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SINAGOGA: ANTES, DURANTE E DEPOIS DE CRISTO

Flávio Cardoso de Pádua

1. SINAGOGA

Uma sinagoga é um local de congregação, onde judeus se reúnem para adoração


pública e estudos religiosos. A palavra "sinagoga” é derivada da palavra grega
"synagoge", que significa "conduzir ou trazer junto", referindo-se a uma assembleia ou
reunião de pessoas com propósitos religiosos ou, até mesmo, seculares. Mais
especificamente, no contexto religioso, uma sinagoga é um local onde os judeus se
reuniam para ler e estudar as Escrituras judaicas, fazer suas orações e participar de várias
atividades religiosas.1
No início das atividades da sinagoga, os judeus leem o Shemá: " Ouve, ó Israel:
Iahweh nosso Deus é o único Iahweh. Portanto, amarás a Iahweh teu Deus com todo o
teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força". Em algumas vezes, um sermão
é realizado após a leitura do texto sagrado. Os líderes sentam-se à frente dos congregantes.
Os homens sentavam separados das e mulheres.
As primeiras sinagogas eram construídas de acordo com três modelos
arquitetônicos. A primeira, a basílica, era uma estrutura retangular com portas triplas
decoradas com ornamentos de pedra esculpida. Dentro havia duas fileiras de colunas
formando um grande assento central, enquanto bancos de pedra ao longo das paredes
laterais acomodavam parte da congregação. Na plataforma de trás havia uma caixa de
Torá com pergaminhos, castiçais e um suporte para leitura durante o serviço. No entanto,
esse arranjo criou dificuldades porque a congregação tinha que enfrentar Jerusalém para
ler a Bíblia, enquanto a entrada era na direção oposta. A solução veio na "casa ampla",
onde o prédio dava para Jerusalém, deixando espaço para a caixa da Torá e uma prateleira
de cada lado da porta. Uma terceira variação, a sinagoga absidal, assemelhava-se a uma
igreja moderna com uma plataforma com uma abertura para Jerusalém para a arca da Torá
e uma entrada na parte de trás do edifício.2

1
ALEXANDER, Pat (org.). Enciclopédia ilustrada da Bíblia. Tradução de Edwino. São Paulo:
Paulinas, 1987.
2
YOUNGBLOOD, Ronald F. Dicionário Ilustrado da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2004.
2. ORIGEM

As sinagogas provavelmente começaram a surgir durante o exílio dos judeus na


Babilônia, quando não tinham mais acesso ao Templo em Jerusalém (destruído por
Nabucodonosor). Além disso, os judeus eram proibidos de viajar para Jerusalém3. Essas
reuniões locais para oração e leitura das Escrituras eram uma forma de manter a
comunhão com Deus mesmo sem o Templo. Podemos até mesmo perceber o anseio de
Daniel e de muitos judeus de adorar a Deus (Daniel 6.10). Então, ao longo do tempo, as
sinagogas se espalharam e se tornaram centros importantes para as comunidades judaicas,
não apenas como locais de culto, mas também como escolas e centros de atividades
comunitárias.4
A sinagoga era mais do que um local de adoração. Ela também atuava como
escola, onde as crianças eram ensinadas a ler e escrever, principalmente para que
pudessem estudar as Escrituras. Além disso, as sinagogas desempenhavam um papel
social e até mesmo judicial nas comunidades judaicas, servindo como tribunais locais
para emitir veredictos e aplicar sentenças.

3. SINAGOGA NO PERÍODO DE CRISTO5

No período de Jesus Cristo, as sinagogas eram lugares comuns tanto em cidades


quanto em aldeias. Os cultos nas sinagogas, nesse período, eram centrados na leitura das
Escrituras, incluindo passagens da Lei e dos Profetas. Havia um orador do dia responsável
por ler e comentar a passagem, muitas vezes com a ajuda de um intérprete para traduzir
do hebraico para o aramaico, a língua comum daquela época. Além disso, o culto incluía
a recitação do Shemá, orações, sermões e uma bênção final. A sinagoga era um local onde
Jesus frequentemente ensinava e leu as Escrituras:

“O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os
pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista
aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do
Senhor. Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos
na sinagoga tinham os olhos fitos nele. Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje,
se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.” (Lucas 4.16-21).6

3
TENNEY, Merrill C. (org.). Enciclopédia da Bíblia, Vol. 5. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
4
YOUNGBLOOD, Ronald F. Dicionário Ilustrado da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2004.
5
YOUNGBLOOD, Ronald F. Dicionário Ilustrado da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2004.
6
BÍBLIA. Português. Almeida Revista e Atualizada. 2ª ed. rev. e atual. Sociedade Bíblica do
Brasil, 2017.
A formação de uma sinagoga dependia de pelo menos dez homens judeus na
comunidade, e em alguns casos, eram pagos a desempregados para garantir a presença
necessária. Diversos oficiais desempenhavam funções na sinagoga:
- Anciãos: Um conselho de homens respeitados estabelecia diretrizes.
- Administrador da Sinagoga: Responsável pela manutenção, planejamento dos cultos
e funcionamento do prédio.
- Ministro (hazzan): Cuidava dos rolos sagrados, candelabros, edifício e aplicava
punições ordenadas pelos anciãos.
- Delegado da Congregação: Escolhido antes de cada culto, lia a Escritura, conduzia a
oração e fazia comentários.
- Intérprete: Necessário porque as Escrituras estavam em hebraico, enquanto o povo
falava aramaico.
- Encarregados das Esmolas: Responsáveis pela distribuição de donativos aos pobres.

4. SINAGOGA NA ERA CRISTÃ7

O termo "sinagoga" é frequentemente mencionado nos Evangelhos e em Atos,


indicando sua importância na liderança e execução do Judaísmo tanto em Jerusalém
quanto em outros locais, como Corinto. Poucas inscrições da época foram encontradas
em sinagogas, notando-se que elas eram escritas em grego uncial, com estilo helênico. A
Inscrição Teótodo, por exemplo, destaca o propósito da construção da sinagoga,
mencionando a "leitura da lei" e seu uso como hospedaria. Apesar de raízes hebraicas, a
influência grega é evidente até nos títulos dos oficiais mencionados. As sinagogas
representaram um cosmopolitismo e um apelo à consciência comum, o que contribuiu
para seu sucesso. Nas narrativas do Evangelho, as sinagogas em pequenas aldeias da
Galileia são mencionadas como lugares onde Jesus ensinava. A arqueologia também
revela construções similares nessa região, sugerindo usos multifuncionais, como fóruns
legais, escolas e mercados para o serviço religioso sabático.
A sinagoga do primeiro século teve um impacto significativo na forma e
organização da igreja apostólica, como podemos observar no livro de Atos e em alguns
escritos de Paulo.

5. CONCLUSÃO

7
TENNEY, Merrill C. (org.). Enciclopédia da Bíblia, Vol. 5. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
Como vimos acima, as igrejas foram altamente impactadas pelas sinagogas. Por
isso, ainda nos dias de hoje, podemos perceber algumas características nas igrejas de
nossa época que vieram de sua marca, como um DNA. A Igreja tem suas distinções óbvias
do culto judeu, porém, não podemos menosprezar o cuidado e o zelo que os primeiros
cristãos tiveram para com as sinagogas, que permitiram, até certo ponto, a participação
de cristãos em seu meio.

REFERÊNCIAS

ALEXANDER, Pat (org.). Enciclopédia ilustrada da Bíblia. Tradução de Edwino. São


Paulo: Paulinas, 1987.
BÍBLIA. Português. Almeida Revista e Atualizada. 2ª ed. rev. e atual. Sociedade Bíblica
do Brasil, 2017.
TENNEY, Merrill C. (org.). Enciclopédia da Bíblia, Vol. 5. São Paulo: Cultura Cristã,
2008.
YOUNGBLOOD, Ronald F. Dicionário Ilustrado da Bíblia. São Paulo: Vida Nova,
2004.

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