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O Argumento ontológico (à priori) diz que Deus é algo sobre o qual nada
maior pode ser pensado; O que existe no pensamento, pode existir na
realidade; Deus existe no pensamento, logo pode existir na realidade;
Se Deus apenas existisse no pensamento, então haveria algo maior do
que ele – o que seria logicamente impossível; Logo, é necessário que
Deus exista.
Gaunilo de Marmoutiers foi um monge beneditino do séc. XI, conhecido
pelas suas críticas ao argumento ontológico de Anselmo.
Argumento da “Ilha Perdida” de Gaunilo
1. A “Ilha Perdida” é algo sobre a qual nenhuma ilha maior pode ser
pensada;
2. A “Ilha Perdida” existe no pensamento, logo pode existir na realidade;
3. Se a “Ilha Perdida” apenas existisse no pensamento, então haveria
uma ilha maior do que ela – o que é logicamente impossível;
4. Logo, é necessário que a “Ilha Perdida” exista.
Crítica de Immanuel Kant: a existência não é um predicado
1.A premissa “Se Deus apenas existisse no pensamento, então haveria
algo maior do que ele”, implica que a existência seja uma qualidade
para algo ser maior;
2.Contudo, a existência não é uma qualidade de alguma coisa, é um
estado dessa mesma;
3.Logo, se não é uma qualidade então não é uma necessidade para
algo ser maior, ou seja, a ideia de Deus não implica a sua existência
física.
O Fideísmo de Pascal
O fideísmo é a teoria ou família de teorias parte do pressuposto que não
temos de ter provas para acreditar em Deus.
A aposta de Pascal
O argumento é o seguinte: aceitemos que não conseguimos provar que
Deus existe, nem que não existe. Os vários argumentos a favor da
existência de Deus não são bons, mas também não temos argumentos
bons a favor da inexistência de Deus. Aceitando que há um empate da
razão quanto à existência de Deus, o que será melhor fazer? Acreditar
ou não?
A este tipo de raciocínio (de Pascal) designamos por racionalidade
prudencial. É o tipo de racionalidade que, não sendo conducente à
verdade, é conducente a benefícios práticos.
A crença em Deus tem racionalidade prudencial na medida em que nos
proporciona benefícios práticos.
Se Deus existe e acreditamos nele, a recompensa é uma felicidade
eterna, ou seja, um resultado positivo com valor infinito – o céu.
Contudo, se Deus existe e não acreditamos nele, a punição será eterna,
isto é, receberemos um resultado negativo com valor infinito – o inferno.
Além disso, no caso de Deus não existir, pouco ou nada ganharemos ao
acreditar em Deus (talvez possamos ganhar, por exemplo, alguma paz
interior e subjetiva que as celebrações religiosas possam proporcionar)
e pouco ou nada ganharemos ao não acreditar em Deus (talvez
possamos ganhar, por exemplo, algum tempo extra que não gastamos
em orações ou missas). De qualquer forma, se Deus não existe, o
resultado de acreditar em Deus será praticamente igual ao resultado de
não acreditar – ou seja, será algum valor finito (como ganhar alguma
paz interior – no caso da crença – ou ganhar algum tempo extra – no
caso da descrença).
Em suma, o raciocínio de Pascal pode ser apresentado nestes termos:
(1) Ou Deus existe ou não existe.
(2) Se Deus existe, estaremos melhor como crentes em Deus do que
como não crentes.
(3) Se Deus não existe, não é pior acreditar do que não acreditar.
(4) Ou seja, quer Deus exista quer Deus não exista, acreditar que Deus
existe tem um melhor resultado do que não acreditar em Deus, e nunca
um resultado pior.
(5) Se o passo 4 é verdadeiro, então devemos escolher acreditar que
Deus existe.
(6) Logo, devemos escolher acreditar que Deus existe.
Objeções ao Fideísmo de Pascal
Objeção 1: a matriz não está bem construída
Talvez Deus tenha uma razão para recompensar todos com valor infinito
positivo (isto é, com o céu), mesmo aqueles que não acreditam em
Deus. Pode questionar-se igualmente se Deus beneficia de igual forma
com valor infinito positivo os crentes que têm fé apenas por interesse
mesquinho da recompensa e aqueles crentes que têm fé de forma
desinteressada e honesta.
A matriz em consideração apenas considera o Deus teísta (pois é o
Deus com esses atributos que Pascal tem em mente). Mas por que
razão não se considera igualmente muitas outras hipóteses, como
algum Deus deísta (o qual, por exemplo, não dava qualquer
recompensa, mas que poderia castigar infinitamente os teístas), ou um
Deus malévolo (que só dava recompensa infinita aos maus ou aos
descrentes)?
A matriz apresentada por Pascal é muito incompleta, uma vez que não
considera outras possíveis hipóteses de divindade e os seus respetivos
valores resultantes; todavia, caso se considere essas várias hipóteses,
já não será nada óbvio que a racionalidade prudencial exija que se
acredite no Deus teísta.
Objeção 2: a fé religiosa não se pode basear num cálculo
É contrária à moralidade de Deus basear a crença num cálculo de
possibilidades.
Objeção 3: a crença em Deus não é voluntária
A crença em Deus pode não estar sujeita ao livre-arbítrio, pode não ser
do controlo da pessoa. No entanto, para Pascal, cabe aos indivíduos
decidir se querem ou não acreditar.