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A dimensão religiosa

 análise e compreensão da experiência religiosa (Filosofia da religião)


Filosofia da religião

Crenças religiosas fundamentais:


Conceitos religiosos fundamentais
(Deus existe?; vida após a morte; etc)
(Deus, fé, milagre)

• Procura explicar tal crença e averiguar as razões que têm sido apresentadas a favor e contra essa crença, para determinar se
há ou não uma justificação racional para considerar essa crença verdadeira ou falsa.
O que é a religião
Conceito nuclear da religião
• Dada a dificuldade em definir o conceito de religião, e deixando de parte a raiz etimológico do termo, pode dizer-se
que o conceito de religião respeita a um conjunto de crenças e de ritos que compreendem um aspeto objetivo (a
presença de uma realidade superior) e um aspeto subjetivo (o reconhecimento dessa realidade). De todo o modo, a
religião será sempre uma relação que o ser humano estabelece com uma entidade superior que o transcende.
O problema da existência de Deus
• Ainda que o conceito de Deus não precisa de estar
associado a qualquer religião, normalmente
toma-- -se de partida, por exemplo, o Deus da
religião cristã, sendo Deus um ser omnipotente,
omnisciente, sumamente bom, perfeito, imutável,
eterno, transcendente e ao mesmo tempo
imanente. Atributos de Deus:
• Ser pessoal, carente de corpo
• Vários filósofos, especialmente teístas tentam • Único criador e sustentáculo de
conciliar a fé com a razão tentando provar a Universo
existência de Deus. • Ser omnipotente
• Ser omniscente
• Ser perfeitamente livre
• Ser eterno
Algumas doutrinas filosóficas relativas à existência de Deus

Teísmo Ateísmo

Agnosticismo Panteísmo
Designação dos tipos de crença em Deus
• Teísmo: Os teístas são aqueles que afirmam a existência de Deus, tendo-O encarado
como uma pessoa e como um ser perfeito, infinito, omnipotente, omnisciente,
omnipresente, perfeitamente livre, sumamente bom, único, autoexistente,
transcendente, criador e conservador do Universo, ainda que distinto e independente
do mesmo.
• Ateísmo: O indivíduo ateísta nega a existência de Deus, e de forma geral, nega
tambémqualquer realidade que considere natureza divina.
• Agnosticismo: Teoria que racionalmente não coloca a existência de Deus, pois
considera-O incognoscível, isto é, que escapa ao nosso conhecimento. Embora possa
existir, é um mistério e é inacessível. O agnosticismo pode ser estritamente pessoal ou
confessional. Dizer «não tenho nenhuma crença firme em Deus» pertence ao primeiro
caso; ter a pretensão de que nada deveria alimentar uma crença positiva a favor ou
contra a existência divina pertence ao segundo caso.
Designação dos tipos de crença em Deus
• Panteísmo: Posição filosófica segundo a qual Deus e o mundo são a mesma
realidade. Deus e o mundo identificam-se, são apenas um. – Esta perspetiva
nega a existência de qualquer realidade transcendente. Afirmando a
imanência: Deus é tudo e tudo é Deus. Deus não é distinto do mundo.
• Deísmo: O individuo deístico afirma a existência de um Deus transcendente
que criou o mundo e que estabeleceu as leis que o regem. Nega que Deus
intervenha no curso dos acontecimentos do mundo seja de que maneira for
e que responda às preces e necessidades humanas. – Esta perspetiva
considera possível descobrir Deus através da razão, mas entre o homem e
Deus não há relação pessoal. Nega-se a Providência divina. Deus é criador
mas não intervém nem se importa com a criação.
Argumentos sobre a existência de Deus

21-04-2023
Teologia natural
Tentativa de provar e justificar racionalmente a existência de Deus, concebido
segundo a perspetiva teísta.

Argumento a posteriori Argumento a priori

Argumento
Argumento
teológico ou Argumento
cosmológico
argumento do ontológico
desígnio

21-04-2023
Argumento cosmológico ou argumento da causa primeira

- Um dos defensores: São Tomás de Aquino

Todas as coisas neste mundo têm uma causa, cuja causa não pode ter origem em si mesma. Tudo o que é
causado é causado por outra coisa, algo diferente de si mesmo.
Não pode haver uma regressão infinita na cadeia de causas, pois seria absurdo, então, tem de existir uma causa
primeira que não é causada por nada. Esta primeira causa teria nome de Deus, logo Deus existe.

• 1º O argumento é auto contraditório:


Há a defesa de que todas as coisas têm causa noutra, mas defende ao mesmo tempo que houve algo que não foi
causado: Deus
• 2º Qual seria então a causa de Deus?
Há filósofos que dizem que Deus teve causa em si mesmo, porém aí á outra contradição, pois segundo Tomás,
nada têm causa em si próprio
Ainda se não levarmos em consideração o que foi descrito em cima, por que razão as séries de causas e efeitos
têm de parar em Deus e não antes, como a origem do Universo, por exemplo.

21-04-2023
Argumento teológico ou argumento do desígnio

Defendido por: São Tomás de Aquino e William Paley

São Tomás William Paley


 As coisas naturais, privadas de conhecimento,  O ponto de partida é a constatação de que tudo, na natureza, se
inteligência e consciência, encontram-se dirigidas por revela adequado à função que desempenha;
um fim ou objetivo, comportando-se sempre, ou quase  A complexidade, a ordem, o engenho e a finalidade patentes em
sempre, da mesma forma e de modo a realizarem o todos os seres e fenómenos naturais provam que eles tiveram de
melhor para elas ser concebidos por um criador inteligente- Deus – sendo necessário
 Elas não fazem isso por acaso, mas em virtude de recorrer a Ele para se compreender as manifestações do desígnio
determinada intenção; que vemos na natureza.
 Logo, existe um Ser inteligente pelo qual todas as  Exemplo do relógio
coisas naturais são ordenadas, dirigidas e orientadas
para um fim - Deus
Exemplo da flecha

21-04-2023
Objeções a este argumento

•1º A analogia entre o Universo e os seres vivos com os objetos artificias é fraca não
sendo uma semelhança entre aspetos importantes e havendo diferenças significantes.
Quaisquer conclusões tiradas desta analogia vaga terá deduções igualmente vagas.
•2º Este argumento não prova que só haja um criador, que caso haja apenas um criador,
que este seja perfeito, uma vez que objetos do ser humano por vezes contêm defeitos
de fabrico e que este criador fosse sumamente bom, pois o mundo em que vivemos
está cheio de sofrimento e dor, devido ao mal humano e mal natural
Argumento ontológico
• Deus é “maior do que o qual nada pode ser pensado”, ou seja, “aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado” não pode existir apenas
no intelecto, pois se pudesse apenas existir no intelecto, pode pensar-se que pode existir na realidade, o que o faria deixar de ser maior que
o pensamento.
• Então, “aquilo maior do que o qual pode ser pensado” não pode “caber” apenas no intelecto, i têm de existir necessariamente na realidade,
logo Deus existe.

Anselmo de Aosta
1033-1109
Objeções ao argumento ontológico
• 1º Se dissermos que Deus existe, não estamos a acrescentar nada à
essência divina. Segundo Kant, a existência não é uma propriedade
essencial, como o poderão ser a omnipotência ou a suma bondade.
• 2º Neste argumento efetua-se uma comparação entre o que existe na
realidade e o que existe no pensamento, a respeito de propriedades
como a grandeza ou a perfeição.
• Mas essa comparação não é possível, pois aquilo que é pensado não
tem área, volume ou peso no mesmo sentido em que as coisas na
realidade o têm.
Harmonia entre fé e razão
• Defendida por diversos autores, por exemplo, São Tomás:

• Segundo este, algumas verdades relativas ao divino podem ser


demonstradas pela razão, ao passo que outras não o podem ser,
ultrapassando a capacidade da razão humana, sendo apenas objeto
de fé e tendo por base a revelação divina.
O Fideísmo de Pascal
Doutrina que põe em causa a ideia de uma harmonia entre a fé e a razão.

— Sustenta a incapacidade da razão humana para atingir determinadas verdades, considerando que elas só são
acessíveis através da fé. Deus é infinitamente incompreensível para a razão humana.

Admitindo a existência de verdades de fé, os fideístas defendem que tais verdades possuem um valor igual ou
superior ao das verdades obtidas pela ciência e pela razão.
Fideísmo
Radical (de Soren Kierkegaard) Moderado (de Blaise Pascal)

Há um conflito entre razão e fé. Como tal, as verdades Não considera haver um conflito entre a razão e a fé, embora também n
relativas, por exemplo, à existência e à essência de Deus só haja total harmonia entre elas.
podem ser alcançadas pela fé, sendo a razão excluída deste
domínio.

Doutrina que põe em causa a ideia de uma


harmonia entre a fé e a razão.
O argumento do apostador de Pascal
•Diferente de todos os que já estudámos, procura não propriamente mostra a existência de Deus, mas mostrar as
vantagens de “apostar” nessa existência.

o
Se admitirmos, como um agnóstico, que não existem dados suficientes para provar a existência de Deus, estamos
numa situação muito idêntica à de um apostador antes da realização do evento em que vai apostar, ou seja,
teremos de calcular as nossas hipóteses.
o
Sublinha que a coisa mais racional a fazer será procurar maximizar os ganhos possíveis e minimizar as perdas
possíveis. A melhor forma de o conseguir é acreditar em Deus. Há quatro resultados possíveis:
- Dois se acreditarmos que Deus existe;
- Dois se acreditarmos que ele não existe.

21-04-2023
O argumento do apostador de Pascal

21-04-2023
Objeções ao argumento do apostador
• 1º Não podemos decidir acreditar que Deus existe. Não podemos pura e simplesmente
decidir acreditar que Deus existe, para acreditar em algo é necessário estar convencido
de que isso é verdade. O argumento do apostador não fornece quaisquer dados que
levem a pessoa a ficar convencida de que Deus existe, limitando-se a dizer que é boa
ideia acreditar que isso é verdade. Assim, e se a crença na existência de Deus fosse
contra os nossos sentimentos, Pascal sugeria que agíssemos como se já
acreditássemos que Deus existe, através da adoção de comportamentos religiosos.
Seria uma forma indireta de gerar deliberadamente a crença.
• 2º Este argumento é inapropriado. Apostar na existência de Deus tendo como
horizonte a hipótese da obtenção da vida eterna, fingindo depois crer na sua
existência, justamente por causa desse prémio, parece constituir uma atitude
inapropriado relativamente à existência de Deus – um processo totalmente calculista,
insincero e interesseiro (e que Deus certamente não aprova).

21-04-2023
O argumento do mal para a discussão da
existência de Deus

21-04-2023
O argumento do mal para a discussão da
existência de Deus
• Podemos ser levados a perguntar se haverá argumentos que provém a sua não existência. É aqui
que entra o problema do mal.
- O problema surge quando admitimos a existência de Deus, sobretudo concebido à maneira
teísta: um Deus, sumamente bom, omnisciente e omnipotente, com total domínio sobre o
mundo.
- Como é que um Deus com esses atributos pode permitir a existência do mal?
- Se Deus é sumamente bom, não quer o mal; se é omnisciente, sabe que o mal existe; se é
omnipotente, pode suprimir o mal. Assim, se Deus existe, não existe o mal. Mas o mal existe,
logo, Deus não existe.
• Logo, a existência do mal pode servir de argumento a favor do ateísmo.

21-04-2023
O que é o mal
Mal

Mal moral Mal natural

O mal causado pelos seres humanos, através de O mal resultante de forças e causas naturais
ações mais ou menos deliberadas (como (terramotos, incêndios, doenças, etc), ainda que
assassinatos, guerras, etc) traduzindo-se no possa ser aumento pela ação negligente do ser
sofrimento de outros seres humanos e também humano.
de animais

21-04-2023
O argumento do mal para a discussão da
existência de Deus

• Segundo Leibniz, a afirmação “Se Deus existe, o mal não pode existir” é
discutível.
• De forma a elaboraram-se argumentos mais consistentes, Leibniz criou
um novo conceito – uma teodiceia- que consiste numa justificação da
bondade Deus, associada a uma explicação da existência do mal.
• Ao tentar explicar a existência do mal no mundo, a teodiceia indica os
objetivos e as razões que Deus tem para permitir que o mal exista. Assim,
o mal é o integrado nos desígnios de Deus. Apesar das evidências de mal
no mundo, argumenta-se que é razoável acreditar na existência de Deus.

21-04-2023
A existência do mal (moral e natural)
1- A dor faz parte do sistema de alerta
vezes hádo corpo.
A dor não é um mecanismo perfeito para evitar o perigo, sendo que por
perigo e não há dor. A dor não protege a pessoa.

2- Apreciar o bem- o mal é necessário para que possamos Há mais mal no mundo do que o que seria necessário para apreciar o bem.
apreciar o bem.

O mal atinge tanto as pessoas más como as pessoas virtuosas e, muitas vezes, mas
3. Castigo- o mal é um castigo da conduta moral.
estas que aquelas.

4. Santidade o mal conduz a uma maior virtude moral, Dificilmente se pode compreender que um mundo no qual exista muito mal
permitindo a existência do bom e o aperfeiçoamento moral. seja preferível a um mundo onde exista menos mal, ainda que também menos
heroicidade.

5. Livre-arbítrio- Deus deu ao ser humano a capacidade de Não explica o mal natural, exceto se se admitir uma espécie de pecado original
escolher o bem ou o mal, sendo preferível um mundo onde que responsabiliza o ser humano por toda a cadeia natural de mal natural. Pode
haja livre-arbítrio, apesar do mal que daí possa resultar, do colocar-se em causa a existência efeitos do livre-arbítrio.
que um mundo onde a ação fosse predeterminada.
Diferentes abordagens ao problema do mal

Fideísmo- Segundo esta doutrina, poderá argumentar-se que, sendo Deus infinitamente
incompreensível, os seres humanos (limitados e finitos) não está em condições de compreender
totalmente a existência do mal. Esta terá então uma justificação que nos ultrapassa.

Panteísmo- Se adotarmos uma perspetiva panteísta, em que a conceção de Deus é bastante diferente, o
problema do mal terá de ser “resolvido” de outra forma. Neste caso, Deus é caracterizado como uma
espécie de jogador, um ator cósmico que interpreta todo o tipo de papéis, sendo que o mal faz parte da
realidade universal.

21-04-2023

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