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Ensaio filosófico

“Será possível determinar a existência de Deus?”


No decorrer deste ensaio, procuramos debater o problema da existência de
Deus, e para isso utilizamos os seguintes conceitos essenciais: “agnosticismo”,
“religião”, “sobrenatural”, “metafisico”, “hierofanias”, “Deus” e “númenos”.
Consideramos que o debate deste problema filosófico é importante, pois ao
longo da existência do Homem sempre se verificou a manifestação da crença em
entidades metafísicas (hierofanias). Desde que foi criada, a religião tem acompanhado
a evolução da Humanidade. Vários conflitos a nível mundial surgiram, e ainda hoje se
mantêm, devido a discordâncias acerca da religião. Para além disso, durante séculos, a
igreja funcionou como um órgão político, tendo sido uma enorme influência na
sociedade. Ainda hoje, em muitos países, a igreja tem um papel fundamental na
organização política e na tomada de decisões.
No desenvolver deste ensaio, vamos defender que não é possível comprovar
nem a existência nem a não existência de Deus. Para defender esta proposição,
tomaremos uma posição agnóstica, ou seja, consideramos que não é possível
determinar, através do conhecimento atual, a existência de um mundo sobrenatural ou
metafísico, logo a existência/inexistência de um Deus.
Antes de analisarmos as diferentes perspetivas, devemos ter em conta o que é a
religião. A religião é um sistema de crenças e práticas. É o laço que une os seres humanos
à transcendência e é o relacionamento íntimo e duradouro com o sobrenatural.
Assim, apresentaremos agora argumentos que fundamentam a nossa tese, as
respetivas objeções e contra objeções.
1) Argumento do apostador de Pascal
Neste argumento, Pascal parte de uma posição agnóstica. Na sua tese, defende
que quando estamos perante a questão da existência de Deus, encontramo-nos numa
posição semelhante à de um apostador, tal como num casino. Quem aposta deve
analisar as suas hipóteses de vencer ou perder, escolhendo assim a posição que o
beneficiará mais ou que o prejudicará menos. Tendo em conta a nossa posição, tanto a
existência como a inexistência de Deus são igualmente prováveis. Sendo impossível
provar sem sombra de dúvida a existência de Deus, o mais sensato é adotar a crença
com mais chances de nos ser benéfica.
-Se apostarmos na existência de Deus, dois casos são possíveis. Ou temos razão
ou não. Se sim, ganhamos a vida eterna, o que parece um excelente prémio. Se não, não
perdemos muito, porque apenas não ganhamos a hipótese da vida eterna, ou seja,
apenas somos mortais e finitos.
-Por outro lado, se apostarmos na inexistência de Deus, outra vez, teremos duas
possibilidades. Ou temos razão ou não. Se sim, viveremos uma vida sem a ilusão da
existência de Deus e somos livres de gozar os prazeres da vida mundana sem medo do
castigo divino. Se não, ou seja, Deus realmente existir e nós não acreditarmos Nele,
estamos expostos à impossibilidade da vida eterna e corremos o risco da condenação
divina.
Assim, o argumento do apostador, afirma que a escolha mais benéfica é acreditar
em Deus e agir em prol dos princípios religiosos. A crença em Deus e na hipótese da vida
eterna leva as pessoas a querer agir solidariamente e tentarem ser o mais bondosas
possível, procurando garantir o seu lugar no “Céu” e a vida eterna.
1.1) Objeções: Argumento Ontológico
O Argumento Ontológico não se apoia em absoluto em nenhum facto
contingente. Apoia-se apenas na análise do conceito de Deus. Este argumento sustenta
que a existência de Deus se segue necessariamente da definição de Deus como o ser
supremo (omnisciente, omnipresente e omnipotente). Assim, Deus define-se como o
ser mais perfeito que é possível imaginar, sendo a existência uma característica desta
perfeição, já que um ser perfeito não o seria se não existisse. Assim, este argumento
considera que é possível determinar racionalmente a existência de Deus.
1.2) Contra Objeções
A partir deste raciocínio, conseguiríamos sustentar a existência de qualquer
coisa, mesmo sendo esta absurda. Como por exemplo, o facto de imaginarmos ou
pensarmos em unicórnios, não é necessário e suficiente para provar a sua existência.
Com isto, verificamos que a existência não é uma propriedade, mas sim uma condição
de possibilidade para que seja possível atribuir propriedades a Deus, como a
omnipotência ou omnisciência. Assim, o argumento de Pascal resiste a esta crítica por
manter a legitimidade da premissa agnóstica de Pascal.
2) Crítica de Kant à Teologia Racional
Perante a crítica de Kant à metafísica como um todo, Kant assume que sem ser a
matemática e a lógica, a experiência dos sentidos é a única fonte de conhecimento
possível. Assim, os conceitos que o entendimento humano produz são derivados da
experiência. Por causa disso, é apenas quando são aplicados a fenómenos da
experiência que eles são válidos. O problema com as teorias metafísicas que lhe
antecederam, pensava Kant, é que procuravam aplicar conceitos retirados do mundo
sensível e aplicá-los em domínios que excedem o da experiência sensível (númenos). O
conceito de “Deus” é um exemplo deste tipo de extrapolação dos limites da razão. A
partir da ideia de que as coisas (da nossa experiência) têm limites, a razão procura
estender este conceito para além do domínio de onde ele foi tirado, fazendo com que
ele perca o seu sentido para nós. Esta é a explicação do profundo sentido de mistério
que sempre envolveu a ideia de uma divindade. Logo, segundo Kant, não é possível
comprovar a existência de Deus.
2.1) Objeção: Argumento Teleológico
Este argumento baseia-se na observação direta do mundo, comparando o universo com
uma máquina produzida por partes onde todas juntas tendem para um fim. Estas
máquinas seriam concebidas por um desígnio inteligente, porém as coisas naturais são
criadas de forma muito mais complexa do que as máquinas. Por isso, teria de ser uma
coincidência enorme que as coisas no mundo existissem com o nível de ordem e
complexidade que têm sem que essa ordem tivesse sido imposta por algum criador
inteligente. Isto porque, se não for resultado da ação de um criador inteligente, teria de
ter sido obra do acaso: uma mera coincidência. Isto implica que o universo foi produzido
por um desígnio inteligente, portanto, Deus.
2.2) Contra objeções
Esta tese é criticada por ser um argumento com base na analogia, onde, nada
mostra que o universo é um sistema teleológico, ou seja, não sabemos qual é a sua
finalidade. A única coisa que podemos afirmar é que o universo contém diversos
elementos naturais que se assemelham a máquinas. Para além disso, mesmo que pouco
provável, a possibilidade de tudo ter acontecido por mera coincidência permanece.
Logo, o que é apresentado não demonstra que o desígnio inteligente do universo seja
Deus.
Conclusão:
Na nossa opinião, a crença em Deus, é muitas vezes sustentada pela procura de
um sentido de vida, ou pela necessidade de deposição de esperanças em algo superior
a nós. Esta necessidade tem como objetivo alcançar uma estabilidade ou conforto no
pensamento de que existe algo superior que pode melhorar nossa condição. Porém,
achamos que não justifica de facto a sua existência. O facto de as pessoas terem
necessidade de depositar a sua fé em Deus, não é condição necessária e suficiente para
comprovar que ele existe.
Por outro lado, pensamos que não é possível descrer em Deus, já que
consideramos que não é possível determinar, através do conhecimento atual, a
existência de um mundo sobrenatural ou metafísico.
Concluímos então, que perante tudo o que foi apresentado acima, não é possível
provar que Deus existe nem que Deus não existe.
Webgrafia:
Para o desenvolvimento deste trabalho utilizamos os materiais fornecidos pela
professora e o seguinte link:
https://plato.stanford.edu/entries/kantmetaphysics/#GodRatThe
Trabalho realizado por Mafalda Pinto Nº12 e Rui Mendes Nº17, 11ºB, no âmbito da
disciplina de Filosofia

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