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Ji-Paraná
2023
NILTON MOTA DE OLIVEIRA
Ji-Paraná
2023
2
Sumário
Índice de tabelas........................................................................................................4
Índice de Figuras....................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 5
1 ESTUDO TEXTUAL................................................................................................7
2 ESTUDO CONTEXTUAL......................................................................................12
2.4 COMENTÁRIO.............................................................................................21
2.8 SERMÃO:.....................................................................................................37
2.9 ESBOÇO...................................................................................................... 38
3 Conclusão............................................................................................................ 39
4 Bibliografia...........................................................................................................40
4
Índice de tabelas
Tabela 1 - Variante Textual 1 7
Tabela 2 - Tradução Literal 8
Tabela 3 - Esboço de Romanos 19
Tabela 4 - Contexto Canônico Rm 16 21
Tabela 5 - Contexto Canônico Rm 17 21
Tabela 6 - Significado negativo e positivo da salvação 24
Índice de Figuras
Figura 1 - Texto NA28 Apresentando a Variante 1........................................................7
Figura 2 - Esboço Mecânico do Texto Grego..............................................................9
Figura 3 - Esboço Mecânico do Texto em Português................................................10
Figura 4 - Infográfico Justificação Pela Fé.................................................................33
5
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais a pregação do evangelho tem sido cada vez mais
negligenciada e está sendo, aos poucos, retirada dos púlpitos. Ao contrário do que o
apóstolo Paulo diz, muitos se envergonham do evangelho por não o considerarem
suficiente para o crescimento da igreja e edificação dos crentes. Os cristãos têm
esquecido que a pregação genuína do evangelho é poderosa o suficiente, não
somente para o crescimento e edificação da igreja, mas para a salvação de todo
aquele que crê.
Paulo, ao escrever aos romanos, deixa bem claro que seu principal
objetivo é compartilhar dons espirituais com aqueles irmãos, e o principal dom que o
apóstolo quer dividir é o dom do conhecimento do evangelho, pois Paulo sabia que
tanto os judeus quanto os gentios precisavam conhecer o as verdades contidas na
Palavra para serem salvos. É no evangelho que a justiça de Deus é revelada, e o
apóstolo sabia disso, e sabia também que esse conhecimento era fundamental para
que aqueles irmãos pudessem viver pela fé, confiando em Jesus e em sua obra
salvífica.
O livro de Romanos é considerado o maior compêndio teológico do novo
testamento, nenhuma carta exerceu tanta influência sobra a teologia protestante
quanto esta. Estudar este livro é de fundamental importância para compreendermos
as nuances sobre as doutrinas do evangelho.
No texto que vamos estudar (Rm 1.16-17), Paulo trata explicitamente da
doutrina da justificação pela fé e do chamado eficaz, e trata implicitamente de outras
doutrinas como a eleição. Essas doutrinas estão inclusas dentro do estudo teológico
da soteriologia, que é estudo concernente a salvação. A importância dessas
doutrinas é tamanha que o apóstolo Paulo as ensina em toda a carta aos romanos e
em outras de sua autoria, fora o ensinamento do próprio Cristo e de outros escritores
bíblicos, tanto do Novo como do Antigo Testamento. Com isso percebemos a
relevância deste trabalho, pois desvendar e conhecer esses ensinamentos pode nos
ajudar a trazer mais esperança para aqueles que nos ouve, dizendo a eles que não
somos salvos por aquilo que fazemos, mas nossa salvação vem através da obra de
Cristo.
Outro ponto que acredito ser relevante em nosso estudo é o fato da
importância que Paulo dá para o evangelho, chegando ao ponto de dizer que não se
6
1 ESTUDO TEXTUAL
1.1 VARIANTE TEXTUAL – ROMANOS 1.16-17
Fonte: SBLGNT
(WH) Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort, O Novo Testa-
mento no Grego Original, vol. 1: Texto; vol. 2: Introdução [e] Apêndice (Cambridge:
Macmillan, 1881), (Treg) Samuel Prideaux Tregelles, The Greek New Testament,
Edited from Ancient Authorities, with their various Readings in Full, and the Latin Ver-
sion of Jerome (Londres: Bagster; Stewart, 1857–1879). (NA28) Representante da
edição NA28, Trazem a tradução (εὐαγγέλιον – Evangelho – “Pois não me envergonho
do Evangelho...”). (RP) O Novo Testamento no Grego Original: Texto Bizantino
2005, compilado e organizado por Maurice A. Robinson e William G. Pierpont
(Southborough, Mass.: Chilton, 2005) acrescenta (τοῦ χριστοῦ - de Cristo), com a
tradução: “Pois não me envergonho do Evangelho de Cristo...”.1
Conclusão:
Adotamos a primeira tradução (Pois não me envergonho do Evangelho),
sem o acréscimo da palavra (τοῦ χριστοῦ - de Cristo), pelos seguintes motivos:
É aceito pelas versões mais antigas e mais confiáveis das
1
HOLMES, M. W. Apparatus for the Greek New Testament: SBL Edition. 1ª. ed. [S.l.]: Logos Bible
Software, 2010. Rm 1.16
8
δικαιοσύνη γὰρ θεοῦ ἐν αὐτῷ5 Justiça, pois, Deus dele (se) revela de fé
ἀποκαλύπτεται6 ἐκ πίστεως εἰς em fé, como (está) escrito: O, mas justo a
17
πίστιν, καθὼς γέγραπται7. Ὁ δὲ partir da fé viverá
δίκαιος ἐκ πίστεως ζήσεται8.
2
verbo, presente, médio-passivo, indicativo, primeira pessoa, singular (ἐπαισχύνομαι – Me
envergonho)
3
verbo, presente, ativo, indicativo, terceira pessoa, singular (ἐστιν – ele é, está)
4
verbo, presente, ativo, particípio, singular, dativo, masculino (πιστεύοντι – Crê)
5
Algumas traduções modernas traduzem a expressão (ἐν αὐτῷ), como “no evangelho”, mas no
original grego essa expressão se traduz simplesmente como “nele”, tendo em vista que o contexto
da frase já se pressupõe que o escritor fala do evangelho, ou seja, “...a justiça de Deus se revela
nele (Evangelho) de fé em fé...”
6
verbo, presente, passivo, indicativo, terceira pessoa, singular (ἀποκαλύπτεται – Se revela)
7
verbo, presente, passivo, indicativo, terceira pessoa, singular (γέγραπται – Está escrito)
8
verbo, futuro, médio, indicativo, terceira pessoa, singular (ζήσεται – Viverá)
9
9
SILVA, C. M. D. D. Metodologia de Exegese Bíblica. 2ª. ed. São Paulo: Paulinas, 2000. Pág. 71
12
2 ESTUDO CONTEXTUAL
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO
Quando Paulo chegou a Roma, Nero era imperador. Nesta época existia
uma crescente tensão entre Nero e as classes altas da sociedade que estavam
descontentes, pois caia sobre o Imperador uma acusação de que ele iniciou o
grande incêndio de 64 d.C., que destruiu a cidade de Roma e levou Nero a culpar os
cristãos e taxá-los de inimigos públicos. Durante este incêndio, Paulo estava na
prisão em Roma e sua execução se deu na época em que Nero iniciou sua
perseguição aos cristãos.
Nos dias de Paulo, Roma ainda estava sendo preparada para o seu auge
e esplendor. O Coliseu só seria construído dez anos mais tarde, o grande templo de
Cláudio estava em processo de construção, e a maioria dos banhos e palácios
demorariam mais de um século para serem construídos. No entanto, Roma era a
maior cidade do mundo conhecido e o centro de poder de toda a Europa e do antigo
Oriente Próximo.
A seguir temos um infográfico que nos ajuda a ter uma visão mais
detalhada de como era a cidade naquela época:
13
A maioria dos estudiosos concluem que não foi o apóstolo Paulo quem
fundou a igreja em Roma. Essa conclusão se dá pelo fato histórico, relatado por
Suetônio, em que o imperador Cláudio baniu os judeus de Roma em 49 ou 50 d.C.,
devido a agitações provocadas por um homem chamado “Chrestus”, que
provavelmente era uma forma errônea de se referir a “Christus”, que é a forma latina
do nome de Cristo. Essa agitação era provocada pelos desentendimentos entre
cristãos e judeus que residiam na cidade.
Em Atos 18.2 relata que, quando o Apóstolo estava em Corinto, na sua
segunda viagem missionária, ele encontra Priscila e Áquila que estavam fugindo de
Roma devido ao decreto de Cláudio. Por causa desses fatos, os estudiosos
acreditam que antes do apóstolo escrever esta carta já havia uma igreja
estabelecida na cidade, pois a carta só foi escrita entre 55 e 57 d.C, após estes
acontecimentos.10 A grande probabilidade é que a igreja foi fundada por crentes que
estavam presentes nos eventos do dia de Pentecostes (At 2.1-10).
Em 54 d.C., o imperador Cláudio morre e grande número de cristãos
retornam para Roma. E são essas tensões sociais que Paulo aborda em sua carta.
Em Rm 13.1-7, Paulo aborda o senário político-social em Roma
orientando os cristãos a pagar impostos e se sujeitarem às autoridades.
Provavelmente existia alguma resistência entre os cristãos devido ao tratamento
dado a eles pelo império Romano.11
Outro fator histórico importante é que quando os cristãos de origem
judaica foram expulsos de Roma, os cristãos de origem gentílica ficaram impedidos
de frequentarem as sinagogas, por isso passaram a se reunir em casas particulares.
Quando os cristãos judeus retornam a Roma em 54 d.C., cria uma grande tensão
entre os cristãos gentios, que agora estavam mais independentes dos ritos judaicos.
Esta situação é tratada pelo apóstolo nos capítulos 14 e 15 de romanos quando este
10
GUNDRY, R. H. Panorama do Novo Testamento. 3ª Revisada e Ampliada. ed. São Paulo: Vida
Nova, 1998. Pág. 213
11
BARRY, J. D.; ESPINOZA, B. Dicionário Bíblico Lexham. 1ª. ed. Bellingham: Lexhan Press, 2020.
“Roma”
15
discute sobre os cristãos fracos (Judeus) e cristãos fortes (gentios). Agora esses
grupos devem aprender a conviver (Rm 17.5), os judeus não devem fazer
reivindicações baseadas em sua etnia (Rm 9), e os cristãos gentios devem
reconhecer que têm uma dívida com o povo judeu e crescer honrando os irmãos
(Rm 11).12
2.2.1.1 Autoria
Existem poucos estudiosos sérios que rejeitam a autoria paulina da carta
aos romanos, pois está explícito no capítulo 1 onde Paulo se apresenta como autor.
Mas existem alguns estudiosos que colocam em xeque a autoria de
alguns trechos da carta, apesar dessas teorias serem desprovidas de qualquer
evidência textual. O texto colocado em xeque é a saudação feita pelo apóstolo no
capítulo 16. A argumentação é de que este capítulo se encaixaria melhor na carta
aos efésios, pois em Éfeso o apóstolo conhecia muitas dessas pessoas que foram
saudadas ali, pois o apostolo esteve pessoalmente na cidade de Éfeso, ao contrário
de Roma.
(BORING, 2016, p. 487) traz a seguinte argumentação daqueles que
defendem essa tese:
12
BORING, M. E. Introdução ao Novo Testamento: História, Literatura e Teologia. 1ª. ed. Santo
André: Academia Cristã e Paulus, v. I, 2016.
13
16
Para defender essa tese os estudiosos analisam alguns manuscritos antigos nos
quais não continham a parte final da carta.
Mas a maioria dos estudiosos rejeitam essas duas teses. Quanto a
primeira a contra argumentação é de que Paulo escreveu a saudação para a igreja
de Roma e não de Éfeso, e a teoria de que Paulo não conhecia os irmãos de Roma
por não ter ido até lá, pode ser derrubada pelo fato de Roma ser uma cidade
cosmopolita e muitas pessoas que conheciam o apóstolo podem ter se mudado para
lá.
Isso significa que uma edição truncada de Romanos circulou sem a parte
final, com seus elementos de tom judaico, incluindo a designação específica
de Jesus como "servo da circuncisão" (15,8). No processo de transmissão e
edição, a versão mais curta Marcionita aparentemente interagiu com a
edição original mais longa, gerando uma variedade de conclusões. A
maioria dos estudiosos agora vê Rm 16, não apenas como parte da carta
original, mas tão importante para a compreensão da carta como um todo.
(BORING, 2016, p. 488)
1. Ele recomenda Febe à igreja, a quem ele chama de “uma serva da igreja
de Cencreia”. Ora, Cencreia era o porto oriental de Corinto. Presume-se, no
geral, e provavelmente isso está correto, que Febe levou a carta de Paulo a
seu destino.
2. Ele chama Gaio de seu “hospedeiro”. Esta pessoa pode muito bem ser
aquela cujo nome é mencionado em 1Coríntios 1.14, onde o apóstolo
informa os coríntios de que havia batizado esse membro de sua
congregação. Em Romanos 16.23, Gaio está enviando saudações.
3. Outro a também enviar saudação é Erasto. Cf. 2Timóteo 4.20: “Erasto
permaneceu em Corinto”. Em uma inscrição descoberta num bloco do
pavimento em Corinto se lê: “Erasto pôs este pavimento às suas próprias
custas”. Se essas referências são ao Erasto de Romanos 16.23, elas
confirmam a teoria de que Romanos foi composta em Corinto.16
2.2.1.4 Destinatários
Os destinatários da carta de Paulo eram os cristãos que residiam na
cidade de Roma (Rm 1.7; Rm 1.15). Mas a questão que levanta discussões, é se os
cristãos romanos eram de gentios ou judeus. O apóstolo Paulo se denominava “o
apóstolo dos gentios (Rm 1.5; 1.13), deixando a evangelização dos judeus para o
apóstolo Pedro (Gl 2.7), por isso podemos perceber, que no decorrer da carta, o
apóstolo está em constante disputa teológica com os judeus fiéis a lei, seja
debatendo sobre a necessidade da salvação, discutindo sobre a salvação em si, da
eleição de Deus ou da vida conduzida pela fé. O detalhe é que nessas discussões o
apóstolo sempre se dirige aos dois grupos: judeus e gentios, mas acima de tudo
Paulo se refere aos seus leitores como cristãos gentios (Rm 11.13; 11.17-24; 9.3;
10.1), o que podemos perceber é que Paulo está falando do povo judeu a cristãos
gentios (Rm 11.23, 28, 31).
(GERHARD, 1996, p. 91) concorda, e complementa argumentando o
seguinte:
Por isso tenho a convicção de que a igreja de Roma era constituída, na sua
maioria, de cristãos-gentios na época da redação da carta. Várias pessoas
que já eram cristãs provavelmente mudaram do oriente para Roma. A longa
18
UTLEY, D. B. Comentário Bíblico: Romanos. Texas: [s.n.], 1996. Pág. 19
19
CARSON, D. A.; MOO, D. J.; MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento. 1ª. ed. São Paulo: Vida
Nova, 1997. Pág. 279
19
Mas o interesse do apóstolo é que haja respeito mútuo entre esses dois
grupos de irmãos (Rm 15.7). portanto cremos que o apóstolo escreve sua carta
visando os gentios sem excluir os judeus.
3:1–20 - Todos
3:21–31 O ato de Deus vale para a salvação de todos 3:23s,28
4:1–25 Aceitação da salvação por meio da fé; ex. Abraão
5:1–11 A consequência da salvação é paz com Deus
5:12–21 A salvação de Deus é abrangente: A tipologia Adão-Cristo
2ª parte
6:1–8:39 O ato de Deus por meio de Jesus Cristo liberta
6:1–23 do poder do pecado 6:23
7:1–25 do domínio mortal da lei (especialmente 7:14–25)
8:1–30 para a vida no Espírito Santo 8:1s,14,16,28.
8:31–39 LOUVOR A DEUS
3ª parte
9:1–11:36 O ato de Deus por meio de Jesus Cristo vale para os judeus
9:1–5 Israel é o povo escolhido de Deus
9:6–33 Deus também escolhe gentios para o seu povo
10:1–21 Israel permanece no caminho da lei e perde a salvação 10:4,14,17
11:1–10 Deus não abandonou Israel
11:11–24 Salvação dos gentios como estímulo para Israel
11:25–31 A conversão futura de Israel
11:32–36 LOUVOR A DEUS
4ª parte
12:1–16:27 O ato de Deus por meio de Jesus Cristo transforma o viver
12:1–2 Base
12:3–8 Colaboração na igreja
12:9–21 Amor aos irmãos e aos inimigos
13:1–7 Responsabilidade política 13:1
13:8–10 Amor
13:11–14 Preparo para segunda vinda
14:1–15:12 Liberdade evangélica 14:7–9; 15:7
15:13–16:24 Final
15:13 Bênção
15:14–33 Observações pessoais
16:1–24 Saudações
16:25–27 LOUVOR A DEUS
Como vimos na tabela acima, a perícope que vamos estudar está inserida
na parte introdutória do livro onde o apóstolo, após se identificar como apóstolo de
Jesus Cristo (1. 1-7), continua com um prólogo escrevendo que ora incessantemente
pelos irmãos, e que em suas orações pede a Deus que ofereça ocasião oportuna
para visitar a igreja em Roma (1.8-10).
Paulo tem o desejo de visitar os romanos (At 19.21) para que com essa
oportunidade possa pregar o evangelho àqueles irmãos (Rm 1.15). Esse desejo de
pregar o evangelho, contido no verso 15, é uma fala introdutória preparando os
21
leitores para os versos 16 e 17 onde ele inicia dizendo que “...estou pronto para
anunciar o evangelho a vós outros em Roma. Pois não me envergonho do
evangelho, porque é o poder de Deus...”, neste caso Paulo estaria pronto para
pregar o evangelho aos Romanos sem detenção nenhuma, pois ele sabia que este
evangelho é o poder de Deus para salvar todos os que crê, seja judeu ou grego.
Toda essa introdução sobre o evangelho, a fé e a salvação, serve de
base para a argumentação de Paulo nos versos seguintes, pois o pecado alcançou
Gentios 1.18-31; judeus 2.1-27 e todas as pessoas sem exceção (3.1-20), esses
temas tomam conta de toda a carta de Romanos.
Romanos 1.16
1Co 1.22-24 2Co 4.1-15 Ef 3.1-13 Fl 1.12-18 Col 1.23 At 16.31 Sl 119.46
Romanos 1.17
Hc 2.4 Gl 2.16-17 Gl 3.23-27 Fp 3.5-14
2.4 COMENTÁRIO
Neste bloco da carta (vide tabela 3), que vai até o verso 17 Paulo
apresenta suas credenciais como apóstolo dos gentios, com vista a validar seu
esperado ministério em Roma (1.1-7). Logo após o apóstolo traz um sentimento de
22
dívida para com todos, e o desejo de partilhar seus dons com os romanos com a
finalidade de fortalecê-los através da pregação do evangelho (1.8-15), e, portanto, “a
confiança de Paulo no poder do evangelho para dar salvação por meio da fé pela
imputação da justiça divina lhe dá coragem para proclamá-lo a judeus e a gentios
(1.16-17).”20
Pregar o evangelho era algo irresistível para Paulo, pois ele amava a
mensagem da verdade. “Ao escrever “Não me envergonho” etc., provavelmente
quisesse dizer: “Sinto-me orgulhoso e muitíssimo feliz por alcançar a oportunidade
de pregar o evangelho.”” (HENDRIKSEN, 2011, p. 78). Ele sabia que a pregação do
evangelho era loucura para alguns e escândalo para outros (1Co 1.18-23), mas para
ele era motivo de grande orgulho, por isso Paulo expressava seu desejo de pregar o
evangelho de Jesus aos Romanos (Rm 1.15).
...porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê...
Notamos aqui um progressivo desdobramento de motivos. Em primeiro lugar Paulo
nos revela por que estava pronto para pregar o evangelho em Roma (Ele não se
envergonhava do evangelho). Em seguida nos mostra a razão para não se
envergonhar do evangelho (O evangelho é o poder de Deus para a salvação). E
finalmente ele nos diz por que o evangelho é o poder de Deus para a salvação
(porque nele a justiça de Deus se revela).
Quando lemos “É o poder de Deus para a salvação”, notamos que o
sujeito oculto é o evangelho. Não devemos negligenciar o fato de que o pleno
significado dessa posição é que a mensagem do evangelho é o poder de Deus para
a salvação, Deus salva através da mensagem do evangelho.
John Murray (2016, p. 64) diz que:
Pág. 26
24
Negativo: Positivo:
Resgatar os homens do estado de: conduzir os homens ao estado de:
Culpa: (Ef 1.7; Cl 1.14) justiça (Rm 3.21–26; 5.1)
contaminação (Rm 6.6, 17; 7.21–25a) santidade (Rm 6.1–4; 12.1–2)
Esta justiça que Paulo fala é a justiça divina, e não humana, é essa justiça
que é revelada no evangelho. Esta é uma das frases chave em Romanos e nas
outras cartas de Paulo, por exemplo (Rm 3.5; 3.21-26; Rm 10.3 e 2Co 5.21).
Paulo se refere a justiça que vem de Deus, ou seja, a condição justa e
correta que Deus concede a todos que têm fé em Jesus Cristo. Esta justiça é um
atributo de Deus que se manifesta na sua obra de salvação, e o resultado é que,
pela obra de Deus, aqueles que, após ouvirem o evangelho e creem, recebem o
status de justos diante de Deus.
MacDonald (2011, p. 416-417) diz que o termo “justiça” é utilizado de
várias formas no Novo Testamento, em seu livro ele relaciona três formas:
Apesar dos três sentidos serem possíveis, a justiça de Deus, a que Paulo
se refere neste verso, é onde os pecadores são justificados pela fé em Jesus e,
desta forma, levados à salvação.
No decorrer da história da igreja tem se debatido sobre a expressão
δικαιοσύνη θεοῦ (Justiça de Deus), o debate se dá por três motivos: se a expressão
se refere a justiça que procede de Deus ou que pertence a Deus, devido ao genitivo
θεοῦ que no grego significa “de origem ou autoria”; se a expressão significa a justiça
26
MAGNUM, Douglas;, et. al. The Lexham Glossary of Literary Types. 1ª. ed. δικαιοσύνη
27
MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. 2ª. ed. Pág. 416 - 417
27
aprovada por Deus, que é defendida por Calvino; ou se refere a justiça que tem valor
diante de Deus, e por isso é eficaz na sua execução final. A interpretação que é
mais aceita, e se encaixa com os escritos paulinos e com a carta de Romanos é a
que se refere a expressão como um genitivo que denota posse, ou seja, essa justiça
é a que pertence a Deus ou procede dele.
Não resta dúvidas que Paulo usa a expressão “justiça de Deus” neste
último sentido ao qual acabamos de nos referir, mas ao considerarmos a justiça de
Deus como um todo, podemos fazê-lo levando em consideração que é um atributo
divino (Ele é justo), uma ação divina (Ele vem ao nosso socorro), ou uma aquisição
divina (Ele nos concede o status de justos). Stott argumenta sobre esses conceitos
da seguinte maneira:
significado original de (ζήσεται – viverá) e (πίστεως – fé). Com essa discussão surgem
duas perguntas importantes:
[...] não deixa entrever a que se deve associar por força da fé ao sujeito
“quem é justo” – ὁ δίκαιος – ou ao verbo “terá a vida” – ζήσεται. Entretanto,
na tradução transparece o primeiro sentido. Este é comumente preferido
pela maioria dos exegetas, pois elucida o que o apóstolo pretende
demonstrar baseando-se no texto sagrado, a saber: o δίκαιος é tal porque
crê.33
Paulo escreve esta carta para uma igreja que estava cercada por judeus
incrédulos que pretendiam perverter a fé dos irmãos em Roma. Por isso o apóstolo
escreve esta carta demonstrando aos irmãos como se defender contra a constante
investida desses oponentes, e podemos perceber isso pelo estilo argumentativo
utilizado por Paulo em algumas passagens da carta (4.1; 6.1; 7.7; 8.31; 9.14, 30).
Paulo considerava a igreja de Roma uma igreja fiel (1.8; 15.14; 16.19),
mas isso não significa que aqueles irmãos não tinham as suas fraquezas, eles eram
carentes de instrução quanto às promessas de Deus a Israel, portanto esse é um
dos propósitos de Paulo (9-11), aqueles irmãos também precisavam de instrução
quanto a questão de alimentos puros e impuros (14.13-18). Mas o apóstolo não se
firma em ensinar essas coisas, também traz admoestações e exortações, como o
32
(DA PAZ, 2018, p. 79)
33
(DA PAZ, 2018, p. 80)
31
respeito a autoridade civil (Capítulo 13), a forma com que o forte deve tratar o fraco
(14. 1-12; 15.1-4). Paulo também se preocupa com a necessidade de os romanos
praticarem virtudes como unidade, humildade, e prioritariamente o amor (capítulo
12).
Portanto, apesar de Paulo não ter fundado a igreja de Roma, ele nutria
um grande amor por aqueles irmãos, e como grande missionário que era, e pelo
amor que nutria pela verdade do evangelho, não podia deixar aqueles irmãos sem
instrução quanto a graça salvadora de Deus e como que, através da obra de Cristo,
homens culpados e dignos de condenação são tornados justos. Consequentemente
esse ensinamento levava esperança para uma igreja que vivia em constante perigo
e rodeada de ensinamentos judaizantes que firmava a sua esperança na lei e não na
obra libertadora de Cristo.
perdoou em Cristo Jesus, e temos a certeza da vida eterna baseada nessa obra
magnífica e preciosa de nosso Senhor. Mesmo que o mundo inteiro desabe sobre os
filhos de Deus e eles venham a perder a vida terrena, eles estão seguros para a vida
eterna.
Soteriologia:
A Soteriologia é a doutrina que trata das coisas concernentes a salvação.
Dentro da soteriologia está a doutrina da justificação e da fé, que é tratado pelo
apóstolo Paulo nestes versos de Romanos, no qual a teologia chama de “justificação
pela fé”.
Justificação pela fé: A justificação é uma aceitação judicial do cristão por
Deus como não culpado, porque seus pecados não são considerados contra ele.
Abaixo temos um infográfico feito no texto de Gálatas 2.16, que nos ajuda a,
visualmente, entender esse conceito da soteriologia:
Fonte: https://justificacaopelafe.com.br/justificacao-pela-fe-galatas-2-16-infografico-
teologia-visual/. Acessado dia 11.09.2023
A justificação é um ato judicial de Deus perdoando pecadores, aceitando-
os como justos e, assim, tornando-os definitivamente aceitos.
Parker (2014) em sua teologia concisa escreve que essa justificação
parece ser estranha, pois como um Juiz justo pode inocentar pessoas
comprovadamente culpadas, sendo que isso o tornaria um Juiz injusto, como
prescreve a própria lei? (Dt 25.1; Pv 17.15). A resposta é que:
Cristo. À medida que nos entregamos pela fé a Jesus, ele nos concede seu
dom de justiça, de sorte que, no mesmo ato de “fechar com Jesus”, como os
velhos mestres reformados diriam, recebemos o perdão divino e a
aceitação, que de outra forma não poderíamos obter (Gl 2.15, 16; 3.24).
recebê-la com fé (Rm 1.16; Hb 4.2) e amor (2Ts 2.10), guardá-la em nosso coração
e praticá-la em nossa vida (Tg 1.21–25). Portanto, a Palavra pregada com fidelidade,
é o meio pelo qual o Espírito Santo produz fé no coração do pecador, levando este
ao arrependimento e consequentemente a salvação.
Foi a justificação pela fé que fez o reformador Martinho Lutero (1483-
1546) iniciar a Reforma Protestante do Séc. XVI. Lutero entendia que a justiça de
Deus era dada de forma meritória, ou a chamada Justiça Retributiva, onde o homem
deveria trabalhar de forma a merecer essa justiça. Mas um dia, por divina
iluminação, ele compreendeu que a justiça era imputada ao pecador pela soberana
graça de Deus através de Cristo Jesus, e o pecador era justificado, não pelas obras
da autopenitencia, mas unicamente pela fé em Jesus. O próprio Lutero escreveu:
Pode-se dizer que a vocação de Deus é uma só, e a distinção entre uma
vocação externa e uma vocação interna ou eficaz simplesmente chama a
atenção para o fato de que esta vocação única tem dois aspectos. Não
significa que estes dois aspectos estão sempre unidos e sempre andam
juntos. Não afirmamos, com os luteranos, que “a vocação interna é sempre
concorrente com o ouvir a palavra”. Significa, porém, que onde a vocação
interna chega aos adultos, é mediada pela pregação da Palavra. A mesma
Palavra ouvida na vocação externa torna-se eficiente no coração, na
vocação interna. Pela poderosa aplicação feita pelo Espírito Santo, a
vocação externa passa direto para a vocação interna. Mas, embora esta
vocação esteja estreitamente relacionada com a vocação externa e forme
uma unidade com ela, há certos pontos de diferença: (a) É uma vocação
pela Palavra, salvadoramente aplicada pela operação do Espírito Santo,
1Co 1.23,24; 1Pe 2.9; (b) É uma vocação poderosa, isto é, uma vocação
que é eficaz para a salvação, At 13.48; 1Co 1.23, 24; e (c) É sem
arrependimento, isto é, não está sujeita a mudança e jamais será retirada,
Rm 11.29.
Uma verdade que fica bem claras nesse texto quanto a teologia prática é
a importância da pregação da Palavra. Paulo sempre deixou claro em suas cartas a
importância de se pregar fielmente a palavra (2Tm 4.2, Ef 1.13).
No verso anterior o apóstolo diz que devemos estar prontos para pregar o
evangelho (Rm 1.15), sem nos envergonharmos de suas palavras (Rm 1.16). Esse
evangelho é o poder de Deus que transforma a vida das pessoas, e é o meio pelo
qual o Espírito Santo produz fé no coração do pecador, o levando a se arrepender
de seus pecados e a crer em Jesus Cristo para a salvação. E essa salvação é para
todos os que foram destinados a crer, seja judeu ou grego.
É neste evangelho, que Paulo nos estimula a pregar, que está revelada a
justiça de Deus, é onde o SENHOR resolveu, de forma especial, demonstrar toda a
sua retidão, e tudo o que ele requer de seu povo e de toda a humanidade.
É através da pregação fiel da Palavra que vamos anunciar ao povo que
eles são salvos pela graça em Jesus, mediante a fé, e isso não vem deles, mas é
dom de Deus, por isso, na pregação do evangelho, devemos anunciar que o justo
viverá por fé.
2.8 SERMÃO:
2.9 ESBOÇO
Introdução:
Após se identificar como apóstolo de Jesus Cristo (1. 1-7), Paulo continua
com sua introdução escrevendo que ora pelos irmãos, e que em suas orações pede
a Deus que ofereça ocasião oportuna para visitar a igreja em Roma (1.8-10).
Paulo tem o desejo de visitar os romanos (At 19.21) para que com essa
oportunidade possa pregar o evangelho àqueles irmãos (Rm 1.15). Esse desejo de
pregar o evangelho, contido no verso 15, é uma fala introdutória, preparando os
leitores para os versos 16 e 17. Onde, no verso 15, ele diz estar pronto para
anunciar evangelho, e nos versos 16 e 17 ele complementa dizendo que esta
prontidão se dá pelo fato de não se envergonhar do evangelho. Neste caso Paulo
estaria pronto para pregar o evangelho aos Romanos sem detenção nenhuma, pois
ele sabia que este evangelho é o poder de Deus para salvar todos os que crê, seja
judeu ou grego.
Toda essa introdução sobre o evangelho, a fé e a salvação, serve de
base para a argumentação de Paulo nos versos seguintes, pois o pecado alcançou
Gentios 1.18-31; judeus 2.1-27 e todas as pessoas sem exceção (3.1-20), esses
temas tomam conta de toda a carta de Romanos.
Baseado nessas informações quero falar sobre os motivos que tornam a
pregação do evangelho necessária:
1. O Evangelho é o poder de Deus (v 16a)
2. Somente o Evangelho Salva (v 16b)
3. Somente o Evangelho Transforma (v 17)
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Conclusão:
Vimos como é grande a necessidade de pregarmos o evangelho, somente
ele transforma a vida das pessoas. O evangelho é o poder de Deus, pois é a palavra
de um Deus onipotente, todo-poderoso, é a palavra que destrói o coração de pedra
e coloca um coração de carne, que é sensível a voz do Senhor. É o evangelho que
produz fé no coração do pecador, fazendo com que este viva confiando unicamente
no Senhor e não em suas forças ou no poder de suas obras. É este evangelho que
revela a toda a humanidade a justiça de um Deus misericordioso que, pela sua
graça, tona justos àqueles que nunca poderiam se auto justificar.
Aplicação:
Esta mensagem de Paulo nos leva a perceber a necessidade de
confiarmos exclusivamente no evangelho para a edificação de nossas igrejas, não
devemos confiar em métodos ou no poder financeiro de nossas congregações, mas
confiar unicamente na pregação fiel das escrituras. As igrejas de nossos dias não
precisam de dinheiro, de membros, de templos enormes e luxuosos, mas precisam
da pregação do evangelho que transforma. Os nossos jovens não precisam de
acampamentos e programações baseadas em técnicas mundanas de persuasão,
mas precisam ser convencidos pelo poder do evangelho. Os casais cristãos
precisam basear suas vidas conjugais no evangelho que transforma, e não em
métodos humanos. Diante de tudo isso a pergunta que fica é: Será que ainda
confiamos no poder do evangelho como ferramenta poderosa para transformar a
vida de todo aquele que crê?
3 Conclusão
Este estudo nos levou a ver a importância que o evangelho tem para a
igreja em todas as épocas, assim como era na época de Paulo, foi na época dos
pais da igreja, e continua sendo nos dias de hoje. Vemos que este evangelho é o
poder de Deus, ele transforma, regenera, e traz fé ao coração do pecador, mostra a
justiça de Deus sendo derramada justificando o pecador e o tornando justo através
da obra expiatória de Jesus. Esse evangelho traz salvação a todo aquele que crê
independente de sua nacionalidade e faz com que o justo viva pela fé em Jesus
Cristo.
Este trabalho é relevante pelo fato de vivermos em uma sociedade que a
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cada dia se volta para dentro de si mesma, creem que somos independentes de
Deus e que sua mensagem não é mais relevante. Essa mensagem do apóstolo
Paulo é urgente para nós pois precisamos voltar a crer no poder do evangelho, crer
na suficiência das Escrituras para a salvação de todo o povo escolhido do Senhor.
O poder do evangelho é suficiente para a salvação do perdido, não
precisamos acrescentar mais nada, o que nos resta a fazer é proclamar a todos,
aquilo que o Senhor nos ordenou, e nada mais.
4 Bibliografia
BARRY, John D.; ESPINOZA, Benjamin. Dicionário Bíblico Lexham. 1ª. ed.
HOLMES, Michael W. Apparatus for the Greek New Testament: SBL Edition. 1ª.
ed.
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MAGNUM, Douglas; , et. al. The Lexham Glossary of Literary Types. 1ª. ed.