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Estudo Cântico dos cânticos

Resumo:

Este estudo pretende apresentar brevemente o livro de Cântico dos cânticos aos
casais da comunidade local e investigar elementos da primeira parte do livro que
nos possibilitem uma leitura proveitosa para a edificação do casamento.

Introdução:

Cântico dos cânticos, com os seus 117 versículos é um dos menores livros da
Bíblia. Ao longo dos séculos este livro tem despertado o interesse de grandes
estudiosos da Bíblia e contribuído para que vários livros e comentários tenham sido
escritos e inúmeros sermões pregados. O conteúdo do livro apresenta dificuldades
interpretativas que exigem muito cuidado no seu estudo, por isso, um estudo
cuidadoso de Cantares requer muita atenção para as questões introdutórias
contextuais.
Naturalmente, a sua aplicabilidade depende da abordagem que se dá ao livro
e suas interpretações resultantes. Sua mensagem, sem dúvida, precisa ser ouvida,
entendida e aplicada às nossas vidas pois Cantares faz parte das Escrituras
Sagradas.
O livro compõe a terceira seção da Bíblia Hebraica (Kethubim ou Escritos), que
formam uma coleção diversificada, incluindo obras de Daniel, os livros históricos de
Crônicas, Esdras e Neemias, Jó, Salmos e Provérbios, e os assim chamados “
Cinco Rolos” – Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester, os quais eram
lidos publicamente nos principais festivais israelitas.
Somente na tradição e não no seu conteúdo, o livro de Cântico dos Cânticos é
claramente conectado com Salomão. O título do livro atribui sua autoria a Salomão.
Tanto em português como no hebraico, o livro recebeu seu título a partir das
palavras iniciais que expressam um superlativo – “De todos os cânticos, este é o
cântico”, isto é, o melhor, o mais belo dos cânticos. O título original “Cantares de
Salomão” traz a ideia de que Salomão, o grande rei hebreu, filho de Davi e Bate-
Seba (2 Sm 12.24s; 1 Cr 23.1) teria sido o autor do livro.
Possivelmente a composição de Cantares tenha ocorrido em meados do
século dez, ainda que eruditos mais críticos tenham argumentado que a favor de
uma data mais recente no quarto ou terceiro século a.C.
Uma grande questão a ser resolvida no estudo deste livro envolve o tipo de
literatura a que pertence e que abordagem será assumida ao interpretá-lo. De
maneira resumida, tomemos as três principais interpretações:
a) Alegoria: Esta palavra traz a ideia de “dizer uma coisa que significa outra coisa”.
Em antigas literaturas judia e cristãs, a alegoria era a abordagem preferida, pois
aliviava as tensões criadas pela linguagem sensual do livro. Os que alegorizam
Cantares, não consideram o relacionamento homem/mulher, bem presente em
todo o livro. A interpretação deles é que se trata do relacionamento de Deus com
Israel, ou de Cristo com a Sua Igreja. .

b) Tipologia: A tipologia reconhece a validade do relato no V.T., por seu próprio


direito e em seguida encontra nesse mesmo relato bíblico um paralelo claro com
algum ensino ou acontecimento do N.T. de que o fato no VT é apenas sombra.

c) Natural: A interpretação natural propõe que Cantares deva ser interpretado


como os fatos parecem ser naturalmente, ou seja, uma série de poemas que
falam clara e explicitamente sobre os sentimentos, desejos, interesses,
esperanças e temores de um homem e uma mulher, enamorados, sem qualquer
necessidade de alegorização, tipologia ou dramatização.

O Cântico fala primariamente do amor humano, e não do amor divino. A


evidência mais importante vem do Egito, e também da poesia de amor de literatura
mesopotâmica, do noroeste semítico, árabe antiga e indiana. Essa evidência mostra
semelhanças de gênero, tema, motivos, linguagem e técnicas poéticas do Cântico.
As semelhanças entre o Cântico e os poemas de amor do Oriente próximo são
extremamente relevantes. No entanto, em resumo, constata-se que o Cântico
compartilha o mesmo tópico geral de amor humano e sexualidade, formas
semelhantes (sobretudo os “poemas descritivos”) e imagens.

Contudo, lido dentro do contexto do cânon, o Cântico tem uma relevância clara
e óbvia para o relacionamento divino-humano. Afinal de contas, por toda a Bíblia, o
relacionamento de Deus com a humanidade é comparado a um casamento. Nessa
metáfora, Deus é o marido e seu povo é sua esposa.

A primeira parte de Cânticos dos Cânticos: 1.2 a 2.7

Salomão viveu no décimo século antes de Cristo. Ele era o rei mais rico de
Israel e possuía vinhas em toda a extensão da nação – uma delas perto de
BAALHAMON no extremo norte da Galileia, perto do sopé das montanhas do
Líbano. Durante sua visita a essa vinha, onde costumava ir possivelmente uma vez
por ano, Salomão encontrou uma jovem camponesa, Sulamita.
Ela cativa seu coração. Durante algum tempo, ele busca por ela e faz visitas
periódicas para vê-la em sua terra natal, até que ele a pede em casamento.
Sulamita avalia seriamente se realmente o ama e se seria feliz em morar no palácio
de um rei. Ela diz: sim.
Então, Salomão manda uma comitiva de casamento para escoltá-la até o
palácio, em Jerusalém. O livro abre para nós como se ela estivesse pronta para o
banquete e a noite de núpcias. Os detalhes de sua primeira noite juntos são
eroticamente e prazerosamente descritos, e assim, a primeira metade do livro se
encerra.

Palavras iniciais de amor e desejo mútuos (1.2-2.7) - A Expectativa do


Amor

Nesta primeira parte do livro, o casal feliz, excitado, troca expressões de


desejo, encorajamento, dúvidas, expectativas e experiências amorosas.

a. A amada experimenta sensações de desejo e insegurança ao ser


levada
ao palácio de Salomão, o amado. (1.2-11)
i. Ela tem grande expectativa pela afeição dele (1.2-4)
ii. Ela se sente insegura por estar no ambiente do palácio, sendo ela uma
simples camponesa. Ela tem medo de ser rejeitada. (1.5-8). Ela é diferente
(morena). Na corte, a proposta era ter uma pela clara.
iii. Ela anseia por uma demonstração física de amor do noivo, toma
consciência de sua aparência mal cuidada e deseja um ambiente mais simples
onde possam se encontrar. As damas da corte percebem o incômodo da noiva
pela aparência.
iv. Os elogios do amado e a aceitação da corte a faz sentir-se bem e segura
(1.9-11). É reconhecimento e não lisonjas. O amor se expressa de maneira
verbal.

b. O verdadeiro amor se desenvolve por meio do apreço mútuo e do


autocontrole paciente, que supera o medo que ela tem de perder seu
amado (1.12-2.7)
i. Ambos expressam seu apreço mútuo (1.12-2-6)
ii. Ela responde ao seu amado da melhor maneira possível com 3
comparações (1.12-14). Nardo (perfume do Himalaia-Índia) – Mirra (Goma
resinosa de uma árvore do sul da Arábia - Mt 2.11; Mc 15.23) – Hena (vinhas
de En-Gedi).
iii. Troca de expressões bem humoradas dos apaixonados (1.15-2.2)
iv. O forte impulso do amor deve ser restringido até que possa ser desfrutado
no devido tempo (casamento) (2.7)

Pontos importantes para reflexão no casamento


1. As relações sexuais no casamento são boas e santas. Deus as encoraja e
adverte contra a sua omissão.
a. O casamento é uma instituição honrosa – Hb 13.4
b. A honra do leito conjugal deve ser mantida
c. Cada cônjuge deve cumprir as suas obrigações sexuais – 1 Co 7.5
d. A imoralidade sexual é evitada através do domínio próprio – 1 Co 7.5,9
e. A imoralidade é evitada através da regularidade nas relações sexuais no
casamento. – 1 Co 7.2

2. O prazer da relação sexual no casamento é presumido, e não pecaminoso.


– Pv 5.18,19

3. O prazer sexual deve ser regulamentado levando em conta que a


sexualidade de cada um não pode ser egoísta. – 1 CO 7.4
a. A masturbação é prazer sexual egoísta
i. Perversão da intensão do sexo
ii. Envolve desejos sexuais pecaminosos – Mt 5.28
iii. Causa sentimentos de culpa no cristão – Rm 14.22,23

4. As relações sexuais no casamento devem ser regulares e contínuas. Ambos


os cônjuges devem prover satisfação sexual adequada para que se evite tanto
o “ abrasar-se” quanto a tentação de buscar satisfação sexual fora do
casamento. – 1 Co 7.9; Fp 2.3,4

5. O princípio da satisfação significa que cada cônjuge deve prover prazer


sexual (“ que lhe é devido”) tão frequentemente quanto o outro requeira.
a. A solicitação deve ser regulamentada pela consideração pelo outros
b. As solicitações pela satisfação sexual não devem ser governadas por
desejo idólatra – 1 Co 6.12.

6. Não deve haver barganhas sexuais entre marido e mulher. Cada um não
tem mais autoridade exclusiva sobre o seu corpo.

7. As relações sexuais são iguais e recíprocas. Paulo não confere ao homem


direitos superiores aos que cabe à mulher. A participação ativa mútua nos
estímulos e nas relações sexuais é legítima.

Conclusão:

Em uma sociedade cada vez mais permissiva, onde a mulher é tratada como
objeto de desejo sexual, o desejo sexual dos homens é por amor a si mesmo e a
aliança de casamento está em declínio, estudar este livro é de suma importância por
descrever ecelebrar o amor conjugal como dádiva de Deus que deve ser obtida e
desfrutada em
pureza e mantida a todo custo.
Deus nos fez seres sexuais e colocou em nós um forte impulso a fim de
conduzir-nos ao casamento e a todas as expressões e experiências boas vinculadas
à união conjugal. Entretanto, por sermos pecadores por natureza, precisamos da
Sua graça e orientação para que nosso impulso sexual seja mudado do
egocentrismo para um relacionamento frutífero e fiel com o cônjuge.
Ao nos criar, homem e mulher, o Criador tinha a intenção de que os homens
fossem atraídos sexualmente às mulheres e as mulheres atraídas sexualmente aos
homens. O propósito dessa atração é direcionar à mutualidade entre duas pessoas,
um homem e uma mulher, unidas na aliança de casamento.

“No casamento, o prazer e a paixão sexual são partes


essenciais do apego relacional que mantém a união firme,
aponta à procriação e estabelece a intimidade descrita na
Bíblia como relacionamento de “ uma só carne”. – (R. Albert
Mohler JR. – Desejo e Engano – página 32- Ed. Fiel)

Deu nos deu impulsos para que sejamos impelidos a alguma coisa, tendo em
vista Sua glória. O grave problema é quando o impulso sexual é dirigido para algo
diferente da pureza no casamento. O casamento é o ambiente da atividade sexual e
é apresentado nas Escrituras como o contexto designado por Deus para a revelação
da Sua glória na terra.
Como cristãos, não devemos ficar embaraçados ao tratarmos destes
assuntos, pois tudo o que Deus fez é bom e em tudo Ele teve um propósito, em
última análise, de manifestar a Sua glória. Ignorar ou não considerar estas verdades
ou tratar as questões sexuais com ambivalência, é ocultar a Sua glória que deve ser
revelada através do uso correto dos dons da criação.
Portanto, nossa responsabilidade é ensinar e apresentar a todos o uso
correto das dádivas de Deus e a legitimidade do sexo no casamento como aspectos
vitais do propósito de Deus para o casamento desde o princípio.
Referências:

Eaton, Michael A. e Carr, G. Lloyd. Eclesiastes e Cantares, Introdução e


Comentário - Série Cultura Bíblica – São Paulo: Vida Nova, 2011.

LEWIS, CS. Lendo os Salmos com C.S.Lewis - Minas Gerais, Ultimado, 2005.

TREMPER, Longman. Comentários do Antigo testamento: Cântico dos cânticos


- São Paulo - Editora Cultura Cristã, 2023.

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