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FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA

Por - Professor Pr. Jonas Sabino

DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO DA TEOLOGIA HOJE

1 – Definição de Teologia

Se a maioria de nós sabe que THEÓS é a palavra grega para “Deus”, a maioria
tem entendido LÓGOS significando apenas “palavra”, quando na verdade ela pode ser
entendida como “idéia” ou “lógica”.

Teologia, portanto, é a ideia que temos de Deus, nossa compreensão lógica de


Deus.

Teologia é a articulação humana daquilo que conhecemos sobre Deus; é o


nosso processar da revelação divina. Por ser uma articulação de uma área de
conhecimento, a tradição cristã tem chamado a teologia de CIÊNCIA, a “rainha das
ciências”.

A teologia é o produto final da obra dos teólogos ou da igreja na sua


capacidade de ensino. Contudo, para que conheçamos corretamente a sua revelação,
precisamos da sua graça iluminadora para fazer teologia.

A teologia busca respostas para perguntas gerais e pessoais sobre Deus e


sobre o sentido, o propósito e a verdade definitivos.

Focos teológicos centrais

 Deus (a teologia propriamente dita);

 A humanidade e o universo criado (antropologia);

 Jesus e a salvação que ele trouxe (cristologia);

 O Espírito Santo e as obras do Espírito em nós e no mundo (pneumatologia);

 A igreja como a comunhão de discípulos de Cristo (eclesiologia);

 A consumação ou conclusão do programa de Deus para a criação


(escatologia).

2 – Teologia diferente de Religião


Na academia, religião é estudada dentro das áreas de sociologia e antropologia
analisando as experiências religiosas do sujeito dentro de cada cultura. Na
modernidade, só é possível estudar o fenômeno religioso; Deus está fora de cogitação.

Teologia, em contrapartida, parte da premissa que Deus se faz conhecido e pode ser
estudado mediante sua revelação. Por isso, teologia é o estudo de Deus conforme Ele
se revela Criador, Sustentador e Redentor.

“A premissa cientifica é diferente pois se trata de um conhecimento


que vem com a fé”. Herman Bavinck

Premissas (existência, auto-revelação, cognoscibilidade)


A Bíblia pressupõe que Deus existe, não prova a sua existência. Deus se revelou
de forma inteligível e coerente. Deus é cognoscível e sua revelação é o nosso único
ponto de partida confiável para fazer teologia.

Teologia não precisa ser projeção dos anseios humanos (Feuerbach).

Se Deus se mostra, mas não conseguimos conhecê-lo (agnosticismo), então não


há de fato revelação. Cremos que Deus nos deu o aparato cognitivo e a iluminação do
Espírito necessários para captar a revelação.

Teologia baseada em revelação


Não nos achegamos a Deus, mas Ele vem a nós (Gn 3.8-9; 17.1). Ele é quem nos
escolhe e nos ama primeiro (Jo 15.16).

A mesma iniciativa divina se aplica à revelação. A não ser que Deus se mostre
aos homens, não temos condições de conhecê-lo. A encarnação de Cristo é o exemplo
maior de tal atitude.

Enquanto as religiões se concentram na ascensão da alma até o ser divino, o


cristianismo enfatiza que é Deus quem desce até nós. Deus se manifestou aos homens
(Rm 1.19) de forma geral e especial.

Teologia sem cruz gera um Evangelho sem cruz


A cruz foi esquecida na cultura ocidental. Parece que entre os evangélicos a
cruz deixou de ser o elemento central da fé cristã. Época em que a cruz perdeu seu
significado.

Pesquisa realizada em 1995 nos Países: Austrália, Alemanha, Reino Unido,


Japão e Índia:

- O símbolo dos jogos Olímpicos identificado por 92% dos entrevistados


- Símbolo do McDonalds reconhecido por 88% dos entrevistados
- Emblemas da Shell e da Mercedes reconhecidos por 74% dos entrevistados
- A cruz identificada por somente 54% dos entrevistados como símbolo da fé
cristã.
Fonte - Franklin Ferreira

Principal fim da Teologia


De acordo com a primeira pergunta do Breve Catecismo de Westminster
(1647), teologia tem um direcionamento voltado tanto para Deus (“glorifica-lo”)
quanto para o homem (“goza-lo”). Portanto, teologia deve ser articulada tanto para a
glória de Deus quanto para o nosso deleite.

3 – Teologia – Teoria e Prática

A teologia não deve ser vista apenas como teórica, mas também como algo de
natureza prática. Um puritano definiu teologia como “o ensaio de viver para Deus”
(William Ames).

François Turretini explica que a despeito de seu elemento teórico


(contemplação do Deus revelado, conhecimento da verdade), teologia é mormente
prática pois todo o seu conhecimento (crer) deve redundar em adoração e obediência
(observar). Nosso conhecimento de Deus deve despertar amor que cumpre a lei (1Jo
2.3-5).

4 – Todo cristão é um teólogo

Todos temos alguma idéia sobre Deus (boa ou ruim). A questão é se nosso
conhecimento de Deus é verdadeiro. Portanto, nosso objetivo é crescer no
conhecimento saudável. Afinal, teologia molda todo o nosso viver (Joshua Harris).

Nossa peregrinação em conhecer a Deus tem um objetivo, mas nunca cessa de


progredir. Kapic nos lembra que existe a teologia imperfeita de peregrinos (theologia
viatorum) que cresce rumo à teologia não maculada dos fiéis na glória (theologia
beatorum). Mas mesmo lá, nosso conhecimento de Deus não esgota.

5 – Três cuidados com a teologia

1 - Nós somos recipientes da revelação, não juízes da mesma. Quando o homem é


norteado pelos seus preconceitos, ele sai do real objeto do estudo teológico (fatos
revelados) em direção a opiniões subjetivas, criando, assim, uma religião pessoal.
2 - Nosso entendimento da revelação nunca é perfeito. Nossa compreensão da
revelação é limitada (humanidade) e imperfeita (pecado). Precisamos de auxílio divino
(iluminação do Espírito; analogia Scriptura).

3 - Devemos usar a revelação para o propósito para a qual foi dada. Não basta
conhecimento sobre Deus que não conduza a conhecer Deus.

6 – Conhecimento que molda nosso conhecer

O pecado embaçou nossa visão de Deus e, consequentemente, nossa interação


com ele e com o mundo (Kapic). O conhecimento sobre Deus é necessário para o
conhecimento correto das demais coisas criadas (tudo contém a assinatura de Deus).
Conhecimento de Deus, por exemplo, é necessário para a compreensão do ser
humano (João Calvino). Vemos tudo à luz de Deus (C.S. Lewis).

Por isso, acreditamos que uma boa teologia molda a nossa cosmovisão de
forma a fazermos a leitura da realidade com paradigmas divinos.

A Bíblia pressupõe que Deus existe, não prova a sua existência Deus se revelou
de forma inteligível e coerente. Deus é cognoscível e sua revelação é o nosso único
ponto de partida confiável para fazer teologia. Teologia não precisa ser projeção dos
anseios humanos (Feuerbach).

Se Deus se mostra, mas não conseguimos conhecê-lo (agnosticismo), então não


há de fato revelação. Cremos que Deus nos deu o aparato cognitivo e a iluminação do
Espírito necessários para captar a revelação.

O ímpio conhece a Deus?


Tipos de conhecimento:

Cognitivo – Ter informações sobre ele (Tg 2.19); mas vai além.

Relacional – Filhos se relacionam com os pais e os conhecem; mas ímpios tem


relacionamento com Deus (inimizade).

Afetivo – Conhecer é amar, na mente hebraica (Mt 1.25; 7.23).

Moral – Aspecto de obediência o conhecimento de Deus (1Jo 2.3-4) que está


relacionando ao amor.

Portanto, ímpios conhecem em um sentido (Sl 19;14.1; Rm 1.19-21), mas não


em outro (Os 4.6).
Proveito devocional do conhecimento de Deus
- Conhecimento pessoal – Conhecemos sobre Deus (teologia) para conhecer a Deus.
“Um pequeno conhecimento de Deus vale bem mais que um grande conhecimento a
respeito dele.” (Packer)

Salmo 139 – O Salmo inteiro mostra a relação pessoal desse conhecimento gracioso.
Deus não é apenas ONISCIENTE e sabe de todas as coisas, mas Ele ME CONHECE. Ele
não só está presente em todo lugar, ele está presente comigo. Ele não só fez todas as
coisas, mas Ele me fez).

- Conhecimento holístico – Conhecimento molda posturas (Jó; Pedro). O


conhecimento de Deus deve ser holístico, afetar todo o nosso ser (mente, emoção e
vontade).

- Conhecimento gracioso – Eu conheço a Deus porque, primeiro, ele me conhece. Ele


aprova o caminho do justo (Sl 1.6)

7 – O Espírito para se estudar Teologia

- Dependência – Carecemos do Espírito (Jo 16.13-14; 1Co 2.14); além de conteúdo,


precisamos de sabedoria para discerni-lo.

- Humildade – Modéstia quando ao nosso potencial (1Co 8.1; 1Ped 5.5) dá o tom da
articulação e da abrangência do nosso trabalho.

- Convicção – Não temamos fazer afirmações dogmáticas; o conhecimento de Deus


visa produzir convicção (Cl 2.2; 1Ts 1.5).

- Comunidade – Fazemos teologia com o auxílio de outros (do passado e do presente);


autores do NT fizeram uso do AT.

8 – Piedade no Estudo Teológico

Paulo alertou Timóteo a zelar pela doutrina em consonância com a piedade


(1Tm 4.6-16).

No entanto, a falta de piedade não é um problema apenas para quem gosta da


teoria, mas também de quem se envolve na prática (1Co 12-14). Portanto, o chamado
À piedade é um lembrete para todos, quer sejamos amantes do estudo ou ativistas na
igreja.

A Importância da piedade
A devoção ao Senhor ao próximo é nutrida pela adoração (pública e privada),
mas não só por atos devocionais. O coração bem guardado (Pv 4.23) aproveita cada
oportunidade para nutrir a piedade (Fp 4.8)

O estudo teológico deve ser visto como nutrição para a piedade (indicativos e
imperativos nas epístolas). Mas piedade molda a nossa teologia, bem ou mal (Kapic).
Não há como fazermos uma dicotomia.

Características piedosas do teólogo


- Oração – Tempo de oração e oração constante (1Ts 5.17); espanto, súplica e gratidão
despertados por “meditação discursiva” (Packer).

- Culto – Tanto a participação na igreja local quanto a preocupação a vida coram Deo.

- Ensinável – Estar disposto a testar suas idéias e aprender com outros, inclusive de
outras tradições cristãs (Agostinho, Retractationes).

- Arrependido – Sermos lembrado de nossos pecados (contrição) e limitações


(pequenez) nos ajuda a fugir do autoengano.

Teologia e piedade: Irmãs inseparáveis

“Toda teologia também é espiritualidade, no sentido de


exercer influência, boa ou má, positiva ou negativa, no
relacionamento ou na falta de relacionamento das pessoas com
Deus. Se nossa teologia não nos reaviva a consciência nem
amolece o coração, é porque endurece a ambos; se não
encoraja o compromisso de fé, reforça o desinteresse que é
próprio da incredulidade, se deixa de promover a humildade,
inevitavelmente nutre o orgulho.” J. I. Packer

9 – Outro evangelho – Heresias

- Teologia católica-romana – Fora de uma igreja verdadeira

- Teologia liberal – Entende que a teologia não é falar o que é verdadeiro

- Teologia existencial – Vertente do liberalismo, Cristo é visto como homem comum

- Teologia da libertação – Mistura de Marxismo e Cristianismo

- Teologia feminista – A bíblia tem uma estrutura patriarcal e opressora

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