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Argumentos para a existência de

Deus
Nina Neves Nº22 Catarina Morais Nº8 Maria Pires Nº17
Índice
Concepção de Deus........................................................................................................2
Evolução da crença consoante a evolução do ser humano................................4
As várias justificações..................................................................................................5
Problema do mal...........................................................................................................9
A existência de Deus por católicos apostólicos romanos...................................10
Conclusão.......................................................................................................................11
Concepção de Deus

Desde o começo da história que o ser humano procura justificações para tudo aquilo que não
consegue compreender, e demanda um significado para dar à sua vida, um sentido que o
conforte e o aconselhe a tomar as decisões corretas. Com isto, ao longo dos séculos, o
Homem tem se inclinado para o seu ser espiritual, que para a sociedade da antiguidade grega,
a espiritualidade se definia como uma experiência contemplativa pela qual o agente poderia
alcançar o verdadeiro significado de tudo, e assim tem tentado encontrar justificações e
teorias para provar a existência de um ser superior omnipresente e omnipotente, que pré-
concebeu um caminho para todos nós. Este ser todo-poderoso ficou denominado de Deus, e
não existe uma definição totalmente correta para o podermos definir, assim, inicia-se o
problema da existência de Deus, a sua própria concepção.
Num conceito global, denomina-se de “teísmo”, doutrina religiosa que pressupõe que apenas
existe um único Deus, define que a Sua existência não é compatível com o universo físico,
visto que foi criada por Ele e o mesmo depende Dele para existir, visto isto é um ser
transcendente, está fora do espaço e tempo, é espiritual, e imutável. Tudo isto, é uma
abordagem pessoal do ser divino. Esta doutrina filosófica baseia-se na crença em livros
sarados como a Bíblia, o Corão, ou em milagres.
Em contrapartida, na visão do deísmo, doutrina que afirma ser possível descobrir/constatar a
existência de um ser divino através da razão, Deus é impessoal e apenas tem uma força
inicial, que depois se torna inacessível, logo não aceitam nenhuma forma de revelação como
fonte de consciência de Deus, nem que este Ser superior interfira no decorrer dos
acontecimentos do mundo, de forma a dar resposta às necessidades do ser humano.
Estas não são apenas as únicas conceções existentes para a definição de Deus, existem outras
como o panteísmo, que afirma que Deus está presente em tudo e não somente no mundo
físico. Existe o agnosticismo, que assenta na crença da impossibilidade de saber realmente se
Deus existe ou o ateísmo, que nega simplesmente a Sua existência. A crença politeísta foi a
que se preservou durante vários séculos, no Antigo Egito, países nórdicos, África Ocidental,
Grécia Antiga e Roma. Consiste na crença em diversas divindades, estas que são essenciais
na mitologia, onde são apresentados como personagens se um estatuto superior e divino, ao
contrário do Homem que é apenas um mero mortal.
Conclui-se que a definição de Deus, não é objetiva, mas será que a sua existência o é?
Também não existe uma resposta exata, pois se afirmarmos que Deus não existe, estamos a
retirar o apoio e lógica de vida para todas as pessoas que se baseiam Nele, para encontrar
respostas, mesmo que as mesmas possam ser válidas ou inválidas, pois a inquietação que o
desconhecido traz ao ser humano é superior á validade de muitos argumentos. Mas afirmar
que Deus existe, seria algo totalmente subjetivo, logo não é uma necessidade moral, Kant
afirma que: “Não pode existir dever algum de admitir a existência de uma coisa (porque isso
diz unicamente respeito ao uso teórico da razão). Por tal também não se entende que a
admissão da existência de Deus, enquanto fundamento de toda a obrigação em geral, seja
necessária (…)” 1
São inúmeros os filósofos que tentaram comprovar, como René Descartes e refutar, como
Emmanuel Kant, a existência de Deus, através da pergunta “Deus existe? E é a partir dessa
mesma pergunta que este ensaio filosófico vai iniciar.

Evolução da crença consoante a evolução do ser humano

A questão sobre a existência e natureza de Deus tem sido uma preocupação central na
filosofia e na história ao longo dos séculos. À medida que os seres humanos evoluíram
intelectualmente e culturalmente, a conceção de Deus também se transformou. Por exemplo
com a teoria da evolução de Darwin, a visão tradicional de Deus como um criador divino
direto foi desafiada pela noção de que as espécies evoluem ao longo do tempo por meio de
um processo de seleção natural. Esta perspetiva científica levou a uma nova interpretação da
relação entre Deus e a criação, assim começa-se a questionar a ideia de uma criação literal e
começar a permitir abordagens teológicas mais simbólicas e metafóricas para compreender a
ação do divino no mundo cognitivo.
Como a concepção de Deus tem sido moldada e alterada ao longo da história, estes avanços
têm desafiado as antigas noções, proporcionado novas perspetivas sobre a existência e
natureza de Deus.

Agora vamos analisar mais detalhadamente conforme:

I. A Evolução do Ser Humano

À medida que a humanidade evoluiu, a compreensão do mundo ao seu redor também se


expandiu.
No início, o ser humano era dominado pelo medo e pelo desconhecido, dando a razão de
diversos fenómenos naturais a seres divinos ou sobrenaturais, o perfeito exemplo disto são os
deuses mitológicos da Grécia Antiga, nos quais, Zeus era associada ao céu, raios e trovões, a
Afrodite, a deusa do amor, beleza e sexualidade, entre outros. A conceção de Deus era muitas
vezes antropomórfica, onde O próprio era retratado com características humanas. No entanto,
à medida que a inteligência e a razão se desenvolveram, as visões teológicas tornaram-se
mais sofisticadas e menos dependentes de interpretações literais de textos religiosos.

II. Os Avanços Científicos

1
Kant, Immanuel. Crítica da Razão Prática. Edições 70, 1986.
Os avanços científicos têm desempenhado um papel fundamental na mudança desta
conceção. Descobertas como a teoria da evolução, a cosmologia moderna e a genética
desafiaram as crenças religiosas tradicionais. A ideia de um Criador divino, tal como
retratado nas escrituras sagradas, foi questionada à medida que a ciência oferecia explicações
alternativas para a origem e diversidade da vida, bem como para a origem do universo. No
entanto, é importante notar que a ciência e a religião nem sempre estão em conflito direto, e
muitos cientistas encontram maneiras de reconciliar a fé com descobertas científicas,
exemplo disto é George Washington Carver, cientista americano e cristão devotado, “God is
going to reveal to us things He never revealed before if we put our hands in His. No books
ever go into my laboratory. The thing I am to do and the way of doing it are revealed to me. I
never have to grope for methods. The method is revealed to me the moment I am inspired to
create something new. Without God to draw aside the curtain I would be helpless.”2

III. Os Avanços Tecnológicos

A tecnologia também desempenhou um papel na mudança da conceção de Deus. O acesso a


informações através da internet e a capacidade da comunicação à distância permitiram uma
maior exposição e descoberta de diferentes perspetivas e tradições religiosas, o que ajudou
diversas pessoas a entender e conhecer melhor outras religiões com as quais, se poderiam
sentir mais confortáveis. Além disso, a tecnologia forneceu novas formas de expressão
religiosa, como a divulgação de ensinamentos religiosos por meio das redes sociais e a
criação de comunidades virtuais de fé.
A tecnologia influenciou a forma como muitos entendem o divino, com representações de
Deus em filmes, jogos e outros meios de comunicação.
No entanto, é importante ressaltar que apesar das mudanças na concepção de Deus ao longo
do tempo, a busca por significado e propósito na vida aparenta continuar a ser uma
necessidade fundamental para muitos. O conceito de Deus pode variar de pessoa para pessoa,
dependendo de experiências, cultura e contexto histórico.
Para alguns, a evolução do ser humano, da ciência e da tecnologia pode ter levado a uma
visão mais racional e abrangente de Deus, para outros pode ter fortalecido sua fé e para
alguns é apenas mais um motivo para tal ser divino não ter espaço no nosso mundo.

As várias justificações

Regressando ao início da humanidade, podem se fazer as seguintes perguntas: “Qual a


necessidade que existe para acreditar num ser divino? Será que existe alguma explicação
coerente para explicar a necessidade que o ser humano tem para crer em algo divino? Aqui

2
Clark, Glenn. The Man Who Talks With The Flowers The Intimate Life Story Of Dr. George Washington Carver. Wilder Publications,
2018.
vão ser mencionados vários motivos para tal existência divina existir, e as várias justificações
que têm sido apresentadas.

I. O Argumento Cosmológico:

O argumento cosmológico, propõe que a existência de Deus pode ser justificada pela
necessidade de uma causa primeira, para explicar o universo e a sua origem. Segundo esta
visão, tudo que existe tem de ter uma causa, e essa seria Deus. Isto pressupõe a existência de
uma relação de causa e efeito, Tomás de Aquino defende esta perspetiva e tenta comprovar a
existência de Deus através de cinco vias, sendo Deus, a primeira onde afirma que, seria
impossível algo ser a causa de si mesmo: “Se não houvesse uma causa eficiente primeira, não
haveria a última nem a intermédia. Mas, procedendo-se até ao infinito na série de causas
eficientes, não haverá causa eficiente primeira e, assim, nem efeito último nem causas
eficientes intermédias, o que é claramente falso. Logo, é necessário admitir alguma causa
eficiente primeira, à qual todos chamam Deus”3
No entanto, críticos apontam que este argumento não resolve a questão da origem por Deus,
pois pressupõe que algo necessariamente deveria ter uma causa externa.

II. O Argumento do Desígnio (ou Argumento Teleológico):

O Argumento do Desígnio, ou teológico, é baseado na ideia de que o universo exibe ordem,


propósito e comporta todas as espécies de padrões e regularidades tal como o ADN, as leis da
física ou os padrões dos flocos de neve, algumas destas ordens podem ser explicadas pelo ser
humano ou outros animais, mas outras que não possuem tal explicação precisariam de um
Deus para poderem ser explicadas.

Um exemplo do argumento do Desígnio pode ser:

A: Há ordem no universo.
B: Mas a ordem não pode existir sem desígnio. (Isto é, sem um projetista).
∴ Logo, tem de haver um projetista: Deus.

Temos também alguns Filósofos como William Paley que comparam o universo a um relógio
complexo, e argumentam que assim como um relógio requer um relojoeiro, neste caso, um
projetista, o mundo requer um Criador. Assim, ele propõe o seguinte: “Suponha-se que eu
tinha encontrado um relógio no chão e procurava saber como poderia ele estar naquele lugar
[…], quando inspecionamos o relógio, vemos (…) qua as suas diversas partes estão forjadas e
associadas com um propósito […]. Tendo este mecanismo sido observado (…) pensamos que

3
Tomás de Aquino (1994), Summa Theologiae, vol. 1 (5 vols.), Madrid Biblioteca de Autores Cristianos, p.18
a inferência é inevitável: o relógio teve de ter um criador; […] O desígnio te de ser um
projetista. Esse projetista tem de ser uma pessoa. Essa pessoa é DEUS.”4
Esta teoria tem sido refutada com argumentos como o que a complexidade pode ser explicada
por processos naturais, e que muitas regularidades não seguem tais ordens e necessariamente
não exigem uma causa divina. A analogia do relojeiro passou a ser menos utilizada após a
proposição da seleção natural de Charles Darwin.

III. O Argumento Moral:

O argumento moral sugere que a existência de um Deus é necessária para todas as pessoas
poderem reconhecer um código moral, isto é, o que pode ser considerado certo e errado, ou
que obedece a uma lei máxima. De acordo com esta visão, se não houver uma entidade divina
que estabeleça uma lei moral absoluta, pois para existir uma lei deveria existir um legislador,
os valores seriam apenas subjetivos e relativos.
Immanuel Kant argumentou que a existência de Deus deveria ser necessária para garantir a
coerência e universalidade da ética: “A doutrina do Cristianismo, mesmo que não seja ainda
considerada como doutrina religiosa, fornece a este respeito um conceito do soberano bem
(do Reino de Deus), que é o único a satisfazer a mais rigorosa exigência da razão prática. […]
Deste modo a lei moral conduz, através do conceito de soberano bem enquanto objeto
(Objekt) e fim derradeiro da razão pura e prática, à religião, (…) as quais, no entanto, devem
ser consideradas como, mandamentos do Ser supremo (…)”5
Mas críticos apontam que a moralidade pode ser compreendida sem referência a uma
entidade divina, e que diferentes sistemas éticos podem ser construídos com base em
princípios racionais e empáticos, Ludwig Feurbach, afirma que: “o que é então a essência do
homem, da qual ele tem consciência, (…) A razão, a vontade, o coração. A um homem
completo pertencem a força do pensar, a força da vontade, a força do coração. A força do
pensar é a luz do conhecimento, a força da vontade a energia do carácter, (…). Verdadeiro,
perfeito, divino é apenas o que existe em função de si. (…) . A trindade divina no homem,
acima do homem individual, é a unidade de razão, amor e vontade.”6

IV. O Argumento da Experiência Religiosa:

O argumento da experiência religiosa é defendido pelo Padre Coleston, mas o próprio afirma,
não se trata exatamente de um argumento, pois, enquanto certos argumentos servem para
justificar que algo é verdadeiro, a experiência religiosa serviria apenas para provar a quem
vivenciou tal experiência, a existência de Deus.

4
Paley, William (1802), Teologia Natural, cap.1,2,27.
5
Kant, Immanuel. Crítica da Razão Prática. Edições 70, 1986.
6
Feuerbach, Ludwig. A Essência do Cristianismo. 5o edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2018.
A experiência religiosa defende que a existência de Deus pode ser explicada através da
experiência pessoal e subjetiva de um encontro com o divino. Filósofos como Søren
Kierkegaard enfatizaram a importância da fé como uma resposta existencial à experiência
divina.
São levantadas questões sobre a validade deste argumento como prova da existência de Deus
pois as experiências religiosas podem ser variadas e muitas vezes contraditórias.

V. A aposta de Pascal:

A aposta de Pascal, também conhecida como o argumento da aposta, é uma abordagem


filosófica proposta pelo matemático e filósofo francês Blaise Pascal. Ela aborda a questão da
existência de Deus de uma maneira pragmática, argumentando que é racional acreditar em
Deus, mesmo com a ausência de provas definitivas.

A aposta de Pascal pode ser resumida da seguinte forma:

1. Acreditar em Deus ou não acreditar em Deus são opções disponíveis para os seres
humanos.
2. A existência de Deus é uma questão incerta e não pode ser comprovada de forma
conclusiva pela razão.
3. No entanto, a vida humana é limitada e incerta, e cada escolha tem as suas
consequências.
4. Se acreditarmos em Deus e Deus existir, seremos recompensados com a felicidade
eterna na vida após a morte.
5. Se acreditarmos em Deus e Deus não existir, não vamos sofrer nenhuma perda
significativa e iremos apenas ter vivido uma vida moralmente virtuosa.
6. Por outro lado, se não acreditarmos em Deus e Deus existir, enfrentaremos a punição
eterna.
7. Se não acreditarmos em Deus e Deus não existir, não teremos ganhos nem perdas
significativas. A partir destes pontos, Pascal argumenta que devido às consequências
enormes que podem acontecer a partir de acreditar ou não acreditar em Deus, a aposta
racional deveria ser escolher acreditar em Deus, independentemente das provas ou
evidências objetivas. Alegando que a probabilidade de uma recompensa infinita (a
felicidade eterna) supera o risco de estar errado na crença em Deus.

No entanto, a aposta de Pascal tem sido criticada por vários motivos. Por um lado,
argumentam que ela apresenta uma visão utilitarista da religião, onde a crença é tratada
principalmente como um meio de obter recompensas ou evitar punições, outros críticos
afirmam que a aposta não aborda sequer a diversidade de crenças religiosas que existem e
assume que há apenas a escolha entre o teísmo e o ateísmo.
Com tudo isto apresentado, existem diversos contraexemplos para estas teorias, mas
salvaguardo este excerto de Feuerbach, que retrata excelentemente o dialecto da religião e a
dignidade, condição e essência do ser humano: “Mas a religião não tem consciência do
carácter humano do seu conteúdo; pelo contrário, opõe-se ao que é humano, (…) esta
confissão e proclamação públicas de que a consciência de Deus não é senão a consciência do
género, de que o homem pode e deve elevar-se acima das limitações da sua individualidade,
mas não acima das leis, […]. A causa real converte-se em meio sem importância, uma causa
apenas representada, imaginária, converte-se numa causa verdadeira, real. (…) É grato para
com Deus, mas ingrato para com os homens. E assim o homem sacrifica o homem a Deus.
Assim desaparece na religião a consciência moral!”7

O problema do mal
Uma questão que sempre se manteve é a do mal, pois, se Deus quer o bem de todos e é um
ser divino, omnipotente e bom, o mal não poderia existir. Epicuro, filósofo da Antiguidade
Grega, apresentou o paradoxo da bondade e maldade de Deus:

1. Enquanto omnisciente e o,nipotente, tem conhecimento de todo o mal e poder


para acabar com ele. Mas não o faz. Então não é benevolente.

2. Enquanto omnipotente e benevolente, então tem poder para extinguir o mal e


quer fazê-lo, pois é bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto mal existe e
onde o mal está. Então ele não é omnisciente.

3. Enquanto omnisciente e benevolente, então sabe de todo o mal que existe e


quer mudá-lo. Mas não o faz, pois não é capaz. Então ele não é omnipotente.8

Alguns argumentam que a presença do mal no mundo é necessária para permitir o livre-
arbítrio dos seres humanos. Nesta perspetiva, Deus deu aos seres humanos a capacidade de
escolher entre o bem e o mal, e o mal é uma consequência inevitável dessa liberdade. Aires
Almeida afirma que: “As guerras, roubos e homicídios são males morais porque resultam das
ações humanas; os terramotos, doenças e inundações são males naturais porque resultam de
acontecimentos naturais. A ideia da defesa do livre-arbítrio é que Deus é compatível com o
mal moral. (…). Porque permitir o mal moral é a única maneira que Deus tem de possibilitar
a existência de outra coisa muito importante: o livre-arbítrio humano.”

Outros argumentam que o mal é um resultado da imperfeição inerente à criação do mundo.


Logo, Deus criou um universo em desenvolvimento, no qual os seres vivos evoluem e
aprendem por meio de experiências, incluindo o enfrentamento do mal e do sofrimento.

7
Feuerbach, Ludwig. A Essência do Cristianismo. 5o edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2018.
8
Tooley, Michael. The {Stanford} Encyclopedia of Philosophy. W}inter 2021. Metaphysics Research Lab, Stanford University: Edward N.
Zalta, 2021.
Além disso, existe o argumento de que o mal é uma ilusão ou uma perspetiva limitada dos
seres humanos. De acordo com essa visão, o mal faz parte de uma ordem maior e mais
complexa que escapa à nossa compreensão limitada. Assim, Deus pode ser considerado bom
e benevolente, mesmo quando percebemos o mal e o sofrimento em nossa experiência
pessoal.

Mas se de facto não existisse qualquer tipo de problema e maldade no mundo, será que este
era capaz de sobreviver? Se o ser humano tivesse acesso a qualquer tipo de objeto ou recurso,
se não existissem catástrofes naturais, ou até mesmo provocadas pelo Homem, era possível
viver? Isto, pois o ser humano nunca iria ter consciência destes problemas, o que levaria á
inexistência de emoções, preocupações e empatia.
No entanto, é importante observar que este paradoxo tem contraexemplos e teorias diferentes,
visto que as diversas crenças religiosas abordam essa questão de maneiras diversas.

A existência de Deus por católicos apostólicos romanos


A Igreja Católica, a maior instituição religiosa do mundo, tem como base a fé cristã. A
denominação “católica” surgiu pelo último imperador do império romano aquando de
estabelecer a igreja estatal do mesmo, e ao longo dos anos, destacaram-se diversas figuras
que vão ser abordadas.

I. Santo Irineu de Lyon

Ficou conhecida pela obra Contra Heresias, onde critica a heresia do gnosticismo, ou seja, a
rejeição do Deus do Antigo Testamento, que era considerado pelos gnósticos como um ser
inferior e até mesmo maligno. Para refutar os gnósticos, Irineu afirmou que a tradição cristã
veio de Jesus e passou por diversos apóstolos até chegar a ele.

Irineu sempre seguiu a tradição evangélica e apostólica, acreditava que foi apenas um único
Deus bondoso e omnipotente que criou o mundo e o ser humano, mas que este foi criado à
semelhança do Ser superior, tendo assim um pensamento trinitário. Também desenvolveu
uma doutrina súmula do Homem e Cristo, esta recapitulação é a retomada de Cristo e do ser
humano desde a origem, logo Deus restaurou toda a vida humana dando a salvação de modo
que tudo que foi perdido em Adão, fosse retomado em Jesus.

II. Ambrósio de Milão

Ambrósio, foi um dos mais notáveis membros do clero do século IV. Teve um grande papel
na história da teologia cristã e foi quem influenciou a conversão de Santo Agostinho.

Defendia a existência de Deus, tendo como base e argumentos a obra sagrada. Acreditava que
a existência do Ser divino era reconhecível pela Natureza e pela experiência pessoal de fé,
sendo assim um axioma fundamental que não precisava necessariamente de ser provado, que
apenas poderia ser compreendido por meio da fé pessoal e da revelação divina. Ambrósio,
recorreu ao neoplatonismo, a tese filosófica que é influenciada pela filosofia medieval e
renascentista que defendia a possibilidade de a alma humana restabelecer uma certa união
com o divino através da contemplação, para pôr em evidência o cristianismo.
III. Gregório de Magno

No que diz respeito à existência de Deus, Gregório afirma que a mesma poderia ser
reconhecida através da razão e pela fé. Assim, a razão humana por meio da observação do
mundo natural e contemplação racional, era possível obter conhecimentos sobre a existência
de Deus. Era valorizada uma determinada harmonia entre a fé e a razão, visto que a fé era
essencial para compreender a doutrina divina, e a razão para investigar a verdade.

Na obra “Diálogos”, são apresentados diversos argumentos que têm como finalidade provar a
existência de Deus, através de exemplos da Natureza e a ordem do mundo, que serviram para
realçar a inteligência deste Ser divino, visto que apenas um Ser exterior e complexo poderia
criar algo tão belo.

IV.Santo Agostinho

É considerado dos filósofos cristãos mais importantes da teologia cristã. É reconhecido pela
sua concepção de pecado e suas obras que apresentam um conjunto de argumentos acerca da
existência de Deus, esta que é profundamente influenciada pela sagrada escritura e tradições.

Agostinho não cresceu sendo cristão, pelo contrário, sua mãe era uma cristã devota, no
entanto, seu pai era um pagão que apenas se converteu quando se encontrava no leito da
morte. No seu percurso académico, estudou as práticas e crenças pagãs, mas decidiu seguir o
maniqueísmo, uma doutrina que defendia que a realidade tinha apenas dois princípios, o bem
ou o mal. Mais tarde, pertenceu ao ceticismo, o pensamento filosófico que tem como objetivo
examinar e criticar as irregularidades que nos rodeiam. Mas foi Ambrósio de Milão que o
convenceu a converter-se, na obra Confissões, ele conta que estava sentado e ouviu uma obra
que lhe disse para ler Romanos 13.13-14, e foi aí que tomou a sua decisão.

Argumentava que tudo que existe no mundo físico está em constante mudança e depende,
obrigatoriamente, de outras coisas para existir, este argumento já foi apresentado neste
trabalho, e denomina-se de argumento cosmológico. Assim, sustentava que essa dependência
de causas contingentes, exigia uma causa primordial e não propriamente contingente, que ele
identificava como sendo Deus: “Como podia eu conhecê-lo, se meus olhos só atingiam o
corpo e meu espírito não via mais do que fantasmas? Ignorava que Deus é espírito e não tem
membros dotados de comprimento e de largura, nem é matéria, porque a matéria é menor na
sua parte do que no seu todo. Ainda que a matéria fosse infinita, (…), limitada por um certo
espaço, do que na sua infinitude!9

Ainda assim, tinha uma perspetiva que considerava a busca pelo Criador inerente á Natureza
e condição humana, logo os Homem tem um desejo inato de felicidade e plenitude, o que faz
com que essa busca por satisfação e sentido só possa ser realizada por Deus:” A vida feliz
consiste em nos alegrarmos em Vós, de Vós e por Vós. Eis a vida feliz, e não há outra.”10

A nível da moral e ontologia, Agostinho citava que a existência de valores objetivos e morais,
assim como a existência de mal no mundo, era evidências extremas de um ser Superior ao ser

9
Agostinho, Santo. As Confissões. 2o. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1942.
10
Agostinho, Santo. As Confissões. 2o. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1942.
humano: “De fato, assim como, nos poderes que existem na sociedade humana, o maior se
impõe ao menor, para que este lhe preste obediência, assim Deus domina a todos.”11

Conclusão
A explicação da religião é uma característica que faz parte da condição humana, ou seja, já é
incutido na nossa Natureza, especular sobre um ser a nós superior. Com isto, podemos
concluir que a evolução do ser humano, ciência e tecnologia, teve um efeito significativo na
relatividade da conceção de Deus, isto pois, o conhecimento a posteriori alterou a ideia e
relação entre um Ser Criador e o ser humano, dado que a ciência foi capaz de fornecer um
esclarecimento coerente para a gênese da vida e Universo.

A nível ocidental, a essência de Deus continua a ser um tópico de discussão profuso, no


entanto é bastante persuadido pela obra sagrada, mas é possível observar que esta essência
não apresentou mudanças significativas a nível da religião cristã. A reflexão que mais se
enfatiza, é o problema do mal, visto que se Deus permite a existência do mal no mundo
cognitivo, então não é lógico que Ele tenha as suas três peculiaridades notáveis.

11
Agostinho, Santo. As Confissões. 2o. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1942.

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