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Introdução
1. O homem é capaz de Deus (capax Dei). Toda a verdade: que Deus o criou à sua imagem e
semelhança e, de tantos modos, manifestou-lhe seu desejo de salvação e vida plena.
2. Deus se revela para CRIAR (Gn 1,26), para ABENÇOAR (Gn 12,2) para LIBERTAR (Ex 3,7),
para RESGATAR (Is 1,19-20), para SALVAR (Jo 3,17).
3. O meio pelo qual Deus se revela é a fé. Somente nela, o homem pode ascender a Deus.
O problema da revelação
(DULLES, Avery. Modelli della rivelazione. Città del Vaticano: Lateran University Press, 2010)
5. Métodos e critérios
“A Igreja Católica professa que esta fé, que é o princípio da salvação do homem, é uma virtude
sobrenatural, com a qual, sob a inspiração e graça de Deus, cremos que as coisas reveladas por Ele
são verdadeiras, não por sua verdade intrínseca com a luz natural da razão, mas pela autoridade do
próprio Deus revelador, que não pode ser enganado, nem pode enganar. A fé é, segundo o
testemunho do Apóstolo, a substância das coisas que se esperam, a realidade não aparente (Hb 11,
1).” (Constituição Dogmática “Dei Filius”, cap.3, do Concílio Vaticano I, Papa Pio IX)
3. O acesso do homem à revelação se realiza por meio da fé, dom de Deus e resposta do homem.
O homem é capaz de fides ex auditu (capaz de crer e escutar). A fé chega ao homem pela escuta (Cf.
Gn 222,1; Rm 10,14).
4. Trinômio da fé: Fé + Escuta (Acolhida) + Obediência = Revelação
5. O homem tem desiderium naturale vivendi Deum. Este desejo natural por Deus o faz viver na
receptividade divina. A sua escuta por Deus não é apenas exterior, mas interior. A fé é, assim sendo,
penetrar e compreender Deus.
1 Conferir: Ct 1,8; Dt 4,9. 6,3. 8,11. 15,9. 24,28.
Mt 13,1-9: Parábola do Semeador A fé é a semente dada por Deus ao homem. O coração humano é
a terra. Quanto mais profundidade atinge a semente, mais próxima ela está do coração e mais
frutuosa será o florescimento de quem crê.
Conhece-te a ti mesmo
1. O homem se autoidentifica na imagem e semelhança de Deus. São Basílio
diz: “Atende a ti mesmo para poder atender a Deus.” O homem se autoentende na medida que
compreende Deus. Também Santo
Agostinho diz: “eu me conhecerei, eu te conhecerei.” A verdade habita no
íntimo do homem. Deus é o que está por detrás das entranhas do próprio homem. Por isto, a
interioridade é uma fonte de conhecimento. Santo
Agostinho novamente afirma que é preciso “entrar na interioridade de sua mente para encontrar a si
mesmo e, simultaneamente, encontrar
Deus.”
REVELAÇÃO
Deus dá-se a conhecer
Revisão de conteúdo
Hb 1,1-4: Nos tempos antigos, muitas vezes e de muitos modos Deus falou aos antepassados por
meio dos profetas. No período final em que estamos, falou a nós por meio do Filho. Deus o
constituiu herdeiro de todas as coisas e, por meio dele, também criou os mundos. O Filho é a
irradiação da sua glória e nele Deus se expressou tal como é em si mesmo. O Filho, por sua
palavra poderosa, é aquele que mantém o universo. Depois de realizar a purificação dos pecados,
sentou-se à direita da Majestade de Deus nas alturas. Ele está acima dos anjos, da mesma forma
que herdou um nome muito superior ao deles.
A fé em Jesus e a fé de Jesus
São duas expressões distintas: Ter a fé em Jesus para ter
a fé de Jesus; ou ter a fé de Jesus para ter a fé em Jesus. A questão principal é: ter a fé de Jesus. O
NT não fala propriamente da fé de Jesus, mas da obediência de Jesus (cf. Fl 2,8; Hb 5,8). Quando se
fala da fé de Jesus, diz-se que ele é “o autor da fé e consumador da fé” (Hb 12,2).
Deus quis, em sua bondade e sabedoria, revelar-se! A revelação de Deus é para salvar a
humanidade: “Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra
seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo do poder dos
egípcios e para fazê-lo subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa, terra onde corre leite e
mel” (Ex 3,7-9);
Por meio de Cristo, plenitude da revelação, os homens têm acesso, no Espírito Santo, ao Pai e se
tornam participantes da natureza divina (Dei Verbum 1);
A Revelação é dialógica: Deus fala aos homens como a amigos e os convida à sua comunhão;
Cristo é o mediador e a plenitude da Revelação;
Da parte dos homens, o acesso à Revelação divina se dá através da inteligência da fé;
O homem tem uma capacidade receptiva de Deus, tem um desejo natural por Ele. Pela fé, o
homem o escuta.
Fé e razão
1. Carta Encíclica Fides et Ratio
“A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se
eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de
conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O,
possa chegar também à verdade plena sobre si próprio (cf. Ex 33, 18; Sal 2726, 8-9; 6362, 2-3; Jo
14, 8; 1 Jo 3, 2).”
1. O homem é inquieto diante do mal: quia malum est, Deus est (assim como existe o mal, Deus
existe). Podemos filosoficamente afirmar que Deus é acima da existência. Se existir pressupõe
“duração do ser”, finitude, logo Deus transpõe esta categoria. Então, Deus se manifesta na
existência como “Aquele que é” para sanar ao mal (Ex 3,7; Jo 3,16-17).
2. Qual o sentido do mal? Há sentido? Deus dá um valor positivo ao mal (transcendendo-o). Com
o pecado de Adão e Eva, o mal fica sem sentido, sem explicação. Com a cruz, o mal tem
resposta e ganha um significado de fé.
São Tomás de Aquino: “Nada é tão contingente para não ter em si nenhuma necessidade,
nenhum sentido.”
1. Santo Agostinho: “No interior do homem habita a verdade.” Tanto quanto procura a verdade,
o homem procura a Deus. A procura por Deus é uma busca de conhecimento, de entendimento do
sentido da vida.
2. Segundo São Rufino, o homem é capaz de Deus. E Adão ganhou primeiramente esta
capacidade, podendo participar da natureza divina, como “imagem e semelhança” Dele. Uma
vez capaz de Deus, a Ele é configurado.
3. São Tomás de Aquino diz que “a alma é capaz de Deus porque é sua imagem”. O homem é,
portanto, uma imagem trinitária. Em Cristo, o homem é novamente criado (Gn 11,27; Ef 4,23; Rm
8,10.29).
4. Na Revelação, o homem é:
Karl Rahner
Vocacionado à escuta da Palavra de Deus (Karl Rahner); Absoluta abertura ao ser, porque vai
sempre além do que conhece; É uma experiência transcendental;
É um ouvinte livre de Deus;
É uma história aberta à própria revelação.
Vocacionado ao amor: uma decisão de fé
1. O teólogo Hans Urs von Balthasar diz que o cor inquietum não compreende a si
mesmo se antes não percebe o amor. O amor é uma compreensão prévia para a revelação cristã. Só
o amor é digno de fé. Ele é a apologia da fé cristã.
2. Não basta “conhecer a si mesmo”, mas “fazer a si mesmo”. O homem só encontra o sentido de
sua vida no ato de conhecimento-decisão-ação amorosa.7
3. Em revelação, o homem crê e ama. Este é o binômio fundamental da vida cristã (amar a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo). Com isto, ele responde aman = he´min,
que significa ser estável e seguro, próprio da essência de Deus. A fé é uma adesão total – o amém –
do homem à Palavra definitiva e salvífica de Deus.
4. Pilares da Fé:
1 Pd 3,15: “Reconheçam de coração o Cristo como Senhor, estando sempre prontos a dar a razão
de sua esperança a todo aquele que a pede a vocês”.
† A fé é conhecimento e confissão;
† A fé é Confiança e submissão à Palavra; † A fé é comunhão de vida com Deus.
5. Ao cristão, cabe dar Resposta, Razão (inteligência) e Esperança de sua fé.
Απολογία: do grego, significa dar resposta, fazer defesa. Crer é responder com cordialidade.
Do latim credere, significa confiar-se a alguém, sendo seu fiador, testemunhando como
verdade sua afirmação. Crer é o comportamento confiante do cristão à revelação de Deus. É uma
convicção, com um conteúdo elaborado, sendo este a profissão e confissão de fé. Com isto, a fé
carece de inteligibilidade (através da Teologia e da Doutrina), para ser justificada e certificada.
Deste modo, a adesão à fé exige o reconhecimento de sua autoridade e o conhecimento de seu
conteúdo. Daí que a catolicidade da Igreja necessita da universalidade do Símbolo da fé, como sua
identidade e fundamento.
Leia o texto completo de Hb 11,1-40
6. A fé é Fundamento, Esperança e Prova de realidade ainda não vista. “A fé é um modo de já
possuir aquilo que se espera, é um meio
de conhecer realidades que não se veem” (Hb 11, 1).
2. Concílio Vaticano I (8 de Dezembro de 1869 a 18 de Dezembro de 1870 - Pio IX): Dei Filius
A inteligência deve ser submissa à vontade de Deus revelado; Os sinais da Revelação são os
milagres e a profecia;
A graça interna é sempre presente no homem, como fé natural, dependendo de sua
resposta.
3. Vaticano II (1962 / Papa João XXIII – 1965 / Papa Paulo VI): Constituição Dogmática
Dei Verbum sobre a Revelação Divina8
Esta Constituição foi um dos últimos documentos a serem aprovados, e a terceira Constituição
promulgada pelo Concílio Vaticano II, assinada pelo Papa Paulo VI e pelos Bispos Conciliares a 18
de novembro de 1965. É o mais breve documento, porém o que foi mais longamente discutido;
Mostra-nos que o grande primado da Revelação é Jesus Cristo;
É constituída de ‘um Proêmio e seis capítulos’: I - A Revelação; II - A Transmissão da
Revelação Divina; III - A Inspiração Divina e a Interpretação da Sagrada Escritura; IV -
O Antigo Testamento; V - O Novo Testamento; e VI – A Sagrada Escritura na vida da Igreja;
Pode-se afirmar que a DV trata da relação entre Revelação, Tradição e Escritura, isto é, a forma
como historicamente a comunidade eclesial percebeu a Revelação de Deus e a perpetuou;
A bússola que orienta a Igreja é a Palavra de Deus, o Verbo de Deus, Aquele que pela
Encarnação traduz, revela o Pai e se faz Deus-conosco. De fato, a Igreja funda-se sobre a Palavra
de Deus, nasce e vive dela; Para o cristianismo, Jesus Cristo é a Revelação, o rosto e a palavra de
Deus, cheio de graça e de verdade que continua a se revelar no tempo presente. É Ele a
Revelação!
Através da DV, o Concílio deseja que as palavras de Jesus Cristo ressoem, assim como
ressoou nos apóstolos, em todas as pessoas de boa vontade, ou seja, a Igreja entende que tem
como missão tornar esta mensagem compreensível ao homem moderno (DV1). Dá-se uma
importância maior à leitura e estudo da Palavra de Deus na vida das comunidades;
A Revelação divina não é estática, mas dinâmica. Deus invisível fala aos seus filhos, conversa
com os homens como amigos e convive com eles; mostra seu coração amoroso no anseio de
conduzi-los à vida eterna; e revela-se como o Deus da História, conhecido pela Palavra que se torna
acessível e real na prática visível do Amor, nas obras, sinais e milagres revelados pelo Seu Filho
(DV2).
Bibliografia básica:
LATOURELLE, R.; FISICHELLA, R. Dicionário: Teologia
Fundamental. Petrópolis: Vozes, 1994.
Características:
• O cristo fundara uma religião para levar os homens ao conhecimento da verdade.
• Rejeita a aproximação entre filosofia e fé. Para ele, tal aproximação rebaixaria a fé.
• Dois meios naturais para o conhecimento de Deus: a argumentação a partir da criação e o
testemunho espontâneo da alma; a natureza das obras de Deus e o testemunho dado pela
pregação.
• A verdade nos vem:
- Do Cristo, que é fonte da revelação
- Pelos apóstolos, mediadores privilegiados da economia da revelação
• Com os apóstolos termina a revelação. A Igreja conserva o depósito que lhe foi confiado.
• Este depósito é: A doutrina única ensinada pelo Cristo; a aceitação dada pela fé; a regra
dada pelo Cristo; a Regra da Verdade; a Regra de fé; a Disciplina de Cristo
• Cristo transmite a Verdade (fonte)
• Os apóstolos transmitem-na (mediadores)
• A Igreja conserva-a (depósito)
• Doutrina e Escrituras constituem-se o mesmo conteúdo. Porém, não apenas a posse
material das Escrituras já é sua conservação. É preciso ler e ensinar as Escrituras na Igreja.
A Palavra no A.T é a própria narrativa histórica de Deus. É “aquele que falou aos
pais”. Deus é conhecido como Aquele que fala, que comunica. Do Gênesis ao prólogo de
João, a Palavra de Deus é aquela que cria. Deste modo, a Revelação é a história de Deus-
Palavra.
Conferir as narrativas da Criação e observar a diferença entre Palavra e experiência. Também: Jo 1,14; 1
Jo 1,1.
Depois de toda oralidade pela qual Israel se comunica como Povo, vem o momento
da escrita e do livro. Interessante observar que a necessidade de um texto é de sentido
interpretativo. Ou seja, o livro surge não somente para sistematizar as experiências
passadas, como também para interpretar as adversidades presentes. Deste modo, a
compreensão do momento no qual o texto foi produzido é muito importante para o
entendimento do acontecimento narrado. O livro surge para iluminar o presente e o futuro
da comunidade. O escritor sagrado faz uma autêntica leitura de fé da história do povo. A
sua profunda consciência o faz tomar cada fato como um evento de Deus, tornando sua
escrita “Palavra do Senhor”. Assim sendo, o livro é Palavra de Deus e escuta
humana.
É a inspiração dada ao escritor que lhe garante a verdade e a inerrância dos textos. Contudo,
é a comunidade mesma que os acolhe como inspirados. Portanto, o próprio povo, com sua
leitura, constitui-se o cânon da escritura. É ele quem reconhece e estabelece critérios para a
inspiração. O reconhecimento das S.Es é a chave hermenêutica para toda a
história da revelação.
Na etapa dos profetas, a Palavra do Senhor impõe-se com poder decisivo para
expressar sua vontade. Os profetas anteriores ao exílio (Amós, Oséias, Miquéias e Isaías)
guardam a lei moral da aliança. Eles são porta-vozes das grandes admoestações divinas,
como em Am 4, 1; 5, 1; 7, 10-11; Os 8, 7-14; Mq 6-7; Is 1, 10-20; 55, 10-11. A Palavra aparece
aqui como movimento dinâmico, ela não deixa de cumprir o motivo pelo qual chegou ao
homem.
patentes os caminhos de Deus (Eclo 44.50), os livros históricos, a Lei e os profetas (Eclo
39,1ss). Sob a influência dessa fé em Javé, a antítese sabedoria-loucura torna-se
progressivamente uma oposição entre justiça e iniquidade, piedade e impiedade. Sábio é quem
cumpre a lei de Deus (Eclo 15,1,19,20; 24,23; Eclo 12,13), pois toda sabedoria provém de Deus
(Pr 2,6). Somente ele a possui plenamente; manifesta-a em suas obras e comunica-a aos que o
amam (Eclo 1,8-10; Sb 9,4; Jó 28,12-27).
A sabedoria, como a palavra, saiu da boca do Altíssimo; agia nas origens da criação e
veio estabelecer-se em Israel (Eclo 24,3-31). Assim a sabedoria se identifica
finalmente com a Palavra de Deus, criadora e reveladora (Sb 7-9).
Uma vez que a criação é o que foi dito por Deus, ela é também revelação. Os seres são
um eco da palavra daquele que os nomeou, manifestam sua presença, sua majestade, sua
sabedoria (Sb 19,2-5; Jó 25,7-14; Pr 8,22-31; Eclo 42,15-43, 33; Sab 13,1-9). Deus aparece como
que velado numa nuvem (Ex 13,21), abrasador como fogo ardente (Ex 3,2; Gn 15,17), atroante
na tempestade (Ex 19,16; SI 29,288), suave como a brisa leve
(1Rs 19,12ss)”. E ainda mais: a fonte sacerdotal, que representa a criação em termos
litúrgicos, vê o universo como a expressão da vontade de Deus que, pelos astros e estações,
regula os tempos litúrgicos, os sábados e as festas (Gn 2,2-3). Também por sua palavra
governa Deus os fenômenos da natureza: a neve, a geada, os ventos (SI 107,25;147,15-
18;148,8; Jó 37,5-13), as águas do abismo (Is 44,27;50,2). Ás suas ordens astros e
elementos combatem por Israel (SI 46,7;106,9-12; 107,25).
2. A revelação bíblica é uma iniciativa divina. Não é o homem que descobre a Deus:
é Javé que, antes, se manifesta, quando quer, a quem ele quer. Javé é liberdade absoluta.
Foi ele quem primeiro escolheu, prometeu, fez Aliança. Sua palavra que contradiz a
maneira humana e carnal de Israel julgar, faz brilhar ainda mais a liberdade e continuidade
de seu desígnio. Manifesta-se ainda a liberdade divina na variedade de meios escolhidos
para a revelação: a natureza, a existência humana, a história; na variedade das pessoas
escolhidas (sacerdotes, sábios, profetas, reis, aristocratas ou camponeses e pastores); na
diversidade dos modos de comunicação (teofanias, sonhos, consultas, visões, êxtases,
arrebatamentos); na diversidade dos modos de expressão ou de gêneros literários
(oráculos, exortações, autobiografias, descrições, hinos, reflexões sapienciais).
4. Pela revelação o homem é posto em confronto com a palavra, uma palavra que
exige fé e execução. O pecado, desde logo, será recusar-se a escutar, não responder aos
apelos do Senhor, endurecer-se na resistência (Jr 7,13; Os 9,17). Conforme for aceita ou
recusada, a ação será para o homem graça ou condenação, morte ou vida (Is 1,20). A sorte
do homem dependerá da opção decisiva a favor ou contra a palavra. O objetivo, porém, da
revelação é a vida e a salvação do homem, sua comunhão com Deus (Is 55,2).
5. A revelação é toda orientada para a esperança de uma salvação que há de vir.
Toma impulso a partir da promessa feita a Abraão e tende para sua realização. Para o profeta o
presente é apenas a realização parcial do futuro anunciado, esperado, preparado e prometido,
mas ainda oculto. O presente não tem sentido pleno a não ser pela promessa, feita no passado,
daquilo que será o futuro. Cada revelação profética marca uma realização da palavra, mas
deixa, ao mesmo tempo, lugar para a esperança de uma realização ainda mais decisiva. O
tempo bíblico não é, pois, tempo
cíclico, mas linear: algo de novo acontece na história sob a direção de Deus. A história
tende para a plenitude dos tempos, que será a realização dos desígnios de Deus no Cristo e
pelo Cristo.
2.6.1 Sinóticos
Os Atos refletem a linguagem da Igreja primitiva e sua nova fé. Pouco a pouco vai-se
tornando mais preciso o vocabulário do Novo Testamento, a partir das expressões de Jesus
e do uso dos LXX. Cristo dera a seus apóstolos a missão de proclamar Boa-nova (κηρύσσειν
το ευανγγέλιον) no mundo inteiro (Mc 16,15), "fazer discípulos" (Mt 28,19), e de "ensinar”
(διδάσκειν) tudo quanto prescrevera (Mt 28,20). Por ocasião de sua ascensão prometera-
lhes seu Espírito: "Sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia
e Samaria, e até às extremidades da terra” (At 1,8). Diante de Cornélio, declara Pedro que o
Cristo lhes impôs pregar ao povo e atestar que ele é o juiz dos vivos e mortos (At 10,42).
Segundo são Paulo, podemos pois definir a revelação como a ação livre e gratuita de
Deus que, no Cristo e pelo Cristo, manifesta ao mundo a economia da salvação, isto é: seu
eterno desígnio de reunir tudo no Cristo, Salvador e Cabeça da nova criação. A
comunicação desse desígnio se faz pela pregação do Evangelho, confiada aos apóstolos e
profetas do Novo Testamento. A obediência da fé é a resposta do homem à pregação
evangélica, sob a iluminação do Espírito Santo; não é uma exigência tirânica de Deus, mas
uma adesão amorosa ao plano de sua infinita sabedoria e caridade. A fé dá começo a um
processo de crescimento contínuo no conhecimento do mistério que só atingirá seu termo
na revelação definitiva.
Nos Sinóticos, nos Atos dos Apóstolos e nas epístolas de São Paulo, Palavra de Deus é a
designação que se dá à mensagem evangélica. A grande novidade de são João é a equação que
estabelece entre o Cristo, Filho do Pai, e o Logos. O Cristo é a Palavra eterna, subsistente,
pessoal; realiza-se a revelação porque essa Palavra se fez carne para nos falar do Pai.
João entende a revelação como a Palavra de Deus feita carne, e por essa carne,
palavra e testemunho formulados humanamente, dirigida imediatamente aos apóstolos e
por eles a toda a humanidade, para atestar a caridade do Pai, que envia seu Filho entre os
homens, para que, acreditando nele, tenham a vida eterna. A fé é resposta ao testemunho
exterior do Cristo e, ao mesmo tempo, a atração interior do Pai e ao testemunho do
Espírito. Dimensão dupla da única palavra do amor de Deus.