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A DOUTRINA DA IGREJA — O Inferno

Joel Beeke

O inferno é o lugar de eterno julgamento (Mateus 5:29; Lucas 12:5; 16:23). Ainda, é
o único  lugar de tormento eterno, em oposição à ideia não bíblica de purgatório (cf. 1
Coríntios 3:12-14; 2 Coríntios 5:6,8; Filipenses 1:23; Hebreus 1:3; 1 João 1:7). A
Escritura prontamente afirma a existência do inferno (Mateus 23:33; Lucas 16:19-31; 2
Pedro 2:3-4) e observa que é o lugar onde os corpos e almas dos homens são afligidos.
O inferno tem muitos nomes que realçam a sua natureza. Ele é descrito como um fogo
inextinguível (Lucas 3:17), uma fornalha acesa (Mateus 13:42, cf. Daniel 3:21-22), um
lago de fogo (Apocalipse 19:20), um fogo eterno (Judas 7), as trevas (Mateus 22:13), a
negridão das trevas para sempre (Judas 13), e abismos de trevas (2 Pedro 2:4).

 Algumas pessoas fazem objeção a pregar e a ensinar a doutrina do inferno, supondo


que este ensinamento é antitético à ênfase que o Novo Testamento dá à mensagem de
Cristo no evangelho. Contudo, todos os protestos são deixados de lado quando é
percebido que a doutrina do inferno é mais claramente estabelecida no Novo
Testamento do que no Antigo, e portanto, é encontrada frequentemente nos lábios do
próprio Senhor Jesus Cristo. Além disso, uma compreensão do tormento contínuo do
corpo e da alma no inferno pretende causar temor e despertar as consciências
entorpecidas daqueles descrentes que ainda estão vivos (Mateus 10:28; 2 Coríntios
5:11). Incutir um temor bíblico do inferno é, portanto, necessário e útil.

 Duas realidades demandam este terrível julgamento para os descrentes.


Em primeiro lugar, o inferno é necessário por causa da imundícia do pecado contra o
infinito e santo Deus. É imperativo que uma punição proporcional seja executada de
acordo com a justiça de Deus. Em segundo lugar, o inferno é necessário porque Cristo
não satisfez a justiça de Deus para os ímpios, os quais devem suportar, por conta
própria, a plena ira de Deus no inferno.

 Esta ira atormentadora de Deus no inferno tem duas características. Em primeiro lugar,


o julgamento é uma privação eterna. A presença de Deus (Mateus 25:41); a companhia
dos santos e anjos (Mateus 22:13; 24:41); a bem-aventurança do céu (Lucas 16:23), a
misericórdia de Deus e de Cristo, e dos piedosos com Eles (Provérbios 1:26); e toda a
esperança de restauração eterna (Mateus 3:12; 25:46; 2 Tessalonicenses 1:9; Judas 7; cf.
Isaías 33:14; 66:24; Lucas 12:59) – são todas impedidas e excluídas pelos portões do
inferno. Através da eternidade, os ímpios se tornarão cada vez mais empobrecidos e
exaustos no inferno. Em segundo lugar, existe uma grande quantidade de formas pelas
quais os danados ou condenados se tornam ainda mais miseráveis, conforme a ira do
santo Deus é exercitada em seu grau pleno. Este sofrimento é aumentado eternamente
por: a universalidade dos tormentos que afetam o ímpio no corpo e na alma; a
extremidade dos tormentos que não podem ser extinguidos nem tolerados; a
continuidade dos tormentos, que não cessam nem tem intervalo; a sociedade dos
tormentos, àqueles com quem os ímpios sofrem; a qualidade dos tormentos, uma
miséria desprovida de qualquer conforto e prazer; a crueldade dos tormentos pelas mãos

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do Diabo e dos seus demônios; e a eternidade dos tormentos, que irão ser acumulados
eternamente sobre o ímpio.

 Acerca destas coisas, o descrente deveria temer e tremer, de tal forma que pudesse ser
trazido ao arrependimento e à crença ou à fé. Além disso, todos os seres humanos – e
crentes em particular – são chamados a abandonar os pecados que conduzem ao inferno
(Mateus 10:22-23; 23:14-15; Marcos 12:40; Lucas 12:47-48; Romanos 2:5; Hebreus
13:4; 2 Pedro 2:9-10). Um vislumbre do inferno só pode produzir, senão, uma deserção
de toda a impiedade. Adicionalmente, a doutrina do inferno traz o coração dos crente
para o descanso mais doce nas glórias do céu. Quando o amargor do inferno é
reconhecido, as alegrias do céu se tornam de ainda maior valor.

|A DOUTRINA DA IGREJA — O CÉU

Joel Beeke

O céu é lugar de habitação de Deus e a base do Seu reino, muito acima de todos os
reinos deste mundo (1 Reis 8:30; Isaías 66:1; Mateus 25:34; Atos 14:22; 2 Coríntios
12:2). É o lugar da Sua gloriosa presença, para sempre, e o lar eterno dos crentes. O céu
é tanto privativo quanto positivo – o primeiro, como um lugar livre (ou privado) de 
toda miséria; o último, como um lugar onde todas as bênçãos divinas são saboreadas. O
céu é um paraíso (Lucas 23:43); uma habitação eterna (Lucas 16:9; João 14:2; 2
Coríntios 5:1); uma cidade que há de vir (Hebreus 13:14); uma herança gloriosa
(Colossenses 1:12); um lugar de desfrutamento e alegria (Salmos 16:11); e, acima de
tudo, um mundo de amor.

 O Deus triuno, a fonte do amor (1 João 4:8), torna o céu um mundo de amor. Lá habita
Deus pai, o Pai de amor, que amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito como sacrifício (ver João 3:16). Lá habita Cristo, o Príncipe de amor, que
amou tanto ao mundo, ao ponto de verter o Seu sangue e derramar a Sua alma na morte,
em favor do ser humano. Lá habita o Espírito Santo, o Espírito do amor divino, em
quem a própria essência de Deus, por assim dizer, flui e respira em amor, e que por sua
imediata influência, todo o santo amor é derramado abundantemente nos corações de
todos os santos. No céu, esta fonte infinita de amor – este eterno Três em Um – é aberta
sem nenhum obstáculo para impedir o seu acesso, fluindo para sempre em feixes, como
a luz proveniente do sol.

 O amor celestial de Deus é esbanjado sobre objetos amáveis. O céu é o lugar onde o
amor não está confinado, pois ele flui em riachos ou ribeiros inumeráveis, em direção a
todos os santos e anjos de glória. Lá não haverá coisas ou pessoas odiosas,
desagradáveis ou contaminadas (Apocalipse 21:27). Nada vai ofender nem mesmo o
gosto mais refinado ou o olho mais suave. O Pai da família é amável, e assim também
são os Seus filhos; o Cabeça do corpo é amável, e assim também são todos os membros.

 Cristo ama a todos os Seus santos no céu. O Seu amor flui para toda a Sua igreja e para
cada membro individual dela. Em verdade, o céu não é o céu sem Cristo. Ele é o próprio

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céu do céu. Além disso, os próprios santos não vão apenas receber este amor de Cristo,
mas também vão amá-lo. Eles vão amar a Deus, em Seu próprio nome, e cada um vai
amar ao outro em nome de Deus. No céu, não haverá inimizade, aversão, frieza de
coração, ou indiferença remanescentes em relação a Deus e a Cristo. Como os santos
irão amar a Deus com um fervor inconcebível e com o máximo da sua capacidade, então
eles irão saber que Ele os amou desde toda a eternidade, que ainda os ama, e que
continuará os amando para sempre.

 Os santos irão amar uns aos outros. No céu, não haverá nada externo para manter os
seus habitantes distantes uns dos outros, ou para impedir o seu mais perfeito
desfrutamento no amor uns pelos outros. No céu, todos estarão unidos em
relacionamentos íntimos e próximos. Todos serão como irmãos, em como uma
sociedade, ou ainda como uma família, e todos serão membros da casa ou família de
Deus. Haverá crianças, que viveram apenas alguns dias, tendo sido perdidas aqui
embaixo, para serem encontradas graciosamente acima;  haverá o pai, a mãe, a esposa, o
filho e o amigo Cristão, com o qual nós iremos renovar a piedosa amizade dos santos.

 Que maravilhoso céu de descanso para entrar, depois de ter passado por tormentas e
tempestades neste mundo, no qual o orgulho, o egoísmo, a inveja, a malícia,  o
desprezo, o desdém, a discórdia, e os vícios são como ondas de um oceano impiedoso,
sempre irrompendo em violência e fúria. “Jamais terão fome, nunca mais terão sede,
não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do
trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará
dos olhos toda lágrima” (Apocalipse 7:16-17). O crente pode seriamente anelar ou
ansiar por este estado eterno de bem-aventurança, onde ele verá o seu Redentor com os
seus próprios olhos, e não verá outro senão Cristo, que prenderá toda a sua atenção.

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A DOUTRINA DA IGREJA — A VINDA DE CRISTO EM GLÓRIA

Joel Beeke

 A antiga confissão Cristã, chamada de Credo Niceno, declara, como uma doutrina
central da fé da igreja, que Jesus Cristo “há de vir com glória para julgar os vivos e os
mortos”. Aqueles que elaboraram este credo estavam certos em afirmar a realidade
gloriosa da segunda vinda de Cristo. Ela constitui uma parte importante da fé apostólica,
e está intimamente ligada à primeira vinda de Cristo. Ela conduz toda a obra de Cristo,
em Sua primeira vinda, para um glorioso cumprimento. Paulo resume esta fé em sua
primeira carta aos crentes de Tessalônica, dizendo, “e como, deixando os ídolos, vos
convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e para aguardardes dos
céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira
vindoura” (1 Tessalonicenses 1:9-10). Paulo vincula a fé dos Tessalonicenses a ações
concretas: deixar os ídolos deste mundo, servir ao Deus vivo neste mundo, e aguardar
pelo retorno do Cristo ressurreto, cuja morte livrou o Seu povo da ira vindoura. Ainda, a

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obra de Cristo em Sua primeira vinda – Sua morte e ressurreição, e Sua libertação dos
pecadores em relação à idolatria – está bem vinculada à Sua segunda vinda.

 Uma variedade de eventos precisa ocorrer antes da segunda vinda de Cristo. O


evangelho precisa ser pregado a todas as nações (Mateus 24:14). Haverão falsos
messias, guerras e rumores de guerra (Mateus 24:4-6). Ocorrerão terremotos e
pestilências, perseguição e apostasia (Mateus 24:7-11). Haverá um notável período de
reavivamento entre o antigo povo de Deus, os Judeus; o endurecimento do coração, que
é parte da sua atual experiência, irá terminar, e um número significativo de Judeus irá se
voltar para o Messias, Jesus (Romanos 11:7-8,25-26). Então, quando Cristo voltar, o
Seu retorno será visível para todos os que estiverem vivendo na terra naquele período
(Mateus 24:27; Apocalipse 1:7). Assim como a Sua ascensão aos céus foi vista por
olhos humanos, o Seu retorno também será visível (Atos 1:11). Assim, conforme o Seu
primeiro advento, também vai ser anunciado ou proclamado por anjos (Mateus 24:31; 1
Coríntios 15:52; 1 Tessalonicenses 4:16).

 Para o Seu povo, a segunda vinda de Cristo será um período de glória e regozijo
tremendo, um tempo onde a sua salvação será completada na ressurreição dos seus
corpos glorificados. Será a realização do desejo dos seus corações, pois deste tempo em
diante, eles estarão para sempre com o seu Senhor, Salvador, e Amigo celestial, na
cidade do Seu povo (João 14:1-3; Colossenses 3:4; 1 Tessalonicenses 4:17; Hebreus
9:28; Apocalipse 22:12-14). Quando este evento glorioso ocorrer, Cristo também irá
recompensar ou retribuir ao Seu povo (Mateus 16:27-28; 2 Coríntios 5:9-10). Contudo,
para o ímpio ou perverso, aqueles que não têm amor pela verdade, o retorno de Cristo
será um período de horror, desespero e julgamento sem fim; Ele irá vir como o seu Juiz
(Apocalipse 1:7; 22:12,15). O teólogo Cristão do segundo século, Irineu (ou Ireneu) de
Lyon, ensinou corretamente que o propósito do advento do Filho será julgar todas as
pessoas, e separar crentes dos descrentes.

 Como Jesus e os Seus apóstolos ensinaram esta verdade, aproximadamente dois mil
anos de eventos históricos ocorreram, fazendo com que algumas pessoas pensassem que
a expressão profética do Senhor, acerca da Sua volta a este mundo, tinha sido
equivocada. É impressionante perceber que tal atitude é quase tão antiga quanto este
elemento primordial do ensino apostólico. Pedro nos ensina que haviam escarnecedores,
ou zombadores, já nos seus dias. Pessoas que riam da ideia da segunda vinda e
perguntavam, “Onde está a promessa da sua vinda?” (2 Pedro 3:3-4). A resposta de
Pedro foi observar que, assim como haviam aqueles que nos dias de Noé zombavam da
sua pregação acerca do fim da civilização deles, também existiam zombadores que
desprezavam a pregação acerca da segunda vinda. No entanto, assim como as águas do
dilúvio certamente vieram e varreram todo o mundo de Noé, assim também o Senhor irá
retornar para trazer um fim imediato a história da humanidade, e inaugurar a eternidade
(2 Pedro 3:10-13). Enquanto isto, nós podemos estar convencidos de que o “atraso” no
retorno de Cristo ocorre para permitir que todos os eleitos possam ouvir o evangelho e
se arrependerem.

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A DOUTRINA DA IGREJA — O DIA DO SENHOR

 A expressão “o Dia do Senhor” ocorre cerca de vinte vezes no Antigo Testamento.


Expressões relacionadas, tais como “aquele dia” ou “o dia do Senhor dos Exércitos”,
ocorrem cerca de cinquenta vezes (“the day of the Lord of hosts”, versão KJV), e se
referem ao mesmo fenômeno. É um tema profético frequente. Nestas expressões, a
palavra “dia” não se refere a um período literal de vinte e quatro horas; ao invés disso,
ela designa um tempo quando o Senhor intervém diretamente na história humana, a
esfera do tempo, tanto para julgamento, quanto para bênçãos. Através da Sua
providência, Deus controla e governa os assuntos da história, por todos os tempos,
contudo o Dia do Senhor marca a Sua manifestação especial e épica, inserida no tempo.
Diz respeito à intervenção de Deus no tempo, de uma forma espetacular, trazendo
retribuição contra o perverso e salvação para o justo. A eternidade invade o tempo.

 No Antigo Testamento, este dia tinha tanto uma referência histórica, quanto futura.
Muitos Dias do Senhor já ocorreram. Por exemplo, Sofonias 1:7 se refere à destruição
de Jerusalém (586 a.C.) como o Dia do Senhor. Isaías 13:7-13 se refere ao cativeiro
Babilônico, através dos Medos e Persas (539 a.C.); era futuro, na perspectiva de Isaías,
mas é passado, na nossa perspectiva. Joel interpreta uma invasão devastadora de
gafanhotos como o Dia do Senhor, e não apenas como um fenômeno natural (Joel 1:1 –
2:17, nono século a.C.). Cada um destes dias históricos prefiguraram o inigualável Dia
do Senhor que ainda está por vir, quando Deus irá irromper no tempo, pela última vez.

 Como o Dia do Senhor é um tema profético tão proeminente, com tais extensas
implicações, ele merece atenção. Use este esboço para direcionar o seu estudo,
consultando nas notas de estudo relevantes para cada um dos textos abaixo.

 1. Passagens importantes

 1. Textos principais

1. Isaías 13; 34-35

2. Jeremias 46

3. Ezequiel 30

 4. Joel

5. Obadias

6. Sofonias

7. Zacarias 1

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2. Textos secundários

1. Isaías 2:9-22

2. Lamentações 2:22

3. Ezequiel 13:5

4. Amós 5:18-20

5. Malaquias 4:5-6

 2. Dias importantes no passado (cada um é tipico, uma figura profética do dia futuro
final)

 1. Isaías 13 – Babilôni

2. Jeremias 46 e Ezequiel 30 – Egito

3. Joel – Invasão de gafanhotos

 4. Obadias e Isaías 34 – Edom

 5. Sofonias – Judá

 3. Temas importantes que marcam o Dia do Senhor

 1. Julgamento

 2. Restauração ou Bênção

 3. Messias

 4. Aplicações importantes do Dia do Senhor

 1. Como os profetas se referem ao dia como algo iminente, prestes a acontecer, isto
deve ser uma motivação para nós estarmos preparados. Sempre existe uma urgência na
mensagem do evangelho.

 2. Os sinais que propiciaram as manifestações históricas do dia corroboram com os


tipos de pecados que marcam os nossos dias e a nossa sociedade. A justiça e a
imutabilidade de Deus significam que Ele irá julgar a todos os culpados.

 3. O Dia do Senhor foi e continua sendo um incentivo para o arrependimento. Escapar
da ira de Deus através de esforço próprio é impossível. O único caminho para escapar
da ira divina é correndo para a fonte desta ira e encontrando segurança em Cristo.

 4. Os componentes de bênçãos do Dia do Senhor, particularmente quando eles


encontram expressão no Messias, devem ser úteis encorajamentos para todos os
Cristãos. Para os crentes, a consumação final não deve ser um dia de medo e pavor, mas
sim uma expectativa confiante. Um dia perfeito está por vir.

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