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1 – Formula o problema da existência de deus, justificando

a sua relevâ ncia?

O PROBLEMA DA EXISTÊNCIA DE DEUS


Haverá boas razões que mostrem a existência de Deus?
Existem três posições em relação á existência de Deus: O Conceito
Teísta de Deus, um Deus teísta entende-se por um Deus Sumamente
bom, incapaz de praticar o mal; necessário, não precisa de uma causa
para existir, ou seja, existe por si; Criador, causa de tudo o que existe;
omnipotente, capaz de fazer tudo o que é possível; Omnisciente, tem
conhecimento de tudo; eterno e omnipresente, existe em todo o lugar e
em todo o tempo.
A segunda posição é o Agnosticismo onde diz que Deus é
incompreensível, logo não podemos saber se existe ou não.
A outra posição em relação a esta questão é o Ateísmo que diz que
Deus não existe.

A resposta a esta questão assenta tradicionalmente em três argumentos


que tentam demonstrar a existência de Deus. Primeiramente temos o
argumento cosmológico (à posteriori) Neste argumento começa-se com
factos simples acerca do mundo, como o facto de nele haver coisas cuja
existência é causada por outras coisas, para daí se concluir que tem de
haver uma primeira causa, ou seja, Deus. Este argumento defende que
tudo o que existe tem uma causa eficiente, e essa causa também tem
uma origem; Não pode haver uma regressão infinita na cadeia de
causas; Logo, tem de existir uma causa primeira que inicia a cadeia de
causas, ou seja, Deus.
Causa eficiente: a causa que origina uma coisa ou um acontecimento.
Causa primeira: causa sem causa e que iniciou a cadeia de efeitos.
Contingente: o que não é necessário que exista.
- Argumento de Tomás Aquino.
formulação do argumento cosmológico
- Existem coisas no mundo.
-Se existem coisas no mundo, então tais coisas foram causadas a existir
por alguma outra coisa.
- Se as coisas do mundo foram causadas a existir por alguma outra
coisa, então ou há uma cadeia que regride infinitamente ou há apenas
uma primeira causa que é a origem da cadeia.
- Mas não há uma cadeia que regride infinitamente.
- Logo, há apenas uma primeira causa (a que chamamos Deus) que é a
origem da cadeia.
Na premissa 4 afirma-se que a hipótese de uma regressão ao infinito na
cadeia das causas não é plausível.
Porque se a regressão das causas fosse infinita, então não haveria
nada no seu início que desse origem à própria cadeia que deu origem a
tudo o que temos hoje. Do mesmo modo, se não houver uma primeira
causa (ou seja, Deus), deixaria de haver a própria cadeia e nada
existiria. Mas como existem coisas e cadeias, segue-se que terá de
haver uma primeira causa.
Existem uma crítica à proposição “Tudo tem uma causa eficiente”
Se tudo tem uma causa, então Deus também é causado, logo não
podemos afirmar que é a causa primeira.
Existe também uma crítica à proposição “Deus é a causa primeira”
Não há justificação para que a causa primeira corresponda ao Deus
teísta, podemos, por exemplo, afirmar que o Motor Imóvel de Aristóteles
(algo que provoca movimento, mas que não precisa de ser provocado
para existir) é a causa primeira.
Crítica de David Hume à premissa “Tudo tem uma causa”
-Tomás de Aquino considera que é uma evidência empírica que tudo
tem uma causa; contudo, a evidência empírica que temos das causas
deve-se a uma tendência psicológica, porque devido ao hábito
consideramos que A é causa de B, quando não podemos afirmar isso;
logo, não é uma evidência empírica a causalidade
Crítica de David Hume à premissa “Deus é a causa primeira”
- Assumindo que há a necessidade de uma causa primeira, esta não
precisa de ser Deus; A causa primeira pode ser o próprio universo, ou,
por exemplo, os animais não precisaram de ter sido criados, mas
evoluíram.

Em segundo temos o argumento teleológico (à posteriori) todas as


coisas naturais têm uma finalidade ; Não é possível alcançar um fim
pelo acaso; Só um ser inteligente é que poderia dirigir essa finalidade;
Logo, todas as coisas naturais foram necessariamente criadas por um
ser inteligente – Deus. ; A complexidade de um relógio indica um
objetivo; Essa complexidade exigiu a composição de um ser inteligente;
O universo e os seres vivos são semelhantes aos relógios; Logo,
também o universo e os seres vivos têm um criador inteligente (Deus).

Argumento do desígnio: Se o funcionamento de um relógio é análogo ao


do universo, e aquele necessitou de um criador, então também o
universo necessitou de ser criado por um ser inteligente.

O Argumento ontológico (à priori) diz que Deus é algo sobre o qual nada
maior pode ser pensado; O que existe no pensamento, pode existir na
realidade; Deus existe no pensamento, logo pode existir na realidade;
Se Deus apenas existisse no pensamento, então haveria algo maior do
que ele – o que seria logicamente impossível; Logo, é necessário que
Deus exista.
Gaunilo de Marmoutiers foi um monge beneditino do séc. XI, conhecido
pelas suas críticas ao argumento ontológico de Anselmo.
Argumento da “Ilha Perdida” de Gaunilo
1. A “Ilha Perdida” é algo sobre a qual nenhuma ilha maior pode ser
pensada;
2. A “Ilha Perdida” existe no pensamento, logo pode existir na realidade;
3. Se a “Ilha Perdida” apenas existisse no pensamento, então haveria
uma ilha maior do que ela – o que é logicamente impossível;
4. Logo, é necessário que a “Ilha Perdida” exista.
Crítica de Immanuel Kant: a existência não é um predicado
1.A premissa “Se Deus apenas existisse no pensamento, então haveria
algo maior do que ele”, implica que a existência seja uma qualidade
para algo ser maior;
2.Contudo, a existência não é uma qualidade de alguma coisa, é um
estado dessa mesma;
3.Logo, se não é uma qualidade então não é uma necessidade para
algo ser maior, ou seja, a ideia de Deus não implica a sua existência
física.

O Fideísmo de Pascal
O fideísmo é a teoria ou família de teorias parte do pressuposto que não
temos de ter provas para acreditar em Deus.
A aposta de Pascal
O argumento é o seguinte: aceitemos que não conseguimos provar que
Deus existe, nem que não existe. Os vários argumentos a favor da
existência de Deus não são bons, mas também não temos argumentos
bons a favor da inexistência de Deus. Aceitando que há um empate da
razão quanto à existência de Deus, o que será melhor fazer? Acreditar
ou não?
A este tipo de raciocínio (de Pascal) designamos por racionalidade
prudencial. É o tipo de racionalidade que, não sendo conducente à
verdade, é conducente a benefícios práticos.
A crença em Deus tem racionalidade prudencial na medida em que nos
proporciona benefícios práticos.
Se Deus existe e acreditamos nele, a recompensa é uma felicidade
eterna, ou seja, um resultado positivo com valor infinito – o céu.
Contudo, se Deus existe e não acreditamos nele, a punição será eterna,
isto é, receberemos um resultado negativo com valor infinito – o inferno.
Além disso, no caso de Deus não existir, pouco ou nada ganharemos ao
acreditar em Deus (talvez possamos ganhar, por exemplo, alguma paz
interior e subjetiva que as celebrações religiosas possam proporcionar)
e pouco ou nada ganharemos ao não acreditar em Deus (talvez
possamos ganhar, por exemplo, algum tempo extra que não gastamos
em orações ou missas). De qualquer forma, se Deus não existe, o
resultado de acreditar em Deus será praticamente igual ao resultado de
não acreditar – ou seja, será algum valor finito (como ganhar alguma
paz interior – no caso da crença – ou ganhar algum tempo extra – no
caso da descrença).
Em suma, o raciocínio de Pascal pode ser apresentado nestes termos:
(1) Ou Deus existe ou não existe.
(2) Se Deus existe, estaremos melhor como crentes em Deus do que
como não crentes.
(3) Se Deus não existe, não é pior acreditar do que não acreditar.
(4) Ou seja, quer Deus exista quer Deus não exista, acreditar que Deus
existe tem um melhor resultado do que não acreditar em Deus, e nunca
um resultado pior.
(5) Se o passo 4 é verdadeiro, então devemos escolher acreditar que
Deus existe.
(6) Logo, devemos escolher acreditar que Deus existe.
Objeções ao Fideísmo de Pascal
Objeção 1: a matriz não está bem construída
Talvez Deus tenha uma razão para recompensar todos com valor infinito
positivo (isto é, com o céu), mesmo aqueles que não acreditam em
Deus. Pode questionar-se igualmente se Deus beneficia de igual forma
com valor infinito positivo os crentes que têm fé apenas por interesse
mesquinho da recompensa e aqueles crentes que têm fé de forma
desinteressada e honesta.
A matriz em consideração apenas considera o Deus teísta (pois é o
Deus com esses atributos que Pascal tem em mente). Mas por que
razão não se considera igualmente muitas outras hipóteses, como
algum Deus deísta (o qual, por exemplo, não dava qualquer
recompensa, mas que poderia castigar infinitamente os teístas), ou um
Deus malévolo (que só dava recompensa infinita aos maus ou aos
descrentes)?
A matriz apresentada por Pascal é muito incompleta, uma vez que não
considera outras possíveis hipóteses de divindade e os seus respetivos
valores resultantes; todavia, caso se considere essas várias hipóteses,
já não será nada óbvio que a racionalidade prudencial exija que se
acredite no Deus teísta.
Objeção 2: a fé religiosa não se pode basear num cálculo
É contrária à moralidade de Deus basear a crença num cálculo de
possibilidades.
Objeção 3: a crença em Deus não é voluntária
A crença em Deus pode não estar sujeita ao livre-arbítrio, pode não ser
do controlo da pessoa. No entanto, para Pascal, cabe aos indivíduos
decidir se querem ou não acreditar.

2 – Explica, em que consiste o problema do mal?


O problema lógico do mal
Problema lógico do mal é um problema que procura demonstrar que
a existência do mal e de Deus são logicamente inconsistentes entre
si.
1.Se Deus existe, então é omnipotente e sumamente bom;
2.Se é omnipotente, então tem o poder de eliminar o mal;
3.Se é sumamente bom, então não pode admitir o mal;
4.Contudo, o mal existe;
5.Logo, Deus não pode existir.

Teodiceias são as provas da bondade de Deus ou os seus objetivos


para permitir o mal.
Mal moral é provocado pelas ações humanas como homicídio,
sofrimento provocado.
O mal é uma possibilidade do livre-arbítrio
Deus criou o ser humano livre;
Em liberdade, podemos escolher o bem ou o mal;
Logo, é da nossa responsabilidade quando agimos mal.

Mal natural é resultado de acontecimentos naturais como epidemias,


terramotos.
O mal é necessário para agir bem
Devido às circunstâncias, por vezes temos de agir pelo mal para
alcançar um bem maior.

“Melhor dos mundos possíveis” é uma tese de que o nosso mundo é


o melhor dos mundos logicamente possíveis, porque foi criado por
um Deus sumamente bom e omnipotente.
Justificação do melhor dos mundos possíveis
1.O mundo, por ser contingente, necessitou de um ser necessário
para o ter criado;
2.Esse ser necessário (Deus) é omnipotente, sumamente bom e
omnisciente;
3.Devido a essas perfeições, Deus só poderia ter escolhido o melhor
dos mundos;
4.Logo, o nosso mundo foi criado e existe como o melhor dos
mundos possíveis.
De acordo com Leibniz, Deus criou o melhor de todos os mundos
possíveis. Isso decorre da definição do Deus teísta. Porque sendo
Deus omnipotente e omnisciente, nada há que o possa impedir de
criar o melhor mundo, e a sua perfeição moral obriga-o a criar o
melhor mundo possível. Portanto, se Deus existe, o nosso mundo é
melhor mundo.
Para Leibniz os males que nos parecem gratuitos não os são de facto.
São características de bens que Deus promove. Deus não poderia
criar um mundo maximamente perfeito sem criar ao mesmo tempo,
coisas que, aos nossos olhos, nos parecem males gratuitos, apesar de
não o serem.
Leibniz considera que não há afinal qualquer mal gratuito. Os muitos
males que parecem fazer parte do Universo são afinal constituintes
de bens muitíssimo mais importantes. Leibniz admite, pois, que
existem males, mas nega que sejam gratuitos — e é por isso que são
compatíveis com a bondade, omnipotência e omnisciência de uma
pessoa divina que criou o Universo e tudo o que ele contém.
Contudo, o conhecimento imperfeito dos seres humanos não lhes
permite ver a totalidade do Universo, e por isso não vêm os bens
associados aos males a que assistem.
Colocar o problema do mal obriga a ir para além da questão lógica
que suporta à afirmação da verdade das proposições “Deus existe e é
omnipotente e bom” e “existe mal no mundo”, ou seja, dizer que a
primeira proposição é verdadeira é na verdade, consistente com a
afirmação de que a segunda proposição também é verdadeira. E
Leibniz diz-nos porquê: Deus deve (ou pode) ter uma razão suficiente
para tal; o facto de não percebermos qual, não quer dizer que ela
não exista. Dizer que o mal existe para que, por contraste, possamos
apreciar melhor o bem faz sentido. É a diferença que nos permite
compreender e valorizar os opostos.
Assim, ainda que Deus possa permitir a presença de alguma dor,
sofrimento ou mal-estar para que os seres humanos tenham um
quadro de referência quanto aos valores que são mais apetecíveis,
tal não justifica a dor e o sofrimento desmesurados. Por fim, pode,
ainda, considerar-se outra questão. Admitindo que o melhor dos
mundos possíveis é aquele em que o mal moral está presente, pois o
livre-arbítrio concedido ao ser humano assim o permite, falta ainda
justificar o porquê do mal natural.

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