruções baseadas nos
mandamentos de Deus.

Considerando Deuteronômio 6.1-9,21,24, observa-se que o povo de Deus deveria amar o


Senhor de todo o coração. Deveria obedecer suas ordens. Então, deveria ensinar seus
filhos, por palavra e por ação, a fazer o mesmo. Os pais são comissionados a serem os
principais educadores de seus filhos. São os responsáveis diante de Deus pela
administração do que lhes foi confiado. Ensinar é mais do que transmitir fatos e números.
A responsabilidade dos pais é ensinar um modo de vida baseado nas palavras de quem
disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo 14.6). Cabe aos pais dar aos filhos
uma perspectiva bíblica do mundo e do nosso lugar nele.

A igreja também é responsável por ensinar as crianças. O salmo 78 é um chamado à


comunidade pactual, para que passe a tradição da fé à geração seguinte (Sl 78.1-7). A
55

Igreja é coluna e baluarte da verdade (1Tm 3.15); os pais crentes têm o recurso inigualável
do ensino e relacionamentos providos ali.

Ao sentarmos em casa, ou andando pelo caminho, nossas conversas devem ser cheias da
graça, conversa sempre agradável, temperada com sal (Cl 4.6). Nós ouvimos nossas
palavras e nosso tom de voz saindo da boca de nossos filhos. O modo como você fala a
uma criança é o modo como ela fala com um irmão ou irmã mais nova. Escute seus filhos
e você vai ouvir aquilo que você diz.

Uma das lições mais práticas que podemos ensinar a nossos filhos é que devem pedir, a
Deus, graça para verem seus pecados e graça para se arrependerem. Eles precisam
aprender a assumir a responsabilidade pelo que fizerem de errado. Precisamos ajudá-los
a desenvolver suas consciências e senso de justiça. A maneira de fazer isso é mostrar e
falar: as crianças precisam que lhes ensinemos os princípios, mas o que elas mais vão
aprender é o que elas nos vêem fazer.

IV. Ser adorador

A adoração é essencial para um viver santo. Todos os demais princípios subsistem ou


fracassam, dependendo da observância desse princípio. A verdadeira adoração não é só
um evento no domingo. É uma atitude do coração que reconhece Deus como rei soberano,
digno da nossa inteira obediência. É lealdade para com ele. É uma vida que foi
apresentada como “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12.2). Adoração é um
modo de vida. Isso dá aos pais autoridade para ensinar e exigir obediência.

Os pais devem adotar práticas para educar seus filhos a adorar a Deus, tais como:

1. Guardar o domingo;
2. Orar com os filhos para que eles sejam incentivo a outros na família da igreja;
3. Usar a hora das refeições para cada um contar o que aprendeu com a mensagem
ou com a aula.

No caso de as crianças resistirem, é preciso lembrar que devemos temer mais o desprazer
de Deus, do que o desprazer delas. Quando as crianças resistem, devemos orar por elas,
mas não devemos ceder.

Conclusão

Refletindo sobre o que a Bíblia diz a respeito do agir dos pais na esfera do pacto, vemos
que as admoestações bíblicas examinam a condição do coração de cada pai e mãe. A
Palavra de Deus expõe nossa pecaminosidade, nos impele até a cruz em busca de
misericórdia e chama-nos à obediência. Nós criamos nossos filhos de forma piedosa em
proporção à nossa própria piedade e fé.
56

Aplicação

Reflita no seguinte: ao escolher métodos de disciplina para as questões do dia-a-dia, como


adaptar as ideias à sua família e à sua criança? Como podemos nos socorrer da oração e
do conselho de pessoas mais experientes?

Leia Êxodo 34.6,7, Deuteronômio capítulos 6, 7, 8, 29, 30 e responda:

1. Que responsabilidades são atribuídas aos pais e à comunidade?


2. Que advertências são feitas?
3. Que promessas são feitas?

Estudo adaptado de A Bíblia e a sua Família de Augustus Nicodemos e Minka Schalkwijk


Lopes. São Paulo : Editora Cultura Cristã, 2001, pp. 145-148.
57

AULA 12
APRENDENDO A LIDAR COM O
CONFLITO
Texto básico: Romanos 12.18

Introdução

Os conflitos entre pessoas são inevitáveis. Eles fazem parte das relações humanas - nos
relacionamentos na igreja, no relacionamento conjugal, no relacionamento no trabalho,
entre familiares, entre amigos e assim por diante. A própria Escritura traz relatos e
diversas histórias contendo conflitos, discórdias, iras. Como exemplo, em Tito 3.3 o
apóstolo Paulo diz que uma das marcas do homem pecador é que eles vivem “em malícia
e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros”. Em Fl 4.2, Paulo aconselha a duas irmãs
a encerrarem suas discórdias: “Rogo a Evódia e a Síntique pensem concordemente no
Senhor”. Quer queiramos quer não, os conflitos fazem parte do nosso dia-a-dia e, por isso
mesmo, é importante que aprendamos a lidar com eles.

Mas como podemos definir o conflito?

De acordo com Ernst Jansen, “um conflito é uma disputa que surge sempre que as ações
de uma pessoa interferem nos objetivos de outra. Isso implica ainda em que, se uma parte
alcança seu objetivo, é impossível à outra alcançar o seu”.23 De forma semelhante, para
Alfred Poirier, “o conflito acontece quando meus desejos ou temores, minhas
expectativas ou metas entram em rota de colisão com os desejos, temores, expectativas
ou metas de outra pessoa”.24

VANTAGENS DO CONFLITO

Antes de mais nada, precisamos reconhecer que nem sempre o conflito deve ser encarado
como algo ruim. Podemos vê-lo também como um instrumento útil para a nossa vida
cristã. A incapacidade de se resolver o conflito geralmente acontece porque não o
aceitamos. Podemos errar se pensarmos que pelo fato de amar uns aos outros, não
podemos ter nossas diferenças. O conflito não é apenas inevitável, até certo ponto, ele
tem suas vantagens.

Vejamos algumas:

1ª.) O conflito revela que há um relacionamento em funcionamento. A intimidade


faz as nossas diferenças parecerem maiores e aumenta a nossa dissensão.
Afastamento de conflitos é essencialmente afastamento de relacionamentos.

23
JANSEN, Ernst Werner. Conflitos: oportunidade ou perigo? A arte de transformar conflitos em
relacionamentos sadios. Editora Esperança. 2007. p. 13,14
24
POIRIER, Alfred. O Pastor Pacificador – um guia bíblico para a solução de conflitos na igreja. Editora
Vida Nova. 2011. p. 31
58

2ª.) O conflito gera oportunidade para servir ao próximo: podemos, através de um


conflito, ajudar alguém a superar suas dificuldades. É uma oportunidade de amar
o próximo.
3ª.) O conflito ajuda a refinar nosso caráter: Alguém já disse que as pessoas com
quem diferimos tornam-se a “lixa de Deus” para alisar as arestas agudas de nossa
liderança.
4ª.) O conflito gera a oportunidade para glorificar a Deus: podemos honrar a Deus
imitando-o em uma situação de conflito. Podemos expressar seu caráter, revelando
paciência, amor, longanimidade, humildade, etc.

Mas por que as pessoas têm tanta dificuldade em se entenderem? Por que surgem os
conflitos?

ORIGEM E AS CAUSAS DO CONFLITO

Os conflitos interpessoais se manifestam por diversas razões, mas na essência eles


revelam a presença de um aspecto muito comum e bem antigo na história humana - o
egoísmo (Fl 2.3). Tiago pergunta: “de onde procedem guerras e contendas, que há entre
vós? De onde, se não dos prazeres que militam na vossa carne? ” (Tiago 4.1).

Tiago ensina que a raiz dos conflitos está na necessidade de ser notado, de fazer a própria
vontade. Somos egoístas e não queremos ceder. Estamos sempre lutando para satisfazer
aos nossos desejos. Trata-se de um desejo de buscar a autossatisfação custe o que custar.

O coração do conflito

De acordo com Tiago, os conflitos não têm seu início nas situações e sim nas pessoas.
São as pessoas que provocam situações e causam divisões. A boca fala o que já está no
coração, o que contamina o homem não é o que entra e sim o que sai do homem (Mt
15.18,19). A falta de paciência e amor levam as pessoas a brigarem, dividirem e não
conviverem em harmonia.

Mas além desta causa original, podemos pensar em outras quatro razões da presença dos
conflitos, como desdobramentos do egoísmo:

1. Nossos prazeres: Quando lemos a lista das “obras da carne” em Gálatas


5.19-21 constatamos que grande parte dos itens ali presentes dizem
respeito aos problemas de relacionamentos: “inimizades, porfias, ciúmes,
dissensões, invejas, ciúmes, discórdias”.
2. Ressentimento: uma atitude amarga que não consegue perdoar ou tratar
de questões ainda pendentes e mal resolvidas. (Rm 1.29-31; Ef 4.32)
3. Incompreensão ou falha na comunicação: uma das partes pode
desconhecer aquilo que a outra quer dizer e surgir daí a falta de
compreensão da outra parte. (2 Tm 3.2-4; 11,12)
4. Diferenças individuais: Essas diferenças podem estar presentes nos
valores, crenças, atitudes, sexo, idades e experiências. Fazendo com que
as várias situações sejam analisadas de múltiplas maneiras, pelos vários
sujeitos, dando inevitavelmente a situações de divergência de pontos de
vista. (Fl 2.2,3)
59

5. Nosso desejo de exigir: Quando não se consegue o que deseja, a tendência


é começar a exigir. Tiago 4.2 afirma: “Cobiçais e nada conseguis. Matais
e invejais, e não podeis obter, brigais e fazei guerras”

Se o conflito é inevitável, a pergunta mais importante agora não é como evitar o conflito,
mas é como lidar com ele de modo que agrade a Deus. Nem sempre podemos escolher se
vamos ou não ter que enfrentar um conflito. No entanto, devemos saber como lidar com
ele. Gostaria de sugerir algumas dicas que podem ser muito úteis.

MANEIRAS BÍBLICAS DE LIDAR COM O CONFLITO

Devemos admitir que nem sempre é possível resolver uma situação conflituosa. No
entanto, em Romanos 12.18, o apóstolo nos orienta: “Se possível, quanto depender de
vós, tende paz com todos os homens”. A expressão “se possível, quanto depender de vós”
dá a entender que nem sempre depende de nós, mas que, quando depender, devemos nos
esforçar para viver em paz com todos os homens.

Então vejamos algumas dicas práticas que podem nos ajudar na solução de conflitos:

1. Tenha por objetivo encontrar a verdade, não ganhar uma discussão.

Nossa primeira reação, e quase instintivamente, é responder defensivamente quando


ameaçados ou confrontados. Esta é sempre a pior resposta. Num conflito, devemos ter
como objetivo encontrar a verdade para solucionar o conflito. Nossa motivação deve ser
resolver o problema, e não ganhar uma discussão.
Precisamos olhar por baixo da superfície e ver além da “ponta do iceberg”. Devemos nos
esforçar para identificar o mais claro possível a real fonte de conflito; isso porque há casos
em que o problema que estamos tratando ou atacando é apenas a ponta do iceberg. Existe
algo mais profundo e antigo que está escondido. Numa situação de conflito é sempre mais
fácil criticar, acusar, julgar e condenar o outro lado. (Mt 7.1-2 e Rm 2.1).

2. Aprenda a assumir sua parcela de responsabilidade no problema. (Mt 7:1-5; Lc


6:42)

Para isso precisamos ser humildes e admitir que o erro pode estar em nós mesmos e não
no outro. Devemos perguntar a nós mesmos: “O que há a meu respeito que está causando
esta discórdia”. Para tomar esta atitude precisamos estar prontos a confessar nosso
pecado de egoísmo, ira, inveja, soberba, autocomiseração, hipocrisia, etc.

Numa crise de relacionamento, costumamos pensar que as coisas só serão resolvidas


quando o outro mudar seu modo de ser. Raramente pensamos que nós também precisamos
mudar. Isso me faz recordar a história de um pai que orava constantemente dizendo:
“Deus, muda o coração do meu filho”. Até que um dia, ele passou a orar: “Deus, muda o
coração do pai do meu filho”.

Colocar a culpa sobre os outros é um dos grandes obstáculos à verdadeira solução dos
conflitos. (Lc 6:42). Resistindo a ideia de jogar a culpa no outro, tiramos de foco das
pessoas, e buscamos encontrar a verdadeira razão ou raiz do conflito. Jesus disse que
temos que “tirar a trave do nosso olho, a fim de enxergarmos melhor para tirar o cisco no
olho do outro”. Mt 7.3-5
60

3. Procure compreender a outra pessoa. (Hb. 4:15,16)

Eis uma terceira dica. Você precisa se esforçar para compreender o ponto de vista de outra
pessoa. Talvez este seja um passo muito difícil a ser dado, mas ele é muito importante.
Caso contrário, o conflito não poderá ser solucionado. E para compreender o outro, quatro
aspectos merecem nossa atenção:

1) Desejo sincero de compreender. Nunca conseguiremos resolver


conflitos sem “entrar na pele” da outra pessoa. Nossa tendência
natural é ver a situação somente da nossa perspectiva. Precisamos
ver as circunstâncias do ponto de vista da outra pessoa. (Hb
4:15,16).
2) Saber ouvir. Pv 18:13. Um erro que comumente cometemos é que
enquanto uma pessoa fala expondo seu ponto de vista, estamos
formulando mentalmente um ataque ou defesa. Um passo
fundamental para entender o outro e lidar com o conflito é saber
ouvir. No processo de escutar é importante entender os fatos
concretos, porém, os aspectos emocionais, subjetivos não deverão
ser desconsiderados.
3) Respeitar a opinião do outro. Compreender não significa que você
está concordando com a outra pessoa, mas a respeita por pensar
diferente de você.
4) Não condene ou julgue. “É preciso resistir à tentação de colocar a
culpa nos outros, de acusar a outra parte, ou de levantar problemas
que não pertencem àquele fórum de discussão.

4. Disponha-se a perdoar. Uma terceira dica na solução de conflitos é tratar com


nossos ressentimentos. A nossa responsabilidade é conceder perdão aos outros
assim como Deus nos perdoou (Ef 4:32), o que envolve não guardar o pecado ou
erro da outra pessoa para depois “jogar na cara” ou usá-lo contra ela. Devemos
entregar a ofensa e o ofensor ao Senhor; pois Ele é o justo juiz (Mt 16:27; II Tm
4:8).

Além de ajudar na solução do conflito, precisamos entender que a atitude de não perdoar
prejudica a nós mesmos. Quando estamos magoados com alguém, é como se estivéssemos
presos numa cadeia.

Ausência de perdão gera tormentos na vida daquele que não quer perdoar. Quem não
perdoa está envenenando seu próprio coração, “destrói a ponte que ele mesmo há de
atravessar um dia”.

A primeira pessoa a se beneficiar com o perdão é sempre quem o oferece. Manter a mágoa
no coração é como segurar uma brasa na mão. O estrago pode ser grande.

5. Busque ajuda de um conselheiro. Pv 11.14; 15.22

“Na multidão de conselheiros há segurança" (PV.11.14). Em Mt 5.9, Jesus diz que “bem-
aventurados são os pacificadores”.
61

O conselheiro ou o pacificador é um cristão maduro que procurará agir como um


mediador entre as partes conflituosas. Ele deve adotar uma atitude neutra e imparcial. Sua
principal função é ouvir as partes e juntos buscarem descobrir as reais causas ou fontes
do conflito, procurando os meios de conciliação.

Termino com uma citação de David Powlison,

“Contender é uma característica fundamental dos pecadores.


Reflete a imagem de Satanás: mentiroso, assassino, causador de
divisões, agressor. Promover a paz diz respeito a Deus, em Cristo,
e àqueles que estão sendo renovados à Sua imagem.”25

Conclusão e aplicação

Chegamos ao final de nossa aula de hoje. É bem provável que enquanto a aula foi
transcorrendo você fez uma avaliação sobre como anda os seus relacionamentos. Talvez
tenha chegado à conclusão que existiu ou existe alguém com quem precisa se reconciliar.

A título de aplicação, seguem algumas perguntas para nossa reflexão e ação:

1) Existe hoje em seu círculo de relacionamento alguma pessoa com quem você está
tendo conflito? Quem?
2) Você sabe qual a razão ou os motivos que geraram esta dificuldade de
relacionamento?
3) Você consegue identificar algo que você fez ou deixou de fazer que contribuísse para
o desgaste neste relacionamento?
4) Como você tem procurado lidar com este conflito? Sobrepujando, “apaziguando”,
evitando, sentindo-se injustiçado, ou envidando esforços para sua solução?
5) Você sente-se em paz quando tem que se relacionar com esta pessoa?
6) Diante deste artigo, você consegue perceber qual a vontade de Deus para a
restauração deste relacionamento? O que você pretende fazer?

25
POWLISON, Como alcançar o coração do conflito. Coletâneas de aconselhamento bíblico, Atibaia,
SBPV, v.5, p. 100-117, 2006. p.100
62

AULA 13
ANSIEDADE: SUA CAUSA,
CONSEQUÊNCIAS E CURA
Texto básico: Mateus 6:25-34

"A preocupação é como a cadeira de balanço: mantém você ocupado,


porém, não o leva a lugar algum."

Introdução

Aproximadamente 50 a 75 % de todas consultas médicas relacionadas à ansiedade.


Estatísticas dão conta que só no estado de São Paulo, 18% da população sofre com
transtorno de ansiedade. Nos Estados Unidos, 60 a 80% dos acidentes de trabalho são
atribuídos à ansiedade.

A ansiedade pode ser definida como "estado afetivo onde há sentimento de insegurança"
ou "estar com a mente dividida entre dois pensamentos". Preocupação é a tentativa de
controlar o incontrolável. (pré-ocupação). É a tentativa de querer assumir o controle
daquilo que está na mão de Deus.

I. OS DOIS TIPOS DE ANSIEDADE

O tema ansiedade nas Escrituras é abordado de dois modos: Como um sentimento


(instrumento) sadio de adaptação às exigências da vida, e como um distúrbio, ou seja,
uma aflição angustiante.

1. Ansiedade normal: Este tipo de ansiedade, como uma preocupação realista não é
condenada nem proibida nas Escrituras. Este tipo de ansiedade é um sinal de alerta que
adverte sobre o perigo eminente e nos capacita a tomar decisões eficientes e a agir de
maneira responsável.

Neste sentido o apóstolo Paulo também teve ansiedades: II Co 11:28; Fl 2:20; I Co 4:17.
Conforme as Escrituras, não há nenhum erro em reconhecer com realismo os problemas
identificáveis em nossa vida e tentar resolve-los. Ignorar o perigo é que seria insensato e
errado.

2. Ansiedade Patológica: É uma reação da pessoa que se sente desamparada, diante de


um problema, e fica maquinando em sua mente, como sair sozinho desta dificuldade.

Há uma frustração, pelo fato de não conseguir resolver o problema, que no momento está
fora do seu controle. Surge um sentimento íntimo de apreensão, mau estar, preocupação,
angústia e medo, provocando diversas reações desagradáveis.
63

Ansiedade surge como resultado de pensarmos (consciente ou inconscientemente), que


Deus não é maior que o nosso problema.

II. AS CONSEQÜÊNCIAS DA ANSIEDADE

Quais são os Efeitos destrutivos da ansiedade. Algumas conseqüências de estados


ansiosos podem ser observadas nas patologias:

 Sintomas Nervosos: gagueira, tiques faciais, piscar desnecessariamente,


tremores; palpitações, manchas escuras na pele, ...
 Inibição: constrangimento social, se retrair com freqüência e "tomar o assento
de trás", temor de se expressar publicamente;
 Alterações do sono: Insônia: estado de alerta e impossibilidade de relaxar e
descansar até mesmo durante a noite; (Sl 4:8 ) ou sonolência excessiva.
 Frustração: impossibilidade de se conseguir algo importante;
 Irritabilidade: impaciência, explosividade, agressividade..
 Queixas vagas: tonturas, zumbidos, palpitações, sensação de bolo na garganta,
machas no corpo, etc.
 Dores sem causa física: cabeça, abdominais, pernas, costas, peito, etc.

A ansiedade por tempo prolongado pode conduzir um indivíduo a estados patológicos


de "stress" ou depressão.

III. O QUE JESUS DIZ SOBRE A ANSIEDADE ( MT 6:25-34 )

No Sermão da Montanha, Jesus forneceu quatro razões para não nos preocuparmos, e os
segredos para vencer a ansiedade (Mateus 6:25-34). No v. 25 – “não”

1. A ansiedade é desnecessária por causa do caráter de deus. V. 27,30

V. 27 “vosso Pai” - Deus prometeu cuidar de você, caso você Lhe confie a sua vida em
todos os detalhes. Quando você era uma criança e pedia ao seu pai dinheiro para um
lanche na escola, nunca teve que se preocupar de onde viria este dinheiro. Este é o seu
problema. Deixe que Deus seja Deus em sua vida! Deus cuidará de você. Creia nisso. (v.
30).

Deus é o verdadeiro responsável pelas nossas vidas. Sem ele nada seríamos. Em vez de
confiar em nossa força, inteligência ou capacidade, a idéia é colocar a confiança em Deus
para qualquer aspecto da vida.

2. A ansiedade é inútil.. V. 27

A ansiedade é incapaz de produzir algo produtivo. Ela simplesmente não funciona. Não
pode alterar o passado. Não pode controlar o futuro. Somente faz com que você se sinta
entristecido hoje. Preocupar-se acerca de um problema jamais ocasiona a sua solução.
Quem, entre vocês, através da preocupação, poderia acrescentar uma única hora à sua
vida?" (verso 27).

A preocupação tem um efeito contrário o que se pretende alcançar. Em vez de gerar


soluções, acaba contribuindo para piorar as coisas. Uma pessoa ansiosa está mais
64

propensa a doenças, trabalha com menos eficiência, age de forma inadequada em muitas
situações. Provérbios 12:25 ensina que A ansiedade no coração do homem o abate; mas
uma boa palavra o alegra.

Segundo informa David DeWitt, "não há nenhum valor na preocupação. Não faz nada de
bom para nós. Uma pessoa normal concentra sua ansiedade ou preocupação:

40% - coisas que não vão acontecer nunca


30% - coisas do passado que não podem ser mudadas
12% - críticas de outras pessoas, na maior parte injustas
10% - sobre saúde, que piora com o estresse
8% - sobre problemas reais que precisam ser enfrentados.”

3. A ansiedade é incompatível com a nossa fé. vv. 25-30

Jesus, no versículo 30, chama os ansiosos de “homens de pequena fé”. Depois ele se
utiliza de duas ilustrações para nos ensinar a confiar em Deus. Uma extraída da natureza
e outra da experiência humana.

Na experiência humana: Deus criou a vida e a sustenta. Ele criou nosso corpo e
também o sustenta. (v. 27)
A natureza: Jesus usa as aves flores para explicar seu cuidado conosco. (v.26)

4. A ansiedade é incompatível com o bom senso. v. 34

Toda preocupação é com o “amanhã”, e portanto, perda de tempo, de pensamentos


e energia. Precisamos aprender a viver um dia de cada vez. “Basta a cada dia suas próprias
dificuldades.

Portanto, por que antecipá-las? Se o fizermos, nós a multiplicaremos, pois, se nossos


temores não se concretizarem, estaremos nos preocupando duas vezes em vez de uma. De
qualquer forma é falta de bom senso: “a nossa ansiedade aumenta a nossa perturbação”
John Sott

Veja Pv 12:25: “A ansiedade no coração do homem ABATE - O” Trágicas são as


consequências da “ansiedade” no ser humano. Atua, negativamente, “no coração do
homem”, como afirma Salomão, e “abate-o” inexoravelmente. (lembrar das
consequências)

IV. A SOLUÇÃO DE JESUS PARA A ANSIEDADE

"Buscai, pois. em primeiro lugar, o seu reino ... e todas estas coisas serão acrescentadas".

A resposta de Jesus para nossas vidas cheias de preocupação é bem diferente. Ele quer
que substituamos nosso ponto de gravidade, relocalizemos o centro de nossa atenção, que
mudemos as nossas prioridades. Jesus quer que deixemos as "muitas coisas" para a
"única coisa necessária".

Ele fala sobre uma mudança de coração. Esta mudança de coração faz todas as coisas
diferentes, até mesmo quando todas as coisas parecem permanecer as mesmas. Este é o
65

significado de: "Buscai, pois. em primeiro lugar, o seu reino ... e todas estas coisas serão
acrescentadas". O mais importante é onde estão nossos corações. Quando nos
preocupamos, temos nossos corações no lugar errado. Jesus pede que coloquemos nossos
corações no centro, onde todas as outras coisas irão se encaixar.

Qual é este centro? Jesus o chama de reino, o reino do Seu Pai.

O “reino” é o lugar onde o Espírito de Deus nos dirige, nos cura, nos desafia, e nos
renova continuamente. Quando nossos corações estão fixos neste reino, nossas
preocupações lentamente ficam para trás, porque as muitas coisas que nos faziam
preocupar tanto começam a se encaixar. As palavras "todas as, outras coisas vos serão
acrescentadas" expressam que o amor e o cuidado de Deus se estendem para todo o
nosso ser. Quando buscarmos a vida no Espírito de Cristo, conseguiremos ver e entender
melhor como Deus nos guarda na palma de sua mão.

Quando buscarmos a vida no Espírito de Cristo, conseguiremos ver e entender melhor


como Deus nos guarda na palma de sua mão

Conclusão:

A ORAÇÃO COMO REMÉDIO PARA A ANSIEDADE ( Fl 4:6,7; Mt 6:6 )

Costumamos ficar muito ansiosos porque, no fundo, cremos que a solução dos
problemas está nas nossas mãos; isso, porém, não é verdadeiro. Precisamos reconhecer
que somos finitos e limitados. Sem a presença de Deus atuando em nós e através de nós,
não alcançaremos resultado favorável quanto ao afastamento da ansiedade. No Salmo
34 Davi ensina a respeito da necessidade de nos relacionarmos com Deus para afastar
toda a ansiedade.

v. 4: “Busquei o Senhor e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores”.


v. 6: “Clamou este aflito, e o Senhor o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações”

Nos vs. 9 e 10 destacamos a gloriosa afirmação: “nada falta aos que o temem” e “aos que
buscam o Senhor bem nenhum lhes faltará”
66

AULA 14
O CONTENTAMENTO
Texto Básico: Filipenses 4.1-19

Introdução

Na ocasião em que escreveu Filipenses, Paulo estava preso no porão de sua casa em
Roma. Ele ficava acorrentado a um soldado romano 24 horas por dia. Tinha pouco do que
era considerado privilégio, mas, assim mesmo, ele estava contente. “A paz de Deus” (v.
7) e “o Deus da paz” (v. 9) eram realidades óbvias na vida de Paulo. O mesmo pode
ocorrer conosco, se aprendermos a viver contentes.

I. Independência, não indiferença

É importante observar, desde o início, que Paulo ilustra com sua própria vida o
contentamento que ele queria que os crentes de Filipos tivessem. Veja o que ele diz a
partir do versículo 10: “Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque (…) renovastes a
meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade.
Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer
situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as
circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de
abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece (Fp 4.10-13, grifos
do autor).

A palavra grega traduzida por “contente” significa “estar satisfeito”, “ter o bastante”. Ela
indica independência e desnecessidade de auxílio. Algumas vezes, foi usada para
qualificar uma pessoa que se mantinha sem a ajuda de ninguém. Parafraseando, Paulo
estava dizendo: “Aprendi a ficar satisfeito – não propriamente por mim, mas suprido por
Cristo”.

Cristo e contentamento andam juntos. Os filósofos estoicos do tempo de Paulo tinham


uma visão diferente de contentamento. Eles acreditavam que o contentamento era
alcançado somente quando alguém chegava ao estágio de total indiferença. Epíteto expôs
como alcançar essa condição elevada: Comece com uma xícara ou com um utensílio
doméstico. Se ele quebrar, diga: “Não me importo”. Depois com um cavalo ou um cão de
estimação. Se qualquer coisa acontecer a ele, diga: “Não me importo”. Por último, com
você, se ficar ferido ou machucado, diga: “Não me importo”. Assim, se seguindo adiante
e se esforçando bastante, você atingirá um estágio em que poderá ver seus entes mais
próximos e queridos sofrerem e morrerem e, ainda assim, você dirá: “Não me importo”.

Essa não é a espécie de contentamento da qual Paulo falava. Quando usou a palavra
contente, o apóstolo estava se referindo a algo muito diferente. Obviamente, não era
indiferença, pois Paulo era um homem muito compassivo. Suas epístolas de amor às
igrejas, registradas no Novo Testamento, tornam isso bem claro. Paulo nunca poderia
assumir uma atitude do tipo “não me importo”.
67

II. Segredos para o contentamento

Observe o que Paulo afirma: “Aprendi a viver contente (…) já tenho experiência”(Fp
4.11-12). Aqui ele usou outro termo grego cheio de significados – uma alusão às religiões
misteriosas da Grécia. A iniciação, para aqueles cultos pagãos, envolvia o conhecimento
sobre certas religiões secretas. Paulo se inteirou de segredos do contentamento e os
transmitiu a todos que foram iniciados na fé em Jesus Cristo. A seguir, descreveremos
quais são.

A. Confiança na providência de Deus

Paulo disse: “Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor (…) [e] renovastes a meu favoro
vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade” (v. 10).
Fazia cerca de dez anos desde que Paulo estivera em Filipos pela última vez. Atos 16
relata o que aconteceu durante sua primeira visita. Paulo e seus companheiros de viagem
encontraram uma mulher de negócios chamada Lídia epregaram o evangelho a ela e aos
seus. Sua conversão resultou naformação de uma igreja.

Durante os primeiros dias daquela igreja, Paulo expulsou o espírito de adivinhação de


uma menina escrava. Os proprietários da menina – aborrecidos com a perda da renda que
conseguiam por causa dessa habilidade – açoitaram Paulo, atiraram-no na prisão e o
acorrentaram a um tronco. Em vez de se queixar por aquela situação miserável em que se
encontrava, ele passou a noite louvando a Deus por meio da oração de gratidão e de hinos.

Deus respondeu ao apóstolo de um modo assombroso: ele sacudiu as fundações daprisão


tão violentamente, que todas as portas se abriram e as correntes caíram dos pés e punhos
dos prisioneiros. Esse episódio impressionante, mais aincrível atitude de Paulo diante de
sua condição desoladora, levaram à salvação do carcereiro e da sua família. À medida
que a igreja de Filipos crescia, ia ficando evidente que os crentes davam a Paulo apoio
financeiro para o trabalho missionário em outras cidades.

Esse texto de Filipenses deixa claro que eles conseguiram sustentá-lo nessa atividade
apenas por um tempo. Para Paulo, contudo estava tudo bem, pois ele sabia que não tinham
deixado de se preocupar com ele, o que lhes faltava era “oportunidade”. Paulo tinha
confiança paciente na providência soberana de Deus. Ele não se entregava ao pânico.
Paulo estava certo de que, no devido tempo, Deus resolveria essa situação e suas
necessidades seriam satisfeitas.

Hoje podemos ter essa mesma certeza. Tudo já está sob controle, nas mãos de alguém
muito maior que do que você ou eu. Através de sua providência, Deus orquestra todas as
coisas para cumprir seus propósitos. O contentamento vem de aprender que Deus é
soberano, não apenas pela intervenção sobrenatural, mas também pela orquestração
natural. E que incrível orquestra é essa! Avalie a complexidade do que Deus está fazendo
a todo momento, apenas para nos manter vivos. Quando olhamos as coisas sob esse
prisma, percebemos que estupidez é pensar que podemos controlar nossa vida. Quando
desistirmos de buscas inúteis, renunciaremos a maior fonte de ansiedade.

Paulo estava contente porque tinha confiança na providência de Deus. Essa confiança,
porém, nunca o levou a uma atitude fatalista – “não importa o que eu faça”. O exemplo
68

da vida de Paulo ao longo do Novo Testamento é este: trabalhe o máximo que puder e
fique contente por Deus estar no controle dos resultados.

B. Satisfação com pouco

Aqui está outro segredo para o contentamento na vida de Paulo: “Não por causada
pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar
humilhado como também ser honrado” (Fp 4.11-12). Ele apreciava a generosidade
renovada da igreja de Filipos, mas queria que os crentes soubessem que ele não a estava
cobiçando, por isso mantinha seus anseios e desejos controlados, sem confundi-los com
suas necessidades. “Digo isso, não por causa da pobreza” é outro modo de dizer: “Na
realidade, tenho tudo de que preciso”.

Nossas necessidades, como seres humanos, são simples: alimentos, vestimentas, abrigo e
santidade com contentamento. As Escrituras dizem que devemos estar contentes porque
temos o suficiente para nossa vida. A postura do apóstolo contrasta notadamente com a
atitude da cultura da atualidade. As pessoas de nosso tempo não estão contentes – seja
com pouco, seja com muito. A experiência parece demonstrar que, quanto mais as pessoas
têm mais descontentes estão. Normalmente, as pessoas mais infelizes são as muito ricas.
Elas parecem acreditar que suas carências nunca são supridas. Diferente de Paulo, elas
admitem que seus desejos são “necessidades”. Elas seguem a direção da cultura
materialista, que redefine as coisas básicas da vida humana.

C. Supere as circunstâncias

As situações exasperantes roubam nosso contentamento, mais do que qualquer outra


coisa. Nós desmoronamos e perdemos nosso senso de satisfação e paz, quando deixamos
as circunstâncias nos vitimarem. Sem dúvida alguma, Paulo era humano e sofreu por
causa disso, também, mas ele aprendeu algo diferente: “Aprendi a viver contente”, diz
ele, “em toda e qualquer situação” (Fp 4.11, grifos do autor). Como cristãos, também
podemos nos sentir contentes diante de qualquer situação – não temos de esperar pela
vida por vir para ficar contentes. Contudo, precisamos manter um pé nela. Paulo colocou
dessa maneira: “Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3.2). “A
nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque
as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4.17-18).

Paulo suportou muitas situações horríveis (veja seu relato em 2Co 11.23-33), mas, com
elas, aprendeu a ser contente por ter uma perspectiva eterna. Observe: qualquer situação
que você enfrenta é temporária. A energia que você gasta com uma situação dificultosa,
ficando ansioso, não pode ser comparada à sua recompensa eterna. Aprenda a ser contente
sem levar muito a sério as circunstâncias terrenas.

D. Sustentado pelo poder divino

Paulo pôde enfrentar qualquer circunstância terrena com esta afirmação confiante: “Tudo
posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). Ele aprendeu que não importa quão difíceis
as coisas sejam neste mundo material, todo cristão tem suporte espiritual. O
contentamento é um subproduto do sofrimento.
69

Ele vem quando se experimenta o poder sustentador de Cristo e se escapa da opressão:


“Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor” (Isaías 40.29).
Devemos experimentar dificuldades suficientes em nossa vida para ver o poder de Cristo
manifesto em nós.

E. Preocupação com o bem-estar dos outros

Se você vive para si mesmo, nunca estará contente. Muitos deixam de experimentar o
contentamento, porque desejam que seu mundo seja exatamente do jeito que ele quer.
Desejamos que nosso cônjuge atenda às nossas expectativas e planos; que nossos filhos
se moldem àquilo que preestabelecemos; que tudo mais se encaixe no exatamente no lugar
o qual determinamos. Paulo orou para que os filipenses tivessem uma perspectiva
diferente. Ele começou essa epístola com uma oração para que o amor de uns pelos outros
fosse abundante (Fp 1.9); e prosseguiu dando este prático conselho: “Nada façais por
partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros
superiores a si mesmo” (Fp 2.3). Ele desejou que, em vez de viverem centrados em si
mesmos, os filipenses se preocupassem com o bem-estar dos outros. Este foi o exemplo
que o apóstolo deixou para eles e para nós:

“Fizestes bem, associando-vos na minha tribulação. E sabeis também vós, ó filipenses,


que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou
comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para
Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas
necessidades. Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto
que aumente o vosso crédito. Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que
Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como
sacrifício aceitável e aprazível a Deus. E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória,
há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Fp 4.14-19).

Independente das suas circunstâncias, Paulo confiava na providência de Deus e estava


fortalecido pelo poder divino, por isso ele soube escrever uma nota cortês de
agradecimento. Ele queria que os filipenses soubessem que tiveram uma atitude nobre ao
suprir as necessidades do apóstolo. Eles compunham uma igreja pobre da Macedônia
(uma região cuja pobreza é mencionada em 2 Coríntios 8–9), mesmo assim enviaram
comida, roupa e dinheiro a Paulo, que estava em Roma, pelas mãos de Epafrodito. Paulo
ficou bem impressionado com tamanha generosidade. Note o que deixou Paulo mais feliz
pela dádiva: “Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto
que aumente o vosso crédito” (Fp 4.17). O apóstolo estava, de fato, mais interessado no
benefício espiritual do que na doação material. Estar bem alimentado e satisfeito e
confortável não eram as principais preocupações na vida de Paulo. Ao contrário, ele
estava interessado nos dividendos eternos que seriam acrescentados à vida das pessoas a
quem amava. Aqui estão os princípios eternos das Escrituras que podemos aplicar:

• Provérbios 11.24-25: “A quem dá liberalmente, ainda se lhe acrescenta mais emais; ao


que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em pura perda. A alma generosa prosperará, e
quem dá a beber será dessedentado”.
• Provérbios 19.17: “Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga
o seu benefício”.
• Lucas 6.38: “Dai e dar-se-vos-á”.
70

• 2Coríntios 9.6: “Aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com
fartura com abundância também ceifará”.

Paulo considerou a dádiva recebida “como aroma suave, como sacrifício aceitável e
aprazível a Deus” (Fp 4.18). No versículo 10, notamos quão feliz Paulo ficou ao receber
o donativo. Sua alegria se manifestou não porque ele finalmente recebeu o que estava
esperando (como vemos no versículo 11, ele cortesmente mencionou que não necessitava
aquilo), mas porque os filipenses ofereceram a ele algo que honrava a Deus e
acrescentaria benefício espiritual a eles.

Conclusão

Combata a ansiedade em sua vida, aplicando o que aprendeu sobre o contentamento.


Esteja confiante na providência soberana de Deus, e não permita que as circunstâncias o
perturbem.

Em vez de sucumbir diante do pânico, apegue-se à promessa de Romanos 8.28:


“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”.
Considere esse versículo um salva-vidas espiritual para o restante de sua vida. Resista à
tendência materialista e egoísta da sociedade atual, satisfazendo-se com pouco e
preocupando-se mais com o bem-estar espiritual dos outros do que com suas carências
materiais.

Aplicação

Seja obediente à Palavra de Deus e confiante em seu poder, para que todas as suas
necessidades sejam supridas. Possa o nosso Senhor manter todos esses princípios bem
claros em nossa mente para que possamos viver contentes e livres da ansiedade.

 Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão –


Vencendo a Ansiedade. Usado com permissão.
71

AULA 15
O DISCÍPULO E AS PROVAÇÕES
Base bíblica: Tiago 1.2-8,12

Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações…

Introdução

Como você reage em tempos de dor e sofrimento? Você consegue se alegrar em tempos
de dificuldade? Jamais é sugerido no Novo Testamento que o cristianismo seria uma
tarefa fácil. Pelo contrário, em vez de prometer uma vida de paz e sossego àqueles que
queriam segui-Lo, o Senhor Jesus os advertiu sobre o alto preço do discipulado, dizendo:
“Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-
me” (Lc 9.23). Ele deixou claro que “se me perseguiram a mim, também perseguirão a
vós outros” (Jo 10.25). Seus seguidores deveriam saber que seriam enviados “como
cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10.3), seriam “entregues até por vossos pais,
irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós” (Lc 21.16) e que seriam
“odiados de todas as nações, por causa do meu nome” (Mt 24.9).Tudo isso envolve ne-
cessariamente uma boa dose de sofrimento; experiência comum aos que carregam sobre
os ombros a cruz de Cristo.

Tiago, o irmão do Senhor, aborda o tema do sofrimento cristão de forma breve e prática
em sua preciosa epístola. Podemos aprender pelo menos três verdades com o texto que
estudaremos hoje: o objetivo do sofrimento; como nos preparar para enfrentá-lo, e o
prêmio dos cristãos que chegam triunfantes ao final da jornada de lutas terrenas.

I. Como sorrir se estou sofrendo: O objetivo das provaçőes (Tg 1.2-4)

A inusitada ordem de Tiago no início de sua carta tem deixado muitos cristãos atuais
assustados e, alguns, até escandalizados. Noutras palavras, o que ele diz é: “alegrem-se
no sofrimento” (Tg 1.2). A questão é que se tem dito em nossos dias que um cristão
verdadeiro não pode sofrer. Em sua maioria, os que ensinam esse erro são defensores da
chamada Teologia da Prosperidade. Eles dizem que um crente fiel não pode enfrentar
problemas como doença, fome, perseguição, desemprego, ou coisas do gênero. No
entanto, na contramão de todo esse pensamento, Tiago não nos manda “exigir” que Deus
nos dê a cura, nem sugere que “determinemos” que Ele faça o sofrimento cessar. O que
ele diz é: “Alegrem-se nas variadas tribulações que certamente vos sobrevirão” (Tg
1.2).Mas como isso é possível? O que há no sofrimento que possa nos dar alguma razão
para nos alegrar?

1.1 Provaçőes multicoloridas (Tg 1.2)

A ordem de Tiago é para que nos alegremos face às várias provações a que estamos
sujeitos neste mundo. “Provações” aqui significam adversidades e aflições que
72

enfrentamos como parte inevitável da vida. Não menos espantoso é que ele as menciona
no plural, como “várias” provações (palavra que significa “multicolorida”). Ou seja,
como cristãos, podemos ser testados em todo tipo de sofrimento, como perseguições
sociais (cf. Tg 2.6), doenças (cf. Tg 5.14), crises emocionais, desemprego e afins (cf. 1Pe
1.6; At 14.21-22). Como cristãos, todo sofrimento é por Cristo, não apenas aqueles
experimentados como consequência de um ministério ou algo semelhante. Portanto, a
ordem é: alegrem-se! Os cristãos precisam decidir pela alegria (cf. Rm 8.18-25).

1.2 Provando e aprovando a fé (Tg 1.3)

A chave para manter a alegria cristã em meio às provações é entender o que Deus está
fazendo em nós e por nós por intermédio do sofrimento. No versículo 3, ele descreve o
sofrimento como teste que o próprio Deus aplica para aperfeiçoar nossa fé. Ideia se-
melhante é apresentada em 1Pedro 1.6-7, quando o apóstolo compara o efeito das prova-
ções em nossa fé ao efeito do fogo ao ouro. Assim como o fogo natural purifica o ouro, o
fogo da provação purifica a nossa fé e queima o que é sem valor em nosso caráter. Nesse
processo, a dor é inevitável, afinal estamos falando de fogo! No entanto, o ganho sempre
compensa as perdas, pois uma fé aprovada é a garantia da entrada no céu (cf. At 14.22).
A provação não somente é importante como também, necessária.

A provação da fé gera “perseverança” (cf. Rm 5.3-4). Nas palavras de David Field, “per-
severar é se recusar a achar uma saída fácil quando as pressões da vida se tornam
particularmente pesadas. É a firme atitude mental de quem não se curva diante de
circunstâncias nem se rende às provações”. Se você decidir permanecer firme na luta,
Deus garante lhe manter de pé e mais fortalecido ao final (2Ts 1.3-8; Hb 10.36; 12.1-3).

1.3 Perseverando para a maturidade (Tg 1.4)

O resultado final desse processo é um cristão maduro. O exercício da perseverança ha-


bilita o cristão a encarar a vida pelo ângulo de Deus, ou seja, ele se torna capaz de enxergar
a realidade sob a perspectiva da eternidade, de tal modo que a esperança da glória se torna
o motivo de sua alegria e o objetivo de sua vida. O que tem impressionado o mundo ao
presenciar o martírio de cristãos em vários lugares, ontem e hoje, não é que eles morrem
resmungando ou amaldiçoando, mas cantando. Eles se tornaram capazes, pelo exercício
da fé, de apreciar o encontro com Cristo como o bem mais precioso e desejado (cf. Sl
73.23-26).

Ninguém jamais cresce em tempos de paz. As verdadeiras e mais profundas lições da vida
aprendemos na escola do sofrimento. Somente a dor nos mostra quanto somos incapazes
e necessitamos de Deus. Nas fornalhas do sofrimento, somos convidados a desistir da
autoconfiança para depender exclusivamente de Deus. Não podemos fingir que a dor não
é real. Porém podemos, pela graça de Deus, experimentá-la como primeiro passo
necessário (e breve) rumo ao gozo eterno nos céus (cf. 1Pe 4.12-13). Um cristão maduro
pode alegrar-se ante o sofrimento porque está convencido do amor de Deus que se revela
mesmo no fogo da provação (cf. Hb 12.3-7, 11). Ele pensa e vive como Paulo (cf. Fp 3.7-
11).
73

Satanás se aproveita da provação para destruir a nossa fé; enquanto Deus utiliza a
provação para fortalecer a nossa fé. Você tem aproveitado os momentos de teste para
fortalecer sua fé em Deus? Ou tem desperdiçado a oportunidade de crescer?

II. Preparando-se para o teste: a sabedoria cristă (Tg 1.5-8)

Um cristão maduro tende a receber a tribulação de Deus com a mesma mão agradecida
com que recebe a bonança. De modo contrário, o imaturo fica desorientado e é geralmente
rápido em murmurar e amaldiçoar a vida quando a fornalha “esquenta”. Qual o segredo
por trás dessas reações diversas?

Tiago concluiu o versículo 4 com a expressão “em nada deficientes” (ou “em nada tendo
falta”). Então, ocorreu-lhe que talvez faltasse ainda alguma coisa para que aqueles
cristãos fossem maduros e, portanto, capazes de encarar o sofrimento corretamente:
sabedoria é o “segredo”.

2.1 Sabedoria năo se adquire na faculdade

Há quem pense que um homem sábio é necessariamente um homem culto. Porém, é


possível alguém ser um gênio da matemática ou da teologia, por exemplo, e ao mesmo
tempo ser um tolo, em quem falta sabedoria. O contrário também é verdadeiro: é possível
alguém ter grande sabedoria mesmo nunca tendo frequentado a escola formal. Isso porque
a verdadeira sabedoria tem a ver com o temor do Senhor.

Em Provérbios 9.10, Salomão nos diz que “o temor do Senhor é o princípio da


sabedoria”. Sabedoria espiritual é a capacidade de discernir a vontade de Deus e aplicá-
la a situações práticas do dia a dia (cf. Pv 2.10-19; 3.13-14; 9.1-6). Ela é fruto de um
relacionamento íntimo com Deus, o qual é baseado no conhecimento e na vivência das
Escrituras Sagradas. Essa sabedoria habilita o cristão a discernir o melhor curso de ação
a seguir em momentos de aperto (cf. Ec 8.5-6), assim como o capacita a utilizar os
momentos de provação positivamente, para o fortalecimento da fé.

2.2 Năo tenho sabedoria! E agora, o que fazer?

Se você acha que carece de sabedoria espiritual e deseja possuí-la ou simplesmente for-
talecê-la, Tiago lhe diz o que fazer: “peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada
lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5). O nosso Deus é dadivoso e nos dá o que
lhe pedimos sem exigir algo em troca, desde que esse pedido esteja de acordo com Sua
vontade (cf. 1Jo 5.14). Portanto, anime-se! Pois é vontade de Deus que tenhamos
sabedoria!

A única coisa que você precisa fazer é pedir. Há duas maneiras de fazer isso:

1. com fé (Tg 1.6) – Ter fé é estar seguro de que Deus vai cumprir o que prometeu,
e estar convicto de que Ele está no controle da situação, mesmo quando não
conseguimos entendê-la ou enxergar a solução (cf. Hb 11.1). Somente pedidos
feitos com fé serão atendidos por Deus (cf. Mt 21.21-22).
74

2. com dúvidas (Tg 1.6-8) – Duvidar significa estar dividido entre dois pensamentos
ou atitudes de lealdade. O que duvida está sendo infiel e pondo o caráter de Deus
em xeque. Para que entendamos melhor o que isso significa, Tiago “pinta” três
retratos dos que duvidam.

– Primeiro retrato – uma onda no mar (Tg 1.6)

Assim como as ondas do mar estão em constante movimento e nunca apresentam a mesma
aparência, são essas pessoas no relacionamento com Deus. Hoje acreditam, mas amanhã
duvidam. Em uma semana, decidem ser alunas regulares da escola bíblica, mas ninguém
é capaz de encontrá-las novamente na igreja duas semanas depois.

– Segundo retrato – um esquizofrênico no espelho (Tg 1.8)

Assim como pessoas com duas personalidades, essas pessoas são dipsychos, “Duas
mentes” (cf. Tg 4.8). Por um lado, querem agradar a Deus; mas por outro, desejam algo
mais no mundo. Oram como Agostinho certa vez orou: “Senhor, faz-me puro, mas não
agora”. Ou cantam o verso: “tudo a ti, Jesus, entrego; Tudo, tudo deixarei”, e no coração
sussurram: “mas não posso esperar até o casamento para praticar sexo”.

– Terceiro retrato – o andar de um bêbado (Tg 1.8)

Assim como um bêbado errante, que muda seu caminho a cada passo, são as pessoas que
duvidam. Sempre inconstantes em seus caminhos, são incapazes de se manter fiéis a um
único senhor (cf. 1Rs 18.21).

Em Romanos 8.28, Paulo diz que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus”. É sempre mais fácil acreditar nessas palavras em momentos de paz. Ao
mencionar “todas as coisas”, ele inclui as boas e as más. Você acredita mesmo nisso?
Como essa verdade deve direcionar a maneira pela qual você reage ao sofrimento?

III. O prêmio final: a Coroa da Vida (Tg 1.12)

Além do benefício da maturidade espiritual que o sofrimento produz no tempo presente,


Tiago ainda menciona um prêmio final para aqueles que perseverarem até o fim.

A vida cristã pode ser comparada a uma corrida de obstáculos. O cristão encontrará muitas
dificuldades ao longo de sua jornada, muitos altos e baixos, pedras e buracos pelo ca-
minho. No entanto, ao cruzar a linha de chegada, ele receberá a recompensa por todas as
lutas travadas. Não apenas o primeiro colocado, mas todos os que a cruzarem receberão
o prêmio.

Os que suportam a provação com perseverança são chamados de bem-aventurados, ou


felizes (cf. Mt 5.10-12). É maravilhoso pensar que a alegria cristã não é uma “loteria”.
Não depende de boas notícias ou promoção no emprego. Não se resume a um rápido
momento de euforia. Pelo contrário, é uma bem-aventurança cuja essência é o próprio
Deus; um contentamento estável que independe de situações externas. É uma bênção que
75

mantém os cristãos satisfeitos em Deus mesmo em meio à dor da provação (cf. 2Co 12.7-
10; Rm 8.18).

Tiago diz que os que suportam com perseverança a provação receberão a coroa da vida.
A coroa simboliza glória e honra e, sendo a coroa da vida, simboliza ainda a vida
abundante e real que somente o cristão genuíno pode desfrutar. Paulo também esperava
receber uma coroa ao final de sua jornada de lutas e provações (2Tm 4.6-8; cf. 1Pe 5.1-
4; Ap 2.10).

É possível que na jornada enfrentemos a dor da perda de pessoas queridas, de enfermida-


des, da solidão e diferentes níveis de perseguições. No entanto, Cristo nos garante a
verdadeira vida que nem a morte é capaz de usurpar. Vale a pena sacrificar tudo por Deus!
Nós podemos cantar com Martinho Lutero: “Se temos de perder filhos, bens, mulher; se
tudo se acabar e a morte enfim chegar; com Ele reinaremos”(Salmos e Hinos, nº 640).

O missionário Jim Elliot, martirizado em 1956, no Equador, por índios que ele e sua
equipe evangelizavam, disse: “Não é tolo quem entrega o que não pode reter, para ganhar
o que não pode perder”. Pelo que você tem sofrido? Isso durará para sempre? O que tem
sido seu objetivo de vida em lugar da glória de Deus?

Conclusăo: A ordem bíblica para a nossa vida é simples: primeiro, sofrimento; depois,
glória (cf. 1Pe 1.11; 4.13; 5.1). No entanto, é grande o número de pessoas que tentam
pular a primeira etapa da vida cristã exigindo prosperidade e sossego no mundo. Elas
buscam relacionamento com Deus em troca dos benefícios que Ele pode lhes dar. Querem
um Deus servidor, que lhes dê tudo o que exigem. Será que essa atitude não demonstra
um amor a Deus baseado apenas nos milagres que Ele pode fazer? E quanto a você? O
seu amor a Deus está baseado no que Ele pode lhe dar ou em quem Ele é? Você
continuaria amando o Senhor se Ele tirasse tudo o que você tem? (cf. Jó 1.21-22; Fp 3.7-
11).

Cristo jamais nos prometeu uma jornada fácil, mas garantiu que estaria conosco todos os
dias (Mt 28.20), compadecendo-se de nossas dores (Hb 4.15), ajudando-nos a carregar o
nosso fardo e levando-nos a salvo para o gozo eterno (Jo 14.1-3; 16.33). Portanto, tenha
paciência ao passar pela provação. Lembre-se de que Deus tem o tempo perfeito para
todas as coisas e certamente concluirá com glória o que começou com dor (cf. Tg 5.7-
11). O maior exemplo de sofrimento é o próprio Senhor Jesus (1Pe 2.18-25). Se você acha
sua vida injusta ou demasiadamente difícil, pense um pouco nos sofrimentos Daquele que
jamais pecou (cf. Is 53). Ele escolheu sofrer por você (Jo 10.17-18). Você está disposto a
escolher sofrer por Ele?

Em vez de murmurar, resmungar ou se revoltar contra Deus em momentos difíceis, reaja


com alegria por saber que Deus está lhe aperfeiçoando para o grande dia de nosso
encontro com Ele nos céus (cf. 1Pe 1.3-9). Reaja com a alegria de quem tem o seu tesouro
nos céus e consegue enxergar os benefícios de uma fé madura, purificada pelo fogo das
provações. A dor pode até lhe fazer gemer, mas que ela não tenha poder para lhe fazer
murmurar contra Deus. Só depende de você!
76

AULA 16

O DISCÍPULO E SUA VIDA DE


ORAÇÃO
Texto básico: Mateus 6.5-14

Introdução
Nossa vida cristã não é estática. Às vezes, como discípulos do Senhor, experimentamos
momentos de fervor espiritual, mas também podemos viver momentos de sequidão e
frieza na fé. E quando chega a esse ponto precisamos nos voltar para Deus e suplicar por
sua renovação. Precisamos buscar a restauração do primeiro amor, do entusiasmo pela
expansão do reino, do desejo de viver com um coração consagrado a Deus, desejo de orar
e ler a Palavra, coisas essas que corremos o risco de perdermos e às vezes sem nos dar
conta. Mas como restaurar nossa vida de oração e intimidade com o Senhor?

A prática da oração é a arte de entrar na presença de Deus e, por


meio da fé, com base no sacrifício de Cristo, falar com Deus.

Como disse John Bunnyan: “Oração é o derramar sincero, consciente e afetuoso da alma
diante de Deus por meio do Senhor Jesus Cristo, na graça do Espírito Santo”.26 Em
outras palavras, orar é reconhecer o senhorio de Deus e a nossa inteira dependência dEle.
A prática da oração é um dos mais extraordinários meios de graça de que o homem pode
dispor. (Fp 4.6-7, Mt 7.7-8 e Tg 5.16b, Tg 4.2-3, 1 Pe 3.7 e Pv 28.9).

A ORAÇÃO DO PAI NOSSO: ORAÇÃO MODÊLO


A tão conhecida “Oração do Pai-Nosso” foi dada por Jesus para nos servir de modelo,
de orientação em nossas orações. Em Mateus 6:9 lemos “Vos orareis assim...”,
mostrando que esta deveria ser uma oração modelo. É preciso aqui fazer uma advertência
- Jesus não deu esta oração para ser simplesmente repetida, mas para servir de bússola
para nos orientar nas prioridades que devem fazer parte de nossa vida de oração. No
entanto, como disse Timothy Keller, a Oração do Pai Nosso é um recurso subutilizado,
em parte por ser familiar demais.27 Na aula de hoje vamos estudar essa “oração modelo”
e aprender o que ela significa em nossa comunhão com Deus.

26
BUNYAN, John. Um Tratado sobre a Oração. E-book. O Estandarte De Cristo.com. 2014. p.5
(acessado em 27/12/2016)
27
KELLER, Timothy. Oração – experimentando intimidade com Deus. Edições Vida Nova. São Paulo.
2016. p.118
77

Como não devemos orar


Antes de nos ensinar as seis petições da sua oração, nos versos 5 a 8 de Mateus 6, Jesus
apresenta a maneira errada e a certa de orar.

a) Cuidado com o exibicionismo espiritual: Em relação à maneira errada de orar,


Jesus nos alerta sobre dois erros que facilmente podemos incorrer em nossa vida de
oração. Cuidado com o exibicionismo: Devemos cuidar para não cair no mesmo
exibicionismo espiritual da oração dos fariseus. “E quando orares, não sereis como
os hipócritas, porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças,
para serem vistos pelos homens”(V.5). Eles usavam a oração para se auto
promoverem.

b) Cuidado com a oração mecânica: O segundo alerta que Jesus faz está no verso 7 é
que devemos evitar a oração mecânica, repleta de repetições. “E orando não useis
de vãs repetições, como fazem os gentios, que presumem que pelo muito falar, serão
ouvidos”. Jesus está proibindo qualquer tipo de oração com a boca, quando a mente
e coração não estão participando.

COMO DEVEMOS ORAR


Agora, em relação à maneira correta de orar, Jesus nos ensina que devemos ter em mente
alguns princípios:

a) O Princípio da Exclusão. “Tu, porém, quando orardes entra no teu quarto e feche
a porta ...” v.6. O que Cristo está nos ensinando aqui é que devemos excluir tudo
aquilo que tenta nos desviar a atenção de estarmos na presença de Deus. Devemos
fechar a porta para não sermos distraídos e perturbados, mas também para fugir
aos olhos dos homens e para ficarmos a sós com Deus

De nada adianta entrar no quarto, fechar a porta, se a todo tempo, estou cheio de mim
mesmo, pensando em meu próprio eu, orgulhando-me de minhas orações. Com igual
razão eu poderia estar orando nas ruas e praças28.

b) O Princípio da Percepção: “... orarás a teu Pai..” V. 6. Precisamos perceber que


estamos na presença de Deus. Perceber quem Deus é. Deus nos convida a termos
comunhão com ele; falar com ele sobre nossos desejos e experiências – nossas
necessidades, medos e feridas. Precisamos entender, perceber que estamos na
presença do Senhor dos senhores, Rei dos reis. Ele é aquele que me conhece, sabe
de minhas lutas e quer o melhor para mim (Ef. 3:20)

28
John Stott, A Mensagem do Sermão do Monte. Editora ABU. São José dos Campos. 1997 p. 147
78

c) O Princípio da Confiança: “e teu Pai, que te vê em secreto, te recompensará” V.6.


Precisamos nos aproximar de Deus, com uma confiança simples de uma criança.
Precisamos ter a certeza de que Deus é, verdadeiramente nosso Pai. Às vezes
sentimos que nossas orações não “passam do teto”. Contudo, nossos sentimentos
não são a chave para o atendimento nem para a resposta de Deus. Um princípio
libertador, em oração, e em nossa vida diária, é a confiança depositada em Deus,
e não em nossos sentimentos. Sentimentos são resultado da fé, não a base da fé.
Às vezes deixamos que nossos sentimentos determinem se vamos orar, ou não.
Porém, isto é um erro.

A oração do Pai Nosso

Prefácio da Oração do Pai-Nosso:

1) Pai nosso que estás no céu – v. 9 - "Que estás no céu" abre a oração modelo
lembrando-nos da sua infinita perfeição e da nossa imperfeição e o abismo que nos separa.
Devemos sim, nos aproximar de Deus como Pai, com intimidade, mas com toda
reverência, pois há um elemento de separação entre nós e Deus. Devemos chegar a Deus
com ousadia, porém nunca com arrogância e pretensão. “Que estás no céu” serve para
observar o seguinte: Quando oramos, devemos lembrar quem somos e a quem estamos
nos dirigindo29. Mas também, chamar Deus de Pai, nos lembra da nossa posição em
Cristo.30 Ninguém pode chamar Deus de pai a menos que esteja certo de sua filiação pela
graça a família da fé.

A Oração do Pai-Nosso pode ser dividida em duas partes31: Primeira: Os primeiros três
pedidos expressam nossa preocupação com a glória de Deus. Segunda: Os outros três
pedidos devem expressar nossa dependência da Graça de Deus.

Três primeiros expressam nossa preocupação Três últimos expressam nossa dependência de
com a Glória de Deus Deus
 Santificado seja teu nome  O pão nosso de cada dia
 Venha a nós o teu Reino  Perdoa-nos as nossas dívidas
 Seja feita tua vontade  Não nos deixe cair em tentação, mas
Livra-nos do mal

Assim que Pedro e João foram soltos, dirigiram-se aos irmãos e promoveram uma reunião
de oração (At 4.23,24). Se intencional ou não, a igreja seguiu o padrão da oração do Pai
Nosso. Podemos perceber que a oração de Atos 4.23-31 tem duas grandes divisões: 1ª.)
O centro da oração é a pessoa de Deus. O que eles dizem na sua oração salienta um dos

29
R.C. Sproul, Discípulos Hoje, pg. 98
30
KELLER, Timothy. Oração – experimentando intimidade com Deus. Edições Vida Nova. São Paulo.
2016. P.119
31
John R.W. Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, ABU Editora, p. 150
79

propósitos mais importantes da oração – glorificar a Deus; 2ª.) Na segunda divisão eles
apresentam suas necessidades.

EXPRESSANDO nossa preocupação com a glória de Deus


1.1. Santificado seja teu nome. O nome para o judeu representa a pessoa que o usa, o
seu caráter e a sua atividade. (João 17.1-5; 12.27,28; Sl 115.1).
Orar é um problema para muitas pessoas em nossos dias. E qual é o problema? Não
conhecem a Deus. É impossível ter prazer na oração quando não se conhece a Deus e não
se tem prazer nele. A quem estamos nos dirigindo? A quem vamos orar? Temos que
iniciar por este ponto. Não podemos começar conosco mesmos.

1.2. Venha a nós o teu Reino. Orar que o seu reino "venha" é orar que ele cresça à medida
que as pessoas se submetam a Jesus através do testemunho da Igreja, e que logo ele seja
consumado com a volta de Jesus em glória para assumir o seu poder e o seu reino. Estamos
na oração “Venha o teu Reino”, fazendo uma oração missionária. Estamos desejando que
o evangelho tenha sucesso alcançando homens e mulheres, tirando-os do domínio do
pecado e do reino das trevas, para o Reino de Deus (I Co 15:24-28; II Co 4:3-5 ).

1.3. Seja feita tua vontade. A vontade de Deus é "boa, aceitável e perfeita" (Rm 12.2;
Mt 26.39 – Jesus no Getsêmane). “Assim na terra como no céu”. O que Jesus nos incita
a orar é que a vida na terra se aproxime o mais possível da vida no céu, pois a expressão
na terra como no céu parece aplicar-se igualmente à santificação do nome de Deus, à
propagação do seu reino e à consumação da sua vontade.

EXPRESSANDO NOSSA DEPENDÊNCIA DE DEUS


1.1. O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje. O pão (mais simples de todos os
alimentos) representa também que devemos pedir por aquelas coisas que
precisamos para vivermos uma vida saudável, as coisas necessárias. Esta oração
não autoriza a pedirmos coisas para uma vida de luxo e extravagâncias. O
contentamento na vida não é adquirido através dos bens que possuímos, mas por
uma vida submissa a Deus. (Fl. 4: 11).

A oração não ensina somente a moderação, mas também a confiança expressa em um


Deus de amor (Salmo 37.25), eliminando assim a ansiedade quanto ao futuro (Mt 6.34).
Ensina ainda a total dependência de Deus, a humildade para pedir ao Pai e a gratidão para
compartilhar o pão com os demais.

A oração é um instrumento pelo qual confessamos duas coisas ao mesmo tempo: a


estreiteza de nossos recursos e a extrema largueza dos recursos de poder e do amor de
Deus. A prática da oração é um dos mais extraordinários meios de graça de que o homem
pode dispor.
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1.2. Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos
devedores.
O perdão é tão indispensável à vida e à saúde da alma como o alimento para o corpo. Por
isso, o pedido seguinte é: Perdoa-nos as nossas dívidas. O pecado é comparado a uma
"dívida", porque merece o castigo. Mas quando Deus perdoa o pecado, ele cancela a
penalidade e anula a acusação que há contra nós (Cl 2.13-15).
Uma lição desse ponto da oração do Senhor é que devemos aprender a confessar os nossos
pecados. “Perdoa-nos as nossas dívidas” é um pedido de perdão pelos pecados
cometidos. A prática da confissão é a decisão de apresentar diante de Deus para se
declarar culpado de pecados pessoais e específicos, com o propósito de obter perdão e
purificação, mediante a obra vicária de Jesus Cristo.
A confissão verdadeira remove a crise provocada pelo pecado e restaura a comunhão
perdida. A comprovação de sua eficácia depende mais da fé do que de sentimentos. Por
meio da contínua confissão de qualquer transgressão e de qualquer omissão é
perfeitamente possível manter a higiene da alma (Salmo 38:18; Salmo 51:12, I João 1.7)
O acréscimo na oração “como nós temos perdoado aos nossos devedores”(Vs 14 e 15),
não significa que o perdão que concedemos aos outros garante-nos o direito de sermos
perdoados. Antes, esta adição nos ensina que Deus perdoa somente o arrependido, e uma
das principais evidências do verdadeiro arrependimento é um espírito perdoador. Vemos
esse ensino claramente ilustrado na parábola do credor incompassivo (Mt 18:23-35). Sua
conclusão é: "Perdoei-te aquela dívida toda (que era imensa) . . .; não devias tu,
igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?" (v.
33).

O propósito dessa parábola é deixar claro que, se nós recebemos o perdão de Deus em
Cristo devemos também mostrar este perdão ao nosso próximo que porventura nos tenha
ofendido. A recusa de perdoar pode ser um sinal de que talvez a pessoa não tenha
experimentado o maravilhoso perdão de Deus.

Precisamos levar em conta que todos nós temos a necessidade de perdoar. O perdão faz
bem e restaura nossos relacionamentos. Onde há relações partidas, feridas não resolvidas,
mágoas não tratadas e relacionamentos interrompidos, está faltando perdão. Alguém já
disse que guardar ressentimentos “equivale a ingerir veneno esperando que aquele que
nos ofendeu morra”. Neste sentido, podemos entender que perdoar é drenar o veneno de
nosso coração. Perdoar é romper as cadeias da prisão que nos mantém escravos de um
passado inalterável. Quem se recusa a perdoar, armazenando mágoas em seu coração,
será atormentado por pensamentos e sentimentos interiores (Mt 18.23-35, Salmo 32.3,4).

1.3. Não nos deixe cair em tentação, mas livra-nos do mal:

É sempre uma tragédia para a vida cristã e para a nossa comunhão com Deus quando
caímos em tentação. Por isso, nosso Senhor, na sua oração modelo nos ensina a orar para
não cairmos em tentação. Tentar é induzir ao pecado com o objetivo de: nos enfraquecer,
81

nos afastar de Deus, nos entristecer, roubar nossa alegria cristã e gerar endurecimento em
nosso coração, dentre outras coisas. A tentação é universal e inevitável. Todos, sem
exceção, em todo o lugar, passam pelo crivo da tentação (João 17.15).

O melhor dos santos pode ser tentado pelo pior dos pecados. Por isso, não devemos
estimular, mas também não podemos ignorar esta realidade. Ser tentado não é pecado. O
cair é. “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana” (cf. 1Co 10.13). “Aquele,
pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (cf. 1Co 10.12).
Quais são algumas áreas de sua vida em que você precisa estar mais atento, vigiando em
oração para não cair diante das tentações?

"Não permitas que sejamos induzidos à tentação que nos possa derrotar, mas livra-nos
do maligno". Assim, por trás dessas palavras que Jesus nos deu para orar, encontramos
a implicação de que o diabo é o tentador. Satanás nos tenta em momentos oportunos,
quando estamos mais vulneráveis. Devemos nos lembrar de que um dos momentos em
que Jesus foi tentado foi quando estava com fome. Satanás tenta nos momentos de
carência, necessidade, onde podemos estar mais fragilizados. Satanás pode se aproveitar
de algum momento oportuno (Lucas 4.13).

Jesus foi tentado também quando estava só. Nestes momentos, somos mais tentados.
Após um momento de auge espiritual, tendemos a “baixar a guarda”. Quando estamos
debilitados, o inimigo sempre tentará no ponto fraco. Quando estamos sós, somos mais
tentados ainda, pois ninguém está vendo. Satanás sabe qual é a área em que você será
mais fácil de ser tentado.

Conclusão e aplicação
Os três pedidos que Jesus coloca em nossos lábios são magnificamente completos.
Incluem, em princípio, todas as nossas necessidades humanas: materiais (o pão de cada
dia), espirituais (perdão de pecados) e morais (livramento do mal). O que fazemos,
sempre que proferimos esta oração, é expressar nossa dependência de Deus em cada setor
da vida humana.
1) Qual é o lugar da oração em sua vida?
2) Que importância ela tem para você? Quão essencial ela é na sua vida cristã? Será que
temos consciência de que sem ela desfalecemos?
3) Se a oração é tão indispensável, pôr que a faço tão pouco?
4) Você tem algum plano de oração?
82

AULA 17
A OBEDIÊNCIA DO DISCÍPULO
"Por que me chamais Senhor, Senhor e não fazeis o que eu
vos mando? " (Lucas 6:46).
“Se vocês permanecerem firmes na minha palavra,
verdadeiramente serão meus discípulos” (Jo 8.31).
INTRODUÇÃO
Como se pode saber se uma pessoa é cristã genuína ou falsa? Há diversos critérios, mas
entre os mais importantes está a questão da obediência. Uma pessoa pode dizer: "Ah, sim,
eu creio, eu creio." Mas se sua vida não for de obediência àquele a quem professa como
Senhor, algo estará errado. Não combina. Nosso Salvador perguntou: "Por que me
chamais Senhor, Senhor e não fazeis o que eu vos mando? " (Lucas 6:46).
Tiago declarou que a fé tem que resultar em certas obras a fim de ser visivelmente válida.
(Tiago 2.26). Se você realmente acredita em Deus, haverá evidências na sua forma de
viver, nas coisas que você diz, e nas coisas que você faz.

Há uma relação inseparável entre obediência e fé — quase


como duas faces de uma moeda.

É difícil falar de uma sem incluir a outra. Na aula de hoje vamos aprender sobre a
importância da obediência na vida do discípulo. O discípulo cresce espiritualmente
quando obedece — como filhos obedientes que crescem para ser adultos maduros,
obedientes e produtivos.

I. O que é obediência?
Obediência é expressar o amor de Cristo a Cristo ao guardar a Palavra. Cristo produz em
nós o fruto do Espírito (Gl 5:22-25). O Espírito produz em nós o amor de Cristo por boas
obras; pois é para isto que fomos criados. Deus nos criou para as boas obras (Ef 2:10). O
amor de Cristo em nós nos leva a boas obras quando estudamos e observamos a Palavra.
Quando nós nos agradamos em seguir todos os mandamentos de Deus, ele se agrada. Não
deveríamos ser obedientes a Deus quando Deus, em numerosas passagens, ordena
obediência de nossa parte como representantes de sua Palavra? (Nm 27:20; Isaías 1:19;
Atos 6:7; Rm 6:16; 16:19; 16:26; 2Co 7:15; 9:13; Fp 1:21; 1Pe 1:2). Deus requer de nós
que sejamos obedientes em toda circunstância.
83

II. A Motivação da Obediência.


Lembre-se de que iniciamos nossa lição afirmando que uma forma pela qual se percebe
se uma pessoa é ou não genuinamente cristã é pela medida da obediência. Mas qual a
força motivadora dessa obediência? Que espécie de obediência é essa? Vejamos o que
podemos descobrir no livro de I João.
"Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele verdadeiramente tem
sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele" (I
João 2:5)
"Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus
mandamentos" (2:3).
A palavra "guardamos" leva consigo a ideia de obediência vigilante, observadora. Mas
não é uma obediência ligada à pressão ou força. Não dizemos: "Bem, eu tenho que
obedecer porque se não o fizer serei aniquilado por um martelo divino". Não é nada disso.
É mais como: "Estou ansioso por fazer isso!"

“O discípulo verdadeiro demonstra que conhece a Deus por


um profundo desejo em seu coração de ser obediente”.

A guarda habitual, a cada momento, da Palavra de Deus num espírito de obediência é


sinal do cristão maduro. Quando as pessoas dizem ser cristãs mas vivem como bem
entendem, completamente desinteressadas em obedecer os mandamentos de Deus, elas
contradizem aquilo que dizem.

A palavra que João utiliza aqui por "mandamento" é também significativa. Neste livro
João usa a palavra entolé pelo menos 14 vezes, ao referir-se aos preceitos de Cristo. Mas
no Evangelho, quando João fala sobre a Lei de Moisés, ele usa outra palavra — nomos.
João quer enfatizar os preceitos de Cristo mais que a lei de Moisés. Se tivermos um
espírito de obediência quanto à guarda dos preceitos de Cristo, um desejo ardente de que
sejam honrados, uma determinação em obedecê-los, isto constitui prova experimental
contínua de que a pessoa veio ao conhecimento de Deus e do Senhor Jesus Cristo.
Quando uma pessoa se torna crente, reconhece abertamente que Jesus é seu Senhor. Se
ela realmente O entroniza, ela se submete com alegria à autoridade de Cristo. Se a pessoa
diz a Jesus: "Tu és Senhor!" a questão está terminada. Os que continuam a guardar os
Seus mandamentos são os que estão realmente conhecendo a Deus, seguros nEle.

III. Duas Espécies de Obediência: Legal e graciosa.


E se procuramos ser obedientes, mas falhamos - somos condenados? Temos que
distinguir entre obediência legal e obediência graciosa. A obediência legal exige
obediência absoluta, perfeita, sem falha alguma. Se uma vez a lei for violada - morte!
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Mas existe a obediência graciosa, onde as próprias palavras têm um som melhor. A
obediência graciosa pertence à aliança da graça. É um espírito amoroso e sincero de
obediência que, embora repleta de defeitos, é aceita por Deus, pois suas máculas são
apagadas pelo sangue de Jesus Cristo. Percebe a diferença?

Na aliança da graça, Deus olha o coração, não as obras. Fico contente com isso — e
você? Se Deus me julgasse pela obediência legal, eu passaria a eternidade no inferno.
Mas Deus olha para mim e diz: "Gildásio, com todos os seus defeitos, você tem um
coração que tende a me obedecer. Você possui um espírito que deseja submeter-se ao
meu senhorio, mesmo que você falhe com frequência".

É por isso que nós somos abençoados por nos encontrarmos deste lado da cruz. Jesus
morreu para que Seu sangue cuidasse dos defeitos da obediência. É muito melhor estar
sob a obediência graciosa do que sob a obediência à lei.

O Desejo do Coração. Para que ninguém se engane, permita-me outra ilustração. Será
que os discípulos, sempre - sempre mesmo – obedeceram legalmente a Deus? É claro que
não. Pedro, por exemplo, ou Tiago ou João.

Todos falharam para com o Senhor e cometeram erros, pois eram homens pecadores. No
entanto, Jesus pôde dizer ao Pai "...eles têm guardado a tua palavra" (João 17:6). Será que
eles tinham mesmo guardado a palavra de Deus consistentemente? Claro que não. Será
que Jesus os media com a obediência absoluta, da lei mosaica, ou Ele media o espírito
obediente? Nós sabemos a resposta — suas propensões, desejos e
determinações em se submeterem a Jesus Cristo — era isso que Jesus media, e
Ele cobriu os defeitos com Seu sangue derramado.

Deus não espera perfeição absoluta. Se você fizer alguma coisa errada ou tiver alguma
falha, Ele não diz que você está acabado e não é mais cristão. Não, pois Deus olha para
o jorrar constante de um coração que tem em si o espírito de obediência.

“O verdadeiro cristão tem o desejo de se submeter a Jesus


Cristo mesmo que nem sempre ele consiga cumprir o desejado.
Mas Deus lê por trás das meras ações e o aceita”.

Tal obediência não se baseia na lei, mas no amor; não no medo mas na amizade. Vários
versículos de João destacam isso. Quando Jesus falou que voltaria ao céu, Ele não disse:
"Guardem os meus mandamentos -senão..." Ele disse: "Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda, esse é o que me ama..." (João 14:21). Assim, obedecemos,
não por temor, mas por amor.
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Deus nos deu seus mandamentos para que possamos nos tornar obedientes a seus
mandamentos. E nós somos capazes de ser obedientes por meio do sacrifício de seu Filho
na cruz por nós. Sem o lavar-se no sangue de Cristo, nenhum homem é capaz de seguir a
Lei. Não, nós não somos legalistas, e não somos antinomianos. Nós somos cristãos que
desejam fazer a vontade do Pai. Nós somos aqueles que podem dizer com Paulo: “Toda
a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:16-17).

IV. O Molde da Obediência.


Temos, portanto, o princípio de que é possível identificar-se o cristão pela sua obediência.
Agora, vejamos o molde da obediência. Por molde quero dizer algo sobre o qual você
pode colocar a sua vida, para traçá-la sobre as mesmas linhas. 1 João 2:6 nos diz que:
"Aquele que diz que permanece nEle, esse deve também andar assim como Ele andou"

Talvez você diga: "Já era difícil ter que guardar os Seus mandamentos. Agora temos que
ser como Ele. Eu não consigo!" O versículo não diz que seremos exatamente como Ele,
mas que deveremos ser como Ele. Cristo é nosso modelo e molde. Devemos conduzir-
nos à semelhança de Cristo. Viver como Ele viveu. “A obediência nos conduz à
maior semelhança com Cristo”.

Tomemos alguns exemplos específicos. Filipenses 2:8 fala-nos a respeito de Jesus: "e
reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à
morte, e morte de cruz". Jesus tinha a forma de Deus, mas não insistiu em guardar essa
glória, esse privilégio. Ele voluntariamente deixou de lado essa glória para vir ao mundo,
humilhando-se. É o maior exemplo de humildade que já houve. E é esse o nosso molde.
Note que esta passagem fala também sobre a obediência de Cristo. Nosso Senhor foi
obediente em todas as coisas. Pagou seus impostos. Obedeceu à risca a lei mosaica.
Obedeceu a lei cerimonial. Obedeceu as determinações divinas de sua messianidade. O
Evangelho de João deixa bem claro essa questão. Jesus disse: "Porque eu desci do céu
não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou." (João
6:38). Todo seu espírito era de obediência.

Mais uma vez: "...Aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque
eu faço sempre o que lhe agrada" (João 8:29). E em João 14:31: "...faço como o
Pai me ordenou". Mais uma vez: obediência. Cristo deu o modelo. Sua obediência
em amor torna-se, portanto, aquilo sobre o qual deveremos traçar nossas vidas. Essa
espécie de obediência caracterizava o nosso bendito Senhor e deverá caracterizar-nos
também.
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Conclusão
Quando obedecemos a Jesus, vamos conhecê-Lo mais profundamente, tornamo-nos mais
como Ele, e Ele manifesta-se nas nossas vidas. Você cresce para ser como Cristo enquanto
obedece.

1) Nós que nos tornamos filhos de Deus devemos obedecer-lhe completamente. Por
quê? João 10.27
2) Compartihe com as demais pessoas do seu grupo uma situação em que você seguiu o
exemplo de Jesus e obedeceu à voz de Deus.
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AULA 18
CONFISSÃO: O DISCÍPULO
BUSCANDO RESTAURAÇÃO
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar
os pecados e nos purificar de toda injustiça” [1 Jo 1.9].

Introdução
Na caminhada cristã, todos tropeçamos e nos sujamos de novo com o pecado. Como
voltar ao prumo? Como retomar o caminho de santidade e obediência proposto por Deus?
E o pecado é um grande obstáculo à nossa consagração.

A confissão verdadeira remove a crise provocada pelo pecado e


restaura a comunhão perdida ou arranhada.

Por meio da contínua confissão de qualquer transgressão e de qualquer omissão é


perfeitamente possível manter a higiene da alma e a comunhão com Deus.

I. O QUE É CONFISSÃO?
A confissão do pecado é uma providência tornada possível pela misericórdia divina para
sanar as fraquezas cometidas ao longo da caminhada cristã. A confissão verdadeira
remove a crise provocada pelo pecado e restaura a comunhão perdida ou arranhada. Por
meio da contínua confissão de qualquer transgressão e de qualquer omissão é
perfeitamente possível manter a higiene da alma. Assim posto, a confissão é um meio que
Deus nos concede para a nossa consagração a Ele.

Aprecio a definição de confissão, elaborada pelo pastor Elben M. Lens Cesar, que diz:

“A pratica da confissão é a arte de nos apresentarmos constantemente diante de Deus para


nos declararmos culpados de pecados pessoais e específicos, depois de suficientemente
alertados e repreendidos pela boa consciência, pela Palavra de Deus e pelo Espírito, com
o propósito de obter perdão e purificação, mediante a obra vicária de Jesus Cristo”.

II. O QUE DEVEMOS CONFESSAR


Algumas pessoas têm dificuldade de confessar. Não sabem exatamente o que declarar
diante de Deus. Porque a confissão deve ser consciente e precisa, aqui estão algumas
lembranças:

1. Confesse o pecado cometido.

Deus exige que você confesse "aquilo em que pecou" (Lv 5.5). Cite o pecado pelo nome
certo. Talvez seja a inveja, a maledicência, a dificuldade de perdoar, a irritação, a palavra
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impiedosa, a indelicadeza, o egoísmo, a soberba, a contenda, a lascívia, a falta de amor,


a apropriação indébita, a profanação do nome de Deus, o mau trato dispensado ao cônjuge
ou ao filho, a acepção de pessoas, a incredulidade para com Deus e muitas outras coisas.
Declare sua falha, desobediência e culpa.

2. Confesse a pecaminosidade latente.

Mesmo que você não tenha chegado ao ponto de satisfazer a vontade de pecar, é justo que
você lamente diante de Deus o potencial pecaminoso de que é portador. Já é um transtorno
e sinal de decadência a vontade de mentir, a vontade de adulterar, a vontade de aparecer,
a vontade de roubar, a vontade de difamar. Nesse caso, você confessa não o pecado
cometido, mas o pecado desejado. Esse tipo de confissão é saudável, pois revela que você
tem consciência pessoal da queda, da vulnerabilidade e da necessidade do auxílio do alto.
Observe como o salmista se queixa de alguma coisa que o acompanha sempre: "Pois estou
prestes a tropeçar; a minha dor está sempre perante mim" (Sl 38.17); "A minha ignomínia
está sempre diante de mim" (Sl 44.15); "O meu pecado está sempre diante de mim" (Sl
51.3). A melhor confissão da pecaminosidade latente foi escrita e assinada por Paulo: "Eu
sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum" (Rm 7.18).

3. Confesse as faltas que lhe são ocultas.

Há pecados tão corriqueiros, costumeiros e generalizados que não são de imediato e fácil
discernimento. Mesmo assim devem ser confessados, a exemplo de Davi: "Quem sou eu
para saber os pecados que se escondem em meu interior? Por favor, Senhor, perdoa estes
meus pecados ocultos!" (Sl 19-12) Junto com essa confissão, você deve fazer esta súplica:
"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos;
vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno" (Sl 139.23, 24).

III. OBSTÁCULOS À CONFISSÃO


O homem que cometeu adultério com Bate Seba e mandou matar o marido dela admite
que perdeu muito tempo enquanto calou os seus pecados. A mão de Deus pesava sobre
ele dia e noite e o seu vigor se tornou em sequidão de estio. Ele precisava
desesperadamente do perdão de Deus e da perfeita paz, que só viriam depois da confissão.
Davi mesmo se prejudicou e se desgastou desnecessariamente, atrasando o processo da
cura do pecado (Sl 32.1-5). É de todo necessário conhecer e analisar os obstáculos que
tornam morosa e tardia a prática da confissão:

1. Orgulho
O pecador não quer admitir que pecou e resiste ao processo que o pode levar a ter
convicção de pecado. Ele diz: "Não pequei", quando deveria dizer exatamente o contrário:
"Pequei". O fariseu da parábola de Jesus chegava a dar graças a Deus porque não era
como os demais homens, nem ainda como aquele publicano que se declarava culpado
89

diante de Deus (Lc 18.9-14). Tais pessoas preferem fugir a vida inteira da justiça divina,
à semelhança de Caim: "Serei fugitivo e errante pela terra" (Gn 4.14).

2. Consciência endurecida
O pecador não percebe o seu próprio pecado. Enxerga com facilidade e, às vezes, com
lentes de aumento o pecado alheio, mas é incapaz de se ver "infeliz, sim, miserável, pobre,
cego e nu", como aconteceu com o anjo da igreja em Laodicéia. (Ap 3.17.) Este é um
fenômeno comum. Quando acusado, o pecador sempre pergunta: "Por que nos ameaça o
Senhor com todo este grande mal? qual é a nossa iniquidade, qual é o nosso pecado, que
cometemos contra o Senhor nosso Deus?" (Jr 16.10.) Essa dificuldade leva o pecador às
raias do cinismo: "Em que desprezamos nós o teu nome?", "Em que o enfadamos?", "Em
que havemos de tornar?", "Em que te roubamos?" e "Que temos falado contra ti?" (Ml
1.6; 2.17; 3.7, 8, 13.)

3. Medo de pecar outra vez


O pecador admite que pecou, mas já cometeu o mesmo pecado outras vezes e não está
suficientemente seguro de que não o cometerá mais. Então, ele prefere não confessar a
reincidência. Ele teme o cinismo, o que é uma virtude. Porém a falta de confissão vai
deixar a porta aberta ao pecado, além de trazer outros prejuízos.

Se houver arrependimento, nada impede que ele volte à confissão


quantas vezes forem necessárias.

Ora, se Jesus nos ensinou a perdoar "até setenta vezes sete" (Mt 18.22), não nos perdoaria
o mesmo tanto se dele nos aproximássemos para dizer mais uma vez: "Estou
arrependido"? (Lc 17.3-4.)

4. Noção de pecado
O pecador não sabe ao certo o que é pecado. Ele é capaz de coar o mosquito e engolir o
camelo (Mt 23.24). Dá mais atenção à tradição cultural do que à Palavra de Deus (Mt
15.6). Às vezes, só enxerga o pecado sexual; outras, só toma conhecimento do pecado
social. Para resolver essa dificuldade realmente séria, é necessário recorrer ao conceito
de pecado tão bem resumido nestas palavras: "Pecado é qualquer falta de conformidade
com a lei de Deus, ou qualquer transgressão dessa lei".

IV. OS ALARMES DE DEUS


Assim como a febre anuncia a existência de uma anormalidade qualquer no organismo,
Deus faz uso de alguns expedientes para levar o pecador à prática da confissão. Entre
eles, é possível mencionar:

1. A diminuição ou a perda da paz de Cristo


90

A paz interior é sinal de comunhão perene com Deus e de confiança nele: "Tu, Senhor,
conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme" (Is 26.3). Qualquer alteração
dessa paz pode indicar a presença de algo errado no comportamento. Daí a palavra de
Paulo: "Seja a paz de Cristo o árbitro em vossos corações" (Cl 3.15).

2. A interrupção brusca da alegria


A rigor, salvo algum momento de tribulação, a alegria é uma constante na vida do crente.
Basta lembrar a famosa advertência de Paulo: "Alegrai-vos sempre no Senhor" (Fp 4.4).
Mas a alegria não combina com o pecado: "Suporto tristeza por causa do meu pecado"
(Sl 38.18). A escassez de alegria está relacionada com o pecado. Por essa razão, ao
confessar o seu adultério com Bate-Seba, Davi suplica ao Senhor: "Restitui-me a alegria
da tua salvação" (Sl 51.12).

3. O desagradável senso de culpa e de sujidade espiritual


Invariavelmente o servo de Deus que comete pecado sente em seguida, ou algum tempo
depois, uma necessidade enorme de perdão e de purificação. A experiência de Davi foi
muito marcante quanto à sensação de imundícia moral. Ele chegou a pedir a Deus: "Não
me repulses da tua presença" (Sl 51.11). Suplicou também que o Senhor o lavasse
completamente da sua iniquidade e o purificasse de seu pecado (Sl 51.2), para que ele
ficasse "mais alvo que a neve" (Sl 51.7).

4. A pressão da boa consciência


Se a consciência não for de todo perdida nem danificada, ela exerce um papel acusatório
muito válido. Jesus aguçou a consciência daqueles escribas e fariseus que levaram à sua
presença a mulher surpreendida em adultério, de tal modo que eles abandonaram o local
um por um, a começar pêlos mais velhos, deixando só Jesus e a mulher (Jo 8.9). A
consciência pura gaba-se de feitos tremendos.

5. O peso da mão do Senhor


A mão do Senhor abençoa (Ed 7.9; 8.18), mas também castiga (Êx 7.5; 1 Sm 5.6). A
experiência de muitos coincide com a de Davi: "De dia e de noite sentia a mão de Deus
pesando sobre mim, fazendo com as minhas forças o que a seca faz com um pequeno
riacho" (Sl 32.4, BV). É esse estado de fraqueza que aproxima o pecador da prática da
confissão.

6. O confronto com a santidade de Deus


Um pequeno momento na presença da glória de Deus é suficiente para abalar
profundamente qualquer pecador. Ele enxerga claramente tanto a santidade absoluta de
Deus como a sua depravação pessoal. Então é capaz de reagir como Pedro reagiu:
"Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador" (Lc 5.8). Por causa do pecado, o homem
não suporta a glória do Senhor. O só ouvir a voz de Deus na transfiguração de Jesus fez
com que Pedro, Tiago e João caíssem de bruços, tomados de grande medo (Mt 17.6). O
mesmo aconteceu com os pais de Sansão (Jz 13.20,22) e com João na ilha de Patmos (Ap
1.17). Também Gideão (Jz 6.22) e Isaías (Is 6.5) estremeceram diante da presença do
91

Senhor. Deus ainda se manifesta em glória, ora por meio de um texto sagrado, ora por
meio de uma mensagem poderosa, ora por meio de uma experiência pessoal com o
Senhor.
7. A palavra acusatória de alguém
Em certos casos, os expedientes introspectivos até agora apresentados não dão resultado
ou não funcionam sozinhos. É preciso que alguém diga ao pecador que ele pecou. Foi o
que Nata fez com o rei Davi: "Tu és o homem" (2 Sm 12.7). Ou o que Elias fez com o rei
Acabe (1 Rs 21.17-29) e o que Paulo fez com Cefas (Gl 2.11-14).
8. O escândalo
Os pecados ocultos podem ser confessados e perdoados sem que venham
obrigatoriamente a público. Quando, porém, isso não acontece, o escândalo é uma
necessidade. Trata-se de um expediente doloroso e de impacto, mas extremamente útil
para acabar com o pecado secreto e provocar a necessária confissão: "Confessei-te o meu
pecado e a minha iniquidade não mais ocultei" (Sl 32.4). Só depois de ter sido
nacionalmente responsabilizado pela derrota dos israelitas na tomada de Ai é que Acã
confessou o seu crime: "Verdadeiramente, pequei contra o Senhor, Deus de Israel, e fiz
assim e assim" (Js 7.20). Judá, um dos seis filhos de Jacó e Lia, só admitiu a hediondez
de seu pecado e de sua hipocrisia quando o seu relacionamento carnal com a nora Tamar
veio à tona: "Mais justa é ela do que eu" (Gn 38.26).
9. A disciplina eclesiástica
Pode acontecer que o pecador não enxergue ou não se valha das várias oportunidades de
confissão que Deus lhe dá. Nesse caso, para o bem dele e da igreja, será necessária a
disciplina eclesiástica. Essa medida terapêutica, embora extrema, quando bem feita pode
dar excelente resultado. O membro da igreja de Corinto que possuiu a mulher de seu
próprio pai e que foi duramente disciplinado por Paulo (1 Co 5.1-5) alcançou mais tarde
a bênção da plena restauração de seu vergonhoso comportamento (2 Co 2.5-11).
CONCLUSÃO: A resistência à prática da confissão não vale a pena. É uma experiência dolorosa
e desconfortável: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus
constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou
em sequidão de estio” (Sl 32.3,4) Portanto, valorizemos a prática da confissão! Consideremos a
advertência e a promessa bíblicas: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que
as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13)

APLICANDO O ENSINO

1) Você reconhece facilmente suas falhas? Ou tenta encobri-las?


2) De que forma você tem confessado seus pecados: superficial ou nominalmente?
3) No momento, há algum alarme de Deus soando em seu interior?

 Estudo adaptado do livro Práticas Devocionais. Editora Ultimato. Elben Lenz Cesar.
92

AULA 19
O DISCÍPULO E O COMPROMISSO
COM A IGREJA LOCAL
Introdução

O discípulo é alguém chamado para participar, não somente para crer. Fomos criados para
viver em comunidade, moldados para o companheirismo e formados para uma família; e
nenhum de nós pode cumprir os propósitos de Deus sozinho e sem ajuda. A Bíblia diz
que fomos ajuntados, reunidos, juntamente edificados, juntamente tornados membros,
juntamente feitos herdeiros, combinados, mantidos juntos e que seremos juntamente
arrebatados. (I Co 12.2; Ef 2.21,22; 3.6; 4.16; Cl 2.19; I Ts 4.17). Você não está mais por
conta própria.
Embora seu relacionamento com Cristo seja pessoal, Deus nunca quis que fosse
particular. Na família de Deus, você está unido a todos os outros crentes, e faremos parte
uns dos outros por toda a eternidade. A Bíblia diz: Em Cristo nós, que somos muitos,
formamos um corpo, e cada membro está ligado a todos os outros ( Rm 12.5). Seguir a
Cristo inclui integrar, não apenas acreditar. Somos membros de seu corpo — a igreja.
Na aula de hoje vamos estudar sobre a importância da igreja local na vida do discípulo e
qual deve ser seu compromisso cm ela.

I. POR QUE A IGREJA É IMPORTANTE?

Há inúmeros benefícios em se tornar membro de uma igreja local. Vejamos apenas um


resumo dessas vantagens.

1) Fazer parte da igreja me identifica como crente autêntico. Não posso afirmar que sou
um seguidor de Cristo se não sou comprometido com um grupo específico de discípulos.
Jesus disse: O amor de vocês uns pelos outros irá provar ao mundo que vocês são meus
discípulos. João 13.35

Quando em amor, reunimo-nos como uma família na igreja, com diferentes formações,
raça e status social, levamos ao mundo um poderoso testemunho. Você não é o corpo de
Cristo isoladamente; você precisa de outros para expressar essa condição. Juntos, e não
separados, somos o seu corpo.

2) Fazer parte da igreja me retira do isolamento egoísta. A igreja local é a sala de aula
onde você aprenderá a se relacionar com a família de Deus. É o laboratório para a prática
do altruísmo e do amor compassivo. Como membro ativo, você aprende a se interessar
pelos outros e a partilhar suas experiências: Se uma parte do corpo sofre, as demais partes
sofrem com ela. Ou, se uma parte é honrada, as demais compartilham de sua honra (I Co
12.26). Somente pelo contato regular com crentes comuns e imperfeitos podemos
aprender o verdadeiro companheirismo e experimentar a verdade do Novo Testamento:
ser unidos e dependentes uns dos outros (Ef 4.16). Além do mais, ninguém consegue
seguir a Cristo sozinho, de maneira isolada. As pressões do mundo, as inclinações de
hábitos antigos (carne) e os ataques do inimigo tornam o apoio de outros, algo
93

fundamental na vida cristã. Também, o propósito Jesus de integrar seus discípulos a um


povo, pois esse é o significado do seu nome e essa foi sua missão (cf. Mt 1.21).

3) Fazer parte da igreja ajuda a desenvolver músculos espirituais. Você jamais chegará
à maturidade apenas comparecendo aos cultos de adoração como espectador passivo.
Somente a plena participação nas atividades da igreja local desenvolve músculos
espirituais. A Bíblia diz: À medida que cada parte realiza o seu trabalho, ela coopera para
o crescimento das outras partes, para que todo o corpo esteja saudável, crescendo e cheio
de amor (Ef 4.16).

As expressões “uns com os outros” e “entre si” são usadas mais de 50 vezes no Novo
Testamento. Somos ordenados a amar uns aos outros, a orar uns pelos outros, a incentivar
uns aos outros, a admoestar uns aos outros, a saudar uns aos outros, a servir uns aos outros,
a ensinar uns aos outros, a aceitar uns aos outros, a honrar uns aos outros, a carregar os
fardos uns dos outros, a perdoar uns aos outros, a nos submeter uns aos outros, a ser
dedicados uns aos outros, além de muitas outras obrigações mútuas. Isso é ser um
membro, do ponto de vista bíblico! Essas são suas “responsabilidades familiares”, que
Deus espera que você cumpra na comunidade local. Com quem você vem agindo dessa
forma?

A verdadeira maturidade se manifesta nos relacionamentos. Precisamos mais do que a


Bíblia para crescer; precisamos de outros crentes. Crescemos mais fortes e mais
rapidamente aprendendo uns com os outros e sendo responsáveis uns pelos outros.
Quando os outros compartilham o que Deus os está ensinando, também aprendemos a
progredir.

4) Fazer parte da igreja irá impedi-lo de cair. Nenhum de nós está imune à tentação.
Nas circunstâncias apropriadas, você e eu somos capazes de qualquer pecado (I Co 10.12;
T Tm 1.19). Deus sabe disso, então nos atribuiu individualmente a responsabilidade de
mantermos uns aos outros no caminho certo. A Bíblia diz: Encorajem-se uns aos outros
todos os dias [...] de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado
(Hb 3.13). “Não é da sua conta” não é uma frase cristã. Somos chamados e ordenados a
nos envolver na vida uns dos outros. Se você conhece pessoas que estão vacilando
espiritualmente neste exato momento, é sua a responsabilidade de ir atrás delas e trazê-
las de volta para a comunhão. Tiago nos diz: Se vocês conhecerem pessoas que se
desviaram da verdade de Deus, não as desprezem. Procurem-nas e tragam-nas de volta
( Tg 5.19).

II. O COMPROMISSO DO MEMBRO (DISCÍPULO) COM A IGREJA.

Ao contrário do que muitos pensam, o ingresso numa igreja gera para o discípulo certos
deveres e obrigações diante da comunidade, da irmandade. Isso é tão claro no Novo
Testamento que é de surpreender que, nos tempos atuais, esse aspecto do ensino
apostólico seja tão negligenciado. Essas responsabilidades podem ser resumidas em três
palavras: comunhão, cooperação e contribuição.
1. COMUNHÃO
Por comunhão entende-se a convivência amorosa, pacífica, pura e produtiva que deve
marcar todo ajuntamento cristão. Sendo, a princípio, amorosa e pacífica, a comunhão
94

cristã revela o sentido da verdadeira unidade e, com isso, mostra ao mundo que a igreja é
uma autêntica comunidade de discípulos de Jesus (Jo 13.35).
Como isso ocorre? É simples: a unidade que caracteriza o convívio cristão revela que os
membros da igreja estão nutrindo “o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus” (Fp 2.5), provando, assim, que são seus verdadeiros seguidores.
De fato, após ensinar que os filipenses deveriam ter seu ajuntamento marcado por amor,
compaixão, unidade, humildade e desprendimento (vv.1-4), o apóstolo resumiu todos
esses itens num exemplo magnífico, apontando para o auto esvaziamento do Senhor. É,
pois, como se dissesse: “Irmãos, sejam amorosos e humildes no seu convívio, ou seja,
imitem o Senhor. Assim como ele se esvaziou por amor de nós, abrindo mão de sua glória
real, esvaziem-se vocês também no trato de uns com os outros, abrindo mão de sua glória
imaginária”.
Assim, a base do apelo à comunhão cristã amorosa não é o simples anelo pela paz social
(presente até nos incrédulos), mas sim a cristologia ortodoxa que destaca a disposição
humilde do Filho de Deus, apontando-a como modelo a ser seguido pelos discípulos no
cultivo do relacionamento que têm entre si. Negligenciar, pois, essa santa comunhão, ou
militar contra ela, é, em último caso, desprezar o exemplo dado por Cristo em sua
encarnação, humilhação e morte.
A comunhão cristã, além de amorosa e pacífica, também deve ser produtiva. Não basta
ao membro da igreja ser apenas um “cara legal”, um amigo bonzinho que nunca se
indispõe com os outros. Mais do que isso, sua aproximação dos irmãos deve também
promover crescimento, consolo e correção.
No fundamento desse ensino está, por exemplo, a ordem de Jesus dirigida a Pedro: “E
quando você se converter, fortaleça os seus irmãos” (Lc 22.32), mostrando que a
restauração da comunhão com Deus deve ser seguida de trabalho em prol da saúde
espiritual da igreja. Há também a verdade ilustrada por Paulo na figura da igreja como
organismo vivo, no qual cada crente deve atuar como membro singular, usando seus dons
e desempenhando suas funções em favor do crescimento do todo (Rm 12.3-8; 1Co 12.12-
31; Ef 4.1-16).
Finalmente, existe a firme exortação dirigida aos cristãos hebreus, ordenando que eles
não deixem de se congregar. O que chama a atenção nessa ordem é que o autor bíblico
não diz que a conduta oposta ao abandono da congregação é apenas voltar a reunir-se.
Em vez disso, ele diz: “... mas procuremos encorajar-nos uns aos outros...” (Hb 10.25),
dando a entender que o contrário de abandonar a igreja é mais do que frequentá-la. É
frequentá-la realizando um trabalho de aconselhamento, correção, admoestação e
consolo.
2. COOPERAÇÃO
Cooperação é termo usado para se referir ao trabalho conjunto. Cooperar, pois, com
alguém é labutar ao seu lado, empenhando-se por alcançar seus mesmos objetivos. Assim,
quando se diz que o crente deve cooperar com sua igreja, isso significa que ele deve
empreender esforços ao lado de seus irmãos para fazer com que a comunidade eclesiástica
de que faz parte realize seus ideais da maneira mais célere e da melhor forma possível.
Quais seriam os ideais da igreja pelos quais os seus membros deveriam juntos lutar? O
Novo Testamento aponta pelo menos três: a promoção e defesa da fé evangélica; a
edificação do corpo de Cristo; e a pureza da comunidade dos santos.
95

a) Promoção e defesa da fé cristã: Isso está claro na expectativa de Paulo em relação


aos irmãos de Filipos, sobre de quem ele anelava ouvir que permaneciam “firmes
num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica” (Fp 1.27).
b) Quanto ao empenho conjunto visando à edificação do corpo de Cristo, sua base
mais nítida encontra-se em Efésios 4.16 que diz que o corpo de Cristo, isto é, a
igreja, edifica-se em amor, “segundo a justa cooperação de cada parte”. Aliás,
conforme foi destacado no subtítulo anterior, esse deve ser um dos objetivos da
comunhão cristã verdadeira.
c) Já no tocante à cooperação dos crentes entre si tendo em vista a pureza da igreja,
o fundamento desse ideal pode ser verificado em 1Coríntios 5.7, texto em que
Paulo ordena que a igreja como um todo tome sobre si a tarefa de lançar fora o
velho fermento do pecado. Note-se que os coríntios deveriam fazer isso quando
estivessem reunidos (1Co 5.4), de maneira que o trabalho de purificação da igreja
fosse coletivo.
Na prática, a colaboração do crente na busca desses alvos tão importantes do povo de
Deus pode assumir os mais diferentes contornos. Ministrar uma aula ou apagar uma lousa
para que essa mesma aula possa ser ministrada são igualmente formas de cooperar com o
ideal de defesa e expansão da fé. De forma semelhante, o irmão que recebe com simpatia
um visitante e o irmão que varre o salão de cultos em que esse mesmo visitante é recebido
estão cooperando com o ideal sagrado de promover a verdade que liberta. Também o
crente que exorta um irmão em particular dentro de uma sala e o crente que troca a
lâmpada queimada dessa mesma sala em que a exortação é feita laboram lado a lado em
prol da pureza da igreja, sendo colegas de serviço no Reino, desfrutando do mesmo status
diante do Senhor para quem trabalham.
Infelizmente, porém, o quadro evangélico atual mostra um grande distanciamento dessa
visão. De fato, poucos crentes cooperam com intensa dedicação na realização dos alvos
santos da igreja, sendo imenso o número de membros de comunidades locais que não
fazem absolutamente nada, mantendo-se distantes e apáticos, muitas vezes até
murmurando contra quem obedece a ordem bíblica de cooperar. Crentes assim devem
avaliar onde realmente está seu coração e trazer à superfície de sua memória o ensino de
Paulo acerca do alvo sublime que devem perseguir nesta vida, conforme registrado em 2
Coríntios 5.15: “E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais
para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”.
3. CONTRIBUIÇÃO

Os abusos quanto ao levantamento de recursos financeiros praticados por igrejas


neopentecostais acabaram por tornar bastante delicada a questão da contribuição
financeira nas igrejas evangélicas em geral. O abuso, porém, não invalida a realidade de
que as igrejas genuinamente evangélicas precisam de recursos para manter seus trabalhos
regulares. A Bíblia nos ensina várias coisas acerca do dinheiro, e o discípulo deve estar
atento a esse ensino:

1) De quem é o dinheiro? Todas as riquezas que existem no mundo pertencem a


Deus, por direito de criação (Salmo 24.1) e por direito de capacitação, isto é, é
Deus quem nos dá saúde, forças e oportunidades para ganharmos dinheiro (Deut
8.18). O cristão deve se conscientizar de que ele é apenas gerente, e não dono dos
recursos de que dispõe.
96

2) Deus tem um plano para o dinheiro que nos confia.

 Primeiro, devemos suprir as nossas necessidades e da nossa família. Deus sabe que temos
necessidades (Mateus 6.31-32) e que o dinheiro é usado para supri-las (Atos 20.34).
 Segundo, Deus deseja abençoar outros por nosso intermédio. Devemos usar nossos
recursos para ajudar os irmãos que estão passando por necessidade (Romanos 12.3),
aqueles que são pobres (Deut 15.7-8). Um grande exemplo disto são os crentes de Corinto
(leia 2Coríntios 8 e 9).
 Terceiro, devemos usar o dinheiro para sustentar a obra de Deus neste mundo, através das
contribuições regulares e proporcionais que fazemos para a Igreja e organizações
evangélicas envolvidas com a evangelização do mundo e as obras sociais. Os legítimos
obreiros cristãos são dignos de receber seu sustento das igrejas, como Jesus e Paulo
ensinaram (Lucas 10:7; 1Coríntios 9:1-12). Para alguns, a contribuição por meio de
dízimos é a correta (Malaquias 3:10). Todavia, o que importa é que nossa contribuição
seja regular, proporcional ao que recebemos de Deus e dada de coração.
 Quarto, através do dinheiro, Deus quer mostrar seu poder e bênção, suprindo as nossas
necessidades (Mateus 6.33), despertando assim gratidão em nosso coração (Deut 8.18) e
recompensando fielmente os que contribuem de forma voluntária e regular para sua obra
(2Coríntios 9:1-11).

Todo cristão sincero, todo discípulo deveria refletir sobre o uso que faz do dinheiro,
lembrando que prestará contas a Deus, como um gerente presta contas ao proprietário.

CONCLUSÃO:
Comunhão, cooperação e contribuição. Conforme visto nesta aula, essas três palavras
encerram praticamente a totalidade dos deveres do discípulo em relação à igreja local de
que é membro. À luz do exposto, todos esses deveres têm sólido fundamento nas
Escrituras, o que faz com que não sejam opcionais para o crente. Sendo assim, cada
cristão em particular deve levá-los muito a sério e ajustar sua vida a eles. Com certeza,
isso fará muita diferença na construção de igrejas fortes nesta era de fraquezas.

Aplicando o ensino

a) Se todo membro da IPPSD fosse assíduo aos trabalhos da igreja tanto quanto como
você, sua igreja conseguiria crescer?
b) Se todo membro da IPPSD fosse dizimista como você, nossa igreja iria crescer?
c) Se todos os membros da IPPSD frequentassem a igreja tanto quanto você
frequenta, você acha que teríamos uma igreja mais forte?
d) Em uma escala de 1 a 10, como você avalia o seu compromisso com a sua igreja
local? Se a sua avaliação não é a nota máxima, por quê?

Aula preparada tomando como base o livro de Rick Warren, Uma Vida com Propósito, Editora
Vida Nova e artigo de autoria de Augustus Nicodemus Lopes, http://tempora-
mores.blogspot.com.br/2014/01/contribuindo-para-o-reino-de-deus.html
97

AULA 20
O DISCIPULO E A EVANGELIZAÇÃO:
QUALIDADES INDISPENSÁVEIS
Texto básico: I Timóteo 3.1-13

Introdução

Como vimos em uma lição anterior, o discípulo deve ter responsabilidades para com a
igreja. Uma delas é o compromisso de compartilhar as boas novas de salvação. Essa é
sem dúvida nossa mais sublime responsabilidade. No entanto, para realizar essa honrosa
missão, precisamos preencher alguns requisitos. Lemos em I Timóteo 3.1-13, as
qualificações que um oficial de igreja deve preencher. Embora não esteja se referindo
diretamente ao evangelista, não devemos ter dúvidas de que as exigências nessa lista
também são exigidas, não apenas do presbítero e diácono, mas de todo aquele que deseja
servir ao Senhor com integridade. Portanto, isso inclui o evangelista.

Deve também chamar nossa atenção nessa lista de exigências que nada é dito sobre a
formação acadêmica ou profissional. As qualificações apontadas por Paulo focalizam o
caráter da pessoa, como alguém aprovado como servo fiel a Deus em lugar das
habilidades administrativas ou capacidades intelectivas.

Fazer a obra do Senhor é o maior de todos os privilégios, independente da função, mas


requer zelo, preparo e dedicação. Na aula de hoje vamos estudar sobre alguns requisitos
básicos para ser um evangelista eficaz.

1) PRECISA SER ALGUÉM CHEIO DO ESPÍRITO SANTO

Devemos ter consciência de que os resultados da Evangelização dependem do Deus


gracioso e soberano. Isso traz como implicação a nossa confiança em Deus, não em nossas
estratégias. Além disso, cremos, conforme lemos na Palavra, que só o Espírito Santo
convence do pecado, da justiça e do juízo (João 16.8).

É o Espírito Santo que capacita Cristo (Mt 3.16; 4.1; Lc 4.1, 16-21), é ele que capacita a
igreja. E foi exatamente sobre isso que Jesus falou quando disse que os discípulos
deveriam ficar em Jerusalém somente até que do alto eles fossem revestidos de poder (Lc
24.49).

Este é um ponto muito importante, e muito motivador, em nosso trabalho de evangelizar.


Segundo o Calvinismo, aqueles que Deus escolheu antes da fundação são chamados
eficazmente por Sua Palavra e Seu Espírito no tempo determinado por Ele, tendo suas
mentes iluminadas para compreenderem o evangelho, e tendo suas vontades renovadas
para que, livre e voluntariamente, venham a Cristo, através do arrependimento e fé, que
são dons de Deus. (Ezequiel 36.26-27; Efésios 1.11,18,19; 2.1-10)
98

"Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem


feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não
nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do
homem, mas de Deus." João 1.12-13

Notem bem o ensino bíblico: “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem
da vontade do homem, mas de Deus." As pessoas são regeneradas, não pela vontade
humana, mas pela vontade de Deus. Essa graça é chamada de irresistível porque é
impossível a um eleito resistir ao chamado do Espírito Santo em seu coração, sendo ela o
único motivo pelo qual alguns pecadores recebem o evangelho e outros não. (Atos 16.14).
Quando estamos evangelizando, devemos fazê-lo confiantes de que Deus, pelo Espírito,
aplicará os méritos de Cristo no coração dos ouvintes. Sobre isso Billy Graham observou:

O Espírito Santo é o grande comunicador do Evangelho,


usando como instrumento pessoas comuns como nós. Mas
é dele a obra. Assim, quando o Evangelho é fielmente
proclamado, o Espírito Santo é quem o envia como dardo
flamejante aos corações dos que foram preparados.32

A vontade do homem é dominada irresistivelmente por sua graça, pois, do contrário, o


homem não poderá dar jamais um passo na direção de Cristo. (João 6.44). Exemplo
significativo deste fato nos é dado por Lídia, a vendedora de púrpura: “...o Senhor lhe
abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia” (Atos 16.14).

Quem abriu o coração dela para Jesus? Que ensina a Bíblia? Que o pecador abre o coração
a Jesus, ou que o Senhor que lhe abre o coração? O Espírito Santo tem como função
testemunhar de Cristo e é por isso que se torna inconcebível alguém que tem o Espírito
Santo e sente vergonha em dar testemunho de Cristo (Jo 16.14).

Não precisamos manipular as pessoas para aceitarem Jesus. Não precisamos depender de
técnicas e métodos carnais. Temos uma arma poderosa que é o poder do Espírito através
da Palavra. Devemos pregar a Bíblia com fidelidade e dobrar nossos joelhos em oração e
confiar que Deus vai agir conforme sua soberana vontade.

2) DAR BOM TESTEMUNHO

Um dos grandes obstáculos que enfrentamos na evangelização é a decepção que algumas


pessoas têm com a igreja ou com os crentes. Boa parte da população está decepcionada
com erros diversos em igrejas como a exploração financeira, escândalos de líderes
religiosos, o legalismo de certas igrejas que impõem aos seus adeptos leis muito rígidas,
tirando-lhes a alegria de viver. Por isso, uma qualidade indispensável ao evangelista é seu
bom testemunho. Um evangelista deve estar preparado para explicar sua fé, mas também
para vivê-la (I Tm 3.7; Rm 2.21,22).

Não podemos adotar o discurso da incoerência. Não podemos dissociar a pregação do


testemunho. Se o evangelista não for o “sal da terra e luz do mundo” ele não estará

32 Billy Graham, Por que Lausanne?: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São Paulo/Belo Horizonte, MG.: ABU/Visão
Mundial, 1982, p. 30.
99

preparado para evangelizar. O desejo de Deus é que tornemos o Evangelho atraente para
todos os que vivem a nossa volta. Fazemos isso quando vivemos de forma coerente. Em
Mt. 5.13-16, Jesus ensina que os cristãos, quando desempenham o seu papel de sal da
terra e luz do mundo, fazem com que os ímpios glorifiquem a Deus. Isso quer dizer que
se vivemos em obediência aos mandamentos de Deus, de forma fiel e coerente, as
pessoas verão a beleza em nossa vida, os atos de bondade, a vida diária de integridade
e fidelidade, e a reação deles será a de glorificar a Deus. Os incrédulos podem mudar a
maneira de ver Deus e a igreja, a depender daquilo que eles vêm na vida dos crentes.33

3) TER CONHECIMENTO DO EVANGELHO

Vimos numa aula anterior que evangelizar é pregar o Evangelho. O Evangelho é


poderoso, levanta o caído, restaura o pecador e dá nova vida àquele que está morto em
seus delitos e pecados (Ef 2.1-2). Mas o que o evangelista deve pregar? Qual o conteúdo
desse evangelho tão poderoso e transformador? A Teologia Reformada34 entende que
pelo menos cinco aspectos importantes do evangelho não podem ficar de fora quando
estamos evangelizando:

1º.) É preciso apresentar o caráter santo de Deus.

As Escrituras nos ensinam que o Senhor Criador e Soberano do universo (Êx 20:11, At 4:24) é
um Deus santo e justo e que Ele que estabeleceu leis morais pelo qual todos os homens devem
viver. Ao apresentar o evangelho precisamos ensinar às pessoas que Deus responsabiliza os
homens pela sua obediência e desobediência a estas leis.

2º.) É preciso mostrar a gravidade do pecado.

Na prática evangelística precisamos mostrar às pessoas como elas estão aquém dos padrões
estabelecidos por Deus (Rm 3:23). Os homens quebraram as leis de Deus e por isso se tornaram
culpados (Rm 5.8; I Tm 1.15). É impossível pregar as Boas Novas de salvação sem falar da
gravidade dos nossos pecados.

3º.) É preciso apresentar uma mensagem clara de quem é Jesus Cristo. (Marcos 1.1; Romanos
15.19, I Co 2.1-2)

Se queremos uma evangelização eficaz e sadia, teremos que pregar a mensagem certa. (I Co 15.3-
4). Jesus é a solução, o remédio para o pecado do homem. É preciso pregar quem é Jesus e o que
Ele fez.

4º.) É preciso ensinar que o evangelho é uma mensagem que exige fé e arrependimento.

Arrependimento começa com um reconhecimento do pecado, da santidade de Deus (Isaías 6.5),


e a compreensão de que nossos pecados são uma afronta a Deus. O arrependimento envolve
tristeza (Mt 21.29-32). Mas também envolve mudança de direção, transformação da vontade. (Mt
13.15; Lc 17.4; 22.32). Os apóstolos faziam um apelo claro ao arrependimento e à fé em
Cristo: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados” (At
3.19).

33
BARRS, Jerram. A Essência da Evangelização. Tradução de Neuza B. da Silva. São
Paulo – SP: Cultura Cristã. p. 52.
34
PACKER, J. I. A Evangelização e a Soberania de Deus. Editora Cultura Cristã,
2002. São Paulo, SP: pp.52-67
100

5º.) É preciso apresentar a mensagem da graça.

A salvação não pode ser conquistada por obras ou por tentar cumprir a lei. Esse não é o caminho
proposto por Deus, até porque, ninguém jamais conseguiria cumprir plenamente a lei (Rm 3.10;
Tg 2.10). Ela é um presente de Deus e por isso quem não for salvo pela graça, não será salvo de
maneira alguma.

4) DEDICADA VIDA DE ORAÇÃO

J. Blanchard afirmou certa vez: “Tentar fazer alguma coisa para Deus sem oração é tão
inútil quanto tentar lançar um satélite com um estilingue”.35 O nosso primeiro passo na
preparação para evangelizar deve nossa humildade diante de Deus. Se assim formos,
teremos que reconhecer quem somos e quem Deus é, e isso nos levará a total dependência
do Senhor.

A oração é sem dúvida por onde devemos começar. É um dos meios pelos quais o crente
cultiva um relacionamento íntimo com Deus. A oração é indispensável na devoção
pessoal. Envolve conversar e ter comunhão com Deus (I Tm 2.1; Lc 6.12; I Ts 5.17). E
esta comunhão com Deus, por meio da oração, tanto nos fortalece e habilita para a
evangelização quanto nos permite apresentarmos primeiro a Deus aqueles a quem
pretendemos evangelizar.

Mas se a oração é tão importante para a evangelização, pelo que nós devemos orar?

a) Devemos orar pela obra do Espírito Santo em nossos amigos (João 14.13;15.5).
Como vimos no ponto anterior, o Espírito Santo pode suavizar um coração duro,
dobrar uma vontade teimosa, abrir uma mente fechada desafiar preconceitos
cristalizados e curar memórias dolorosas (Jr 3.17; 7.24; 11.8; 16.12; 18.12, 2 Co
4:6)

b) Devemos orar para que portas sejam abertas para o Evangelho (Cl 4.3; I Co 16.9).
Paulo, através da oração, buscava uma oportunidade para pregar. Veja o que ele
disse: “Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta
à palavra” (Cl 4.3). Para Paulo, a oração é a chave que abre a porta para divulgar
o mistério de Cristo.

c) Devemos orar por coragem (Ef. 6.18-19; At 4.29). Por meio da oração, Paulo nos
ensina que devemos buscar coragem e intrepidez. “Vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos e também por mim, para que me seja
dado, no abrir da minha boca, a palavra, para com intrepidez, fazer conhecido o
mistério do evangelho” (Ef 6.18,19). Uma vez que o Senhor nos abre a porta, será
necessária coragem para anunciarmos a Cristo.

d) Devemos orar por clareza e sabedoria (Cl 4.6; Is 50.4). Além de oportunidades e
coragem, precisamos também de sabedoria para falar com as pessoas. O apóstolo

35
BLANCHARD, John. Pérolas para a Vida. Editora Vida Nova. SP: 1993. p. 268
101

escreveu: “Nossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para
saberdes como deveis responder a cada um” (Cl 4.6). Paulo desejava sabedoria,
uma linguagem agradável, clara para despertar o interesse dos incrédulos. Vemos
isso na pessoa de Jesus, maravilhando pessoas com palavras de graça que lhe
saíam da boca (Lc 4.22). Temos que ter sabedoria para evangelizar nossos
conhecidos para não magoar a crença deles. Devemos ensinar a verdade de
maneira sábia e não agressiva.

Paulo pediu também para que Deus lhe desse clareza para falar a respeito do
Evangelho. Ele disse: “Para que eu o manifeste, como devo fazer” (Cl. 4.4). É
importante destacar que “Paulo tinha dificuldade em ser claro. Ele não era dos
melhores comunicadores; sabia que precisava de orações e não hesitou em pedi-
las.”36

5) SER PACIENTE E PERSISTENTE

Usando da analogia da pesca, sabemos que o pescador precisa ser paciente e aguardar que
o peixe morda a isca. Isso pode ser rápido, mas também pode demorar muito. O mesmo
acontece com a pregação do evangelho. Talvez seja por isso que Jesus disse a Pedro e
André: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens” (Mateus 4.19)

Não temos dúvida. Deus trará seus eleitos à salvação, a despeito da nossa fraqueza. Sua
Palavra não retornará vazia, mas cumprirá o que ele deseja (Is. 55.10-11). Mas Deus tem
o tempo certo para isso. Será no tempo dele. Precisamos ter paciência. Podemos estar
certos de que todos os eleitos serão salvos e a causa de Deus triunfará no final, para a sua
honra e glória. Por isso, tenhamos paciência e perseverança. Paulo despedindo-se dos
presbíteros de Éfeso revela sua perseverança: “...em nada considero a vida preciosa para
mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor
Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”. (At 20.24).

Conclusão: Finalmente, devemos nos lembrar de que Deus é o Senhor. Como já vimos,
a salvação é um ato exclusivo de Deus (Jn 2.9; 1 Co 1.21; Hb 2.10; 5.9; Tg 4.12). A nós
compete pregar e depender de Deus. Que o Senhor nos abençoe, nos capacitando, pelo
seu Espírito a sermos testemunhas fiéis.

1. Depois da aula de hoje, onde você acha que precisa melhorar?


2. Você se sente constrangido pelo amor de Cristo a compartilhar o
evangelho com outras pessoas?
3. Das qualidades aqui estudadas, qual delas você precisaria melhorar?
4. Compartilhe com as pessoas da sua classe suas experiências como um
conquistador de almas.

36
Jerram BARRS, A Essência da Evangelização, p. 49.
102

CONCLUSÃO

Queridos irmãos da Igreja Presbiteriana do Parque São Domingos. Tivemos uma


agradável caminhada nesses meses. Muitos temas foram abordados. Reflexões e
questionamentos foram feitos. Acredito que tudo o que foi dito teve como base a Palavra
de Deus. Sendo assim, nosso esforço agora é aplicar todo o ensino dado até aqui. Esse é
o nosso grande desafio de agora em diante.

A saúde e o fortalecimento da nossa igreja dependem de colocarmos em prática o que


aprendemos. Precisamos cultivar os relacionamentos. Precisamos encorajar uns aos
outros, aconselhar, orientar. Precisamos ser transformados. Certamente há áreas em nossa
vida cristã na qual precisamos nos desenvolver. Há pecados a serem abandonados,
atitudes que precisam mudar, hábitos que não podemos continuar com eles. Precisamos
amadurecer na vida cristã. Precisamos frutificar. E se isso vier acontecer, não tenham
dúvidas, nossa igreja será fortalecida.

Que Deus abençoe a cada um de nós na caminhada do discipulado. Nós apenas demos os
primeiros passos.

Rev. Gildásio Reis

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